Opinião: Minifúndio e latifúndio - tão diferentes, mas complementares

Por: António Malheiro

Diretor da Agropress,

Comunicação Especializada

Tenho presente a minha leitura recente do livro do geógrafo e historiador Orlando Ribeiro “Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico”. Uma obra de referência antropológica sobre os povos mediterrânicos, em geral, e ibéricos, em particular.

Pese embora a reduzida dimensão, Portugal continental apresenta uma vasta diferenciação cultural, agrícola, linguística, paisagística e climatérica, a que paradoxalmente corresponde uma identidade nacional de maior consistência na Europa como estado nação com fronteiras estabilizadas.

Desde tempos ancestrais que a modelação sociocultural destes povos se foi construindo na base da economia agropastoril, numa simbiose de adaptação à orografia e às condições edafoclimáticas dos solos.

Assim se formou o mosaico do minifúndio do Norte e Centro Interior que se contrapunha ao latifúndio do Centro e do Sul. Cada região soube tirar proveito das suas vantagens competitivas para dar resposta às necessidades da comunidade, desenvolvendo um modelo de exploração agroalimentar a que, de forma depreciativa, rotulamos de agricultura de sobrevivência”, como que se a produção de alimentos não fosse um imperativo de sobrevivência da humanidade.

A Europa que, no seu discurso político, se diz ser das regiões, tem na prática contribuído para a destruição destas regiões periféricas pela desvaliação do agroalimentar e florestal autóctone, sob a batuta duma globalização neocolonialista da exploração desenfreada de recursos naturais do planeta e a exploração de mão de obra barata, que tem alimentado e estimulado a ociosidade, a subsidiodependência e o abandono das populações das regiões rurais de montanha.

A agricultura é a atividade económica mais nobre e mais perene dos povos. E, seguramente, a que mais pode contribuir para a fixação das populações, para a preservação da biodiversidade e contribuir para mitigar as alterações climáticas. Medir o desempenho económico agrícola, pelo preço a que se consegue colocar os preços nas prateleiras do supermercado é redutor e penalizador para a agricultura de minifúndio.

Como disse Jesus: “A Deus o que é de Deus. A César o que é de César...”. O minifúndio tem o foco na fixação das populações na ocupação de território. O latifúndio tem o foco nos mercados e nas prateleiras do supermercado.

À nossa diversidade cultural justapõem-se a nossa diversidade agroalimentar, bem patente nas diversas regiões com denominação DOP (Denominação de Origem Protegida). Para o vinho temos 14 regiões para o azeite temos sete. Para a carne cinco e para a fruta 17. Este é o capital que, no meu entendimento, devia ser usado para alavancar a sustentabilidade da agricultura de minifúndio de montanha ou família.

Devemos aprofundar as vantagens de cada uma das matrizes fundiárias. E, se é verdade que o minifúndio não pode tirar vantagens competitivas da mecanização e da economia de escala, decorrentes das necessidades alimentares do planeta, também é igualmente verdade que os sistemas intensivos de produção agroalimentar e pecuária não nos dão a biodiversidade e a manutenção dos ecossistemas tão necessários para a vida. Não há que procurar o melhorde dois mundos. Há que procurar o melhor de cada um deles.

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