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Libélulas e Donzelinhas 2  
Artigo publicado em 23/04/2012, última atualização em 21/10/2023  



Libélulas e Donzelinhas (2)

Segunda parte do artigo, para voltar à primeira parte, clique  aqui  .



Donzelinhas, Agulhinhas (insetos da ordem Odonata, subordem Zygoptera)

No Brasil todos os insetos da ordem Odonata são chamados popularmente de “libélulas” (e diversos nomes regionais, como "lavadeira", "lava-bunda", "jacinta" e "pito"), apesar de que em vários outros países é feita a distinção entre as duas subordens, inclusive em Portugal. Deixamos aqui a denominação de Donzelinhas (em inglês “Damselfly”, em oposição a “Dragonfly” para as libélulas verdadeiras), mais utilizada em Portugal, porque são dois grupos com características próprias. São também chamadas de "Libelinhas" ou "Agulhinhas". A distinção dos adultos é bem simples, enquanto as libélulas verdadeiras mostram grandes olhos que têm contato entre si, corpo mais robusto e pousam com as asas abertas, as donzelinhas são mais esbeltas, têm olhos grandes, mas afastados, e pousam com asas fechadas, como uma borboleta. Geralmente são insetos menores do que os do outro grupo. Também são predadores, tanto suas ninfas quanto os insetos adultos. Possuem pior capacidade de vôo do que as libélulas, sendo capturados mais facilmente. A movimentação das asas é diferente, parecendo tremulá-las.

Tamanho: geralmente pequenas, até 3,5 cm.

Identificação: Lembram as ninfas de libélulas, mas têm corpo mais alongado e três guelras externas na extremidade do abdômen, parecidas com penas.

Habitat e ciclo de vida: Muito semelhante à das libélulas. A reprodução tem alguns aspectos bem peculiares, em especial a cópula. Inicialmente o macho transfere o esperma da genitália primária para a secundária, nos segmentos abdominais II e III. Durante vôos nupciais, o macho agarra a fêmea na região da transição cabeça-tórax, usando seus apêndices anais (cerci) como pinças, permanecendo acoplados por um tempo variável, muitas vezes até a oviposição. A fêmea dobra seu abdômen para a frente, formando uma figura em "coração" durante a cópula.

Alimentação e respiração: Também muito semelhante à das libélulas. Também possuem a mandíbula retrátil.

Perigo para humanos ou peixes: Inofensivo para humanos. Pode se alimentar de alevinos e peixes pequenos, mas o risco é menor do que ninfas de libélulas, pelo seu reduzido tamanho. É predado por peixes maiores.



Ninfa de Ischnura (família Coenagrionidae), fotografada em Vinhedo, SP. Fotos de Walther Ishikawa.



Curiosidades:

  • Por não possuírem a câmara branquial interna, não conseguem a “propulsão a jato” das ninfas de libélulas. Ao invés, usam as guelras caudais para nadar, semelhante à nadadeira caudal de um peixe.
  • Uma espécie típica do Sul, a Agulhinha-gigante (Mecistogaster amalia), se reproduz somente em bolsões d´água (fitotelmata) de bromélias de maiores dimensões da região. Esta espécie caça aranhas apanhando-as diretamente nas suas teias.
  • Fêmeas de diversos gêneros mergulham na água para depositar seus ovos em caules e raízes submersas. Levam um estoque de ar junto aos pêlos hidrófobos do seu corpo, e alguns gêneros carregam um bolsão adicional de ar nas suas asas. Durante a oviposição, o macho ronda a área vigiando-a. Veja alguns exemplos abaixo:



Momentos mágicos: Donzelinhas submersas, depositando ovos em plantas aquáticas e rocha submersa. Coenagrionoidea, foto na APP Lagoa Encantada, Vila Velha - ES, cortesia de Flávio Mendes. Calopterygoidea, vídeo registrado na região do Acampamento Quest, em Schroeder, SC, gentilmente cedido por Éden Timotheus Federolf.




São encontradas no Brasil cerca de 360 espécies de Zygoptera, distribuídas em 11 famílias, descritas abaixo. 



Superfamília Calopterygoidea:

Calopterygidae quase 40 espécies em cinco gêneros, a espécie monotípica Bryoplathanon globifer (encontrada no Sudeste) e diversas espécies de Hetaerina (Amazônica, Sudeste e Sul) e Mnesarete (Sudeste e Sul). Os dois restantes são pouco conhecidos, Iridictyon (habita tepuis ao Norte) e Ormenophlebia, amazônica e de abdômen longo. Ninfas esguias e pouco achatadas, de pernas longas dispostas lateralmente, lamelas caudais triangulares com arestas muito desenvolvidas, primeiro antenômero bastante longo. Assim como os demais representantes da superfamília, os adultos possuem asas com muitas veias, aspecto reticulado. Suas asas anteriores apresentam numerosas veias antenodais, todas iguais. Preferem rios com correnteza, associadas com macrófitas ou detritos de fundo.




Agulhinha-de-mancha-vermelha, Hetaerina rosea (Calopterygidae), um casal de adultos na primeira foto, mostrando o dimorfismo sexual (fêmea à esquerda, macho à direita), e uma ninfa na segunda foto. Os machos têm territórios bem demarcados, os quais defendem com bastante violência. Imagens gentilmente cedidas por Éden Timotheus Federolf.







Ninfa de agulhinha da família Calopterygidae, fotografada junto à cachoeira Cascatinha, em Águas da Prata, SP. Fotos de Walther Ishikawa.



Donzelinha da família Calopterygidae no momento da metamorfose no inseto adulto. Foto de Rodrigo Borçato.


 

Ninfa de Calopterygidae, fotografada na Serra do Japi, em Jundiaí, SP. Fotos de Walther Ishikawa.



Dicteriadidae (ou Heliocharitidae), somente duas espécies em dois gêneros monotípicos, a diminuta Dicterias atrosanguinea (amazônica) e Heliocharis amazona (ampla distribuição). Além das cores bastante características, adultos podem ser identificados pelas numerosas veias antenodais nas asas anteriores, e detalhes da venação. Pousam com as asas abertas ao lado do corpo. Ninfas possuem pernas longas e finas, lamelas caudais tão ou mais longas do que o comprimento do corpo, rígidas e pontiagudas, com fortes espinhos laterais. Ninfas têm preferência por riachos com correnteza. Veja um exemplo de ninfa no álbum  Ninfas de Odonata da Amazônia Brasileira   do INPA.


Heliocharis amazona, família Dicteriadidae, fotografada em Loreto, Orellana, Equador. Foto cortesia de Jim Johnson.



Heteragrionidae, até muito recentemente fazia parte de Megapodagrionidae. Contém 33 espécies em 2 gêneros, o mais numeroso é Heteragrion. Suas ninfas apresentam pernas curtas, lamelas caudais curtas e sacóides (infladas), geralmente com espinhos nas arestas. Adultos pousam com asas abertas, Heteragrion são facilmente reconhecidas pelo corpo escuro e marcações amareladas, enquanto as Oxystigma (2 espécies amazônicas) têm o corpo escuro e marcações azuladas.


Ninfa de Heteragrion, família Heteragrionidae, fotografada na Cachoeira do Barbudo, Guarapari, ES. Foto de Flávio Mendes.


Heteragrion consors, família Heteragrionidae, fotografada em Tinguá, Nova Iguaçu, RJ. Foto de Diogo Luiz.



Megapodagrionidae com somente três espécies, duas Allopodagrion (Sul do Brasil) e Megapodagrion megalopus (amazônica). Ninfas possuem pernas finas e longas, lamelas caudais tão ou mais longas do que o comprimento do corpo, triangulares ou lanceoladas. Veja um exemplo de ninfa no álbum  Ninfas de Odonata da Amazônia Brasileira   do INPA.




Donzelinha da família Megapodagrionidae, Allopodagrion contortum, fotografada no Parque Juquery, Franco da Rocha, SP. Foto de Walther Ishikawa.



Philogeniidae é outra família que era previamente incluída em Megapodagrionidae, há no Brasil somente duas espécies de Philogenia, encontradas na região amazônica.


Philogenia redunca, família Philogeniidae, fotografada em Loreto, Orellana, Equador. Duas espécies deste gênero ocorrem na região amazônica do Brasil. Foto cortesia de Jim Johnson.


Philogenia sp., família Philogeniidae, fotografada em San Martín, Lamas, Peru. Foto gentilmente cedida por Tim Faasen.



Polythoridae é uma família de distribuição principalmente amazônica, 11 espécies em dois gêneros, Chalcopteryx Polythore. Adultos são facilmente reconhecidos pela forte venação alar e colorido vistoso, são os Zygoptera de colorido mais intenso e aspecto iridescente. As ninfas são as únicas Odonata com brânquias abdominais filamentosas látero-ventrais. As lamelas caudais também são bem peculiares, globulosas com projeções cônicas ou digitiformes e cobertas densamente por cerdas escamiformes. São encontradas em córregos florestais de pequeno a médio tamanho, fundo rochoso e detritos. 


Ninfa da família Polythoridae, fotografada em Archidona, Napo, Equador. Foto de Christopher James.




Donzelinha Chalcopteryx rutilans, família Polythoridae, fotografada no Parque Nacional da Chapada dos Guimarães, MT. 
Foto gentilmente cedida por Lucas Buttura de Oliveira.


Donzelinha Polythore, família Polythoridae, fotografada em Atalaia do Norte, AM. Foto de Mike Melton.



Rimanellidae, previamente chamada de Amphipterygidae, com uma única espécie amazônica, a monotípica Rimanella arcana. Sua ninfa é facilmente identificada, com apêndices caudais laterais rígidos, muito longos e espiniformes, e a mediana muito curto, além de peculiaridades na forma da cabeça e antenas. Os adultos são bem raros, sem grandes peculiaridades, podem ser identificados pelo padrão de venação das asas, asas anteriores pecioladas antes da primeira veia antenodal. Preferem córregos rasos e com correnteza, fundo de cascalho.


Ninfa de Rimanella arcana, família Rimanellidae, fotografada na Morada do Sol, Presidente Figueiredo, AM. Foto cortesia de Rhainer Guillermo Ferreira.


Rimanella arcana, família Rimanellidae, foto extraída de Koroiva R, et al. Biota Neotropica 2020 - Licença Creative Commons, o artigo original pode ser visto  aqui .



Superfamília Coenagrionoidea:

Coenagrionidae é única família neotropical desta superfamília, é a mais comum e numerosa dos Zygoptera, com quase 350 espécies brasileiras em 52 gêneros, recentemente tornou-se ainda maior, incorporando as antigas famílias Protoneuridae e Pseudostigmatidae. Ocupam variados habitats, de lagos a riachos, com alguma variação morfológica em adultos e ninfas, refletindo o grande tamanho da família. Existem até algumas espécies com ninfas terrestres na Nova Guiné. Adultos são identificados por terem poucas veias antenodais, pecioladas além da primeira antenodal, e outros detalhes da venação alar. Ninfas têm o aspecto habitual, alongadas e delgadas, com finas pernas dispostas lateralmente, e três brânquias na extremidade abdominal. Geralmente de cor acastanhada ou esverdeada.






Donzelinhas Ischnura (família Coenagrionidae) submersas em oviposição, em Vinhedo - SP, fotos de Walther Ishikawa.







Ninfa de Donzelinha Acanthagrion (Coenagrionidae), a segunda imagem mostra bem o “labium” retrátil. Na última imagem, após capturar um alevino. Fotos de Felipe Aoki.







Donzelinhas Leptagrion (família Coenagrionidae)ninfas e adulto, fotografadas em fitotelma de bromélia, em Ubatuba, SP. Fotos de Walther Ishikawa.







Casal de Donzelinhas Argia sp. (família Coenagrionidae) durante oviposição, no Parque Serra do Japi, Jundiaí, SP. Abaixo, uma ninfa fotografada no mesmo local. Fotos de Walther Ishikawa.


Ninfa de Argia sp. (família Coenagrionidae) fotografada na Cachoeira Pé Vermelho, Águas da Prata, SP. Fotos de Walther Ishikawa.


Ninfa de donzelinha, provável Argia sp. (família Coenagrionidae) fotografada na Estação Ecológica de Caetés, Abreu e Lima, PE. Foto de Josival Araújo.





Outra espécie de Argia sp. (família Coenagrionidae) fotografada no Parque Estadual do Forno Grande, Castelo, ES. Note alguns Temnocephala comensais sobre seu corpo. Fotos de Leonardo Merçon.



Ninfas de duas donzelinhas Coenagrionidae simpátricas, fotografadas em Vinhedo, SP. A de brânquias alongadas é uma Acanthagrion, a de brânquias mais curtas é um Ischnura. Fotos de Walther Ishikawa.



Donzelinha Ischnura capreolus (Coenagrionidae), fotografado em Extremoz, RN. Foto de Francierlem Fonseca.


Ninfa de donzelinha Coenagrionidae em um paludário. Foto de Walther Ishikawa.







Donzelinha Neoneura sylvatica, família 
Coenagrionidae, Protoneurinae, fotografado na Represa de Vinhedo, em Vinhedo, SP. Na última imagem, um casal em desova. Fotos de Walther Ishikawa.


Agulhinha-gigante, Mecistogaster amalia (Coenagrionidae, Pseudostigmatinae), uma espécie encontrada no sul do Brasil, em clareiras de matas, onde caça aranhas em suas teias. Esta grande donzelinha se reproduz somente em bolsões d´água de bromélias de maiores dimensões da região, como a Vriesea gigantea (primeira foto). Suas fitotelmata chegam a abrigar três litros. Imagens gentilmente cedidas por Éden Timotheus Federolf.


Donzelinha Mecistogaster realizando oviposição em um oco de árvore. Registro feito em Silva Jardim, RJ. Vídeo cortesia de Rodrigo Gomes Pereira.


Ninfa de donzelinha Pseudostigmatinae, Coenagrionidae em fitotelma de bromélia, em Ubatuba, SP. Talvez um MecistogasterFoto de Walther Ishikawa.




Ninfa de donzelinha, Pseudostigmatinae, Coenagrionidae, talvez outro Mecistogaster sp., fotografada em Juquitiba, SP. Foto e vídeo de Lúcia Tiemi Kaju.



Superfamília Lestoidea:

Lestidae 14 espécies em dois gêneros, Archilestes exoletus (Sul e Sudeste do Brasil) e as demais do gênero Lestes. Adultos tipicamente pousam com as asas abertas. Ninfas são facilmente reconhecidas pelo formato delgado, alongado e quase cilíndrico do seu corpo, cabeça transversalmente alargada e lamelas caudais foliáceas. Podem ser confundidas com Coenagrionidae, mas costumam ser ainda mais finas e delicadas. Preferem lagos e lagoas, inclusive temporárias, ricas em vegetação.


Ninfa da donzelinha da família Lestidae, fotografada em Puerto Madero, Buenos Aires, Argentina. Foto cortesia de Ricardo A. Palonsky.


Ninfa de Lestes sp., fotografada na Lagoa Encantada, Vale Encantado, Vila Velha, ES. Foto gentilmente cedida por Flávio Mendes.







Donzelinha Lestes sp. (família Lestidae), depositando ovos em plantas aquáticas, registrada em Vinhedo - SP. Donzelinhas desta família tipicamente repousam com as asas abertas. Note o aspecto metalizado do animal, devido ao ar acumulado junto ao seu corpo hidrofóbico. A penúltima imagem mostra a fêmea repondo seu estoque de ar. Fotos e vídeo de Walther Ishikawa.



Ninfa da donzelinha Lestes sp. (família Lestidae), fotografada em La Matanza, Buenos Aires, Argentina. Fotos cortesia de Mariano Ordoñez.



Perilestidae é uma família endêmica Neotropical, com 11 espécies no Brasil, em dois gêneros, Perilestes e Perissolestes, mais comuns na região amazônica. Adultos têm o abdomen bastante longo, e asas proporcionalmente curtas. Pousam geralmente pendurados na posição vertical, com as asas semi-abertas. Ninfas alongadas, pernas e antenas longas, têm uma coloração zebrada, alternando faixas claras e escuras. Abdômen longo, com espinhos dorsais e laterais. Lamelas caudais foliáceas com ápice arredondado. Preferem riachos com correnteza baixa a moderada. Veja um exemplo de ninfa no álbum  Ninfas de Odonata da Amazônia Brasileira   do INPA.



 

Donzelinha Perilestes fragilis (família Perilestidae), casal em cópula e fêmea realizando oviposição, fotos na Serra do Japi, Jundiaí, SP. Fotos de Walther Ishikawa.



Superfamília Platystictoidea:

Platystictidae somente uma espécie amazônica, Palaemnema brasiliensis. Sua ninfa tem um aspecto bastante típico, cabeça com ângulos posteriores muito desenvolvidos, lamelas caudais em forma de sacos inflados. Prefere riachos de rápida correnteza e fundo rochoso. Veja um exemplo de ninfa no álbum  Ninfas de Odonata da Amazônia Brasileira   do INPA.


Palaemnema sp., família Platystictidae, fotografada em Caluma, Bolívar, Equador. Uma espécie deste gênero ocorre na região amazônica do Brasil. Foto cortesia de Jim Johnson.



Para bibliografia, créditos fotográficos e agradecimentos, clique  aqui  .

 
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