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José Rabaça Gaspar c/ o deNÓMIO de José da Serra Gil Vicente da Bei- ra – faz uma adaptação baseada no texto fixado in Obras de Gil Vicente Com revisão, prefácio e notas de Mendes dos Remédios, Tomo I, pp. 246 – 267, França Amado Editor, Coimbra, 1907 Tragicomédia Pastoril da Serra da Estrela Tentativa para uma adaptação e Sugestões... Corroios Outubro de 2001 – Novembro de 2012

Gil Vicente - Tragicomédia Pastoril da Serra da Estrela - actualiza JRG

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Proposta para uma adaptação desta peça do Mestre do Teatro português a cada tempo e espaço... usando a fala popular e comentando os eventos oportunos...

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José Rabaça Gaspar

c/ o deNÓMIO de José da Serra Gil Vicente da Bei-ra – faz uma adaptação baseada no texto fixado in

Obras de Gil Vicente Com revisão, prefácio e notas de Mendes dos Remédios,

Tomo I, pp. 246 – 267, França Amado Editor, Coimbra, 1907

Tragicomédia Pastoril da

Serra da Estrela

Tentativa para uma adaptação e Sugestões...

Corroios Outubro de 2001 – Novembro de 2012

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Uma ADAPTAÇÃO de José Gil Vicente da Beira – joraga.net

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DEDICATÓRIA e...

Claro que esta tentativa de tentar registar a oralidade das pes-soas da minha terra apoiando-me ao “bordão” magistral de Gil

Vicente, o Mestre do Teatro em Portugal..., tinha de ser dedi-cado aos pastores e às pastoras, às gentes que viviam nos ca-

sais no meio da Serra, aos agricultores, moleiros, cavadores de enxada, aos carpinteiros e pedreiros... aos vizinhos e colegas

de Escola... com quem tive o privilégio de viver e conviver nos primeiros anos da minha infância...

Andava eu à procura de tempo e inspiração para «povoar a mi-

nha STerra de Lendas»... completar a recolha das que procurei durante muitos anos... recriar umas, reinventar outras, criar

algumas... quando ouvi falar (2001) que era de Manteigas o/a melhor aluno/a na Cadeira de Língua Portuguesa... Já nos anos

50 (séc. XX) tinha havido a melhor aluna a Inglês!... Uma, es-ta, porque foi a melhor numa Língua Estrangeira, outra, a do

Milénio, porque “... a Professora conseguiu que aprendessem bem... Gil Vicente... Camões... Vieira... Garrett... Pessoa...»

Foi o comentário que ouvi... Pensei outra vez: Nunca vi um aluno ficar em primeiro, por

dominar, estimar, conhecer e promover a linguagem da sua

Região... «O Português do Povo»... «A Língua da Vida...» «O Verbo Falado...»!!!

Fica aí a minha contribuição como um desafio, pelo mergulho que me foi possível dar no “MAR” das minhas raízes... em A

MAR... que lamento ter esquecido... ou não ter aprendido como devia ser e daí, talvez, o facto de ter ficado a Saber tão pouco

e de ter de tentar tanto para, finalmente, tentar Conhecer-me melhor!!!

Como complementos de Bibliografia, que cito nas diversas

OBRAS que fui arquitectando e de que dou conta no final, - e é por isso que esta obra aparece como complemento da JORNA-

DA IV, V, E VIª - a NOMINÁLIA ou FESTA DOS NOMES – Topo-nímia, Alcunhas e Expressões – quero aqui deixar registados:

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Tragicomédia Pastoril da SERRA DA ESTRELA

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PEREIRA, Pe. Jaime Pinto - ALEGRIAS POPULARES (Can-cioneiro folclórico de Alvoco da Serra) Vol. I, Coimbra, 1952,

PEREIRA, Jaime Pinto, ALEGRIAS POPULARES (Cancionei-ro Folclórico do Concelho de Seia) – BEIRA ALTA, Vol II, Edição

do Autor?, s/d (1967 in Intr.). (Pelas incontáveis modas reco-lhidas numa Zona, da Beira Alta, onde se diz que não há, ou há

uma pobre tradição musical...!) GALLOP, Rodney, CANTARES DO POVO PORTUGUÊS –

(Estudo Crítico, Recolha e Comentário de RG), Instituto de alta Cultura, Lisboa, 1950. (Por no conjunto das Províncias, ter

mostrado que também há música na Beira alta...) LEÇA, Armando, MÚSICA POPULAR PORTUGUESA, Editori-

al Domingos Barreira, Porto, S/ data (posterior a 1942? Ver ou-tras obras) – Por não ter encontrado, ou por não ter consegui-

do incluir neste volume, nem uma moda da Beira alta nem da Beira Baixa, mas tem da Beira litoral!!!

LOPES GRAÇA, A CANÇÃO POPULAR PORTUGUESA, Publi-cações Europa América, 1974. (Porque é incontornável, nesta e

noutras obras... é o Mestre!) RIBAS, Tomaz, DANÇAS POPULARES PORTUGUESAS, Bi-

blioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Minis-tério da Educação, 1983 – (Para se terem as bases fundamen-

tais sobre as Danças Portuguesas...) GIACOMETTI, Michel - LOPES GRAÇA – CANCIONEIRO

POPULAR PORTUGUÊS, Círculo de Leitores, s/data (anos 80? Séc. XX) (Por, evidentemente ser a Obra de Vulto, sobre o

Cancioneiro em Portugal que ficou sempre inacabado!!!) LOPES DIAS, Dr. Jaime – ETNOGRAFIA DA BEIRA – Len-

das – Costumes – Crenças e Superstições – Obra em XI volu-mes, Depositária Empresa Nacional de Publicidade, Lisboa, (I

vol. de 1929) 2ª ed. 1944... até ao XI, com o Índice Geral, em 1971.

BUESCU, Maria Leonor Carvalhão, MONSANTO – Etnogra-fia e Linguagem, Editorial presença, (1ª Ed. 1958), 2ª 1984.

(Pela ligação à Serra, devido à Transumância... eu vi fazer os adufes, no Fund’Vila, à porta da minha casa, pelas mulheres

dos Pastores que vinham de Monsanto a caminha da Serra, no início da Primavera.)

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Ficha Técnica:

FICHA TÉCNICA:

título TragiComédia Pastoril da SERRA DA ESTRELA

Uma adaptação de José Gil Vicente da Beira Todos os direitos reser-vados - @ direitos de autor

JORAGA, Corroios

composição e lay-

out

JORAGA- Pentium 800

WWord - hp Desk jet 710C

ilustração e monta-gem

José Rabaça Gaspar

impressão e registo

final

Corroios, Setembro de

2001 - 2012

E-mail e TEIA na rede

[email protected] [email protected] visite a minha TEIA na REDE - o portaal na WEB – http://www.joraga.net

JORAGA

em viagem...

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Tragicomédia Pastoril da SERRA DA ESTRELA

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FIGURAS SERRA DA ESTRELLA. – Vestida à moda da Serra, como uma Rainha. UM PARVO. – para dizer, a brincar, as coisas mais sé-rias... GONÇALO. - Pastor que vem de Lisboa, com seu fato domingueiro. FELIPA. - Pastora da Serra. CATERINA. – Pastora da Serra. FERNANDO. – Pastor da Serra. MADANELA. – Pastora da Serra RODRIGO. – Pastor da Serra. UM ERMITÃO. JORGE. – Um dos “foliões” do “Sardoal” ou “artista de fora” convidado... LOPO. – O outro “folião” do “Sardoal” ou “artista de fo-ra” convidado...

Tragicomédia pastoril para ser representa-da por ocasião de alguma visita importante à nossa terra, na Serra da Estrela... por exemplo a visita do Senhor Presidente da República ou do Senhor Pri-meiro Ministro, algum Ministro ou outra Pessoa im-portante, para lhes transmitirmos alguns dos nos-sos Valores Culturais, desde o Modo do Fualuar... aos problemas que tentamos resolver... aos amo-res e desamores... às modas e cantigas dos nossos ranchos e grupos... às riquezas e bens naturais e fabricados na Nossa Terra e na Nossa Serra... (ver nota final)

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UMA ADAPTAÇÃO da

TRAGICOMÉDIA PASTORIL

DA

SERRA DA ESTRELLA.

Entra logo a Serra da Estrela com

um Parvo, e diz:

SERRA DA ESTRELLA (Vestida em belos

trajes de Serrana, como se fora uma Rai-

nha):

Tal prazer faz abalar

Quem nos visita na Estrela,

Que pode de lá ver o mar,

E olhar até Castela... E ver o céu a brilhar

Crivado de mil estrelas...

Assim, determino agora

Que aqui a Serra inteira, Apareça sedutora

Em figura de pastora,

Feita serrana da Beira,

Andando toda lampeira! Como quem na Serra mora.

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Tragicomédia Pastoril da SERRA DA ESTRELA

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E vão vir aqui comigo

Minhas serranas trigueiras,

Cada qual com seu amigo... Todas elas ovelheiras

Que andam no meu pacigo.

E guardam vacas malhadas

E as ovelhas meirinhas P’ra serem apresentadas

Como Mulheres, quais Rainhas

Nesta Serra celebradas

Por sua Arte tamanha, De criarem com as Mãos

As manteigas da montanha

Os panos de estamanha

Os queijos, o enchido, o pão!...

Têm sabor sem igual

E nutrição sem rival

Pois sabem a creme e mel,

E outros sabem a fel!... Famosos em Portugal,

Por seu gosto imperial

PARVO: Vê lá n’o é bem assim!

Há umas coisas que sim,

Têm sabor excelente,

Mas também há muita gente Que rapa um frio danado

De arreganhar o dente

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Quando cai nevão pegado

E fica um taró danado

E passa fome (1) esganada Se a vinha fica queimada!

E se gelam as levadas

Como os campos e as estradas

Não há cristão que resista!... Queres que ponha mais na lista?

Talvez te lembres deste uso:

Se comeres caldo de abóbora Ficam os vizinhos sem pulso (2)

Três dias... ou mais! Essa agora!...

SERRA Isso és tu a falar

Doutros tempos que lá vão!? (3)

Não ouviste tu dizer

Dá Deus muito ou pouco frio

C’a roupa (4) que se tiver?!

PARVO:

Agora?! É tudo a fartar

Não falta fruta nem pão Em cada casa ou lugar...

Já não há o pão centeio

Aquele negro, duro, feio?!...

Um bom naco e azeitonas Era um manjar de donas!!!

C’um migalho de presunto

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Tragicomédia Pastoril da SERRA DA ESTRELA

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Ou um pedaço de queijo

Era coisa d’esbarrunto

Para qualquer sujeito!... Depois, nos tempos de agora

Vieram modas de fora

Vieram regras e leis...

E temos de ser fiéis Se não mandam-nos embora...

Da UE ou dessa “porra”...

O queijo como era outrora

Já não se pode fazer! E é calar e comer...

Tem de ser autenticado

E em plástico embrulhado

Como nos manda a Europa... Lembram-me os tempos da tropa!

Os moços qu’iam às sortes!...

Quem eram, deles, os mais fortes

Para andar e alancar

Contra todos os rigores? Eram, se calha, os doutores?

Ou os moços da cidade!?...

Eram os moços da Serra

Que, em chegando a idade, Das sortes e da “correia”

Eram chamados p’ra guerra

Em França ou qualquer lugar...

Disso já não tens tu a ideia?...

Uns vieram gazeados

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E ficaram aviados (5)...

Com’ó Catrâmbias mordaz

Que par’cia um ferrabrás A pregar nas escaleiras

Nos mercados e nas feiras...

Depois veio a carestia...

Nos pastos foi a razia... As matas encheram tudo

Os pastores foram ao fundo...

Ficou por i o Malato...

E um tal de J’aquim Sono... A dar conta do recado...

As famílias numerosas

Tiveram de ser manhosas...

Do Brasil vieram cartas Que eram Cartas de Chamada...

E lá iam (in)felizes)

Sem nada, para abanar

A grand’«árvore das patacas»!...

Outros mais iam pr’Angola E outros mundos afora,

Como quem vai de charola...

E os mais foram para a França

Para Espanha e Aragança... Terras de Santa Maria...

E Terras de todo o Mundo...

E foi aquela sangria...

Vá lá, diz-me lá? Agora

‘Inda há gente, como havia

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Tragicomédia Pastoril da SERRA DA ESTRELA

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Nos tempos em que se ouvia

O gado correr p’ra serra

Ao mato, ao feto e à lenha À caruma e ao chamiço

C’um migalho de chouriço...

Ao sargaço e à carqueija

Ao zimbro, à urze... que seja!?

Isto ‘stá tudo mudado!

Mas ‘stá limpo, Deus louvado!!!

E agora já tem qu’abonde!...

Vem Gonçalo, um pastor da Serra, que vem da Capital, e vem cantando.

GONÇALO.

«Uma gaivota voava, voava

«Asas de vento, coração de mar... «Como ele, somos livres

«Somos livres de cantar...» (Em vez desta pode ser “A pomba caiu ao mar”... ou “Lisboa Já tem sol mas cheira a lua... E os rapazes perdem o juízo, Quando

lhe dá o cheiro a raparigas...” ou qualquer outra que esteja mais em moda lá pela ca-pital, que, por isso, estará na moda em qualquer aldeola ou lugar, com os meios modernos de comunicação...

Talvez melhor:

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«Quem me vir de pau e manta (6)

Julgará que sou pastor; Venho da Serra da Estrela Fui falar ao meu amor...»

(Ao entrar em cena depara com os perso-nagens e ouve o ruído dos preparativos

que se fazem nos bastidores, onde há

uma azáfama de ‘corre-corre’ e vozes em

surdina...)

Mas que surpresa tão boa

P’ra quem chega de Lisboa (7)!!!

Está muito alvorotada Esta nossa Serra amada!

Toda a gente estreloiçada!

SERRA:

«Nem é tarde nem é cedo, Chegas mesmo a boa hora (8)...»

Gonçalo, junta-te a nós!

Não temos tempo de sobra!

Temos cá umas Senhoras E umas ilustres visitas

Gente importante, de fora

Que é preciso saudar

Dando-lhe as «Boas-Vindas»!!! «Ora, venham lá com Deus (9)...»

«Bem-hajam por terem vindo...!»...

E estou embaraçada

Porque eu estou de abalada E não temos preparada

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Tragicomédia Pastoril da SERRA DA ESTRELA

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Festa d’arromba, animada

P’ra fazer boa figura

E mostrar a esta gente Como aqui tudo é diferente...

«Como vai a bizarria?»...

«Ora, atão, venham com Deus...»

«Dêem lá nossos recados a todos os seus... e ao gado...

E mais a toda a famelga...»

Olhem que, aqui, a gente

É rija, é pura, é valente... Tem tradições e Cultura

E sabe bem receber

Quem de longe nos vem ver...

«‘Stejam à vossa vontade Como ‘stão na vossa casa...»

«Vai um copázio?... Uma pinga (10)?...»

«Tome tento!... Tem qu’abonda!...

Que pode ir ferido na asa...»

Quando for de volta a casa!!!... Olha lá, Gonçalo amigo,

Qu’eu nem bem pensar consigo...

‘Stá aí o Presidente!

Temos de lhe dar de presente Algo digno singular

P’ra mostrar lá em Lisboa (11)

Que ta’men há coisa boa

Qu’isto aqui é Portugal!!!

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GONÇALO:

Ora m’essa é muito boa! Eu venho agora de lá,

E segundo o que eu lá vi,

Coisa ruim não será!!!

Fazer as coisas assim... Como eles as fazem por lá,

Também nós fazemos, cá!

Quando querem uma festa

P’r’animar a Capital Vão buscar ao estrangeiro (12)

Artistas a bom dinheiro

E é assim Tal & Qual...

«‘Stá armado o arraial!...» Aquilo é uma entrudada...

Fica a gente esbodegada

Com aquel’esgudelhados...

De boca aberta, espantados...

Depois, vai d’esmorecer C’o que lá há p’ra dizer...

Nós que vamos destes lados

Aqui da Beira interior

Ficamos embasbacados Com todo aquele barburinho...

Anda tudo numa fona

Que parece um «alevante»

Logo vem amarfanhante O amoujo!... Há dinheirinho (13)?...

E mandam-nos de carrinho

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Tragicomédia Pastoril da SERRA DA ESTRELA

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Dar uma volta maior...

Aquilo é um ver se te avias...

Anda tudo em roda viva... Numa «andaina», aos baldões...

Tudo é «consumições»!...

Mas, s’estes ilustres Senhores

Querem saber como somos Vamos mostrar o melhor

Do que fazemos e somos...

Tu mostras-te qual Princesa, Em tua rara beleza

E aqui nestas alturas

Apesar das pedras duras

‘Stamos mais perto do Céu E foi aqui que nasceu,

O nosso herói mais valente

Viriato, independente

Que aos invasores deu luta

E fundou a Terra lusa Esta onde agora vivemos...

É assim livre que a queremos

Todos iguais e diferentes

Outrora e daqui pr’á frente!!!

SERRA:

Gonçalo, eu te direi!

Nasce aqui na nossa Serra, E vai à mesa do Rei

A Água (14) mais pura da terra...

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“Quem dest’água (15) beber

Vai a enxúndia derreter...”

E com poder de curar Maleitas de espantar!

O reumát’co, a cirrose...

A espinhela caída...

Qualquer coisa avorrecida! E a Natureza é mais bela.

Do que n’o é na cidade!

A maior virtude dela,

É não ter rivalidade Com outra qualquer, Mundo afora

Noutros tempos e agora...

E que dizer dos bons ventos (16),

Que curam doenças más Como a lepra e com’a tísica!

(ou seja a tuberculose!)

Até a febre asiática!...

Isso ta’men, n’o t’apraz?

E até dão bons casamentos E não são como os d’Espanha (17)

Donde vem o ar ruim

E outros males sem fim...!

«Lá de Espanha não esperes Nem bom vento ou casamento...»

A não ser que desesperes...

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Tragicomédia Pastoril da SERRA DA ESTRELA

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PARVO:

- Ás vezes faz Deus cousas, Cousas faz Ele ás vezes

De través, ou com revezes (18)...

Como acontece co’as lousas

Qu’em riba das portas pousas... Ou como o arrocho (19) torto

Que mais parece um aborto...

E o vento puro é frio

Para o que não há abrigo... E ficas arreganhado

Ou até engatanhado...

E a neve branca e pura

É bela, mas quando dura E fica gelo – sincelo!!!

Já viste algo mais singelo?

Enche as águas do Mondego

Que fica gelado! Seco!...

E depois vem o degelo E depois vai tudo raso

Campos, lameiros e pasto...

‘Té Coimbra fica alagada

Com a tamanha enxurrada!... E as águas do Tornáqua

E dos outros barrocões

Vão encher, as mais, ribeiras,

Os Ribeiros e Covões... O Zêzere salta das margens...

Leva tudo na passagem...

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Arrasa todas as leiras

É todo um Mar d’aflições!!!

E o Alva, daqui pia cima Quando vem por i a baixo

Não há quem lhe tenha mão!

GONÇALO: - Deixa lá falar (20) o mano!

Diz comigo – Haja saúde

E coza o forno (21)! C’o dianho!

Pára lá c’o ataúde! Dessa arenga de desgraças

Pois se a vida traz pirraças

Também tem suas venturas (22)

Inda mais, cá, nas alturas!...

- E Vós, ó Serra, se queres

mostrar a toda esta gente,

O que de melhor tiveres...

O que tens mais concludente É pôr todos a falar

E juntamente cantar

Com serranas e pastores...

E falar dos seus amores, Das coisas boas qu’a cá...

E digam todos: - Olá!

“Ora atão, venham com Deus (23)!”

Ou atão – “Vão lá com Deus”... E nunca digam “adeus”!!!

“Muito Bem hajam” por ‘starem

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Tragicomédia Pastoril da SERRA DA ESTRELA

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Cá c’a gente de visita...

E ósdepois: “Até à Vista”

“Deus lhes dê muita Saúde” Esta é a nossa atitude...

Se comerem do pão nosso

Desse que é centeio negro

“Que lhes faça bom proveito” “A gente tem «caigenada”

Mas dá de “boa-vontade”

Somos mas é “vontadeiros”

E quando “forem de volta” “Dêem lá nossos recados

Àqueles que vo’meces mais querem...”

Ou tamém “ós que Lá ‘stão!”

“Bote cá a sua benção” Diz afilhado ao padrinho...

Temos de dar a “salvação”

A toda a gente decente...

P’ra sermos bem educados (24)...

Cá vai “pinga” p’ra que viva”!... Cá vai Esta p’ra que preste”!...

N’o beba mais que já bonda...

“No têm de quê!” “N’a, Senhora”!

Tenham cuidado ao sair... Olha c’avantas comigo!...

Não dêem um “carvalhós”

Que as escaleiras são lisas...

Isto é a gente a aldeagar (25) Aqui no cruto da Serra

É para dar à tramela

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Aqui em riba, no cimo...

C’o demoncre dos infernos

A gente no quer cá nada E vai uma calhoada

O’ atão ‘ma tanganhada

E vai mas é tudo raso...

Cá aqui, na nossa terra

O laparoto é caçapo...

‘Scava Terra – é a toupeira...

O milhafre é um milhano... A perdiz é perdigoto...

O gato bravo é papalvo...

Aricu é pirilampo

Tira-Olhos – Libelinha Louva a Deus – Santa Teresinha (26)...

Santo Antoninho - Joaninha!

«Santo Antoninho avoa, avoa,

que t’e pai ‘stá em Lisboa

Come a carne e deix o osso Amanhã p’r’ó teu almoço...»

O javali é javardo (27)...

Perdão c’u’a sua licença!!!

“Esta é de cabo d’esquadra!” ...

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Tragicomédia Pastoril da SERRA DA ESTRELA

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Vem Felipa, pastora da Serra, can-

tando. FELIPA.

“Tim, tim, sou da Beira Alta,

“Da Beira Alta, terra bravia!

“Em trono ‘stou colocada “Só vejo Serras e penedia!”

“Tim, tim, sou da Beira Alta,

Pois moro aqui na Serra da Estrela! Em terras de Portugal,

Não há igual, pois é a mais bela!

(Ver estas e outras canções, e a

respectiva música, in: «Alegrias Po-pulares» - Cancioneiro Folclórico (I

vol. de Alvoco da Serra; II vol. Do

Concelho de Seia) da Beira Alta,

Jaime Pinto Pereira, 1952, Coimbra.

- Gonçalo, viste o meu gado

- Aí p’ola Serra fora?

GONÇALO:

- Esta moça é mesmo tola!

Venho, agora, de Lisboa

E quer que lhe dê recado!? Por onde andará o seu gado?

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Essa agora é muito boa!!!

FELIPA: - Pois se não sabes do gado

E vens lá da capital!,

Fica sabendo, meu parvo,

Que aqui já tu és casado, Pois teu pai o decidiu

P’ra ti tua prometida...

Isto é a fala geral...

GONÇALO:

- E sem mim me vão casar?

Ora estou bem aviado (28)!

E sabes por um acaso Quem m’arranjaram p’ra par?

FELIPA:

- Não tens muito qu’iscolher!

Toda a gente fala nela!... Se não for co’a Madanela,

Com que outra há-de ser?

Já tem o lençol bordado (29)

C’o a racha onde deve ser!...

GONÇALO:

- Tiro-m'eu fora do jogo!

Que eu não caio nesse logro!

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Tragicomédia Pastoril da SERRA DA ESTRELA

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FELIPA:

- Lá ‘stás tu a disfarçar! Andas i apaixonado

Por uma e outra ao acaso

E com quantas tens já caso?

GONÇALO:

- Esse é o melhor jogo!

Quem te meteu na cabeça

Qu’ando aí cheio de pressa E com o rabo no fogo (30)?

Quem é a outra bacana?

Será, por lá, a Muchana?

A Conapa, a Rosmanheira... Talvez a Pita Gordinha

Que vem lá da Castanheira?

Se me fio na conversa

Com tanta quelha e travessa

Namoro a vila inteira Do Eirô ao Fund’vila

Das Forcadas, às Sarnadas

Das Lagens até à Lapa

Da Matufa à Enxertada?!!!

FELIPA:

.- Mas a Castanha Pilada

Trazes tu, bem embeiçada!!!

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Uma ADAPTAÇÃO de José Gil Vicente da Beira – joraga.net

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GONÇALO:

- Antes me queime no fogo (31)! Qu’essa já n’o vem ao conto...

Antes fosse p’ra cadeia!

(Ver, se é oportuna a intervenção do PARVO sobre alcunhas e topomímia...)

(32)

FELIPA:

E que tal essa Meijengra?

GONÇALO: Essa que tu alvitraste

É descuidada, perdida;

Traz a blusa descosida,

E a saia derrabada E anda feita num traste

E anda toda rabuda!!!

Madanela mata a braza (33) Não cuides de mais arenga,

E diz tu, mana, a Meijengra (34)

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Tragicomédia Pastoril da SERRA DA ESTRELA

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Que vá amassar outra massa...

FELIPA: Já teu pai tem dada a mão (35),

E, dada a mão, ‘tás tramado...

Já não vás a nenhum lado

Sem te acusar de traição!

GONÇALO:

- Par’ Deus! Vou dar-lhe c’os pés,

E vou armar tal banzé Que vai ser um salssifré!...

Ser assim acalcanhado

Não ser tido nem achado?

N’o ‘stou p’ra ser engrolado... Eu ando já azougado

Eu ando é mesmo embeiçado

De amores por Madanela!?

FELIPA: - N’o vês qu’a Rata é mais rica!?

Qu’essa n’o tem nem tostão...

No tem onde cair morta!!!

GONÇALO:

Arrenego Santanás,

Cruzes, Canhoto, Diabo!!!

Não sei quem tanto mal faz E desses ditos (36) ‘stou farto

Que me dão um tal tormento...

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Porque um só contentamento

Vale quanto ouro Deus tem.

Deus me dê a quem quero bem, Ou me tire a vida toda;

Com a Morte seja a boda (37),

Antes que outra me dêem!!!

FELIPA.

Eu me vou pé ante pé

Ver o meu gado onde vai.

GONÇALO:

- E eu quero ir ver meu pai (38),

Veremos como isto é.

Vem Catherina Meijengra, cantan-

do.

CATERINA:

“’Inda agora aqui cheguei,

“Mais cedo n’o pude vir, “Mas ainda venho a tempo

“De vossas falas ouvir...

“Ai de mim que já não posso

“Cantar como já cantei “Bebi a água no rio

“Minha fala demudei!...”

(Ver esta e outras in “Alegrias Po-

pulares”, de Jaime Pinto Pereira, Coimbra, 1952).

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Tragicomédia Pastoril da SERRA DA ESTRELA

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FELIPA:

Onde vás, Meijengra mana? «És amiga duma cana»!!!

CATARINA:

- A novilha vou buscar: Viste-m'a tu cá andar?

FELIPA:

- Não na vi esta somana! E deixa de ser «farsanta»!

Mesmo agora vai daqui

Gonçalo que vem da côrte!

Se vieras mais a trote Encontraras teu consorte!

CATERINA:

Esse? Consorte? Ou o Cega

O Espirra Canivetes? Vê mas é com que te metes...

O Pelado, o Quatro em Vista

O Zulmira e o Fadista

O Pirete o Turva Pipas... Andam i a’abocanhar

Qu’andam é na tua pista (39)...!

FELIPA: Mana, ‘stás muito arisca!

Mal ouviu falar de ti

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Mana, pesou-lhe a sorte

Como se foras a morte (40)...

Tem-te tamanho fastio Que ficou todo eriçado

Como fora mau olhado!

CATERINA: - Inda bem, por minha vida;

Porq’eu, mana ‘stou perdida

Pelo Fernando Palixa.

S'eu com ele não casar, D'amores m'hei-de finar.

Aborrece-me o Gonçalo

Como o cu do nosso galo;

Não no quero nem sonhar (41)!

FELIPA.

Se tu não o queres a ele,

Nem ele tampouco a ti

Que é que dizem por i?!!!

CATERINA:

- Quanto a s'ele me quer a mi,

Negras más novas vão dele. Deus me case com Fernando,

E morra logo esse dia,

Porque me mata a alegria

E nojo me vai matando.... Oh meu Fernando adorado,

Que eu vi por meu pecado!

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Tragicomédia Pastoril da SERRA DA ESTRELA

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FELIPA:

- Fernando, esse teu d’amado Casava comigo a furto!...

CATERINA:

- Diz-me, lá, roga-t'o, há muito?

FELIPA:

- Este sábado passado.

CATERINA:

- Oh Jesus! como é malvado!

Os homens são uns «macanjos»

Uns «machacazes» malandros Que só cismam em enganos!...

Tenho de me precatar (42)...

Ele por mi, vai em três anos,

Que diz qu’anda «endemonhado»

Felipa, tu ‘stás a gingar!? «Conheço-te de ginjeira!»

Tu ‘stás, mas é a chufar

E se tu queres caturrar

Não venhas p’rá minha beira... Não me dês no coração,

Que o que dói não é zombar

É abrir esse alçapão!!!

Tens é um grande paleio E palheta n’o te falta (43)...

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FELIPA:

- Ouve bem o que te digo

Ele veio ter comigo Na horta da Enxertada,

E disse: Felipa, minh'alma,

Raivo por casar contigo...

É assim como te digo... Se ficaste amerzundada

Atira-t’ aí à levada (44)...

Ao poço do Gidro ao Pego...

Vai mergulhar no Açude No Poço do Zé d’Avó...

P’la tua rica saúde

Se ficas amofinada

Eu fico cheia de dó (45)!!!

Vai, vai nadar s’ isso t’acalma.

CATERINA:

Ele ‘stava é a engrolar! Olha tu, tresvariava?

FELIPA:

- Bem conheço eu tresvaria! Vi eu, porque eu não queria,

Correr as lágrimas dele!!!

CATERINA: - Maus olhos chorem por ele,

Que assim ele chora comigo!

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Tragicomédia Pastoril da SERRA DA ESTRELA

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E, quando é lá no pascigo

Vai-se-lhe o gado ó trigo!!!

N’o há quem o desaperte Daqueles braços apertados

Quando ‘stamos, à sorrelfa

Lá no lameiro, enlaçados!!!

FELIPA:

P’r’um acaso vou ao cruto

Daquele maninho cabeço,

P´ra onde já foi o meu Ruço Por ver se vejo o meu gado....

Qu’eu não quero mais tropeço

E com esta me despeço...

Vou “recolher a penates”...

CATERINA:

- Tal me deixas por meu fado,

De coração maticado!...

Tu tens é cá muita ronha (46) Muita lábia e paleio...

Será isto qu’eu mereço?

Que do meu toda m'esqueço!

Quem soubesse no começo (47) O cabo do que começa,

Porque logo se conheça

O qu'eu j'agora conheço

Não tinha agora este enredo!...

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Vem Fernando cantando. FERNANDO.

“Oh, que lindos olhos tem

“A filha da moleirinha!

“Ai, mal empregada é ela, “Ai, andar ao pó da farinha!

CATERINA:

A que vens, Fernando honrado?

Ver Felipa tua senhora? Venhas muito na má hora

Para ti e para o gado...

FERNANDO:

- Catalina! Catalina!

Não me fales tu assim!

Tartamudo da goela Fico ao ver-te, Catalina!

«Ai, mal empregada é ela

«Ai, andar ao pó do farelo!...

«Andar ao pó do farelo «Ai, andar ao pó da geada

«Ai, a filha da moleirinha

«Há-de ser a minha amada!»

...

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CATERINA:

Diz, rogo-te, Fernando, Porque me trazes vendida?

Se Felipa é tua querida,

Porque m'andas engrulhando?

Sendes todos sulipantas Uns malandrins, malhadios...

Saíste-me um Magarefe!?

FERNANDO: - Eu juro, e torno a jurar

Que eu seja aqui ceguinho (48)

De gota muda serena...

Destes dois, que tenho aqui... Que um raio me caia certinho

Se eu não morro por ti!!!

CATERINA:

- Oh! não jures, que é pecado! N’o ‘stás tu arrelampado

Com os favores com qu’a menina

Te tem tido apresilhado?

FERNANDO:

- Eu ando dela chufando!

Catalina, isto’é verdade...

Não creias a ninguém nada, Que tu me tens bem atada

A alma, a vida e a vontade!!!

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CATERINA:

- Pois tu choraste com ela, Não há aí, mais não querer...

«Dê lá ele por onde der...»

Já conheço o teu jaez

‘Stou farta de ‘jiga-jogas’!

FERNANDO:

- De chorar bem pôde ser!

Mas não chorava por ela, Felipa, bem podes querer

aparenta-se contigo...

Vendo-a, foste-m’alembrar;

Então pus-me eu a chorar Matutando no meu p'rigo!!!

Se ela o tomou por si,

Que culpa lhe tenho eu?

Mas este amor quem m'o deu,

Deu-m'o todo para ti, E bem sabes tu qu'é teu.

CATELINA:

Oh que grande amor te tenho, E que grande mal te quero.

É tudo a mesma cambada!

Não quero ser apoucada

Por todos abocanhada (49)!...

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Tragicomédia Pastoril da SERRA DA ESTRELA

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FERNANDO:

- Já de tudo desespero: Tão desesperado venho,

Que já mal nem bem não quero.

Teu pai já te tem casada

Com Gonçalo d' antemão, E eu fico por este chão,

Sem me ficar de ti nada,

Senão dor de coração!

Ver-te-ás n’outro poder, Ver-te-ás outro lograr,

Eu, logo, sem mais tardar,

Frade prometo de ser,

Pois os dianhos quiseram Que para minha desgraça

Eu ficasse alvorotado,

E todo a ti devotado

Desd’a Senhora da Graça!!!

CATELINA:

Vá lá, casemos atão

Dá-me cá a tua mão...

E s’a Felipa apa’rcer Por aí toda lampeira

Já não tens o que escolher!!!

Dir-lhe-ei que sou casada

E que fico à tua beira (50)...

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FERNANDO:

- Já vês que não pode ser Tenho a palavra dada (51)...

Nem Deus pode dissolver,

A promessa qu’é jurada...

Já não tenho de mim nada... Nem já é meu, o querer...

CATERINA:

- Oh quantos perigos tem Este triste mar d'amores,

E cada vez são maiores

As tormentas que lhe vêm.

Se tu a ser frade vás, Nunca me verão marido:

Tu serás frade metido

Porém tu me meterás

No convento como abrigo...

FERNANDO:

- Não te vais tu escusar

A casares com Gonçalo;

E querendo tu escusá-lo, Não no podes acabar,

Que teu pai há-de acabá-lo

Já ‘stá tudo destinado (52)....

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Tragicomédia Pastoril da SERRA DA ESTRELA

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CATELINA.

Sé libera nos a malo! Nunca Deos há-de querê-lo;

E Gonçalo não me quer,

Nem eu não quero a Gonçalo.

Ei-lo vem! Vêz’io (Vê-lo), Fernando? Vem em cima na portela!...

Diante vem Madanela!...

Tod’ela ancha e lampareira!

Essa anda ele buscando... Vamo-los nós espreitar,

Ali detrás do valado,

À sorrelfa, à socapa

E veremos seu cuidado (53): Se lhe dá em que cuidar,

Ou se fala desviado!?

Vem Madanela cantando, e Gonçalo

detrás dela... MADANELA:

«Chora, ó videira, ó videirinha!

«Chora, ó videira, ó vida minha!

«Chora ó videira, Videirinha chora! «Chora, meu amor, que me vou

embora!»

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Gonçalo, tu a que vens?

Com esse ar de três vinténs (54)? Saíste-me um magarefe!

...Tudo o que dizem te preste (55)...

GONÇALO: - Madanela, Madanela!

Morro por ti, Madanela!

MADANELA: - Torna-te mas é lá p’ra ela

Que já te ‘stá prometida

E deixa em paz Madanela

Que já ‘stá bem ofendida!!!

GONÇALO:

- Madanela, Madanela!

Não vês o meu embaraço?

Isso não te dá empacho?

MADANELA:

- Ó dianho dou a’amargura:

Qu'assim m'agastas, Jesu! Ora atrás de mim vens tu?

GONÇALO:

- Pois a mi se m'afigura Que não m'hás-de comer cru.

E se tu me queres matar

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Tragicomédia Pastoril da SERRA DA ESTRELA

39

Por t'eu ter boa vontade,

Não pode ser de verdade.

MADANELA:

- Gonçalo, torna a lavrar (56),

Que isso tudo é só vaidade...

Faz dela gato sapato Andam por i na retouça (57)

E vai ós pois catrapuz

Andam i ós carvalhós…

Saíste-me um bom lapuz!...

GONÇALO:

- Que rezão me dás tu a mim

Para não casar comigo? Eu hei de ter muito trigo,

E centeio engradecido (58)

Os arcazes de cagulo

E todo o comer cabonde...

Comerás à tripa forra (59) Isto é o que te digo...

E hei-de te ter a ti

Mais doce qu’um pintisirgo

Para andar toda lampeira Pela Praça e pela Feira...

Não quero que vás mondar,

Não quero que andes ó sol;

Para ti seja o folgar, E para mim fazer a prol

E filhos de cambulhada!.

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Queres Madanela? Assim seja

E comigo vais casar...

Teremos de tudo em barda (60)!...

MADANELA:

- Eu já te disse, Gonçalo,

Vai lavrar, torna a lavrar Porque eu não hei de casar

Em toda a serra d'Estrella,

Nem te presta porfiar...

Catalina é muito boa, Fermosa quanto lhe basta,

Quer-te bem, é de boa casta,

E bem sesuda pessoa.

Anda aí toda lampeira Toda emproada, gaiteira...

Toma tu o que te dão

Em pago do que desejas.

GONÇALO: - Ai, rogo-te, Madanela

Que não sejas a tirana

Que mata o meu coração...

MADANELA:

- Vai-te d'i, qu’esparvoejas.

GONÇALO: Não quero casar co'ela.

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Tragicomédia Pastoril da SERRA DA ESTRELA

41

MADANELA:

- Nem eu tampouco contigo.

Olha, lá vem Rodrigo Trás,... Felipa, que é aquela

Que não no estima nem um cisgo!

Vem Rodrigo cantando

RODRIGO.

«Deus vos salve pastorinha,

«Mais o gado que guardais; «Sendo tão encantadora

«Não sei como, só, andais?!”»

(Pastorinha, Rimance Popular, in

Alegrias Populares, Cancioneiro de Alvoco da Serra, Coimbra 1952... –

Ver ainda outras...)

Felipa, como te vai?

FELIPA:

- Que tens tu de ver c'o isso?

Dias há que t'eu aviso Que vás enjorgar t’e‘Pai.

RODRIGO:

- Não estou eu, mana, nisso.

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FELIPA:

- Porque te metes comigo?

RODRIGO:

- Felipa, olha p’ra mim

E dá-me cá essa mão...

FELIPA:

- Tira aí a mão da fruta (61)

Que tu ‘stás endemonhado E eu não sou nenhuma truta!...

RODRIGO:

- Felipa, já qu’aqui ‘stás Fazemos uma folia

E podemos ‘té tirar

Uma bela folostria!?

FELIPA: - Rodrigo, já tu começas?

Tu tens das mais vãs cabeças

Aqui destas redondezas...

E andas c’uma tineta!... Mas isso é’ma paixoneta

Que n’o vale’uma caganeta (62)...

Não quero ser descortês

Mas conheço teu jaez....

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Tragicomédia Pastoril da SERRA DA ESTRELA

43

RODRIGO:

- Nem queiras tu ser assim Gravisca e escandalosa;

Mas tem graça para mim,

Como tu és graciosa

E fermosa para ti.

FELIPA:

Cada um s'há-de regrar

Em pedir o que é razão: Tu pedes-me o coração,

E eu não t'o hei de dar,

Que ‘stá fora de questão

E muito fora de mão... E quanto monta em casar,

Ainda qu'eu guarde gado,

Meu pai é juiz honrado

E dos melhores do lugar...

É o mais aparentado (63) Em tod’esta freguesia

Aqui e em ‘trás-de-Serra’...

E andou também na guerra...

E fala com os ministros E até c’o Presidente

Ele foi muito concludente

Dizendo-lhe: António Aldeia,

Qual é a tua ideia Sobre a rega e o pastio

Sobre Fábrica do Rio

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Como vai lá a Boqueira

As levadas, os açudes

E os planos cá pr’à Serra? Ora como vês – Tu cá – Tu lá

Com o nosso Presidente

Isto é coisa que promete

Um lugar lá em Lisboa!... Já viste? P’ra casar cá

Não daria coisa boa!...

Não vês que tenho razão?

RODRIGO:

- Se casasses com paixão,

Que grande graça seria

E minha consolação! Que te chame de ratinha

Tinhosa cada meia hora,

Inda que a alma me chora,

Folgarei por vida minha,

Porque enjeitas quem t'adora!? Deixa mas é que te diga

Se fores de cá p’ra lá,

Ensimesmada nesse tacho

Digo-te: que oxalá Encontres algum emplastro

Pois te desprezas do baixo,

O alto te abaixará (64).

Olha vai para o diacho!... Mais o teu qu’rer todo inteiro...

Pró dianho que o carregue... (65)

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Tragicomédia Pastoril da SERRA DA ESTRELA

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Lá vai tudo pr’ó galheiro (66)!...

FELIPA: Quando vejo um janota

Bem vestido e com paleio

Dou logo uma cambalhota...

Dá-me logo a sulipanta ‘Té o coração (67) se m’espanta!!!

E leva-me a alma e tudo.

RODRIGO: - Gonçalo vai-me ajudar

A acabar minha charrua,

E eu t'ajudarei à tua,

Que est'outra s'há-d'acabar Quando a dita vir a sua.

GONÇALO:

Eu já ‘stou desenganado,

No que monta a Madanela!

RODRIGO:

- Deve-se passar com ela

Como a mi, por meu pecado, Com Felipa.

GONÇALO:

-Ai, também ela?

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RODRIGO:

- E tu, Fernando, em que estás?

FERNANDO:

- Estou em muito e em nada,

Porque a vida namorada Tem cousas boas e más (68).

Vem hum Ermitão, e diz:

ERMITÃO: Fazei-me esmola, pastores,

Por amor do Senhor Deus (69)...

RODRIGO: - Faça Ele esmola a nós...

Ou seja, qu'estes amores

Que nos dão só dissabores

Se atem com senhos nós.

ERMITÃO:

- O casar Deus o provê,

E de Deus vem a ventura,

Da ventura a criatura, Mas com dita e por mercê...

E também serve a cordura.

Ponde-vos nas suas mãos,

E não cureis d'escolher; Tomai o que vos vier,

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Tragicomédia Pastoril da SERRA DA ESTRELA

47

Porque esses amores vãos

Terão certo arrepender...

- Filhas, aqui estais escritas

Com tinta de água forte...

- Filhos, tomai vossa sorte, E cada um se comporte

Dando graças infinitas

A Deus, à Celestial Côrte...

- Escolhei vossa consorte!

Tirou o Ermitão da manga três

papelinhos escritos e os deu

aos pastores, que tomasse ca-

da um sua sorte, e diz o

ERMITÃO: Rodrigo tome primeiro,

Veremos como se guia....

RODRIGO: - Nome da Virgem Maria!

Lede, padre, esse letreiro,

Se me cega ou alumia.?!

(Lê o Ermitão o escrito.) Deus e a ventura manda Que quem esta sorte houver

Tome logo por mulher

Felipa sem mais demanda.

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RODRIGO:

- Vencida tenho eu a batalha, Felipa, mana, vem cá.

FELIPA: (Faz uma cena!)

- Tira daí a mãozinha No t’apresses na corrida

Que tens muito que correr

P’ra que me possas mer’cer!!!

GONÇALO:

- Vai, Fernando, agora tu,

Veremos que te virá.

FERNANDO:

- Alto! Nome de Jasus!

Lede, Padre! Que vai lá?

(Lê o Ermitão.)

A sentença é já dada,

E é a sustância dela:

Que cases com Madanela.

MADANELA:

- Fernando sai-me na rifa?!

Ele qu’anda todo embeiçado

Aí daquele cenisga Piscreta, pespineta!!!

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49

Oh! que rica sorte a minha!

FERNANDO: - Dias há que t'o eu digo,

E tu sempre na retranca!!!

CATERINA (intervém ciumenta e toda ce-rigaita)

- Oh Fernando da Palixa,

Quem me casara contigo!

Eu vou armar uma rixa!...

GONÇALO (também de monco caído):

Oh Madanela, qu’azar!

Se me caíras em sorte! Er’esse meu desejar!...

CATERINA:

- Ante eu morrera de má morte,

Que Fernando ficar lá Tão contrairo do meu norte!..

Já porém n’o me diz nada,

E tu’já me pareces bem (70)!...

Gonçalo, e tu que dizes?!

GONÇALO:

- Eu digo: E tu também

Me’stás a cair no goto! Se calha sais ao meu gosto!...

Catalina ; arreda daí

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Muda-te daqui para ali

E passeia por aí além...

Vejam bem o ar que tem!!! Esfenicada! Emproada!!!

FELIPA:

Estou-t'eu, Rodrigo, olhando, E vou sendo já contente!

RODRIGO:

- Se não gostas do presente, Não t'hei-de andar mais rogando:

Eu ando-te namorando,

E tu sempre descontente

A refilar!... Mandriona!!! Resmungona!!!

CATERINA:

- Eu, lá por ser resmungona

E por t’andar enxotando, Rodrigo, de quando em quando,

Mui grande bem eu te queria.

E quando eu refusava

De te tomar por amigo, Não era porque eu não folgava,

Mas porque t'examinava,

Se eras tu moço atrevido

Ou se eras malhadio Com’ós outros: ‘ma má rez!!!

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Tragicomédia Pastoril da SERRA DA ESTRELA

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ERMITÃO:

- Agora que’stão aviados E já se podem casar

Cada um com o seu par

quero eu, agora, dizer

O que venho aqui buscar...

Meu desejo é habitar

Numa ermida a meu prazer,

Onde pudesse folgar... E queria-a eu achar feita

Por não me cansar a fazê-la...

Que fosse a minha cela

Antes bem larga qu'estreita, E podesse eu dançar nela...

E que fosse num deserto

D'infinito vinho e pão...

E a fonte muito perto

E longe a contemplação... Muita caça e pescaria!...

Que podesse eu ter coutada

E a casa temperada:

No verão que fosse fria, E quente na invernada!...

A cama muito mimosa

E c’um cravo à cabeceira;

De cedro a sua madeira... Porque a vida religiosa

Queria eu desta maneira!...

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E fosse o meu repousar

E dormir até tais horas,

Que não podesse rezar, Por ouvir cantar pastoras,

E outras assobiar...

À ceia e jantar, perdiz, Ó almoço, uma moxana, (de mocho?)

E vinho do seu matiz...

E que a filha do juiz

Me fizesse sempre a cama. E em enquanto eu rezasse

Esquecess'ela as ovelhas

E na cela me abraçasse

E me mordesse as orelhas, Inda que me lastimasse.

Irmãos, pois deveis saber

Da serra toda a guarida,

Praza-vos de me dizer

Onde poderei fazer Esta minha santa vida?!!!

GONÇALO.

Está ali, padre, um silvado Viçoso, verde, florido,

Com espinho tão comprido,

E, vós nu ali deitado

Perderíeis o prurido... Já fostes casamenteiro,

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Tragicomédia Pastoril da SERRA DA ESTRELA

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I-vos, não esteis aí mais,

Porque a vida que buscais

Não na dá Deus verdadeiro, ‘Inda que lh'a vós peçais (71)...

SERRA:

Ora, filhos, sem demora, Cada um com sua esposa,

Vamos fazer uma roda

E aqui não há escusa (72)!...

Venham todos para a boda Que aqui não falta nada

E segundo minha fama

Todos os que vêm cá

Vão comer à tripa forra Fartar a moca..., à fartazana

Que tal leite como o meu

Não no há em Portugal;

Que tenho tanto e tal,

E tão fino Deus m'o deu, Que é manteiga sem igual...

E pois que eu sou senhora

De tão grande gado e terra,

Tendes ‘í tais iguarias Com que forrar a barriga

E por riba uma pinga...

É bober até cabonde

E comer até fartar Porque a perfeita pastora

Sabe bem pôr a pastar

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54

O gado que tem d’engorda

E sabe dar bom comer

A quem nos visita de fora!!!

GONÇALO:

Mas veio aqui tanta gente

Que é mister grandes presentes Das vilas, casais, aldeias...

Será que tens uma ideia

Do que podem ofertar?

SERRA:

- Mandará a vila de Ceia

Quinhentos queijos recentes,

Todos feitos á candeia, E mais trezentas bezerras,

E mil ovelhas meirinhas,

E duzentas cordeirinhas,

Tais, que em nenhumas serras,

Não nas achem tão gordinhas.

E Gouveia mandará

Dous mil sacos de castanha,

Tão grossa, tão sã, tamanha, Que se maravilhará

Onde tal cousa s'apanha.

E Manteigas lhe dará Leite para catorze anos,

Com manteigas a fartar...

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55

A Covilhã muitos panos

Finos que se fazem lá…

Mandarão desses casais

Que estão no cume da serra,

Penas para cabeçais, Todas de águias reais

Naturais mesmo da terra…

E os do Vale d’Amoreira E tamén da Castanheira

E os do Covão da Ponte

Das Forcadas e Sarnadas...

Que estão em fortes montados, Mandarão empresentados

Trezentos forros d'arminhos

Pera forrar os brocados...

E Eu hei-lhes de presentar Minas d'ouro que eu sei,

Em penedos escondidas

Com mil pragas protegidas

Entre fragas bem guardadas Por mil fadas e por magas...

Quando o seu tempo chegar

D’a Cova da Moura Abrir

Ande’no cá vir apanhar!... Bem bonda que lh'o criei.

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56

GONÇALO:

- E afora ainda os presentes, Havemo-lhe de cantar,

Muito alegres e contentes,

P’ra Deus os alumiar,

Para alegria das gentes...

Vêm dois foliões do Sardoal, Jorge e

Lopo, e diz a

SERRA.

Sois vós, manos, de Castella

Ou lá debaixo do extremo,

Ou vindes do Além-Tejo Ou d’um qualquer outro termo?

JORGE:

- Agora! nos faria o demo

A nós outros Castelhanos? Queria antes ser lagarto,

Polos santos avangelhos!!!

SERRA: - Donde sois?

JORGE:

Do Sardoal; E... “ou bebê-la, ou vertê-la”,

Vimos cá desafiar

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Tragicomédia Pastoril da SERRA DA ESTRELA

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A toda a Serra d'Estrela

A cantar e a bailar...

RODRIGO:

Soberba é isso porém,

Já viram este encoucado?

Este ‘de-sem-sal’, sem gosto?! Isto é mesmo ‘ma surriada

Tudo a rir à gargalhada

Pois há aqui tantos pastores,

E tão finos bailadores, Que n’o há medo a ninguém...

Aqui n’o há quem as corta

E se der um bate-cu

Ou por lá um carvalhós, N’o tem mal... vai catrapuz

E é prantar-se de pé...

E depois aqui em riba

E todos i pi’a cima

É bailar e saltear Ora c’um pé ou com outro...

LOPO:

- Muitos ratinhos vão lá De cá da serra a ganhar...

E lá os vemos cantar

E bailar bem como cá,

E é assim desta feição (73).

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Canta Lopo e baila, arreme-

dando os da Serra.

«E hei-de ir, hei-de ir

«Eu hei-de ir se for

«Cantar e bailar

«P’ra ti mê amor!» ...

Isto é, ou bem ou mal,

Assim como o vós fazeis.

SERRA:

- Não há aqui qu’imitar!

Peço-vo-lo que canteis A' guisa do Sardoal.

LOPO:

- Esse é outro carrascal; Isso aí é que é falar...

Esperai ora e vereis:

«Eu gosto muito de ouvir

Cantar a quem aprendeu Se houvera quem m’ensinara

Quem aprendia era eu...

Ó rama ó que linda rama Ó rama da oliveira

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Tragicomédia Pastoril da SERRA DA ESTRELA

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O meu par e o mais lindo

Qu’anda aqui na roda inteira

Qu’anda aqui na roda inteira Aqui em qualquer lugar

Ó rama óque lida rama

Ó rama do Olival...»

«No m’ importa de quem tem

Carros parelhas e montes

Só m’importa de quem bebe

A água fria das fontes!» ...

Esta cantiga cantarão e bailarão de terrei-

ro os foliões, e acabada, diz

FELIPA:

Não vos vades vós assim, Leixai ora a gaita vir,

E o nosso tamboril,

E ireis mortos daqui,

Sem vos poderdes bulir.

CATERINA:

- Em tanto por vida minha

Será bem que ordenemos A nossa chacotazinha, (74)

E com ela nos iremos

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Fazer nossa despedida:

Ordenam-se todos estes pastores em chacota, como

lá se costuma, porém a mú-

sica dela pode ser acompa-

nhada de canto d'órgão e a

letra é a seguinte Cantiga

do rancho:

«Tim Tim sou da Beira Ata Da Beira Alta terra bravia

Em trono ‘stou colocada

Só vejo serras e penedia...

Tim tim olaré tim tim

Você diz que não

Eu digo que sim...

Ao romper da bela aurora Pelo mar fora

É um jardim...

(Ou outra para cantar e bailar que

pode ser encontrada nas obras cita-

das...)

E com esta chacota se sai-

rão, e assim se acaba...

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Tragicomédia Pastoril da SERRA DA ESTRELA

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Nota Geral: Embora a adaptação tenha sido feita sobre o texto de Gil

Vicente, a intenção é torná-lo o mais próximo possível da oralidade usada na linguagem comum... Embora se tenha

feito um esforço neste sentido, metendo, na medida do possível, alcunhas, nomes e expressões usadas na Serra

e em Manteigas, é evidente que no trabalho de adapta-ção, montagem e realização, tanto o encenador como ca-

da um dos personagens terão toda a liberdade e espaço para recriar e assumir a forma de falar e de interpretar

que possa transmitir aos espectadores a imagem fiel de uma cultura, maneira de ser e de falar de uma região ou

a nossa Terra... na Serra... Se essa oralidade já se está a perder ou a mudar, será importante ter em conta o estu-

do do fenómeno e medir até que ponto será importante valorizar os usos e costumes, que eram válidos e perti-

nentes, ou não?, numa determinada época... Por exemplo a segunda metade do século XX, início de XXI...

Notas dispersas: 1 «Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem ra-

zão.»

2 «Caldo de abóbora na tua casa, ficam os vizinhos, oito dias sem pulso.»

3 «Vozes de burro não chegam ao céu...» 4 “Dá Deus o frio, conforme a roupa.»

5 «Quem não pode arreia.» 6 «Capa e merenda nunca fizeram má companhia.»

7 De Lisboa, não vem coisa boa.» 8 «Não é tarde, nem é cedo, / Chegas mesmo a boa hora! /

Meu pai já está deitado / minha mãe deitou-se agora!» - Moda Alentejana.

9 Ver: Formas de cumprimentar e saudar... 10 «Antes da sopa, molha-se a boca; no meio dela, lava-se a

goela; sopa acabada, goela lavada.» 11 «De Lisboa, não vem coisa boa.»

12 «Ninguém é profeta na sua terra.» 13 «Encomendas sem dinheiro, esquecem ao primeiro ribeiro.»

«Mais vale um gosto do que cem escudos no bolso.» 14 «Água corrente não mata a gente.» «Água mole em pedra

dura, tanto dá ate que fura.» «Ninguém diga: desta água não beberei.» «A água tudo lava, menos a má-língua.»

15 «A água da Serra, desfaz o peixe, até ficar só a espinha.»

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16 «Os ares da Serra tudo curam!»

17 «De Espanha não esperes bom vento, ou bom casamento.» 18 «Deus escreve direito, por linhas tortas.»

19 «É torto, que nem um arrocho!» 20 «Quando abre a boca, ou entra mosca ou sai asneira.» -

«Vozes de burro, deus não ouve.» - « Vozes de burro, não chegam ao céu.»

21 «Haja saúde e coza o forno.» 22 «Não há bem que sempre dure, nem mal que sempre atu-

re.» 23 «Ver: Formas de cumprimentar e saudar... 24 «Ser bem educado não custa dinheiro!» a não ser aquele senhor que furava o bico do chapéu, de tanto o tirar para cum-

primentar... e tinha de comprar outro... 25 «Quem muito fala, pouco acerta.»

26 «Teresinha avoa, avoa, que o te pai ‘stá em Lisboa; come a carne e deixa o osso, amanhã, p’ró teu almoço.»

27 Ver usos e costumes: Quando se falava em “porcos” tinha-se de dizer antes: “Com sua lecensa!”.» “Vim agora do cortelho

e, com sua lecensa, o porco, não vai lá muito em de saúde, pois deixou a vianda na pia...

28 Lá diz o ditado: «O corno (o interessado) é sempre o último a saber!»

29 Ver usos e costumes: Fazia parte do bragal da noiva, o len-çol rachado ao meio, com o corte debruado, para poderem

acasalar sem o homem ver a mulher nua!... 30 «Andar c’o fogo no rabo.» Andar desinquieto... nervoso...

com ela fisgada... 31 «Posso pôr as mãos no fogo... no lume.»

32 Aqui, para aliviar, ou para ter oportunidade de lançar uma Ladainha de Alcunhas recolhidas em Manteigas, pode meter-

se, como em outras alturas, uma fala do PARVO, com estas ou outras intervenções, género ditados populares ou expressões

correntes... que, ao mesmo tempo que fazem rir, fazem o le-vantamento e um Universo linguístico que importa recordar e /

ou preservar

PARVO: Não será a Graça Ideia?!

Ou talvez a Ana Aldeia, A Aurora Carragosela...

Atão a Lurdes Estrela A Fazenda, ou a Canilha...

A Garra? a Fraga? A Ferrão? A Fiadeiro? A Canilha?

A Zé de Matos? A Mata?

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Tragicomédia Pastoril da SERRA DA ESTRELA

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É talvez a Patriarca?!!!

A Saraiva? A Serra? A Silva’ A Veiga? Viegas? Vinagre?

Qu’rias lá que fosse a Arjoa

Ou a Maria Peteto A Badana ou a Baiaia?

Talvez a Bichina d’Ouro?!!! Então, a Graça Caçalha?

Ou é melhor a Canhota? Alguma das Caravelas?

É a Carriça, a Chaqueto?

Ou a Chiça Bacorinha? A Coelho Morto? A Condessa?

A Cu de Pita? A Esbica? A Estrelada? A Faísca?

A Fininha ou a Gancheira? A Geirinhas? A Garrincha?

A Farnhote ou a Farromba? A Freches? A Gacho Verde?

A Gancheira ou a Ganilhas? É a do Gidro? É a Jonja?

A Má Cabelo? Lagarto? É por lá a Malagueta?

Ou atão a Managite? A Merda Frita? A Merrinha?

É a Mereira ou a Mocha? A Olhlá? A Nhó-Nho?

A Palhaça ou a Palixa? A Passianda? A Passinha?

Ou a Pasta de Couraça? A Pastana ou a Patacas?

Pataquinho? Patriarcas? A Pelada ou a Penetra?

A Perneta? Pernadas? Pernas de Aranha, Pessenha?

A Peteto ou a Piascra? A Pirra? A Pita Gordinha?

A Poeira ou a Polainas? A Poupa Negra? A Pópó?

A Pragas? A Quarteladas? A Pulquéria? A Rato ou Rata?

Pode ser uma Cagatas? A Reguilha? Ou a Riquinho?

A Sardinha das Sarnadas?

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A Sim-Sim? Tarau de Bruxa?

A Trambolhana ou a Trempas? A Virgem? Ou a Viúva?

A Xexia? ou a Vinagre? …

Irra! Tola rapariga N’o há aí quem te cale?

Antes ficaras de pronto Surda, muda tartamuda...

33 «O homem é fogo, a mulher estopa; vem o diabo e asso-

pra.» «A mulher e a sardinha, quer-se da mais pequenina.» 34 «Palavra de rei (de Homem honrado) não volta atrás...»

35 Ver ditados populares e: «Mais vale um mau acordo que uma boa demanda...»

36 «Mais vale ter, na vida um gosto, do que cem mil reis no bolso (na algibeira).» «Antes que cases, vê o que fazes.»

37 «A falar é que a gente se entende.» 38 «Quem desdenha, quer comprar.»

39 «Antes a morte, que tal sorte.» 40 «Nem por sonhos!»

41 «Mais vale prevenir, que remediar!» 42 «O que tens é paleio!... O que tens é gorja!... Tens muita

garganta!...» 43 «Água fria acalma...»

44 «Com o mal dos outros, posso (aguento, governo-me) eu bem!»

45 «O que tens é ronha!» 46 «Se eu soubesse o que sei hoje, outro galo cantaria!»

47 «Que eu seja ceguinho...» - uma forma de juramento... «Quem jura e torna a jurar, ao inferno vai parar.» «Ceguinho

de gota serena.» - Completamente cego, como o cego de nas-cença! «É preciso ser cego!» - quando não se vê algo eviden-

te... «Até um cego via!» «O cego é o que melhor vê!» 48 «Andar nas bocas do Mundo...» «Mais vale andar no mar al-

to, do que as bocas do mundo!» 49 «Entre marido e mulher, não metas a colher!»

50 «o prometido é devido.» 51 «Ninguém foge ao seu destino!» «É o destino!»

52 «Pelo andar da carruagem, se sabe quem lá vai dentro!» 53 «Tirar os três.» «Já não tem os três.» «Não vales os três

vinténs!» Referência ao tempo em que o noivo pagava três vin-téns, na altura em que pedia a mão da filha, ao pai... ela ficava

comprometida, ou os outros depreendiam que não ficava vir-gem por muito tempo... «perdendo os três!»

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54 «Que te faça bom proveito!...» «As más acções ficam com

quem as pratica, as boas, alegram todos.» 55 «Vai lavrar p’ra outro lado qu’este já ‘tá ocupado!» «Vai dar

uma volta...» «Vai dar uma curva ao bilhar grande.» «Vai ver se chove!» «Podes tirar o cavalinho da chuva.» - «Vai-te lá ba-

lhando!» – equivalente alentejano.) 56 «Comer e beber à tripa forra.»

57 «Gastar (ter) à grande e à francesa!» 58 Tirar a mão da fruta.» «Tira daí o sentido.»

59 «Não valer um pataco furado.» 60 «Ser bem aparentado.» «Ter bons padrinhos.» «Ter boa

madrinha.» - é assoprar com força... «Quem tem bons padri-nhos, não morre mouro...» «Ser de boas famílias...»

61 «Quem despreza o baixo, o alto o abaixará!» 62 «Vai ao demo que o carregue.»

63 «Lá foi tudo p’ró galheiro!» - que deve ser o sujeito mais ri-co lá da terra pois fica com tudo o que os outros perdem...

64 «Querer de alma e coração!» 65 «Não há rosas sem espinhos!» «Não há bela sem senão!»

«Quem vê a casa do vizinho a arder, põe as barbas de molho!» 66 «Quem dá aos pobres, empresta a Deus!»

67 «Quem o feio ama, bonito lhe parece.» «Cada um deve con-tentar-se, com aquilo que tem.»

68 «quem tudo quer, tudo perde!» «O que sabe bem, ou faz mal ou é pecado!»

69 «Tristezas não pagam dívidas.» «Quem canta seus males espanta; quem chora, os seus males dobra.»

70 «Na terra aonde fores a ter, faz como vires fazer.» 71 A chacota era dança tradicional por altura do Carnaval e

outras festas em que as pessoas se divertiam metendo-se umas com as outras... Ver a “Serração da velha” o “Enterro do

bacalhau...”

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Ver ainda outras obras, relaciona-

das com Manteigas e a Serra da Es-trela, em SEIS JORNADAS, do mes-

mo autor com vários outros deNÓ-MIOS:

- Viagens do Cigano Castanho e da

Cigana Mariana através do Maravi-lhoso – Contos e Cantos e Lendas de

enCANTAR... Iª Jornada: a estória do Pobre Cei-

feiro Rico – ou a istória das estórias... de José Penedo da Ser-ra, Corroios, 2000.

IIª Jornada – A Verdadeira História do Pastor da Serra da Es-trela, contado do Alto dos 2000 anos..., por José da Serra do

Vale do Zêzere, Penedo gordo, Beja, Corroios, Seixal 1981 –2000.

IIIª Jornada – O ECO do GRITO surdo do ÍNDIO a ribombar pe-las ENCOSTAS DA SERRA DA ESTRELA, pelo Búfalo Castanha,

Penedo Gordo, 1985, Corroios, 2000.

e VIAGEM À MINHA STerra – Serra da Estrela Manteigas – NO-MINÁLIA ou a FESTA DOS NOMES:

IVª Jornada – NOMINÁLIA dos Sítios, Montes e Lugares... Vª Jornada – NOMINÁLIA – Alcunhas e Apelidos...

VIª jornada – NOMINÁLIA ou Ditos e Expressões do nuosso buom Fualuar...

todas por José da Serra do Vale do Zêzere, Penedo Gordo 1985, Corroios, 2000.

Em preparação, de que este volume é uma Mostra: VIIª Jornada – LENDAS DA SERRA da clara ESTRELA d’ALVA... (desde 1989)

VIII – A CANTATA da SERRA em DEZ ANDAMENTOS... (Esbo-

ço... 1988) IXª As Falas do Velho Jovem... e Outra istórias...(Esboço 1983)

Complementos:

VIIª I - LENDA DA SERRA – 5 versões da Lenda do Pastor da Serra da Estrela – Setembro de 2001.

VIIª - II – ALFÁTIMA – Um Reino de Outro Mundo – 9/10 VER-SÕES da Mouras de enC(o)ANT(r)AR. Set. 2001.

IV - V - VIª - I – TRGICOMÉDIA PASTORIL DA

SERRA DA ESTRELA – Gil Vicente – José Gil Vi-cente da Beira – Outubro de 2001.

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Este trabalho foi acabado de realizar e

imprimir @ JORAGA – Pentium 200 - WinWord,

Hewlett Packard Desk Jet 710C

Corroios, Setembro de 2001

com todos os direitos reservados por:

JORAGA

em viagem...

[email protected] visite a minha TEIA na REDE - o Site na WEB –

http://www.joraga.net

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Manteigas – Serra da Estrela

(Foto dos anos quarenta?)