Exclusivo

Emprego

“O cenário de 2030 é assustador”, diz Paulo Azevedo sobre o emprego e a urgência da requalificação

O projeto está a conquistar empresas e países e “Portugal está a destacar-se nos resultados”, diz Paulo Azevedo
O projeto está a conquistar empresas e países e “Portugal está a destacar-se nos resultados”, diz Paulo Azevedo

Paulo Azevedo lançou grupo europeu para preparar as pessoas para as profissões do futuro. “Temos de acelerar a requalificação”, defende o presidente da Sonae

Quando olha para a Europa que se quer verde e digital no futuro próximo, Paulo Azevedo, presidente do conselho de administração da Sonae, o maior empregador privado não financeiro português, não tem dúvidas: “O cenário de 2030 é assustador” e a melhor resposta a dar é “acelerar na requalificação das pessoas”.

Os números dão uma ideia do que temos pela frente. Será preciso requalificar um milhão de trabalhadores na Europa até 2025 e 20 milhões no horizonte de 2030. Portugal tem 5 mil para requalificar até 2025 e 400 mil até ao fim da década.

Pensar o problema e lançar bases para a sua resolução foi uma das missões de Paulo Azevedo depois de passar a presidência executiva da Sonae à irmã Cláudia. E tudo se concretizou através da European Round Table for Industry (ERT), um fórum europeu para promover a competitividade e prosperidade na Europa e onde, diz o gestor sem complexos, “a Sonae só entrou porque era preciso ter lá uma empresa portuguesa”.

Sistema de ensino “reage tarde”

No ERT, fundou o R4E — Reskilling 4 Employment, dedicado à requalificação de pessoas em idade ativa, analisando o mercado, antevendo necessidades, antecipando funções e atividades que vão ficar obsoletas, cruzando dados, planeando, dando novas competências para o futuro.

Quem tem a informação necessária para tudo isto são as grandes empresas que no seu planeamento estratégico incluem o plano das necessidades profissionais para cumprir os objetivos. No sistema de ensino não há essa informação antecipadamente. Os provedores de formação começam a preparar cursos quando já há falta no mercado. É um sistema que reage tarde e estamos na fase de acelerar. A velocidade da mudança é enorme”, comenta ao Expresso.

Analisados os modelos de formação interna e externa de mais de 250 grandes empresas, desenhado o processo, Paulo Azevedo apresentou a proposta com a sua equipa às cúpulas da União Europeia. Recebeu elogios, mas percebeu que a iniciativa teria de ser das empresas. Avançou, então, para um projeto piloto em alguns países, para depois expandir.

“Começamos em Portugal, Espanha e Suécia”, conta o gestor que envolveu naturalmente a Sonae a par da SAP e da Nestlé. Em Espanha, tudo começou com a SAP, a Telefónica e a Iberdrola. na Suécia, o arranque foi feito com Volvo e a AstraZeneca. Entretanto, Grécia e Alemanha juntaram-se à experiência. Finlândia e Itália estarão no R4E até ao fim do ano. Bélgica e França preparam o arranque.

Empregabilidade nos 85%

Em causa estão competências para técnicos de manutenção e operação na indústria, técnicos de instalação e eletricistas nas renováveis, enfermeiros, técnicos de saúde e todas as profissões médicas, técnicos ambientais e agrícolas na agricultura, programadores, inteligência artificial, análise de dados e cibersegurança, no sector digital, técnicos comerciais, resume.

Do outro lado, a exigir requalificação estão profissionais em áreas automatizadas na indústria, na logística, em tarefas administrativas.

Se Paulo Azevedo foi surpreendido neste processo, foi pela “forma como tudo correu bem em Portugal, a destacar-se nos resultados. Nenhum país teve esta ligação ao Estado tão fácil, célere e colaborativa, incluindo o trabalho feito com o IEFP — Instituto do Emprego e Formação Profissional ”, comenta.

Custo médio por formando é de €7 mil

É assim que o Pro_Mov, o programa nacional desta iniciativa europeia, já lançou sete laboratórios e 14 cursos com um tempo médio de formação de 8 meses, entre sala de aula e ambiente de trabalho. Nos três cursos já concluídos a taxa de empregabilidade foi de 85%. Até ao fim do ano, estarão formadas 500 pessoas em Portugal em 72 empresas aderentes, com um custo médio per capita de €7 mil, dividido entre as empresas (2.000 euros e o IEFP e 5.000 euros).

“Mas a partir de agora isto tem de escalar. As necessidades são crescentes e queremos chegar a 5 mil pessoas até 2025”, comenta Paulo Azevedo, sublinhando o interesse “de todos os países europeus na experiência nacional”. “Querem vir cá ver como fazemos. E tornamo-nos modelo numa coisa que nunca diria, as parcerias público-privadas”, assume.

A assinatura do protocolo do Pro-Mov com a CIP, esta quinta-feira, promete ser uma forma eficaz de aumentar a base empresarial, mas Paulo Azevedo assume a ambição de juntar novas bases de dados aos do IEFP e alargar o projeto às PME, que “não têm a mesma capacidade de fazer isto e são parte fundamental do tecido empresarial nacional”. Do lado do Pro_Mov, a ambição é juntar nesta rede mais de 500 empresas.

Três perguntas a Paulo Azevedo

Como se tornou o “pai” do Reskilling 4 Employement?

Somos a empresa mais pequena do ERT (European Round Table for Industry) e assumi que quando fosse presidente da Sonae daria o meu contributo. Eles terão percebido que era um dos mais preocupados com a área social e ambiental, convidaram-me para liderar um grupo de trabalho de impacto. Como gosto de coisas com ambição, quis algo onde pudéssemos ter grande impacto. A falta de pessoas qualificadas para profissões de futuro numa Europa que se quer verde e digital era um problema urgente a resolver.

A educação e a formação também eram causas do seu pai, Belmiro de Azevedo, que dá nome à fundação onde estamos...

Sim. A Fundação está focada na educação. Tenho muito orgulho no que fazemos, apesar de sermos uma pedrinha pequena.

E o que anda mais a fazer?

Estou na presidência da Sonae, das empresas irmãs, da BA Glass, da Efanor e da Fundação Belmiro de Azevedo, ajudo no Espaço T — Associação para o Apoio à Integração Social e Comunitária, fundei a associação de conservação da natureza Viridia, com projetos em Portugal e Angola, presidi ao Comité de Instalação do Biopolis e aceitei, agora, ser professor catedrático das faculdades de Economia e de Ciências da Universidade do Porto e do Biopolis num grupo de investigação dedicado à compatibilidade entre sistemas socioeconómicos e o nosso planeta. São talvez mais coisas do que seria sensato.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: mmcardoso@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate
+ Vistas