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AMARAL, Amadeu - O Dialeto Caipira

Published by moisesendrigocordeiro, 2016-09-25 19:11:22

Description: AMARAL, Amadeu - O Dialeto Caipira

Keywords: AMARAL, Amadeu - O Dialeto Caipira

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zimbora, pois o som de z, resultante originariamente da ligação de vamos comembora, passou a ser entendido pelo caipira como parte integrante da segunda palavra; tanto assimque diz: nóis bamo, e diz: êle foi zimbora. Prótese semelhante se dá em zóio (olhos), zarreio(arreios), com o s do art. def. plur. - Outro caso curioso é o que se dá com a expressão portuguesauns pares deles, ou delas, que o nosso caipira alterou para uns par dele e u\"as par dela. A frase - Vai-me buscar uns pares deles, ou delas, assim se traduzirá em dialeto: Vai-me buscá uns par-dele, ouu\"as par-dela, como se par-dele e par-dela fossem as formas do masculino e do feminino de umsimples substant. coletivo.GRADAÇÃO8. As flexões de grau subordinam-se às regras gerais da língua. Apenas algumas observações: a) QUANTIDADE - O aumentativo e o diminutivo têm constante emprego, sendo que as flexões vivas quase se limitam a ão ona para o primeiro, inho inha, ico ica para o segundo. Nos nomes próprios de uso mais generalizado, há grande número de formas consagradas:Pedrão, Pedróca, Zé, Zezico, Zéca, Zêquinha, Juca, Juquinha, Jica, Jéca (José); Quim, Quinzinho,Quinzóte (Joaquim); Joanico, Janjão, Zico, (João); Totá, Totico, Tonico (Antônio) Mandá, Manduca,Maneco, Mané, Manécão, Manéquinho (Manuel); Carola (Carolina); Manca, Maricóta, Mariquinha,Mariquita, Maruca, Maróca (Maria); Colaca, Colaquinha (Escolástica); Anica, Aninha (Ana) ; Tuca,Tuda, Tudinha, Tudica (Gertrudes). O emprego do aumentat. e do dimin. estende-se largamente aos adjetivos e aos própriosadvérbios: longinho, pertinho, assimzinho, agórinha. Acompanham estas últimas formasparticularidades muito especiais de sentido: longinho equivale a \"um pouco longe\"; pertinho, a \"bemperto, muito perto\"; assinzinho, a \"deste pequeno porte, deste pequeno tamanho\"; agorinha, a \"nestemesmo instante\", \"há muito pouco\", \"já, daqui a nada\". Dir-se-ia existir qualquer \"simpatia\" psicológica entre a flexão diminutiva e a idéia adverbial.São expressões correntes: falá baxinho, parô um bocadinho, andava deste jeitinho, vô lá numinstantinho, falô direitinho, ia devagarinho, fartava no sírviço cada passinho, etc. b) COMPARAÇÃO - As formas sintéticas são freqüentemente substituídas pelas analíticas: mais grande, mais piqueno, mais bão, mais rúm e até mais mio, mais pió. c) SUPERLATIVIDADE - Quase inteiramente limitada às formas analíticas.FLEXÕES VERBAIS9. PESSOA - Só se empregam correntemente as formas da 1.ª e 3.ª pessoas. A 2.ª pessoa do sing.,embora usada às vezes, por ênfase, assimila-se às formas da 3.ª: Tu num cala essa bôca? Tu vai? A 2.ªdo plur. aparece de quando em quando com suas formas próprias, no imperativo: oiai, cumei.10. NÚMERO - O plural da 1.ª pessoa perde o s: bamo, fômo, fazêmo. Quando esdrúxula, a formase identifica com a do sing.: nóis ia, fosse, andava, andasse, andaria, fazia, fizesse, fazeria. Nas formasdo preter. perf. do indic. dos verbos em ar, a tônica muda-se em e: trabaiêmo - trabalhamos, caminhêmo = caminhamos.O plural da 3.ª modifica-se: quérim, quiríum, quizérum, quêirum; ándum, andávum, andárum,ándim. No pres. do indic. de pôr, ter, vir, as formas da 3.ª pessoa são: ponham, tenham, venham.11. MODOS E TEMPOS - 0 fut. imperf. do indic. exprime-se com as formas do presente: eu vô,nóis fazêmo, ele manda, por \"eu irei\", \"nós faremos\", \"ele mandará\". Entretanto, dubitativamente,empregam-se as formas próprias, às vezes modificadas: Fazerêmo? - Fazerá? - Não sei se fazerei -Quem sá' se fazerão! Será verdade? Sei lá se irei!12. Com o condicional se dá coisa parecida. Correntemente, é expresso pelas formas do imperf. doindic.: eu dizia, ele era capáiz; mas: Dizeria? - Não sei se poderia - Seria verdade?13. Aparecem não raro formas próprias do imperativo, do sing. e do plur., - anda, puxa, vai, andai,correi, trabaiai; são, porém, detritos sem vitalidade, que se empregam sem consciência do seu papelmorfológico, de mistura com as formas da 3.ª pessoa, únicas vivas e correntes.PRONOMES14. Tu tem emprego puramente enfático, ligando-se a formas verbais da 3.ª pessoa: tu bem sabia, tuvai, tu disse, Vóis (vós) já não se ouve, senão, talvez, excepcionalmente.15. Os casos oblíquos nos, vos têm emprego muito restrito: na maior parte das vezes preferem-se-lhes as formas analíticas pra nóis, pra você. Vos já não corresponde a Vós, mas a vacê: - v. já deve desabê, porque eu vos disse muntas vêis.16. Outras formas pronominais: a gente, u\"a pessoa (ambas correspondentes ao francês on) ; você esuas variantes, todas muito usadas, vacê, Vancê, vossuncê, vassuncê, mecê, ocê.17. Um fato que merece menção, apesar de pertencer mais ao linguajar dos pretos boçais do quepropriamente ao dialeto caipira: a invariabilidade genérica do pronome ele, junta à invariabilidadenumeral. Quando se trata de indicar pluralidade, o pronome ele se pospõe ao artigo def. os, e tantopode referir-se ao gênero masculino, como ao feminino: osêle, zêle fóro zimbora - eles (ou elas)foram-se embora. IV. - SINTAXE1. A complexidade dos fenômenos sintáticos, ainda pouco estudados no dialeto, - apenas enumeradosàs vezes, - não permite por ora sequer tentativas de sistematização. Só depois de acumulado muitomaterial e depois de este bem verificado e bem apurado é que se poderão ir procurando as linhasgerais da evolução realizada, e tentando dividi-lo em classes.O material que conseguimos reunir é pouco, e ainda não estará livre de incertezas e dúvidas; mas foicolhido da própria realidade viva do dialeto, e tão conscienciosamente como o mais que vai expostonas outras partes deste trabalho.FATOS RELATIVOS AO SUJEITO2. Há no dialeto urna maneira de indicar o sujeito vagamente determinado, isto é, um indivíduoqualquer de uma classe ou indivíduos quaisquer de uma classe. Exprime-se por um substantivo nosingular sem artigo: Cavalo tava rinchando - Macaco assubiô no pau - Mamono tá rebentano (Umcavalo estava a rinchar, rinchava - Um macaco assoviou, macacos assoviaram no pau - O mamonoestá, os mamonos estão rebentando).3. Convém acrescentar, porém, que a supressão. do art. def. antes do sujeito, mesmo determinado,não é rara: Patrão não trabaia hoje -Pai qué que eu vá - Chuva tá caíno.4. Quando o sujeito é algum dos coletivos gente, família, etc., o verbo aparece freqüentemente noplural: Aquela gente são muito bão(s) - A tar famía são levado da breca - A cabocrada tão fazenofesta. Encontra-se esta particularidade, igualmente, no falar do povo português, e vem de longe,como provam numerosos exemplos literários. Um de Camões (Lus., I, 38): Se esta gente que busca outro hemisfério, Cuja valia e obras tanto amaste, Não queres que padeçam vitupério. Outro, de Duarte N. (\"Orig.\", cap. 2.º): ...com hu\"a gente de Hespanha chamados indigetes...5. As cláusulas infinitivas dependentes de para têm por sujeito o pronome oblíquo mim, nos casosem que o sujeito deveria ser eu: Êle trôxe u\"as fruita pra mim cumê(r).Este, como muitos outros, como quase todos os fatos da sintaxe caipira e popular de S. Paulo,repete-se nas outras regiões do país. Um exemplo dos \"Cantos populares\" de S. Romero: Ora toque, seu Quindim. Para mim dansar.PRONOME6. O pronome ele ela pode ser objeto direto: Peguei ele, enxerguei elas. Este fato é um dos maisgeneralizados pelas diversas regiões do país. Dele se encontram alguns exemplos em antigosdocumentos da língua; mas é claro que o brasileirismo se produziu independentemente de qualquer relação histórica com o fenômeno que se verificou, sem continuidade, no período ante-clássico doportuguês.7. O pronome oblíquo o a perdeu toda a vitalidade, aparecendo quase unicamente encravado emfrases ossificadas: Que o lambeu! Etc.8. Sobre as formas nos e vos, ver o que ficou dito na \"Morfologia\".9. De lhe só usam os caipiras referido à pessóa com quem se fala. Assim, dizem eles, dirigindo-se aalguém: - Eu já le falei, fulano me afianço que le escrevia, i. é, \"eu já lhe falei\" (ao senhor, a você),\"fulano me assegurou que lhe escrevia\" (a você, ao senhor). Pode dizer-se, pois, que o pronome lhe,conservando a sua função de pronome. da \"terceira\" pessoa gramatical, só se refere, de fato, à\"segunda\" pessoa real. Aludindo a um terceiro indivíduo, o caipira dirá: Eu já decrarei pr'a ele, fulanome garantiu que escreveu pr'a ele.10. J. Mor. (1.º vol), tratando do emprego de formas pronominais nominativas como complementoseguido de prep. (no aragonês, provençal, valenciano, etc.), diz: De construção semelhante encontram-se exemplos nos \"Cantos populares do Brasil\", interessante publicação do sr. Sílvio Romero: Yayá dá-me um doce, Quem pede sou eu; Yayá não me dá, Não quer bem a eu.É possível que no Norte elo país se encontre essa construção. Em S. Paulo o caipira diz: Não québem eu, sem prep., ou não me qué bem eu. Aliás, isto é fato isolado. A regra, quando se trata daprimeira pessoa, e usar dos casos oblíquos: Não me qué, não me obedece, não me visitô.CONJUGAÇÃO PERIFRÁSTICA11. Na conjugação perífrástica o gerúndio é sempre preferido ao infinitivo precedido de preposição,vulgar em Portugal e até de rigor entre o povo daquele país. (J. Mor., cap.. XX, 1.º vol.). Aqui se diz,invariavelmente: - Anda viajando - Ia caindo, estão florescendo, ao passo que, em Portugal,especialmente entre o povo, se diz em tais casos: \"estou a estudar\", \"anda a viajar\", \"ia a cair\" oupara cair\", etc. O nosso uso é o mesmo dos quinhentistas e seiscentistas, dos quais se poderia citarcopiosíssima exemplificação. Escrevia frei Luís de Sousa na \"Vida de Dom Frei Bartolomeu\", deperfeito acordo com a nossa atual maneira: \"... ia fazendo matéria de tudo quanto via no campo e na serra para louvar a Deos; offereceu- se-lhe á vista não longe do caminho... um menino pobre, e bem mal reparado de roupa, que vigiava umas ovelhinhas que ao longe andavam pastando.12. A ação reiterada, contínua, insistente, é expressa por uma forma curiosíssima: Fulano anda corrê-corrêno p'ras ruas sem o quê fazê - A povre da nha Tuda véve só chorá-chorano despois que perdeuo marido (V. \"Morf.\", 1). TER E HAVER13. O verbo ter usa-se impessoalmente em vez de haver, quando o complemento não encerra noçãode tempo: Tinha munta gente na eigreja - Tem home que não gosta de caçada - Naquêle barrancotem pedra de fogo.14. Quando o complemento é tempo, ano, semana, emprega-se às vezes haver, porém, maisgeralmente, fazer: Já fáiz mais de ano que eu não vos vejo - Estive na sua casa fáiz quinze dia.15. Haver é limitado a certas e raras construções: Há que tempo! - Há quanto tempo foi isso? - Numhai quem num saiba. Nessas construções, o verbo como que se anquilosou, perdendo sua vitalidade.Restringimo-nos, entretanto, neste como em outros pontos, a indicar apenas o fato, sem o precisarcompletamente, por falta de suficientes elementos de observação.Vem a propósito referir que a forma hai, contração e ditongação de há aí (por \"há i\", que seencontra em muitos documentos antigos. da língua) só é empregada, que saibamos, nestascondições: - quando precede ao verbo o advérbio não, como no exemplo dado acima; - quando o verbo termina a proposição: É tudo quanto hai - Vô vê se inda hai.\"CHAMAR DE\"16. O verbo chamar, na acepção de \"qualificar\", emprega-se invariavelmente com de: Me chamô derúin - Le chamava de ladrão. O verbo chamar (diz, referindo-se a Portugal, J. Mor., cap. XXVIII, 1.ªvolume) não se usa hoje com tal construção nem na linguagem popular nem na literária. mas teve-aem outro tempo, do que se encontram exemplos, como no seguinte passo de Gil Vicente, vol. II, p.435: Se casasses com pàção, Que grande graça seria E minha consolação! Que te chame de ratinha Tinhosa cada meia hora etc.ORAÇÕES RELATIVAS17. Nas orações relativas não se emprega senão que. Nos casos que, em bom português, reclamameste pronome precedido de preposição, o caipira desloca a partícula, empregando-a no fim da frasecom um pronome pessoal. Exemplos: A casa em que eu morei ......... A casa... que eu morei nela O livro de que falei ................. O livro... que eu falei dele. A roupa com que viajava ......... A rôpa... que viajava cum ela.18. Freqüentemente se suprimem de todo a preposição e o pronome pessoal, e diz-se: a casa que eumorei, o livro que eu falei, ficando assim a relação apenas subentendida. 19. Os relativos o qual, quem e cujo são, em virtude do processo acima, reduzidos todos a que: • O cavalo com o qual me viram aquele dia. • O cavalo que me virum cum êle aquêle dia. • A pessoa de quem se falava • A pessoa que se falava dela • O homem cujas terras comprei • O home que eu comprei as terra dele.Em Portugal observa-se entre o povo idêntico fenômeno, isto é, essa tendência para a simplificaçãodas fórmulas das orações relativas. Lá, porém, tais casos são apenas freqüentes, e aqui constituemregra absoluta entre os que só se exprimem em dialeto, - regra a que se submetem, sem o querer, atépessoas educadas, quando falam despreocupadamente.20. Outra observação: lá, o relativo quem precedido de a se resolve em lhe, e aqui só se substitui porpra ele. Assim a frase - \"o menino a quem eu dei meu livro\" será traduzida, pelo popular português: \"o menino que eu lhe dei um livro\"; pelo nosso caipira: o minino que eu dei um livro pra ele (ou prêle).Seria mais curial que, em vez de pra ele, se dissesse a ele; mas há a notar mais esta particularidade,que o nosso povo inculto prefere sempre a primeira preposição à segunda.NEGATIVAS21. Na composição de proposições negativas, o adv. já, corrente em português europeu, é de tododesconhecido no dialeto. Em vez de \"já não vem\", \"já não quero\", diz à francesa, ou à italiana, onosso caipira (e com ele, ainda aqui, toda a gente está de acordo, por todo o país): num vem mais,num quero mais. Esta prática é tão geral (diz, referindo-se ao Brasil, J. Mor., cap. XXX, 1.º vol.) que ospróprios gramáticos não sabem ou não querem evitá-la. Assim, Júlio Ribeiro, na sua GramáticaPortuguesa, escreve: \"Hoje não é mais usado tal advérbio\". Entre nós dir-se-ia: \"já não é usado\" ou\"já não se usa tal advérbio\". A observação é em tudo exata. Só lhe faltou acrescentar que, como tantas outrasparticularidades sintáticas de que nos ocupamos, também desta há exemplos antigos na língua, etalvez até em Gil Vicente, que J. Mor. tão bem conhecia e a cada momento citava. Eis um exemplo,onde, pelo entrecho, mais pode ser tomado como negativo: ANJO - Não se embarca tyrannia Neste batel divinal. FIDALGO - Não sei porque haveis por mal Qu'entre minha senhoria. ANJO - Pera vossa fantasia Mui pequena he esta barca. FIDALGO - Pera senhor de tal marca Não há hi mais cortezia? Um exemplo bem positivo de J. B. de Castro, \"Vida de Cristo\", (liv, IV): \"Meu pae, contra Deus e contra vós pequei e não mereço que me chameis mais vosso filho...\"22. O emprego de duas negativas - ninguém não, nem não, etc., assim contíguas, - vulgar na sintaxeportuguesa quinhentista, mas hoje desusado na língua popular de Portugal, e na língua culta tanto lácomo cá, - é obrigatório no falar caipira: Nem eu num disse - Ninguém num viu - Ninhum num fica.Deste uso no séc. XVI pode-se apresentar copiosa exemplificação.23. Mas há fato mais interessante. A negativa não repetida depois do verbo: não quero não, não vounão, parece puro brasileirismo. Encontra-se, porém, repetidas vezes em Gil V., como neste passo: Este serão glorioso Não he de justiça, não. (Auto da Barca do Purg.)24. Também o trivial nem nada, depois de uma preposição negativa, tem antecedentes queremontam pelo menos a Gil V.: Sam cappellão d'hum fidalgo Que não tem renda nem nada. (Farsa dos Almocreves).CIRCUNSTÂNCIA DE LUGAR25. O lugar para onde é indicado com auxílio da preposição em: Eu fui im casa - Ia na cidade -Joguei a pedra n'agua - Chego na janela - Vortô no sítio. Deste fato, comum a todo o Brasil, e ao qual nem sempre escapam os próprios escritoresque procuram seguir os modelos transoceânicos, se encontram numerosos exemplos em antigosdocumentos da língua, e ainda há vestígios nas expressões usuais: cair no laço, caí em mim, sair emterra (J. Mor., cap. XXIV, 1.º vol.).CIRCUNSTÂNCIA DE TEMPO26. Os complementos de tempo são, na linguagem portuguesa de hoje, empregados quase semprecom uma preposição (a, e em), destinada a estabelecer uma espécie de liame que satisfaça o espíritodo falante. Assim, dizemos: \"Fui lá numa segunda-feira\" - \"No dia 5 ele virá\" - \"Anda por aqui acada instante\", etc. O caipira atem-se mais à tradição da língua. Ele dirá: Fui lá u\"a segunda-f\êra - Dia 5 ele vem- Anda por aqui cada passo - Mando notícia quarqué instante - Nunca está im casa hora de cumida.Compare-se com os seguintes exemplos, entre outros citados por J. Mor. (cap. XXV, 1.º vol.) E o dia que fôr casada Sahirei ataviada Com hum brial d'escarlata -(Gil V.) Esta ave nunca sossega, He galante e muito oufana; Mas a hora que não engana Não he pega. (Gil V.) Aquel dia que os romãos foram vençudos veerom a Rei Artur hu\"as mui maas novas. (\"Demanda do Santo Graal\").CIRCUNSTÂNCIA DE CAUSA27. Como o povo em Portugal (J. Mor., cap. XXVI, 1.º vol.) o nosso caipira usa a fórmula por amorde para exprimir circunstância de causa. \"Hei de ir a Régoa no domingo pr amor de ver se comproos precisos\" - é exemplo citado por Júlio Moreira. Em frase semelhante o caipira diria quaseidenticamente: \"Hei d'i na vila dumingo pramór de vê se compro os perciso\". Poderia, também,dizer simplesmente: mór de vê, ou ainda mó de vê.28. Outra fórmula caipira: por causo de, com o mesmo valor de por causa de. Essa alteração decausa em causo deve-se, talvez, a confusão com caso (que o caipira mudou em causo). É de notar que em Gil V. se encontra por caso. O mesmo poeta escreveu freqüentemente\"caiso\" (subst.), o que mostra que talvez se dissesse também \"por caiso\", e quem sabe se até \"porcauso\", como o nosso caipira. V. - VOCABULÁRIO O QUE CONTÉM ESTE VOCABULÁRIO Este glossário não se propõe reunir, como já dissemos em outro lugar, todos osbrasileirismos correntes em S. Paulo. Apenas regista vocábulos em uso entre os roceiros, ou caipiras,cuja linguagem, a vários respeitos, difere bastante da da gente das cidades, mesmo inculta. Quanto a esses próprios vocábulos, não houve aqui a preocupação de indicar todos quantosconstam das nossas notas. Deixamos de lado, em regra geral, aqueles que não temos visto usadossenão em escritos literários, e por mais confiança que os autores destes nos merecessem. Iguais reservas tivemos com os nomes de vegetais e animais. Alguns destes, dados pordiversos autores como pertencentes ao vocabulário roceiro, nunca foram por nós ouvidos, talvez pormera casualidade. Não os indicamos aqui. Outros, e não poucos, estão sujeitos a tais flutuações deforma e a tais incertezas quanto à definição (o que é muito comum na nomenclatura popular), que,impossibilitados, muitas vezes, de proceder a mais detidas averiguações, preferimos deixá-lostambém de lado por enquanto.AS VÁRIAS FORMAS Registam-se os vocábulos, em primeiro lugar, em VERSAL, na sua forma dialetal maisfreqüente, e como a pronunciam. Outras formas e pronúncias, quando há, se registam, quasesempre, logo na mesma linha (para não alongar demasiado este glossário), e em VERSALETE. Quando as formas dialetais diferem sensivelmente das correspondentes da língua, escrevem-se também estas, na mesma linha, em itálico. Nos casos em que a diferença pode ser indicada nopróprio título do artigo, assim se procede, como em ABOMBÁ(R), onde a queda de r estásuficientemente assinalada.ABONAÇÕES As citas que se fazem logo após as definições, para as esclarecer, levam muitas vezesindicação de autor, entre parêntese. Não quer isto dizer que os vocábulos tenham sido colhidos emtais escritores, pois até citamos algumas frases de autores estranhos ao Estado de S. Paulo; quer dizerapenas que tais vocábulos foram aí usados com o verdadeiro valor que lhes dão os roceiros paulistas. Tendo de juntar às definições frases que dessem melhor idéia dos termos, achamos que seriainteressante tirar essas frases de escritores conhecidos e apreciados, desde que quadrassemperfeitamente com o uso popular. Apenas lhes fizemos algumas modificações de grafia. ABREVIATURAS Além das abreviaturas de nomes de autores e outras que constam da lista inserta em outrolugar, há no vocabulário as seguintes, que convém esclarecer:• adj. - adjetivo. a • part. - particípio• adv. - advérbio, adverbial • pl. - plural• Br. - Brasil • Port. - Portugal• bras. - brasileiro, brasileirismo • port. - português• cast. - castelhano • prep. - preposição, prepositiva• conj. - conjunção pron. • pronome, pronominal• det. - determinativo • q. - qualificativo• dial. - dialeto, dialetal • rel. - relativo• ext. - extensão • signif. - significação• f. - feminino • sing. - singular• fig. - figurado, figuradamente • subst. - substantivo• i. - intransitivo • t. - termo• intj. - interjeição • t. - transitivo• loc. - locução • V. - Veja• m. - masculino, a • v. - verbo• p. - página • voc. - vocábulo O sinal | separa da definição e exemplificação do termo qualquer comentário ou nota que sejulgou útil acrescentar.ABANCÁ(R) [SE] - v. pron. - sentar-se: \"Entre i se abanque\". | De banco.ABANCÁ(R). v. i. - fugir: \"0 dianho do home, quano viu a coisa feia, abancô\"ABERTO DOS PEITO(S), - diz-se do animal de sela ou tiro, que, andando, cai para a frente.ABOBADO, q. - atoleimado, pateta: \"O cabo da guarda sopapeou o Quirino, abobado de medo,fazendo-o cambetear para dentro da salinha\". (C. P.) | Com signif. semelhante, Gil V. empregouatabobado, t. cast.ABOMBADO, q. - diz-se do animal de sela, tiro ou carga, extenuado de fadiga. Por ext. também seaplica a pessoa: \"Era em Fevereiro, eu vinha abombado da troteada...\" (S. L.).ABOMBÁ(R), v. i. - extenuar-se (o animal).ABRIDERA. s. f. - aguardente de cana. | De abrir (o apetite).AÇA, aço, q. - albino. | - Usado em quase todo o Brasil.ACARÁ, s. m. - peixe também chamado, no Brasil, cará e papa-terra (R. v. I.).ACAUSO, s. m. - casualidade: \"Isso se deu por um acauso\". | V. CAUSO.ACERTÁ(R), v. t. - ensinar (o animal de sela) a obedecer à rédea. | V. ACERTADÔ(R). ACERTADÔ(R), s. m. - indivíduo que acerta animais de sela: \"Passaram-se anos e a Eulália teve queaceitar o Vicente do Rancho, moço de boa mão e de boa cabeça, quando ele deu os últimos repassosnum piquira macaco do pai dela e entrou a cercar-lhe a mãe de carinhos e presentes. Q acertadornão enxergava terra alheia quando olhava da janela para fora...\". (V. S.).ACOCÁ(R), v. t. - mimar com excesso (a criança): \"Esse tar num dá pra nada. Tamem, o pai e a mãesó sabium acocá ele...\" Cp. à coca, expressão port., e também cuca, côca e côco. V. a primeira destaspalavras.ACOCHÁ(R), v. t. - torcer como corda: \"É perciso acochi meió esse fumo\". | De cochar.ACUPÁ(R), ocupar, v. t. \"De tudo isto tenho feyto hum roteiro que poderá acupar duas mãos depapell...\" (Carta de d. João de Castro ao rei, escrita em Moçambique).ADONDE, onde, adv. Só nas partes mais altas pareciam Uns vestígios das torres que ficavam. Adonde a vista o mais que determina E medir a grandeza co'a ruína. (G. P. de Castro, \"Ulisseia\") Também no Norte do Brasil persiste esta forma: Eu ante quina sê a pedra adonde lavava sua roupa a lavandêra (Cat., \"Meu Sertão\")AFINCÁ(R), v. t. - embeber, cravar (qualquer objeto delgado e longo): \"Afinquei o pau no chão\".\"Não afinque prego na parede\". \"O marvado afincô a faca no ôtro\". | É port., como fincar, mascom acepções diversas.AFITO, s. m. - mau olhado. | Apesar de nunca termos ouvido este voc., e só o havermosencontrado num escrito (\"A Superst. Paulistana\", eng. E. Krug), resolvemos registá-lo, por ser dosmais curiosos. É palavra antiga na língua com a significação de indigestão, diarréia (\"Novo Dic.\").Em cast. existe ahito, q., - o que padece de. indigestão ou embaraço gástrico. Comparando-se istocom o sentido que dão à palavra os caipiras. segundo o citado escritor, e com a expressão \"deitar ofito\", equivalente a \"deitar mau olhado\". que se encontra em Gil V., pode deduzir-se que asignificação primitiva do voc. port. e cast. deve ter sido, mais extensamente, a de - indisposiçãocausada por mau olhado, quebranto.AFORA(R), v. t. - tirar fora, subtrair. Usado apenas sob a forma do gerúndio, \"aforando\":\"Vinticinco, aforan(d)o quatro, são vintium\" | Acreditamos que seja hoje bem raramente usado esteexpressivo verbo, que ouvimos muitas vezes, porém há algumas dezenas de anos, e só numalocalidade paulista (Capivari).AGÒRINIIA, adv. - agora mesmo. neste instante.AGREGADO, s. m. - indivíduo que vive em fazenda ou sítio, prestando serviços avulsos, sem serpropriamente um empregado.AGRESTE, q. - ríspido, intratável, desabrido: \"Nunca vi home tão agréste como aquêle nhoTunico!\". - Também indica certos estados de ânimo indefiníveis e desagradáveis: \"Num sei o que éque tenho hoje: tô agréste...\" AGUAPÉ, s. m. - plantas que bóiam à superfície das águas remansosas ou paradas. | Do tupi?AGUARDECÊ(R), AGARDECÊ (R), agradecer, v. t. | Encontra-se guardeço na \"Cron. do Cond.\"(\"o que vos eu guardeço muito e tenho em seruiço...\", cap. XI), provavelmente por errada analogiacom guardar. A forma dialetal, que também aparece com freqüência aferesada, deve provir domesmo engano. - Na citada \"Cron.\" encontra-se igualmente agardeceo: \"E o mestre seedo dello ledomãdou logo chamar Nunalvrez e agardeceolhe muyto o que com Ruy Pereyra fallara...\", cap. XVI.AGUAXADO, q. - entorpecido por longa inatividade e pela gordura (o animal de sela). | Há quemescreva aguachado e ligue o voc. a guacho, mas erradamente. Origina-se, ao que parece, do árabealguaxa, de onde o castelhano aguaja (úlcera ou tumor aquoso que se forma nos cascos dos cavalosou das bestas) e o português ajuaga (\"tumor nos cascos das bestas\", segundo o \"Novo Dic.\"). -Parece indiscutível que o vocáb. veio do castelhano pela fronteira do sul, região onde é conhecido eusado. A mudança de sentido deu-se evidentemente pela similitude dos efeitos do tumor e dagordura, causas que por igual embaraçam a marcha. Como se deu essa mudança, eis o que é maisdifícil explicar. Talvez tenha influído nisso a palavra aguado, já existente em port., e, segundo certosautores, com a mesma origem (J. Rib., \"Fabordão\"). - As palavras aguado, aguar, aguamento, sãocorrentes em Portugal e Brasil. Aguado diz-se do animal atacado de certa doença que lhe tolhe osmovimentos: por aqui se prenderá a alguaxa, tumor do casco. Essa doença caracteriza-se por umaabundância de líquido seroso, que os nossos roceiros dizem existir no pescoço do animal e que sefaz vazar, geralmente, por meio de sangria: por aqui se relaciona com água. A doença é atribuídapelo povo, ao menos em alguns casos, a desejo insatisfeito de comer: ainda uma influência de água,pois o apetite faz vir água ã boca. Também se diz de uma criança que ela aguou quando ficou triste edescaída por ver outra criança mamar, não podendo imitá-la, ou por lhe apetecer coisa que não lhepodia ser dada. - Há razões para se desconfiar que a sangria atrás referida seja mera abusão dealveitaria bárbara, possivelmente originada, como tantas usanças e mitos, numa falsa etimologia. Dealguaxa ter-se-ia extraído aguar, aguado, por se ver ali o tema de água. Tratando-se de animal aguado,era forçoso que houvesse água, e foram descobri-la no pescoço, não já nos cascos, como seria maisrazoável. Existe essa água? Os roceiros afirmarão que sim, sem admitir dúvida, mas há quem duvide.Eis o que diz, por exemplo, o dr. E. Krug: \"Deve ser considerado superstição o tratamento deanimais aguados por intermédio de uma sangria, que se executa no pescoço. Esta superstição émuito espalhada no nosso Estado e mesmo pessoas que se devia presumir possuírem maioresconhecimentos na zootecnia usam-na. O estar aguado do animal nada mais é do que umcrescimento irregular dos cascos, geralmente devido a um excesso de marcha, etc., e isto, certamente,não se pode curar sangrando um animal. Diz-se que, depois de uma sangria, quando esta é feita deum só lado, o animal fica sempre manco; para se evitar este inconveniente sangra-se o animal dosdois lados. Não posso dizer se isto é também superstição ou fato verificado praticamente\". - Cp. ocast. aguas, ferida ulcerosa na região dos machinhos ou nos cascos dos animais; aguacha, água podre;aguachar-se, alagar-se, e outros vocábs. que têm, quase todos, correspondentes em port. - Em Goiás,segundo se depreende de uma frase do novelista Carv. Ramos (\"Tropas\", 25), corre a expressão\"aguar dos cascos\": \"...o macho mascarado trazido à escoteira, sempre à mão,... aguara dos cascos nasubida da serra de Corumbá...\"AÍVA, q. - adoentado, mofino. | O \"Novo Dic.\" regista o voc. com significação diversa: \"pessoa oucoisa sem valor, insignificante\". Em S. Paulo não se entende assim. - Do tupi aíba, ruim (Mont.).AJÚPE!, intj., usada pelos tropeiros para estimular os animais.ALACRANADO, LACRANADO, q. - diz-se de coisa cuja superfície está cheia de talhos eesfoladuras, como de dentes ou de espinhos. Derivado de alacran (o mesmo que lacrau, lacraia,alacraia), se é que não veio feito do cast., em cujo vocabulário antigo existiu forma igual, com asignificação de \"mordido de lacrau\".ALAMÃO, adj. patr. - forma dupla de alemão, muito antiga na língua.ALEGRE, s. m. - faca recurva com que se fazem colheres de pau. | Corr. de legra, que o \"Novo Dic.\" regista como provincianismo alentejano de origem castelhana.ALELÚIA, f. - fêmea alada do cupim, que sai, às centenas, dos ninhos, à tarde, e se desfaz das asascom extrema facilidade, logo que não mais necessita delas. O mesmo que sará-sará? (R. v. I.) V.SIRILÚIA.ALEMBRÁ(R), lembrar, v. | Esta prótese vem de muito longe na história da língua, e ainda é pop. Alambrava-vos eu lá? (Gil V., \"Auto da índia\")ALEMBRANÇA, lembrança, s. f.ALEMÔA, alemã, fem. de alemão.ALIFANTE, elefante, s. m. | Forma ant., e pop. tanto no Brasil como em Port.ALIMÁ, ALIMAR, LIMAR, animal, s. m. - Entenda-se \"animal cavalar\". | \"... me parece ainda maisque som coma aves ou alimares monteses...\" (Carta de Caminha).AMARELÃO, MARELÃO, s. m. - anquilostomose.AMARELÁ, MARELÁ, amarelar, v. i. - empalidecer de repente: \"Quano o Chico uviu a vóiz deprisão, marelô\"AMARIO, AMARILHO, q. - baio com crina e cauda brancas (cavalo) o mesmo que \"baio amarilho\".| Cast. amarillo.AMARRÁ(R)1 v. t. e i. - estacar diante da perdiz (o cão), de olhos fitos sobre ela: \"Brinquinhoamarrô a bicha i eu, fogo!\" \"Quano, nu\"a vorta do caminho... o Bismarque chateô no chão,amarrano, que era u\"a buniteza...\" (O último exemplo é de C. P.).AMARRÁ(R)2, v. t. - tratar, fechar (uma aposta, um negócio).AMENHÃ, AMINHÃ, amanhã, ad. | É forma arc. e \"'ainda corrente no povo (em Port.) na formaaminhão\", diz Leite de Vasc., \"Emblemas\", introd.AMIÁ, amilhar, v. t. - dar milho (aos animais). Acreditamo-lo pouco usado.AMIADO, amilhado, part. de \"amilhar\": \"O tempo tava bão, a estrada era meió, o cavalo tavadescansado e bem amiado: a viage foi u\"a gostusura\".AMIÚDA(R), v. i. - tornar-se freqüente, nas expressões inté os galo amiùdá, quando os galoamiùdávum e semelhantes, onde galo está por canto dos galos: \"Depois que acaba a candeia, aí que acoisa é triste... Vai inté os galo amiùdá\". (C. P.) | Esta acepção do verbo é corrente em todo o Brasil.AMOLAÇÃO, s. f. - ação ou efeito de amolar.AMOLADÔ(R), q. - o que amola; importuno, maçador.AMOLANTE, q. - o mesmo que amolador.AMOLÁ(R), v. t. - importunar.AMUNTADO, MUNTADO, q. - diz-se do animal doméstico que se meteu no mato, asselvajando-se: \"Gado amuntado\". \"Não há pior fera que porco muntado\". - Cp. monte que em Port. envolvetambém idéia de mato, assim como monteiro, montês, montesino, andar a monte.ANDADURA, s. f. - andar apressado do animal de sela, com balanços de anca.ANGOLA,1 s. m. - certa gramínea forrageira; capim de Angola.ANGOLA,2 s. 2 gens. - usado às vezes por galo ou galinha de Angola.ANGÚ, s. m. - papas de farinha ou de fubá. Fig.: negócio desordenado, teia de intrigas e mexericos, coisa confusa, e ininteligível.ANGÙADA, ANGÙSADA, ANGÚLADA, s. f. - grande porção de angú; negócio complicado,questão inextricável.ANHUMA, s. f. - ave da fam. \"Palamedeidae\".ANSIM, assim, adv. 1| Forma pop. em todo o Brasil com o a nasalizado por influência de im. -Encontra-se freqüentemente nas peças castelhanas de Gil V.ANTA, s. f. - quadrúpede da fam. \"Tapiridae\".ANTÃO, INTÃO, então, ad.: -\"Antão ela reparou bem em mim, não disse mais nada, e saiuadiante\". (V. S.) | Filhos forão, parece, ou companheiros, E nella antão os incolas primeiros. (Camões, \"Lus.\").ANTÃOCE, ANTONCE, INTONCES, outras formas de então. | Cp. o arc. entonces: \"E doacabamento do livro eu dey encomenda ao lecenceado frey João uerba meu conffessor fazendo peroutrem o que de acabar per my entonces era embargado\" (Inf. D. Pedro, \"Livro da VirtuosaBemfeitoria\").ANTE, antes, prep. | E Acreditamos que este ante seja simplesmente antes modificado pela lei daqueda de s final do dial., embora sendo certo que ante = antes de é do vernáculo antigo e aindasubsiste em anteontem (antonte), antevéspera, antemanhã, etc.DANTE, loc. adv. - antigamente: \"Eu dante fazia o que pudia, agora já tô véio i num posso mais\". |É loc. port. muito antiga, no sentido de \"antecedentemente\", como se vê deste passo do \"Casteloperigoso\" (séc. XIV): \"...honde perde Deos e o Paraíso e guanha os tormentos do Inferno e perde osbees que d'ante auya fectos, sse o Deos nom chama pera sua graça...\" (L. de Vasc., \"Textos arc.\", p.38 e p. 124).TEMPO DE DANTE, loc. equivalente a \"tempo 'antigo\", e na qual \"dante\" é tomado como umsubst.: \"Macaia, que fôra escravo do capitão Tigre, fazendeiro do tempo de dante entre Porto Feliz eCapivari...\" (C. P.)ANTES, prep. - A notar:IM ANTES, em antes, loc., usada as vezes pela forma simples \"antes\":\"Estive lá ainda em antes que ele chegasse\".ANTES TEMPO, loc. adv. - antecipadamente, antes da hora marcada ou oportuna: \"Foi tão depressa que chegô na eigreja antes tempo\". | Os antigos diziam ante tempo: \"Uma muito principalrazão porque muitas pessoas cuidam de si mais do que tem, e ante tempo se tem por muitoaproveitadas, é, que como Deus em todas suas obras se parece comsigo é tão fermoso nos seuscomeços, que muitos enganados com isso, se dão por perfeitos\". (Fr. Tomé de Jesus, \"Trabalhos deJesus\"). \"E dizemos 'lampeiro' o que faz alguã cousa ante tempo...\" (D. Nunes, \"Orig.\", VII). Cp.anteontem, a que se vai preferindo \"antes de ontem\" como mais correto. Na Carta de Caminha háante sol posto.ANTONHO, Antônio, n. p. | Forma antiga, registada por Vit. Cp. Junho de Juniu(m), sonho desomniu(m), etc.ANTONTE, anteontem, adv. | V. ANTE.ANÚ1, nu, q.ANÚ2, ANUM, s. m. - ave da fam. \"Cuculidae\". A PAR DE, loc. prep. - junto de, ao lado de: \"Eu tava bem a par dêle quando assucedeu o causo\". |É de uso antiquíssimo na língua, como mostram estes exemplos: \"E quando comião de suum domDiego Lopez e sa molher, asseemtaua eli apar de ssy o filho; e ella assemtaua apar de ssy a filha daoutra parte\". (Lenda da Dama Pé de Cabra, no \"Livro da Linhagem\", séc. XV). Aqui, aqui, Oribella, Serrana, alli apar della.(Gil V., \"Com. de Rubena\") \"Eu tenho huã quinta apar de Cintra...\" (Testam. de D. João de Castro).APARÊIO, aparelho, s. m. - Na loc. \"aparêio de fumo\", que compreende o isqueiro, a pedra, o fuzil,e parece que também o que é necessário para fazer um cigarro.APAREIADA, aparelhada. | V. PAREIADA.APÊRO(S), apeiros, s. m.. pl. - conjunto de instrumentos de caça. É port. O \"Novo Dic.\" não lhepõe nota de antiquado; mas parece que já não é de uso corrente em Port., segundo o que sedepreende desta menção de M.. dos Rem. (\"Obras de Gil V.\", Gloss.): \"APEIRO - Nome queantigamente se dava a diferentes instrumentos de lavoura\", etc. J. Moreira, por sua vez, o tinha porantiq., como se vê desta referência (\"Estudos\", 2.º v., p. 175): \"Há em português o vocábulo apeiro, aque em espanhol corresponde apero. Diez derivou-os do latim apparium (do verbo apparo). As suassignificações eram variadas. Designa o conjunto de utensílios ou instrumentos de lavoura, e aplicava-se ainda a outros objetos, chamando-se \"apeiro de caçador\" aos instrumentos e armadilhas decaça...\" etc. Vê-se em Vit. que já no séc. XVII a palavra era usada tal qual. - Esses autores registam aforma do sing.; acreditamos, porém, que no dial. só se emprega no plur., - o que aliás já é uso antigo,como se vê deste passo de Gil V., \"Auto de Mof. Mendes\": Leva os tarros e apeiros E o çurrão co'os chocalhos -APEÁ(R), v. i. - voc. port., que no dial. apresenta a particularidade de envolver, correntemente, aidéia de \"hospedar-se\": \"Quando chegô? Adonde apeô? - Apeei na casa do Chico, perto de ondetenho meus que-fazê\".APINCHÁ(R), PINCHÁ(R), v. t.. arremessar: \"Fui de verêda pro quarto, despois de tê apinchado aferramenta num canto da sala...\" (V. S.) \"Tratei de me apinchá pra outra banda, porque a noite iaesfriando\". (V. S.). | Também se usa no Ceará, segundo este e outros passos do \"Meu Sertão\", deCatulo Cear.: Meu compade Dizidero somentes pra me impuiá, má cheguei, me foi pinchanda lá pra Avenida Cintrá.Pinchar é port. mas acreditamos que bem pouco usado hoje, neste sentido, em Port. No Brasil, éabsolutamente defeso à gente educada - Joanne, personagem do \"Auto Pastoril Port.\", de Gil V.,exclama a certo momento: Oh! commendo ó demo a vida A que a eu arrepincho!No gloss., ao fim do 3.º v. da sua ed. das \"Obras de Gil V.\", pergunta M. dos Rem.: \"Quererá dizer oPoeta 'vida que eu levo a pular, a divertir-me?' Por nossa parte, com a devida vênia de tão eruditomestre, a resposta é negativa: não, o poeta não quis dizer isso. O entrecho da cena e a construção dafrase não autorizariam tal interpretação. A cena passa-se entre Joanne e Catherina. Aquele faz erepisa declarações de ardente paixão, que a rapariga repele grosseiramente, mandando-o bugiar,chamando-lhe parvo. O pobre moço, enfim desesperado, exclama: Oh commendo ó demo esta vida A que a eu arrepincho!isto é: encomendo esta vida ao diabo, ao qual a arremesso! - A continuação da fala não faz senãoconfirmar esta interpretação: Catalina, se me eu incho, Por esta que me va de ida. A índia não está hi? Que quero eu de mi aqui? Melhor será que me va.É provável que o que do segundo dos dois versos primeiro citados venha de uma transcrição erradade que \"ou má interpretação de q\", A verificação deste ponto concorreria bastante a elucidar aquestão. - Quanto ao arre que Gil V. antepôs ao verbo, destinava-se de certo a dar-lhe mais energia.O uso de tais expletivos era comum em Gil V. e outros poetas d0 seu tempo, nos quais se encontraaté re-não, re-si, re-velho, re-tanto, re-milhor. Refletiam eles, sem dúvida, uma tendência popularentão bem viva, da qual nos terá vindo boa parte dessa multidão de termos em re e arre, que a línguapossui.APÔS, APÓS, prep. - no encalço de: \"Saí no mesmo instantinho após êle, mais foi de barde\". | É deuso antigo na ling.: \"... e os outros foram logo apos ele e lhas tornaram...\" (Carta de Caminha). \"... ecorrendo apoz nós, que já então lhe iamos fugindo...\" (F. M. Pinto).APÔS, APÓS DE, com o mesmo valor: \"Andei após disso muito tempo\". \"Receio que a minhaclasse vá após d'esses fantasmas com que a iludem\". (Garrett).ARA, ora, conj. e intj. | Cp. sinhara, vacê, hame(m), palavras nas quais o som o se muda em â.ARÁ(R), v. i. - empregado figuradamente no mesmo sentido que as expressões \"suar o topete\", \"ver-se em apuros ': \"Cos diacho! arei; pra descobri quem me fizesse êsse sirviço\".ARAÇARI, s. m. - espécie de tucano pequeno. | Tupi.ARAGANO, q. - diz-se do cavalo espantadiço, que dificilmente se deixa pegar. | Cast. haragano.ARAGUARI, s. m. - espécie de papagaio pequeno. | Tupi.ARAPONGA, s. f. - pássaro da fam. \"Cotingidae\", também chamado \"ferreiro\". | Tupi.ARAPUÁ, s. f. - certa abelha do mato. | Tupi.ARAPUCA, URUPUCA, s. f. - armadilha para apanhar pássaros, feita de pequenos paus arranjadoshorizontalmente e em forma de pirâmide. | B. Rodrigues regista \"arapuca\" e \"urapuca\", donheengatu.ARARA, s. f. - papagaio grande, de cauda longa. | Tupi.ARARA-UNA - arara inteiramente azul, de bico preto.ARARIBÁ, s. m. - certa árvore de boa madeira. | Tupi.ARATACA, s. f. - armadilha grande, que colhe e mata a caça. | Tupi \"aratag\", armad. \"parapássaros\" (Mont.).ARCO-DA-VÉIA, arco-da-velha, s. m. - arco-iris. | Paiva, nas \"Inferm. da Língua\" (séc. XVIII),coloca este termo entre os que cumpre evitar. O \"Novo Dic.\" só o regista em sua última ed. - NoBrasil, é corrente a frase \"coisas do arco-da-velha\", por \"coisas extraordinárias, surpreendentes\".ARÊA, areia, s. f. | É forma arc. Cp. vêa, chêo, etc., igualmente arcaicos mas persistentes no dial.caip. AREÁ(R), v. t. - limpar cuidadosamente (qualquer objeto).AREADO, part. de arear - muito limpo, em estado de perfeito asseio: \"... revirava de sol a sol nalabuta das donas, trazia tudo areadinho...\" (V. S.).AREÃO, s. m. - larga extensão de solo coberta de areia: \"Assim falavam o Chico Gregório e oBertolomeu, no areão da estrada do Abertão, sob uma sombra...\" (C. P.).AREJA(R), v. i. - constipar-se (o animal): \"Desincie o cavalo e recôia no paió. Tá choveno daqui umpoquinho e êle tá banhado de suór; pode arejá!\" (C. P.) | Em Mato Grosso e outras regiões há, como mesmo sentido, \"airar\": \"Virou os arreios, não de súbito, mas com cautela e lentidão, para que oanimal, encalmado como estava, não ficasse airado, (Taunay, \"Inoc.\").AREJADO, q. - part. de \"arejar\". V. esta palavra.ARIMBÁ, s. m. - boião de barro vidrado em que se guardam doces em calda. | Do tupi?ARIRANHA, s. m. carnívoro da fam. \"Mustelidae\" e semelhante à lontra, hoje raro. | É nome deuma localidade do Estado de S. Paulo. - Tupi.ARFENETE, alfinete, s. m. Não m'arrarão alfenetes E tamísem enxaravia. (Gil V., \"Auto Past. Port.\")ARMA-D~GATO, alma de g., s. f. - ave da fam. \"Cuculidae\", castanho-parda, cinzenta na parteinferior, cauda longa com pontas brancas. Também se lhe chama, no Brasil, \"alma de caboclo\",\"rabo-de-palha\", e \"tinguassu\". (R. v. I.).ARRAIA-MIUDA, s. f. - populacho. | Cp. arraial, pequeno povoado, e outrora povo (contraído emarreal, real). Parece ter havido aqui contaminação da idéia de \"arraia\" peixe.ARRANCHÁ(R), v. i. - armar barraca, ou \"rancho\"; estabelecer-se provisoriamente; fig., hospedar-sesem cerimônia (com alguém): \"No fim do segundo dia fumo arranchá na bêra do Mugi\". \"O Bitucaarranchô na casa do cumpadre, sem mais nem menos\".ARRE LÁ, intj. - de enfado ou cólera, como arre: \"Não me aborreça! Arre lá!\" | Esta intj., que nãoencontramos registada em dicionário, se acha em Gil V. (\"Auto da Barca do Purg.\"):Arre lá! uxte. morena!Arre, arre lá, uxte e uxtix (que todas se encontram em Gil V.) eram intjs. usadas pelos arrieiros paraestimularem os animais (se bem que, no passo acima citado, não se dá esse caso, mas trata-se de umarapariga do povo a quem o diabo quer levar na sua barca).ARREMINADO, q. - irritadiço, intratável. | Cuido que o vejo erguer-se arruminado Lá da campa onde jaz seco e moído, O meu Garção... (F. Elísio, \"Arte Poet.\")ARRESPONDÊ(R), responder: \"Cum pôca demora ela me arrespondeu falando sussegado...\" (V.S.).ARTERICE, s. f. - astúcia, ardil. | \"Arteiríce caiu em desuso depois que do latim se tirou a sinônimaastúcia, palavra que era nova no séc. XV...\" (Ad. Coelho, \"A Líng. Port.\", p. 59).ARTÊRO, q. - ardiloso, astuto. J. J. Nunes, \"Crest. Arc.\", regista arteiro como fora de uso corrente.O \"Novo Dic.\" regista-o sem essa menção.ASCANÇÁ(R), alcançar, v. t. - \"É do cano cumprido! Bem mais cumprido do que a minha! A vareta num chega no fundo. Há de ascançá longe...\" (C. P.) | A sílaba al, de acordo com a fonética roceira,mudou-se em ar, e depois, por influência do som sibilante de ç, em as.ASCANÇADO, alcançador, q.ASCANÇADIERA, f. de ALCANÇADOR - \"Aminhã nóis vai na vila... Ocê já tá cum déiz ano icoisa, i eu ti vo compra u\"a de cartuche (espingarda), que tem na loja do Bismara. - Que bão!... Éascançadêra?\" (C. P.).A Só POR SÓ, loc. ad. equivalente a \"a sós\": \"Eu sempre maginei, a só por só cumigo, que não haicoisa mais triste que andar um cristão pro mundo...\" (V. S.). | Expressão clássica.ASPEREJÁ(R), v. reI. - usar de linguagem ou de modos ásperos (com alguém): \"Não aspereje ansimco a pròvezinha da criança\".ASPRE, áspero, q. invar.: \"Nossa, que muié aspre pra lidá cos póvre!\"ASSOMBRAÇÃO, SOMBRAÇÃO, s. f. - aparição, fantasma, alma do outro mundo.ASSOMBRADO. q. - diz-se do lugar ou casa onde se crê haver assombração; \"mal assombrado\", emlinguagem polida.ASSUNTÁ(R). v. i. - escutar refletindo, considerar, observar: \"Pois ensilhe o seu 'bicho' e caminhecomo eu lhe disser. Mas assunte bem, que rio terceiro dia de viagem ficará decidido quem é\"cavoqueiro\" e embromador\". (Taun., \"Inoc.\").ATABULADO, part. deATABULÁ(R), v. t. - estugar (o passo), apressar (algum serviço ou negócio). | De atribular? Ahipótese não é gratuita, pois o caipira usa constantemente de \"tribulado\", \"tribulação\", dando a taispalavras um grande elastério.ATAIÁ(R). atalhar, v. t. - fazer uma cavidade (por dentro da cangalha, em lugar correspondente auma pisadura no animal): \"Ao pouso arribava à boquinha da noite, feita a descarga... afofadas eatalhadas as cangalhas pisadoras...\" (C. Ram.)ATANAZÁ(R), atenazar, v. t. - importunar. De tenaz. Veis aquelios azotar Con vergas de hierro ardiendo Y despues atanazar? (Gil V., \"Auto da Barca da Gl.\") F. J. Freire registou-o.ATENTÁ(R), v. t. - tentar; apoquentar, irritar: \"Não me atente mais, Nhô, que eu tô no fim dapaciença!\" (V. S.). \"Num brinque cum revorve; ói que o diabo atenta!\" | Esta última acepção seencontra também em Port., e até em frases muito semelhantes à citada. J. Moreira colheu emArmamar um trecho de romance onde há estes dois versos: Puxei pela minha faca, O diabo me atentou.ÁTIMO, s. m. - usado na loc. \"num átimo\", num instante, num abrir e fechar de olhos: \"E as espigasdesenvolveram-se num átimo, avolumaram-se e começaram a secar\". (A. Delf.) | O \"Novo Dic.\"registra atimar, como t. açoriano e antigo, equivalente de \"ultimar\". Acha-se em Vit., que o dá como\"o mesmo que acimar\": \"concluir, executar, levar a cabo alguma empresa, obra, ou façanha\". M. dosRem. define-o quase nos mesmos termos, no gloss. aposto à sua ed. de Gil Vic., em cujas peças overbo aparece muitas vezes. - Cp. o ital. attimo, instante.À TOA, loc. adv. - inutilmente, sem razão, sem causa explicável: \"Eles brigaram à tôa\". \"Num havia percisão de virem; viérum à tôa, por troça\". - sem delonga, sem receio nem cuidado: \"Você é capáizde cortá aquêle pau antes da janta? Corto à tôa! | De à tôa, isto é, à sirga, a reboque. - Daqui setirou.ATÔA, q. - desprezível, insignificante: \"Aquilo é um tipo atôa\". \"Não custumo brigá por quarquéquistã atoa . Tenho le visto na rua cum gente atoa, mecê num faça isso\".ÀTOINHA, loc. adv. - o mesmo que a toa, com um sentido irônico, escarninho ou jocoso: \"Vaidansá um pôco, lindeza? - À toinha!\"ATORÁ(R), v. i. - partir a pressa: \"Passei a mão na ferramenta c'a pobre da minha cabeça a mó quedeleriada, e atorei pra casa\". (V. S.).ATROADO, q. - que fala com estrondo e de pressa, embrulhando as palavras: \"Aquilo é um atroado,nem se intende o que êle fala\". | Part. de atroar, com significação ativa, como \"entendido\",\"viajado\".ÁTRU-DIA, outro-dia, loc. adv. de tempo: \"Atrudia estive em sua casa não le achei\". | Não é casoúnico esta mudança de o em a: Cp. ara, sinhara, hame; e ainda aribu, arapuca, ao lado de urubu,urupuca. Também há isturdia, que, com variantes (siturdia, etc.) é comum em quase todo o Brasil,notadamente no Nordeste: Bem me disse, siturdia, a Josefa Caprimbu que esse passo era afiado de curuja e de aribu. (Cai., \"Meu Sertão\").Quanto à sintaxe, cumpre notar a diferença em relação à frase port. - \"no outro dia\". O mesmoprocesso se observa, de acordo com o uso clássico, no emprego de outros complementos de tempo,que dispensam prep.: \"Dia de S. João eu vô le visitá\". \"Essa hora eu tava longe\". \"Chegô a somanapassada\".ÁUA(S), ÁGUAS, s. f. pl. - direção das fibras da madeira: \"Esta bengala não tem resistência, pois oaparelhador cortou as águas da madeira\".ÁUA-MÓRNA, ÁGUA-MÓRNA, q. - irresoluto, fraco: \"Não seja água mórna, mande odesgraciado fazê uma viaje sem chapéu!\" (V. S.).AVALUÁ(R), avaliar, v. t. | Forma arc.AVENTÁ(R), v. t. - separar (cereais da casca, atirando-os ao ar com peneiras ou pás). | É t. port.,mas especializado aqui nesta acepção.AVINHADO, s. m. - pássaro da fam. \"Fringilidae\"; curió.AVUÁ(R), v. i. | De voar com a explet. Conjuga-se: avua, avuô, avuava, etc.; avuê, avuasse, etc.AZARADO, q. - o que \"está de azar\", infeliz, sem sorte.AZORETADO, q. - atordoado, confuso: \"As corujas do campo a mó que tavam malucas, essa noite:era um voar sem parada em riba da minha testa, que me deixava azoretado\". (V. S.) - O \"Novo Dic.\"regista \"azoratado, doidivanas ou estroina\". E pergunta se terá relação com ozoar. Segundo J.Moreira (\"Estudos\", 2.º v.) azoratado vem de zorate (ou orates, ozorates, o zorate). É também aexplicação de Leite de Vasc., citado pelo precedente.AZUCRINÁ(R), v. t. - Atormentar com impertinências, importunar. | O \"Novo Dic.\" registaazucrinar como brasil. do Norte e com o mesmo significado. Também é do Sul, ao menos de S.Paulo e, provavelmente, de Minas. Em Pernamb. há \"azucrim\", importuno.AZUCRINADO, part. de azucrinar. AZULÁ(R), v. i. - fugir. Sentido irônico ou burlesco: \"O tar sojeito, quano eu fui atrais dêle, já tinhaazulado\".AZULÃO, s. m. - nome de vários pássaros azuis, como: o sanhaço, \"Stephanophorusleucocephalos\" e um pássaro da família \"Fringilidae\", também conhecido por papa-arroz. | NoNorte dá-se aquele nome ao virabosta.AZULÊGO, q. - azulado (com referência a qualquer objeto, em especial ao cavalo escuro, pintalgadode preto e branco) : \"É que uma língua de fogo azulêgo, mais comprida que grossa, de uns trêspalmos de extensão, erguera-se da várzea...\" (V. S.).BABA DE MOÇA, s. f. - certo doce de ovos. Rub. mencionava, em 1853, com este nome, um docefeito de coco da Bahia\".BABADO, s. f. - folho, tira de fazenda, pregueada, com que se enfeitam vestidos. \"Se subesse vancê quanto lhe estimo. E a caipirinha lânguida e confusa. ouvindo, rubra, a confissão do primo, morde o babado da vermelha blusa.(C. P.)BABAU!, interj. - eqüivale a \"acabou-se!\" - \"lá se foi!\" -\"agora é tarde!\". Exemplo: \"Porque não veiumais cedo, pra comê os doce? Agora, meu amigo... babau!\" | Cherm. colheu-a na Amazônia,significando \"acabou-se, esgotou-se\", e aponta-lhe o étimo tupi \"mbau\", acabar.BABO, s. m. - bava: \"Fazendo uma careta de nojo, Bolieiro cuspiu para um lado, franzindo a testa,ficando-lhe na barba um fio meloso de babo. (C. P., \"Ê a deferença que hai...\") | Deduzido de babar.BACABA, s. f. - certa árvore. | Tupi.BACAIAU, bacalhau, s. m. - azorrague de couro trançado, antigamente usado para castigar escravos.BACUPARI, s. m. - arbusto que dá um fruto muito ácido. | Em outras regiões do Brasil designadiferentes espécies de árvores frutíferas. - Tupi.BACURAU, s. m. - pássaro também chamado curiango e, algures, méde-léguas: \"Nyctidromusalbicollis\".BADANA, s. f. - couro macio que se põe sobre os arreios da cavalgadura. | É t. port., com váriassignificações, na Europa e no Brasil. - Diz M. dos Rem. (Obras de Gil V., Gloss.), explicando certopasso, que badana significa \"propriamente a ovelha velha\" e \"carne magra, cheia de peles\". - Dão-nocomo derivado do ar. bitana.BAGARÓTE, s. m. - mil réis, em linguagem jocosa. Comumente se usa no plural.BAGRE, s. m. - nome de várias espécies de peixe de couro, da fam. \"Siluridae\".BAGUAÇÚ, s. m. - arvore de madeira branca, também chamada caguaçu.BAIACÚ, s. m. - nome de vários peixes de água doce e salgada.BAIO, q. - diz-se do animal eqüino de cor amarelada. | T. port.- AMARI(LH)O, o anim. de cor brilhante e clara, geralmente com cauda e crina brancas. | Do cast.- CAFÉ-CUM-LEITE.- CAMURÇA.- INCERADO, o de tom escuro e brilho apagado.- GATEADO, o amarelo vivo, de um tom avermelhado.BAITACA, MAITACA, 5. f. - ave aparentada com o papagaio: \"Baita'cas em bando, bulhentas, a sumiremse num capão d'angico\". (M. L.) -Tupi.BALA, s. f. - rebuçado; queimado; pequena porção de açúcar resfriado em ponto de espelho eenvolvida num quadrado de papel. | Em Pernamb. e Estados vizinhos dizem \"bola\". O t. é velho, járegistado no vocabulário de Rub. (1853).- DE OVOS, a mesma \"bala\", com recheio de ovo batido com açúcar.- DE LIMÃO, DE LARANJA, etc., conforme a essência adicionada.PONTO DE -, o estado em que se deixa esfriar a calda de açúcar para fazer balas; ponto de espelho.BALAIO1, s. m. - espécie de cesto de taquara, sem tampo, destinado a depósito ou condução devariadíssimos objetos, mas principalmente usado pelas mulheres para guardar apetrechos da costura.BALAIO2, s. m. - certa dança popular, que parece extinta. Dela se conservam reminiscências emalgumas trovas: Balaio, meu bem balaio, balaio do coração -| O t. e a usança também são do R. G. do S., como se pode ver em Romag.BALÊ(I)RO, s. m. - vendedor de balas (rebuçados).IBANANINHA, s. f. - pequenos bolos de farinha de trigo, com uma forma semelhante à dasbananas: \"Chegara a hora da ceia. Caldo de cambuquira, um feijão virado alumiando de gordura e,para fechar, um café com bananinhas de farinha de trigo; tudo indigesto, escorrendo gordura\". (C.P.).BANDÊ(I)RA, s. f. - monte de espigas de milho, na roça.BANGUR, BANGÚê, s. m. - liteira com teto e cortinados, levada por muares, que antigamente seusava. Este t. tem muitas significações pelo resto do Brasil, como se pode ver em Macedo Soares eoutros vocabularistas. Origem controvertida.BANGUÉLA, q. - que tem falta dos dentes da frente.BANHADO, s. m. - campo encharcado.BANZÀ(R), v. intr. - pensar aparvalhadamente em qualquer caso impressionante. Pouco usado. | Éport. - Paiva incluiu-o nas \"Infermid.\", sem explicar o sentido. Dir-se-ia simples corrupção africana(ou feita ao jeito do linguajar dos pretos) do verbo pensar. Mas, querem doutos que seja vozproveniente do quimbundo \"cubanza\". - Aqui, não ocorre jamais ouvir-se o subst. \"banzo\".BANZÊ(I)RO, q. - o que está a banzar. Pouco usado.BARBA DE BÓDE, s. m. - espécie de capim de touceiras abundante em campos de má terra, e cujoaspecto, quando maduro, é o de fios longos, flexíveis e esbranquiçados. Em Pernamb., dá-se estenome a uma gramínea (\"Sporabulus argutus\", Nees Kunth), de colmo longo e resistente (Garcia). -O \"Novo Dic.\" regista sob este nome ainda outra planta, esta de jardim.BARBA DE PAU, s. f. - filamentos parasitários que dão na casca das árvores do mato: \"...grandesárvores velhas por cujo tronco e galhaça trepam cipós, escorre barba de pau e aderem musgos\". (M.L.).BARBATIMÃO, s. m. - árvore da fam. das Legumin., de casca adstringente, muito usada emcurtumes.BARBÉLA, s. f. - cordão com que piões e viajantes a cavalo prendem o chapéu sob o queixo:carnosidade ou pele pendente sob a queixada de um animal.BARBICACHO, s. m. - laçada com que se prende o queixo da cavalgadura rebelde; barbela.BARBULÊTA, borboleta, s. f.: Vai no domingo e vai de calça preta, paletó de algodão de grande gola. visitar o seu bem sua barrbuleta, que já esteve na vila e até na escola.(C. P.)BARRÊRO, s. m. - lugar onde há barro salgado, muito procurado pelos veados e outros animais domato.BARRIÁ(R), barrear, v. i. - barrar, revestir de barra (muro ou parede): cobrir, revestir, besuntar(qualquer coisa, com alguma substância meio líquida) ; salpicar (de bagos de chumbo): O catinguêro num me feis carêta; cheguei pórva no uvido da trovão, barriei de chumbo o bicho na palêta.(C. P.)BARRIADO. partic. de BARRIÁ, barrear - revestido de barro (muro ou parede) Eis a casa de um homem das florestas: as paredes apenas barriadas, solo cheio de covas -(C. P.)Por analogia, coberto, revestido, besuntado, sujo, salpicado (de coisa meio líquida) : \"Fiquei barriadode lama\". \"O chapêu do minino caiu no tacho e saiu barriado de carda\".- Aplica-se mesmo falandode coisas sólidas, como chumbo de caça: \"barriado de chumbo\". Em port. genuíno, barrado, com asmesmas acepções principais.BARRIGA, s. f. - gravidez: \"Fulana tá cum barriga\". | Com o mesmo sentido, em Gil V., \"Com. deRubena\", quando a Feiticeira interroga a ama a quem vai confiar a criança: Primeiro eu saberei Que leite he o vosso, amiga; E se tendes já barriga; Que dias há que me eu sei. E, se sois agastadiça. Se comeis toda a vida -\"E se tendes já barriga\", isto é, se estais de novo grávida, o que importava saber para avaliar aqualidade do leite.BARRIGADA1, s. f. - o produto do parto de uma cadela, ou qualquer animal multíparo.BARRIGADA2, s. f. - fartadela (de riso) : \"Tomei u\"a barrigada de riso no circo\".BARRIGUÊRA, s. f. - tira de couro ou de tecido grosso que passa por baixo da barriga dacavalgadura, firmando a sela. | Cast. barriguera.BARRO, s. m. - \"Botá(r), pregá(r) o barro na parede\", ou, simplesmente, \"pregá o barro\", eqüivale afazer pedido de casamento e, às vezes, qualquer outro gênero de pedido ou proposta arriscada. | Afrase \"botar o barro à parede\" está registada nas \"Infermid.\" e também se vê na \"Eufros.\"BARRÔSO, q. - diz-se do boi acinzentado ou branco, amarelo pálido. | Cast.BARRUMA, verruma, s. f. | Parece geral na ling. pop. do Br. e Port. Garcia, que a regista comopernambucanismo, nota que é corrente em Baião, Port., como se vê da \"Rev. Lus.\", vol. IX.BASTO, s. m. - serigote ou lombilho de cabeça de pau. BATÁIA1, batalha, s. f. - certa árvore.BATÁIA2, batalha, s. f. - certo jogo de cartas.BATAIÁ(R), batalhar, v. i. - lidar, trabalhar, lutar (por conseguir alguma coisa) : \"O próve de nhêChico! bataiô tuda a vida pra desimpenhá aquela fazenda, e no finar das conta...\"BATARIA, s. f. - rosário de bombas que se queima nas festas de igreja. | Quanto à forma: \"Quemdefender vossa casa de hum saco, ou bataria?\" (\"Eufros.\", ato I, sc. III). \"Quando cessam as batarias,então se fabricam as máquinas\". (Vieira, Serm. do Sábado quarto).BATE-BÔCA, s. ni. - discussão violenta.BATUIRA, s. f. - certo pássaro.BATUQUE, s. m. - dança de pretos; pândega, folia (em sentido depreciativo) : \"Na sala grande, ocururu; na salinha de fóra, os \"modistas\" contadores de façanha; e, no terreiro, o batuque da negradae o samba dos caboclos\". (C. P.) \"Dança de pretos. Formam roda de sessenta e mais pessoas, quecantam em coro os últimos versos do \"cantador\", e ao som dos \"tambus\" requebram e saltamhomens e mulheres, dando violentas umbigadas uns contra os outros\" (C.P. \"Musa Caip.\",) |Segundo Mons. Dalg., o t. nada tem com bater, mas é africano, provavelmente do ladim\"batchuque\", tambor, baile. Na Índia, para onde o vocáb. passou, diz o mesmo Mons. DaIg., ele ésinon. de \"gumate\", instrumento de música.BAUTIZÁ(R) batizar, v. t. | \"Minha amiga entendamos como há ser isto? avemos hoje bautizar estefilho se o he? (\"Eufros.\" ato 1, sc. III).BA(I)XÊ(I)RO, s. m. - manta que se põe por baixo da sela.BÊBUDO, bêbado, q. - \"Quando oiei no chão tava um bêbudo caído!\" (C. P.) | Cp sábudo, cágudodissimilações semelhantes e na língua d'alem-mar, o antigo bárboro de onde \"brabo\". V. esta palavra.BENÇA, benção, s. f. | Desnasalizou-se a sílaba final como em Istêvo, de Estevão, órfo de órfão. -Ê forma pop. em Port. (J. Mor., \"Estudos\", 2.º v., p. 178).BENÇÃO, s. f. | Esta forma oxítona se ouve às vezes (segundo cremos, só .em versos). Encontra-seem Gil V., que rima \"benção\" com coração\", \"concrusão\", etc.BENTEVI, s. m. - pássaro muito conhecido. | Nome onomatopaico. Embora se costume grafar\"bem-te-vi\", como pronunciam os que se prezam de bem-falantes, a verdade é que o povo roceirofez, há muito, a aglutinação dos elementos do voc., reduzindo, o ditongo nasal (ein, de \"bem\"). Cf.bendito por \"bem-dito\".BENTINHO, s. m. - papel contendo uma oração escrita, e que se dobra muitas vezes, encapando-oem pano, e assim se traz pendurado ao pescoço por um fio, depois de o fazer benzer por um padre\"Um dia... nu\"a noite de luá... aiai! o meu fio sumiu... Coitadinho! Achei no barranco só umbentinho que dei pr'êle quano era criança...\" (C. P.).BERÉVA, s. f. - erupção de pele. Usa-se mais no plural: \"Urtimamente me aparecero u\"as berébapro corpo\". | Em outras partes se diz \"peréba\". - Segundo B. Rodr., \"pereua\" significa úlcera, emnhengatú e língua geral.BÉRNE, s. m. - larva de mosca \"Dermatobia cyanciventris\", fam. \"Oestridae\", que se desenvolve napele dos animais e às vezes mesmo na do homem, principalmente na cabeça.BERNENTO, q. - cheio de bernes.BERTOLAMEU, Bartolomeu, n. p. | C. P. dá esta forma, no livro \"Quem conta\", p. 171 e 206.BÉSPA, vespa, s. f. \"À excepção da Prov,; de S. Paulo, o termo port. 'Vespa' é geralmentedesconhecido da gente rústica\", diz B. - R. Segundo o mesmo autor, no Mar. e no Vale do Amaz. sediz \"caba\"; | nas outras terras: \"maribondo\", t. bundo. - Em S. P. é corrente o ditado \"Laranja na bêra da estrada, ou é azêda ou tem bêspa\". Em outros Estados existem variantes, n'as quais sesubstitui \"vespa\" por \"maribondo\". D. Alex. colheu, em Minas: \"Laranjeira carregada, à beira dasestradas, ou tem maribondo ou frutas azedas\". Afr. Peixoto, em \"Fruta do Mato\", consigna umavariante parecida com essa, colhida na Bahia.BESPÊ(I)RA, VESPÊ(I)RA, s. f. - casa de vespas; o mesmo que veiêra, \"abelheira\".BESTÁ(R), v. i. - dizer asneiras.BESTÊRA, s. f. - asneira.BIBÓCA, s. f. - quebrada, grota, lugar apartado e invio; casinhola: \"Tudo isto afim de que não falteaos soletradores de tais e tais bibocas desservidas de trem de ferro o pábulo diário da graxa preta emfundo branco...\" (M. L.). \"A meio caminho, porém, tomou certa errada, foi ter à biboca de um negrovelho, em plena mata...\" (M. L.) | Mac. Soares dá, entre outras acepções, a de casinhola de palha, quediz peculiar a S. P. - Registam-se outras formas pelo Br., \"babóca\", \"boboca\".- Dão-lhe orig. tupi em\"ybybóca\", fenda, buraco do chão, da terra.BICHÁ(R), v. i. - criar bichos (o queijo, a fruta, etc.) | Em M. Grosso (\"Inoc.\") significa tambémganhar dinheiro, fazer fortuna.BICHADO, q. - que tem bichos (feijão, frutas, etc.).BICHÃO, s. m. - aumentativo de BICHO: animal grande, homem alto e gordo.BICHARADA, s. f. - quantidade de bichos.BICHARIA, s. f. - o mesmo que bicharada.BICHÊRA, s. f. - pústula, cheia de larvas de mosca, que ataca os animais de criação (especialmentebois).BICHO, s. m. - qualquer animal, com especialidade os não domésticos; verme, larva, inseto. Emfrases interjectivas, implica a idéia de corpulência, força, destreza, ferocidade: \"Isto é que é cavalobão! Êta bicho!\" - \"Ih! minha Nossa Sinhora, aquêle hóme é um bicho, de brabo!\" − DE CONCHA, indivíduo metido consigo. − DO MATO, animal selvagem; roceiro abrutalhado. − DE PÊLO. − DE PENA. − DE PÉ, \"Pulex penetrans\". − VIRÁ(R) -, ficar zangado, tornar-se repentinamente violento.BICO1, s.m. - carta de somenos valor no jogo do truque (os \"dois\" e os \"três): − Tire a sorte. Dê vance. − Serre o baraio, Tonico. − Dêxe pro pé. - Bamo vê? − Truco in riba dêsse bico!(C. P.)BICO2, s. m. - cada um dos ângulos salientes de uma renda ou bordado; no plur., o conjunto dosrecortes angulares com que se enfeitam toalhas, lençóis, papéis para guarnecer bandejas e prateleiras,etc.BICO DE PATO, s. m. - árvore espinhosa, que dá um fruto semelhante ao bico do pato.BICUDO, s. m. - nome de várias espécies de passarinhos da fam. \"Fringilidae\", e também do\"Pitylus fulginosus\".