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                                       01 de Novembro de 2012



Por Thiago

 

Hoje é a minha primeira festa de aniversário, nunca tinha feito uma não sei exatamente o porquê, mas tinha valido a pena toda essa espera para receber um presente como esse justamente dela. Marjorie, sempre ela. O espaço que ela ocupava no meu coração já era grande e depois de hoje só fez aumentar. Ainda custo acreditar que ela tenha me dado um CD com as suas músicas, ainda inéditas, e como se isso já não fosse o bastante eu ainda me surpreendo ao abri-lo e encontrar no verso da capa uma dedicatória escrita de próprio punho para mim. Meus olhos percorrem a letra no papel, admirando a sua caligrafia rebuscada, tão linda e tão particular para só então ler as suas palavras. O coração aquece e o sorriso no meu rosto só se amplia à medida que concluo a leitura.

O taxista que está a alguns minutos me encarando pelo espelho e eu finjo não notar que estou sendo observado, deve estar me achando doido, por não conseguir tirar o sorriso bobo e idiota do rosto cada vez que os meus olhos encontram com o presente que eu não cansava de admirar. Pouco me importa o que ele esteja pensando, ler e reler aquela declaração, somado ao beijo, que eu relembrava consecutivamente, era o meu passatempo favorito até quando eu chegasse à minha casa. Chegar em casa, logo, e poder ouvir suas músicas era o meu outro desejo.

~*~

Estranho o fato de chegar em casa e encontrar as luzes apagas, não era possível ter duas festas surpresas no mesmo dia ou seria? Não sei se essa ideia me agrada ou apavora. Para ser franco o que eu queria era correr para o dispositivo mais próximo que me permitisse colocar o CD dela para tocar e ouvi-lo. Ouvi-lo sem parar. Como fazer isso? Não, eu não podia. Não sem levantar suspeitas da Mariana. E tudo que eu não queria era arrumar motivos para mais uma discussão, justo hoje, no dia do meu aniversário.

Guardo o CD na mochila, antes de chegar ao rol da porta, abro-a e o que suspeitava se concretiza. Mais uma festa. Para quem não tinha ganhado nenhuma até hoje, ganhar duas de uma vez, não era ruim. Foi ótimo ver toda a minha família reunida na sala de estar, até os parentes mais distantes tinham vindo. E eu me pergunto de quem tenha sido a ideia, ou melhor, o porquê disso só agora? Não deixo de aproveitar a festa, só lamento por ter que adiar os meus planos de ouvir o CD da Marjorie.

~*~

— Eu tô exausto não sei se aguento mais uma festa hoje, não. – acomodo-me no sofá após todos os nossos convidados terem saído.

— Porque mais uma, amor, você teve outra?

— Sim! – respondo rápido e empolgado demais. — O pessoal organizou uma festa surpresa para mim e para o Lazaro, hoje, no intervalo das gravações.

— Humm… Eu também tinha planejado uma surpresa para você, mas se você está cansado, eu… – ela me lança um olhar sedutor, que eu retribuo surpreso. Ela se aproxima sentando no meu colo. Eu a beijo. Sentia falta desses momentos entre a gente. Eles eram, cada vez, mais escassos e ela estava tão receptiva ao meu beijo que eu chego a me questiona o que teria acontecido no seu dia de diferente para ela estar assim. Talvez só desejasse voltar ao que nós tínhamos antes. Antes desse meu trabalho começa, antes… Antes de ela chegar e se instalar de mansinho pedindo para ficar. Droga! De novo ela. De novo eu estava pensando nela, quando deveria dar atenção àquela que agora capturava os meus lábios com afinco, desejo e devoção. Eu quero dar a ela a devida atenção e o amor que ela merecia. É me cobrando isso que cesso o beijo para olhá-la.

— Eu posso saber qual é a minha surpresa, meu amor? – sorrindo ela erguesse do meu colo, vai até a mesinha de centro e pega o controle do som. Num clique a seta e o alvo se faz ouvir no ambiente. Era a nossa música, até aí tudo bem, nenhuma novidade. O que eu queria saber era o que ela pretendia com tudo aquilo. Ela retorna e senta-se no meu colo novamente. Eu a encarro esperando pela sua próxima atitude, tinha algo diferente no seu olhar, um brilho intenso que não estava ali havia meses.

— Seu presente, meu amor, é… – levanta-se ficando entre as minhas pernas. Despe-se devagar, uma a uma as peças que cobriam o seu corpo. Meus olhos estão atentos aos seus gestos, curioso e sedento pelo que estar por vir. A Mariana nunca agiu desta forma, tudo isso era novo e instigante para mim. Ela parecia até outra pessoa.

Afasto meus pensamentos que teima em voltar nela, Marjorie, ela, outra vez. Mais uma vez. Para não penar na imagem, nítida e clara que se formou na minha mente agora, eu a puxo para os meus braços e a beijo. Beijo para não lembrar. Beijo para tentar esquecer. Beijo para fingir. Beijo para negar. Beijo para esconder. Milhares de beijos para afugentar o sentimento que me domina, que consome que faz queimar, arder e derreter tudo junto e misturado, ao mesmo tempo. A avalanche de prazer e sensações que eu sinto e sou capaz de proporcionar, de dar mais do que receber da mulher que deliria nos meus braços, é imenso. Com os olhos, semicerrados, tenho a visão do paraíso diante de mim, bela e linda como o luar.Marjorie. Mordo o lábio, tomado pelo desejo e a loucura que minha imaginação tinha capacidade de criar. Não penso. Ajo. Feito lobo que domina a presa antes de dar o bote. Arranco com os dentes a calcinha, fazendo arquear.

— Thiaaago – a voz arranca-me do transe, mas não por muito tempo, já era tarde demais para parar, cada célula do meu corpo vibrava, pulsa dentro de mim e eu precisava por uma necessidade pungente já presente no meu membro concluir o ato da copula.

Levanto-me para buscar a camisinha, quando volto a calo com um beijo úmido e quente, nossos sexos se unem. As línguas dançam e por um momento, é como se eu repetisse o beijo dado em cena. Ah! O gosto daquele beijo, da sua língua macia tocando a minha. Pela primeira vez ela cedeu e se deixou levar. Pela primeira vez eu pude sentir seu beijo com mais intensidade e eu não a deixaria fugir, não mais. 

Uma, duas, três estocadas rápidas, quentes e intensas. 

Como eu queria entrar na sua mente, naquele momento e ter a certeza de que ela sentia o mesmo. Que sentia as mesmas sensações que o seu beijo me causou.

Sinto-me pleno e satisfeito, mas a sensação de plenitude é agridoce porque ao olhar para lado a certeza de que tudo não passou de delírios. O sexo tinha sido bom, mas a culpa por fazê-lo com o pensamento em outra me atormentava. Não era justo com ela. Não era justo com a nossa relação.

~*~

Recostado, na poltrona, marrom de couro, da varanda. Mergulhado em lembranças recentes, sem se importar com a brisa fria que ventava sobre o seu dorso nu, ele recorda-se do dia que acaba de terminar, mas que ficara para sempre, guardado, na memória e no seu coração.

                                                                 ~*~

— Marjorie o estúdio fica para lá – eu não sei o que ela tinha, ela agia de um modo tão estranho, hoje.

— Eu sei… Mudaram a gravação para o estúdio A, não te avisaram? – ela diz simplesmente, já com sorriso no rosto.

— Não! A gente nunca grava para lá. Que estranho, não?

— Estranho nada, Thiago, anda logo!  – nunca entendo essas mudanças repentinas de humor das mulheres. Há um minuto, atrás, ela estava dizendo que não seria mais minha amiga e agora está lépida e fagueira me mandando andar logo.

— Ficou com pressa de repente, ué – eu questiono sem esconder a felicidade por detrás do sorriso.

— Você pode confiar em mim? – argumenta ela e eu digo surpreso:

— Não sei se eu devo, porque isso agora?

— Para de me fazer pergunta e só confia, está bem? – não era difícil confiar nela, mas o problema é que eu olhava a minha volta e não via ninguém, nenhuma movimentação no set

— Olha só Marjorie, acho que você se enganou as gravações não são aqui, tá tudo escuro. Isso é estranho… Você tá estranha hoje, na verdade está tudo muito esquisito e olha que hoje era para ser meu dia.

— Era para ser, não é mais?

— É ainda… – digo confuso pela forma como ela me perguntou — É o meu aniversário, que você nem lembrou inclusive.

— Aí que você se engana, eu lembrei. – como assim lembrou? Ela não havia lembro

— Não lem… – estava pronto para dizer isso a ela, mas calo-me com o acender das luzes e o revelar da surpresa. Não conseguia acreditar no que os meus olhos viam. Eu pisco por repetidas e vezes, só para ter certeza de que não era ilusão de ótica dos os meus colegas de elenco e a equipe inteira estava ali. Volto a encará-la, sem saber o que dizer, contemplo o seu sorriso aberto e a espontaneidade com ela canta os parabéns para mim abobalhado.

— Eu não sei… Não sei nem o que dizer Mah

— Não diz. Não precisa. Só o seu sorriso já é o suficiente, Thiago – suas palavras tocam fundo o meu coração, que acelera com a atitude dela em me abraçar. Eu estou surpreso, mas não deixo de retribuir o seu gesto a abraçando apertado. Podia ficar assim pra sempre. Pra sempre no aconchego desse abraço.

— Aê Thiagão, parabéns pelo nosso dia, irmão. – sou obrigado a romper o nosso abraço com a chegada do Lazaro.

— É verdade! – concordo questionando em seguida — Vem cá e porque a surpresa foi só pra mim, eu posso saber?

— Porque eu sou mais espero que você, a Camila não é tão boa em disfarçar como a Marjorie e descobri logo a intenção dela.

— É um desmancha prazer, ele né? – a Camila argumenta abraçando-o — Mas e você, Thiago, tá gostando da festa?

— Claro que estou! Hoje é a minha primeira festa de aniversário, nunca tinha feito uma. - só percebo isso agora, era a minha primeira festa de aniversário.

— Eu sei, a Marjorie me contou, alias a ideia da festa foi dela, viu.

— Camila! – exclama ela com rubor começando a tomar conta do seu rosto

— É sério? – a encaro, deixando-a ainda mais sem graça — Foi você quem organizou tudo isso, Mah? – eu sabia que tinha sido ela, afinal não tinha contado isso a mais ninguém, então pergunto por perguntar, só para saber o que ela diria e acabo surpreendido com a sua resposta

— Eu posso não ter lembrado o seu aniversário, Thiago, mas eu jamais deixaria a data passar em branco. Ah eu tenho um presente para você – meu coração que já tinha salto do peito diversas vezes só com a primeira afirmação foi a boca e voltou diante da última, tanto que sou obrigado a indagar:

— Pra mim? – apenas para me recuperar do choque

— Pra quem mais seria? – diz ela com divertimento na voz

— Achei que a festa já fosse o suficiente. – dou de ombros querendo parecer indiferente, mas a verdade é que eu não parava de me surpreender com as atitudes dela.

— Eu espero que você goste. – ela diz ao me entregar, eu observo a capinha florida, do que parecia ser um CD. Fico me perguntando por que ela me daria tal presente quando ouço:

—, As minhas músicas estão em pré-produção ainda, mas é que…

— São suas músicas? Suas mesmas?

                                                    ~*~



Três da manha e eu aqui, sem dormir, na companhia das suas músicas, da sua voz. Não vi o tempo passar. Tudo lembrava, ela, a chuva lá fora, a música que ecoava nos tímpanos, através dos fones de ouvido. Alegria maior não tem do que ouvir tão perto, tão próximo a sua canção. É quase como se fosse o sussurrar da sua própria voz cantando realmente a música que um dia eu quis que ela cantasse, mas ela preferiu apenas ler.

Ela havia mesmo acrescentado, por inteiro, a minha pequena contribuição a música. Tinha ficado perfeito a nossa música.

É um aperto no peito, um nó
Tristeza de se dar dó
Não dá pra calar
Alegria maior não tem
Do que estar com você, meu bem
Onde quer que eu vá […]

Se eu tivesse você
Se eu tivesse você onde quer que eu vá
Ah, se eu tivesse você
Se eu tivesse você onde quer que eu vá

 

Outra música…

Daqui não saio
Mesmo que você não queira nada comigo
Mesmo que você me troque por outra pessoa
Mesmo que você não veja nem mais sentido
Mesmo que você maltrate, me deixe à toa
Mesmo que você me trate feito um bandido
Que eu corra perigo

Daqui não saio
Mesmo que a gente brigue e vire notícia
Mesmo que você se dane, me mande embora
Chame a polícia

Eu quebro a minha cara, me tranco no banheiro
Paixão amplificada, o amor é verdadeiro
Eu sem você sou nada
Por inteiro

 

E outra…

Desde que o mundo se fez mundo não se deve magoar
E se houver gente que ainda sente a solidão não mais virá

Te procurei a noite inteira
Não posso mais com brincadeira
A vida é curta
E a minha sina é te querer de mais

Anuncia, me diga
Aonde for
Só me deixe estar
Me deixe estar

Seja qual for à mensagem que ela queria passar através das músicas. Surtiu efeito. Algo dentro dele se acende, embalado pelas músicas, ele pensa nela com papel e caneta em punho e é pensando que ele percebe que só queria estar ao seu lado, que as canções diziam exatamente o que ele sentia e a havia feito a noite inteira. Procurar por ela. Ele não podia mais com brincadeira, a vida é curta e a sua sina era querê-la de mais.

Mesmo que não faça nem mais sentindo. Mesmo que vire noticia e que ele corra perigo. Dane-se. O amor é verdadeiro. Paixão amplificada. Ele sem ela, não é nada por inteiro.

Ah se ele tivesse… Alegria maior não tem do que estar com você, meu bem.

Deixando fluir as emoções diante da folha de caderno em branco ele escreve. Escreve o que está dentro dele, o sufocando, roubando lhe o ar. É preciso, é como um subterfúgio para esse amor esvaziar-se por palavras.


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Créditos do Poema a For_what_love