Terra da Gente

Por Nicolle Januzzi, Terra da Gente


Raridade: raia albina é flagrada em Bertioga (SP)

Raridade: raia albina é flagrada em Bertioga (SP)

Quem vive no mar tem a sorte de flagrar cenas que passam longe dos olhos da maioria das pessoas. Mesmo assim, não é sempre que pescadores encontram raias na costa brasileira, muito menos uma raia albina.

Entretanto, ontem (18/03), durante uma pesca de arrasto em Bertioga (SP), o pescador Wesley Shkola encontrou uma raia totalmente branca que despertou a curiosidade do profissional. Ele enviou vídeos e fotos aos pesquisadores do projeto de pesquisa “Raias e Tubarões da Baixada”, que é realizado por Alexandre Rodrigues, do IBB-UNESP e coordenador do projeto, e Bianca Rangel, do IB-USP.

Os profissionais confirmaram que a raia encontrada é uma raia-ticonha (Rhinoptera bonasus). “As raias dessa espécie apresentam coloração branca na parte ventral, mas seu dorso geralmente é da cor marrom escuro ou marrom claro. A raia completamente branca surpreendeu o pescador, que relata já ter visto uma raia semelhante a esta há alguns anos atrás. Albinismo em animais selvagens é algo raro de acontecer. Tratando-se de animais marinhos como as raias, mais raro ainda, uma vez que esses animais só são vistos de perto durante mergulho ou quando pescados”, explica Bianca.

Raia albina à esquerda e a direita a raia-ticonha na sua coloração comum — Foto: Wesley Shkola/Rafael Mesquita

O albinismo foi confirmado pela ausência de pigmentação na pele e nos olhos do filhote de raia. "Ficamos muito surpresos e felizes com o registro, mas também um pouco preocupados com a sobrevivência desta raia. Sabe-se que esta condição rara pode não ser benéfica para a sobrevivência de animais selvagens. O fato de terem uma coloração diferenciada das outras raias pode chamar a atenção de predadores, por exemplo. Esperamos que ela sobreviva e reapareça”, acrescenta a pesquisadora.

Com as imagens foi possível constatar que o indivíduo é um filhote macho, nascido há pouco tempo. A raia tinha aproximadamente 40 centímetros de uma ponta a outra de suas nadadeiras e foi devolvida ao mar pelos próprios pescadores.

Espécie também é conhecida como gavião-do-mar-americano — Foto: JoeTheNaturalist

A atitude reafirma a importância do projeto na região que busca incentivar a soltura imediata das raias e tubarões capturados na pesca artesanal, de forma a garantir a sobrevivência destes animais.

"Em 7 anos de pesquisa na região, já registramos mais de 3500 raias através do monitoramento participativo com os pescadores. Com a ajuda deles, confirmamos que Bertioga é uma importante área de berçário para esta e outras espécies de raias." diz Rodrigues.

A raia-ticonha é comum na costa brasileira — Foto: Pat Treece/INaturalist

Ameaçada de extinção

A raia-ticonha ocorre desde o Uruguai até os Estados Unidos e, apesar de comum na costa brasileira, está ameaçada de extinção, principalmente devido a pesca.

“Elas demoram até nove anos para alcançar a idade adulta e geralmente tem apenas 1 filhote por gestação (que dura até 12 meses), o que as tornam muito vulneráveis a qualquer impacto humano. Fato curioso dessa espécie é que os filhotes nascem super grandes, com até 1/3 do tamanho de suas mães, que podem chegar a 1,1 metro”, reafirma Bianca.

A espécie costuma viver na superfície da água e vai ao fundo para se alimentar, caçando moluscos e crustáceos. A raia-ticonha possuí um pequeno ferrão e tem comportamento de viver em grupos, mas, de acordo com a pesquisadora, às vezes é encontrada sozinha.

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