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N 493 _ Janeiro de 1992-Ano Xlll


Janeiro de 1992

Número 493

Discernindo, distinguindo, classificando ...

Pio IX e Metternich

A.ssesta..-..d.o o

foco

O grande Pio IX demonstrou sua elevação de alma ao reconhecer

e condenar os erros do liberalismo 'O Papa e todos os que o cer cam estão á muitos anos tiv e uma di scussão às ordens da f acção [revolu c ion ári a !.... quente obre o liben~li smo com As notícias que me chegam dos quatro um antigo co lega de Facu ldade, pontos ca rdeais são cheias de provas do chamado Josias. Mostrei- lhe então os domau espírito que r eina no cler o' (p. 435). cumentos de Pio IX condenando as teo' Recolh endo os traços que tenh o serias liberai s, o que o deixou mal à vontade. D epoi s, as c ircun stânc ias da vida nos guido há muitos anos, ser -me-ia possível separaram e esquec i- m e dele. Eis senão quando, dias atrás, para surpresa minha , recebo uma ca rta de Josias: queri a prov ar-m e que Pio IX fora um libera l. Pela ca rta constato - surpresa denlro da surpresa que Josia. and a lendo as m emória · do Prín ipc d M eltc rni ch , o rand s1adi s1n austría o do s ·ulo pa ssado . 1:oi M ll c rni ·h qu ·m, apó s i1 qu ' dll d ' Napo l -1:í o ' m 18 1. , pr· sidiu , r ' Or 1;1nizaçao do mapn ·urop ' li ll ( l'<1moso ' on 'r 'ssod' Vi ·11<1 , s •ndo ·111 :10 qua l il'i ·a(I( d ' " árbitro ela l ~uropn " . 1 ' ' I ·vada v isão c a1ó li ·o - m o nnrqu i s1a, perman ece u à l'r ' 111 , lêl ·han c; ' laria auslríac a até 1848 , desenvo lvendo uma pol ítica ·onscr vadora , co ntrária aos princí1 ios igualitári o s e li berais espalh ados pe lo mundo todo, d sde a Revo luç ão de 1789, na França . A carta de Josias continh a trecho s sig nifi ca ti vos da correspondênc ia d ip lom áti ca de M etterni c h, na qua l o grande estad ista católico lam enta amargamente a po lítica liberal ado tada por Pi o IX nos primeiríss im os tempos de seu Pontifi cado . E numa época em que o li bera li smo constitu ía o aspecto mai s sinu oso e m ais pernic ioso da Revolu ç ão. Po líti ca desa tro sa, escr ever a llistór ia da co1(j11ra(1 111 11111 • que teve considerável influênc ia na perda termin ou por chegar a Pio IX. O 1•,1·11t·1·1I ·1I dos Estados Pontifícios pe lo Pa1 a. R esponder a Josias fo i- m e fác il , como · tomou 111'1/ corpo no C hef e vis(,,('/ i/11 lg11• o leitor verá ad ian te. A gora , 1 o rém , tran s- ja .... Um Papa liberal não <1 11111 s1•I 110 ,1,11 crevo a parte m ais conlundcnte de sua vel . Um Gr egório VII pfidi' 10111111 "' ' 11 senhor do mundo, um Pio /, 111111 u 110,/, · ca rta , cujo s term o s c u bem go sta ri a que Ele pode destruir, mas 111111 1111111 · 1•rl1/11'rll tivessem sido m ai rc. peitosos para com O que j á o Papa libemli:.11111,• r/1 •,11111111 /01 o Pontífi ce .

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*** "Então você m e moslrou doc umentos anti - liberai s de Pio IX ... Ora , esse Papa não só fo i um li bera l dos quatro costados, m as foi adem ais um símbolo da Revolu ção. O lh a o que di z o M etterni ch (*): 2

seu próprio poder 1c•1111111r1il' ( p, •I 1\ ), 'A Revolução .l'C' 01111,1.11111 rl,1/ l/',1,111, 1 ri, • Pio IX como de 11111r1ln111rl1 •1111 /.' h1111' ao Papa q11e .I'<' i111 •11, ·11 , , 1/I// ' ,11 ' 1111,11 , proclamando-o l'"JJ" d11 111·11~I·1·.~s11 <> grito de Pio I X .,·1111"'"'''r/11 •11lg,1o 111 •11.1 11

tema aborto ganhou atualidade candente Elevada tal assertiva à categoria de princípio jurídico, no Brasi 1. Seus defensores vêm atuando o que resultaria daí? em dois comprimentos de onda. A legislação atual conseguiu porventura eliminar o A primeira categoria deles - mais narcotráfico, o furto de automóveis ou a corrupção perspicaz - é constituída por pessoas que endêmica nos setores administrativos? Concluir-se-á propugnam (apenas!) uma ampliação dos - - - - - - - - - - então que é preciso legalizar o consumo casos de aborto já pennitidos por lei. Dende drogas, o roubo e a corrupção só tre elas, têm sobressaído mais recenteporque "a criminalização desses atos mente os adeptos do aborto eugênico. [eventualmente] não contribuiria para O leitor encontrará substancioso artigo coibi-los?" nesta edição sobre o assunto. Cabe ressaltar a propósito desse falso O segundo tipo de abortistas compõeargumento que, se a penalização de tais se, especialmente, de médicos e parlaatos nonnalmente não os extingue 1 é cermentares, inconfonnados com o fato de, to, contudo, que ela reduz consideravelem nosso País, o aborto ser basicamente mente o número de delitos. ilegal. E, porisso, desejam despenalizá-lo Por outro lado, as estatísticas demonstotalmente. Para tentar justificar a matantram de modo inequívoco que, nos países ça dos inocentes, apresentam eles arguonde o aborto foi legalizado sob alegamentos infantis, que fariam rir qualquer pessoa de bom ção de evitar a clandestinidade, não só a prática do senso, se não se tratasse de matéria moral gravíssima. abo1to solicitado aumentou progressivamente, como "A criminalização deste ato [aborto] não contribui não diminuiu a incidência de abortos clandestinos. para coibi-lo", assevera o deputado federal Nobel Veja-se, por exemplo, o brilhante estudo do Dr. ThoMoura, no Projeto de Lei nº 1097, de 1991. Por isso, mas W. Hilgers (lnducet Abortion: A Documented Resegundo ele, é preciso "suprir a flagrante lacuna exis- port) o qual prova que o índice de abortos clandestinos tente na legislação atual, ultrapassada de há muito por permaneceu inalterável em oito países europeus, mesnovos hábitos e nova forma de encarar o aborto". mo após a legalização dessa matança de inocentes.

me1110 da fa cção; é a pessoa do Papa e não a l gr ej I que ela quer manter ' (pp. 47 1-2). 'Eslava r eservado ao mundo presenciar o esf} etárnlo de um Papa prati cando o libern l ismo ' (p . 476) . ' Pregar o 11so da r mão 110 desert o a nada co11d11z. Oro , a Ro11w de l1 oje tern muito desse 1i110 tle deser10 ; ela está ple11a de I1111a ,ção q11e a experi[,,l('io r1•1n·ova .... Em Roma f oi r e10111rulo .firr1i vame111e o a110 de l 789 ' (p . 550).

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Josias poderi a ainda t r ac rescentado um fato. A tal ponl o as ho rda s revo lu c i o nári as f az i am suas m anifes tações I rua aos b rados de Viva Pio IX, qu o gra nde São João B osc o , d 'vot íss imo do Papado , recom nd avu a seus alunos que não >rila ss ' lll Viva Pio IX e sim Viva o Pa1>a. Minha r ' Sposla u Josi as, porém , não s ' r ''/, ·s1w rn r : recomen dei- lhe qu · 1 ross • •uissc seus estudo s hi st6 ri rn s u1 11 pouco além ele 1848 , ' lol' o v ·ri 11 com o Pio IX so uh ' sn dq1oi s 111 11 grande Papa , pass,111d o prn· 11 lpo a maneira de u111:1 t·rn1 w rs1\o . l i l'oi sobrcl udo o r ' ·0 11ilt'l' i ll ll'III O dos 'ITOS cio liber'llli s111 0, q111· ll ll ll'S o in fl ucnc iarn111 , (l\ll' () f '/ mli 11 ir.ívc l. S1· 11.\ drn·u1 11l·111 os anl i- libera is ·rn110 1 1•:11\' ll' ll t'II ()11a11w Cura e n\ S 1•//11l111 .1, 11 prnl' lamação dos do1• 11111~ d11 lt1l i1 \'11 l 11dn Conce ição dl' Noss11 S1·111i o 1:i t' da inf'a libi li d11d • p11 p il , o 111 l lll' 11poio q ue deu 111 1s rn 10IH o ~ 1il 111 11 1m111anos f"ran l 'l' ~l 'S ( 111l1 lil w rn 1s) e ao heróico P11·s 11h·11l l' do l •'.q11 11drn , <la reia M oreno , 11 /l' l llllllll' ll' 11111 101111 11 ll'V oluc ionári o de p111111'i111 111111 11 , p11 1v11vl'l11n;nlc um santo 1 Sl 'I l' I ·v 11 do li )' lrn r:1 dos aliares. C.A.

SUMÁRIO Aborto eugênico - Nazismo revive cm práticas abortistas

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Breves Caderno Especial

p, 11 llv,1inente diplomáti ca e

1111111 li 1 111 MIi 10, 1111I o parte do império da A11 1 Ir 1 1 1 10 , 11 11J 1ixado r austríaco em 1 trn11 1, 1:or1<l11 11 11 .10w , no período de outuh1 o/ 11\11 / 1 l 1111 Ir o/ 1848 ; in Mémoires de M, 1/1 11111'11, 111t,1 1, i> uls, 1883, t. 7. ( ' 'l'Ot.JCISMO, JANEIRO 1992

- Ncobárbaros e muçulmanos invadem a Europa

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17 Coment e, comente .. . 23 Brasil Real - Brasil Brasileiro

Tl•Ps em Ação - No Brasil, Ch ile, Filipinas, Pcrú e Uruguai

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25 Hagiografia 27 Imagem cm painel

Af01LJCIS-MO

(' ) (, 1111 10 w 111l11 do Ficq uelmont e ao /1 /ri 111,1111'111/ co111l11 llndetzky - cumprin -

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A dupla invasão

Catolicismo é uma publicação mensal da Editora Padre Belchior de Pontes Ltda. Diretor: Paulo Corrêa de Brito Filho. Jornalista Responsável : Takao Takahashl · Registrado na DRT-SP sob o N•. 13748. Redação e Gerência: Rua Martim Francisco, 665 · 01226 · São Paulo, SP • Tel: (011) 825.7707. Fotocomposição: (direta, a partir de arquivos fornecidos por Catoliclamo) Mlcfofonnas, Fotoltto e Artes Gráilcas, ltda. • Rua Javaés 681/689 · O1130 · São Pau lo · SP; Impressão: Artpress · lndúslria Grálica e Edttora Ltda. · Rua Javaés, 681/689 . 01130 - São Paulo, SP. Para mudança de endereço é necessário mencionar também o endereço antigo. A correspondência relativa a assinatura e venda avulsa pode ser enviada ao endereço da Gerência de Catolicismo. ISSN lntemational Standard Serial Number . 0102-8502.

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<.>- Despesas ociosas Estudo desenvolvido pe la Associação Brasileira de Comérc io Exterior (AEB) comprova odesperdício do País no consumo de combustíveis. 72% dos transportes de ca rgas são operados com motores diesel. Os números são frisantes. Por rodov ia, seguem 56% do transporte de carga; 23%, por ferrovia ; só 17 % por hiclrovia; e 4% por duto . Desse modo , o transporte ele carga e ncarece o c usto fin al dos produtos que percorrem grandes di stân c ia, . É o caso, 1or exemplo , ela soja ele Mato Grosso, que 6 transporta la ao longo ele 2 mil quilômetros antes ele chega r aos portos, ou mesmo às fábricas para esmagamento. Porque as hiclrovias , e mes mo o transporte ferroviário elétrico são tão pouco utilizados?

concisamente

<.>- Clamorosa apatia Segundo uma série de pesquisas realizadas pelo sociólogo José Ignacio Mert, um em cada dois jovens espanhóis, na faixa dos 18 aos 23 anos, manifesta total desinteresse pela política. Dentre estes, mais de 70% afirmam não ter seq uer opinião a respei to . Um professor de segundo grau, dedicado a programas de filosofia para crianças ou adolescentes, exprimiu à agência ANSA sua perplexidade, nestes termos: "tento, pelo menos, que o adolescente cons iga organ izar um minuto de discurso minimamen te lógico e articulado, com algo para dizer. Mas isso me custa uma enormidade''. Incapaz de refletir, o jovem hodierno deixa-se conduzir como um autômato .. . Em que direção o levam?

<.>- Entre a guerra civil e

a imbecilidade Para muitos mos ovitas parece inev itáve l uma guerra civil. "Duranle as úl!imas 1empes1ades desa/adas con lra nós, 1e111os comprovado que o povo é selvagem. É a lgo asiálico", afirma o diretor do "Pravda". De outro lado, o presidente do Banco da URSS, Victor Geraschenko, dec laro u : "nosso povo é uma criança maior que espera que o seu pai reso lva sua vida, lemos padecido de um total infanlilismo por causa de papai-Estado ; o perigo que corremos é o de qu e, ago ra sem papaiEstado, essa criança se converta num imbecil". "Eles fingiam que nos pagavam, mas nós fingíamos que trabalhávamos", eis um ve lho provérbio nacional. Setenta anos de com uni smo produziram esse desastre.

<.>- Mistificação e desinteresse O razoável desempenho eleitoral obtido na Colômbia pelo M- 19 ex-organi zação guerrilheira - não pode ser creditado na conta ela esq uerda. Foi com uma retórica nacionali sta, liberal e moderada-sobretudo fazendo alianças com setores cio partido Libera l - que o grupo conseguiu uma percentagem ele apo io entre os 15% e 20%. Os índ ices ele abstenção - estes sim - foram altíss imos: cerca ele 70%, sign ificando que o e leitor não se vê representado nos partidos.

<.>- Aproveitem os peixes! Segundo relatórios cio Banco Mundial , xistem na Bacia Amazôni ca 2800 espécies aquá t i as, mbora menos ele 50 estejam sendo cleviclam 'nt' uprov 'i tadas. Concl usão cl Ban ·o Mundial: se o Brasil levasse a s6rio ap ' na s o 4u ' possui em peixes ele ág ua doe', · c;iso obedeces e às técnicas de rn ntrol • de qualidade e embarque do produto, poderia honrar boa parte de sua dívida externa.

• <.>- Paquiderme voraz No ano passado, os 60 milhões de assa lariados brasi leiros desembolsaram 45 bilhões c1 ' dólares para sustentar a inoperante máquina ·s tatal - o conjunto de fundações, autarquius, min istérios e empresas públicas. Enquanto a dívida globa l desses tor ase ·mi ' a mai s de 200 bilhões de dólar s, todo o patri mônio do Estado brasileiro não eh ''ª a pug,;11· os juros mensais dessa dívida .

•••

em tempo

" A URSS é uma sub-sub América Latina . É o Quarto Mundo. Uma fave la brasileira, comparada à per(feria de Moscou, é um oásis de d inamismo". O depoimento é de Alai n Mine, renomado ensaísta francês, ex-d iretor financeiro do grupo Saint-Gobain, e vice-presidente do grupo italiano De Benedetti.

Quarto mundo -

Camarada "out" -

A abjeta fórmula de tratamento,"Camaracla", ca iu em desuso na URSS. O termo, hoje, equiva le ali a um insulto. O que está "in" é a palavra "gaspadin" (senhor), utilizada na época da Rússia imperial...

Sub-desenvolvimento cultural - Provas e laboradas por escolas primárias e sec undá.rias de Israel , França, Espanha e Po1tugal estão sendo ap licadas a mais de mil alunos brasileiros dos mesmos níveis, em tunnas de 50 coleg iais, para aferir o grau de conhecimento de nossos jovens. Até o momento, o índice de reprovação é superior a95 % ! Charutos escassos - Os famosos c harutos Havana (especia li dade nacional) e cigarros em geral, também foram incluídos no rol dos produtos racionados em C uba. Com a derrocada do comun ismo na URSS, a metrópole deixou de env iar alimentos e máquinas ao tiranete barbudo, que em tudo depende de Moscou. Daí, a escassez dos produtos básicos. Desconexo e obsceno - Um dos conjuntos de rock mais em voga no Brasil é conhecido por repetir, em sucessivos gritos, frases como " um a coisa de cada vez" ou palavras desconexas, entremeadas de obscenidades e vilanias de todo naipe. Por estes exemplos, modela-se a juventude. Jaleco no lixo - "O comunismo é um velho jaleco que os húngaros j ogaram na lata de lixo", comentou o político local Janos Kiss. Os termos "sociali smo" e "social-democrata" são totalmente desprezados. Entretanto, apenas 27% dos eleitores compareceram para votar nas eleições cio último ano. Isso indica que a apatia e a desilusão talvez sejam as maiores forças da política húngara. Fiasco da Lada - Diante das vendas inferiores ao esperado, a representação brasile ira da fábrica soviética Lada decidiu diversificar aqui seus negócio , passando a oferecer outra marca de automóveis impo1tados - que não serão made in URSS. Como se sabe, houve uma atoarda publicitária em torno dos veículos russos , mas se comprovou logo serem de baixíssima qualidade ... Pais desnaturados - Menina de sete meses escapou da morte, porque foi atendida a tempo no CTI (Centro de Terapia Intensiva) Me um hospital paulista. Seu mal: "overdose" de cocaína, que os pais lhe davam para c heirar. O casal - que se saiba - foi indiciado ... apenas por tráfico de cocaína. Filhos rejeitados -

Or ·~111ismos ele esquerda como a CUT continuam , por6m , a se opor às tím idas privatizações ·111 curso no País.

Destaque

Em João Pessoa, uma mulher matou o filho recém-nascido, no banheiro de sua casa. No Rio de Janeiro, em frente ao Maracanã , foi achado o utro bebê, dentro de uma caixa de sapato! Tinha 46 dia · de vida e pesava três quilos ...

I - Furor anticatólico na Somália O jornal oficioso da Santa Sé, "L' Osserva/ore Romano", de 28-7-9 J Jaz es/arrecedor relato sobre o que aconteceu na Somália, país siluado na costa les/e da Áfi'ica. Maometanosfúndamentalistas, is/o é, radicais, assassinaram no ano passado o bispo de Mogadiscio , a capital. Recentemente saquearam e atearam fogo á catedra l e á cúria. Um precioso Cruc(fixo foi destruído com rajadas de metralhadora. Todas as imagens sagradas, as estáluas, o altar, o púlpito e o tabernáculo foram queimados ou arrebentados. Desfiguraram o rosto de uma imagem de Nossa Senhora. O sarcófàgo de um anlerior bispo da cidade foi aberto, e os restos mortais lançados fora. Atearam tambémfogo à igreja do Sagrado Coração de .Jesus, a qual fo i completamente des fruída. O tabernáculo, no qual estava presente o Santíssimo Sacramento, o altar, o púlpito, a pia batismal, as cruzes, os quadros e três baixo-relevos em bronze do átrio da igrejaforam destruídos com sacrílego método. No cemitério católico, todas as cruzes.foram arrancadas e túmulos violados. As capelas das religiosas, existentes em alguns hospilais,.foram saqueadas e incendiadas. Osfanálicos islamitas queimaram também as igrejas das cidades de Merca, Ch isimaio e Gelib . Nesta , um sacerdote foi assassinado. Esses crimes nefandos, indicadores de brutal fanatismo e do ódio mais virnlento , são de molde a abrir os olhos dos católicos, atualmente anestesiados pelo ecumenismo. Não menos assombroso é o silêncio quase lota/ da mídia brasileira a respeito ..

II-Bispo vilipendiado na China Os comunistas chineses condenaram o Bispo católico de Yixian, D. Pedro Guandong, a recolher diariamenle, durante três anos, o lixo daquela cidade - comunicou uma fonte eclesiástica ao jornal "O Expresso", de Portugal. De lido, juntamente com outros doze prelados, foram lodos condenados a "trabalhos de reeducação", sob várias .formas, ao estilo dos Gulags soviéticos. Dezenas de sacerdotes têm sido presos pelos marxistas de Pequim por se recusarem a incorporar-se à chamada "Igreja Católica Patriótica Chinesa", paga pelo regime , e que constitui mera fa chada da propaganda atéia em meios católicos. Estas notícias vêm à baila quando oulras informações seguras dão conta de um descrédito crescente do comunismo junto ao povo. Em mui/as regiões da China, o comunismo recorre a lodo genero de pressões e chantagens contra eclesiáslicos, no intuito de fazê-los apoiar a tirania amarela, pois somente eles são respeitados e obedecidos pelas pessoas. Tais expedientes desesperados moslram bem como permanecem vivos os métodos marxistas.


O MEDICINA

·Aborto eugênico: ressurge o nazismo? A Higiene Racial hitlerista revive na

Q

uase meio século após o tér- çou-se em expressões como explosão mino da II Guerra mundial, demográfica e controle da natalidaquem diria que o racismo na- de, em nome das quais se esterilizam zista conseguiu sobreviver populações inteiras e se eliminam miao Tribunal de Nüremberg? lhões de nascituros. E a nefanda Higiene Racial, ciência É surpreendente, mas um número considerável de cientistas, médicos e manipulada pelo médicos nazistas pesquisadores contemporâneos pare- para garantir a pureza da raça ariana <1>, cem ter herdado a mentalidade nazis- hoje ganhou um nome mais sonoro, próta, pelo menos no que diz respeito ao prio a granjcar a simpatia de muita gente desinformada: aborto eugénico l2>. problema do aborto. Os rótulos, é verdade, foram trocados. Mas muitos princípios que, no Aborto eugênico nazista - A hipassado, justificaram o extermínio . pocrisia dos que procuram justificar em massa de pessoas consideradas esse tipo de aborto é gritante: pratica-se a eutanásia pré-natal, dizem, em nascisub-humanas, permanecem. Assim, por exemplo, a eliminação turos com má-formação genética ou de incontáveis seres humanos disfar- contaminados por moléstia grave, para

evitaro desenvolvimento de uma vida anormal, indigna de ser vivida. O pretexto alegado é uma pseudocomiseração pelo sofrimento alheio: precisamente porque amam a criança, matam-na! Esse gênero de comiseração foi manipulado por Adolf Hitler. Dizendo-se imbuído de nobres sentimentos humanitários, mandou ele fundar o Instituto Para Higiene Mental de Hadamar, onde se exterminavam crianças excepcionais e se praticava em larga escala o aborto eugénico <3>_ "Tal ação, escreveu Hitler em Mein Kampf, poupará a milhões de infelizes um destino cheio de sofrimentos e trará como resultado um incremento cada vez maior da salÍde "141• Eugenismo no Brasil - Talvez motivada p •lo "destino cheio de sofrimentos" das crianças defeituosas e preocupada com a sanidade de nossa raça, a Comissão Técnica do Conselho Fedcra l de Medicina (CFM) sugeriu um anteprojeto de lei regulamentando no Brasil o aborto eugénico. Não se trata pura e simplesmente de despenalizar o aborto, como pretendem os deputados Eduardo Jorge, Sandra Starling e Nobel Moura <5>. Isso despertaria a indignação do povo brasileiro, que em recente pesquisa se manifestou contrário a tal medida <6). A tática empregada é mais sutil.

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hiprocrisia de práticas abortivas de nossos dias Almeja-se apenas ampliar os casos Trata-se talvez da forma mais odiosa legalmente permitidos de aborto, hoje de racismo, como bem denunciou o limitados aos de perigo iminente de célebre geneticista francês, Prof. Jévida da gestante e gravidez resultante rôme Lejeune, descobridor da causa de estupro (!) _ Permissão, aliás, diga- genética da síndrome de Down (monse de passagem, que mancha nossa golismo): legislação, por ser contrária à Moral, "Sugerir que se elimine este ou e que deveria ser revogada. aquele ser humano porque possui O artigo primeiro do anteprojeto do esta ou aquela anomalia é um CFM assim se expressa: comportamento racista. Os pais "A interrupção da gravidez, até a que defendem isso não querem ter 24~ semana, é permitida por indica- um filho doente. Então fazem uma ção médica nas gestantes cujo produ- espécie de racionalização. Decito da concepção seja portador de dem matar a futura criatura simcondições capazes de determinar al- plesmente porque ela terá um pro teração patol6gica incompatível com blema, porque tem um cromossomo a plenitude de vida e sua integração a mais. Isso é puro racismo cromosna sociedade" <8>. sómico!' <9>_ Interrupção da gravidez é um eufemismo técnico-científico que procura atenuar o impacto causado pela expressão aborto provocado. Visa-se com isso disfarçar o mais possível a idéia de que há nesse tipo de procedimento uma vítima humana: o nascituro, que é brutalmente extirpado do claustro materno. Ademais, vítima BRASIL indefesa, condenada DEMOCRÁTICO: à morte justamente será este o por aqueles de quem mais deveria esperar destino de carinho e proteção: a milhares de · nascituros? mãe e o médico. O paradoxo não Transformar-sepoderia ser mais fla- ão médicos em grante: o amor ma- profissionais da temo cede lugar aqui morte e ao egoísmo tirânico hospi~ais em da mulher, que aborta o filho não-nasci- "campos de do apenas porque extermínio", em este apresenta algu- nome de um ma deformidade. novo racismo?

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Ademais, a medicina existe mais para os doentes do que para os sadios. Por que então transformar o diagnóstico pré-natal, que detecta a má-formação fetal, num fator de extermínio e não de cura? Tornar-se-ão, os profissionais da vida, semeadores da morte? Que funestas conseqüências tal atitude não acarretaria para a humanidade? A iniciativa da referida Comissão Técnica do CFM despertou viva reação mesmo entre os membros da classe médica. Entre eles, destaca-se o conselheiro Genival Veloso de França, do Conselho Regional da Paratba: ''No rastro do aborto dito eugenésico


viriam todas as outras f~rrnas de ça e de dramatismo que aborto. Onde levantaríamos o direito pode afligir a mãe ou o do ser humano existir? Certamente, concepto. depois de legalizadas essas formas de Como ensina o Maaborto surgiriam os defensores do in- gistério eclesiástico, "se fanticídio legal dos recém-nascidos as razões apresentadas malformados. Em seguida a morte para justificar um abordos velhos, dos incuráveis, dos invá- to fossem sempre manilidos e, até, quem sabe, dos politica- festamente infundadas e mente indesejados .... Foi assim que a destituídas de valor, o Alemanha nazista começou e termi- problema não seria asnou" <10>. sim tão dramático .... "Não ignoramos estas grandes dificuldades: pode tratar-se de um grave problema de saúde, ou por vezes mesmo de vida ou de morte, para a mãe; pode ser o encargo que representa mais um fi lho, sobretudo quando existem boas ra zões para temer que ele virá a ser anormal ou retar. dado mellfal; pode ser, ainda, o peso de que se revestem, em diversos meios, as considerações Tornar-se-ão semeadores da morte, os profissionais da de honra e de desonra, vida? de baixar de nível social etc. "Apenas afirmamos que jamais alMédico-chefe do Instituto de Hadamar, onde se exterminavam crianças gumas dessas razões poderão vir a "exepcionals" e praticava o aborto conferir objetivamente o direito de eugênico dispor da vida de outrem, mesmo que Não é lícito - Nunca será lícito ao esta esteja a começar .... médico causar deliberadamente a "A vida é um bem demasiado fun morte, mesmo cm casos dramáticos, damental, para poder ser posto aspois o aborto não se torna legítimo ou sim em balanço com inconvenien ilegítimo conforme o nível de dcsgra- tes mesmo muito graves" <11 >

Portanto, erigir a "plenitude de

únicas condiçõ- t - - - - - - - - - - - - _ J es que conferem o direito à vida, é um atentado contra a Moral, a ética médica e a própria humanidade. É trilhar o mesmo caminho que ontem ainda condu1J u ao criminoso extermínio de seres humanos na Alemanha nazista!

O Prof. Jérôme Lejeune, médico francês de renome mundial, descobridor da causa genética da síndrome de Down (mongolismo), conta a seguinte história que ouviu de um colega geneticista: Há muitos anos, meu pai exercia medicina em Braunau, na Áustria. Certo dia, duas crianças nasce-

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ram sob · os cuidados de um colega seu também médico. Uma delas era um menino bonito e saudável, que chorava a valer. Outra era uma menina franzina, e seus pais estavam muito tristes porque ela nascera mongolóide. Eu acompanhei de perto esses dois casos durante quase 50 anos.

A menina cresceu, vivendo retirada em sua casa, e acabou sendo a enfermeira zelosa de sua mãe que adoecera gravemente, depois de sofrer um enfarte que a levaria à morte. Não me lembro mais do nome desta menina. Lembro, isto sim, do nome do menino. Ele morreu num bunkerem Berlim.

dupla .1nvasao ,..,.,,

NOTAS:

1) A cátedra de Higiene Racial foi fundada em 1923 na Universidade de Munique, pelo médico nazista Dr Fritz Lenz, co-autor da obra "Menschliche Erblichkeitslchrc und Rassenhygiene" (Cfr. Bcrnhard Schrcibcr, Geheime Reichcssache - TI1e Men Behind Hitler, Private Editor, London, 1987, p. 34). 2) Do grego cu, bem, e gen, gerar. 3) Calcula-se cm 300 mil as vítimas do Programa Eugcnésico nazista (Cfr. Dr. & Mrs. J. C. Wilkc, Abortion: Questions and Answcrs, Haycs Publíshing Inc., Cincinnati, Ohio, 1985, p . 222).

5) Cfr. Câmara dos Deputados, Projetos de Lei n%. 1135 e 1097 de 1991. 6) Cfr. DataFolha, MFolha de S. Paulo", 18-9-91. 7) Cfr. Código Penal, art. 128. 8) Cfr. MJornal do Crcmcsp", Junho/Julho de 1991, p. 9.

Seu nome era Adolf Hitler!

9) MVeja", 11-9-9 1,p. 8.

(Apud. Dr. & Mrs. J. C. Wilke, Abortion: Questions and Answers, Hayes Publishing Company, lnc., Cincinnati, Ohio, 1985, p. 208).

10) "Jornal do CREMESP", Junho/Julho de 1991, p. 9.

CATOLTCfSMO, JANEIRO 1992

A

BRÁULIO DE ARAGÃO

4) Adolf Hitler, Mci n Kam pf, V crlag Franz Eher, 5! Auíl., München, 1930, p. 279.

Mongolismo: vida indigna de ser vivida?

O INTERNACIONAL

vida" e a "integração na sociedade" como

11) Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, Declaração sobre o aborto provocado, 18- 11-1974, n 2 14.

CA TOLTC!SMO, JANEIRO 1992

Como na velha Roma, o Ocidente está sofrendo um lento derramar-se de povos que acabarão por alterar completamente sua .fisionomia

S

e possível fosse presenciar fatos passados, entre muitos, bem poderíamos escolher a queda do Império Romano do Ocidente, pelo seu significado profundo, exemplo para os séculos posteriores. Quem vivesse cm Roma, nos anos imediatamente anteriores à nossa Era, e presenciasse a chegada dos primeiros bárbaros - estrangeiros de civilização inferior, mais especificamente povos de além rio Reno - dificilmente poderia imaginar que, alguns séculos depois, o trono imperial seria ocupado por um dele~, Odoacro, marcando o fim da Antigüidade. A partir de então, a velha Roma, e toda a civilização engendrada por ela, foram perdendo a própria identidade.

A História se repete - Pode-se discernir, cm nossos dias, fatores indicativos de mudançi.is igualmente grandiosas e profundas?

Os movimentos migratórios rumo à Europa Ocidental , desencadeados

pela queda do Muro de Berlim e pelo rasgar da Cortina de Ferro, têm sido apontados por alguns como "invasões de neobárbaros". Os eventos podem prestar-se a certos paralelismos. Mas o quadro atual é mui to mais complexo que o do Império Romano. Na verdade, a Europa Ocidental está sofrendo algo que já se pode classificar de dupla invasão [ver mapa]. Do Leste, as populações dos países de além ex-Cortina de Ferro - rcduzidas à miséria extrema causada por décadas de comunismo, e pelas desastrosas medidas de Mikhail Gorbachcv - vêem-se tentadas a obter o mínimo de condições humanas de sobrevivência cm meio ao que consideram ser a opulência Ocidental. Do Sul, a pcnetmção que já ocon·e e tende a crescer, de povos africanos, árabes, turcos etc., cm sua esmagadora 9


a dupla . ,., 1nvasao

Grupos étnicos de alemães da URSS para Alemanha

,

Em Roma, a Cidade Eterna, ergue-se uma Imensa mesquita, sfmbolo do poder muçulmano

"Segundo notícias, 41 milhões de revolução indescritível". ("Diario maioria, muçulmanos. É verdade que muitos dentre estes "invasores" de- soviéticos estão dispostos a abando- 16", Madri, 27-12-90). Há um ano, conforme o "New sempenham tarefas humildes e indis- nar o país quando se abram as fronteiYork Times Magazine"(15-9-91), a pensáveis, rejeitadas pelos próprios ras em 1º de janeiro de 1993. Os roEuropa nadava na euforia ante o comenos querem entrar na Áustria, os europeus. lapso do comunismo e na perspectiva Resta saber se os que estão vindo poloneses na Alemanha, os turcos de uma era de prosperidade trazida do Leste trabalharão também em fun- também. Os países do Magreb enpela Comunidade Européia. Hoje, a ções similares. Seja como for, devido viam suas ondas a nossas praias. Deng euforia se evaporou. Os europeus, a seu volume potencial, representam, Xiaoping diz que se as coisas forem enervados, sentem-se cada vez mais segundo alguns, verdadeira invasão, mal, a China enviaria à Europa 100 sitiados pelos milhões de imigrantes milhões de chineses. quase uma ocupação. "Essas massas entrarão sinuosa- que vivem entre eles, e pelos outros Nova Revolução, silenciosa - A mente em nossas vidas, sem gritos, eventuais milhões que já discernem sem bandeiras, sem discursos infla- no horizonte. A histeria alcançou um que vêm eles? O escritor espanhol Ramón Nieto mados. Ficarão entre nós e comple- auge com o golpe de Estado abortado muito lucidamente relaciona essas tarão assim a sua invasão silenciosa, na URSS. Entram, por ano, de "invasões" com Revoluções anterio- para iniciar a grande marcha de uma 700.000 a 900.000 imigrantes legais, outros 500.000 pedem asilo pores: "Ao grito de Abaixo a tiralítico e o número dos clandestinia!, o povo tomou a Bastilha, nos é incalculável. decapitou reis e nobres. Era a "O mundo desenvolvido enRevolução Francesa. Ao grito contra-se hoje na mesma situade Proletários do mundo, unição que o Império Romano no vos!, os seguidores de Marx se III século após Jesus Cristo", alçaram contra os burgueses escreveu o Secretário de Estado que tinham acabado com os nofrancês para relações exteriores, bres, que tinham acabado com Alain Vivien. "As fronteiras as autoridades eclesiásticas. Ao fortificadas e os dispositivos jugrito de A imaginação ao porídicos não bastarão para frear der, os estudantes de maio de 68 os fluxos migratórios" ("Le se alçaram contra os proletários Monde", 7 e 8-7-91). que tinham acabado com os bur.E o dissidente russo, Zinogueses que tinham decapitado Populações dos pafses do Leste entrarão sinuosamente en nossas vidas, fazendo uma lnvação viev, em entrevista a "Le Point" os nobres, etc ..... silenciosa 10

CATOLICISMO,JANEIRO 1992

(7-7-91), alertou: "O Ocidente deve preparar-se para uma invasão pacífica dos povos do Leste. Ver-se-á derramarem-se dezenas de milhões de pessoas do Leste. Nenhum exército poderá detê-las. Essa gente é perfeitamente capaz de fazer desaparecer, apenas por sua presença aqui, toda a civilização ocidental da face da terra". Ameaça do Crescente - O fluxo migratório proveniente dos países do Leste europeu é portador de marcas profundas e quase insondáveis deixadas por décadas de igualitarismo comunista, somadas em muitos casos aos erros e desvarios da igreja cismática. Assim, embora suas intenções possam não ser particularmente hostis ao que resta da Civilização Cristã no Ocidente, os efeitos podem ser funestos. Ainda pior, entretanto, é o que ocorre com os muçulmanos vindos principalmente do sul. "Vós, franceses - afirmava no início de 1991 Hussein Moussawi, líder do grupo terrorista islamita Hezbollah - talvez não vejais ainda nesta geração a república islâmica na França. Mas vossos filhos e netos conhecê-la-ão .... nas cidades francesas, alemãs, belgas, os soldados de Alá esperam que soe a hora da revanche para passar à ação numa Europa que durante tanto tempo nos humilhou e nos submeteu ao seu jugo" ("Le Point", Paris, 27-5-91).

CATOLICISMO, JANEIRO 1992

Na Inglaterra, 1,5 milhões de muçulmanos lutam por manter seus hábitos

A mesma revista francesa comenta que o ódio à Europa e ao Ocidente em geral serve de leitmotiv aos libelos fundamentalistas. Num dossiê intitulado "França-Europa: plano secreto dos islâmicos", a citada publicação se refere a uma reunião reservada de líderes fundamentalistas, realizada nas proximidades de Tourcoing, na fronteira franco-belga. Salah Temimi, estudante na Sorbonne, declarou nessa ocasião: "Estou na França para conhecer por dentro o sistema ocidental que nos oprime, para aprender sua ciência, sua técnica, suas artimanhas. Assim, estarei melhor armado para combatê-lo ..." "Le Point": "Até pela violência?" Salah Temimi: "Sim, até pela violência. Há um século que a Europa nos atormenta, nos impõe suas leis, suas normas, seu modo de vida indigno, seu sistema de pensamento oco, seu ateísmo". "Uma verdadeira internacional islâmica - diz "Le Point" - caracteriza as grandes linhas de uma cruzada anti-ocidental: te-islamizar as comunidades muçulmanas na Europa, lutar contra o ateísmo e contra os 'pretensos valores' do Ocidente, erguer uma barragem contra a integração, afastar os muçulmanos das tentações e vícios do 'capitalismo sem alma do Ocidente'" "Esta é a primeira guerra mundial das culturas" declarou, por sua vez, um intelectual marroquino ("ABC", Madri, 15-2-91).

1,7 mi/hões de muçulmanos estão registrados na emigração alemã. Quantos haverá Ilegais?

11


Qual o futuro~,d a Europa? · O que restará da Civilização Cristã após as invasões?

"A Espanha, junto com a Itália, é o país do mundo com menos nascimentos. Este fenômeno afetará toda a sociedade: saúde, educação, pensões e Exército" ("Cambio 16", Madri, 7-10-91). A continuar a atual tendência, a outrora catolicíssima Espanha ver-se-á, no ano 2000, diante deste quadro aterrador: o número de menores de 18 anos será equiparado ao dos maiores de 65 anos... Quem preencherá este vazio? Para manter a sociedade nessas condições é necessário admitir imigrantes, primeiramente dispostos a trabalhos braçais. Depois, pouco a pouco, ocuparão os demais espaços que normalmente seriam ocupados pelas oovas gerações, inexistentes devido às práticas "modernas" de controle da natalidade e de aborto. Pouco a pouco, a fisionomia desses países adquirirá contornos que, em breve, os tomarão irrcconhecíveis.

O ensinamento de Hassan el-Ban- . Catolicismo tem-nas apontado e na, guia supremo dos chamados Ir- combatido. Há, entretanto, um desdomãos muçulmanos é mais válido que bramento da crise moderna que, já a nunca: " O Islã é a doutrina, o culto médio prazo, poderá ter conseqüêndivino, a pátria, a nação, a religião e a cias irreversíveis. espada ... Está na natureza do Islã do"A nossa civilização [Ocidental] minar, impor sua lei a todas as nações pode ganhar todas as batalhas, mas no e estender seu poder ao mundo intei- fim perder-á a única guerra decisiva ro", ("Le Point", 27-5-91). O reitor da que conta, a dos berços", (Pierre Grande M esquita de Paris, Cheik Ab- Chaunu, de L'Institut, em "Le Figabas, sempre deixou claro que a guerra ro",Paris, 19-9-91,citando Yves-Masanta não é só militar; na concepção rie Laulan, autor de "La Plancte balcorânica é toda ação destinada a ex- kanisée", Economia, 1991). De fato, pandir o Islã ("La Croix", 7-8-87). o abandono da prática religiosa está Diante dessa radicalidade, qual de- na raiz da crise de nascimentos que verá ser a atitude dos católicos? V cre- assola os países europeus. A prática mos em nossos dias alguém se opor nefanda do controle da natalidade e do ao Crescente com a sabedoria e deci- aborto, o divórcio etc., fazem com são de um São Raimundo Pefiafort, que, de modo ger-al, as nações ocidenque o enfrentou na Idade Média? tais, ex-cristãs, tenham taxas de nascimento quase iguais ou mesmo infeDesdobramento da crise - Múl- rio res às dos falecimentos. Por tiplas são as causas que estão na ·b revidade citamos apenas um artigo: origem da decadência Ocidental. "A Espanha termina":

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Na obscuridade, uma luz - Poder-se-ia objetar que a Europa, afinal, é fruto precisamente de um processo de invasões análogo a este, o qual representaria fator determinante para a formação da Civilização Ocidental e Cristã. Nada mais falso. A Civilização européia não foi fmto primordialmente das invasões, mas sim da ação evangelizadora e civilizadora da Igreja através do trabalho desenvolvido por inúmeros santos. Ela salvou o que foi possível da velha Roma. Mas esta, enquanto civilização, acabou por soçobrar. Sob o bafejo da Igreja, os bárbaros, convertidos à verdadeira Religião, com muitas de suas instituições, somadas às de Roma, produziram a Idade Média. Hoje, porém, a própria Igreja se debate num misterioso processo de "autodemolição", explicitado por Paulo VI. Nessa situação, o que esperar? Dos meios humanos, realmente nada.

Ad te levavi oculos meos, qui habitas in caelis (A Ti elevei meus olhos, ó Tu que habitas no Céu). Ainda que as invasões se dêem no seu pior aspecto, e que nada sobre da presente civilização, a Providência saberá como salvar aqueles que até o fim lhe forem fiéis.

Nossa Senhora de

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R. MANSUR GUÉRIOS

CATOLlCISMO,JANEIRO 1992


.,., · !4 adoração dos Santos ~is Evangelho de São Mateus, 2, 1-12 Tendo Jesus nascido em Belém de Judá em dias do rei Herodes, eis que do Oriente vieram uns Magos a Jerusalém, perguntando: Onde está o recém-nascido Rei dos Judeus? Porque vimos a sua estrela no Oriente, e viemos adorá-Lo. Ouvindo isto, o rei Herodes turbou-se, e com ele toda a Jerusalém. E convocando todos os príncipe·s dos sacerdotes e os escribas do povo, indagava deles onde Cristo nasceria. E eles lhe disseram: Em Belém de Judá, porque assim está escrito pelo profeta: E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és a menor entre as principais cidades de Judá, porque de ti sairá o Guia que há de comandar o meu povo de Israel. Então Herodes, chamando secretamente os Magos, inquiriu cuidadosamente deles o tempo em que lhes

aparecera a estrela. E enviando-os a Belém, disse-lhes: Ide e perguntai diligentemente pelo Menino, e assim que O achardes,fazei-mo saber para que eu vá também e O adore. Tendo eles ouvido as palavras do rei, foram-se. E eis que a estrela que tinham visto no Oriente, ia diante deles até que, chegando, parou sobre o lugar em que estava o Menino. Vendo eles a estrela, exultaram com grandíssima alegria. E, entrando na casa, acharam o Menino com Maria, sua Mãe e, prostrando-se, O adoraram. E abertos os seus. tesouros, ofereceram-Lhe como presentes ouro, incenso e mirra. E, sendo avisados em sonho que não voltassem a Herodes, regressaram por outro caminho a seu país.

Comentários compilados por São Tomás de Aquino na "Catena Aurea" Santo Agostinho - Vieram perguntando: Onde está o recém-nascido Rei dos Judeus? Muitos eram os reis que haviam nascido e morrido em Israel. Seria porventura algum desses que os magos buscavam para prestar-lhe adoração? Não, certamente, porque de nenhum deles tinha falado o céu. Estes reis estrangeiros e de um país remoto não se julgavam, pois, obrigados a prestar tão grande homenagem a qualquer rei da mesma classe e condição elas que eles tinham em seus países; senão que eles tinham compreendido que tal deveria ser a condição d' Aquele que havia nascido que, adorando-O, não podia ocorrer-lhes dúvida alguma de assim obter a salvação, por se tratar elo próprio Deus. São João Crisóstomo - Viemos adorá-Lo. Não sabiam [aqueles reis], por acaso, que Herodes reinava em Jerusalém? Não sabiam que qualquer um que proclama ou adora um rei, vivendo outro, é castigado com a pena de morte? Mas era que, enquanto tinham sua vista fixa no Rei futuro, não temiam o rei

presente. E porque, mesmo quando ainda não tinham visto a Cristo, no entanto estavam dispostos a morrer por Ele. Ó bemaventurados Magos, que antes de conhecerdes a Cristo, foram Seus confessores na presença do rei mais cruel! (Cap. II, v .1-2) Theodoro - Em Belém de Judá. Se [Jesus] tivesse escolhido a grande cidade de Roma [para seu nascimento], ter-se-ia crido que a mudança verificada no mundo [por efeito do Cristianismo] resultara do poder dos habitantes dessa urbe. [E] se [Jesus] tivesse nascido filho de um imperador, atribuir-se-ia esse resultado ao seu poder. Que fez, então [Jesus]? Escolheu o mais humilde, o mais pobre e vil para que/i:ijio houvesse a menor dúvida de que era o poder divino que faria a transformação do Universo. Eis porque escolheu uma mãe pobre e urna pátria ainda mais pobre. E eis porque também Lhe falta até o mais necessário para viver. Isso é o que nos ensina o presépio.

Santíssimo 1'f9me de Jesus [O primeiro promotor desta festa] foi São Bernardino de Siena, no século XV, que estabeleceu e propagou o costume de representar o santo Nome de Jesus cercado de raios luminosos, reduzido às suas principais letras IHS [do latim medieval Ihesus], reunidas em monograma. Essa devoção difundiu-se rapidamente pela Itália e foi encorajada pelo ilustre São João de Capistrano, da Ordem dos Frades Menores, como o era tam bérn São Bernardino. A Sé Apostólica aprovou solenemente essa homenagem ao Nome do Salvador dos ho-

rnens. E, no princípio do século XVI, Clemente VII concedeu a toda a Ordem de São Francisco o privilégio de celebrar uma festa especial em honra do Nome de Jesus. Roma estendeu sucessivamente esse favor a diversas dioceses; mas haveria de chegar o momento em que o próprio Ciclo [litúrgico] universal seria enriquecido com ela. Foi em 1721 que, a pedido de Carlos VI, Imperador da Alemanha, o Papa Inocêncio XIII decretou que a festa do santíssimo Nome de Jesus fosse celebrada por toda a Igreja.

Considerações de São Luís Maria Grignion de Montfort Abaixo do céu nenhum outro nome foi dado aos homens, pelo qual devamos ser salvos. Deus não nos deu outro fundamento para nossa salvação, nossa perfeição e nossa glória senão Jesus Cristo. Todo edifício cuja base não se assentar sobre esta pedra firme, estará construído sobre areia movediça, e ruirá fatalmente mais cedo ou mais tarde. Todo fiel que não está unido a Ele como um galho ao tronco da videira, cairá e secará, e será por fim atirado ao fogo. Fora d'Ele tudo é ilusão, mentira, iniquidade, inutilidade, morte e danação .... Se estabelecermos a sólida devoção à Santíssima Virgem, teremos constribuído para estabelecer com mais perfeição a devoção a Jesus Cristo, e teremos proporcionado um meio fácil e seguro de O encontrar ....

Volto-me, aqui, um momento, para Vós, ó Jesus, a fim de queixar-me amorosamente à vossa divina majestade de que a maior parte dos cristãos, mesmo os mais instruídos, desconhecem a ligação imprescindível que existe entre Vós e vossa Mãe Santíssima. Vós, Senhor, estais sempre com Maria, e Maria sempre convosco; nem pode estar Ela sem Vós; doutro modo, Ela deixaria de ser o que é. E de tal maneira está Ela transformada em Vós pela graça, que já não vive,já não existe: sois Vós, meu Jesus, que viveis e reinais n'Ela, mais perfeitamente que em todos os anjos e bemaventurados. Ah! se conhecêssemos a glória e o amor que recebeis nesta admirável criatura, bem diferentes seriam os nossos sentimentos a respeito de Vós e d 'Ela. (*) São Luís Maria Gri9nion de Montfort, Tratado da

Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem, Vozes, Petrópolis, 1984, pp. 63 a 65.

A necessidade constante da oração [Se] de um lado vejo a absoluta necessidade da oração, tão altamente recomendada pelos livros santos e por todos os Santos Padres, vejo de outro que os cristãos pouco cuidam de empregar este grande meio da salvação. E, o que mais me aflige, é ver que os pregadores e confessores tão pouco recomendam a oração aos seus ouvintes e penitentes ... quando é certo que todos eles e todos os livros outra coisa não deveriam incutir, com mais empe-

nho e afinco do que a necessidade de orar .... iPedi e recebereis. Sem a oração (falando segundo a providência ordinária) serão inúteis todas as meditações que se fazem, todos os propósitos e todas as promessas. Se não rezarmos, seremos sempre infiéis a todas as luzes recebidas e a todas as nossas promessas. Santo Afonso Maria de Ligório, Oração, grande meio.de salvação, Vozes, Petrópo7is, 1956, 3 n edição.


História Sagrada em seu lar

COMENTE, COMENTE. ..

Dona Carolina e a ecologia

noções básicas Vergonha dos magos

TRÊS DIAS DE TREVAS oITO PRAGAS

haviam já caído sobre o Egito, mas o ímpio Faraó não permitia que os israelitas partissem. Deus, então, por meio de seu Profeta, castigou os egípcios com urna nona e terrível praga: as trevas. "E Moisés estendeu a sua mão para o céu, e houve trevas horríveis em toda a terra do Egito, durante três dias. Um não via o outro, nem se movia do lugar em que estava; porém em toda a parte onde habitavam os filhos de Israel havia luz"( 1l.

Fantasmas "Os maus,julgando poder dominar um povo santo, ligados [agora] com as prisões das trevas e de uma longa noite, encerrados em suas casas, jaziam excluídos da perpétua providência. E quando e les julgavam estar escondidos na escuridão de seus pecados, foram dispersos sob o véu tenebroso do esquecimento, horrendamente espavoridos, e com assombro excessivo perturbados; porquanto, baixando sobre eles um (horrível) estrondo, os perturbava, e viam aparecer espectros medonhos que os enchiam de pavor. · "Não havia fogo , por mais ardente que fosse, capaz de lhes dar luz, nem as brilhantes chamas das estrelas podiam iluminar aquela horrorosa noite. Mas só lhes aparecia um clarão repentino, que infundia temor; e, sobressaltados com o medo daqueles fantasmas que viam confusamente, julgavam ser mais formidáveis (do que eram) as coisas que viam.

"Então ficaram impotentes as charlatanices mágicas, e a vanglória da sua sabedoria caiu em vergonhoso descrédito. Porque os que prometiam banir os temores e as perturbações das almas desfalec idas, esses mesmos estavam ridiculamente lânguidos, cheios de terror. Porque, assustados com a passagem dos animais, e com os silvos das serpentes, morriam tremendo de medo. Porque, sendo medrosa a maldade, e la condena-se por seu próprio testemunho, pois uma consciência perturbada presume sempre coisas cruéis. "Aqueles, pois, que numa noite verdadeiramente irresistível, e saída do mais baixo e profundo dos infernos, dormiam um mesmo sono, umas vezes eram agitados pelo temor dos monstros, outras desmaiavam pelo desfalecimento cio seu. espírito, porque os sobressaltava um repentino e não esperado temor. Todos estavam ligados com uma mesma cadeia de trevas. "Ou fosse o vento quando assoprava, ou o suave canto dos pássaros entre os espessos ramos das árvores, ou a violência da água correndo com ímpeto, ou o grande ruído que faziam as pedras, quando se precipitavam, ou a carreira de animais que retouçavam juntos, sem eles os poderem ver, ou a forte voz das feras que bramiam, ou o eco que reboava na concavidade cios

montes, tudo os fazia desfalecer de terror. "Sobre eles pesava uma profunda noite, imagem das trevas que lhes estavam reservadas, e eles eram a si mesmos mais insuportáveis do que as próprias trevas.

Para os israelitas havia luz "Entretanto (Senhor) os teus santos tin ham uma luz grandíss ima, e (os egípcios) o uviam a sua voz, porém não viam o seu rosto. E, porque não tinham padecido as mesmas coisas, te g lorificavam''<2l.

Moisés enfrenta o Faraó "E o Faraó chamou Moisés e Aarão, e disse-lhes: Ide, oferecei sacrifícios ao Senhor; fiquem somente as vossas ovelhas e o vosso gado. Moisés disse: Irão conosco todos os nossos rebanhos; não ficará deles nem uma unha, porque são necessários para o culto do Senhor nosso Deus. "Mas o Faraó não os quis deixar ir. E disse a Moisés: Aparta-te ele mim, e livra-te de me tornares a ver a face; no dia em que me apareceres, morrerás. Moisés respondeu: Assim se fará como disseste; não verei mais a tua face"( 3l.

Notas 1. Ex. 1O, 22-23. 2. Sap. 17, 2 até 18,1. 3. Ex. 1O, 24-29.

N

uma quente tarde de janeiro, a livraria de Santa Edwiges pequena e operosa cidade do interior do Piauí - está ingurgitada de estudantes. Vêm eles à procura de material escolar, pois dentro em breve as aulas recomeçarão. Fernando e Bonifácio, alunos da 8ª série do Colégio Santa Edwiges, conversam animadamente. Fernando está com a palavra. - Dona Carolina disse que nos lecionaria História Natural, mas o livro indicado pelo Colégio leva esse título estranho: Ecologia: Aprenda a pr&servar a natureza; teria havido algum engano? ... - Não, não houve engano responde pressurosamente Bonifácio - tenho em mãos a lista dos livros indicados pela direção do colégio, e é exatamente este. - Já ouvi falar nessa tal ecologia mas ... - O que sei - atalha Bonifácio - é que ela nos ensina a respeitar a vida dos animais e das plantas quase como se fossem seres humanos. Outro dia, dispus-me adestruir um formigueiro que se formou lá no jardim de casa, e o Eusébiofilho daquela psicóloga vizinha nossa - acorreu espumando de raiva: "Não faça isso - vociferava - você está cometendo um crime contra a natureza! Está rompendo o equilíbrio ecológico!" - Mas isso é uma demência! exclama Fernando estupefato.

º

***

Em meío às trevas, os egípcios "eram agitados pelo temor dos monstros"

também se matriculou no Colégio, e até então passara despercebido, interrompeu agora com evidentes sinais de impaciência. - Professora, minha mãe disse que a natureza toda é um ser vivo e que !em seus direitos ... - E o direito das formigas que ele está defendendo, exclama Bonifácio ironicamente, provocando nova hilaridade na sala. - Calma minha gente - pede Dona Carolina. E o barulho vai di-

As aulas têm início no Colégio Santa Edwiges. Com sua habitual inteligência e clareza de expressão, a professora Carolina vai explicando as razões pelas quais devemos nos interessar pelo conhecimento da História Natural, na qual se podem encontrar, a todo momento, sinais da infinita sabedoria de Deus criador. Bonifácio não se contém: - Professora: matando formigas estou violando a ordem da natureza? Risos generalizados, o burburinho domina a sala. Eusébio, o filho da psicóloga que CATOLICISMO, JANEIRO 1992

minuindo e dando lugar a silenciosa e atenta expectativa. Prossegue ela: - Os problemas que vocês levantam, com tanto calor, explicamse com facilidade se recorrermos às noções fundamentais do Catecismo. Deus criou o Universo e pôs nele um equilíbrio maravilhoso, por onde os seres vivos se servem uns aos outros, para sobreviverem: certos animais se alimentam de plantas e, por sua vez, ~ervem de alimento a outros animais; aves há que devoram insetos, e assim por diante. Há nisso tudo uma admirável obra da Providência divina, que criou os animais dotados de instintos de maneira tal que cada um sabe o que lhe convém para sobreviver. Os alunos ouviam atentamente. A professora continua: - De outro lado, todo o universo

não-racional foi criado para o homem. Deus deu a nossos primeiros pais o preceito: "Crescei e multiplicai-vos, e enchei a terra e sujeitai-a. Dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra" (Gn. 1,28). Assim, pois, mais do que pelo instinto cego dos animais, o equilíbrio universal, desejado pela Providência, requer a ação inteligente do homem dominando a terra, fazendo-a frutificar e civilizando-a. É por esta razão que o homem destrói os animais daninhos, desbrava as florestas, seca os pântanos, produz riquezas das quais toda a humanidade se beneficia. E se ele faz isso reta e sabiamente, contribui, com sua ação ordenativa, para o verdadeiro equilíbrio universal desejado por Deus. - Puxa, professora - desabafa Bonifácio - as coisas vistas assim ordenam também as nossas cabeças ... mas, nada disso se encontra no livro que nos foi indicado pelo Colégio ... Este parece feito por ateus e para ateus, pois a idéia da Criação e de Providência Divina em nada aparece. Neste momento, soa a campainha anunciando o fim da aula. Eusébio e alguns amigos que, mal-humorados, ouviram a explicação de Dona Carolina, manifestam pressa em sair, enquanto Fernando procura prolongar por mais alguns instantes a aula, acrescentando: - Dona Carolina, movido de curiosidade, corri os olhos pelo nosso livro, e encontrei muitas outras coisas estranhas, que precisariam de explicação... . - Não se aflija meu caro-conclui a professora. Na próxima aula continuaremos a tratar do tema.

*** O leitor de Catolicismo que desejar acompanhar o curso de Dona Carolina, poderá fazê-lo através das próximas edições da seção "Comente, comente ... ". Aguarde pois a próxima aula! Enquanto isso, a respeito do assunto aqui tratado, Comente, comente ... 17


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sua campanha ..SOS - Segurança" contra os~1:ai, homicídios, estuproo etc. É espanl:aia a impunidade do cáme no Brasil: apenas 7 em cada 100 homicídia, são punida,! A cal.153. principal do crime, esclaréce a 1FP, não é a miséria: a maioria da. criminoro, são profis.sionais!

Reforma do Código Civil

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Presidente do Conselho Nacional da 1FP: .. O projeto das cinco deputadas do PT é peifeitamente comunista, pois se os cônjuges não têm mais o dever de recíproca fidelidade, o casamento em nada se diferencia do concubinato. E.fica extinta, ipso facto, a instituição dafamaia, na única acepção legítima que lhe é dada na doutrina da Santa Igreja Católica. Assim, a mencionada proposta "legislativa não pode deixar de despertar indignação e inconformidade nas.fileiras católicas de todo o País. E inclusive entre os católicos eventualmente inscritos no PT".

Face à ati//i.1situação da Igreja e élo mundo foi llllcta campanha de orações ..nas 24 horas do dia"' junto aos correspo i:lentes da TFP brasileira. A adesão foi entusiástica e todos os horários foram preenchidos. De maneira que, a cada minuto do dia ou da noite ao menos um filho deNa.saSenhora seencontradiantedeDeuspedindoeclamando: .. Venha a n6s o Vosso Reino"!

Agência Boa Imprensa

Presépio animado

A propósito da emenda As publicações quinzeque cinco deputadas fe- · nais da ABIM (Agência derais do PT apresentaBoa Imprensa)mudam ram ao projeto de reforde formato e apresentama do Código Civil, ção. A Agência Boa Imeliminando a fidelidade prensa é um órgão da conjugal como dever dos cônjuges, de- Editora Pe. Belchior de Pontes, a mesma clara o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, que publica Catolicismo.

Crise do comunismo internacional O prestigioso jornal ..Il Tempo", de Roma, afirma, ao comentar a conferência de Guadalajara, no México: .. Tem-se realizado pontualmente, as previsões do professor Plinio Corrêa de Oliveira, presidente do movimento conservador internacional 'Tradição, Família, Propriedade' (TFP): em uma carta de protesto

As caravanas daTFP Encontram-se em São Paulo, para a realização do tradicional simpósio de fim de ano, as quatro caravanas permanentes da TFP. Como se sabe, elas percorrem há já 21 anos, em todos os sentidos, o território nacional, em uma campanha ininterrupta pelos ideais da tradição, da familia e da propriedade. Em 1991 seus estandartes foram alteados nas seguintes cidades: AMAPÁ

BAHIA

Macapá Santana

Amélia Rodrigues Juazeiro

18

CEARA

MARANHÃO

Acarapé Acoplara Aracolaba Baturité Caplstrano Caucala Fortaleza Marangado Pacatuba Qulxada DISTRITO FEDERAL

Imperatriz

Brazilândla Ceilandla Taguatlnga ESPÍRITO SANTO Vila Velha Vitória

GOIÁS Nerópolis Plrenópolis Sta. Teresa de Goiás

Uberlândla M. GROSSO DO SUL

Na sede de Nossa Senhora da Saúde, da TFP, na Vila Mariana, dedicada à formação de jovens, acaba de ser inaugurado um Presépio original. Com jogo de luzes e som, é narrada a história do Santo Natal.

contra o convite feito a Castro e enviada ao presidente mexicano Salinas de Gortari, ele tinha denunciado a 'dissonância estridente representada pela presença do sanguinário ditador caraibano, último campeão do comunismo' a uma manifestação (reunião de cúpula IberoAmericana) que celebrava a tradição cristã e a realidade democrática do mundo IberoAmericano ".

MINAS GERAIS

Amambal Angélica Antonio João Aparec. do Taboado Aquldauana Aral Moreira Bandeirantes Batalporã Bela Vista Bodoquena Bonito Camapuã Campo Grande Caracol Cassilândla Coronel Sapucala Corumbá Costa Rica Deodápolis

Campanha de o ações

Como se sabe, a Irmã Lúcia, a última vidente de Fátima, é carmelita no convento de Coimbra em Portugal. Na nossa foto, vê-mo-la olhando a capa da edição russa de ..Fátima, mensagem de tragédia ou de esperança", de autoria do sócio da TFP brasileira, Dr. Antônio Augusto Borelli Machado. Um participante da campanha ..Lumieres sur l'Est", levada a cabo pela 1FP francesa, mostrou-lhe o exemplar quando das eleições portuguesas em outubro de 1991. Muito feliz com adi fusão desta importante mensagem no ex-império soviético, ela desejou a continuação da mesma difusão. Pediu que um exemplar em russo lhe seja enviado e prometeu rezar por este ousado projeto.

• Dourados Eldorado Fátima do Sul Glória de Dourados lguateml ltaqulral lvlnhema Jardim Jatel Juti Ladário Miranda Mundo Novo Navlrai Nova Andradina Paralso Paranaíba Paranhos Ponta Porã Porto Murtlnho Sanga Pulta São Gabriel do Oeste Sete Quedas Tacuru Taquarussu Vila Marques

A II TOUIIO ,\.

6opl).. 11 11

Irmã Lúcia toma conhecimento da difusão da Mensagem de Fátima na Rússia

"Falando com franqueza" ... sobre a TFP

D

ias atrás, numa bela manhã, transpus os portões de uma das sedes da TFP, onde funciona seu quase legendário Serviço de Documentação. Na ampla e arejada sala de consultas, com alto pé direito, encontro sobre uma mesa dezenas de repercussões da imprensa escrita e falada sobre a entidade. Qual delas preferir para informar nossos leitores? A escolha é difícil. Não só pelo volume quanto pela qualidade. Folheio atentamente o material. Uma publicação chama-me inicialmente a atenção. Sua procedência? Varsóvia (Polônia). Seu nome? ..Prosto z Mostu", que em português podemos traduzir: ..Falando com franqueza". Vejamos a seguir o que se

MATO GROSSO

Tangará da Serra Várzea Grande

Ma Floresta Alto Paraguai Arenápolis Bana do Bugres Campo Verde Collder Culabá Denise Diamantino Gulratlnga Hortelândla Jangada Lucas do Rio Verde Nobres Nova Canaã do Norte NovaMutum NovaOlimpla Poxoreo Rondon~olis Rosário este Slnop Sonora Sorriso Tanauba

PARÁ Belém Castanhal Dom Eliseu Igarapé Mlri Jacunda Mãe do Rio Paragomlnas Santa Maria do Pará São Miguel do Guama

PARANÁ Agudos do Sul Almirante Tamandaré Antonina Antonio Olinto Arapongas Arapoll Araucária E)alsa Nova Blturuna Galeara Cafelândia

Campina Gde. do Sul Campo Bonito Campo do Tenente Campo Largo Canta Galo Cartópolls Cascavel Castro Catanduvas Céu Azul Cianorte Cidade Gaúcha Colombo Contenda Cornélia Coronel Vivida Cruz Machado Curttlba Doradlna Doutor Camargo Floral Florestópolls Foz do Iguaçu General Carneiro Guamlrim Guaranlaçu

noticia a respeito da TFP, naquele país do Leste europeu, até ontem dominado pelo despótico e ateu regime comunista. .. Direita - Tradição, Famaia, Propriedade", é o título do artigo que ocupa toda a página três . O que é na realidade a TFP? ..Falando com Franqueza", depois de alguns tropeços atribuíveis às fontes comunistas nas quais se baseou parcialmente, assim a descreve: ..Como ir![ormam as suas publicações, as Sociedades TFP 'constituemwnas6famt1ia, inspirada espiritualmente no ideal mútuo de reconstrnção da Civiliz.ação Cristã. .... Todas elas são associações civis, e como tais agem na esfera temporal. O seu trabalho entretanto busca sua inspiração na doutriGuarapuava Guaraquecaba Guaratuba lcaralma lmbituva Inácio Martins 1nd lanópolis lplranga lrall ltaguaje ltauna do Sul lvalporã lvaté Jacarezlnho Jaguarialva Japurá Jatalzlnho Laranjeiras do Sul Londrina Mallet Marienthal Mariluz Maringá Matelândia Matinhos Medianeira

Moreira Sales N. América da Colina Nova Aurora Nova Fátima Nova Olímpia Palmeira Paraíso do Norte Paranaguã Paranapoema P.lll la Freitas Paulo Frontin Pinhais Pinhão Pirai do Sul Plraquara Pitanga Ponta Grossa Porecatu Porto Amazonas Porto Vitória Prudentópolis Quatro Barras Qultandinha Rebouças Rio Azul Rio Branco do Sul

na tradicional da Igreja Católica·. Perfeitamente correto! Mais adiante, diz a publicação, outra vez com inteira objetividade: "A al,na e motor da TFP é, sem dúvida, o supra-citado Plinio Corrêa de Oliveira". Ao mencionar seus dados biográficos, não omite de pôr em realce sua qualidade de colaborador de Catolicismo.

Rondon Sabaudla Santa Mariana Santa Tereza Sta. Terezlnha do ltalpu Sto. Antonio da Platina São Carlos do lval Santo Antonio do Caiuá São João do Caiuá São João do Triunfo São Jorge do lval São José dos Pinhais São Mateus do Sul S, Sebastião da Amoreira São Tomé Terra Rica TIJucas do Sul Umuarama União da Vitória Vera Cruz Doeste Xambre

RORAIMA Caarapó

RIO DE JANEIRO Campos Volta Redonda RIO GRANDE DO SUL Agudos Arroio do Melo Arroio do Sal Arroio dos Ratos Arroio Grande Augusto Pestana Bagé Bana do Ribeiro Bento Gonçalves Bulia Caçapava do Sul Cachoeira do Sul

19


+v /~

Filipinas

Os ideais católico.5 que, • pormandamento dopró_prio ~ ~ Nosso Senhor, devenam ~j:)~ ser levados a todos os povos da"----~ Terra (Mt. 28, 19), uma vez chegados ao Extremo Oriente pela boca de tantos bons obreiros de Deus - entre os quais salienta-se o grande São Francisco Xavier - deu fruto em vários rincões daquela área do globo, regado, muitas vezes, pelo sangue generoso de muitos mártires. Mas com o furor da conspiração anti-cristj. que assola a Santa Igreja de Deus, por toda parte desde o século XVI, pouco a pouco viu-se a Cristiandade reduzida ao estado cm que hoje se encontra. É eloqüente, nesse sentido, o discurso de Paulo VI ao Seminário Lombardo, declarando que a "fumaça de Satanás havia penetrado até no lugar sagrado". Mas, quando tudo parecia esvair-se, eis que a Providência começa a suscitar daqui e dali, gente disposta a resistir à avalanche revolucionária que já alagou o mundo. Do seio da mocidade, organiza-

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ções e associações vão medrando por várias par• tcs do mundo, constituin·<'?)· do considerável rede de enN '\. tidades irmãs, na defesa e na manutenção dos valores perenes da civilização nascida do Evangelho. Hoje, queremos registrar, com alegria, a ereção de mais uma delas: a Associação J uvcnil São Tomás de Aquino por uma Civilização Cristã (STAYACC), nas longínquas Filipinas. As.5im, tambénnas Filipinas católicas, obra da Espanha missionária e civilizadora, acabam de brotar novos frutos para a vida do que foi, até algum tempo atrás, a Civilização Cristã. A instalação oficial da STAYACC teve lugar na festa de São Miguel Arcanjo (29 de setembro). Em sessão solene, à qual compareceu seleto número de pessoas da sociedade local e sobretudo de estudantes universitários, sob juramento de praxe naquele país, tomou posse a diretoria e seu Conselho Administrativo. O juiz Alfredo B. Perez Jr., fez a leitura do juramento e termo de posse. O magistrado surpreendeu o auditório quando, ao encerrar a ceremônia, discursan____ ;::;;.;;,.:-• do sobre o alto significado do evento, discorreu com bastante conhecimento, sobre a vida e obra do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Catolicismo saúda oo jovens filipinoo, e deseja colaborar no que for possível, para a consecução doo objetivos que são igualmente deles e nossos .

Cachoelrinha Calbate Camaquã Cambara do Sul Candelária Canela Capão da Canoa Carazlnho Carlos Barbosa Casca Catulpe Caxias do Sul Charqueadas Chuí Condor Cruz Aha Cruzeiro do Sul

20

Dom Pedrtto Dona Francisca Eldorado do Sul Encantado Entre ljuls Erechim Estância Velha Estréia Farroupilha Faxinai do Soturno Fontoura Xavier Frederico Westphalem Garibaldl Giruá Gramado Gravata! Guaiba Igrejinha ljuí ltaqul Jaguarao Jaguari Julio de Castilhos Lajeado Lavras do Sul Marau

M lnas do Leão Montenegro Mucum Novo Hamburgo Osório Panambl Parobe Passo Fundo Pedro Osorio Pelotas Rio Pardo Roca Sales Rosário do Sul Santa Bárbara do Sul Santa Cruz do Sul Santa Maria Santa Rosa Santa Wórla do Palmar Santana do Livramento Santiago Sto. Antonio da Patrulha Sto. Antonio das Missões São Borja São Francisco de Paula São Gabriel São Jerón imo

São Leopoldo São Lourenço do Sul São Luiz Gonzaga São Miguel das Missões São Pedro do Sul São Sebastião do Cal São Sepé São Vicente do Sul Sobradinho Soledade Tapes Taquara Terra de Areia Torres Tramandal Três Cachoeiras Três Coroas Três de Maio T upanciretá Uruguaiana Venâncio Aires Vera Cruz Viamão

SANTA CATARINA Agronômica

O público que enche o salão do Parque Hotel ouve com vivo Interesse a exposição sobre guerra psicológica. Em seguida, animadas rodas se formam para comentar o tema.

Uruguai

Conferências sobre guerra psicológica

N

o dia 28 de novembro passado, o amplo salão do prestigioso Parque Hotel de Montevidéu, enchese de numeroso e seleto público, para assistir à uma sessão solene promovida pela TFP uruguaia. O convidado de honra é o Cel. Carlos Antonio Espírito Hofmeister Poli <RR). colaborador de Catolicismo e especialista em guerra psicológica revolucionária. Sua conferência versava exatamente sobre esse tema, considerado à luz da doutrina católica. O Cel. Poli baseou sua dissertação nos ensinamentos do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, insigne pensador católico que, já em 1976, previra a queda da URSS. O convidado da TFP uruguaia proferiu ainda conferências em diversos outros ambientes, sempre acompanhadas com vivo interesse, inclusive da parte do público jovem.

Cel. Carlos A. Espírito Hofmelster Poli (RR) Águas Mornas Araranguá Armazém Barra Velha Blumenau Bom Jardim da Serra Braço do Norie Brusque Canelinha Canoinhas Caplnzal Catanduva Chapero Cocal Conrordia Coronel Freitas Corupa Criciuma Cunha Porã Dionísio Cerqueira Florianópolis Forquilinha Fralburgo Garuva Gaspar Grão Pará

Gravatál Guaraclaba Guaramlrim lmbltuba lpumirim lranl lrineópolls ltaiópolis ltajaí Jacinto Machado Jaguaruna Jaraguá do Sul Lacerdópolis Laurentino Luzerna Mafra Major Vieira Maracajá Maravilha Massaranduba Meleiro Monte Castelo Morro da Fumaça Nova Trento Nova Veneza Orleans

Otacillo Costa Palhoça Palmttos Papan\luva Ponte Aha do Norte Ponte Serrada Porto União Pouso Redondo Praia Grande Quilombo Rio D'oeste Rio do Campo Rio do Sul Rio Negrinho Salete SantaCecllia Santa Rosa do Sul Sto. Amaro da Imperatriz São Bento do Sul São Joao Batista São João do Sul São Joaquim São José São José do Cedro São Lourenço do Oesle São Ludgero

São Miguel do Oeste Schroeder Slderópolls Sombrio Talo Tlmbe Do Sul Três Barras Trombudo Central Tubarão Turvo Urussanga Vargeão Xanxere Xaxlm

SÃO PAULO Agulha Angatuba Anhumas Aparecida do Bonito Aramlna Araraquara Araras

Assis Attbala Avare

Botelho Bragança Paulista Cacapava Cam1>lnas Candido Mota Caraguatatuba Catigua Chavantes Corumbatal Cosmorama Diadema Dolcinópolis Dourado Ecatu Engenheiro Balduino Fartura Femandópolls Guaratingueta Guare! lbate Ilha Soheira lndaiatuba ltal ltapura ltu Jacarel

Jaci Jacupiranga Jales Limeira Lorena Mairipora Meridiano Miracatu M irandópolis Ne~ s Paulista Piraju . Presidente Venceslau Pindamonhangaba Registro Roberto Rublnela Ruilandia Saho Santa Alberiina Santa Clara D'oesle Santa Fe do Sul Santa Rita D'oeste Santa Salete Santana da Ponte Pensa Santo André São Bernardo do Campo

São Caetano do Sul São Carlos São José do Rio Preto São José dos Campos São Lourenço da Serra São Paulo Sarutaia Taciba Tagual Tanabl Taquarttuba Tatul Taubate Teodoro Sampaio Três Fronteiras Ubatuba Urania Valentim Gentil Vitoria Brasil

TOCANTINS Aragualna Divinópolis Marianópolis Monte Santo

21


O BRASIL REAL, BRASIL BRASILEIRO

_C_H_IL_E_ _ _ ., , Meninas com belos vestidos e véus brancos e meninos com traje azul e o tradicional laço branco no braço esquerdo, enchem a Basílica do Santíssimo Sacramento, no centro da capital chilena. É mais uma primeira comunhão solene para crianças da periferia de Santiago. Há já vários anos, cooperadores e correspondentes da 1FP chilena promovem, nesses bairros, aulas de catecismo visando a preparação de meninas e meninos para a primeira comunhão. Esta mais recente primeira comunhão solene, para quase 1.500 crianças, realizou-se, no mês de novembro e dela aqui publicamos fotos que ilustram aspectos diversos das cerimônias na nave central e na cripta da mencionada Basílica.

"Cordialidade brasileira", por que não?

E

PERU Um toque de trompete, estandartes ao vento, manifestação de Fé e coragem ... inicia-se uma nova campanha do Núcleo Peruano Tradição, Família e Propriedade que marca o começo da terceira caravana realizada no ano de 1991. Nada menos do que 89 dias de atuação pública para diflllldir, em 44 cidades, 10.000 exemplares do livro ""Nossa Senhora de Fátima: Profecias para a América e o mundo. Tragédia ou esperançar, de autoria do sócio da 1FP brasileira Dr. Antônio Augusto Borelli Machado. Os slogans, o soar dos trompetes, o desfraldar dos estandartes e capas chamavam a atenção, atraindo um público simpático aos ideais da 1FP.

Os jovens perua-

nos de Tradição, Família e Propriedade aproveitaram também a ocasião para proferir conferências e projcctar audio-visuais para esludantes. Em Lodas as partes repetiam-se as manifestações de adesão. Ora um sacerdote em plena rua desejava: ""Que Deus os proteja"', ora um humilde pescador bradava: ""Por fim, católicos nas nuis". Apesar do apoio da opinião pública os riscos não estiveram ausentes. Enquanlo os slogans sobre a Mensagem de Fátima ecoavam na cidade de Ocofia, a poucos quilômetros o grupo terrorista Sendero Luminoso atacava, com sua habiLual ferocidade, um outro povoado. Em diversas cidades pessoas recordavam com admiração anle-

riores campanhas da TFP e reconheciam a eficácia das mesmas, como, por exemplo, um médico que afirmou: ""Na ciclade de Arequipa assinei para pedir a independência da Lituânia. Parecia impossível, mas foi obtidar Altamente significativas foi a opinião de um transeunte que assistia o desenrolar da campanha: ""Há anos que os conheço. Admiro-os porque foram os primeiros a sair ds ruas. Vocês são a resposta do catolicismo ao avanço das seitas"; e de um sacerdote: ""Isto é algo que existe no mundo inteiro; vocês são os católicos do ano 2000".

sfreguei os olhos. Tomei a ler devagar. Não, é isso mesmo. O Sr. Marco Aurélio Garcia, em artigo para "O &tado de S.Paulo" (24-8-91), abre fogo contra a cordialidade brasileira. O que pretende es.se professor do Departamento de História da Unicamp? Que "a 'cordialidade' .... é o componente-chave do conformismo e da servidão voluntária que mantêm quase inalteradas as múltiplas estruturas de poder", em nos.so País. Acrescenta sem rebuços que "cordialidade e conciliação expressam convicções autoritárias, frutos de uma visão organicista da sociedade". Agora, é o leitor que está esfregando os olhos. Como se pode ser contra a gentileza e o bom gênio? Essa posição tão singular tem, entretanto, uma explicação. Mais do que contra a cordialidade, o autor parece ser contra a desigualdade. Contra "as enormes diferenças sociais, étnicas, políticas e culturais que marcaram e marcam nossa história" (palavras suas). Para ele, isto é um mal. Para eli mi nar este mal, as esquerdas desejariam pôr fogo em nos.so País, jogando os pobres contra os ricos, os negros contra os brancos, os índios contra os "cara-pálidas" etc. Acontece que alenha para esse fogo tem se revelado, em boa parte, incombustível. O País não se incendeia. Por quê? Por causa de uma forma especial de bom senso br-asilciro, que é a cordialidade. Então, maldita seja ela, dizem os da esquerda. O brasileiro percebe que a desigualdade - não o seu abuso, é claro -é algo de natuml e desejado por Deus. Por isso, a luta de classes não pega. E o articulista, impaciente, toma o partido de trucidar o espírito gentil do nosso povo. Várias coisas não vão bem em nosso País. &tamos pas.sando, no dizer de James Brooke, de locomotiva da América Latina, para seu último vagão. C:AmT.Tf:ISMO .TANRmn Hl!H

Tiraram-nos boa parte da segurança, invadem nossos lares com as cenas doidamente imorais da TV, querem soltar os loucos pelas ruas. Agora, querem subtr-ai r do Brasil a Amazônia. É claro que absolutamente não devemos permitir. Cordialidade não é fraqueza. O Brasil, embora contundido por todas essas agressões, tem estrutura para não entrar cm pânico, se o desejar. A Providência nos deu muito com que nos estimular. Além de nosso enorme território e de todas as grandezas que encerra, sabemos que somos um povo inteligente e intuitivo, flexível e jeitoso, bondoso e afávcl. Nosso País já foi mais cordial do que o é hoje. Mas o que resta ainda é um bom quinhão e representa uma riqueza incomparavelmente maior do que um grande PIB ou indicadores econômicos em alta. É passaporte para um futuro com perspectivas grandiosas, ilimitadas. Não percamos, pois a ... cordialidade diante da tentativa de certa" indústria cultural" hodierna (a expressão é da revista "Veja") a qual gostaria que nos envergonhássemos até de nossa cortesia. Por mais que se possa abusar da cordialidade, como da desigualdade, como da generosidade e de todas as virtudes, não encontro modo, também, de concordar com a citação que o citado professor da Unicamp faz da tcón"t:a socialista Hannah Arcndt Para ela, "a cordialidade... é substituto da luz para os párias". A mesma autora diz: "A cordialidade dos povos párias não pode legitimamente se estender àqueles cuja posição diferente no mundo lhes impõe umà responsabilidade pelo mundo e não lhes permite compartilhar da alegre despreocupação dos párias''.

A "cordialidade brasileira" não entrou por pouca coisa na portentosa obra diplomática do Barão de Rio-Branco

Sem falar da justificação velada da violência, que o texto traz, historicamente isto é falso. Cordialidade, responsabilidade e civilização são coisas que vão muito bem juntas. Uma pede as outras. Basta pensar nos franceses - de todas as condições sociais - do Antigo Regime, à testa do mundo e célebres pela "douccur de vivrc" com que perfumaram sua época. Ou na Áustria de Maria Teresa. Que dizer dos portugueses, cuja amenidade no trato os fez e faz famosos em todo o mundo? Fica na cabeça de quem lê o Sr. Marco Aurélio Garcia a desagradável impressão de que para ele constituímos um "povo pária". E precisamente por termos esta marca de civilização, que é a cordialidade. Prezado profes.sor: A amenidade brasi lcira de si é uma virtude, não um defeito. Ela procede em linha reta da caridade cristã. A vida está um tanto dura, mas muito pior seria sem na,so bom gênio, conhecido e apreciado até no Exterior. &tamos no Brasil! E só este fato, já soluciona muitas coisas ...

J. J. ALEN CAR


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Geral da Ordem Dominicana, São Raimundo de Peíiafort esteve na origem dafundação da Ordem dos Mercedários, para resgate dos católicos tiranizados pelos infiéis muçulmanos, no século XIII

P

oucas coisas se afiguram como um sonho para quem está em . terra firme, quanto uma ilha perdida no mar, em um lago ou no Oceano. No mar Mcditerr.'.ineo, um arquipélago que pertence à Espanha atrai especialmente a atenção de quem singra aquelas águas: as ilhas Baleares. No século XIII, sua ilha principal, a de Malhorca, foi definitivamente conquistada para a Coroa de Aragão pelo Rei Tiago L Deu-se ali então um fato milagroso, registrado com letras de ouro nos anais da hagiografia católica. Numa de suas incursões para a conquista da ilha, Tiago I fez-se acompanhar de seu preceptor, um religioso dominicano chamado Raimundo. Entretanto, o monarca, por leviandade de espírito, incluiu sorrateiramente entre os viajantes uma cortesã com a qual mantinha relacionamento ilícito. Raimundo, sabendo disto, zelando pela observância dos Mandamentos da Lei de Deus, exigiu do Rei de Aragão que devolvesse ao continente aquela mulher, ameaçando retomar ele próprio para Barcelona se assim não fosse feito. O monarca resiste e ordena aos marujos, ameaçando-os de morte, de impedirem o embarque do religioso. Raimundo, que não podia tolerar aquele pccado, .não hesita um instante. Na calada da noite, acompanhado de um irmão de hábito, dirige-se à extremidade de um promontório, onde se opera um prodígio. CATOLICISMO, JANEIRO 1991

Servindo-se de longo manto e de seu bordão, ele improvisa uma embarcação. Metade do manto ele a estende sobre as águas e a outra metade a prende a seu cajado, à guisa de vela. Faz um sinal da cruz sobre o mar e aguarda um vento favorável. Quando este chega, faz ele novo sinal da cruz, convidando o outro religioso a seguir com ele. Este, contudo, sentindo sua fé vacilar, prefere ficar em terra firme. Naquela embarcação, Raimundo passa cliante dos marujos boquiabertos. E seis horas mais tarde, após percorrer 160 milhas marítimas (uma clistância, mais ou menos, como a do Rio de Janeiro a Teresina ... ), chega ao convento de sua Ordem, cm Barcelona. Deus Nosso Senhor quis, por essa forma, premiar o zelo de seu fiel servidor. Esse foi um dos insignes milagres operados por São Raimundo de Pcnafort, cuja festa a liturgia celebra a 23 de janeiro.

Escritos do Santo - São Raimundo de Pcnafort (1180-1275) em seu século foi uma das glórias da Ordem fundada por São Domingos de Gusmão, da qual foi o terceiro Geral. Dentre os assinalados serviços que prestou à Igreja, cabe destacar a honra de estar ele na origem da primeira elaboração de um Código de Direito Canônico - as Decretais - que redigiu a pedido do Papa Gregório IX. Uma de suas obras mais famosas é

a Suma dos Casos de Consciência onde apresenta um compêndio das máximas da moral católica que servem para determinar os deveres do confessor em relação a seus pcni tentes. E mereceu da Santa Igreja o título de ilustre Ministro do Sacramento da Penitência.

A Ordem das Mercês - Outro título de glória, não menos insigne do que seus méritos como canonista e moralista, consiste no papel decisivo que desempenhou na fundação de uma importante Ordem religiosa. 25


AfOJUCliªS~ Nasce, assim, a Ordem de Nossa Senhora das Mcrcês para o Resgate dos Cativos - ou dos Mcrccdários aprovada, a pedido de São Raimundo, pelo Papa Gregório IX, e que teve sua regra redigida pelo próprio Santo. São Raimundo indica ainda para primeiro Geral da novel Ordem, seu discípulo, São Pedro Nolasco. Bons tempos aqueles cm que os santos eram numerosos, e cm que até reis seguiam muitos dos conselhos desses santos.

Aparição do Apóstolo São Pedro a São Pedro Nolasco (Zurbaran)

Tal qual em nossos dias, os muçul- Romano", 28-7-91). Um teólogo muçulmano contemmanos representavam no século XIII porâneo chegou a declarar: "quando uma grande ameaça. O leitor, talvez, poderá ter estra- duas religiões se enfrentam, não é nhado a expressão "em nossos dias" para trocar cumprimellfos, mas para e, nesse caso, se terá perguntado: mas se combater. Jamais vós ouvireis dizer que respeitamos a religicio católiem que consistirá tal ameaça? Saiba, leitor, que "cm nossos dias" o ca. Nós jamais renunciaremos a exsangue de mártires católicos corre co- pandir o Islã" (Bruno Eticnne, O piosamente derramado por mãos isla- islamismo radical, apud "Lc Point", mitas. Um certo ecumenismo mal-en- Paris, 27-5-91). Também esses eram os sentimentendido procura ocultar essa realidade. No Marrocos, por exemplo, o ára- tos dos muçulmanos à época de São be que se converte à Igreja Católica é Raimundo. À vista disso, por revelação divina, condenado à morte. Na Argélia, os sacerdotes são assassinados, as igre- resolveu ele atuar junto ao Rei Tiago jas servem de currais para gado e os I, de Aragão, para a fundação de uma cemitérios cristãos são sistematica- nova Ordem religiosa destinada ao mente violados. (cfr. "Vida Nucva", resgate dos católicos que estivessem . cativos cm mãos dos infiéis maomeMadri, 20-1-90). Na Arábia Saudita, a Religião ca- tanos. tólica é proibida, e quem se converte é executado com cimitarra. (cfr. Bebidas nacionais e estrangeiras "Iglesia Mundo", Madri, março/90). Queijos e doces tipo europeu -·Na Somália, o Bispo católico da capiAr e n k e s e salmons ~ tal foi assassinado no ano passado, o prédio da Cúria e a Catedral foram incendiados. Um crucifixo ali exisMERCEARIA tente foi desfeito a tiros de metralhaRua l tamb é, 506 - Higi e nóp o l is - São Paulo dora. As imagens, o altar, o púlpito Fone : 257-867 1 reduzidos a cinzas (cfr. "Osscrvatorc

CASA ZILANNA

26

Conversão dos Infiéis - Raimundo em seu zelo abrasado vai além. Ainda por revelação divina sabe ser vontade de Deus que os dominicanos se dediquem à conversão de judeus e maometanos na Espanha e na África. Assim, ele introduz cursos de hebreu e árabe para os seus religiosos, cm Túnis (Africa) e em Múrcia (Espanha). E já no ano de 1256 escrevia ele a seu Geral dando notícias de que dez mil sarracenos haviam recebido o Batismo. Contudo, os sábios muçulmanos não queriam se render à evidência da verdade do Cristianismo. Raimundo pede ao grande São Tomás de Aquino, seu irmão de hábito, que lhes refute os erros. O Doutor Angélico csc rcve então a sua famosa Suma Contra os Gentios, que esteve na raiz da conversão de muitos infiéis.

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NUMEROS EM PAINEL

5O1/o

de acréscimo no número de negócios, foi o primeiro resultado da nova lei do inquilinato O

de toneladas de aço o Brasil produziu no prin:ieiro s~mestre 1 1 de 1991 , ou seJa, mars da metade da produção total da América Latina

1O959 600

5000 000 000 ·

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de dólares é o déficit pre~isto das estatais para este ano dedolareséoque

1 1 1 fi~~~a~~:cMunicipal de Transportes Coletivos),da Prefeitura de São Paulo

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é a taxa de mortalidade no País de hoje: n início do século era

25 o

P~lr--JEL

*** São Raimundo de Peõafort entregou sua ai ma a Deus na festa de Reis do ano de 1275, assistido, cm seus últimos momentos, pelos Reis de Castela e Aragão, os quais, acompanhados de seus cortesãos, estavam junto de seu lei to, radiantes de contentamento por receber a última bênção do grande dominicano. LUJS CARLOS AZEVEDO

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· , Almoço e jantar

Massas-Pizzas-Can1cs-Grelhados 39 anos servindo São Paulo Estacionamento próprio

Largo do Arouchc, 41 - Tcl: 221-2577

CATOT.lCISMO,JANEIRO 19!ll

Ao Invés de prestar homenagem à sublime condição de mãe , a passeata prega a legalização de aborto. Em vez da proteção do nascituro, clama por seu assasinato em nome de uma "maternidade voluntária e prazeirosa" . A esse grau de insensatez e degradação c hegou nossa época! (Passeata no dia 8 d e marco d e 1991 • Dia Inte rna c ional da M 11lhPr1




Número 494

Fevereiro de 1992

Discernindo, distinguindo, classificando ...

Os Donos da Verdade

.Assesta_I.--.d.<> <> f<>c<>

É importante conhecer hoje em dia o papel da mídia, para saber se defender

O

jornalista "se considera dono da verdade e tem dificuldade em admitir que pode errar com freqüência"' , afirmou o redator-chefe de um dos mais importantes diários europeus, Juan Cruz, de "El País"' (Madri), no seminário jornalístico comemorativo dos 70 anos da "Folha.., ("Folha de S. Paulo"', 19-10-91). E ao analisar mais especificamente o jornalismo em seu país - com evidentes aplicações também às demais nações - prosseguiu: "a imprensa espanhola pós-franquista se torrwu refratária à crítica .... Os jornalistas passaram a acreditar que eles próprios é que exerciam o poder político ". É claro que quem se considera "dono da verdade" tem de ser "refratário à crítica"'. Basta ver o profundo desagrado com que as grandes empresas de TV têm recebido as críticas que a população lhes dirige - especialmente através da associação "O Amanhã de Nossos Filhos"' - pela imoralidade de seus programas. A mídia tornou-se, como tem afirmado o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira, um 4º poder dentro do Estado. Menos recentes, mas não menos incisivas, são as observações do prestigiado jornalista Guy Sorman, em artigo para o semanário francês "Lc Point"', reproduzido pelo "Jornal da Tarde"' - SP (8-9-90). O título já diz tudo: A mídia: máquina de bestializar. Assim define ele, com ·fina ironia, os componentes da mídia: "a classe mediática: um novo grupo social informal e restrito cuja característica é 'pensar bem"'. Em outras palavras, é a mesma acusação de "donos da verdade". Para Sorman, a mídia é levada "a privilegiar todo o movimento antiocidenta f' , e cita o exemplo do favorecimento de "Mandela, pró-comunista, contra seu riva~ Buthelezi". Tivemos, aliás, aqui no Brasil, oportunidade de verificar esse favorecimento no modo 2

pelo qual a mídia ocultou o total fracasso da manifestação pró-Mandela no Estádio do Pacaembu-SP (cfr. Catolicismo, novembro/91). É ainda Sorman quem escreve: "diante de nossas telas de TV a mídia nos persuadiu, há um ano, de que assis-

O desfile das TFPs que s mídia não viu

Somália e outros países muçulmanos. Para a mídia, tais fatos parecem não ser importantes. Importante mesmo é ter aparecido um jacaré no rio Tietê ... "Gorbachev instalou-se no poder há cinco anos - diz Sorman - e as filas nas calçadas de Moscou são cada vez maiores. Estaríamos enganados quanto à realidade da perestroika ? Não há lugar na mídia para um exame de consciência e o reco nhecimento de mais um erro de julgame nto sobre a V RSS .... Basta trocar o cavaleiro branco. Boris Yeltsin é promovido como arauto do progresso .... Que Yeltsin seja um nomenclaturista ainda mais enferruj ado que Gorby não f az diferen ça". A isto poder íamos acrescentar a balela, que a mídia vem favorecendo, de que o comunismo teria acabado! "Osjomalistas - acrescenta o artigo - copiam uns aos outros, terminam por compartilhar as mesma idéias, e a originalidade se faz ra ra"'. Realmente, os grandes jornais, hoje, pouco se diferenciam entre si, parecem todos farinha do mesmo saco.

opressão, quin hentos anos de resistência: pela emancipação dos povos. Eis o lema que organizações "cristãs" de base, grupos ecologistas, pacifistas e partidos de esquerda adotaram na Espanha - com apoio de núcleos similares americanos - para fazer frente ao que denominam "o carnaval do homem branco". Em que consiste esse "carnaval"? São ... as comemorações que se programaram na Espanha e na América Ibérica pelo transcurso do V Centenário do Descobrimento do Continente americano por Cristóvão Colombo. Assim, em vários lugares da Espanha os mencionados grupos estão promovendo "contra-manifestações" para denegrir o grande evento histórico e seus protagonistas. Tais iniciativas atingiram seu clímax com o projeto de construção de um absurdo monumento em homenagem às "vítimas da inva-

tíamos d marcha inelutável da China em direção à democracia .... Seria certo pensar que os estudantes queriam a democracia, uma vez que eles não questionavam o monopólio do PC? Muito complexo para a mídia. Mais valia simplificar, com liberdade para . falsificar''. A acusação de falsificação é forte, e é de molde a abrir os olhos do leitor inadvertido. O mesmo artigo apresenta um elenco de fatos da maior importância que a mídia simplesmente não noticiou. É a famosa campanha de silêncio, habitualmente dirigida contra aquilo que não agrada os meios de comunicação, como por exemplo a TFP. Também não se fala atualmente das sangrentas perseguições contra católicos ocorridas na

C.A.

A'I

LI IS M , l 1'1w 1m 1•:11 t0 1002

*** Em sentido contrário, nas paginas da presente edição, os leitores podem tomar conhecimento de alguns f lashes do imponente desfile que antecedeu ao início do VIII Encontro de Correspondentes e Simpatizantes da TFP. Uma concepção de vida, uma visão histórica - católicas e baseadas na Tradição, Família e Propriedade - se levantaram bem alto, desafiando os que optam pelo tribalismo e barbárie dos infelizes indígenas americanos e repu diam a Fé Católica e a civilização implantadas na América pelos missionários e descobridores.

SUMÁRIO VIII Encontro - Entre os dias 3 e 5 de janeiro realizou-se o VIII Encontro Internacional de Conesponclentcs da TFP

***

Tudo o acima exposto foi dito por jornalistas conhecidos, ou neles baseado. Não fosse isso, seria problemático denunciar essa realidade. De fato, já no século XIX, o Príncipe de Joinville conta sua viagem num navio, ao lado de uma "legião de macacos"': "à noite eles se mantinham todos abraçados, com suas caudas formando uma estrela ou os raios de uma roda. Se, por distração, se tinha a infelicidade de pisar uma dessas caudas, toda a bola de macacos passava a guinchar durante uma hora, como os jornalistas quando se toca em um dos membros du confruria"' (Vieux Souvenirs, Mcrcur · d Prunce, 1970, p.217).

são européia" de 1492 na cidade espanhola Pue1to Real - porto fundado precisamente pelos monarcas que patrocinaram o descobrimento, Fernando e Isabel, a Católica.

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4 Breves 6 O clesli!c ela TFP 13 Caderno Especial

Entrevista - Catolicismo entrev ista dois operários da TFP

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17 En trevista 21 Brasil Real - Brasil Brasileiro 22 História

Hagiografia - A vida da vidente de Lourdcs, Santa Bcrnadette Soubirus

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24' Hagiogn1fia 27 Frases cm Pa inel

AfOJLICISMO Catolic ism o é uma publicação mensal da Editora Padre Belchior de Pontes Ltda. Diretor: Paulo Corrêa de Brito Filho. Jornalista Responsá vel: Takao Takahashi. Registrado na DRT-SP sob o N•. 13748. Redação e Ger ênc ia: Rua Ma11im Francisco, 665 - 0 1226 - São Paulo, SP . Te l: (0t 1) 825.7707. Fotocomposição: (direta, a pa11irde arquivos torn ecidos por <:atolicis mo) Microtormas Fotolitos Ltda. - Rua J avaés 681 - 0 11 30 - São Paulo - SP; Impressão: Grática Ed itora Camargo Soares Ltda . . Rua da lndependencia 767 · 01 524 · Sao Paulo, SP. Para mudança de endereço é necessário me ncio nar també m o endereço antigo. A correspondência re lativa a assinatura e venda avu lsa pode ser enviada ao endereço da Gerência de Catolic ismo. ISSN lntern ational Standard Serial Nu mber . 0102-8502

C ATOLIC ISMO, FEVEREIRO Hln2

3


<>- Nada aprenderam

concisamente

<>- Agitação impopular Pesquisa nacional realizada junto a operários de todos os setores da economia obteve os seguintes resultados: 74,2 % declararam-se contrários à ocupação de fábricas e indústrias durante as greves, e apenas 23,8% favoráveis a tais violências; 85,1 % mostraramse contrários aos piquetes, e tão-só 12,9% apoiaram essa fonna de intimidar trabalhadores. Caráter significativamente insuspeito do inquérito: foi encomendado pela CUT, a qual sempre afinnou representar o operariado ao promover diversas fonnas de agitação. Corrigir-se-á o movimento esquerdista? Seria ingênuo quem assim pensasse ...

"Embora ninguém cone/amasse que o 'petróleo é nosso', o discurso foi o mesmo adotado nos a,ws 50, durante a campanha pelo monopólio estatal do petróleo, com as mesmas palavras de ordem". Desta fonna, um diário fluminense descreve recente encontro de todos os partidos esquerdistas, durante almoço de confraterrúzação, num restaurante da Câmara, em Brasília.

Em outras palavras, caiu o Muro de Berlim, um vendaval sacode os países do Leste europeu, a URSS estatolatra se decompôs aos olhos do mundo, mas muitos de nossos políticos nada vêem. Deles pode-se afirmar o mesmo que foi dito acerca de certos nobres que retomaram à França, após a Revolução de 1789: ..nada aprenderam, nada esqueceram".

O Padre Jean Bertrand Aristide, recentemente deposto da Presidência do Haiti porum golpemilitar,éadepto da Teologia da Libertação. Frei Boff já esteve em Porto Príncipe, capital do país, a fim de ministrar curso de teoria revolucionária ao padre ex-presidente. Logo após a vitória eleitoral do Padre Aristide, eclesiásticos do Haiti criticarain-no pelo autoritarismo a que poderiam levá-lo suas idéias socialistas. Isso foi suficiente para que agitadores destruíssem a Nunciatura Apostólica e a catedral de Porto Príncipe, tendo sido o próprio Núncio, na ocasião, agredido e abandonado nu em plena rua. Que opinião terá disso o Padre Aristide?

PT - Fidel - A Administração pelista de São Bernardo, por meio do boletim Cuba Resiste", rodado nas gráficas da Prefeitura, apóia a Cuba castrista. Até os agonizantes têm seus amigos de cabeceira! 04

Incompreensível! - Neste ano, o Governo federal dispenderá 8,5 bilhões de cruzeiros mensais com o treinamento (sic!) dos 29 mil funcionários públicos que estão em disponibilidade. Anterionnente eram gastos 7 bilhões de cruzeiros, com o pagamento dos salários desses mesmos servidores. Que lucro houve com a chamada refonna administrativa"? Só lhes falta o povo ... -Em artigo para 0 São Paulo", Frei Betto apontou, sem meias palavras, onde reside a debilidade fundamental da esquerda entre nós: ..um detalhe [sic!] parece escapar à esquerda [em meio] ao naufrágio do Titanic socialista: o trabalho com o povo .... A esquerda.ficará como pião girando em volta de si mesma enquanto não aprender a trabalhar com o povo". De fato, a agitação comuno-clerical não goza de respaldo popular, mas tão-só do apoio de certa mídia, de sacristias e de alguns salões. 04

"Não é uma linda ferramenta'!" perguntou ele, certa vez, à multidão, num discurso, referindo-se ao colar de fogo - pneumático em chama colocado no pescoço - com o qual já foram assassinados muitos de seus opositores políticos. Será essa a liberdade defendida pela Teologia da Libertação?

na China De que maneira se pode "justificar" um assassínio cm massa de inocentes? A China comunista descobriu a fónnula. Para Chen Muhua, Chefe do Conselho de Planejamento Familiar de Pequim, "o socialismo deve permitir o controle da repro-

<>- Bruxos ecológicos do Secretário Geral da ONU para o Meio Ambiente. É curioso notar como o relacionamento entre ecologia e bruxaria vai aparecendo aos poucos. E por detrás da bruxaria, desponta o satanismo.

dução do ser humano de modo que o aumento populacional se dê na mesma proporção do crescimento da produção material". E como o comunismo produz pouco, a matança tende a ser grande. Em quase todas as regiões da China, esse programa abjeto e sinistro de controle familiar, que tem o apoio das Nações Unidas, conduz aos mesmos resultados: esterilização forçada (de doentes mentais, por exemplo), aborto e infanticídio direto. As velhas práticas nazistas são adotadas pelo comunismo - confinnando serem ambos verso · reverso da mesma moeda.

Destaque

em tempo

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<>- Teologia da Revolução?

<>- Genocídio legal

Paralelamente à realização da Rio-92 (Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento), haverá na cidade um encontro de bruxos e macumbeiros de todo o mundo. A "pajelança" será organizada por Hanne Strong, mulher

•••

Incentivo ao crime! - Um pai espancou até a morte a filha de três anos, em Curitiba, levando o corpo ao litoral,jogou-o ao mar. O reu foi condenado a 31 anos de prisão. Como, entretanto, o criminoso já cumpriu seis meses de reclusão, e é primário, poderá obter o privilégio do regime "semi-aberto", em que o detento apenas donne e passa fins de semana na penitenciária!

Revolução silenciosa em marcha... •Aos brados de Liberdade! Abaixo a Bastilha! ,a população tomou de assalto o Palácio dos Monarcas franceses e decapitou Reis e nobres. Era a Revolução Francesa. Aos brados de Proletários do mu11do, u11i-vos, os seguidores de Marx levantaram-se contra os burgueses .... Ao brado de A imaginação tomou conta do Poder, os estudantes de maio de 68 ergueram-se contra a classe média .... "As revoluções estrepitosas encerraram-se. Agora já não haverá gritos..... Poré11~ 110 meio do silêncio .... eles vêm do Leste, da África, e do Extre11w Oriente. Segundo todas as informações, 41 milhões de soviéticos estão dispostos a abandonar seu país .... Den Xiaoping declarou há pouco que, se as coisas continuarem a caminhar como estão em seu país, ele enviaria à Europa J 00 milhões de chineses! • E depois? Que ocorrerá em seguida com essas massas vindas não se sabe de onde e que esperam não se sabe o quê? Entrarão sinuosamente em nossas vidas, sem gritos, nem .... bandeiras, nem discursos inflamados, estabelecer-se-ão entre nós e concluirão assim sua invasão silenciosa para iniciar a grande marcha de uma revolução imprevisíveln. Nesses termos, uma renomada revista espanhola descreve o processo revolucionário, transcorrido nos últimos séculos, de forma análoga à que narra o Prof Plinio Corrêa de Oliveira 110 livro Revolução e Contra-Revolução. Efaz crer que a nova etapa desse longo ciclo se caracteriwrá pela arremetida de ·neo-bárbaros contra a pujante civilização ocidental! ff

"Escola de contra-cultura" - Com essas palavras, Samuel Pfrom Netto, psicólogo da USP, definiu a TV hodierna, acrescentando: .. é uma escola de superficialidade, cinismo, deboche, brutalidade, resolução violenta de conflitos, desrespeito, exacerbação hedonista, excitação sexual precoce e desenjreada, mau-gosto, mediocridade e erosão de valores morais". A bomba do "Pravda" - Esse diário soviético revelou: em setembro de 1954, foi realizado um teste nuclear no sul dos Urais, na presença de 44.000 soldados, que fizeram manobras, logo após a explosão, na proximidade do epicentro. Os soldados não usaram nenhuma proteção especial. Estavam apenas abrigados em trincheiras quando a bomba explodiu, e receberam em seguida a ordem de simular um ataque no campo em chamas. Hoje só restam 40 sobreviventes! Apoio teimoso a Fidel - Do apoio escancarado a Fidel, a esquerda brasileira não arreda pé. Frei Betto, bem como artistas, políticos e intelectuais estarão em Havana neste mês (fevereiro), a fim de hipotecar irrestrito apoio ao velho ditador. Lá ajudarão também na colheita de legumes, junto com uma brigada de jovens pelistas, pedetistas e cotliunistas. Onda ecológica - Ao comentar as perspectivas para a ECO-92, no Rio, Luiz Lira, geólogo e consultor de Meio Ambiente da Pastoral dos Pescadores de Pernambuco, vaticina: ..a derrocada do comunismo e a crise no capitalismo podem estar levando o mundo para o ecologismo .... " O que é esse mundo ecológico"? Um mundo tribal? É para lá que nos querem levar? 04

... anunciada também pela esquerda-católica Dos arraiais eclesiásticos procede uma autoriu,da voz - a do conhecido sacerdote francês Abbé Pierre,Jundador das Comunidades de Emaús, movimento católico-progressista. Em en trevista ao ·corriere della Sera n, de Milão, ele acentua os mesmos sombrios prognósticos. Suas palavras: • Estou angustiado pelo perigo das invasões do Sul edo Leste. Podem transporasfronteiras, atravessara mar e inundar a terra do bem-estar, co11w num fenômeno de vasos comu11ica11tes. De modo semelhante ao que ocorreu nos tempos do Império Romano. Os bárbaros - lembram-se? Eram pessoas com hierarquia e tradição. Roma não tinha força para ocupar-se deles. E espalharam-se pela terra fértil do Império. Um evento do mesmo gênero pode abater-se sobre nós, que rumamos em direção ao ano 2000. Teremos nossos hunos e visigodos .... ·se não encontramws uma solução, teremos uma época de terrorismo difuso .... Nossos filhos, daqui'a alguns anos, compreenderão a inutilidade dos exércitos. Verão os políticçs mais determinados capitular um após outro. Ouvir-se-ão vozes para além de nossos confins, que dirão: Senhor Presidente, se não nos derem as terras férteis da França e da Europa, tomaremos de assalto os lugares públicos, trens, aviões, escolas, universidades. Compreende? Que sentido terão tais advertências? Será bem esta a nova Revolução que se prepara? Quem a estará orquestrando? ff



uvens esparsas acumulavam-se nos céus da capital paulista, naquela tarde de sexta-feira, 3 de janeiro. Na fisionomia dos transeuntes, notavase certo imponderável de expectativa e insegurança. - "Será que vai clwver?" pergunta- · vam-se muitos, preocupados com as trombas d'água que costumam cair de modo repentino em São Paulo, nos meses de verão. Se o clima físico denotava incerteza, o psicológico não ficava atrás. Há pouco se transpusera os umbrais do novo ano, e já 1992 surgia carregado de apreensões. "Um túnel ,ws espera ,w final dessa luz", diziam ironicamente os mais pessimistas ... É verdade que a movimentação nas lojas era intensa, e que a atmosfera de preocupações se diluía um tanto por efeito da bonomia habitual dos brasileiros. Por outro lado, como a insegurança e a incerteza aumentam a cada dia num país marcado por crises morais, políticas e econômicas de todo gênero, nosso povo parece ter conseguido a insólita combinação de uma sossegada insegurança com uma incerta tranqüilidade.

N

8

Naquele dia, no centro velho de São Paulo, nada fazia crer que alguma novidade alvissareira viesse alterar o ritmo de vida de uma megalópole moderna. Apenas uma concentração invulgar de pessoas começava a se formar num ponto importante da cidade. O que será?

. No Pátio do Colégio De todos os lados, homens e mulheres, jovens e adultos, afluíam para o Pátio do Colégio, o berço de São Paulo. Sem vozes de comando, como por encanto, uma colossal e pacífica manifestação em pouco tempo tomou

conta daquela área privilegiada, rica de significado histórico. Num instante, o cinza da atmosfera poluída cedeu lugar ao rubro de centenas de capas. Ao vento, flutuaram então dezenas de estandartes com o lema Tradição, Família, Propriedade, semelhantes aos que já tremularam junto à Casa Branca, em Washington, e na Praça Vermelha, em Moscou, perto do Kremlin, antes mesmo do arriamento definitivo do sombrio pendão comunista. Toques de trompetes, logo seguidos pelo rufar de tambores e bumbos, ecoaram pelas extensas galerias de edifícios, atraindo a atenção de todos. Uma parte da cidade parou. As janelas dos escritórios e repartições públicas ficaram apinhadas de gente. Nas ruas, uma multidão de curiosos se aglomerou, parecendo esquecer as incertezas e as preocupações. Até o céu se abriu, e um raio de luz iluminou as fisionomias. Naquele momento, iniciava-~e o monumental desfile da TFP comemorativo do V Centenário do Descobrimento da América . "Meu Deus, será que voltamos à Idade Média?!", exclamava uma senhora ao ver e ouvir a Fanfarra dos Santos Anjos, da TFP, cujos componentes trajavam seu uniforme de gala: túnica branca e escapulário marrom, no qual de alto a baixo se destaca uma cruz em forma de espada, a conhecida Cruz de Santiago. Se os símbolos evocavam o passado, aquele desfile no entanto rumava para o futuro. Prova disso é a juventude da maior parte de seus integrantes, demonstrando assim a capacidade de expansão dos ideais da Civilização Cristã. De fato, ali se concentraram delegações de cento e onze cidades da Federação brasileira, e os cartazes assinalavam apresença de repr~ sentantes de de7.,csseis países das Américas, da Europa, Ásia, África e Austrália. CATOLICISMO, FEVERE!IlO 1992

Sob o Viaduto do Chá Lentamente, com a solenidade adequada às grandes ocasiões, o enorme cortejo partiu, atingiu o Vale do Anhangabaú e causou viva impressão aos circunstantes que o observavam de cima, postados ao longo do Viaduto do Chá. Muitos o aplaudiram. Outros, indiferentes, passavam como se nada vissem. Nem os mais enragés dentre os esquerdistas ousaram vaiá-lo. "Quem são eles'!", indagou uma menina à sua mãe. "Devem ser da TFP, pois só ela é capaz de fazer manifestações assim tão belas!", foi a resposta. "Viva Fidel Castro!, "gritava frene ticamente um isolado militante pelista, que pelo jeito parece ter perdido o trem da História. Na passarela sob o Viaduto, ouviase um grupo de rapazes comentarem admirados a grande formação cm farpa executada pelos jovens da TFP. "Incrível como ainda existe gente conservadora!", aclamava um deles, maravilhado com a beleza policromática da cena. "Eu não quero só o folheto", dizia outro, dirigindo-se a um Correspondente da TFP que distribuía material de propaganda: "vocês não me conseguiriam também uma capa com o leão dourado?" CATOLICISMO, FEVEllE!IlO 1992

No Teatro Municipal Na Praça Ramos de Azevedo, nas escadarias do Teatro Municipal, o desfile fez uma pausa e como por encanto se converteu novamente numa imponente concentração, na qual a bandeira nacional, tendo a seu lado um grande estandarte da TFP, de 9 metros de altura, ocupava o lugar central. Cânticos, brados e slogans reboaram pelos ares. Um deles dizia:"O Desco brimento da Amé rica foi ocasião de alegria e gló ria para a Igreja e a Cristandade; homena gem das TFPs america nas aos Papas, aos Mo.narcas, aos Descobrido res e aos Missionários propulsores do eJfo rço evangelizador e civilizador". Ecoou então o inconfundível acorde inicial do Hino Nacional, executado pela Fanfarra dos Santos Anjos e ouvido numa posição de respeito .

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Três dias de reflexão, oraçao e entusiasmo

veira: "No decurso de toda a minha existência - escreve o Presidente do Conselho Nacional da TFP - poucas foram as fisionomias que encontrei tão profundas e tão lúcidas, e ao mesmo tempo tão impregnadas de bondade, quanto a de Dom Matulionis. É um homem de princípios! É um homem de decisão! .... Com Dom Matulionis estabelece-se uma ponte de ouro entre a Lituânia e a TFP!" Essa ponte de ouro ficou ainda mais consolidada quando o Pe. Francisco Gavenas, responsável pela edição brasileira da obra, concedeu ao Prof. Plínio Corrêa de Oliveira ajuosta, faixa com as cores da Lituânia, confeccionada à mão. A semelhança da antiga coroa de louro dos romanos, há muitos séculos os lituanos costumam outorgar essa honraria aos heróis nacionais. "Trago aqui para o se11hor, caríssimo Dr. Plinio, uma modesta lembrança, símbolo de nossa eterna gratidão: trata-se de uma juosta trazida direta me11te da Lituânia.... Gostaríamos, Dr. Plinio, que esta fosse uma rica faixa, em ouro e cravejàda de pedras preciosas. Mas, esta os anjos do Céu estão preparando para o senhor!" Referindo-se em seu discurso ao abaixo-assinado promovido pelas TFPs cm prol da libertação daquele país báltico, o Pe. Gavenas concluiu: "Esta histórica vitória que hoje celebramos, deve-se antes de tudo d proteção de Nossa Se11hora Auxiliadora dos Cristãos; mas deve-se também a um homem

N

Discurso do Prof Plinio Corrêa de Oliveira no encerramento do "Desfile da Fidelidade"

ABERTURA SOLENE

(Excertos)

• Vós percorrestes esse caminho, que é o caminho da fidelidade à tradição .... A tradição que vós representais não é algo de fixo, de estagnado, que não se desenvolve, que não tem o futuro diante de si. Não se trata das figuras de cera do museu Grévin de París ou do Tussaud de Londres.... "A tradição que nós representamos é a Tradição católica, é uma tradição cheia de vida. Uma vida natural e sobrenatural ardente. E essa vida quer abrir caminho para si na História e está abriudo inclusive nesta passeata .... • Uma tradição viva, que clama, que cone/ama, que aclama, que reclama, que proclama, que não fica quieta e que não pára!.... "Clama a sua resolução de continuar viva defendendo o seu espaço na terra. E afirmando o seu pro-

gresso, os seus direitos contra quem pretendesse intimidá-la em nome das pseudo-maravilhas de um pseudo-progresso. • É uma tradição que cone/ama aqueles que pensam como ela, a que se juntem a ela e que venham lutar com ela, a favor das verdadeiras tradições. • E uma tradição que aclama, não só tudo quanto no passado e no presente se faz de bom, mas também, desde fá e antecipadamente, aclama aquilo que a nossa Fé iuspirará aos nossos vindouros até o dia do Juízo Final. ... • Com os vossos passos, repercutiram também no Céu os pulsares de vossos corações: é a Cristo que queremos! É a Maria que queremos! E só o que for conforme a Cristo e Maria é por nós verdadeiramente desejado!"

Um discurso histórico

que aquele magno evento teve por nome: Desfile da Fidelidade. Tal era ali a identidade de princípios e sentimentos com o passado católico · que, do fundo dos séculos, pareciam soprar uma vez mais os ventos de heroísmo e dedicação à Santa Igreja que outrora enfunaram as velas das naus de Colombo e de Cabral. Vcntos da História que continuam a soprar e a impelir rwno ao terceiro milênio os estandartes da Tradição, Família e Propriedade!

O encerramento do desfile deu-se na Praça da República, com um vibrante discurso pronunciado pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, de elogio à epopéia dos Descobrimentos e à ação evangelizadora da Igreja nas Américas. Ao se referir à força da Tradição, suas ardorosas palavras alcançaram grande ressonância nos presentes, acendendo nos corações o fogo sagrado da fidelidade aos valores perenes da Civilização Cristã . Por isso, bem se poderia cli zer 10

• BRÁ ULIO DE ARAGÃO

Inaugurado com o monumental Desfile da Fidelidade, o VIII Encontro de Correspondentes e Simpatizantes da TFP congregou 1.500 pessoas da maioria dos Estados brasileiros, bem como representações do Canadá, Estados Unidos, Venezuela, Colômbia, Peru,,Bolívia, Chile, Ar~enlina, Escócia, Austria, Hungria, África do Sul, Filipinas, Austrália e ainda de Cuba e ela China, no exílio.

De 3 a 5 de janeiro último teve lugar cm São Paulo tal Encontro intemacional, com tão variada e numerosa participação, cujos principais flashes aqui procuramos relatar. O semblante grave e sereno ·do Bispo-mártir liluano, Dom Teófilo Matulionis, encontrava-se naquela noite estampado numa grande fotografia colocada em local privilegiado· da sessão inaugural. Nessa atmosfera de fervor, foi lançado o livro "Bispo, Prisioneiro e Mártirdo Comunismo ",cleautoriado Pe. Pranas Gaida: impressionante biografia de Dom Matulionis, prefaciada pelo Prof. Plínio Corrêa de OliCATOLIC ISMO, FEVERElllO 1902

Abertura do VIII Encontro de Correspondentes e simpatizantes da TFP

de Deus, para o qual voltamos agora nossos olhares, nossos corações e dizemos transbordantes de gratidão: Dr. Plinio, muito obrigado! Mil vezes muito obrigado!" Eis os principais tópicos ela resposta do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira às palavras cheias de fogo pronunciadas pelo Pc. Gavenas: "De si, um agradecimento não se agradece em qualquer época normal da História. Mas, na circunstância presente, um agradecimento é coisa de se agradecer profundamente, porque se há uma virtude frágil 110 coração do homem, esta virtude é a gratidão". Depois o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira pronunciou brilhante conferência

.

Momento em que o Pe. Francisco Gavenas entrega ao Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a "juosta" em gratidão pelo apolo recebido pela Independência da Lituânia CATOLlCISMO, FEVERElllO l!l92

sobre o papel fundamental da TFP no panorama nacional e intemacional. Reproduzimos dela, os excertos principais: "Em várias ocasiões de sua História rece11te, o Brasil esteve a pique de cair no comunismo e não caiu. Mas em nenhwna ocasião ele esteve tão ameaçado quanto no governo João Goulart, quando esteve imine11te a implantação em todo o país de uma profimda Reforma Agrária, socialista e confiscatória. "Ora, se o Brasil então tivesse ficado comunista, a Rússia teria d sua disposição outros recursos econômicos, outras fontes de matéria-prima que possibitariam prolongar ainda por muito tempo seu império em todo o mundo. Possivelmente, a Cortina de Ferro não teria caído, as tropas russas não teriam deixado a Lituânia, nem os países do Leste europeu hoje estariam livres. "A vergonha da desmoralização administrativa e política do regime soviético não teria ficado patente aos olhos de todos e, pelo contrário, a tirania comunista teria continuado a se estender pelo mundo. "Naquele mome11to de confusão, com as associações privadas desorientadas e a classe agrícola emudecida pelo terror: das Ligas Camponesas, levantou-se em nosso País uma barreira ideol.ógica contra esse lwrror. Essa barreira foi a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição Familia e Propriedade! "Isso evitou que o Brasil ficasse comwzista, que se tran:.formasse numa imensa colônia de Moscou, numa Cuba de tamanlw colossal, nas garras do regime soviético". 11


Programa inte,nso Nos dias subseqüentes, foi desenvolvido denso e variado programa. Temas como "O Mundo pós-comunista: as-

pectos diversos", "Progressismo e autodemolição da Igreja" atraíram vivamente a atenção dos participantes. O Príncipe Imperial do Brasil, Dom Bertrand de Orleans e Bragança - o primeiro na linha de sucessão ao trono, depois do primogênito, D. Luís-pronunciou importante pilestra, "Milagres afavor de uma jovem nação ", sorrefatos da História do Brasil, descortinando as enormes possibilidades que se encontram subjacentes na alma e na psicologia de nosso povo.

"Às portas do segundo milênio ... apreensões, esperanças, reminiscências". Este foi o título da conferência de encerramento, pronunciada pelo Prof. Plínio Corrêa de Oliveira. Dela extraímos o seguinte trecho, que dispensa comentários: "É verdade que no passado, num passado remoto, anterior à TFP, a causa da

Contra-Revolução sofreu muita irtjúria e teve que recuar muitas vezes. Mas quando chega o momento da Providência, ela se reergue e tudo aquilo que ela sofreu resplandece nela como uma luz. "Assim também ocorre com os verdadeiros católicos e a verdadeira Igreja: suas feridas um dia transformar-seão num sol... "Isto é precisofirm0.r nos espíritos das pessoas, para que se compreenda que o milênio que entra tem todas as condições de ser o milênio do Reino de Maria, desde que aqueles que lutam nesse sentido saibam chegar até lá com passo firme, terço na mão, olhar no Céu e no.adversárior'

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Tópicos principais do discurso pronunciadas pelo Pe. Francisco Gavenas por ocasião do lançamento da edição brasileira. do livro Bispo, prisioneiro e mártir, do Pe. Dr. Pranas Gaida: ·Graças ao incentivo do Prof. Plinio Coffêa de Oliveira, e da abnegada colaboração de membros da TFP, vem hoje a lume a edição em português da biografia do grande mártir lituano de nossos dias, o Bispo Dom Teóftlo Matulionis (1873-1962) .... "No livro que temos a alegria de lançar nesta noite, há uma luz toda especial: trata-se do prefácio que o nosso querido Dr. Plínio teve a bondade de escrever para a edição em português. As palavras ali contidas revelam uma alma cheia de fé e de admiração pelo Bispo-mártir lituano.... "No mundo há muitos homens célebres, que se distinguem em vários·setores: ciência, arte, indústria, comércio, política etc. Há poucos, porém, que em nosso século se sobressaem na vida espiritual e moral em grau heróico. A esse número pertence Dom Teófilo Matulionis, cuja causa de beatificação e canonização foi introduzida em 1990.... ·uberto dos cárceres comunistas, Dom Matulionis viajou a Roma para agradecera Pio XI os esforços empreendidos para sua libertação. Ao aproximar-se do Vigário de Cristo, Dom Matulionis se ajoelha. O Santo Padre então o levanta, e num gesto surpreendente ajoelha-se Ele mesmo, dizendo:

CADERNO ESPECIAL Nº 9

- "Sois um mártir! Vós é que deveis abençoar-me em primeiro lugar.... "Antes de enceffar, é preciso declarar aqui em público a segunda alegria desta noite: comentando a situação atual, o jornal The New York Times afirmou, em editorial, que na realidade os países bálticos foram os catalizadores da débâcle soviética. A lituânia foi a primeira república soviética a proclamar sua independência, em março de 1990, dando coragem às demais. "No entanto, não podemos esquecer que, . quando li lituânia proclamou-se independente; o Ocidente a tudo assistiu de braços cruzados. Mas, no meio daquele horizonte sombrio e pesado, eis que um brado de cruzada se fez ouvir em 23 países, nos cinco continentes.... brado inicial foi lançado pelo grande Dr. Plinio Corrêa de Oliveira. Ecoou por toda a Terra e resultou no maior abaixo-assinado da História. Em Moscou, os tiranos comunistas t(emeram, pois bem sabiam que era o início de sua deffotal"

·o

CATOLICISMO, FEVEREIRO 1992


fil.p~~entayão tÍo '.Menino Jesus no 1emp[o ePurificafãO de ?{pssaSenhora No Templo de Jerusalém, Nosso Senhor Jesus Cristo, ainda tenra criança, foi apresentado pela primeira vez. Ali deveriam depois passar-se outros episódios memoráveis de Sua vida. Ofereceu-se Ele, no início de sua existência terrena, a Seu divino Pai, se!Il- a menor reserva, aceitando já os sofrimentos futuros de sua Paixão. Ao mesmo tempo, vinha Ele substituir os antigos sacrifícios de animais da lei antiga, realizados aos milhares, em certos dias, naquele local. Segundo a legislação estabelecida pelo grande profeta bíblico Moisés - a lei mosáica - todo o primeiro filho de um casal pertencia ao Senhor. Podia, entretanto, ser resgatado mediante a oferta de certa quantia em dinheiro que era depositada no tesouro da família sacerdotal encarregada do culto no Templo, a dos levitas. Por outra lei, as mães que acabavam de dar à luz seus filhos deveriam apresentar-se no Templo de Jerusalém para um ato de purificação, mediante a oferta de um sacrifício: os ricos, um cordeiro de um ano e um pombo ou rolinha; e os pobres, dofa pombos ou duas rolinhas. Comentaristas dos textos sagrados observam que nem Jesus nem Maria estavam obrigados a esses preceitos. Pois, Jesus é Deus, infinitamente superior a qualquer lei. E Maria, tendo se conservado Vfrgem antes, durante e depois do pa1to, estava acima dessa lei comum. Entretanto, a obediência e a humildade foram sempre suas virtudes caracteristicas. Por isto, submeteram-se eles, sem vacilação, a essas prescrições legais.

Assim, José e Maria, quarenta dias depois do nascimento do Menino, levaram Jesus a Jerusalém e cumpriram os ritos ordenados <1>.

*** À época de Nosso Senhor, v1v1a em Jerusalém um ancião chamado Simeão, que não havia deixado amortecer-se em seu coração a espera do Messias, pois ele pressentia que os tempos para a vinda do Salvador estavam cumpridos. No momento em que Maria e José subiam os degraus do Templo, levando para o altar o Menino Jesus, Simeão se sentiu impelido por forte e irresístivel moção :interior do divino Espírito Santo e se dirigiu àquele local. Ali, ele logo reconhece aquela Virgem fecunda profetizada por Isaías. Maria, instruída pelo mesmo divino Espírito, deixa aproximar-se o ancião, depositando em seus trêmulos braços o divino Filho. Tão logo O recebe em suas mãos, o ancião rejuvenesce, realizando-se nele, simbolicamente, aquela transformação pela qual deverá passar a humanidade no Céu.

Chega também, atraída por um movimento do Espírito Santo, a venerável profetisa Ana, filha de Phanuel, ilustre por sua piedade. Os dois anciãos, representantes da sociedade antiga, unem suas vozes e celebram a afortunada vinda do Menino que vem renovar a face da tena <2>.

NOTAS: 1) (Cfr. L. CL. Fillion. Nuestro Senor Jesucristo según los Évangélica, Editorial Difusion S.A. , Buenos Aires, 1917, pp. 72,73). 2) (Cfr. D. Prosper Guéranger, L 'Année Liturgique, Maison Alfred Mame et Fils, Tours, 1922, pp. 587-588).

5l peráa eoencontro áo '.Menino Jesus no 1emp[o São Lucas, 2, 41 a 52. E os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém no dia solene da Páscoa. E, quando este chegou aos doze anos, indo eles a Jerusalém segundo o costume daquela festa, acabados os dias (que ela durava), quando voltaram, ficou o menino Jesus em Jerusalém, sem que seus pais o adve1tissem. E, julgando que Ele fosse na comitiva, caminharam uma jornada, e (depois) procuravam-No entre os parentes e conhecidos. E não O encontrando, voltaram a Jerusalém em busca dele. E aconteceu que, três dias depois, O encontraram no Templo sentado no meio dos doutores, ouvindo-os e inter-

rogando-os. E todos os que O ouviam estavam maravilhados da sua sabedoria e das suas respostas. E sua Mãe disse-lhe: Filho, por que procedeste assim conosco? Eis que teu pai e eu te procurávamos cheios de aflição. E Ele disse-lhes: Para que me buscáveis? Não sabeis que devo ocupar-me nas coisas de meu Pai? E eles não entenderam o que lhes disse. E desceu com eles, e foi a Nazaré, e era-lhes submisso. E Sua Mãe conservava todas estas coisas no seu coração. E Jesus crescia em sabedoria, em idade e em graça diante de Deus e diante dos homens.

Comentários de Santo Afonso de Ligório Segundo a narração de São Lucas, Mar.ia e José iam cada ano a Jerusalém para a festa da Páscoa, levando consigo o Menino Jesus. Nessas circunstâncias, ao menos na volta, os homens e as mulheres iam separadamente. Assim exigia o costume dos hebreus. As crianças acompanhavam à vontade o pai ou a mãe. Quando Nosso Senhor chegou à idade de doze anos, sucedeu-lhe ficar em Jerusalém durante três dias após a soleni.dade, julgando Maria que Ele estivesse com José, e este que Ele estivesse com Maria. O santo Menino passou esses três dias honrando a seu Pai eterno com jejuns, vigílias, preces e com a assistência aos sacrifícios, que eram outras tantas figuras do grande sacrifício que Ele próprio deveria oferecer na Cruz. Chegada a tarde .[do primeiro dia], Maria e José notam com dor a ausência de Jesus. Põem-se a procurá-Lo entre seus parentes e amigos, mas em vão. Voltam enfim a Jerusalém, e ao terceiro dia O encontram no Templo a disputar com os doutores, espantados e cheios de admiração ao ouvi-

rem as perguntas e as respostas çlaquele Menino extraordinário. Não há na terra pena semelhante à de uma alma que ama a Jesus e que teme que Ele se tenha dela apartado por causa de alguma falta sua. Tal foi a extrema aflição de Maria e de José naqueles tr~s dias em que foram privados da presença de Jesus. Como diz o devoto Lanspérgio, a sua humildade lhes fazia temer terem-se tornado indignos de guardar tão precioso tesouro. Eis por que, ao revê-Lo, Maria lhe perguntou com ternura: Meu Filho, por que fizestes assim conosco? Vosso pai e eu Vos procurávamos com o coração repleto de dor. Respondeulhe Jesus: Não sabíeis que devo ocupar-me nas coisas que são do serviço de meu Pai? Aprendamos duas coisas neste mistério: a primeira, que devemos abandonar tudo, ami, gos e parentes, quando se trata de trabalhar para a glória de Deus. A segunda, que Ele se faz achar por aqueles que O procuram. (Enaimação, Nascimento e Infância de Jesus, Vozes, 1958, pp. 222 e sgL'-.)


História Sagrada

em seu lar

noções básicas egípcios; onde vir os portais tintos de sangue, não entrará e passará além" <2l. "Pela fé [Moisés] celebrou a Páscoa e fez a aspersão do sangue, a fim de que o (anjo) exterminador dos primogênitos não tocasse os israclilas"<3l_

O ANJO EXTERMINADOR NOVE I1RAGAS se abateram sobre o Egito, mas o Faraó não permitia a saída dos israelitas. Com a décima e última praga - a morte dos primogênitos - Deus dobrará o orgulho do Faraó, o qual não só pennitirá, mas até implorará, que Israel se retire. Predição da décima praga Moisés disse ao Faraó: "Estas coisas diz o Senhor: À meia-noite passarei pelo Egito; e todo o primogênito morrerá na terra do Egito, desde o primogênito do Faraó, até o primogênito da escrava e até os primogênitos dos animais. Mas entre lodos os filhos de Israel, desde os homens até os animais, não se ouvirá ganir um cão; para que saibais com que grande milagre o Senhor separa os egípcios de Israel. E Moisés saiu da presença do Faraó muito irado" (L)_ O Cordeiro Pascal Deus ordenou a Moisés "que prevenisse os chefes de famílias israelitas para que tomassem e preparassem um cordeiro de um ano e sem mancha, e com o seu sangue tingissem todas as portas. "E disse Moisés ao seu povo: 'Esta noite mandareis assar este cordeiro e o comereis com pão ázimo (sem fermento), empé, com a cintura cingida, · sandálias calçadas, e um cajado na mão, como quem está com pressa de partir. Mas ninguém ponha o pé fora de casa antes que amanheça, porque nesta noite o Anjo do Senhor ferirá os

mesma noite, disse: saí do meio do meu povo, vós e os filhos de Israel; ide, oferecei sacrifícios ao Senhor, como dizeis" (I)_ Instituição da Páscoa hebraica "Em memória deste acontecimento, Moisés instituiu, por ordem de Deus, .a festa da Páscoa, que se devia celebrar todos os anos. '"Páscoa' é palavra hebraica que significava 'passagem', porque o anjo exterminador, na matança dos egípcios, vendo mna casa com os portais tintos de sangue do cordeiro, 'passava' além, sem fazer mal algum aos seus habitantes. "Nós, cristãos, celebramos a Páscoa cm memória da ressurreição do Salvador, que nos livrou da escuridão do pecado. O cordeiro pascal é a figura do Redentor, que com o seu sangue nos resgatou da morte e abriu-nos o caminho ela salvação eterna" <3) _

Morte dos primogênitos "Era meia-noite: os israelitas, depois de cumprirem as ordens do Senhor, esperavam o tremendo flagelo. Eis que escutam as vozes de desespero e clamores horríveis que se levantavam por toda a cidade. O anjo do extermínio tinha ferido de morte súbita a todos os primogênitos, desde o filho do rei até o do último escravo. Os próprios primogênitos dos animais pereceram todos"(4) _ "E o Faraó levantou-se de noite com todos os seus servos, e todo o Egito; e houve um grande clamor no Egito, porque não havia casa onde não houvesse mn morto" <5>. NOTAS: "Ouviam-se os lamentáveis pran- 1. Ex. 11. 4-9. 2. São João Basco, História Sagrada, Uvraria tos dos que choravam a morte cios Editora Salesiana, São Paulo, 1965, 14• edição, 69-70. meninos. E com a mesma pena foi pp. 3. Heb. 11, 28. afligido o servo e o senhor, e o homem 4. São João Basco, idem, p. 70. 5. Ex. 12, 30. plebeu padeceu o mesmo que o rei. 6. Sb. 18, 10-16. 7. Ex. 12, 31. Então, os que tinham sido incrédulos 8. São João Basco, idem, pp. 70-71 . por causa dos encantamentos . - - - - - - - - - - ---------,----: [feitos pelos magos], logo que sucedeu o extermínio cios primogênitos, confessaram que aquele era o povo de Deus. "Porque, [Senhor], quando tudo repousava num profundo silêncio, e a noite estava no meio do seu curso, a tua palavra onipotente, (baixando) cio céu do teu trono real, sal tau de improviso no meio · da terra condenada ao extermínio, como um infl exível guerreiro; como uma aguda espada, ela levava o teu irrevogável decreto, e, chegando lá, tudo encheu de morte" <6>. Faraó apressa os hebreus a partir "E o Faraó, chamando Moisés e Aarão naquela

OAnjoExterminadordosprimogênitos

O ENTREVISTA

"Operários anti-socialistas, nossa hora é agora" Vivemos na era da estratégia da mentira. Foi pela manipulação da mentira que as esquerdas mais fizeram progredir seus planos subversivos. ma das falsidades que penetrou largamente na opinião pública é a afirmação de que a classe operária é esquerdista, está revoltada e constitui grande risco para a estabilidade social do País. A aceitação à campanha promovida pelo Setor Operário da TFP Catolicismo apresenta nesta edição uma entrefoi praticamente unânime, não atingindo a 1 % dos entrevistados os que a ela se opuseran vista com dois dirigentes do Setor Operário da TFP que atuam na região do ABC, isto é, Santo André, São operário. Recentemente percorremos oficinas, lojas, fáBernardo e São Caetano, a maior concentração de traba- bricas de São Bernardo do Campo e de Diadema (na lhadores manuais da América do Sul. grande São Paulo), região que, faz pouco, o PT, a CUT Através do relato de nossos entrevistados, poderemos etc. se vangloriavam de ser reduto seu. Isto é o contrário ter idéia do verdadeiro perfil ideológico do meio operário da verdade. Nesses lugares, tivemos contatos com operábrasileiro e como ele diverge do que propala a esquerda. rios, no próprio ambiente de trabalho, com o objetivo de Catolicismo - Afirma-se, não raro, que a classe coletar assinaturas daqueles que se comprometessem a operária é esquerdista e está a ponto de produzir uma fazer uma novena de orações, pedindo a Nossa Senhora explosão social. Todas as greves gerais, em nosso País, que dcfenda o meio operário brasileiro dos males causacontudo, deram em fracasso ... O que pensar da ques- dos pelos programas imorais das televisões. tão? O resultado foi excelente. Em 15 dias só nossa dupla Carlos Maurício Soares - Somos operários e nos- conseguiu mais de 600 assinaturas. Vimos que a aceitação honramos de nossa condição. Pofoi tão grande que as oposições não rém, nos julgamos injustiçados, porchegaram a 1 % dos entrevistados. que nossa classe muitas vezes é vista, Na ocasião, conversávamos com pelasdemaisclasses, como composnosso colega que assinava. Sentimos ta de elementos revoltados, esperanentão, nessa gente simples, o bom do uma oportunidade para fazer a coração do brasileiro que quer as práguerra dos que não têm contra os que ticas religiosas, que ama a vida de têm, ou dos que obedecem contra os família, que se dedica ao trabalho e que mandam. Somos confundidos, critica os "morcegos" ,isto é, os maus muitas vezes, com a parte podre da profissionais que não cumprem suas população, violenta e depravada. obrigações ou não são competentes Afirmamos que isso é falso . N assa em seus ofícios. classe, em sua maior parte, é ordeira Catolicismo - Existe bem-estar e amiga do patrão, respeita os valores no meio operário? da moral católica e gosta de uma CMS - Pudemos comprovar que a sadia estabilidade. classe operária, como um todo, tem Catolicismo - Com que base voprogredido bastante, mas que seus cês afirmam isso? membros encontram bem-estar senGilmar Costa de Almeida do trabalhadores manuais. O desejo As assinaturas eram colhidas com Trabalhamos de longa data no meio multa facilidade · de subir socialmente é visto com

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CATOLICISMO, FEVE11EIHO 1992

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tranqüilidade, sem aflição, porque a grande maioria sabe se convencem de que o meio operário, em sua grande que a primeira condição de felicidade é ter um relaciona- maioria, é contra os agitadores profissionais "operários", mento humano harmomoso, isto é, familiar e de amizades, filiados a certos partidos, e contra qualquer tipo de desoro que só se consegue se a pessoa mantém um nexo com dens. Esse tipo de patrões foram, praticamente, os únicos os que lhe são próximos. Um nexo em ascensão, progre- quelimitaramnossaação,impedindoqueconversássemos dindo, mas não de rompimento violento com as raízes que com seus empregados, e até desaprovando nossa campacada um tem no meio em que está. É claro que há nha. Trataram-nos com dureza, quando sabemos terem exceções: os que sobem e se tomam empresários. É bom aberto suas empresas para a atuação de operários esquerque estes existam, pois p~distas. Para nós ficou a dúvixam toda a classe para cima, da se faziam isso por simpamas são exceções, aliás não tia ou por temor. raras. A grande maioria preCatolicismo Podem fere a estabilidade em ascenapresentar alguns fatos consão. cretos? Catolicismo - Então, o GCA- Nos 15 dias de camquadro q'ue a mídia aprepanha no ABC - a maior senta do operariado não é concentração de trabalhadoreal? res da América Latina - não GCA - Achamos que não. encontramos nenhum operáEm nosso trabalho, particurio que falasse a favor da larmente o de coleta de assiCUT, partidos de esquerda e naturas, muitas vezes a condos sindicatos. versa com os operários se Quando pedi mos à dona prolongava e a brandura hade pequeno estabelecimento bitual ficava moderada por autorização para a coleta de uma inconformidade que se assinaturas de seus empregamanifestava por acusações dos, ela negou-a, acrescencontra as igrejas que eles fretando que a TV deve contiqüentavam, transformadas nuarassim. Umoperário,que em lugares de agitação soestava próximo disse: "A cial, com a qual não concorSra. aqui manda e eu obededam e que os afasta cada vez ço. Vou sair à rua e lá assimais dos lugares sagrados. no" ... Acusações também em relaCMS - "Assino - disse ção aos barulhentos sindica- Operários dos dois sexos apoiaram inteiramente a campanha um operário - e declaro que tos, que eles acham que não muitos sindicatos não fazem representam legitimamente o meio operário, pois atuam o que devem e são a maior desgraça para nós". com uma orientação oposta a seus interesses. Acusações "Não vou mais à igreja, porque não concordo em transainda mais fortes, quando consideravam suas casas, suas formá-la em lugar de agitação política", disse outro operário. famílias, invadidas por uma onda de imoralidades trazida GCA - "Afinal alguém está fazendo algo, pois a imoralipela televisão. dade passou de todos os limites", afirmou outro ainda. Catolicismo - Os patrões facilitavam o trabalho de "A TV está uma pouca-vergonha; não assisto mais a nevocês? nhum programa. Deixe-me ajudá-los", disse um mecânico, CMS - Nem sempre. Infelizmente, não é difícil encon- que saiu, voltando pouco depois com uma lista cheia de trar patrões que se deixam influenciar pela imprensa e não assinaturas de seus companheiros de trabalho.

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"Na TV só se aprende porcaria. E nós, os humi ldes, somos as principais vítimas", disse um marceneiro de 50 anos. Catolicismo - Qual a possibilidade de esse fundo sadio, que existe na classe operária, resistir? CMS - Tudo conspira para perverter cada vez mais nosso meio. Destacamos a TV imoral, as atividades de agitação, que se desenvolvem em tantas igrejas, e a atuação de largos setores sindicais. Muitos de nossos patrões, como já fa lamos, a pretexto de imparcialidade, não permitem um trabalho de formação moral e doutrinária. Dizem ter medo de que igual ação possa ser pedida por agitadores profissionais. Essa hipócrita igualdade do bem com o mal, da verdade com o erro, acaba num grande favorecimento do que há de pior e que é difundido pela TV, nos programas imorais; pelas igrejas, através da chamada Teologia da Libertação; e pelos sindicatos dominados por profissionais de esquerda. Catolicismo - Como vêem o futuro, no que diz respeito à atuação no meio operário? GCA Temos certeza de que no meio operário existe muita resistência aos diversos tipos de subversão social, política, moral etc. Pretendemos atuar para transformar essa resistência em força de reação. Para isso dedicamos não só nossas presentes atividades, como toda nossa vida, sob o estandarte da TFP. Aprendemos com o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, Presidente da TFP, a não temer a luta de idéias, a confiar na Virgem, e a sermos homens de fé. E como homens de fé, continuaremos a lutar por nossos ideais, que são verdadeiros e eternos. Catolicismo - Haveria alguma mensagem final para os leitores de Catolicismo e o público em geral? CMS - Sim. Ao público, que não acredite no blefe da força das esquerdas. Aos patrões, que não cedam às chantagens dos agitadores. GCA - E a nossos colegas, nós diríamos: operários anti-socialistas, nossa hora é agora!

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CATOLICISMO, FEVEREil1O 1992

CATOLICISMO, FEVEREIRO 1992

"Catolicismo, passado transformado em presente pela sua fidelidade à Tradição. Presente gerador de futuro pelo seu espírito batalhador. " Plínio Corrêa de Oliveira Caro leitor, una-se a nós no apostolado da boa imprensa. Duas sugestões: 1) Tire xerox de algum artigo deste número que lhe tenha agradado especialmente, e o dê a seus conhecidos. 2) Indique-nos alguém de suas relações que possa se interessar pela nossa revista. Nós o procuraremos. Preencha para isso o cupom abaixo, não se esquecendo de colocar o telefone da pessoa indicada.

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"Pai Chico" - Como foi mesmo que aconteceu, "Pai Chico"? A Julio Bello - senhor de engenho, jornalista e político de realce no II Império - poucas coisas interessavam tanto como analisar um velho escravo, dos raros que então subsistiam. É ele mesmo que o afirma, em suas "Memórias de um senhor de engenho" (*). - E como é interessante ouvi-los falar!, acrescentava. - Mas como foi que aconteceu, "Pai Chico"? - "Nem sei como foi, meu bmnco. Coisa de quinze dias, se tanto, e ficou o mundo todo escuro pam o negro velho ... Agora sim é que estou am1mado. A fome lá em casa está morando comigo na beim do fogo. E o frio? Parece que o frio mora dentro da mata. Logo à boca dà noite mete-se num grande capote bmnco e vai descendo pelos corgos (córregos) para aperriar os pobres ... " Como fizera o cego para ir até o engenho?, quis saber Bello. - "Por infelicidade nem tenho um neto pequenino, menino macho, que me sirva de guia pam vir aqui e noutros lugares, escondido, pedir uma esmo linha. Tenho uma neta, muito viva, alegre como uma novena do Senhor São Benedito de Peroba, acesa que só uma coivara (queimada) de capim no verão. Deus me defenda de andar com um perigo daquele por esse meio de mundo de perdição adentro". E apontando uma negra já meio velha, descalça, maltmpilha que lhe viem servindo de guia, acrescentou: - "E essa Senhora teve a caridade de vir mais eu. Se não fosse ela ... " "Pai Chico" tinha uma certa mágoa. É que a polícia da época proibia pedir esmolas. E ele estava no caso. Certamente isto ocorria por força de alguma lei anti-paternalista. Os novos "homens emancipados" que se transformassem logo em uma engrenagem da máquina social, ou então, que fizessem o favor de morrer de CATOLICISMO, FEVEilEIRO 1992

fome, em um canto escuro, sem estragar o espetáculo do progresso ... A pretexto de abolir o paternalismo, cancelava-se a paternalidade e a caridade cristã. E o pobre "Pai Chico" a lamentarse tristemente, mas sem amargor: - "Ninguém botava a faca nos peitos: 'Tem que dar!' Pedia-se ... Mas os soldados não querem. Ameaçam a gente com a cadeia. Isso é lá lei! Ah tempo do Rei velho! Tempo de Dom Pedro".

*** Há qualquer coisa que comove neste relato. Será simplesmente a pena que desperta um velho preto, pobre e cego? Certamente, existe essa pena, mas há algo mais. Há uma certa forma de paciência, um certo tipo de doçum, um certo modo de bondade, tudo isso aliado a uma boa dose de charme, para o qual a raça negm é especialmente dotada. Tudo isso transparece em alguns dos ditos do "Pai Chico". O povo brasileiroi de modo geral, não é insensível a esse dom dos pretos. Por esta razão entre outras, de modo geral não existe racismo entre nós. O próprio Mandela - comunista e terrorista sul-africano, hoje promovido a herói por certa mídia - reconheceu inicialmente não existir racismo no Brasil, cm sua recente viagem a nossa Pátria. Nos dias segµintes, pro-

vavelmente devido a pressões dasesquerdas, resolveu atenuar de alguma forma o que havia afirmado anteriormente. Muito mais qualificado do que ele para dar uma opinião a respeito foi o Barão do Rio Branco. Este, sem deixar de censurar a escravidão, recordava que, no Brasil, "não fora ela essa cruel exploração do homem, que se viu em colônias de países, orgulhosos, entretanto, de suas civilizações". A referência à Inglaterra é translúcida no trecho. Em nosso País, acrescentava, "não se poderia ter escrito 'A Cabana do Pai Tomás'", obm famosa que, como todos sabem, retratava a triste situação dos cativos nos Estados Unidos. "O emprego de braços pretos inspirava-se na caridade cristã e na doçura patriarcal, bem da índole da raça. Entre senhore.s e servos estabeleceu-se logo um vínculo cheio de bondade e de submissão, esta indo às vezes à mais absoluta dedicação" ("Reminiscências do Barão do Rio Branco"). Hoje é moda não mais aceitar esse fato como realidade histórica. Deixando de registmr um traço de nossa alma nacional, o que se consegue é apenas cosmopoli tizar o Bmsi 1, desfigurando-o.

LEODANIELE (*) Livraria José Olympio Editora, Rio de Janei-

ro, 1948.

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O HISTÓRIA

Surpresas do recém-nascido Brasil Fatos pitorescos ocorridos no relacionamento entre portugueses e silvícolas à epoca do Descobrimento

E

screvendo Pero Vaz de Canúnha sobre o descobrimento da Terra de Vera Cruz a el-rei de Portugal, Dom Manuel, em abril do ano 1500, relata as maravilhas que aqui encontrou, suas riquezas e recursos quase infinitos.

"Era uma terra graciosa e toda chã e querendo-a aproveitar dar-se-á nela tudo por causa das águas que tem", narrava Canúnha. E acrescentava: "contudo o melhor que dela se pode tirar parece-me que será salvar essa gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar para nela se cumprir e fazer o que Vossa Alteza tanto deseja: o acrescentamento da nossa

No ano de 1560, por exemplo, escreveu da Bahia o padre jesuíta Rui Pereira: "Se houvesse paraíso na terra, eu

diria que agora o havia no Brasil ....

Uma surpresa: os canibais A maior surpresa encontrada pelos portugueses em sua chegada ao Brasil foram os índios, gente que não haviam encontradoemnenhumaoutra parte do mundo. Todos nus, homens e mulheres com suas peles tingidas em várias cores, não davam quaisquer mostras de vergonha ou temor, nem cumprimentavam a ninguém, ficando de pé a olhar os visitantes em silêncio. Caminha escreveu com satisfação ao vê-los: "Esta

gente amável, simples e inocente só precisava da doutrina cristã, para se voltar para a luz como as flores". Mais tarde, porém, os nússionários e colonizadores se deFé". ram conta de que nem tudo Desta maneira esperaneram rosas. çosa se referia ele aos ínVários cronistas daqueles dios aqui encontrados, c tempos descrevem os indígeque pareciam estar abertos nas como não tendo nenhupara aprender a doutrina e ma religião, nem lei, nem tudo quanto se lhes ensinasforma de governo, exceto as se. . do mais forte, como os animais selvagens que vivem em rebanhos. Desta maneira, Elogio do Brasil viviam desordenadamente, Nenhuma outra parte de sem terem além disso conta, seu vasto império, no século peso e medida em nada. XVI, Portugal amou tanto Baltasar Ferreira atacando o Hipupiara, que os índios Sua única ciência era a como o Brasil. Os cronistas consideravam o demônio das águas floresta, e seu objetivo na daquela época naturalmente relatavam as conquistas portuguesas na Saúde não há mais no mundo; ares vida caçar, comer e beber em abundânÁsia - Goa, Cochim, Dio e Málaca. .frescos, terra alegre, não se viu ou- cia, combater e matar. Eram seres huFalavam também dos entrepostos e for- tra; os mantimentos eu os tenho por manos inteiramente rudimentares, ferotalezas no continente africano, bem melhores. E além disto há cousas em zes, astutos, mentirosos e traiçoeiros. E como das ilhas do Atlântico - Madei- tanta abundância, que, além de se da - além do mais, muitos índios do Brasil ra, Cabo Verde, Açores e São Tomé. rem em todo o ano, dão -se tão facil- eram canibais, conúam carne humana. Mas nunca de modo tão interessante, mente e sem as plantarem que não há "Gente pior que os animais", gritavam pitoresco, pormenorizado e com tanto pobre que não seja farto com muito os portugueses horrorizados depois de sentimento, como quando se referiam à pouco trabalho. Pois se falarem de presenciarem a vários casos de selvanossa Terra de Santa Cruz. recreações, comparando as de cá com gens comendo outros selvagens e mesTestemunhas disto foram a histórica as de lá, não se podem comparar. E mo portugueses. Pareciam ter chegado carta de Caminha e os relatos dos outros quem me não quiser crer, venha expe - àquele estado através de decadências sucessivas. cronistas que se lhe seguiram. rimentar". 22

CATOLICISMO, FEVEil.EIRO 1992

Demônios das terras e dos mares No recém-nascido Brasil, o perigo de um assalto indígena não era o único a preocupar a imaginação dos portugueses. Daqueles mares e terras, até então completamente desconhecidos de todos, nunca se poderia saber o que viria. O Bem-aventurado Anchieta, em suas famosas "Càrtas", escreve: "É coi-

sa sabida e pela boca de todos corre, que há certos demônios, a quem os brasis chamam Curupira, que acometem os índios muitas vezes no mato e dão-lhes açoites, machucam-nos e matam-nos". E prossegue o Apóstolo do Brasil: "Há nas praias os fantasmas a quem chamam baetatá que é todo fogo, que corre de um lado para outro, acomete os índios e mata-os também". Há um caso famoso, ocorrido na Capitania de São Vicente, no ano 1564. Saiu certa noite um monstro marinho à praia, visto por Baltasar Ferreira, filho do capitão; uma figura horrenda, que avançava com passos incertos, soltando rugidos sinistros.

Depois que o bicho se ergueu sobre sua cauda e avançou sobre Baltasar, este enterrou-lhe uma espada na barriga. O animal ferido lutou com unhas e dentes até receber outro golpe na cabeça, que o atordoou. Despertados pelos gritos, os homens da aldeia logo acudiram a Baltasar, desmaiado e ferido, e acabaram de matar o monstro. Pela manhã, estaba ali estendida na praia a carcaça daquele estranho ser, que animal terrestre nem peixe, media 15 palmos de comprimento, tinha pêlos em Lodo o corpo, cauda de peixe, braços com garras e orelhas pontiagudas. Os índios diziam que era o Hipupiara, o demônio das águas. Deste monstro foi feito um desenho, que ficou para a História.

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á um século um Papa já avisava: o comunismo só podia dar no que deu "Substituindo a providência paterna pela providência do Estado, os socialistas vão contra a justiça natural e quebram os laços da família. Mas, além da injustiça do seu sistema, vêem-se bem todas as suas funestas conseqüências, a perturbação em todas as classes da sociedade, uma odiosa e insuportável servidão para todos os cidadãos, porta aberta a todas as invejas, a todos os descontentamentos, a todas as discórdias; o talento e a habilidade privados dos seus estímulos e, como conseqüência necessária, as riquezas estanci das na sua fonte; enfim, em lugar dessa igualdade tão sonhada, a igualdade na nudez, na indigência e na miséria[ ... ] Fique, pois, bem assente que o primeiro fundamento a estabelecer para todos aqueles que querem sinceramente o bem do povo, é a inviolabilidade da propriedade particular" (Encíclica "Rerum N ovarum" de 15 de maio de 1891, "Documentos Pontifícios.,, Vozes, Petrópolis, fase. 2, 6a. ed., 1961, pp. 10-11 - negritos da redação).

LEÃO XIII CATOLICISMO, FEVEil.EIIl.O 1992

23


0 HAGIOGRAFIA

;"

rentin - Bernadette era considerada como um espelho sobre. natural. Era observando sua fisionomia que se constatava o · início e o fim da aparição. Discernia-se em seu rosto não apenas o maravilhamento diante da Virgem, mas também um reflexo dAquela que lá estava, invisível para os demais: espec ia lmen te a tristeza da Imaculada, quando se referia aos pecadores. Este transluzimento impressionou os que conheceram Bernadette de modo estável, provocando mesmo conversões'' (V-1-81)(*). Quando alguém, impressionado com o fato de tão rude criança ter gestos tão encantadores, tão belas saudações, sorrisos tão indescritíveis, lhe punha a questão, recebia a resposta: "Faço como a Damaf' "A mensagem de Lourdes não é uma simples coleção de palavras, é um conjunto de atos e acontecimentos cheios de significado: 'uma gesta', como se dizia na Idade Média. "Esta mensagem é manifestada pelos gestos e atitudes da aparição e pelos de Bernadette, os quais são, por sua vez, de dois tipos: alguns são executados por ordem de Nossa Senhora e outros imitando-A .. .. Assim, Bernadette é para Lourdes, guardadas todas as proporções, o que Abraão foi para Israel e o que Maria é para a Igreja" (H-6, 256 a 260).

\

Confidente e instrumento da Imaculada Conceição O que Nossa Senhora é para a Igreja e Abraão para Israel, Santa Bernadette Soubirous é para Lourdes ode-se dizer que um bom número das Lourdes e Marias de Lourdes existentes no Brasil, cujas idades girem em torno dos 30 anos, muito provavelmente ignoram a razão pela qual foram batizadas com tais nomes. Se não, faça o teste, leitor. Menos ainda saberão elas próprias que considerável número de capelas e igrejas brasileiras são dedicadas ou têm altares, quando não grutas interiores ou exteriores, em louvor de Nossa Senhora de Lourdes - cuja festa a Liturgia celebra a 11 de fevereiro - e que isto tem relação com os seus nomes de batismo. Tendo em vista difundir o conhecimento de Nossa Senhora de Lourdes e a devoção a Ela entre os fiéis em geral, apresentamos o artigo que segue.

P

***

Olhar sereno, firme, profundo, puro e equilibrado até o mais sito grau: seu nome encheu seu século, perpetuou-se no nosso e brilhará enquanto o mundo for mundo. No Céu os Anjos cantam seu louvor. É Bernadette Soubirous, Incluída pelo Santo Padre Pio XI no rol dos Santos!

As aparições de Nossa Senhora a Santa Bernadette Soubirous, em Lourdes, revestem-se de uma singularidade desconcertante à primeira vista, paradoxal mesmo. É evidente que a Santíssima Virgem quis aparecer para transmitir uma mensagem, fazer um apelo. Tudo porém se passa como se fosse

Missão a ser cumprida junto de ·outrem, a vidente só recebe uma: "Vá dizer aos padres que se construa aqui uma capela e que se venha em procissão" .

um favor espiritual de caráter priva-

acontecimentos significativos

do para a vidente. Não há nenhuma revelação, nenhuma profecia, nenhuma mensagem pública a ser comunicada.

As dezoito aparições tiveram duração total de doze a quinze horas. E o resultado deste longo colóquio foi uma dúzia de frases curtas que Berna-

24

Mensagem: atos e

dette escreveu certa vez no verso de uma estampa! Compreendemos, pois, que o melhor nos encontros era a pura contemplação. Ou seja, a Virgem Imaculada veio a Lourdes fazer aquela pobre, ignorante, desprezada e preservada virgem da terra mergulhar num inefável convívio celeste. E aqui que tocamos no âmago do papel de Santa Bernadette nas aparições. "Durante o êxtase- comenta seu conhecido biógrafo, Abbé Réné LauCATOLICISMO, FEVEREIRO 1992

Simplicidade, candura, modéstia, inocência São estas as qualidades que, com mais freqüência, encontramos na pena e nos lábios de quase todas as pessoas que tiveram contato com a Santa, mesmo opositores. E é preciso . notar que são testemunhas independentes entre · si, em épocas diversas, que quase nunca se conheceram. Assim reza o Mandamento episcopal (18 .1.1862) de Monsenhor Bertrand-Sévere Laurcnce, Bispo de Tarbes, a diocese onde se situava o local das aparições: CATOLICISMO, FEVEREIRO 1992

"Quem não admira, no contato com ela (a vidente) a simplicidade, a candura, a modéstia dessa criança? Enquanto todo mundo comenta as maravilhas que lhe foram reveladas,

somente ela guarda silêncio, não fala senão quando interrogada; então conta tudo sem afetação, com uma ingenuidade tocante; e, às numerosas questões que lhe são apresentadas, dá sem hesitação respostas claras, precisas, cheias de propósito e carregadas de forte convicção. Submetida a rudes provações, jamais se deixou abalar pelas ameaças; às ofertas mais generosas, respondeu sempre com um nobre desinteresse. Sempre fiel a si mesma, durante os diversos interrogatórios a que foi submetida, manteve constantemente o que já dissera, sem nada acrescentar e nada subtrair. A sinceridade de Bernadette é portanto incontestável. Acrescentamos que ela é incontestada. Seuscontraditores, quando os teve, renderam-lhe eles próprios esta homenagem" (S - 192194).

Nesta enfermaria, no Convento de Salnt-Gildsrd (Nevers), Santa Bernsdette faleceu em 16 de abril de 1879

25


AfOLIC1IS O jesuíta Pe. Leonardo Cros é sem dúvida a pessoa a quem rfiaís deve a História de Lourdes. Ele recolheu o depoimento de mais de 200 testemunhas das aparições, desencavou documentos que se julgavam perdidos, saiu encarniçadamente a campo para conseguir a documentação que as autoridades queriam ocultar. ~!e esteve

nela, em qualquer coisa que seja, a menor nesga de querer ocupar-se consigo mesma, de voltar-se sobre si ... . Creio que é impossível reter na memória a impressão p lena de wna aparição sobrenatural: pois bem, eu não consegui reter na memória a fisionomia de Bernadette ... " (D - 7, 46 7 a 470).

O cumprimento de sua missão foi perfeito em conseqüência do conhecimento que tinha de si mesma: tudo lhe fora concedido por mero dom da graça divina, de modo extraordinário e superabundante. Daí um sentimento de grati dão, que é uma nota tônica de sua vida e chegou mesmo a ser um dos seus tormentos até a

E Não se pode vender a pele do urso antes de t:ê-lo matado. O homo sovieticus continua habit,a,ndo nossos partidos, nossas empresas e nossas consciências (André Glucksman)

Ninguém pode decretar o fim da lut,a, de classes como se abre e fecha uma temporada de caça ("L'Humanité", jornal do PC Francês)

Se eu nã,o existisse, Gorbachev deveria invenwr-me! (Yeltsin)

Não te preocupes em fazer propaganda anti-religiosa, utiliza os cristãos na luta de, classes e verás como, por si sós, perderão a Fé (Lênin)

Esquerdismo no Brasil é coisa de ' ' clube rico e de sacristia (Plinio Corrêa de Oliveira)

EJvl

duas vezes com a vidente. Do primei- "Minha missão em Lourdes ro encontro, relata a um amigo: está cumprida" "Tudo respira inocência nesta Na Encíclica sobre o centenário moça de 20 anos. Vi uma foto sua, das aparições, de 2 de julho de 1957, mas não mostra o que ela é. Se lhe o Santo Padre Pio XII afirma: "A Sancair uma nas mãos, não pense que viu tíssima Virgem vem até Bernadette, Bernadette .... Ela não parece suspei- faz dela sua confidente, a colaboratar o extraordinário de sua posição" dora e o instrumento de sua maternal (D - 7,351). ternura e da misericordiosa onipoE noutra ocasião, assim se exprime: tência de Seu Filho, para restaurar o "Ela tem um porte de uma sim- mundo em Cristo, por wna nova e plicidade santa. É imposs{vel en- incomparável efusão da Redenção" contrar ou mesmo surpreender · (E - 52~)-

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hora da morte: ela queria "agradecer até o fim ". E sentia grande medo de não ter correspondido. O resto, para ela, não importava ...

• B ERNARDO MARIA DA CRUZ

(*) Siglas das fontes utilizadas no presente artigo. Quando a obra tem mais de um volume, o primeiro número indica o volume e o segund o a página. D - Lourdes - Documents authentiques Abbé Réné Laurentin, Lethielleux, Paris, 7 volumes, 1956/1965. E - Les écrits de Sainte Bernadette -présentés par André Ravier, SJ , Lethielleux, Paris, 1980, 2eme édition. H - Lourdes - Histoire A uthentique, Abbé Réné Laurentin, Lethielleux, Paris, 6 volumes, 1961A964. S - Sainte Bernadette - La confidente de /'lmmaculée - Màre Marie-Theràse Bordenave, Saint-Gildard, Nevers, 1982. V - Visage de Bernadette, Abbé Ré né Laurentin, Lethielleux, Paris, 1978, 2 volumes.

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P~lr--JEL

Dois rapazes picharam, com dizeres desprovidos de matícia, a base do Cristo Redentor, no Corcovado. Fizeram mal. Freqüentaram as manchetes, e depois foram para a cadeia. Soltos, vão ter de executar ao longo de meses outros castigos, determinados pela autoridade judiciária. Enquanto isso, lá no alto, bem junto ao mesmo Cristo, vídeos cujos títulos uma revista católica não pode reproduzir, estarão corrompendo a juventude, às escâncaras. Sem barulho. Nem punição. Não será isto bem mais sujo do que o piche?


oucas pessoas no Brasil têm uma noção do real estado de conservação do corpo de San ta Bemadette, a vidente de Lourdes. No dia 16 de abril de 1879, Bemadette - em religião Irmã Marie-Bernard - morria na enfermaria chamada de Santa Cruz do Convento SaintGildard (França), onde professara como religiosa: tinha 35 anos. Seu corpo firou exposto à veneração pública até o dia 19 de abril. No dia 30 de maio do mesmo ano, seu caixão foi depositado numa cova da Capela São José, nas proximidades do Convento Saint-Gildard. Segundo exigências canônicas e da lei civil, no dia 3 de abril de 1919, os Drs. Talon e Comte procediam a novo "reconhecimento do corpo". Após o exame, cada um dos médicos isolou-se numa sala, sem se comunicar com o outro, e redigiu seu relatório pessoal. Ambos os relatórios concordam perfeitamente entre si . . A 18 de novembro de 1923, Pio XI declarava a heroicidade de virtudes de Bernadette. A via estava aberta para a beatificação. Para esta proclamaçiio era necessário proceder-se ao terceiro e último "reconhecimento do corpo". No decurso dessa exumação seriam retiradas as relíquias para serem enviadas a Roma, Lourdes e para as Casas da Congregação a que pertenceu a extinta. Esse "re-

P

conhecimento" se deu a 18 de abril de 1925, a quase 46 anos da morte de Bernadette. Destacamos o seguinte tópico do relatório redigido pelo Dr. Comte: "Deste exame concluo que o corpo da Venerável Bernadette está intacto, o esqueleto completo, os músculos atrofiados mas bem conseroados; a pele enrugada parecia ter sido a única a sofrer o efeito da umidade do caixão, ela apresentava uma tez cinzenta e recoberta de algum mofo e de uma quantidade bastante grande de cristais e sais calcários; mas o corpo não parecia ter sofrido a putrefação nem a decomposição cadavérica habitual e normal depois de uma tão longa estadia numa cova aberta na terra". A 14 de junho de 1925, Pio XI canonizou Bemadette proclamando-a oficialmente "Bem~ aventurada". No dia 18 de julho, o corpo da Santa foi colocado num relicário confeccionado pela casa Armand Caillat-Cateland, da cidade de Lyon. Um escultor revestiu então o rosto e as mãos da Santa com uma leve camada de cera protetora. No dia 3 de agosto, o relicário foi solenemente transportado para a capela do Convento Saint-Gildard, em Nevers, onde o corpo se encontra incorrupto há mais de 110anos. Ver an/gQ nas páginas 24 a 26

LUIS CARLOS

ZEVEDO


UR S no impasse


MARÇO de 1992

Discernindo, distinguindo, classificando ...

Nem um só ...

_Assesta.:n.d.o o

Coco

Episódio da insurreição pernambucana lembra o Brasil autêntico leitor imag ine um rio que, após partir de suas nascentes, vai se avolumando; tem peixes variados, margens belas, uma planície vasta e fértil à sua frente, enfim prom ete ser um grande e prestigio o rio . Porém , em certo momento, vem alguém e, de posse de ex plosivos potentes, dinamita o leito do ri o, desviando-o para uma região a um tempo pantanosa e pedregosa. Quem conhecer esse rio só no pântano e nas pedras dirá:

O

preserv ou esse veio, cumpre procurálo com cuidado, apoiá-lo, presti giá- lo, até que uma bênção ele D eus faça dele o que a bênção de Jesus fez da água de Caná: tran sformou -a em vinho e o multi pi icou. Diz, porém , com razão, um adágio popular: quem não sabe o que procura, não sabe o que encontra. Para encontrar esse veio em torno de nó. , talvez em nós, é prec iso saber o que estamos procurando. E, para i to, é d

Que horror! Não tem j eito. Mas, quem o co nhecer também no seu traçado natural e primeiro, poderá acrescentar: Há

uma esperança de se tornarem , estas águas negra!; e poluídas,as águas cristalinas e caudalosas que de veriam ser, caso se consiga que o rio retome o curso que lhe estava destinado; apesar de toda s as aparências em contrário, este rio pode ter um grande futuro.

Assalto dos holandeses a Alagoas do Sul

Esse rio t em um nome. Chama-se Brasi l. Quem poderá fazer com que ele volte grande ajuda conhecer o Bra sil autêna seu curso primeiro, vindo do impul- ti co, como ele fo i, ou melhor, co mo so dado nas ori gens por g igantes ele co meçou a ser. como Anchieta , N óbrega e ta ntos ouHaveria nesse senti lo t da uma tros? Quem poderá tirá-lo le. te ato- Hi stória do Brasil a ser es rit a. N ão a leiro para o qual o desv iaram sucess i- hi stóri a do desvio, 111 a a1r nd va s influências de homens sem fé , mos nas sco las, v rdad ira 111 muisem moral , sem quaisquer princíp ios tos pont s, mas unilat eral. ~ sim a de ordem superior? hi stóri a dos d sígni s d D us para Nós, hoje, tanto afundamos no ·no a Pátria , 01110 el s f'oram s f'apantanal dos problem as inextricá veis, zenclo rea I idacl no passa d , como há e tanto nos debatemos contra obstácu- um fi lão cri stalino que p r111an ce los pedregosos insuperáveis, que a ta- sem se contaminar; ou, 111 muitas refa parece impossível. M as, olhado almas, mi turaclo à ganga e ao lodo, com atenção o Brasil contemporâneo, mas enfim perm anece. ainda nele se pode discernir um certo Um dia e a hi tóri a se fará. Mas ve io de almas (ou um ce rto veio nas desde j á alguns epi ód io podem ir almas de muitos) que não se deixou sendo lembrados. Aqui r co rdo tãoco ntaminar pelo lodo, e mantém algo só um fato do éculo XVII. *** do Brasil autênti co. Se a Providência 2

Os ca lvinista holandeses buscavam apr fundar seu domínio em Pernambuco A lagoas. Brasi leiros e portugueses, branco , n gros e índi o res 1st1 am como p li '1m, ma. não ele isti am nem e nlr gavam. A nota de fé, de heroísmo, a n ção ela integridade luso-brasileira ele todo o territóri o nacional estava muito viva. Numa carta que as autoridades holancl S' IS em Recife enviaram ao Governo ele sua nação, em 9 ele julho ele 1648 , transparecem bem o impasse em que se encontravam os invasores e a força el e alm a el e nossos patrícios:

" Por aí podem Vossas Altas Potências julgar que tudo aqui deixa pre ver uma guerra tão longa de duração , como de dispêndio, com sucessos incertos, ao passo que, no caso de um bom êxito, ser-nos-á deixado pelo inimigo apenas um país esgotado e cheio de desolação, porque todo o seu procedimento tende a mostrar que intenta manter-se com obstinação, def endendo-se a todo tran se. "Apesar de soj i·er quase diariamente rr: veses por ág ua e ter precisão de n111i1as 011 /ras cousas de necessidade, tais co1110 vestuários, carne etc., e de estar continuamente em sobressalto, apesar c1 , tudo isto , rej eitaram o perdão que l/1 esfoi oferecido , nem um só veio ter ·onosco, e persistem obstinadamente em sua rebelião"(*). Nesse tex to, todo ele comovente, três palavras sobretudo me emocionam: " nem um só". Sim , em meio à fome, a todo tipo ele provações e sofrimento s, nem um só brasileiro se dobrou ante o calvinista invasor.

Qua] a solução para tal impasse?

quebra dos grilhões que mantinham unidas as diversas nações da ex-URSS não trouxe um mar de rosas, mas apresenta aspectos perturbadores.

É oportuno lembrar que muitas dessas regiões, desejosas de sua independência ou já independentes, possuem armas atômicas. Vendo ameaçadas suas esperanças de entrar para o concerto das nações livres, podem lançar-se numa aventura nuclear. Hipótese na qual dificilmente não ficaria envolvido o Ocidente.

Salientamos, em artigo publicado nesta edição, o manifesto desejo de independência, nem sempre bem ponderado, por parte daquelas nações. Seguindo a máxima moderna "a cada etnia um Estado" - cabe perguntar se os numerosos povos submetidos à tirania comunista, a qual se seguiu ao absolutismo tzarista, estariam aptos a constituírem países convivendo pacificamente entre si_ Ou se, ao contrário, por efeito de um atavismo secular, ver-se-iam tentados a impor uns aos outros sua pretensa supremacia. Nesta hipótese, que é muito de se considerar, a relativa paz com que as mudanças vêm-se dando, nos países do Leste, apresenta pouca consistência.

No momento em que concluímos esta edição, a tentativa de vincular a ajuda ocidental - de que o Leste necessita para sobreviver - à destruição dessas armas foi categoricamente rejeitada pela Rússia. É de se temer, pois, que amplo auxílio continue sendo fornecido pelo Ocidente, sem condições suficientes para evitar os conflitos. E, assim, o futuro, aparentemente tranqüilo, da pós-perestroika apresenta-se carregado de incertezas.

SUMÁRIO Internacional

Ao vivo -

O Serviço de Imprensa da TFP no seu dia-a-di a

-

Uma an áli se do impasse na ex- URSS

6e9

13 Caderno Espec ial

17 Comente, com ente... 18 Hislóri a

16

20 Escrevem os leitores

2

D iscernindo ... H istória Sagrada

2 26 27

Entrevista -

Chefe ele Polícia de M oscou fa la a

Catolicismo

24

Re lig ião Educação Frases cm Painel

AfOlJCISMO

C.A. (*) A cana é ass inad a por W. V. Shoucnb rch, Henclr. Haccx. M. van Goch, Sim ão va n Bcam ont : in Maj . A nt oni o S. Junior, Do Rec611cavo aos G11ararapes, Biblioteca Militar, 1949 .

Catolicismo é uma publicação mensal da Editora Padre Belchior de Pontes Lida. Diretor: Paulo Corrêa de Brito Filho. Jornalista Responsável : Takao Takahashi - Registrado na DRT-SP sob o N' . 13748. Redação e Gerência : Ru a Martim Francisco, 665 - 01 226 - São Paulo, SP - Tel: (011 ) 825.7707. Fotocomposição: (direta, a partir de arquivos forn ecidos por Catol icismo) Microform as Fotolitos Lida. - Rua Javaés 681 - 011 30 · São Paulo - SP; Impressão: Grálica Editora Camargo Soares Lida . . Ru a da Independência 767 · 01524 · São Paulo, SP. Para mudança de endereço é necessári o mencionar também o endereço antigo. A correspondência relativa a assinatura e venda avulsa pode se r enviada ao endereço da Ge rência .de Catolicismo. ISSN lntern ation al Standard Seri al Number - 01 02-8502

CATOLICISMO, MARÇO 1992

3


• - Alô, aqui é da TV .Jovem Pan de São Paulo. Estamos fcnendo hoje às 19:00 hs um debate ao vivo sobre a ditadura militar brasileira , e gostaríamos que alguém da TFP comparecesse. Nosso estúdio .fi'ca aqui na Barra Funda. - O Presidente do Conselho Na cional da TFP , Prof Plinio Corrêa de Oli veira , manda-me agradecer-lh e o amável convite para participar desse debate; o convite, entretanto, veio muito em cima da hora e não há , de momento, ninguém disponível para comparecer ao seu estúdio. - Não pode ser, vocês têm de comparecer, pois não há ninguém da direita para debater e a coisa vaiftcar sem graça. - Lamentamos muito, da próxima vez convidem com antecipação que veremos o que é possívelfazer. ***

Oserviço de imprensa todas as obras da Sociedade e, se possível,fazer uma entrevista com o Prof Plínio Corrêa de Oli veira. • - Diga ao Dr . Plínio que ele tem um admirado r in condicional aqui em São Ca rlos (SP) foi o recado qu e o dono d e um do s mai s destaca d os jornai s dessa c id ade do in ter ior pa uli s ta pe diu

que tra n ·mitíss im os ao Pres ide nte da TFP. • Por fa lar em Dr. P linio, o chefe de redação do ma io r jo rnal do ABC paul ista, em conversa te lefôni ca co m um dos ec re tá ri os de imprensa, in s i tiu no sentid o de que e le m a nte nh a um a co luna periódica e m seu j orna l.

MJNSA_~

da TFP ao vivo • Já o utro jornal da reg ião telefonou a fim de tratar dos porme nores pa ra abrir um a co luna da TFP em suas páginas.

• -Aqui é C J. G., de Corumbá . Meu j ornal agora passou a ser diário .. . - Minha sfelicitações por isso .. . - ... e gostaríamos de receber mais material da TFP , pois há bas-

••nk!!.f: . Há wn 8110 Plinio Corrêa de

M(l)!AN[ IR,.;"710t W,,R Ç0 Df l Nt

15

Oliveira inhw'Pela responsáveis pe las cnu,1ldades no Leste

ponde nosso secretário de impre nsa

TFit;;;·surge pela autonomia da Lituâni:t -

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• -Olhe, aqui é .J.B.R. , de Barueri (S P). Será que a TFP não poderia me mandar matérias religiosas para publicação em meu jornal? O pároco aqui é muito progressista e escreve matérias de que não gosto, mas nosso povo sente muita falta de Religião. - Pois não, sr. J.B. , com muito gosto. Estou lh e en viando hoj e mesmo dois artigos do Prof Plínio Corrêa de Oli veira sobre o Nata l. - Ótimo, ótimo/

LU IS CARL S A ZEVEDO (' ) Não estranhe o leitor o anonimato nesta redação. Por mais que se diga que vivemos em um regime de democracia plena, ninguém , por certo, julgará temerário nosso receio de que alguma eventual pressão possa se exercer sobre pessoas e órgãos de imprensa simpáticos à TFP. Queremos deixar nossos simpatizantes e amigos livres de represálias.

• - Alô, aqui é de Brasília. Meu nome é M. O. Vou defender uma tese de mestrado sobre a TFP e gostaria de saber como proceder para adquirir 4

organ ização séria neste País!"

E ass im , um po uco por toda parte, foram se multipli cando ao longo do ano os co ntatos cio Serv iço ele Imprensa ela TFP. Ca be ria, ta lvez, d izer uma palavra so bre a mídia macrocapita li sta. A maiori a ele seus ó rgãos mantém em re lação às ativid ades da TFP rigorosa "campanha ele sil ê nc io" . E, às vezes, o boi cote chega a ser tota l. Exemplo recente: o clesfi le ele 2.000 pessoas que praticame nte dom in o u o centro de São Pau lo, no iníc io ci o VIII Encontro Internaciona l de Co rrespon dentes e Simpatizantes da TFP, e m 3 ele jane iro últim o (cfr. Catolicismo, fevereiro/92). A discrim inação de certos órgãos da mídia em re lação à entidade é particularmente notóri a, pois e les ap licam uma política de dois pesos e duas med idas: um a questão judic ial e ntre dois vizinhos, por causa ele um papagaio, me rece foto e ch<Unada de prime ira pág ina; um desfil e que, durante horas, maravi lhou os pau listanos, passa em branca nuvem. E como se só agr<U1cle imprensa nada tivesse visto ...

***

- que uma dupla de cooperadores da entidade aqui de São Pau lo está partindo para sua cidade, e lhe dará pessoalmente as i11formações que queira . - Muito obrigado, muito obrigado. Fico aguardando então.

Esse jornal pub li cou na íntegra, e m várias edi ções sucess iv as , os pareceres jurídi cos dos P rofesso res O rl ando Gomes e Sílvi o Rodri g ues sobre a leg itimid ade, e m certas co ndi ções, da res istê nc ia à mão armada contra in vaores de terra. R eprodu z iu ainda em s uas páginas vários outros comuni cados de impre nsa da TFP.

dação ele um jornal do inte ri o r cio Rio Grande cio Su l. E , na mes ma reg ião, o utro jornali sta, clono ele jorna l, di sse: "A TFP é a única

***

Esse diálogo te lefônico , e ntre o repórter daquela TV pauli stana e um dos secretários de impre nsa da TFP · brasil e ira, é uma amostra de muitas outras chamadas do gêne ro ocorridas no decurso de 1991. Como o le itor de Catolicismo mui to provavelmente não tem idé ia de como se passam essas co i ·a , pareceu-nos interessante ilu trar um p uco o assunto: o S rvi ço de Impre nsa da TFP está, poi s, s ap res ntand o aq ui be m ao vivo.

• - Aqui é C. da C. (*) de D. Pedrito (RS). Tenho 16 anos e li várias notícias sobre a TFP no jornal de minha cidade. Gostaria de saber como a gente faz para entrar para aTFP. - Aguarde um pouco mais - res-

tante espaço disponível.

• - Se eu pudesse, en traria para a TFP, pois vocês são a salvação do Brasil' - exc la mo u o chefe de re-

CATOLICISMO, MARÇO 1992

CATOLICISMO, MARÇO 1992

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0 INTERNACIONAL

MUdança de bandeira ... O desmantelamento da ex-URSS prossegue em meio à confusão, mas as velhas

estruturas do poder permanecem intactas e sociedades secretas de comunistas estão sendo constituídas em diversos países do Leste show encenado em agosto último - tomada do poder pela " linha dura", enquanto Gorbachev descansava na Criméia - parece ter deixado poucas a lternativa para a suposta vítima, o então Presidente da URSS. De fato,com suas contradições flagrantes , - um Estado socialista conv ivendo com as leis de mercado, para só apontar este aspecto - a perestroika já não convencia a mais nin guém . Ademais, a heró ica res istência lituana demonstrou, a outros países ainda subju gados pelo tirânico poder vermelho, que o urso comun ista já estava sem garras e que bastava mexer-se um pouco para escapar de se u flácido abraço. Uma após outra, numa cadência quase militar, as repúblicas da ex-URSS seguiram o exemplo da pequena Lituânia. Assim, aos olhos espantados de muitos no Ocidente, viu- e Gorbachev presidindo uma URSS fantasma. Ele não tinha outra alternativa senão renunci ar. Na verdade, também o comuni smo teria de sair cio cenário político: no país da Revolução bolchevista, viu -se a aparente derrota cio com uni mo , provocada por. .. "ex"comuni tas. Terão e les abandonado de fato os dogmas socialistas? Questão com resposta pouco clara.

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estampadas nas páginas de jornais e revistas. As ima~ens são, o mais das vezes, fugazes. E preciso compreender, em profundidade, o alcance de tal acontecimento. Em certo sentido, pode-se dizer que a luta entre a Revolução e a Contra-Revolução obedece a regras da guerra medieval. Quando um exército se aproximava de outro, naquela época, os arautos de ambos os lados proclamavam as qualidades de seu chefe e de seu exército; o desafio ao adversário e a convocação para que se submetessem ao seu senhor antecediam ao embate. Em ambos os campos tremulavam os estandartes, símbolos que consubstanciavam os ideais pelos quais cada um lutava. Ora, Karl Marx, ao escrever o "Manifesto Comunista" em 1848, foi o arauto principal da luta de classes. No palco mundial ecoou o brado ímpio: "Operários do mundo inteiro, uni-vos!" A foice e o martelo, sobre campo vermelho, começou a ter então um sentido preciso: a luta cio proletariado (camponeses e operários), até a vitória completa sobre a sociedade burguesa. Por mai s de setenta anos essa bandeira tremulou sobre o mais vasto dos impérios que até agora existiu. Aos súditos de tal império foi prometido o paraíso nesta terra. Porém, a misé ria na URSS, essa "vergonha de nosso tempo" <*), é que foi o resultado clamoroso da utopia comunista. Dir-seia que os comunistas, ao se verem forçados a abrir suas fronteiras, quiseram, antes de mais nada, enrolar seu pavilhão e pretender com tal gesto, cinicamente, que tudo mudava ...

Valor simbólico

Estrutura intacta: carência de dados

Seguiu-se o inevitável: a República Russa, a principal componente, a unidade-mãe (ou madrasta) da URSS, ao desfazer-se esta, tomou posse do Kremlin. E a bandeira comunista com a foice e o martelo foi substituída pelo pavilhão tricolor ru so. Para se aquilatar o alcance simbólico desse fato, verdadeiramente extraordinário, não basta ter visto as image ns transmitidas pela TV, da substituição de bandeiras, u as fotos

Qual a consistência de tudo isso? A vertiginosa e - ao menos na aparência-amplíssima mudança em curso não permite ainda um a análise acurada do que atualmente ocorre na ex-URSS. Devido à carência de dados seguros sobre os rumos que tais transformações lá estão tomando, a única realidade incontestável é a crise, em expansão, provocada por décadas de comunismo, somadas a peculiaridades regionais, históricas etc.

N I' 1, 1 ' IHMO, MAR

1992

CATOLICISMO, MARÇO 1992

Dentre os muitos pronunciamentos sign ificativos a respeito desses acontecimentos, destacamos o de Franço ise Thom, uma das principais sovietólogas da atua li dade. Comen ta e la: "É preciso compreender hem que [na exURSS] os mecanismos de poder no seio doaparelhode Estado não mudaram em absolutamente nada; não há nenhuma tran!fformação em profundidade. E, du-

rante esse tempo, o país se afunda cada dia um pouco mais na crise" (Entrevista a "Le Quotidien de Pari ", 27-12-91 ). Para ela, o que houve na realidade fo i apenas uma mudança de "razão social", isto é, mudou o nome do regime. Mas "é necessário estar consciente de que o comunismo é antes de tudo uma estrutura de organização do poder. Ora, essa estrutura está intacta".

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Rea lme nte. Para citar apenas um exemp lo da continu idade i:l'essas estruturas, lembramos que as polícias secretas de dive rsos países da ex-co rtina de fe rro - como é o caso da Romênia, Tchecos lováquia, Alemanha Oriental e Po lônia - ''.foram dissolvidas . Ma s, seus milhares de agentesficaram presentes de uma maneira ou outra nas engrenagens do Estado, onde se reconstituem, sob f orma de

associações secretas" ("Le Quotidien de Pari s", 2/3- 11 -9 1). Não se pode esquecer que, assim co mo Gorbachev, Bori s Ye ltsin é também um velho apparatchik, asaber, membro da nomenldatura do PC. E le, em um ano, como pres idente da Rú ss ia, nada fez que modificasse fundame ntalmente o regime. Dessa forma, "pode-se, pois, prever para Yeltsin uma sorte à maneira

de Gorbachev, e penso que ele não sobreviverá a Gorhachev por muito tempo" (Françoise Thom, id., ib.). Catolicismo sempre denunciou a imprudência ocidental (para dizer só isso!) em auxi li ar os planos reform istas de Gorbachev e simi lares. Neste sentido, a citada sovietóloga diz: "Até agora o Ocidente contentou-se em sustentar as forças que se pretendem reformistas , atribuindo-lhes injustan/ente virtudes democráticas. É um erro: assim não se f az senão tornar perene o poder dos caciques do antigo· regime, que simplesmente mudaram de bandeira".

0 INTERNACIONAL

Mosaico de nações em conflito? A máxima liberal "a cada etnia um Estado" conduz os povos da ex-URSS ao impasse

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R. MANSUR GUER IOS (*) Instrução sobre alguns aspectos da "Teologia da Libertação", 6-8-84, XI, 1O - Coleção Documentos Pontifícios, Voze s Petrópolis , 1984, 2~ ed. , vol. 203 , p. 39.

RÚSSIA

"Até agora o Ocidente contentou-se em sustentar as forças que se pretendem reformistas, atribuindo-lhes injustamente virtudes democráticas. É um erro: assim não se faz senão tornar perene o poder dos caciques do antigo regime, que simplesmente mudaram de bandeira "

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/\'l'0LICISM0, MJ\ll 'O 1992

queda da cortina de ferro , s imbo lizada pela derrubada do muro de Berlim em 1989, descortinou, é bem esse o termo, um novo mundo até então praticamente conhecido apenas pelos es pec ialistas: povos e etnias mantidos sob o guante de ferro do comuni smo começaram ase manifestar, procurando um lugar no concerto das nações. Nada mais normal.

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CATOLICISMO, MARÇO 1992

Impasse Dentro da Rú ss ia, entretanto, põese um problema insolúvel no que diz respe ito às várias regiões que a com~ põem.

Admitido o princípio - hoje praticamente elevado à condição de "dogma", tanto no Oc idente quanto no Oriente - de que "cada etnia tem direito a constituir um Estado independente", defrontamo-nos com um impasse. 9


Ass im , é academi came nte muito bonito imag inarmos um perito , em se u esc ritório , tendo di ante ele s i um ma pa elas RÚSSIA div ersas etni as que constituem o vasto mundo ela anti ga URS S, a desenh ar os contornos corres pondentes a cada um a de las, a indicar os limites el e novas nações . D epois, a e lege r a principa l cid ade co mo ca pital, e está feito um país. Na verdade, essas nações têm interesses antagônicos. E tendem a se ati rar umas contra as outras, no afã ele conseguir o que necess itam para o a te ndim e nto el e se u s d esejo s, el e modo imediato e global . Quer di zer, todas querem tudo já. E, nestas condições, é inteiramente impossíve l pe nsar na so brevivência dessas etni as como Es taci os ind e pe ndentes, se m que BIELO-RÚSSIA haj a, em nossos dias, entre e les g ue rras pa rc ia is,qu e, co nfor me o caso, podem degenerar, como numa eri s ipe la, em guerra gera l. Ac resce nte-se a isso qu e muitas el as reg iões es tão lo nge el e se r ho m ogê neas , co nstituind o-se qu ase num mo a ico ele e tni as. Des tas, em tod a avas tid ão el a ex-URSS , ex is te m ce rca el e ce m.

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De outro lado , se se for estabe lece r qualque r forma ele coordenação dessas etnia s por um govern o central , acaba send o que esse go ve rno toma

imedi atamente um caráter despóti co, e a inde pendênc ia de las e torna um a verd ade ira fa ntas ia. A atu al Co munid ade ele Estados Jncle pe ncl entes (CEJ), entid ade que proc ura unir onze das quin ze Repúbli cas da x-URSS , pa rece ser um a tentati va de e li d ir tal difi culd ade, estabelecendo a lg um a coo rdenação, a nosso ver com poucas proba bilidades de sucesso. Os laços qu e as une m são tênues etern ai , não chegando a co nstituir seque r uma commonwealth, po is pouco têm de comum , e não há riquezas a compartilhar. ..

A história recente E m 19 17 , Lênin p roc urou reso lve r o proble ma el a desunião de um modo drásti co, forçado, faze ndo com

qu e as re públicas convivessem sob o regime comuni sta, clanclo-lhes uma a p a r ê ncia el e autonomia de ntro cio conjunto UCRÂNIA s ovi é ti c o . O pró pri o n o m e di z ia: Uni ã o das Re públicas Soc iali s tas So vi éti cas. Na real id ade, porém , essas re públi c a s nã o eram devidamente inde pe nd e ntes e di fere nc iad as um as el as outras, e so bre tudo não havia entre e las uni ão. T ratava-se ele algo impos to pe la fo rça. Dos sentenc iados que c umpre m penas numa pri são não se pode di zer qu e estão unidos . Ali se encontram e les co mpe lidos . O mesmo se de ra, ant e riorm e nt e, e m ce rta medid a, no reg ime cios tzares. Com es tes últimos, e ntretanto, havi a ao menos um a vantagem. É que os tzares co nstituíam , rea lmente, um fa tor de '---'--~ unifi cação el e ~O todo o império ; AZERBAIJA interessados no bem-estar de todas as reg iões, mantinham e les umas certas distinções, como também imparcia lid ade entre as várias partes. O mes mo não ocorre u so b o regime soviéti co. O dete nto r ci o poder, fosse e le Stalin, Kru chev o u outro , proc urava fa vorece r s ua pró pri a reg ião. Ou aque las que pode riam mantê- lo no poder. E isto fa zia com que,

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A'l'OL, ICISMO, M/\R ' O 1992

CATOLICISMO , MARÇO 1992

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num re g im e de força como e ra aque le, houv esse hege rn0ni a de um g rupo de reg iões so bre outras. De qualquer forma, não hav ia uni ão, e s im comp ressão.

CADERNO ESPECIAL Nº 10

Pouco habituados à paz Após tanto tempo sob tal reg ime de compressão, acentuaram-se as discre pâncias entre esses vários povo s, aos quai s fa lta quase in te iramente o há bito de re lações co rdiai s, res peitosas na reivindi cação do s mútuos dire itos. Carecem, poi s, de re lações que valorizem mai s a paz do qu e a g uerra, como meio de conviv ênc ia. E, portanto , não parecem dispostos a suportar a lg un s inconvenientes para evitar de e ntrar num estado de conflagração. Ninguém sabe ao certo qual continua sendo a influência da "linha dura " soviética nas Ali ás , outro não é o parecer de Forças Armadas dos vários países da região Henry Kissinger, o qual declarou: "A É em tal s ituação que se encontram evolu ção da nova Comun idade de Es- Guerra geral? tados Independentes deverá ser lonE ntão qua l é a so lução no momen- no momento a Rússia e seus antigos ga, dolorosa e possivelmente violen- to? Condi c ion ar a aj uda da E uro pa saté li tes, enquanto conjunto ele nata . As várias repúblicas estiveram · Ocidental - da qual esses povos vi - ções presentes no tabuleiro internaligadas à f orça durante quatro sécu- vem - a um reg ime imparcial, que cional. E, conforme fo r a distribuição los soba égide do que é hoje a Rússia , mantivesse de fora para dentro a paz, ele armas atômicas naqueles territóque rep rimiu iniciativas locais e v incul ada a esse auxílio. Mas vê-se rios, poderemos chegar a presenciar preencheu os postos-chave com rus- que, por um entranhado libera lismo , até um a terrível troca ele confete nu sos" ("O Estado de S. Pau lo", 13- l- as potências da E uropa nem cogitam c lear, o bri gando mesmo ao envolvi 1992). Sem dúvida, os conhecidos as- dessa hipótese. mento do Ocidente. pectos absolutistas do reg im e tzari sta Tanto mai s que ninguém sabe ao Outra hipótese ex trem ada se ria contribuíram para pav imentar o cami - de ixar campo livre para o tumulto certo qual continu a sendo a influênc ia nho do tota litarismo comunista. Mas, crescer, e aguarelar os res ultados, na da " linha dura" soviética nas Forças convém ass inalar que o ex-sec retári o es pe rança de que, por exaustão, os Armadas dos vários países da reg ião. de Estado norte-ame ricano procura incêndios acabem se apagando, com Se e sa influênc ia for grande, talvez fazer tábula rasa dos mai s de 70 anos base na convicção de que não vale a preponderante, as conseqüências de tirani a e subversão comuni stas, as pena estar bri ga ndo inutilme.nte. Não são imprev isíve is, mes mo para o grandes responsáve is pe lo compl eto é imposs ível, entretanto , que ao invés Ocidente. despre paro moral e ps ico lóg ico em desse epílogo, os acontec imentos desque ficaram esses povos. fec hem numa guerra gera l.

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Fuga para o Egipto


rugâpara o'Egito emorticínio dos inocentes S. Mateus, II, 13-18 Eis qu e um anjo do Senhor apareceu a José, durante o sonho , e lhe di sse: "Levanta-te, toma o Menino e sua mãe, foge para o Egito <1i, onde ficarás até que eu te avi se, porque Herodes há de procurar o Menino para matá-lo" . José , levantandose, tomou o Menino e sua mãe , durante a noite , e retirou- se para o Egito, onde permanece u até a morte de Herodes , para que se realizasse o que o Senhor tinha dito pelo profeta: "Chamei o meu filho da terra do Egito" .

Vendo então Herodes que os Magos o tinham enganado, entrou em grande furor, e mandou matar todas as crianças, que havia em Belém e nos seus arredores, de dois anos para baixo, segundo o tempo que tinha averiguado dos Magos <2 J. Então se cumpriu o que tinha anunciado o profeta Jeremias: "Uma voz se fez ouvir em Rama, um choro e um grande lamento. Era Raquel que chorava os seus filhos, e não queria consolar-se porque eles não existiam mais"< 3J_

( 1) O Menino Jesus, diz São Fut9êncio, foge não por temor humano, senão por uma Pro videncia toda especial. Se ele quisesse sempre, e desde logo, manifestar-se como Deus, os judeus não teriam acreditado na sua Humanidade.

(3) Rama fica va nas circunvizinhanças de Belém, posto que p ertencente à tribo de Benjamin. Rachel, mãe de Benjamin, foi sepultada em Belém.

(2) Se Herodes p erseguiu a Jesus e mandou assassinar tantas crianças, muitos há que ainda hoje as fa zem morrer para a Fé e para o céu. Negar às crianças o ensino religioso, não cuidar da sua educação cristã, é procedimento tanto ou mais cruel do que o de Herodes.

(*) Texto e notas de D. Duarte Leopoldo e Silva, Concordância dos Santos Evangelhos, Linográfica, São Paulo, 1951 , 4Dedição, p. 24 .

Comentários do Pe. Luiz Cláudio Fillion (Excertos) Apenas chegado a este mundo, Jesus já sofre a investida da perseguição; foi obri gado a tomar o caminho do exílio para livrar- e da morte, e o sangue das vítimas inocente correu por Sua causa. Foi uma caminhada penosa que durou eis ou sete dias. Embora afund ado no pagani smo, foi o Egito indicado a São José por er o país que mais se prestava para I udi bri ar as emboscadas de Herodes . Os judeus tinham aí, já há certo tempo, uma considerável e florescente colônia, sobretudo em Heliópolis, onde haviam levantado um belo templo. No distrito em que a Sagrada Família se estabeleceu [Gessen] podia Ela encontrar recursos e proteção necessários. Porém, um acontecimento dos mais trágicos encheu de sangue e cobriu de luto toda a região de Belém. Quando Herodes compreendeu, depois de esperar al guns dias, que não podia contar com a volta dos Reis Magos,

encheu-se ele furor e foi dominado por verdadeiro delírio, imaginando conjurações e conspirações para desterrá-lo. Arremessou sobre Belém os soldados de sua guarda, seus habituais carrascos, com ordem de degolar sem compaixão todos os meninos do sexo masculino de dois anos para baixo, não só da cidade como também da comarca, conforme a informação que conseguiu dos Reis Magos sobre a estrela que havia aparecido. Julgava, por este modo, que Aquele que diante dele haviam ousado chamar "Rei dos Judeus" não se lhe escaparia. Por este bárbaro ato se cumpriu outra antiga profecia; vaticínio doloroso que o profeta Jeremias havia expressado nestes termos: "Uma voz se fez ouvir em Rama, um choro e um grande lamento. Era Raquel que chorava os seus filhos e não queria conso larse, porque eles não existiam mais". Nuestro Sefio r Jesucristo según /os Evangelios, Editorial Difusión, Buenos Aires, pp. 78-79.

festa de São José Deus Filho quis nascer de estirpe real para reunir em sua Pessoa todos os gêneros de grandeza De uma obra sobre São José, de São Pedro Julião Eymard: "Quando Deus Pai resolveu dar seu Filho ao mundo, quis fazê-lo com honra, pois Ele é digno de toda a honra e de todo o louvor. "Preparou-lhe, pois, uma corte e um serviço régio dignos clEle: Deus queria que, mesmo na terra, seu Filho encontrasse uma recepção digna e gloriosa, se não aos olhos cio mundo, ao menos aos seus próprios olhos. "Esse mistério de graça da Encarnação do Verbo não foi realizado por Deus de improviso, e aqueles que haviam sido escolhidos para tomar parte nele foram preparados por Ele muito tempo antes. A corte do Filho de Deus feito Homem se compõe de Maria e de São José; o próprio Deus não poderia ter encontrado para seu Filho servos mais dignos de sua Pessoa. Consideremos particularmente São José.

por isso ele deixa de ser rei, filho desses reis de Judá, os maiores, os mais nobres, os mais ricos do universo . Portanto, nos registros do recenseamento em Belém, São José será inscrito e reconhecido pelo governador romano, como o legítimo herdeiro de David: eis o seu documento régio, é bem autêntico e leva a sua régia assinatura. " - Mas, que importa a nobreza de São José? direis talvez; Jesus só veio para se humilhar. Respondo que o Filho ele Deus que quis se humilhar por algum tempo, também quis reunir em sua Pessoa todos os gêneros de grandeza: Ele também é Rei por direito de herança, pois é de sangue real. Jesus é nobre, e quando escolher seus Apóstolos entre os plebeus, Ele os enobrecerá: esse direito lhe pertence,já que éfilho de Abraão e herdeiro do trono de David. Ele ama essa honra de família; a Igreja não coloca a nobreza ao nível da democracia: respeitemos,portanto, o que ela respeita . A nobreza vem de Deus. - Mas então, é preciso ser nobre para servir a Nosso Senhor? Se o sois, dar-Lhe-eis uma glória a mais; porém, não é necessário, e Ele se contenta com a boa vontade e a nobreza do coração. Contudo, os anais ela Igreja demonstram que um grande número de santos, e dos mais ilustres, ostentavam um brasão, possuíam um nome, uma família distinta: alguns até, eram de sangue real.

"Encarregado da educação do Príncipe Real do Céu e da Terra, incumbido de dirigilo, era necessário que os seus serviços fizessem honra ao seu divino Pupilo: não ficava bem a um Deus ter que se envergonhar de seu Pai. Po1tanto, devendo ser Rei, da estirpe de David Jaz nascer São José desse mesmo tronco real: quer que ele seja nobre, até mesmo da nobreza terrestre. Nas veias de São José corre, pois, o sangue de David, de Salomão, e de todos os nobres reis ele Judá e se a sua "Nosso Senhor se compraz em receber dinastia tivesse continuado a reinar, ele [São a homenagem de tudo quanto é honodfico. José] seria o herdeiro do trono e haveria de São José recebeu , no Templo, esmerada ocupá-lo por sua vez. s educação e Deus o preparou assim para ser o nobre servidor do seu Fjlho, o cavalheiro "Não nos detenhamos a considerar sua do mais nobre Príncipe, o Protetor da mais pobreza atnal: a injustiça expulsou sua faaugusta Rainha do universo". míLia do trono a que tinha direito, mas, nem (São José, Modelo dos Adoradores, Editora Ave Maria, São' Paulo, 1949, pp. 17- 19 - os destaques em itálico são nossos.)


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História Sagrada

em seu lar

noções básicas O Faraó persegue os hebreus

OS HEBREUS PARTEM DO EGITO APÓS A DÉCIMA praga do Eg ito - a morte dos primogênitos - o Faraó pe rmitiu afi nal que os he bre us parti ssem. Tinham e les morado no Egito durante 430 anos, onde haviam e ntrado, no tempo de José, como uma famíli a. Saíam agora como um povo.

Mais de dois milhões de israelitas "Todo o exército do Senhor saiu no mesmo dia da terra do Egito" <1>. "Eram mai s de doi s milhões e me io de pessoas, podendo formar um forte exército de seiscentos mil homens" <2>.

Colunas de nuvem e de fogo

"Entre tanto, foi anunciado ao re i dos eg ípcios que o povo tinha fu g ido; e mudou-se o co ração do Faraó e de seus servos a respe it o do povo , e di ssera m: Que qui semos nós fazer, deixando partir Israe l, para que e le nos não servisse? (O Faraó) poi s, mandou pôr os ca val os ao seu ca rro , e tomou consi go todo o se u povo. E tomou se iscentos ca rros esco lhidos, e todos os carros do Eg ito, e os ca pitães de todo o exérc ito , e foi ao al cance dos filhos de Israe l" (il _ " Isto é, e les, depois de te re m permitido (aos israe li tas) qu e se fossem, tendo-os já des ped ido com g rande pressa, arrependidos disto, foram e m seu e ncalço. Tendo e les ainda o luto entre as mãos, e c horando ainda junto ao sepul cro dos seus [primogênitos] mortos, tomaram loucamente outra reso lução; e aos que tinham mandado e mbora com rogos, pe rseguiam depoi s como a fu g itivos" <6 >. "Mas os i. raclitas tinh am saído debaixo da proteção duma poderosa mão. E como os eg ípc ios segui ssem os vestígios dos (is rae litas) que iam adiante, alcançaram-nos quando esta vam acampados junto cio mar [Ve rmelho]."

Atitude indigna do povo contra Moisés "E como o Faraó se aproximasse, levantando os filhos de Israel os olhos, viram os egípcios nas suas costas; e tiveram grande medo, e clamaram ao Senhor, e disseram a Moisés: Não havia talvez sepulturas no Egito, e por isso nos tiraste de lá para morrennos no dese,to. Porque quiseste fazer isto, tirar-nos do Egito? Não é isto que te dizíamos no Egito: Retira-te de nós a fim de que sirvamos os egípcios? Porque era muito melhor servi-los do que morrer no deserto."

"O Senhor combaterá por vós" " Moi sés disse ao povo: Não temai s; estai firmes , e cons iderai as maravi lhas que o Se nhor fará hoje; porqu e os eg ípc io s que agora vedes, nunca jamais os tornarei s a ver. O Senhor co mbate rá por vós, e vós estare is e m s il ê ncio" <7>_ Notas: 1. Ex. 12, 41. 2. L 'Ancien et /e Nouveau Testament disposés sous forme de récits suivis, Lethi elleux Éditeur, Paris , 1930, p. 49. 3. Ex. 12 , 38 e 13 , 19-21. 4. in Abbé Z.C. Jourdai n, Somme des Grandeurs de Marie - Ses Mystéres, ses excellences, son cu/te, Hippolyte Walzer, Éditeur, Paris, 1900, pp. 3 14-3 15. 5. Ex. 14, 5-8. 6. Sab. 19 , 2·3 . 7. Ex. 14, 8-14.

Alé m de vasos de prata e de ouro , que obtiveram dos egípcios , os israelitas levaram também "ovelhas, e gados, e animais de diversos gêne ros em muito g rande qu antidade. " Deu s fê- los dar uma vo lta pe lo caminho do deserto que está junto ao mar Ve rmelho; e os filhos de Israe l saíram armados do Egito. E Moi sés levou cons igo os ossos de José. "E o Senhor ia adiante deles para lhe· mostrar o caminho, de dia numa co luna de nuvem , e de noite numa coluna de fogo, para lhes servir de guia" O)_

Pré-figura de Nossa Senhora "A nuve m (colocada por De us, du rante o dia, como g ui a do povo de Israe l) - comenta São Je rônimo - é a Bem-Aventurada Virgem Maria. Esta designação ' nubes diei ' (SI. 77,14), nu vem do dia, lhe convém pe rfeitain.en te, porque E la jamais esteve nas trevas, mas sempre na ple na luz" <4 l_

COMENTE, COMENTE. ..

Dona Carolina e os "direitos" dos animais Eusébio, habitualmente taciturno, neste dia chega ao Colégio Santa Edwiges eufórico e falante: "Hoje quem vai fazer perguntas à professora sou eu", dizia aos colegas, repetidas vezes, com ar de triunfo. Enquanto sobem as escadarias que conduzem às salas de aula, Bonifácio cochicha para Fernando: -Ele deve ter conversado com a mãe, a psicóloga, sobre a última aula de dona Carolina, e provavelmente se terá armado de argumentos contra a professora ... -Sem dúvida-sussurra Fernando - e não posso conter a curiosidade de ver no que tudo isso vai dar.

pobres criaturas não dotadas de razão? Minha mãe me disse que ... bem!...Quer dizer, eu realmente conversei com ela ... Dona Carolina, que a tudo ouvia bondosa e pacientemente, retoma com voz firme e pausada. - Meu caro, a paixão por vezes prejudica a limpidez do entendimento. Vamos, pois, raciocinar com cabeça fria. E prossegue: -Lembram-se da última aula sobre o que ensinam a doutrina católica e as Sagradas Escrituras? Todas as criaturas

*** Dona Carolina, bondosa como sempre, já se dispunha a retomar sua última explanação, quando é interrompida bruscamente por Eusébio. Este se põe a falar de modo torrencial, quase como se tivesse decorado as palavras. - Professora, a senhora exaltou muito o que diz ser a realeza do homem sobre todo o universo não racional. Agora eu queria saber como fica · o direito das demais criaturas: dos animais, das plantas, e dos outros seres. Por exemplo, Juvenal, o carroceiro, explora o pobre jumento,já velho, obrigando-o a suportar diariamente pesada carga. O Bonifácio, tão impiedoso contra as formigas na última aula, mantém um viveiro com dezenas de avezinhas aprisionadas; não vê ele que os pobres bichinhos gostariam de voar pelos espaços azuis? ... A esta altura, Eusébio não mais consegue esconder o nervosismo, e seu tom de voz -de início dulçuroso -vai se tornando cada vez mais ácido. Ele continua: - Que crime cometeram os pobres animais que são condenados ao confinamento perpétuo nos jardins zoológicos? E os que são arrancados à felicida de de que gozam no seu habitat natural e até assassinados pela brutalidade e ganância dos caçadores? Só para terem suas peles ou couros transformados em adornos para os humanos_! A senhora acha isso justo, professora? Acha cristão? A senhora mesma afirmou que todos os seres existentes são criaturas de Deus. É, p~is, lícito que o homem, só por ser inteligente, domine e oprima as

A coluna de nuvem, que guiava o povo hebreu pelo deserto, é uma pré-figura de Nossa Senhora

CATOLICISMO, MARÇO 1992

irracionais - animais, vegetais ou minerais - foram criadas por Deus para serem dominadas pelo homem e usadas em benefício deste. O homem, por sua vez, existe para conhecer, amar e servir a Deus. Assim, o burro de carga do Juvenal, os passarinhos cativos do Bonifácio, os animais d'1 Jardim Zoológico, os bichos que servem de alimento ao homem, ou os que lhe fornecem peles e couros preciosos, realizam com seus serviços ou com sua imolação a finalidade para a qual Deus os criou. E, se fossem capazes de felicidade, seriam deste modo mais plenamente "felizes". Como o homem, que é verdadeiramente feliz quando cumpre a vontade de seu Criador!

- Mas, professora, os animais assim utiJizados não sofrem? indaga Fernando. - Há também aqui - explica dona Carolina - um entendimento falseado da realidade, muito comum em nossos dias. Se um colega lhe desse uma bofetada, e você estivesse profundamente anestesiado, a sentiria? -Éclaroql)enão-retrucaFernando. - Pois bem - retoma dona Carolina - com os animais se passa algo que não é anestesia,.mas tem com esta certa analogia. Eles não possuem alma espiritual e portanto não têm consciência de nada. Nem mesmo conhecem que existem, pois conhecer é uma atividade espiritual. Ora, se não conhecem que existem, não têm conhecimento da dor que sentem, a qual é neles um mero reflexo físico. Só é capaz de verdadeiro sofrimento o homem, porque tem consciência da dor que sente. - Mas os animais têm sensibilidade, professora! - resmunga Eusébio. - Sim - explica bondosamente dona Carolina- como aliás também, a seu modo, certas plantas a têm. Mas é uma sensibilidade instintiva e inconsciente no animal, e apenas vegetativa nas plantas. E, como tal sensibilidade produz nos bichos reações semelhantes às que a dor produz na parte animal da natureza humana, isso cria freqüentemente a ilusão de que eles sofrem do mesmo modo que nós, seja com as grades, com o trabalho ou ainda com a morte. Daí uma série de equívocos que nos podem levar a verdadeiros absurdos, como por exemplo admitir que os animais tenham direitos como os tem o homem. -Puxa, professora, tudo isso é tão claro, tão lógico e normal, e entretanto é a primeira vez na vida que ouço tais coisas! - exclama Bonifácio. Eusébio folheia nervosamente o livro de ecologia, como que à busca de argumentos contra a professora, mas na verdade procurando ocultar seu desconcerto. - Também eu tenho ainda perguntas a fazer, professora - apressa-se Bonifácio a dizer. - Por hoje, não há mais tempo interrompe sorridente dona Carolina. Em próxima aula, se Deus quiser, trataremos de suas questões. Até lá ... ... Comente, comente. 17


O HISTÓRIA

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Areia~transforma-se em pólvora, na retomada de São Luís Nossa Senhora das Vitórias opera milagre na batalha de Guaxenduba, que põe jzm ao domínio francês no Maranhão esde o descobrimento, e m do a soberania lusa. A segunda foi a 1500, franceses estiveram pre- Fra nça Eq uinocial, no Maranhão, da sentes no Brasil, disputando qual trataremos em seguida. nossos mares, territórios e riquezas. As di sputas tiveram também um aspecto acentuadamente religioso, pois os franceses que para aqui vieram pertenciam em gera l aos seguidores de L utero e de Calvino, enquanto os portugueses, firmemente católi cos, com razão não queriam nas terras brasílicas um encl ave herético. Tal era a situação naquela época, que o historiador Serafim Leite pôde esc rever: "Durante o século XVI, os estrangeiros que mais apoquentaram o Brasil e mais se apegaram a algum recanto da costa foram os frances es. O seu movimento no espaço descreve uma parábola de norte a sul, repelidos numa parte e aparecendo em outra , desde a Guanabara a Cabo Frio, da Paraíba ao Maranhão e ao Pará, até se fixarem e11fim no extremo norte , para lá do Brasil, na Guiana. A tra- Jerônimo de Albuquerque di ção e os f atos d emonstram que O Brasil foi dividido em Capitanias eram cruéis. Em 15 de julho de 1570 Hereditárias em 1534, quando foram deu-se o martírio do Beato Inácio de aproximadamente demarcados os limiAzevedo e seus trinta e nove compa- te do futuro Estado do Maranhão. nheiros, à mão defranceses, que pela No ano seguinte, era fundado o fé católica foram lançados ao mar a povoado de Nossa Senhora de Nazacaminho do Brasil, e são chamados ré, na Ilha da Trindade, hoje São Luís, os quarenta mártires do Brasil. Ma- rnas que não sobreviveu muito tempo. taram-nos luteranos corsários dizenOs filhos do donatário João de Bardo que iam semear doutrina falsa ". ros pediam ao rei de Portugal, em Duas foram as tentativas francesas 1554, mandar povoar esta capitan ia, antes que os fra nceses o fizessem, de fixação em terras brasileiras . A primeira, a França Antártica, de pois vinham buscar pau-brasil e co1555 a 1567, no Rio de Janeiro, que meçavam a faze r construções. Daniel de la To uche, Senhor de la Nicolau de Villegagnion escolheu como refúgio de hereges calvinistas. Ravardiere, conseguiu de Maria de Dez anos mais tarde, o Governador Médecis - então regente da França Mem de Sá expulsou-os, restabelecen- - em 1º de outubro de 1610, a con-

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cessão para estabelecer uma colônia no Maranhão. Uma expedição de franceses iniciou viagem em l º de março de 1612, a 18 de junho estava em Fernando de Noronha e a 26 de julho em São Luís. No di a 8 de setembro, construindo Daniel de la Touche o forte de São L uís, estabelecia a so nhada França Eq uinocial. O Govern ador-Geral do Brasil, Gaspar de Souza, já veio de Portugal com a recomendação da reconq uista do Maranhão. Nomeou Jerônimo de Albuquerque chefe da ex pedição para ex pulsar os franceses, a qual partiu de Olinda, em Pernambuco, no dia 24 de agosto de 1614, com oito barcos, 200 homens e 100 indígenas aliados. Após diversas escalas no roteiro, estavam em terri tório maranhense a 13 de outubro, na foz do rio Periá, quartel de São Tiago. Aí deixaram um a grande cru z, sinal de sua passagem, origem do nome Primeira Cruz, da cidade hoje ex istente no local.

Batalha de Guaxenduba No dia 25 de outubro, chegaram ao acampamento de G uaxe ndub a, no continente, bem em frente à ilha da Capital, São L uís, separada pela Baía de São José. Os lusos passaram então a construir o fo1tim de Santa Maria, e a 28 assistiram à Missa celebrada pelos capelães da jornada milagrosa, frei Cosme d' Anunciação e frei André da Natividade. A chegada dos portugueses não passou desapercebida aos franceses, que no dia 2 de novembro enviaram dua lanchas para atirarem contra o forte em construção. CATOLICISMO, MARÇO 1992

A partir de então começaram as escaram uças entre os dois contingentes. No dia 11 de novem bro , índios tupinambás sob comando dos franceses destruíram e que imaram todas as embarcações portuguesas. Os franceses bloquearam ainda todas as saídas possíveis aos lusos, e não lhes deixaram outra alternativ a senão a luta de vida ou de morte, o que acontece u uma semana depois. No alvorecer do dia 19 de novembro, toda a enseada da baía em frente ao fo rte de Santa Maria de Guaxendu ba estava tomada pela esq uadra francesa, pronta para o combate. Eram ao todo cinco navios e cinqüenta canoas com trezentos franceses e dois mil indígenas,sobad ireção suprema de Daniel de la Touche, que env iou logo um ultimatum de rendição aos portugueses. Os franceses desembarcaram e passaram a construir trincheiras e um a fortificação de emergência num oute iro em frente ao fo rte Santa Maria. Jerônimo de Albuquerque percebeu que somente um contra-ataque de surpresa poderia salv á- los, devido à grande superioridade numérica dos adversári os, à pos ição estratégica que desfrutavam e à proximidade de sua base de provisões. Os portugueses se lançaram a um ataq ue mac iço. Uma co luna avançou sobre os france ses na praia, e quando os da colina desceram para aj udá- los encontraram- e com Jerônimo de Albuquerque. As duas frentes portugue-

sas fora m sob re os inimigos co m um tal ímpeto e garra, que estes logo se sentiram desnorteados e suas linhas se romperam. Daniel de la Touche mandou um destacamento atacar o fo rte luso, mas encontrou uma e nérgica reação, e não teve a menor chance de sucesso.

Uma Senhora diáfana e radiosa Narra a hi stóri a que, no fragor da batalha de Guaxenduba, um a Senhora ele aparência diáfana e rad iosa aparece u como por encanto entre as fileiras portuguesas, percorrendo suas linhas ele combate, in centivando-os à luta, apanhand o are ia do chão e servindo-a já transformada em pólvora aos so ldados para que municiassem suas armas, e curando as cicatri zes dos fer idos. Era a Virgem Mãe de Deus que dessa forma rev igorava os lusos co m sua real presença e no posto de verdadeira comand ante ela batalha. A essas alturas, fo i um salve-se quem puder do lado francês . E les e os dois mil selvagens que os apo iavam iniciaram um a debandada na mais completa desordem. Disso se aprove itaram os portu gueses para lançarem um derradeiro ataque. A batalha de G uaxe nduba durou das ] Oàs 16 horas, e a vitória moral e material dos portugueses foi a mais completa poss ível.

O Outeiro da Cruz marca o lugar onde Nossa Senhora apareceu

Os franceses tiveram mais de cem mortos, abatidos no campo de luta ou afogados na fu ga. Entre os índios, seus ali ados, a mortandade foi incalcul ável, fa lando algun s hi storiadores em 1400. Os vitoriosos tiveram apenas 11 mortos e 18 feridos! Os portugueses festejaram ostensivamente a reconquista e proclamaram Nossa Senhora das Vitórias como padroeira de São L uís. Com a derrota de Guaxencluba, terminou o domínio francês no Maranhão. A presença e atuação da Virgem Maria nesse hi stórico episódio nos faz lembrar a passagem do "Cântico dos Cânticos", a Ela aplicada: "Quem é esta que vai caminhando como a aurora quando se levanta , formosa como a lua, brilhante como o sol, terrível como um exército em ordem de batalha ? "(6,9).

CA RLOS SODRE LANNA

Praia da Baía de São Jose: tocai onde a areia transformou-se em pólvora

CATOLICISMO, MARÇO 1992

Bibliografia 1. Frei Vi cente do Sa l vador, His1ória da Brasil, Ed itora Jt atiaia, Be lo Horizonte, 1982, 7" ed ição. 2. Serafim Leite, l·lis1ória da Compa111Jia de Jesus 110 Brasil, T ipografia Prnto M édi co, Porto, 1938, t. LI . 3. Francisco Ado lf'o Varnhagen, l·/i.1·1ória Geral do Brasil, São Pa ul o, 1956. 4. M ári o M. M eirelles, Fran ça Equinocial, Civ ili zação Bras ileira , São L uís , 1982, 2" edição . 5. Carlos de L ima, l·lis1ória do Maranhão , São Paulo, 198 1.

19


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Como Santa Teresinha, vou rezar para que a revista Catolicismo, prossi ga vitoriosa fazendo bem ao mundo todo (D.S.Bessa, São Luis Maranhão).

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r Renovação

Aproveito a viagem a São Paulo de um amigo para renovar minha assinatura de Catolicismo, agradecendo a Deus o benefício de receber tão preciosa revista (M.O. Calvo, Bogotá - Colombia). ~

Dignificante

Aproveito para, mais uma vez, realçar o importante e

Vitoriosa

louvável esforço desta entidade [TFP] em prol da civ ilização cristã e no intuito de levar a verdade a inúmeros rincões desta nossa Terra de Santa Cruz, já tão amesquinhada por idéias contrárias aos mais elevados princípios cristãos. Acreditem-me, seu trabalho é do mais dignificantes, e rogo que ele seja abençoado e cada .vez mai s acreditado. (R.C.O. Mattos, Va lença - RJ).

A introdução do "Caderno Especial" tem ajudado muito no reviver de princípios e devoções católicas de há muito abandonadas pelo progress imo. Exemplo é o attigo ela última revista sobre a Batalha ele Lepanto e o Rosário. Como uma devoção tão simples de ser praticada pode influenciar os rumos ela História! (FC.Nascimento, Cubatão - SP). Drama

Sr. Diretor, so u mãe ele quatro filho s peq ueno s e vivo um drama. Matriculei o mai s velho num Curso de

Primeira Eucaristia da paróquia. Passadas as primeiras semanas, quis saber o que havia aprendido. Surpresa! Nem seq uer ele ouvira rezarem ou explicarem a Ave Maria e o Padre Nos ·o. Salve Rainha e Credo, nem pensar. O garoto aprendeu que não existe mal ou bem , que tudo depende da pessoa. Pecado é coisa cio passado. Nossa Senhora é apresentada como a "Maria", uma operária ele Nazaré; Jesus, um líder carismático e a Missa é a "ceia fraterna da comunidade". Até agora nem falaram sobre a Eucaristia. Que diferença do meu tempo de catec ismo! Tenho razões para estar chocada e estou escrevendo essa carta para desabafar-me nas páginas de Catolicismo, que passe i a receber e ler em fe li z hora (D. S . de Queiroz, São Paulo - SP) .

O papel essencial da Tradição "Os apóstolos não ensinaram tudo por escrito, mas muitas coisas sem escrituras, e estas são igualmente dignas de fé. Tenhamos, portanto, como digna defé também a tradição da Igreja. Há tradição? Basta." ln 2. Thess., Horn. 4, n. 2 (MG. LXII, 488)

SÃO JOÃO CRISÓSTOMO 20

AT LICISMO , MARÇO 1992

O RELIGIÃO

Vingadores de Deus, missão angélica quase desconhecida No Antigo Testamento, além do conhecido papel de proteção exercido pelos anjos, também.figuram eles como agentes vingadores da justiça divina.

Q

uai a imagem, 4ue a maioria dos católicos atuais f~rma, quando se fala em anjo? E ade um conhecido cli chê, freqüente na iconografia popular e que aparece até em folhinhas de parede: o anjo da guarda amparando a criancinha que atravessa uma frágiJ ponte ... Mesmo essa visão dos anjos custódias é deformada em nossa é poca, como teve oportunidade de apontar o Prof. P Iinio Corrêa de OI iveira em seu artigo O anjo da guarda é menos inteligente que o demônio? (Catolicismo, maio de 1954). Além do anjo da guarda, três outros espíritos celestes, quando muito, se incluem no panorama mental de boa parte dos fiéis: São Miguel, lançando o brado "Quem como Deus?", chefe da milícia de anjos fiéis e vencedor do dragão infernal ; São Rafael, que protegeu Tobias em sua viagem; e São Gabriel, cuja festa se comemora a 24 deste mês, o Arcanjo que anunciou a Maria Santíssima a Encarnação do Verbo Divino. Já serão, por certo, bem menos nu merosos os que sabem ter sido esse Arcanjo enviado ao profeta Daniel para instruí-lo acerca da data em que o Messias deveria na cer; como também que foi o mesmo mensageiro celeste que anunciou a São Zacarias a honra de vir a ser o pai de São João Batista, precursor do Messias. Isto posto, nada melhor do que considerarmos agora o aspecto puni ente das inumeráveis missões que os anjos exercem. CATOLICISMO, MARÇO 1992

Lote sua família fogem de Sodoma, consumida pelo fogo enviado do céu mediante a ação de um anjo

A multidão angélica Ensina São Tomás de Aquino que a providência dos anjos é universal e se estende sobre todas as criaturas corporais, regidas e governadas pe la Providência Divina por intermédio deles (cfr. De Veritate, q. V, a.8). Tanto mais que a Prov idência Divina se estende mesmo às coisas s ingulares (cfr. Contra Gentiles, c.76).

Quanto ao universo angélico, Deus não foi parco ao criá-lo. São Tomás é muito c laro a respeito do número incomensurável de anjos: "Os anjos.formam uma multidão imensa, superior à multidão dos seres materiais, porque quanto mais pe1feitas são as coisas, com tanto maior prodigalidade são criadas por Deus" (Suma Teológica, Ia., q.50, a.3). 21


Dentre as incontáveis missões confiadas por Deus aos anjos, uthâ, pouco realçada, é a ação punitiva, extenninadora e devastadora, que eles podem exercer. Episódios históricos famosos, narrados pelas Sagradas Escrituras, são exemplos elucidativos de tais intervenções angélicas de cunho exterminador. Vejamos alguns deles, extraídÇ>s cio Antigo Testamento. São fatos que atestam a atuação dos espíritos celestes como instrumentos eficazes da justiça divina, como seus gládio·s vingadores. Papel muito importante e real , pouco conheci d o contudo, provavelmente porque se choca contrn a mentalidade adocicada de tantos católicos mal formados, refratários à idéia de anjos punientes e de um Deus justiceiro. De acordo com essa mentalidade distorcida, é mais agraciável focalizar o anjo apenas como guardião das criancinhas em perigo e não considerar o reverso da medalha...

é- lhe facílimo, sozinho, matar os homens, despedaçando-lhes o coração, perturbando-lhes as partes vitais, sufocando-os, ou por outros modos semelhantes, assim como nós, homens, esmagamos e matamos pulgas com o dedo" (Cornelius a Lapide, Commentaria in Scripturam Sacram, Vives, Paris, 1874, t.l, p.521).

E o meu a17:jo caminhará adiante de ti, e te introduzirá na terra dos Amorreus, e dos Heteus, e dos Ferezeus, e dos Cananeus, e dos Heveus, e dos Jebuseus, os quais exterminarei". Esta mesma ameaça é reiterada no Cap. 33, vers. 2, quando Deus ordena a Moisés que o povo jude u parta do Eg ito.

Estrépito sobre as árvores Os filisteus-povo que vivia na zona litorânea da Palestina levantaram-se contra Davi, quando souberam que e le tinha s ido ungido rei de Israel. Então Davi pediu , e obteve, o auxílio divino para enfrentar seus temíveis inimigos (cfr. II Livro dos Reis, 5, 17-25). Eis o papel dos anjos na luta contra os filisteus, conforme os comentários de Cornélio a Lápide: "Os an-

jos, enviados de Deus e como que generais da guerra, produziam um som estrepitoso no alto das pereiras, A morte dos como se estivessem primogênitos avançando para o Tendo o Faraó, rei combate ao lado de do Egito, se negado a Davi contra os filislibertar do cativeiro o teus, afim de que estes povo eleito, Deus casse atemo rizassem ao tigou-o com as famoouvirem o ruído da sas e terríveis dez praO Arcanjo São Miguel exterminando o exército de Senaqueribe chegada de incontágas, a última das quais veis adversários, ao foi a morte de "todos Mais adiante, no mesmo liv ro do mesmo tempo em que eram acossados os primogênitos da terra do Egito, desde o primogênito do Faraó .... até Exod us (23, 20-23), a narração bíbli- na retaguarda por Davi. Donde o calo primogênito da escrava, que está à ca é muito clara, quando Deus prome- deu tradu zir: 'Quando ouvires um rumó, e até os primogênitos dos ani- te sua bênção e recompensa a quem mor no cimo das árvores, então conobserva sua Lei: "E eis que eu enviarei sola-te, porque o anjo do Senhor irá mais" (Ex. J l , 4-5). Eis o que, a respeito, comenta Cor- o meu anjo, que vá adiante de ti, e te adiante de ti para exterminar os exérnélio a Lápide, famoso exegeta fla- guarde pelo caminho, e te introduza citos dos filisteus'. Aqui se vê o maramengo do século XVII: "O anjo ma- no lugar que preparei. Respeita-o, e vilhoso auxílio divino que Davi recetou esses primogênitos pelo gládio e ouve a sua voz, e vê que não o despre- beu na batalha. Pois Deus, lutando não pela peste. Com efeito, na Escri- zes; porque ele não te perdoará, se por seu rei Davi, a fim de derrotar os tura, gládio significa todo instrumen- pecares, e o meu nome está nele. Se filisteus, quis que o estrépito dos anto mortífero, toda arma, todo gênero ouvires a sua voz, e fi zeres tudo o que jos, produzido no cimo das pereiras, de morte, como disse alhures. Aliás, te digo, eu serei inimigo dos teus ini- chegasse aos ouvidos dos invasores o anjo não necessita do gládio, pois migos, e eu afligirei os que te afligem. como ruído de um potente exército, 22

CATOLICISMO , MARÇO 1992

afugentando-os efazendo-os cair nas mãos de Davi. E assim fossem mortos pelo rei e por seus anjos tutelares" (op.cit., p. 452).

O anjo estende sua mão Deus castigou os israelitas, com a peste, pelo fato de o re i Davi ter ordenado o recenseamento do povo, contrariando a vontade divina. Tratam desse episódio o II Livro dos Reis, cap. 24, e o cap. 27 do I Livro de Paralipômenos: "E, tendo estendido o anjo do

Senhor a sua mão sobre Jerusalém para a destruir, o Senhor compadeceu-se de sua aflição, e disse ao anjo exterminador do povo: Basta, detém agora a tua mão". Comenta Cornél io a Lápide: "Aqui fica claro que este anjo, que i11fligiu a peste, era um anjo bom e não mau. Foi um anjo bom que queimou Sodoma (Gen. XIX), e também aqui, como se vê no vers. XVII , onde Davi pede misericórdia ao a,~jo. Anteriormente, o anjo havia ferido com a peste as

outras tribos e delas matado setenta mil homens. No terceiro dia [do castigo j , teria também ferido Jerusalém e aí an iquilado a muitos, pois os habitanles dessa cidade haviam ofendido a Deus, não só conspirando com Absalão [filho de Davi] contra o rei, como também por muitos outros pecados" (op.cit.,p. 536).

Extermínio de um exército A ação aniqui !adora dos anjos mais citada no Antigo Testamento foi a matança de 185 mil homens do exército de Senaqueribe, rei da Assíria, que havi a cercado Jerusalém, no reinado de Ezeq ui as (*l_ Tal fato, ocorrido numa época em que a Ásia Menor constituía o mundo habitado e con hecido de então, é deturpado pelo historiador grego Heródoto, em sua obra Euterpe, trocando J udá por Egito e Ezeq uias por Vulcão (cfr. Co rné lio a Lápide, op.cit., t. IV , p. 189). É legítimo, então, perguntar se foi esta a única vez que historiadores tenham de-

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AD OLPHO LINDENBERG S/A

turpado ações angélicas semelhantes à que estamos considerando. Segundo Cornélia a Lápide, teria s ido São Mig ue l Arcanjo, príncipe da milícia celeste, quem teria matado os 185 mil assírios (op. cit., t. III, p. 165).

*** Eis, em breves pinceladas, alguns exemp los do papel exterminador dos anjos no Antigo Testamento. Cabe leg itimamente indagar se es e papel se res tring iu apena àquele período histórico, ou se os anjos continu am a atuar em eventos decisivos da hi stór ia da salvação, na vigência do Novo Testamento. Isso, entretanto, já é matéria para outro artigo.

• JOSE MARIA RIVOIR

(*) IV Livro dos Reis, 19, 35; li Livro dos Paralipômenos , 32, 21; Eclesiástico 48, 24; Isaías 37, 36; 1 Livro dos Macabeus 7, 41 e li Livro dos Macabeus, 15, 22.

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tudo com a

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0 ENTREVISTA

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O atual Chefe de Polícia de Moscou, Arcady Murashev, fala a Catolicismo m julho passado, realizou-se em São Petersburgo (Rússia), uma das re uniões bianuais do Fo rum de Política Internacional. Trata-se de uma instituição fundada pelos líderes conservadores norte-ame ri canos Srs. Norton Blackwell e Paul Weirych, com a finalid ade de congregar ex poentes con erv adores de todo o mundo. Faz parte do Board of' Governors (Conselho Diretivo) da entidade, o Prof. Plínio Corrêa de O liveira. Usaram da palavra durante a reunião - além de conferenci stas da Europa Ocidental e dos Estados Unidos - o economi sta russo Iakov Yavlinski, um dos principais responsáve is pe las reformas em curso na antiga URSS; e nosso entrevi stado, Arcady Murashev, ex-deputado da então Assembléia do Povo, órgão leg islati vo da mesma URSS. O entrevi stador foi o co rres pondente de Catolicismo em Washington , Sr. Mário Navarro da Costa, envi ado espec ia l ao encontro de São Petersburgo. Arcady Murashev é li cenc iado em F ísica, tendo trabalh ado dez anos na Academia de C iênc ias de Moscou. Em 1987, foi e leito deputado para a cidade de Moscou e, em 1989, dep utado da Assembléia do Povo, apresentado pela mesma Academia. Em setembro último, fo i nomeado chefe de polícia de Moscou pelo P residente da Federação Russa, Boris Yeltsin, e pelo P refeito de Moscou, Gavril Popov.

E

Arcady Murashev com nosso enviado, Sr. Mário Navarro da Costa

Catolicismo - Qual é sua visão da propriedade privada? O Sr. julga que ela é um a necess idade absoluta para o prog resso da União Soviética? Murashev - Ce1tamente! É um dos fundamentos. Sem a propriedade privada não se pode dar um passo para a frente. É, talvez, a coisa mais importante de que necess itamos. A propriedade privada é a base da liberdade humana. Catolicismo - Relacionado com isto, tem-se dito que depois de tantos anos de sistema soviético, as pessoas estão habituadas a trabalhar pouco. O Sr. crê que elas aceitariam sem dificuldade um sistema no qual tivessem de trabalhar mais? Murashev - Estou absolutamente certo de que não teríamos problemas com isso. Quando o povo sov iético trabalha para si mesmo , e le demonstra alg um as capacidades maravilhosas. Dou-lhe um exemp lo. Há alguns anos, as terras loca li zadas em torno de Moscou começaram a ser doadas ao povo. Todas as noites, depois de um di a de traba lh o, as pessoas percorriam uma hora e me ia de trem para cultivar seu pedaço de terra. Faziam-no até à meia-noite e também na manh ã seguinte. Trabalh avam - mesmo as cri anças - em todos os feriados, inc lusive aos sábados e domingos. Começaram também a construir suas casas. Catolicismo - E qual era o tamanho das propriedades doadas? Murashev - 0,06 hecta re por família: é um pequeno pedaço de terra para um a casa e algum a ... Catolicismo -O sistema socialista se autoproclama o sistema da perfeita igualdade. O que o Sr. teria a dizer a respeito da perfeita igualdade do sistema sov iético? Murashev - Bem, era um dos ideais básicos do marxismo neste país. É claro, não há igualdade: de um lado, ex istem muitos estereótipo. sobre igualdaNa Praça de São Petersburgo, em frente ao palácio de Inverno dos Czares, de, e de outro, é difícil exp li ca r o que e la significa. destaca-se o monumento ao Arcanjo Protetor da Rússia 24

CATOLICISMO , MARÇO 1992

Agora nós falamos de igua ldade de oportunidades para todo mundo. Neste sentido, ainda usamos esta palavra iguald ade de oportunidades - porque todos sabem que não tivemos igualdade durante estes setenta anos. Tínhamos a máfia do Partido, os cidadãos pobres, e ass im por diante. Aqui, a diferença entre ricos e pobres talvez seja maior do que nos Estados Unidos. E agora todos entendem isso. Deveria então have r iguald ade de oportunidades para todas as pessoas, mas usada de modo correto. Catolicismo -Qual éa relaçãoentreautogestãoe propriedade privada? Em outras palavras, o Sr. acha que eleve haver propriedade privada pura e simplesmente, ou o Sr. aceitaria partes ele autogestão? Socialismo autogestionário é um ideal do socialismo francês. Mitterrand, quando foi eleito, usou muito a expressão socialismo autogestionário, que seria uma espéc ie de terceira solução: nem propriedade privada nem comunismo. Como o Sr. vê esta terce ira solução? O Sr. pensa que existe uma terce ira solução? Murashev - Não, não creio que ex ista um a terceira solução. Sei que ex istem ideólogos de uma terceira so lução. Um deles é um Sr. que trabalha para a Rádio Liberdade. Ele escreveu livros so bre a autogestão de fábricas industriais etc. E parece-me que isto não funciona efetivame nte, porq ue é um a co isa como democracia política ... Quando o Sr. gerenc ia, quando o Sr. lid a com fábricas, com s ua própri a empresa, o Sr. não quer ter uma democrac ia na loja. Por exemplo, quando o Sr. emprega pessoas, não é necessá ri o que elas votem p~ra a ele ição do chefe da empresa, ou co isa parecida. E c laro que em

O economista lakov Yavlinski durante sua exposição

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Arcady Murashev, chefe da polícia de Moscou

grandes impérios industriai s devem ex istir alguns elementos de democracia, com acionistas votando etc. Mas, geralmente falando, não é um elemento necessário. Por exemplo, as gigantescas empresas americanas de computadores, as companhias intercontinentai s, têm dezenas de milhares de ac ionistas. Isto é democrático, é claro. Mas no processo da produção, o Sr. vê bem, todas as dec isões são tomadas pe lo quadro dirigente, pe los gerentes, e ass im por diante. Portanto, para produzir bens é outra co isa. Esta é, a meu ver, a di fe rença, e eis por que não acred ito nesta autogestão. A natureza humana res iste a esta terce ira via porque o se r humano entende o que é seu, o que é meu, ou o que é nosso. Catolicismo - Como continuação da última pergunta, vamos a um exemplo: a divisão do sistema de Kolkhoz. O Sr. dividiria cada Kolkhoz dizendo: "Isto é seu, isto é meu", ou o Sr. os di stribuiria em ações? Se o Sr. os di stribuísse em ações, as pessoas se tornari am teoricamente donas de toda a propriedade, mas de fato e las não teriam nem mesmo o pequeno pedaço de terra que lhes seria dado para traba lh ar. Isso não seria uma espéc ie de soc ialismo autogestionário? O que o Sr. pensa a respe ito?

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25


AfOJLICliS Murashev- Uma co isa interessante, mas o argumento mais forte que me deram •ll)uma empresa espanho la de Mondragón fo i: "Nós omos um exemplo de autogestão", ou alguma coisa assim. Mas não funciona. Era um homem que havia organ izado, juntamente com a es posa - e la tinha dinheiro - , uma espéc ie de pequena companhia autogest ionária. Depois de a lg uns meses, e les me escreveram dizendo: "Temos um muito bom negócio, esta coletividade autogestionária a lcançou um resultado surpreendente". Ma's eles foram à fal ência me io ano depois! E contudo, continuam a apo iar a idé ia da autogestão ...

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• Evite que isto aconteça ... Livro de Filosofia, adotado em colégios brasileiros, sustenta absurdamente que a Religião católica é falsa, a verdade é relativa, e a doutrina marxista representa um pináculo do pensamento humano. Vinha eu andando tranqüilamente pela povo", como a qualificou Marx), que impede rua, outro dia, pensando em tudo menos em o progresso da humanidade. Evidentemenfilosofia, quando me encontrei com um ami- te, nesse ataque a grande visada é a Santa go, muito moço, de seus 16 anos, que cami- . Igreja Católica. 2) A filosofia só começou a se desennhava com um livro debaixo do braço. - O que você anda lendo? - pergun- volver quando abandonou as velharias do passado. Kant (1724-1804) foi o primeiro tei-lhe à guisa de cumprimento. - Introdução ao Estudo da Filosofia, gênio que apareceu, seguido de outro maior: de Antonio Xavier Teles(*), - respondeu . Hegel. A doutrina desses pseudo-filósofos é - Hum! Não sabia que gostava tanto de filosofar ... - disse-lhe emtom de brincadeira. basicamente esta: não há um Deus pessoal , - É só para estudo no colégio - res- criador e onipotente. A Igreja não ensina a pondeu com ar de enfado - , se quiser, verdade, mesmo porque a verdade não exisposso emprestar-lhe, pois não me faz falta. te, tudo é relativo. O que faz a verdade é a Aceitei, pois estava curioso por saber o evolução, ela depende das circunstâncias e que, hoje em dia, se ensina nas aulas de dos desejos humanos. O que antigamente era verdade, hoje pode não ser mais. Aliás, filosofia. Filósofos no sentido estrito, ou seja, nenhuma coisa é como pensamos que ela homens que se dedicam especificamente ao é. Por exemplo, se vemos um copo, ou uma estudo de questões filosóficas , existiram e cadeira, ou um cachorro, pensamos estar existem de todo tipo. Desde santos da esta- vendo copo, cadeira e cachorro, mas a reatura de um São Tomás de Aquino, até mal- lidade é outra. O mundo do jeito como o feitores da humanidade, como Karl Marx. conhecemos só existe na nossa mente. Um ensino de filosofia que não apresente Tudo é ilusão. A filosofia católica, ensinando aos alunos a verdadeira filosofia, mas sim o "realismo objetivo", ou seja, que as coisas aberrações filosóficas , pode ser considera- são como elas são, está equivocada (parece uma loucura, mas é este, muito sinteticado corruptor de almas juvenis. Ora, foi precisamente isto o que, indig- .mente, um elemento básico das doutrinas nado, mas não surpreso, encontrei no livro de Kant e Hegel). 3) A fina flor dessa nova filosofia só emprestado por meu jovem amigo. desabrochou com Karl Marx e, especialmente, com Mao Tsé-tung! Este último, o Três absurdos fundamentais É elucidativo, para o leitor, conhecer as "chefe de um povo de 800 milhões de pestrês idéias fundamentais defendidas pela soas", o "libertador de um cativeiro de 2500 referida obra: anos" (libertador? ... conceito engraçado de 1) Religião é coisa de gente atrasada, libertação: reduziu à escravidão e eliminou gente com o nível mental do homem primiti- milhões de chineses!) , conquistou para suas vo. Ela é uma espécie de droga (o "ópio do idéias milhões de pessoas no mundo inteiro

26

.R

(não sei onde se escondem , atualmente, pois os maoistas que aparecem são esparsos terroristas ou políticos desatualizados). Mas o livro não pára aí. Para ele, o supra-sumo da filosofia ocorreu quando Marcuse (autor alemão que vive nos EUA) fez a união entre Marx e Freud, comunismo e amor livre. Estaria encontrado assim o caminho da felicidade humana: vida tribal, sem Deus, sem dogmas, sem leis, libertinagem completa ... *** Preocupado, procurei meu amigo para devolver-lhe o livro. Ao encontrarmo-nos, perguntei: "Já notei que você não gosta muito deste livro. Mas, e seus colegas?" Ele respondeu : "Nunca vi ninguém interessado. Muitos o acham esquisito". Bem podem imaginar o alívio com que ouvi essas palavras. Alívio que durou pouco ... ao me lembrar de que "água mole em pedra dura tanto bate até que fura", e que a obra aqui analisada já atingiu a 26ª edição! Queira Deus que seu filho ou sua filha não esteja entre as vítimas deste livro, prezado leitor. Evite que isto aconteça. J. BETTINCK CARVALHO (') Editora Atica, São Paulo, 1989, 261 edição.

ATOLICISMO, MARÇO 1992

Mortalha não tem bolso

O avarento, por um real, perde cento

(d ito brasileiro)

(provérbio brasileiro)

Ao avarento falta o que não tem e falta o que tem

O avarento dorme sob o peso das coisas que não deu

(provérbi o brasileiro)

(Plinio Corrêa de Oliveira).

Mau é o rico avarento, porém pior é o pobre soberbo

O pouco com Deus é muito, e o muito sem Deus é nada

(proverbio brasileiro)

(provérbio brasi leiro)

EJvl

P~lr--JEL

Conjuntos habitacionais, com cidade moderna ao fundo. Não, não. Parece que não é isso. Retificando: cemitério, com Nova York ao fundo. Sempre foi opinião desta revista que há um · parentesco secreto entre as ciC!ades modernas cosmopolitizadas e os cemitérios. E o que se observa nesta foto. Daí não se deduza que é preciso, então, ir morar nas selvas, como pregam certos eco-fanáticos.


Voz de Cristo, voz da graça.~.

O

faiscar das luzes refletidas pelos lustres de cristal confere à cena um fulgor especial. Algo do dardejar das chispas luminosas parece vibrar ao ritmo do canto melodioso que se evola desse recinto sagrado, onde o colorido dos afrescos e a piedade das imagens nos transportam para a atmosfera paradisíaca do mundo sobrenatural. Distendidas, mas atentas aos movimentos do regente, as fisionomias exprimem aquela verdadeira paz de alma que só se encontra na prática das virtudes cristãs, do mesmo modo que a beleza musical só se alcança na harmonia dos sons. O branco imaculado das túnicas contrasta com o rubro das capas, que à maneira de asas angélicas pendem do escapulário marrom, no qual se destaca a grande cruz em forma de espada, a simbólica Cruz de Santiago. Luzes, cores e sons compunham, por

assim dizer, a parte imponderável do ambiente cheio de bênçãos da igreja do Sagrado Coração de Jesus, em São Paulo, onde o Coral São Gregório Magno, da TFP, fez uma de suas brilhantes apresentações. Mais do que um simples espetáculo musical, tratou-se, naquela noite, de oferecer ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria um hino de louvor, cujos acordes graves e harmoniosos ecoaram pela abóbada e encheram a nave central da igreja, para daí subirem ao Céu . No alto do altar-mor, a imagem de Nosso Senhor a tudo presidia. De seu Coração divino parecia refulgir uma luz mais intensa que a dos cristais. Seus lábios sagrados como que pareciam nos fazer ouvir uma voz misteriosa. Era a "voz de Cristo, voz misteriosa da

graça, que ressoava no silêncio dos corações palavras de doçura e de paz!"



ABRIL de 1992

Discernindo/ distinguindo/ classificando ...

Uma,sociedade orgânica

.A.ssesta.r.:a..d<> <> f<>c<>

O Tirol tradicional, suas instituições, seu pitoresco, sua "garra"

Influi muito na alegria de quem recebe um presente, não só o valor deste, mas também a consideração do doador. Ideal mesmo é quando à excelência do dom se soma a alta qualidade moral e simbólica de quem dá. pouco rica, vivendo em co ntato permanente com os camponeses, dos quais a separa apenas uma pequena distéi.ncia. Freqiielllemente os nobres são eleitos capitães pelas companhias de soldados, as quais têm uma ji111 ção essencial de coesão social". 40 % dos camponeses são proprietários, os outros são arrendatários ou colonos, todos são livres. Ao lado da indústria de extração mineral e do comércio, "um artesanato qualificado trabalha o vidro, o ferro, fàz tapetes, com reputação que ultrapassa os limites da Província" . A cidade de Bozcn mantém quatro feiras anuai , atraindo suíços, alemães e italianos. Povo profundamente católico, multiplicam-se no Ti* ·k * rol oratórios e calvários, a Ao iniciar o relato da heMi sa dominical é por todos róica resistência comandada assistida de joelhos, e são hapor Andreas Hofer nas bituais as orações antes e demontanhas do Tirol, nos Alpois das refeições, as festas pes, contra as tropas de Nareligiosas, procissões etc. É poleão Bonaparte - e contra ponto de honra a fidelidade os princípios revolucionários ao Imperador. que inculcavam - as 73 ptiLenhador tirolês tiplco, fazendo parte da Companhia de Atiradores para a defesa da Provfncla As roupas são coloridas e mciras páginas do livro, a que ganhei, descrevem o Tirol, visto um capi tão de Pr víncia, nobre tirolês variadas, e os objetos de uso diário em sua Histótia, seus co lumes, suas que v lava pela der a da região, pela freqüentemente constituem pequenas instituições, sua fé, cm ua relação manutcnçã de suas antigas liberda- obras-primas de artesanato. Canto, d · · pr tcgia a Religião católica. Ti- dança e teatro em profusão, numa culcom o grande todo constituíd pel Impétio austtíaco. É o melhor ela o- nha ele, ademais, funções judiciárias tura popular estuante de vitalidade. Foi "esta sociedade, católica, mobra. Sente-se aí o pcrfumc de uma e cuidava da ordem interna. As milícias tirolesas não podiam nárquica, aristocrática e camponesa, sociedade profundamente orgânica, ser requisitadas para fora do território tudo ao mesmo tempo, que teve de entranhadamente católica. De 1363 a 1918, o Tirol - hoje da província. Caso a Áustria entrasse sofrer o choque da Revolu ção", vinda repartido entre a Áustria e a Itália - fez cm guerra, o Tirol só a acompanharia da França. Daí seu hon-or a ela e sua heróica disposição de luta. parte do império dos Habsburgos, con- se aprovado por sua Dieta. "Nas cidades diz o livro a servando entretanto sua autonomia e C.A. seus costumes. Uma estatística foi ta em pequena nobreza trabalha a serviço da Província ou do Estado, naquilo 1787 clava conta ela existência de 600 mil habitantes, distribuídos por 18 cida- que hoje chamamos funções públicas. (*) Jean Sév illi a, Le hmum riu Tyrol - A11dreas · No campo, ela é proprietária, mas Hofer co111re Nap oltlo11, P ·nín, P11ri N, 1991 . des, 20 burgos e 2600 aldeias.

ssim, foi grande mjnha satisfação ao receber das mãos do . Prof. Plin_io Conêa de Oliveira, cuidadosamente encadernadas, cópias xerox contendo a pane mais interessante ele um liv ro francês que ele acabara de ler. Com a vantagem adicional de que as cópias, como é natural, reproduziam as marcas e pequenos comentários à margem, feitos por ele ao longo da leitura. Sobre as excelências do doador, não é com os leitores de Catolicismo que preciso estender-me. Nem seria suficiente um mtigo para isso. Digo apenas que fiquei comovido. E para tomar o leitor, de algum modo, participante de meu presente, falo-lhe do livro <"').

A

2

A Dieta (assembléia representativa que se reunia por convocação do soberano) decidia sobre imposto , regulamentação do comércio, admirüstração provincial, água , florestas, direito de caça etc. Anu· ilmcntc reunia -se uma extensão da Di e ta , o "Pequeno C mitê". Havia ainda

' A'l'OI.I C: IHMO, AlllllL 1092

pós os acontecimentos dos últimos anos fanáticos muçulmanos contra católicos, sobretudo no Leste europeu, muitos concluíram em países africanos e asiáticos. E disso o leitor poderá apressadamente que a perseguição aos ter notícia lendo nosso Caderno Especial deste mês, católicos ~o mundo passava a ser capí- que traz matéria inédita no Brasil sobre o assunto. tulo encerrado. O pacifismo e o ecumeInédita, sim, pois sobre o tema se faz 11.ismo, triunfantes também na Rússia, _________....,.... campanha de silêncio. pensavam, abririam uma nova era de paz e de concórdia entre os homens e as religiões.

Ao analisar qs fatos, contudo, convidamos o leitor a que se defenda das efeitos de um misterioso estado de apatia em curso. É uma forma de insensibilidade, de ausência de reatividade que penetra as espíritas com.o a nuvem radioativa de Chernobil impregnou as céus da Europa!

Existe, é verdade, o exemplo incômodo, ainda fumegante, do Líbano, onde os árabes católicos foram sendo metodica- ' mente extenninados; ou mais recentemente o dos católicos croatas, vítimas de um morticínio atroz. Mas, num e noutro caso, a perseguição religiosa veio misturada a desavenças políticas e sob essa máscara se disfarçou. De modo que, quem não quis ver o aspecto religioso da questão, teve meios para abafar a própria consciência.

Assim, acontecimentos como os narrados em nosso Caderno, que em outros tempos feririam profundamente as sensibilidades, despertando reações clamorosas de inconfomúdade e de indignação, hoje correm o risco de não abalar ninguém. Defenda-se, pois, leitor, dessa apatia. Resista, reaja, não seja indiferente ante esse brutal atentado contra os nossos mais fundamentais princípios e convicções religiosas, e contra nossos innãos na Fé. Hoje são-eles, amanhã ...

Entretanto, contundindo os prognósticos mais otimistas a respeito, as perseguições religiosas continuam ainda em nossos dias, e até recrudescem. Perseguições claras, cruéis, brutais movidas por

SUMÁRIO Historia

Atualidade

- Balduú10 ÍV, o rei leproso

13

2 Discernindo .. . 4 A Realidade 6 Inédito no Brasil

-

O apoio da esquerda a Castro, no momento cm que o paredón é rcstaw-ado cn Cuba

19

16 Historia Sagrada 17 Comente, comcnic .. . 18 Brasil Real ...

21 Telex Rural '2s Educação 27 Frases cm Paine l

Comunismo ti-ibal ·- Experiência de vida comunitária, sob efeito de droga e conduzida por um gw·u.

23

Nossa capa: Montagem. Foto menor: Ensino religioso a crianças por missionárias católicas no Sudão/ loto-present (Essen - Alemanha)

AfOJLJCISMO Catolicismo é uma fubllcação men5:1I da Edi~ora_Padre Belchior de Pontes Lida. Diretor: P~ulo Corrêa de Brito Filho. Jorn ali sta Responsável: Takao Takahashi. Regi strado na DR.T -SP sob o N _. 13748. Rcdaçao e Gcre.nc,a: Rua Ma1t1m Fr~nasco, 665 · 01226 - Sao Paulo, SP - Tel: (011) 825.7707. Fotocomposição: (direta, a partir de arquivos torneados por <:,atolocismo) M1croformas Fotolitos Lida. · Rua Javaes 681 - 01130 · São Paulo · SP; lmprcsaão: Gráfica Editora Camargo Soares Lid a.. Rua da Ind ependência 767 · 01524 - Sao Paulo, SP. Para mudança de endereço é necessário mencionar também o endereço antigo. A correspondência relativa a assinatura e venda avulsa pode ser enviada ao end ereço da Gerência de Catolicismo. ISSN lntemational Standard Se ,ial Number. ot 02 -8502

CATOLICISMO, ABUIL 1992

3


<:;- Baronato estatal

concisamente

<:;- Invasões programadas Indiferentes ao descrédito do comunismo no mundo - dissolução da URSS, reviravolta no· Leste europeu etc. - , os autodenominados sem-terra continuam a agitar os meios rurais do Rio Grande do Sul, nos mesmos moldes fidel-castristas de outros tempos. Com apoio ostensivo da esquerda católica, anunciaram que invadirão as cidades neste ano, como meio de pressão para acelerar a Reforma Agrária. A resolução, aprovada no IX Encontro Estadual dos Sem-Terra, em Palmares das Missões, bem demonstra que, entre nós, a esquerda nem máscara usa - segue hirta, fria, mumificada, esclerosada.

Em depoimento na Comissão de Seguridade Social da Câmara, o deputado Roberto Jefferson (PIB - RJ) declarou: .. Existe um baronato de um lado [aposentados da União] e 12,5 milhões de miseráveis do setor privado" [o número de aposentados de empresas particulares]. Com efeito, o Governo Federal gasta mensalmente Cr$ 1 trilhão com 1 milhão de servido-

res públicos inativos - o que significa, em média, Cr$ 1 milhão para cada um. Entretanto, para os inativos do setor privado - número 12,5 vezes maior - concede tão-só Cr$ 1,68 trilhãopormês,isto é, Cr$127 mil para cada um. As estatais republicanas têm seus privilegiados muito bem instalados ...

imoralidade

Com o channe e a legenda que os envolve, os castelos passaram a constituir chamariz para atrair o públi co a bares, restaurantes, casas de shows e até lojas de móveis, cm Belo Horizonte. .. O custo da co nstrução é muito alto, mas vale a pena. Nosso faturamento aumentou quatro vezes depois que transfo rmamos a loja em castelo. É wnafachada que

ajuda muito nas vendas, pois passa a idéia de nobreza, de produtos finos'.'. O inteligente argumento é de Aurélio Nogueira Alves, um doo donos da Mobiliadora Líder, que inaugurou o mais importante castelo da capital mineira há dois anos, na Avenida Catalão, Zona Norte. .. Visite o Castelo dos Móveis''., é o slogan da firma.

PC do T - "Corremos o risco de passar para a História como o últ~mo partido comunista do século XX". O surpreendente desabafo a respeito do PT é do deputado José Genoíno, ex-guerrilheiro, e hoje da corrente dita "moderada" desse Partido.

Vergonha real - "Éramos uma das duas superpotências e hoje estamos recebendo caixotes com massas e leite em pó", afirmou um recruta do antigo Exército Vermelho, mobilizado para ajudar na distribuição de víveres doados pelo Ocidente aos russos. Quem mentiu, fazendo crer ao mundo que a URSS era uma superpotência? Incitando ao vandalismo - "Se lwuver demissões em massa, vamos incentivar o quebra-quebra nas empresas" advertiu o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco - SP, Cláudio de Camargo Crê. A essa odiosa fonna de propaganda presta seu concurso um organismo católico!

<:;- Embaraços à ajuda

<:;- Castelos, a última moda

em tempo

Inglório leilão - Tanques de guerra e helicópteros, passando por granadas e caças de combate, estão sendo vendidos por militares soviéticos em várias capitais européias. Era mesmo esta a segunda potência militar mundial, conforme propalava a mídia'!

<:;- Propagando a A Central das Missões dos Franciscanos da Alemanha associou-se à Organização Mundial da Saúde para lançar wna revista em quadrinhos sobre a AJDS, a ser distribuída no presídio central de Porto Alegre. A historieta gira cm tomo de um ..herói", drogado, que usa palavrões e pratica (ou aprova) todo gênero de aberrações morais.

•••

Embora a CEI - herdeira da extinta URSS - necessite desesperadamente de investimentos, tecnologia e know-how ocidentais, os Governos que a compõem pouco têm feito para atrair seriamente os homens de negócios. Comprova-o pesquisa levada a cabo junto a empresários, diplomatas e jornalistas, sediados cm Moscou, e estampada por ..Los Angeles Times". Duas empresas da Califórnia - PBN Co. e GLS

Rcscarch ~ fizeram o levantamento . É quase impossível encontrar espaço para instalação de escritórios, o sistema bancário é arcaico, os bens e serviços são de um custo exorbitante, e os agentes de viagem raros. Quanto à assistência médica, mostra-se tão precária e deficiente que mais de dois terços dos entrevistados disseram preferir tratar-se em qualquer outro país ...

Apologia da ilegalidade - Piquetes grevistas impedirão que seja privatizada a Companhia Siderúrgica Nacional, mediante ocupação de suas instalações e fechamento dos acessos à cidade de Volta Redonda, onde se situa a usina. Alto e bom som, formulou a ameaça Bartolomeu Citeli da Silva, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Volta Redonda! Na contra-mão da História - Enquanto os russos comemoram a derrubada dos símbolos comunistas e a extinção da URSS, a Secretaria de Saúde de Porto Alegre teve uma idéia primorosa: incluiu em edital - na bibliografia indicada para o concurso a médico municipal - "O Capital", de Marx, e "A visão marxista do cuidado médico", de A. Waidzkin. A Prefeitura é administrada por uma aliança entre PT e PC:B. Lucidez tardia - "Aquilo que era um exemplo para todos nós mio existe mais, faliu, não nos serve mais de modelo... " Com esta simplória declaração, o Deputado Federal comunista Sérgio Arouca constata o óbvio. Bastará isso para reparar os danos causados pelo comunismo ao mundo? Banditismo à solta - Há pouco, no Rio, mais de 500 traficantes conhecidos, agrupados numa associação criminosa chamada "Comando Vennelho", ocuparam durante horas o Cemitério de Ilhauma, na Zona Norte, durante enterro de um marginal, intimidando comerciantes e moradores das adjacências. A este ponto chegou o attevimento do crime organizado na capital carioca! Escritor canibal - Vive hoje tranqüilamente, no Japão, Issei Sagawa, onze anos após ter assassinado e comido uma estudante holandesa. Já publicou três livros, com grande sucesso de venda um dos quais descrevendo, em ponnenores, seu ignominioso ato de antropofagia. O mundo moderno mostra-se receptivo a todo tipo de horror.

D,estaque Comunismo ecológico exumado Muita gente, hoje em dia, levada pela propaganda, vai aderindo aos mitos da ecologia e do comunismo tribal, como se fossem novidades . Leiamos o seguinte texto: "A grande massa do povo vive de modo mais infeliz [agor-ct] do que [outrora] no estado de simples ,wturew. Vede o selvagem: ele caça, pesca, cultiva a terra; o fruto se seus suores é todo para ele, e goza, assim, de toda a felicidade que conhece .... [No Estado de natureza], as artes, tendo relação com a agricultura,farão desaparecer as grandes cidades, receptáculos de todos os vícios, e (a França] ver-se-á povoada de vilarejos ornados por uma imensidade de habitantes felizes ... . Ver-se-ão os franceses sem moeda, sem privações, sem tidio e sem inveja". Como julga o leitor o comentári o acima? Terá partido de um ecologista sonhador? Talvez de um progressista neo-tribal à D. Casaldáliga ou congênere? Ou, ainda, de um utopista romântico contemporâneo, inspirado em Rousseau? Nada disso. O texto foi extraído da correspondência de Gmcchus Babcuf, líder revolucionário do século XVIII, que intentou, com base nos princípios da Revolução Francesa, introduzir o comunismo na França, por via insurrecional. A iniciativa fracassou rotundamente, mas as idéias estão sendo agor-ct exumadas e apresentadas como novidades . Estão "na moda'·.

"Reforma Agrária", velha meta do comunismo utópico O mesmo Babcuf, em carta a seu confidente, o duvidoso Paclre Coupé - Vigário de Sermaise, paróquia próxima a Noyon (França) - , escreveu: "A perfeição em legislação visa o restabelecimento da igualdade primitiva. Cami11hamos a passos largos no sentido dessa espantosa revolução". E mais adiante: "Pressi11to bem até onde a Revolução deveria chegar, mas talvez a prudê11cia prescreva· não proceder se11ão por etapas, sem deixar entrever demais o que será o novo edifício saciar'. Noutra missiva, ainda ao Padre Coupé, Babeuf acentua a meta final para a qual tende: a Lei Agrária, ou seja, a partilha das terras, pois "a terra não é de ninguém". Suas palavras: "Depois que nossa Constituição passou a existir, elaboramos umas cem leis por dia, e, à medida em que se multiplicaram, nosso Código foi-se tornando cada vez mais obscuro. Qua11do olxivermos a lei agrária, prevejo que .... esse código imenso será la11Çado ao fogo e uma única lei de seis ou sete artigos [a Lei Agrária] nos bastará". Como são velhas as "novidades" dos agro-reformistas ... [frechos extraídos de Babeuf et la Conjuration dcs Égaux -

l 78(}.1797,

Gé,-ard Walter, Payol, Paris, 1937, pp. 67-68, 75 -76, 186-187 e 195]


A paixão contemporânea da Igreja sob a tirania maometana

:.

.

Quem conheça a situação

.

de opressão e humilhação em que vivem hoje em dia os católicos nos países maciçamente muçulmanos da África e da Ásia, não terá dificuldade em reconhecer logo que ali sofrem eles sua Paixão, e mesmo morte, por professarem a única verdadeira Fé.

. ,

A Paixão de Cristo revive em nossos dias

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Semana Santa: ocasião propícia para meditarmos o drama da atual perseguição movida contra católicos em países islâmicos

6

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., CATOLICISM , ABIDL 19921

cristão é um outro Cristo", afirmou Tertuliano, significando com isso que, se fonnos realmente católicos, seremos semelhantes a Cristo. E, inevitavelmente, o turbilhão de ódio que se voltou contra Nosso Senhor Jesus Cristo, também contra os católicos se há de voltar. Aliás, o próprio Divino Mestre o predisse: "Se eles me perseguiram a mim, também vos hão de perseguir a Vós" (Jo., 15,20). E, precisamente, a glória do católico consiste cm, tanto quanto possível, rep~oduzir em sua vida a vida do Salvador. Será, por exemplo, o rapaz no colégio que é odiado e escarnecido pelos seus companheiros por não querer profanar a inocência de seus lábios com palavras impuras. O universitário, isolado e desprezado, por ter proclamado sua Fé na sala de aula à vista de um professor ímpio. O intelectual católico tradicional, que vê f echarcmse diante de si as portas da notoriedade, por professar a verdadeira doutrina da Igreja. Ou ainda o operário, perseguido em seu emprego, porque se ufana de sua condição de católico e não aceita as inovações aberrantes. E assim por diante. CATOLICISMO, ABlll L )!)92

"É preferível uma morte fulminan te a esta vida difícil e miserável. Nin guém de nós pode andar seguro entre os maomecanos .... enquanto eles vi rem em nós os símbolos da ordem clerical, irrompendo, como loucos, em gritos desaforados .... "Para que lembrar aqui as abomi náveis canções que proferem ao ver o sinal venerável da Cruz, e as maldições e imundícies que vomitam de sua boca quando ou.vem os sons de nossos sinos? Por toda parte temos de sofrer sua i1ZSoléncia e seu ódio à nossa santa Religião" (Fr. Justo Perez de Urbe! O.S.B, San Eu.logio de Córdoba, Ediciones Fax, Madri, 1942, pp. 155-1 56). Transcorridos mais de onze séculos, essa sanha anti-católica não se alterou em nada. Embora tenha Tirania maometana passado por períodos extensos de Referindo-se à crueldade das per- relativa sonolência. Nos dias de hoje, por toda parte seguições movidas na Península Ibérica pelos infiéis aomctanos contra onde o fw1damentalismo islâmico <1> os católicos, no século IX, assim se se expande e se implanta, o futuro dos exprimiu o grande Bispo de Córdoba, católicos se obscurece: os não-maoSanto Eulógio: metanos se tornam cidadãos de se"Poder-se-á dizer que vivemos gunda classe, sem direitos, consideratranqüilos quando se destroem nos- dos apátridas em seus próprios países. sas basílicas, se enche de opróbrio os São proibidos de praticar em público sacerdotes e se nos obriga a pagar a religião, de construir templos, de ter mensalmente um tributo intolerável? aulas de religião. Não têm direitos

Nessa ordem de idéias, quem conheça a situação de opressão e humilhação em que vivem hoje em dia os católicos nos países maci9amcnte muçulmanos da África e da Asia, não terá dificuldade em reconhecer logo que ali sofrem eles sua Paixão, e mesmo morte, por professarem a única verdadeira Fé . Todas essas circunstâncias precisam ser aqui lembradas por ocasião das celebrações da Semana Santa no corrente mês de abril. Tanto mais quanto esses fatos são geralmente ocultados no Ocidente, de modo a favorecer a falsa idéia de que perseguição religiosa é coisa do passado, inexistente numa época de ecumenismo.

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Na sessão de fundação da Organização do Islã na África (O/A), foi resolvido aniquilar o Cristianismo e outras religiões não-islâmicas. Para tanto, foram dados os primeiros passos concretos: somente muçulmanos podem ser indicados para cargos públicos de importância. Tão logo' que possível deverá.ser introduzida a charia, ou seja o direito islâmico, que discrimina brutalmente os '·católicos.

políticos e não podem exercer cargos públicos. O maometano que se converte ao catolicismo tem de suportar toda sorte de sanções, devendo temer pela própria vida (cfr. DF, abril de 1991 - Ver as siglas das fontes no final das notas). Meta: aniquilar o Cristianismo

No verão de 1990, foi criada por vinte e quatro governos de países africanos a "Organização do Islã na África" (OIA), com sede em Lagos, capital da Nigéria. Na sessão de fundação da entidade foi resolvido aniquilar o Cristianismo e outras religiões não-islâmicas. Para tanto, foram dados os primeiros passos concretos: somente muçulmanos podem ser indicados para cargos públicos de importância. Tão logo que possível deverá ser introduzida a charia <2>, ou seja o direito islâmico, que discrimina brutalmente os católicos (cfr. IGVK). É de se perguntar se o massacre de árabes católicos no Ltbano não tem relação com essa política religiosa. O Ltbano católico praticamente foi destruído. Egito: apostasias sob coação

Nos dias de hoje, por toda parte onde o fundamentalismo islâmico se expande e se Implanta, o futuro dos católicos se obscurece

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- No Egito, "organizações islâmicas" fanatizam a população muçulmana através de folhetos. Os católicos de rito copta são espancados, torturados e mortos. Suas igrejas, lojas e casas arrasadas. Em nenhum caso os agressores são preso (cfr. IGVK).

- Quem se converte ao cristianismo é preso imediatamente, sem ordem judicial. Não pode mais usar seu nome; sua mulher e filhos lhe são retirados, sua farru1ia destruída. Pelo contrário, se um cristão se perverte ao maometanismo ( o que se dá o mais das vezes sob coação) seu nome é divulgado, ele é honrado como herói, fazem-se procissões, abre-se-lhe uma carreira promissora (idem). - Em maio de 1990, em Abu-Qurgas e outras localidades os fundamentalistas destruíram diversas igrejas, pois, segundo uma antiga lei, os cristãos não podem construir nem restaurar seus templos sem expressa permissão governamental (idem). Naquela mesma cidade, alguns sacerdotes foram encarcerados (cfr. MN, julho/agosto de 1990) - Em fins de outubro de 1990, quatro católicos recém-batizados no Cairo foram presos, batbaramente torturados, espancados, queimados com pontas de cigarros acesos. Eram acusados de "colocar em perigo a unidade nacional através de ações contrárias d religião celeste" ... (cfr. IGFM, junho/julho de 1991) -No Egito, quarenta mil católicos apostatam por ano! (cfr. IM, março de 1990). "Caçada aos cristãos" na Nigéria

Com cerca de 100 milhões de habitantes, a Nigéria é o país mais populoso da África. Ali o Islã impulsiona sua expansão de modo mais agressivo. O governo é fortemente islamita, não admitindo qualquer política de tolerância em relação aos católicos. - Na cidade de Kano, ao norte do país, produziu-se autêntica "caçada aos cristãos", com numerosas vítimas, que foram rapidamente enterradas ou queimadas. Segundo o diário "Nigéria Tribune", foram 300 as vítimas fatais. Ao brado de "Alá é grande", centenas de muçulmanos incendiaram igrejas, residências e casas de comércio (cfr. M, 17-10-91). - Em abril de 1991 deram-se cnfrentamcntos religiosos, de encadeados por fundamcntali ·tas islâmicos, em Bauchi e Katsina, no decurso dos quais foram queimadas 12 igrejas e 'A'l'OI.ICISMO, ABRIL 1902

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A introdução da charia torna automaticamente proibida, nos Estados Islâmicos, sob pena de morte, toda pregação do Evangelho

morreram 84 pessoas. Pouco antes, o semanário católico "Independant" denunciara a política do coronel Adisa, governador do Estado de Oyo, quando este anunciou que as escolas públicas e privadas que não ensinassem o Islã poderiam ser fechadas (cfr. MN, novembro de 1991). Sudão: Negros cristãos são escravizados

O-Sudão é o maior país africano. De seus 24 milhões de habitantes, 2 milhões são católicos que vivem sobretudo nas províncias do sul. O islamismo é a religião oficial do país, cuja população é 60% mu_çulmana. Desde 1983, com a introdução da charia, a situação dos cristãos piorou consideravelmente. Todos os nãomuçulmanos estão privados praticamente de qualquer direito. - Por ocasião do III Encontro de Antropologia e Missão, organizado na Espanha pela revista "Mundo Negro" e pelos missionários·combonianos, o ex-ministro sudanês, exilado, Bona Malwal declarpu: "Pelo que eu conheço do Js/,ã no Sudão, parece que a destruição do Cristianismo em seu território é um dos princípios básicos do integrismo islâmico, o qual tem como alvo particularmente a Igreja Católica. Prova disso é a destruição, CATOLICISMO, ABRJL 1992

nos últimos anos, de uma série de illStituições cristãs. Deram-se numerosos casos de fundamentalistas islâmicos agredirem médicos e religiosas que desenvolviam seu trabalho sanitário em hospitais. Durante os anos 60, o governo fechou todas as igrejas do sul do pais, edificando uma mesquita no lugar de cada uma delas" (cfr. "El Islam en Africa, un reto ai cristianismo", Editorial Mundo Negro, Madri, 1990). - É ainda Bona Malwal quem declara: "Durante os dois ou três últimos anos, um bom número de negros do sul do país foram presos e vendidos como escravos. Em 1987, as milícias locais, armadas pelo governo de Kartum, assaltaram nossos povoados, e como se não bastasse roubarem tudo o que possuíamos, levaram também milhares de jovens. Algu1ZS conseguiram escapar, outros foram mortos, muitos ainda vivem como escravos no norte do Sudão" (cfr. MN,janeiro de 1990)1

db Islã.no Sudão, parece que a destruição do Cristianismo em seu territórifi.é um dos princípios básicos do integrismo islâmico, o qual tem como alvo particularmente a Igreja Católica. Prova disso é a destruição, nos ültimos anos, de uma série de instituições cristãs. Deram-se numerosos cÇLSos de fundamentalistas islâmicos agredirem médicos e religiosas que desenvolviam seu trabalho sanitário em hospitais". Bona Malwal ex-ministro sudanês

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Holocausto de católicos no Sudão

- Em fevereiro de 1989, os seis Bispos católicos do país escreviam ao Primeiro-Ministro, Sadik el Mahdi: "Nossa consciência nos obriga a declarar que houve sérias violações de

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No dia 28 de dezembro . de 1989, milicianos ",· ' . muçulmanos mataram 2000 católicos em Gebelein, localidade situada a 350 Krri ao sul da capital sudanesa. No Natal daquele ano, os católicos exigiram os três dias de férias como de direito. Os islamitas se opuseram. E um "shilluk" (negro católico)foi morto por um muçulmano, sendo vingado pelos seus companheiros. Isso ocorreu no dia 27. No dia seguinte : · chegaram quatro caminhões carregados de ·milicianos armados de metralhadoras. . Cercaram o povoado, incendiando todas as cabanas dos negros do Sul; dispararam contra tudo e contra todos.

nossos direitos religiosos fundamentais. Entre as mais graves estão: surras, maus tratos e até assassinatos de catequistas, bem como incêndios, saques e profanações de igrejas, ofensas e calúnias contra colaboradores eclesiásticos" (cfr. IGFM, nov/dez. de 1990). - "Somos sem dúvida sudaneses. Dói-nos intensamente sermos tratados, com quanta freqüência, como estrangeiros. Nosso trabalho é visto com permanente desconfiança; são levantadas acusações infundadas contra nós. Há 27 anos as igrejas sofrem restrições e são injustamente tratadas. Não podemos obter hoje qualquer licença para a construção de igrejas ou de centros de oração. Certas regiões do Sudão estão proibidas para os cristãos. Lamentavelmente, temos de mencionar que a mídia conduz enfaticamente uma propaganda anticristã, usando linguagem injuriosa". Essas palavras são do Arcebispo católico D. Gabriel Z. Wako e dirigidas ao Vice-Presidente do Sudão, General Zubeir M. Salih (idem). · - O Bispo D. Macram Max Gassis, de El-Obcid, declarou cm Regensburg que considera os católicos ameaçados de extermínio cm sua pátria. Está havendo um holocausto. Catequistas estão sendo crucificados. Sacerdotes não têm permissão para visitar suas paróquias. Em novembro de 1989, os muçulmanos mataram mais de 200 cristãos na região de Lagawa. Em Dongola, 500 km ao norte de Kartum, alunos cristãos fornm cspancandos, enquanto muitos cristãos são perseguidos pela polícia (cfr. KM, março de 1990). - No dia 28 de dezembro de 1989, milicianos muçulmanos mataram 2000 católicos cm Gebelein, localidade situada a 350 Km ao sul da capital sudanesa. No Natal daos fundamentalistas pretendem retornar à upureza" e ao ufervor " dos séculos de expansão muçulmana (seca.VII e VIII)

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quele ano, os católicos exigiram os três dias de férias como de direito. Os islamitas se opuseram. E um "shilluk" (negro católico) foi morto por um muçulmano, sendo vingado pelos seus companheiros. Isso ocorreu no dia 27. No dia seguinte chegaram quatro caminhões carregados de milicianos armados de metralhadoras. Cercaram o povoado, incendiando todas as cabanas dos negros do Sul; dispararam contra tudo e contra todos, inclusive ateando fogo em quem pretendesse escapar. Dois catequistas católicos chegaram a Kosti, onde narraram o ocorrido (cfr. MN, fevereiro de 1990). Timor: Fanáticos muçulmanos abrem fogo

Em 1970, o exército indonésio invadiu o Timor Leste, uma ex-colônia portuguesa, e a anexou ilegalmente. Ativistas dos direitos humanos calculam que 100 mil timorenses, de uma população de 700 mil, morreram, vítimas do fanatismo muçulmano. Poucas notícias, entretanto, filtram para o exterior da ilha. - No dia 12 de novembro último, forças militares indonésias abriram fogo contra uma procissão de católicos que participavam de um enterro. Entre 50 e 150 timorenses foram mortos. Os soldados simplesmente abriram fogo. "Vi corpos caindo por toda parte", disse uma das testemunhas (cfr. NCR, 6-12-91). Ferocidade sacrílega na Somália

- No dia 9 ele julho de 1990, o Bispo da capital somalí, D. Salvatore Colombo, foi assassinado. Os fundamentalistas islâmicos atearam fogo na Cúria e na Catedral. O incêndio durou dois dias, consumindo até o porão. Um precioso crucifixo ali existente foi desfeito a tiros de metralhadora. As imagens sagradas, as estátuas, o altar, o púlpito e o tabcmácul o foram queimados ou destruídos. O sarcófago de um dos bis pos da cidade, D. Fulgêncio Lazzat i, foi aberto e os restos jogados fora . Do lado externo, desfiguraram o rosto da imagen) c.k Nossa Senhora de Giuba (cfr. OR, 28-7-91) . CAT( 1.IC I SM O, Al31l1L IDO\!

A igreja paroquial do-Sagrado Coração, em Mogadisco, foi completamente incendiada. Os símbolos sacros foram destruídos com sacrílega ferocidade. No cemitério católico, as cruzes foram derrubadas e os túmulos violados (idem).

Após narrar, aos participantes de um congresso na Espanha, que um missionário católico no Sudão foi flagelado em público por ter sido encontrado de posse de vinho para a celebração da Santa Missa, ele afirmou: "Qualquer diálogo entre ofundamen talismo islâmico e o Cristianismo, Execuções com cimitarra dado o desprezo do primeiro em relana Arábia Saudita ção ao segundq, é absolutamente im Na Arábia Saudita, onde vigora a possível charia, a Religião católica é proibida, "Os católicos sudaneses do Sul e quem se converte é executado com sentimo-nos preocupados quando a cimitarra (cfr. IM, março/90 ; l, comunidade católica em outras parmaio/91; VN, 20-1-90) tes do mundo fala em diálogo com o - Os funcionários do governo ne- Islã sem levar em conta os fatos .... gam autorização para construir igre- Estamos sobretudo preocupados com jas, tocar sinos, compmr vinho de a nossa liderança católica, a começar missa, e impedem qualquer Pároco de pelo Vati cano (3! .... Os sudaneses do entrar no país (cfr. DF, abri l/91). Sul estamos na primeira linha de/ren - 400 mil católicos estão ali sem te, resistindo ao tentâmen muçulmasacerdotes. Funcionários da alfân- no de destruir o Cristianismo na Áfri dega, nos aeroportos de Riad e de ca, e sofremos e nos sacrificamos Jiclá, arrancaram medalhas e crucifi- muito por essa causa. Por isso ,ião é xos dos pescoços dos trabalhadores, justo que a comunidade cristã debidestroçando os livros religiosos que lite nossa luta falando de um diálogo traziam consigo (cfr. KM,janeiro de para o qual não há nenhuma base" 1989). ("El Islam en África, un reto ai cristianismo", Editorial Mundo Negro, *** Madri, 1990 - O destaque é nosso). Seria um não mais acabar se inE vós, católicos da tolerância e da cluíssemos ainda o que se passa na concessão a qualquer preço, se não Turquia, Etiópia, Paquistão, Bangla- fordes agredidos a tempo pela realidadesh, Malásia, Irã, Iraque e Marrocos. de, merecereis a bofetada de um teóO que acima publicamos é apenas um logo muçulmano fundamentalista que registro para informação de nossos declarou: "Jamais vós [católicos] ouleitores, pois a matéria infelizmente é vi reis dizer que respeitamos vossa reinédita no Brasil. ligião. Da vossa parte, esse respeito em relação à nossa parece uma abdiUm ecumenismo mal entendido cação. Vós renunciais a impor-nos a Para concluir, seja-nos permitido vossa Fé, nós jamais renunciaremos aduzir, ainda que de passagem, uma a expandir o Islã" ... ("Le Point", Papalavra a respeito de um ecumenismo ris, 27-5-91). mal entendido, infelizmente muito di*** fundido nos meios católicos hoje em dia. Leitor. Perseguir assim a Igreja é Insistem seus adeptos na prática perseguir a Jesus Cristo. A Paixão de indiscriminada de um diálogo inter- Nosso Senhor se repete de algum religioso cordial, de uma acolhida modo em nossos diéti, nas atrocidades fraterna e compreensiva, na solidarie- praticadas pelos sanguinários seguidade e na tolerância em relação a in- dores de Maomé contra católicos. fiéis de outras confissões religiosas, Persegue-se a Santa Igreja, quer por vezes irredutíveis e fanatizados, atuando para dEla afastar as almas, como os que acabamos de ver. quer atentando contra os seus direitos A esse propósito, vale a pena recor- de "ir e evangelizar todos os povos", dar os comentários do ex-ministro su- conforme o mandado do Divino Mesdanês exilado, Bona Malwal. tre. Todo ato pelo qual se impede C ATOLICISMO, ABRIL 1992

" Os católicos sudaneses do Sul sentimo-rios preocupados quando a comunidade católica em outras partes do mundo fala em diálogo com·o Islã sem levar em conta ·os fatos .... .... estamos na primeira linha de frente, resistindo ao tentâmen muçulmano de destruir o Cristianismo na África, e sofrémos e nos sacrificamos muito por essa causa. Por isso não é justo que a comunidade cristã debilite nossa luta falando de um diálogo para o qual não há nenhuma base ". Bona Malwal ex-ministro sudanês

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alguém de aderir à Igreja é um ato de perseguição a Cristo. Arrancar uma alma à Igreja é fazer a Nosso Senhor, em certo sentido, o mesmo que a nós fariam se nos arrancassem um membro. Se, pois, nesta Semana Santa de 1992, queremos condoer-nos pela Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, não nos esqueçamos de quanto se faz atualmente para ferir-lhe o Divino Coração. Rezemos pelos perseguidos, para que perseverem na Fé. E peçamos a Nossa Senhora que mude as disposições de alma dos católicos neste Ocidente dito cristão. Pois só uma atitude enérgica deles poderá fazer cessar as perseguições. A Igreja, sofredora, perseguida, vilipendiada, aí está a nossos olhos quiçá indiferentes ou cruéis. Ela está diante de nós como Cristo diante da Verônica. Condoamo-nos pelos seus padecimentos. Coloquemos a seus pés nossa indignação reparadora pelo que ocorre. Com carinho, consolemos a Santa Igreja sofredora. Podemosestar certos de que, com isto, estaremos dando ao próprio Cristo consolação semelhante à que lhe proporcionou a Verônica.

O HISTóRIA

Notas 1. O fundamentalismo islâmico é a versão mais radical e exacerbada do maometanismo, fazendo reviver as cruéis perseguições religiosas que os islamitas promoveram em séculos passados contra os católicos, nos territórios onde dominaram. Hoje ele se encontra erri expansão, gozando ademais de simpatia e apoio em largos contingentes de muçulmanos não-fundamentalistas. Esses fundamentalistas propugnam a aplicação, ao pé da letra, do Corão, excluindo qualque~ interpretação, ensinamento, prática ou costume que não se ajuste a ele. Pretendem retornar à "pureza" e ao "fervor" - entenda-se cega obsessão - dos séculos de expansão muçulmana (secs.VII e VIII). Geralmente recusam tudo o que difere dos hábitos islâmicos ancestrais, com ódio especial aos vestígios da influência civilizadora e evangelizadora européia e cristã. 2. Charia é o direito islâmico baseado no Corão. Nele os cristãos, chamados dhimmi (gente do acordo), padecem um estatuto jurídico especial. Todo dhimmi adulto e livre deve pagar um imposto pessoal. Suas terras, ou são waaf - isto é, propriedade de todos os muçulmanos, conservando ele o usufruto - ou ele as possui como suas, devendo então pagar um imposto territorial (charad/). Este imposto cairá se ele se tornar islamita. Dado que o dhimmi não pode prestar serviço militar, ele é obrigado a pagar um imposto suplementar para manter o exército muçulmano. Deve, ademais, dife renciar-se do islamita pelo vestuário; não pode portar armas nem andar a cavalo . Os dhimmi não têm direitos civis em nenhum Estado islâmico. A introdução da charia torna automaticamente proibida, sob pena de· morte, toda pregação do Evangelho. 3. O Concílio Vaticano 11, em sua Declaração sobre as relações da Igreja com as religiões não-cristãs, diz: "Quanto aos muçulmanos, a Igreja igualmente os vê com carinho, porque adoram a um único Deus, vivo e subsistente, misericordioso e onipotente, Criador do céu e da terra, que falou aos homens" (n 2 3). Siglas das fontes DF - Revista "Der Fels", de Regensburg. IGVK - Die Situation der Christen in islamis chen Staaten - "lnformationshefte zum Gebetstag für die Verfolgte Kirche 1991 ". Livrete editado pela Kirche in No!, Munique, 1991 . IGFM- Mitteilungen an Freunde und Forderer Fir Die Menschen Rechie - lnternationale Gesellschaft für Menschenrechte - Deustche Sektion, Frankfurt - (Sociedade Internacional pelos Direitos Humanos, Seção alemã). SCEA- Instrumento de trabalho editado pelo Secretariado da Conferência Episcopal Alemã, Bonn, 1991 . IM - Revista "lglesia Mundo", de Madri. MN - Revista "Mundo Negro", dos missionários combonianos da Espanha . . M - "EI Mundo", de Madri. KM - • Die Katholischen Missionem". NCR - "National Catholic Registar", dos Estados Unidos . OR - "L'Osservatore Romano". 1- "L'lmpact", Paris . VN - "Vida Nueva·, de Madri.

CATOLI ISMO, ABRIL 1992 >

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O rei leproso No tempo das Cruzadas o valor humano decidia a vitória, como sucedeu no reinado de Balduíno IV oucas pessoas sabem çava então, e rola precipício abaixo até nossos dias. pois os cursos e livros didáticos de História quase Guerreiro providencial não falam disso - que os católicos mantiveram, durante Se, porém, pouco se fala da cerca de duzentos anos, um imexistência estável de um extenportante reino na Palestina, so reino católico na Palestina, chamado Reino de Jerusalém. . menos ainda se realça os gloNascido daquela ousadia riosos fatos que lá se passaram. que só a verdadeira fé comuniE quase não se menciona a fica, da santa inconformidade gura de um homem excepciocom o fato de os Lugares Sannal, intrépido guerreiro até o tos estarem sob domínio · dos holocausto por amor à Religião infiéis, cercado de muçulmacatólica, Balduíno IV (1160nos agressivos, a existência 1185), o rei leproso de Jerusadesse Reino foi uma proeza lém, que subiu ao trono aos 14 contínua. Tomou ele exubeanos de idade. Só hoje em dia historiadores imparciais vão rante realidade o sonho da Europa cristã de reconquistar o lhe fazendo justiça, como a ouSepulcro de Nosso Senhor. tros vultos da Idade Média. Hoje em dia deploramos No momento em que as que a decadência do espírito de maiores adversidades se acumulavam naquele Reino, a fé nos povos europeus tenha arrastado o Ocidente à triste Providência divina parece ter Balduíno IV é coroado rei de Jerusalém, em 1174 situação moral e religiosa em querido suscitar um homem que presentemente ele se enconmelhor diríamos, uma chama de tra. Mas esse não foi o único fruto Oriente ou Bizantino ao romper com fé e coragem - para mostrar que tudo deteriorado que daí decorreu. No a Sé de Pedro . ainda poderia ser salvo se o quisessem . Tal entibiamento, porém, foi a cau- seguir e imitar. E caso não houvesse Oriente, o Reino Franco ou Latino de Jerusalém - como também foi co- sa de que o Reino Católico de Jerusa- essa fidelidade - como historicanhecido - era uma cabeça-de-ponte lém desaparecesse. Apagado nos co- mente não houve - ao menos ficasse para a conversão daqueles povos à rações o ardor da autêntica fé, cessou ele como símbolo para os séculos fucruz de Nosso Senhor Jesus Cristo. Se de existir a uniã~ no mesmo ideal. E turos daquilo que a graça de Deus a fé não se tivesse entibiado nos cora- supresso o elo divino de união, come- pode produzir nas circunstâncias mais ções, dali o cristianismo poderia ter- çaram a preponderar os fatores huma- terrivelmente contrárias. se propagado em condições favorá- nos de divisão: rivalidades pessoais, Balduíno IV lutou contra a lepra, veis para toda a África e Ásia, e ambições etc. O resto, os maometanos doença então incurável, que nele se chegado, quiçá, aos extremos da Chi- o fizeram. Mas essa já não é mais a manifestou desde criança e o foi prona e do Japão, convertendo a Índia história dos "cristãos atrevimentos" gressivamente transformando num pagã e revertendo o cisma em que se de que fala Camões, o célebre poeta morto-vivo, quase um fantasma chaprecipitara o Império Romano do 1uso, e sim a da decadência que come- gado, até levá-lo ao túmulo aos 25

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CATOLICISMO, ABRIL 1992

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Estados católicos do Oriente anos de idade. Lutou continuamente, com grande inteligência e firmeza, para resolver os graves problemas resultantes das desavenças entre os senhores feudais, as quais lhe causavam as maiores preocupações. E teve de lutar sobretudo contra numerosíssimos muçulmanos, nunca antes tão fortes e tão unidos sob a égide do terrível sultão Saladino, que atacava freqüentemente o Reino católico para desmantelá-lo. A todos esses fatores altamente adversos, Balduíno IV soube sobrepor-se com fé e abnegação tais, que até hoje deixam boquiabertos os historiadores que dele se ocupam. Nos últimos anos de sua vida, fisicamente inutilizado pela doença, fazia-se conduzir ao campo de batalha em liteira. E sua presença incutia tal ânimo em seu exército e tal pavor no inimigo que, leproso e imóvel, ganhava para Cristo batalhas contra exércitos poderosíssimos.

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Seus pés haviam tido a mesma sorte e estavam como encolhidos pelo mais cruel dos torcionários chineses. Coberto de placas e bolhas, o resto do corpo não estava diferente para se

sem possibilidades de empreender a menor coisa .... A crise foi mesmo tão forte que ele teve medo de morrer. Não de comparecer diante de seu Criador, pois para isso ele estava há muito tempo preparado, mas de privar bruscamente seu Reino, seu exército, de um chefe" (*). Saladino foge

Em novembro desse mesmo ano, Saladino cerca com grandes contingentes armados uma estratégica fortaleza católica, o Crac de Moab. O exército cristão preparava-se para acorrer em auxi1io dos sitiados, infelizmente, porém, minado por divisões internas: "Então se produziu um acontecimento impressionante. Baldubw, a quem se imaginava agonizante, horrível e totalmente enfermo, já mergulhado nas trevas da eternidade, parecendo cortado do mundo, levantou-se de seu leito de mártir como um miraculado e manifestou sua intenção de seguir o exército. Animado por uma energia fora do comum, ele não renunciou. A o sultão Saladlno, Inimigo Implacável dos cristãos todos ele iria mostrar O que era "Sou um verme e não um homem" {SI. 21,7) ver. Este homem que perdia pouco a ser Rei .... Com ele a união se refaz em Eis seu retrato, em agosto de 1183: pouco toda semelhança com um ser hu- torno de sua liteira de cortinas cuida"Do belo meni,w louro que nove anos ma,w, comunicava-se ainda com o mun- dosam ente baixadas". À aproximaantes havia recebido com fasto a coroa, do através de urna boca deformada. Pois ção do exército cristão, os muçu1manão restava senão um inválido, um ser se o corpo era pouco a pouco destruído, nos se retiram: "O grande Saladino decaúl.o, repugnante. O belo rosto não o espírito permanecia firme. Ao preço fugia diante de umfantasma.... encerera mais que placas de carne marrom, de esforços por vezes espantosos, ele rado atrás das cortinas de sua liteifechando três quartas partes das órbi- continuava a assumir seu papel de ra ". A simples presença do rei leprotas, das quais todo olhar fugira para rei. Jamais ele havia faltado a um so tudo salvara. sempre, cortando-o do mundo, mergu- combate, jamais fugido a uma resNo ano seguinte, nova tentativa lhando-o numa ,wite eterna. Suas mãos ponsabilidade. Agora, entretanto, dos muçulmanos: "Os defensores do elegantes estavam reduzidas ao estado que a febre fazia tremer seu infeliz Crac viram com estupor chegar a de cotos. Seus dedos amortecidos ha- corpo, no sufocante calor do mês de multidão infinita de seus agressores. viam caído uns após outros, putrefatos. agosto, pela primeira vez ele se sentia A situação era trágica. Saladino tinha

O Reino latino de Jerusalém - Fundado por Godofredo de Bouillon, Duque da Baixa Lorena (atual França) e grande guerreiro cristão, em 1099, à frente da Primeira Cruzada. - Extensão: chegou a ser maior do que o atual Estado de Israel, ocupando todos os Lugares Santos. - Estados que lhe eram feudatários (também cristãos): Condado de Tripoli e Principado de Antioquia.

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- Principais Reis: Godofredo de Bouillon (1099-1100) Balduíno 1(1100-1118) Balduíno li (1118-1131) Foulques d'Anjou (1131 -1144) Balduíno Ili (1144-1162) Amauri 1(1162-1174) Balduíno IV (1174-1185) Balduíno V (1185-1186)

- A partir de 1186, no reinado de Guy de Lusignan, acentuam-se as disputas pessoais, o que ocasiona derrotas ante os muçulmanos, com o desmembramento progressivo do Reino. - Extinto definitavamente em 1291, com a invasão dos mamelucos (milícia turco-egípcia).

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praticamente dobrado suas forças". Vem, por fim, o exército cristão "pronto a enfrentar em combate desi gual as forças de Saladino. O que lhe dava este ardor, esta coragem, era uma presença no meio dele, a de seu rei Balduíno. Havia da parte dele uma espécie de deliberação, de obsessão de seu dever, à qual não falta va grandeza. Até o fim ele queria ser um exemplo para todos de força de vontade e de sacrifício. Ante tanta nobreza, tanto desprendimento, as di visões internas entre os cristãos desapareciam em torno dele. Há aí um caso excepcional, único na História. O sultão ficou vivamente impressionado pela chegada heróica de Balduíno ", e acabou por retirar-se. Seu biógrafo conclui: em face de Balduíno IV," como não ficar tomado de admiração, de veneração mesmo .... Em vão se procurará, através dos milenários a quem compará-lo. Jamais se viu reunidos num príncipe tanta coragem e espírito de sacrifício. É tempo que sua face perfurada pela lepra, mas resplandecente de uma luz

Ant1oqU1a

PRINCIPADO DE ANTIOQU IA

CONDADO DE TRiPOLI

Mar Med iterrâneo

REINO DE JERUSALÉM

• o Cf JC de Moilb

interior, entre por sua vez na legenda com Godofredo de Bouillon e São luís". GREGÓRIO LoPf5

Quem se acostuma com a lei do divórcio, pode ficar pior que os pagãos

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Conta-se que os antigos romanos manifestaram horror pelos primeiros casos de divórcio. Mas dentro de pouco começou a enfraquecer-se nos ânimos o sentimento de honestidade. Desapareceu o pudor, que é o moderador das paixões. .... Muito mal compreendem o interesse e afelicidade pública aqueles que imaginam poder impunemente perverter-se a·genuína e verdadeira noção do matrimônio. Desconhecendo a sqntidade da religião e do sacramento, parecem querer corromper e desfigurar o matrimônio mais vergonhosa e ignominiosamente do que o fizeram as próprias leis dos pagãos. (Encíclica "Arcanum Divinae Sapientiae ", n-º 21)

LEÃOXIII . CATOLICISMO, ABRIL 1992

(*) Dominique Paladilhe . Le Roi lépreux, Perrin. Paris, 1984.

CATOL!CISMO, ABRIL 1992

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História Sagrada

Comente, comente ...

em seu lar

noções básicas tador das tuas maravilhas e dos teus prodígios"<2).

O exército do Faraó, tragado pelas ondas

TRAVESSIA DO MAR VERMELHO APÓS J>ARTIREM do Egito, os israelitas encontravam-se numa situação sem saída: às suas costas, o exército do Faraó; e à sua frente, o Mar Vermelho. Moisés rezava pelo povo. "E o Senhor disse a Moisés: Dize aos filhos de Israel que marchem. E tu levanta a tua vara, e estende a tua mão sobre o mar, e divide-o, para que os filhos de Israel caminhem em seco pelo meio do mar.

"E os egípcios, que os perseguiam, entraram atrás deles pelo meio do mar, e toda a cavalaria de Faraó, os seus carros e cavaleiros. "E o Senhor disse a Moisés: Estende a tua mão sobre o mar. E Moisés, tendo estendido a mão sobre o mar, (este) ao romper da manhã voltou para o lugar habitual, e, fugindo os egípcios, foram as águas sobre eles, e o Senhor os envolveu no meio das ondas. E as águas cobriram os carros e os cavaleiros de todo o exército do Faraó e não escapou um só deles"<3>. Deus "precipitou o Faraó e o seu exército no Mar Vermelho, porque a . sua misericórdia é grande"(4). "E os israelitas viram os egípcios mortos sobre a praia do mar, e o grande poder que o Senhor tinha mostrndo contra eles. E o povo temeu o Senhor, e creràlll no Senhor e em Moisés, seu servo.

O Anjo protege a retaguarda

Cântico de Moisés

"E o Anjo de Deus, que caminhava na frente do acampamento de Israel, levantou-se e foi para detrás deles; e com ele ao mesmo tempo a coluna de nuvem, deixando a frente, parou detrás deles entre o acampamento dos egípcios e o acampamento de Israel, e esta nuvem era tenebrosa (do lado dos egípcios) e tomava clara a noite (do lado dos israelitas), de sorte que uns e outros não puderam aproximar-se durante o tempo da noite.

"Então cantou Moisés e os filhos de Israel este cântico ao Senhor: Cantemos ao Senhor, porque fez brilhar a sua glória; precipitou no mar o cavalo e o cavaleiro. O Senhor é como um guerreiro.

"A tua destra, Senhor, se assinalou pela fortaleza; a tua destra, Senhor, destruiu o inimigo. E, na grandeza da tua glória, aniquilaste os teus adversários. Enviaste a tua ira, que os devorou como palha. E, ao sopro do teu furor, se amontoaram as águas. "Quem, dentre os fortes, é semelhante a ti, Senhor? Quem é semelhante a ti, magnífico em santidade, terrível e louvável, operando prodígios?"(5).

Pré-figura do Batismo "O Mar Vermelho representa o Batismo. Com efeito, é por este sacramento que nos livramos do poder do demônio e, sob a direção de Jesus Cristo, podemos chegar à terra prometida do Céu. "Atravessando o Mar Vermelho, os filhos de Israel livraram-se da tirania do Faraó. Passando pelas águas do Batismo, avermelhadas de alguma maneira pelo próprio sangue de Jesus Cristo, os cristãos libertam-se da escravidão do demônio!"(6)_ Notas 1. Ex. 14, 15-22. 2. Sab. 19, 7-8. 3. Ex. 14, 23-28. 4. SI. 135, 15. 5. Ex. 14. 31 até 15, 11 . 6. L'Ancien et /e Nouveau Testament di[!posés sous forme de rocits suivis. Lethielleux Editeur. Paris. 1930, p.49.

Milagrosa divisão das águas "E tendo Moisés estendido a mão sobre o mar, o Senhor, soprando toda a noite um vento forte e ardente, o retirou e secou; e a água dividiu-se. E os filhos de Israel entraram pelo meio do mar enxuto, porque a água estava como um muro à direita e à esquerda deles"< 1). "Onde antes havia água, apareceu terra seca, e no Mar Vermelho uma passagemsemembaraço,eumcampo viçoso no seu profundo abismo, pelo qual passou todo o povo que era protegido pela tua mão [ó Deus], expec-

E Moisés tendo estendido a mão sobre o mar, este voltou a seu lugar habitual , afogando todo o exército do Faraó

Levantando o véu da Ecologia Mais uma aula de Dona Carolina é aguardada com a costumeira expectativa. Eusébio, o ecologista taciturno, procura manifestar·desinteresse, no que o acompanha um reduzido número de alunos. A todos, entretanto, dona Carolina dirige bondosamente a palavra: - Tenho me empenhado em lhes mostrar que a verdadeira ordem da nattu-ez.a só se alcança quando o homem, exercendo sua realeza sobre todo o universo material criado, domina a terra e a natureza toda, sujeitando-a e pondo-a a seu serviço, segundo os ditames da reta razão e do bom senso. Foi este o mandamento dado por Deus a nossos primeiros pais. Imaginar, poi.s, um ~equilíbrio ecológico" em desacordo com esse p1incípio, é subverter as leis estabelecidas pelo Criador, e caminhar, portanto, para a barbárie e a ruína. E conlinua dona Carolina. - Do mesmo modo, lhes fiz ver que um certo senlimentalismo para com as plantas e sobretudo para com os ani mais, é totalmente destituído de fundamento racional e não encontra guarida na doutrina católica. - Pois é justamente isso - atalha Bonifácio - que, bem explicado e exemplificado, abre os olhos de tanta gente para certa propaganda malsã da ecologia... - Sim, é verdade - retoma a professora - mas tal propaganda vem apresentada como uma simpática e bondosa defesa da natureza, para embair os espíritos e prepará-los para aceitarem idéias que, expostas íntegra e claramente, seriam rejeitadas . - Como assim,professora?! - salta repentinamente Eusébio de sua fingi da indiferença, tomado por uma espécie de susto. - Então, no que diz respeito à ecologia, existe por detrás uma filosofia encapuçada? - indaga Fernando, já antevendo a resposta. - Sim - prossegue dona Carolina - e até mais do que isto. Há uma espécie de "religião", ou melhor dito, uma anti-religião. A curiosidade de todos na sala, inclusive de Eusébio, chega ao clímax. A professora continua: - Vou ler aqui trechos da excelente revista Cato li cismo, a qual fornece importantes dados sobre a chamada "EcoCATOLICISMO, ABRIL 1992

logia Radical", com as mais ousadas afirmações desse movimento. Ouçam: "Peter Singer [pensador ecologista] em seu livro 'A Libertação dos Animais', escreve: 'Todos os animais [incluídos nesses também os homens] são iguais'. E trata da tirania dos humanos sobre os animais não humanos ... 'Essa tirania impona em especijismo rela cionado com o racismo". É sempre dona Carolina quem fala: - Os filósofos Peter Singer, Tom Regane Michael W. Fox sustentam que

"não há desculpa racional para matar animais, seja para.fins de alimentação, cient(ficos ou por mero comprazimento pessoal". - Mas é uma demência! - exclama Bonifácio. - Entretanto, eles vão ainda mais longe, acrescenta a professora: Michael Fox em seu livro "Retornando ao Eden" afinna que o "ho,Aem é o animal mais perigoso, destrutivo, egoísta e sem ética da face da terra". - É incrível, professora! - comenta Fernando. O gênero humano fica assim degradado e colocado abaixo de todos os animais, dos quais não estão exchúdos os daninhos e nem mesmo os vermes ...

Prossegue a leitura de dona Carolina: "'Os valores humanos e até a própria vida humana significam muito pouco para os ecol.ogistas radicais'"' diz o Prof Bidinoto. Numa entrevista, Arne Naess [outro "filósofo" ecologista].fixou como meta ideal uma população mundial de 100 milhões de habitantes. David Graber, biologista do Natio nalParkService, disse: "'Há um milhão d.e anos aproximadamente, tall'eZ metade, rompemos o contrato e nos trans forma,izos num câncer. Passamos a ser uma peste sobre a terra e contra nós mesmos"'. A classe ouvia tudo com silêncio estupefato. Dona Carolina conclui a lei tura: - "Graber não é o único a desejar a morte da espécie humana .... David Foremandeixoubemclaro .... o homem não é mais importante do que nenhuma espécie .... É bem possível que, a.fim de colocar as coisas em ordem, seja necessária nossa extinção". Um burburinho generalizado se produz na sala. "'Tudo isso não passa de loucura dt;sbragada", comenta alguém. .. Maldade requintada", afinna outro. "Parece um pesadelo", exclama um terceiro. Eusébio se mantém profundamente pensativo ... Dona Carolina retoma a palavra: - Não se esqueçam, meus caros, que tais palavras não são proferidas por excêntricos desacreditados, mas por professores universitários de renome, especialistas, escritores, jornalistas, que contam com todo apoio dos grandes órgãos de comunicação, e são recebidos, em círculos cada vez mais amplos, como pensadores dignos de toda atenção. - É justamente o mais inacreditável - sussurra timidamente Eusébio, já um tanto abalado em suas convicções ecológicas. - Vocês agora compreendem por que lhes falei de uma anti -religião? Não é verdade que no fundo de tudo isso está uma negação radical de Deus Criador que se manifesta, de algum modo, na maravilhosa hierarquia e harmonia de Sua obra, e sobretudo no homem, rei da natureza material feito à "Sua imagem e semelhança"? Por isso lhes recomendo: mesmo fora da aula, Comentem, comentem ... 17


0 BRASIL REAL - BRASIL BRASILEIRO

O ATUALIDADE

"Degrenindo" ... "

stão degrenindo nosso Se se recordar que a taxa de morÉ chocante. Mas, descuidadamenPaís!", exclamava exalta- talidade está caindo: no início do sé- te, o próprio jornal deixa escapar do um simpático fazendei- culo era 25, hoje apenas 7,2; que a que ... "o paulistano gasta em média ro, meu conhecido. Ele estava errado, devastação de nossas florestas di mi- 19 minutos em suas viagens feitas a porque .. degrenindo" rião existe em nuiu 26% nos últimos quatro anos; pé''. Apenas saudáveis 19 minutos! português. Entretanto, certíssimo, que mais de 70% dos domicílios bra- Ele faz em média 1,8 viagens a pé por pois realmente, não se sabe bem por sileiros têm televisão e geladeira, se- dia, o que dá um total diário de 34 qual razão, há pessoas que forçam as gundo pesquisa recente do IBGE; minutos, divisíveis em várias parcelas. cores cinzentas do panorama Será tão trágico assim? Ficam não mui to risonho em tomo abaladas com isto as colunas de nós, para tomá-lasacachado Universo, ou da saúde? pantes e desesperadoras. Outro exemplo é o mito de que .. os pobres ficam cada Ora, isso é, muito precisavez mais pobres, e os ricos mente, denegrir. cada vez mais ricos", já efiNegar a existência de uma cientemente desmontado crise é o mesmo que desejar pelo economista Carlos Patapar o sol com uma peneira. Muito antes dos atuais denetrício dei Campo no livro Is gridores, esta revista já timBrazil Sliding Toward the Extreme Left? (ver Catolibrava em apontar seus " contornos, diagnosticá-la e cismo, nº 429) . Finalmente, foram divul indicar para ela soluções de fundo. Naquele tempo, esses gadas estatísticas do IBGE senhores bocejavam, às ve(Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilios), sezes nos olhavam com um sorrizinho, e logo procuravam gundo as quais os ricos estão puxar um surrado "tudo ficando menos ricos, e os pobres, menos pobres. Estes tibem", entrouxado pelo meO Brasil produziu mais da metade do aço da América Latina nos umas dez vezes em cada veram um aumento real de vinte frases ... renda de quase 5% em apenas um ano, Agora os mesmos estão aí, ativos, que, dando provas de maturidade, enquanto os mais ricos perderam enimpiedosos. O "tudo bem" murchou. 61 % de nossos operários são favorá- tre 30,8% e 23% de sua renda no O denegrir tomou-se para eles quase veis à privatização de algumas ou de mesmo pen.::-do. Entretanto, a .. Folha uma profissão. todas as estatais; que aparecem exem- de S. Paulo" (22.11.91) conseguiu arplos como o de Sertãozinho (SP), ci- ranjar para essa matéria um título *** Para certos jornalistas, aliás, essa dade em que, tendo entrado em crise enorme alardeando exatamente o conforma por vezes sutil, geralmente bo- a principal indústria, o prefeito sus- trário: "Aumenta a concentração de çal, de difamação faz parte da profis- pendeu o pagamento de impostos e renda no país"! A cabeça do artigo diz são. Nosso País, em seus artigos, tarifas por parte dos desempregados e uma coisa, seu corpo, o contrário. Isto transforma-se numa espécie de mons- os supermercados baixaram os pre- sim é um monstro Frankenstein! Um preconceito anti-Brasil entro Frankestein, ou então numa Biafta ços ... Se se lembrar todos esses fatos a morrer de fome ... e alguns mais, vão dizer que se trata charca certa mídia, que não perde ocasião para inculcar que estamos mal, Por certo, eles não negam, por de casos isolados. exemplo, que nossas siderúrgicas Mas sefatos isolados não têm valor péssimos, .. na rabeira do quarto munproduziram 10.959.600 de toneladas como argumentação, por que fraudar do", perdendo tempo ao residir no de aço no primeiro semestre deste uns, arranjar outros, como a todo mo- País, que não tem mais jeito ... A crise, sem dúvida, existe. Mas se ano, ou seja, mais da metade da pro- mento se vê? dução total da América Latina. Que Posso dar exemplos de fraudes ou não acabou com o Brasil é porque este exportamos 20,9 milhões de tonela- arranjos "degrenidores". Segundo ar- é muito maior do que ela. Este é o fato geral, importante, das de café em 1991, um recorde his- tigo de página inteira da .. Folha de S. tórico de . venda externa do produto. Paulo" (27.10.91), "dois terços da po- transcendente. Por que não pensar Mas não dão o devido realce a esses e pulação" caminham a pé em São Pau- mais nele, e .. degrenir" menos? lo, ..por falta de dinheiro". outros fatos promissores. LEODANIELE 18

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CATOLICISMO, ABRIL 1992

Q =J=:il! Esquerdat brasileira ;~~!:~:ri;; "" uatro jovens

País. Inscreveram-se

na con ra-mao da H·1 sto' r·1 a

se estivessem diante do pareBoff, os huntoi:istas Ziraldo e dón .cubano. A moça, repteJaguar,oesaítorAntonioCalsentando o papel de condenalado, o jornalista Eric Nepoda como ..traidora", cai ao chão, enmuceno,ocantorTaiguara,oex-senaquanto catchup escorre por sua blusa dor carioca Saturnino Braga etc.etc. à maneira de sangue. Cada viajante devia levar-consigo 35 Nesse momento, inusitadaquilos de equipamentos médicos menteumgrupoderapazesavanNo momento em que o paredón é e medicamentos, além de maniça sobre os atores aos brados de: restaurado em Cuba, há uma espantosa festar sua oposição ao bloqueio "Brasil, Cuba! Umsó coração! E, comercial norte-americano em E, E! Viva Cuba, viva Chér A revoada de figuras da inteligentsia relação à Ilha-Prisão. jovem ..fuzilada", ainda no solo, revolucionária para apoiar Castro "Jeitinho" para escapar quase foi pisoteada pelos neobárSegundo Frei Betto, os inscritos baros. Escapou, como seus companheiros encurralados, devido chegaram a 180, mas "com o j eitinho brasileiro" acabaram à enérgica interferência de alguns circunstantes. viajando somente 112. Briga de estudantes castristas e anticast.ristas na década de Não é difícil discernir em que consistiu esse "jeitinho": entre 60? Não. Trata-se de cena ocorrida no embarque dos 112 a aceitação do convite e a efetivação da viagem ocorreram fatos participantes do chamado "Vôo da Solidariedade" a Cuba, na que esfriaram o ardor revolucionário de algumas dezenas de noite de 7 de fevereiro último, no aeroporto de Cumbica; em alegres "turistas da solidariedade". Assim, a execução no pareSão Paulo. dón do exilado Eduardo Diaz Betancourt, em 20 de janeiro, Os atores: integrantes do grupo teatral hebreu denominado representou uma ducha de água fria no incrível idílio da esquerNafesh. Atriz quase pisoteada: Betsabah Aguilla. da brasileira com o ditador que, há mais de três décadas, Agressores: na maioria, militantes do MR-8, que assistiam à atormenta o povo cubano. A posterior condenação à morte de partida do tal "Vôo da Solidariedade". mais dois anticast.ristas - Luiz Miguel Almeida Pérez e René Esse vôo - marcado já no início por tal incidente - começou Salmerón - agravou o mal-estar entre os admiradores do a ser idealizado em agosto do ano pas<iado, quando um grupo de ..paraíso" fidelista . ..intelectuais" da esquerda festiva, liderados pelo cantor Chicoi Em face disso, os incondicionais (não seria mais apropriado Buarque de Holanda, reuniu-se no Rio para prestar algum tipo de qualificá-los de irracionais?) do castrismo, não deixaram passar apoiei a Cuba. No fim do ano, o Secretário Estadual.de Educação a ocasião para expor ao público "pérolas" como esta, da lavra de São Paulo, Fernando de Morais, e o tristemente afamado do arquiteto Oscar Niemeyer: '''Se ele [Fidel Castro]/ez [isto é, religioso Frei Beuo aderiram à infeliz iniciativa. fuzilou], é porque era preciso. As coisas são feitas quando são A partir de então, Chico Buarque e Frei Betto coordenaram necessárias, e às vezes é necessário dar um exemplo" o vôo e enviaram convites a duas centenas de esquerdistas mais Globo", 21-1-92). O chargista Jaguar também apóia as execuem evidência - representantes da inteligentsia, que desfrutam ções em Cuba, mas tenta amenizar, na aparência, a brutalidade da generosa cobertura do macro-capitalismo publicitário do stalinista, com humor negro: .. Vou [a Cuba] para ver osfazila-

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mentas. São mais divertidos do que os da Baixada Fluminense" ("Folha de S. Paulo", 9-2-92). '' ' ' Outros dentre os "turistas da solidariedade", porém, deram um "jeitinho" em seus arroubos de amor ao regime comunista cubano, tendo em vista a incômoda restauração do paredón. Frei Betto e o vereador carioca Chico Alencar acharam de bom aviso declarar que intercederiam pelos dois condenados à morte, caso se encontrassem com "o presidente Fidel Castro". Chico Buarque primou pelo mutismo em face do paredón reativado. E desistiu de viajar, alegando a morte de seu sogro, na véspera do embarque. Ainda dentre os que roeram a corda, desistindo da viagem, o publicitário· Carlito Maia, do PT, não alegou qualquer desculpa de ordem familiar, parecendo claro que sua atitude foi um protesto contra a execução do dissidente Diaz Betancourt. A equipe juvenil Em 8 de fevereiro, dia seguinte ao do "Vôo da Solidariedade", partia do Rio, em direção a Cuba, um avião da companhia venezuelana Viasa, com 75 "ativistas" da "Brigada Brasil", em sua maioria estudantes provenientes de várias regiões do País, e cujas passagens foram pagas por "22 organizações políticas como PCB, UNE, CUT, CGT, Federação das Mulheres e MR-8, entre outras" ("O Estado de S. Paulo", 12-2-92). Os "brigadistas" infernizaram a viagem da tripulação e dos outros passageiros da Viasa com urros como "Revolução em Cuba livre é pra valer". E chegando ao aeroporto José Martí, em Havana, os jovens continuaram a vociferar palavras de ordem revolucionárias durante as duas horas em que provaram uma das delícias da antiga "Pérola do Caribe" - a fila da imigração. Um velho ônibus os aguardava para levá-los à fazenda coletiva "El Paraiso", situada a 40 quilômetros da capital. Lá, durante um mês, os "brigadistas" vão retemperar seu fervor revolucionário no "trabalho solidário" de uma colheita de banana e tomate. Muitos dos "brigadistas" haviam participado de tarefas análogas na Nicarágua sandinista. Assim, completando o esforço das "personalidades" do primeiro vôo, não faltou nem mesmo esse time juvenil para colaborar com trabalho gratuito ... Agruras dos mais velhos Mas também as "personalidades", embora tenham sido recebidas com uma festa no Hotel Netuno, não encontraram um mar de rosas. Já do avião se notava, se20

gundo o presidente do PDT do Rio, Prof. José Carlos Frias, que Havana agora é "uma cidade escura, com pequenas ilhas luminosas" ("O Estado de S. Paulo", 122-92). E quem ficou até mais tarde na festa, foi obrigado a enfrentar as escadas para chegar a seus apartamentos, alguns deles no 20 2 andar ... Razão? Elevadores desligados devido ao racionamento de energia. O jornalista Eric Nepomuceno terminou a noite junto ao elevador, alegando o peso da idade, para não galgar uma infinidade de degraus. Ao raiar do dia, segundo a mesma edição do referido matutino paulista, "um grupo de turistas espanhóis o confundiu com um ascensorista". Além de todas as calamidades decorrentes de um regime intrinsecamente antinatural, como é o cubano pelo seu caráter marxista, a Providência divina não poupou à Ilha um recente flagelo natural. Pouco antes do desembarque, o Hotel Riviera, mais central, que deveria abrigar os brasileiros, foi fechado para reformas em virtude de violenta e inusitada invasão do mar, que assolou a praia do Malecón. Fernando de Morais, grande admirador de Castro, atual Secretário da Educação de São Paulo e autor de um livro sobre Cuba, achou que este é o pior ano da história da infeliz Ilha. O que não é dizer pouco ... Para esses incondicionais apaixonados do regime comunista cubano, a causa de todas as penúrias e mazelas ali existentes é uma só: o bloqueio comercial norteamericano empreendido contra a Ilha. Ao que parece, sob efeito de uma paixão desordenada e delirante, a esquerda brasileira esquece com facilidade que, até há pouco, a ex-URSS invertera durante décadas quantidades astronômicas de dinheiro para sustentar sua antiga colônia do Caribe. E que, apesar desse auxílio fabuloso, o regime fidclisla - como o da própria ex-URSS - produziu tirania do ponto de vista político, fracasso social e miséria sob o ângulo econômico. O mais insuspeito dos críticos do castrismo, por certo, é o próprio Castro. Ele mesmo reconheceu a ineficiência de seu regime, quando ainda alimentado pela ama soviética. O óbvio - reconhecido hoje por todo o mundo, especialmente após o esfacelamento do ex-império soviético -- a esquerda brasileira nega-se a ver, como o avestruz com a cabeça dentro do buraco. Acontece qut a paixão desordenada cega, e além do mais cria mitos delirantes, que investem em vão contra a realidade.

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O Governo Collor anunciou com grande espalhafato, no começo do ano, o lançamento de um grande plano agro-reformista, batizado com o nome de Programa da Terra. O plano promete desapropriações e assentamentos em massa. Quase ao mesmo tempo saem notícias de que o Governo não tem verbas para atender às necessidades dos assentamentos existentes. "Fomos abandonados", declarou Zeferino Dorneles, líder dos assentados no Município de Nobres, Mato Grosso. Neste assentamento, o primeiro realizado pelo atual Governo, pasi,ados apenas 18 meses, o fracasso já é evidente. "Não há produção", diz Zeferino, informando que as famílias estão trabalhando nas fazendas vizinhas para não morrer de fome (cfr. "FolhadeS. Paulo", 11-12-91, Falta de verba pára primeiro projeto agrário de Col/or). Enquanto isso, como prova de que não precisamos da Reforma Agrária socialista e confiscatória, aparecem notícias de que nossa produção agrícola vai batendo seus recordes . De acordo com os técnicos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), "é possível aumentar o volume da produção para 100 milhões de toneladas em curto espaço de tempo e sem a expansão da área plantada. O bom resultado das safras agrícolas é visto atualmente pela área econômica do Governo como um importante instrumento para o controle da inflação" (cfr. "O Estado de S. Paulo", 3-2-92, Plano de safra prevê estimulo à tecnologia). Convém acentuar que o progresso de nossa agricultura tem-se dado apesar da política governamental qu se sempre prejudicial a ela, quer pela mudança contínua de rota, quer pela ameaça de desapropriações confiscatórias, quer pela preferência dos nossos governos pela industrialização do País, nas últimas décadas. Ou seja, apesar de todas as dificuldades, continuamos a produzir. Para

atender nossas necessidades e para a conquista de divisas, tão necessárias ao Brasil. Assim sendo, é o caso de perguntar: se as coisas vão bem, por que reformar? Esta embaraçosa pergunta, os agroreformistas, atolados no lamaçal dos absurdos, fazem de conta de que não ouvem e nem se preocupam em responder ... *** Há mais de 30 anos, fala-se no Brasil em Reforma Agrária. Desde os tempos da Ligas Camponesas do incendiário Francisco Julião, muita água passou debaixo das pontes sem que tenha aparecido sequer um estudo sério mostrando a necessidade de aplicar a Reforma Agrária no Brasil. As experiências realizadas - feitas com desperdício de grandes somas tiradas dos contribuintes através de impostos, ou via desapropriações confiscatórias - redundaram em estrepitosos fracassos. Fora de nossas fronteiras, repete-se a mesma coisa. Da ex-URSS até o México, mais recentemente, a Reforma Agrária mostrase como a causa principal da miséria existente nos regimes comunistas ou intensamente socializados. Com o fracasso fragoroso desses regimes, ela deveria ser questionada, analisada e cancelada dos programas dos governos realmente interessados em promover o bem comum. Embora ninguém tenha a coragem de negar estas verdades, no Brasil num desconcertante caminhar na contra-mão da História - continua-se a desejar a Reforma Agrária ...

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Em plena floresta amazônica, um grupo de famílias vive experiência de vida comunitária, sob efeito de droga e conduzidas por um guru

C

áclánaimprcnsapingamnotícias a respeito do chamado ~santo Daime". Ora se diz que é bruxaria, ora que é uma bebida curativa, que se trata de uma religião indígena, de uma seita ou de uma comunidade de tipo comutústa. Só se sabe ao certo que o ~santo Daime" vai fazendo proselitismo na classe endinheirada do Rio de Janeiro e de outras cidades, e que provoca vômitos. E que, ademais, conta com altos apoios políticos e nnancciros. Afinal, o que é isso? O ~santo Daime" apresenta-se com várias facetas, ao gosto do freguês. Para o povo miúdo tem ares de religião, para os mais intelectualizados seria uma "expressão cultural dos povos da Amazônia". Como religião, é uma mixórdia onde se encontram práticas de pajelança indígena com baixo espiritismo, presença de · Satanás e ai.é - pasmem! - algumas palavras cmpre tadas da terminologia católica, talvez para melhor atrair os incautos. Como ~expressão cultural", seria um costume indígena consistente em extrair de plantas·uma bebida alucinógena e, em O "Santo Daime" apresenta-se com várias facetas, uma das quais seria uma tomo da ingestão, dela elaborar um ritual. "expressão cultural dos povos da Amazônia". Por fim, haveria ainda uma expressão sociológica guc se traduz na formação de amazônica. Em torno dela elaborou-se dirigentes desse movimento, fica na confusão. agrupamentos humanos de tipo comwlis- um ritual. "Mestre Irincu" tinha visões de uma ta, com propriedade coletiva. Mas não do Como fundador da "doutrina do Santo cpmwlismo chíssico, ditatorial, com pla- Daime", cm 1930, é apresentado um ~ne- mulher chamada, ao mesmo tempo, Cla·nejamento rígido etc.; e sim de um neo- gro forte, com dois metros de altura" ra, Rainha da Floresta e Nossa SenllOra da comwlismo indigcnista - muito mais ra- conhecido como "mestre R.aimundo lri- Conceição, mas que também lhe pergundical que o anterior - formando uma tribo neu Serra", filiado ao Círculo Esotérico tava: "Tu tens coragem de me chamar de na floresta, conduzida por um guru ou pajé, da Comunhão do Pensamento, cm São Satanás'?" A tal Clara - ou Satanás e afundando aos poucos na barbárie, à me- Paulo, e à OrdemRosacruz. A "fundação" prometeu ao negro: ~ Eu vou te entregar dida que os rudimentos de civilização vão se teria dado "após um longo período de esse mundo para tu governar", mediante sendo por eles esquecidos. iniciação com a ayahuasca, bebida utili - certas cond ições. Não deixa de ser curioAspectos religiosos, "culturais", so- zada em rituais mágico-religiosos por sa a analog ia com a passagem do Evangeciológicos são apresentados de cambu- grupos indígenas", na selva fronteiriça lho cm que o demônio, aparecendo a Noslhada num livro guc se pretende científico Brasil-Peru. O atual guru, sucessor de so Senhor e descortinando diante dEle (L) mas com boa dose de propaganda para Irineu e líder da comunidade, atende pelo todos os Reinos do mundo, disse-Lhe: "Tudo isto te darei, se prostrado me adoatrair as diversas vertentes de leitores, e nome de "padrinhil Sebastião Mota". ir tornando "natural" a existência de barQuem toma o "Santo Daime" segundo rares" (Mt. 4, 9-10). Acrescenta o livro baridades como e sa. Dele extraímos os as prescrições rituais, acaba por ter vi- que ~a missão de mestre lrineu é a missão dados para este artigo. sões. Mas o livro deixa na penumbra até de Juramidam, entidade divina que reque ponto tais visões fazem aparecer se- presenta Cristo". Só que Nosso Senhor res com realidade externa, ou se se trata repeliu indignado o demônio, enquanto Repugna ao bom senso e ao simplesmente de fruto da imaginação Irincu parece ter-se sentido promovido e estômago O "Santo Daime", propriamente, é o alucinada pela bebida. Esse ponto, que encantado com a aparição ... O próprio livro infonna que, ao tempo nome dado a uma bebida extraída de um seria de capital importância esclarecer, cipó e de uma folha, ambos da floresta para se entender bem o que pretendem os dessas visões de Irineu, os caboclos, CATOLICISMO, ABRIL 1992

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quando tomavam a bebida, afirmavam ver demônios. Os bebedores do daime se chamam "povo de Juramidarri', 'ou seja, seguidores dessa entidade tida como divina. Como fator de atração para os não-iniciados, prometem-se curas. Já na orelha do livro se fala em "cura da gripe civilizatória" - de passagem lançam essa farpa contra a civilização. Mas também haveria cura do câncer, ajuda às mulheres no parto etc. O que é comprovado é que o tal daime causa mal-estar a ponto de produzir vômitos. Aliás, é compreensível. Assim como são próprios dos rituais católicos a ordem, a compostura, o bem-estar, a elevação de alma, vão bem com esse tipo de coisas a sujeira, a degradação da natureza humana, o horror. Sem falar que, segundo alguns especialistas em exorcismos, uma das características da possessão diabólica é a produção de vômitos.

autogestionário. A ser verdadeira esta hipótese, tornar-se-ia claro por que o "Santo Daime" está recebendo tantos apoios de gente bem colocada [ver quadro]. ..A proposta comunitária - diz o livro

-substituiu a forma privada de propriedade pelaforma coletiva .... o resultado

tência de dinheiro. Trata-se de um comunismo messiânico que visa "instalar um paraíso terrestre". Assim é que, em torno do "Santo Daime", formou-se em 1975 a colônia Cinco · Mil (sic!), congregando 43 familias, "orperto de Rio Branco (AC). Em 1980,

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No Brasil, a escola se transforma em estranho laboratório de experiências pedagógicas: as cobaias são os alunos

"padrinho Sebastião Mota decidiu mudar-se com seu 'povo' para o interior da selva amcq,ônica", já no Estado do Amazonas. Posteriormente, parte dos componentes migrou para outra frente na floresta. Entre os vários rituais há uma chamada "Missa" ("trabalho espiritual em be-

nefício dos que morreram"), "trabalhos de cura" (para produzir curas mágicas), "trabalhos de mesa" (para exorcizar maus espíritos), cerimônias para cantar hinos rituais etc. Tudo é grotesco: "Mestre Jrineu é a segunda volta de Jesus Cristo à terra, e o padrinho Sebastião

Capa do livro Santo Daime - Cultura Amazônica, de Vera Fróes

da produção também passou a ser comum, havendo uma divisão igualitária .... a proposta comunitária era o resultado da compreensão da essência da doutrina do Santo Daime ". Ou seja, a essência é o comunismo, o resto são iscas ou complementos. E como o comunismo ateu não pega, "a mola propulsara de desenvolvi-

mento da comunidade sempre foi o traballw doutrinário, sob a responsabilidade de padrinho Sebastião" e outros. O livro, ademais, interpretando essa "doutrina", ataca reiteradamente o capitalismo, o consumismo e a própria exis-

Assim, enquanto uma propaganda bem articulada vai incessantemente martelando slogans contra o capitalismo e a sociedade de consumo, sem apresentar soluções, de outro lado, de modo aparentemente espontâneo, surgem comunidades do tipo "Santo Daime", com "soluções" comuno - tribalistas. É muita coincidência!

JACKSON SANTOS

Notas (1) Vera Fróes, Santo Daime - Cultura Ama zônica -História do Povo Juramidam, Suframa, Manaus, 1986, 2• ed. (2) Cfr. Plinio Corrêa de Oliveira, Tribalismo Indígena - Ideal Comuna-Missionário para o Brasil do Século XXI, Vera Cruz, São Paulo, 1977 ; e Revolução e Contra-Revolução (Ter-

ceira Parte), Diário das Leis, São Paulo, 1982, 2•ed.

Uma comunidade bem apoiada Éde chamar a atenção o número de apoios políticos e financeiros obtidos pelo livro de Vera Fróes sobre o "Santo Daime'. Ao que parece, há muita gente interessada no assunto, mesmo que seja apretexto de "cultura'. Entre os apoios citados estão: BANACRE - Banco do Estado do Acre; dois governadores (do Acre e do Amazonas); um ex-governador

Conflitos no âmbito escolar: quem está com a razão?

ganizadas sob princípios comunitários",

representa São João Batista". Qual a finalidade? Mas a que conduz afinal o "Santo Daime"? À formação de uma comunidade sem propriedade privada, vivendo na floresta, semi-nômade, à maneira de uma tribo indígena. Tudo se passa dentro de um quadro ecológico-florestal de "integração com a natureza através do traballw cotidiano da terra". É, pois, ao que parece, uma experiência, feita em território brasileiro, de um novo estado de coisas que religiosos, filósofos, sociólogos, escritores em geral das mais avançadas correntes desejam impingir à humanidade (2). É o velho paganismo indígena, apresentado como modernidade. Dir-se-ia que o "Santo Daime" está ligado - à maneira de um esboço inicial - ao imenso esforço propagandístico mundial que, com múltiplos matizes e conformes, visa à derrubada da presente civilização. E isto em favor de uma sociedade ecológico-tribalista radical, de tipo

O EDUCAÇÃO

(do Acre); prefeito de Rio Branco (AC); diretor-presidente da Fundação Cultural do Estado do Acre; Universidade Federal do Acre; Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro; Administrador da Fundação Projeto Rondon (AM); deputado estadual amazonense; Secretaria da Educação e Cultura do Amazonas; superintendente da Fundação Cultural do Amazonas.

Consta ainda especialmente para a primeira edição (1983), apoio financeiro da Superintendência da Zona Franca de Manaus-Soframa. E para a segunda edição, apoio de um senador, dois deputados federais, o lnacio's Palace Hotel do Acre, e o gerente da VASP em Rio Branco. E a lista prossegue. Se a pesquisa e o livro contaram com tantos apoios, quanto di-

nheiro não será então canalizado para a manutenção dessas comunidades-piloto na selva? O livro informa também a existência .de centros daimeistas em ' São Paulo (num bairro "chie'), no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte.

CATOLICISMO, ABRIL 1992

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omo. não poderia deixar de ser, nem a escola conseguiu se safar da onda de crises que varre a sociedade neste nosso fim de século. Mesmo em países onde a qualidade do ensino se mantém aparentemente ilesa, há problemas que deixam alarmados os espíritos previdentes. Esta situação doentia atinge, especialmente, o ensino público, vítima de uma certa pedagogia dita "moderna". O caso brasileiró se encaixa, infelizmente, entre os mais graves. Aliás, como noticiamos na edição de novembro de Catolicismo, está em tramitação no Congresso Nacional uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) que, se os legisladores quisessem, poderia reerguer nossas escolas, do fundamental à universidade. No campo de ação que nos é próprio, temos lutado conforme já informamos, para que essa nova LDB seja a melhor possív ·I; mas, devido às causas de sempre (pressões da esquerda, desinteresse ou eqtúvocos de muitos congressistas e educadores do centro e da direita), não será fácil obter-se uma solução satisfatória para os graves problemas educacionais que afligem o País. Só uma reação da opinião pública, exigindo dos poderes constituídos, bem como dos responsáveis pela educação, wn programa de salvação do ensino nacional, poderia encaminhar bem o problema. Tal movimento, porém, não dá sinais de si no horizonte.

Na França, escola "moderna" produz bárbaros Mesmo a França - outrora país da cultura - afw1dou-se na crise escolar. E lá, como aqui, as cau as primeiras não são difíceis de detectar: experiências de pedagogia "moderna" pseudo-cientifica, liberalização dos costwnes, diminuição da autoridade e outros ingredientes de decadência, tirados da despensa do socialismo relativista e igualitário. A análise do que aconteceu na França pode servir-nos de ponto de referência, pennitindo enxergar melhor nossa situação catastrófica. Ora, duas jovens professoras francesas, Isabelle Stal e Françoise C ATOLICISMO, ABRIL 1992

Thom, fizeram com maestria essa análise, pondo o dedo na chaga. É uma obra polêmica, mas objetiva e seguramente irrefutável: L'École des barbares, editada no Brasil sob o título A escola dos bárbaros (Editora T.A. Queiroz e Editora da Universidade de São Paulo, 1987). O livro foi escrito em 1985, mas quem ousa negar que continua inteiramente atual? Como sugere seu título, o sistema educa-

para medirmos a ousadia da tese defendida pelo livro.

cional de nossos dias, conduzido por ideólogos socialistas, transformou-se nwna "fábrica" de bárbaros. De propósito - é o que sustentam as autoras. São gerações e gerações de jovens que saem das instituições de ensino sem terem adquirido aquilo que lá foram buscar - cultura, ciência - mas transformados em novos bárbaros, brutais e apáticos ao mesmo tempo, tendo perdido o que de maravilhoso e lógico havia em suas almas. Denúncia de uma gravidade incomensurável. Baste-nos ela

florescimento de uma literatura que apresentava o conjunto das instituições como um sistema de repressão que pousava sobre três pilares: o quartel, o hospital psiquiátrico e a escola, três versões disfarçadas da prisão. Bastaria arrombar esses três ferrolhos para a sociedade se emancipar". Idéias que, a seu

A ideologia por trás da reforma escolar A obra é muito densa, prestar-se-ia a ser comentada em vários artigos. É preciso, então, selecionarmos alguns pontos, como o seguinte: .. Em meados dos anos 60, viu-se o

modo, correm também nos meios esquerdistas brasileiros, e certamente inspiram a nova pedagogia, Já temos até, tramitando no Congresso Nacional, uma proposta

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Atotxcis para acabar com os hospitais psiquiátricos (os hospícios). "Censura-se a escola - conúnuam as autoras - por não dar aos alunos os

instrumentos imprescindíveis ao êxito, por estar 'afastada da vida', por entravar a livre expansão da criatividade, por ser rígida, po r não p roporcionar iguais oportunidades a todos etc.". É a mesma crítica ·encontrada em influentes publicações pedagógicas brasileiras. "A extrema incoerência dessas quei-

dantesco onde os que ainda andam só conseguem transitar a duras penas. Nem se/ale das cotoveladas, pontapés, bolsadas, rasteiras e zambariasque um professor agüenta num dia de trabalho. A mesma grosseria permanece nas classes. "Seria de esperar que os professores indignados enfrentassem e reagissem contra esses verdadeiros ataques à sua dignidade. Não acontece nada. Seja porque temem o julgamento dos.colegas, seja porque tremem diante da administração

xas mostra em que confusão se encontra nossa sociedade quando tenta pensar a educação; a conf usão dos espíritos, quanto ao assunto, exp lica como o delirio de alguns pôde se expandir, abrigado pela mais desenf reada de,nagogia. Explica também como a escola, afastada de seus objetivos tradicionais, transformou-se em campo de experimentação aberla a todas as utopias". Em outras palavras, na França (e no Brasil .. .) boa parte das escolas, em vez de ensinarem Gramática, História, Matemática, Religião, Latim (por que não?), foram transformadas em laboratórios de experiências pedagógicas esdníxulas, nas quais ascobaias são os alunos!

Alguém mais tem culpa? Para as autoras, a culpa não é só dos ideólogos de esquerda. De fato eles são os promotores da crise, mas não encontram reação à altura. O livro denuncia o "sistema de covardia", pelo qual a maioria dos concernidos pelo desastre - inspetores, diretores, professores - não têm coragem de se unirem e reagir. "Covardia dos docentes: os corredores das escolas não se diferenciam dos pátios de recreio, de pocilgas. Lixo por toda parte, bolas mal cheirosas, papel rasgado, giz esmagado, cabides arrancados, paredes maculadas de inscrições obscenas, vidros quebrados, urros selvagens, vociferações bestiais, pugilatos, roubos, extorsões, insultos, fezes, corpos caídos entre os detritos, universo

[diretoria] e dos pais, seja porque se apavoram diante de eventuais represálias dos alunos, os professores engolem tudo e recebem os insultos sem reclamar". As autoras descrevem cm seguida a "covardia da administração": os diretores são pressionados pelas autoridades escolares, os sindicatos e os pais e, de outro lado, não conseguem dominar os alunos. Além disso, estão proibidos, pelos poderes educacionais, de expulsar os indisci plinados! "Observa-se a mesma covardia

da administração em face dos professores: teme os que reclamam estrepitosamente e outros bonzos sindicais; mas es-

maga o professorzinho amedrontado que, aliás, nem pensa em defender sua própria dignidade". Casa onde falta pão ... Situação deveras complexa a pintada pelas autoras. Quem está com a razão? O Estado certamente não. Mas, então, os diretores, os professores, os pais? É verdade que diretores e professores vêem-se, muitas vezes, diante de pais que os pressionam, gritam e chegam até a ameaças graves, pais que sempre defendem seus pimpolhos, por péssimos que sejam o comportamento e o desempenho deles. De outro lado, muitos pais, que se esforçam por dar aos filhos uma educação decente, preservando-os das drogas, da imoralidade, da corrupção, da violência, temem legitimamente deixá-los entregues em mãos de "educadores" que tentarão provavelmente desviá-los do bom caminho. Esses pais não encontram outra saída a não ser berrar para serem ouvidos. Quantos diretores não se vêem empurrados contra a parede, nos conflitos entre inspetores, professores, funcionários, pais, alunos, sem receberem apoio das autoridades educacionais? E há diretores que, em tais conflitos, tomam o pior partido. Jsw infelizmente tem acontecido ... São problemas praticamente insolúveis, numa sociedade que já deixou de ser uma Civilização Cristã. Vem a calhar uma paráfrase de conhecido ditado popular: "Escolas onde faltam a Moral e a Civilização Católicas, todo mundo briga e ninguém tem razão". Seja como for, Catolicismo não desistirá de lutar pela recuperação do ensino. Bem o comprova o esforço que vimos desenvolvendo para expurgar de seus aspectos malsãos o projeto de Lei de Diretrizes e Bases da Educação bem o comprova. E, se tais aspectos não forem eliminados, os males acima descritos serão agravados, conforme acentua o artigo sobre educação, estampado em nossa edição de novembro último.

E O mais terrível não é quando a pessoa é ~astiga~a, mas quando o cas tigo

Cerca ruim é que ensina boi a ser ladrão.

nao corrige.

(provérbio brasileiro)

(Pli.nio Corrêa d e Oliveira)

Quem a um castiga, a cem fu stiga.

Um único dia trará aquele castigo que muitos dias pedem.

(provérvio brasileiro)

Quem não faz filho chorar, chora por ele.

(Publílio Siro)

(prové1vio brasileiro)

Quem me repreende, do mal me defende.

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CATOLICISMO, ABRIL 1992

- A única posi ção livre e independente é a de CE-E-EN-TRO! - S Você é contra os exag eros, não exagere. Analise o jogo "cabo de guerra ". Quando um vai p r lá, o centro da corda vai para lá. Quando vem para cá, para cá ve m, Se a direita vai para o ntro, ele vai para a esquerda, e o contrário .acontece se esta para o centro vai. O centro é uma posição? Ou uma localização provisória, instável , em tudo dependente das outras osições?


i~,· DOIS EDIFÍCIOS .. ~

idro e concreto em forma de paralelepípedo, linhas monótonas e frias, será a construção reproduzida em nosso primeiro clichê um templo de alguma seita esotérica? Algo de sinistro se desprende dessa mole de cimento. Longe de lhe conferir alguma beleza, os possantes refletores que ilum.inan sua fachada apenas evidenciam o aspecto som.brio, quase fúnebre, do edifício. A luz parece

V

absorvida pelas trevas que o circundam. O nome do local onde se encontra bem representa a mentalidade de seus construtores: Praça da Ditadura do Proletariado, na exLenigrado. De fato, construída em 1974, a sede do Ministério da Instrução Política do governo soviético exprime em sua arquitetura toda a hediondez do igualitarismo massi fi cante, peculiar à filosofia comunista.

DUAS MENTALIDADES Pelo contrário, grandeza proporcional e harmonia no estilo, sem. nada de ameaçador, caracterizam o Palácio de Inverno dos antigos Tzares, situado na mesma cidade, novamente denominada São Petersburgo. A luz tênue do entardecer, que se reflete na alvura de suas colunas, primorosamente trabalhadas em. seus capitéis dourados, as molduras opulentas, os vasos e estátuas na bordadura do telhado, conferem ao edifício uma aparência de nobreza e distinção, própria a atrair a admiração e o respeito de todos. Obra-prima da arte barroca do século

XVIII, e uma das mais brilhantes criações de Bartolommeo Rastrelli, o Palácio de Inver no foi tomado d assalto pelos bolchevistas na noi t · \ do dia 7 de novctn '· bro de 1917. A par tir de então, pa 011 para a História como símbolo de um mundo q uc na { ra. Era a ditadura do proletariadc que vencia. Décadas depois, ele ressurge em mei ao, catastróficos frutos do socialismo, no ph·11 dor de sua glória, como que a prenunciar o dia em que a Rússia se converterá e o com11 nismo será varrido da face da terra.


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No Rio Grande do Sul, a esquerda católica prega a invasão de terras, a repulsa à evangelização da América e a in1plantação do "modelo cubano" em nosso País


MAIO de 1992

Número497

Discernindo, Distinguindo, Classificando ...

Pichações

..A.ssesta:n.clo o

foco

A existência de gangues bem organizadas de pichadores levanta interrogações "Outra vez esses malditos me pi- E pichar não só não dá lucro, mas traz mentados não se sabe bem por que charam o muro, pintei-o ontem!" gastos. Em novembro último, um lí- misterio a mão (cfr. Catolicismo, desabafava o pequeno comerciante. E der (de 17 anos) da Lixomania, prin- agosto/9 1); a escalada da criminalidaacrescentava: "Não pinto mais, vou cipal gangue de pichadores de Santo de e da violência em geral; a impresdeixar como está". André-SP, declarou que seu grupo sionante derrocada da moral social, Esse sentimento de ódio, e ao mes- utiliza aproximadamente 15 latas de nos hábitos, costumes, vestes, comanmo tempo de impotência diante do spray por mês, compradas, cada uma, danda pela TV. fato consumado, seguido da firme re- a Cr$ 2.850,00 (cfr. "Diário do GranO mundo modcmo vai se afastando solução de .. .- não fazer nada, vai se de ABC", 29-11-91). Portanto, de- da civilizaçã e caminhando 1umo a generalizando entre as vítimas das pi- sembolsava a quantia mensal de Cr$ uma oco-barbárie. Nesse conjtmto, chações. 42.750,00, valor equivalente ao do uma ação programada de pichadores E com isso a sujeira visual espar- salário mínimo naquele mês. Gastar encontra facilmente uma explicação. rama-se por paredes e muros Pois, e se trata de abater todas cidades, sem que nada se do os valores morais, artíslhe oponha. O Cristo Redentico e até de simples ordenator, no Rio de Janeiro, e a ção e limpeza, para chegar a igreja Nossa Senhora Apareuma situação semelhante à cida, em São Paulo, não puda taba indígena, então é claderam escapar aos sprays dos ro que um enfeiamento cio novos vândalos. Quando a panorama urbano contribui propriedade pichada é partilargamente para isso. cular - esmagadora maioria Há, ainda, vários sintodos casos - a polícia, para mas que falam a favor de agir, precisa receber uma uma ação programada. Os queixa do interessado, o que pichadores, em geral, não dificilmente ocorre, pois dá são isolados, mas estão trabalho e pouco adianta. A constituídos em gangues conseqüência é que os pichabem organizadas, caracteridores têm livre trânsito. zando-se por usar camisetas Numa sociedade como a e bonés. Muitas delas adoli nossa, em que é rara a possitam nomes em outras línbilidade de praticarverdadeiguas, não parecendo, portanto, serem ignorantes as , ras fo_rmas de he~oísmo, algm1S Jovens engaJam-se na pessoas que as batizam. AsNem os mais altos prédios escapam às pichações pichações à procura da avensim a The Masters (Os Mestura e do risco. Para pichar, entregam- esse d.inhei ro à toa, é próprio de quem tres) ou a Stork (Cegonha). Outras se por vezes a escaladas perigosas e é pobre? Ademais, há também picha- atuam em mais de uma cidade, como expõem-se a fugas precipitadas, que dores vindo de famílias ricas ou da a Turma New Life (Nova Vida) em lhes servem de caricatura do verda- ela e média, que no jargão deles são São Paulo, Santo André e São Berdeiro ideal não encontrado. chamados bafo. nardo. Cada grupo tem, ademais, A epidemia de pichações, segundo seu logotipo próprio. algLU1S, seria devida à pobreza de muiTudo isso faz pensar em que a nosTalvez se encontre um esboço de sa pobre sociedade ex-cri lã, caótica tos meninos. Tal justificativa, entretanto, parece pouco convincente e lógica para explicar a mania de picha- e sem rumo, está sendo empurrada, provém, em geral, de ceita categoria ções, lembrando que ela é concomi- por fatores pouco clar , para um esde indivíduos de raciocínio curto, tante com vários fatos esquisitos: o tado de coisas bem triste. E que os para os quais a pobreza é uma espécie crescimento do número de desocupa- pichadores, mu:it'1s v zcs sem o sabede coringa que explica todos os males dos, verdadeiros índios urbanos, que rem el me m , sã um dos dedos passaram a "morar" nas ruas e praças - talvez mindinh - da mão que do mundo. Pobreza sempre houve, mas a febre das cidades, sem querer trabalhar e empurra . C.A. de pichações é relativamente recente. sem pedir esmolas, ali mantido e ali2

AT LI CISMO,MA!O 1992

,, Todos

terem "trazido aos índios uma outra religião".

os índios e descendentes de índios aqui presentes fiquem de pé. Todas as outras raças devem se ajoelhar. Os índios e seus descendentes estendam as mãos sobre nós que estamos de joelhos. Vamos pedir perdão".

Qual a "outra religião" trazida ao Novo Mundo por Nóbrega e Anchieta, e por tantos missionários? O Cristianismo! A doce religião de Nosso Senhor Jesus Cristo é assim considerada uma intrusa, um fator de opressão: "Com a cruz vei.o tamhém a espada dos coloniz.adores', diziam.

Essa insólita voz de comando foi dada através do potente sistema de som, do alto de um caminhão, onde se encontravam um pobre silvícola, duas crianças fantasiadas de índio, e os líderes da 15ª Romaria da Terra, promovida pela Comissão Pastoral da Terra ( CPT), em Hulha Negra (RS).

Mas os promotores da 15ª Romaria da Terra não se limitaram a pedir perdão: incitaram os "romeiros" à luta de classes, às invasões de propriedades rurais, à destruição das cercas e à implantação da Reforma Agrária "na marra".

Por que pedir perdão? Pasme, leitor: pelo Descobrimento e Evangelização da América, cujo V Centenário neste ano se comemora!

Essa mistura explosiva de tribalismo e marxismo, temperada com fortes pitadas de ccologismo radical, vem analisada nesta edição por uma bem documentada reportagem. Nela figuram significativas declarações de produtores rurais e de lideranças do Movimento dos "Sem-Terra", no Rio Grande do Sul.

Ajoelhados promíscuamente em meio à massa humana, encontravam-se sete Bispos, dezenas de padres, freiras e agentes pastorais, todos pedindo perdão por

SUMARIO Agitação Agráda -

Romaria ou incitame nto à luta de cl asses?

16 História Sagrada

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Umjazigoduas tril ogias

19 Hagiogra fia 25 Comente, co mente .. . 26 Brasil Rea l. ..

21 27 28

História -

Um escravo de Maria

21

17

6

2 Discernindo .. . 13 Caderno Especia l

I nte1-nacional

Perfis l lum anos ... Imagens cm painel Se não queres na ufragar. ..

Fotos contra-<:apa : Paulo Flanken / ZH Beth Santos / ZH

A!Ol]CXSMO Catolicismo é uma publicação mensal da Editora Padre Belchior de Pontes Uda. Diretor : Paulo Co rrêa de Brito Filho. Jornalista Responsável: Takao Takahashi - Registrado na DRT-SP sob o Nº. 13748. Redação e Gerência : Rua Martim Francisco, 665 - 01226 - São Paulo , SP - Tel : (01 1) 825.7707. Diagramação : Antonio Carlos F. Cordeiro - Rua J avaés , 681/689 - 01130 - São Paulo - SP: Fotolitos: FotoArt Fotolitos Uda. - Rua Guatambus, 340 - 02316 - São Paulo - S P : lmpreaaão: Gráfica Editora Camargo Soares Lida. Rua da Independê ncia 767 - 01524 - São Paulo, SP. Para mudança de endereço é necessário mencionar também o end ereço antigo. A correspondência relativa a assinatura e venda avul sa pode ser enviada ao endereço da Gerência de Catolicismo. ISSN lnternationa l Standard Seri al Number - 0102 -8502

CATOLI CISMO, MAI O 1992

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Espionagem continua

A KGB e as repúblicas da antiga URSS estão organizando serviços de espionagem próprios ao estilo do - velho regime, afinnou Schmidbauer, assessor de Kohl, em entrevista a um jornal de Colônia que a imprensa brasileira referiu em nota muito breve. Segw1do ele, os espiões da ex-URSS, assim como de outros países do Leste (Tchecoslováquia e Polônia, por exem plo) estão muito ativos na Alemanha e recebem apoio de agentes da polícia secreta ela ex-RDA, a Stasi.

No momento em que o Ocidente começa a desmobilizar considerável parte de suas defesas, o Leste ex-comwusta em vários campos parece imitá-lo. Noutros, porém, sob este ou aqL1ele disfarce, conserva os sistemas ele outrora. Que julga disso o leitor?

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Durante sessão comemorativa cio segundo aniversário ela inclcpendênc.ia lituana em relação à tirania comunista, levada a efeito no Clube Lituano-Americano de Miami, o diretor cio Movimento "Cubanos Desterrados", Sérgio Paz, mani festou seu desconcerto no tocrulte ao recente acordo comercial firmado entre Lituânia e Cuba.

Patrulhas ideológicas

peito jornalista de esquerda Sebastião Ncry, em recente artigo para o "Jornal de Brasília", bem ilusu·a como - e

pode voltar à vida. É como o mito grego da Hidra, cujas cabeças cresciam de novo, após terem sido conadas" (do jornal suíço ~sonntags Blick", apud "Folha de S. Paulo", 9-3-92).

plomáticas e comerciais, no sentido de prolongar a péssima ditadura comunista em Cuba", afirmou o orador, conclamando a comunidade lituana a denunciar essa inaceitável aliança.

UNão se pode conceber como a nação [lituana], que, ontem ainda, apelav(;l- a todos os povos da terra para a ajudarem a libertar-se, hoje colabore, por meio de relações di -

Inexplicável reforma

use a ditadura dos generais brasileiros tivesse tido competência para fazer, na nossa imprensa, a censura que a patrulha histérica de ce rta 'esquerda 'faz, os militares estariam no Poder até hoje". A afirmação do insus-

Contudo, será que ele controla a situação? O Exército aceita e obedece a suas ordens? Quanto ao comunismo, ou çamos um entcncliclo na matéria, Gorbachev: "O comunismo

Lituânia dobra-se a Cuba?

Enquanto o Governo alega não possuir dinheiro para o reajuste de 147% sobre o vencimento dos aposentados, 29.154 servidores públicos colocados em clisponibilidaclc há dois anos continuam recebendo sem trnballrnr. Em janeiro, o Tesouro Nacional clispendcu nada menos que Cr$ 4 biillões a fim ele pagar o salário desses funcionários, os quais forrun afastados de suas ftmções para ... reduzir os gastos ela administração pública! Inusitada forma de conter despesas!

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Morreu o comunismo?

Os serviços de espionagem ocidentais estão certos ele que os russos continuam modernizando seus mísseis intercontinentais SS -18, SS-24 e SS25.Há, inclusive, suspeitas de que uma unidade de mísseis recentemente construída acaba de ser instalada na BieloRússia. Y cltsin afinna o contrário e insiste no desarmamento.

onde - ainda est.<'i vivo o socialo-comun.ismo no Brasil. Um exemplo: Não obstante a ruína do com unismo stal.Í.lústa na Rús ia e no Leste europeu, a m(dia, grosso modo, evita pôr em realce a escandalosa reabertura do paredón cm Cuba. São simpatias inconfossad.as que vêm à tona .

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O escárnio do saber

"Para cada hora de aula, pas Collúdos a esmo na França so 20 minutos tentando impor a outrora mestra da cultura - os disciplina, não há outro jeito. E o casos acima retratam uma realidanível de ensino reg ride", lam en ta de 1mmdial. Jackic Casanova, prof'essora de História no colégio Pierre de Ccytcr, no subúrbio de Saint Dcnjs, cm Paris. "A atenção dos alunos é tão frágil - disse o professor Michel Bc11helol à r vista francesa "L 'Exprcss"

Que relação estabelecer, por exemplo, entre eles e o recente depoimento do presidente de nosso Supremo Tribunal Federal, Sidney Sru1ches, segw1clo o qual não há como preencher milhru·es - q11e so11 obrigado a fazer uma de vagas para juízes, existentes no pausa comercial a cada dez minutos, País, por absoluta falta de preparo senão eles 'desligam'". dos candidatos?

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em tempo

"Sustentaram o comunismo" - O vice-presidente do Comitê de Relações Exteriores da Rússia, Glazyev, ao insistir sobre a necessidade de auxílio ocidental a seu país, lembrou ao "Guardian", de Londres, que os empréstimos anteriores "ajudaram a perpetuar o

regime comunista" . Menores criminosos protegidos - "Eles sabem que são pro tegidos pela lei, pelo Estatuto da Criança e a punição é passar alguns dias no S.O.S. Criança". A declaração do delegado Luiz Alberto de Souza Ferreira, da Seccional Sul, refere-se ao espantoso surto de delinqüência juvenil que assola o País.

Desrespeito ao leitor-A estrepitosa e deselegante batalha entre "O Estado de S. Paulo" e "Folha de S. Paulo", acerca da publicação de anúncios classificados, ao longo de algumas semanas ocupou mais espaço - em média, uma página cliária - nos respectivos jornais, do que qualquer outro tema. As eleições pr.Í.lnárias nos Estados Unidos, por exemplo, tiveram destaque incomparavelmente menor. É esse o papel da imprensa? Catedral aviltada - Em El Salvador foi selada a paz entre o Governo e a guerrill1a comunista, que, politicamente, foi a grande vencedora. Na Catedral metropolitana de San Salvador, capital, uma enorme faixa anunciava claramente a vitória da guerrill1a com estes dizeres: Ganhamos a paz.

Destaque Tradição, Família, Propriedade - I Seria equivocado julgar que essas três palavras representam conceitos lançados a esmo. Esse lema "constitui um bloco coerente que

se aceita ou se rechaça, mas cujos elementos não é possível separar". Assim Max Delespesse - na obra Jésus et la tripie contestation - Tradition, Familie, Proprieté, Fleurus/Novalis, Paris/Ottawa, 1972, pp. 7-8) acentuou bem o nexo lógico e indissociável entre esses três valores fundamentais da civilização cristã. Reconheceu-o, recentemente, Y eltsin, embora noutros termos, ao declarar: "A sociedade

soviética .... não tem respeitado os valores civilizados [sic!] da igreja,família, propriedade privada e livre empresa" ("Notícias dei Mundo", Nova Jersey, 28-6-91).

Marx na sarjeta -A livraria Taurus, no Leblon (Rio), valeu-se ele um expecliente original para desfazer-se de seus 400 livros comunistas encall1ados: despejou-os na calçada! Incorrigíveis estatais - Quase nenhuma empresa estatal cumpriu o decreto que detenninara o corte de 1O% nas . despesas de custeio, relativamente ao ano passado. Tortura silenciada - Freqüentemente os integrantes do Congresso Nacional Africano (CNA) - movimento guerrilheiro sul-africano pró-comunista - acusam seus opositores de violar os direitos hwnanos. Contudo, ex -detentos de campos de prisioneiros mantidos pela organização na Tanzânia, Uganda, Angola e Zâmbia revelam que em tais locais se pratica a tortura. Disso pouco se fala ... Por quê? Escola das CEBs - O Ministro Ricardo Fiuza comunicou ao Secretário-Geral da CNBB, D. Luciano, e a vários Governadores, que pretende reproduzir o modelo das CEBs - hoje forte reduto cio PT - na organização da Secretaria de Promoção Social de seu Ministério. Como explicar que as CEBs, tão desprestigiadas e impopulares pelo esquerdismo que ostentam, sejam reabilitadas dessa forma? • "Soviets" na educação - Ao comentar a proposta de criar comitês cooperativos nas escolas, contida no atual Projeto de Lei de Diretrizes e Bases, o deputado Álvaro Valle (PL-RJ) observou: isto faz lembrar os "velhos e ultrapassados soviets".

Tradição, Família, Propriedade - II Décadas atrás, a conexão natural entre esses termos já merecera registro. Com efeito, o célebre ensaísta e romancista francês, Paul Bourget, ao enumerar os princípios constitutivos da ordem nadonal, fez notar: "O

respeito religioso da família, da tradição, da propriedade, da vida humana, pareceu [sempre a todos os sociólogos} - quaisquer que fossem as diferenças de origem, talento e doutrina entre eles - igualmente como a condição sine qua non da prosperidade nacional ao longo dos séculos e nações" ( Paul Bourget, Au service de l'ordre, Prefácio, Plon, Paris, 1924, p.7) . Desta forma, representantes característicos da esquerda clássica (Max Delespesse) ou da "nova" -esquerda (Yeltsin) concordam com o pensador francês, de linha católico-conservadora (Paul Bourget), de maneira tão singular e insuspeita!


Cânticos subversivos acompanhados por violões e discursos políticos animaram a Missa campal concelebrada por sete Bispos gaúchos ao término da 15~ Romaria da Terra

Romaria ou incitamento à luta de classes? Luta de classes, exaltação delirante do ecologismo e da vida tribal, profissão de fé marxista: eis a estranha mistura que caracterizou a JSE Romaria da Terra, de Hulha Negra (RS) o término da Missa dominical, na bela igreja dedicada a Nossa Senhora Auxiliadora, em Bagé (RS), a voz aveludada de uma freira convidava os fiéis a participar , de uma Romaria a um distrito próximo, Hulha Negra, na terça-feira, dia 3 de março. Pronunciada com doçura e certa nota de piedade, a palavra Romaria parecia evocar, do fundo dos séculos, a legião de peregrinos que nos primórdios do Cristianismo caminhava, por vezes, milhares de quilômetros para visitar Roma, a Cidade Eterna, onde se encontra o sucessor de São Pedro. Romaria fazia lembrar ainda as multidões que anualmente afluem para santuários famosos, como Aparecida, no Brasil, Compostela, na Espanha ou Fátima em Portugal.

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Mas a Romaria ali ammciada apresentava características um tanto di versas das tradicionais pcrcgrinaç católicas. Diziam seus pr motores que era • um novo jeito de ser cristão", isto é, • comprometido com as lutas sociais". E · e •novo jeito" parece excluir a antiga religiosidade, pois, como explicam, "colocar-se contra esse compromisso é uma opção de fé falsa . E uma idolatria" (t). Não e tratava, a sim, de estimular alguma forma de devoção à excelsa Mãe de Deus ou de cultuar algum santo padroeiro, mas de "celebrar a Mãe -Terra", Gaia, a deusa adorada na Antiguidade pelos gregos pagãos. Daí seu nome, Romaria da Terra, que há quinze anos vem se realizando no Rio Grande do Sul, promovida pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) e

c ntando com o apoio das Comunidad EclcsiaisdeBase(CEBs), doMovimcnto do "Sem-Terra" (MST), da CUT, do PT e da maior parte das dioce es gaúchas.

sita ser abençoada pelo sacerdote. Deste modo, o fiel que esperasse encontrar na JS!l Romaria da Terra algum motivo para afervorar sua vida cristã, como aprendera no Catecismo, saiu desiludido, se não escandalizado. Em vez de objetos religiosos, encontrou bandeiras do PT, cartazes políticos incentivando a luta de classes, e "peregrinos" trajando camisetas do PC do B com a esfinge do falecido guerrilheiro comunista "Che" Guevara. Num ambiente de folia carnavalesca e de prosaísmo "ecológico", aproximadamente seis mil pessoas, a grossa maioria pertencente às CEBs, misturavam-se a Bispos à paisana e com chapéus de palha, a freiras trajando roupas masculinas e a agentes pastorais de short. Nessa massa humana - e de propósito falamos em massa e não povo -encontrava-se de tudo, até representantes de movimentos ecologistas europeus. Difícil era encontrar trabalhador rnral. Muitos dos andarilhos aparentavam cansaço e alheamento ao que se passava em tomo do caminhão central, no qual se instalara a liderança da Romaria. Do alto dessa espécie de tribuna móvel, um magote de agitadores monopolizava o microfone do poderoso sistema de som, bombardeando continuamente os "romeiros" com slogaris, discursos e palavras de ordem, numa tentativa frenética de evitar

qualquer esmorecimento do "fervor popular". "Abaixo as cercas!" Os cantos e as "orações" eram inspi-

rados na nova "teologia-ecológica" e temperados com uma forte nota de marxismo e luta de classes. Investiam sobretudo contra o direito de propriedade, fazendo assim total descaso dos 72 e 102 Mandamentos da Lei de Deus. • Eu vou cantar!/ Quando as cercas caírem no chão .... Eu vou cantar!/ Quando os muros que cercam os jardins,/ Destruídos, então os jasmins/ Vão perfumar! .... Entrando de vez na nossa terra prometida/ as cercas cortei porque pra nós esta terra é vida" (cantos n 2s 7 e 16). Apresentada como símbolo de todos os males que afligem a Mãe-Terra, a cerca virou objeto de execração geral. "Malditas sejam todas as cercas", dizia um cartaz portado por militantes do MST. Nesse clima de animosidade e ódio contra o direito de propriedade, não espanta que os líderes aboletados no carro de comando chegas.sem ao cúmulo de incentivar, in loco, a destruição das cercas por onde a Romaria passava. E não importava que fossem cercas de pequenos agricultores. A mística comuno-ecológica da Mãe-

Terra é implacável: qualquer proprietário é execrável e toda cerca é diabólica. Só o trabalho coletivo e o socialismo realizam ·o Reino de Deus". E não é outro o significado do lema aparentemente anódino da 15ª Romaria, • Terra cultivada, caminho para a vida". Assim se exprime o folheto explicativo do evento: "Queremos a terra .... Ela é nossa Mãe, a que nos gera e nos alimenta .... E a Mãe só pode gerar vida feliz quando está livre e é amada. É urgente pois libertar a terra do latifúndio, das cercas, das marcas"..... Coerentes com essa lógica incendiária e comunista, outros cânticos apresentavam o fazendeiro ao lado do jagunço: • Fazendeiros e jagunços/ Matando o trabalhador/ .... E a terra que era nossa/ Hoje é toda do patrão/ Precisamos resistir/ E nós vamos conseguir/ Pór a terra em nossas mãos" (canto n2 8). V Centenário

Assim como não cessaram de promover a luta de elas.ses entre trabalhadores e proprietários rurais, os idealizadores da JS!l Romaria da Ter-

À esquerda: Agricultores em procissão? Não, Bispos de chapéu de palha e boné misturados aos ativistas das CEBs À direita: Cartaz de propaganda -:la 15' Romaria da Terra: destruição das cercas, repúdio à evangelização da América e exaltação do tribalismo Indígena

Nova espiritualidade

A Romaria da Terra possui uma nova forma de ·espiritualidade", que é • baseada na mística da terra, no Deus-Terra de Irmãos", como ensina um livreto da CPT distribuído na ocasião <2>. E como a "terra é sagrada", os peregrinos foram convidad , no início da Romaria, a se de calçarem, não como forma de penitência , mas porque iriam pisar na Mae Gaia. Além disso, após tocarem n > chão, todos se benzeram: a água h ' nla , sacramental da Igreja, foi substituída, então, pela terra benta qu · não nccesA'I

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À esquerda: Cruz processional dos "sem-terra" ao lado de bandeiras do PT. Mescla explosiva de política e religião CATOLICISMO, MAIO 1992

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Cruz do Sul; D . Ângelo Salvador, Bispo de Cachoeira do Sul; D . Boaventura Kloppenburg, Bispo de Novo Hamburgo; D. Jaime de Melo, Bispo de Pelotas; D. Laurinda Guizzardi, Bispo de Bagé; D . José Mário Strõcher, Bispo de Rio Grande; D. Orlando Dotti, Bispo de Vacaria. Durante a Missa, o pregador oficial foi o pastor luterano Milton Shwantes, de Guarulhos (SP), que encontrou na pregação da luta de classes o denominador comum do "ecumenismo de base". Aliás, a própria CPT explica a razão dessa mistura explosiva entre as religiões e a práxis política: •A CPT é ecumênica. El.a mergulha na luta pela terra, sem se transformar em movimento de trabalhadores rurais católicos .... É um ecumenismo que parte da luta social dos trabalhadores" <4) . Dessa práxis nasceu também um

Acima, líder da CPT no Rio Grande do Sul prega a Reforma Agrária "na marra"

ra investiram contra os missionários e colonizadores, aproveitando a celebração do V Centenário do Descobrimento da América para tentar lançar índios contra brancos civilizados. Para os corifeus do comuno-tribalismo, Nóbrega, Anchieta e tantos outros procederam mal ao evangelizar nossos pobres índios, abrindo-lhes as portas da salvação eterna. Pois, como disse um dos pregadores da Romaria, Irmão Antônio Cechin, "nós católicos não temos nada a ensinar aos índios. Eles é que são os nossos mestres". E os valentes portugueses e espanhóis, que desbravaram e civilizaram nosso Continente, são por eles considerados como vulgares • a.ssassinos e expl,oradores ": • São 500 anos de opressão e luta. A América índia foi escravizada e massacrada. Junto com a espada, chegou a cruz .... Este é um ano para se estimular a reflexão sobre o significado da invasão, do genocídio e da chamada evangelização". No afã de caluniar nossos ancestrais, em cujas naus flutuava ao vento a bandeira com a Cruz de Cristo, os líderes da Romaria não recuaram sequer diante do ridículo: obrigaram a mu ltidão presente a se ajoelhar diante de um índio e de três crianças fantasiadas com penas, para pedir perdão pelo fato de os missionários portugueses terem pregado a BoaNova dAquele que é "o Caminho, a 8

novo Credo, um Credo negativo. Ao contrário da afirmação dos dogmas de fé católicos, rezou-se na missa uma profissão de fé no marxismo: "Não cremos no Deus que é o sedativo (sic !) do povo!; não cremos no Deus dos poderosos e dos ricos!; não cremos no Deus que se encontra nas paredes e nos tabernácu los das igrejas! " (sic!). Afinal, em que se cria? "No Pai Nosso dos pobres e dos marginalizados .... Não vamos seguir as doutrinas corrompidas pel,o poder opressor .... Perdoa e destrói os reinos .... Pai Nosso, revolucionário, parceiro dos pobres, Deus dos oprimidos" (canto n2 20).

*** Diz o provérbio popular que quem semeia ventos colhe tempestades. Do mesmo modo, poderíamos dizer qur

quem semeia ódio colhe violência. É o que se arriscam a fazer os Bispos, padres e freiras, com cujo apoio e proteção proliferam os "movimentos de base", cujo ideal é o confronto, a invasão de terras, a derrota dos proprietários e a implantação do modelo cubano em nosso País. TEXTO: BRÁULIO DE ARAGÃO FOTOS: FILIPE RIBEIRO DANTAS

Notas: 1. Cfr. Pe .. Marce lo Aezend e Guimarães e Frei Sérgio Gêirgen , Desafio às comunidades, Vo zes, Petrópolis, 1992, pp. 26-27. 2. Cfr. Comissão Pastoral da Terra (AS), Um serviço às lutas do Povo, pp. 4-5. 3. Cfr. Pe. Marcelo Aezende e Frei Sérgio Gêirgen, op. cit., pp. 25-26. 4. Comissão Pastoral da Terra (AS), op. cit. , p 5.

À esquerda: Irm ãos Barbosa, do PC do B,

Verdade e a Vida": "Queremos nesta Romaria do V Centenário da América Latina - di zia o locutor em nome de todos pedir perdão aos índios e seus descendentes. Perdão pelo desrespeito às suas vidas, cultura, nação, religião, ciência e modo de se organizar. Perdão por termos matado tantos milhões de índios, destruído e roubado suas terras, por lhes termos trazido uma outra religião". Tribuna popular

A • outra religião" execrada nesse espantoso ato é pura e implcsmcntc o Ciistianismo. Mas os sequazes da nova "teologia comw10-cc lógica" de tilam ua doutrina púria não a partir do cnsinament ficial da Jgrcja, mas de uma pr6xis, i to é, • a partir da prática das co11twtidades e dos 11tilitantes ", que "produze11t, criam seu próprio Pensa11iento Social Cristão " e • não se limita apenas a receber e repetir um conteúdo já pronto" <3) _ E qual é essa "prática" geradora do ·novo jeito de ser cristão"? Vejamos. Antes da • celebração eucarística ", no próprio palanque onde se montara o altar, os • oradores populares" se revezavam cantando e discursando. Por exemplo, os "irmãos Bar-

cantam em versos o extermínio da burguesia. Acima: D. Boaventura Kloppenburg, embora considerado conservador, prestou sua solidariedade aos arautos do progressismo e da luta de classes

bosa", do PC do B, declamaram a poesia O operário camponês : "Operário e camponês/ vamos nos engajar nessa luta/ vamos entrar nessa disputa/ agora é nossa vez/ Vamos pegar a torquês e pôr a cerca no chão/ Até agora tu lutou f eito escravo do patrão/ ''Não é preciso ter medo nem tremer as pernas/ Vamos mudar esse sistema que até hoje nos governa/ para uma nova sociedade. Chega de tanta moleza/nem que dê u11ta pau.leira/ está chegando o nosso dia.j Os sem-Terra vão à luta pra acabar com a burguesia!" Além dos representantes do PC do B, falaram os cabecilhas da invasão da Fazenda São Pedro (ver reportagem anexa), que se jactavam de terem mantido em cárcere privado e torturado o proprietário, os trabalhadores da fazenda e alguns soldados da Brigada Militar. Esse inusitado espetácul f'oi a sistido por sete Bispos do Ri G randc do Sul e por dezenas de sac ·rdotes e freiras. Estiveram pre cnt s a ato D . Aloísio Sinésio Bohn , Bi ·p I Santa /\T 1,1 1 ' M , MAIO 1992

Uma espada sobre a cabeça dos produtores rurais

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Quem pense ter cessado, em nosso País, a agitação no campo, engana-se redondamente: ela vem aumentando de intensidade, mediante a atuação de organismos como o Movimento dos Sem-Terra (MST) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT) - com o decisivo respaldo da esquerda católica especialmente no Rio Grande do Sul entado num banco, com as mãos e os pés amarrados, prisioneiros são executados como animais de abate, sem certo homem, com olhar apreensivo, vê apontado qualquer julgamento? Quem fizesse tal suposição teria se para seu crânio o cano de um revólver. E ouve a equivocado. O fato, inteiramente real, deu-se em 8 de abril ameaça: "Você vai morrer, porque mataram um compa- do ano passado, num dos galpões da fazenda São Pedro transfonnado então em cárcere privado - , no Rio Grande do nheiro nosso". O infeliz experimenta a sensação de ter chegado seu Sul. A vítima é o proprietário da fazenda, Antônio Carlos último momento de vida, enquanto percebe o barulho seco Caggiano Netto. A "executora" da pretensa justiça popular provocado pelo acionar do gatilho e a virada do tambor da s - que responde pelo nome de uma Ostroski - é uma das arma. O gatilho é puxado por uma jovem de baixa estatura, líderes dos dois mil "sem-terra" que invadiram, pilharam e usando minissaia, com uma boina na cabeça e dois revól- parcialmente incendiaram aquela propriedade rural. veres na cintura. Todo o seu modo de agir é o de uma O que terá incitado aqueles invasores a ta.is atos de vanguerrilheira. dalismo? A fome? A falta de terra? Tal cena de tortura psicológica - conhecida como "roleta Não. A verdadeira causa dessa invasão criminosa, e de russa" - repete-se várias vezes durante a noite. tantas outras que vêm ocorrendo em nosso território, é uma Teria isso ocorrido em alguma das prisões políticas cuba- bem orquestrada tática de guerrilha rural promovida pelo nas - poderia pensar algum leitor - , nas quais certos Movimento dos "Sem-Terra" e apoiada pela CUT e pelo PT.

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Na foto acima: aspecto do acampamento dos "sem-terra", Instalado com auxílio do Governo no Centro de Treinamento Agrfcola do Estado, em Hulha Negra (RS). A partir dele, os agitadores rurais puderam

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invadir a fazenda São Pedro (foto superior, à direita), roubar gado e espalhar o pânico na região

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À direita: lesões corporais provocadas pelos guerr/lhelros do MST no capataz da fazenda São Pedro, com espetos de churrasco Infectados nas latrinas

Ao entardecer, os últimos raios do sol poente parecem atear fogo nas nuvens, provocando no céu um grande incêndio. Aqui, os dias de verão são longos, o povo é saudável e o solo fértil. Estamos no extremo sul do Brasil, a poucos quilômetros da fronteira com o Uruguai. Esta parte meridional do Rio Grande do Sul é conhecida como região da Campanha. Embora represente apenas 1% de nosso território, a Campanha é responsável por 90% da produção nacional de lã e de carne ovina, possuindo, ademais, 10,6% de todo o rebanho bovino do País. A excelência do gado criado nesta região é comprovada anualmente em Esteio, onde se realiza a maior feira agro-pastoril da América Latina. A fertilidade do solo é surpreendente, sobretudo para as culturas irrigadas. A produtividade de arroz, por exemplo, é uma das mais elevadas do planeta: 5.074 kg/ha. Neste ano espera-se alcaúçar umà safra 80% superior à do ano passado fará com que o Rio Grande do Sul se transforme no celeiro do Brasil, com uma produção de 14,8 milhões de toneladas de grãos, ou seja, 20% da produção global do País <1>. Esses dados revelam a competência e a capacidade do produtor gaúcho, que ém meio à aguda crise por que passa a Nação, soube ainda enfrentar os riscos de um clima incerto e vencer os inúmeros desafios do campo, contribuindo assim, de modo ponderável, para alimentar nosso povo. Mas há um fator que ameaça desestabilizar um dos Estados com melhor organização fundiária do País, e que como uma espada de Dâmocles, paira sobre as cabeças dos produtores rurais: o Movimento dos "Sem-Terra" (MST), que só

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no Rio Grande do Sul já realizou mais de 30 invasões criminosas.

*** Um exemplo flagrante Na localidade de Tupi Silveira, a 27 quilômetros de Bagé, a fazenda São Pedro (586 ha.), mencionada no inicio deste artigo, encontrava-se em plena atividade agropecuária quando um dia seu dono, Antônio Carlos Caggiano Netto, mais conhecido por Carlinhos, soube que o INCRA resolvera instalar, em frente à sua propriedade, um assentamento dos "sem-terra". Eram 499 famílias deslocadas de Ronda Alta, no norte do Estado, para o Centro de Treinamento Agrícola (CTA). Ocorre que a área do Governo não era suficiente para abrigar tanta gente. Logo começou a haver um clima de tensão na região, habilmente insuflado pela liderança do MST. O preço da terra caiu vertiginosamente. O roubo de gado tomou-se endêmico. Só da fazenda vizinha à São Pedro, pertencente a Silvio Paz Corrêa, foram roubadas 600 ovelhas. Espírito conciliador, Carlinhos entretanto não media esforços em colaborar com os assentados. Fornecia-lhes diariamente leite, oferecia-lhes carona em sua caminhonete e ajudava no suprimento de água para o acampamento. Não podia acreditar que aquela gente simples fosse massa de manobra de verdadeiros guenilheiros rurais. Mas o tempo iria mostrar-lhe o outro lado da moeda, a face oculta dos "sem-terra". Certa vez, pediram-lhe emprestada uma lâmina aplainadeira de trator, com a aparente finalidade de fazer diques para

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um açude. Carlinhos jamais poderia imaginar que, na reali- ninguém jamais se preocupou em saber o que aconteceu ao dade, a lâmina seria utilizada pm·a cavar trincheiras, erguer dono e à sua família, bem como a seus leais empregados. barricadas e cortar todo acesso à fazenda. Era a .. corda"', Da São Pedro, hoje só restam ruúias. Aterrorizados, os cedida inadvertidamente, com a qual seria ele mesmo "en- proprietários da região não ousam soltar o gado no pasto, nem forcado" ... investir na lavoura. É o "enforcamento" não demorou muito. Do Centro de Diante desse quadro alarmante, qual a reação das autoriTreinamento Agticola para a fazenda São Pedro era apenas wn dades? passo. Chegaram atirando e gritando. Em pouco tempo, mais Repetidas vezes o Governo declarou que não toleraria de dois mil "sem-terra" tomaram conta do pátio central da invasões, nem negoc.iaria com invasores. No entanto, no caso fazenda, incendiaram os galpões, roubaram as máquinas, mata- da São Pedro, os "sem-terra" foram brindados com a garantia ram o gado e destruíram o que podüun. ..-------- - - - - -ZH-/ Arquivo - --, governamental de que teriam priori daEm vão um destacamento ela Brigade no processo de assentamentos. da Militar tentou evitar a invasão. ReComo bem ironizou um delegado do fugiados dentro da sede da propriedaINCRA, no Rio Grande do Sul, "quem de, Carlinhos, nove policiais, duas não invade, não ganha terra" ... empregadas e seis peões, foram oPor outro lado, na invasão da fazenbrigados a se entregar, já que os ~semda São Pedro, cometeram-se diversos .,,, terra" conhecem muito bem a utilidade crimes: fonnação de quadrilha, assalto das bombas incendiárias Molotov, em à mão anuada, seqüestro, prisão de rebora muitas vezes sejam incapazes ele féns em cárcere privado, torturas, roubo abater adequadamente wn boi. ...,_ de gado etc. Mas as vítimas não conseTodos foram então mantidos em guem processar judicialmente o MST cárcere privado, não sem antes passar porque ele não existe legalmente. pelo .. corredor polonês": além das panEmbora possua bandeira e símbolos, cadas e murros, os invasores espicaçao MST entretanto não tem personalidavam suas vítimas com espetos de churde jurídica. Jamais registrou em cartórasco, cujas pontas tinham sido rio os seus estatutos. Vive da proteção infectadas nas latrinas. As lesões proda CPT e do clero progressista. vocadas deixaram sinais por vários Por exemplo, em Porto Alegre, o QG meses. do MST encontrn-se num confortável préÀ noite, os prisioneiros foram subdio dos frades franciscanos, no bairro de metidos a toda sorte de terror psicolóSantana. Em São Paulo, fünciona numa gico e ameaças. Além das já descritas Trincheira e bombas "Molotov" preparadas escola católica, o Jntituto Sedes Sapientiae, sessões de .. roleta russa", colocaram pelos "sem-terra" depois da invasão da onde se instalou a redação do jornal fazenda Arvoredo, no Rio G. do Sul em suas cabeças lixeiras sujas ele papel "SEM TERRA". Em Chapecó, diocese higiênico. de D. José Gomes, ex-presidente da Carlinhos sentia agora, na própria pele, a clw·a realidade CPT, opera a partir do Seminário local. de uma invasão promovida pelos guerrilheiros do MST.

Impunidade A fúria dos -sem-terra" aumentava sob a alegação de que um de seus ~colonos" havia tombado morto, vítima de um disparo dos brigadianos . Mas a perícia comprovou posteriormente que o projétil que o atingira não era do tipo de arma utilizado pelos militares. Era anna de caça, disparada embaixo do queixo. Acidente"/ Não se sabe ao cc110. Sabe-se apenas que o MST estava buscando wna "vítima" para anular o "efeito Valdecir"', o soldado barbaramente degolado a golpes de foice por um "sem-terra" numa manifestação cm Porto Alegre, promovida pelo MST. Crime esse que causou indignação na opinião pública. Além disso, por curiosa coincidência, o ~sem-terra" viti mado era líder elas famílias que queriam aceitar os assentamentos do lNCRA no Mato Grosso, e que foram repudiados pelo MST cm nota oficial. Nos onze meses decorridos depois da invasão da fazenda São Pedro, onde os "sem-terra" pennancceram por 50 dias,

C J\TO LI C IS MO, MJ\ 10 1002

A maior parte das revoluções comunistas começou pela agitação no campo. Depois que a estrutura de guerrilha rural está bem montada, então o movimento revolucionário parte para a agitação urbana. É precisamente a meta do MST para 1992: a união da luta no campo e na cidade c2>. Alcançm·á esse objetivo? Tudo dependerá da capacidade de articulação da classe produtora no sentido de denunciar à opinião pública a escandalosa manipulação do homem do campo para fins escusos e criminosos, isto é, as invasões e a cubanização ele nosso País.

BA/F.R.D.

1. Cfr. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (1 BGE), Reg ional Su l 1, Levantamento Sistemático da Produção Agrícola, Janeiro de 1992. 2. Cfr. IX 2 Encontro Estadual do MST, 9 a 12 de janeiro de 1992, Palmeira das Missões (RS). N.B : Os dados que fundamentam a matéria constante das páginas 6 a 12 da presente edição, foram co letados pela Agência Boa Imprensa - ABIM, que possui documentos e fitas magnéticas comprovatórios dessas reportagens.

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-; AfOJLJCISMO CADERNO ESPECIAL Nº 11

D. Laurindo Guizzardi, Bispo de Bagé, reitera o apoio de sua diocese ao MST, principal organização responsável pelas invasões de terra no Rio Grande do Sul

Irmão Antônio Cechin, considerado o Frei Betto do Rio Grande do Sul: "Num país como o Brasil, nós temos de resolver os problemas do povo com nossas próprias mãos, isto é, ocupar, resistir e produzir nas terras conquistadas!"

Ênio José Bohnenberger, líder do MST, um dos chefes da invasão da fazenda São Pedro: "Naquela ocasião, prendemos 22 cabeçudos e os mantivemos encarcerados até as autoridades resolverem negociar nosso problema. E o Ministro Cabrera, que dizia não negociar com invasor, começou a mandar representantes pars negociações. Com as invasões, conseguimos mudar a conjuntura. Vamos enterrar a burguesia e os fazendeiros!"

Cel. (R2) João Carlos Machado Ferreira: "O MST transferiu seu QG de Ronda Alta para Bsgé. Numa eventual operação de guerrilha rural, a linha sul e a linha norte dos assentamentos controlariam as principais rodovias do Estado, sitiando Porto Alegre e isolando a região da Campanha"

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resta de 9{,ossa Senhora Jlu~[iadora CA'l' LI ISMO, MALO 1992


hiy,'

7/o{ta do 'Egito para 'J\[g,zaré

!Festa de '}./j)ssa Senhora .9Lu~{iadora (24 de maio)

São Mateus, 2, 19-23- São Lucas, 2, 40

Morto Herodes, o anjo do Senhor apareceu a José, no Egito, durante o sonho, e lhe disse: "Levanta-te, toma o Menino e sua mãe e volta para a terra de Israel, porque são já mortos os que queriam matá-lo" (Ll. José levantando-se, tomou o Menino e . ' sua mãe, e veio para a terra de Israel. Sabendo, porém, que Archelau reinava na Judéia, em lugar de Herodes, seu pai, receou ir para ali. E, avisado em sonhos, retirou-se para as regiões da Galiléia, indo

habitar em uma cidade chamada Nazaré, para que se cumprisse o que disseram os Profetas: "Será chamado Nazareno"<2l. Notas: (1) A História confirma a narração do E_va'!gelista. Este Herodes de cuja morte aqui se fala, nao e o mesmo que, mais tarde, mandou decapitar São João Batista e insultou a Nosso Senhor. (2) Esta palavra tem dois sentidos - significa consagracl_o a Deus e habitante de Nazaré. Em qualquer destas acepçoes pode ser aplicada a Nosso Senhor, e por isso se /ta no alto de sua cruz: Jesus Nazareno. D. Duarte Leopoldo e Silva,_Concordância do_s SanJos Evangelhos, Unográfica, Sao Paulo, 1951, 4- ed1çao, p. 25

Comentário de Santo J'Lfonso %aria de Ligório (Excertos)

Tendo Herodes falecido, depois que Jesus passou sete anos, segundo a opinião comum dos Doutores, no seu exílio no Egito, o anjo apareceu de novo a São José, e ordenou tomasse o divino Infante e sua Mãe, e voltasse à Palestina. São Boaventura considera que a volta foi mais fatigante para Jesus do que a fuga para o Egito: Ele crescera, Maria e José não podiam mais carregá-lo muito tempo em seus braços; doutro lado, nessa idade, Ele não era capaz de fazer a pé longas jornadas; o cansaço obrigava-o pois a fazer paradas freqüentes. . Consideremos ainda a pena que, na viagem, nosso Salvador teve de sofrer durante

as noites: já não tinha por leito, como na ida, o seio de Maria, mas a terra nua; já não tinha por alimento o leite materno, mas um pouco de pão seco, alimento bem duro para a sua tenra idade. Padeceu ainda a sede naquele deserto em que os hebreus, faltando-lhes a água, precisaram de um milagre para se dessedentar. Contemplemos e adoremos com amor todos os sofrimentos de Jesus Menino.

Santo Afonso Maria de Ligório, Encarnação,

Nascimento e Infância de Jesus Cristo, Vozes, Petrópolis, 1946, pp. 207-208.

Essa comemoração foi introduzida no calendário litúrgico pelo decreto do Papa Pio VII, de 16 de setembro de 1815, em ação de graças por seu feliz retorno a Roma, após longo e doloroso cativeiro em Savona e na França, devido ao poder tirânico de Napoleão. A invocação "Auxílio dos Cristãos" é antiquíss.ima, tendo sido incluída na Ladainha Lauretana pelo Papa São Pio V em 1571, como preito de gratidão à Virgem Santíss.ima, em virtude da vitória dos cristãos na célebre batalha de Lepanto.

A carruagem que transportava o Sumo Pontífice avançava com dificuldade em meio à multidão, pela via Flaviana, quando um grupo de fiéis, sob aplausos delirantes do povo, retirou os cavalos e passou a puxar o veículo até a Basílica Vaticana. Pio VII, atribuindo essa grande vitória da Igreja sobre a Revolução à potente intercessão de Maria Santíssima, quis manifestarLhe sua gratidão mediante o estabelecimento de uma festa, de âmbito universal, dedicada a essa bela invocação mariana.

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Tal invocação tomou novo incremento no n1undo católico devido à ação de um dos maiores santos da época contemporânea: São João Bosco, fundador da Pia Sociedade de São Francisco de Sales (salesianos) e das Fillias de Maria Auxiliadora. Os companheiros de São João Bosco notaram que, desde 1860, ele começara a invocar a Santíssima Virgem com o título de Maria Auxiliadora, Maria Auxilium Christianorum. Em dezembro de 1862, tomou o Santo a resolução de construir uma igreja dedicada àquela invocação. E declarou, na ocasião: "A Virgem Santíssima deseja que a honremos com o título ou advocação de 'Auxiliadora'; os tempos que correm são tão tristes que temos verdadeira necessidade de que a Santíssima Virgem nos ajude a conservar e defender a Fé cristã como em Lepanto, corno em Viena, como em Savana e Roma .... e será a igreja-mãe de nossa futura Sociedade e o centro donde se irradiarão todas nossas obras em prol da juventude". Seis anos após, em 21 de maio de 1868, era solenemente consagrada, em Turim, elo Arcebispo da cidade, a magnífica igreja de Maria Auxiliadora. O sonho de Dom Bosco transformara-se em realidade e aquela devoção difundiu-se especialmente, desde então, por todo o Orbe católico, em larga medida, devido à atuação da Congregação Salesiana.

Durante os cinco anos de cativeiro, Pio VII recorria continuamente a Nossa Senhora sob a invocação de "Auxílio dos Cristãos". De 1809 a 1812, o Pontífice ficou aprisionado na cidade italiana de Savona, tendo então feito um voto de coroar a imagem da Mãe de Misericórdia, lá existente, caso alcançasse a liberdade. Em 1812, o Papa foi levado a Paris, permanecendo prisioneiro em Fontainebleau, onde padeceu grandes sofr.imentos e humilhações infligidos pelo tirano francês. Mas, dentro de algum tempo os acontecimentos começaram providencialmente a transtornar a carreira do déspota. Em 1814, enfraquecido por derrotas sofridas em várias frentes e pressionado pela opinião pública, Napoleão permitiu que seu augusto prisioneiro voltasse para Roma. O Sumo Pontífice aproveitou o trajeto para honrar de modo especial a Mãe de Deus, coroando uma imagem sua, em Ancona, sob a invocação de Rainha de Todos os Santos. E, cumprindo o voto que fizera quando ainda prisioneiro em Savona, ornou a fronte da imagem da Mãe de Misericórdia com uma folliagem de ouro, quando passou por essa cidade. A viagem prosseguiu em meio a apoteóticas manifestações de veneração por parte das populações de todas as localidades por onde passou Pio VII. E a 24 de maio fez ele uma entrada triunfal em Roma, sendo acolhido pela população em peso.

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História Sagrada

em seu lar

0 INTERNACIONAL

noções básicas "Essas doze fontes do deserto [prefiguravam] os doze Apóstolos que regaram com a doutrina celeste as praias áridas deste mundo; as setenta palmeiras, os setenta ou setenta e dois discípulos que, renovando-se de século em século como as palmeiras, deveriam oferecer para sempre, a todos os povos, os frutos da vida eterna" (5)_

ÁGUAS AMARGAS, FONTES E PALMEIRAS Depois de atravessarem milagrosamente o Mar Vermelho, os israelitas entraram no deserto. Oportunamente veremos as causas que os levaram a ali perambular errantes durante 40 anos, como castigo de sua falta de confiança em Deus, que lhes havia dado por guia o Profeta Moisés.

As águas amargas tornam-se doces "Moisés tirou Israel do mar Vermelho, e saíram para o deserto de Sur; e caminharam três dias no deserto sem encontrar água. E chegaram a Mata, mas não podiam beber as águas de Mata, porque eram amargas; por isto pôs àquele lugar um nome conveniente, chamando-o Mara, isto é amargura. "E o povo munnurou contra Moisés, dizendo: 'Que havemos de beber?' Ele, porém, clamou ao Senhor o qual lhe mostrou um pau; e, tendo-o lançado nas águas, ela e tornaram doces" (l).

Novas queixas Mais de um mês transcorrera desde que os israelitas haviam saído do Egito. "E toda a multidão dos filhos de Israel murmurou contra Moisés e Aarão no deserto. E os filhos de Israel disseram-lhes: Antes fôssemos mortos na terra do Egito pela mão do Senhor, quando estávamos sentados junto às panelas das carnes, e comíamos pão com fartura; por que nos trouxestes a este deserto para matar de fome toda esta multidão?". Murmurar contra o Profeta é murmurar contra Deus "E Moisés e Aarão disseram a todos os filhos de Israel: Esta tarde reconhecereis que o Senhor é quem vos tirou da terra do Egito; e pela manhã vereis a glória do Senhor. E Moisés disse: "O Senhor vos dará esta tarde carnes para comer, e pela manhã pães com fartura porque ouviu a vossa murmuração que murmurastes contra

Ele; por que nós o que somos? Não são contra nós as vossas murmurações, mas contra o Senhor. "Disse mais Moisés a Aarão: Dize a toda a multidão dos filhos de Israel: Apresentai~vos diante do Senhor. Ora, quando Aarão ainda falava a toda multidão dos filhos de Israel, olharam para o deserto: e eis que a glória do Senhor apareceu no meio da nuvem" (6)_

Lição para nós "Ao le1mos estes acontecimentos, devemos lembrar-nos que o Apóstolo São Paulo (I Cor. 10,11) diz que tudo isto acontecia em figura aos israelitas. "Deus fazia conhecer daquele modo sensível os seus desígnios acerca das almas escolludas, que, resgatadas com o seu sangue do império do demônio, peregrinam no deserto deste mundo, guiadas pela coluna nebulosa da Fé, e depois de muitas provas, securas e sofrimentos, chegam por fim ao desejado porto da salvação" (I)_ Notas: 1. Ex. 15, 22-25. 2. L'Ancien et Le Nouveau Testament disposés sous forme de récits suivis, P. Lethielleux. Libraire-Éditeur, Paris, 1930, p. 50. 3. Ecli. 38, 5. 4. Ex. 15, 27. 5. Padre Rohrbacher, Histoire Universelle de L'Église Catholique, Gaume Freres, Libraires. Paris, 1842, tomo /, p. 38 1. 6. Ex. 16, 2- 10. 7. Côn. J. I. Roquete, História Sagrada do Antigo e Novo Testamento, Guillar Aillard, Lisboa, 1896, 9• ed., tomo /, p. 200.

\,

Pré-figura da Cruz "Todos os intérpretes consideram [esse lenho] o símbolo da Cruz, que tem a propriedade divina de suavizar todas as amarguras da vida" <2). "Porventura não foi por meio de um lenho que se tornou doce a água amargosa?" <3)_ Fontes e Palmeiras "Depois os filhos de Israel foram a Elim, onde havia doze fontes de água e setenta palmeiras, e acamparamjunto das águas" <4)_

PLINI0 C0RRÊA DE OLIVEIRA

que o capitalismo de Estado trouxe de novo aos países do Leste europeu nos quais se implantou? Ele fez do Estado um Leviatã em função de cuja onipotência os poderes de reis e nobres das eras anteriores cessaram de existir. Em sua força de

O

~!111il~llllllii~iib~

coletivismo de Estado, ao atração devoradora, o .....,.......... absorver absolutamente tudo, sepultou ipso facto no mesmo abismo, no mesmo nada, no mesmo jazigo, reis e nobres, como também, não muito depois, as "aristocracias", que haviam chegado ao ápice de sua caminhada histórica. E tudo por influência, próxima em alguns casos, remota em outros, da ideologia da Revolução de 1789, na França. Tradição, Família, Propriedade

Também as camadas sucessivamente inferiores da burguesia foram atingidas. O poder de absorção do Leviatã coletivista não poupou um só homem, nem um só direito individual. Até mesmo os direitos mais elementares de todo homem, esses direitos que lhe tocam não por força de qualquer lei elaborada pelo Estado, mas pela força da ordem natural das coisas, expressa com divina sabedoria e com igualmente divina simplicidade nos Dez Mandamentos da Lei de Deus, também esses direitos, o coletivismo os negou O lenho que tornou doces as águas amargas de Mara simbolize a Cruz do Redentor

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invariavelmente a cada povo sobre o qual instalou seu poder, como a cada infeliz indivíduo constitutivo desse povo. É o que a experiência histórica, agora patenteada pelo sinistro panorama que se descortinou com a derrubada da cortina de fen-o, tomou evidente a todo o gênero humano. Até o direito à vida, o Estado coletivista o absorveu, negando ao homem o que a moda ecológica contemporânea se esforça por garantir ao mais frágil passarinho, ao menor e mais repugnante verme. Assim, o operário, o mais insignificante servo do Estado, foi o mais recente ocupante desse jazigo. Do lado exterior deste último, na lápide mortuária, a inscrição funerária poderia trazer a designação global destas vítimas de anteontem, de ontem e de hoje. Esta designação poderia resumir-se nos três grandes p rincípios que o coletivismo negou, e cuja negação despertou a destemida e polêmica contestação da maior entidade anticomunista, de inspiração católica, do mundo moderno: TRADIÇÃO, FAMÍLIA, PROPRIEDADE. E como, segundo certas lendas populares, os jazigos das vítimas das injustiças muito gritantes são sobrevoados por confusos e atormentados turbilhões de 17


espíritos malignos, poder-se-ia imaginar, sobrepairando essa ronda agitada, febricitl:!,Q-~e. e ruidosa, mais outra trilogia: MASSIFICAÇÃO, SERVIDÃO, FOME. Três Revoluções

Tal é o pesado, o macabro desfecho do longo processo cuja linha geral aqui se procurou resumir, tal é o caráter inflexível de sua caminhada - vitoriosa apesar de incontáveis obstáculos - a partir da confluência histórica na qual a Idade Média declina e morre, a Renascença surge em seus alegres triunfos iniciais, a revolução religiosa do Protestantismo começa a fomentar e preparar de longe a Revolução Francesa, e de muito longe a Revolução Russa de 1917 ... que se diria invencível a força que moveu tal processo, e definitivos os resultados a que ele chegou. "Definitivos", tais parecem ser efetivamente esses resultados, se não se fizer uma análise atenta da índole desse processo. À primeira vista, ele parece eminentemente construtivo, pois levanta sucessivamente três edifícios: a Pseudo-Reforma protestante (séc. XVI), a república liberal-democrática (séc. XVIII) e a república soviética (séc.XX). Porém, a verdadeira índole do mencionado processo é essencialmente destrutiva. Ele é a Destruição. Ele atirou por terra a Idade Média cambaleante, o Ancien Régime evanescente, o mundo burguês apoplético,

frenético e conturbado; sob a pressão dele está em ruínas a URSS, sinistra, misteriosa, apodrecida como uma fruta que há tempo caiu do galho.

Hic et nunc, não é bem verdade que os marcos efetivos desse processo são ruínas? E, da mais recente delas, o que está resultando para o mundo senão a exalação de uma confusão geral que promete a todo momento catástrofes iminentes, contraditórias entre si, que se desfazem no ar antes de se precipitarem sobre os mortais, e ao fazê-lo, geram a perspectiva de novas catástrofes, ainda mais iminentes, ainda mais contraditórias, as quais quiçá se evanesçam, por sua vez, para dar origem a novos monstros, ou quiçá se convertam em realidades atrozes, como a migração de hordas eslavas inteiras do Leste para o Oeste, ou hordas árabo-maometanas do Sul para o Norte? Quem o sabe? Quem sabe se será isto? Se será só(!) isto? Se será ainda mais do que isto? Vitória do Imaculado Coração

Tal quadro seria desalentador para todos os homens, e o é por cetto para os que não têm fé. Pelo contrário, para os que têm fé, do fundo deste horizonte sujamente confuso e torvo, uma voz, capaz de despertar a mais alentadora confiança, se faz ouvir: Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará! (Nossa Senhora em Fátima, aparição de 13 de julho de 1917). Que confiança depositar nesta voz? A resposta cabe numa frase: ela vem do Céu.

No Sagrado Coração de Jesus há doçura, mas também justiça, severidade, força. Tudo em grau infinito e divino De uma conceituada ladainha:

Coração de Jesus, sede da grandeza e da majestade de Deus,* * Tende piedade de nós! Coração de Jesus, cuja doçura se instila perenemente na alma.fiel,* Coração de Jesus, arsenal de todas as virtudes,><· Coração de Jesus, espada aguda contra o inimigo de nossa alma, * Coração de Jesus, terror dos demônios e de todo o inferno,* Coração de Jesus, inimigo de toda e qualquer culpa,* Coração de Jesus, segregado do mundo e sempre odiado pelo mundo,* Jesus, em cujo coração permanece escondido o dia da vingança contra os corações obstinados dos pecadores,* (Extraído de Diarium Perpetuum Clericorum et Religio.sorum, Typographia Pontificia in Instituto Pii IX, Roma, 1911).

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HAGIOGRAFIA

São Felipe Neri: fundador, orador e baluarte da ortodoxia Ascensão contínua rumo a graus de perfeição cada vez mais altos e abrasado amor a Deus caracterizaram a vida do "Apóstolo de Roma" a festa de Pentecostes do ano vontade divina lhe indicaria logo o tempos em tempos! de 1544, um varão florentino caminho. São Felipe teve um desejo ardente de vinte e nove anos suplicava Entretanto, a realidade não foi de ir ás Índias, pois invejava o martíardentemente ao Divino Espírito San- essa. Os homens providenciais por rio, o destino daqueles que partiam to que lhe concedesse a plenitupara não mais voltar. E foi prede de seus dons. Subitamente, ciso que uma voz celestial o sentiu ele seu coração de tal demovesse de tal intuito: "Felimodo abrasado do amor divino, pe, é vontade de Deus que vivas que, não mais podendo conternesta cidade [Roma],como se se em pé, atirou-se por terra, estivesses num deserto ". entreabrindo as próprias vestes Ele obedece, e a Cidade Etersobre o peito, a fim de refrescar na se transforma para ele num tanto ardor. deserto. Nesse deserto repleto A partir de então, o homem de pecadores, as multidões se de Deus sempre experimentou acercam dele, sem perturbarcontínua palpitação e estremelhe a solidão. Ele fala, ensina, cimento do coração, sobretudo exorta e sobretudo reza. quando se ocupava das coisas Oratório divinas. Na oração, suas consoUm dos mais poderosos lações sobrenaturais eram tão meios que utilizava para a congrandes, que chegava a ponto quista das almas eram as confede desfalecer, o que o levava a rências públicas espirituais, às dizer: "Afastai -Vos, Senhor, quais concorriam Cardeais, afastai-Vos porque a fraqueza Bispos, sacerdotes e leigos. mortal não resiste a uma aleSão Felipe, ademais, reunia gria tão intensa. Eis que morro, à sua volta turmas de rapazes se não vierdes em meu socordesgrenhados e de modos pouro". co civilizados; fazia-os rezar e Assim, ébrio do Espírito cantar, mais ainda, para afastáSanto, São Felipe Neri (1515los dos teatros e divettimentos 1595) dirigia-se à e colas, às perigosos, realizava os oratótavernas, às praças públicas ' rios espiri tuais,isto é, reprepara conquistar almas para sentações teatrais de cenas bíDeus. Sua festa comemora-se São Felipe Nerl deu um contributo notável à luta blicas. Daí o nome de Oratório, contra o protestantismo, completando de algum no dia 26 do corrente. dado à sua obra. E ainda hoje o modo a obra do C<}ncílio de Trento Vocação termo consetva esse sentido, ou A vocação divina tardou em mani- vezes hesitam, tateiam, parecem até seja de um gênero musical dramático, festar-se claramente a São Felipe. Po- encetar um falso caminho; outras ve- que versa sobre assunto religioso, tider-se-ia crer, sendo ele chamado a zes tem-se a impressão que eles se rado quase sempre das Sagradas Esser o fundador de uma congregação desencorajam e se faz noite sobre suas crituras, com solos, coro e orquestra. religiosa - a dos oratorianos - que resoluções e desejos mais santos: é a O Papa Gregório XIII aprovou a a Providência o conduziria pela mão estrela guia dos Reis Magos - em sua instituição dos oratorianos, dando a até a realização dessa obra, e que a viagem a Belém - que se eclipsa de São Felipe - logo chamado de "o

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Apóstolo de Roma" - a casa e a igreja de Santa Maria de V~1liç:ella. Perseguição

No final do pontificado de Paulo IV, por volta de 1558, São Felipe é perseguido. Acusam-no de fomentar uma seita, de criar conventículos que ele expunha à heresia. Tacham-no de ambicioso,. de fautor de novidades, e submetem-no a uma investigação de várias horas, no mês de agosto daquele ano. Tem de comparecer depois perante o tribunal da Inquisição, no qual havia sido aberto um~quérito sobre seus procedimentos. Em 1570, o grande Papa São Pio V também recebe queixas relativas às conferências de nosso santo. O Pontífice envia então separadamente, à revelia um do outro, dois argutos doutores, para bem examinar e ouvir tud_o que desejassem do próprio São Felipe. Ambos retomam ao Santo Padre maravilhados com a ciência e sobretudo com a santidade do fundador dos oratorianos. Contra o protestantismo

São Felipe deu um contributo notável à luta contra o protestantismo, completando de algum modo a obra do Concílio de Trento, o qual opusera à heresia de Lutero a doutrina da Igreja, fielmente deduzida das Sagradas Escrituras e da Tradição. Porém, os pseudo-reformadores protes~a~t~s haviam distorcido também a Histona da Igreja, a fim de caluniá-la. À vista disso, Felipe ordenou a um de seus filhos espirituais, César de Baron - futuro Cardeal, mais conhecido sob o nome de Baronius que escrevesse uma História da !~reja, desde Jesus Cristo até aqueles dias, resumindo as antigas histórias, os atos dos mártires, as vidas dos santos, os escritos dos Santos Padres, as ordenações dos Concílios, ano por ano, a fim de desfazer as falácias protestantes. Em meio àquela faina, no ano de 1572, Baronius esteve à beira da morte. Felipe rezou por ele: "Senhor, dai -

me Baronius, restituí-mo: eu o quero" . Como Nosso Senhor recusasse, voltou-se ele para Nossa Senhora, que lhe deu a saber que sua oração fora 20

atendida. Com efeito, Baronius restabeleceu-se no dia seguinte. O valente Baronius pôs mãos à obra e de 1588 a 1607 (ano de sua ' morte) publicou os anais dos doze primeiros séculos da Igreja, em doze volumes, coadjuvado por dois irmãos oratorianos, Odorico Reinaldo e Jacó Laderchi. Sua trilha foi continuada pelo dominicano polonês, AbrahamBzovius, pelo Bispo de Pamiers, Henrique de Sponde (1640) e pelos dois franciscanos franceses Antonio e Francisco Pagi. De modo que, de 1738 a 1756, o Arcebispo deLuca, Mansi, publicou em trinta e oito volumes infolio esses anais portentosos, iniciados por Baroni us. Amigo de Papas e Santos

São Felipe foi amigo de vários Papas: Clemente VIII, a quem curou milagrosamente de uma gota com um forte aperto de mão, Paulo IV, São Pio V e Gregório XIV. Manteve amizade também com vários outros santos: o Cardeal São Carlos Borromeu, que, ajoelhado diante dele, pediu-lhe várias vezes que o deixasse beijar suas mãos; Santo Inácio de Loyola, que gostava de estar junto dele, em silêncio, para admirá-lo; o Beato Alexandre Sauli, apóstolo da Córsega; São Camilo de Lélis, que sob sua orientação fundou a Congregação dos Clérigos Regulares para serviço dos enfermos. Felipe Neri morreu em 26 de maio de 1595, foi beatificado por Paulo V em 1615 e canonizado por Gregório XV em 1622. Depois de morto, os médicos puderam verificar que o seu coração era insolitamente volumoso, e que duas costelas se tinham curvado e fraturado para deixar livres as pulsações cardíacas, cheias de amor para com Deus e para com os homens. LUIZ CARLOS AZEVEDO Obras consultadas: 1. José Leite, SJ., Santos de Cada Dia, Editorial A.O., Braga, Portugal, 1987, vol.11. . . 2. Emest Hello, Physionomies des Saints, Perrm et Cie., Libraires-Éditeurs, Paris, 1900. 3. Narcel Jouhanceau, Saint Philippe Neri, Plon, Paris, 1957. . . 4. Pe. Rohrbacher, Vida dos Santos, Editora das Americas, São Paulo, volume IX.

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Capa da obra de Antonio Mascarenhas: na fisionomia do Pe. José Vaz, m meio às graças que, com as seriedade e retidão grandes navegações d? sécul_o XVI, fizeram expandu cons1Faleceu este Santo jesuíta em 1552, deravelmen te a Fé para novos contiquando se encontrava próximo à Chinentes, também na India a Santa Igrena, que pretendia visitar, após haver ja tomou novo impulso. pregado em Málaca, nas Ilhas MaluCom efeito, ao aportar na costa do cas e no Japão. Malabar, em 1498, Vasco da Gama ali Goa viria a receber o honroso título encontrou uma numerosa comunidade Roma do Oriente. Nela não havia de de católicos, cujos antepassados um quarteirão no qual não brilhasse a haviam sido convertidos em remotos lamparina junto ao sacrário do Santístempos pelo Apóstolo São Tomé. simo Sacramento, tão numerosas Com o passar dos séculos, parecia em eram suas igrejas e capelas. vias de extinção a Fé desses indianos Nessa atmosfera, em Sancoale, que viviam tão isolados do Ocidente uma singela vila situada a 15 quilômecristão. Porém, ao contato com os tros de Pandjin, a atual capital de Goa, portugueses, ela tomou novo vigor e nascia, em 1661, numa família de alta a sua antiquíssima liturgia foi oficialcasta, um menino que se tomou demente reconhecida pela Igreja, sob ~"'······- ~ .--....,. ->~ pois um ardente devoto da Santíso nome de rito malabar. sima Virgem e admirável homem 1 Nas caravelas que cruzavam os de Deus. oceanos ostentando em suas velas Seu nome era José Vaz, e hoje .. a Cruz de Cristo - emblema da ' seu processo de beatificação enJ Ordem que em Portugal substitui contra-se em andamento. a Ordem de Cavalaria dos TemEscravo de Maria plários -viajavam também abnegados sacerdotes, alguns dos quais A formação católica recebida , vieram a ser mais tarde elevados à desde tenra infância por José Vaz honra dos altares. em seu lar, foi aperfeiçoada mais tarde nos estudos realizados com À frente dos primeiros miss!onários que se estabeleceram na lnos padres jesuítas e também domidia encontrava-se Frei Henrique nicanos, que lhe transmitiram sóde Coimbra, conhecido personalida formação doutrinária e pleno gem de nossa História, por haver domínio das línguas latina e porsido capelão da esquadra de Pedro tuguesa. Álvares Cabral, e ter celebrado a A 5 de agosto de 1677, pouco O sacerdote indiano primeira Missa no Brasil. tempo antes de se ordenar sacerDesse modo, ao lado do rito maladote, José Vaz teve um gesto de proJosé Vaz, que se bar revitalizado, o rito latino ali deitou fundo significado: ajoelhado ante o consagrou a Nossa profundas raízes naquela região, com altar da Virgem Santíssima, na igreja o batismo de milhares de pagãos, daí Sancoale, proferiu ele a sua solene Senhora como escravo, de resultando a constituição das primeiconsagração à Santíssima Virgem, na ras dioceses e a construção de nume- foi o grande apóstolo de condição de escravo. Para externá-la rosas igrejas. o quanto lhe era possível, assinou um Sri Lanka, o antigo A província de Goa, situada nacosdocumento especialmente preparado Ceilão. Para entrar ta oeste da Índia, foi uma das primei(ver quadro na página 23). ras regiões onde frutificou extraordiEscravo ... palavra que designa a nesse país, onde a nariamente a semente do Evangelho. situação terrível de privação da liberIgreja vivia perseguida, dade humana, podendo causar por Algumas décadas mais tarde, lá chegava o grande missionário São isso uma natural repulsa. o zeloso missionário Francisco Xavier, cujo corpo repousa Não obstante, pode também ela ter disfarçou-se também ainda hoje no relicário do altar da um sentido sublime e elogioso quanBasílica do Bom Jesus, em Old Goa. do se refere a um auge de dedicação e como escravo

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CATOLICISMO, ABRI L 1992

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Um escravo de Maria na lndia do século XVIII

CATOLICISMO, MAIO 1992

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fidelidade a princípios bons e verdadeiros. É o caso, por exemplo quando se diz que, renunciando a quaisquer interesses pessoais, um médico ou um militar tenha se sacrificado como escravo do dever. Consideremos, ademais, o fato de que no cântico do Magnificat, conforme nos conta o Evangelho, a Santíssima Virgem proclamou solenemente: "Eis aqui a escrava do Senhor". Essa forma de escravidão amorosa que Ela quis ter em relação a Deus, inspirou vários santos, entre os quais Santo Odilon, Abade de Cluny, como Fachada da igreja de Nossa Senhora da também numerosas almas piedosas, a Saúde, em Goa, em cujo altar-mor o adotar em relação a Nossa Senhora Pe. José Vaz formulou sua consagração uma forma análoga de dependência espiritual. Nessas placas é conservada a desigConvém ressaltar que, em seu cé- nação em português, idioma ainda falalebre Tratado da Verdadeira Devo- do por muitos de seus habitantes, pois, ção à Santíssima Virgem, escrito em como se sabe, somente em 1961 Goa se 1713, o grande apóstolo mariano fran- tornou independente de Portugal. cês, São Luís Maria Grignion de Socorro à Igreja perseguida Montfort, recomenda, com sólida Após exercer por algum tempo seu fundamentação teológica, a prática da ·apostolado sacerdotal na região do escravidão a Nossa Senhora. Tal esbravio Kanara, no sul do continente cravidão a Maria, segundo ele, imita indiano, o Pe. Vaz retornou a Goa, a submissão do próprio Cristo, que a onde fundou o ramo indiano cios OraEla foi inteiramente obediente, desde torianos, congregação devotada à fora infância até o momento de iniciar mação de missionários, fundada por sua vida pública. São Felipe Neri. A consagração feita pelo Pe. José Da grande ilha do Ceilão, entretanVaz, como escravo de Maria, teve um to, chegavam notícias dolorosas. Há aspecto especial, qual seja, o de ultramais de duas décadas dezenas de mipassar o âmbito restrito de sua piedalhares de católicos ali viviam em rede pessoal, ou de seus contemporâgime catacumba!, devido à perseguineos, para passar à História, sendo ção movida por calvinistas desse modo lembrada pelas gerações holandeses. Estes, ao se estabeleceque vêm se sucedendo ao longo dos rem no país, expulsaram todos os saséculos. cerdotes, punindo com a morte qualAssim, na fachada da igreja de quer forma de prática da Fé Católica. Nossa Senhora da Saúde, de SancoaO que sobrara ela florescente crisle, em cujo altar-mor o Pe. José Vaz tandade no Ceilão, cujas sementes haformulou tal consagração, uma placa viam sido lançadas por São Francisco registra o fato. Além disso, denomiXavier? na-se Rua Escravo de Maria a travesPor quanto tempo a chama da Fé sa que lhe dá acesso. ainda continuaria a arder naquelas alInfelizmente, a nave e o presbitério mas? Estas perguntas tocavam a fundo o dessa igreja foram destruídos por ocasião de um violento incêndio, em zelo apostólico cio Pe. Vaz, e por isso, 1834, restando apenas, devidamente generosamente, decidiu ele ir pessoalmente auxiliá-las . A missão mais conservada, sua bela fachada. Na estrada que corta Sancoale, pla- premente era, a seu ver, dar plena cas de sinalização rodoviária, indi- assistência aos fiéis perseguidos, de cam o acesso à histórica Rua Escravo modo a afervorá-los. E como conseqüência, a conversão de infiéis daí de Maria. 22

resultaria normalmente. A presença de um sacerdote católico não Ceilão importava em gravíssimos riscos, os quais, entretanto, em nada abalaram sua decisão. Após haver estudado os idiomas que se falavam no Ceilão, em março de 1686, com a necessária permissão do Arcebispo de Goa, o Pe. Vaz dirigiu-se para a região de Kanare, a fim de partir discretamente rumo a seu destino. Aos portos de Kanare vinham barcos ela mencionada ilha, e seria possível ao missionário ali embarcar. Acompanhava-o, desde então, o jovem João Kundbi, que anteriormente trabalhava na propriedade rural da família Vaz, em Sancoale, e que depois tornou-se também sacerdote. Sob disfarce

Disfarçaram-se o Pe. Vaz e seu acompanhante como escravos, trajando uma rústica túnica, e trazendo o Terço ao pescoço, o qual aparentava ser um simples colar de contas, de uso comum entre hindus. E num saco levavam escondidas as vestes sacerdotais, vasos sagrados, hóstias, vinho e tudo o mais que a missão requeria . Ao se apresentarem no porto para embarcar, o funcionário holandês encarregado de fiscalizar os viajantes suspeitou de algo e excluiu-os da viagem. Este obstáculo foi rapidamente superado: o funcionário faleceu logo em seguida, e seu substituto deu-lhes livre trânsito. Porém, outras dificuldades, outras cruzes, freqüentes na vida apostólica, não deixaram de se suceder continuamente. A viagem, que normalmente levaria quatro dias, acabou durando três semanas, devido a tempestades. Depois de aportarem na ilha de Manaar, o Pe. Vaz e seu criado seguiram para Jaffna, a capital do reino. Aí foram acometidos por uma grave epidemia, sendo socorridos por uma pobre mulher que os encontrou prostrados e desabrigados, à beira da morte. O apostolado

Logo que recuperou a saúde, empenhou-se o Pe. Vaz em localizar, CATOLICISMO, MAIO 1992

sem chamar a atenção dos calvinistas, as famílias católicas que permaneciam fiéis às escondidas. O missionário passou então a oferecer de casa em casa seus serviços de jardinagem e trabalhos do gênero, ao mesmo tempo em que observava atentamente o comportamento das famílias para detectar este ou aquele traço que deixasse transparecer sua Fé católica. Certo dia, aquele jardineiro aparentemente comum dirigiu a uma rica senhora a sua pergunta capital: "A senhora deseja a assistência de um Padre católico?" - A resposta foi: "Sim". Estavam abertas as portas da Igreja do Silêncio, cuja organização havia sido orientada pelos missionários jesuítas que deixaram urna rede de catequistas, que ministravam batizados e casamentos. Com o passar do tempo, apenas os catequistas se conheciam entre si, para proteger o conjunto dos católicos contra denúncias de eventuais apóstatas aos perseguidores. A partir ele então, contornando com desenvoltura todos os obstáculos, o trabalho cio Pe. Vaz desenvolveu-se enormemente. Recolhido a seus aposentos durante o dia, passava a noite celebrando Missas, ouvindo confissões e dando assistência a seus fiéis, muitos dos quais jamais haviam visto um sacerdote. A Cruz volta a brilhar

No Natal de 1689, os holandeses, tendo notícia de seu apostolado, invadiram a mansão onde seria celebrada a Santa Missa, mas nada fizeram contra o Pe. Vaz, que, para eles, tornarase invisível. Em situação análoga, noutra ocasião, a própria Santíssima Virgem se fez presente no recinto onde os perseguidores procuravam o

Pe. Vaz, obrigando a estes que se retirassem e nada fizessem contra os católicos. Certa vez, ao viajar pelo interior, o Pe. Vaz e sua comitiva estavam prestes a ser atacados por elefantes. Entretanto, quando a situação parecia perdida, os imensos paquidermes surpreendentemente interromperam a investida e se ajoelharam em reverência ao homem de Deus. No reino de Kandy, por ocasião de uma grave epidemia, o Pe. Vaz se devotou à assistência espiritual e também material dos doentes, evocando a figura evangélica do Bom Samaritano, suscitando numerosas conversões de pagãos, como também a benevolência do monarca. Durante uma terrível seca que assolava a região de Kandy, o monarca Consagração do Pe. José Vaz, como Escravo Saibam quantos esta carta de cativeiro virem, os anjos, os homens, e todas as criaturas, como eu o Padre José Vaz, me vendo, e entrego por escravo perpétuo da Virgem Mãe de Deus por doação livre, espontânea e perfeita, que o direito chama irrevogável entre os vivos, a minha pessoa, e bens, para que de mim, e deles disponha à sua vontade, como verdadeira Senhora minha; e porque me acho indigno desta honra, suplico ao anjo da minha guarda, e ao glorioso Patriarca São José, esposo amantíssimo desta Soberana Senhora, e santo do meu nome, e aos mais cidadãos celestiais, alcancem dEla, que me receba no número de seus escravos: e por ser verdade, a firmo do meu nome, e quisera firmar com o sangue do meu coração. Feita na igreja de Sancoale, ao pé do altar da mesma Virgem Maria Mãe de Deus, Senhora da Saúde, hoje, cinco de agosto, dia da festa da mesma Senhora das Neves, de seiscentos e setenta e sete. José Vaz

recomendou ao Pe. Vaz suas orações, suplicando a tão esperada chuva, depois de tê-la esperado, sem sucesso, da oração dos monges budistas. Para atendê-lo, o Pe. Vaz celebrou a Santa Missa junto a uma grande Cruz ao ar livre, sendo necessário que a assistência se dispersasse logo em seguida, devido a um forte aguaceiro que começou a cair. Após esse milagre, foi obtida do Rei a liberdade para pregação do Evangelho, tendo o Pe. Vaz imediatamente solicitado a vinda de outros missionários de Goa para ajudá-lo. Subindo ao trono um novo monarca, quis este manifestar sua gratidão e simpatia ao Pe. José Vaz. Para tal, quando seu séquito se dirigia em cortejo para o palácio, ele fez parar seu elefante e, do alto do mesmo, saudou com veneração o missionário que, já idoso, veio à porta de sua residência. Pouco antes de falecer, a 15 de janeiro de 1711, ao ver o Evangelho florescer novamente no Ceilão, o Pe. Vaz poderia dizer, como o velho Simeão diante do Menino Jesus no Templo: "Agora, Senhor, podeis levar este vosso servo!" Vinte e cinco anos haviam transcorrido desde que o ardoroso Pe. José Vaz chegara ao Ceilão. Como escravo, sim. Mas sobretudo, escravo de Maria, disposto aos mais ousados lances, com vistas a conquistar almas para o Reino de Cristo no Ceilão. AUGUSTO D E CARVALHO Obras consultadas 1. Antonio Mascarenhas, Padre José Vaz - Thc hero of a Chrislian Epic in Sri Lanka, A Mirator Edition, Goa . 2. São Luis Maria Grignion de Monúort, Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, Editora Vozes, Petrópoli s, 1980.

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Eusébio põe a classe em alvoroço Os d.ias tinham voltado a correr tranqüilos na simpática cidade de Santa Edwiges, e também na escola que leva o nome da santa padroeira, quando algo tomou a movimentar os espíritos daquela operosa população: subitamente ali surgiram agentes de uma empresa de publicidade, desconhecida na região, afixando por toda parte grandes cartaze,s de propaganda da "Eco-92". As sábias lições de Dona Carolina sobre ecologia haviam repercutido vivamente, não apenas na escola, mas também em toda a pequena cidade. De índole trad.icionalmente católica, aquela laboriosa população não pod.ia deixar de se ver assaltada por fortes desconfianças quanto a certa propaganda ecológica, de fundo ateu e igualitário, para a qual a respeitável professora alertara seus alunos em d.iversas aulas. Na Escola Santa Edwiges, as aulas de Dona Carolina prosseguiam também. A bondosa professora, que leciona História Natural e Biologia, vinha discorrendo, desta vez, sobre a maravilhosa e sábia organização do corpo humano, disposta pelo Criador. - Vejam, meus caros alunos - dizia ela - como o perfeito funcionamento do nosso corpo provém de uma imensa variedade de órgãos desiguais em nobreza, funções e importância, mas dispostos numa mútua e harmônica colaboração, para o bem comum do organismo. E nisso contribuem desde os órgãos mais modestos até os mais elevados e decisivos. Os pés carregam o peso do corpo, mas recebem do coração o sangue que os alimenta e lhes garante a vida. E são protegidos pela cabeça, cujo centro nervoso transmite as "ordens" da inteligência e da vontade e lhes evitam desastres, como pisar sobre espinhos ou precipitar-se em abismos. Para dar à inteligência conhecimento dos riscos que correm os pés, e com eles todo o organismo, estão os olhos, os ouvidos e outros órgãos de nossos sentidos. Se algum sábio quisesse fazer uma descrição completa da riquíssima interdependência e mútua colaboração dos órgãos de nosso corpo, sua vida inteira não bastaria. O bem comum do todo se obtém pelo exercício de cada órgão no lugar e função que lhe compete. CATOLICISMO, MAIO 1992

- Puxa, professora - exclama admirado Fernando - como é bela a sabedoria de Deus que assim ordenou as coisas! - De fato - retoma a professora você poderá contemplar tal sabedoria em muitos outros aspectos da ordem estabelecida por Deus. Por exemplo, nas sociedades humanas, que são formadas de criaturas desiguais em dons, funções, importância e d.ignidade, mas que, se souberem colaborar mutuamente, cada uma no seu lugar e na sua função, produzirão maravilhas de cul-

tura e civilização. - Agora compreendo a aberração da "luta de classes" - d.iz Bonifácio, vivamente satisfeito - e da revolta de quem é menos ou tem menos contra os que são ou têm mais, em nome de uma pretensa igualdade entre os homens. Imagine a senhora - continua ele que no corpo human~ os pés e as pernas se recusassem a carregar o tronco, por se sentirem oprimidos por este. E que, em contra-partida, o coração se recusasse a irrigar com sangue aqueles. E a cabeça, com seu centro nervoso, por vingança, deixasse de comandar uns e outros ... Todo o organismo caminharia para o caos e o desastre. O mesmo necessariamente se dá com uma socie-

dade que se deixa envenenar pelas idéias socialistas de "luta de classes" pregada pelo marxismo, como a senhora nos tem ensinado. A esta altura, Eusébio, o filho da psicóloga - que ficara um tanto abalado em suas convicções ecologistas intervém de modo intempestivo: - Professora, a senhora viu a notícia da "Eco-92"? Aqueles assuntos de que a senhora tratou conosco vão ser debatidos em grande assembléia internacional, a reunir-se no Rio de Janeiro, em junho próximo. - É verdade - acrescenta Fernando. Os ecologistas radicais querem atribuir às plantas, aos animais, e até aos minerais uma importância e uma dignidade que eles não possuem. E com isso rebaixar o homem. Se eles ouvissem o que Dona Carolina e nós estamos aqui comentando, ficariam muito contrariados. Sem poder negar as desigualdades de órgãos e funções que Deus estabeleceu no corpo humano, entretanto as negam categoricamente para o organismo social, e até para a própria ordem da natureza. - Alto lá! - intervém Eusébio concordo agora com vocês que entre os minerais, vegetais, animais e homens há grandes desigualdades. Mas entre estes últimos não as pode haver. Deus criou todos os homens iguais. E quererem uns ser mais do que outros, ou ter mais, é orgulho, falta de caridade, que gera injustiças e opressões. A esta altura, vários falam ao mesmo tempo, e o burburinho se generaliza na sala. Sobrepondo-se ao vozerio, Bonifácio dirige-se á professora: - Afinal, a desigualdade social é justa ou injusta? Professora! o que ensina a doutrina católica a respeito? Diga-nos, por favor! O toque da campainha dando encerramento à aula interrompe as calorosas palavras de Bonifácio. Dona Carolina então conclui: - Em próxima aula, se Deus quiser, trataremos disso. Entretanto, não deixem de comentar com seus amigos e conhecidos tais asSlUltos, pois são próprios a nos abrir novos horizontes intelectuais, e a nos auxiliar a compreender o mundo e o momento histórico em que vivemos. Comente, comente, também, leitor de Catolicismo! 25


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BRASIL REAL - BRASIL BRASILEIRO

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A Segunda Descoberta do Brasil olombo descobriu a América. E, segundo a legenda, descobriu, também, que é possível colocar um ovo em pé. Já Cabral, ao que se saiba, apenas descobriu nosso País. Mas o descobriu bem descoberto. A carta de Caminha é eloqüente: percebe-se que os portugueses j ul gavam ter topado com paragens de grande futuro. Houve o Brasil dos primórdios, o Brasil Vice-Reino, o Brasil Reino Unido e o Brasil Império. Chegamos a ser um País importante e a ter uma das moedas mais fortes do mundo. Depois... a poeira de certo desprestígio ,., r-•~ caiu sobre ele, encobrindo, pelo menos em parte ... o que Cabral descobrira. Algo de análogo sucedeu com a América espanhola. Ainda há quem pense, na Europa e nos Estados Unidos, que a capital do nosso País é Buenos Aires . Essa desdenhosa ignorância geográfica é constrangedora para nós, bem como para os habitantes da formosa capital argentina. - Onde é o Brasil? - pergunta um francesinha. -Não sabe? É aquele país imenso, que fica abaixo da Guiana Francesa ... Para não poucos habitantes do Velho Mundo, nisto ou em algo de semelhante se resume nosso País. *** Pior que a ignorância geográfica dos de fora é a perda da auto-estima pe los fil hos desta terra. E pior do

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que esta é o vezo, quase a prevenção dia não se propõe uma visão miseanti-Brasil que encharca certa mí- rabilista. Ela lembra, muito a prodia. Ela, por assim dizer, faz nosso pósito, que naAméricaLatina raraPaís desfilar por uma galeria de mente se encontram situações de espelhos côncavos e convexos, os miséria massiva, como em certos quais o deformam e caricaturizam, países africanos ou asiáticos .... embora conservando alguma seme- [Ela] se situa atrás do pelotão de vanguarda dos países desenvo lvidos, do que no grupo dos 'menos avançados"'. Contin ua o "Le Quotidien": "Qual o país latino-americano cujo progresso econômico justifica uma atenção particular? O Brasil. Sua reputação de 'país calorento e não muito sério ' ocultou por muito tempo sua nova posição na hierarquia mundial. Efetivamente, o Brasil tornou-se uma das dez primeiras potências econômicas do mundo. Ele dispõe hoje do Potência à vista ... primeiro parque industrial do Hemisfélhança com o original. rio Sul, o que lhe permite 'dar as No último artigo dei exemplos cartas' nos mercados de exportação concretos desta operação preconcei- a países mais tradicionalmente detuosa, que gera novos preconceitos senvolvidos... como a França". em uma reação em cadeia, no mesSugestivamente, o título do artigo mo momento histórico em que a de~ de Verluise é: A América Latina sinformação grassa fora de nossas redescabe rta. Não há dúvida. Ou melhor, fica fronteiras. apenas uma dúvida. As editoras Ha*** Assim estavam as coisas quando chette e Reclus estão descobrindo o as prestigiosas editoras francesas Brasil, como fez Cabral? Ou apenas Hachette e Reclus, em edição con- colocando um ovo em pé, como, na junta, resolveram nos fazer justiça versão de alguns, em certa ocasião no verbete "América Latina", do fez Colombo? terceiro tomo de sua " Geografia Francamente, tendo a ficar com a Universal". segunda hipótese. Comentando tal lançamento, Pierre Verluise, no "Le Quotidien", L EODANIELE de Paris, registra que "a enciclopéC ATOLICISMO, MAIO 1992

I Audacioso até o incrível, quando for a hora da audácia; prudente até o inimaginável, quando for a hora da prudência; bom até o inexcogitável, quando for a hora do perdão; severo até o espantoso, quando for a hora do castigo; confiante a ponto de desarmar os outros de tão confiante, quando se tratar de confiar nAquela que merece uma confiança inteira e, em relação à Qual até Deus, cujo olhar sonda os rins e os corações dos homens, teve um comprazimento tão irrestrito que chegou ao ponto de nEla se encarnar para habitar entre nós.

II Firmeza, firmeza, firmeza... Firmeza cortês, firmeza polida, firmeza séria, firmeza distinta, firmeza sem arrogância, firmeza sem debilidade. Firmeza! PLINIO COR@A DE OLIVEIRA

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Dá licença de lembrar... Charge publicada pelo "Frankfurter Allgemeine Zeitung". Enquanto a Lituânia acaba de escapar do maior cárcere a céu aberto da História da humanidade, cujo nome sinistro se resume nas letras URSS, no alto do muro alguns prisioneiros representam as outras nacionalidades cativas. Eles se preparam para seguir o exemplo da nobre nação báltica, enquanto Gorbachev olha preocupado pela janela. O resto, estamos lendo todos os dias nos jornais. A charge sublinha o papel pioneiro dos lituanos na liqüidação da ex-URSS. O abaixo-assinado das TFPs , de cinco milhões e duzentas mil assinaturas, sem dúvida os confortou , e os ajudou a ter essa ousadia. Se eles não houvessem sido tão audaciosos ... Vê-se agora melhor o valor de cada firma colocada no famoso abaixo-assinado . Inclusive da tua, Leitor.




JUNHO de 1992

Número498

Discernindo, Distinguindo, Classificando ... ,

'

.A.ssest:a.n.do o

Pesquisa incomoda "progressistas" m sociólogo de Recife, Prof. Lemuel Guerra, apresentou tese de mestrado na U Diversidade Federal de Pernambuco. E para isso teve a original idéia de promover um inquérito entre católicos, a propósito de temas que atualmente dividem conservadores e "prpgressistas". O resultado -dado a lume no início deste ano (cfr. "Jornal do Brasil", 4-192) - revelou-se bastante incômodo para os "progressistas". Tomou patente que sua penetração junto aos católicos pernambucanos é quase nula. A pesquisa mostrou que praticamente a totalidade dos abordados "quer

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do seu comando e até os Bispos, como aconteceu em 1985 em Pernambuco e depois em São Paulo". Para o sociólogo, teria havido uma mudança na Igreja

"para não continuar perdendo adeptos". Ao mesmo órgão de imprensa, o Cônego Miguel Cavalcante, Vigário-Ge-

gressistas" no interior da Igreja, vindos de altas cúpulas. Ora, os fautores desses erros sempre os apresentaram como sendo desejados pelos fiéis: "É preciso que a Igreja se aproxime do povo", diziam. Mas, de fato, à medida que o "progressismo" foi entrando na Igreja, aconteceu que os

eforma Agrária. Tanto se falou, tanto se escreveu sobre · ela, tanto se mexeu no assunto, que a expressão ficou desgastada. De modo que, no Brasil de hoje, quase só a defendem os furibundos partidários da esquerda - católica ou não católica - , sempre aferrados aos modismos de ontem. Mas não foram só, nem principalmente, o uso e o abuso da expressão que a esvaziaram. Foi também o fracasso, por toda parte, da Reforma Agrária. Muitos, desde 1960, não quiseram reconhecer a limpidez serena e irretorquível, ao mesmo tempo clarividente, da argumentação desenvolvida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira contra a Reforma Agrária socialista e confiscatória. São eles agora obrigados a dar a mão à palmatória, em face dos desastres sociais e econômicos que ela semeou pelo mundo. E não pense o leitor que estamos nos referindo sobretudo ao Leste europeu ou a Cuba - nações inteiras atiradas à mais negra miséria. Queremos salientar o fracasso da R eforma Agrária no México, país apontado até há pouco como paradigma da revolução no campo. Ante a situação calamitosa da agricultura mexicana,

nunciaram-se nesse sentido! Ela deixou claro também que, mesmo em maté ria política, há atualmente um forte distanciamento entre os fiéis e boa parte do Clero naquele Estado. Pois, no que se refere à chamada "conscientização política", bem-amada das esquerdas, 73,7% dos padres se mostraram favoráveis a ela, enquanto apenas 46,6% dos fiéis a aprovaram. Ademais, 74, 7% destes reprovam a participação de religiosos em campanhas eleitorais. Tal radiografia da realidade explica mais a fundo a oposição que parte do Clero pernambucano tem feito a D. José Cardoso Sobrinho, pelo fato de este ter imprimido a seu governo episcopal uma orientação diferente da de seu antecessor em Recife-D. Helder Câmara, o Arcebispo Vermelho-, atendendo mais aos anseios religiosos do povo. A questão, porém, está longe de restringir-se a Pernambuco. O mesmo Prof. Lemuel Guerra, que andou estudando o assunto, declarou ao "Jornal do Brasil": "Acho que o Papa vem sabendo disso [do conservadorismo dos fiéis] há

muito tempo e deve ter resolvido por isso dar uma guinada na Igreja do Brasi~ afastando os padres progressistas 2

ral da Arquidiocese de Olinda e Recife, afirmou: "O povo não quer mesmo uma

Igreja que participe de comícios ou de assembléias políticas". E esclareceu que vários padres foram afastados da Arquidiocese porque, a respeito deles, a Cúria vinha recebendo seguidas queixas de muitos fiéis.

*** . Há mais de 35 anos, quando conheci o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira portanto muito antes do Concílio Vaticano II - , ele já afirmava que o movimento dito "progressista" era imposto aos fiéis de cima para baixo, por uma detenninada camada de eclesiásticos. Lendo depois os livros e artigos desse ilustre mestre, escritos nas décadas de 40 e 50, dei-me conta de que ele já denunciara graves desvios pré-"pro-

fiéis dela foram saindo. Uns pela lamentável porta da apostasia, outros pelo alheamento. Dentre os que ficaram, poucos aderiram às novidades, a maioria permaneceu indiferente a elas, e alguns passaram a combatê-las. Estes eram os mais fiéis. Tal realidade vai se tomando cada vez mais evidente. Se, como diziam os "progressistas", era para contentar o povo que inoculavam suas novidades na Igreja, agora que os fatos falam, gritam, berram que isso é falso, não seria o caso de voltarem inteiramente atrás e darem razão a quem estava certo? Sublinhamos a palavra inteiramente. Pois, se ficarem apenas em pequenos recuos estratégicos, sua responsabilidade pelo esvaziamento da fgrcja tornarse-á cada vez mais acachapantc . C.A.

CA'IOUCISM ,JU~

fruto de um longo processo de Reforma Agrária que vem desde 1915 - é a mais antiga e a mais propagandeada das reformas agrárias-, o governo do Presidente Salinas de Gortari operou agora uma espetacular volta atrás. E note-se que se trata de um governo saído de um partido - o Partido Revolucionário Institucional (PRI) -que domina o México há décadas, tendo como uma de suas principais bandeiras perpetuar a divisão e distribuição de terras ... O camponês mexicano chegou a um grau de pobreza tão deprimente, a economia do país se viu tão profundamente golpeada, que Salinas resolveu abrir a agricultura para a propriedade privada e a livre iniciativa, com a participação de empresas nacionais e estrangeiras. E, se críticas merece o Presidente mexicano, é pelo fato de não ter varrido inteiramente da Constituição os princípios socialistas. Manteve ele, pelo contrário, um perigoso entulho legal, herdado da Revolução mexicana (1910-1917), que se não for revogado poderá novamente reverter a situação. Tudo isso o leitor encontrará devidamente explicado nas páginas internas.

R

mesmo ver os padres pregando o Evangelho e celebrando ofícios religiosos". Dos consultados, 99,7% pro-

foco

SUMARIO Hagiografia

Internacional

-A grande mensagem comunicada a Santa Margarida Maria Alacoque: o Sagrado Coração de Jesus

-

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Discernindo ... Absenteísmo sadio ... 13 Caderno Especial 2 9

16 História Sagrada 21 TFPs em ação 23 Escrevem os leitores

Onze anos após a Mensagem anti-socialista das 13 TFPs, o PS francês reconhece que fracassou

Reforma Agrária -

O governo mexicano atenua a socialização no campo, cuja situação é de estagnação e pobreza

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2f Comente, comente ... 26 Brasil Real... 27 Frases em painel

AfOJLECESMO Catolicismo é uma publicação mensal da Editora Padre Belchi or de Pontes Ltda. Diretor: Paul o Co rrêa de Brito Filho. Jornalista Responsável: Takao Takahashi - Registrado na DRT-SP sob o Nº. 13748. Redação e Gerência: Rua Martim Francisco, 665 - 01 226 - S ão Paulo, SP - Tel: (011) 8 25. 7707. Diagramação: Antonio Carlos F. Cordeiro - Rua Javaés, 68 1/689 - 01 13? - São Paulo - S P; F':'tolitos: Microformas Fotolitos Ltda. - Rua Javaés, 68 1 - 01130 - São Paulo - SP; Impressão: Gráfica Editora Camargo Soares Ltda. Rua da.lnd.ependenc,a 767 - 01 524 - Sao Paulo, S P. Para mudança de end ereço é necessário mencionar também o endereço antigo. A correspondenc,a rel ativa a assinatura e venda avuls a pode ser enviada ao endereço da Gerência de Catolicismo. ISSN l nternational Standard Seri al Number - 0102-8502

CATOLICISMO, JUNHO 1992

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concisamente

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Derrubando um mito ...

Apesar de seu rotundo fracasso, o sistema de coletivização agrária imposto por Stalin sobrevive ainda na Rússia e em outros países. A Armênia, porém, corajosamente recusou as meias medidas: lá, o Governo vendeu mais de 80% das terras a agricultores particulares, mediante pagamento simbólico. Dentro de dois anos, os proprietários poderão vender e comprar livremente seu lote. Gagik Gasparian, prefeito de Ararat, calcula que a colheita dobrou, em poucos meses, com relação ao ano anterior. Apesar disso, ainda há quem insista no surrado chavão de que é difícil fazer a transição do regime socialista para o da propriedade privada! ~

Oportuno mea culpa

O patriarca da igreja cismática russa (conhecida como "Igreja Ortodoxa" - 1.0.), Alexis II, viu-se na contingência de pedir publicamente perdão pelo fato de a I.O. haver colaborado com o comunismo. Declarou ele: "Assumo a responsabilidade por tudo que se passou na vida de minha Igreja, não somente no que se refere ao bem, mas igualmente quanto às páginas negras e dolorosas .... A todos aqueles para quem essas concessões, esses silêncios, essa passividade forçada, causaram sofrimentos, peço perdão, compreensão e oração". Entre nós, no Ocidente, eclesiásticos e leigos da esquerda católica bem poderiam inspirar-se neste sugestivo precedente ...

Lição da Dinamarca

Um dos maiores jornais da Dinamarca, o "Ekstra Bladet", com tiragem de 220 mil exemplares, recusou-se a publicar, durante três meses, qualquer declaração de políticos do país. Em editorial, o jornal afirmou que daria cem dias aos políticos para que "reencontrassem a realidade". "Durante esse período - acrescentou - nada escreveremos

sobre suas banalidades''. O periódico cumpriu sua promessa. O jornalista Jan Jensen, responsável pela campanha, disse que ela foi um sucesso. "Não recebemos carta de nenhum leitor reclamando da ausência do noticiário político", declarou ele. Não seria esse um exemplo a ser seguido por órgãos de imprensa brasileiros? ~

~ · Cientistas

rejeitam evolucionismo

O "dogma" evolucionista, segundo o qual o homem vem do macaco, acaba de sofrer mais um duro golpe. Em outubro do ano passado, realizou-se em Blois (França) um congresso com a participação de 200 cientistas, dos quais quatro detentores de Prêmio Nobel. Em reportagem de onze páginas, a revista parisiense "Figaro Magazine" informa que a idéia preponderante do Congresso foi descartar as teses de Darwin sobre a evolução. "Após a derrubada de Marx, é a vez dele", diz a revista.

Massacre premeditado

"Os fiéis se ajoelhavam para rezar quando foram ouvidos os primeiros disparos" - relatou um Padre espanhol, expulso do Zaire após uma manifestação de católicos sclvagemente reprimida na localidade de Kinshasa. O sacerdote revelou ainda ter assistido a cenas de torturas com golpes de cassetete e de chicote, desferidos pela polícia do ditador Mobutu. Segundo fontes oficiais, a fuzilaria provocou 17 mortes. Segundo a oposição, o massacre causou 42 vítimas. A notícia foi veiculada pelo órgão do Partido Comunista Francês, "L'Humanité".

"Terceiro-mundismo", bazófia esquerdista

Embora se procure nos inculcar que há no mundo uma divisão Norte-Sul entre ricos e pobres, na realidade o porvir da miséria está mais no Leste (sobretudo na exURSS) do que no Sul. · A renda da quase totalidade dos países asiáticos e latino-americanos vem crescendo mais rapidamente do que as respectivas populações, segundo relatório publicado há pouco pelo Banco Mundial. Nesse sentido, a pujança da economia brasileira é notável. Comprova-o bem a supersafra, recentemente anunciada por fontes governamentais. Apesar disso, a esquerda insiste em apregoar a necessidade de uma reforma agrária socialista e confiscatória. Mediante estímulo tecnológico para a melhoria das atividades

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em tempo

Mortos em sacos de plástico! -São cada vez mais freqüentes, na antiga URSS, casos como este: o defunto é trnnsportado numa caixa até a vala onde será enterrado; tirnm-no, então, da caixa e o envolvem num saco plástico, pois não há dinheiro para a compra de caixões ... Fervor aumenta na China - "Na Igreja da China, hoje, de modo geral, não há crise .... Graças aos esforços de sacerdotes, religiosos e Bispos católicos - segundo diversos relatórios - , a Fé se robustece e o fervor aumenta". Assim respondeu o Arcebispo de Cantão, D. Dominik Tang Yee-Ming, SJ (de 84 anos, agora em Hong-Kong) a uma pergunta do Pe. Arreguis, do Serviço Fides. Ladrão ensina na TV - O presidente da Associação Comercial do Paraná, Werner Schrappe, protesta contra propaganda da empresa Orbàn - especializada na instalação de alarmes - cuja estrela é Ronald Biggs, famoso assaltante inglês. "Podem ins(alar o seu SOS. Eu já estou rico mesmo!" - proclama o desabusado Biggs, no referido anúncio veiculado pela TV Assim é que se privatiza ... - Na abertura da Feirn de Hanover, o chanceler alemão Kohl anunciou, pernnte empresários de 67 países: "Estamos tentando fazer o inventário da maior massa falida da História, em todo o mundo". Referia-se à hecatombe produzida pelo comunismo na pa1tc oriental da Alemanha. Dentre as estatais que lá existiam, 4235 foram privatizadas, enquanto outras 8 mil serão simplesmente desmontadas como imprestáveis. Esquerda à deriva - Em toda a Europa, os partidos esquerdistas estão em plena degringolada. Ruíram os mitos marxista, socialista, social-democrata (o falido "modelo" sueco, por exemplo). Na França, a derrocada socialista foi completa: "Levando-se em consideração as abstenções, o PS teve o voto apenas de um francês em cada 12" [nas recentes eleições regionais] -obsciva o "France Soir". "Mitterrand, entorpecido pássaro noturno... " - Nestes termos, o conceifuadíssimo jornal inglês "Economist" descreve o fana do e insosso Mitterrand, após dez anos de mandato. Segundo o diário londrino, "um velho anseio francês está de volta -pôr um novo líder [no Poder] que chegue montado num corcel branco acenando uma nova bandeira". Quem representará o novo papel? Frei Boff ainda exalta Cubai - Em declarações ao "Gramma", órgão oficial do PC cubano, o obstinado franciscano afirma: "Estou unido no mesmo sonho e na mesma esperança e resistência pelo triunfo do socialismo em Cuba". E, a seguir, enaltece a ação dos espiões fidel-castristas que, instalados em todos os quarteirões, tigiam o dia-a-dia de cada cubano.

no campo, em breve, o volume da produção agrícola nacional saltará para 100 milhões de toneladas, mesmo sem expansão da área plantada. Essa previsão foi divulgada pela Secretaria de Administração Estratégica da EMBRAPA.

Pobre infância! - Vai longe a época em que as crianças viviam despreocupadas, em meio a um universo povoado de sonhos fabulosos. Conforme pesquisa do Centro de Estudos Psicossociais de Roma - levada a cabo entre 150 alunos de cinco escolas primárias, cm diversas cidades italianas-, hoje as crianças temem a violência, as drogas, os seqüestros~ assassínios, como qualquer adulto.

Destaque Mídia e institutos de pesquisa: distorcendo os fatos ... A culpa é da mídia é. o título de um "ensaio sobre a fabricação da informação", de Yves Mamou, editor de Finanças de "Le Monde", .que vem suscitando acalorada polêmica na França. O autor versa sobre "a mentira, a desinformação, a instrumentalização das mídias, [bem como) sobre o espaço obscuro e mal conhecido que precede a difusão da informaçãd'. Observa o analista, não sem finura de percepção: "A evasiva, a dissimulação, são para a democracia o que o segredo é para a ditadura'. O artificialismo e a manipulação geram, conseqüentemente, descontentamento e apatia - misto de desinteresse e desdém. Assim, uma pesquisa de 1991, publicada pelo "Nouvel Obserc vateur'', mostrava que, na lista das profissões julgadas prestigiosas pelos franceses, os jornalistas chegavam na rabeira do pelotão: precisamente, antes das prostitutas e dos deputados. Dominique Woltou, especialista europeu em comunicação, é ainda mais incisivo. Para ele, a mídia erigiu-se em Quarto Poder, cujas características são: Ilegitimidade, pois não se funda na opinião da maioria, segundo o postulado democrático; irresponsabilidade perante a lei, porquanto o particular quase não tem meios de se lhe opor; expansão ilimitada, já que não há freios para sua ação; e caráter arbitrário, por arvorar-se em árbitro da ação política.

... a serviço de modismos e esquerdismos Alguns exemplos de inautenticidade no bafejo publicitário? Desde há certo tempo, os temas concernentes à ecologia ocupam ponderável destaque no noticiário; supõe-se gozarem de larga aceitação em amplas camadas do público. Será isto real? Orjan Olsen, estudioso de pesquisas no Brasil, faz notar, a esse propósito: "No início da campanha (presidencial de 89), havia a ilusão de que o voto jovem seria verde. Mas, logo nas primeiras pesquisas, percebeu-se que os jovens - tanto quanto os adultos -estavam mais preocupados com emprego, salário, saúde e educação e o tema foi deixado de fadei' (" Jornal da Tarde", 9-4-92). Por que, então, focalizar o tema com tanta insistência nos órgãos de comunicação social? Mais recentemente, per ocasião das eleições gerais britânicas, algo de análogo se passou. Embora os trabalhistas tivessem a seu favor - como elemento de pressão - todos os institutos de pesquisa prevendo sua vitória por pequena margem, aconteceu o contrário: os conservadores foram os vitoriosos, e por maioria absoluta, obtendo o quarto mandato consecutivo naquelà na~ão. Como explicar esse memorável engano? Teriam milhões de eleitores mudado de idéia à última hora? Nada o indica. Mas, mesmo se tal argumento fosse válido, os institutos de pesquisa poderiam cerrar suas portas ...


Alma prlvlleglada pela graça

Santa Margarida Maria Alacoque, a confidente do Sagrado Coração de Jesus

na Flagelação, completamente desfi- Santíssima Trindade, de Nossa SeSanta Margarida, entretanto, con- gurado, fazendo-me terr{veis quei- nhora e de seu próprio Anjo da Guarda, tava com duas coisas: seu amor a xas: que minhas vaidades O tinham que ela chegou a exclamar: "Suspendei, Deus e seu devotamento. Ela pode reduzido àquele estado, e que eu per- meu Deus, esta torrente de graças que não saber nada, mas ela ama e obede- dia um tempo tão precioso, de que Ele me abisma, ou então dilatai minha cace ao chamado divino, e nisto está sua me havia de pedir rigorosa conta à pacidade para recebê-las". Essas visões constantes duraram glória, que resplandecerá até a consu- hora da morte; que eu O atraiçoava e perseguia, depois de Ele me ter dado dois anos, de 1671 a 1673. Andava mação dos séculos. Nasceu Margarida Maria em tantas provas de amor, e apesar do Santa Margarida Maria Alacoque tão Verosvres (França), em 1647. E ape- seu desejo de que eu me tornasse absorta em Deus, que suas orações nas adquirido o uso da razão, fez voto semelhante a Ele". mais pareciam êxtases. Freqüentede castidade perpétua. mente passava doze horas Contrariamente ao que suininterruptas rezando na capela cede aos homens e mulheres do Mosteiro, em completa comuns, desde cedo fez ela imobilidade. com que os seus interesses graAté então, entretanto, Nosso vitassem não em tomo de si Senhor não lhe havia revelado mesma, mas da Pessoa divina os segredos de seu Sagrado de Nosso Senhor Jesus Cristo. Coração. Tal manifestação só Santa Margarida foi uma teve início a 27 de dezembro de dessas almas privilegiadas, 1673, na festa de São João, atraída insistente e eficazmenquando a santa rezava diante te pela graça divina para fazer do Santíssimo Sacramento. de Deus, de Nossa Senhora e Comunhão reparadora da Igreja o centro de suas cogitações e de suas vias. E nessas Seis meses depois, Nosso disposições viveu os quarenta Senhor apareceu-lhe em todo o e três anos de sua vida. esplendor de sua glória, com as Desde criança, brincando com cinco chagas brilhando como outras de sua idade, sentia-se imsóis e o Sagrado Coração à pelida, por um movimento intesemelhança de uma fornalha rior, a isolar-se e a elevar sua ardentíssima. Pediu nessa ocamente a Deus. E a santa se voltou sião a comunhão reparadora precisamente para a Santís.sima das primeiras sextas-feiras de Virgem, colocando-A no centro cada mês, e que todas as semade sua piedade, para assim chegar nas, das onze às doze horas da mais facilmente a Nosso Senhor. noite de quinta-feira, ela estiA Mãe de Deus também a vesse prostrada com a face na repreendia, quando era o caso. terra, em expiação pelos pecaAssim, sendo ela ainda pequedos dos homens e para consona, contra o seu costume, deilar o seu Coração do abandono Igreja do Mosteiro da Visitação em Paray-le-Monial, xou um dia de rezar o terço universal ague O haviam releonde a Santa recebeu as grandes revelações referentes ao Sagrado Coração de Jesus com os joelhos em terra para gado os homens. fazê-lo sentada. Nossa SeEis aí o caráter principal da nhora lhe apareceu então com o olhar Desde a adolescência foi ela favo- nova devoção e o ponto em que essensevero, e lhe disse: "Estranho muito, recida por extraordinárias visões de cialmente ela difere de todas as que a minha filha, que me sirvas com tanto Nosso Senhor com a Cruz aos ombros precederam: Nosso Senhor pede um desleixo" ... a caminho do Calvário. Tais aparições DESAGRAVO ao seu Sagrado CoraJá mocinha, para comprazer a seus passaram a ser constantes - o que é ção, dolorosamente ultrajado pelas parentes, deixou-se algumas vezes raro na vida dos santos - quando ela, "ingratidões, irreverências, sacriléenfeitar para comparecer a reuniões aos vinte e quatro anos, ingressou no gios, tibiezas e desdéns que manifessociais, o que, dada a sua vocação, Mosteiro da Visitação (Congregação tam em relação a Mim". não estava bem. Narra Santa Marga- fundada por São Francisco de Sales e A terceira e última dessas maravirida que "certa noite, quando tirava Santa Joana de Chantal) em Paray-le- lhosas comunicações celestes realiaquelas malditas librés de Satanás, Monial (França). zou-se a 16 de junho de 1675. Nosso instrumentos da maUcia dele, apareTantas e tais eram as aparições, não Senhor pediu-lhe então que fosse esceu-me o meu soberano Senhor, como só de Nosso Senhor, como ainda da tabelecida da Igreja uma festa parti cu1

Ela fez da Pessoa divina de Nosso Senhor Jesus Cristo o centro de todas as suas cogitações e de suas vias erta vez, São Francisco de Assis encontrou um religioso que lhe perguntou: -Por que essa multidão, que acorre em direção a vós? Por que todo esse respeito e veneração? Ao que São Francisco respondeu: - Deus percorreu todo o mundo com seu olhar à procura da mais miserável criatura, pela qual pudesse Ele manifestar o seu poder. Seu olhar santíssimo, debruçando-se sobre a Terra, não encontrou nada de mais vil, de tão baixo, pequeno e ignóbil quanto eu. Daí a sua escolha!

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Não entramos no mérito dessa afirmação de São Francisco de Assis. Aqui nos importa apenas ressaltar que esse episódio contém uma grande lição. Deus tanto pode agir através de um instrumento humano altamente qualificado - é o caso, por exemplo, de Santo Inácio de Loyola, nobre, inteligente, vontade de ferro, fina sensibilidade - como pode, pelo contrário, escolher um instrumento humanamente inepto, para dessa forma deixar bem patente que a eficácia da ação decorre unicamente dEle, que está no Céu.

Se considerarmos a vida de Santa Margarida Maria Alacoque (16471690), escolhida pela Providência para a missão de confidente do Sagrado Coração de Jesus - a cuja devoção a Santa Igreja dedica o mês de junho - , constatamos precisamente a aplicação deste último princípio. O próprio Nosso Senhor, numa de suas aparições, diz por que a escolheu: "Eu te escolhi como um abismo de indignidade e de ignordncia para o cumprimento desse grande des{gnio, a fun de que tudo seja feito por l,r" ,, 111.1un •

CATOUCISMO,JUNHO 1992

CATOUCISMO,JuNHO 1992

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lar em honra de seu Coração, havendo nesse dia, no mundo inteiro, 'comunhões em reparação e de_sagravo das ofensas de que Ele tem sido objeto. Após o que, a santa começou a sofrer sua própria paixão. A saúde faltou-lhe por completo, e às dores físicas somaram-se as morais: dúvidas, dificuldades, contradições. As perseguições também não lhe foram poupadas, nem mesmo da parte de freiras e sacerdotes que não acreditavam em sua missão sobrenatural. Efeitos do Jansenlsmo

Santa Margarida viveu na época que o jansenismo (*) mais devastações fez na França, tornando as almas tacanhas e estreitas, suspeitando de toda manifestação sobrenatural. Por isso, as superioras do Mosteiro de Paray-le-Monial, ao receber as confidências daquela noviça tão desprovida de talentos - cujo contínuo recolhimento e absorção nas coisas celestes eram tomados por timidez excessiva-, ficaram sobressaltadas. Julgaram-na alvo de alucinações, seguidora de uma via estranha, sujeita a embustes do demônio e ilusões. As-

sim sendo, não queriam admiti-la à garida Maria Alacoque a glória da profissão religiosa, pois julgavam ser qual ela fugia, e que também parecia fugir dela. Quis Deus que ambas outra a via da Ordem da Visitação. Alarmada, Margarida Maria recor- Santa Margarida e a glória - se enreu a Nosso Senhor: "Diga à tua su- contrassem, no tempo e na eterperiora que não tem nada que temer nidade! em te receber, porque Eu respondo LUÍS CA RI.OS AZEVEOO por ti; e que, se Me tem por bom pagador, Eu te servirei de fiança". A Notas: Jansenlsmo: Heresia do holandês Comélio Jan&êsuperiora quis, como sinal de que era (º) nio, Bispo de Ypres (1636), especialmente clara em Ele realmente Quem a animava, que sua obraAugustinus. ano de 1620, Jansênio chegou à conclusão de que só Nosso Senhor concedesse à noviça a No ele, até então, compreendera o verdadeiro pen&amenlo graça de se tomar útil à Religião ... de Santo Agootinho (daí o nomeAugu.stinus dado à sua obra) sobre a graça e a predestinação. Em suas elucubra"Eu te farei mais útil à Religião do çõcs, ele negava a liberdade humana, partindo do princíque e la pensa - respondeu o Reden- pio de que a graça divina é concedida a certos homens desde o nascimento, e recusada a o utros. tor-, mas há de ser de uma maneira As cinco propooições-ebave dessa nova heresia foram que até agora s6 Eu sei. De hoje em submetidas a Roma - ap6s sérioo estudoo feitos na na Universidade da Sorbonnc - e condenadiante acomodarei as minhas graças França, das na bula papal Cum occasione, de Inocêncio X, daao espírito de tua Regra, à vontade de tada de 31 de janeiro de 1653. Posteriormente, os paAlexandre VII (em 1656) e Clemente XI (em tuas superioras, e à tua fraqueza. Dei- pas 1705) voltaram a condená-las. xa que façam de ti o que quiserem. Eu saberei empregar o melhor modo de Obras consultadas: 1. Vie et Révélolions de Sainte M arguente-Marie Alalevar a bom termo os meus desíg- coque écriles par elle-même, Imprimerie St-Paul, Barnios". le-Ouc, França, 1947. 2. Ernest Hello, Plrysionomies des Saint.s, Penin et Contra si mesma, Santa Margarida Cie., Libraires-Éd iteurs, Paris, 1900. viu tudo se levantar. E ninguém se 3. A entronização do Sagrado Coração de Jesus nos pela consagração solene das famílias a este divijuntou a ela. Entretanto, ela triunfou, lares no Coração - Manual publicado pela Congregação triunfa e sobretudo triunfará. Sem ge- dos Sagrados Corações (Picpus), Braine-le-Comte, 1926. nialidade nem grandes dotes naturais, Bélgica, 4. Dom Guéranger, L 'Année Liturgique, Pe. Croiset, sem aliados, conquistou Santa Mar- S.J., Ano Cristão.

OOLHARDE NOSSO SENHOR boas imagens que repreentam o Sagrado Coração e Jesus quase sempre nos fazem contemplar, no olhar de Nosso Senhor, algo de supremamente tranqüilo, sereno e analítico. É um olhar profundo, abarcativo, meditativo, que parece fazer remontar tudo quanto existe às suas ultimíssimas e mais elevadas causas, nunca se contentando com uma visão plana e rasa das coisas, incompatível com a sua infinita perfeição moral. Olhar analítico, dissemos, de quem vê tudo, conhece tudo e ama as inter-relações retas e ordenadas das coisas criadas. É um amor, portanto, que Nosso Senhor Jesus Cristo tem à própria ordem do universo que Ele mesmo 8

_c riou. Nesse universo, ordenadamente, Ele ama os homens, os quais constituiu reis da Q-iação. E dentre estes, Nosso Senhor ama de modo particular os católicos, desejando que se voltem para Ele e O adorem. Ele ama sobretudo a Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana nascida da chaga aberta em seu Sacratíssimo Coração - , pela qualEle vela de modo especial, a fim de que

a única Igreja do único Deus vivo e verdadeiro, que é Nosso Senhor Jesus a-isto, realize as intenções que Ele teve em vista ao fundá-la. E por essa divina análise, enormemente refletida e séria, da ordem do criado, Jesus sabe que toda ela é profundamente solidária. E assim, qualquer desordem introduzida em · algum ponto, por ínfimo que este seja, repercute e abala aquela ordem no seu conjunto. Como também, em sentido contrário, sabe Ele que toda boa ação consolida essa mesma ordem universal. De onde, o Sagrado Coração de Jesus amat intensamente os bons para que sejam melhores, com vistas a que se tomem ótimos! E tudo ~ , com aquele divino amor, de uma dileção toda especial, que só o Sacratíssimo Coração "que tanto amou os homens" sabe ter. Ele, assim, nos atra~ nos arrebata e nos põe de joelhos, em súplice adoração. CATOUCISMO,JUNHO 1002

Absenteísmo sadio, mas não sábio PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA

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ealizaram-se recentemente eleições gerais na Colômbia e os resultados indicaram uma baixa de comparecimento impressionante. Segundo os jornais, foram votar somente 30% dos eleitores. Sendo que, do total de votantes, 17% votaram em branco. Se a grande maioria do eleitorado não quer votar, porque não tem empenho em que alguns dos candidatos sejam eleitos, isso significa, em última análise, que ela não quer saber de nenhum daqueles que foram apresentados. E isso é uma derrota simultânea de todos os partidos. No fundo, uma derrota do regime representativo naquela nação. A situação de todos esses partidos é mais ou menos como a de um homem que oferece um banquete a um grande número de amigos, e apenas 30% de seus convidados comparecem. Equivale a dizer que o círculo de relações daquele homem está indisposto com ele. O seu banquete não atrai, a sua conversa não interessa, a sua companhia não agrada. Tal é o resultado dessa atitude do eleitorado. E isto, aliás, vai sendo cada vez mais assim na América do Sul e na Europa. O significado ideológico dessa atitude do eleitorado não é a favor de uma corrente contra outra, de conservadores contra liberais, ou vice-versa, porque é do corpo eleitoral contra todos os candidatos, ou quase todos. Essa atitude, que perigo oferece para os restos de ordem normal, natural, digamos de ordem cristã, que ainda há em nosso Continente? Tal rejeição não é sadia? Não se trata -pensará alguém - de uma reação contra CATOLICISMO, JUNHO 1002

um amontoado de abusos que desagradam ao povo? Poderíamos dizer que ela é sadia, mas não é sábia. O matiz se exprime na mudança de uma letra por outra.

I

\ ~ a@n~@®® mi®

©©[L~ffial®~ De fato, não basta rejeitar algo, é preciso saber o que se quer. E da atitude geral do povo deveriam emergir tendências boas, e outras equipes políticas dispostas a substituir as atuais, com outros programas. Ora, isso não se dá. Há nisso um exemplo característico da atitude moder'n a diante da crise de nossos dias. A massa das pessoas não gosta dos partidos e dos candidatos, mas não sabe o que deseja. Nem toma diante das coisas de que não gosta uma atitude suficientemente reativa para imaginar como deveria ser aquilo que conviria vir em substituição. As pessoas simplesmente es-

tão aborrecidas, descontentes com a atual situação, e a empurram com a ponta do pé, como quem diz: "Levem embora essa tralha, porque eu não a quero". - Então, o que é que você quer? - indagará alguém . - Eu não quero pensar, não quero me ocupar com isso, quero me interessar tão-só pela minha vidinha particular e não pela causa pública. Aconteça o que acontecer, muito trágico não poderá ser. E por causa disso eu me abstenho! Ora, essa atitude de absenteísmo, de ausência, de não presença nos debates políticos, causa o vácuo, e esse vácuo é exatamente um passo para o caos. A situação presente não pende para este ou _aquele lado, ela pende para o caos. E o pior dos vazios, que não é o vazio onde não há nada, mas onde necessariamente elementos de desordem se infiltram. É uma atitude de alma disposta a receber qualquer surpresa, a não reagir diante de nenhum absurdo. O que a maioria não quer é incomodar-se. Quer apenas o status quo, o gozo da vidinha imediata e sem interesse por mais nada. Poder-se-ia objetar talvez que, na Colômbia, esse absenteísmo não é de hoje, ele data de há muito. Tal objeção não prova que ele não seja um mal, mas que semelhante mal é inveterado. Aliás, esse mal está longe de ser só colombiano. No país irmão, o voto não é obrigatório, e por isso quase ninguém vota. À vista disso, perguntamos: se no Brasil houvesse a liberdade de não votar, quem votaria? Talvez seja preferível nem responder ... 9


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E a rosa murchou ...

O PS francês, que lançou com grande estrépito em 1981 a autogestão socialista -hoje considerada "antiquada" pelo próprio Partido-, não contava com a Mensagem das TFPs, de autoria do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira... a qual bem cedo começou a sepultá-la qual pretendiam criar a frente única esquerdista, capaz de apresentar uma alternativa sócio-política para o chamado dilema comunismo-capitalismo. Almejavam assim seduzir o mundo com uma suposta terceira via, que reconciliaria os dois blocos antagônicos, Leste-Oeste, e baniria para sempre o espectro de uma hecatombe nuclear. A oportunidade de ouro para concretizar esse plano chegou com a vitória do Partido Socialista Francês nas eleições de 10 de maio de 1981, e a conseqüente ascensão de François Mitterrand à Presidência da República. A partir daí, a autogestão se transformou na meta internacional a serviço da qual o PS instrumentalizava o governo, as riquezas e sobretudo o prestígio e o rayonnement (irradiação) mundial da França. Tal ambição estava consubstanciada no Projeto Socialista para a França dos anos 80, no qual se lê:· "Não pode haver um Projeto socialista s6 para a França. O dilema 'liberdade ou servidão', 'socialismo ou barbárie' ultrapassa as fronteiras de nosso País .... O socialismo é internacional, por natureza e por vocação . ... A França ou é uma aspiração coletiva, ou ela simplesmente não é .... Imensas possibilidades existem para um pa{s como o nosso .... de levar alto e longe, Uma nova bandeira na Europa e no mundo, a mensagem 1 Foi então que os socialistas içaram universal do socialismo" < ). a bandeira da autogestão, em tomo da Essa mensagem representava, na

naugurado em 1989 para comemorar o bicentenário da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, o Arco da Defesa, em Paris, faz parte daquilo que ironicamente os franceses chamam de terror arquitetônico de Mitterrand. De fato, trata-se de uma mole de vidro e concreto em forma de cubo vazado, no extravagante estilo p6snada, bem adequada a servir de escritório para executivos neuróticos, como costumam dizer os parisienses. Nessa bijuteria tamanho trambolho, o Partido Socialista Francês (PS) se reuniu, em dezembro último, num congresso extraordinário para tentar conter a hemorragia de prestígio que ameaça a própria sobrevivência política da agremiação. Num esforço ingente para não morrerem sepultados sob os escombros do Muro de Berlim, os socialistas pronunciaram então um mal articulado mea culpa, renunciando a certos princípios fundamentais de sua ideologia. Qual a razão dessa perda de identidade? Onde foram parar o carisma de Mitterrand e o charme da autogestão? · Para responder à pergunta, é necessário retroagir dez anos no tempo e trazer à memória a conjuntura política da França dos anos 80.

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No último congresso do PS, realizado em dezembro, na capital francesa, foi reconhecido o fracasso do programa socialista e da autogestáo

A revista "Paris-Match", com duas fotos, do· cumentou eloqüentemente o fracasso de Mit· terrand: acima, o sorriso da vitória, em 1981, e a esperança na autogestão, enquanto... ... embaixo, o olhar angustiado, da autalidade, símbolo da derrocada do socialismo

prática, uma mudança radical na vida dos indivíduos e da sociedade. Por isso, na França, a proposta socialista intitulou-se Changer la Vie (transformar a vida), título este que resumia a universalidade e a profundidade das mudanças pretendidas. Nada escapava ao furor reformista dos novos donos do poder: no plano familiar, o modelo autogestionário CATOLICISMO, JUNHO 1992

fomentaria a luta de classes entre pais vam-se para isso formas de convívio e filhos, equipararia o casamento à cada vez mais comunitárias até se união livre, a homossexualidade seria atingir o paraíso autogestionário so"reabilitada" e o aborto liberado, in- cialista, com o desaparecimento do clusive para menores e sem o consen- próprio Estado. timento dos pais. Lance Inesperado A educação estatal obrigatória, a Mas os socialistas não imaginavam partir dos dois anos, e a gradual asfixia da escola privada, era peça-chave que alguém poderia desfazer o sonho no Projeto, pois "é nessa fase que autogestionário, por eles acalentado começa a luta contra as desi~ualda- com tanto cuidado na França. Contra 2 des e as segregações sociais" ). a mensagem universal de Mitterrand, No plano sócio-econômico, estava ergueu-se a Mensagem das Sociedaprevista a nacionalização das grandes des de Defesa da Tradição, Fam{lia e e médias empresas rurais e urbanas, Propriedade, de autoria do Prof. Plique seriam então geridas por assem- nio Corrêa de Oliveira, na qual o inbléias de operários. "Enquanto hou- signe pensador católico denuncia o ver empresários - dizia um teórico duplo jogo do socij lismo francês: na do PS - a monarquia não terá aca- estratégia, gradualidade; na meta, bado de ser derrubada na França" (3)_ radicalidade. Cogitou-se até na criação do MinisSob o título, O socialismo autogestério do Tempo Livre, para, em nome tionário: em vista do comunismo, da igualdade, suprimir a distinção en- barreira ou cabeça~de-ponte ?, o dotre trabalho e lazer. Visava-se assim à cumento veio a lume ocupando seis mudança radical no cadre de vie (qua- páginas nos maiores jornais do mundro de vida) do cidadão, incentiva- do, a começar pelo FrankfurterAllgeCATOLICISMO,JUNHO 1992

meine, da Alemanha, e pelo Washington Pos~ dos EUA. Em pouco tempo, 34.767.900 exemplares da Mensagem das TFPs seriam difundidos por 187 publicações de 53 países, em 14 idiomas (cfr. Catolicismo, dez/91). Era demais para os sequazes da autogestão! O sonho virou pesadelo. Confusos, os porta-vozes do Elisée (Presidência da República) não sabiam o que responder <4)_ Se avançassem na execucação do Projeto, não fariam mais do que confirmar a denúncia do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira: a autogestão é uma cabeça-deponte do comunismo, provocando com isso forte reação na opinião pública européia. Se recuassem, perderiam a credibilidade junto às bases socialistas e, talvez, a própria identidade como partido de esquerda. Na tentativa de não ficar mal ante a opinião pública, optaram pela segunda hipótese e acabaram perdendo a identidade. 11


Respeito humano de ser soclallsta

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Dez anos se passaram desde a "aur?ra ;~diosa_" do socialismo autogestlonar10, e eis que uma profunda crise de identidade abala os fundamentos do PS francês. No Congresso do Arco da Defesa - a que acima nos referimo~ - tudo falou de crise, até a indumentária, a linguagem e o modo de comportar-se dos participantes. . O blue jeans de outrora, obrigatóno para aqueles que se diziam herdeiros espirituais da revolução da Sorbonne (maiq de 1968), quase desapareceu. Com exceção de uns poucos gatos pingados, que se obstinam em andar na contra-mão da História a maioria dos militantes do PS se ap~esentou para o evento trajando o tradicional paletó e gravata dos burgueses. O "tu" e o "camarada" cederam lugar ao "vous" (senhor), e as atitudes vulgares, como sentar-se em mesas ou no chão, tão afins com a mentalidade igualitária, ficaram por conta de a~guns _cinqüentões que mais pareciam pierrots dançando carnaval na quarta-feira de cinzas. O_radical projeto de 1981,Changer la Vie (mudar a vida), foi substituído pelo anódino Novos Horizontes de 1991, verdadeiro atestado de óbit~ do sonho autogestionário. À página 55 desse novo projeto, lê-se: "Já não se trata, como ocorria no que concerne à antiquada autogestão [sic!], de eliminar os empresários para substituí-los por dirigentes designados pelo Estado ou eleitos pela base .... Os representantes dos assalariados não devem substituir os chefes na direção da empresa" (5) Mas não só a autogestão, a planificação e a nacionalização foram parar na lata de lixo do PS. A luta de classes , o ~eformis~o revolucionário e o própno marxismo encontraram destino sem~lhante. Em seu lugar, um reconhecimento claro da superioridade da economia de mercado. "A força do mercado está em ser insubstituível .... Todas as tentativas de substituí-lo acabaram por fracassar .... O socialismo reivindica e quer outra organização do Planeta, mas esta deverá

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desenvolver-se no contexto de um capitalismo mundializado". Os socialistas da velha guarda se ufanavam de sua filiação marxista. "Permanecemos fiéis ao espírito do marxismo", escrevia em 1980 o ex Primeiro-Ministro Pierre Mauroy <6)_ Contradizendo abertamente tal afirm~ção d~ princípio, o novo Projeto a~uma: Na verdade, o empobrec~mento das classes operárias, prevista por certa análise marxista não se produziu. O nível de vida n~ França, foi quadruplicado entre 50 e 1990" (7) Até a bem-amada e quase adorada trilogia da Revolução Francesa Liberté, Egalité, Fraternité foi substi, ' t~1da ~o~ ~ut:a, totalmente inexpressiva: iniciativa, solidariedade e responsabilidade. E o dogma do igualitarismo merece~ nov_a ~ confusa interpretação: "O princípio igualitário não é sinônimo de igualitarismo: é pondo em realce o pluralismo biológico, cultural e econômico, que uma sociedade pode ascender ao estágio superior de igualdade" (s)_ Enfim, o assim chamado socialismo ~u~ogestionário foi trocado pelo ~ocialis'_rlo residual, isto é, por uma ideologia em ruínas, que parece ter respeito humano de sua antiga figura. No Leste europeu, a foice e o martelo foram derrubados como símbolos do comunismo. No Ocidente, a rosa vermelha do socialismo autogestionário murchou!

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Notas: 1. Projet socialiste pour la Fra,u;e des années 80 Club Socialiste duLivre, Paris, maio de 1981 p; 18 108, 126, 164. ' . '

2. Op. cit., p. 287. 3. Pierre Mauroy,HéritÚ!rsdel'Awnir, Stock, Paris, 1977, p. 276. 4. CT_r. "lnternational Herald Tribune", 11.12.1981. 5. M1cbel Cbaizat, Un Nouw:l Horizon, p. 96. 6. Cfr. "Documentation Socialiste" suplemento n• 2

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7. Micbel Cbaizat, op.cil, p. 94. 8. Id. ibidem, ~ 30.

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CA'IDLICJSMO,JUNHO 1002

Perda eencontro do Menino Jesus no 'Iemp{o


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Perda e 'Encontro do Menino Jesus no 'Temp[o (Lc.11, 41-52) Jesus entre os doutores

E seus pais iam todos os anos a Jerusalém, no dia solene da Páscoa. E, quando chegou aos doze anos, indo eles a Jerusalém segundo o costume daquela festa, acabados os dias (que ela durava), quando voltaram, ficou o Menino Jesus em Jerusalém, sem que seus pais o advertissem. E, julgando que Ele fosse na comitiva, caminharam uma jornada, e (depois) procuravam-no entre os parentes econhecidos. E, não O encontrando, voltaram a Jerusalém em busca dEle. E aconteceu que, três dias depois, O encontraram no Templo sentado no meio dos doutores, ouvindo-os e

interrogando-os. E todos os que O ouviam estavam maravilhados da sua sabedoria e das suas respostas. E, quando O viram, admiraram-se. E sua Mãe disse-lhe: Filho, por que procedeste assim conosco? Eis que teu pai e eu Te procurávamos cheios de aflição. E Ele disse-lhes: Para que Me buscáveis? Não sabíeis que devo ocupar-Me nas coisas de meu Pai? E eles não entenderam o que lhes disse. E desceu com eles, e foi a Nazaré, e era-lhes submisso. E sua Mãe conservava todas estas coisas no seu coração. E Jesus crescia em sabedoria, em idade e em graça diante de Deus e diante dos homens.

Comentários do Pe . .Luís C[áudio ![i[Cion (excertos) Quando o grupo, no qual iam Maria e José, se pôs em marcha para a Galiléia, Jesus ficou em Jerusalém sem avisar seus pais. Depois de inutilmente tentarem achá-1O em cada conjunto de pessoas, José e Maria voltaram a tomar tristemente o caminho de Jerusalém, continuando a procurá-1O por todo o trajeto e também na cidade, desde que lá chegaram. Até que, no terceiro dia, encontraram Jesus em uma dependência onde os rabinos realizavam suas sessões acadêmicas. Estava sentado aos pés dos doutores segundo o estilo oriental, escutando-os e interrogando-os. Suas perguntas e respostas continham tanta sabedoria que todos os assistentes estavam estupefatos de admiração. Quando perceberam que Ele estava nesta importante assembléia, Maria e José ficaram por sua vez maravilhados, pois conheciam a modéstia e o silêncio, habituais nEle, e o cuidado com que até então ocultava sua natureza superior. Uma amorosa queixa saiu do coração de Maria: "Filho, por que agiste assim conosco? Vê como teu pai e eu cheios de aflição Te procurávamos". Respeitosamente respondeu-lhes Jesus: "Como Me pro-

curáveis? Não sabíeis que devo Me ocupar com as coisas de meu Pai?" Verdadeiro Filho de Deus, não devia consagrar-se antes de tudo e inteiramente aos assuntos de seu Pai? Ele se admirava, pois, por seu lado, de que Maria e José não tivessem interpretado neste sentido seu desaparecimento momentâneo, eles que O conheciam melhor que ninguém. (NuestroSefíor Jesucristosegún losEvangelios, Ed. Difusión, Buenos Aires, 1917, pp. 84-85) Comentários compilados por São Tomás de Aquino na "Catena Áurea"

São João Crisóstomo - O Senhor não operou nenhum milagre durante sua infância; somente este [a disputa com os Doutores, no Templo], como refere São Lucas, mediante o qual mostrou-Se admirável. Grego ou Geómetra -À vezes, [Jesus] começava por instituir a lei com palavras e depois a comprovava com obras, como diz São João em seu Evangelho (cap. 10): "O bom pastor dá a vida por suas ovelhas"; e, com efeito, pouco depois (desejando nossa salvação) nos deu sua própria vida; outras

vezes, pelo contrário, dava primeiro o exem-. pio ~ depois explicava a maneira de viver bem, como neste trecho, em que, por suas obras, nos ensina haver três coisas que devem ser antepostas às demais: amar a Deus, honrar

seus pais e dar preferência a Deus, mesmo em relação aos próprios pais. Porque, quando foi repreendido por eles, considera como de pouca importância todas as coisas que não são de Deus, e logo obedece também a seus pais.

![esta do Sagrado Coração de Jesus Estando diante do Santíssimo Sacramento Senhor havia aproximado misteriosamente um dia, dentro da oitava de Corpus Christi de Santa Margarida Maria um dos mais santos religiosos que possuía então a Companhia (em junho de 1675)-narra Santa Margarida Maria Alacoque, religiosa visitandina e grande Jesus, o Revmo. Pe. Cláudio de la Colombiere. Ele reconheceu a santidade das vias de vidente, escolhida por Nosso Senhor para pelas quais o Divino Espírito conduzia a sancomunicar ao mundo a devoção a seu Sagrata e se fez o apóstolo devotado do Sagrado do Coração-, recebi de meu Deus enormes graças de seu amor. E sentindo-me tocada Coração, em Paray-le-Monial primeiramente pelo desejo de Lhe retribuir algo, de Lhe e até na Inglaterra, onde ele mereceu o glopagar amor com amor, disse-me Ele: "Tu não rioso título de confessor da fé, nos rigores das prisões protestantes. Esse fervoroso discípuMe podes conceder maior retribuição do que fazendo o que já tantas vezes te pedi". Então, lo do Coração do Homem-Deus morreu em mostrando-me seu divino Coração: "Eis o 1682, esgotado por trabalhos e sofrimentos. Mas, na ocasião, a Companhia de Jesus inteiCoração que tanto amou os homens, que nada poupou, até esgotar-se e se consumir ra herdou seu zelo em propagar a devoção ao para lhes testemunhar seu amor; e como Sagrado Coração. A aprovação formal da Sede Apostólica a recompensa não recebo da maior parte deles essa devoção não deveria tardar muito em senão ingratidões, por suas irreverências e seus sacrilégios, e por friezas e desprezos que relação ao empenho já manifestado pela piedade católica quanto ao divino Coração. têm para comigo neste Sacramento de Amor. Mas o que Me é ainda mais sensível é que são Roma havia já concedido numerosas indulos corações que Me são consagrados que se gências às práticas privadas e erigido mecomportam assim. É por isto que te peço que diante breves pontifícios inúmeras confrarias a primeira sexta-feira depois da oitava de quando, em 1765, Clemente XIII, cedendo às Corpus Christi seja dedicada a uma festa esinstâncias dos Bispos da Polônia e da Arguipecial para honrar meu Coração, que secoconfraria Romana do Sagrado Coração, emimungue nesse dia e se faça reparação através tiu o primeiro decreto pontifical em favor da de um pedido de perdão, a fim de reparar as festa do Coração de Jesus, aprovando para afrontas que Ele recebeu durante o tempo em comemorá-la uma Missa e um Ofício. Conque esteve exposto nos altares. Eu te prometo cessões locais estenderam pouco a pouco este também que meu Coração se dilatará para primeiro favor a outras circunscrições eclederramar com abundância os efeitos de seu siásticas, até que enfim, no dia 23 de agosto divino amor sobre aqueles que Lhe dispensade 1856, Pio IX, de gloriosa memória, solicirem esta honra e se empenharem para que ela tado por todo o Episcopado francês, emitiu o Lhe seja prestada". decreto que inseria no calendário litúrgico a Confidente do Salvador e depositária de festa do Sagrndo Coração e ordenava a sua suas expressas intenções sobre o dia e a fina- , celebração à Igreja universal. Trinta · e três lidade a que o Céu queria ver destinada a nova anos mais tarde, Leão XIII elevava a rito de festa, Santa Margarida Maria ficou realmente primeira classe a solenidade que seu predeencarregada de promulgá-la e dirigir sua cecessor havia estabelecido. lebração no mundo inteiro. D. Prosper Guéranger, L 'Année Liturgique - Le temps Para conseguir o resultado que ultrapassaapres la Pentecôte, Maison Alfred Mame et Fils, Tours, va as forças pessoais da humilde religiosa, o 1922, quinzieme éd., Tome/, excertos das pp. 540-54$.


História Sagrada em seu lar

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REFORMAAGRÁRIA O Presidente mexicano, Salinas de Gortarl, apresenta, em 2-11-91, seu "Relatório sobre o Estado da Nação", calamitoso no que se refere à agricultura

noções básicas qual procurava, pois recolher o dobro na sexta-feira" (2>.

Possuía todos os sabores

O Maná Saídos do Egito, os hebreus caminhavam agora pelo deserto. E sentindo fome, murmuraram contra Deus. "E o Senhor falou a Moisés, dizendo: Eu ouvi as murmurações dos filhos de Israel; dize-lhes pois: à tarde comereis carnes e pela manhã sereis saciados de pães; e sabereis que eu sou o Senhor vosso Deus".

Codornas e maná "Aconteceu, pois, de tarde virem codornizes, que cobriram os acampamentos; e pela manhã havia uma camada de orvalho em redor dos acampamentos. E tendo coberto a superfície da terra, apareceu no deserto uma coisa miúda à semelhança de geada sobre a terra. "Tendo visto isto os filhos de Israel disseram entre si: Manhu? que significa: Que é isto? E Moisés disse-lhes: Este é o pão que o Senhor vos dá para comer. Ninguém deixe dele até (amanhã) de manhã. Mas eles não lhe deram ouvidos, e alguns conservaram até de manhã, e ele começou a ferver em vermes e apodrecer. Moisés; pois, irou-se contra eles" (l)_ "Todos começaram então a apanhar quantidade suficiente para um dia. Só no sábado se conservava, porque, querendo Deus que esse dia lhe fosse exclusivamente consagrado e empregado em obras de religião, não fazia descer o maná; cada

"Alimentaste o teu povo com o alimento dos anjos, e deste-lhe o pão, vindo do céu, preparado sem trabalho, que tinha em si toda a delícia e a suavidade de todo o sabor. "Porque este alimento mostrava a doçura que tens para com teus filhos, porque, acomodando-se à vontade de cada um, transformava-se no que cada um queria" (3)_ "E os filhos de Israel comeram maná durantequarentaanos,atéchegaremaos confins do país de Canaã" (4)_ Deus "deu-te [ó Israel) por sustento o maná, que tu desconhecias e teus pais, para te mostrar que o homem não vive só do pão, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus" (S)_

No tabernáculo durante séculos "E Moisés disse a Aarão: Toma um vaso, e mete nele maná; e põe-no diante do Senhor para se conservar pelas vossas gerações. E Aarão o pôs no 6 tabernáculo para ser conservado" < >. "Por um outro prodígio, este mesmo maná, o qual não podia ser guardado de um dia para o outro sem se corromper, exceto no sábado, conservou-se numa uma do tabernáculo [e depois na Arca da Aliança] durante séculos" (7)_

pão, viverá eternamente; e o pão que eu darei, é a minha carne ( qu1/ será sacrificada) para a salvação do mundo" (9 )_ "O novo maná, recebido com disposições convenientes, transformase em todos os desejos da alma fiel: fé, esperança, caridade, humildade, doçura, paciência, arrependimento filial, zelo ardente, coragem invencível, santa alegria" (lO)_ Após ministrar a comunhão, fora da Missa, o sacerdote reza a seguinte oração: "Vós lhes destes o pão do céu, que contém em si todos os sabores". Notas: 1. Ex. 16, 11 -20. 2. São João Bosco, História Sagrada, Uvraria Editora Salesiana, São Paulo, 1965, 14A. ed. , p. 77. 3 . Sb. 16, 20-21. 4 . Ex. 16, 35. 5 . Deu/. 8, 3. 6. Ex. 16, 33-34. 7. Padre Rohrbacher, Histoire Universelle de L 'Église Cstholique, Gaume Freres, Paris, 1842, t. l, p. 384. 8. São João Bosco, op. cit., p. 77. 9 . Jo. 6, 48-52. 1O. Padre Rohrbacher, op. cit., p . 384.

Fracassa no México a Reforma Agrária

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e os noticiários da imprensa fossem menos caóticos, e salientassem o que de fato importa, teriam dado grande destaque a uma das notícias mais sensacionais dos últimos tempos na América Latina: a espetacular volta atrás da reforma agrária mexicana.

Pré-figura da Sagrada Eucaristia

Uma reforma agrária mítica

"O maná é figura da Sagrada Eucaristia, que conforta o homem a caminhar no deserto deste mundo, em direção à verdadeira terra prometida, que é o céu"(&)_ Disse Nosso Senhor aos judeus: "Eu sou o pão da vida. Vossos pais comeram o maná no deserto, e morreram. (Mas) este é o pão que desceu do céu, para que aquele que dele comer não morra. Eu sou o pão vivo, que desci do céu. Quem comer deste

Ante a baixíssima produtividade agrícola e a miséria do homem do campo, originadas de um longo processo de reforma agrária, o Governo viu-se obrigado a modificar a Constituição para incentivar agora a propriedade privada e a livre iniciativa

O maná é uma pré-figura da Sagrada Eucaristia

Desencadeada na segunda década deste século, antes mesmo da soviética, a reforma agrária mexicana constituiuse numa espécie de padrão universal de revolução no campo. Era citada de boca cheia por todos os esquerdistas como um exemplo a seguir. Aqui mesmo, no Brasil, quantos e quantos a colocavam como meta prioritária a ser por nós atingida! Foi implantada no México em 1915, em meio a um clima de agitações, pressões, efervescências, ódios, promessas CA'IOLICISMO,JUNHO 1002

mirabolantes, e regada por muito sangue. O clima, enfim, em que a esquerda não raro envolve suas reformas, para melhor ocultar a nocividade delas e a crônica falta de apoio popular de que se ressentem. Tratava-se de uma reforma agrária bastante radical. Todos os grandes e médios proprietários tiveram suas terras confiscadas, e posteriormente loteadas pelo Governo em parcelas ínfimas denominadas ejidos (espécie de assentamentos). A partir de então - e até há pouco - foram eles sendo distribuídos aos camponeses. • O detentor do ejido não era dele proprietário, não podendo portanto vendêlo, arrendá-lo ou emprestá-lo (o Estado, como ladrão apegado ao próprio roubo, mantinha-se proprietário da terra). O pobre ocupante do ejido - tímido anãozinho em face de um Estado todopoderoso - podia apenas transmitir

por herança aquela posse precária que lhe era concedida. Dois outros tipos de propriedade eram ainda admitidos pela lei agrária: uma microscópica propriedade privada e a propriedade comunitária. Mas a base da reforma era o ejido, que ocupava a maior parte das terras aráveis mexicanas. Evidentemente, um sistema tão antinatural não podia prosperar. Mas, iniciava-se pouco depois no mundo a Revolução comunista, com ponto de apoio na Rússia, e a propaganda trombeteava para os quatro ventos que ela traria a redenção dos pobres. Nesse contexto, a revolução mexicana não podia fracassar, sob pena de grave inconveniente para a expansão do comunismo internacional. Assim é que, para manter o processo de reforma agrária mexicana, foram artificialmente injetadas nele, durante anos a fio, somas astronômicas. Ao 17


Ao lado: o Congresso Nacional ouve a exposição de Salinas de Gortarl Embaixo: a tristeza que se reflete no rosto do camponês com seu único arado simboliza a situação dos ejidos mexicanos, fruto característico da Reforma Agrária

mesmo tempo que um só partido, o Partido Revolucionário InstitucionalPRI, se perpetuava no poder para continuar a mesma política. Marcha à ré

Chegamos assim à década de 90, quando ficou patente aos olhos do mundo o fracasso do comunismo no Leste europeu, o crime de proporções absolutamente inimagináveis que foi ali a coletivização das terras e dos ponto capital, a revisão da fracassada lei bens em geral, a miséria assustadora de reforma agrária. do povo, a derrocada impressionante "Informe" do presidente: da produção (quando, afinal, um tri... não é sabão! bunal irá apurar as responsabilidades?!). Nessa situação do comunismo Em 2 de novembro último, ao apreinternacional, não era mais sustentá- sentar ao Congresso nacional um "Revel continuar a manter o sistema agrá- latório sobre o Estado da Nação", o rio mexicano por meio do bombea- Presidente do México, Carlos Salinas mento contínuo de dinheiro. de Gortari, pintava um quadro bastante Se o Grande Irmão soviético ruía deprimente da situação do campo nanuma implosão sem precedentes, não quele país. E acenava para medidas a havia condições, nem mesmo psicoló- serem tomadas nesse sentido. Referia-se ele a "tantos anos de esgicas, para manter artificialmente no México um edifício revolucionário que, tagnação e decadência" no setor agroele próprio, já estalava de todos os la- pecuário. "Foi muito o que a crise redos, portador das doenças característi- duziu no nível de vida dos mexicanos; cas do vírus socialista. de uma crise tão profunda não se sai em Assim é que o Governo mexicano poucos anos". Para ele, a situação estruresolveu engajar-se num processo ao tural criada é tão grave, que é a própria qual deu o nome de "modernização" do viabilidade futura da nação mexicana país, e que nada mais era do que a que está em jogo: "Estruturalmente, marcha à ré da revolução. Incluía ampla existe um clamor generalizado para desestatização (a começar pela desna- que se atue em duas áreas fundamencionalização dos bancos), abertura para tais para a viabilidade futura de nossa capitais estrangeiros, superação do iso- nação: o campo e a educação". De fato, lacionismo, esforço para constituir um acrescenta: "A produtividade não é su"mercado comum" com os EUA e o ficiente. o minifúndio se estende tanto Canadá, revogação das leis de restrição entre ejidatários como entre pequenos religiosa e reatamento de relações di- proprietários, e os camponeses têm de plomáticas com o Vaticano. Como se trabalhar mais para colher menos". vê, uma perestroika à mexicana, se bem É claro que Salinas evitava de culpar que tardia, da qual fazia parte, como a reforma agrária por tal situação. Per18

tencente ao partido que durante décadas teve como principal bandeira a reforma agrária, herdeiro de uma "tradição" revolucionária, não lhe restava outra saída, para salvar a face, senão procurar fazer um "arranjo". Tarefa nada fácil. O fracasso da reforma agrária era tão evidente, as novas medidas anunciadas significavam uma tal volta atrás, que o jeito encontrado por Salinas para tentar desmentir o óbvio foi o de fazer uma afirmação rombuda e vazia da "inocência" da reforma agrária: "A distribuição de terras, estabelecida há mais de 50 a,ws, justificou-se em sua época. Hoje não significa nem prosperidade nem justiça. Não porque tenha falhado a reforma agrária, mas pela própria di,wmica socia~ demográfica e econômica". Ou seja, segundo a velha anedota do espanhol: parece sabão, tem cheiro de sabão, tem gosto de sabão ... mas não é sabão! Nível inadmissível de pobreza

Cinco dias depois, em 7 de novembro, o Presidente do México entregava ao Congresso seu projeto de reforma constitucional no que se refere à propriedade da terra. O jornal governista "El Nacional", na edição desse mesmo dia, publica a seguinte declaração do diretor do Departamento de Economia CA101.JCISMO,JUNHO 1992

Agrícola do México: "O ejido e a propriedade comunitária, em sua forma de funcionamento atua~ são fonte de miséria econômica e de submissão política". Na "exposição de motivos" do projeto governamental, Salinas retoma as mesmas idéias que expusera em seu Relatório, e acrescenta: "A decisão de mudar está inserida numa transformação mundial de imensas proporções. O campo requer uma resposta renovadora que impulsione a produção, a iniciativa e a criatividade dos camponeses. As entradas do setor rural são, em média, quase três vezes menores do que as do resto da economia. A maioria é de minifundistas e apresentam estancamento e deterioração técnica, que se traduzem em produção insuficiente e níveis de vida inaceitáveis. A maioria dos produtores e trabalhadores rurais vive em condição de pobreza até chegar a níveis inadmissíveis que comprometem o desenvolvimento nacional. Há um quarto de século que o crescimento agropecuário é inferior ao da população, obrigando a que uma parte importante e crescente

dos alimentos essenciais que o povo consome deva ser adquirida fora de nossas fronteiras". Fala ainda da necessidade de "superar a pobreza e a marginalização", e propõe acabar com a distribuição de terras, eliminar os impedimentos para a livre iniciativa, incentivar a capitalização com a participação de empresas nacionais e estrangeiras.

verdade que o recuo feito foi o menor possível naquelas circunstâncias. Preso às amarras da mitologia socialista, que há tantas décadas sufoca a nobre nação mexicana, o Governo conserva em suas palavras o jargão revolucionário, e seus atos vêm impregnados do ranço igualitário e socialista. No item 3 da "exposição de motivos" de seu projeto, Salinas deixa claro que "permanece ,w texto do art. 27 a Mão apenas entreaberta propriedade originária da nação sobre Transformada em lei com pequenas as terras e águas". E explica que essa modificações em 3 de janeiro, .a inicia- norma "submete as formas de proprietiva presidencial abre a possibilidade de · dade e uso ao interesse público". os ejidos, se privatizados, serem vendiDe onde se vê claramente que, a dos ou arrendados. Como também de qualquer momento, o Estado mexicano agruparem vários lotes para a obtenção pode dar o feito por não feito, e retomar, de propriedades maiores, mais produti- na prática, a total estatização da provas. Para este efeito, os proprietários priedade. Assim, enquanto tal princípio poderão associar-se a outros indiví- radicalmente socialista estiver inscrito duos, ou mesmo a empresas. na Constituição, não se pode falar numa Não se pense, entretanto, que a livre verdadeira volta à propriedade privada, iniciativa e a propriedade particular fo- por maiores que sejam as garantias que ram pura e simplesmente restauradas Salinas possa estar oferecendo aos inno México. Se é verdade que, premido vestidores. por circunstâncias externas e internas, É só mudarem os ventos da política o Governo voltou bastante atrás na fra- que um outro Presidente, ou mesmo o cassada reforma agrária, não é menos atual, terá tudo nas mãos para, a pretex-

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to de "interesse público", novamente impor a socialização agrária. ,, , Ficam, ademais, proib"das as propriedades consideradas grandes (latifúndios). E os limites da propriedade aceitos pela lei variam de acordo com o tipo de cultivo. As sociedades mercantis que podem ser proprietárias de terras, também são meticulosamente reguladas. Protege-se a integridade da terra dos grupos indígenas, esses grandes privilegiados das legislações modernas. Ademais, facilita-se o quanto possível o uso comunitário da propriedade rural. Ou seja, o conjunto de medidas constituiu uma abertura para a propriedade privada e a livre iniciativa ... mas não tanto! É como alguém que, obrigado a devolver um dinheiro, o faz com a mão

No Uruguai, tendência socialista em documento episcopal

Invasão da Fazenda São Pedro, em Bagê (RS): "Sem-Terra" parecem não ter N dado conta do frae11550 da Reforma Agrária em tantos outros países

apenas entreaberta, para reter o mais possível.

••• Seja como for, o estrondoso fracasso da reforma agrária mexicana é um fato da maior importância para abrir os olhos de tantos ingênuos que se deixam

GREGÓRIO LoPES

Repercussões na Imprensa

Bispo quer "avançar"

A imprensa brasileira quase nada publicou sobre o espetacular fracasso da reforma agrária mexicana. A imprensa norte-americana mostrou-se mais informativa. Ei_s alguns exemplos:

O Episcopado mexicano mostrou-se bastante reticente quanto aos resultados futuros da volta atrás da reforma agrária. Segundo "EI Heraldo de México" (8-11-91), "a Conferência do Episcopado Mexicano, após qualificar o ejido como 'o maior fracasso da Revolução mexicana', considerou, entre-. tanto, que pretender remediar décadas de improdutividade, injustiça social e controle político da terra, entregando a superfície cultivável do território nacional ao mais forte, constituiria um grave erro político, cujas conseqüências não tardaríamos a lamentar" (p. 1-A). Em declarações ao mesmo diário (p. 18-A), Mons. Javier Lozano Barragán, Presidente da Comissão Episcopal para a Doutrina da Fé e Bispo de Zacatecas, teme que "cheguem os latifundiários e voltemos ao regime das fazendas". Num inusitado preito de saudades ao eji.do, que tanto mal fez ao camponês pobre, ele acrescenta: "Com todas as suas deficiências, o ejido representa a boa vontade de dar a terra a quem a trabalha". Como se o camponês pudesse alimentar-se de "boa vontade"! Adernais, o princípio aí enunciado de que a terra é de quem a trabalha, é claramente comunista. O Bispo adverte ainda para o perigo de "o capitalismo selvagem" - utiliza-se assim de um slogan bem-amado das esquerdas - tomar conta do campo. Por fim, com medo de que se consolide "a sociedade piramidal", Mons. Lozano augura "um avanço para um regime social igualitário". Tal pertinácia em "avançar" rumo ao igualitarismo, quando as tentativas de aplicá-lo acabam de fracassar rotundamente não só no México, mas em todo o Leste europeu, bem mostra que não é a vantagem dos pobres que procuram certos setores ditos "progressistas" da Igreja, mas sim a realização da ideologia socialista. E, se a realidade os desmente, como no caso mexicano, pior para ela!

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levar pela propaganda agro-reformista. O próprio Salinas declarou: "Os mitos levaram a pobreza ao meio ruraf' ("El Universal", México, 15-11-91). Ora, no Brasil, os ingênuos, como também os mitos, não faltam ...

contraosetorprivado.Asjoint-venturespodemmelhorar o ineficiente sistema agrário" ("Toe Wall StreetJournal", 8-11-91). "O Governo mexicano propôs rever drasticamente sua reforma agrária para que, pela primeira vez, milhões de camponeses das cooperativas tenham a possibilidade de se tornarem proprietários" ("Toe Washington Post", 8-11-91). "Salinas iniciou uma séri.e de reformas da socieá,ade, tão radicais como não havia desde a revolução de 1910-1920. O Presidente também propôs relegar ao ferro velho as leis de reforma agrária" ("Financial Times", 11-11-91). "Planos radicais para desmantelar no México o programa da reforma agrária, último e desfeito vestígio da revolução mexicana" ("EI Nuevo Herald", 20-11-91). "Por causa de sua inef1âência, o sistema agrário já teria ruído há muito tempo se o Governo não tivesse dado grandes subsídios" ("Toe New York Times", 27-11-91). "Osejidoscobrem2/3 do escasso território arável do México.Ma is do que propriedades rurais, são eles o símbolo dos princípios igualitários do Revolução.... Em 1980, o Governo bombeou milhões de petrodólares nas fazendas coletivas, esperando comprar a autosuficiência agrícola em 1985. O esforço fracassou" ("Newsweek", 18-11-91).

CA'roUCISMO,JUNHO 1002

A Comissão de Estudos da Sociedade Uruguaia de Defesa da Tradição, Família e Propriedade acaba de publicar, em separata de sua revista "Lepanto", um importante estudo. Nele faz graves reparos ao documento marcadamente revolucionário da Comissão Episcopal Uruguaia (CEU), intitulado Evangelho e Cultura, a ser apresentado na IV Conferência Episcopal LatinoAmericana ( CELAM), a realizar-se no dia 12 de outubro próximo, em São Domingos. Nessa reunião, que se fará sob a presidência de João Paulo II, serão traçados rumos para o futuro da Igreja em nosso Continente, ao ensejo das comemorações do V Centenário do Descobrimento e Evangelização da América. Além de publicado no maior jornal de Montevidéu, "El País", o estudo da TFP foi divulgado por uma caravana de jovens que percorreu 16 cidades uruguaias. Televisão, rádios e publicações diversas noticiaram a campanha, a qual alcançou grande repercussão. Em seu documento, os Bispos uruguaios fazem um balanço da situação do país, formulando radical conde-

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ONTEVIDÉU -

CA'roUCISMO, JUNHO 1992

nação de seu sistema eco- sas condições de vida. Em nômico, político e social, sentido diverso, o estudo da no qual subsiste a proprie- TFP transcreve algumas dade privada e a livre ini- declarações a respeito da ciativa. Ao mesmo tempo, cumplicidade e conivência propõem a adoção de um de autoridades eclesiástiregime com fortes traços cas com o comunismo socialistas: um sistema ba- reconhecimentos feitos a seado num homem novo, posteriori - , como a do associado em pequenas co- Presidente da Conferência munidades, sem hierarquia, Episcopal Francesa, Carsem classes sociais e até deal Décourtray: "Todos sem qualquer abundância nós somos semelhantes a material. "Trata-se de pas- Ceaucescu [o sinistro ditasar -dizem eles -da cul- dor comunista romeno 1 se tura do meu e do teu, para não por nossos atos, ao a cultura do nosso". menos por nossas omisEnquanto setores de es- sões". querda, como o movimento Questão social: MLN -Tupamaros, se re- fundo religioso gozijaram com o documento Evangelho e Cultura, Ao considerar que a este produziu "perplexida- questão social é antes de de, quando não a conster- tudo econômica, o docunação, no uruguaio co- mento Evangelho e Cultura mum". Mesmo um Prelado, se contrapõe ao ensino traMons. Galimberti, Bispo de dicional dos Papas, que San José, discrepou publi- desde o início salientaram camente do documento da que a questão social é antes de tudo moral e religiosa CEU. É, de fato, desconcertan- sustenta a TFP uruguaia. te que os Bispos uruguaios Além disso, em suas acenem para uma alter- apreciações de ordem econativa socialista, no mo- nômica, os Bispos urumento em que esse regime guaios consideram o capidesmorona no Leste euro- talismo - ao contrário do peu, tendo levado popula- que se vêem hoje obrigados ções inteiras às mais peno- a reconhecer os próprios ELJlil'A•a - V,ç,n,a 14 tlu l ,:brc,odc 1997

l'A(, INA 1~

ALERTA DE LA TFP :

Condenando sin Apelaciones ai Capitalismo yReabriendo la Ruta ai Socialismo ,Hacia quê Nuevo Abismo nos Lanza la CEU? 1. LA CEU ENTUSIASMA A LAS lZOULEROAS ... Y DESANIMA A LOS PARTIOA RIOS PACIFICO$ OEl ORDEN Po,ple11daO tu(ln(lo no constcmacion en eL u,uguayo comun . pc,o alegria y -0spe· rania en tas tlosanimadas huos1es ele la 11qu10,d11, cs1(1 p,ovocando un eiplos,vo anths,s do la s1tu ac1on ,iac1onal hCChO por la Con1oronc,a Episcop al Uiuguaya (CEU) con vista a la 1\1 Con10,cnc1a General dei Ep1s.copado Lat1noamo11cano a reahur sc en Sonto Dommgo oi 12 de octub10 pro~,. mo"' En pleno 1992 un documen to <IC carac ter soc10,pollt1co t,manado de 1an altllS au toridades ignora po, completo las ,an eiocuontos y dolorosas 1occ1onos mora·

alega cualqu101 ensel\anza pont1hc1a a su l avo, n, se aduce la menor prueba de hecho en abono a esas ar11mac,ones IV. FAUCIAS EN CONTRA OEL ORDEN CATOUCO TIIAOtCIONAL Por el con1 ,a110 - y osto es neccs a, 10 recalca,10-: on ningün momento se deltOn· don las mst1tuc1onos dei orden social ca ló· hco. por ma.s sóhdamon1e 1ns.cr1p1as que ostén on 111 Ooctrina Ca1011ca Es mas. es muy d1 l1c1I que oi uruguayo comUn. loyeodo oi documento. no Quede con 1a luor1e 1m· pres10n do quo son prec1umen10 esos 1115. htuc1oneslasque estén siendocondonadas on oi documenlo. De ahl 111 progu nlil (.por qué so po,s1S1e en arr /l3 trar on osa conde· nac16n 0116g1mon. a la proplodad•e 1111c1ati ·

VII. CONCLUSO\!· TEAAORSIIO tcSTfTUOONAlllA Sólo 1nshluc1onet1:ando un 1&g1men v,01enc111 con11nua 'I oenerel. como OI q 1mperó <Jurante mb de 70 11 1'10s on Rus1 como el que impera por mas de ires dite das en Cuba, como ol ,mpuesl o por genocida Khme1 Rouge camboyano. se P dr;'I mtenler esa qu1mer11 antinat ural que documento der,om1na peujll de III i»r1 p«lón llf'I Ili YloMnclll • 111 \l1olanclll de partklpaclón EI pehgro Que rep1M4'!fltan e,sas u1op1 anhcrls11anas se ve rodoblado por las e cunsloncl as on que este gravls1mo doe monto sele II luz. Estamos v1v1end o u hora on que u,uo.uay el mundo anlran11

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socialistas - , como sendo um sistema dotado de imenso poder maléfico, responsável praticamente por todos os males da sociedade. A única prova que dão em apoio a suas afirmações é "a experiência cotidiana dasCEBs' ... O Uruguai - salienta ainda a TFP-já foi um país extraordinariamente rico, alcançando padrões dos mais altos do mundo, os quais, atualmente, se bem que bastante diminuídos, continuam ainda sendo dos mais elevados do Continente. O que ocorreu no Uruguai foi um exemplo singular de contradesenvolvimento econômico, causado precisamente pelo intervencionismo estatal, ditadura sindical e outros fatores socializantes, que reduziram a iniciativa privada a uma situação de anemia. Tomando em consideração as nuvens negras que se acumulam no horizonte, tanto pela ameaça da agitação revolucionária desencadeada em oposição às comemorações do V Centenário do Descobrimento e Evangelização da América como pelos desdobramentos, no Ocidente, do desmoronamento do regime soviético, a TFP uruguaia considera que o documento da Conferência Episcopal pode se constituir em lenha que venha alimentar o fogo. Suplica, por isso, à Virgem da Imaculada Conceição, Padroeira do Uruguai, sua especial proteção ao país, ante os perigos que nesta hora o rondam.

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Mensagem de Fátima divulgada na ex-URSS ·a \

-:-A mensagem confiada pela Santíssima Virgem aos três pastorinhos de Fátima, em 1917, contendo conselhos e advertências para a cristandade, neste confuso e dramático século XX, fazia também referências a castigos que pairavam sobre o mundo, como a difusão dos erros da Rússia, e acenava com a conversão dessa nação. E é exatamente a mensagem de Fátima que vem alcançando grande divulgação nos países que, até há pouco, faziam parte da chamada União Soviética. Com efeito, a Sociedade Francesa de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP) lançou uma campanha de grande envergadura, intitulada "Lumieres sur l'Est" (Luzes sobre o Leste), consistente em editar e promover a difusão, naquela parte da Europa, da obra Fátima: Mensagem de tragédia ou esperança?, de autoria do engª. Antonio Augusto Borelli Machado, sócio da TFP brasileira. ARIS

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O primeiro passo foi a obtenção de donativos junto a seus simpatizantes para os trabalhos de tradução e edição da obra em língua russa. Posteriormente, para colocar facilmente ao alcance do público os 100 mil exemplares da mesma, a TFP francesa fez publicar anúncios em rádios, jornais e revistas de Moscou e outras cidades da ex-URSS, nos quais o livro era oferecido gratuitamente a quem endereçasse seu pedido à sede da campanha, em Paris. Na ocasião, dois representants de "Lumieres sur l'Est" que se haviam deslocado a Moscou, concederam entrevista à televisão central da capital russa, no decorrer da qual puderam apresentar ao grande público a história das aparições e da mensagem da Virgem Santíssima em Fátima. Segundo informa o boletim "Aperçu", da TFP francesa, os pedidos chegaram em quantidades surpreendentes, havendo dias em que seu número superou a 700 cartas!

meu país. Em 1917, esquecemo-nos de Deus e agora retornamos". Outra leitora, da Moldávia, escreve: "Estou particularmente feliz em poder agradecer vosso trabalho, em nome de Jesus Cristo Nosso Senhor. Os senhores sabem que aqui não se pode comprar nenhuma literatura espiritual, porque não existe à venda. Os senhores sabem quão grande é a sede aqui, num país que acorda após tantos anos de ateísmo. Os senhores semeiam numa terra boa que dará frutos".

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tSJ Lição moral

A propósito do artigo "Aborto eugênico: ressurge o nazismo?", publicado em nossa edição de janeiro último, recebemos, de um sacerdote, carta bastante significativa pela lição moral que encerra, e cujo trecho principal reproduzimos abaixo. "Numa paróquia da Zona da Mata, MG, ~ouve época em que o crime do aborto chegou a assustar até os abortistas. Alguns vigários lançaram campanha contra esse extermínio de inocentes, com tal sucesso que um médico, meses depois, congratulou-se com eles, pois, segundo o mesmo, os casos diminuíram em80%. "Foi quando a 'Gorda', a mais procurada aborteira,'sumiu da cidade, fechando sua 'clínica'. Passados três anos, porém, ela voltou e mandou reformar sua morada e abrir no quintal

Alrimitfr,, 1lntrsl,•sjllur,i,r,1.\, 1)

ti, l l!/Jv/,,;fli11!

Uma dessas cartas envia votos de Boas-Festas e acrescenta: "Desejo agradecer pelo livro que acabo de receber. É muito importante o que os senhores fazem por

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outra fossa mais profunda para lançar os restos das vítimas de seus crimes. "Quando, um dia, foi verificar se tudo estava em ordem para o exercício de sua criminosa 'profissão', após ver a nova fossa e dizer que estava 'legal', deu dois passos para trás, pisando nas tábuas podres da fossa anterior. E, oh horror, precipitou-se fossa abaixo, tendo o abdômen dilacerado de baixo para cima pela ponta de uma tábua. Suas entranhas misturaram-se assim com os restos de centenas de inocentes por ela massacrados... "Imediatamente socorrida e tirada da fossa, enrolada numa lona, foi carregada numa caminhonete casual que acabara de transportar porcos para o hospital local, à porta do qual entregou sua alma imortal... a quem? "A cidade toda se estarreceu, pois a 'Gorda' era muito conhecida, e seu retomo fora propagado a surda voz, havendo já lista de mulheres grávidas pré-anotadas ... "No dia seguinte, última quinta-feira do mês, as mães, como de costume, foram à matriz fazer sua Hora Santa de adoração. Na igreja superlotada, havia um silêncio sepulcral, e muitas senhoras estavam em lágrimas. "O pregador, aproveitando a ocasião, entre outras co~as, disse: 'Não nos esqueçamos de que o homicídio voluntário - e ainda mais, contra inocentes indefesos - brada ao Céu e pede a Deus vingança. Com Deus não se brinca! O fato lúgubre de ontem à porta do hospital abalou a cidade mais do que qualquer pregação. Foi um raio da justiça divina, um trovão da ira de Deus'. "Ó covardes, assassinos de inocentes sem defesa, sem voz e sem vez: convertei-vos, salvai-vos, antes que vos troveje a ira de Deus: Ide, malditos, para o fogo eterno". - Pe. José Pedro

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Muito difuso é o erro dos que, com pretensões perigosas e más palavras, promovem a chamada educação sexual, julgando erradamente poderem precaver os jovens contra os perigos da sensualidade, com meios puramente naturais, tais como uma temerária iniciação e instrução preventiva, indistintamente para todos e até publicamente e pior ainda, expondo-os por algum tempo às ocasiões para os ~costumar, como dize'm, e quase fortalecer-lhes o espírito contra aqueles perigos. ~tes erram gravemente, não querendo reconhecer a natural fragilidade humana e a lei de que fala o Apóstolo: contrária à lei âo espírito (Rom 7, 23), e desprezando até a própria experiência dos fatos (Encíclica "Divini Illius Magistri ", n 11 66).

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Eusébio é, desta feita, o mais interessado na aula de dona Carolina. Isso não é de estranhar, pois, mais uma vez, veio munido de argumentos de "algibeira" para lançar contra a professora. E nas rodinhas de amigos resmungava: "Só faltava esta agora: dizer que não somos todos iguais ... Não concordo com isso, nem a Igreja Católica pode defender tal injustiça!" - Professora - intervém Eusébio, mal começara a aula - , não compreendo como a senhora, que se diz católica, defende as desigualdades entre os homens. Deus não nos criou todos iguais? Porventura a senhora desconhece a "Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão", uma conquista da Revolução Francesa, cm que se afirma a igualdade de todos? Ante a benévola atenção de dona Carolina, Eusébio prossegue: - Essa "Declaração" sepultou para sempre as velhas injustiças das desigualdades sociais, onde uns eram nobres só porque nasceram tais, sem nenhum mérito pessoal, enquanto outros, pelo contrário, carregavam irremediavelmente a condição de plebeus, dominados e oprimidos pelos primeiros. E a senhora parece querer justificar tão grandes abusos ... Mais ainda, professora, a senhora calunia a Igreja, dizendo que essa é a doutrina social católica. Bonifácio - que, como toda a classe, estava na expectativa - sussura para Fernando, sentado a seu lado: "Posiiivamente, não sei como dona Carolina se sairá desta ... "

- Segundo a doutrina da Igreja, embora Deus tenha criado os homens com a mesma natureza humana - proveniente de uma única causa: o Criador, e tendendo para o mesmo fim: a felicidade eterna-, os seres humanos são desiguais entre si. Eles diferem profundamente quanto a dotes de inteligência, de vontade, de sensibilidade artística, além da existência de distinções quanto a capacidades fisicas. Assim, mesmo dois irmãos gêmeos, por mais semelhantes que sejam, jamais terão o mesmo grau de intc-

- A História é como um rio cujas águas, quando atingidas por desmoronamentos de terreno ou indevidamente utilizadas pelos homens, podem setornar barrentas e poluídas. Nessas condições, não mais se discernem nelas as belezas ali colocadas por Deus. Assim iniciou a professora sua explanação. E prosseguiu: - Entretanto, nas nascentes virginais desse rio, as águas sempre se fazem ver cm toda a sua pureza cristalina. Ora, sob certo aspecto, é a Santa Igreja Católica a fonte da História cristã. Nas suas instituições, leis e doutrina encontramos o reflexo da infmita perfeição de seu divino Fundador, Nosso Senhor Jesus Cristo. Prossegue ainda a professora:

ligência, idêntica força de vontade ou capacidade corpornl. Em face disso, não é difícil compreender por que os princípios emanados da Revolução Francesa, muitos dos quais estão codificados na tal "Declaração dos Direitos do Homem e do Cida, dão", não são católicos. A expectativa da classe crescia enquanto Eusébio s<J rem ex ia, inquieto, no seu banco. - Ouçam, pois - continua a professora - , o que diz o Papa Leão XIII, na Encíclica QuodApostoliciMuneris: "Assim como no céu [Deus] quis que os coros dos Anjos fossem distintos e subordinados uns aos outros, e na Igreja instituiu graus nas ordens e diversidades de ministérios de tal forma que

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CATOLICISMO,JUNHO 1992

nem todos fossem apóstolos, nem todos doutores, nem todos pastores (I. Cor. 12,27); assim estabeleceu que haveria na sociedade civil várias ordens diferentes em dignidade, em direitos e em poder, a fim de que a sociedade fosse, como a Igreja, um só corpo, compreendendo um grande número de membros, uns mais nobres que os outros, mas todos reciprocamente necessários e preocupados com o bem comum" (Documentos Pontifícios, Vozes, Petrópo1is, 4ª ed., 1962, p.9). Dona Carolina vai mais adiante: - Não menos expressivo é este outro texto do mesmo Pontífice, na Encíclica Humanum Genus: "Do mesmo modo que a perfeita constituição do corpo humano resulta da união e do conjunto dos membros que não têm as mesmas forças nem as mesmas funções, mas cuja feliz associação e concurso harmonioso dão a todo o organismo a sua beleza plástica, a sua força e a sua aptidão para prestar os serviços necessários, assim também, no seio da soci.edade humana, acha-se uma variedade quase infmita de partes dessemelhantes. Se elas fossem todas iguais entre s~ e livres cada uma por sua conta de agir a seu talante, nada seria ma is disforme do que tal soe i.edade. Pelo contrário, se, por uma sábia hierarquia dos merecimentos, dos gostos, das aptidões, cada uma delas concorre para o bem gera~ vedes erguer-se diante de vós a imagem de uma sociedade bem ordenada e conforme à natureza" (Documentos Pontifícios, Vozes, Petrópolis, 4ª ed., 1960, p. 20) . - A senhora está citando um Papa do século passado, professora - resmunga mal-humorado Eusébio. A senhora não percebe que os tempos mudaram, que a Igreja mudou? Hoje, os Papas não dizem mais essas coisas ... - Cuidado, Eusébio - adverte bondosamente dona Carolina. Também aqui você não tem razão. Veremos isso em próxima aula. - Isso mesmo - acrescenta entre dentes Eusébio, enquanto se retirava. Quero ver a senhora provar que a doutrina ·da Igreja a esse respeito não mudou. Comentários sobre este tema iam de boca em boca, na simpática cidadezinha de Santa Edwiges. Leitor de Catolicismo, comente-o também. 25


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BRASIL REAL - BRASIL BRASILEIRO

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· Mudaram os índios? Ou mudamos nós? elas brancas nos mastros, bandeiras e bandeirolas, faixas de sol matutino projetandose sobre as pranchas do cais; roupas coloridas e vozes festivas; brisa, gaivotas e cheiro de mar. Alguns grandes de Portugal se reuniam em torno do recém-chegado Pedro Álvares Cabral, que os cumprimentava de modo fidalgo. O povinho cercava os marinheiros que desembarcavam, enquanto as pessoas de condição iam buscar junto à oficialidade das naus aquilo de que satisfazer sua curiosidade. O leitor certamente já adivinhou: era a chegada a Portugal da esqua-

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dra que descobriu o Brasil. Com a roupa feita de trapos de nossa época, achei (eu, homem do século XX) melhor não chamar a atenção sobre mim. Acerquei-me de uma roda numerosa, onde um navegante especialmente eloqüente comunicava suas impressões. Aí, passaria desapercebido. Disseramme que se tratava de um tal Pero Vaz de Caminha. Peguei a conversa pelo meio. Mas eles participavam da Missa? (Eles, aqui, eram os índios do Brasil, cujo estado de espírito, como veremos, não coincide com o que deles dizem hoje o Conselho lndigenista Missionário (CIMI) e certos antropólogos.) - Quando veio o Evangelho, que nos erguemos todos, em pé, com as mãos levantadas, eles se levantaram conosco e alçaram as mãos, ficando assim até ter acabado; e então tornaram a sentar-se como nós. E na Consagração? - Nos pusemos de joelhos, e eles assim todos, como nós estávamos, com as mãos levantadas, e em tal maneira sossegados que nos fez muita devoção. Só falta dizer que eles entendiam alguma coisa ... - Um deles, homem de cinqüenta ou cinqüenta e cinco anos, ajuntava 26

estes, que ali ficaram, e ainda chamava outros. E andando assim entre eles falando, lhes acenou com o dedo para o altar e depois mostrou o dedo para o céu, como se lhes dissesse alguma coisa de bem.

A evangellzação dos índios, um crime para certas pessoas, se fez penosamente, às vezes em tombo de burro

E ficou nisso? - O padre frei Henrique sentou-se ao pé da cruz e ali, a um por um, colocava [uma cruz de estanho com crucifixo] ao pescoço, fazendo-lha primeiro beijar e alevantar as mãos. Vinham a isso muitos; e colocaram-se todas, que seriam obra de quarenta ou cinqüenta. Mas perfeitos pagãos como eles? - Essa gente não lhes falece outra coisa para ser cristã, senão entendernos, porque assim tomavam aquilo que nos viam fazer, como nós mesmos, por onde nos pareceu a todos que nenhuma idolatria, nem adoração têm. Pero, não estás tu a exagerar suas possibilidades de conversão? - Ora veja se quem em tal inocência vive se converterá ou não, ensinandolhes o que pertence à sua salvação! Por que não pegaram alguns deles, para mostrá-los na Corte, como fez Colombo em uma de suas viagens?

- Por melhor parecer a todos, ficou determinado não cuidassem de aqui tomar ninguém por força nem de fazer escândalo, para de todo mais os amansar e pacificar. Qual é tua opinião de conjunto sobre a nova terra e sua gente? - A terra em si é de muito bons ares, assim frios e temperados, como os de Entre-Douro-e-Minho, porque neste tempo de agora os achávamos como os de lá. Águas são muitas, infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-se aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem. Porém o melhor fruto, que nela se pode fazer, me parece que será salvar esta gente, e esta deve ser a principal semente que em ela [se] deve lançar. Dito isto, excusando-se, Pero se afastou com os seus.

"' "' "' A cena do cais do porto foi um sonho? - pergunto-me. Talvez. Mas o que posso garantir é que nenhuma das respostas que pus na boca do loquaz e lúcido escrivão da esquadra de Cabral é inventada. Encontram-se todas na famosa carta a ElRei D. Manoel, da qual as retirei, sem mudar palavra alguma. Ele, e com ele os demais descobridores, achavam que os índios tinham uma excepcional abertura para a evangelização. E se atiraram a essa tarefa. Hoje, não se ouve mais falar disso. Fala-se absurdamente da civilização "superior" que seria a dos indígenas, e da inadequação de um "Deus branco", como é Nosso Senhor Jesus Cristo, aos peles-vermelhas. Os que não chegam a esse extremo, falam pouco ou nada falam de evangelização. O contraste é chocante. Será que os índios mudaram? Porque, definitivamente, é certo: -Alguma coisa mudou. JOSÊ BELMONTE CATOUCISMO,MAIO 1992

/2 estatística é a primeira das

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Quanto mais o técnico se especializa, tanto mais ele se distancia dos espaços arejados do bom senso.

ciênci.as inexatas.

O especialista é aquele que sabe cada vez mais a respeito de cada vez menos, até saber absolutamente tudo a respeito de absolutamente nada.

PJinio Corrêa de Oliveira

Damente-se o homem que não tem, para se exprimir, nem a palavra própria, nem <J socorro das figuras, mas fuja-se daquele que só fala em termos técnicos. Rivaroi

Anônimo

As verdades geométricas não nos trazem nenhum sentimento de prazer nem quàlquer esperança. Aristóteles

E1'A Quanta saudade! Esta cena se passa na Checoslováquia, nos dias de hoje. Trata-se de uma Primeira Comunhão. Não consid erando alguns pequenos

P.A.lr--JEL

detalhes, no Brasil, até os anos 60, também era assim. E muitas vezes a Primeira Comunhão ocorria no mês de maio, dedicado a Nossa Senhora.



O pranto da Imagem • eregr1na


JULHO de 1992

Discernindo; Distinguindo; Classificando ... ., .

Assestando o foco

.

A revolução "alternativa" Torcendo o sentido das palavras, ajuda-se a revolução geral dos costumes

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m meio ao atual caos das idéias Como se vê, a palavra alternativo é É com essas torções de sentido que, e das mentes, não smpreende adotada para designar toda sorte de coi- muito jeitosamente, a palavra alterque as palavras - o que são sa torcida, que está fora do lugar, fora nativo vai sendo utilizada de modo reelas, senão a expressão das idéias! dos eixos, fora da lei. Não se trata de um volucionário. vão sendo muitas vezes submetidas a uso de todo incorreto desse vocábulo, Ainda há pouco, um jornal noticiava forte torção. pois realmente a coisa meio cismática que na Dinamarca um "Estado alterOra - observava recentemente o ou herética, extravagante, pelo fato de nativo completa 20 anos". A notícia Prof. Plinio Corrêa de Oliveira-, está se ser diversa da normal, coloca uma alter- explica que, dentro do Estado dinamardando hoje em dia uma transformação nativa. Só que é uma falsa alternativa. quês, constituiu-se o "Estado Livre de curiosa em algumas palavras: dentre os Mas, do modo como vem sendo utiliza- Christiania", assim proclamado por vários significados que elas podem ter, é da, a palavra indica que a opção má é "marginais, alternativos e drogados" . um mais longínquo, qua>I< >I< >I< se forçado, que vai pre.,.. valecendo sobre os deNão se trata aqui de mais, e tendendo a sumera questão de palaplantá-los. É desse tipo a vras. Quem deseje presmodificação revoluciotar bem atenção, percenária que se vai operanberá que o mundo todo do na palavra alterestá caminhando para nativo e seus derivados. ser "alternativo". RevoEsse vocábulo tem lucionar o sentido de uma palavra ajuda a prosua origem no latim alter mover uma revolução (um outro, uma outra mais ampla dos conceicoisa). Aplicado em seu tos, dos hábitos, dos vasentido corrente, podelores. mos falar, por exemplo, O que vemos no num tratamento alternativo, mediante a utilimundo de hoje? É o têzação de dois remédios nis que substitui o sapade efeitos diversos, que Com roupa comum, sentado a uma simples mesa, ut/1/zandoxlcara e pires to, é o seminudismo que um sacerdote oferece o pão e o vinho. Trata-se de uma Missa, já entrou e prepara o nusão ingeridos pelo doen- ordinários, no Marrocos, promovida pelos "Pequenos Irmãos do Evangelho". Assim, te, ora um, ora outro, por este ou aquele pretexto, vão proliferando as liturgias "alternativas" dismo, é a neobarbárie que expulsa a civilizaalternativamente, s egundo prescrição médica. Ou em férias tão válida quanto a boa. E nisso ela vai ção. Muitas das reformas que vão sendo alternativas, no mar ou na montanha, con- tomando um significado revolucioná- introduzidas na Igreja dão-lhe cada vez rio, pois vai nivelando o que é torto com mais o triste aspecto de uma "Igreja forme as conveniências. Entretanto, eis que a palavra alter- o que é direito, o que é ilegal com o que alternativa". Quais os principais responsáveis por nativo vem tomando, ultimamente, um está dentro da lei. _Dessa forma, a "medicina alter- essa situação? Serão os maconheiros, outro sentido. Passou a designar algo de meio cismático, que rompe com o curso nativa" seria um tipo de medicina a os homossexuais, os vagabundos que se normal das coisas e toma uma nota de escolher, tão legítima quanto a outra; a dizem "alternativos"? Não. Os piores extravagância. Fala-se então em "medi- "vida alternativa" seria um modo de fautores são os dirigentes da sociedade cina alternativa", como um conjunto de vida pelo qual se pode optar tanto quan- não-"alternativa", que têm toda forma práticas que fogem aos padrões clássi- to pelo outro, e assim por diante. É de complacência com esse estado de cos da medicina, uma espécie de cm-an- como nivelar a doença com a saúde, a coisas invasor. Basta dizer que, na Dinamarca, deirismo. Há jornais que publicam uma penúria com a prosperidade, a ininteliseção chamada "Vida alternativa", in- gência com a razão. Nessa acepção, até Christiania não parece causar horror. dicando com isso uma vida fora de ba- o nefando pecado de homossexualismo Pelo contrário, atrai 50 mil turistas por ses racionais, freqüentemente dada à constituiria uma "via alternativa" para ano! C.A. a sexualidade. magia ou à vagabundagem. 2

CATOLICJSMO,JULHO 1992

ikhail Gorbachev afirmou que suas reformas eram, ao contrário do que muitos pensavam, um aprofundamento do socialismo. E reconheceu, em outra ocasião, que não sabia para onde elas conduziriam. Como conseqüência, foi ejetado do poder por essas mesmas reformas de resultados tão incertos. Em posição idêntica, qualquer homem público procuraria analisar os erros eventualmente cometidos e, por considerável período de tempo, desapareceria do cenário mundial. Declarações? Parcimoniosas - só quando solicitadas - e as estritamente indispensáveis para esclarecer algo de interesse. Pouco mais de quatro meses após sua renúncia à presidência da URSS - pelo simples fato de a mesma ter cessado de existir reapareceu um Gorbachev lampeiro, fazendo uma tournée pelos EUA, como se nada tivesse acontecido. O objetivo da viagem - alguns lances dela são comentados nas páginas da presente edição - consistiu ostensivamente em levantar recursos para a Fundação

M

Gorbachev, uma espécie de think tank (banco de idéias), que reúne ideólogos comunistas desejosos de moldar o futuro! Em momento algum Gorbachev reconheceu o fracasso do socialismo. Como escapatória, repisou que não mais faz sentido "continuar discutindo o que é melhor, capitalismo ou socialismo". Ele que está, literalmente, de chapéu na mão a mendigar dólares dos que seriam seus arqui-inimigos capitalistas ... Era preciso termos chegado aos dias atuais, quando a lógica parece ter cessado de reger as mentes, para presenciarmos um fracassado expor ao público, com grande aparato, seu "novo pensamento político": -que parece ser abalela de uma alternativa entre capitalismo e socialismo, a surradíssima terceira via! Em tempos normais, a carreira política desse personagem estaria encerrada. Porém, como vivemos numa época excecional - a incongruência está na ordem do dia - não nos deve surpreender se ainda vier a confiar a um tal homem alguma nova missão importante no panorama internacional.

SUMARIO Nacional - Falta de bens essenciais mostra como a Reforma Agrária reduz assentados à miséria

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2 Discernindo ... 6 Mariologia .. . 9 Internacional...

11 Atualidade .. . 17 Hagiografia .. . 20 Comente, comente...

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Brasil real... TFPs em ação ... Frases em painel...

AfOJLECESMO Catolicismo é uma publicação mensal da Editora Padre Belchior de Pontes Lida Diretor: Paulo Corrêa de Brito Filho. Jornalista Reaponsável: Takao Takahashi - Registrado na DRT-SP sob o Nº. 13748. Redação e Gerência: Rua Martim Francisco, 665 - 01226 - São Paulo, SP - Tel: (011) 825.7707. Diagramação: Antonio Carlos F. Cordeiro - Rua Javaés, 681/689 - 01130 - São Paulo - SP; Fotolitos: Microformas Fotolitos Lida. - Rua Javaés 681 - 01130 -São Paulo - SP; lmpreaaão: Gráfica Editora Camargo Soares Lida. - Rua da Independência 767 - 01524 - São Paulo, SP. Para mudança de endereço é necessário mencionar também o endereço antigo. A correspondência relativa a assinatura e venda avulsa pode ser enviada ao endereço da Gerência de Catolicismo. ISSN lntemational Standard Serial Number - 0102-8502

CATOLICISMO, JULHO 1992

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ffi [[M1]J][W[Il] CONCISAMENTE Latim esquecido no Vatica~o São poucos, dentre os clérigos, aqueles que ainda conhecem e amam a bela língua de Cícero. No último Sínodo dos Bispos, em Roma, João Paulo li queixou-se de que nenhum dos presentes estivesse falando em latim. Em tais ocasiões, o Vaticano vê-se na contingência de ir à caça de especialistas, vista a necessidade de tradução simultânea para os vários idiomas ... Mesmo professores de Universidades pontifícias romanas onde, até há poucC!, o uso do latim era obrigatório, inclusive entre os alunos - vêm ensinando em língua vernácula. Frei Reginaldo Foster, decano dos latinistas vaticanos, lamenta o fato ao comentar: "O latim é uma cultura". Pôs-se ele a campo, e passou a ministrar aulas para os interessados, após o horário de trabalho! ·

TFP: trilogia da modernidade Consultor do extinto PC da URSS para assuntos ideológicos e hoje um dos diretores da "Fundação Gorbachev", ofilósofo russo Alexander Tsipko declara-se, agora, "socialista cristão", eximindo-se, porém, de elucidar em que consiste a justaposiç ã o desse s dois princípios intrinsecamente contraditórios. Em entrevista à "Folha de S. Paulo", ele acentua que os conceitos de luta de classes e socialização dos meios de produção tornaram-se ultrapassados. Suas palavras : "O mundo caminha para a direita. O liberalismo passou a conservadorismo. Prevalecem valores de uma sociedade corporativa: família, propriedade, Estado, casa etc. Veia o caso da Inglaterra, um país democrático e com fortes resquícios do feudalismo. 'A casa é minha fortaleza', dizem os ingleses. A tradição é base

para o sistema jurídico" [grifos nossos]. O depoimento - partindo, ademais, de fonte tão insuspeita - põe no devido realce a atualidade do lema Tradição, Família e Propriedade que, no Ocidente, constantemente se procura ocultar.

Caos, ou pós-comunismo Suplemento especial contendo duzentas páginas e editado simultaneamente por grandes órgãos de Paris, Madri, Milão e Londres ("Le Monde", "EI Pais", "La República" e "The lndependent"), analisa opapel da EXP0-92 (Exposição Universal de Sevilha) no contexto do V Centena r 10 dos Descobrimentos. Segundo os autores, já chegamos ao ponto terminal do progresso: "Tudo foi descoberto [nestes quinhentos anos] até o limite da capacidade criadora do homem. [Os fatos] parecem coincidir com o fim de um ciclo .... A ruína de todo o sistema soviético e a explosão dos nacionalismos do Leste [por exemplo] não farão parte desta úlüma fuga estonteante da História, que dará ocasião a um novo caos mais desordenado, mas menos precipitado?" Vaticínios desse porte sugerem haver quem deseje conduzir o mundo em direção ao caos . Analistas ou "profetas" do

caos proliferam à nossa volta. Importa saber se é mera coincidência.

Jove_ns fogem da Pastoral Décadas atrás, o pujante movimento das Congregações Marianas, e outros do gênero, faziam esperar um promi ssor futuro católico para o Brasil. Hoje, após as devastações e deserções provocadas pelo progressismo, o quadro é diferente. Segundo o representante da Coordenação Nacional da Pastoral da Juventude, em São Paulo, a média de perseverança dos rapazes e moças entre 15 e 24 anos inscritos nos movimentos católicos é de um ano e meio. Em geral , entram por desfastio e logo saem. Se aos jovens fosse ensinada a verdadeira doutrina católica, sobretudo no campo da moral, um ponderável número deles poderia aderir estavelmente. Como ocorria num passado não distante. Quando se ensi.na a verdade inteira, a graça de Deus toca as almas. Se hoje organizações católicas não conseguem atrair os jovens, é porque elas vivem imersas numa crise que as desfigura por inteiro. As regras e práticas tradicionais foram abandonadas ... e as novas redundaram num desastre!

Propagando o amor livre Os deputados socialistas franceses Jean Yves Autexier e Jean Pierre Michel pretendem estender a pessoas juntadas e não casadas os benefícios da Previdência Social, bem como os relativos a doações e sucessões. O projeto denominado "Contrato de União Civil" (CUC), visa a favorecer, "pelo menos, dois milhões de concubinas, sem contar os homossexuais" - segundo declarou Autexier ao jornal parisiense "Libération".

Comenta o diário: "O CUC igno ra o sexo, se o indivíduo é gay ou não; por exemplo, um irmão pode unir-se à irmã; e, ademais, o dever de fidelidade, a grande promessa do matrimônio, não entra em consideração". Esta mal-velada forma de estimular o concubinato, o homossexualismo, o incesto - o amor livre em suma - está contida no "Proj eto 2000" do Partido Socialista Francês.

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em tempo

Hilariante? Ou trágico? -A abertura dos arquivos secretos da extinta KGB tomou pública e oficial a notícia: toda a alta hierarquia da chamada "igreja ortodoxa" russa pertencia aos quadros dessa sinistra agência de espionagem e assassínios, sem excluir o patriarca Alexis II. Ao revelar esse informe estarrecedor, um colunista social do Rio considera-o "hilariante". Por quê? Em defesa dos fuzilamentos -Jorge Ferrera, do Departamento de Relações Internacionais do Comitê Central do PC cubano, em entrevista a um jornal paulista, procurou negar importância ao fuzilamento sumário de dois anticomunistas em Cuba, com esta "brilhante" argumentação: "O julgamento de dois assassinos [sic!] não chega a ser um caso tão importante que exija observadores internacionais". Repugnante e odioso - "Le Nouvel Observateur", de Paris, consagra dez páginas de recente edição à abominável forma de "turismo sexual" praticado por europeus na Tailândia. Calcula-se que, desta forma, cerca de 500 pessoas sejam diariamente contaminadas pelo vírus da AIDS naquele país. Nossa "medicina" cubana - Inspirado no modelo fidel-castrista, o Programa de Agentes Comunitários da Saúde Pública mostrouse rotundo fiasco. Vinte mil agentes contratados para atuar no Norte e Nordeste nada conseguiram fazer no combate às endemias que assolam certos rincões do País. O novo Ministro, ao que parece, reformulará o desastroso plano. Doença sem cura? - Em entrevista recente ao "Jornal do Brasil", o conhecido cirurgião cardíaco, Eurycledes de Jesus Zerbini, assinala: "A pior doença do brasileiro é moral .... Desde o Império, n6s estamos sofrendo uma decadência muito grande .... Desde aquela época caminhamos para baixo .... Não se faz nada sem compràr do Poder Público, com gorjetas e comissões, o encaminhamento de qualquer projeto". Paradoxo republicano - ''No Império, somente ~ram eleitores os que tivessem renda líquida anual de cem mil réis, por bens de raiz, indústria, comércio ou emprego. Hoje, todos podem votar. Mas o eleito é, quase sempre, aquele que gasta milhões na campanha". A curiosa comparação é de Evaristo de Moraes Filho, ao discursar como patrono dos bacharéis de Direito da Universidade Federal de Maceió ("Jornal do Brasil", 11-5-92). Realmente, o Império era mais coerente. "Fome" de uísque? - O Secretário de Imprensa do Palácio do Planalto, Pedro Luís Rodrigues, frisou que a onda de saques no Rio constitui ação organizada. Sua conclusão é lógica: "Quem está com fome não rouba uma caixa registradora ou u[sque. Isso tem outro nome, não é saque social. Os saques no Rio não têm uma caracterfstica de ação espontânea" ("O Globo", 9-5-92).

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Inco"igíveis ... desconsolados ... Não foram poucos os que, por ingenuidade ou superficialidade, julgaram que os acontecimentos dos últimos anos na Rússia e no Leste europeu iriam determinar uma retificação de rumos por parte da esquerda católica. O silêncio constrangido e contrafeito de tantos eclesiásticos diante do que se passava criam muitos-fazia pairar certa expectativa a respeito. Deixando-se embalar por tais esperanças - melhor seria dizer "miragens"-, houve quem julgasse estar sendo preparado um mea culpa solene e coletivo de figuras do Episcopado nacional à vista do ocorrido. Militaria em erro, contudo, quem se obstinasse em pensar assim. Embora a realidade dos fatos tenha posto a nu a negra falência do sistema comunista, indissociável das mazelas a que deu origem, não há sinal de que mudanças em profundidade se tenham verificado entre Prelados notoriamente conhecidos como esquerdistas, relativamente ao tema. À testa de todos, D. Casaldáliga, Bispo de São Félix do Araguaia, em entrevista ao "Jornal dos Trabalhadores Rurais sem Terra", reafirmou continuar "acreditando na Revolução (sociaq .... e no socialismo que poderá parecer mais utópico, mas que é o ideal humano e o ideal cristão."

Bispos IÚlo ª"edam pé do socialismo Durante o recente encontro dos Bispos brasileiros em ltaici, a questão foi discutida por alguns. Contudo, longe de alterarem os rumos de sua pregação esquerdista, eles, na ocasião, condenaram os males ... do capitalismo. Assim, D. Waldir Calheiros, Bispo de Volta Redonda (RJ), não hesitou em propor uma peresúoika no regime liberal. Reconhecendo embora que o termo socialismo está profundamente "desgastado", a ponto de "não mais o usar", D. Moacyr Grecchi, Bispo de Rio Branco (AC) e ex-presidente da CPT, nem por isso deixou de pregar a "luta pela igualdade social e pela fraternidade". Ora, em que isto se distingue do socialo-comunismo? D. Fragoso, Bispo de Crateús (CE), temendo distanciar-se por demais de suas "ovelhas", teve esta ressalva tática: "Não me declaro hoje um socialista, porque vão entender errado a expressão e me chamar de defasado~ Por sua vez, D. Marcelo Pinto Carvalheira, Bispo de Guarabira (PB) e presidente da Regional Nordeste 2 da CN8B, foi mais além. Sem meias palavras, chegou a lamentar o desmoronamento do comunismo, que, segundo afirma, produzia no mundo certo "equilvrio ideológicd'. Q>nforme ele, "o oomunismo impôs ooisas que deveriam ser aceitas espontaneamente" (sicq ("O Globo", 10-5-92). Aqui bem se aplica o conhecido ditado francês: "plus ça change, plus c'est la même chose" - quanto mais isto muda, mais mostra ser a mesma coisa ...


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MARIOLOGIA

Nobreza de alma de Nossa Senhora PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA

No vigésimo aniversário do milagroso pranto de Nossa Senhora de Fátima, em Nova Orleans (EUA)

e hoje nos pusermos a analisar a vida interna das nações, notamos um estado de agitação, de desordem, de desbragamento de apetites e ambições, de subversão de todos os valores, que nos encaminham para o caos. Nenhum estadista contemporâneo soube apresentar remédio que corte o passo a esse processo mórbido universal. Fê-lo, entretanto, Nossa Senhora em Fátima, abrindo os olhos dos homens para a gravidade dessa situação e indicando-lhes os meios necessários a fim de evitar a catástrofe. É a própria história de nossa época e, mais do que isto, o seu futuro, que em Fátima é analisado pela Mãe de Deus. Se é verdade que o grande Santo Agostinho anunciou a queda do Império Romano do Ocidente, São Vicente Ferrer previu o ocaso da Idade Média e São Luís Grignion de Montfort profetizou a Revolução Francesa de 1789, a nosso século tocou melhor quinhã9: na iminência do desfecho da crise universal, a própria Santíssima Virgem veio falar aos homens. E Ela, ao mesmo tempo, explica as raízes da críse, indica o remédio e profetiza a catástrofe, caso os homens não A ouçam.

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A imagem de Nossa Senhora dos Reis (séc. XIII), sentada em seu trono na catedral de Sevilha, reflete bem o caráter régio da Mãe de Deus

========================================================================::;;:::=::;=::=:::;::::::::::;;:::::;:::;:::::~6 CA'l'OLlCISMO JULlfO 1992 - -- -

Em 1917, a Santíssima Virgem apareceu a três pastorinhos em Fátima (na Cova da Iria, Portugal) anunciando ao mundo inteiro os terríveis dramas e os castigos que haveriam de flagelá-lo se ele, contrito e humilhado, não se voltasse para Ela num movimento sincero de regeneração de alma. Precisamente no dia 17 de julho de 1972, ocorria em Nova Orléans (EUA) o estupendo milagre da lacrimação de uma imagem de Nossa Senhora de

Fátima. A Santíssima Virgem corroborava, desta vez com a linguagem eloqüente das lágrimas, a sua Mensagem. A narração desse pranto, tomo-a do Pe. Elmo Romagosa, em artigo publicado no semanário "Clarion Herald" (20-7-72), de Nova Orléans, e distribuído em onze paróquias do Estado de Louisiana. O Pe. Romagosa tinha ouvido falar dessas lacrimações pelo Pe. Joseph Breault, M.A.P. Entretanto, sentia ele funda relutância em admitir o milagre. Por isto, pediu ao outro Sacerdote que o avisasse assim que o fenômeno começasse a se produzir. O Pe. Breault, notando alguma umidade nos olhos da Virgem peregrina naquele 17 de julho, telefonou ao Pe. Romagosa, o qual acorreu junto à imagem às 21h30, trazendo fotógrafos e jornalistas. De fato, notaram todos alguma umidade nos olhos da imagem, que foi logo fotografada. O Pe. Romagosa passou então o dedo pela superfície úmida, e recolheu assim uma gota de líquido, que também foi fotografada. Segundo o Pe. Breault, esta era a 13ª lacrimação daquela imagem a que ele assistia ...

Vinte anos depois Vinte anos depois do milagroso pranto de Nova Orleans, não é difícil ver que Nossa Senhora ainda ~ stá a chorar sobre o mundo atual -.- como Nosso Senhor sobre Jerusalém - , com lágrimas de afeto maternal, de profunda dor, na previsão do prodigioso castigo que virá. Que virá para todos nós, homens do século XX, se não renunciarmos à impiedade e à corrupção moral. É como preito de homenagem e gratidão filiais pelas aparições de Nossa Senhora em Fátima - o acontecimento religioso mais importante deste sécu-

---=,~-=--=--=-=--=--=--=--=--==-=--=--=--=--=--=--=--=--=CATOLICJSMO,JULHO 1992 -=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=--=-~7


0 conhecimento das Escrituras, sabia que Ele haveria de morrer crucificado. Também ao longo desses três anos, Nossa Senhora acompanhou *** passo a passo - pessoalmente ou em espíriEm certo sentido, pode-se dizer que a virto - seu Divino Filho. Após o falecimento tude é a nobreza da de São José, Ela viu que alma. Isto é, ser nobre a glória de seu Filho na orde~ espiritual é A imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso, esculpida maravilhava e encantaser virtuoso, é viver em milagrosamente no século XVI e venerada no Mosteiro da Conceição, em Quito, espelha adequadamente a nobreza va as multidões, no priestado de graça. De tal espiritual e corporal da Rainha do Universo meiro ano de seu aposmaneira que, numa tolado junto aos judeus. alma nessas condições, Isso, muito naturalmente, Lhe causava grande aleo próprio Nosso Senhor Jesus Cristo faz a sua morada. gria, mais ainda por Ele ser Deus do que pelo fato de Assim como a nobreza terrena tem graus, que vão desde o barão até o duque ou o príncipe, assim ser seu Filho. também o viver na graça de Deus tem graus. E, dentre No segundo ano, começou Ela a notar os ódios e as intrigas articuladas contra Nosso Senhor pelos sacerdotodas as criaturas, Aquela que atingiu o ápice dessa escala ascensional de virtudes e de graças foi Maria tes do Templo, escribas e fariseus. E compreendeu bem Santíssima. Não tratamos, pois, neste artigo, da noque, em meio a toda aquela conspiração, se preparava o momento em que uma tempestade haveria de desabar breza terrena de Nossa Senhora, também verdadeira e importante, como pertencente à Casa real de David, sobre seu Divino Filho, levando-O à morte. mas tão-só de sua nobreza espiritual. Maria Santíssima, com total desprendimento, considerava a aproximação da hora em que Ela deveria, uma Proporção entre esposo e esposa vez mais, renunciar ao maior tesouro que jamais foi Um elemento para avaliarmos a nobreza de alma dado a uma criatura possuir: o próprio Homem-Deus. de Nossa Senhora está em considerarmos que, em Ela concordou plenamente com que seu Filho todo matrimônio bem constituído, deve haver uma cumprisse até o fim sua missão sendo morto como certa proporção entre esposo e esposa. Caso contrávítima expiatória pelos pecados dos homens. E adorio, está-se em presença de uma mesaliança. rando-O como ninguém, entregou-O nas mãos da Ora, Maria Santíssima é a Esposa do Divino Espírito justiça divina com coragem e desprendimento. Santo. Filha, Mãe e Esposa do próprio Deus, Ela concebeu a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade em seu Nobreza por excelência claustro virginal (que permaneceu virginal antes, durfü!O Padre Eterno quis o consentimento dEla para te e depois do parto) por obra do Espírito Santo. E, que seu Filho morresse. Teve Ela conhecimento de portanto, Aquela criatura por excelência, única e intodos os homens que haveriam de ser salvos pelos comparável, que pela graça teve certa proporção para méritos do Sangue infinitamente precioso de Nosso esse desponsório com a perfeição infinita. Senhor Jesus Cristo, até o fim do mundo, e da glória que assim era dada a Deus. Por isso Ela consentiu. Coragem e desprendimento E é precisamente nessa entrega do tesouro mais A autêntica nobreza de alma comporta dois imporprecioso ao Padre Eterno que se venera um dos traços tantes traços, que se manifestam na coragem e no mais salientes da nobreza por excelência de Nossa desprendimento. Na alma santíssima de Nossa SeSenhora. nhora ambas características resplandeceram de modo Com esse ato de generosidade, dispôs-se Ela a incomparável. aceitar um dilúvio de dores, sofridas em união com Nosso Senhor Jesus Cristo viveu trinta anos com as de seu Divino Filho. E por isso Nossa Senhora é sua Mãe amantíssima e o castíssimo São José. Este realmente a co-redentora do gênero humano. Lhe servia admiravelmente de pai. Nosso Divino Eis aí a nobreza perfeita: a coragem, o desprendiRedentor consagrou três anos à sua atuação pública, mento completo, seguidos da glória perfeita, dAquela ao cabo dos quais Nossa Senhora, que tinha perfeito que é a "honra, glória e alegria" do mundo inteiro.

INTERNACIONAL

O ''turista'' , e sua mascara

lo - e também pela lacrimação de Nova Orleans, que passamos a proclamar a incomparável. nobreza de alma da Santíssima Virgem.

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CATOLICISMO, JULHO 1992

Na viagem aos EUA, e em diversas entrevistas, Gorbachev tenta reafivelar máscara democrática. Um obstáculo: o "caso" da Lituânia Ser comunista não está mais na ordem do dia. Nem deixar de sêlo. Face ao enorme fracasso sócio -econômico, revelado pelo curso dos acontecimentos nos países de trás da ex-cortina de ferro, a importância política dessa ideologia decaiu enormemente, sendo necessário "nova roupagem" para ela. Há aí duas questões a serem respondidas: quem foi o culpado pelo fracasso e qual é a "nova roupagem" a ser adotada.

"sabe-tudo e Messias", numa entrevista com os editores da revista norte-americana "Time", eis o que ele apresenta como "um corolário da

sua 'perestroika ': o munqo inteiro necessita de mudança e reorientação". E anuncia que "uma alternativa entre capitalismo e socialismo está por acontecer' ("Time", 25-5-92). Entretanto, "olhando retrospec-

tivamente a 'perestroika' e a 'glas-

igualmente pagas e discursos em lugares históricos. Simbólico o nome do avião que o transportava: Capitalist Tool-Instrumento Capitalista. "Para um polftico deca-

dente, afastado do poder e visto com desdém por seu próprio povo, foi notável a extasiada recepção" ("Jornal do Brasil", 12-5-92). Em Fulton, no local em que Churchill denunciou a criação da Cortina de Ferro em 1946, Gorbachev pretendeu ombrear com o estadista britânico e aproveitou o ensejo para fustigar os EUA e seus aliados, os quais teriam cometido muitos erros após a II Guerra Mundial. As conclusões dos EUA

Gorbachev, o ambíguo "sobre a probabilidade Mihail Gorbachev, de uma agressão militar em sua tournée pelos soviética eram i"eais e Estados Unidos, declaperigosas" ("Jornal do rou: "Tendo sido por Brasil", 7-5-92), afirmuito tempo mar.xistas mou. Insinuou, ademais, ortodoxos, estávamos que esse erro de avaliacertos de que tudo sação provocara a corrida bíamos. Mas a vida, armamentista., e que a mais uma vez, recusou URSS não visava a conCharge publicada pela revista "Newsweek" (25-5-92) a respeito do aqueles que se conside- presente oferecido por Reagan a Gorbachev: "Obrigado pelo chapéu quista mundial... Asserde cowboy, Reagan... Efe servirá oportunamente... " ram sabe-tudo e Mesções estas notoriamente sias'' ("Jornal do Brafalsas! sil", 7-5-92). Aparentemente uma nost', admitiu ele' que não tinha Enquanto o ex-chefe soviético rejeição ao marxismo ortodoxo, idéia de no que tais mudanças iriam recebia homenagens nos EUA, a talvez o responsável pelo fracasso dar' (id., ib.). imprensa internacional divulgava do socialismo. Na verdade, apenas No país do capitalismo, recep- entrevistas suas. Numa delas, não a confissão de que não "sabíamos" ções magníficas aguardavam Gor- escondeu seu verdadeiro perfil de tudo ... bachev, à maneira de um "turista" comunista, a respeito de um ponto E como para Gorbachev parece de luxo. Jantares a 1.000 e 5.000 sensível: interrogado pelo "Komsodifícil deixar de mostrar-se um dólares por pessoa, conferências molskaia Pravda" (apud "Folha de CATOLICISMO, JULHO 1992

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promoveram um abaixo-assinado -que se tomou o maior da História - pedindo a libertação da nação da terra. Mas levaria as tradições báltica, o que foi de grande efeito no comunitárias em conta. E não per- desenrolar dos acontecimentos. Poucos viram, na época, o alcanmitiria a especulação e a revenda ce profundo do "caso" lituano. Endas terras'. tretanto, naquela "queda-de-braço" Ora, comentamos nós, as "tradições comunitárias" são as pseu- tão desproporcionada caiu a máscado-tradições dos mais de 70 anos ra democrática envergada por Gorde comunismo, que reduziram a bachev. Sobretudo quando heróis ex-URSS à miséria. E, sem a pos- lituanos tombaram sob as lagartas sibilidade de compra e venda das dos tanques soviéticos no ataque em terras e seus produtos, de que pro- Vilnius, capital da Lituânia. "Que priedade privada se trata? Comu- fazer depois disso? Tentar recolocar nitária e intransferível? Vê-se aí o a máscara?" - perguntaram-se os comunista mal disfarçado. Não se comunistas. Gorbachev procura de todos os vê no que difere esta "roupagem" modos eximir-se dessa culpa. Perda anterior. .. guntado por que sancionara o uso da força naquele 13 de janeiro de 1991, "Caso" lituano: obstáculo Assim como em alguns jogos se respondeu: "Não aceitei o que me lançam dados para que, em função propunham. Isso pode ser verificadeles, se avance ou se recue um do nos arquivos que estão hoje em certo número de "casas", ou mesmo poder do governo russo" ("Folha de se receba prêmio, ou se saia do pá- S. Paulo", 12-4-92). E é provável reo, também no jogo político, guar- que, de fato, não exista documentos dadas as devidas proporções, algo escritos a esse respeito ... "Em relação a Vilnius, tudo está disso ocorre. Um lance mal executado pode comprometer definitiva- muito claro para mim. Foi um chomente seu autor, alijando-o do tabu- que de várias forças polarizadas .... leiro. Tal foi, em certa medida, para e cada uma dessas forças tentou Gorbachev, a atitude soviética no provocar uma situação que lhes permitisse impor as suas idéias "caso" da Lituânia. Para Gorbachev poder reafivelar ("Folha de S. Paulo", 10-5-92). Se para Gorbachev "tudo está a máscara democrática, competelhe explicar à opinião pública qual muito claro", o mesmo não ocorre foi sua participação naqueles even- para o público. Lembremo-nos de tos. É um tema espinhoso. É sabido que, além de responsabilizar os braque, na Lituânia, há um ano e meio, vos lituanos pelos acontecimentos, foz-se ouvir um brado heróico con- alguns dias após o massacre de Viltra o jugo então exercido pela nius, Gorbachev promoveu a geneURSS. A esse propósito, as TFPs ral Boris Pugo, um dos responsáveis

S. Paulo", 10-5-92) acerca da propriedade, respondeu que não ~tinha "objeções à propriedade privada

imediatos pelo ataque. Tal fato torna-lhe muito difícil reafivelar a máscara ... Os lances seguintes foram rápidos: outras nações cativas seguiram o exemplo lituano; deu-se o mal-explicado golpe da assim chamada "linha dura" soviética contra Gorbachev; e, por fim, em dezembro, a sua renúncia à presidência da então já dissolvida URSS. Forçado pelas circunstâncias a assumir as atitudes que tomou, em momento algum Gorbachev renunciou às suas idéias socialistas. Tampouco responsabilisou ou atacou seriamente a assim chamada "linha dura". Algumas das indagações feitas nas páginas de CATOLICISMO Uan./1990) permanecem ainda válidas: quem é Gorbachev? Um ambicioso? Ou um comunista doutrinário?

*** Sua tournée pelo país do capitalismo foi uma tentativa de relançar-se no cenário mundial, e ver se conseguia recolocar a máscara de democrata. Talvez sentindo que esse lance era precipitado, "al-

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ATUALIDADE

Os dedos do caos e os dedos de Deus PLINI0 COR RÊA DE OLIVEIRA

H

O batismo do Rei dos Francos, ministrado por São Remígio, constituiu marco decisivo para a conversão ao Cristianismo dos povos bárbaros que invadiram o Império Romano

Batismo de Clóvis-Tapeçaria (séc. XVI), Museu de Reims. (França)

guns de seus conselheiros sugeriram-lhe que permanecesse em silêncio ao menos por mew ano"

***

("Newsweek", 18-5-92). E a revista norte-americana conclui:

Vai correndo rápido e convulsionado o ano de 1992. E o exame mais superficial da realidade deixa ver que a palavra "caos" - ainda há pouco um espantalho de tantas gentes tidas por sensatas - passou a ser uma palavra da moda. Com e(eito, nos círculos intelectuais de vanguarda, que se gabam de pós-modernos, a palavra "caos" é algo de faceiro, de elegante, mais ou menos como um bibelô que todos gostam de ter entre os dedos, para com ele brincar, e ver mais de perto. Em lugar de des-

"No atual estágio de sua difícil transição para a vida privada, Gorbachev pode ter mais celebridade que influência". Aliás uma duvidosa celebridade, soprada principalmente pela

mídia.

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CATOLIClSMO,JULHO 1992

á não muito tempo, quem dissesse que o mundo vai imergindo no caos, seria ouvido com displicência: como dar crédito a tal previsão, à vista da prosperidade e da boa ordem que pareciam reinar no Ocidente? Como se o mundo não ocidental não fizesse parte do planeta, pelo que bastaria a boa ordenação da Europa e da América, para se dizer que tudo ia bem, e o caos era impossível. Conceituava-se então o caos como um catastrófico auge de todas as desordens e desgraças. Como admitir, então, que de uma situação "evidentemente" ordenada pudesse originar-se tal paroxismo de desordem? Tal seria a refutação, aparentemente indestrutível, que o otimismo, então reinante, oporia aos que ele certamente alcunharia de , "profetas de desgraças".

CATOLlCISMO,JULHO 1992

pertar horror, o caos é tido hoje como fonte de esperança. Pelo contrário, a palavra "moderno", que tanto sorria aos ocidentais, parece ter caído na decrepitude. Reluzente de mocidade ainda há pouco, nela nasceu subitamente uma cabeleira branca, não consegue esconder suas rugas e usa dentadura. Pouco lhe falta para cair no lixo da História. Ser moderno, que beleza há dez anos! Hoje em dia, que velheira! Quem não queira ser envolvido na decrepitude do que é moderno, deve dizer-se pós-moderno. Eis a fórmula ... Cada vez mais, "caos" e "pósmodernidade" são conceitos que se vão aproximando, a ponto de tenderem a fundir-se um com o outro. E há até quem veja em hecatombes eventuais, conjecturadas para o dia de amanhã, o ponto de partida de um radioso depois-de-amanhã. Assim, gente que ainda ontem não tinha suficientes apodos a lançar contra a Idade Média, argumenta precisamente com esta para justificar seu otimismo.

*** Em outros termos, o território do Império Romano do Ocidente se encontrou, a certa altura, convulsionado ao mesmo tempo por duas forças inimigas, que lhe trituravam os restos moribundos: os bárbaros procedentes das orlas do Reno, e os árabes que haviam transposto o Mediterrâneo e invadido largas faixas do litoral europeu. A Europa caiu no caos. Toda a estrutura do Império Romano do Ocidente se pulverizou. De pé, só restou a estrutura eclesiástica, que recebera de Roma a palavra de ordem de não abandonar os territórios em que exercia sua jurisdição espiritual. Na ordem temporal, era o caos. 11


-~AfOJLJCXSMO CADERNO ESPECIAL Nº 13

Porém, do entrechoque dos exércitos, das raças e das batalhas, em meio ao pandemônio geral, lentamente se foi formando, nos campos, a estrutura feudal. E, nas bibliotecas dos conventos, os livros em que se havia refugiado a cultura greco-latina começaram a projetar sua luz sobre novas gerações que lentamente foram aprendendo que viver não é só lutar, mas também estudar. Aos poucos, sem que quase ninguém se desse conta, os dedos febris e desordenados do caos foram produzindo um tecido novo: a cultura medieval, cujos esplendores os pósmodernos - para vantagem de sua argumentação - descobrem agora, como se ontem ainda não os ignorassem ou os vilipendiassem. E, como um prestidigitador tira de repente um coelho de dentro de uma cartola, os atuais profetas do caos e da pós-modernidade tiram das penumbras e das agitações de hoje, bem como das dramáticas turbulências da mais Alta Idade Média, motivos para embair nossos contemporâneos com as esperanças e as luzes de uma nova era.

*** Mas há algo que eles esquecem de incluir no quadro histórico que lhes serve de argumento. E' a Igreja. A Igreja, sim, na qual não cessaram de reluzir Santos que deixaram na terra 12

a sabedoria de ensinamentos e a força viva de exemplos que até hoje o mundo não esqueceu. Sacerdotes muitos, os quais, fiéis à doutrina e às leis da Santa Igreja, foram por toda parte suscitando almas que começavam a brilhar nas trevas, como originariamente se puseram a brilhar no céu as estrelas, por ação do Criador. Essas foram as mãos sagradas que gradualmente limparam do caos o espírito, as leis e os hábitos dos povos europeus. A civilização foi tecida por essas mãos benditas, e não pelos dedos trêmulos, sujos e poluídos do caos. Tendo isto em vista, o leitor se voltará naturalmente para a Igreja de hoje, esperando dela a mesma ação, desenvolvida a partir da Alta Idade Média . E tem razão, pois da Igreja se pode dizer o que diz de Nossa Senhora a Salve Regina: Ela é "vila, dulcedo et spes nostra". Mas a História jamais se repete com mecânica precisão. Como diferem das condições de en.tão, as condições presentes da Santa Igreja de Deus! Assim como um filho sente redobrar seu amor e sua veneração quando vê sua própria mãe atirada ao infortúnio e apressa pela derrota, assim é com redobrado amor, com veneração inexprimível que me refiro aqui à Santa Igreja de Deus, nossa Mãe. Precisamente neste momento histórico em que a ela caberia refazer, à eterna

A civilização medieval foi tecida por mãos benditas, como as de São Bruno (séc. XI), fundador da Ordem dos cartuxos, e que construiu na França a famosa abadia denominada "Grande Cartuxa" luz do Evangelho, um novo mundo, vejo-a entregue a um doloroso e deprimente processo de "autodemolição", e sinto dentro dela a "fumaça de Satanás", que penetrou por infames fissuras (cfr. Paulo VI, alocuções de 7-12-68 e 29-6-72). Para onde voltar então as esperanças do leitor? - Para o próprio Deus, que jamais abandonará sua Igreja santa e imortal, e que por meio dela fará, nos dias longínquos ou próximos, cujo advento sua Misericórdia e sua Justiça marcaram, mas permanecem misteriosos para nós, o esplêndido renascimento da civilização cristã, o Reino de Cristo pelo Reino de Maria. Plínio Cor rêa de Clivei ra é Presidente do Conselho Nacional da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade - TFP, ex-deputado federal constituinte e professor universitário.

CATOLICISMO, JULHO 1992

fjatísmo be ]}}osso ~enbor 3/esus <trísto


jblatísmo bt ~osso $tnbor 3]esus ~rísto (Mt.111, 13-17) Batismo de Jesus . Então foi Jesus da Galiléia ao Jordão ter com João, para ser batizado por ele. Mas João opunha-se-lhe, dizendo: Sou eu que devo ser batizado por ti, e tu vens a mim? E, respondendo Jesus, disse-lhe: Deixa por agora, pois convém que cumpramos assim toda a justiça. Ele

então deixou-o (aproximar-se). E, depois que Jesus foi batizado, saiu logo da água; e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descer como pomba, e vir sobre ele. E eis (que se ouviu) uma voz do céu, que dizia: Este é meu filho amado, no qual pus as minhas complacências.

~omentáríos bo ~e. 'luís ~láubío jfíllíon (Excertos) Um dia viu João Batista aproximar-se dele um homem de cerca de trinta anos, cuja fisionomia irradiava reflexos de uma majestade e santidade que vivamente o impressionaram. Era Jesus, que havia deixado seu retiro de Nazaré, tendo caminhado pelas margens do Jordão para receber o batismo do Precursor. À primeira vista, esta ·atitude parecia singularmente estranha. Que necessidade tinha o Salvador do mundo, Ele que era a própria pureza, de semelhante cerimônia que implicava pecado e penitência? Mas, precisamente, o Verbo havia se encarnado para carregar os pecados dos homens e expiá-los, adequava-se, pois, a seu encargo ou missão de Redentor tomar as aparências de pecador e penitente, no momento em que ia começar seu ministério, até que chegasse o tempo de ser nossa vítima sobre a Cruz. Quando João O viu adiantar-se para receber o batismo, resistiu a isto como pôde dizendo:

"Eu é que devo ser batizado por Ti, e és Tu que vens a mim?" Ao que Jesus respondeu: "Deixa-me fazer agora; pois convém que cumpramos toda ajustiça". João não mais protestou e batizou o Messias. Mas, como em outras circunstâncias humilhantes de sua vida, recebeu Jesus então de seu eterno Pai um testemunho brilhante. Apenas saiu das águas do tio, o Céu pareceu se abrir e viu-se o Espírito Santo descer sobre Ele em forma de pomba, enquanto uma voz vinda do Céu dizia: "Este é meu Filho amado, no qual pus a minha complacência". Houve pois, nesse momento, como que uma segunda Epifania (*) de Jesus, e, por assim dizer, sua ordenação, sua consagração corno Messias Redentor. (*) N. da R.: Epifania significa a manifestàção de Nosso Senhor ao mundo inteiro, ocorrida por ocasião da adoração do Menino-Deus pelos Reis Magos. (Nuestro Sefior Jesucristo según los Evangelios, Ed. Difusión, Buenos Aires, 1917, pp. 95-96).

~omentáríos compílabos por ~ão momás bt ~quíno na "~atena ~urea" /

São Jerônimo - O mistério da Santíssima Trindade se patenteia no batismo. Jesus Cristo [o Filho] é batizado, o Espírito Santo baixa em form~ de pomba e ouve-se a voz do Padre dando testemunho do Filho. Santo Agostinho - Não deve causar admiração que se patenteie o mistério da Santíssima Trindade no batismo de Nosso Senhor, posto que nosso batismo não é outra coisa

senão a representação de tão augusto mistério. Quis Deus que primeiro se verificasse junto a Ele, o que depois haveria de ordenar a todo o gênero humano. O Pai ama o Filho; mas como um pai ama a um filho, não como um amo estima seu servo; como unigênito, não como filho adotado, e por isso acrescenta: no qual pus as minhas complacências.

jfesta bt ~ossa ~enbora bo ~onte ~armelo (16 dejulho) No século XII, como conseqüência do estabelecimento do Reino Latino de Jerusalém, muitos peregrinos da Europa vieram se juntar aos solitários da santa montanha do Carmelo, na Palestina, aumentando-lhes assim o número. Pareceu bom dar à sua vida, até então mais eremítica que conventual, uma forma que fosse mais de acordo com os hábitos ocidentais. Foi quando o Legado Aimeric Malafaida, Patriarca de Antioquia, os reuniu em uma comunidade sob a autoridade de São Bertoldo, a quem foi dado pela primeira vez o título de Prior Geral. Santo Alberto, Patriarca de Jerusalém e igualmente Legado Apostólico, completou, nos primeiros anos do século seguinte, a obra de Aimeric, concedendo uma Regra fixa à Ordem, que começou a se expandir no Chipre, na Sicília e nos países de além-mar, favorecida pelos príncipes e pelos cavaleiros, de volta da Terra Santa. Logo depois, tendo Deus abandonado os cristãos do Oriente aos castigos merecidos por suas faltas, tomaram-se tais, nesse século de adversidades para a Palestina, as represálias dos sarracenos vitoriosos, que uma assembléia geral, realizada no Monte Carmelo, sob os auspícios de Alain le Breton, decretou a emigração total dos religiosos, não deixando para cuidar do berço da Ordem senão alguns poucos sedentos de martírio. No preciso momento em que ela se extinguia no Oriente (1245), Simão Stock foi eleito Geral, no primeiro Capítulo do Ocidente, reunido em Aylesford, na Inglaterra. Na noite do dia 15 para 16 de julho do ano de 1251, a graciosa Soberana do Carmelo confirmava a seus filhos, por um sinal externo, o direito de cidadania que Ela lhes havia obtido nas novas regiões para as quais os havia conduzido seu êxodo. Senhora e Mãe de toda a Ordem religiosa, Ela lhes conferia de suas próprias e augustas mãos o escapulário, parte do vestuário que caracteriza a maior e mais antiga das famílias religiosas do Ocidente. São

Simão Stock, no momento em que recebia da Mãe de Deus essa insígnia, enobrecendo-a ainda pelo contato de seus dedos sagrados, ouviu a própria Virgem Santíssima dizer: "Todo aquele que morrer dentro deste hábito não sofrerá de maneira nenhuma as chamas eternas". A Rainha dos Santos manifestou-se posteriormente a Jacques d'Euze, que o mundo iria saudar em breve como novo Papa sob o nome de João XXII. Anunciava-lhe Ela sua próxima elevação ao sumo pontificado, e, ao mesmo tempo, recomendava-lhe publicar o privilégio de uma pronta libertação do purgatório, que Ela havia obtido de seu divino Filho para seus filhos do Carmelo: "Eu, sua Mãe, descerei por misericórdia até eles, no sábado que se seguir à sua morte, e a todos que encontrar no purgatório livrá-los-ei e levá-los-ei à montanha da eterna vida". São as próprias palavras de Nossa Senhora, citadas por João XXII na bula em que ele disto deu testemunho, e que foi chamada Sabatina em razão do dia designado pela gloriosa libertadora, no qual Ela exerceria o misericordioso privilégio. A munificência de Maria, a piedosa gratidão de seus filhos pela hospitalidade que lhes dava o Ocidente, a autoridade, enfim, dos sucessores de Pedro, tornaram logo essas riquezas espirituais acessíveis a todo o povo cristão, pela instituição da Confraria do Santo Escapulário, que faz seus membros participarem dos méritos e privilégios de toda a Ordem do Carmo. Quando o Papa Bento XIII, no século XVIII, estendeu a festa do dia 16 de julho para a Igreja inteira, ele, por assim dizer, nada mais i ez do que consagrar oficialmente a universalidade do fato de que o culto da Rail}.ha do Carmelo havia conquistado quase todas as latitudes do orbe. D. Prosper Guéranger, L' Année Liturgique - Le temps apres la Pentecôte, Maison Alfred Mame et Fils, Tours, 1922, tomo IV, excertos das pp.149-153.


História Sagrada

em seu lar

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HAGIOGRAFIA

Pierre Toussaint

noções básicas pecados; o Divino Salvador derrama no deserto desta vida as abundantes águas da graça e da vida eterna" <2J_

ÁGUA DO ROCHEDO, AMALECITAS VENCIDOS E GOVERNO ARISTOCRÁTICO "Tendo, pois, partido toda a multidão dos filhos de Israel do deserto de Sin, e feito as suas paragens segundo a ordem do Senhor, acamparam em Rafidim, onde não havia água de beber para o povo. "O povo murmurou contra Moisés, dizendo: Por que nos fizeste sair do Egito, para nos fazer morrer à sede a nós, e aos nossos filhos e aos nossos animais? "E Moisés clamou ao Senhor, dizendo: Que farei eu a este povo? Pouco falta que ele me não apedreje'?. Água do rochedo "E o Senhor disse a Moisés: Caminha adiante do povo, e toma contigo alguns dos anciãos de Israel, e toma na tua mão a vara com que feriste o rio [Nilo, transformando suas águas em sangue], e vai. "Eis que eu estarei lá diante de ti sobre a pedra de Horeb; e ferirás a pedra, e dela sairá água, para que o povo beba. Moisés assim fez na presença dos anciãos de Israel. E pôs àquele lugar o nome de Tentação, por causa da murmuração dos filhos de Israel e porque eles tentaram ao Senhor" <1)_ "Ensina-nos o Apóstolo São Paulo que este rochedo é uma figura de Jesus Cristo, ferido por nossos

Vitória contra os amalecitas "Ora Amalec veio e pelejava contra Israel em Rafidim. "E Moisés disse a Josué: Escolhe homens e vai combater contra Amalec; amanhã estarei no cimo da colina, tendo na minha mão a vara de Deus. "Fez Josué como Moisés tinha dito, e combateu contra Amalec; e Moisés e Aarão e Hur subiram ao cimo da colina. E, quando Moisés tinha as mãos levantadas, Israel vencia, mas, se as abaixava um pouco, Amalec levava vantagem. "Ora os braços de Moisés estavam fatigados; e Aarão e Hur sustentavam-lhe os braços de ambas as partes. E aconteceu que os seus braços não se fatigaram até o pôr do sol. "E Josué pôs em fuga Amalec e a sua gente, e os passou a fio de espada. E Moisés edificou um altar, e pôs-lhe este nome: o Senhor é a minha glória, e disse: Porque a mão do trono do Senhor e a guerra do Senhor serão contra Amalec de geração em geração" (3)_

dos os encargos do poder. Ele era ao mesmo tempo sacerdote e doutor, chefe de exército e legislador, intérprete e ministro da lei". "Jetro, seu sogro [que viera a seu encontro no deserto], ficou assustado com o excesso de ocupações que oprimiam seu genro. Ele o aconselhou, pois, a escolher homens firmes e experimentados, e estabelecê-los como príncipes do povo para ministrar a justiça nos negócios que não ofereciam grandes dificuldades" (5)_ E Moisés acolheu a idéia. "Esses magistrados serão os homens mais renomados por sua sabedoria, sua prudência e sua religião. "Isto será, ao pé da letra, o que os gregos chamavam aristocracia ou governo dos melhores" <6l.

CATOLICISMO Nos ESTADOS

UNIDOS

1852. O que Nova York tem de mais prestigioso está reunido em tomo de um luxuoso caixão funerário. E é com naturalidade que essa elite vê ali presente, junto a seus membros, a figura nobre e digna, acabrunhada de dor, de um negro ancião que reza pela alma da pessoa falecida. Esse ancião é Pierre Toussaint, o mais respeitado e benquisto negro da cidade, que chora a morte de Mary Anne Schuyler, de quem fora, por mais de 30 anos, ao mesmo tempo cabeleireiro, confidente e melhor amigo. Um dos presentes afirmará que a cena é "um belo exemplo de como podem ser as relações desinteressadas entre os poderosos e os humildes, quando a grandeza de caráter e o sentimento de religião são praticados por ambos" C1). Em anterior número deste mensário C2>, vimos alguns fatos da vida desse extraordinário ex-escravo, que faleceu em odor de santidade, em meados do século passado, em Nova York. Analisaremos agora outros episódios de sua existência, ricos el;Il ensinamentos e lições de vida prática. Para isso nos basearemos, além da bibliografia citada, em comentários feitos pelo Prof. Plínio Corrêa de Oliveira a respeito, em palestras para sócios e cooperadores da TFP.

Notas 1. Ex. 17, 1-7. 2. Côn. J.I. Roquete, História Sagrada do Antigo e Novo Testamento, Guil/ar Aillaud, Lisboa, 1896, 9• ed. , tomo /, p. 206. 3. Ex. 17, 8-15. 4. Padre Rohrbacher, Histoire Universelle de L 'Église Catholique, Gaume Fréres Libraires, Paris, 1842, tomo /, p. 388. 5. L 'Ancien et /e Nouveau Testament disposés sous forme de récits suivis, P. Lethielleux, Libraire-Editeur, Paris, 1930, p. 51 . 6. Padre Rohrbacher, op. cit., p. 390.

Luta e oração "É necessário rezar com Moisés sobre a montanha, mas necessário também combater com Josué na planície. Se Moisés não rezasse, Josué combateria cm vão; se Josué não combatesse, apenas a oração de Moisés não obteria a vitória. A fé e as obras, a oração e o trabalho, a oração e o combate, eis o que forma o perfeito cristão" <4) _ Aristocracia ou governo dos melhores "Moisés, em virtude de sua missão divina, cumulava em sua pessoa to-

apóstolo do amor à hierarquia social

Foto de Pierre Toussaint pouco antes de sua morte, em 1853

Na época atual, em que o igualitarismo e a laicização da sociedade atingiram grau alarmante, as eminentes virtudes de um ex-escravo - com processo de beatificação já iniciado pela Santa Sé -respeitador da diferenciação das classes sociais e católico desassombrado, refulgem como admiráveis exemplos Moisés bateu com a vara no rochedo de Horeb e deste nasceu água que dessedentou o povo

CATOLICISMO, JULHO 1992

Seu grande objetivo era servir Tendo falecido em 1853, Pierre Toussaint viveu no período histórico em que as doutrinas da Revolução Francesa ( 1789), depois de devastarem a Filha Primogênita da Igreja, continuavam a disseminar-se, em grau maior ou menor, pelo mundo. Com o pretexto de implantar uma Liberdade (falsa), uma Igualdade (impossível), e uma Fraternidade (quimérica) - que se opõem aos princípios da doutrina católica-, tal trilogia, que já havia feito correr mui to sangue durante o Terror, na França, chegaria depois a um de seus paroxismos com a Revolução bolchevista e o atroz regime que se lhe seguiu. Hoje, com ou sem disfarces religiosos, continua a mesma trilogia a inspirar a subversão e a luta de classes mediante invasões, greves e agitações de todo gênero. A bela figura moral de Toussaint contradiz-violentamente a tese de um inevitável ódio social e uma necessária luta de classes. Tendo nascido escravo, por sua despretensão, grandeza de alma e superior discernimento de espírito, não só amou e serviu com alegria a seus senhores e zelou ainda por sua propriedade, mas soube nisso encontrar a felicidade, vendo em tudo a mão da Providência. 17


Por isso mesmo ele não é bem visto pelos negros certos clérigos "engajados" e "comprometidos" de hoje. norte-americanos partidário~, qa Teologia_ da Libertação, Veja-se esta declaração: como se deduz das palavras do Pe. Michael Pfleger, "'No começo da revolta dos escravos, o que Touspároco de Santa Sabina, e Chicago, que, em declaração saint fez foi fugir dessa luta pela liberdade', disse o Rev. ao "New York Times" sobre a possível canonização de Gilles Danroc, padre francês do Vale de Artibonite. Toussaint, afirmou: "Creio que os católicos negros 'Temos que nos perguntar: a Igreja está encorajando o agora já escolheram seus próprios santos, e o abono de modelo do escravo dócil, que segue seu senhor e espera pacientementente sua alforria?" <5)_ Roma é desnecessário". E prossegue o diário norteamericano: "Orgulhosa congregação de 900famílias de Em outras palavras, a prosperidade não lhe virou a afro-americanos, Santa S abina fez um altarpara um dos cabeça, a fantasia, ou o coração. Vimos em anterior seus 'santos', colocando nele umbustodeMartinLuther artigo como ele se esmerou em amparar sua antiga dona 1 King Jr. com o fundo vermelho, preto e verde da liberação não só no necessário, mas até se comprazendo em lhe negra" <3)_ Vê-se por que "devotos" de um líder pacifista proporcionar algum tanto do antigo luxo a que estava revolucionário negro, além de habituada. E se sentia satisfeito pastor protestante, não o poe recompensado quando condem ser de Pierre Toussaint! seguia suavizar um pouco a É bem verdade que ele, em tristeza mortal que a atingira lugar da sociedade vivida após tantas desgraças. como uma "cascata de desprezos rolando de cima para baixo Contente com sua do alto da hierarquia social" condição e com sua cor no dizer de um líder revolucioDuas foram as notas consnário - encontrou, na família tantes que acompanharam à qual servia, um ambiente de Toussaint em todas as circunsmútua afeição e compreensão tâncias de sua vida: a alegria entre senhores e escravos. Essa no servir, e uma perfeita e dessituação, se não era a norma ~ pretensiosa conformidade geral, também existia, e reprecom a vontade divina. Essas tôsenta uma outra face da realidanicas predominan.tes de seu cade que é preciso levar em conta ráter se manifestavam mesmo sob pena de se ser unilateral <4)_ no fato de ser preto e escravo. A grandeza de alma desse Eis um pequeno mas encanhumilde escravo surge por intador exemplo disso, narrado teiro e impressiona profundapor ele mesmo àquela que foi mente na dedicação à sua sedepois sua primeira biógrafa. nhora, caída em desgraça. Ele, Falando de sua sobrinha e filha adotiva, conta ele: por sua aplicação e talento, vai se tornando o cabeleireiro mais "No dia do santo de Eufêem moda de Nova York. Ela, mia, eu sempre a levava a uma Pierre Toussaint, durante muitos anos, confeitaria onde enchíamos pelo contrário, exilada e sem assistiu Missa.na velha Igreja de uma cesta com bolos, biscoitos parentes, cm terra estranha, São Pedro, em Nova York e pães de gergelim que carquase num só golpe perde o marido, as propriedades e as rendas. Toussaint não vê aí regávamos ao Asilo" (de crianças brancas, que ele ajuocasião para rebaixá-la ou humilhá-la, vingando-se com dara a fundar e a manter). "E aí você a deixava distribuir ressentimento ou rancor de qualquer coisa que pudesse tudo entre as outras crianças?", pergunta-lhe sua interlocutora. "Oh!, não, Madame. Isso não seria próprio à ter surgido entre ambos, no convívio diário. Nem cede à má propensão de nossa natureza decaída de, quando pequena menina negra", responde. "Eu lhe dizia que uma situação se inverte, fazer com que os que estavam perguntasse a uma das Irmãs se poderia fazer esse em cima passem a sentir o ônus da dependência. Ainda favor. Eufêmia ficava ao meu lado esperando. E quando mais em se tratando de duas posições extremas, como a as crianças, muito contentes, recebiam os regalos, minha Eufêmia ficava tão feliz!" Que nota de superior de senhora e escravo. Sua dedicação e verdadeiro enlevo grandeza e magnanimidade! (6)_ por Marie Bérard, em desgraça, leva-o ainda a maiores atos de abnegação e desinteresse, chegando mesmo a um Ora, esse habitual estado de espírito não se consegue ponto que bem poucos bons filhos atingem em relação aos sem a prática da virtude em grau insigne. Segundo seus biógrafos, Toussaint também "evitava próprios pais. Tal dedicação heróica, que nos enche de entusiasmo, falar sobre o tema da escravidão", entretanto tão cansó pode provocar estranheza e hostilidade da parte de dente. Por quê? Não porque não amasse e desejasse 18

CATOLICISMO, JULHO 1992

Juliette Noel, esposa de Pierre Toussalnt, participou generosamente das obras de caridade por ele promovidas

ardentemente a liberdade para si e para todos os seus irmãos de raça. O fato de ter comprado a alforria de sua irmã e a de sua futura mulher o comprova. A resposta talvez esteja no fato de que,já na época, esse assunto era explorado com uma carga de paixão muito forte. E repetiam-se banalidades que, embora verdadeiras, eram apresentadas de modo acentuadamente demagógico. Aliás, como se faz muito freqüentemente hoje em dia com temas como "racismo", "miséria", "ecologia" e tantos outros. Toussaint não era suficientemente instruído para fazer apoÍogias tomistas da necessidade da desigualdade no corpo social como melhor modo de refletir as perfeições de Deus. Nem, tampouco, para fazer pregações anti-igualitárias. Sua vida, no entanto, foi um testemunho vivo e contínuo do amor desinteressado à hierarquia e às desigualdades sociais, e de conformidade amorosa com os desígnios da Providência a seu respeito. Ascensão social, e não castas Isto suscita outra consideração. É realmente uma mancha para um país o haver nele um grupo racial, étnico ou social, que não possa, por virtudes eminentes ou ações extraordinárias, ascender ao mais alto ponto da escala social. (Aliás, as ações extraordinárias geralmente não aparecem onde não há virtudes). Isso equivale a estabelecer um regime de castas. Pierre Toussaint é um exemplo marcante da possibilidade de ascensão social. Da mais humilde extração, por seu esforço, méritos e virtudes, chegou a tornar-se "o mais amado negro de Nova York" sendo mesmo ali considerado, por pessoas da mais alta' sociedade, como "um consumado gentilhomem". E isso se reflete até em suas fotos. Todos o honravam enquanto católico Evidentemente, para praticar uma virtude que tanto choca as más tendências do pecado original e as da época, é preciso uma assistência contínua ~a ~raç~ e o cumprimento dos Mandamentos de modo ex1m10. Pierre CATOLICISMO, JULHO 1992

Euphemla, sobrinha de Pierre Toussalnt, foi adotada por este quando se tornou órfã de mãe

Toussaint, por isso, não pode deixar de ter sido sobretudo 11m homem eminentemente religioso. E esse é o seu maior título de glória. Vivendo em meio a uma maioria esmagadoramente protestante - apenas 2 mil católicos numa população de 30 mil habitantes-, ele ostentava sua fé com convicta naturalidade. "Sua religião era fervorosa, sincera - declara uma antiga cliente - e fazia parte de si próprio. Nunca ele a deixou de lado por algum interesse mundano" <7J. Quer dizer, não foi ao preço de sua fé que ele encontrou a estima geral. E seus contemporâneos são unânimes em afirmar que "todos o honravam enquanto católico". Essa foi sua maior glória e a razão pela qual sua memória é lembrada até nossos dias; e caso seja ele elevado à honra dos altares, até a consumação dos séculos. PLINIO SOLIMEO

NOTAS (1) - Ellen Tarry, The other Toussaint, St. Paul Edition, Boston, 1981, p. 359. (2) - Catolicismo, n2 485, maio de 1991, pp. 14 a 16. (3) - Deborah Sontag, Canonizing a Slave: Sair,! or Une/e Tom? Is Sainthood Choicean Une/e Tom?, NewYorkTimes, edição metropolitana, 23 de fevereiro de 1992, 1a. página. (4) - Diga-se de passagem que o afeto católico, quando bem compreendido e vivido tanto pelos de ci111a quanto pelos de baixo da escala social, ameniza e torna flexíveis e praticáveis as desigualdades. Torna-se uma fonte de harmonia social e mesmo de santidade. (5) - "New York Times", ibidem. (6) - Annah Saw Lee, Memoir of Pierre Toussaint, Bom a s/ave in St. Domingo, Crosby, Nichols and Company, Boston, 1854, pp.51,52. Também em Ellen Tarry, op. cit. p. 263. (7) - Annah Saw Lee, op. cit., p. 109.

* Outras obras consultadas: Arthur e Elizabeth Odell Sheehan,

Pierre Toussaint - A Citzen of O/d New York, P.J. Kennedy & Sons, New York, 1955. The Quiet Man, in The Anthonian, The Franciscans of Paterson, N.J. (USA), 1974.

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COMENTE, COMENTE...

Deus criou os grandes e os pequenos A alegre expectativa das férias de - E como erram os católicos de julho marca o ambiente d~ última sema- esquerda que se deixam levar pelas na de aulas na Escola Santa Edwiges. idéias socialistas de igualdade social! Repouso no campo, viagens para re- - acrescenta Fernando. ver parentes, são os assuntos dominan- Ouçam - retoma dona Carolina tes nas conversas, exceto entre os alu- com bondoso sorriso nos lábios - é nos de dona Carolina, em que tais temas agora Pio XI quem afirma na famosa se mesclam com o interesse pelo assun- Encíclica Divini Redemptoris: ". Não é to levantado na aula anterior. verdade que na sociedade civil todos A s.impática professora - também temos direitos iguais, e que não existe de partida para um merecido descanso - não hesitara em dividir seu tempo entre os preparativos de viagem e a pesquisa doutri~ária, demonstrando desta forma verdadeira solicitude materna para com seus alunos. - Professora, a senhora nos prometeu provar que a doutrina católica sobre a desigualdade de classes sociais não mudou - lembra Eusébio com certa impaciência. - Com muito gosto, meus caros. Atentem para os documentos que lhes vou apresentar. É o grande Papa santo de nosso século, São Pio X, quem diz: "Se Jesus foi bom para os transviados e os pecadores, não respeitou suas convicções errôneas, por sinceras que parecessem; amou-os a todos para os instruir, converter salvar. Se chamou junto de si para os consolar, os aflitos ' e os sofredores, não foi para lhes pregar o anseio de uma igualdade quimérica. Se ·1evantou os humildes, não foi para lhes inspirar o sentimento de uma dignidade independente e rebelde à obedi.ência" (Carta Apostólica Notre hierarquia legúima" (Vozes, PetrópoCharge Apostolique, Vozes, Petrópo- lis, 8ª ed., 1963, p. 17). A classe toda pennanece atenta. lis, 1953, 2ª ed., pp. 25-26). - Não menos luminosas - contiProssegue a professora: - Bento XV, na Carta Soliti Nos, nua dona Carolina -são as palavras do ensina: "Os que ocupam situaç6es infe- pranteado Pontífice Pio XII, no discurriores quanto à posição social e à for- so de 4 de julho de 1953: "É preciso que tuna devem convencer-se bem de que a vos sintais verdadeiramente irmãos .... diversidade de classes na sociedade Pois bem, os irmlios nlio nascem nem vem da própria natureza, e de que se permanecem todos iguais: uns são fordeve procurá-la, em última análise, na tes, outros débeis; uns inteligentes, ouvontade de Deus: porque Ele criou os tros incapazes; talvez algum seja anorgrandes e os pequenos (Sap. 6, 8) para mal, também pode acontecer que se o maior bem do indivíduo e da socieda- torne indigno. É pois inevitável uma de'' (Actes de Benoit XV, Bonne Presse, certa desigualdade materia~ inJelectua~ mora~ numa mesma famflia .... PretenParis, tomo II, p. 129). - Quanta clareza nestas palavras! der a igualdade absoluta de todos seria o mesmo quepretender dar idênticas jun- exclama admirado Bonifácio.

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ç6es a membros diversos do mesmo organismo" (Discorsi e· Radiomessaggi di Sua Santità Pio XII, vol. XV, p. 195). Acrescenta a professora: · - É ainda de Pio XII o magnífico trecho que segue, extraído desta vez do discurso de 5 de janeiro de 1942, ao Patriciado e à Nobreza romana: ''As desigualdades sociais, inclusive as que são ligadas ao nascimento, são inevi~- · veis,· a natureza benigna e a bênção de Deus à humanidade iluminam e protegem os berços, beijam-nos, porém não os nivelam" (idem, vol. ill, p. 347). - Mas, depois do Concílio Vaticano II, esta doutrina dos Papas mudou interrompe contrariado Eusébio. - Não se afobe, meu caro - pondera dona Carolina - ,temos ainda outros documentos a considerar: ouçam este, do Papa que convocou o Concílio, João XXIII, na Encíclica Ad Petri C athedram: "A concórdia que se procura entre os po"vos deve ser promovida cada vez mais entre as classes sociais .... Quem ousa, pois, negar a diversidade de classes sociais contradiz a ordem mesma da n12tureza" (!ictaApostolicae Sedis, vol. LI, nº 10, pp. 505-506). - ·E temos por fim - conclui a professora - um pronunciamento de João Paulo II, em alocução aos jovens brasileiros, em Belo Horizonte. Ouçam-no: "Aprendi que um jovem começa perigosamente a envelhecer quando se deixa enganar pelo princípio fácil e cômodo de que 'o fim justifica os meios'; quando passa a acreditar que a única esperança para melhorar a sociedade está em promover a luta e o ódio entre grupos sociais, na utopia de uma sociedade sem classes que se pode revelar bem cedo na criação de novas classes" (Todos os pronunciamentos do Papa no Brasil, Loyola, São Paulo, 1980, p. 34). A última aula deste período escolar assim se encerra, em meio à febricitação prenunciativa das férias. Fernando, Bonifácio e Eusébio deixam a sala pensativos. Este último, um tanto acabrunhado. Os outros dois, alegres. Comente esta doutrina, leitor, com seus vizinhos, amigos e conhecidos. CATOI.JCISMO,JULHO 1992

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Vejo Catolicismo elogiar com freqüência o Brasil. Será que minha querida e prestigiosa revista não está caindo em certo ufanismo balofo? Não entendo como uma publicação habitualmente tão objetiva se encantou de repente com o "oba-oba" tropical deste pedaço do "terceiro mundo" .

E assim, na compra, na venda e na flanação, avança esse teatro vivo, cujo "script" ninguém compôs, e o qual felizmente nenhuma "FEIRABRÁS" teve a idéia de patrocinar. Seria, na certa, a morte das feiras! Permitam-me dizer que, apesar de toda essa balbúrdia, a feira é a seu modo calma e até distensiva. Uma calma e uma

de uma potência desproporcional, expulsando com brutalidade o charme que a feira deixara pairando no ar ... Esclareço, para os leitores que não são de São Paulo e que vão pasmar-se com o fato, que aqui os vendedores de gás não podem, como o resto do gênero humano, apertar a campainha e esperar, para·serem screvo numa manhã ensolarada de atendidos. As bocas de seus altofalantes sábado. A um metro de despejam então, a todo momento, mim está a janela. Para lfll':-.~~-1111!!'-,illll!II para atrair a atenção da clientela, além, já é a rua ... músicas deslocadas para esse fim Ou melhor, uma pequena e anicomo a "Für Elise" de Beethoven madíssima feira. Uma feira do e outras nem um pouco ilustres. Brasil. Vários caminhões costumam pasQuase não seria preciso ir ao sar ao mesmo tempo, provocando parapeito para ver o que se passa. enorme cacofonia, e a rua da feira A feira vai alta. Os vendedores, se transforma numa espécie de com medo de voltarem com suas manicômio sonoro. mercadorias, redobram seus preÉ outra forma de fazer a mesgões, que se mesclam com a conma coisa que a feira: vender. versarada solta e alguns risos. Mas ... que diferença! Onde foi o Tudo isso entra por minha janela, bom-senso do Brasil? junto ao cheiro de salsinha, de Oh! a feira e o gás! Coisas corriqueiras e sem importância! azeitonas e de queijo parmesão. "Leva 6, freguesa, e paga 5". Para alguns, sem importância. Mas para muitos estrangeiUfa! Até que enfim se encontra ros; no caso da feira, fonte de algum lugar no mundo onde os encanto. fregueses são fregueses mesmo, e Se quisermos conhecer o espínão "clientes", como quer a afetadíssima moda comercial! rito de um país, é preciso saber analisar com profundidade tamOs pregões às vezes exageram "um pouquinho". Por exemplo, bém as coisas comuns. É aí que, acabo de ouvir de um vendedor de muitas vezes, o espírito de um laranjas que "até o caroço é doce". povo se revela por inteiro, em sua autenticidade. Melhor do que na Mas esse exagero é encarado com ordenação freqüentemente artifibonomia. Ninguém pensa em cial dos livros, na simplificação acionar o Código de Defesa do deformadora das estatísticas, ou Consumidor só por causa disso. BELÉM - O mercado do Ver-o-Peso, visto do mar em chavões surrados como este Ao menos no Brasil. de "terceiro mundo". Num canto, um menino vende distensão que não se encontram absolutaRepudio com o leitor o "ufanismo alguns passarinhos que ele mesmo captu- mente no metrô de São Paulo, tão "pribalofo", que fecha os olhos para, por rou, atestando com isso que, apesar de meiro mundo". tudo, nos encontramos numa economia Assim é em toda parte a feira, desde o exemplo, esta paranóia do gás. Mas tede mercado, "para ninguém colocar de- "Ver-o-Peso", em Belém do Pará, até o nho no coração muita coisa que ainda feito". curiosíssimo "Brigue da Conceição", em resta de maravilhoso e de bom em nosso Uma senhora gorda, rebocada por um Porto Alegre. Animada, gentil, colorida, país. Aí está, por exemplo, o Brasil dos menino que segura sua mão esquerda, mexeriqueira mas se maldade, baru- balões, dos rodeios, dos repentistas, do com a direita arrasta um carrinho de com- lhenta, cheia de charme, exuberante de vatapá. Da plasticidade dos empresápras. Pluf! Tinha que acontecer! As rodas bom-senso e enormemente eficiente para rios brasileiros. De Salvador e Ouro de seu carrinho engancham nas do carri- sua finalidade própria: a compra e a ven- Preto, dos Profetas do Aleijadinho. Da nho de uma preta magrela com lenço da. Ah! É tonificante passear numa feira, inteligência e da intuição, do charme e da improvisação, da bondade - e do branco à cabeça, que vinha em sentido mesmo sem comprar nada! contrário. Xingatório? Nenhum. Elas Mas a cena muda. Chega a hora do luar do sertão. acham graça e se põem a conver.sar. A fim e as barracas são desmontadas. A prosa rola talvez sobre alguma receita de rua é lavada. Que ouço a todo momenLEODANIELE cozinha. to? Caminhões de gás com altofalantes

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CATOLICISMO,JULHO 1992

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NACIONAL

Uma '''Reforma Agrária" confusa Um fato novo: o Governo pretende comprar e não desapropriar terras. Mas, com "títulos podres"! -É um projeto "prá" valer, ou para inglês ver? nunciado várias vezes no bandeira das esquerdas em nosso aparece um fato novo. O Governo no passado, e lançado país. quer fazer a Reforma Agrária, om certo espalhafato no Assim, Reforma Agrária tor- mas sem desapropriações confiscomeço deste ano, o projeto de nou-se sinônimo de socialismo catórias: as terras necessárias seReforma Agrária rão compradas, sedo Governo Collor gundo dispõe protraz consigo a marjeto de lei apresenca da confusão. tado no Congresso Confusão que pelo Executivo. aparece já no uso A ser assim, não da expressão Reestaríamos diante forma Agrária, de um plano de Relargamente utiliforma Agrária sozada pela mídia e cialista e confiscapelos meios ofitória com as caracciais para referirterísticas acima se ao Plano, batienunciadas. zado com o nome Mas, se este é o de "Programa da "Programa da TerTerra". ra", por que então Qualquer brasichamá-lo de Releiro razoavelmenforma Agrária? Assentamento Pirituba, em ltupeva (SP): falta de bens essenciais te informado sabe Terá a mídia o promostra como a Reforma Agrária reduz assentados à miséria que a expressão p ó si to de fazer Reforma Agrápassar gato por leria, desde a década de 60, é utili- confiscatório em marcha, rumo à bre, isto é, "vender" a idéia de uma zada, no Brasil, por um movi- supressão do direito de proprieda- Reforma Agrária socialista e mento que visa nivelar aproprie- de no campo. O que não é diferente confiscatória, quando, na realidade rural, desapropriando terras do comunismo agrário fracassado dade, prepara-se um plano que a preço vil, para depois loteá-las na ex-URSS e que acaba de fracas- em nada fere o direito de propriee nelas "assentar" os chamados sar também no México [veja-se dade? "Sem-Terra". O caráter igualitá- nossa edição de junho/92]. Estaríamos diante de um projerio, socialista e confiscatório da to lançado apenas para inglês ver, Reforma Agrária fez com que Confusão agrária ou seja, para atingir efeitos publiela se transformasse na principal Ora, no "Programa da Terra" citários internos ou externos?

O panorama complica-se com outro elemento, também introduzido no "Programa da Terra". Não se pode condenar moralmente um plano que pretenda comprar terras, pagando aos proprietários, que Üvremente as vendam, o preço justo, à vista e em dinheiro. Ora, no "Programa da Terra" encontramos a singularidade de que o Governo vai pagar as terras com Títulos da Dívida Agrária, os famosos TDAs! Como se sabe, esses títulos são considerados "podres", pelo fato de estarem fortemente desvalorizados. Notícias recentes revelam que os TDAs são depreciados em até 90% de seu valor real <1>. Além de desvalorizados, os TDAs só são resgatáveis a partir do segundo ano, num prazo de até 20 anos. O Governo, por razões financeiras, não está podendo resgatar esses títulos, que vêm sendo considerados por isso como "verdadeiros cheques sem fundo" <2>. Segundo notícias de imprensa, já no início deste ano, o Governo tinha uma dívida em TDAs vencidos no valor de 200 milhões de dólares, e mais 800 milhões a vencer a curto e médio prazos <3>_

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ATÍLIO GUILHERMEFAORO

Notas (1) Cfr. "Gazeta Mercantil", "Governo pretende assentar 400 mil famílias até final do mandato", 31-10-91. (2) Cfr. "Jornal de Brasília", "Desapropriação sem pagamento", 19-1-92. (3) Cfr. "Jornal de Brasília", "Cabrera erra dados sobre reforma agrária", 19-1-92. (4) Cfr. "Veja", ·o Ciac do campo", 1-1-92 e "Estado de S. Paulo", "Demagogia e desperdício", 29-1-92. (5) "Veja", "O Ciac do campo", 1-1 -92.

"Fomos abandonados" Um ano e meio depois de homologado, milhões de cruzeiros- mas só foi liberado o primeiro projeto de Reforma Agrária do em maio de 199.1 , sem correção, e foi todo Governo Collor, o "Coqueiral", em Nobres gasto em obras preliminares, como cons(MS), está paralisado. trução de estradas. Segundo notícia da" Folha de S. Paulo" Enquanto não chega mais dinheiro, os (11-12-91 ), as 82 famílias assentadas pelo assentados, abandonados à própria sorte INCRA, em julho de 1989, ainda esperam e transformados em favelados do campo, a demarcação dos lotes. .. * sobrevivem graças a trabalhos que reali"Fomos abandonados·, declara o as- zam nas fazendas vizinhas. Algumas famísentado Zeferino Dorneles. "Além de não lias já estão abandonando o projeto, antes demarcarem a área, também não nos mesmo que ele seja implantado. dão nenhum incentivo para o plantio ou Muitos assentados já enviaram mulher mesmo para a nossa sobrevivência·. Na e filhos de volta para seus lugares de orirealidade, acrescenta Zeferino, "não gem, no Rio Grande do Sul. "Lá pelo meexiste produção". nos eles têm o que comer", afirma Leocir O dinheiro para a demarcação dos lotes Nolio, que mandou a família retornar a Ronfoi definido em agosto de 1990 - 125 da Alta.

anos não são pagos, por uma divergência entre a área agrícola e a área econômica. Na verdade, o TOA vem funcionando como um confisco - o Governo decreta a desapropriação de terras e depois não paga nem os juros, quando pela Constituição teria que somar também a correção monetária a esses títulos. Resultado: os TDAs valem hoje 15% de seu preço no mercado· ("Jornal do Brasil", 22-10-89).

CATOLICISMO, JULHO 1992

Por que não uma política agrária sadia? Neste emaranhado caótico de projetos e planos governamentais,

quem perde é o Brasil. Ficará ele mais uma vez esperando de seus legisladores uma política sadia para o setor agrícola. Isso só acontecerá quando o Governo adotar uma efetiva assistência técnica, sanitária e educacional, e aplicar uma sábia e estável política de créditos e preços agrícolas. E, sobretudo, quando tiver a coragem de eliminar os inúmeros vícios e entraves da burocracia estatal, herdados de leis e programas socialistas e socialistóides, ultrapassados no tempo e no espaço, mas que perduram em nossa legislação e nas rotinas governamentais.

Primeiro assentamento de Collor

Títulos da Dívida Agrária "Título podre", "Cheque sem fundo", "Confisco". Estes são alguns dos sinônimos dos TDAs, Títulos da Dívida Agrária, utilizados pelo Governo como forma de pagamento nas desapropriações para fins de Reforma Agrária. Trata-se de um grande calote de porte nacional, que o ex-Consultor-Geral da República, advogado Clóvis Ferro Costa, assim analisou: "Os TDAs há mais de dois

Nestas condições, causa perplexidade ver o Governo anunciar que vai pagar as terras com TDAs. Dificilmente encontrará ele quem queira vender terras nestas condições. O Governo não pode ignorar essa circunstância. Assim, como pretende ele que seu .plano de compra e venda de terras tenha sucesso? Mais uma vez, parece que estamos diante de um programa inviável, feito apenas para efeitos propagandísticos. Por causa disso, analistas políticos chegaram a chamá-lo de "lance demagógico", ''plano muito vago", "exotismo típico do Basil" <4>_ Do próprio Ministro Antonio Cabrera saiu este surpreendente comentário: ''Estou dando um salto no escuro" (5)_ Carente de lógica e de substância, confuso no seu real alcance, o projeto governamental vai rolar agora pelas comissões do Congresso, que dificilmente poderão apreciá-lo nos próximos meses. Senadores e deputados estão ocupados com o pleito eleitoral deste ano.

CATO LI CISMO, JULHO 1902

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Brasil • Na Sede da TFP do bairro de Vila Mariana, em São Paulo, jovens cooperadores promoveram uma festividade especial no Dia das Mães. Do programa constaram uma apresentação da Fanfarra dos Santos Anjos e uma peça teatral alusiva à data. A Sra. Gertrudes Ferronetto, uma das mães presentes, partiu o bolo, de grandes proporções, que chegou ao pátio da sede conduzido por quatro jovens, e que foi servido aos 300 convidados presentes. Na foto ao l~do, aspecto do concerto.

Argentina

• Por ocasião do 25 aniversário de sua fundação, em 3 de abril último, a TFP argentina realizou uma sessão solene em sua prestigiosa sede central, denominada D. Pelayo, que incluiu a celebração do Santo Sacrifício da Missa pelo Bispo católico do rito Maronita, Mons. Charbel Merhi. Este pronunciou palavras sumamente elogiosas à entidade, bem como à conferência que teve lugar durante o ato, sobre o tema "A TFP ante o V Centenári.o do Descobrimento e Evangelização da América". Esteve presente à cerimônia o Príncipe Imperial do Brasil, Dom Bertrand de Orleans e Bragança. 11

Espanha

• S.O.S Familia-Este é o título da campanha empreendida pela TFP

espanhola, que está utilizando o sistema de "mala direta" para comunicarse com um público selecionado, arespeito do projeto de lei do Governo espanhol, com vistas ao ordenamento jurídico relativo à TV. Pedem-se maiores aprofundamentos e esclarecimento quanto aos critérios morais nele utilizados. Estados Unidos

• Em magnífica apresentação, foi lançado pela TFP norte-americana livro sobre a vida de Pierre Toussaint, ex-escravo originário da ilha de São Domingos que passou a maior parte de sua existência em Nova York, no século passado. Em virtude de sua vida de católico exemplar, foi iniciado em Roma seu processo de beatificação [ver matéria nesta edição e também em Catolicismo, n 11 485, maio/92]. A obra foi prefaciada pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira.

Ele está posto para ruína e para ressurreição de muitos em Israel, e para ser alvo de contradição. Lc2, 34

• Foi aberto pela TFP norteamericana um centro de atividades estudantis em Cincinatti, Estado de Ohio.

Não julgueis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer a paz, mas a espada. Porque vim separar o filho de seu pai, e a filha de sua mãe, e a nora de sua sogra.

A democracia é o direito de discordar. Se o tão apregoado consenso consiste no desaparecimento das diferenças de opinião, ou na ocultação delas, então ele é o contrário da democracia. Plínio Corrêa de Oliveira

Consenso é a ausência de princípios e a presença da conveniência.

Mt 10, 34-35

Portugal

• A TFP portuguesa realizou durante o carnaval acampamento para jovens em Guimarães, berço de Portugal. Como parte do programa, um estudo sobre o movimento ecológico e suas conseqüências imediatas e futuras. • Sócios e cooperadores daquela entidade realizaram também campanha de divulgação de obras por ela editadas, todos os fins-de-semana, com muito sucesso. Na cidade de Braga, por exemplo, num só dia foram divulgados 1050 exemplares da obra sobre Fátima, de autoria de Antonio Augusto Borelli Machado. Na cidade do Porto, uma caravana de sete jovens divulgou 600 exemplares do referido livro.

Margaret Thatcher

Tod~s as opiniões são respeitáveis. Bom. E o ql;le o sr. diz. Quanto a mim, digo o contrário. E minha opinião: respeite-a, pois! Jacques Prévert

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~-~ EM PAINEL

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Uruguai • 1O de abril. Lançado o volante-manifesto "Você sabia que os seres antidiluvianos existem?", de protesto contra a participação de representantes de todos os partidos políticos no "Festival Artístico de Solidariedade a Cuba". Sugestiva charge, que deu origem ao título do texto, ocupa a parte central do volante; 4 mil exemplares foram distribuídos nas vias públicas das principais cidades uruguaias.

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CATOLICISMO,JULHO 1992

A teimosia é um defeito desajeitado. Vejamos estas duas fotos, tiradas há pouco em Moscou pela câm~ra de Catolicismo. À esquerda, as prateleiras vazias de uma loja estatal. A direita, a profusão de um mercado livre. Na Rússia, ser a favor do estatismo, presenciando todos os dias este contraste, é uma forma de teimosia próxima da burrice. E no Brasil?


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A Fl(Q)utmt@ dlt 1Pedlu@

O Rei da França, Francisco 1, construtor de Chambord

squeça, caro leitor, por alguns instan~ tes, o poluído século XX, a agitação das megalópolis modernas e a faina da vida diária. Imagine-se transportado para uma época cheia de distinção e nobreza, na qual as pessoas procuram não apenas a utilidade das coisas, mas sobretudo a sua beleza. Olhe agora, com atenção, a foto desta página e sinta-se no vale do Loire, o jardim da França, a dois passos do castelo de Chambord. O ocaso prematuro dos dias de inverno deixa seus últimos reflexos nas paredes brancas do castelo, que contrastam com o negro profundo do teto de ardósia, e com as sombras que cercam a faustosa construção. A profusão de torreões e chaminés, com variados formatos, confere a impressão de uma autêntica floresta de pedra. O conjunto arquitetônico, no entanto, é simétrico e proporcionado, exprimindo de modo eloqüente a grandeza sem brutalidade, adistinção sem moleza, a nobreza sem afetação. Estamos,éverdade, noséculoX\11, em plena Renascença. O rei da França, Francisco 1, querendo impressionar seu rival, o imperador alemão Carlos V, mandou oonstruir essa pequena cidade encantada em forma de castelo. E dai surgiu uma obra-prima da arquitetura francesa que deslumbrou o monarca cio Sacro Império e que, séculos mais tarde, ainda continua a deslumbrar, na geração presente, as almas sedentas de grandeza. História muda narrada em pedra. Embora já pós-medieval, Chambord evoca um passado grandioso, carregado de glórias e tragédias, de paz e de guerras, que em muitos aspectos ainda exala o perfume inconfundível da Idade Média, aquela doce primavera da Fé.



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Ao leitor

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uitos são os que, impressionados com a crise do mundo moderno, têm excogitado soluções para estes ou aqueles problemas que a integram. Mais difícil, porém, é apresentar um panorama global da crise e sugerir para ela uma solução abarcativa e cabal. Ora, tanto o panorama quanto a solução acima aludidos se encontram admiravelmente delineados na notável obra do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira, Revolução e Contra-Revolução~ Assim sendo, nada melhor para Catolicismo oferecer a seus leitores ao comemorar, com a presente edição, seu nll 500 - do que uma reprodução dessa luminosa obra que, como um farol, vem guiando nossa revista ao longo dos atribulados e caóticos dias em que vivemos. Nesse estudo vêm se inspirando não só os sócios, cooperadores e correspondentes da TFP brasileira, mas também, em 22 nações nos cinco continentes, eclesiásticos, civis e militares, professores, empresários, jornalistas e - em número crescente jovens universitários, estudantes secundários e operários, que fundaram, em seus respectivos países, mais 17 entidades autônomas, irmãs de ideal da TFP de nossa Pátria, às quais vieram acrescentar-se oito escritórios de representação. Todos esses idealistas e homens de ação têm em Revolução e Contra-Revolução o livro de cabeceira insubstituível para lhes nortear as atitudes e atividades diante da grande crise do mundo moderno. Nesse livro se entrelaçam organicamente princípios e observações da realidade atual,

com vistas a expor a gênese, o significado e os rumos da grande crise do Ocidente ("Revolução") e os meios de resolvê-la ("Contra-Revolução").

E

m abril de 1959, exatamente para comemorar nosso número 100, tivemos a honra de estampar em nossas páginas, com primazia, o recém-escrito ensaio Revolução e Contra-Revolução, composto então de duas partes. Em 1976, o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira acrescentou à sua já então famosa obra, uma terceira parte, versando fundamentalmente sobre uma nova etapa da Revolução, que parecia estar em gestação e à qual ele denominou IV Revolução (em continuidade às três Revoluções anteriores, analisadas em 1959, a saber: a primeira Revolução Protestante; a segunda Revolução Francesa; e a terceira Revolução Comunista). Catolicismo publicou essa terceira parte, dedicando-lhe o número de janeiro de 1977. Chegamos a 1992. O acerto com que o Autor detectou e analisou a IV Revolução é agora patente. O grande, e em vários aspectos terrível, espetáculo proporcionado ao mundo em junho último pela ECO-92, com palco no Rio de Janeiro, é talvez o acontecimento mais rombudamente comprobatório de tudo quanto o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira diz na terceira parte de seu ensaio. Sua atualidade é, pois, marcante, e ela poderia ser reproduzida agora tal qual foi escrita. Pediu-se, porém, ao Autor, que, em vista de novas edições de Revolução e Contra-Revolução já em andamento no

CATOLICISMO

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Exterior, acrescentasse algumas observações a respeito dos acontecimentos-chave ocorridos no mundo de 1976 para cá, dentro do espírito e dos métodos daquele livro. Ao que ele felizmente acedeu. Assim sendo, o que reproduz Catolicismo nesta edição? Se dependesse de nosso desejo, estamparíamos a íntegra do livro, com suas três partes e os atuais acréscimos. Mas, razões de ordem material facilmente concebíveis no-lo impedem. Limitamo-nos, pois, a estampar a terceira parte (a de 1976) com os preciosos acréscimos, inclusive um Posfácio, que lhe fez o Autor no presente ano. Para que os leitores possam identificar facilmente tais atualizações, que dizem respeito aos rumos tomados pela Revolução de 1976 para cá, elas virão em corpo maior e com margem maior do lado esquerdo da página. Entretanto, não seria possível deixar o leitor privado de uma idéia ao menos ainda que sumaríssima - do conteúdo da · primeira e segunda partes (de 1959),

absolutamente fundamental para se entender o processo revolucionário em seu conjunto. Dessa forma, logo na página três, é apresentado um aperçu muito geral desse conteúdo, mediante a publicação de uns tantos excertos capitais das referidas partes, com vistas a alimentar no leitor o desejo de conhecer a obra completa. E a prepará-lo, assim, para adequadamente proceder à leitura da terceira parte, que segue, com seus acréscimos.

A

gradecendo a quantos nos acompanham no decurso desta longa caminhada que culmina hoje no número 500, bem como aos recém-ingressos no quadro de assinantes de Catolicismo, mas que já compartilham de nossas preocupações, quiçá de nossos ideais, pedimos que sobre todos eles desçam, superabundantes, as bênçãos de Nossa Senhora. E que Ela faça quanto antes raiar para o mundo inteiro o radioso sol da Contra-Revolução prometido em Fátima: s "Por fim, meu Imaculado Coração triunfará".

Catolicismo é uma publicação mensal da Editora Padre Belchior de Pontes Lida. Diretor: Paulo Corrêa de Brito Filho. Jornalista Responsável: Takao !akahashi Registrado na DRT-SP sob o Nº. 13748. Redação e Gerência: Rua Martim Francisco, 665 - 01226-001 - São Paulo, SP - Tel: (011) 825.7707. Dlagra~açao: Antonio Carlos F. Cordeiro - Rua Javaés, 681/689 - 01130--010 - São Paulo - SP; Fotolitos: Microforrnas Fotolitos Lida. - Rua Javaés 681 - 01130--010 - São Paulo - SP; Impressão: Gráfica Editora Camargo Soares Lida. - Rua da Independência 767 - 01524--001 - São Paulo, SP. A correspondência relativa a assinatura e venda avulsa pode ser enviada ao endereço da Gerência de Catolicismo. ISSN - 0102-8502

AGOSTO 1992

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Revolução e Contra-Revolução Alguns excertos capitais da primeira e segunda partes da obra Revolução e Contra-Revolução, do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, publicada na íntegra em Catolicismo nº 100, abril de 1959

A s muitas crises que abalam o J-\..mundo hodierno - do Estado, da farrn1ia, da economia, da cultura etc. - não constituem senão múltiplos aspectos de uma só crise fundamental, que tem como campo de ação o próprio homem (principalmente o homem ocidental e cristão). Tal crise apresenta cinco características fundamentais: universal, una, total, dominante e processiva. Decadência da Idade Média

Já no século XIV se vislumbra, na Europa cristã, uma transformação de mentalidade. O apetite dos prazeres terrenos se vai transformando em ânsia. Há um paulatino deperecimento da seriedade e da austeridade dos antigos tempos. Pseudo-Reforma e Renascença (séc. XVI)

O tipo humano inspirado nos moralistas pagãos, que o Humanismo e a Renascença introduziram como ideal na Europa católica, já era o genuíno precursor do homem sensual, laico e pragmático dos nossos dias. O orgulho e a sensualidade, em cuja satisfação está o prazer da vida pagã, suscitaram o protestantismo. O orgulho deu origem ao espírito de dúvida, ao livre exame, à insurreição contra a autoridade eclesiástica, em especial à revolta contra o Papado. A sensualidade triunfou com a supressão do celibato eclesiástico e a introdução do divórcio. Revolução Francesa (séc. XVIII)

Profundamente afim com o protestantismo, herdeira dele e do neopaganismo renascentista, a Revolução Francesa realizou, não só no campo

religioso como ainda no temporal, uma obra de todo em todo simétrica à da Pseudo-Reforma. Em matéria religiosa, proclamou o deísmo, deu guarida ao ateísmo, especiosamente rotulado de laicismo. E na esfera política, atirando-se contra o Rei e os nobres, implantou o tríplice dogma - liberdade, igualdade, fraternidade - segundo o qual toda desigualdade é uma injustiça, toda superioridade um perigo para os subordinados, e a liberdade o bem supremo.

reno ideológico, doutrinas novas eclodem. É a Revolução nas idéias. Esta, por sua vez, estende-se ao terreno dos fatos, onde passa a operar a transformação dos costumes, das leis e das instituições.

Comunismo (séc. XX)

A Contra-Revolução

No ambiente doutrinário-psicológico criado pela Revolução Francesa, irromperam, no século XIX, o socialismo utópico e o comunismo dito científico de Marx. Em 1917, o segundo tomou o poder na Rússia.

Se a Revolução é a desordem, a Contra-Revolução é a restauração da Ordem. E por Ordem entendemos a paz de Cristo no reino de Cristo. Ou seja, a civilização cristã, austera e hierárquica, fundamentalmente sacral, antiigualitária e antiliberal. É no vigor de alma que vem ao homem pelo fato de Deus governar nele a razão, a razão dominar a vontade, e esta dominar a sensibilidade, que é preciso procurar a serena, nobre e eficientíssima força propulsora da Contra-Revolução. Tal vigor de alma não pode sequer ser concebido sem se tomar em consideração o papel da graça divina. Quando os homens resolvem cooperar com a graça de Deus, são as maravilhas da História que assim se operam: é a conversão do Império Romano, é a conversão dos bárbàros e a formação da Idade Média, é a Reconquista da Espanha a partir de Covadonga, são todos esses acontecimentos que se dão como fruto das grandes ressurreições de alma de que todos os povos são suscetíveis. Ressurreições invencíveis, porque não há o que derrote um povo virtuoso e que verdadeiramente ame a Deus.

A

ssim, de uma explosão inicial de orgulho e sensualidade decorreram as três grandes revoluções da História do Ocidente: a primeira Pseudo-Reforma Protestante; a segunda - Revolução Francesa; e a terceira - Revolução Comunista. Constituem elas um processo único, em três etapas, que se chama simplesmente REVOLUÇÃO. Revolução nas tendências, nas idéias, nos fatos

Podem-se distinguir na Revolução três profundidades. A Revolução nas tendências é a mais profunda. Postas em desordem, as tendências começam por modificar as mentalidades, os modos de ser e de viver, as expressões artísticas e culturais, sem tocar desde logo nas idéias. Dessas camadas profundas da mentalidade, a crise passa para o terCATOLICISMO

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Acima de nós, a-penas Deus, eis o brado de

revolta que parece evolar-se dos lábios destes corifeus do protestantismo: era a Primeira Revolução. Da esquerda para a direita, Lutero, Escolampádio, João Frederico (o Eleitor de Saxe), Zvinglio e Melanchton

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Revolução Francesa foi a herdeira e a continuadora da Revolução Protestante. A revolta contra o Rei repetiu e requintou a revolta contra o Papa. A revolta contra os nobres foi a transposição, para o âmbito civil, da revolta contra a Hierarquia Eclesiástica. À esquerda: noite do 14 para o 15 de julho de 1789.

uas noções, concebidas como valores metafísicos, exprimem bem o espírito da Revolução: igualdade absoluta, liberdade completa. E duas são as paixões que mais a servem: o orgulho e a sensualidade.

Por sua vez, os fuzis comunistas, impuseram as últimas conseqüências niveladoras da Revolução Protestante e da Revolução Francesa, consumando a terceira das grandes revoluções que derrubaram a Civilização Cristã no mundo inteiro


Parte III

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Revolução e Contra-Revolução VINTE ANOS DEPOIS Acrescentada em 19 76, com comentários do Autor em 1992

Capítulo I A Revolução, um processo em transformação contínua Aqui tenninava, em suas anteriores edições, o ensaio Revolução e Coritra-Revolução; seguiam-se apenas as rápidas palavras de piedade e entusiasmo que constituíam a "Conclusão". Transcorrido tão largo tempo de 1959 para cá - repleto de acontecimentos - , caberia perguntar se, sobre as matérias de que o ensaio trata, haveria algo mais a dizer hoje. A resposta não poderia deixar de ser afirmativa. É o que se apresenta em seguida ao leitor. 1. "Revolução e Contra-Revolução" e TFPs: vinte anos de ação e de luta

Os comentários feitos pelo Autor em 1992 estão compostos em caracteres maiores do que o restante do texto, apresentando margem maior do lado esquerdo. São também do Autor o Posfácio e as notas antecedidas por um asterisco.

•.• "Vinte anos depois": o título do romance de Alexandre Dumas - tão apreciado pelos adolescentes do Brasil até o momento, já distante, em que profundas transformações psicológicas destruíram o gosto por esse gênero literário - uma associação de imagens o traz a nosso espírito quando começamos a escrever estas notas. Voltamo-nos, há pouco, ao ano de 1959. Estamos tenninando o ano de 1976. Já não está longe, pois, o fim da segunda

década em que este livro circula. - Vinte anos ... Neste período, as edições deste ensaio se têm multiplicado 1 . Revolução e Contra-Revolução: não tivemos o intuito de fazer dele um mero estudo. Escrevemo-lo também com a intenção de que fosse um livro de cabeceira para cerca de uma centena de jovens brasileiros que nos pediram que lhes orientássemos e coordenássemos os esforços com vistas aos problemas e aos deveres com que então se defrontavam. Esse pugilo inicial - semente da futura TFP - se estendeu em seguida pelo território brasileiro, de dimensões continentais . Circunstâncias propícias favoreceram, pari passu, a formação e o desenvolvimento de entidades análogas e autônomas por toda a América do Sul. O mesmo foi acontecendo, depois, nos Estados Unidos, Canadá, Espanha e França. Afinidades de pensamento e relações cordiais promissoras vêm começando a ligar, mais recentemente, essa extensa família de entidades, a personalidades e associações de outros países da Europa. O Bureau Tradition, Familie, Propriété, fundado em Paris no ano de 1973, se vem dedicando a fomentar quanto possível os contatos e aproximações daí decorrentes 2. Estes vinte anos foram, pois, de expansão. De expansão, sim, mas também de intensa luta contra-revolucionária.

NOTAS DA REDAÇÃO

1 -Além de duas tiragens em Catolicismo, onde foi publicado originalmente ,Revoluçiio e Contra-R evoluçiio teve em formato de livro duas edições em português, três em italiano (em Turim e Piacenza), cinco em espanhol (uma em Barcelona, uma em Bilbao, uma em Santiago do Chile e duas em Buenos Aires), duas em francês (no Brasil e no Canadá) e duas em inglês (em Fullerton, Califórnia, e em Nova York).

Foi, outrossim, transcrito na íntegra nas revistas "<'.Qué Pasa?", de Madri, e "Fiducia", de Santiago. Essas diversas edições atingem a casa dos 90 mil exemplares. 2 -Atualmente, TFP francesa: - 6, Ave. Chauvard - 92600 Asnieres Tel. 4793-2644 - 12, Ave. de Lowendal - 75007 Paris Tel. 4555-6188

Os resultados por essa forma alcançados vêm sendo consideráveis. Não é este o momento de os enumerar todos 3 • Cingimo-nos a dizer que, em cada um dos países onde existe uma TFP ou organização afim, vem esta combatendo sem tréguas a Revolução, ou seja, mais especialmente no campo religioso, o chamado esquerdismo católico; e no temporal, o comunismo. Incluímos como genuíno combate ao comunismo a luta contra todas as modalidades de socialismo, pois estas são apenas etapas preparatórias ou formas larvadas daquele. Tal combate tem-se desenvolvido sempre segundo os princípios, as metas e as normas deste estudo 4 • Os frutos assim obtidos bem demonstram o acerto do que, sobre os temas indissociáveis da Revolução e da Contra-Revolução, está dito na presente obra. 2. Em um mundo que se vem transformando contínua e aceleradamente, permanece atual, nos presentes dias, "Revolução e Contra Revolução"? - A resposta é afirmativa

Ao mesmo tempo que se multiplicavam nos cinco continentes as edições e os frutos de Revolução e Contra-Revolução 5, o mundo - impelido pelo processo revolucionário que há quatro séculos o vem sujeitando - passou por tão rápidas e profundas transformações que, ao lançar esta nova edição, cabe perguntar, conforme já consignamos, se em função delas deveria ser retificado ou acrescentado algo em relação ao que foi por nós escrito em 1959. Revolução e Contra-Revolução se situa ora no campo teórico, ora em um campo teórico-prático muito próximo da pura teo-

ria. Assim, não é de surpreender se, a nosso juízo, nenhum fato sobreveio de molde a alterar o que no estudo se contém. Por certo, muitos métodos e estilos de ação usados pela TFP brasileira, entidade em vias de se constituir em 1959 - como por suas co-irmãs - foram substituídos, ou adaptados a circunstâncias novas. E outros foram inovados. Mas eles se situam, todos, num campo inferior, executivo e prático. Deles não trata, portanto, Revolução e Contra-Revolução. De onde não haver modificações a introduzir na obra. Sem embargo de tudo isto, muito haveria a acrescentar se quiséssemos relacionar Revolução e Contra-Revolução com os novos horizontes que a História vem abrindo. Tal não caberia neste simples aditamento . Pensamos, contudo, que uma resenha do que fez a Revolução nestes vinte anos, uma mise au point do panorama mundial transformado por ela pode ser útil para que o leitor relacione fácil e comodamente o conteúdo do livro com a realidade presente. É o que passaremos a fazer.

NoTAS DA REDAÇÃO

3 - Ver o livro Um homem, uma obra, uma g esta - Homenagem das TFPs a Plínio Corrêa de Oliveira, Edições Brasil de Amanhã, São

Paulo, 1989, que inclui amplos dados históricos acerca da TFP brasileira, das TFPs de outras nações, bem como dos BureauxTFP, existentes em 22 países, no's cinco continentes. 4 -A respeito do combate às formas de socialismo mais recentemente difundidas, merece especial destaque a Mensagem do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira, O socialismo autogestionário - em vista do comunismo: barreira ou cabeça-de-ponte?, amplissima-

mente divulgada em 1982 (publicada em

50 grand es jornais e revistas do Ocidente, com um total de mais de 33 milhões de exemplares). A propósito dessa M ensagem, o Autor recebeu carta altamente elogiosa de Friedrich f · Hayek, Prêmio Nobel de Economia, recentemente falecido. Analogamente, são de alto interesse as obras Espanha, anestesiada sem percebê-lo, amordaçada sem sabê-lo, extraviada sem querê-lo: a obra do PSOE e Ad p erpetuam rei memoriam,

publicadas pela TFP desse país em Madri, em 1988 e 1991 respectivamente. 5 - Revolução e Contra-Revoluçã.o teve também expressiva difusão na Austrália, África do Sul e Filipinas.

CATOLICISMO

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Ao escrever Revolução e Contra-Revolução, o Autor também teve em vista atender ao pedido de jovens brasilei,ros, desejosos de um livro de cabecei,ra que orientasse seus esforços em favor da civilização cristã


Capítulo II Apogeu e crise da Terceira Revolução 1. Apogeu da Ili Revolução

Como vimos, três grandes revoluções constituíram as etapas capitais do processo de demolição gradual da Igreja e da civilização cristã: no século XVI, o Humanismo, a Renascença e o protestantismo (I Revolução); no século XVIII, a Revolução Francesa (II Revolução); e na segunda década deste século, o Comunismo (III Revo-

lução). Essas três revoluções só se compreendem como partes de um imenso todo, isto é, a Revolução. Sendo a Revolução um processo, obviamente, de 191 ?para cá, a III Revolução continuou sua caminhada. Encontra-se ela, no momento, em um verdadeiro apogeu.

A agressividade da ex-URSS era servida por um poder atômico incontestável, do qual o submarino nuclear Typhoon (abaixo, no porto de Murmansk) é um exemplo bem característico

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Na mais ampla das escalas, isto é, na escala internacional, esse apogeu era notório. Di-lo o texto um pouco mais adiante. Com o recuo do tempo, o quadro geral desse apogeu pode ser pintado com traços ainda mais amplos, quer pela extensão e pela população das nações efetiva e plenamente sujeitas a regimes comunistas, quer pela amplitude da propaganda vermelha e pela importância dos partidos comunistas no mundo ocidental, quer, por fim, pela penetração das tendências comunistas nos diversos domínios da cultura desses países. Tudo isso acrescido pelo pânico mundial, gerado pela ameaça atômica que a ·' agressividade soviética, servida por um poder nuclear incontestável, fazia pairar sobre todos ~-• os continentes. Tão· múltiplos fatores davam origem a uma política de moleza e de capitulação quase universais em relação a Moscou. As Ostpolitiks alemã e vaticana, o vento mundial de um paci-

'1 . -

fismo incondicionalmente desarmamentista, o pulular de slogans e de fórmulas políticas que preparavam tantas burguesias ainda não comunistas a aceitar o comunismo como fato a ser consumado em um futuro não distante: todos nós vivemos sob a compressão psicológica desse otimismo de esquerda, que era enigmático como uma esfinge para os centristas indolentes, e ameaçador como um Leviatã para quem, como as TFPs e os seguidores de Revolução e ContraRevolução em tantos países, discernia bem o "apocalipse" a que tudo isso ia conduzindo. Quão poucos eram, então, os que percebiam estar esse Leviatã carregando em si uma crise in crescendo que ele não conseguia resolver, porque era o fruto inevitável das utopias marxistas! A crise veio crescendo e parece ter desintegrado o Leviatã. Mas, como adiante se verá, essa desintegração difundiu por sua vez, por todo o universo, um clima de crise ainda mais letal. Considerados os territórios e as populações sujeitos a regimes comunistas, dispõe a III Revolução de um império mundial sem precedentes na História. Este império é fator contínuo de insegurança e de desunião entre as maiores nações não-comunistas. De outro lado, estão nas mãos dos líderes da III Revolução os cordéis que movimentam, em todo o mundo não-comunista, os partidos declaradamente comunistas e a imensa rede de criptocomunistas, para-comunistas, inocentes-úteis, infiltrados não só nos partidos não-comunistas, socialistas e outros, como ainda nas igrejas •, nas organizações profissionais e culturais, nos bancos, na imprensa, na televisão, no rádio, no cinema etc. * Falamos na infiltração do comunismo nas

várias igrejas. É indispensável registrar que tal infiltração constitui um perigo supremo para o mundo, especificamente enquanto levado a cabo na Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana. Pois esta não é ap';nas uma espécie no gênero "igrejas". E a única Igreja viva e verdadeira do Deus vivo e verdadeiro, a única Esposa mística de Nosso Senhor Jesus Cristo, a qual não está para as outras igrejas como um brilhante maior e mais rútilo

em relação a brilhantes menores e menos rútilos. Mas como o único brilhante verdad eiro em relação a "congêneres" feitos de vidro ...

E, como se tudo isto não bastasse, a III Revolução maneja com terrível eficácia as táticas de conquista psicológica de que adiante falaremos. Por meio destas, o comunismo vem conseguindo reduzir a um torpor displicente e abobado imensas parcelas não-comunistas da opinião pública ocidental. Tais táticas permitem à/IIRevolução esperar, neste terreno, sucessos ainda mais úteis para ela, e desconcertantes para os observadores que analisamos fatos de fora dela. A inércia, quando não a ostensiva e substanciosa colaboração de tantos governos burgueses do Ocidente com o comunismo assim poderoso, configura um terrível quadro de conjunto. Nestas condições, se o curso do processo revolucionário continuar como até aqui, é humanamente inevitável que o triunfo geral da III Revolução acabe se impondo ao mundo inteiro. - Dentro de quanto tempo? Muitos se assustarão caso, a título de mera hipótese, sugiramos mais vinte anos. Parecer-lhes-á surpreendentemente exíguo o prazo. Na realidade, quem poderá garantir que esse desenlace não sobrevenha dentro de dez ou cinco anos, ou antes ainda? A proximidade, a eventual iminência desta grande hecatombe é sem dúvida uma das notas que, comparados os horizontes de 1959 com os de 1976, indicam maior transformação na conjuntura mundial.

A. Na rota do apogeu, a Ili Revolução evitou com cuidado as aventuras totais e inúteis Se bem que esteja nas mãos dos mentores da III Revolução lançar-se, de um momento para outro, numa aventura para a conquista completa do mundo por uma série de guerras, de cartadas políticas, de crises econômicas e de revoluções sangrentas, é bem de ver que tal aventura apresenta consideráveis riscos. Os mentores da III Revolução só aceitarão· de os correr caso isto lhes pareça indispensável. Com efeito, se o emprego contínuo dos métodos clássicos levou o comunismo ao atual fastígio de poder sem expor o processo revolucionário senão a riscos cuidadosamente circunscritos e calculados, é explicável que os guias da Revolução mundial

esperem alcançar a cabal dominação do mundo sem sujeitar sua obra ao risco de catástrofes irremediáveis, inerente a toda grande aventura.

B. Aventura, nas próximas etapas da Ili Revolução? Ora, o sucesso dos costumeiros métodos da III Revolução está comprometido pelo surgimento de circunstâncias psicológicas desfavoráveis, as quais se acentuaram fortemente ao longo dos últimos vinte anos. - Tais circunstâncias forçarão ocomunismo a optar, daqui por diante, pela aventura? No ocaso do ano de 1989, aos supremos dirigentes do comunismo internacional, pareceu afinal chegado o momento de lançar uma imensa cartada política, a maior da história do comunismo. Esta consistiria em derrubar a Cortina de Ferro e o Muro de Berlim, o que, produzindo seus efeitos de forma simultânea à execução dos programas "liberalizantes" da glasnost ( 1985) e da perestroika (1986), precipitaria o aparente desmantelamento da III Revolução no mundo soviético. Por sua vez, tal desmantelamento atrairia para seu supremo promotor e executor, Mikhail Gorbachev, a simpatia enfática e a confiança sem reservas das potências ocidentais e de muitos dos poderes econômicos privados do Primeiro Mundo. A partir disto, o Kremlin poderia esperar um fluxo assombroso de recursos financeiros a favor de suas vazias arcas. ·Essas esperanças foram muito amplamente confirmadas pelos fatos, proporcionando a Gorbachev e à sua equipe a possibilidade de continuar flutuando, com o timão na mão, sobre o mar de miséria, de indolência e de inação, em face do qual a infeliz

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O vento mundial de um pacifismo incondicionalmente desarmament-ista, como o que se comprova nesta manifestação realizada nos Países Baixos, é um sintoma frisante do otimismo irracional de certa esquerda muito prestigiada pela mídia


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O grande Imperador opôs-se vitoriosamente, no século IX, a duas ameaças contra o império católico: os bárbaros, a Leste, e os muçulmanos, ao Sul Busto (1370) de Carlos Magno - Câmara do Tesouro, Catedral de Aix-la-Chapelle (Alemanha).

população russa, sujeita até há pouco ao capitalismo de Estado integral, vai se havendo, até o momento, com uma passividade desconcertante. Passividade esta propícia à generalização do marasmo, do caos, e quiçá à formação de uma crise conflitual interna suscetível, por sua vez, de degenerar em ·uma guerra civil... ou mundial 1 . Foi neste quadro que irromperam os sensacionais e brumosos acontecimentos de agosto de 1991, protagonizados por Gorbachev, Yeltsin e outros co-autores dessa jogada, que abriram caminho à transformação da URSS numa frouxa confederação de Estados e depois ao seu desmantelamento. Fala-se da eventual queda do regime de Fidel Castro em Cuba e da possível invasão da Europa Ocidental por hordas de famintos vindos do Leste e do Magreb. As diversas tentativas de incursão de desvalidos albaneses na Itália teriam sido como que um primeiro ensaio desta nova "invasão de bárbaros" na Europa. Não falta quem, na Península Ibérica como em outros países da Europa, veja estas hipóteses em um comum panorama com a ação de presença de multidões de maometanos, despreocupadamente admitidos em anos anteriores em vários pontos desse continente, e com os projetos de construção de uma ponte sobre o Estreito de Gibraltar, ligando o Norte da África ao território espanhol, o que favoreceria por sua vez mais outras invasões muçulmanas na Europa. Curiosa semelhança de efeitos da derrubada da Cortina de Ferro e da construção dessa tal ponte: ambas abririam o continente europeu para invasões análogas às que Carlos Magno repeliu vitoriosamente, isto é, as de hordas bárbaras ou semi-bárbaras vindas do Leste e hordas maometanas

provenientes de reg1oes ao Sul do continente europeu. Dir-se-ia quase que o quadro prémedieval se recompõe. Mas algo falta: é o ardor de fé primaveril nas populações católicas chamadas a fazer frente simultaneamente a estes dois impactos. Mas, sobretudo, falta alguém: onde encontr~ hoje em dia um homem com o estofo de Carlos Magno? Se imaginarmos o desenvolvimento das hipóteses acima enunciadas, cujo principal cenário seria o Ocidente, sem dúvida nos assombrarão a magnitude e dramaticidade das conseqüências que as mesmas trariam consigo. Entretanto, esta visão de conjunto nem de longe abarca a totalidade dos efeitos que vozes autorizadas, procedentes de círculos intelectuais sensivelmente opostos entre si e de imparciais órgãos de comunicação, nos anunciam nestes dias. Por exemplo, a crescente oposição entre países consumidores e países pobres . .Ou, em outros termos, entre nações ricas industrializadas e outras que são meras produtoras de matérias-primas. Nasceria daí um entrechoque de proporções mundiais entre ideologias diversas, agrupadas, de um lado, em tomo do enriquecimento indefinido, e, de outro, do subconsumo miserabilista. À vista desse eventual entrechoque, é impossível não recordar a luta de classes preconizada por Marx. E daí surge naturalmente uma pergunta: será essa luta uma projeção, em termos mundiais, de um embate análogo ao que Marx concebeu sobretudo como um fenômeno sócio-econômico dentro das nações, conflito este no qual participaria cada uma destas com características próprias? Nessa hipótese, a luta entre o Primeiro Mundo e o Terceiro passará a servir de camuflagem mediante a qual o marxismo, envergonhado de seu ca-

NOTA DA REDAÇÃO

1 - Sob o título Comunismo e anticomunismo na orla da última década deste milênio, foi lançada, a partir de fevereiro d e 1990, firme interpelação do Autor aos líder es comunistas russos e ocid entais, a propósito d a

perestroika. Publicada em 21 jornais d e oito p aíses, alcançou grand e r ep ercussão, e specialmente na Itália. Catolicismo a es tampou em sua edição d e março/90 .

tastrófico fracasso sócio-econômico e metamorfoseado, trataria de obter, com renovadas possibilidades de êxito, a vitória final? Vitória essa que, até o momento, escapou das mãos de Gorbachev, o qual, embora certamente não seja o doutor, é pelo menos uma mescla de bardo e de prestidigitador da perestroika... Da perestroika, sim, da qual não é possível duvidar que seja um requinte do comunismo, pois o confessa seu próprio autor no ensaio propagandístico Perestroika - Novas idéias para o meu país e o mundo (Ed. Best Seller, São Paulo, 1987,p. 35): "Afina/idade desta reforma é garantir ... . a transição de um sistema de direção excessivamente centralizado e dependente de ordens superiores para um sistema democrático baseado na combinação de centralismo democrático e autogestão ". Autogestão esta que, de mais a mais, era "o objetivo supremo do Estado soviético", segundo estabelecia a própria Constituição da exURSS em seu Preâmbulo. 2. Obstáculos inesperados para a aplicação dos métodos clássicos da Ili Revolução.

A. Declínio do poder persuasivo Examinemos antes de tudo essas circunstâncias (desfavoráveis ao comunismo, conforme referido no item 1-B). A primeira delas é o declínio do poder persuasório do proselitismo comunista. Tempo houve em que a doutrinação

explícita e categórica foi, para o comunismo internacional, o principal meio de recrutamento de adeptos. Por motivos que seria longo enumerar, em quase todo o Ocidente e em largos setores da opinião pública, as condições se tomaram hoje, em muito ponderável medida, infensas a tal doutrinação. Decresceu visivelmente o poder persuasivo da dialética e da propaganda comunista doutrinária integral e ostensiva. Assim se explica que, em nossos dias, a propaganda comunista procure cada vez mais fazer-se de modo camuflado, suave e lento. Tal camuflagem se faz ora difundindo os princípios marxistas, esparsos e velados, na literatura socialista, ora insinuando na própria cultura que chamaríamos "centrista" princípios que, à maneira de germens, se multiplicam levando os centristas à inadvertida e gradual aceitação de toda a doutrina comunista.

B. Declínio do poder de liderança revolucionária À diminuição do poder persuasivo direto do credo vermelho sobre as multidões, que o recurso a esses meios oblíquos, lentos e trabalhosos denota, junta-se um correlato declínio no poder de liderança revolucionária do comunismo. Examinemos cqmo se manifestam esses fenômenos correlatos e quais os frutos deles. - Ódio, luta de classes, Revolução Essencialmente, o movimento comunista é e se considera uma revolução nascida do ódio de classes. A violência é o método mais coerente com ela. É o método AGOSTO 1992

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Moscou, 6 de novembro de 1990. Na própria comemoração da revolução bolchevista, cartaz anti-leninista na ex-URSS: sintoma do desprestígio do credo comunista no então público soviético. Usando um cabo de aço, os romenos removem a estátua de Lenin em Bucareste


As conversações Reagan-Gorbachev e os acordos delas resultantes constituem exemplos frisantes das táticas "amistosas" e desprevenidas empreendidas por lideres ocidentais em relação ao comunismo

No transcurso destes vinte anos, a violência foi dando aos comunistas vantagens cada vez menores. Para provdrlo, bast,a lembrar o malogro invariável das guerrilhas e do terrorismo disseminados pel,a América Latina

direto e fulminante, do qual os mentores do comunismo esperavam, com o mínimo de riscos, o máximo de resultados, no mínimo de tempo. O pressuposto deste método é a capacidade de liderança dos vários PCs, pela qual lhes era dado criar descontentamentos, transformar estes descontentamentos em ódios, articular estes ódios numa imensa conjuração, e levar assim a cabo, com a força "atômica" do ímpeto desses ódios, a demolição da ordem atual e a implantação do comunismo.

- Declínio da liderança do ódio, e do uso da violência Ora, também esta liderança do ódio vai escapando das mãos dos comunistas. Não nos alongamos aqui na explicação das complexas causas do fato. Limitamonos a notar que, no transcurso destes vinte anos, a violência foi dando aos comunistas vantagens cada vez menores. Para prová-lo, basta lembram malogro invariável das guerrilhas e do terrorismo disseminados pela América Latina. É bem verdade que, na África, a violência vem arrastando quase todo o continente em direção ao comunismo. Mas esse fato muito pouco diz a respeito das tendências da opinião pública no resto do mundo. Pois o primitivismo da maior parte das populações aborígenes daquele continente as coloca em condições peculiares e inconfundíveis. E a violência ali não tem obtido adeptos por motivações principalmente ideológicas, mas por ressentimentos anticolonialistas, dos quais a propaganda comunista soube valer-se com sua costumeira astúcia. CATOLICISMO

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- Fruto e prova des'se declínio: a Ili Revolução se metamorfoseia em revolução risonha A prova mais clara de que a III Revolução vem perdendo nos últimos vinte ou trinta anos sua capacidade de criar e liderar o ódio revolucionário é a metamorfose que ela se impôs. Quando do degelo pós-staliniano, a III Revolução afivelou uma sorridente máscara, de polêmica se tomou dialogante, simulou estar mudando de mentalidade e de temperamento, e se abriu para toda espécie de colaborações com os adversários que antes tentava esmagar pela violência. Na esfera internacional, a Revolução passou assim, sucessivamente, da guerra fria para a coexistência pacífica, depois para a "queda das barreiras ideológicas", e por fim para a franca colaboração com as potências capitalistas, rotulada, no linguajarpublicitário, deOstpolitikou de détente. Na esfera interna dos vários países do Ocidente, a "politique de la main tendue", que fora, na era de Stalin, um mero artifício para embair pequenas minorias católicas esquerdistas, transformou-se numa verdadeira détente entre comunistas e pró-capitalistas, meio ideal usado pelos vermelhos para entabolar relações cordiais e aproximações dolosas com todos os seus adversários, quer pertençam estes à esfera espiritual, quer à temporal. Veio daí uma série de táticas "amistosas", como a dos companheiros-de-viagem, a do eurocomunismo legalista, afável e prevenido em relação a Moscou, a do compromisso histórico etc. Como já dissemos, todos estes estratagemas apresentam, hoje em dia, vantagens para a III Revolução. Mas estas são lentas, graduais, e subordinadas, em sua frutificação, a mil fatores variáveis. No auge de seu poder, a III Revolução deixou de ameaçar e agredir, e passou a sorrir e pedir. Ela deixou de avançar em cadência militar e usando bota de cossaco, para progredir lentamente, com passo discreto. Ela abandonou o caminho reto sempre o mais curto - e escolheu um ziguezague no decurso do qual não faltam incertezas. - Que imensa transformação em vinte anos!

C. Objeção: os sucessos comunistas na Itália e na França Mas - dirá alguém - os sucessos alcançados pelo comunismo por meio da

A brutalidade comunista chocou o Ocidente. Por isso, os principais líderes vermelhos fizeram manobras para tentar recuperar a simpatia perdida. Lenin (esquerda) lançou a NEP (''Nova Política Econômica"), com concessões ao sistema econômico pré-revolucionário. Stalin (centro) dissolveu a III Internacional, suscit,ando ingênuo entusiasmo em todo o mundo livre. Kruschev (direita) promoveu o chamado "degelo",

arrancando ainda maiores aplausos. Mas tais manobras não foram suficientes para desarmar psicologicamente o Ocidente. Foi s assim que Gorbachev sentiu a necessidade de ir bem mais além, e lançou a imensa cartada política da perestroika: a maior jogada psicológica da história do comunismo, que vem precipitando a este num complicado processo de metamorfose.


aludida tática, quer na Itália, quer na Fran,, ça, não permitem afirmar que o mesmo esteja em retrocesso no mundo livre. Ou que, pelo menos, seu progresso seja mais lento do que o do carrancudo comunismo das eras de Lenin e de Stalin. Antes de tudo, a tal objeção deve-se responder que as eleições. gerais na Suécia, Alemanha Ocidental e Finlândia, bem como as eleições regionais e a atual instabilidade do gabinete trabalhista na Inglaterra, falam bem da inapetência das grandes massas em relação aos "paraísos" socialistas, à violência comunista etc.•. * Essa tão vasta saturação anti-socialista na

O comunismo internacional se viu compelido por grandes modificações de profundidade na opinião pública, a dissimular seu rancor, bem como a fingir ter desistido das guerras e das revoluções

Europa Ocidental, se bem que seja fundamentalmente um revigoramento do centro e não da direita, tem um alcance indiscutível na luta entre a Revoluçã,o e a Contra-Revoluçiio. Pois na m edida em que o socialismo europeu sinta que vai perdendo as suas bases, seus chefes terão de ostentar distanciamento e até desconfiança em relação ao comunismo. Por sua vez, as correntes centristas, para não se confundir em, perante os seus próprios eleitorados, com os socialistas, terão que manifestar uma posição anticomunista ainda mais acentuada que a destes últimos. E as alas direitas dos partidos centristas terão de se declarar até militantemente anti-socialistas. Em outros termos, passar-se-á com as correntes esquerdistas e centristas favoráveis à colaboração com o comunismo o mesmo que ocorre com um trem quando a locomotiva é freada de modo brusco. O vagão imediatamente seguinte a esta recebe o choque e é projetado em direção oposta ao rumo que vinha seguindo. E, por sua vez, esse primeiro vagão comunica o choque, com análogo efeito, sobre o segundo vagão. E assim por diante até o fim do comboio. - A presente acentuação da alergia antisocialista será apenas a primeira manifestação de um fenômeno profundo, chamado a depauperar duravelmente o processo revolucionário? Ou será um simples espasmo ambíguo e passageiro do bom s,enso, dentro do caos contemporâneo? E o que os fatos até aqui ocorridos não nos permitem ainda dizer.

Há expressivos sintomas de que o exemplo desses países já começou a repercutir naquelas duas grandes nações católicas e latinas da Europa Ocidental, prejudicando assim os progressos comunistas. Mas, a nosso ver, é preciso sobretudo pôr em dúvida a autenticidade comunista das crescentes votações obtidas pelo PC

italiano ou pelo PS francês (e falamos do PS, já que o PC francês se acha estagnado). Quer um quer outro partido (PSF e PCI) está longe de se ter beneficiado apenas do voto de seu próprio eleitorado. Apoios católicos certamente consideráveis - e cuja amplitude real só a História revelará um dia em toda a extensão - têm criado, em torno do PC. italiano, ilusões, fraquezas, atonias e cumplicidades inteiramente excecionais. A projeção eleitoral dessas circunstâncias espantosas e artificiais explica, em larga medida, o crescimento do número de votantes pró-PC, muitos dos quais não são de nenhum modo eleitores comunistas. E cumpre não esquecer, na mesma ordem de fatos, a influência na votação, direta ou indireta, de certos Cresos, cuja atitude francamente colaboracionista em relação ao comunismo dá ocasião a manobras eleitorais das quais a III Revolução tira óbvio proveito. Análogas observações podem ser feitas em relação ao PS francês. 3. O ódio e a violência, metamorfoseados, geram a guerra psicológica revolucionária total

Para melhor apreendermos o alcance dessas imensas transformações ocorridas no quadro da m Revolução nos últimos vinte anos, será necessário analisarmos em seu conjunto a grande esperança atual do comunismo, que é a guerra revolucionária psicológica. Embora nascido necessariamente do ódio, e voltado por sua própria lógica interna para o uso da violência exercida por meio de guerras, revoluções e atentados, o comunismo internacional se viu compelido por grandes modificações de profundidade na opinião pública, a dissimular seu rancor, bem como a fingir ter desistido das guerras e das revoluções. Já o dissemos. Ora, se tais desistências fossem sinceras, de tal maneira ele se desmentiria a si próprio, que se autodemoliria. Longe disto, usa ele o sorriso tão-somente como arma de agressão e d~ guerra, e não extingue a violência, mas a transfere do campo de operação do físico e palpável, para o das atuações psicológicas impalpáveis. Seu objetivo: alcançar, no interior das almas, por etapas e invisivelmente, a vitória que certas circunstâncias lhe estavam impedindo conquistar de modo drástico e visível, segundo os métodos clássicos. Bem entendido, não se trata aqui de efetuar, no campo do espírito, algumas operações esparsas e esporádicas. Trata-se,

A partir da rebelião

pelo contrário, de uma verdadeira guerra de conquista - psicológica, sim, mas total - visando o homem todo, e todos os homens em todos os países. Como uma modalidade de guerra psicológica revolucionária, a partir da rebelião estudantil da Sorbonne, em maio de 1968, numerosos autores socialistas e marxistas em geral passaram a reconhecer a necessidade de uma forma de revolução prévia às transformações políticas e sócio-econômicas, que operasse na vida cotidiana, nos costumes, nas mentalidades, nos modos de ser, de sentir e de viver. É a chamada revolução cultural. Consideram eles que esta revolução, preponderantemente psicológica e tendencial, é uma etapa indispensável para se chegar à mudança de mentalidade que tornaria possível a implantação da utopia igualitária, pois, sem tal preparação, a transformação revolucionária e as conseqüentes "mudanças de estrutura" tornar-seiam efêmeras. O referido conceito de re;volução cultural abarca, com impressionante analogia, o mesmo campo já designado por Revolução e Contra-Revolução, em 1959, como próprio da Revolução nas tendências. Insistimos no conceito de guerra revolucionária psicológica total.

Com efeito, a guerra psicológica visa a psique toda do homem, isto é, "trabalha-o" nas várias potências de sua alma, e em todas as fibras de sua mentalidade. Ela visa todos os homens, isto é, tanto partidários ou simpatizantes da III Revolução, quanto neutros ou até adversários. Ela lança mão de todos os meios, a cada passo é-lhe necessário dispor de um fator específico para levar insensivelmente cada grupo social e até cada homem a se aproximar do comunismo, por pouco que seja. E isto em qualquer terreno: nas convicções religiosas, políticas, sociais e econômicas, nas impostações culturais, nas preferências artísticas, nos modos de ser e de agir em família, na profissão, na sociedade.

A. As duas grandes metas da guerra psicológica revolucionária Dadas as atuais dificuldades do recrutamento ideológico da III Revolução, o mais útil de suas atividades se exerce, não sobre os amigos e simpatizantes, mas sobre os neutros irredutíveis e sobre os adversários: s a) iludir e adormecer paulatinamente os neutros irredutíveis; b) dividir a cada passo, desarticular, isolar, aterrorizar, difamar, perseguir e bloquear os adversários; - essas são, a nosso ver, as duas grandes metas da guerra psicológica revolucionária.

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estudantil da Sorbonne, em maio de 1968, numerosos autores socialistas passaram a reconhecer a necessidade, para a implantação da utopia igualitária, de uma f arma de revolução tendencial, prévia às transfarmações políticas e sócio-econômicas


Desta maneira a III Revolução toma-se . capaz de vencer, porém mais pelo aniqui' lamento do adversário do que pela multiplicação dos amigos. Obviamente, para conduzir esta guerra, mobiliza o comunismo todos os meios de ação com que conta, nos países ocidentais, graças ao apogeu em que nestes se acha a ofensiva da III Revolução.

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O maior dos êxitos alcançados pelo comunismo pós-stalinista sorridente foi o silêncio enigmático, desconcertante e espantoso, apocalípticamente trági,co do Concílio Vaticano II a respeito do comunismo

B. A guerra psicológica revolucionária total, uma resultante do apogeu da Ili Revolução e dos embaraços por que esta passa A guerra psicológica revolucionária total é, portanto, uma resultante da composição dos dois fatores contraditórios que já mencionamos: o auge de influência do comunismo sobre quase todos os pontos-chave da grande máquina que é a sociedade ocidental, e de outro lado o declínio da capacidade de persuasão e de liderança dele sobre as camadas profundas da opinião pública do Ocidente. 4. A ofensiva psicológica da Ili Revolução, na Igreja

Não seria possível descrever esta guerra psicológica sem tratar acuradamente do seu desenrolar naquilo que é a própria alma do Ocidente, ou seja, o cristianismo, e mais precisamente a Religião Católica, que é o cristianismo em sua plenitude absoluta e em sua autenticidade única. A. O Concílio Vaticano li Dentro da perspectiva de Revolução e ContraRevolução, o êxito dos êxitos alcançado pelo comunismo pós-staliniano sorridente foi o silêncio enigmático, desconcertante e espantoso, apocalipticamente trágico do Concílio Vaticano II a respeito do comunismo. Este Concílio se quis pastoral e não dogmático. Alcance dogmático ele realmente não o tev e. Além disto, sua omissão sobre o comunismo pode fazê-lo passar para a História como o Concílio apastoral. Explicamos o sentido especial em que tomamos esta afirmação.

Figure-se o leitor um imenso rebanho enlanguescendo em campos pobres e áridos, atacado de todas as partes por enxames de abelhas, vespas, aves de rapina. Os pastores se põem a regar a pradaria e a afastar os enxames. - Esta atividade pode ser qualificada de pastoral? - Em tese, por certo. Porém, na hipótese de que, ao mesmo tempo, o rebanho estivesse sendo atacado por matilhas de lobos vorazes, muitos deles com peles de ovelha, e os pastores se omitissem completamente de desmascarar ou de afugentar os lobos, enquanto lutavam contra insetos e aves, sua obra poderia ser considerada pastoral, ou seja, própria de bons e fiéis pastores? Em outros termos, atuaram como verdadeiros Pastores aqueles que, no Concílio Vaticano Il, quiseram espantar os adversários "minores", e impuseram livre curso - pelo silêncio - a favor do adversário "maior"? Com táticas "aggiornate" -das quais, aliás, o mínimo que se pode dizer é que são contestáveis no plano teórico e se vêm mostrando ruinosas na prática - o Concílio Vaticano II tentou afugentar, digamos, abelhas, vespas e aves de rapina. Seu silêncio sobre o comunismo deixou aos lobos toda a liberdade. A obra desse Concílio não pode estar inscrita, enquanto efetivamente pastoral, nem na História, nem no Livro da Vida. É penoso dizê-lo. Mas a evidência dos fatos aponta, neste sentido, o Concílio Vaticano Il como uma das maiores calamidades, se não a maior, da História da Igreja (cfr. Sennão de Paulo VI, de 29 de junho de 1972). A partir dele penetrou na Igreja, em proporções impensáveis, a "fumaça de Satanás", que se vai dilatando dia a dia mais, com a terrível força de expansão dos gases. Para escândalo de incontáveis almas, o Corpo Místico de Cristo entrou no sinistro processo da como que autodemolição. Sobre as calamidades na fase pósconciliar da Igreja, é de fundamental importância o depoimento histórico de Paulo VI na Alocução "Resistite fortes in fide", de 29 de junho de 1972, que citamos aqui na versão da Poliglotta Vaticana: "Referindo-se à situação da Igreja de hoje, o Santo Padre afirma ter a sensação de que 'por alguma fissura tenha entrado a fumaça de Satanás no templo de Deus'. Há - transcreve a Poliglotta

- a dúvida, a incerteza, o complexo dos problemas, a inquietação, a insa- tis/ação, o confronto. Não se confia mais na Igreja; confia-se no primeiro profeta profano [estranho à Igreja] que nos venha falar, por meio de algum jornal ou movimento social, a fim de correr atrás dele e perguntarlhe se tem a fórmula da verdadeira vida. E não nos damos conta de já a possuirmos e sermos mestres dela. Entrou a dúvida em nossas consciências, e entrou por janelas que deviam estar abertas à luz. .... "Também na Igreja reina este estado de incerteza. Acreditava-se que, depois do Concílio, viria um dia ensolarado para a História da Igreja. Veio, pelo contrário, um dia cheio de nuvens, de tempestade, de escuridão, de indagação, de incerteza. Pregamos o ecumenismo, e nos afastamos sempre mais uns dos outros. Procuramos cavar abismos em vez de soterrá-los. "Como aconteceu isto? O Papa confia aos presentes um pensamento seu: o de que tenha havido a intervenção de um poder adverso. Seu nome é diabo, este misterioso ser a que também alude São Pedro em sua Epístola" (cfr. Insegnamenti diPaolo VI, Tipografia Poliglotta Vaticana, vol. X, pp. 707-709). Alguns anos antes, o mesmo Pontífice, na Alocução aos alunos do Seminário Lombarda, no dia 7 de dezembro de 1968, havia afirmado que "a Igreja atravessa hoje um momento de inquietação. Alguns praticam a autocrítica, dir-se-ia até a autodemolição. É como uma perturbação interior, aguda e complexa, que ninguém teria esperado depois do Concílio. Pensava-se num florescimento, numa expansão serena dos conceitos amadurecidos na grande assembléia conciliar. Há ainda este aspecto na Igreja, o do florescimento. Mas, posto que 'bonum ex integra causa, malum ex quocumque defectu', fixa-stt a atenção mais especialmente sobre o aspecto doloroso. A Igreja é golpeada também pelos que dEla fazem parte" ( cfr. Insegnamenti diPaolo VI, Tipografia Poliglotta Vaticana, vol. VI, p. 1188). Sua Santidade João Paulo II traçou

também um panorama sombrio da situação da Igreja: "É necessário admitir realisticamente e com profunda e sentida sensibilidade que os cristãos hoje, em grande parte, sentem-se perdidos, confusos, perplexos e até desiludidos: foram divulgadas prodigamente idéias contrastantes com a Verdade revelada e desde sempre ensinada; foram difundidas verdadeiras e próprias heresias, no campo dogmático e moral, criando dúvidas, confusões e rebeliões; alterou-se até a Liturgia; imersos no 'relativismo' intelectual e moral e por conseguinte no permissivismo, os cristãos são tentados pelo ateísmo, pelo agnosticismo, pelo iluminismo vagamente moralista, por um cristianismo sociológico, sem dogmas definidos e sem moral objetiva" (Alocução de 6-2-81 aos Religiosos e Sacerdotes participantes do I Congresso Nacional Italiano sobre o tema "Missões ao Povo para os Anos 80", in "L'Osservatore Romano", 7-2-81). Em sentido semelhante pronunciou-se posteriormente o Emmo. Cardeal Joseph Ratzinger, Prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé: "Os resultados que se seguiram ao Concílio parecem cruelmente opostos às expectativas de todos, a começar do papaJoãoXXIII e depois de Paulo VI. .... Os Papas e os Padres conciliares esperavam uma nova unidade católica e, pelo contrário, se caminhou para uma dissensão que para usar as palavras de Paulo VI pareceu passar da autocrítica à autodemolição. Esperava-se um novo entusiasmo e, em lugar dele, acabou-se com demasiada freqüência no tédio e no desânimo. Esperava-se um salto para a frente e, em vez disso, encontramo-nos ante um processo de decadência progressiva .... ". E conclui: "Afirma-se com letras claras que uma rea h reforma da Igreja pressupõe um inequívoco abandono das vias erradas que levaram a conseqüências indiscutivelmente negativas " ( cfr. Vittorio Messori, A colloquio con il cardinale Ratzinger, Rapporto sul/a fede, Edizioni Paoline, Milano, 1985, pp . 27-28) .

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Cardeal Ratzinger: "Os Papas e os Padres conciliares esperavam· [após o Concílio] urna nova unidade católica e, pelo contrário, se caminhou rumo a urna dissensão que - para usar as palavras de Paulo VI - pareceu passar da autocrítica à autodemolição"


A ação das TFPs, existentes hoje nos cinco continentes, inspira-se no livro "Revolução e Contra-Revolução", do Prof Plinio Corrêa de Oliveira. Um dos asp~ctos da luta delas diz respeito ao prog;ressismo, que vai convertendo em lenhafacilrrtente incendiável pelos inimigos da religião a floresta outrora verdejante da Ig;rqa Católica. No Brasil, foram lances expressivos dessa luta anti-progressista entre outros - os históricos abaixo-assinados dirigidos a Paulo VI, pedindo providências contra a infiltração esquerdista no Clero e no laicato católicos da América do Sul. Tais abaixo-assinados obtiveram, em 1968, mais de 2 milhões de assinaturas. Na foto do alto, a sessão de encerramento de tal campanha do Brasil. No ano seguinte,

foram denunciados, com g;rande repercussão internacional, órgãos semi-clandestinos que propagavam a subversão na Ig;reja (foto da esquerda). Em 1982, a TFP brasileira apontou o carater esquerdizante das CEBs (Comunidades Eclesiais de Base). jamais refutada, a entidade prossegue com pujança crescente em sua rota contra-revolucionária. Desfo pujança é um expressivo exemplo a "Passeata da Fidelidade", realizada no início do corrente ano pela TFP, no centro da cidade de São Paulo, em comemoração pelos 500 anos da descoberta, evangelização e civilização das Américas (foto das duas páginas)


O progressismo, instalado por quase toda parte, vai convertendo em lenha facilmente incendiável pelo comunismo a floresta outrora verdejante da Igreja Católica D. Pedro Casaldál,iga, Bispo-Prelado de São Félix do Araguaia, recebe do advogado Jdibal Piveta o uniforme de guerrilheiro sandinista trazido da Nicarágua

A História narra os inúmeros dramas '\ , que a Igreja sofreu nos vinte séculos de sua existência. Oposições que germinaram fora dela, e de fora mesmo tentaram destruí-la. Tumores formados dentro dela, por ela cortados, e que já então de fora para dentro tentam destruí-la com ferocidade. - Quando, porém, viu a História, antes de nossos dias, uma tentativa de demolição da Igreja, já não mais feita por um adversário, mas qualificada de "autodemolição" em altíssimo pronunciamento de repercussão mundial? Daí resultou, para a Igreja e para o que ainda resta de civilização cristã, uma imensa derrocada. A Ostpolitik vaticana, por exemplo, e a infiltração gigantesca do comunismo nos meios católicos, são efeitos de todas estas calamidades. E constituem outros tantos êxitos da ofensiva psicológica da III Revolução contra a Igreja.

generosa e solícita dos governos ocidentais. Pois só fazendo tal denúncia seria possível evitar que o desmoronamento soviético chegasse à situação na qual se encontra hoje, isto é, um beco sem saída, onde tudo é miséria e imbroglio. De qualquer forma, é falso que a autodemolição da Igreja tenha apressado a autodemolição do comunismo, a menos que se suponha a existência de um tratado oculto entre ambos nesse sentido - uma espécie de pacto suicida - , tratado esse, para dizer pouco, carente de legitimidade e utilidade para o mundo católico. Isto para não mencionar tudo quanto essa mera hipótese contém de ofensivo aos Papas em cujos pontificados esta dupla eutanásia se teria verificado.

Hoje em dia, lendo estas linhas sobre a Ostpolitik, alguém poderia perguntar, ante a enorme transformação que houve n:a Rússia, se esta não resulta de uma jogada "genial" da Hierarquia eclesiástica. O Vaticano, baseado em informações do melhor quilate, teria previsto que o comunismo, corroído por crises internas, começaria por sua vez a autodemolir-se. E, para estimular o quartel-general mundial do ateísmo materialista a praticar essa autodemolição, a Igreja Católica, situada no outro extremo do panorama ideológico, teria simulado sua própria autodemolição. Com isto teria atenuado muito sensivelmente a perseguição que então sofria da parte do comunismo: entre moribundos certas conivências seriam concebíveis. A flexibilização da Igreja teria, pois, criado condições para a flexibilização do mundo comunista. Caberia responder que, se a Sagrada Hierarquia tinha noção de que o comunismo estava em condições tais de indigência e de ruína que seria obrigado a se autodemolir, ela deveria denunciar essa situação e convocar todos os povos do Ocidente a preparar as vias do que seria o saneamento da Rússia e do mundo, quando o comunismo caísse efetivamente, e não deveria calar sobre o fato, deixando que o fenômeno se produzisse à margem da influência católica e da cooperação

B. A Igreja, moderno centro de embate entre a Revolução e a Contra-Revolução Em 1959, data em que escrevemos Revolução e Contra-Revolução, a Igreja era tida como a grande força espiritual contra a expansão mundial da seita comunista. Em 1976, incontáveis eclesiásticos, inclusive Bispos, figuram como cúmplices por omissão, colaboradores e até propulsores da III Revolução. O progressismo, instalado por quase toda parte, vai convertendo em lenha facilmente incendiável pelo comunismo a floresta outrora verdejante da Igreja Católica. Em uma palavra, o alcance desta transformação é tal, que não hesitamos em afirmar que o centro, o ponto mais sensível e mais verdadeiramente decisivo da luta entre a Revolução e a Contra-Revolução se deslocou da sociedade temporal para a espiritual, e passou a ser a Santa Igreja, na qual, de um lado, progressistas, criptocomunistas e pró-comunistas, e de outro lado, antiprogressistas e anticomunistas se confrontam•.

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* Desde os anos 30, com o grupo que mais tarde fundou a TFP brasileira, empregamos o melhor d e nosso tempo e de nossas possibilidades de ação e de luta, nas batalhas precursoras do grande prélio interior da Igreja. O primeiro lance de envergadura nessa luta foi a publicação do livro Em Defesa da Ação Católica (Editora Ave Maria, São Paulo, 1943), que denunciava o ressurgimento dos erros modernistas incubados na Ação Católica do Brasil. Cabe mencionar também nosso posterior

No dia 19 de agosto de 1989, pela primeira vez abre-se uma brecha na Cortina de Ferro, entre a Hungria e a Alemanha. 600 pessoas precipitam-se por ela (foto abaixo), escapando da tirania vermelha. Era o prelúdio do êxodo maciço que culminou com a queda do Muro de Berlim. Hoje, fala-se da possivel invasão da Europa Ocidental por hordas de famintos vindos do Leste e do Magreb maometano. As diversas tentativas de incursão de desvalidos albaneses na Itália (a direita) teria sido como que um primeiro ensaio desta nova "invasão de bárbaros" no Velho Continente. Um entrechoque entre o Primeiro Mundo e o Terceiro poderá servir de camuflagem mediante a qual o comunismo, metamorfoseado, daria seqüência à luta de classes preconizada por Marx , ....,.


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No decurso de 1976, alcançou nove edições em diversos países o best-seller lançado pela TFP chilena "A Igreja do Silêncio no Chile - A TFP proclama a verdade inteira"

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estudo A Igreja ante a escala.da da ameaça comunista-Apelo aos Bispos silenciosos (Editora Vera Cruz, São P~ulo, 1976, pp. 37 a 53). Hoje, decorridos mais de quarenta anos, a luta está no seu clímax, e deixa prever desdobramentos de amplitude e intensidade difíceis de medir. Nesta luta sentimos com alegria a presença, nos quadros da TFP e entidades afins, de tantos novos irmã<:>s de ide~l, em mais de vinte países, nos cmco contlnentes. Também no campo de batalha é legítimo que os soldados do bem se digam uns aos outros: "Quam bonum et quam jucundum habitare fratres in unum" - Quão bom e quão suave é viverem os irmãos em união (Sl. 132, 1).

C. Reações baseadas em #Revolução e Contra-Revolução" À vista de tantas transformações, a eficácia de Revolução e Contra-Revolução ficou anulada? - Pelo contrário. Em 1968, as TFPs até então existentes na América do Sul, inspiradas na Parte II deste ensaio - "A Contra-Revolução" organizaram um conjunto de abaixo-assinados a Paulo VI, pedindo providências contra a infiltração esquerdista no Clero e no laicato católicos da América do Sul. No seu total, esses abaixo-assinados alcançaram durante o período de 58 dias, no Brasil, Argentina, Chile e Uruguai, 2.060.368 assinaturas. Foi, até aqui, ao que nos conste, o único abaixo-assinado de massa que-sobre qualquer tema-tenha englobado filhos de quatro nações da América do Sul. E em cada um dos países nos quais ele se realizou, foi - também ao que nos conste - o maior abaixo-assinado da respectiva história 2 . A resposta de Paulo VI não foi apenas o silêncio e a inação. Foi também- quanto nos dói dizê-lo - um conjunto de atos cujo efeito perdura até hoje, os quais dotam de prestígio e de facilidade de ação a muitos propulsores do esquerdismo católico. Diante desta maré montante da infiltração comunista na Santa Igreja, as TFPs e entidades afins não desanimaram. E, em 1974, cada uma delas publicou uma declaração 3 na qual exprimiam a sua inconfor-

midade com a Ostpolitik vaticana e seu propósito de "resistir-lheemface" (Gal. 2, 11). Uma frase da declaração, relativa a Paulo VI, exprime o espírito do documento: "E de joelhos, fitando com veneração a figura de S.S. o Papa Paulo VI, nós lhe manifestamos toda a nossa fidelidade. Neste ato filia~ dizemos ao Pastor dos Pastores: Nossa alma é Vossa, nossa vida é Vossa. Mandai-nos o que quiserdes. Só não mandeis que cruzemos os braços diante do lobo vermelho que investe. A isto nossa consciência se opõe". Não satisfeitas com esses lances, as TFPs e entidades afins promoveram nos respectivos países, no decurso deste ano, nove edições do best-seller da TFP andina . ' A Igre1a do Silêncio no Chile -A TFP proclama a verdade inteira•. * Esta obra, monumental por sua documen-

tação, por sua argumentação e pelas teses que defende, teve uma precursora, e verdadeiramente épica, antes ainda da instalação do comunismo no Chile. Tra~-se_do livro de Fábio Vidigal Xavier da S1lv:ira, Frei, o Kerensky chileno, que denunciou a colaboração decisiva do Partido Democrata Cristão do país andino, e do falecido líder pedecista Eduardo Frei, então Presidente da República, na preparação da vitória marxista. O livro teve dezessete edições, transpondo a casa dos cem mil exemplares, nos seguintes países: Brasil, Argentina, Equador, Colômbia, Venezuela e Itália.

Em quase todos esses países, a respectiva edição foi precedida de um prólogo descrevendo múltiplos e impressionantes fatos locais consoantes com o que ocorrera no Chile. A acolhida desse grande esforço publicitário pode-se dizer vitoriosa: ao todo foram impressos 56 mil exemplares, só na América do Sul, onde, nos países mais populosos, a edição de um livro dessa natureza, quando boa, costuma consistir em cinco mil exemplares. Na Espanha, foi efetuado um impressionante abaixo-assinado de mais de mil sacerdotes seculares e regulares de todas as regiões do país manifestando à Sociedade

NOTAS DA REDAÇÃO

2 - Posteriormente, em 1990, as TFPs dos vários países, reunidas, levaram a cabo o 1:1aior abaixo-assinado da História, pela h~,e~tação da Lituânia, então sob jugo sov1et1.co, obtendo a impressionante cifra de 5.212.580 assinaturas.

3 - Sob o título "A política de distensãJJ do Vaticano com os governos comunistas - Para a TFP: omitir-se? ou resistir?", essa declaração - ver~adeiro ~anifesto - foi publicada a partlr de abril de 1974, sucessivamente em 57 jornais de onze países.

Cultural Covadonga 4 seu decidido apoio ao corajoso prólogo da edição espanhola.

D. Utilidade da atuação das TFPs e entidades afins, inspirada em "Revolução e Contra-Revolução" Que utilidade prática tem tido, neste campo específico da batalha, a atividade contra-revolucionária das TFPs, inspirada em Revolução e Contra-Revolução? Denunciando à opinião católica o perigo da infiltração comunista, elas lhe têm aberto os olhos para as urdiduras dos Pastores infiéis. O resultado é que estes vão levando cada vez menos ovelhas nos cami~os da perdição em que se embrenharam. E o que uma observação dos fatos, ainda que sumária, permite constatar. Não é isto, só por si, uma vitória. Mas é uma preciosa e indispensável condição para ela. As TFPs dão graças a Nossa Senhora por estarem prestando, desta maneira, dentro do espírito e dos métodos de Revolução e Contra-Revolução, o seu contributo para a grande luta em que também outras forças sadias - uma ou outra de grande envergadura e capacidade de ação - se encontram empenhadas. 5. Balanço de vinte anos de Ili Revolução, segundo os critérios de "Revolução e Contra-Revolução"

Fica assim delineada a situação da III Revolução e da Contra-Revolução, como

Aspe_cto do_ III Encontro Internacional de Correspondentes e Szmp~tzzantes das TFPs que contou com participantes provenientes de numerosos países de todos os continentes realizado em junho de 1984, na capital paulista ' elas se apresentam pouco antes do vigésimo aniversário da publicação do livro. De um lado, o apogeu da III Revolução toma mais difícil do que nunca um êxito da Contra-Revolução a breve prazo. De outro lado, a mesma alergia anti-socialista, que constitui presentemente grave óbice para a vitória do comunismo, cria a médio prazo, para a Contra-Revolução, condições acentuadamente propícias. Cabe aos vários grupos contra-revolucionários esparsos pelo mundo a nobre responsabilidade histórica de as aproveitar. As TFPs têm procurado realizar sua parte do esforço comum, difundindo-se ao longo destes quase vinte anos pela América, com uma novel TFP na França, suscitando uma dinâmica organização afim na Península Ibérica e projetando seu nome e seus contatos em outros países do Velho Mundo, com vivos anseios de colaboração voltados para todos os grupos contra-revolucionários que nele pelejam s_ Vinte anos depois do lançamento de Revolução e Contra-Revolução, as TFPs e entidades afins se acham ombro a ombro com as organizações de primeira fila, na luta contra-revolucionária.

NOTAS DA REDAÇÃO

4 - Hoje se chama Sociedad Espanola de Defensa de la Tradición, Familia y Propiedad - TFP Covadonga. 5 - Até a data da presente edição, existem TFPs e e:1-tid,ad:s afins nos seguintes países: Brasil, Afnca do Sul, Alemanha, Argentina, .~.ustrália, Bolívia, Canadá, Colq~bia, Chile, Equador, Espanha, Estados Umdos, França, Paraguai, Peru, Portugal,

Uruguai e Venezuela. As quais também estabeleceram escritórios de representação nas seguintes cidades: Roma, Paris, Frankfurt, _Londres, Edimburgo, San José de Costa Rica, Sydney e Wellington (Nova Zelândia). Do mesmo modo, formou-se rec~ntemente nas Filipinas um grupo de am~gos das TFPs, de sensível força germinatlva.

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1. A IV Revolução prevista pelos autores da Ili Revolução

Nas tribos - como esta dos índios Gimi, na Papua-Nova Guiné - a coesão entre os membros é assegurada sobretudo por um comum sentir, do qual decorrem hábitos comuns e um comum querer. A razão está praticamente ausente

Capítulo III A Quarta Revolução que nasce O panorama que assim se apresenta não seria completo se negligenciássemos uma transformação interna na III Revolução. É a IV Revolução que dela vai nascendo. Nascendo, sim, à maneira de requinte matricida. Quando a II Revolução nasceu, requintou, venceu e golpeou de morte a primeira. O mesmo ocorreu quando, por processo análogo, a III Revolução brotou da segunda. Tudo indica ser chegado agora para a IIIRevolução o momento, ao mesmo tempo pinacular e fatal, em que ela gera a IV Revolução, e por esta se expõe a ser morta. - No entrechoque entre a III Revolução e a Contra-Revolução, haverá tempo para que o processo gerador da IV Revolução se desenvolva por inteiro? Esta última abrirá efetivamente uma etapa nova na história da Revolução? Ou será simplesmente um fenômeno abortivo, que vai surgindo e desaparecerá sem influência capital, no entrechoque entre a III R evolução e a Contra-Revolução? O maior ou .menor espaço a ser reservado para a IV Revolução nascente, nestas notas tão apressadas e sumárias, estaria na dependência da resposta a essa pergunta. Resposta essa, aliás, que, de modo cabal, só o futuro poderá dar. Ao que é incerto, não convém tratar como se tivesse uma importância certa. Consagremos aqui, pois, um espaço muito limitado ao que parece ser a IV Revolução.

Como é bem sabido, nem Marx, nem a generalidade de seus mais notórios sequazes; tanto "ortodoxos", como "heterodoxos", viram na ditadura do proletariado a etapa terminal do processo revolucionário. Esta não é, segundo eles, senão o aspecto mais quintessenciado, dinâmico, da Revolução universal. E, na mitologia evolucionista inerente ao pensamento de Marx e de seus seguidores, assim como a evolução se desenvolverá ao infinito no suceder dos séculos, assim também a Revolução não terá termo. Da I Revolução já nasceram duas outras. A terceira, por sua vez, gerará mais uma. E daí por diante ... É impossível prever, dentro da perspectiva marxista, como seria uma Revolução n2 XX ou n2 L. Não é impossível, entretanto, prever como será a IV Revolução. Essa previsão, os próprios marxistas já a fizeram. Ela deverá ser a derrocada da ditadura do proletariado em conseqüência de uma nova crise, por força da qual o Estado hipertrofiado será vítima de sua própria hipertrofia. E desaparecerá, dando origem a um estado de coisas cientificista e cooperativista, no qual - dizem os comunistas - o homem terá alcançado um grau de liberdade, de igualdade e de fraternidade até aqui insuspeitável. 2. IV Revolução e Tribalismo: uma eventualidade

- Como? - É impossível não perguntar se a sociedade tribal sonhada pelas atuais correntes estruturalistas não dá uma resposta a esta indagação. O estruturalismo vê na vida tribal uma síntese ilusória entre o auge da liberdade individual e do coletivismo consentido, na qual este último acaba por devorar a liberdade. Em tal coletivismo, os vários "eus" ou as pessoas individuais, com o seu pensamento, sua vontade e seus modos de ser, característicos e conflitantes, se fundem e se dissolvem segundo eles - na personalidade coletiva da tribo geradora de um pensar, de um querer, de um estilo de ser densamente comuns. Bem entendido, o caminho rumo a este estado de coisas tem de passar pela extinção dos velhos padrões de reflexão, volição e sensibilidade individuais, gradualmente substituídos por formas de sensibilidade, pensamento e deliberação cada vez mais coletivos. É, portanto, nes-

te campo, que principalmente a transformação se deve dar. - De que forma? - Nas tribos, a coesão entre os membros é assegurada sobretudo por um comum sentir, do qual decorrem hábitos comuns e um comum querer. A razão individual, nelas, fica circunscrita a quase nada, isto é, aos primeiros e mais elementares movimentos que seu estado atrofiado lhe consente. Pensamento selvagem (cfr. Claude LévyStrauss, La pensée sauvage, Plon, Paris, 1969), pensamento que não pensa e se volta apenas para o concreto. Tal é o preço da fusão coletivista tribal. Ao pajé incumbe manter, num plano místico, esta vida psíquica coletiva, por meio de cultos totêmicos carregados de "mensagens" confusas, mas "ricas" dos fogos fátuos ou até mesmo das fulgurações provenientes do misterioso mundo da transpsicologia ou da parapsicologia. É pela aquisição dessas "riquezas" que o homem compensaria a atrofia da razão. Da razão, sim, outrora hipertrofiada pelo livre exame, pelo cartesianismo etc., divinizada pela Revolução Francesa, utilizada até o mais franco abuso em toda escola de pensamento comurústa, e agora, por fim, atrofiada e tomada escrava a serviço do totenúsmo transpsicológico e parapsicológico ...

A. IV Revolução e preternatural "Omnes dii gentium daemonia" •, diz a Escritura (Sl. 95, 5). Nesta perspectiva estruturalista, em que a magia é apresentada como forma de conhecimento, até que ponto é dado ao católico divisar as fulgurações enganosas, o cântico a um tempo sinistro e atraente, emoliente e delirante, ateu e fetichisticamente crédulo com que, do fundo dos abismos em que eterna mente

jaz, o príncipe das trevas atrai os homens que negaram a Igreja de Cristo? * "Todos os deuses dos gentios são demônios".

É uma pergunta sobre a qual podem e devem discutir os teólogos. Digo os teólogos verdadeiros, ou seja, os poucos que ainda crêem na existência do demônio e do inferno. Especialmente os poucos, dentre esses poucos, que têm a coragem de enfrentar os escárnios e as perseguições publicitárias, e de falar.

B. Estruturalismo - Tendências pré-tribais Seja como for, na medida em que se veja no movimento estruturalista uma préfigura mais ou menos exata, mas em todo caso precursora da/V Revolução, detenninados fenômenos afins com ele, que se generalizaram nos últimos dez ou vinte anos, devem ser vistos, por sua vez, como preparatórios e propulsores do próprio ímpeto estrutura lista. Assim, a derrocada das tradições indumentárias do Ocidente, corroídas cada vez mais pelo nudismo, tende obviamente para o aparecimento ou consolidação de hábitos nos quais se tolerará, quando muito, a cintura de penas de ave de certas tribos, alternada, onde o frio o exija, com coberturas mais ou menos à maneira das usadas pelos lapões. O desaparecimento rápido das fórmulas de cortesia só pode ter como ponto final a simplicidade absoluta (para empregar só esse qualificativo) do trato tribal. A crescente ojeriza a tudo quanto é raciocinado, estruturado e metodizado só pode conduzir, em seus últimos paroxismos, à perpétua e fantasiosa vagabundagem da vida das selvas, alternada, também

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"Todos os deuses dos gentios são demônios" (SL. 95,5)

No Ocidente, é acentuada a tendência para o nudismo, mediante a qual, de futuro, se tolerará quando muito a cintura de penas de aves usada em certas tribos


ela, cotn o desempenho instintivo e quase . mecânico de algumas atividades absoluta·~ 'mente indispensáveis à vida. A aversão ao esforço intelectual, à abstração, à teorização, ao pensamento doutrinário, só pode induzir, em fim de linha, a uma hipertrofia dos sentidos e da imaginação, a essa "civilização da imagem" para a qual Paulo VI julgou dever advertir a humanidade•. * "Nós sabemos bem que o homem moderno, saturado de discursos, se demonstra muitas vezes cansado de ouvir e, pior ainda, como que imunizado contra a palavra. Conhecemos também as opiniões de numerosos psicólogos e sociólogos, que afirmam ter o homem moderno ultrapassado já a civilização da palavra, que se tomou prar ticamente ineficaz. e inútil; e estar a viver, hoje em dia, na civilização da imagem" (cfr. Exor-

tação apostólica "Evangelii Nuntiandi", 812-75, Documentos Pontificios, nº 188, Vozes, Petrópolis, 1984, 6ª ed., p. 30).

este quadro oferece seu despretensioso contributo para as elucubrações dos espíritos dotados daquela ousada e peculiar finura de observação e análise que, em todas as épocas, proporciona a alguns homens prever o dia de amanhã.

D. A oposição dos banais Os outros farão, a esse propósito, o que em todas as épocas fizeram os espíritos banais e sem ousadia. Sorrirão e tacharão de impossíveis tais transformações, porque são de molde a alterar seus hábitos mentais. Porque elas aberram do bom senso, e aos homens banais, o bom senso parece a única via normal da História. Sorrirão incrédulos e otimistas ante essas perspectivas, como Leão X sorriu a propósito da trivial "querela de frades", que foi só o que conseguiu discernir na I Revolução nascente. Ou como o feneloniano Luís XVI sorriu ante as primeiras efervescências da II Revolu-

A aversão ao esforço intelectual, tão. comum . em crianças eyovens hipnotizados pelo video da TV, só pode conduzir, em fim de linha, à hipertrofia dos sentidos e da imaginação, com sério prejuízo para a razão São sintomáticos também os idílicos elogios, sempre mais freqüentes, a um tipo de "revolução cultural" geradora de uma sociedade nova pós-industrial, ainda mal definida, e da qual o comunismo chinês seria - como por vezes é apresentado um primeiro lampejo.

C. Despretensioso contributo Bem sabemos quanto são passíveis de objeções, em muitos de seus aspectos, os quadros panorâmicos, por sua natureza vastos e sumários como este. Necessariamente abreviado pelas delimitações de espaço do presente capítulo, CATOLICISMO

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ção, as quais se lhe apresentavam em esplêndidos salões palacianos, embaladas por vezes ao som argênteo do cravo, ou luzindo discretamente nos ambientes e nas cenas bucólicas à maneira do Hameau de sua esposa. Como sorriem, ainda hoje, otimistas, céticos, ante os manejes do risonho comunismo pós-staliniano, ou as convulsões que prenunciam a IV Revolução, muitos representantes altos, e até dos mais altos, da Igreja e do poder temporal no Ocidente. Se algum dia a III ou a IV Revolução tomarem conta da vida temporal da humanidade, acolitadas na esfera espiritual pelo

Já em 1977 previa o Prof Plinio Corr'êa de

Oliveira "a derrocada da ditadura do proletariado em conseqüência de uma nova crise, por força da qual o Estado hipertrofiado será vítima de sua hipertrofia" (v. pag. 24). Isto aconteceu ao pé da letra. O insígne filho da Santa Igreja previu também a instauração de "um estado de coisas cientificúta e cooperativ'ista, no qual - dizem os comun'istas - o homem terá alcançado um grau de liberdade, igualdade e fraternidade até aqui insuspeitável".

A sociedade tribal representaria uma síntese do auge da liberdade com o auge do coletiv'ismo. Para esta meta aponta a "revolução cultural" presentemente em curso em todo o mundo. A EC0-92, realizada no Rio de Janeiro e prestigiada por mais de cem chefes de estado, entre os quais o presidente Bush, tornou patente a sanha tribalista que se vale da preservação do meio-ambiente para conquistar posições.


canônica vai sendo substituída gradualmente pelo ascendente dos "profetas" mais ou menos pentecostalistas, congêneres, eles mesmos, dos pajés do estruturalo-tribalismo, com cujas figuras acabarão por se confundir. Como também com a tribo-célula estruturalista se confundirá, necessariamente, a paróquia ou a diocese progressista-pentecostalista.

Na Índia dos gurus, a comunidade ''Ashram da Santíssima Trindade", dirigida pelo monge beneditino inglês Beda Griffths, pratica uma "meditação". Paróquias com circunscrições territoriais vão se tornando obsoletas e tendem a ser substituídas por simples "grupos religiosos", sem autoridade canônica e inspirados por estranhos ''Profetas"

progressismo ecumênico, devê-lo-ão mais à incúria e colaboração destes risonhos e otimistas profetas do "bom senso", do que a toda a sanha das hostes e dos serviços de propaganda revolucionários. Profetas estes de um estranho gênero, pois suas profecias consistem em afirmar invariavelmente que "nada acontecerá". Essas várias formas de otimismo acabarão por contrastar de tal maneira com os fatos que se seguiram às anteriores edições de Revolução e Contra-Revolução que, para. sobreviver, os espíritos adeptos delas refugiar-seão na esperança falaz e meramente hipotética de que os últimos acontecimentos no Leste europeu determinarão o desaparecimento definitivo do comunismo, e portanto do processo revolucionário do qual este era, até há pouco, a ponta de lança. Sobre tais esperanças, ver os incisos acrescentados nesta edição ao Capítulo II desta III Parte.

E. Tribalismo eclesiástico - Pentecostalismo Falemos da esfera espiritual. Bem entendido, também a ela a IV Revolução quer reduzir ao tribalismo. E o modo de o fazer já se pode bem notar nas correntes de teólogos e canonistas que visam trans_formar a nobre e óssea rigidez da estrutura eclesiástica, como Nosso Senhor Jesus Cristo a instituiu e vinte séculos de vida religiosa a modelaram magnificamente, num tecido cartilaginoso, mole e amorfo, de dioceses e paróquias sem circunscrições territoriais definidas, de grupos religiosos em que a firme autoridade

Nesta perspectiva, que tem algo de histórico e de conjectural, certas modificações de si alheias a esse processo poderiam ser vistas como passos de transição entre o statu quo pré-conciliar e o extremo oposto aqui indicado. Por exemplo, a tendência ao colegiado como modo de ser obrigatório de todo poder dentro da Igreja e como expressão de certa "desmonarquização" da autoridade eclesiástica, a qual ipsofacto ficaria, em cada grau, muito mais condicionada do que antes ao escalão imediatamente inferior. Tudo isto, levado às suas extremas conseqüências, poderia tender à instauração estável e universal, dentro da Igreja, do sufrágio popular, que em outros tempos foi por Ela adotado às vezes para preencher certos cargos hierárquicos; e, num último lance, poderia chegar, no quadro sonhado pelos tribalistas, a uma indefensável dependência de toda a Hierarquia em relação ao laicato, suposto porta-voz necessário da vontade de Deus. "Da vontade de Deus", sim, que esse mesmo laicato tribalista conheceria .através das revelações "místicas" de algum bruxo, guru pentecostalista ou feiticeiro; de modo que, obedecendo ao laicato, a Hierarquia supostamente cumpriria sua missão de obedecer à vontade do próprio Deus. 3. Dever dos contra-revolucionários ante a IV Revolução nascente

Quando incontáveis fatos se apresentam suscetíveis de serem alinhados de maneira a sugerir hipóteses como a do nascimento da IV Revolução, o que resta ao contra-revolucionário fazer? Na perspectiva de Revolução e ContraRevolução, toca-lhe, antes de tudo, acentuar a preponderante importância que no processo gerador desta IV Revolução, e no mundo dela nascido, cabe à Revolução nas

Sim, voltamos nossos olhos para a Senhora de Fátima, pedindo-Lhe quanto antes a contrição que nos obtenha os grandes perdões, a força para travarmos os grandes combates, e a abnegação para sermos desprendidos nas grandes vitórias que trarão consigo a implantação do Reino dEla. Vitórias estas que desejamos de todo coração, ainda que, para chegar até elas, a Igreja e o gênero humano tenham de passar pelos castigos apocalípticos - mas quão justiceiros, regeneradores e misericordiosos -por Ela previstos em 1917 na Cova da Iria

tendências. E preparar-se para lutar, não só no intuito de alertar os homens contra esta preponderância das tendências - fundamentalmente subversiva da boa ordem humana - a que assim se vai procedendo, como a usar, no plano tendencial, de todos os recursos legítimos e cabíveis para combater essa mesma Revolução nas tendências. Cabe-lhe também observar, analisar, prever os novos passos do processo, para ir opondo, tão cedo quantb possível, todos os obstáculos contra a suprema forma de guerra psicológica revolucionária, que é a IV Revolução nascente. Se a IV Revolução tiver tempo para desenvolver-se antes que a III Revolução tente sua grande aventura, talvez a luta contra ela exija a elaboração de um novo capítulo de Revolução e Contra-Revolução. E talvez esse capítulo ocupe por si só um volume igual ao aqui consagrado às três revoluções anteriores. Com efeito, é próprio aos processos de decadência complicar tudo, quase ao infinito. E por isso cada etapa da Revolução é mais complicada que a anterior, obrigando a Contra-Revolução a esforços paralelamente mais pormenorizados e complexos.

N

essas perspectivas sobre a Revolução e a Contra-Revolução, e sobre o futuro deste trabalho em face de uma e de outra, encerramos as presentes considerações.

Incertos, como todo o mundo, sobre o dia de amanhã, erguemos em atitude de prece os nossos olhos até o trono excelso de Maria, Rainha do Universo. Enquanto nos sobem aos lábios, adaptados a Ela, as palavras do Salmista dirigidas ao Senhor: "Ad te levavi oculos meos, quae habitas in Caelis. Ecce sicut oculi servorum in manibus dominorum suorum, sicut oculi anc illae in manibus dominae suae; ita oculi nostri adDominamMatrem nostram donec misereatur nostri" (cfr. Ps. 122, 1-2)*. * "Levanto m eus olhos p ara ti, que habitas

nos Céus. Vede que, assim como os olhos dos servos estão fixos nas mãos dos seus senhores, como os olhos da escrava nas mãos d e sua senhora, assim nossos olhos estão fixos na Senhora, Mãe nossa, até que Ela tenha misericórdia de nós".

Sim, voltamos nossos olhos para a Senhora de Fátima, pedindo-Lhe quanto antes a contrição que nos obtenha os grandes perdões, a força para travarmos os grandes combates, e a abnegação para sermos desprendidos nas grandes vitórias que trarão consigo a implantação do Reino dEla. Vitórias estas que desejamos de todo coração, ainda que, para chegar até elas, a Igreja e o gênero humano tenham de passar pelos castigos apocalípticos - mas quão justiceiros, regeneradores e misericordiosos por Ela previstos em 1917 na Cova da Iria.

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A Imagem Peregrina de Nossa Senhora deFátimaque lacrimou milagrosamente em Nova Orleans (EUA), há 20 anos - em visita à Sede do Conselho Nacional da TFP, na capital paulista. Na crise contemporânea, é mais do que oportuno invocarmos a Virgem de Fátima, utilizando-nos da frase do salmista: "Levanto meus olhos para Ti, que habitas nos Céus"


Posfácio de 1992

Conclusão nterrompemos a parte final de Revolução e Contra-Revolução, edição brasileira de 1959, para atualizar, nas páginas que precedem, o texto original.

"A mediação universal e onipotente da Mãe de Deus é a maior razão de esperança dos contra-revolucionários. E em Fátima Ela já lhes deu a certeza da vitória, quando anunciou que, ainda mesmo depois de um eventual surto do comunismo no mundo inteiro, 'por fim seu Imaculado Coração triunfará'.

I

Isto feito, perguntamo-nos se a pequena Conclusão do texto original de 1959 e das edições posteriores ainda merece ser mantida, ou se comporta, pelo menos, alguma modificação. Relemo-la com cuidado. E chegamos à persuasão de que não há motivo para não mantê-la, bem como não há razão para alterá-la no que quer que seja.

"Aceite a Virgem, pois, esta homenagem filial, tributo de amor e expressão de confiança absoluta em seu triunfo. "Não quereríamos dar por encerrado o presente artigo, sem um preito de filial devotamento e obediência irrestrita ao ·'doce Cristo na terra', coluna e fundamento infaUvel da Verdade, Sua Santidade o Papa João XXII/.

Dizemos, hoje, como dissemos então:

"Na realidade, por tudo quanto aqui se disse, para uma mentalidade posta na lógica dos princípios contra-revolucionários, o quadro de nossos dias é muito claro. Estamos nos lances supremos de uma luta, que chamaríamos de morte se um dos contendores não fosse imortal, entre a Igreja e a Revolução. Filhos da Igreja, lutadores nas lides da Contra-Revolução, natural é que, ao cabo deste trabalho, o consagremos filialmente a Nossa Senhora.

"'Ubi Ecclesia ibi Christus, ubi Petrus ibi Ecclesia '. É pois para o Santo Padre que se volta todo o nosso amor, todo o nosso entusiasmo, toda a nossa dedicação. É com estes sentimentos, que animam· todas as páginas de 'Catolicismo' desde sua fundação, que nos abalançamos também a publicar este trabalho. "Sobre cada uma das teses que o constituem, não temos em nosso coração a menor dúvida. Sujeitamo-las todas, porém, irrestritamente ao juízo do Vigário de Jesus Cristo, dispostos a renunciar de pronto a qualquer delas, desde que se distancie, ainda que de leve, do ensinamento da Santa Igreja, nossa Mãe, Arca da Salvação e Porta do Céu".

"A primeira, a grande, a eterna revolucionária, inspiradora e fautora suprema desta Revalução, como das que a precederam e lhe sucederem, é a Serpente, cuja cabeça foi esmagada pela Virgem Imaculada. Maria é, pois, a Padroeira de quantos lutam contra a Revolução.

C

om as palavras anteriores concluí as várias edições de Revolução e Contra-Revolução aparecidas desde 1976. Ao ler essas palavras, quem tem em mãos a presente edição, aparecida em 1992, se perguntará necessariamente em que pé se encontra hoje o processo revolucionário. Vive ainda a/// Revolução? Ou a queda do império soviético permite afirmar que a IV Revolução já está em vias de irromper no mais profundo da realidade política do Leste europeu, ou mesmo que já venceu? É necessário distinguir. Nos presentes dias, as correntes que propugnam a implantação da IV Revolução se estenderam - em formas embora diversas - ao mundo inteiro, e manifestam, mais ou menos por todas as partes, uma sensível tendência a avolumar-se. Nesse sentido, a IV Revolução vai num crescendo promissor para os que a desejam, e ameaçador para os que se batem contra ela. Mas haveria evidente exagero em dizer que a ordem de coisas atualmente existente na ex-URSS já é totalmente modelada segundo a IV Revolução e que ali nada mais resta da/// Revolução. A IV Revolução, se bem que inclua também o aspecto político, é uma Revolução que a si mesma se qualifica de "cultural", ou seja, que abarca grosso modo todos os aspectos do existir humano. Assim, os entrechoques políticos que venham a surgir entre as nações que compunham a URSS poderão condicionar fortemente a IV Revolução, mas é difícil que os mesmos e imponham de modo dominante aos acontecimentos, isto é, a todo o conjunto de atos humanos que a "revolução cultural" comporta. Mas, e a opinião pública dos países que até ontem eram soviéticos (e que em bom número ainda são governados por antigos comunistas)? Não tem ela algo a dizer sobre isto, já que representou, segundo Revolução e Contra-Revolução, um papel tão grande nas Revoluções anteriores?

A resposta a essa pergunta se dá por meio de outras: Há verdadeiramente opinião pública naqueles países? Pode ela ser engajada num processo revolucionário sistemático? Em caso negativo, qual é o plano dos mais altos dirigentes nacionais e internacionais do comunismo acerca do rumo que se deve dar a essa opinião? É difícil responder a todas essas perguntas, dado que neste momento a opinião pública daquilo que foi o mundo soviético se apresenta evidentemente átona, amorfa, imobilizada sob o peso de 70 anos de ditadura total, na qual cada indivíduo temia, em muitos ambientes, enunciar sua opinião religiosa ou política a seu parente mais próximo ou a seu mais íntimo amigo, porque uma provável delação - velada ou ostensiva, verídica ou caluniosa - poderia lançá-lo em trabalhos forçados sem fim, nas geladas estepes da Sibéria. Entretanto, em qualquer caso, é necessário responder a essas perguntas antes de elaborar prognósticos sobre o curso dos acontecimentos no que foi o mundo soviético. Soma-se a isso que os meios internacionais de comunicação continuam a referir-se, como já disse, à eventual migração de hordas famintas, semi-civilizadas (o que equivale a dizer semi-bárbaras) aos bem abastecidos países europeus, que vivem no regime consumista ocidental. Pobre gente, cheia de fome e vazia de idéias, que então entraria em choque com o mundo livre, sem compreendê-lo - mundo este que, em certos aspectos, poderia ser qualificado de uper-civilizado e, em outros, de gangrenado! O que resultaria desse entrechoque, quer na Europa invadida, quer, por reflexo, no antigo mundo soviético? Uma Revolução autogestionária, cooperativista, estruturalo-tribalista ( cfr. Parte III, Capítulo II, inciso acrescentado nesta edição ao item 1-B),

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Os shows de rock "metal pesado" são indícios precursores do mundo de anarquia total, de caos e de horror, enfim, do que se poderia denominar a V Revolução satânica por escrever uma série de artigos para uma cadeia de vários jornais do mundo capitalista, mundo este em cujas altas esferas continua a encontrar apoios inexplicáveis. E a fazer uma viagem aos Estados Unidos, cercado de grande aparato publicitário, a fim de conseguir fundos para a chamada Fundação Gorbachev. Assim, enquanto Gorbachev está na penumbra em sua própria pátria - e, mesmo no Ocidente, vem tendo seu papel seriamente questionado - , magnatas ocidentais se empenham de diversos modos em manter as luzes de uma lisonjeira publicidade assestadas sobre o homem da perestroika, o qual, entretanto, durante toda a sua carreira política insistiu em dizer que essa reforma por ele proposta não é o oposto do comunismo, mas um requinte deste (cfr. Parte III, Capítulo II, Nº 1, B). Quanto à frouxa federação soviética que agonizava quando Gorbachev foi precipitado do Poder, acabou por se transformar em uma quase imaginária "Comunidade de Estados Independentes", entre cujos componentes se vêm acendendo sérias fricções, as quais causam preocupação a homens públicos e a analistas políticos. Tanto mais quanto várias dessas repúblicas ou republiquetas possuem armamentos atômicos que podem disparar, umas contra as outras (ou contra os adversários do Islã, cuja influência no mundo ex-soviético cresce dia a dia), com vivas apreensões para os que se preocupam com o equilíbrio planetário.

ou, diretamente, um mundo de anarquia total, de caos e de horror, que não vacilaríamos em qualificar de V Revolução? No momento em que esta edição vem a lume é manifestamente prematuro responder a tais perguntas. Mas o futuro se nos depara tão carregado de imprevistos que amanhã talvez já seja demasiadamente tarde para fazê-las. Pois, qual seria a utilidade dos livros, dos pensadores, do que, enfim, reste de civilização, em um mundo tribal no qual estivessem desatados todos os furacões das paixões humanas desordenada~ e todos os delírios dos "misticismos" estruturalo-tribalistas? Trágica situação essa, na qual ninguém seria alguma coisa, sob o império do Nada ...

G

orbachev continua em Moscou. E lá permanecerá, pelo menos enquanto não se decida a aceitar os convites altamente promocionais que se açodaram a.lhe fazer, pouco depois de sua queda, os reitores das prestigiosas Universidades de Harvard, Stanford e Boston 1 . Isto, se ele não preferir aceitar a hospedagem régia que lhe ofereceu Juan Carlos 1, Rei da Espanha, no célebre Palácio de Lanzarote, nas Ilhas Canárias 2, ou a cátedra a que fora convidado pelo famoso College de France 3 • Ante tais alternativas, o ex-líder comunista, derrotado no Oriente, parece só ter o embaraço de escolha entre os convites mais lisonjeiros no Ocidente. Até o momento, ele apenas se decidiu

Os efeitos dessas eventuais agressões atômicas podem ser múltiplos. Entre eles, principalmente, o êxodo de populações contidas outrora pelo que foi a Cortina de Ferro, e que, premidas pelos rigores de um inverno habitualmente inclemente e pelos riscos de catástrofes imensas, podem sentir redobrados impulsos para "pedir" a hospitalidade da Europa Ocidental. E não só dela, mas também de nações do continente americano ... Em abono dessas perspectivas, no Brasil, o sr. Leonel Brizola, governador do Estado do Rio de Janeiro, com aplauso do ministro da Agricultura do Governo Federal, propôs atrair lavradores do Leste europeu, dentro dos programas oficiais de Reforma Agrária 4 • Em seguida, o Presidente da Argentina, Carlos Menem, em contatos com a Comunidade Econômica Européia, manifestou-se disposto a que seu país acolha muitos milhares desses imigrantes 5 • E, pouco depois, a titular da Chancelaria colombiana, sra. Nohemí Sanín, disse que o governo de seu país estuda a admissão de técnicos provenientes do Leste 6 • Até estes extremos podem chegar os vagalhões das invasões. E o comunismo? O que é feito dele? A forte impressão de que ele morrera apoderou-se da maior parte da opinião pública do Ocidente, deslumbrada ante a perspectiva de uma paz universal de duração indeterminada. Ou quiçá de uma duração perene, com o conseqüente desaparecimento do terrível fantasma da hecatombe nuclear mundial. Esta "lua de mel" do Ocidente com seu suposto paraíso de desanuviamento e de paz, vem rcfulgindo gradualmente menos. Com efeito, referimo-nos pouco atrás às agressões de toda ordem que relampagueiam nos territórios da finada URSS. Cabe-nos, pois, perguntar se o comunismo morreu. De início, as vozes que punham em dúvida a autenticidade da morte do comunismo foram raras, isoladas e escassas cm fundamentação. Aos poucos, de cá e de lá, sombras foram aparecendo no horizonte. Em nações da Europa Central e dos Bálcãs, como do próprio território da ex-URSS, foi -se notando que, em alguns casos, os novos detentores do Poder eram figuras de destaque do próprio Partido Comunista local. Exceto na Alemanha Oriental, a caminhada para a privatização, na maioria das

vezes, se vem fazendo a passos de cágado, lentos e sem rumo inteiramente definido. Ou seja, pode-se dizer que nesses países o comunismo morreu? Ou que ele entrou simplesmente nun;i complicado processo de metamorfose? Dúvidas a este respeito se vêm avolumando, enquanto os últimos ecos da alegria universal pela suposta queda do comunismo se vêm apagando discretamente. Quanto aos partidos comunistas existentes no Ocidente, murcharam de modo evidente, ao estampido das primeiras derrocadas na URSS. Mas já hoje vários deles começam a se reorganizar com rótulos novos. Esta mudança de rótulo é uma ressurreição? Uma metamorfose? Inclino-me de preferência por esta última hipótese. Certezas, só o futuro as poderá dar. Esta atualização do quadro geral em função do qual o mundo vai tomando posição, pareceu-me indispensável como tentativa de pôr um pouco de clareza e de ordem num horizonte em cujos quadrantes o que cresce principalmente é o caos. Qual é o rumo espontâneo do caos senão uma indecifrável acentuação de si próprio?

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m meio a esse caos, só algo não variará. É, em meu coração e em meus lábios, como no de todos os que vêem e pensam comigo, a oração transcrita um pouco acima: "Ad te levavi oculos meos, quae habitas in Caelis. Ecce sicut oculi servorum in manibus dominorum suorum, sicut oculi ancillae in manibus dominae suae; ita oculi nostri ad Dominam Matrem nostram donec misereatur nostri ". É a afirmação da invariável confiança da alma católica, genuflexa, mas firme, em meio à convulsão geral. Firme com toda a firmeza dos que, em meio da borrasca, e com uma força de alma maior do que esta, continuarem a afirmar do mais fundo do coração: "Credo in Unam, Sanctam, C atholicam et Apostolicam Ecclesiam ", ou seja, Creio na Igreja Católica, Apostólica, Romana, contra a qual, segundo a promessa feita a Pedro, as portas do inferno não prevalecerão. 1 - Cfr. "Folha de S. Paulo", 21-12-91. 2 - Cfr. "O Estado de S. Paulo", 11-1-92. 3 - Cfr. "Le Figaro", Paris, 12-3-92. 4- Cfr. "Jornal da Tarde", São Paulo, 27-12-91. 5 - Cfr. "Ambito Financiero", Buenos Aires, 19-2-92. 6 - Cfr. "El Tiempo", Bogotá, 22-2-92.

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PLINIO CORRM DE OLIVEIRA

Um homem de Fé, de pensamento, de luta e de ação

. P

línio Corrêa de Oliveira nasceu em São Paulo, em 1908. Descende de estirpes tradicionais dos Estados de Pernambuco-de onde procedia seu pai, o advogado João Paulo Corrêa de Oliveira - e de São Paulo - de onde era sua mãe, Lucilia Ribeiro dos Santos Corrêa de Oliveira. Fez seus estudos secundários no Colégio São Luiz, dos Padres Jesuítas, em São Paulo, e diplomou-se em 1930 em ciências jurídicas e sociais na renomada Faculcbde de Direito do Largo de S. Francisco, da mesma cidade. Desde c~do seu interesse foi despertado pela análise filosófica, religiosa e prática da crise contemporânea, da sua gênese e das suas conseqüências. Em 1928, ingressou no então pujante movimento dejovens das Congregações Marianas, de São Paulo. Ém breve tornou-se o mais destacado líder desse movimento em todo o B~il, salientando-se por seus dotes de orador, conferencista e homem de a~o. Em 1933, participou·ativatnente da organização da Liga Eleitoral Católica .(LEC), pela qual foi eleito para a Assembléia Federal Constituinte, tendo sido o deputado mais jovem e mais votado de todo o País. Atuou naquela Casa Legislativa como um dos principais expoentes da bancada católica. Cessado seu mandato, dedicou-se simultaneamente ao magistério universitário e ao jornalismo católico. Assumiu a cátedra de História da Civilização no Colégio Universitário da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo e, mais tarde, tornou-se professor catedrático de História Modernà e Contemporânea em duas Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras: São Bento e Sedes Sapientiae, ambas da Pontificia Universidade Católica de São Paulo. Exerceu o Magistério por longos anos. Foi o primeiro Presidente da Junta Arquidiocesana da Ação Católica de São Paulo, bem como principal colaborador e depois diretor (1935-1947) do semanário católico "Legionário", o qual, sob seu impulso, ocupou lugar de especial destaque na imprensa católica brasileira, tornando-se o órgão oficioso da Arquidiocese de São Paulo.

É o principal colaborador e inspirador geral deste mensário, desde a sua fundação, em 1951. Ainda como homem de imprensa, o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira colaborou assiduamente, entre os anos de 1968 e 1990, na "Folha de S. Paulo". Seus artigos costumam ser transcritos em vários órgãos da imprensa brasileira e de outros países da América e da Europa. Plínio Corrêa de Oliveira fez-se notar também como autor de quatorze livros, vários dos quais com edições em outras línguas (espanhol, francês, inglês, italiano, alemão, pplonês, húngaro e vietnamita). É autor igualmente de numerosos ensaios e manifestos, diversos deles traduzidos para outros idiomas, com grande repercussão no Exterior.

A

personalidade do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira projeta-se em todo o Brasil e fora dele como a de um homem de pensamento e de ação. Como intelectual, é o indiscutível mestre da doutrina contra-revolucionária, sobretudo com o seu fund~mental ensaio Revolução e Contra-Revolução. Ocupa ele um lugar de inegável destaque ~o panorama int~rnacional como propulsor e onen~do: dos mats ~otáveis~ em nossa época de reabzaçoes e de cnses, de apreensões e de catástrofes. Como homem de ação, é o líder mais.dinâmico na luta contra o comunismo, cuja metamorfose subseqüente à derrubada da Cortina de Ferro não tem deixado de denunciar. Sua principal realização até o momento foi a fundação - ocorrida em São Paulo, em 1960 _ da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição !a_mília e Propriedade (TFP). Tem ocupad~ mmterruptamente a presidência do Conselho N ~cio~al da entidade - a mais antiga das TFPs e msp1radora das demais - desde a sua fundação até o presente. Em 1980, o Conselho Nacional da TFP o declarou seu Presidente vitalício "nu~ freito da mais alta admiração, de imensd gratidao e de entranhada amizade ao fundador d TFP, coração e alma de toda a vida cívica a cultural da Sociedade, mestre e modelo de e . e coopera dores". seus s6ctos


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Anjos e governo do mundo material p. 22 ·,

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Discernindo, distinguindo, classificando ...

Ng 501 Setembro 1992

Assestando o foco

Polidez, caridade e Brasil A polidez com eça cedo. Aos 5 anos, o P ríncipe Charles, da Inglaterra, aj uda sua irmã a descer u m degrau

"A polidez é filha da caridade"

cialmente na "doçura de viver" da França do século XVIII. O que res tou da , polidez nessa m esma França, após sucessivas revoluções igualitárias nos costumes, a última das quais em 1968, na Sorbonne ?

(Plínio Corrêa de Oliveira)

E

pitáfio para a polidez, tal é o

O

p ensamento ac ima expresso é profundo e presta-se a r efl exões: O paganismo antig o desconh eceu a gentileza no trato . O conv ívio humano era ali o r esultado de m era r ela çã o de forças. O s qu e h aviam consegu ido m ~is pod er tratavam os inferiores como escravos, quando deles nec essitavam, senão os ignoravam completamente. Estes , por sua v ez, ou camuflavam sua inveja p ela bajulação, ou escond iam seu ódio no anonimato. E ntre iguai s vigor ava a des confi ança, e portanto a fri eza no trato , à espera do momento de um conseguir s uplantar o outro. Com a civilização católica tudo mudou . O servo da gl eba m edieval era quase um filho para o barão. O senhor feudal era o pai e protetor de seus servos. Floresceu a idéia de "dignidade dos filhos de Deus", de onde m esmo entre iguais o trato ser cheio de respeit o e amenidade: nascia a polidez. Nascia ela , filha desse amor de D eus que penetrou então toda a sociedade e que se chama caridade. E requintou-se depois, espe-

título do artigo que o jornalista Philippe Béneton fez publica r em "Le Figaro ", Paris, 13 de fevereiro de 1988. Diz ele:

"Tempo houve em que a polidez francesa brilhou na Europ a; hoje a imprensa estrangeira fala da 'vulgaridade francesa'. Os modos sofreram muito com a revolução dos costumes e das opiniões morais detonada nos anos 60 e desenvolvida dep ois. Os ritos e a linguagem da p olidez tendem a desaparecer. "Vai se tornando antiquado, sobretudo entre os jovens e os que querem parecer tais, chamar o outro de senhor ou senhora; pessoas que se conhecem há apenas dez minutos tratam -se simp lesmente p elos nomes. A igualdade pulveri.za as distinções e formalidades e impõe uma afetação de simpatia ou de camaradagem. Esta familiaridade simpática é inteiramente artificial, pois cada qual praticamente não se preocupa mais com seu semelhante. Em nosso mundo de iguais, os grosseirões torna ram-se legião: a porta que vos batem ao nariz, o rádio portátil que

incomoda 50 pessoas, os assentos ocupados por jovens enquanto os idosos estão de pé, os esbarrões sem p edido de desculpas. Quando desaparecem as distinções e a urbanidade, a desordem reina em favor dos mais fortes .... "Hoje os que dão o tom são, antes de tudo, os que falam e aparecem nas ondas do rádio e da TV. Ora, aí, ter atenções p ara com os outros não está mais na moda. "A verdadeira polidez é uma forma de resp eito ao p róximo. E la não introduz ap enas a ordem e a amabilidade nas relações humanas, mas eleva e protege os homens, ela honra a todos. A consideração devida a cada um protege o fraco. "A F rança aristocrática do século XVIII levou até o requinte e o artifício a arte da polidez. A França democrática de hoje caminha para o extremo oposto, distancia ndo-se mais e mais do saber-viver à francesa. Aparentemente nada mais resta senão redigir seu epitáfio: "Aqui jaz a polidez francesa. Flor de nossa sociedade. A estúpida igualdade foi sua doença. O poder do rádio e da TV deu-lhe o golpe de morte".

U

ma palavra apenas sobre o Brasil. O trato ameno e cordial sempre foi uma de nossas características mais salientes, hoj e em derrocada. A caridade católica, e só ela - retomando o pensamento do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira - poderá resgatar a polidez do cativeiro a que a relegaram os hábitos atuais, tão degradantes. Isto ainda é poss ível? Cumprindo-se a promessa de Nossa Senhora em Fátima , do triun fo universal de s eu Ima culad o Coração, por que não?!

C.A.

A propriedade rural estará extinta no ~rasil caso sejam aprovados pelo Senado dois projetos que regulamentam dispositivos constitucionais (artigos 184 a 191) sobre a Reforma Agrária. Na presente edição, apresentamos ampla matéria sobre esse tema. Durante quase dois anos, vários projetos de Reforma Agrária no tocante à definição do conceito de terra aproveitada foram propostos na Câmara de Deputados. Repentinamente, foram eles unidos cm um substitutivo e levados a plenário, num regime de urgência urgentíssima, havendo falta de quorum. Foi aprovado então pelo voto simbólico das lideranças, na sessão do dia 26 de junho, à tarde. Com o projeto que estabelece o rito sumário de desapropriação, votado no

dia 30 do mesmo'mês, tudo se passou de modo semelhante. A filosofia que inspira os dois projetos é que o proprietário rural precisa·ser tutelado pelo Estado, orientado pelo Estado, punido rigorosamente pelo Poder Público. Punição que, em todos os casos, é sempre a pena máxima, capital: a perda da propriedade, sem a justa e prévia indenização, através de um rito processual rápido e fulminante. Manipulando conceitos legislativos, estão sujeitas à desapropriação tanto propriedades grandes e médias, quanto as pequenas. Para ser produtiva a propriedade tem de cumprir o GUT - Grau de Utilização da Terra (igual ou superior a 80% da área aproveitável) e o GEF - Grau de Eficiência na Exploração (igual ou su-

índice Discernindo... Polidez, caridade e Brasil A Realidade Concisamente Quem não é cúmplice? Atualidade Jubileu de Prata de Sacerdócio Destaque Satanismo homicida Reforma Agrária Reforma Agrária súbita, através de galerias subterrâneas Brasil Real, Brasil Brasileiro "Le Monde" e o "jeitinho" Caderno Especial As tentações de Nosso Senhor Jesus Cristo História Sagrada No Monte Sinai, o Decálogo Comente, comente O que diria seu avô ... ? Internacional Eco '92: Aparência e Realidade profunda Religião Ação angélica quase desconhecida: O governo do universo material História Contradições em face do V Centenário do Descobrimento da América . Em painel Frases e imagens

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Catolicismo é uma publicação mensal da Editora Padre Be lchior de Pontes Lida.

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Diretor: . . Paulo Corrêa de Brito Filho Jornalista Responsável: Takao Takahashi Registrado na DRT-SP sob o Nº 13748

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Redação e Gerência: Rua Martim Francisco , 665 01226-001 - São Paulo , SP Tel : (011) 825 .7707

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Diagramação: Antonio Carlos F. Cordeiro

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Fotolitos: Microformas Fotolitos Lida. RuaJavaés,681-01130-010 São Paulo - SP

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Impressão: Gráfica Ed itora Camargo Soares Lida. Rua da Independência, 767 01524-001 - São Paulo, SP

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A correspondência relativa a assinatura e venda avulsa pode ser enviada ao endereço da Gerência de Catolicismo.

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ISSN - 0102-8502

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perior a 100% calculado por índices fixados pelo INCRA). O absurdo dessas normas legislativas fica evidente se se fizer sua transposição para outros setores da economia. Nessa lógica, a indústria teria, assim, que produzir 80% da sua capacidade instalada, com eficiência de 100% nos produtos fabricados, segundo critérios governamentais. O comércio, desde uma farmácia até um hipermercado, deveria vender até 80% de sua capacidade de faturamento e com aproveitamento total de seus funcionários. A seguir nessa trilha, em pouco tempo teríamos o controle mais ditatorial da História, semelhante ao que existiu até há pouco na Rússia soviética. Isso posto, como ficam os que dizem que o comunismo morreu?

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No dia 20 de maio p.p., transcorreu o jubileu de prata saQuem não é cúmplice? Não há quem desconheça os crimes do partido fundado por Lênin: expurgos, terrorismo, prisão e internamento forçado de dissidentes em hospitais psiquiátricos, execuções sumárias, processos forjados, estatizações forçadas ... O elenco não teria fim. O Supremo Tribunal da Rússia decidiu examinar alegalidade do PC, que exerceu por mais de 70 anos domínio · absoluto na extinta URSS. Makarov, assessor jurídico de Yeltsin, comparou o processo ao célebre julgamento dos nazistas em Nuremberg. O objetivo é demonstrar que o PCUS não passava de uma "organização criminosa". Vitali Tetriakov , diretor do influente jornal Nezavissimaya Gazeta - entre outros comentaristas ru ssos-fez logo notar, porém: "Onde encontraremos os juízes deste processo? Há muitas vítimas, testemunhas e cúmplices. Mas não há juízes preparados" . Como crer, de fato , na lisura e seriedade de um julgamento realizado em tais condições [numa soc iedade, pelo menos, "semi-comunista" por mentalidade e estrutura]? E ass inala Tetriakov'. "o atual regime .... assimilou muitas das funções e institutos do ex-sistema".

"Natureza" x lógica Em qualquer esfera de sua atividade, o normal agir humano pressupõe: princípio, meio e fim . Na ordem do

pensamento, já os gregos formulavam o raciocínio em termos de premissa maior, premissa menor e conclusão. Por exemplo: todo homem é mortal; ora, João é homem; logo, João é mortal. Hoje, porém , em nome do pós-modernismo, é prestigioso - crêem alguns - insurgir-se contra a elementar boa ordenação do espírito. Assim, por ocasião da Eco-92, o Príncipe Charles declarou ao "Expresso" (Lisboa): "Fomos todos ensinados a pensar de forma linear, com princípio, meio e fim. É certamente chegada a hora de repensar (sic!) tudo. Devemos, de fato, reaproximarmonos da Natureza .... Subsiste a experiência sábia (sic!) de um verdadeiro desenvolvimento entre povos tribais. É claro que não estou a defender qualquer espécie de regresso maciço às cavernas. Mas [significa que devemos] combinar a ciência moderna com a sabedoria tradicional".

grande presença na atmosfera de dióxido de carbono; daí a altíssima percentagem de tumores malignos existentes na população. Os ecologistas - quando se trata das conseqüências do comunismo - são pouco loquazes e verbosos nas "denúncias" ..

Preito ao terror? A legislação canônica vigente - conservando, ali ás, os princípios essenciais que já vigoravam em leis anteriores - proíbe que se celebre Missa por intenção de pecadores manifestos, aos quais não se possa conceder exéquias nem permitir a celebração de atos litúrgicos em sua memória, sem escândalo público dos fiéis . Em tais casos, é permitida apenas a celebração de Missa privada, na esperança de que o falecido possa ter-se arrependido à última hora. Causa espanto, em vista disso, o anúncio fúnebre publicado na edição de 30 de junho p.p ., da "Folha de S. Paulo", cujo teor é o seguinte: "O Movimento Revolucionário 8 de Outubro e a Juventude Revolucionária 8 de Outubro agradecem as manifestações de solidariedade recebidas e convidam companheiros e amigos para a Missa em memória de Antonio Alves, que será celebrada hoje, 30/6/92, às 19:00 hs., na Paróquia de Nossa Senhora da Consolação" O Movimento 8 de Outubro (MR-8) é uma conhecida organização terrorista, de orientação marxista.

Sem comentários ... O colapso do comunismo pôs em evidência desastres ecológicos inimagináveis provocados pelo regime na Rússia E no Leste Europeu. Sobre isso, porém, o Ocidente preferiu sempre s il enciar como o fez, aliás, tantas vezes ao longo das décadas, em relação à miséria e atrocidades sem conta produzidas pelo mesmo sistema. A revi sta "Time", em edição recente, enumera algumas dessas catástrofes que incidiram sobre o homem : - o rio Vístula, na Polônia, de tão poluído, não pode ser utilizado nem mesmo para fins industriais; - na cidade búlgara de Ruse, sete entre dez crianças sofrem de problemas pulmonares, da pele ou dos olhos, como conseqüência dos gases de cloro expelidos por uma usina junto ao rio Danúbio; - na Silésia - maciçamente poluída - , em razão do uso de certo carvão, há

Todo o acima descrito segundo nos consta - se passou sem nenhuma explicação ou reparo por parte da autoridade competente. E isso é o que causa maior perplexidade.

cerdotal do Revmo. Pe. José Olavo Pires Trindade, zeloso sacerdote que, há muitos anos, exerce profícuo ministério na cidade de Miracema (RJ). Para comemorar o grato evento, foi celebrada Missa festiva de ação de graças, no dia 24 daquele mês, às 17:00 hs., na capela Nossa Senhora de Fátima, localizada na mencionada cidade fluminense, sendo o oficiante do ato litúrgico o próprio homenageado. Durante a missa, o Coral Santa Joana D' Are, da mesma capela, entoou cânticos polifônicos de renomados autores sacros, especialmente dos séculos XVI e XVII. Logo a seguir, às 19:00hs., realizou-se brilhante sessão congratulatória no Clube da Sociedade Musical XX de Novembro. Aproximadamente mil pessoas lotaram o vasto auditório do clube, destacando-se a presença do Sr. Jairo Barroso Tostes, Prefeito Municipal de Miracema, do Dr. Paulo Rogério Lamarca, Presidente da Câmara Municipal, bem como da quase totali -

Jubileu de Prata de Sacerdócio dade de seus vereadores, além de personalidades de destaque da sociedade local. Durante a sessão, diversos números de canto foram entoados pelo Coral Santa Cecília, da cidade fluminense de Tacos, e pelo Coral das Camponesas do Menino Jesus, de Miracema. • Merece realce especial, nesse ato de homenagem, a apresentação de artístico audio-visual, o qual descortinou, como num painel, toda a vida do Revmo. Pe. Olavo Pires Trindade, desde os primeiros anos de seu ingresso no seminário até nossos dias.

Múmia brasileira Enquanto nos países devastados pelo comunismo as estátuas dos ídolos vermelhos - Lênin, Stalin etc. - foram derrubadas pelo povo, entre nós se verifica o contrário. Com efeito, a Secretaria Nacional de Cultura anuncia a concessão de incentivo fiscal ao Memorial Prestes - obra avaliada em 300 mil dólares por seu idealizador, Oscar Niemeyer, que a edificará em território cedido pela Prefeitura do Rio! Se o comunismo realmente desapareceu - como crêem ingênuos ou desavisados -, como explicar a apoteótica exaltação do irredutível e mumificado stalinista nonagenário, falecido há pouco?

Encerrando a solenidade, dentre vários oradores, usaram da palavra, além do presidente da Câmara Municipal, o Prof. Paulo Corrêa de Brito Filho, diretor desta revista e secretário do Conselho Nacional da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Farru1ia e Propriedade - TFP, representando a entidade e seu ilustre Presidente, Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Todos os oradores ressaltaram as marcantes virtudes do homenageado, dentre as quais são dignas de menção a firmeza de princípios doutrinários, que sempre pautou sua atuação sacerdotal, e a generosa dedicação à Causa da Santa Igreja, Católica, Apostólica, Romana. Em seu agradecimento, o Revmo. Pe. José Olavo Pires Trindade enalteceu a grandiosidade do sacerdócio católico e a admirável missão apostólica que dele decorre. Foto: Mesa de presidência da sess&J comemorativa do jubileu de praia sacerdotal. Da esquerda para a direita: Prof. Paulo Corrêa de Brito Fillw, Sr. Jairo Barroso Tostes, Pre{ eito Municipal de Miracema, Rev. P e. Antonio áe Paula, Rev . Pe.José O/avo Pires Trindade, Rev. Pe. DavidFranceschini, Dr. Paulo Roí{ério Lamarco, Presidente da Câmara Municipal

Satanismo homicida

"Explicado" por Leonardo Boff

Rituais satânicos, que culminam com o sacrifício de crianças, vêm sendo noticiados com destaque pela imprensa. A polícia paulista e o Serviço Funerário Municipal de São Paulo puseram-se a investigar a possível ação de grupos ligados à magia negra que estariam vendendo corpos de crianças recém-nascidas, mortas antes de serem batizadas. Em São Luiz do Maranhão, a Polícia Metropolitana está concentrando as buscas dos criminosos nos terreiros de umbanda. Na cidade, foram encontradas cinco crianças mortas num matagal, todos meninos entre 10 e 13 anos, cujos corpos mutilados da mesma forma, estavam deitados de bruços, nus, com os braços esticados para trás. No Paraná, têm havido casos inexplicáveis de desaparecimento de menores, podendo, segundo autoridades policiais, relacionar-se com o monstruoso crime de Guaratuba, ocorrido recentemente. Nessa cidade, um menino de 7 anos foi cruelmente assassinado num ritual de magia negra.

Egresso das fileiras "progressistas", um de seus mais bafejados representantes - Leonardo Boff, que acaba de renunciar à vida religiosa - emitiu, não um protesto veemente, não um brado de santo furor contra o crime atroz, mas .. . uma explicação. Segundo o ex-franciscano, embora os assassinos devam ser punidos, é importante entender as razões de seu comportamento. Conforme o ex-frade, desde os primórdios da civilização, todas as religiões fizeram oferendas sacrificais (às vezes da vida humana), para alcançar certos bens. Os cristãos - acrescenta - costumam usar o pão e o vinho como símbolos da carne e do sangue de Cristo. O objetivo, porém, é o mesmo [sic]: alcançar a purificação através desses elementos, que evocam a vida. Ora, conclui Boff, com o crescimento da religiosidade - um fenômeno mundial [sic] - isto vem acontecendo por meio de rituais próprios, os quais eventualmente afloram nos símbolos da experiência satânica (grifos nossos) que há em cada um de nós. Com esta "explicação" absurda e inadmissível, o ex-religioso procura atenuar um revoltante crime!

Na foto, Leonardo Boff

Lniz Carlos Prestes

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REFORMA AGRÁRIA

Reforma Agrária súbita, através de galerias subterrâneas O tema da Reforma Agrária voltou à ordem do dia. A propósito dele,

pareceu-nos oportuno levar ao conhecimento de nossos leitores excertos da clarividente conferência que o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira proferiu no XII Encontro de Correspondentes e Esclarecedores da TFP, realizado na capital paulista, em 11 e 12 de julho último

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aiu a cortina.de ferro, houve uma certa hesitação, o comunismo recuou. Mas agora as idéias comunistas estão avançando, por assim dizer, em galerias subterrâneas. Em nosso país estão querendo implantar a Reforma Agrária sob vários pretextos. E dois projetos de lei foram aprovados na Câmara dos Deputados, encontrando-se agora no Senado. São projetos de lei regulamentadores da Constituição e que praticamente estabelecem a Reforma Agrária no Brasil. O que vêm a ser tais projetos? Quando se elaborou a atual Constituição brasileira, promulgada em 1988, por inércia dos organismos que dirigem os produtores rurais do Brasil, isto é, as associações de fazendeiros e criadores dos mais variados gêneros, princípios socialistas que caracterizam a Reforma Agrária foram inseridos no texto de nossa Carta Magna. Uma organização muito movediça, naquela ocasião, se revelou um perfeito bluff Ela se apresentava como sendo uma União Democrática Ru-

ral, UDR. Mas, de fato, nada fez. Seu chefe pouco fez além de algumas viagens retumbantemente publicitadas pelos jornais, mas sem efeito prático nenhum. E a Reforma Agrária entrou folgadamente na Constituição. Tendo sido promulgada a Constituição, é preciso que se elaborem leis complementares que a regulamentem, para que ela seja cumprida. E de dois pontos muito importantes a Carta Magna não tratou. Inexplicavelmente, tal regulamentação foi se efetuando morosamente durante quase dois anos, na Câmara dos Deputados. O tema ia se arrastando de uma comissão para outra, sem que nin-

guém soubesse bem qual a razão de tanta demora. Quando a primeira impressão terrível do que acontecera na Rússia foi se apagando um pouco da memória do público - não porque os males de lá se tenham atenuado, mas porque o povo foi se habituando à débâcle do regime comunista - deputados resolveram fazer passar rapidamente a matéria. A TFP, inteirada disso, imediatamente tomou posição. E enviou cartas ao Presidente da Câmara dos Deputados e ao Presidente do Senado, pondo em evidência a anomalia de todo o processo legislativo e o caráter nocivo dos projetos, ao mesmo tempo que fazia uma proposta. FemandoMontero No Exterior, se faz uma propaganda enorme contra o Brasil, o qual é apresentado como uma imensa favela, em que existem algumas poucas e imensas fortunas, enquanto o resto da população vive na maior pobreza: Para combater isso, a TFP solicitou ao Sr. Carlos del Campo economista de grandes estudos, com curso na famosa Universidade

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aça da República (capital paulista), -8-92: lançamento dacampanha contra Reformas

da Califórnia, o qual tem colaborado ativamente em nossas campanhas contra a Reforma Agrária para redigir um livro, no qual expusesse a verdadeira situação econômica do Brasil *. Esse livro, difundido nos Estados Unidos, na Europa e também em nosso país, não foi contestado por ninguém. Fica comprovado, nessa obra, que o Brasil é um país muito rico - embora com alguns bolsões de pobreza em seu território - porém mal administrado. Então, é exatamente a essa má administração que iremos entregar toda a nossà riqueza? Por definição, o Estado socialista e hipertrofiado é lento, preguiçoso, atrasado. Embora seja assim a administração pública, é a ela que se pretende entregar todo o nosso campo? Essa obra foi objeto de silêncio. Nenhum jornal a refutou, porque

seus argumentos são irrespondíveis. Poderemos a qualquer momento dizer: há anos a TFP esclareceu essa questão da pretensa pobreza do País. Por que, então, certa mídia - e de modo especial a TV, propagadora da imoralidade não deu difusão a isso? Por que esses órgãos da mídia não reivindicaram para o País o que ele merece aos olhos das outras nações: respeito por ser constituído por um povo que sabe aproveitar suas riquezas e que está em franco progresso? TFP lança campanha nacional contra reformas

No dia 11 de agosto último, mais uma vez assistiu-se no centro da capital paulista a um espetáculo que atraiu possantemente a atenção do público: grande número de sócios e cooperadores da TFP, com suas capas ostentando o tradicional leão dourado, iniciou viga-

rosa campanha em prol de abaixoassinado dirigido ao Presidente da República, bem como aos Presidentes do Senado e da Câmara Federal. Dois dias após, os correspondentes da entidade começaram a participar da campanha, que se estendeu para outras capitais como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador etc. e cidades do interior de vários Estados da Federação. Nos quatro primeiros dias de campanha, ao se encerrar a presente edição, havia sido alcançado o expressivo total, em todo o Brasil, de 185.000 assinaturas. A seguir apresentamos o texto da mensagem dirigida àquelas três autoridades, e que encabeça o referido abaixo-assinado. +

Carlos Patrício dei Campo, Is Brazil Sliding Toward the Extreme Left? (Está o Brasil resvalando para a extrema esquerda?), 1986, 163 pp.

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,,, O s brasileiros

NÃO querem ~ ria

aAgra a Reforro -Urbana! ,-..,EM a Reforma l~

·u\ta p\ebis

unta cons , b\i<: terrogai-os por ··dente da Repu ln . b res presi ·dente da Sen o , , ~doe Presi ~ te do sena

sima medida, ao arbítrio político, às delongas tristemente características da máquina burocrática em nosso País, e aos conseqüentes prejuízos decorrentes da ampliação praticamente incomensurável dessa máquina.

Os subtítulos não fazem parte do te xto e nviado ofic ia lmente aos se us d estinatários. Foram e les inseridos apenas para maior faci lidade dos leitores.

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O mundo avança: o Brasil retrocede

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Francamente não logramos compreender que, em um momento internacional como este em que vive hoje a humanidade, caracterizado pelo repúdio geral dos países livres e cultos à ampliação de todas as ditaduras político-burocráticas, e pelo desejo geral de resguardar a integridade da livre iniciativa e do direito de propriedade, o Estado brasileiro haja de ser O ÚNICO COMP~ORIAMENTE ENCAMINHADO, POR AQUELES FUNESTOS PROJETOS DE LEI, EM SENTIDO DIAMETRALMENTE OPOSTO. Ou seja - quando até as populações durante tanto tempo sujeitas ao regime comunista anseiam hoje pelo restabelecimento da livre iniciativa e da propriedade privada - QUE NOSSO PAÍS SEJA PRECIPITADO EM UM ABISMO TÃO SEMELHANTE ÀQUELE NO QUAL SOÇOBROU HÁ POUCO A EXTINTA URSS. E, isto, logo no momento em que uma crise política interna mantém angustiado todo o Brasil e dificuldades econômicas inextricáveis se acumulam no horizonte nacional, tornando-o sombrio como nunca foi anteriormente em nossa História.

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Os atuais projetos de Reforma Agrária e de Reforma Urbana já constituíam ideais de Lênin \

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Precisamente nas atuais condições, torna-se necessário ponderar que os projetos em apreço constituem, em muito larga medida, a realização dos sinistros anelos que LÊNIN manifestou AO POVO RUSSO: "OS Ol1 ERÁRIOS COMUNISTAS DIZEM QUE O ÚNICO MEIO DE ACABAR COM A MISÉRIA DO POVO É TRANSFORMAR DESDE OS ALICERCES ATÉ O TELHADO A ORDEM ATUAL DE COISAS, EM TODO O ESTADO, E INSTAURAR A ORDEM SOCIALISTA. O QUE QUER DIZER: TIRAR DOS LATIFUN-

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DIÁRIOS SUAS FAZENDAS, DOS INDUSTRIAIS SUAS FÁBRICAS, DOS BANQUEIROS OS CAJ>ITAIS EM DINHEIRO EFETIVO; SUPRIMIR A PROPRIEDADE PRIVADA E ENTREGÁ-LA AO POVO TRABALHADOR, EM TODO O ESTADO" (V. I. Lênin,A los pobres dei campo / Los objetivos social demócratas explicados para los campesinos, Ediciones en Lenguas Extranjeras, Moscou, p.16). Livre-nos Deus de que seja este o caminho a que nos conduzam os acontecimentos, inconsulto nosso eleitorado.

O Brasil nunca passou por riscos iguais Se, entretanto, os imprevistos inerentes a toda vida política conduzirem o Brasil, nos debates sobre a Reforma Agrária e/ou a Reforma Urbana, ao risco da aprovação de uma e de outra, desde já permitimo-nos lembrar a Vossas Excelências e aos demais membros de ambas as Casas que duas reformas tão graves, tão prenhes de riscos e prejuízos de toda ordem, não podem nem devem entrar em vigor - em sã conformidade com o espírito democrático de nossa Constituição - sem que sobre elas seja ouvida diretamente a Nação, nos termos dos arts. !2, único e 14, I e II da Carta Magna. Com efeito, DESDE A INDEJ>ENDÊNCIA ATÉ NOSSOS DIAS, e exceção feita tão-só da Lei Áurea de 13 de maio de 1888, JAMAIS O BRASIL PASSOU POR REFORMAS DE GRAVIDADE COMPARÁVEL À REFORMA AGRÁRIA E À REFORMA URBANA PRESENTEMENTE EM FOCO.

A esmagadora maioria não quer a Reforma Agrária nem a Urbana A ninguém é dado negar a importância da opção entre a forma monárquica e constitucional de ,governo e a forma republicana. Ou entre o sistema presidencial ou o parlamentar, da República. Ora, por pouco que se reflita, salta aos olhos que muito mais graves ainda são, para toda a estrutura social e a vida econômica do País, as reformas objeto do presente abaixo-assinado. Isto posto, seria gravemente incongruente que a Nação fosse.ouvida sobre SETEMBRO 1992

a opção Monarquia/República, ou a opção República parlamentar/República presidencial, consoante manda o artigo 2º do Ato das Disposições Transitórias, da Constituição vigente, e não o fosse sobre a Reforma Agrária e a Reforma Urbana ora em curso. E isto tanto mais quanto não é lícito duvidar de que O ELEITORADO NACIONAL, EM SUA ESMAGADORA MAIORIA, NÃO QUER A REFORMA AGRÁRIA NEM A REFORMA URBANA. Quanto a esta última, vai tramitando silenciosamente no Congresso, sem que proceda das classes populares nenhum movimento autenticamente expressivo de que tal reforma seja desejada pelo povo. Basta consultar a esse respeito os diários, habitualmente atentos a todos os anseios da demagogia e não obstante quase mudos sobre a Reforma Urbana, que lhes daria tanto ensejo para agitar as massas. Mais expressivo ainda é o tocante à Reforma Agrária. Se os trabalhadores manuais fossem os famintos e os revoltados cuja figura a campanha agro-reformista visa impingir ao público, seria de supor que eles se solidarizassem de todas as maneiras com os invasores das fazendas em que trabalham, saudando-os como seus verdadeiros libertadores. Pelo contrário, sua atitude ante as hordas invasoras é exatamente como a de seus patrões, isto é, de perplexidade ante as forças do caos que avançam. Com efeito, não se conhece nenhum caso, ou como que nenhum, em que aquele congraçamento de invasores "sem-terra" com os trabalhadores manuais - bóias-frias em geral, assalariados, parceiros ou meeiros - tenha ocorrido. Isto significa que, em face dos invasores, nada os une e tudo os separa. Em face dos patrões, tudo os une e nada os separa. A Reforma Agrária, que pretensamente tem como meta - entre outras utopias - resolver as tensões sociais no campo, parte de prenússas completamente equivocadas.

Plebiscito ou Referendo para que seja ouvida a verdadeira voz da Nação UM PLEBISCITO SOBRE AREFORMA AGRÁRIA E A REFORMA URBANA MANIFESTARIA A OPINIÃO NACIONAL AUTÊNTICA SOBRE TAIS MATÉRIAS.


Tudo isto posto, pedimos a Vossas Excelências, Senhores Presidentes do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, do modo mais entranhado e ardente, que empenhem seu prestígio pessoal e o das altas funções que exercem, no sentido de OBTER QUE TAIS PROJETOS SEJAM REJEITADOS PELO LEGISLATIVO FEDERAL. E, A VOSSA EXCELÊNCIA, SENHOR PRESIDENTE DA REPÚBLICA, QUE VETE QUALQUER DESSES PROJETOS QUE VENHA A SER APROVADO. E que, caso ai-

gum deles seja convertido em lei, QUE VOSSAS EXCELÊNCIAS ALCANCEM QUE SOBRE ELE SEJA DIRETAMENTE OUVIDA A OPINIÃO DO CORPO ELEITORAL DO PAÍS, MEDIANTE CONVOCAÇÃO DE PLEBISCITO OU REFERENDO, o qual dê a cada eleitor o ensejo de exprimir sua opinião sobre o assunto.

*** Manifestamos pois nossa esperança de que Vossas Excelências consigam

assim, de concerto com os ilustres membros do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, obviar de nosso País as gravíssimas perspectivas aqui apontadas. Com o que lhes caberá desempenhar uma atuação graças à qual ficarão escritos em caracteres áureos os nomes de Vossas Excelências, nos anais de nossa História . Agradecendo antecipadamente o interesse que por esse magno assunto manifestarem Vossas Excelências, subscrevemo-nos com alta consideração .

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O que aconteceu com os projetos de Reforma Agrária • 26 e 30 de junho - São aprovados, na Câmara dos Deputados, os projetos de lei llD/91 e 71B/89. O primeiro deles pretende regulamentar os dispositivos constitucionais (artigos 184 a 191) sobre a Reforma Agrária e o segundo estabelece um rito sumário para os processos de desapropriação. Ambos são votados em regime de urgência urgentíssima, sem o tempo necessário para os deputados se inteirarem a respeito da matéria submetida à votação. • 9 de julho - O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira envia ao Presidente do Senado, Dr. Mauro Benevides, carta na qual lamenta o açodamento ocorrido na votação na Câmara e pede que, pela importância e complexidade da matéria, os projetos sigam no Senado uma tramitação normal, de acordo com o espírito e a índole da democracia representativa vigente. E que sejam apresentados à aprovação do eleitorado, através de um plebiscito. • 14 de julho - Cópias da carta do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira ao Presidente do Senado são distribuídas a todos os senadores. No mesmo dia, é aprovado, com protesto de vários senadores, regime de urgência para a votação do projeto llD/91, o qual, no Senado, passou a ter o número 65 /92. • 16 de julho- É retirado o regime de urgência para a votação do projeto 65/92, devendo, em vista disso, a matéria passar pelo exame normal das comissões técnicas. A razão alegada é a de que a maioria dos senadores entende que, ''por sua importância e complexidade", o projeto deve passar por um exame mais profundo. É o caso de perguntar: o que terá provocado esse recuo? Qual a relação entre tal recuo e a carta do Presidente da TFP? • 4 de agosto -É aprovado novamente o regime de urgência para o projeto 65/92, o qual é incluído na pauta de votações do dia 6 de agosto. • 6 de agosto-É entregue nova carta do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira ao Presidente do Senado, solicitando a retirada daquele regime de tramitação, sendo anexada à

missiva mensagem subscrita por 38.000 brasileiros, externando seu repúdio à Reforma Agrária. • 11 de agosto - É entregue ao Presidente do Senado uma terceira missiva do Presidente do Conselho Nacional da TFP, apoiada, mediante abaixo-assinado, por 60.000 brasileiros, a qual rejeita a Reforma Agrária e a Reforma Urbana. Nesse mesmo dia, é retirado o regime de urgência referente à tramitação do projeto 65/92. • Ainda no dia 11 de agosto-São entregues cartas, subscritas pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, ao Presidente da República e ao Presidente da Câmara Federal, com teor análogo ao da terceira missiva dirigida ao Presidente do Senado. • 12 de agosto - Ao se fechar a presente edição, o projeto 65/92 voltou para a Comissão de Constituição e Justiça, que aprovou o relatório do Senador Alfredo Campos (PMDB-MG), com emendas. O mencionado projeto tramitará depois pela Comissão de Assuntos Econômicos, devendo, posteriormente, ser apresentado ao plenário do Senado a fim de ser votado. Reforma Urbana

• O Projeto de lei 5.788/90, conhecido como Estatuto da Cidade, de autoria do senador Pompeu de Sousa, já aprovado no Senado, foi remetido à Câmara Federal para ser apreciado e, eventualmente, submetido à votação. • 11 de agosto -A mesma data em que foi entregue ao Presidente daquela Casa legislativa, deputado Ibsen Pinheiro, carta rejeitando a Reforma Agrária e a Reforma Urbana respaldada por 60.000 brasileiros, o projeto de lei 5.788/90 - o ESTATUTO DA CIDADE - não foi colocado na pauta de votação prioritária do segundo semestre, a ser cumprida pela Câmara Federal. Assim, tal projeto ficará sujeito a uma análise mais detida pelas comissões técnicas daquela Casa legislativa, ficando a votação da Reforma Urbana postergada para o próximo ano. · ·

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''Le Monde'' e o ''jeitinho''

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bastante freqüência, aqueles que fazem esta revista têm o privilégio de assistir a conferências do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira sobre os acontecimentos da atualidade. Nelas, a realidade no que tem de mais vivo entra em foco em todas as escalas, descendo quando oportuno das grandes cordilheiras aos menores pedregulhos. Assim foi que, numa dessas reuniões, a atenção dos participantes viu-se solicitada a se fixar no jornal parisiense "Le Monde", o qual tentava explicar para o público francês em que consiste o famoso "jeitinho" brasileiro. - Mas, por que não me convidaram? perguntará talvez, de si para consigo, algum leitor. - Não seja por isso. Em espírito, sente-se em nosso auditório e "ouça" um trechinho da reunião. Sinta-se em casa.

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senhores todos sabem que a expressão "jeitinho", lingüisticamente falando, nada tem de extraordinário. Todo o mundo dá um jeito para ter um pouco de jeito. Um jeitinho é um jeito pequeno; não há nisso maior segredo. Mas, no caso concreto do "jeitinho brasileiro", é um certo modo de fazer as coisas, que deixa muito intrigadas as pessoas de fora do Brasil. Elas percebem que há algo de especial e não sabem definir. Lembro-me de um europeu que há uns vinte, talvez trinta anos atrás, esteve conosco no Rio de Janeiro. Falávamos de uma e outra coisa, e da indolência que se nota em certos brasileiros. Ele, que era assim um pouco espevitado, voltouse para trás: -Indolência! Mas os senhores ousam falar da indolência do brasileiro? Com-o é que se pode dizer isso de um

povo que tem chauffeurs de lotação como os do Rio de Janeiro? Fiquei pasmo. Ele acrescentou: -Estive prestando atenção na conduta do motorista durante todo o percurso. Ele tinha nos vários dedos da mão diversas notas de diferentes valores. Sua mão era, assim, uma classificadora de notas em que já as punha todas dobradas de tal maneira que, quando precisava dar o troco ao passageiro, num instante o executava. Com a mesma mão, cheia de notas, mandava o trânsito parar, manobrava, e não caía uma só nota da mão dele. Depois, com essa mão carregada de notas, guiava o veículo à toda velocidade. E ainda fazia isso fumando um pouquinho e olhando o que se passava na rua com interesse. Isto o senhor chamaria indolência? Mas é uma super-vivacidade! CATOLICISMO

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Ele não soube dizer: isto é o jeitinho. É o jeitinho no modo de fazer e de operar de um chauffeur. Mas que também se faz sentir em mil outras atividades ou situações em que o brasileiro se encontra. Daí o espírito da definição que "Le Monde", no dia 2 de junho deste ano, publicou a respeito do jeitinho: "Uma hábil solução, freqüentemente de última hora .... " É bem o jeitinho, não é? " .... que não acalma necessariamente os nervos, mas que retrospectivamente toma sem razão de ser a angústia dos neófitos". Para mim, a parte mais espirituosa da definição é o fim. Depois que o jeitinho resolve de modo brilhante um problema que angustiava, a pessoa percebe que ficou nervosa à-toa ... Apenas, seria interessante retificar um elemento da definição do "Le Monde". É que o jeitinho não é uma solução, mas um processo para conseguir uma solução. Ou mais precisamente, é um determinado estilo de processo para conseguir uma solução. A natural vivacidade desse chauffeur tinha uma ·não menos natural necessidade de expansão. Na monotonia do guiar o dia todo, essa vivacidade pedia a ele certo gesticular, certo jogo que o distraísse; daí, talvez, viera todo o resto.

A essa altura da reunião, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira voltava aos grandes panoramas. Ao mesmo tempo em que o espaço reservado a esta coluna chegava ao fim. Limito-me a dizer que o assunto está na ordem do dia e que retomarei a ele. Leo DANIELE

aderno Especial Nº 14

tentações be j}osso $enbor Jesus ~rísto ~5


~s tentações be ,11osso ~enbor Jesus ~rísto

~omentáríos bo ~e. JLuís ~láubío jfíllíon

(Mt. 4, 1-11)

(Excertos)

Então Jesus foi conduzido pelo Espírito (Santo) ao deserto, para ser tentado pelo demônio. E, tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome. E, aproximando-se (dele) o tentador, disse-l~e: Se és filho de Deus, dize que estas pedras se convertam em pães. Ele, porém, respondendo-lhe, disse: Está escrito: Não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus. Então o demônio transportou-o à Cidade Santa, e pô-lo sobre o pináculo do templo, e disse-lhe: Se és filho de Deus, lança-te daqui abaixo. Porque está escrito:

Confiou aos seus anjos o cuidado de ti, e eles te tomarão nas mãos, para que não tropeces com o teu pé na pedra. Jesus disse-lhe: Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus. De novo o demônio o transportou a um monte muito a lto, e lhe mostrou todos os reinos do mundo e a sua magnificência. E lhe disse: Tudo isto te darei se prostrado me adorares. Então Jesus disse-lhe: Vai-te, Satanás, porque está escrito: O Senhor teu Deus adorarás, e a ele só servirás. Então o demônio deixou-o; e eis que os anjos se aproximaram, e o serviam.

~omentáríos compílabos por ~anto ~omás be ~quíno na "~atena ~urea" São Gregório -Assim tentado o Senhor pelo diabo [por ocasião da primeira provação], respondeu com preceitos das Sagradas Esm-ituras. E Jesus Cristo que pôde [quando da defecção dos anjos maus] precipitar seu tentador no abismo, não fez ostentação de seu grande poder, agindo assim para dar-nos o exemplo; em todas as ocasiões, nas quais fomos compelidos a sofrer algo da parte dos homens maus, sigamos mais o ensino de Jesus Cristo, e não sejamos submetidos à sua punição. Glosa-O demônio levou Nosso Senhor ao ponto mais alto [do Templo de J erusalém, por ocasião da segunda provação], quando quis tentá-lo pela vanglória; porque a vanglória havia iludido muitos na cátedra dos doutores; e, por isso, [o demônio] acreditou que, uma vez colocado Nosso Senhor na cátedra do magistério, poderia ensoberbecer-se com a vanglória. E, em vista disso, pros-

segue [o demônio]: "Se és Filho de Deus, lan ça-te daqui abaixo". Glosa - Eis aqui [por ocasião da terceira tentação] a antiga soberba do diabo; assim como, ao princípio, quis tornar-se igual a Deus, assim agora dispõe-se a usurpar-lhe o culto divino, dizendo: "Se prostrado me adorares". Logo, aquele que vier a adorar o diabo, primeiro deve prostrar-se. Prossegue: Então, disse-lhe Jesus: "Retira-te, Satanás". São João Crisóstomo - Quando o demônio quis usurpar-lhe a honra de ser Deus, indignado Uesus] o rechaçou dizendo: "Retira-te, Satanás" para que aprendamos com Ele a sofrer as injúrias de uma maneira digna; mas não consintamos sequer que cheguem a nossos ouvidos as injúrias a Deus. Porquanto, é muito louvável que cada um sofra com resignação as injúrias lançadas contra si; mas tolerar as injúrias dirigidas ao Senhor é até ímpio.

A cena das tentações de Nosso Senhor foi o oposto do que se passou quatro mil anos antes, nas obscuridades do paraíso terrestre. A vitória dAquele que tem sido justamente chamado o segundo Adão, cabeça da humanidade resgatada, compensou a vergonhosa derrota do primeiro Adão*. Mas prestemos bem atenção para não despojar este episódio de seu verdadeiro caráter: a prova sofrida por Jesus não consistiu somente na tríplice tentação de gula, vaidade e ambição. Foi muito mais grave, e muito mais em proporção com a dignidade de Messias da qual estava revestido. No fundo, não foi Ele tentado como um homem comum, qualquer, mas sim como Messias. As imagens ou ilusões que Satanás lhe pôs à vista, fazendo-as refletir em seus olhos como espelhos, ele

as escolheu com perfeita habilidade para O quebrar, se possível fora. Já tivemos ocasião de dizer que a maioria dos judeus de então haviam lamentavelmente desfigurado a imagem do Messias traçada pelos profetas, apresentando-a como muito humana e terrena. O libertador que esperavam iria agir teatralmente, multiplicando os milagres, tendo por finalidade satisfazer sua própria vaidade ou a de seus súditos, aparecendo como um rei, onipotente, e cuja ambição seria apenas o império deste mundo. Este foi o falso ideal que Satanás em meio a assaltos consecutivos propunha a Jesus realizar. • N. da R.: Tal derrota consistiu no pecado original cometido por nossos primeiros pais, no paraíso terrestre. (Nuestro Sefíor Jesucristo según los Et•angelios, Ed. Difusión, Buenos Aires, 1917, pp,. 97-98).

jfesta bas sete botes be ,1lossa ~enbora (15 de setembro) Já desde a Anunciação, a Virgem bendita apresenta-se na qualidade de Mãe, especialmente a título de Mãe das dores, pois o Deus, cujo nascimento vindouro era a razão do próprio nascimento da Virgem, deverá ser neste mundo o homem das dores e do sofrimento 1• A quem comparar-Vos? can!a Ueremias] o profeta das lamentações: O Virgem, vossa aflição é como o oceano2 • Sobre a montanha do Sacrifício [o Calvário], como Mãe, ela deu seu filho, como esposa [do Espírito Santo], ofereceu-se com Nosso Senhor; por seus sofrimentos de esposa e de mãe, ela foi a co-redentora do gênero humano.

A profecia do velho Simeão, a fuga para o Egito, a perda do Menino Jesus em Jerusalém, o carregamento da Cruz, a crucifixão, a descida da Cruz, o sepultamento de Jesus, são os sete mistérios em torno dos quais Nossa Senhora se agrada de ver agrupados os aspectos quase infinitos dos sofrimentos, que dela fizeram a Rainha dos Mártires, a primeira rosa e a mais bela do campo de Deus. 'i . Isaías, 53, 3. 2. Jeremias, Lamentações 2, 13. D. Prosper Guéranger, L'Année Liturgique -Le temps apres la Pentecôte, Maison Alfred Mame et Fils, Tours, 1922, Tome V, excertos das pp. 260-263.


História Sagrada

em seu lar

noções básicas subir ao monte, nem toqueis nos seus limites; todo o que tocar o monte será punido de morte: será apredrejado ou trespassado com setas. Os sacerdotes e o povo não ultrapassem os limites nem subam para o Senhor, não suceda que Ele os mate" 2 • O terceiro dia "era o 50° desde a saída do Egito e, por essa razão, foi chamado Pentecostes" 3 • Continência "E Moisés desceu do monte para o povo e o santificou. E, depois de terem lavado os seus vestidos, disse-lhes: Estai preparados para o terceiro dia, e não vos chegueis a vossas mulheres".

No Monte Sinai, o Decálogo "No 48ª dia após sua saída do Egito, os israelitas chegaram ao pé do monte Sinai. Deus chamou Moisés e, do alto da montanha, lhe falou" 1• Deus propõe sua aliança "Dirás estas coisas aos filhos de Israel: Vós mesmos vistes o que eu fiz aos egípcios, de que modo vos trouxe sobre asas de águia, e vos tomei para mim. Se, portanto, ouvirdes a minha voz, e observardes a minha aliança, sereis para mim a porção escolhida dentre todos os povos; porque toda a terra é minha. E sereis para mim um reino sacerdotal, e uma nação santa . "Moisés foi, e, convocados os anciãos do povo, expôs tudo o que o Senhor tinha mandado. E todo o povo respondeu a uma voz: Faremos tudo o que o Senhor disse". 1

Pentecostes dos hebreus "Moisés, pois, referiu as palavras do povo ao Senhor, o qual lhe disse: Vai ter com o povo, e santifica-o hoje e amanhã, e lavem os· seus vestidos, e . estejam preparados para o terceiro dia; porque, no terceiro dia, o Senhor descerá à vista de todo o povo sobre o monte Sinai. "E tu fixarás em roda limites ao povo, e lhe dirás: Guardai-vos de

Deus desce com grande pompa "Já tinha chegado o terceiro dia, e raiava a manhã, e eis que começaram .a ouvir-se trovões, e a fuzilar relâmpagos, e uma nuvem muito espessa cobriu o monte, e.o som duma trombeta atroava muito forte; e o povo que estava no acampamento atemorizou-se. "E todo o monte Sinai fumegava, porque o Senhor tinha descido sobre ele no meio de fogo, e dele, como duma fornalha, se elevava fumo, e todo o monte causava terror. E o som da trombeta ia aumentando pouco a pouco, e se espalhava mais ao longe. E Moisés falava, e Deus respondia-lhe" 4•

7° - Não furtar 8° - Não levantar falso testemunho 9° - Não desejar a mulher do próximo 10ti - Não cobiçar as coisas alheias" 5 • Resumo da lei natural "Estes· dez preceitos nada mais são do que uma nova publicação da lei natural, gravada por Deus no coração de todos os homens, mas falseada pelas paixões [desordenadas]. "Deus quis promulgá-la em meio de um aparato terribilíssimo, para tornar bem patente que é Ele o mestre, e que o raio está nas suas mãos prestes a ferir os delinqüentes" 6• Notas l ..L'Ancien et le Nouveau Testarnent disposés sous forme de récits suivis. P. Lethielleux, Libraire-Éditeur, Paris, 1930, p. 52. 2. Ex. 19, 3-13 e 24, 3. Padre Rohrbacher,Histoire Universelle de L'Église Catholique, Ga ume Freres, Paris, 1842, tomo I, p. 392 . 4. Ex. 19, 14-19. 5. Segundo Catecismo da Doutrina Cristã, Edições Pau linas, São Paulo, 3ª edição, 1960, pp. 8-9. 6. Mons. Cau ly, Curso de Jnstruçiio Religiosa-Hist6ria da Religiiio e da Igreja, Livraria Francisco Alves, São Paulo, 191 3, p. 59.

Os Dez Mandamentos Deus, então, transmitiu ao Profeta Moisés o Decálogo ou Dez Mandamentos, os quais podem ser resumidos da seguinte forma: "l Q - Amar a Deus sobre todas as coisas 2Q - Não tomar seu santo nome em vão 3° - Guardar os domingos e festas 4Q - Honrar pai e mãe 5° - Não matar 6° - Não pecar contra a castidade

O que d1r1a seu avo ....? e

Era uma quarta-feira, em São Paulo. Nas proximidades do centro velho, a movimentação se mostrava intensa. Nas ruas, os automóveis se amontoavam num prolongado engarrafamento, enquanto nas calçadas pessoas agitadas iam e vinham: eram negociantes e vendedores que executavam suas tarefas; compradores que procuravam este ou aquele estabélecimento comercial; transeuntes movendo-se sem destino muito definido, ou ainda desocupados passando seu tempo a perambular entre a multidão. Caminhava também eu, cogitando a respeito de providências a tomar, quando por mim passa, naturalmente, como centenas de outros, um transeunte relativamente jovem. Parecia beirar os 30 anos. Calçando tênis, como quase todo mundo nessa idade;jeans artificialmente surrados, como quase todo mundo em quase todas as idades; camiseta sem mangas, moda à qual vai aderindo um número sempre maior de pessoas. Fenômeno menos comum, mas em expansão: portava o ainda discutidorabicho de cabelos presos atrás. Porém, pasme leitor! O jovem, de aparência como a de todo mundo, levava desinibidamente uma chupeta na boca, a qual ele parecia fruir "gostosamente". Estou vendo a reação de algum leitor: "Extravagâncias de um louco! Coisas dessas não merecem atenção; não têm importância nem produzem conseqüências ... " Devagar! Prnciso comunicar-lhe, caro leitor, ainda uma outra observação: dezenas de pesso s, como eu, cruzaram com o referido pe,rsonagem. Em nenhuma delas notei o menor sinal de surpresa, espanto ou indignação, O que o leitor considera uma louca extr vagância en-

e

A

contrava a mais completa indiferença por parte dos não-loucos e não-extravagantes. Caso sua idade o permita, puxe um pouco pela memória e procure imaginar uma cena dessas há 20 ou 30 anos. Não é verdade que muitas pessoas se deteriam para ver? Que comentários jocosos se seguiriam? E a criançada? Não faria roda, dando risadas, entre vaias e ditos zombeteiros? A sanidade popular, em suma, reagiria contra a insanidade de um extravagante. Os tempos, entretanto, mudaram! Como se poderia explicar tão generalizada indiferença de tantos e tantos de nossos contemporâneos, face à loucura, que cada vez mais se vai afirmando em nossas ruas, praças, ambientes sociais, na mídia e quiçá em muitos de nossos lares? Mas, fatos como o do jovem da chupeta representariam apenas uma loucura passageira? Mais uma vez peço ao paciente leitor que faça uso de suas recordações. Lembra-se de que houve tempo em que o tênis, substituindo o sapato de couro no uso social, causou espécie? E que o mesmo se deu com os j eans desbotados artificialmente, tidos como "extravagância passageira"? Não são eles, entretanto, moda corrente e comum em nossos dias, aparecendo até rasgados, e de propósito?

Deus concede a Moisés o Decálogo, no Monte Sinai

SETEMBRO 1992

17

Haveria quem, na ocasião, ao ver um jovem entrar de jeans desgastados erasgados e ainda de tênis, por exemplo, numa agência bancária, tivesse pensado: "Qual! doida extravagância deste infeliz desequilibrado! Deus me livre de ver um filho meu nesta triste situação". Esta mesma pessoa, hoje, seria capaz de censurar o filho se o visse recusar, por princípio, os jeans ou o tênis ... Mais uma vez, surge a pergunta: como explicar a contradição? Não se aborreça comigo, leitor, se eu levar essas considerações um pouco mais longe. Não lhe será demasiado o esforço de memória para reconhecer que ainda há pouco o uso, por rapazes, do rabicho de cabelos, causou estranhezas e recusas. Entretanto, não vai ele entrando lentamente nos hábitos ... ? Chegará a generalizar-se como os jeans? Quem pode achar que é impossível? E o que dizer - por fim - do uso da chupeta por adultos? A força da lógica nos leva a admitir como possível que este também tenha o destino dos demais hábitos comentados. E que, portanto, poderemos ver, em tempo mais ou menos breve, ou mais ou menos longo, em nossas ruas e logradouros públicos, pessoas de todas as idades e de ambos os sexos ostentando com naturalidade a infantil chupeta. "Impossível! - poderá exclamar, contrariado, alguém. A humanidade não chegará a um tal grau de degenerescência ... " Perdoe-me a última impertinência. Mas, não seria precisamente esta a reação de seu avô diante de um "extravagante" pioneiro dos j eans ou do tênis? Se o leitor esteve de acordo, comente, comente ... Se, pelo contrário, aborreceu-se comigo, comente também!


Assim, ficou implicitamente reconhecido que, daquela babel de religiões, o chefe era ele.

INTERNACIONAL ~

Eco '92: Aparência e Realidade profunda

o

Ação do demônio A Igreja toma muito cuidado com as revelações particulares, pois podem ser fruto de imaginação doentia ou de ação preternatural. Ora, entre as ONGs havia espíritas, umbandis tas etc., que se entregam a aparições e coisas do gênero. Assim, não podemos deixar de recear que tais aparições, nascidas fora da Igreja, numa atitude de indiferentismo religioso condenado pela Santa Sé, sejam às vezes fruto de imaginações doentias ou da ação do demônio. Na hipótese de seruma ação diabólica, o demônio estaria, assim, projetando a sombra de sua bandeira sobre toda a Terra.

PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA

Sobre a ECO '92, o que ocorreu é tão espantoso, tão surpreendente, tão desconcertante, que eu não diria o que aqui vou expor, se não tivesse a meu alcance sólidos documentos e testemunhos comprobatórios.

1- O que foi, na aparência, a ECO '92 A ECO '92 correspondeu, na aparência, ao seguinte: Os cientistas chegaram à conclusão de que a Terra está gravemente ameaça da, porque os homens têm exercido seu domínio sobre ela de maneira brutal, anticientífica, predatória. É preciso, então, que, em conjunto, todos os governos preparem uma legislação para que a Terra possa continuar a ser utilizada pelos homens: é questão de vida ou de morte.

li - O que foi, na realidade, a ECO '92 Mas, na verdade, para se compreender o que de fato aconteceu na ECO '92, devemos levar em consideração vários aspectos:

o

O índio, como modelo É patente a existência, hoje em dia, de uma corrente de cientistas, influenciados por determinadas convicções filosóficas e religiosas, que afirmam ser preciso tomar o índio como modelo do comportamento humano. O que fica subentendido é que a civilização depreda a Terra, e que a tribo é o ideal para o qual deve caminhar o homem.

O

Rejeição do raciocínio Essa corrente vai mais longe e afirma que o raciocínio é um instrumento falho para conhecer a verdade. Então, é preciso eliminar a ciência, o progresso, pois eles se baseiam no raciocínio. Bem entendido, é preciso também

acabar coma Teologia. Ela éa aplicação da inteligência aos dados da Revelação para, por via de dedução, conseguir novos conhecimentos teológicos extraídos do próprio texto revelado. Portanto, nada de Igreja, nada de Teologia, nada de Estado. Tudo deve se apresentar solto, desgovernado e desconexo, à maneira dos índios.

o

Reações contra esses desvarios • Prêmios Nobel - 264 cientistas de renome mundial, de 29 países, entre os quais 52 Prêmios Nobel, dirigiram, através de grandes órgãos de imprensa, um apelo aos chefes de Estado reunidos na ECO '92, manifestando sua preocupação ante a "apari-

O Duas vertentes concomitantes da ECO '92 Realizaram-se, durante a ECO '92, duas espécies de reuniões : a dos chefes de Estado e a das Organizações NãoGovernamentais (ONGs). Qual a relação entre essas duas vertentes, afinal muito distintas pelo grau de responsabilidade dos que as constituíam?

ção de uma ideologia irracional, que se opõe ao progresso científico e industrial e prejudica o desenvolvimento econômico e social". • TFP-Realizou-se também uma Conferência pública denominada "Eco'92-Vozes alternativas", promovida pela TFP e outras organizações de relevo, no Hotel Copacabana Palace ( em outro local desta ed ição publicamos detalhes dessa importante sessão).

O AsONGs Quase todas essas organizações particulares eram constituídas por religiões, e propunham que, todas juntas, rezando e fazendo cerimônias, obteriam de deus (quem é esse deus? Buda? Brama?) que ele exercesse sua influência sobre as mentes dos chefes de Estado. E que estes tomassem resoluções na linha do que essas organizações estavam querendo.

O Autoridade ecológica universal A reunião de chefes de Estado foi um primeiro passo para a constituição de uma autoridade ecológica mundial, sob a qual todas as nações se apagariam para ir formando um só magma universal.

o

Ecumenismo radical Nas reuniões das 0NGs, pairava a concepção de que todas as religiões se equivalem. Ser católico, budista, bra manista, adorador do sol, tudo é amesma coisa. É o ecumenismo mais radi-

O

Mulheres nigerianas diante da enigmática "Árvor~ da Vida", na praia do Flamengo. Encontro do Datai Lama com índios brasileiros no "Forum Global" durante a ECO '92

caJ, numerosas vezes condenado pela Santa Sé.

O

Dalai Lama O Dalai Lama é o chefe de uma religião panteísta, que nega a existência de Deus pessoal e criador. Tal religião é praticada no Tibet, .onde se localiza o Everest, o monte mais alto do mundo.

Há muitos decênios, especialistas em estudos de seitas ocultas dizem que o Tibet é o centro irradiador do ocultismo no mundo inteiro, e que todas as religiões ocultistas se inspiram nas prédicas do Dalai Lama, o qual é como que sumo-sacerdote delas. Ora, o Dalai Lama foi visitar as 0NGs e esteve também na reunião dos chefes de Estado. E foi recebido com honras tais que, em mensagens a ele dirigidas, chegou a ser tratado de "vossa santidade", exatamente como o Papa. E com uma evidente insinuação de absurda paridade com o Vigário de Cristo na Terra.

Panteísmo Quando se examinam as doutrinas dessas religiões ocultistas, encontra-se um denominador comum entre elas: o panteísmo. Segundo o panteísmo, não há um Deus pessoal. Existe apenas uma força divina que impregna todo o universo, e um dos mais importantes pontos de concentração dessa força é nosso planeta. E, portanto, dizem os pa teístas, nos minerais, nos vegetais, nos animais e nos homens há algo de divino. O homem não seria então o rei do universo, como diz o Gênesis, mas o servidor do universo. Assim, o ser humano deve prestar serviço à Terra, e não é a Terra que deve estar a serviço do homem. Segundo tal doutrina, o homem, em sua essência, é igual aos ani-

CATOLICISMO

SETEMBRO 1992

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mais, vegetais e minerais. Apregoa ela, portanto, o auge do igualitarismo. Trata-se, pois, de uma Revolução contrária a todas as autoridades legítimas da Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana, bem como às autoridades que regem os Estados.

O Três Revoluções e Ecologia A Revolução * quis derrubar a autoridade eclesiástica, por meio do protestantismo; a autoridade temporal através da Revolução Francesa; eas desigualdades econômicas e sociais mediante o comunismo. Agora, aparece a junção: essa atitude panteísta, segundo a qual o homem deve obedecer à Terra, não transforma o rei no lacaio dos lacaios? Sim, porque a Terra é lacaia do homem. E se o homem começar a servir a Terra, estará prestando serviço à sua própria lacaia.

o

Comunismo metamorfoseado Surge, então, a desconfiança de que a ecologia seja o comunismo metamorfoseado. "Morfose" significa forma, e "meta", transformação. Seria, portanto, a transformação do comunismo. A Revolução, colocando o homem a serviço de algo que é inferior a ele, vai contra toda a ordem que Deus estabeleceu na criação. Então, aos que dizem - "o comunismo morreu" - a resposta é: "Aqui está o comunismo transformado". E convém esclarecer que o igualitarismo ecologista realiza a _plenitude do sonho igualitário do comunismo.

+

O termo Revolução, no sentido em que é tomado nesse parágrafo, significa o grande processo histórico que, a partir do século XV, vem destruindo a civilização cr istã. Catolicismo não pôde tratar do tema da

ECO '92 , em sua última edição, porque, em comemoração de nosso 500° número, fo i esta inteiramente dedicada à publicação da III Parte atua lizada do consagrado ensaio do Prof. Plínio Corrêa de O liv eira, "Revolução e Contra-Revolução". Em vista disso, no presente núm ero estampamos excertos mais importantes da conferência que esse insigne pensador cató lico proferiu sobre a matéria, no XII Encontro de Correspondentes e Simpatizantes da TFP, efetuado na cap ital paulista, nos dias 11 e 12 de julho. Além disso, apresentamos também a nossos leitores outras matérias a respeito do mesmo tema, dentre as quais um noticiário sobre a Conferência pública "Eco'92- Vozes Alt~rnativas", promovida pela TFP e outras en tidades.


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"A Amazônia pertence ao Brasil e a mais ninguém" O enviado especial de Catolicismo à Eco '92, Sr. Julio Loredo, entrevistou a Dra. Dixy Lee Ray, exgovernadora do Estado de Washington e ex-Presidente da Comissão de Energia Atômica dos EUA. A respeito do "ecologismo profundo", declarou a entrevistada: "Só comecei a me interessar pelo 'ecologismo profundo' recentemente. Até há pouco, eu não o tomava a sério. Os ecologistas profundos não gostam do gênero humano. Afirmam que o mundo estaria em melhores condições se não houvesse seres humanos. Os líderes da ecologia profunda julgam que devemos odiar o ser humano. Ora, por que eles dizem tais coisas? Não sei, O fato é que estão propondo medidas que produzirão a morte de muita gente". Quanto ao movimento em favor da internacionalização da Amazônia e a proposta de se limitar a soberania brasileira sobre aquela região, a Dra. Ray foi enfática: "Essa limitação é totalmente infundada. O que o Brasil deseje fazer com tal região compete ao Brasil e a mais ninguém. Não compete aos Estados Unidos ou a qualquer outro país, nem à comunidade de Estados que éa ONU. "As acusações de destruição maciça, de desflorestamento, simplesmente não são verdadeiras! Como cientista, posso dizer, estou convencida de que aAmazônia está em boas mãos. Mesmo que não fossem levantadas as questões de soberania, reafirmo que a Amazônia pertence ao Brasil e a mais ninguém".

TFP atua durante a Eco '92 A Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Fa1UJ1ia e Propriedade - TFP promoveu uma conferência pública, no dia 4 de junho p.p. "Eco'92 - Vozes Alternativas" - , em coalizão com organizações norteamericanas, inglesas e centro-americanas, no Hotel Copacabana Palace. A iniciativa foi simultânea à Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Eco-92), efetuada no Rio de Janeiro de 3 a 14 daquele mês. Numeroso público lotou o salão de conferências do referido hotel. Os oradores foram a ex-governadora do Estado de Washington e ex-presidente da Comissão de Energia Atômica dos Estados Unidos, a bióloga Dra. Dixy Ray, o ecólogo paulista Prof. Evaristo Miranda, da Universidade de São Paulo, o economista Fred L. Smith Jr., Presidente do Competitive Enterpriselnstitute, dos Estados Unidos, e o Dr. Alexander Bonilla, costarriquense, Prêmio Global 500 das Nações Unidas. Ao abrir a sessão, em nome do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira,

Presidente do Conselho Nacional da TFP, Dr. Plínio Vidigal Xavier da Silveira explicou qual o denominador comum dos que estavam ali reunidos: "O desvelo pela manutenção integral da propriedade privada e pela defesa da iniciativa individual". Apresentou a seguir o quadro de interrogações e perplexidades mundiais em que estava se efetuando a mencionada Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente. Tal quadro, segundo o orador, comporta temas como: qual o rumo que tomará a Rússia, em meio à confusão na qual ela se encontra? Efetivar-se-á a ameaça de a Europa Ocidental vir a ser invadida por hordas de eslavos e de outros povos vindos do Oriente, bem como por refugiados procedentes do Magreb? O evento recebeu uma moção de solidariedade da Câmara Nacional Florestal da Bolívia, que agrupa os empresários madeireiros desse país.

Na foto, mesa de presidência da Conferência pública "ECO '92 VOZES ALTERNATIVAS", 4-6-1992. Da esquerda para a direita: economista Fred L. Smith Jr., Dra. Dixy Lee Ray, Dr. Plinio Vidigal Xavier da Silveira, Dr. Alexander Bonilla e Prof Evaristo Miranda

CATOLICISMO

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Todas as coisas - absolutamente todas - foram criadas diret.amente por Deus 7• E as criaturas corporais foram criadas por Ele sem o auxílio dos anjos 8.

RELIGIÃO

Ação angélica quase desconhecida: o governo do universo material Numa época, como a da ECO '92, em que o movimento ecológico radical tenta inverter completamente a hierarquia dos seres criados por Deus, é muito oportuno ressaltar a tese que estabelece o papel reitor dos anjos sobre o mundo material e lembrar a superioridade do homem diante dos seres irracionais São Miguel Arcanjo Iluminura de "Três riches heures du Duc deBerry" (séc. XV), Museu Condé, Chantilly (França)

A

festa dos Arcanjos São Miguel, São Gabriel e São Rafael, que a Igreja comemora no dia 29 de setembro, dá-nos oportunidade de voltar a um tema bastante olvidado nos dias de boje: a existência dos anjos e sua atuação no Universo criado por D~us. É notório o fato de que, de um modo ou de outro, os anjos há muito tempo vêm sendo esquecidos, quando não vistos de maneira bastante unilateral e às vezes distorcida. Embora não sejam poucas as alusões aos pu~s espíritos tanto no Antigo como no ovo Testamento, na vida espiritual e as atividades quotidianas dos católicos hodiernos a presença dos anjos é praticamente desconhecida. Quase não se fala deles. Entretanto, não só a Sagrada Ecritura, mas os Padres e Doutores da Igreja abordaram com freqüência temas como os referentes à natureza e aos vários coros de anjos, bem como às múltiplas formas de sua ação. Dentre estas, merece ser realçada o governo do universo material, que constitui o objeto primordial do presente artigo.

*** Convido o leitor a um breve passeio na floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro,

à noite. A cor do céu é de um azul profundo, as estrelas cintilam como brilhantes, a lua é branca como a neve. A temperatura está fresca, algumas palmeiras imperiais balançam majestosamente ao sopro do vento. Um cão, o fiel amigo do homem, nos acompanha. - Linda cena!, exclamará alguém. Não há dúvida. Mas não será a primeira vez que semelhante exclamação brota de lábios humanos ao observar o universo, que os gregos chamavam cosmos. Examinando a natureza, compreenderam que ela estava em ordem e era bela. Daí o fato de denominarem o universo de cosmos. É normal que, na admiração do universo, os homens façam muitas perguntas para as quais, obviamente, desejam obter respostas. Se bem que todo homem tenha algo de filósofo - o homem é um animal racional! - nem sempre pode, por si mesmo, acertar, procurando dar respostas a tantas e tantas questões, como as que surgem da observação da maravilhosa ordem da natureza. Nessas respostas, tanto filósofos gregos, quanto de todas as épocas encontraram dificuldades. Nós, porém, contamos com o potente auxílio da Santa Igreja Católica, única, plena e totalmente detentora da VerCATOLICISMO

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dade. Na doutrina teológica e filosófica, elaborada sob seu influxo benéfico, buscaremos as respostas a tantas indagações legítimas. Para isso, recorreremos ao Doutor Comum, Universal, o admirável Santo Tomás de Aquino. Apresent.aremos em notas, no fim deste artigo, indicações das obras desse insigne Doutor, nas quais se encontram os fundamentos das afinnações que figuram no presente texto. Seres criados distintos e desiguais Deus fez as criaturas para transmitir sua bondade e-representá-la mediante os seres criados. Mas Ele necessitou fazêlos distintos e desiguais, para representar de maneira mais perfeita a bondade divina 1; ou, em outras palavras, o Criador fez algumas criaturas simples, outras compostas; umas corruptíveis, outras incorruptíveis2 • Ou seja, Deus criou os anjos, homens, animais, plantas, astros e minerais, pois se todas as coisas fossem iguais o todo não seria perfeito3. Tanto os anjos como as criaturas corporais constituem um só universo4. Os anjos foram criados junt.amente com as criaturas corporais5 , embora pudessem ter sido criados antes 6•

Os corpos são governados pelos anjos Deus é a causa da ação de qualquer criatura, na medida em que lhe dá força para agir, enquanto as conserva, as inclina à ação, e enquanto por sua força [da Providência], as outras forças agem9• Todas as criaturas corporais são governadas pela Providência divina, contudo por meio dos anjos. Pois a ''providência dos anjos é universal e estende-se sobre todas as criaturas corporais. Donde se deve dizer, conforme as sentenças dos santos, que desta maneira os corpos são administrados por meio dos anjos; ou seja, enquanto movem os corpos superiores, por cujo movimento causam o movimento dos corpos inferiores" 1º.

anjos inferiores, que têm formas menos universais, são regidos pelos superiores, do mesmo modo todas as coisas corporais são regidas pelos anjos" 13 • Argumenta ainda Santo Tomás que, "segundo a ordem da Providência divi-

pela qual podem mudar, se desejarem, a forma de uma coisa, como fazer, por exemplo, variar a cor de uma planta - , eles se servem para isso de germens corporais 15 •

Considerações finais Poderá parecer ao leitor exagerado o título deste artigo e o subtítulo que imedia tamente o segue. Em vista ·disso, parece-me oportuno remetê-lo a os dois penetrantes artigos publicados na seção "Discernindo, distinguindo, classificando" ( cfr. Catolicismo, sete out. de 1991). Mediante sua leitura, pode-se verificar como, na vanguarda do processo revolucionário, denunciado pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em seu já famoso ensaio Revolução e Contra-Revolução, encontram-se os chamados movimentos ecológicos radicais. Tencionam eles, por diversos meios, subtrair ao homem o Anjos: multidão domínio que Deus lhe concomo que infinita cedeu sobre animais, planNaturalmente é preciso tas e minerais, equiparanuma grande multidão de ando-os inteiramente aos sejos para exercer o governo res humanos. das coisas criadas. Não é de Conforme o exposto estranhar, pois, que Santo A acima, fica patente que o poteose de Santo Tomás de Aquino Tomás diga, em sentença ---=----------~-------------- pensamento de Santo Tomuito expressiva, que o núZurbaráa, Museu Provincial de Belas Artes, (Sevi lha, Espanha - 1631) más de Aquino opõe-se fronmero dos anjos "é finito para talmente a toda a concepção Deus, mas infinito para nós [hona em todas as coisas, os seres móveis igualitária do Universo, defendida pelos mens ]" 11 • Essa multidão como que infie variáveis são movidos e governados movimentos ecológicos radicais. nita de anjos está ordenada hierarquica- pelos imóveis e invariáveis; como os Contemplemos e admiremos a namente, conforme explica Santo Tomás, corpos todos pelas substâncias espiritureza, usemo-la, conservemo-la deviem nove coros, e cabe ao quinto coro tuais e imóveis,e os corpos terrestres damente, sempre e quando ela sirva o das Virtudes - reger a natureza cor- pelos celestes, que são substancialmen- para que nossa alma se eleve gradualpórea, além de receber de Deus um pote invariáveis" 14• mente a Deus. der especial para realizar alguns milaNa ação dos anjos como na dos gres que, por sua natureza, os anjos não demônios sobre as coisas visíveis José María RIVOIR teriam capacidade de realizar 12 • Razões de sabedoria divina Eis algumas razões que o Doutor Comum apresent.a para o governo dos anjos sobre a criação corpórea: "É norma gera~ tanto na ordem das coisas humanas como na das naturais, que a potestade particular seja governada e regida pela potestade universal. .... É manifesto que a força de qualquer corpo é mais particular que a força da substância espiritual. .... Assim como os

1. Suma Teo lógica, 1. q. 47, a . 1 et 2. 2. De Potentia, q. 3, a. 1~ . 3 . De Substantiis Separa tis, e. 12. 4. Suma Teológica, 1. q. 61, a . 3, e De Potentia, q. 3, a. 18. 5. De Potentia, q. 3, a. 18; Suma Teológica, I q. 61, a. 3; II Sententiae D. 2, q. 1, a. 3; e D. 12, q. 1, a. 2; e De Substantiis ' Separatis c. 17, D. 6. De Potentia q. 3, a . 19.

7. Suma Teol6gi,ca, I q. 44, a. 1. e De PotenJ,ia q. 3, a. 5. 8. Suma Teo lógica, I q. 65, a. 3. SETEMBRO 1992

9. De Pot.entia q. 3, a. 7. 10. De Veritate q. 5, a. 8; Suma Teo lóg ica, I. q. 61, a.4; De Subs/anüis Separalis e. 14,

11; Suma Contra Genúles Ili, cc. 76 a 79. 11. II Sententiae D. 3, q. l, a.3. 12. Suma Contra Gentiles III, 80; SumaTeológica, I q. 113, a. 3; II Sententiae D. 9, q. 1, a. 3 e Comp. Theol. c. 126. 13. Suma Teo lógica, I q. 110, a. 1. 14. Suma Teo lóg ica, I q: 113, a. 1. 15. Suma Teo lógica, I q. 105, a. 1 ad l ; De Maio q. 16, a. 9.


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\i} HISTÓRIA

Contradições em face do V Centenário do Descobrimento da América

Hómem-,Pá.ssaro f eriM símbolo áa pretensa tragédia indígena ocasionada pela "invasão" euro-péia na América

N.

Na comemoração deste marcante evento histórico, a par das justas homenagens prestadas aos descobridores e missionários, uma bem orquestrada contra-celebração do V Centenário proc_ura denegrir a grandiosa obra civilizadora e de cristianização da América.

cidade espanhola de Puerto Real, porto fundado pelos Reis Católicos, Fernando e Isabel (séc. XV), a prefeitura municipal decidiu construir um monumento de desagravo às "vítimas" dos descobrimentos; e, conseqüentemente, de desdouro à memória de Isabel, a Católica, a grande rainha que 1492-1992: quinhentos anos apoiou e financiou a expedição de Cris. desde a chegada das caravelas de Cotóvão Colombo. Tal monumento teria como cons- lombo à ilha de Guanahaní, nas Bahamas, meio milênio de cristianização das trutor o próprio arquiteto que o concebeu, o equatoriano Guayasamin, ami- Américas. O dia 12 de outubro é uma data de go de Fidel Castro e dos falecidos líalegria para a Santa Igreja Católica deres marxistas Mao Tsé-tung, KruApostólica e Romana, que, pela subsechev e Allende. qüente evangelização dos nativos, deu à O prefeito de Puerto Real, José Antonio Barroso, declarou: "O mo- luz um Novo Mundo para Nosso Senhor numento servirá como desagravo à Jesus Cristo. Dia de glória também para Espanha história oficial sobre a América e de reconhecimento da invasão, espolia- e Portugal, nações que se tomaram fundadoras e missionárias da cristandade ção, genocídio e culpabilidade dos espanhóis". Já para Guayasamin, "o de ultramar. Data de ação de graças, de monumento será um grito brutal de grandeza e esperança para todo nosso rebeldia da América Latina contra a Continente. Neste Mundo Novo, encontra-se o Espanha e com ele quero fazer chomaior conglomerado de povos católicos rar as pessoas". da Terra, dotados de uma cultura coUma oportuna campanha efetuada mediante mala direta, promovida por mum, vinculados por afinidades psicológicas e raciais notáveis. TFP-Covadonga ( coirmã da TFP brasiEm um imenso contexto geográleira), conseguiu, porém, alertar a temfico abrangendo planícies, montapo a opinião pública daquele país, lenhas, selvas, rios e mares, enconvantando uma salutar reação que impediu a concretização de plano tão mons- ·tram-se riquezas fabulosas ainda não exploradas. truoso.O próprio prefeito de Puerto Real Portadores de uma missão providenreconheceu, numa conferência que procial marcante, pode-se esperar que os ponunciou em Cadiz, em março último, que a iniciativa de construir o monu- vos da América Latina, uma vez libertos dos fatores de desagregação que hoje inmento foi muito contestada por algumas festam todo o mundo, possam prontamenassociações ... te chegar à condição de plena maturidade, Tal fato é bem característico do clitomando-se - em aliança com a anglo e ma de acirramento em que se vêm dea franco América - protagonistas de prisenrolando as comemorações do V Cenmeira plana, no grande cenário da História tenário do Descobrimento e üúcio da no século XXI. evangelização da América.

Mas infelizmente nem todos vêem as coisas assim. Há mesmo quem, ao invés de festejar este V Centenário, se levante para vituperá-lo.

Índios vão sendo organizados de norte a sul do Continente Neste final de século, tão cheio de acontecimentos inesperados, o mundo ainda contempla estarrecido as ruínas econômicas, psicológicas e morais deixadas a nu pelo auto-desmantelamento do ünpério soviético. No entanto, deparamo-nos aqui na América com uma surpresa que não é das menores: um comunismo tribal parece ressurgir de suas próprias cinzas e ameaçar a civilização. Desde as neves do Canadá até o sul do Chile, surgem simultaneamente organizações indígenas que se agitam e avançam, muitas delas formando vastas federações e confederações por cima das fronteiras dos países. Uma questão inteiramente estagnada há 500 anos entra agora em efervescência, de uma hora para outra, em diversas nações americanas. No ano passado, no Canadá, os índios iroquois ou mohawks interromperam o tráfego de umas das principais rodovias que liga aquele país aos Estados Unidos. Durante várias semanas resistiram à polícia e correu sangue. Depois disso, outros focos de tensão indigenista apareceram no Canadá.

Em meados de 1990, no Equador, um grupo de indígenas, auxiliados pelo grupo guerrilheiroAlfaro Vive, tomou a igreja de Santo Domingo, em Quito, com apoio dos frades dominicanos daquele templo. Sob o lema "nem uma fazenda mais no Equador até 1992", iniciou-se em toda a região andina do país um violento movimento de ocupação de fazendas, interrupção de estradas, marchas sobre as cidades e investidas contra contingentes do exército equatoriano. Na Bolívia, país com grande influência indígena, começou a agitação com uma marcha de índios sobre a capital, La Paz, exigindo uma imensa extensão de terras, que incluía propriedades de fazendeiros e de empresas madeireiras. O governo boliviano acedeu. No final de 1990, no Chile, colocouse em andamento um plano de invasão de fazendas por parte dos índios mapuches, e hoje, um chamado Conselho de

Todas as Terras exige a formação de uma nação mapuche em territórios contíguos chileno e argentino. Na Colômbia, na região de Cauca, os chamados Conselhos Indígenas intensificaram, no ano passado, um plano gradual e maciço de ocupação de propriedades. O objetivo declarado de toda essa agitação é obter territórios para a instalação de governos indigenistas autônomos, em regime de propriedade coletiva. No Brasil, onde os índios são pouco mais que 250.000, a agitação indígena parece mínima, mas a pressão internacional está criando artificialmente um caso mundial em tomo de um problema inexistente. A batalha se trava sobretudo a propósito da Amazônia, que abrange vários países da bacia do rio Amazonas, mas tem nosso território como centro emblemático. A Coica -uma central de organizações indígenas da região amazônica de

cinco países (Colômbia, Equador, Peru, Bolivia e Brasil) - se configura como uma confederação indígena supra-nacional que considera artificiais as atuais fronteiras existentes entre os vários países da região. Logo após o início dessa agitação indigenista simultânea nas Américas, a conhecida revista "Visión", de Montevidéu, chegou a afirmar que estávamos em presença de um processo de afirmação étnico-cultural, especialmente na América Latina, em aberta oposição ao modelo de "unidade do Estado-nação, que impera nas Constituições regionais". A revista reproduz a tal propósito, declarações do ex-secretário executivo do Instituto Indigeriista Interamericano, o antropólogo equatoriano Diego Iturralde. Este situa a rebelião das minorias indígenas em um quadro internacional ainda mais vasto: "Ao se diluírem as fronteiras em grandes blocos de países, o étnico se levanta como a única possibilidade de diferenciação e identidade entre muitos povos. Estamos na re-etnização da história" ("Visión", 29-101990, p. 25). Com esses poucos dados pode-se vislumbrar a extensão do movimento iniciado nas geleiras do norte do Canadá e que chega à extremidade oposta do imenso continente americano. E ninguém poderá negar que se trata de uma evidente orquestração a nível Sevilha, 12-10-90: doze agi.taáores, disfarçados de índios, realizam ato de protesto contra o V Centenário do Descobrimento da América diante do túmulo de Cristóvão Colombo, na catedral daquela cidade

CATOLICISMO

SETEMBRO 1992

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2:S


internacional, com bem organizados grupos de planificação e agitação indigenistas e com metas beqJ definidas. Quem está por trás?

Por detrás desse imenso movimento contestatário aparece ativa corrente de ideólogos brancos, que vem propor uma nova utopia mais radicalmente igualitária do que o capitalismo de Estado recém-desmantelado nos países comunistas. São teólogos da libertação, que migraram da "ortodoxia" marxista para o eco-tribalismo, com todo um cortejo de centros pastorais indigenistas, comunidades de base e publicações de vários níveis. Estimulam a rebelião entre os índios e preparam as populações brancas e mestiças para ceder ante ela . São antigas organizações comunistas que mudaram sua cor vermelha para a verde, incentivando tais agitações com permanente apoio do ditador de Cuba, Fidel Castro. É um batalhão de antropólogos e pseudo-historiadores, com o respaldo de grandes universidades principalmente européias e ligados a grupos de pressão e financiamento constituídos por redes das chamadas Organizações Não-Governamentais - ONGs*, inscritas na ONU. Além do mais, tais doutrinadores e ativistas contam com uma infalível caixa de ressonância nos meios de comunicação social, nacionais e internacionais, muitas vezes colo,cados estranhamente à sua disposição pelo macro-capitalismo publicitário. E ganham cada vez mais influência em centros oficiais de poder instalados nas Nações Unidas, como bem o demonstraram recentemente episódios marcantes ocorridos na ECO-92, no Rio de Janeiro [ver matéria noutro lugar desta mesma edição]. A "pregação" dos indigenistas

Esses novos atores religiosos e políticos continentais falam agora de uma "resistência de 500 anos". Reivindicam por todas as partes indenização pelo meio milênio de "ocupação" européia e querem até territórios com governos soberanos para neles reestruturar o coletivismo tribal dos índios. Em lugar da epopéia missionária e civilizadora, tão meritoriamente levada a cabo por sacerdotes e colonizadores, eles afirmam ter havido o maior genocídio fisico e cultural da História. Ora

baseando-se em fatos excecionais, ora fazendo afirmações gratuitas. Apresentando-se como ultra-avançados, na verdade recuam indefinidamente nos séculos para fazer a apologia da tribo primitiva e pagã, como modelo supremo da organização humana. Neste V Centenário, dizem eles, teria chegado para a Europa Ocidental e a Igreja das Cruzadas não o momento dos louvores mas da penitência. O momento de ajoelhar-se reverentes ante as testemunhas das culturas e religiões indígenas resistentes, pedir-lhes perdão e reconhecer que foi um erro importar um "Deus branco". Como decorrência disso, Cristo tem que ser banido do Continente americano. Mas isto não bastaria. Seria preciso ainda despojar-se de toda a arrogância eurocentrista, retificar o rumo histórico até aqui seguido, abandonar um progresso predatório que nos teria conduzido aos bordos da catástrofe ecológica e assumir como fonte inspiradora o antigo saber indígena. Este nos ensinaria dimensões da rea. !idade desconhecidas por nós pseudocivilizados, que nos colocariam em condições de reconstituir a harmonia entre o homem e a natureza e ver nascer um mundo verdadeiramente novo. Alerta e convocação

Assim, em meio à confusão ideológica que se tem seguido à ruína do socialismo tipo soviético, em nossa América do V Centenário uma nova força revolucionária toma forma e se põe em movimento: é o eco-tribalismo, que levanta uma imensa onda contra as celebrações de meio milênio da cristianização do Continente. Muito discretamente, já na década de 70, nas selvas brasileiras, neomissionários, alguns bispos avançados e organismos eclesiásticos de vanguarda - como o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e a Comissão Pastoral da Terra (CPT) - davam os pri·meiros passos em direção ao comunotribalismo. Denunciou-os na época, com lúcida antevisão, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em sua obra "Tribalismo lndíge-

~a, Ideal comuno-missionário para o Brasil no século XXI". Com quinze anos de antecedência, o célebre pensador católico vislumbrou os sintomas nascentes. E com sua costumeira clarividência, baseada em vasta documentação, traçou a fisionomia CATOLICISMO

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ideológica da corrente comuno-tribalista que boje toma atitudes de cidadania. A ele, pois, nossa homenagem. E a nós todos sirva este artigo de alerta e de convocação, em face dessa terrível metamorfose do comunismo clássico em comunismo tribal. Carlos SODRÉ LANNA

• As ONGs -

Organizações Não -Governamentais - são entidades privadas, r econhecidas pela ONU, que procuram representar diversos setores da sociedad e civil. É te ndênc ia majoritária entre elas colocar-se numa posição de contestação, ora mais, ora me nos exp lícita, ao sistema polí tico, social e econômico em vigor no Ocide nte.

BIBLIOGRAFIA

1. Plín io Corrêa de Oliveira, Tribalisr,w Indígena, Ideal comuno-missionário para o Brasil no século XXI, Editora Vera Cruz, São Paulo, 1977. 2. Ricardo Calla,Jose Enrique Pinelo, Migue l Urioste, CSUTCB: Debate sobre documentos políticos y asamblea de nacionalidades, Talleres CEDLA nº 8, La Paz, Bolívia, 1989. 3 . José Be ngoa e outros, Seminario Utopia Indígena, colonialisnw y Evangelización. Topicos' 90 - Cuadernos de Estudio. Centro Ecuménico Diego de Medellin, Santiago, Chile, outubro 1990. 4 . Segundo E. Moreno Yafiez e outros, Ecuador Multinacional - conciencia y cultura, Ediciones Abya-Yala e CEDECO, Quito, Equador, 1989. 5. H ein z Dieterich Steffan e outros, 1492-1 992 - La interminable conquista, EditorialJoaquín Mortíz, México, D.F., novembro 1990. 6. Jesus Contreras e outros, Identidad étnica y nwvimientos índios , Editorial Revo lución, Madri, 1988. 7. Gustavo Gutierrez e outros, 1492-1992: A voz das vítimas, Concili um, nº 232, Vozes, Petropolis, 1990. 8. Leonardo Boff, América Lalina: da Conquista à Nova Evangelização, Ática, São Paulo, 1992. 9. Culturas Oprimidas e a EvangeliZl1{ão na AméricaLalina, 8° Encontro Intereclesial de CEBs, Sta. Maria, RS, 1991. 10. Alberto ChirifTirado, Pedro García Bierro, Richard Chase Smith, El indígena y su território son uno só/o Estratégi,as para la defensa de los pueblos y territórios indígenas en la Cuenca Amazónica, Oxfam America y Cooerdenadora de las Organizaciones indígenas de la CuencaAmazónica (COICA), Lima, Peru , 1991.

O pessimista o é por mau humor; o otimista, por vontade

Eu me sinto muito otimista quanto ao futuro do pessimismo

ALAIN

JEAN ROSTAND

Não sou propriamente pessimista; sou "pessimólogo", o que é diferente

Um pessimista é um otimista bem informado DITO CORRENTE NA RÚSSIA ATUAL

PUNIO CORRÊA DE ÜLIVEIRA

Há certas pessoas tão otimistas que, vendo uma casa sendo destruída por pavoroso incêndio, são capazes de exclamar: "que casa bem iluminada!"

Os mais pessimistas a respeito dos homens são sempre u ltrapassados pela realidade ROBERT BRASILLACH

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ÜTÁVIO MANGABEIRA

Em Moscou, para que não houvesse desigualdades em matéria de calefação, o papai-Estado comunista providenciou aquecimento gratuito . Cada bairro tem sua "usina de aquecim ento" movida a gás. Os radiadores não têm botão de regulagem. Tudo calculado para ser igualzinho para todos. Mas ... tem um "mas"! Não se pode evitar que a água quente perca calor na tubulação subterrânea que a leva às residências. Conseqüência: quem mora perto das tais usinas, vive numa espécie de sauna quentíssima e insuportável, enquanto tirita de frio quem habita longe delas. Moral da história: a igualdade não gera paraísos. Apenas infernos.

Na foto, uma das usinas de calor, flagrada recentemente em Moscou pela câmera de Catolicismo.

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S NUVENS se acumulavam densas no horizonte. O vento soprava rijo no topo das árvores, provocando a dispersão de bandos de aves que voavam em farpa. Agitadas, as águas do grande lago inclinavam perigosamente a frágil embarcação. Tudo fazia prenunciar uma tempestade. Enegrecida pelo ocaso, a silhueta da margem parecia longínqua e inacessível à força dos remos. Um clima de expectativa criou-se entre os tripulantes da canoa. O que fazer? - Invocar a proteção de Maria Santíssima - disse um deles, com voz solene e decidida. Logo tiraram o Rosário, e, em côro, suplicaram à Padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, que os protegesse contra as fúrias da natureza. Tinha-se a impressão de que na atmosfera se desenrolava uma luta titânica entre o vento e as nuvens ameaçadoras, a luz do sol e as trevas da noite. Por alguns instantes, este combate de gigantes parecia indeciso, oscilando entre a tormenta e a bonança. Em certo momento, um enorme incêndio provocado pelos raios solares na abóbada celeste transformou o negrume das nuvens numa explosão de cores. As águas se converteram em ouro líquido e o furacão cessou. Extasiados com esse espetáculo, os caravanistas da TFP, tripulantes da · canoa, resolveram comemorar a vitória da luz sobre as trevas. Desfraldaram, bem no meio da laguna, no pantanal matogrossense, o pendão auri-rubro da entidade. Mesmo envolto em sombras, seu perfil elegante se faz notar pelo contraste com o horizonte dourado. Um imponderável de paz penetrou nas almas, uma certeza ficou nos espíritos: por mais dramáticas que sejam as crises, se o Brasil invocar com confiança a Virgem Aparecida, uma nova aurora de fé surgirá no horizonte e, no alto do Céu, o Cruzeiro do Sul resplandecerá ainda com maior fulgor!


HORA APARECIDA,

Salvai o Brasil!


CATOLICISMO

Ng 502

Outubro 1992

Discernindo, distinguindo, classificando ...

Assestando o foco

Ecozônia, ano ...

E

Neste conto, que utiliza informações do presente e as projeta para o futuro, o leitor encontrará algumas interessantes e verossímeis conjeturas Tóquio, 2/3 (UPZ)-A associação ecológica Yoi Kulki (Ar Puro) promoveu uma passeata nesta cidade protestando contra a poluição ambiental.

"Não é mais possível viver em Tóquio", dizia u·m dos cartazes.

Nova Iorque, 27/3 (PY) - Falando da tribuna da ONU, Harry Newman, representante dos EUA, defendeu uma "opção ecológica" para as grandes cidades. Segundo ele, a ONU deveria instalar, em zonas ainda inexploradas do Planeta, todas as pessoas que quisessem abandonar os centros superpopulosos. Paris, 31)3 (RJ)-0 filósofo neo-estruturalista Roger Uvy, na aula inaugural do Co'llege de France, elogiou muito o. modo de vida dos índios, como ideal a ser atingido por toda a Humanidade. Vaticano, 9/4 (telefone)- O Papa Leão XIV acaba de lançar a Encíclica Oecologica Sollicitudo (A Preocupação Ecológica). "Não convém - diz o Pontífice - impor pela força, a mi-

lhões de pessoas, de uma hora para outra, ·uma vida não-civilizada". Manaus, 30/4 (nosso correspondente) - A For,ça Aérea Brasi-

estiver pairando sobre a linha do Equador, cada uma das religiões não-católicas e elementos da esquerda católica espalhados pelo mundo, entregar-se-ão a seus ritos e sabbats, tendo como ponto de unidade e concentração mental o Dalai-Lama, que nesse momento estará num poço seco e escuro situado nas encostas do Himalaia, em contato direto com o espírito dos abismos. E cozônia: o ídolo ecológi,co

Ilha do Marajó, 9/6 (urgente) - Uma considerável esquadra civil da ONU - composta de navios e barcaças, e defendida por alguns vasos de guerra, de procedência russa, americana, francesa e inglesa penetrou pela foz do Amazonas e está despejando gente de várias nacionali dades na mata. Havia já uma infra-estrutura preparada clandcsl inamcntc para receber os "imigrantes".

Ecozônia, I da em pós-ca;stã (telepatia) - Quinze dias após sua instalação, esta colônia-piloto, si luada na antiga Amazônia brasilei ra, já conta com cem mil membros. Suas leis fundamentais são: andar nus, trabalhar apenas o indispensável para comer, propriedade coletiva, amor livre, praticar intensamente a magia. É um comunismo tribal radi ca l. O principal an imador espiritual da com uni dade, pajé Zimbum, ex-padre ca tólico, com o corpo pintado de vermelho e usando chifres de boi , declarou: "É apenas o iní-

leira vem detectando a presença de aviões desconhecidos voando sobre a Amazônia. Suspeita-se da existência de algum campo de pouso clandestino em plena mata, com fins ignorados . São Paulo, 5/5 (local) - O Presidente da TFP alertou a opinião pública para os incessantes rumores de que a Amazônia seria invadida, com apoios internacionais, por excedentes de população de diversos países. Haveria conicio; destruíremas todas as ciâades, tovências no clero e em alguns membros maremos conta do mundo". Núc leos do Governo brasileiro. semelhantes vão ser implantados no Lhassa (Tibet), 2/6 (UW) - Bru- · Marrocos, no N epa l e na Occania. xos de todo o mundo e de todo o tipo Québec, 5/8 (fax) - O espetacular (mesmo os que não estiveram presentes crack da economia norte-americana, e à ECO-92, no Rio de Janeiro), unir-se-ão com ela a de todo o Ocidente, a invasão numa corrente de pensamento e de eflúda E uropa por hordas de indivíduos que vios para pressionar a derrubada da sose dizem famintos, vindos do Leste, ciedade de consumo e a instauração de parecem prenunciar o fim da civilizauma "nova era" governada pelos espíção. Desde a Áustria até Portugal, psiritos que habitam as entranhas de Gaia cologicamente preparadas pela propa(assimchamamelesà Terra).Na sextaganda, as populações não oferecem feira, 13, na hora em que a lua cheia qualquer resistência, e já estão se des-

pojando de seus haveres. O mundo está fadado a ser uma imensa Ecozônia.

Ex-Roma, VII (fonte confidencial) - Esparsos pelo mundo1 os p quenos núcleos de resistentes à onda ecológico-tribalista-ocultista estão sendo cuidadosamente detectados e n utral izados . Seus componentes obsti nam-se em querer uma volta à c ivili zação cristã e põem sua esperança nu ma intervenção do Céu.Falam num casti go próximo, que Nossa Senhora tcri H profetizado em Fátima e de um Rc in de Maria que virá. A simples presença d sses irredutíveis agasta e inquieta a cozônia mundial. Ecozônia, IX - Certos sin ais havidos ultimamente parecem pr nun ·iar algo de extraordinário, que os bruxos não conseguem evitar. N ão ·h v ' no Planeta há um mês, epidemias s ' •spa lham por toda parte, os animais ulucam as colônias e produzem devaslnço s, enfim a natureza parece cm rcvolln ' (>ntra o homem ecológico. O ·u av •rm ,_ lhado à noite, e o sol que "baila" durnnt c o dia, também causam temor. s ... temos de interromper o noti iário pois a temperatura sobe vertig inosom 'Ili há uma chuva lá fora que par ' fo go; está entrando aq ui agora um ...

,. ,. ,. "Depois apare •11 110 céu um grande sinal: uma m11lh ,,. vestida de so~ e a lua debaixo d , s '11sp és, e uma coroa de doze estr •las so/Jre a sua. cabeça" (Ap. 12, 1).

nquanto o Brasil atravessa ddicado momento político, projetos de lei preparam, entre nós, na surdina, uma profunda revolução. "Quem poderia imaginar que votaríamos o projeto de regulamentação da refonna agrária com as galerias vazias" exclamou o deputado Roberto Rolle~nberg, na sessão do dia 26 de junho último, quando a Câmara aprovou o p~ojeto PL 11D;91, relativo às desapropnações para fins de Reforma Agrária. No dia 30 de junho, a Câmara aprovaria, igualmente sem o público saber, outro projeto, PL 71B/89, que estab~le~ um rito sumário para as desapropnaçoes. A batalha pela aprovação de uma lei radical e fulminante para a Reforma Agrária começou na Constituinte.

No texto da Carta Magna (artigos 184 a 191), foram incluídos pcrnicios~s dispositivos relativos à Reforma Agraria. Durante dois anos, rolaram pelas comissões da Câmara vários projetos que pretendiam regulamentar aqueles dispositivos. A esquerda parlamentar, aliada a setores governamentais pró-Reforma Agrária, vinha trabalhando na surdina, mas com determinação, para apressar a regulamentação desses artigos, num sentido socialista. "Esta falta de regulamentação está atrasando o processo de reforma agrária no Brasil", reclamava o Ministro Cabrera. Era preciso, dizia ele, impedir que

"os processos (de desapropriação) permaneçam até sete anos nas mãos da

índice Discernindo...

Ecozônia, ano ...

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Catolicismo é uma publicação mensal da Editora Padre Belchior de Ponte s Lida .

A Realidade Concisamente

Máscara mal afivelada

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Diretor: Paulo Corrêa de Brito Filho

Religião

Rainha e Padroeira, Virgem Mãe Aparecida, salvai o Brasil!

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Nacional O caminho estreito que não tem saída Plebiscito

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Apelo a três Governadores

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Jornalista Responsável: Takao Takahashi Registrado na DRT-SP sob o Nº 13748 Redação e Gerência: Rua Martim Francisco, 665 01226-001 - São Paulo, SP Tel: (011) 825.7707

Caderno Especial

"A morte virá como um ladrão, oculto e de noite"

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Diagramação: Antonio Carlos F. Cordeiro

Atualidade

Campanha Nacional contra a Reforma Agrária e a Reforma Urbana História Há 500 anos as naus de Colombo

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Fotolitos: Microfórmas Fotolitos Lida. Rua Javaés, 681 • 01130-010 São Paulo - SP

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Impressão: Artpress Indú stria Gráfica e Editora Lida. RuaJavaés,681-01130-010 São Paulo - SP

aporta ram na América .. . Escrevem os Leitores

Missionário na Amazônia

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Brasil Real, Brasil Brasileiro

"Jeitinho": pensando no futuro do País do futuro

A correspondência relativa a assinatura e venda avulsa pode ser enviada ao endereço da Gerência de Catolicismo.

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Educação

ISSN - 0102-8502

Deformação a que nossas crianças estão s11ieitas nas escolas Destaque

Sovietes na arte ... OUTUBRO 1992

CATOLICISMO

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Justiça". Havia pressa, portanto, em poder desapropriar. .. Se não· fosse a TFP contar com um experiente e bem montado escritório em Brasília para acompanhar os trabalhos legislativos, ela mesma não ficaria inteirada do curso dos acontecimentos. S eja como for, infelizmente.ª Refo~ma Agrária socialista e confiscatóna está aí. E, junto com ela, uma não menos radical Reforma Urbana . O que Jango não conseguiu fazer, agora está em pleno andamento. "Eu não creio em bruxas, mas que elas existem existem", diz um ditado espa nhol. Pa~afrasea,ndo-o, poder-se-ia dizer: "Eu não creio que ainda haja comunismo, mas que os comunistas estão por aí. .. estão !"

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RELIGIÃO

W eijingsheng, prisioneiro político

Gulag chinês Pequim mantém quinze milhões de pessoas em regime de trabalhos forçados. Destes infelizes, vinte mil são executados a cada ano. A pena de morte é aplicada por razões insignificantes, conforme quotas determinadas para cada província. Afirma-se que os países capitalistas relutam em dar realce às crueldades chinesas, :emendo pôr em risco suas oportunidades de investimento e comércio. Hong-Kong e a China comunista, por exemplo, estão bem entrosados num desagradável tipo de convergência. Em Guangdong (parte mais rica da Costa Dourada da China) muitas pessoas de Hong-Kong vão comprar órgaõs de prisioneiros que serão executados. Tudo combinado previamente com o governo comunista. O macabro comércio é revelado nas obras "Laogai - o Gulag chinês", de Hongda Henry Wu , Westview Press, e "Lágrimas de Sangue - um grito pelo Tibet", de Mary Craig, Editora Harper Collins .

Reforma Agrária? Porquê? Descuido com a colheita, transporte inadequado da mercadoria, abandono de produtos com qualquer pequeno defeito na aparência e o péssimo hábi-

to de descartar o que não consegue o preço cobiçado - tudo concorre para que o Brasil desperdice boa parte de sua abundante e variada produção. O exemplo da fruticultura é frisante: quase metade das frutas colhidas em nosso país são jogadas fora, e ainda assim somos o maior produtor de frutas do mundo. Benedito Pio da Silva, da Associação dos Exportadores de Hortigranjeiros (Hortinexa), calcula que o desperdício anual de frutas no País atinge dez milhões de toneladas. O total equivale ao que, juntos, conseguem produzir Chile, Uruguai, Paraguai, Bolívia, Peru e Equador! Não é raro, porém, que tenhamos "inconvenientes"

Máscara mal afivelada Em 1987, havia na extinta URSS quatro bancos, todos subordinados ao Banco Central. Hoje existem mais de dois mil! Indício veemente de que o comunismo lá cessou? Convém não se apressar. São os antigos lídere.s comunistas - hoje com novos rótulos - que dirigem esses bancos ... O disfarce mais usual, nos países de além ex-Cortina de Ferro, é o controle das estatais, agora "privatizadas". Velhos burocratas comunistas adquirem o domínio de tais empresas mediante subornos; outros, valendo-se de suas relações e poder político, manipulam

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que decorrem de super-safras . Conforme o presidente do Sindicato dos Permissionários em Centrais de Abastecimentos de São Paulo, Cláudio Ambrósio, tal se deu, por exemplo, no ano passado, com os produtores de Pi edade, que I nç ram fora grande p rt d produção d c boi o b l ta, por ser oxco iv .... Surpreendo qu , visl desses d dos, os os qu rdistas ainda continuem a propalar qu e a estrutura agrária brasileira é injusta e geradora de mis éria, e os legisladores queiram impingir ao Brasil uma Reforma Agrária .

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leilões ou f zom compras a preços vi . Em lgun c sos, a ex"priviligonl 1 " - constituída p I odi da "nomenklatur " ope ra de modo m i u v . Assim, certos orvl ços do informações utiliz m su antigas firm as de lmportaç o e exportação, c m vi tas a manter negócios oxcusos fun cionando - "I v gom" de dólares, ou comórcio do armas. Noutros países da região, membros do velho e desgastado PC são facilmente reconhecidos à testa de Exércitos, órgãos de segurança e outras funções afin s.

A prosseguir isto acentua "The Economist", em edição dos últimos meses -, dentro em pouco uma duvidosa nova classe de "capitalistas" estará no comando da economia e da administração em cada um daqueles países, podendo manipular os políticos com mais êxito do que antes!

ainha Padroeira, Virgem Mãe Apareci salvai o Brasil!

Desconfia-se da mídia Desvendar falsificações ou manipulações parece ser tema obrigatório da mídia em todo o mundo, nos últimos tempos. Ao mesmo tempo, porém, ceticismo, suspeita e desconfiança crescem no público com relação aos meios de comunicação social. Conforme "Le Monde Diplomatique" , conceituado mensário francês, o fenômeno se generaliza. Nos EUA, os jornais television ados perdem au diência, sendo que os procedim entos que utilizam para reverter o quadro não fazem senão aumentarlhes o descrédito. Na França, cerca de metade da população não crê que a televisão reproduza as coisas como se passaram realmente. A desatenção, a negligência e a preguiça que se es palham nos meios jornalísticos e informativos in genere manifestam, assim, o grau de massificação e decadência cultural com que nos defrontamos . "Nossa SenhoraAparecida! - A exclamação acode freqü entemente ao espírito dos brasileiros. E sobretudo nas grandes ocasiões. Pode ser obrado de uma alma aflita que se dirige a Deus pela intercessãodaMedianeira que nada recusa aos homens, e à qual Deus, por sua vez, nada recusa. Pode igualmente ser a exclamação de uma alma que nãQ se contém de alegria, e . extravasa seu agradecimento aos pés da Mãe, de quem nos vêm todos os benefícios". PLINIO CoRR~A DE OLIVEIRA

O País atravessa uma grave crise, sobretudo de ordem moral e religiosa, com reflexos em todos os campos da vida. Como meio de vencer as dificuldades presentes, impõe-se um reafervoramento confiante da terna e filial devoção à celeste Padroeira do Brasil, cuja festa se celebra no dia 12 do corrente mês. Para tanto, nada parece tão oportuno como rememorar aqui a singela história do milagroso encontro da imagem da Senhora Aparecida e a rápida expansão da devoção a Ela, bem como os favores com que tem abençoado a pátria brasileira.

CATOLI CISMO

OUT UBRO 1992

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A

devoção a Nossa Senhora Aparecida deitou raízes tão profundas na psicologia e na religiosid~de do povo brasileiro que, nos momentos de crise como este pelo qual passa o País, para solidificannos a fé autêntica e reencontrannos a verdadeira identidade nacional, devemos reafervorar o amor à Padroeira. Só assim poderemos vencer as presentes dificuldades e caminhar rumo aos altos destinos histórico~ que aguardam nosso grande e querido Brasil.

Prodígios confirmam a devoção A devoção a Nossa Senhora Aparecida propagou-se graças aos prodígios e m ilagres que a cercaram, sendo o primeiro deles o próprio encontro da imagem. Um dos pescadores, Felipe Pedroso, conservou a imagem por cerca de quinze anos em sua pobre casa, e depois fez

Compreenderam então que a Virgem queria que a imagem retirada das águas do Paraíba fosse venerada publicamente. Para atender a esse manifesto desejo da Senhora Aparecida, ergueram-lhe uma capelinha, com o apoio do Padre José Alves Vilela, piedoso Vigário da Paróquia de Santo Antonio de Guaratin-

O encontro milagroso Foi em plena época colonial, quando a Nação estava forjando a sua persona1idade através da catequização dos silvícolas, desbravamento das matas, conquista e povoamento do solo, que a Providência quis intervir milagrosamente em nossa História, pelo achado da imagenzinha da Aparecida. A história desse encontro tem a beleza singela e sublime das narrativas evangél icas. 1 Era o ano de 1717. Corria o mês de outubro. D. Pedro de Almeida e Portugal, Conde de Assumar e Governador da . Capitania de São Paulo, dirigia-se para as Minas Gerais, seguindo o curso do Rio Paraíba. Ao chegar à Vila de Guaratinguetá, por ser dia de abstinência de carne, a Câmara Municipal solicitou aos pescadores da região que fornecessem peixes para o banquete que seria oferecido ao ilustre fidalgo português. Entre os pescadores que se lançaram com suas barcas nas águas do caudaloso Paraíba encontravam-se Domingos Garcia, João Alves e Felipe Pedroso. Em vão, porém, jogavam suas redes de um lado e de outro: elas voltavam sempre vazias, pois a temporada estava ruim. Depois de muitos lances, João Alves, ao recolher sua rede, percebeu que havia apanhado alguma coisa. Surpresos, os três pescadores viram que se tratava do corpo de uma pequena imagem de barro, à qual faltava a cabeça. Tornando a lançar a rede um pouco mais abaixo, o mesmo pescador recolheu a cabeça da imagem, o que deixou a todos maravilhados. Logo reconheceram que se tratava de uma representação de Nossa Senhora da Conceição. A pescaria, até então infrutífera, tornou-se tão abundante que a barca quase afundava.

O Padre João de Morais e Aguiar, Vigário em 1757, comenta que "se foi

dilata.ndo a fama até que, patenteando-se muitos prodígios, que a Senhora fazia, foi crescendo a fé ... Os prodígios desta imagem foram autenticados por testemunhas e ainda continua a Senhora com seus prodígios, acudindo a sua santa Casa romeiros de partes distantes a gratificar os benefícios recebidos desta Senhora".

A piedosa Princesa qu is honrar a milagrosa imagem da Senhora Aparecida oferecendo-lhe dessa vez uma riquíssima coroa de ouro, cravejada de brilhantes. Essa coroa servi u, vinte anos depois, para a solene coroação da imagem, por ordem do Papa São Pio X .

Aparecida e a Independência do Brasil

Em 8 de -setembro de 1904, a Imagem da Padroeira do Brasil foi coroada por ordem do Papa São Pio X, sendo utiliz.ada na cerimônia a rica coroa ofertada pela Princesa Isabel

presente dela a seu filho Atanásio, que a colocou num tosco altar. Todos os sábados a vizinhança se ajuntava ali para rezar o terço e fazer outras devoções diante da imagem milagrosamente encontrada, a imagem "aparecida", como diziam. E o nome de "Aparecida" ficou designando a imagem: Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Numa das ocasiões em que os devotos ali rezavam o terço, as velas se apagaram, sem que houvesse vento, pois a noite estava serena. Silvana Rocha levantou-se para acendê-las, mas todos, maravilhados, viram que elas se acenderam novamente, sozinhas. Este foi, segundo as antigas crônicas, o primeiro dos grandes prodígios operados pela Senhora Aparecida. Logo vieram outros. Várias vezes ouviram-se ruídos e estrondos onde se achava a imagem, e o tosco altar tremia, sem que ninguém tocasse nele. Estes fatos repetiram-se com insistência.

guetá, cm cujo território a imagem fora encontrada.

"Famosa pelos muitos milagres realizados" As graças e favores que a Senhora da Conceição Aparecida vem derramando sobre o Brasil são atestados por documentos dignos de todo o crédito. Um dos primeiros a escrever sobre esses favores foi o mesmo Padre Vilela, o qual fez o relato básico do encontro da imagem e dos primeiros milagres da Aparecida. Num documento de 1743, o zeloso Vigário já se refere aos "muitos

milagres que tem feito a dita Senhora a todos os moradores". A crônica da Missão pregada em 1748 pelos jesuítas ressalta igualmente a fama dos milagres: "Aquela ima-

gem, moldada em argila ... é famosa pelos muitos milagres realizados. Muitos afluem de lugares afastados, pedindo ajuda para suas próprias necessidades".

O Brasil tornou-se independente sob a maternal proteção de Nossa Senhora Aparecida. D. Pedro, então Príncipe Regente, viajando do Rio de Janeiro para São Paulo, quis rezar diante da imagem da Aparecida. Prometeu consagrar-Lhe o Brasil, caso resolvesse favoravelmente com pi icada situação política. Foi isto no dia 22 de agosto de 1822. Quinze dias depois, a 7 de setembro, na Colina do Ipiranga, em São Paulo, nascia o Brasil independente, pelo brado histórico do Príncipe que se tornava assim nosso primeiro Imperador, D . Pedro I.

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Padroeira do Brasil Em 1930, atendendo ao sempre crescente aumento da devoção a Nossa Senhora Aparecida, e verificando as graças e favores insignes que Ela derramava sobre todo o País, o Papa Pio XI, a pedido dos Bispos brasileiros, proclamou-A Padroeira de nossa querida Pátria.

Renovação da Consagração e apoteose da Padroeira

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No ano seguinte, o Cardeal D. Sebastião Leme, Arcebispo do Rio de Janeiro, quis renovar, em união com todos os Bispos brasileiros, a Consagração de nosso País à Senhora da Conceição Aparecida, por meio de uma grandiosa cerimônia, com a presença da verdadeira imagem da Padroeira. A viagem da Rainha do Brasil por via férrea foi um triunfo, com grande aglomeração de fiéis em todas as estações do percurso. Na então Capital FedeO sacrílego atentado reduziu a sagrada Imagem a 165 fragmentos ral, a Senhora Aparecida foi Visitas da recebida e acompanh&da por Princesa Isabel uma multidão calculada em um milhão Coroação da Rainha do Brasil No ano de 1868, a festa da Aparecide pessoas. Em 1903, os Bispos da Província da, que então se celebrava no dia da No dia 31 de maio de 1931, o CarEclesiástica Meridional do Brasil rogaImaculada Conceição (8 de dezembro), deal Leme leu a fórmula da Consagraram ao Santo Padre que mandasse coteve um brilho especial. ção, na presença de todo o Episcopado, roar em seu nome a imagem de Nossa A Princesa Isabel, herdeira do trono das mais altas autoridades civis e miliSenhora da Conceição Aparecida, por brasileiro, quis participar das festividatares, do Corpo Diplomático e da imenocasião do cinqüentenário da proclamades junto com seu marido, o Conde sa multidão de fiéis. ção do dogma da Imaculada Conceição, d'Eu . Vinham pedir à Senhora ApareciFoi essa uma das maiores demonsa transcorrer no ano seguinte. da a graça de um herdeiro. trações de Fé da História pátria e selou No dia 8 de setembro de 1904 reuniPara manifestar a sua devoção, a definitivamente a união do Brasil com a ram-se em Aparecida oito Bispos e dois Princesa doou para a imagem uni manto Virgem Aparecida. Abades, tendo à frente o Núncio Aposriquíssimo, enfeitado com vinte e um tólico, D. Júlio Tont i, numerosos Sacerbrilhantes, representando as vinte ProAs graças e dotes e Freiras, autoridades civis e milivíncias do Império e mais um para a milagres continuam tares, além de uma grande multidão de Capital. A história de Aparecida tem o milafiéis, vindos dos mais longínquos ponAnos depois, em 1884, Dª Isabel gre na sua origem. tos do território nacional. voltava a Aparecida para agradecer a Pinturas nas paredes da nave central Após a Missa Solene celebrada pelo graça recebida. Feliz, vinha acompada Basílica Velha representam de forma Núncio, o Bispo de Petrópolis, D. João nhada não só do Esposo, mas igualmenexpressiva alguns dos primeiros milaB. Braga, proferiu vibrante sermão e leu te dos três filhos, os Príncipes D. Pedro, gres que se tornaram famosos. a fórmula da Consagração do Brasil a D. Luís e D. Antonio. OUTUBRO L992

CATOLICISMO

Nossa Senhora Aparecida, que o povo, de joelhos, ia repetindo. A seguir, o Bispo de São Paulo, D . José de Camargo Barros, cingiu a fronte da imagem com a coroa oferecida pela Princesa Isabel.

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Os romeiros da TFP entoam cantos de agravos à Virgem Nossa Senhora Aparecida, diante da Basílica nova

Essas graças e prodígios, entretanto, não cessaram com o correr do tempo. Maria Santíssima, de seu trono em Aparecida, continua ainda hoje a derramar sobre seus fiéis devotos ch uva s de gra ças e bênçãos, e a operar verdadeiros milagres. Reproduzimos aqui, por falta de espaço, apenas um caso, ocorrido há poucos anos: "Uma família humilde veio da cidade de Cuiabá, MT, para agradecer. Quem nos conta a graça alcançada é a mãe da criança, dona Edna Neri: " - Nosso filho pequeno estava brincando debaixo de um caminhão. Aconteceu que o motorista, sem p erceber, pôs em movimento o caminhão. Foi tudo tão rápido que não pudemos impedir a saída do caminhão, mas gritamos por Nossa Senhora Aparecida. "Assustado, o motorista freou o veículo, julgando que tivesse passado por cima da criança. O menino sofreu apenas alguns ferimentos leves e já está perfeitamente bom. "Era o dia de sua festa, 12 de 01.aubro de 1983. Naquele dia meu marido havia feito, logo cedo, uma prece diante de sua imagem agradecendo e pedindo proteção para toda a família. E na quele mesmo dia Nossa Senhora nos amparou, salvando nosso filho de ser esmagado pelas rodas do caminhão. Estamos aqui com toda a família para agradecer". 2

A sacrílega profanação O Brasil se sentia tranqüilo sob a proteção maternal da Senhora Aparecida. Talvez tranqüilo demais, pois a decadência moral e religiosa dos últimos tempos - que havia culminado com a introdução do divórcio em 1977-fazia temer que a Virgem Santíssima estivesse descontente com nosso País. Foi en tão que se deu um dos fatos mais graves de nossa História: no dia 16 de maio de 1978, durante a Missa vcs-

pcrtina, na Basílica Velha, um protestante fanático arrebatou de seu nicho a milagrosa imagem, jogando-a ao chão. E la se partiu cm mais de cento e sessenta fragmentos. A comoção cm todo o Brasil foi enorme, e as pessoas piedosas procuraram oferecer atos de reparação por tamanha afronta à Padroeira, Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Em desagravo à Virgem Aparecida, a TFP promoveu, no domingo seguinte à sacrílega profanação, 21 de maio, grande romaria a Aparecida. Uma coluna de mais de dois mil metros de extensão, formada . por seus sócios e cooperadores, caminhou víirios quilómetros pelo acostamctno da via Dutra, conduzindo uma réplica da Imagem da Padorcira. Na antiga Basílica, onde havia ocorrido o atentado, foi celebrada, por iniciativa de TFP, Missa reparadora , durante a qual comungaram todos os romeiros da entidade. Dirigindo-se depo is à Basílica nova, ali rezaram e entoaram câ nticos cm louvor da Mãe de Deus. A perfeita restauração da imagem foi mais um prodígio da Senhora Aparecida, desta vez pelas mãos de artistas e técnicos competentes !

Advertência materna Maria Santíssima permitiu a quebra da milagrosa imagem da Aparecida para nos alertar, a fim de que abandonemos o estado de indiferentismo religioso em que se encontra imerso nosso povo; deixemos o uso das modas imorais, que tanto ofendem a Deus e contristam a Virgem toda pura; renunciemos à assistência de novelas e filmes imorais; combatamos os costumes que dissolvem nossa sociedade; enfim, restauremos em toda a sua força a verdadeira família cristã. Para tanto, impõe-se um reafcrvoramcnto confiante da terna e enlevada devoção Àquela que é a nossa Advogada clemente e cheia de doçura, a Senhora da Conceição Aparecida, Mãe de Deus e Mãe nossa! Senhora Aparecida, salvai o Brasil! Outra ameaça ronda, entretanto, nosso País: leis de Reforma Agrária e Reforma Urbana, contrárias ao direito de propriedade e altamente estatizantes, poderão precipitar o Brasil num regime praticamente comunista , transformando-o numa imensa Cuba. Ergamos, então, nossa súplica à excelsa Padroeira: Senhora Aparecida, salvai o Brasil! Gustavo Antonio SOLIMEO

Luiz Sérgio SOLIMEO

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a história e os milagres de NOSSA SENHORA APARECIDA

~ os fundamentos da devoção a

MARIA SANTÍSSIMA

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l. G ustavo Antonio Solimeo e Luiz Sérgio

Solimeo, Rainha !ÚJ Brasil - A Maravilhosa Hist6ria e os M ilagres de Nossa Senhl!ra da Conceiçãl! Aparecida, Diário das Leis, São Pau lo, 1992. 2. Pe .Ju lio Brustoloni,A SenhoradaConceiçãl! Aparecida., Ed. Sant uário, Aparec ida, 1984, p. 280.

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No interior da Basílica, os romeiros da TFP rezam a Ladainha de Nossa Senhora, em reparação à Padroeira CAT0LICJSM O

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NACIONAL

PLJNIO CORRÊA DEOLJVEIRA

, A Reforma Agrária coloca nas mãos do Estado todo o "ager" brasileiro, reduzindo grandes, pequenos e médios proprietários mais ou menos à condição de .. mu1zques

cmn precnsível que, no vórtice da presente crise política - talvez a mais aguda que o Brasil tenha conhecido as atenções convirjam todas para uma pergunta carregada de ansiedade: "O que será do dia de amanhã?" Entretanto, nem todos se dão conta de que, paralelamente, nosso País vai sendo lançado para outra crise ainda mais grave. Põe ela em risco dois princípios fundamentais da civi lização cristã, que são também dois pilares da ordem sócio-econômica no Brasil. Esses princípios são o da propriedade privada e o da livre iniciativa. Com a queda da cortina de ferro, patentearam-se aos olhos de todas as nações a miséria e o caos em que a completa transgressão desses princípios, pelo regime comunista, havia lançado as imensidades abrangidas na denominação de URSS. Solícitos acorreram os países do Ocidente, logo depois da "dcscomunistização", a proporcionar ao mundo ex-soviético recursos ciclópicos de toda ordem, a fim ·de ajudar os povos que o desmoronamento da URSS deixava livres, e lhes proporcionar a saída do lamaçal escuro cm que se haviam atolado. Mas, por fim, a generosidade ocidental começou a dar mostras de cansaço diante da inutilidade desses auxílios, causada por um fator negativo, de cuja presença na crise dos países ex-comunistas poucos haviam suspeitado. Fator, este, todo psicológico, e clamando por sua solução. E, pois, ex igindo a mo-

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bilização de toda paciência e competência sem as quais fatores desta natureza são insuscetíveis de solução. Em duas palavras, 74 anos de totalitarismo policialesco e de dirigismo presentes em todos os campos da atividade humana haviam quebrado na população os molejos psicológicos necessários para que a livre iniciativa se pusesse energicamente em movimento e, acionando o instituto da propriedade privada, começasse a sair, por fim, do miserabilismo preguiçoso e beberrão, inerte e infrutífero em que jaziam as nações comunistas. E, enquanto estudam atônitas o dédalo de problemas daí decorrentes, as nações do Ocidente vão, à uma, desmobilizando seus partidos comunistas e socialistas, desativando o que há de estatismo hipertrofiado em seu sistema de produção, e, enfim, caminhando em sentido oposto ao que produzira, na finada URSS, uma das maiores catástrofes psico-sociais, políticas e econômicas de que a História dê notícias. Assim, é fácil conceber a indignação causada em todos os ambientes sadios da população com o conhecimento de que, dentro da tempestade política em que estamos, parlamentares brasileiros não tiveram dúvidas em dar acelerado andamento aos projetos de lei llD/91 e 71B/89, sobre Reforma Agrária, e provavelmente farão o mesmo com o projeto de lei 5.788/90, sobre Reforma Urbana, q·ue, sob a alegação de regulamentar os dispositivos do Título VII, Capítulos II e III, da Cons-

tituição Federal, visam instaurar no Brasil as duas mais gigantescas reformas até aqui propostás por legisladores não declaradamente comunistas. Trata-se, em primeiro lugar, de uma Reforma Agrária que coloca em mãos do Estado todo o "ager" brasileiro, reduzindo grandes, pequenos e médios proprietários mais ou menos à condição de mujiques, através de uma engrenagem de desapropriações rápidas, a preço vil, pago pelo Poder Público com Títulos da Divida Agrária, desvalorizados e resgatados parceladamente ao longo de 20 anos. Como se vê, seria difícil imaginar pior. Impossível é entrar aqui em mais pormenores sobre a devastação sem nome que tal refonna imporia à vida rural brasileira. Um só exemplo dessa tirania pode dar idéia do que seria o Brasil agro-reformado. Não serão suscetíveis de desapropria ção os imóveis rurais de pequenas proporções, aliás mal defi nidas pelo projeto de lei llD/91. Mas esta imunidade agrária cessará desde que o proprietário contrate, em caráter habitual, um - um só! - trabalhador extrínseco à família. Pois nessa pequena propriedade só poderão trabalhar o casal proprietário e seus filhos. Segundo dispõe o projeto de lei, a terra, se bem aproveitada, deve absorver toda a capacidade de trabalho da família. Em conseq üência, imagine-se uma família recémconstituída, e que conta ir tendo filhos no decurso dos anos. É fácil conceber a que complicações e riscos expropriatórios ela fica suj eita no caso de, contra a expectativa habitual, o matrimônio ficar estéril , ou de ser muito reduzido o número de filhos que dele efet ivamente nasçam. Como ainda, se, por algum acidente de trabalho ou de qualquer outra natureza, o pai, a mãe ou alguns filhos ficarem reduzidos à definitiva invalidez. Quanto à Reforma Urbana, prolixa, despótica, mais totalitária quiçá que a Reforma Agrária, basta mencionar o disposto pelos artigos 24 a 26 do projeto de lei 5.788/90. Quando, em qualquer cidade de mais de 20 mil habitantes, se tratar de comprar ou vender um imóvel não construído, cm áreas delimitadas por lei municipal, o vendedor é obrigado a comunicar à Prefeitura o preço que tenha encontrado. Se esta quiser, terá preferência obrigatória para a aquisição do terreno. Outros três projetos de Reforma Urbana, igualmente em tramitação, vão além, e estendem esse direito de preempção a quaisquer outros imóveis, construídos ou não! Pode-se imaginar o gigantismo desconcertante do aparelhamento burocrático que, para exercer tal direito de preempção, as Prefeituras do Brasil inteiro terão que montar, bem como a burocracia, mole, tardia e politi-

queira que nesse emaranhado de funcionários se há de instalar. Mas há mais. Se a Prefeitura quiser, poderá obrigar o proprietário a vender-lhe o imóvel por preço inferior ao oferecido pelo ca ndidato a comprador. Bastará que ela organize uma arbitragem sobre o preço "justo" (cfr. art. 26, § P), que o proprietário fica na obrigação de vendê-lo por este preço ...

* *

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Tudo isto explica a inconformidade absoluta do povo com essas reformas, que tão bem poderiam quadrar com os planos de qualquer partido comunista do mundo. Tal inconformidade, por sua vez, explica bem o sucesso do abaixo-assinado promovido pela TFP a partir do dia 11 de agosto p.p. Nesse abaixo-assinado se pede a realização de um Plebiscito ou Referendo (na forma dos arts. 1 °,§único e 14, I e II da Carta Magna), para saber se realmente o eleitorado deseja essas leis cuja promulgação eq uivaleria a um forte empurrão que atiraria o Brasil aos bordos da situação em que se encontra a Rússia. Em apenas um mês, cerca de 346 coletores de assinaturas, Sócios e Cooperadores da TFP, trabalhando abnegadamente de sol a sol, e mais os nossos bravos Correspondentes, atuando nas horas de lazer, em 98 cidades, obtiveram 1.128.966 assinaturas. E com quanto calor, com quanto entusiasmo afluem a esses coletores, brasileiros de todas as classes sociais e profissões. Assim, atendendo à iniciativa da TFP, essas multidões que o abaixo-assinado aglutinou, pedem simplesmente a nossos homens públicos que ponderem toda a impopularidade desses projetos de lei e, pois, a inadequação deles a um regime que se proclama democrático. Das apertadas saídas que alguém possa excogitar para o Poder Público nesta emergência, uma é simplesmente inviável para ele: não convocar o Plebiscito.

OUTUBRO 1992

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Em apenas um mês, em 98 cidades, os sócios e cooperadores da TFP, mazs os bravos correspondentes, obtiveram 1.128.966 de assinaturas

Brasileiros de todas as classes sociais afluem para dar ma adesão ao abaixo-assina.do


Plebiscito sobre a Reforma Agrária:

Apelo a três Governadores O

s governadores do Rio Grande do Sul, Sr. Alceu Collares, do Paraná, Sr. Roberto Requião, e de Santa Catarina, Sr. Vilson Kleinubing, pronunciaram-se em favor da urgente promulgação de uma Reforma Agrária no País, mediante mensagem dirigida ao Presidente do Congresso Nacional, Senador Mauro Benevides. Diante disso, o. Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, Presidente do Conselho Nacional da TFP, enviou àqueles três governadores carta solicitando que se empenhem, isto sim, para a realização de um plebiscito prévio à aprovação dos projetos de Reforma Agrária, os quais estão tramitando no Legislativo. Transcrevemos a seguir a missiva remetida ao governador do Rio Grande do Sul. Textos análogos ao dessa carta foram dirigidos aos governadores do Paraná e de Santa Catarina.

realização de uma consulta plebiscitária a ser efetivada em breve. Ora, sem subestimar a importância dessas opções, a TFP tem por certo que a Reforma Agrária atualmente em foco será de molde a introduzir em nosso País modificações muito mais importantes no que a presente ordem social, política e econômica tem de mais profundo. Assim, a própria autenticidade da democracia, da qual são por certo ardorosos protagonistas os três destacados governadores, está a lhes pedir que empenhem, no sentido da realização da dita consulta plebiscitária prévia à Reforma Agrária, toda a influência que lhes advém de seu prestígio político, como de sua situação à testa das três importantes e tão benquistas unidades da Federação brasileira. 3. E, como atualmente também está em curso um projeto de regulamentação do Título VII, Capítulo II da Constituição Nacional (PL 5.788/90), que visa instituir no Brasil uma Reforma Urbana ainda mais radical do que a Reforma Agrária "in fieri", a TFP se prevalece da presente ocasião para realçar quanto seria antidemocrático que também essa Reforma Urbana fosse aprovada sem prévia consulta a nosso povo. 4. Por fim, a TFP encarece que esse desideratum de um plebiscito não é apenas do círculo definido de seus Sócios, Cooperadores e Correspondentes, mas das centenas de milhares de brasileiros, signatários de uma mensagem de análogo teor dirigida aos Exmos. Srs. Fernando Collor de Mello, Presidente da República, Mauro Benevides, Presidente do Senado Federal, e Ibsen Pinheiro, Presidente da Câmara dos Deputados. A campanha de coleta pública de assinaturas para essa mensagem teve início no dia 11 do corrente, na cidade de São Paulo, e Jogo em seguida se desdobrou por todo o Brasil com a muito eficiente colaboração de 300 coletores patrioticamente dedicados. Já hoje, o número de assinaturas ascendeu a 439.070, e a campanha de coleta atingiu 56 municípios. Como se vê, tem ela fundas raízes na opinião nacional, e tende a alcançar em breve todo o território pátrio. É de notar que dita campanha vai transcorrendo na maior ordem, não merecendo especial menção a meia dúzia de investidas contra ela feitas por desordeiros ligados a bem conhecidos corpúsculos de extrema-esquerda, remanescentes inconformados de correntes ideológico-políticas que, antes do desmoronamento do regime soviético, chegaram a gozar, em nosso País, de certa projeção. Agradecendo de antemão a atenção que V. Excia. queira dar à presente, subscrevo-me com distinta consideração

São Paulo, 21 de agosto de 1992 Excelentíssimo Senhor Dr. Alceu Collares DD. Governador do Rio Grande do Sul Palácio do Pira tini PORTO ALEGRE Senhor Governador A Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade -TFP, tendo tomado conhecimento, através da imprensa, dos pronunciamentos de V. Excia., como também dos Srs. governadores do Paraná e de Santa Catarina, em prol da urgente promulgação ele uma Reforma Agrária em nosso País, pede vênia para ponderar o que segue: 1. Confonne é notório em nosso território-continente, esta entidade vem atuando há mais de 30 anos no sentido de fazer ver à opinião pública a incompatibilidade das várias proposituras agro-reformistas que se têm sucedido durante esse tempo entre nós, com o direito de propriedade e a livre iniciativa -princípios básicos da moral e da civilização cristãs. E, ademais, os trágicos inconvenientes que a aplicação dessa reforma, típica do capitalismo de Estado, acarretaria para o Brasil, à maneira do que já acarretou para o desditoso mundo soviético. 2. Embora se situe assim em posição divergente de V. Excia., e dos outros dois governadores mencionados, a TFP, animada pelo propósito de colaborar com todos os brasileiros para a el uc idação dos grandes problemas nacionais e a fidelidade aos princípios fundamentais da ordem pública vigente - e certa de coincidir nisto com todos os brasileiros-, julga importante realçar que está no espírito de nossa Constituição não sujeitar o País a modificações de tal importância sem consultar a opinião nacional por meio de um plebiscito ou referendo. Assim, quanto à opção entre monarquia e república, como entre presidencialismo e parlamentarismo, a Constituição (art. 2u do Ato das Disposições Transitórias) determina a

Plinio Corrêa de Oliveira Presidente do Conselho Nacional

CATOLICISMO

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Reservamos o·CADERNO ESPECIAL desta edição para abordar um tema-chave da vida espiritual de todo e qualquer.homem: a morte. Escolhemos o presente mês para desenvolver esse tema, tendo em vista que, logo no início de novembro (dia 2), a Sagrada Liturgia . · apresenta-nos a comemoração de todos os fiéis defuntos ou de Finados. Assim sendo, nossos prezados leitores poderão, com antecedência, preparar-se para tão importante celebração, meditando sobre os novíssimos do ,homem, isto é, os últimos acontecimentos da vida de·todo ser humano: morte,juízo e, como decorrência, Céu ou inferno. Meditação essa insistentemente recomendada · por todos os mestres da vida : espiritual.

''A morte . ,,, vira como um ladrão, oculto e de noite'' .

A 11wrte chega como o ladrêio: repentina e, às vezes, violenta

O

a contecimcnto que a seguir narramos niío sofreu as alterações da imagina ção, nem mesmo as legítimas, como sucede com as lendas. É fato real, ocorrido numa pequena localidade do interior do Estado do Paraná. Um cas al convida um sacerdote para um almoço familiar, no qual também está presente o filho único, de seus vinte e c inco anos de idade. Às tantas, de maneira um tanto insólita, o jovem pergunta ao religioso se uma mulher de má vida vai para o Céu. O padre respondeu como devia, segundo a doutrina católi ca: "Nâo, meu Jillto, se ela

não se converter e mudar de vida, não irá para o Céu". "Então, padre - responde o rapaz - , quero ir para o inferno com as prostitutas". Diante dessa resposta, a mãe do rapaz põe-se a chorar e faz-se na sala uma atmosfera tensa e pesada, niío havendo clima para continuar qualquer conversa . Pois bem, na manhã seguinte, o jovem morre terrivelmente esmagado no interior de seu carro, que colid iu com uma carreta em alta velocidade, numa rodovia próxima à cidade. A notícia da conversa do dia anterior espa lha se pela local idade, e ninguém pôde furtar-se -.) forte imprcssiío de um castigo!

*** A morte é certa e todos os nossos demais bens e males siío incertos, dizia Santo Agostinho. É incerto, por exemplo, se o recémnascido terá boa ou má saúde, se morrerá moço ou velho e mesmo CADERNO ESPEC IAL

se será rico .ou pobre. Tudo isso é incerto, mas é indubitavelmente certo que ele deve morrer..Enunca existiu um homem tão néscio que se julgasse isento da morte. Leitor, tanto para mim que te escrevo, quanto para ti, que me lês, está decretado ano, mês, dia e instante, em que eu não poderei mais escrever nem tu ler. O que sucedeu a nossos antepassados, também sucederá a nós. Deles não resta senão um pouco de pó resguardado por lajes sepulcrais. E necessário, pois, que a finalidade de nossa vida não seja a procura da fortuna perecedora dos bens deste mundo, mas a da que não tem fim, já que nossas almas são imortais. Reflitamos que cedo teremos de deixar todos esses bens para irmos apodrecer numa cova ... Não vale a pena, pois, estarmos apegados a eles, mas sim usá-los com desprendimento, para a glória de Deus. Contemplemos, no dia de Finados, as sepulturas de nossos parentes e amigos, cuja sentença já foi executada. E las ali estão como que a nos evocar a frase do Eclesiástico: Ontem, a mim; hoje, a ti (38, 23). O mesmo nos repetem todos os dias, os rctra tos de nossos parentes já falecidos, os livros, as casas, os leitos, as roupas que deixaram.

Eternidade de felicidade ou de tormento Quanta loucura em não pensannos em acertar logo as contas da alma e não aplicarmos os meios necessários para alcançar .uma boa morte, sabendo que temos de morrer, que depois da morte nos está


A morte no convento: religi,osos velam corpo ele um confrade reseivada uma eternidade de felicidade ou de tormento. E não haverá aq ui nenh um meio termo. É verdade, ensinada pela Igreja, que um ou outro destino nos espera. Nós católicos, como todo mundo, sabemos e vemos que a morte é certa. Entretanto, vivemos no esquecimento dela como se nunca tivéssemos de morrer! Se depois desta vida não houvesse nem glória nem inferno, seria admissível pensar menos na morte do que pensamos. Daí procede a vida talvez não tão boa que levemos ... Leitor, se quisermos viver bem, procuremos passar o resto de nossos dias sem perder de vista a morte! Foi pensando na morte que os santos sempre utilizaram os bens deste mundo para a maior glória de Deus. Ou mesmo os desprezaram inteiramente, sepullando-se em vida sobre a terra, para não serem sepultados no inferno depois da morte. Como podem, entretanto, os mundanos, sempre a correr atrás dos gozos, esperar morte feliz, vivendo, como vivem, em pecados? Deus preveniu os pecadores que na hora da morte O procurarão e não O hão de encontrar (Jo. 7, 34). Disse que, então, já não será tempo de misericórdia, mas de justa vingança (Dt. 32, 35). A razão corrobora esta mesma verdade, porque, na hora da morte, o mundano se achará fraco de espírito, obscurecido e duro de coração pelos maus hábitos que contraiu; as tentações manifestar-seão, então, mais violentas, e ele, que em vida se habituou a render-se e a deixarse vencer, como resistirá naquele transe? Seria necessária urna graça extraordinária e poderosa para lhe transformar o

coração. Mas será Deus obrigado cm lha conceder? Ou talvez a mereceu pela vida desordenada que levou? ... Quererá ele pedi-la? No entanto, trata-se, nessa ocasião, da desdita ou da felicidade eterna ...

"Virei como um ladrão" ... Nosso Senhor Jesus Cristo, a fim de que cada homem esteja sempre bem preparado, nos advertiu de que a morte virá como um ladrão, oculto e de noite (1 Tess. 5, 2). Outras vezes nos exorta a que estejamos vigilantes, porque, quando menos o esperemos, virá Ele mesmo a julgar-nos (Lc. 12, 40). Deus nos oculta, para nosso bem, a hora de nossa morte, a fim de que estejamos sempre preparados para morrer. Ninguém ignora que há de morrer; mas o mal está cm que muitos vêem a morte a tamanha distância que a perdem de vista. Morte do pecador O pecador empedernido afasta a lembrança e o pensamento da morte, e procura a paz (ainda que nunca a encontre), vivendo cm pecado. Quando, po_rém, se vir cm face da eternidade e nas agonias da mortc,já não poderá escapar aos tormentos de sua má consciência, nem encontrar a paz que tanto procura. O anúncio já recebido ou percebido da morte próxima, a idéia de se separar para sempre de todas as coisas do mundo, os remorsos da consciência, o tempo perdido, o pouco tempo que falta, o rigor do juízo de Deus, a eternidade infeliz que espera o pecador impenitente, todas estas coisas produzirão uma CADERNO ESPl~CIAL

perturbação terrível que acabrunha e confude o espírito, uma "confusão sobre confusão" (Ez. 7, 26). Com efeito, que confusão e susto não serão os do doente que se tenha descuidado de sua consciência, quando se vir opresso pelo peso dos pecados, do temor do juízo, do inferno e da eternidade! Muitas serão as angústias que hão de afligir o miserável pecador moribundo. Nesse transe os demônios empregam todos os seus esforços para perder a alma que está prestes a sair desta vida . Não estará ali apenas um só, mas muitos demônios rodeando o moribundo para perdê-lo (Is. 13, 21). Um lhe s1,1ssurará: "Não temas, que te restabelecerás". Outro dirá: "Tu, que durante tantos anos foste surdo à voz de Deus, esperas agora que Ele tenha misericórdia de ti?" Outro ainda: "Não vês que todas as tuas confissões foram nulas, sem contrição, sem propósito de emenda?" Deus não cessa de ameaçar o pecador, para o bem dele, com o castigo de uma morte infeliz. "Virá um dia em que me invocarão e então já não os atenderei" (Prov . l, 28). Esperam, poiventura, que Deus dê ouvidos a seu clamor quando estiverem na desgraça? (Jó, 27, 9). "A mim pertence a vingança, e eu lhes darei a paga a seu tempo, para que o seu pé resvale"(Dt. 32, 35). O mesmo repete o Senhor em outros lugares da Escritura, e, não obstante, há pecadores que vivem tão tranqüilos e seguros, como se Deus lhes houvesse prometido, sem mais, o perdão e o Paraíso na hora da morte. Nosso Senhor repetiu muitas vezes que aquele que permanece no pecado, em pecado morrerá (Jo. 8, 21-24) e que, se na morte O procurar, não O encontrará (Jo. 7, 34). É necessário, pois, procurar a Deus enquanto O podemos encontrar (Is. 55,6), porque virá um momento em que já não será possível encontrá-Lo. Conta o cardeal São Roberto Belarmino que, assistindo a um moribundo e tendo-o exortado a fazer o ato de contrição, lhe respondeu o enfermo que não sabia o que era contrição. Tratou o cardeal de lhe explicar, mas disse-lhe o doente: "Padre, não compreendo, nem estou agora capaz de entender essas coisas". E nesse estado faleceu, "dando visíveis sinais de sua condenação". Leitor, isso que se diz relativamente aos outros, aplica-se também a mim e a ti. Se te visses no transe da morte, abandonado dos médicos, privado do uso dos

sentidos e já agonizando, quanto não rogarias a Deus que te concedesse ainda um mês, uma semana de vida para acertares as contas de tua cü°nsciência! Deus te dá agora esse tempo. Agradece-Lhe, pois, e remedeia sem demora o mal que eventualmente tenhas feito, aplicando todos os meios para te achares em estado de graça quando a morte vier, porque então já não será tempo de o fazer.

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A morte do justo Tertuliano afirma que Deus abrevia o tormento de alguém, quando lhe abrevia a vida. Ainda que a morte tenha sido imposta por castigo do pecado, são tantas as misérias desta vida, que, como disse Santo Ambrósio, o morrer mais parece alívio do que castigo. Os tormentos que afligem os pecadores na hora da morte não afligem os Santos. ''.As almas dos justos estão nas mãos de Deus e não os atingirá o tormento da morte" (Sab. 3,1). Como a morte constitui uma violência para a natureza, pois separa a alma do corpo, é normal que uma pessoa, mesmo virtuosa, tenha medo desse momento terrível. Mas, confiante em Deus, na intercessão da Virgem Santíssima, ela estará em paz, e não se deixará tomar por esse receio. Os Santos não temem morrer, nem se afligem por terem de deixar os bens da terra, porque nunca se apegaram a eles. "Deus lhes enxugará todas as lágrimas dos seus olhos e não haverá mais morte" (Apoc. 21. 4). Na hora da morte, Nosso Senhor secará dos olhos de seus servos as lágrimas que derramaram na vida, em meio a trabalhos, temores e perigos contra o inferno. O maior consolo de uma alma que ama a Deus, quando percebe a morte aproximar-se, será o de pensar que em breve estará livre de tantos perigos de ofendê-Lo, -de tanta tribulação espiritual e de tantas tentações do demônio. A vida presente é um bem que pode levar-nos ao Céu, mas é também uma guerra contínua contra o

inferno, na qua l corremos a toda hora o risco de perder a Deus e a nossa alma, se não perseverarmos no caminho reto. Grande favor faz Deus à alma cm estado de graça, retirando-a deste mundo, onde poderia transviar-se e perder a amizade divina (Sab. 4, 11). São Vicente Caraffa consolava-se ao morrer, dizendo: "Terminando minha vida, acabam minhas ofensas a Deus". E Santo Ambrósio dizia: "Para que desejamos mais longa vida, se, quanto mais longa for, de maior peso de pecado nos carrega?" Na verdade, nós devemos desejar viver tanto tempo quanto for a vontade de Deus, mas para amá-Lo e servi-Lo nesta Terra, se necessário lutar por Ele, e não para gozar a vida. Por isso, diz o Profeta Davi: "Não me leves na metade de meus dias" (SI. 101, 25). São João Crisóstomo usava a seguinte figura: imagine-se um rei que tivesse mandado preparar para alguém suntuosa habitação no seu próprio palácio, e, no entanto, o mandasse viver provisoriamente num estábulo; quanto esse homem não desejaria sair do estábulo para ir morar no palácio régio! ... Assim, nesta vida, a alma do justo, unida ao corpo mortal, se sente como num cárcere, de onde há de sair para habitar o palácio dos Céus; é por esta razão que o profeta Davi dizia: "Livrai minha alma da prisão" (SI. 141, 8). Segundo Santo Atanásio, "para o justo não há morte, apenas trânsito, porque, para ele, morrer nii.o é outra coisa que passar para a eternidade feliz". O pecador empedernido teme a morte, porque da vida passará à morte eterna, mas não aquele que, estando na graça de Deus, há de passar da morte à vida. O demônio não deixará de tentar o moribundo, mas acudirá também o anjo da guarda para confortá-lo; virão os santos protetores; virá São Miguel Arcanjo, desünado por Deus para a defesa dos seivos fiéis, e acolhendo sob seu manto

quem foi seu devoto, derrotará os inimigos; virá mesmo Nossa Senhora, a livrar das tentações a alma justa ou penitente, cuja salvação custou a vida de seu Divino Filho. E protegerá de modo especial seus devotos, que nEia confiaram durante a vida. Nosso Senhor é fiel, e não permite que sejamos tentados além das nossas forças . São poucos os exemplos de pessoas que, depois de uma vida boa, tenham morrido com grande receio da sua salvação. Nosso Senhor permite às vezes que isso ocorra a alguns justos, a fim de, na hora da morte, purificá-los de certas faltas leves. Ademais, muitos servos de Deus morreram com o sorriso nos lábios. Todos tememos na morte o severíssimo juízo de Deus; mas, assim como os pecadores passam desse temor ao horrendo desespero, os justos passam desse temor à esperança. Se na hora da morte vier a atormentar-nos a recordação de nossas muitas ofensas a Deus, lembremo-nos de que Ele prometeu esquecer os pecados dos penitentes (Ez. 18, 31-32). Alguém se perguntará talvez: como poderemos estar certos de que Deus nos perdoou? Essa mesma indagação se fez São Basílio, dando a ela a seguinte resposta: "Não só odiei a iniqüidade, mas a abominei". Quem detesta o mal e o pecado pode ter firme esperança de que Deus o perdoou. O coração do homem não vive sem amor: ou aina a Deus ou ama as cria luras. Ama a Deus aquele que observa os seus Mandamentos (Jo. 14, 21). Portanto, aquele que morre obseivando os preceitos de Deus, morre amando a Deus; e o que ama a Deus, nada tem a temer.

Com ligeiras adaptações de linguagem, esta matéria foi redigida a partir da obra "Preparação para a Morte", de Santo Afonso de Ligório, Vozes, Petrópolis, 1956, 4ª edição. Inclusive as citações bíblicas e oulras foram exlraídas da mesma obra.

Tudo se acaba• com a morte

D

iz Santo Afonso de Ligório que, à morte de Alexandre Magno, exclamara um filósofo: "Aí está quem ontem ainda calcava a terra aos pés; hoje é pela terra oprimido. Ontem cobiçava a terra inteira; hoje basta-lhe um espaço de sete palmos sob o solo. Ontem dirigia exércitos inumeráveis através do mundo;

hoje uns poucos coveiros o _levam ao túmulo". Diz o próprio Espírito Santo: Por que se ensoberbece o pó e a cinza? (Eclo. 10,9). De que nos serve consumir os anos e o próprio espírito em adquirir grandezas deste mundo? Virá a morte e então se dissiparão como o fumo todas as nossas grandezas e os nossos projetos (SI. 145, 4).

CADERNO ESPECIAL


ATUALIDADE

Morte de um pecador

E

is como Svetlana Alliluyeva, (ilha do ímpio Stalin - o tirano que durante décadas dominou a Rússia soviética - , narra a morte de seu pai, no livro Vinte cartas a um amigo: "A respiração fazia-se cada vez mais ofegante. Nas últimas doze horas tornou-se claro que a fome de oxigênio crescia. A face escurecia e se alterava. Gradualmente seus traços tornavam-se irreconhecíveis, os lábios negros. Na última hora, ele simplesmente foi se sufocando. A agonia foi espantosa. Um homem era estrangulado sob os olhares de todos. Já no último minuto, de repente, ele abriu os olhos e os voltou para todos aqueles que estavam à sua volta. Foi um olhar terrível, talvez louco, talvez

furibundo e cheio de terror em face da morte. Foi uma coisa incompreensível e horrível, que niio entendo, mas não posso esquecer: ele ergueu improvisadamente para o alto o braço esquerdo e com ele apontou para o alto ou talvez ameaçou a todos os que ali estavam presentes. O gesto permaneceu incompreensível, mas foi cheio de ameaça .... No instante seguinte a alma, feito o último esforço, se destacou do corpo".

Corpo de Stal1:n, exposto na Casa elos Sindicatos, em Moscou,, 19 5 3

Santa Terezinha no leito ele morte (Convento ele Lisimx)

Morte de uma santa

E

is como se deram os últimos instantes da célebre Santa Terezinha do Menino Jesus, carmelita de Lisieux (França). Olhando para um crucifixo, exclamou: "'-Ó... AmoomeuDeus, eu Vosamo'.Foram essas suas últimas palavras. Mal acabava de as proferir quando reergueu-se de improviso, como

se a chamasse uma voz misteriosa, abriu os olhos e fixou-os, brilhantes de paz celestial e de indizível júbilo, um pouco acima da imagem de Nossa Senhora. Este olhar prolongou-se pelo espaço de um Credo, e sua alma ditosa voou ent{ío para o Céu" (História de uma Alma, Vozes, Petrópolis, 6ª ed. brasileira, 1927, p. 342).

CADERNO ESPECIAL

Campanha Nacional contra a Reforma Agrária e a Reforma Urbana "LUTEI

PARA CONSEGUIR três casas, que aluguei. Só com a aposentadoria não dá para viver. Não! Eu assino com gosto". Essa foi a reação de uma simples cozinheira, quando um cooperador da TFP lhe explicou o objetivo da campanha que a entidade iniciava, naquela manhã ensolarada do dia 11 de agosto último, no Largo do Arouche, em São Paulo. A humilde signatária do texto do abaixo-assinado que em 31 dias se alastraria para 98 cidades de 13 Estados da Federação -voltou algum tempo depois àquele local, para conversar com os coletores de assinaturas. Desejava levar algumas listas para colher firmas em Sorocaba. Esse fato é sintomático da receptividade que o público tem dispensado à nova iniciativa da TFP. Da campanha participaram 346 sócios e cooperadores da associação, permanecendo eles em locais estratégicos de ruas e praças de várias dezenas de cidades brasileiras, atraindo a atenção do público tanto por suas vistosas capas rubras, marcadas com o leão dourado, quanto pelos slogans bradados em megafones. Colaboraram também nesse esforço 135 correspondentes da entidade, espalhados por todo o território nacional. São chefes de família, donas-de-casa, jovens de ambos os sexos que, aproveitando suas horas de lazer, desassombradamente saem às vias públicas para angariar assinaturas contra as reformas socialistas que ameaçam nossa Pátria. "O abaixo-assinado está recebendo uma acolhida popular que superou nossas expectativas. Tínhamos certeza dessa boa acolhida, mas não pensávamos que ela fosse tão calorosa como está sendo", declarou à imprensa o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, Presidente do Conselho Nacional da entidade.

Aumento de confiança e credibilidade Foi também muito significativa a confiança demonstrada em relação à TFP, por parte de pessoas abordadas na

campanha. Nesse sentido, é característico o diálogo travado entre dois transeuntes, em Juiz de Fora: "Você não sabe para quem está dando sua assinatura. Eles são dá TFP", exclamou alguém, enquanto um amigo seu assinava uma lista. Ao que o signatário prontamente respondeu: "Para eles, eu assino até um cheque em branco!" E no município de Mauá, da grande São Paulo, uma senhora de 35 anos, antes de qualquer explicação, pegou a prancheta e foi logo assinando, enquanto perguntava: "Nós já vencemos a batalha da Lituânia; e esta aqui ... qual será a próxima vitória?" A campanha de âmbito internacional empreendida pelas TFPs em 1990, em favor da independência da Lituânia, que obteve 5 milhões e 200 mil assinaturas, ainda está presente na memória de muius pessoas e resultou num ponderável crescimento de prestígio e credibilidade da TFP brasileira e de suas coirmãs.

Campos divididos É compreensível, porém, que, se de um lado a eficiência da atuação da TFP provoca admiração e adesões entusiásticas, de outro causa, em alguns esquerdistas, um aumento do ódio. Nessa linha, merece menção o dito de um transeunte que observava, numa feira livre do bairro da Penha, em São Paulo, o encerramento de um dia de campanha. Sócios e cooperadores da entidade enfileiraram-se e deram seu brado característico: "Pelo Brasil! Tradição, Família, Propriedade. Brasil! Brasil! Brasil!" Ao presenciar essa cena, exclamou o observador: "É assim mesmo, todos enfileirados assim ... É bom que já estejam todos enfileirados, porque, quando assumirmos o poder, vamos fuzilar todos eles!" As manifestações de aversão por parte dos esquerdisus são muito enfáticas, mas pouco numerosas se comparadas às que se deram em campanhas ant_eriores. SoOUTUB RO 1992

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bretudo não alcançam repercussão junto ao público, não tendo prejudicado em nada o expressivo êxito da campanha. Embora o tema do abaixo-assinado seja mais polêmico - exigindo da parte dos coletores uma explicação mais complexa, no contato com o público-, e apesar da desinformação deste a respeito do assunto (pois os projetos inexplicavelmente estão sendo votados na surdina), a média de assinaturas equivaleu à da campanha em prol da Lituânia. Até o fechamento da presente edição, foi coleúido, em um mês de campanha, o expressivo total de 1.128.966 assinaturas, em todo o País. Abaixo, apresentamos quadro, no qual estão enumerados os Estados e as cidades onde se desenrolou essa atuação da TFP.

Campanha em 98 cidades de 13 Unidades da Federação SÃO PAULO São Paulo (capital) Americana Araraquara Bauru Campinas Diadema Guarulhos Jundiaf Marília Mauá Olímpia Osasco Presidente Prudente Rio Claro Santa Cruz do Rio Pardo Santo André Santos São Bernardo São Caetano São Carlos São José dos Campos Sorocaba CEARÁ Fortaleza Crato Jaguaribe PARAÍBA João Pessoa • PERNAMBUCO Recife BAHIA Salvador Abafra ltabuna MINAS GERAIS Belo Horizonte Barbacena Betim Conselheiro Lafaiete Contagem Monte s Claros

Poços de Caldas Ponte Nova TeófiloOtoni • ESPÍRITO SANTO Vitória RIO DE JANEIRO Rio de Janeiro (capital) Bom Jesus do ltabapoana Cambuci Campos Cardoso Moreira ltalva ltaperuna Miracema Natividade Nova Friburgo Porciúncula São Fidélis Tocos

PARANÁ Curitiba Apucarana lurbiturea Londrina Maringá Ponta Grossa Rio Negro • SANTACATARINA Florianópolis Joinville Doutor Pedrinho • RIO GRANDE DO SUL Porto Alegre Uruguaia na • MATO GROSSO Cuiabá • DISTRITO FEDERAL Brasília Taguatinga


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HISTÓRIA

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Há 500 anos as naus de Colombo aportaram na América ... Nas celebrações e protestos contra o V Centenário, a voz da Igreja desde o Descobrimento até nossos dias

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rande propaganda contra os missionários e os colonizadores vem sendo fe ita por ocasião da passagem de c inco séculos da descob erta das Américas, que se comemora no dia l2 do corrente. Essa colossal onda publicitária, que se levanta contra tão gloriosa data, início da cristianização de nosso Continente, tende a contestar a própria missão dada por Nosso Senhor Jesus O-isto à sua Igreja "Ide, pois, e ensinai a todas as gentes" (Mt. 28, 18-19). Defensores do neotribalismo missionário e indigenista, os principais nomes da Teologia da L ibertação têm condenado a conquista e a evangeli zação da América e vêm preparando há tempos seus protestos contra as celebrações do V Centenário.

Soneto ao "irmão Judas" Em julho de 1986, reuniu-se cm Quito (Equador) a II Consulta Ecumênica da Pastoral Indígena La tino-Amer icana. Representantes de 15 países do Continente lançaram um "ma nifesto indígena".

Nele expressa-se, pela primeira vez com apoio católico, uma "recusa total das celebrações triunfalistas do V Centenário". Para os delegados dos índios "não houve o tal descobrimento, mas uma in vasão com suas implicações: genocídio pela ocupação, usurpação de territórios, desintegração dns organizações sócio-políticas e culturais e sujeição ideológica e religiosa". Da Associação de Teólogos do Terceiro Mundo, o antigo religioso franciscano Leonardo Boff e Virgílio Eli zondo lançaram um manifesto contra a evangelização da América. Dizem eles: "No dia 12 de outubro de 1492 começou para a América Latina e para o Caribe uma sexta-feira santa de dor e de sangue, que prossegue até agora sem conhecer o domingo da Ressurreição. 1492 é a data dos conquistadores e não das populações autóctones. Não é a lembrança duma bênção, mas o pesadelo de um genocídio" *. Assim se expressa sobre o mesmo assunto, aqui no Brasil, Dom José Maria Pires, Arceb ispo de João Pessoa (PB): "Pode-se celebrar o V Centenário por uma festa triunfa~ mas também por uma celebração penitencial pedindo perdão pela destruição dns civilizações índias e a deporta ção de africanos em escra vidão". ("La Croix", 2-11-1990). Por sua vez, D. Erwin Krautler, Bispo do Xingu, afirma·: "Na América havia 90 milhões de indígenas e 70 milhões foram exterminados. Tenho que dizer que a Igreja tem em tudo isso

CATOLICISMO

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dade das nomeações de vice-reis e autoridades menores responculpa histórica. Ela eleve fazer exame de consciência e mio sáveis pela evange lização e proteção dos aborígenes americanos celebrar-o descobrimento" ("El País", Barcelona, 29-4-1991) . contra possíveis excessos cometidos pelos colonizadores. Nesse triste elenco, não poderia falta r Dom Pedro CasaldáliConfirmando a doutrina corga. O bispo de São Félix do Ararente na época, os Pontífices ratiguaia afirm a, em circular aos dioficaram o direito das nações ibéricesanos , no Ano N ovo de 1991: cas de coloni zar a América e evan"Na Igreja urge falar a verdade gelizar seus habitantes. Para isso, sobre o VCentenário,jáqu.edesde delegavam responsabilidades e fao primeiro momento dn conquista culdades especiais aos reis de Porda América a mentira acompanhou tugal e Espanha, cuja reconhecida a cobiça, a espadn e a catequese". vocação apostólica exaltavam. Na mesma circular, Dom CaQuem percorrer os documensaldáliga faz esta significativa retos papais do primeiro século de velação d e seu pe ns ame nto: colonização, constatará o elogio "Acho que Deus nem sequer é juiz. fe ito à magna obra civilizadora. E Ao fina~ o problema de Deus vai também o minucioso cuidado da ser condenar alguém. Há pouco Igreja na correção dos abusos cotempo fiz um soneto a Judas. E o metidos, pelo respeito aos direitos citamo Judas, irmão Judas, naturais dos índios e seu modo de companheiro ". E a seguir pergunvida no que tivesse de legítimo ou ta: "Tu achas que Judas foi pior resgatável. que eu?" O Papa Gregório XIII publiEm uma segunda circular, no cou nada m enos do que 155 doAno Novo de 1992, Dom Casaldácumentos e, Sisto XV, 102, quali ga comenta novidades da campase todos destinados a fixar nornha contra a celebração do V Cen- Batismo do cacique XicotencaLl e ou.tros indígenas; m as para favorecer a conversão tenário: "Para as vítimas, o V Cen- ao f u.ndo, os padrinlws espanhóis TcladcTlaxca la, México.séc. XV I dos Índios. tenário é a memória subversiva de O IV Centenário do Desco500 anos de invasão militar, políbrimcn to da América mereceu uma Encíclica do Papa Leão XIII, tica, cultural, sacia~ de genocídio. É também a memória subverem 16 de julho de 1892, sob o título "Quarto abunte saeculo". siva dn eliminação de 90 milhões de seres humanos, indígenas e Pio XlI, em mensagem de 8 de janeiro de 1948, chamou o negros, durante o colonialismo, e que hoje continua no massacre processo de evangeli zação da América de "epopéia missionária ". cfofar çado das popu lações operárias, camponesas indígenas e Por fim, João Paulo II, ao encerrar o Simpósio Internacional do povo pobre em gera l. Nenhuma página da história humana sobre História da Evangeli zação da América, no Vaticano, em 14 narra um genocídio-etnocídio maior". de março de 1992, reafirmou os ensinamentos de seus predecessores e recapitulou os "fundamentos de uma colonização cristã" A verdadeira doutrina católica desenvolvidos por Frei Francisco Vitoria (1480-1546), dominisobre a evangelização da América Em face das novidades que esses neomissionários querem nos cano espanhol da fa mosa Esco la de Salamanca. O Papa lembra que o mestre dominicano explanou os direitos inculcar, cumpre conhecer a verdadeira doutrina católica a respeito. naturais dos índios como "seres racionais e livres, criados à Numa continuidade impressionante, os Romanos Pontífices, imagem e semelhança de Deus, com um destino pessoal e transdesde Alexandre VI até João Paulo Il, pronunciaram-se sobre o cenclente pelo qual podiam salvar-se ou condenar-se". tema à margem das controvérsias históricas, de modo a não deixar O Pontífice destaca que, "conforme a doutrina exposta por dúvidas. A Livraria Ed itora Vaticana acaba de publicar uma coletânea Vitoria, em virt1ule do direito de sociedade e de comunicação de 837 documentos papais somente do período 1493-1591, intinatura~ os homens e povos melhor dotados tinham o dever de tulada "Americae Pontificiae - Primi Saeculi Evangelizatioajudar aos mais atrasados e subdesenvolvidos". Assim justifinis", aos cuidados do Pe. Josef Metzler, diretor da Esco la Vaticava Vitoria a intervenção da Espanha na América. cana de Paleografia. Ela reúne as bul as de Alexandre VI até Gregório XIV, conservadas no Arquivo Secreto do Va ticano, *** sobre a evangeli zação das Américas. Nada mais contrário, pois, à posição dos neomissionários, do Em s ua célebre Bula "Inter Caetera", de 3 de maio de 1493, que o firme e ininterrupto ens inamento dos Papas a respeito da Alexandre VI afirmava que "a Fé católica e a Religião cristii evangeli zação da Améri ca . sejam exa ltadas sobretudo em nossos tempos e por oncle quer que se ampliem e dilatem, e se p rocure a salvação das almas, e * A Voz das Víli-mns, Ed ito ra Vozes, Petrópo lis, 1990. as nações bárbaras sejam submetidas e reduzidas à Fé cristii ". Em 29 de maio de 1537, o Papa Paul o III, com s ua "PasJora le officium ", condenava o comércio de escravos e afirmava que os •ouTRAS OBRAS CONS ULTADAS indígenas deveriam ser considerados homens e não an imais. 1. Plínio Co rrêa de O live ira, Tribalismo Indígena., Ideal Pouco depois, o mesmo Paulo III, no documento "Exponi comuno-111issionário para. o Brasil no século XXI, Editora Vera Cruz, nobis super fecisti", concedia aos sacerdotes que trabalhavam nas São Pau lo, 1979. Américas a fac uldade de denunciar às autoridades os colonos que 2. Albe r to Cature lli, E I Nuevo Mundo - El Descubrimie nto, la escravizavam os silvícolas do novo Continente. Conq uista y la Eva. nge lizació n de Amér ica y là Cu ltura São Pio V, em carta de 10 de agosto de 1568, elogiava o zelo Occid cnta l, Ce ntro C ultura l Edamex, Cidade do México, 1991. pela conversão dos índios manifestado pe lo Rei da Espanha, Feli pe II. O Papa acompanhava com vigilante atenção a idoneiCarlos Sodré LANNA OUTUBRO 1992

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ESCREVEM OS LEITORES 181 Missionário na Amazô~ià

É mesmo uma tristeza ver os desvios dos católicos, que olham a superficialidade das coisas . Vivi no meio dos · índios. Conheci Frei Schiaroli de Alviano. Quantas vezes, com os remédios que trazia, salvou a vida a pessoas desenganadas pelo pajé da tribo. Quando, durante a guerra, um hidro-avião, inspecionando os soldados da borracha, aquatizou perto de uma ilha onde estava o pajé, este falava a língua ticuna, e o outro, a inglesa, e não se entenderam. O avião decolou. Os índios que viram de longe o acontecimento, deduziram: Tupã baixou e falou ao pajé. Mas o quê? Do grande barulho dos motores e da fumaça que acompanhou o avião, o pajé deduziu que o mundo iria acabar no fogo. Que fazer? O pajé, que tem coragem de enfrentar o fogo, espera; e quem não tem, tome o timbó (veneno comum quando alguém quer acabar com a vida). Os vizinhos, vendo uma mortandade extraordinária, foram avisar o Frei Fideles, que estava em Benjamin Constant. Dada a grande confiança que tinham no padre, contaram-lhe o sucedido, e ele os tratou como pôde. Se mesmo entre aqueles que conhecem a Cristo, se encontram inúmeras falhas, o que não será para esses coitadinhos sem sustento na linha do Bem, sem conhecimento da verdadeira Revelação?

Infelizmente se verifica também aqui: "Os maiores inimigos do homem são os da própria casa" . Mas Deus triunfará e com Ele os que lutaram por Sua Causa. Padre Missionário - Amazonas

181 Câmara Municipal de São Paulo se congratula com Catolicismo "Requeremos à Douta Mesa, ouvido

o Egrégio Plenário, voto de júbilo e con gratulações com a Revista Catolicismo, pela excelente reportagem 'Romaria: Incitamento à luta de e/asses?', publicada na edição de maio. A reportagem presta importante serviço de utilidade pública, na medida em que descreve bárbaros fatos ocorridos no mês de março, em Hulha Negra-RS. A romaria da terra .. .. foi .... promovida pela Comissão Pastoral da Terra, com o apoio das Comunidades Eclesiais de Base, do movimento dos Sem-Terra, da CUT, do PT e da maior parte das dioceses gaúchas. O movimento, marcado por inúmeros incidentes sangrentos, revive a luta de e/asses, fazendo com que os mais fortes fisicamente imponham sua vontade. É a lei da selva tentando prevalecer sobre o estado de direito. Não há direito ou cerca que detenha uma multidão ensandecida, disposta a tudo destruir, aniquilando o trabalho de longos anos. As fotos ilustram a violência e o desrespeito de um pequeno grupo contra os ideais de toda uma sociedade".

181 Senhor redator Na edição de junho p .p., figura o Papa Leão XIII como autor da Encíclica Divini 11/ius Magistri, na seção "Verdades Esquecidas". Parecia-me que tal documento é de autoria de Papa mais recente. Peço-lhe também outro esclarecimento a respeito da informação de que Goa, antiga colônia lusa na Índia, tornouse independente, como se lê no artigo "Um escravo de Maria, na Índia do século XVIII". Tenho a idéia de que houve uma anexação, por parte da Índia, desse antigo território português. J.A. Palmeira Belém - PA

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N. da R. - De fato, o autor da Encíclica Oivini 1/lius Magistri não é Leão XIII, mas um Pontífice posterior a ele: Pio XI. Houve um engano quanto à citação. Quanto à segunda consulta do missivista, aproveitamos a oportunidade para fazer uma retificação. A antiga Província ultramarina portuguesa de Goa não se tornou independente, como consta do artigo acima citado. Houve um lapso histórico, pois aquele território, que desde o século XVI pertencera a Portugal, foi anexado em 1962 pelo governo da Índia. Este, violando princípios do Direito Internacional, invadiu militarmente o território de Goa, anexando-o compulsoriamente à União Indiana.

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Meretrizes do próprio marido, ou adúlteros de sua mulher Algumas vezes essa crueldade impura, ou impureza cruel, chega ao ponto de recorrer aos venenos da esterilidade. E se com eles nada consegue, procura extinguir de algum modo, no ventre materno, o fruto concebido e livrar-se dele. Preferem que a sua prole morra antes de viver, ou, se já vivia no ventre, morra antes de nascer. Sem dúvida, se ambos assim são, não são cônjuges; e se tais foram desde o princípio, não se uniram por matTimônio mas por ilícitas relações; se, porém, ambos assim não são, ouso dizer: Ou ela é de algum modo meretriz do marido, ou ele adúltero da mulher (De nupt. et concupisc. e. XV)

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uem diria, mas o jeitinho brasileiro tornouse um tema explosivo. Escrevem-se no momento muitos artigos e até livros sobre o ass unto. Quase todos procuram apresentar essa "especialidade brasileira" como sendo um ranço do terceiro mundo. Será mesmo? Há pessoas que são contra o jeitinho, porque lhes parece algo que leva ao relaxamento, à preguiça, ao eterno "mais ou menos". Isto, todos gostaríamos de evitar para nosso País. Portanto, afino com pessoas dessa mentalidade. Ademais, é importante dizer que não existe jeitinho em matéria moral. O que existe é o pecado. Por exemplo, as pessoas que forjam elementos de nulidade para dissolver seu matrimônio e "casar" novamente, pensam que estão dando um jeitinho, mas, de fato, estão Ülcorrendo na ira de Deus. Vejamos o outro lado. No extremo oposto es tão os adeptos de um excesso de rigidez, encarquilhado e frio. Estou lendo uma narrativa que Alexandre Dumas fez de sua viagem através da Rússia. Convidado do Conde Kuchelev, ele viajava por trem, num vagão especial. A comitiva do magnata oriental comportava, além de um romancista como ele e outras personalidades ilustres, numerosa criadagem e ... dois caninos: Duchka e Signorina. Ao chegarem à fronteira de um simpático país que muito admiro, começaram as complicações. É que, de acordo com o regulamento, os cachorros tinham de viajar em um compartimento especial, para não incomodar os passageiros. Ora, o problema não se punha no caso dos ornamentais cães do Conde. Pois no vagão não havia passageiros que não fossem da comitiva. Homens e

zer, não digo do jeitinho, mas do grande jeito, do jeito com classe, do Itamaraty?

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animais, estavam todos cm casa. Incômodo seria estes viajarem cm outro lu gar do trem ... Custasse o que custasse, o regulamento tinha de ser cumprido, e da maneira mais linear! O resultado desse excesso de zelo foi uma página pitoresca da prosa incomparável de D umas, em que vai relatando todas as peripécias pelas quais, de es tação em estação e com auxílio do telégrafo, as autoridades deram busca e afina l conseguiram, apesar das resistências, lançar a mão no corpo ( ou nos corpos) de delito e trancar os cães bem longe de seus donos. Lendo isto, pensei: no Brasil, as coisas se passariam de outra maneira. Uma qualidade? Um defeito? As vantagens do jeitinho ficarão mais claras se, saindo do campo do cotidiano, passannospar~ o da Economia. Pois do cimo de sua autoridade de revista das mais abalizadas do mundo, o "The Economist", com sua britânica imparcialidade, coloca nas nuvens a capacidade em presaria I brasi 1cira. Quem poderá negar que a plasticidade nativa entra como componente importante dessa invulgar aptidão? E, no campo da diplomacia, que diOUTUBRO 1992

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u do soma do, eis a questão: o jeitinho é uma característica nacional aproveitável, ou uma lepra a ser empurrada para longe? Pondero que, se um assaltante usa mal da coragem que possui, isto não faz com que a coragem, em si, deixe de ser uma qualidade. Da mesma forma, se um artista enterra suas habilidades na pornografia, isto não faz com que a arte deixe de ser um dom de Deus. Portanto, é preciso distinguir a qualidade em si, do uso que dela se faça. Um inglês que empregue sua fleugma para blefar, um francês que se prevaleça de seu charme para iludir, um italiano que use de sua versatilidade para promover a maffia siciliana, não tornam por isso a fleugma, o charme, a versatilidade defeitos nacionais a serem extirpados. Se assim é, por que os jeitosos, ou "jeitinhosos", agiriam mal, mesmo empregando o jeitinho para finalidades boas? Não faz sentido pensar assim. Dizia o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira: "O Brasil é um grande livro em branco onde a mão dos homens tem de escrever uma história de heroísmo . Tudo clama por um futuro de heroísmo e de glória. São montanhas [as do Brasil] feitas para a luta, em que a esperteza tem um grande papel". Ora, esperteza e jeitinho são termos correlatos ... Cheguemos ao óbvio com coragem: estamos em presença de um dom do Criador. E a melhor maneira de dar dignas ações de graças por tê-lo recebido, é utilizá-lo para o bem. Leo DANI ELE


EDUCAÇÃO ;~

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Deformação a que nossas crianças estão sujeitas nas escolas Subsídios aos professores para que possam "vacinar" os alunos contra o contágio ideológico, uma vez que grande parte dos livros didáticos em uso nas escolas do Brasil estão eivados de doutrina marxista descaminhos nossas crianças e nossos do " ! - o mercado de livros didáticos é atisfeitos por terem conseguido jovens, ou seja, o Brasil de amanhã. altamente lucrativo, no melhor estilo camatricular os filhos nas últimas vaTranqüilizamo-nos pensando que o pitalista. Parece que nessas horas nossos gas de uma escola pública, ou porque o problema do perigo comunista foi resolexcêntricos marxistas esquecem a ideoorçamento familiar permitiu que contivido? Oh ilusão! Enquanto descansalogia e se deixam tentar pelo ouro ... nuassem num colégio particular, muitos mos, toda uma geração de brasileiros pais se despreocupam do assunto "estuvai sendo doutrinada nas escolas. Enquanto dormimos, dos", sem ao menos se darem ao trabaTalvez entre os doutrinados estejam eles assaltam as mentes infantis lho de correr os olhos nos livros que seus seus filhos, amigo leitor. Mesmo com o fracasso estrepitoso filhos estão utilizando. dos regimes socialistas patenteando-se O que está sendo ensinado a nossas O professor e os maus livros aos olhos do mundo, há gente em nosso cria nças? Para responder a essa pergunSejam livros de História ta, compulsamos 83 livros ou Geografia - os piores nesdidáticos adotados no prese sentido - , sejam de Filosente ano nas escolas de 1g e sofia, de Língua Portuguesa e de 2g graus em todo o País. de O.S.P.B. (Organização SoO resultado da pesquisa cial e Política do Brasil), além confirma as suspeitas, e pode dos de outras matérias, quase deixar surpresos os leigos em todos correm, em velocidades assuntos educacionais: a diferentes, na mesma pista: maioria dos livros está eivaelogios à luta de classes, crítida de doutrina marxista, e os cas unilaterais ao capitalismof de algumas matérias estão liataques contra a colonização teralmente encharcados luso-espanhola da América, dela. As relações humanas, contra a cultura ocidental e até as questões religiosas, os contra a Igreja Católica. Além acontecimentos históricos, o de preconceitos em relação à progresso da cultura, o demonarquia e à aristocracia, senvolvimento das línguas sem faltar as eternas loas à etc., quase tudo é visto e inCuba castrista. A fim de molterpretado segundo a ótica dar a rea lidade às suas crensocialista. Tem-se a impresCertas coleções de livros didáticos nacionais requintam, para os ças, certos autores não têm essão de que, se fosse possível, alunos do_ 2° grau, os erros existentes nos primeiros manuais crúpulos cm lançar mão de introduziriam marxismo até evidentes falsificações. nas fórmulas matemáticas ... O pobre estudante vai sendo assim País que continua aferrada a tais idéias! A conclusão? É que o estratégico bombardeado desde a infância até a mosetor da edição de livros didáticos está "Bem - diria alguém - deixe que cidade, e ao deixar a Universidade está dominado pela esquerda a mais retrócontinuem a sonhar. Se querem ser escom a mente povoada de mitos, bem grada. Não conheço os empresários do quisitos, que sejam". Ora, a questão é longe da vida real. ramo. Mas os livros editados são de outra: eles não se contentam cm sonhar autores que não escondem sua preferênsozinhos. Infestando não só o setor de *** cia pelo marxismo. A julgar pela quanlivros didáticos, mas todos os escalões A classe docente constitui o segundo tidade de obras disponíveis e por sua da educação no Brasil, trabalham sormaior contingente profissional de assia presentação refinada - nada "3g Munrateiramente a fim de arrastar para seus

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CATOLICISMO

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nantes de Catolicismo, o que muito nos honra. A ela, esta palavra especia l: cumprem louvavelmente seu dever os professores que alertam os alunos contra os erros co ntidos nos maus livros. É certo que outros gostariam também de fazer o mesmo , mas se sentem talvez desamparados, sem saber como começar ou no que se apoiar. Desejamos, agora e de futuro, vir cm auxílio de uns e de outros, fornecendo notícias, estatísticas e bibliografia que lhes sirvam para a refutação dos erros veiculados atnalmcntc. Fica aqui, pois, um incentivo para que desde já vão chamando a atenção dos alunos sobre a necessidade de desco11fiar dos dados apresentados por grande parte dos livros didáticos a respeito de cap italismo, comunismo, política, economia, colonialismo etc.

federal pcloPT)cCelso Furtado, os dois últimos "principalmente depois do golp e de 64" (pp.19-20). Curiosamente, na fase conhecida como "da repressão'', a esquerda teve toda a liberdade de desenvolver suas teses e ocupar diversos postos da Educação no Brasil. Quem consegue entender? ... Passemos à coleção "Vivenciando a História", de Hamílton Gonçalves Mat-

História segundo Marx Nos limites de um artigo, é impossível comentar todos os livros pesquisados. Corramos os olhos apenas sobre alguns livros de História, deixando para próxima ocasião outras matérias. Abramos inicialmente a obra "História Crítica da Nação Brasileira" (Editora do Brasil, São Paulo), de Renato Mocellin. Em certo sentido, ela nos dá a chave para a com-

-;;:~;;----:...,-.-•••'!Ili!'-~~-.....,--..,

preensão tros livros.dos Aooulançar as bases para o estudo da História, Mocellin diz que o historiador não pode narrar pura e simplesmente aquilo que nos chega pelos documentos do passado, mas precisa montar uma explicação dos fa tos. É compreensível. Mas, baseando-se em quê? Nos critérios do ... marxismo: "Ao esllldarmos qualquer sociedade lillmana, devemos analisar basicamente três níveis: o econômico, o ideológico e o jurídico-político. D esses níveis, o econômico é o determinante .... São os modos de produção da vida material que condicionam a vida social, política e espiritual da sociedade"(p. 13). Nada mais, nada menos, que a clássica visão marxista da História, materialista e relativista! O ensino da História só seria verdadeiro quando a considerasse "um processo único, condicionado pela luta de classes". No Brasil, a historiografia só progrediu quando "Caio Prado Júnior introduzill entre nós a análise marx ista do desenvolvimento"; o campo da "historiografia marxista" aumentou seu domínio em nosso País, sendo desenvolvido mais tarde por Nelson Werneck Sodré, Florcstan Fernandes (deputado

.Já nos bancos de nossas escolas de 1° grau as crianças começam a ingerir o veneno marxista, contido eui numerosos livros didáticos

tos (Editora do Brasil). Os diversos volumes trazem inter-títulos que já dizem muito: "O Brasil e a exploraçüo colonial", "O Brasil e a exploração capitalista", "Das sociedades primitivas à formação do capitalismo", "Da formação do capitalismo às sociedades atllais". Até parece uma coleção de livros velhos, anteriormente adotados na Universidade da ex-URS .

Fidel Castro, extremista de direita ... Eis algumas "pérolas" que Raymundo Campos nos oferta, em sua coleção de História do Brasil e Geral (Editora Atual). A Rússia sta linista "tornoll-se uma grande potência, com agricullllra OUTUBRO 1992

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e indústria extremamente avançadas" (História Geral, vol. 2, p.188). A respeito deste mito, é oportuno citar aqui trecho de entrevista do conhecido e festejado economista francês Alain Mine a "Superintercssantc" (S.P., setembro de 91): "A ex-União Soviética é uma sub sub América Latina. É o quarto mundo. Uma f aveia brasileira, comparada com a periferia de Moscou, é um oásis de dinamismo". Prestem atenção à curiosa definição de "direita" e "esquerda" que esse autor nos dá: "Direita - posição política contrária a mudanças. Esquerda - posição política favorável a mudanças profundas" (História do Brasil, vol. 2, p. 129). Segundo essa lógica, não erraria quem afirmasse que o.ditador Fidel Castro deve ser classificado como extremista de direita ... Quanta coisa mais, desses e de outros autores de livros de História, pode ria ser citada, algumas tão contrárias à realidade que são de causar riso ... e preocupação. Citemos apenas Osvaldo Rodrigues, para quem a exemplo de outros autores os índios são quase seres imaculados: "As crianças indígenas eram criadas com grande carinho e liberdade" (História do Brasil, Editora Ática, vol. I, p. 60). Nem uma palavra sobre a prática do infanticídio ( que ocorre ainda boje em certas tribos!), atestada até pelo Bem-Aventurado Pc. José de Anchieta, já no século XVI. Isto é ensinar História? Nelson Piletti, embora incorrendo cm todos os erros de seus colegas, tem pelo menos a coragem de, na p. 167 de sua "História do Brasil" (Editora Ática), escrever um nome que os outros escondem: "Sociedade Brasileira de Defesa da Tradifão, Família e Propriedade (TFP) ". E de se esperar que ele continue a progredir, e na próxima edição do livro ainda cite o nome do fundador e presidente dessa entidade, "Plínio Corrêa de Oliveira". Por agora é só. J. Bettinck CARVALHO


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,, > Estatais: exemplo russo Cafés e lojas estão passando para as mãos de particulares, que receberão apoio técnico para administrá-los. As vendas de empresas vêm sendo realizadas todos os sábados e prosseguirão até que a última estatal seja privatizada. Com o apoio da Corporação Financeira Internacional (subsidiária do Banco Mundial para negócios com o setor privado), a cidade russa de Nijni-Novgorod começa a privatização em massa de suas duas mil estatais.

> Subsidiando o crime O "Comando Vermelho" -organização criminosa que atua sobretudo em presídios do Rio - recebeu, durante a construção da autopista denominada Linha Vermelha, uma "taxa de proteção mensal" da ordem de Cr$ 12 milhões. Em troca, o grupo de facínoras "proibiu" assaltos aos canteiros de obra, por bandidos das redondezas,

file "militar" foi feito com soldados em bicicletas. O próximo ...

para roubo do material. A revelação é do diretor de uma das empresas subcontratadas no projeto a um colunista social carioca.

> Leilão de quinquilharias "É como uma feira -livre, eles estão vendendo tudo o que não esteja solidamente preso ao solo". A frase é de Nicho las Johnson, analista americano do programa espacial russo, recém-chegado de Moscou, referindo-se ao fato de que os cientistas da ex-URSS, para sobreviver, estão leiloando até os segredos militares daquele país.

> Idade da Pedra No livro "Dentro do Coração", A. Good narra sua "experiência", haurida em longo convívio com os índios ianomanis venezuelanos. Desconhecendo o uso do calendário, de vestimentas e até mesmo da roda, vivem na Idade da Pedra. Seus congêneres brasileiros, contudo, receberam do Governo federal um território equivalente ao de Portugal!

>

> De calças curtas Em entrevista ao semanário "Tiempo", de Madri, o ministro das Forças Armadas de Cuba, Raul Castro, ventilou a possibilidade de os uniformes militares .de seu país virem a constar de calças curtas e camisetas sem mangas, como medida de economia. Já o último des-

Privilégios democráticos Os servidores da administração direta da União, Estados e Municípios, bem como os empregados das estatais, representam apenas 13% (8 milhões) dos 62,1 milhões de trabalhadores brasileiros. Entretanto eles abocanham 37% de toda a massa salarial, ganhando quatro vezes mais do que os trabalhadores do setor privado. Até quando?

"Não faças rir a ponto de te tomares risível" HERÁCLITO DE ÉFESO

"Não há riso dos lábios que os olhos não possam desmentir" ALAIN CHARTIER

Se um homem ri, é de outrem; se chora, é por si mesmo (PROVÉRBIO INDIANO)

Rir e chorar são situações efêmeras na vida. Habitualmente o homem nem ri nem chora, ele é sério PLINIO CORRÊA DE O LIVEIRA

"O riso estrepitoso denota o espírito vazio" OLIVER GOLDSMITH

O riso abunda na boca dos tolos MEDIEVAL

DESTAO.~ produz, em todos os níveis, a mesma escolha incontornável .... "Museus, galerias e colecionadores estão à mercê desse soviete internacional de peritos autorizados, que assinam os certificados de vanguarda".

Sovietes na arte... De modo crescente, o modernismo artístico apresenta-se com ares artificiais, não destituídos de certos mistérios quase iniciáticos. Tudo manipulado por grupelhos semelhantes aos da extinta URSS. "L'Evénement du Jeudi" (18 a 24-61992), de Paris, publica significativa matéria a respeito. Com verve, retrata os mais recônditos bastidores, onde se preparam as "celebridades" artísticas hodiernas. Alguns de seus mais ilustrativos excertos vão transcritos abaixo: "Os melhores observadores dos meios artísticos reconhecem: cerca de cinqüenta especialistas decidem, em âmbito internacionai o que tem valor no tocante à arte viva .... "Esses árbitros controlam uma dezena · de galerias de alto bordo em Zurique, Colônia, Düsseldorf, Londres ou Paris, e se encontram à testa de instituições públicas ou privadas que se dedicam à promoção da arte contemporânea .... Eles constituem um 'jet-set' todo-poderoso, com referências idênticas e interesses complementares. "Essa elevada autoridade, seguida por uma miríade de instâncias subalternas, re-

... impõem loucuras "pós-modernas"

Salva,dor Dalí CATOLICISMO

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"Tal vanguarda sacrílega já considera rançosa a revolução de hoje. Os critérios tornaram-se loucos .... "Nessa terra de ninguém, onde medra o desprezo, qualquer pedante passa por profeta, e os guardiães do templo podem infligir, inteiramente impunes, suas lições pontificais. "A arte contemporânea não existe .. .. "Todo objeto pode ser associado a este ou àquele outro, de qualquer modo, admite o especialista Rauschenberg .... "'A vanguarda é o vazio', afirma oconhecido músico Luciano Berio .... "O filósofo grego contemporâneo Cornelius Castoriadis [comenta]: .... !os produtos de nossa época [só] poluem e esterilizam'" ...

1 .

ssa mão desengonçada que avança de modo invasor, tolo e interesseiro, pertence ao senador norte-americano Estes Kcfauver. Só com estendê-la e pronunciar o próprio nome, chegou ele a liderar as prévias à Presidência dos EUA, em 1956. - Pensemos nesta mão no corrente mês de eleições, quando muitas outras se estendem para nós.


V Centenário de Grandiosa Epopéia

E

MBORA INVERNO, o dia está radiante. Apenas algumas nuvens esparsas impedem que a luminosidade do céu seja completa. Desfraldados, estandartes e gonfalões decoram imponentes edifícios. Uma serena alegria se reflete na fisionomia das pessoas que assistem a um dos mais empolgantes episódios da história de nossa civilização: a chegada de Cristóvão Colombo a Barcelona, após o descobrimento da América. Com passo solene, o bravo navegador aproxima-se do trono onde se encontram Fernando de Aragão e Isabel de Castela, soberanos de um vasto império, que agora se estende da Espanha até os confins do Novo Mundo. Há 500 anos, ao fletir os joelhos, em sinal de submissão e respeito, diante dos Reis Cató)jcos, Colombo arrematava uma epopéia extraordinária, abrindo caminho a outra ainda mais grandiosa: a propagação da Fé muito para além dos horizontes então conhecidos. Os monarcas espanhóis, saindo do trono, colocado sol> majestoso baldaquino, recebem com gestos de afabilidade régia a homenagem prestada pelo homem que llJ; via inaugurado, com sua ousada descob ria, nova era histórica. A cena ficou imortalizada pelo pin García Iba(lez, autor de fa oso q adro reproduzimos detalhe nesta gina. A contra-se no Museu do Exé to, em Madir.

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e nc1 aprovação do Projeto de Lei nº 3657/89: • ~~~cos à·solta no País , .• ~ ~inção dos hospitais · · psiquiátricos


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N2 503 Novembro 1992

'~Discernindo, distinguindo, classificando ...

Perfuntes de outrora Oh que saudades de um passado que se foi! Mas que pode retornar ainda mais esplêndido ...

N

ossa vida é tão atribulada, tão sofrida, esta existência que o progresso nos ofereceu se revela tão feia e agressiva ... às vezes é confortador refügiar-se no passado. Sentir os perfümes da vida calma, civilizada, católica, de outros tempos, tira de cima de nós não sei que camadas de poeira e de fuligem, não sei quantos fardos insuportáveis. Ajuda-nos até a recuperar o equilíbrio nervoso e emocional, que esse mundo que está aí nos fürta. E mesmo a ter mais fé. Ao contrário da ecologia ra~ clicai, cuja meta parece consistir cm jogar-nos no mato, o passado católico é cheio de elevação e dignidade. É uma tristeza, mas, ao serem abolidas as desigualdades proporcionadas de outrora, ficaram banidas também as manifestações de bondade e desvelo dos . superiores para com os inferiores. Somos todos iguais, urra o mundo moderno, e por isso homo homini lupus, o homem se tornou um lobo para o outro homem. A inveja contemporânea nos roubou a maior alegria que a alma pode ter, a de admirar desinteressadamente os que são mais do que nós, que ademais nos iluminam e nos protegem. Admiração que no seu ponto mais alto tem o nome de adoração ao Criador. Vejamos alguns episódios em torno à rainha de França, Maria Antonieta (1755 -1793), relatados por sua criada de quarto, Mme. Campan (M ,_ moires, Nelson Editeurs, Paris). Não só para descansa rmos do pres 11t , mas também para alimentar m uós a esperança de um futuro ord nado e sacra!.

***

• "Diversas pessoas de seu serviço entraram uma noite em seu quar-

to, crendo não encontrar aí senão o oficial de guarda. Eis que elas percebem a jovem princesa [Maria Antonieta, então, ainda não havia subido

soas tão considerável, que desde o raiar do dia a multidão já se havia colocado junto às grades do castelo. Os gritos de 'viva o Rei', que começavam às seis horas da manhci, quase nc1o eram interrompidos até depois do pôr-do-sol"(p.64). • Ao saberem da morte de Luís XV, "Maria Antonieta e seu

Maria Antonieta, por Mrne . Vigée Lebmn

aq trono] sentada ao lado d 'SS, /,o. mem, já avançado em idade; lo /,a.

via ·colocado junto de le u111a hacia cheia de água e estancava o sa11!{11<' que jorrava de 11.m f, rim •nto (JII<' de tinha na mão, após ltaver m,\'!{"do ,\'<'li lenço para fa z •r-11,e 0IIIJJN'Ssas. E preenchia, enf,i11, junto a ele, todas as funções d , uma piedosa ir111 d ' caridade. "O v ,fito, ,,,,,,,,.,,,, ·ido até às lágri111as1 d •i ""ª por r •sp •ito agir sua augusta s<'nhora. EI' se havia ferido ao empurmr um móvel um pouco pesado, a p •d ido da princesa" (p. 45). • "O castelo de La Muelle, no bosque de Boulogne, foi escolhido para recebê-la [após seu casamento com o futuro Luís XVI]. Esta residência, muito próxima de Paris, atraiu nas cercanias uma afluência de pes-

esposo reconheceram que iam reinar, e, por um movimento espontâneo que encheu de emoçr1o os que os cercavam, ambos s' puseram de joelhos; derramando lágrimas, disseram: 'Meu D ' li.\~ guiai-nos, protegei-nos, nós vamos reinar muito jov 11s '"(p. • 8 , • "Ela [a rainha/ 011um -11w muitas vezes de qu , modo toc,11111• os duques de Lor •11a l sua <·usn paternal r>c •/)iam os impostos. príncipe sob •ra110 ia r) iw,:ja, til zia-m ,fa ; após o Sl'l"III o ,,fc s,• levantava, agiwva ,\'t'II t'/l(lp 11110 ar pam i11di ar q111• ia fala,~ ,, dizia •m seg11ida qual ,•ra "soma d' que 11c•c<wsita vf/. "Ta l em o Z<'I< rios /um.1· lorl'110.1~ q11<' se viram /w1111' 11.1· rl'tiror, às o ·ulth,\' rll' s 110,1· m11/lwr1w1 ,, ro11p" de li11J,o 011 a/µ1111,\' 11tl'11sflios domésti (),\~ (' V('tU/('1" ('.\',\'('S obj ' /OS para au/11('1/ÜI/' a co111rib11içlio. Assim, freqll 111/em •111 , a ontecia que o príncipe r , ebia mais dinheiro do que havir, pedido; então, ele o fa zia devolv >r" (pp. 74-5). • "Finalmente, o nascimento de um delfim [herdeiro do Trono]pareceu preencher inteiramente todas as aspirações. A alegria foi universal; o povo, os grandes, todos pareciam, a este respeito, formar uma só famfli" : nas ruas uns paravam os outros, f" lavam-se sem se conhecerem, ah/'11 çavam-se todas as pe .1·.1·0(1 ,\' o, nhecidas" (p. 148).

Assestando o foco

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ob a proteção especial de Nossa Senhora, a TFP obteve, de 11 de agosto a de setembro deste ano, nas praças e ruas das cidades brasileiras, 1.133.507 assinaturas contra os projetos de lei de Reforma Agrária e Reforma Urbana. Na presente edição, estampamos documentado artigo que demonstra o caráter socialista e confiscatório do projeto de Reforma Agrária, em tramitação no Legislativo Federal. Embora mais de um milhão de brasileiros tenham dito NÃO, esse projeto - já anteriormente aprovado pela Câmara de Deputados - recebeu, com 22 emendas, aprovação também do Senado. Tais emendas, aliás, o tornam ainda mais socialista e confiscatório. Ao encerrarmos esta edição, o público nada sabe sobre a votação dessas emendas na Câmara de Deputados, o que talvez se faça logo. Assim, o Brasil

está seriamente ameaçado de ver incorporada à sua legislação, a qualquer momento, uma radical socialização de suas imensas áreas rurais. Quanto à Reforma Urbana, embora possa demorar mais um pouco, a ameaça continua de pé. O projeto de lei 5788/90-Estatuto da Cidade-, que propugna uma radical Reforma Urbana, já foi aprovado pelo Senado. Entretanto, não foi inserido na pauta de votação prioritária do segundo semestre deste ano, a ser cumprida pela Câmara dos Deputados. Tal projeto deverá ser analisado por comissões técnicas dessa Casa legislativa, ficando a Reforma Urbana postergada para 1993. O projeto de lei 5788/90 se aplica a toda e qualquer cidade com mais de 20 mil habitantes, e estipula entre outros absurdos, os seguintes: - se uma casa ou edifício em cons-

trução forem destinados à venda, caberá à Prefeitura estabelecer os parâmetros para a fixação do pre ço e o prazo para a conclusão da obra; - se, a critério da Prefeitura,. um imóvel estiver sendo subutilizado, esta poderá determinar o parcelamento dele, ou sua utilização compulsória. Para o proprietário desobediente, aplica-se o IPTU progressivo e, depois de cinco anos, dar-se-á a desapropriação; - antes de vender um terreno, o proprietário tem de oferecê-lo à Prefeitura . E deve aguardar 30 dias para esta se manifestar. Que a Rainha do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, nos J'ivre das Reformas Agrária e Urbana, e preserve em nossa Pátria os princípios da propriedade privada e da livre iniciativa, elementos básicos da lei natural e da boa ordenação social.

índice Discernindo... Perfumes de outrora A Realidade Concisamente Satani smo em grupos de oração Destaque Na ex-URSS, coexistência de caos e de resíduos comunistas Psiquiatria Projeto Delgado: quem é o louco? Reforma Agrária Confi sco agrário em marcha Entrevista Descobrimento e colonização da América Caderno Especial Festa da apresentação de Nossa Senhora no Templo TFPs em ação - I Mensagens ao Presidente da República e ao Legislativo Federal TFPs em ação - li A TFP diz NÃO a Maastricht Brasil Real, Brasil Brasileiro O rapaz, esse desconhecido Hagiografia São Carlos Borromeo, antítese viva dos erros do século XVI Em painel Frases e imagens

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Catolicismo é uma publicação mensa l da Editora Padre Belchior de Pontes Ltda .

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Diretor: Paulo Corrêa de Brito Filho Jornalista Responsável: Takao Takahashi Registrado ha DRT-SP sob o

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Nº 13748 Redação e Gerência: Rua Martim Francisco, 665 01226-001 - São Paulo, SP Tel : (011) 825.7707

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Diagramação: Antonio Carlo s F. Cordeiro

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Fotolitos: Microformas Fotolitos Ltda. Rua Javaés, 681. 01130-010 São Paulo - SP

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Impressão: Artpress Indústria Gráfica e Editora Ltda. Rua Javaés, 681 - 01130-010 São Paulo - SP

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A correspondência relativa a assinatura e venda avulsa pode ser enviada ao endereço da Gerência de Catolicismo.

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ISSN - 0008-8528

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feitura local é a de conceder 24 horas para a desocupação, seguindo-se a destruição dos barracos é a retirada dos invasores . Mas, no caso em pauta, refere o "Estado de Minas", "com a interveniência da igreja os invasores conseguiram permanecer na área". Os resultados não se fizeram esperar: em 90 dias, as famílias ali instaladas, sem água, sem esgoto, sem luz, caíram na maior miséria, ocorrendo um surto de gastroenterite que já atingiu vin te crianças . A Prefeitura teve de aplicar um plano de emergência para tentar diminuir os males que assolam aquelas famílias. O prefeito lvair Nogueira aponta "a indústria de inva-

Limpando-se da Modernidade

Satanismo em grupos de oração Pesquisa demonstrou que "durante a última década, o culto a Satanás na Colômbia passou à frente do número de homicídios e de lesões corporais", sen do que o país é dos mais violentos do mundo, informa o jornal "E I Tiempo", de Bogotá. Sacerdotes consultados acrescentam que "o pacto com o diabo e a utilização de malefícios estão aflorando espontaneamente e com mais freqüência nos grupos de oração paroquiais". Alguns párocos disseram que o encontro de cadáveres de crianças mutiladas em Cau ca, em 1989, e o assassi nato de um sacerdote no Valle, em 1991 , são indicias da realização do ritos satânicos . A prática ó m i rr qü ente nas cl ssos , nédla e alta. Mon s. Urlbe Jaramillo, exorcista experim entado, diz haver "algumas pessoas que chegam à Catedral de Rionegro ou à de Sonsón para verem-se livres de malefícios". Estes são produzidos quando o indivíduo toma "substâncias oferecidas a Satanás, como terra, ou ossos de cemitério" Também pedras de ara, de altares, são roubadas para esse fim. Às vezes a pessoa exorcizada - completa Mons. Uribe - expele pela boca vermes ou rãs.

A "modernidade", que tanto encantou as gerações passadas, hoje produz cansaço. Enquanto alguns fogem dela pela porta errada do tribalismo, da ecologia radical etc., outros, com mais bom senso, limpam-se dela retornando às tradições. Assim, a Prefeitura de Roma decidiu acabar - no centro histórico da cidade com todo comércio que fuja às tradições. A partir de 1993, serão fechadas lanchonetes como o McDonald, lojas de jeans, discotecas, vídeo-bares e coisas do gênero. A idéia é devolver a Roma as galerias de arte,

bens do Pinho Ângelo, erguido em 1988". E acrescenta: "Os invasores de terra, de modo geral, não querem trabalhar. A Prefeitura já tentou arrumar ocupação para' muitas dessas pessoas" e sempre recusam . O que querem "é mordomia : cesta básica, atendimento médico e casa", comentou.

Índio capitalista

Licenciosidade é o mínimo que se pode dizer da exibição do filme "Pornografif' durante o 20 2 Festival de Cinema de Gramado (RS): mostra um casal praticando o ato sexual ao som do Hino Nacional. O pior de tudo é que notícias dessas já não causam espanto e rejeição proporcionais.

*** Arsenal de armas foi encontrado na Penitenciária de Bangu, no Rio: granadas, pistolas, munição, talhadeiras etc. Há pouco, um detento brandindo uma granada ameaçava causar um morticínio. Como entram essas armas?

*** Chocados ficaram os peruanos quando viram na TV a líder terrorista recentemente aprisionada, Maritza Garrido, com o punho levantado, olhar feroz e endurecido, gritando e "O comu-

nismo vai conquistar o mundo!" Antes de aderir ao Sendero Luminoso, ela era uma das primeiras bailarinas do país.

*** Fidel Castro quer convênios com o Brasil para "intensificar" o intercâmbio entre as universidades dos dois países. Na verdade, o primeiro vice-ministro cubano visitou a Unicamp (Campinas) e a Universidade de São Paulo, interessado especialmente em biotecnologia e produção de medicamentos.

*** Lâmpadas queimadas dão lucro aos camelôs na Rússia. Como fruto de 70 anos de comunismo, não há à venda lâmpadas boas nas lojas. A população então compra as queimadas e, às escondidas, troca-as nos locais de trabalho pelas boas ...

Viciados em droga poderão receber penas menores (meras punições administrativas, como multas, efetuar certos trabalhos etc.) em lugar de prisão, como até agora. É o que propõe o Conselho Federal de Entorpecentes. Os traficantes é que ficarão contentes com a medida.

*** Pivete que rouba tem de ser preso, é a tese do juiz Liborni Siqueira, da Primeira Vara de Menores do Rio, apoiada pela maioria da população. O número de meninas e meninos que dormem e perambulam pelas ruas é menor do que se imagina, revela levantamento coordenado pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas - !BASE. São cerca de mil na Grande Rio, Niterói e São Gonçalo, onde o problema é mais agudo.

DESTAO.!lJÚ reconstituição da antiga União Soviética. Outros nacionalistas pedem a formação de um governo de salvação nacional. Até agora o grande público não tem participado (cfr. "Le Monde", "Toe Washington Post" e "Newsday", transcritos pelo "Jornal do Brasil", 168-92).

Na ex-URSS, coexistência de caos e de resíduos comunistas

Invadir sim, trabalhar não Enquanto projetos de Reforma Agrária e Reforma Urbana ameaçam ser aprovados no Congresso Nacional, inescrupulosos líderes religiosos e políticos utilizam-se da população pobre para pressionar os legisladores, promovendo invasões de terras na cidade e no campo. Assim é que em Betim, município próximo a Belo Horizonte, cerca de 300 famílias invadiram um terreno pertencente a uma grande Companhia. A praxe da Pre-

O cacique Tutu Pombo (centro), '"' 1,;, r1 1>:• r/11 Uw, à sua esquerda o senador nor/,r

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1111M111 11110 /111/ ( ;.,, ,,

O absurdo comunista deu lugar à incoerência. Um camponês tem direito de cultivar sua terra livremente, mas como não trabalha mais numa fazenda coletiva, precisa de autorização da prefeitura para comprar combustível. Ninguém sabe quem detém efetivamente o poder nas províncias. Há os sovietes da velha guarda, os governos locais, os representantes do Presidente. Além das "máfias" de poderes ocultos. Todas as autoridades têm em seus gabinetes a nova bandeira tricolor russa e a bandeira com a foice e o martelo. A apatia é geral. Uma eleição foi anulada perto de Moscou, pois somente 30% dos eleitores compareceram. Organiza-se uma economia totalmente híbrida, que ninguém sabe se será viável ou não. "Chegamos a um beco sem saída", reconhece Novikov, um dos primeiros produtores rurais privados da região de Yaroslavl, à margem do Volga. "Não podemos comprar as máquinas de que precisamos. Somos completamente dependentes da fazenda coletiva para vender nossa produção". Um partido político chega a reivindicaF a

"Privatização" russa: pilhagem de estatais Um instituto de pesquisas estatal transformou-se parcialmente em firma privada, empossou o secretário de sua antiga célula do PC na presidência e vendeu à nova empresa mais de 100 computadores IBM por preços subsidiados, ridiculamente baixos. A firma com_eçou então a revender os computadores a preços de mercado, cem vezes acima da compra! Trata-se de um caso, boje em dia comum na ex-URSS, de "privatização da nomenklatura", ou seja, a pilhagem e liquidação das propriedades estatais pela e para a antiga el ite comunista. Ministérios inteiros ressurgiram como associações privadas. Ex-funcionários estatais que vendiam madeira siberiana, continuam a fazêlo, só que agora como empresários privados. Na Rússia, tudo mudou, e nada mudou (cfr. "Whashington Post", transcrito pelo "Jornal du Brasil", 25-5-92).

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PSIQUIATRIA

Encontra-se na pauta do Senado, podendo ser votado a qualquer momento, o projeto nº 3.657/89, de autoria do deputado petista Paulo Delgado (MG), com substitutivos. De maneira geral , as proposituras (com exceção do substitutivo do deputado Lucídio Portella) proíbem a construção de novos hospitais psiquiátricos públicos, bem como a contratação ou fi nanciamento, pelo setor governamental , de novos leitos em hospital psiquiátrico. Nos Estados, projetos de lei semelhantes encontram-se em apressada tram itação. Se aprovados, os pobres não poderão contar com o hospital psiquiátrico no leque de alternativas que a medicina moderna oferece aos doentes mentais . O que pensar dessa eliminação?

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Projeto Delgado: Quem é o louco?

"[Na Itália], a reforma fracassou e acaba de ser revisada · pela legislação. Nos Estados Unidos, o fracasso foi maior, porque a chamada 'desospitalização' não tinha embasamento teórico sustentável como o da 'desinstitucionalização' italiana. Os americanos queriam fechar mesmo os hospitais e se puseram a soltar os doentes mentais nas ruas. Sobreveio o fracasso e tudo está sendo revisto". Um pouco depois, citando Franco Rotelli (também insuspeito, por pertencer à corrente contrária aos manicômios): "Suplantar os hospitais psiquiátricos revelou-se, por enquanto, uma ilusão". ci:_ise financeira que ass~la nosso Mais adiante, afirma que é "uma pais tem, entre outros efeitos, o de hipótese ainda não comprovada" de que criar palavras novas ou ressuscitar anti"em todos os casos de internação necesgas. Por exemplo, o termo "belchior", ou seja, loja de objetos usados. Tal pala- sária o hospital psiquiátrico possa ser substituído, com vantagem, por unidavra, que estava semi-esquecida, ganhou des especializadas em hospitais gerais" hoje nova vitalidade, suscitando o neo(Senado Federal, Secretaria Legisla!iva, logismo "brechó", aplicado mais espepp. 236-7, 243). cialmente a roupas de segunda mão. Ora, o senador José Bisol é o autor Outras crises também operam, por vede parecer favorável ao projeto Delgazes, certas ressurreições. Assim, a situado, na forma de seu substitutivo. ção de aperto por que passa a esquerda, Suas palavras não podem ser vistas em todo o mundo. A evidente falta de como interessadas e valem, portanto, inspiração que a acomete produz como como advertência. conseqüência a importação de figurinos Se na lú ida Itália nos avançados velhos, modelos que já fracassaram cm Estados Unidos tal fl ,urino saiu d · seus países de origem, para ver se enconmoda, e at partidários do proj •to o tram "compradores" desprevenidos. reconhecem de plano, é pr ciso buscar A tentativa de abolir os hospitais cm outro quadrante os motivos para o psiquiátricos é, cm minha opinião, um lançamento de tais projetos. bom exemplo dessa dcsinspiração. BaCarga emocional em debate sobre seia-se cm cxpcri/.:ncias promovidas cm a saúde mental! - Uma compaixão alguns países, as quais fracassaram ruimal entendida não é de todo alheia à dosamente, e encontra sua expressão, .tentativa de criar um preconceito contra no Brasil, no projeto do deputado petista o hospital psiquiátrico. Paulo Delgado, e em projetos de lei O homem naturalmente tem dificulestaduais (sobretudo do Rio Grande do dade em encarar realidades como a Sul e de São Paulo). Muito se tem escrito a respeito, e doença, a loucura e a morte. Para citar apenas três exemplos, os hospitais de todos reconhecem o fracasso das expeisolamento para leprosos, os asilos para riências que se fizeram no Exterior. Para velhos e as casas para doentes menta is não me alongar muito, é suficiente menlhe causam calafrios. Quando privado cionar as insuspeitas palavras do senado i!)fluxo bendito da Civilização Crisdor José Bisol, em seu parecer favorável tã, ele procura substituir a visão dessas ao projeto Delgado:

contingências por panoramas mais róseos. Por isso, gosta de imaginar que o louco recolhido em hospital psiquiátrico é um homem praticamente normal, uma vítima de equívoco, marginalizada injustamente. Surge, então, o preconceito, e ao sabor deste, a realidade vai sendo mutilada . Não - pensa ele-, não é verdade que a demência seja uma doença gravíssima; não é verdade que o alcoolismo e as drogas lhe estejam assiduamente associados; não é verdade que ela frequ entemente provoca atentados ao pudor, com todo o constrangimento qu isto

A

/lustração para a ''História de um louco" de Emmanuel Bove, 1971 - Roland Top ar

significa; não é verdade que os loucos podem perturbar gravemente a vid11 fn . miliar; não é verdade que a d0t·1U,:11 d ·genera, não raro, em atitud s vlolt-ntas e anti-sociais. Não, dizem , nndn di. so verdade. Ou pelo menos HKl' lll l ' 0111<1 se assim pensassem. Sobretudo não é wrd1uh- 1111r , muitas vezes, a doença s1• t11m11 n nlru 1· se prolonga indcfi11id111111·11h' . 1 lo , 1' , p ·cialmente, r puK1111 1111 llt'I' 11111 . A dar

ouvidos a certos "supporters" do projeto Delgado, pareceria que o estado crônico da moléstia mental só existe por causa dos hospitais psiquiátricos fechados: Dentro dessa lógica, um tanto primitiva, suprimam-se a estes, e tal estado desaparecerá. É quase como se um legislador compassivo, aflito com o espetáculo do uso das muletas pelos mancos, apresentasse um projeto de lei ptoibindo o uso delas! Seu zelo mal compreendido teria tornado incomparavelmente mais difícil a vida daqueles que pretendia auxiliar. Assim também, por mais triste que seja o espetáculo dos hospitais psiquiátricos, muito pior será, para os que dele necessitam, ficarem privados desse recurso extremo. Diante dessa deprimente realidade, mais uma vez o vezo da simplificação se faz sentir entre os defensores do projeto Delgado. Pois a solução que enxergam é simples: suprimam-se os manicômios, e tudo voltará à normalidade. Na verdade, também, odescaso de algumas famílias fala a favor da existência dos hospitais psiquiátricos. Se estes desaparecerem e as famílias não recolherem os doentes, onde vão eles morar? Negar-lhes até esta última tábua de salvação pode configurar-se como uma forma de crueldade, hipocritamente travestida de misericórdia. "É proibido proibir" Com sua sonoridade sui-generis, a palavra "manicômio" induz à antipatia e, como acontece com outros termos, presta-se a manipulações de caráter psico-ideológico. Pode, portanto, ser considerada uma "palavra-talismã", operando no campo das convicções uma verdadeira baldeação inadvertida (cfr. Plinio Corrêa de Oliveira, Baldeação ideológica inadvertida e Diálogo, cap. III, Editora Vera Cruz, São Paulo, 5a. edição, 1974). A pessoa que se deixa leva.r, sem análise, por tais sonoridades da palavra "manicômio", tende forçosamente a ver todo e qualquer hospital psiquiátrico como uma Bastilha a ser demolida. Esta agitação dos espíritos, assim ativada, vem somar-se a várias outras, concomitantes: iniciativas análogas são tomadas no que diz respeito às raças, aos criminosos, às prostitutas, aos semterra, aos sem-teto, aos índios, aos drogados etc.

Toda essa eletricidade configura uma verdadeira Revolução, ainda que (pelo menos de momento) incruenta. Como dizia o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, trata-se de "uma Revolução que a si mesma se qualifica de 'cultural', ou seja, que abarca grosso modo todos os aspectos do existir humano" (cfr. "Catolicismo", nº 500, agosto de 1992). Por isso, com muita razão, afirma Benedicto Arthur Sampaio que "a autonomeada vanguarda psiquiátrica .. .. apenas transferiu para a saúde mental uma variante simplificada do chamado pensamento filosófico de 1968", o qual poderia ser resumido com o famoso slogan pichado nos muros de Paris durante aquele levante: "É proibido proibir"

Pesquisa - Roland T opor

("Jornal da Tarde", 18-5-91). A simples realidade - Mas a realidade, afastados os preconceitos emocionais, qual é ela exatamente? Quais os seus contornos, analisadas as coisas com paciência e objetividade? Recente pesquisa - feita pelo Prof. Jair de Jesus Mari, da Escola Paulista de Medicina, nas regiões metropolitanas de São Paulo, Brasília e Porto Alegre revelou que, nessas cidades, respectivamente 19%, 34% 34% das pessoas apresentam potencialmente algum disturbio emocional ("Veja", 15-7-92). Seguramente, o nível de saúde mental em tais centros não melhorará com a promiscuidade inevitável. Nesse magma de dezenas de milhões de pessoas, é preciso distinguir com cuidado, como o faz a verdadeira

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psiquiatria, os que são apenas candidatos potenciais a doenças nervosas, os estressados, os alcoólatras, os levemente afetados, os neuróticos, os psicóticos etc. As manifestações da doença diferem. Por vezes são quase imperceptíveis, leves sintomas causados pela trepidante sociedade moderna . Outras vezes, assumem caráter dramático, desconcertando e chocando as pessoas em contato com o doente. Não raro, assumem formas violentas e anti-sociais, chegando aos atentados ao pudor, ao homicídio ou ao suicídio. O desfecho de cada crise igualmente pode variar, oscilando dos meros episódios passageiros aos casos incuráveis. A conseqüência óbvia é de bom senso: afecções diferenciadas devem ter tratamentos também diferenciados. A atualização da psiquiatria oferece uma gama cada vez maior,de respostas para os diferentes casos. No substitutivo que ofereceu ao desastroso projeto Delgado, o dep. Lucídio Portella enumera com propriedade as seguintes opções: ambulatórios psiquiátricos, pronto-socorropsiquiátrico, emergência psiquiátrica em hospital geral, leitos psiquiátricos em hospital - geral, hospital psiquiátrico, hospital dia, hospital noite, centro de convivência, ambulatório de egressos, hospital de custódia e tratamento psiquiátrico. Amputar uma das opções de tratamento significa, pura e simplesmente, atentar contra o direito dos doentes mentais a serem adequadamente tratados. Na prática, a obrigar muitos deles a rolar pelas calçadas da vida, abandonados, sem saúde, muitas vezes buscando uma solução no álcool ou se desafogando no crime. É o que ocorre nos Estados Unidos onde, em conseqüência de uma lei similar ao projeto Delgado, nada menos que 100 mil doentes mentais estão recolhidos em cadeias (P. J. Hilts, do "New York Times", e "O Globo", 13-10-90). Por aí se vê como uma compaixão pouco esclarecida pode produzir os efeitos mais contraproducentes. Os direitos da sociedade em geral Por fim, é preciso dizer uma palavra sobre os reflexos da extinção dos hospitais psiquiátricos sobre a sociedade. Um único doente mental pode tornar impossível a conversa e o convívio entre


vinte sábios. Quanto mais entre pessoas comuns! É uma triste realidade, mas o louco destrói o ambiente onde está. Embora não seja culpado por isto, ele tem de ser posto à margem, da mesma forma como, por outras razões, o morfético, que tampouco é culpado de ser doente. Conforme cada caso isolado, compreende-se certa tolerância, mas em que medida, dentro de que limites, isso é toda uma questão a ser estudada com cuidado. A solução nunca será fechar os manicômios. Se aprovado o projeto Delgado ou o s ubstitutivo Bisol, não é difícil filmar em câmara lenta o futuro. Os hospitais psiquiátricos públicos deixarão de ser construídos. Com o crescimento da população, em breve os existentes serão insuficientes. Dificilmente o Poder Público - que não tem podido edificar,

como é sabido, o número necessário de prisões para abrigar os criminosos terá providenciado meios alternativos de tratamento dos doentes mentais. Nessas condições, um novo exército de infelizes virá misturar-se, antes de receberem alta, com os mendigos e favelados, para serem pasto dos marginais e objeto da caçoada dos moleques. Não se compreende o que eles e a população em geral poderão ganhar com a promiscuidade entre ambas as partes. Tanto mais quanto se sabe ser a saúde mental dos habitantes dos grandes centros bastante cambaleante. Não podemos nos dar ao luxo de expor os doentes e os não doentes a serem cobaias de experiências como esta! Conclusão - O projeto Delgado e os projetos estaduais semelhantes não consideram a realidade tal qual ela exis-

te e tornarão mais dura a vida dos doentes mentais. Além disso, degradarão ainda mais o ambiente da sociedade em geral, ativando a "Revolução Cultural" em curso no País. Ambiente no . qual ilustrações como as de Roland Topor, pintor polonês contemporâneo residente em Paris, que exploram a anormalidade psíquica e a alucinação, serão consideradas "naturais", pois refletirão cada vez mais intensamente o dia-a-dia do homem comum ... Usar uma roupa de "brechó" em alguns casos pode ser ridículo, mas não é propriamente uma aventura. O mesmo não se pode dizer de se obrigar um país a repetir, com poucas modificações, experiências desastradas. Infelizmente, estamos nessa perspectiva.

ATUALIDADE

Confisco agrário em marcha Depois de a Câmara Federal aprovar dois projetos que facilitam e aceleram desapropriações confiscatórias, o Senado ainda agrava um deles

Léo DANIELE

Pressupostos de bom senso para a questão dos hospitais psiquiátricos

O louco, um mensageiro de Deus? Segundo os adeptos da "Revolução Cultural" psiquiátrica, a loucura seria uma espécie de profetismo. As coisas que o demente diz com aparência de loucura, se bem interpretadas, teriam certo sentido profundo que fariam do louco um representante da boa ordem em meio aos homens. Ora, o louco, de vez em quando, pensa coisas razoáveis. No estado de loucura, ele as solta sem fazer caso de certa inibição social que condiciona as pessoas normais. É per accidens que ele faz algo que tem razão de ser e certa utilidade. Mas, de fato, não é de uma ruína da razão humana que sairá um meio habitual de Deus se exprimir. Deus é a Verdade, e a Verdade não pode escolher para manifestarSe uma boca que diz indiferentemente desatinos e coisas razoáveis.

Vivemos em uma sociedade profundamente mórbida, que abandonou quase completamente os princíplos do Direito Natural. Esta Morbidez com "M" maiúsculo gera, inevitavelmente, situações mórbidas. A existência de muitos doentes mentais é uma delas. A necessidade de haver hospitais psiquiátricos é conseqüência da anterior. Não faz sentido - ao invés de deixar de violar as leis da natureza - tentar encontrar processos para reabsorver o mal que a violação da natureza causa! Por exemplo, se alguém se encontra em um ambiente pestífero e contrai uma doença, a medida mais importante a tomar é modificar esse .a mbiente, ou, pelo menos, escapar dele, e não paliar o mal com aspirinas. Assim também no caso dos hospitais psiquiátricos. A causa de sua proliferação é o carátt•r putrefaciente da sociedade contemporânea, pdo fato de fugir ela da ordem natural. A solução profunda e total só se poderá ohln pela volta para a boa ordem católi a. Isso não impede que se procurem 11dot11r uu•dl das de emergência. Mas sem cspt•rnr ,h-111 111u· resolvam radicalmente o prohk11111.

Entrada do Assentamento de ltura111a (MG): terras incultas, nenhuma pecuária. Efeito característico da R eforma Agrária

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m edições anteriores, apresentamos um noticiário sobre a campanha promovida pela TFP, alertando o público brasileiro a respeito de duas assustadoras Reformas - Agrária e Urbana - atualmente em andamento no Congresso Nacional. A campanha fundamentalmente consistiu num abaixo-assinado e obteve a adesão entusiástica do público. 1.133.507 brasileiros subscreveram, ao longo de um mês, o apelo da TFP às autoridades máximas do País - Presidentes da República, do Senado e da Câmara Federal - no sentido de não serem aprovados os projetos reformistas e de que fosse convocado um plebiscito nacional para decidir sobre as matérias. Neste artigo, o leitor tomará conhecimento, de modo sintético, da tramitação dos dois projetos de lei referentes à Reforma Agrária (llD/91 e 71B/89). Quanto à Reforma Urbana, a comentaremos oportunamente.

*** Imagine-se que alguém quisesse reCATOLICISMO

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construir o Muro de Berlim e escravizar de novo todo o ex-império soviétko. Impossível! O comunismo morreu! - diriam incontáveis brasileiros. E talvez até algum leitor de Catolicismo. Devagar, caro amigo. Se é verdade que ninguém está desejando reconstruir o Muro da Vergonha, há esquerdistas

bastante inconformados com a queda da ex-URSS e de seu falido sistema político, social e econômico. E isto aqui no Brasil, e na surdina, o que representa um inimaginável retrocesso histórico: retomar entre nós a velha utopia socialista agrária. Sim, isto está acontecendo no Brasil, em 1992! Os projetos sobre a Reforma Agrária já foram aprovados na Câmara (llD/91 e 71B/89, nos dias 26 e 30-6-92). Um deles já foi aprovado, com emendas, também no Senado (llD/91, no dia 2 de setembro) e aguarda, no momento em que redigimos estas linhas, na Câmara, a apreciação dessas emendas, para subir depois à sanção presidencial.

Abalo das atuais estruturas Tais projetos abalam profundamente as atuais estruturas sociais e econômicas do País. E representam o fim, no campo, de dois princípios básicos de toda nação livre: a propriedade privada e a livre iniciativa. O projeto de lei llD/91, que trata das desapropriações para fins de Refor-

O direito de propriedade e a livre iniciativa assef!U,ram marcante sucesso também no setor da pecuária: o Brasil possui o maior reb;nho bovino comercial do mundo NOVEMBRO 1992

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A produção agrícola do País, baseada no regi.me da propriedade privada, vem alcançando êxitos notáveis, comprovados pelas recentes super-safras

ma Agrária, é tão radical que até pequeconceitos vagos, imprecisos e sujeitos a nas propriedades e propriedades promúltiplas interpretações: "vocação nadutivas perdem a garantia que o artigo tural da terra", "potencial produtivo da 185 da Constituição estipula contra a propriedade", "manutenção do equilídesapropriação. brio ecológico da propriedade", "saúde O pequeno proprietário, pelo fato e qualidade de vida das comunidades de ter um só empregado trabalhando vizinhas" etc. (idem, §§ 2º e 3°). habitualmente na terra, ou possuir outra Outros, enfim, além de sujeitos a propriedade rural, qualquer que seja o · interpretações amplas, complexas e seu tamanho, deixa de ser considerado abrangentes, alcançam qualquer pro"pequeno" (art. 4°, II). E, portanto, pode prietário: "atender as necessidades básitornar-se alvo da desapropriação. cas dos que trabalham a terra", "obserQualquer proprietário deverá, doravar as normas de segurança do trabavante, cumprir a "função social" (art. lho", "respeitar as leis trabalhistas", não 2°). Esta consiste, pela nova lei, numa provocar "conflitos e tensões,sociais no série de requisitos fixados pelo arbítrio imóvel" (idem, §§ 4° e 5°). da autoridade: "grau de utilização da Não basta, pois, que a propriedade terra", que será de 80% da área aproveiseja produtiva. tável, e "grau de eficiência na exploraUma ação trabalhista perdida, ou ção", que deverá ser igual ou superior a uma árvore derrubada sem autorização 100%, de acordo com índices fixados do IBAMA, pode ser motivo para o pelo governo (art. 9°, § 1º). Governo disparar uma desapropriação! Outros requisitos são baseados cm

Confisco agrário E nada de pagamento prévio pelo justo preço, outra garantia constitucional (art. 184) burlada pelo projeto 71B/89. A inderuzação será em títulos da Dívida Agrária - TDAs, paga em até 20 anos (art. 5°). Esses títulos encontramse tão desvalorizados, que possuem hoje apenas - e no máximo! - 30% do seu valor nominal. Por isso mesmo, juristas de renome não hesitam em afirmar que desapropriação com pagamento em TDAs é confisco. E o proprietário agro-confiscado dificilmente vai poder contar com o socorro do Poder Judiciário, que até aqui, de certa forma, fazia prevalecer os legítimos direitos do expropriado. O projeto 71B/89 estabelece um processo rapidíssimo para as desapropriações e retira do juiz a possibilidade de, na ação desapropriatória, contestar a necessidade da desapropriação (art. 10°). A desapropriação, uma vez decidida pelo Governo, será irreversível. A discussão só poderá versar sobre o valor oferecido e vícios processuais.

*** Os pontos aqui enunciados são apenas do conteúdo dos projetos agro-reformistas. Tantas são as disposições contrárias à propriedade e à livre iniciativa que, de alguma forma, constituem elas verdadeiro "código anti-proprietário". Ou, para usar uma expressão posta em circulação pelas CEBs, uma muito bem montada "operação pega-fazendeiro". Atílio G. FAORO

Emendas do Senado agravam o projeto de Reforma Agrária No dia 2 de setembro, o Senado aprovou o projeto 11 D/91, que trata das desapropriações para fins de Reforma Agrária. O projeto recebeu, no Senado, 22 emendas. Várias delas agravam bastante o projeto aprovado na Câmara, em 26-6-92. Senão vejamos: 1. Fica mais explícno o fato de a propriedade produtiva - que não cumpre a alegada "função social" - estar sujena à desapropriação (emendas 1 e 6). 2. Foi tirada a garantia, antes conce-

dida ao expropriado, de ficar na posse do imóvel até o trânsito em julgado da sentença proferida nos autos da ação de desapropriação (emenda 17). 3. Foi retirada também a insusceptibilidade de desapropriação das propriedades recebidas em garantia de dívida do anterior proprietário (emenda 18). 4. Na longa lista de condições para a propriedade atender à "função social", foi acrescentada mais uma: a observância dos contratos coletivos de trabalho (emenda 12).

5. Para efeito de avaliação, no preço oferecido pelo imóvel expropriado foi acrescentado mais um elemento: "a existência de conflitos possessórios e dominiais" (emenda 15). 6. No projeto da Câmara, a desapropriação devia começar com as propriedades com "grau de utilização da terra" menor, levando-se em conta as propriedades de todo o território nacional. Agora, deve-se levar em conta a situação de cada micro-região homogênea (emenda 19).

Descobrimento e colonização da América: empreendimento nefasto ou colaboração grandiosa para o progresso da civilização? PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA

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ara surpresa de muitos, o ensejo dos 500 anos do DescoAssim, o século XV, e sobretudo o século XVI, foram brimento da América não é motivo indiscutido de festemarcados pelas agitações religiosas que tiveram como resuljos. Em certas publicações da esquerda católica, os conquistado a pseudo-Reforma protestante, com todos os erros, extadores, de heróis, passam a vilões. Põem elas em realce suas travios e crueldades que trouxe consigo. crueldades, não a sua coragem e sua obra civilizadora. E os Mas, por outro lado, tais erros encontraram como reação abnegados e beneméritos missionários, que converteram ína Contra-Reforma católica, na qual os espanhóis desempedios à Fé católica, são apontados, pelos adeptos da Teologia nharam um papel brilhante. Os nomes de Santo Inácio de da Libertação, como fautores de um empreendimento nefasto. Loyola, de Santa Teresa de Jesus, de São Pedro de Alcântara, Sobre o tema - objeto de acesa polêmica nos ambientes bastam para se fazer uma idéia da importância da ação dos católicos-, o jornalista argentino Horácio Black entrevistou, espanhóis na Contra-Reforma, ao lado dos quais atuaram com para emissoras de rádio de países hispano-americanos, o destaque nossos avoengos portugueses. · eminente pensador católico Plinio Corrêa de Oliveira, PresiComo o seu nome indica, a Contra-Reforma foi um modente do Conselho Nacional da TFP, e professor-emérito de vimento religioso de repulsa à Reforma, de defesa, de elevaHistória Moderna e Contemporânea da Pontifícia Universidação e, num certo sentido da palavra, de re-purificação dos de Católica de São Paulo. Dessa luminosa entrevista, destavalores e dos princípios eternos da Igreja Católica. Isso não camos as perguntas e respostas de maior interesse para os se fez sem choques. Esses choques, por sua vez, acarretaram, leitores do mundo luso-brasileiro. da parte de uns como da parte de outros, crueldades. Mas não Sr. HorácioBlack: Qual sua opinião, professor, sobre a se vai dizer, por causa disso, que os grandes homens da ação dos conquistadores na América? Contra-Reforma, como os grandes agitadores da Reforma, Prof.Plinio Corrêa de Oliveira: A ação dos descobridores não foram senão criminosos. Seria uma visão de conjunto que e conquistadores da América tem sido objeto de opiniões uma historiografia sã recusaria paladinamente. muito diversas, e já se nota que, no momento, o ponto de Concretamente, na obra das navegações, dos descopartida de tal divergência é a diferença entre as concepções brimentos e da colonização, houve ações magníficas, mas da Teologia da Libertação e as maneiras tradicionais de conhouve também aspectos muito censuráveis. Houve crueldades siderar essa realidade. muito grandes, como houve também atos de clemência e de Entretanto, mesmo entre críticos da História que analisam generosidade extraordinários. Deve-se considerar que uns e as coisas sob um ponto de vista que não o da Teologia da outros desses aspectos foram praticados por homens que Libertação, há também desacordos sobre a maneira de apre- muitas vezes tinham em si mesmos essa contradição. ciar os conquistadores da América. Sr. Horácio Black: Professor Corrêa de Oliveira, a data Para compreender essa diferença, é necessário ter em de 12 de outubro foi sempre celebrada com júbilo nas três conta a época em que surgiram na História os gigantes que Américas, como sendo o dia em que o continente americano fizeram as navegações e empreenderam as conquistas. se integrou na grande família de nações que constitui o mundo Esses fatos se deram em fins do século XV e ao longo do civilizado. Há, entretanto, uma corrente que conta com o século XVI. Exatamente um período em que tiveram curso • respaldo da chamada Teologia da Libertação, a qual considera outros movimentos históricos de grande importância. E não o 12 de outubro de 1492 como a data em que começou a se podem destacar desse quadro as navegações e os descoopressão dos povos indígenas da América. Qual é sua opinião brimentos, como se eles nada tivessem a ver com os outros a respeito? fenômenos, pois todos eles constituem um conjunto. Prof. Plinio Corrêa de Oliveira: Eu considero que a Com efeito, houve movimentos religiosos de grande encorrente inspirada pela Teologia da Libertação erra na aprevergadura nesse período. A Idade Média ainda estava próxima ciação histórica, a partir dos erros que ela comete na apreciae, em conseqüência, as preocupações religiosas tinham no ção teológica. Ou seja, é a partir dos seus erros teológicos que espírito humano a importância que deveriam ter e que infelizela cai em erros históricos. mente perderam nos séculos ulteriores. A Teologia da Libertação tem, a respeito da natureza

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humana e do rumo que deve seguir a História, um ~odo de ver inteiramente diverso daquele que tem o verdadeiro católico. Para este, o homem dev;e,progredir continuamente, mas este progresso consiste em sujeitar a terra ao serviço do homem. E, por sua vez, o homem deve sujeitar-se ao serviço de Deus, de maneira que Deus reine sobre toda a Criação. A .doutrina católica considera o homem como rei da natureza, a qual existe para serviço do homem. Quando o homem se põe na posição devida face ã natureza, ele tem a obrigação de usar dela segundo as necessidades e vantagens de seu próprio desenvolvimento: de suas aptidões intelectuais, de sua vontade e de sua sensibilidade. De maneira tal que chegue, por essa forma, ã perfeição moral, que é a santidade, como alcance tàmbém a perfeição de todos os outros aspectos da natureza humana. Se o homem proceder virtuosamente, fa-lo-á com o equilíbrio adequado, que impedirá a destruição da natureza. Mais ainda, ele a aperfeiçoará para o seu próprio benefício. É o que se dá, por exemplo, no campo da botânica, quando, por meio de artifícios técnicos bem conhecidos, se produz o aparecimento de variedades vegetais que não existem senão porque o homem trabalhou a natureza, e não surgiriam jamais pelo jogo espontâneo desta. Nesta perspectiva se compreende que a obra dos descobridores e dos colonizadores da América seja considerada pelos partidários da doutrina católica, e pela imensa caudal dos historiadores, como uma obra muito boa. Por quê? Porque o europeu chegou aqui e firmou o seu poderio sobre a natureza, fazendo progredir todo o gênero humano com os frutos da América. Ele deu, assim, uma colaboração grandiosa para o desenvolvimento da Humanidade e, portanto, para a reta marcha da História em direção ãs finalidades que Deus estipulou ao homem. Para os adeptos da Teologia da Libertação ou da ecologia, pelo contrário, a obra dos descobridores e colonizadores foi funesta.

Segundo a doutrina da Teologia da Libertação, muito vizinha, nesse ponto, da ecologia, o homem é quem deve estar a serviço da natureza; é esta, nos seus reinos inferiores animal, vegetal e mineral - , que deve ser subservida e mantida em ordem pelo homem. De maneira tal que, em vez de essa natureza ser vergada e domesticada pelo e para o homem, é o homem que deve viver para conservar incólume a natureza. A natureza - sempre segundo essa corrente teológica deveria desenvolver-se na sua espontaneidade. Pois esta seria uma espontaneidade reta, quase se diria uma espontaneidade paradisíaca, da qual haveria de resultar que tudo na ordem natural corresse bem. Como única responsabilidade, o homem deveria exercer uma certa vigilância, de modo a impedir que, em certos pontos, se pronunciasse algum desequilíbrio, alguma desordem. Ele seria o guardião da natureza, tocando-a o mínimo, e vivendo modestamente, na maior medida possível, do que a natureza lhe proporcionasse. E isto num estado verdadeiramente primitivo, selvagem. Ora, isso é completamente falso! Segundo essa concepção eco-teológica, chega-se ã conclusão de que o estado selvagem é o estado ideal para o homem. Enquanto, segundo a doutrina católica, o estado perfeito para ele é o de ser civilizado. É inegável que, em nossa civilização atual, os defeitos são múltiplos, e precisam ser corrigidos. Entretanto, enquanto civilização, ela deve ser conservada cm muitas de suas linhas gerais, e também em vários de seus pormenores. Contudo, para a Teologia da Libertação, trata-se de caminhar rumo ao estado selvagem. Em tal concepção, é claro que os índios, por terem sido civilizados, foram prejudicados. A partir daí -concluem os eco-teólogos - é claro que a América não deveria ter sido descoberta, que ela nada lucrou em ter sido descoberta por europeus, e que estes erraram querendo adaptar àquela civilização as maravilhas do Novo Mundo. O que é uma aberração.

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aderno Especial Nº 16

O direito de propriedade não se perde pelo não uso dela O direito de propriedade se distingue de seu uso .... Que os donos só usem do que é seu honestamente, não é objeto da justiça comutativa, mas de outras virtudes. O cumprimento dos deveres destas "não se pode reclamar por via legal" (Leão XIII). Pelo que, sem razão proclamam alguns que a propriedade e o uso honesto dela se encerram nos mesmos limites. E muito mais se desvia da verdade afirmar que, pelo abuso ou pelo não uso, caduca ou se perde o direito de propriedade (Quadragesimo Anno, 15-5-1931).

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Apresentação da Virgem no Templo Vittore Carpaccio, séc. 'X:1/, Museu Brera, Milão

jfesta ba aptcscntação bc

j}ossa ~tnbora no ~cmplo


~ão 3/oão Jjatísta bá eloqüente testemunbo bo ;fffilessías aoão 1, 19-23) E eis o testemunho de João Batista quando os judeus lhe enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas a perguntar-lhe: Quem és tu? E ele confessou, e não negou; e confessou: Eu não sou o Cristo; E eles perguntaram-lhe: Quem és, P,Ois? Es tu Elias? E ele respondeu: Não sou. És tu o profeta (predi-

to por Moisés)? E respondeu: Não. Disseram-lhe então: Quem és, pois, para que possamos dar resposta aos que nos enviaram? Que dizes de ti mesmo? Disse-lhe (então) ele: Eu sou a voz que clama no deserto. Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías.

<!Comentáríos compílabos por ~anto t!tomás be ~quíno na "<!Catena ~urea" São João Crisóstomo: Votaram os judeus certa afeição humana para com São João Batista. Achavam indigno que ele se submetesse a Jesus Cristo, pois muitas coisas que fazia São João Batista demonstravam sua superioridade, e isto era real, já que descendia de ilustre família (era filho do príncipe dos sacerdotes); como sua sólida educação e seu desprezo pelos assuntos mundanos. Em Nosso Senhor Jesus Cristo via-se, porém, o contrário: era de um aspecto humilde, o que era menosprezado pelos judeus, quando diziam: "Não é Ele o filho do carpinteiro?" Seu habitual sustento era como o de qualquer pessoa, e sua vestimenta não se diferenciava da dos demais. Como São João Batista mandava continuamente que se dirigissem a Nosso Senhor Jesus Cristo, e como queriam bem mais ter como mestre ao Batista, os judeus enviaram-lhe aquela delegação, crendo que por meio de lisonjas o obrigariam a confessar que ele era o Cristo.

E, em vista disso, não escolheram quaisquer pessoas (a Cristo mandavam os ministros e os herodianos), mas sim sacerdotes e levitas; e não qualquer um deles, mas sim os que estavam em Jerusalém, que eram os mais ilustres; enviam-nos para , "'" que Ih e perguntassem: "Tu quem esr Não porque o ignorassem, mas porque queriam induzi-lo a responder como acima foi dito. Por isso, São João Batista lhes respondeu como cria ele, e não conforme aos que lhe perguntavam: "E confessou e não negou; e confessou que 'eu não sou o Cristo"'. São Gregório - Clamava, pois (João) para que o ouvissem os que estavam distantes, e para que o percebessem os que tinham o ouvido tardo, e pudessem compreender a importância do que se lhes dizia. São João Batista clamava no deserto, porque anunciava o consolo do Redentor à Judéia, que estava como que abandonada e deserta.

<!Comentáríos bo J e. JLuís <!Cláubío jfíllíon (Excertos) A fama sempre crescente de João Batista havia chegado até o Sinédrio de Jerusalém, que julgou por bem tomar informações di·r etas a respeito do fato. Assim agindo, a grande assembléia não exorbitava em nada de suas atribuições, pois uma de suas principais funções era a de zelar pelos assuntos religiosos do povo judeu. Preocupava-a o rumor persistente, segundo o qual] oão bem podia ser o Messias em pessoa. Enviou, pois, uma delegação oficial, composta de sacerdotes e levitas, para então fazer uma inquirição sobre o assunto. O diálogo travado entre o Precursor e os legados põe em perfeito real-

ce a humildade de João e a fidelidade com que cumpria sua Missão. Este foi o segundo testemunho que o Batista deu de Cristo. Apresenta muita semelhança com o que o Precursor havia dado anteriormente diante das multidões; mas é muito mais preciso e significativo, porque manifesta aos delegados que o Messias está no meio deles, e que estes não precisam senão procurá-Lo para encontrá-Lo. Nuestro Sefior Jesucristo según los Evangelios, Ed. Diíusión, Buenos Aires, excertos das pp. 98 e 99.

jfegta ba ~rcgentação be Jlogga ~enbora no t!Cemplo (21 de novembro) Tal festa, conhecida como a de Nossa Senhora daApresentação,já se celebrava no Oriente, no século VI. O Papa Gregório XI introduziu-a na diocese de Avinhão (França), em 1562. Sixto V tornou-a obrigatória para a Igreja universal, em 1850. No Brasil, a primeira paróquia dedicada a essa invocação foi a da cidade de Natal, de cuja Arquidiocese é a Padroeira. A cidade de Porto Calvo, em Alagoas, também se colocou sob o patrocínio da Mãe de Deus, com essa invocação.

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O Padre Manuel Bernardes, um dos clássicos da literatura portuguesa do século XVIII, em sua famosa obra Nova Floresta, assim descreve esse episódio da vida de Nossa Senhora: Maria foi transplantada da casa de seus venturosos pais Joaquim e Ana, em Nazaré, ao Templo da Cidade Santa de Jerusalém, para que ali, como em lugar mais próprio, se dedicasse toda ao culto de Deus e ministérios do seu serviço. · • 1-1avia no Templo um quarto ou apartamento sinalado para colégio de Virgens, que ali se recolhiam e criavam em costumes virtuosos, e serviam em alguns competentes ministérios do mesmo Templo at.é que tomavam estado de matrim6nio. . Dá mão de Santa Ana foi recebida a Sagrada Meniná por um sacerdote, que alguns diwn foi o

Santo Zacarias (pai de São jo&J Batista), um dos convidados a estafunção como parente; ou o Santo Simeão, · que depois de breves anos viu em seus braços o bendito fruto desta mesma menina. A qual, posta no último degrau, depois de haver tomado a bênç&J e beijado a mão a seus pais, subiu logo todos por si mesma sem embaraço, sem pesar e sem tristeza ou mostras de sentimento por deixar tão amável companhia. Fez a Virgem Santíssima voto de pobreza e de virgindade, se assim fosse aceito e agradável a Deus. Por isso, a Igreja a intitula e invoca Virgem das virgens, porque foi a primeira a quem depois seguiram numerosos esquadrões delas. Adducentur Regi Virgines post eam (As Virgens sejam conduudas ao Rei após Ela). Turfa o que p6de, deu aos pobres. Abstevese de colóquios humanos, porque a sua conversação era no Céu, seu vestido era chão e muito ordinário, seu comer tênue e parcíssimo, e os Anjos lho ministraram muitas vezes; que não era menos digna disso do que Elias no deserto e outros Santos, que lograram este favor, e o favor era aqui dos Anjos em serem admitidos a este ministério. Nova Floresta, 5° tomo, Meditações sobre os principais mistérios da Virgem Santíssima Senhora Nossa, Lisboa, 173 7, 1ª ed .; excertos das pp. 7 4, 77, 83, edição de Le llo & Irmão, Editores, Porto, 1974.


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História Sagrada

TFPs em ação - I

em seu lar

Condenações lançadas por Deus Embora as leis reveladas por Deus ao povo de Israel, através de Moisés, possam ser resumidas nos Dez Mandamentos, elas são muito numerosas e minuciosas. Para que o leitor possa ter uma idéia clara de como elas desciam ao concreto, reproduzimos neste e nos próximo_s n~meros algumas delas. Veremos pnme1ramente as condenações dardejadas por Deus contra certos pecados.

"Até então a Lei não escrita era lida na vida dos Patriarcas. Daí em diante ela também estará escrita no livro de Moisés"*. Magia e Espiritismo - "Não deixarás viver os feiticeiros" (Ex. 22, 18). "Não vos dirijais aos magos, nem interrogueis os adivinhos, para que vos não contamineis por meio deles" (Lev. 19, 31). "O homem ou mulher em quem houver espírito pi tônico ou de adivinho, sejam punidos de morte. Apedrejá-losão; o seu sangue caia sobre eles" (Lev. 20, 27). "Não se ache entre vós quem consulte adivinhos ou observe sonhos e agouros, nem quem seja encantador, nem quem indague dos mortos a verdade. Porque o Senhor abomina todas estas coisas, e por tais maldades exterminará estes povos" (Deut. 18, 10-12). Blasfêmia - "O que blasfemar o nome do Senhor, seja punido de morte" (Lev. 24, 16). . Homossexualismo - "Não te aproximarás de um homem como se fosse mulher, porque é uma abominação" (Lev.18,

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Manifestação da TFP comemora êxito da campanha contra reformas socialistas

noções básicas 22). "Aquele que pecar com um homem, se vestirá de homem, nem o homem se como se ele fosse uma mulher, ambos vestirá de mulher, porque aquele que tal cometeram uma coisa execranda, sejam faz é abominável diante de Deus" (Deut. punidos de morte; o seu sangue ca ia 22, 5) . sobre eles" (Lev. 20, 13). Perda da virgindade - Se um homem Incesto - "Aquele que toma por mucasar com uma mulher "e a donzela não foi lheres a filha e a mãe, cometeu um crime; encontrada virgem, os homens daquela ciserá queimado vivo com elas, e não será dade a apedrejarão e ela morrerá, porque tolerada entre vós tão grande iniqüidacometeu um crime detestável em Israel" de" (Lev. 20, 14). "O que tomar a sua (Deut. 22, 20-21). irmã e vir a sua nudez, e ela vir a nudez Filho revolucionário - "Um filho de seu irmão, fizeram uma coisa execontumaz e rebelde, o pai ou a mãe pecranda; serão mortos na presença do seu garão nele, e o conduzirão aos anciãos e povo" (Lev. 20, 17). lhes dirão: 'Este nosso filho despreza Bestialidade - "Aquele que peca ouvir as nossas admoestações, passa a com um animal grande ou pequeno seja vida em comezainas, e em dissoluções e punido de morte; matai também o anibanquetes•. O povo da cidade o apedremal. A mulher que pecar com qualquer jará, e ele morrerá, para que tireis o mal animal será morta juntamente com ele ; o do meio de vós" (Deut. 21, 18-21}. seu sangue caia sobre eles" (Lev. 20, Seqüestro - "Aquele que tiver rou15-16). "Maldito o que peca com qualbado um homem, e o tiver vendido, morquer animal" (Deut. 27, 21). ra" (Ex. 21, 16). Adultério - "Se algum (homem) coDeixar-se levar pela maioria . meter adultério com a mulher de seu "Não seguirás a multidão para fazer o próximo, sejam punidos de morte, assim mal, nem em juízo te unirás ao parecer o adúltero como a adúltera" (Lev. 20, do maior número, para te desviares da 10). "Se uma mulher cair em falta e, verdade" (Ex. 23, 2). desprezando o marido, .tiver dormido com outro homem, e o marido não puder prová-lo, ele a levará ao sacerdote. E • Padre Rohrbacher, Histoire Universelle estando a mulher de pé diante do Senhor, de l'Eglise Catholique, Gaume Freres, (o sacerdote) terá (na mão) as águas-amaParis, 1842, tomo I, p. 454. ríssimas sobre as quais pronunciou as maldições com execração. E a esconjurará e lhe dirá: 'Se nenhum homem estranho dormiu contigo, e tu não te manchaste . abandonando o leito de teu marido, não te farão mal estas águas amaríssimas sobre que eu cumulei as maldições. Mas se te manchaste e dormiste com outro homem, cairão sobre ti Po SINAI estas maldições. O Senhor te faça um objeto de maldição, .faça apodrecer a tua coxa, e que teu ventre inchado arrebente'. E o sacerdote lhe dará a beber aquelas águas" (Num. 5, 11-24). Prostituição - "Não haverá prostituta entre as filhas de Israel, nem fornicador entre os filhos de As flechas indicam o percurso dos hebreus, Israel" (Deut. 23, 17). do Egi.to ao Monte Sinai, onde Moisés recebeu TraJes contrários à de Deus a Lei, no ano 1250 antes de Cnsto naturem - "A mulher não

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Mensagens ao Presidente da República, aos Presidentes do Senado e da Câmara, aos Ministros e Secretários de Estado No último dia 3 de setembro, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, Presidente do Conselho Nacional da TFP, enviou cartas com o mesmo teor, ao Presidente Collor de Mello, e a todos os Ministros e Secretários de Estado, comunicando. o resultado obtido pela entidade, até aquela data , em sua campanha de âmbito nacional. Eis o texto da missiva:

"A Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade TFP tem a satisfação de comunicar a Vossa Excelência que o abaixo-assinado por ela promovido, pedindo a realização de um plebiscito sobre os projetos de lei referentes às Reformas Agrária e Urbana, atingiu até o momento, em 24 dias de campanha, 854.660 assinaturas".

Ao Legislativo Federal Naquela mesma data, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira enviou aos Presidentes do Senado, Dr. Mauro Benevides, e da Câmara Federal, Deputado Ibsen Pinheiro, cartas de idêntico teor, das quais reproduzimos o tópico mais importante:

"Peço vênia para insistir junto a V. Excia. sobre o alto alcance da convocação desse plebiscito [sobre os projetos de lei referentes às reformas Agrária e Urbana 1 mediante o qual ficará de-

monstrado aos olhos do País e de todas as nações, que essas imponantíssimas reformas, tidas por injustas e ruinosas por cerca de 1 milhão de brasileiros cujo número seria muitíssimo maior se houvesse tempo para lhes coletar as assinaturas -não terão sido impostas ao País sem ouvir, com a devida consideração, o que este pensa e sente a respeito".

Importantes bairros de São Paulo foram vivamente atraídos, no feriado do dia 7 de setembro, por um evento inédito. Um cortejo de veículos, com sócios e cooperadores da TFP, levou aos moradores, por meio de potentes alto-falantes, a seguinte proclamação: "O povo

brasileiro não quer a Reforma Agrária, nem quer a Reforma Urbana. A prova é o monumental abaixo-assinado da TFP. Em 27 dias, 980.000 brasileiros de todas as classes e das mais variadas partes do Brasil disseram NÃO à Reforma Agrária, NÃO à Reforma Urbana".

Uma fileira de nwtos, nas quais cooperadores da TFP portavam estandartes da eniidade, precedia os caminhões com a fanfarra.

Postados nas janelas, nas entradas de prédios e casas, muitos assistiam à passagem do cortejo, precedido por cinco motos, nas quais tremulavam os característicos estandartes rubros, marcados pelo leão dourado, da entidade. Dois caminhões transportavam a já conhecida fanfarra da TFP, revestidos de faixas laterais com os dizeres: "Teste definitivo: 1 milhão de brasileiros não querem a Reforma Agrária, nem a Reforma Urbana". A fanfarra executava músicas entrecortadas de slogans proclamados pelos alto-falantes. Grande número de estandartes drapejava entre tambores e clarins. Outras motocicletas fechavam o cortejo. Descendo das cabines dos veículos, ou caminhando pelas calçadas, vários cooperadores col~am assinaturas do público que assistia. Avenidas, praças e ruas de Higienópolis, Cerqueira César, Pacaembu, Jardim América, Jardim Europa, Jardim Paulista, foram percorridas pelo vistoso e sonoro cortejo. Ele despertou especial curiosidade em artérias como Av. Pacaembu, Av. Higienópolis, Av. PaulisNOVEMBRO 1992

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ta, Rua Augusta, Rua Estados Unidos, Av. Brigadeiro Luiz Antonio. Na ocasião, considerável número (i~ pessoas subscreveu o abaixo-assinado e aplaudiu a campanha. Houve mesmo quem acompanhasse, de carro, o cortejo em sinal de solidariedade. As manifestações contrárias foram poucas e isoladas. Ao que parece, os reformistas sentiram-se inibidos diante do impacto causado pelo conjunto, a exemplo do que ocorrera nos dias anteriores, cm face da eficiência dos coletores de assinatura durante a campanha. No dia seguinte ao dessa manifestação, foi ultrapassado o marco simbólico de 1 milhão de assinaturas: no decurso de 28 dias de atuação, em 68 Municípios de 13 Estados brasileiros, a TFP obteve 1.034.270 firmas. E, no dia 11 de setembro, encerrou-se a campanha, que teve a duração de um mês, sendo alcançado o impressionante total de mais de 1.133.507 assinaturas!

Na Câmara Federal: apelo da TFP à coerência Em 14 de setembro, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira dirigiu nova carta ao Presidente da Câmara de Deputados, Dr. Ibsen Pinheiro, informando-o a respeito do resultado final da vitoriosa campanha, ao mesmo tempo que solicitava seu empenho em prol da realização do plebiscito, já proposto na missiva de 3 daquele mês. Trascrevemos abaixo tópicos mais significativos da importante correspondência:

"Em declaração feita por V. Excia. no ato de recebimento do pedido de impeachment ao Presidente Fernando Collor de Mello, V. Excia. se ufanou de que a colenda Casa a que preside segue fielmente os anelos da opinião pública, da qual é mandatária: 'O que o povo quer, essa Casa também acaba querendo' ("O Globo", 2-9-92). "Queira V. Excia. empenhar todos os seus esforços no sentido de que tal afirmação seja corroborada pela aceitação do presente pedido de plebiscito". Essa bela e substanciosa missiva até agora não obteve resposta da parte do Presidente da Câmara Federal.


Quanto sangue foi derramado por franceses ao longo de sua História em defesa da identidade nacional, da soberania moral e cultural de seu povo: eles julgavam que isso valia mais do que a própria vida. Que diferença entre esses bravos e os negociadores de Maastricht, os quais permitem, alegremente, que a soberania francesa se torne presa de obscuros interesses políticos e econômicos!

TFPs em ação - II

Com a anfitriã, a rainha Beatriz da Holanda, Chefes de Estado e de Governo ern Maastricht, no ano passado: tratado ininteligível ...

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O Tratado de Roma, que criou a Comunidade Econômica Européia, em 1957, lançou as bases para o Tratado de Maastricht

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A TFP diz NAO a Maastricht Um tratado ininteligível: pode-se aprová-lo?

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ARIS - Quando Mitterrand, meses atrás, convocou o plebiscito na França, as pesquisas de opinião indicavam folgada margem de aprovação do Tratado de Maastricht: dentre cada três entrevistados, dois lhe eram favoráveis e um o desaprovava. Durante meses a fio, o eleitor foi bombardeado pela propaganda oficial e pela mídia, no sentido de votar

SIM. A TFP francesa publicou em 25 de agosto p.p., no "Le Quotidien de Paris", vinte e seis dias antes da consulta popular, vigoroso manifesto de crítica àquele tratado, propondo sua rejeição. E iniciou pujante, campanha nas vias públicas da capital francesa e de várias cidades do interior. Chegando o dia 20 de setembro, o resultado do plebiscito abalou os governos europeus pró-Maastricht: a maioria que era de dois para um, tranformou-se numa pequena margem de 2,1 % ! Vitória que representou, de fato, um fracasso para o pro-

cesso de unificação européia e para Mitterrand. A seguir apresentamos uma síntese do manifesto da TFP francesa, bem como, no quadro à parte, uma análise que revela o verdadeiro significado do plebiscito. Segue-se um breve noticiário da campanha empreendida pela entidade.

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Desde que se tratou da ratificação do Tratado de Maastricht, a impressão que se tinha na França era a de que ele receberia aprovação maciça da população. Entretanto, a rejeição que ele sofreu 110 plebiscito dinamarquês projetou sobre os franceses as primeiras sombras: os que procuravam lê-lo dificilmente o entendiam. Cheio de imprecisões e complexidades, falta-lhe a clareza que satisfaça os que decidiriam sobre matéria tão importante. Sua aprovação levaria a França ao abandono de importantes parcelas de sua soberania, passando a ser governada por um poder supra-nacional dirigido CATOLICISMO

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por determinada nomenklatura de tecnocratas. E uma soberania em frangalhos não é uma soberania, é um engodo: a França teria de fazer a renúncia, entre outras, da maneira de dispor de seu potencial militar. A França deveria também um dia renunciar a ter com outros países uma política exterior independente. Internamente, ela submeteria suas contas e orçamentos ao supra-governo da Comunidade Européia (CE). Sua soberania morál e cultural verse-ia igualmente à mercê de um poder extrínseco ao de sua população, o qual, aliás, já impugna, em nome de arbitrárias normas ecológicas, certas tradições milenares do povo, como a produção de queijos característicos ou patés de grande fama. Em abril deste ano, o Presidente socialista, Mitterrand, favorável ao Tratado, declarou ao diário parisiense "Le ~onde": "Há um bom tempo que se vêm fazendo transferênci.as de soberani.a da França à Europa, quer dizer, à Comunulade".

guns conselhos de Ministros da Comissão emitiram, em regime de maratona, 3.655 regulamentos, 23 diretrizes e 4.212 decisões .... As diretrizes são verdadeiras injunções à soberania nacional". A burocracia de Bruxelas: super-poder sem contacto com o eleitorado Faixa da campanha promovida pela TFP francesa: massificado alusão a D'Artagnan, falecido em Maastricht há 300 anos despertou no público muito interesse Na estrutura da Europa, os supremos dirigentes tecnocráticos não serão esco- jogo fácil nas mãos de qualquer um que explore seus instintos e suas impreslhidos pelo "cidadão europeu", mas nosões", disse Pio XII, na Radiomensameados pelo Conselho Europeu. Nada gem de Natal de 1944. garante ao público uma informação séQuanto mais se debilitam as tradiria e completa sobre as questões tratadas ções de um país, mais sujeito fica ele pelo órgão executivo supremo, nem a à massificação. A morte das nações e possibilidade de exprimir sua opinião a onipresença das massas serão frutos sobre o assunto. da abolição das fronteiras e das soberanias. O termo deste processo será logicamente um super-governo mundial, que levará a cabo a extinção de tudo o que é vivo, pessoal, regional e característico de um povo. Os utopistas de · Maastricht continuam com imperturbável serenidade a temerá ria realização da quimera forjada pelos revolucionários russos de 1917.

Uma construção antidemocrática, de rumos desconhecidos "Por muito tempo construímosa Europa em surdina, às escondidas", reconheceu a ministra delegada dos negócios europeus, Elisabeth Guigon. "Informamos mal sobre a Europa", acrescenta a deputada centrista Nicole Fonta ine. A deputada centrista ao Parlamento Europeu, Simone Veil, admite: "As pessoas se sentiram excluídas do processo como se qualquer coisa se tramasse contra elas!" Todos os órgãos da Comunidade Européia estão em formação, e vão assumindo, segundo um plano desconhecido, uma forma ainda mal definida. Jacques Delors, presidente do mais alto órgão executivo da CE, reconhece este fato: "A construção européia não começou enunciando claramente o que deverá ser, no fim de seu processo de formação, a repartição dos poderes". A ambigüidade intencional Ação sobre as do Tratado de Maastricht vai asconsciências sim, às escondidas, empilhando Entidade de inspiração catóCartaz a favor da aprovação do Tratado - apoiado pelo Governo obscuridades e problemas não lica, a TFP constata que muitos socialista e pela 11údia, ern peso semi-coberto por propaganda resolvidos. Seria isto tratar o contrária, a qual dispôs de parcos recursos valores espirituais e temporais povo como soberano? ameaçados pelo Tratado de Na realidade, os povos euroMaastricht correm o risco de desaparepeus não foram previamente instruídos Essa estrutura política rígida, recer, se não houver uma ação profunda sultante de Maastricht, poderia facilsobre as finalidades da Comunidade que sobre as almas. mente transformar-se numa nomenagora são chamados a aprovar em pleSão Luís Grignion de Montfort, klatura dirigente, tal como a que exisbiscito. missionário francês do século XVII, tiu na extinta URSS. Se os franceses Jean-Pierre Chevenement, socialisdifundiu na Bretanha e na Vandéia a ta, e portanto habituado a uma excessiva fizerem a lista das diferenças entre o devoção a Nossa Senhora Rainha dos intervenção estatal, ficou incomodado Estado soviético e este regime devoraCorações. com o caráter totalitário da Comunidade dor de nações, eles ficarão provavelNesta terrível virada de página da mente surpresos din notar o quanto ela Européia: "Longe de construir a Europa História da França e do mundo, é a Ela é curta. E eles estariam então sujeitos dos povos, construiremos a Europa sem que imploramos orientar o coração dos ao mesmo processo de massificação o povo. Os super-altos funcionários, franceses, no momento de escolher _seu que formam a Comissão das C omunulaque arruinou as nações da ex-União voto na cabine eleitoral. des Européi.as, promulgam textos sem Soviética. Paris, 25 de agosto de 1992 se preocupar em obter o consentimento "A massa é inerte e não pode ser Festa de São Luís, Rei de França democrático. Por exemplo, em 1987, movida a não ser por forças externas .... ("Le Quotidien de Paris", 18-9-92) sem nenhum controle democrático, al- E la atende ao impulso de fora e é um NOVEMBRO ·1992

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A derrota vitoriosa Paris - A lógica democrática é, para muitos, irretorquível. Se alguém ou alguma proposta obtém maioria, esta deve ser acatada por todos. Entretanto, há circunstâncias em que ter apenas uma pequena maioria equivale, de fato, a fragorosa derrota. Tal é o caso do plebiscito francês a respeito da ratificação do Tratado de Maastricht, realizado em 20 de setembro: 51,05% dos que compareceram às umas votaram pelo "sim" ao Tratado e 48,95% pelo "não". A estreita margem de 2,1 %, cerca de500.000 eleitores, ao invés de vitória, representou, na verdade, uma derrota, não só do governo socialista de François Mitterrand, mas de todos os principais partidos políticos - RPR (Rassemblement pour la République ), UDF (Union pour la Démocratie Franç;,aise) e o PS (Parti Socialiste) - que empenharam seu prestígio e seu esforço na aventura utópica de uma Pau-Europa. Mais ainda. O assim chamado IV Poder, a mídia, esmagadoramente sustentou a campanha pelo "sim". Mencionemos, de passagem, que também os púlpitos apoiaram amplamente o Tratado ... Esse resultado é ainda mais significativo se considerarmos que as pesquisas de opinião, na França, indicavam

maioria de dois a um para o "sim" quando Mitterrand convocou a consulta popular, logo após a derrota eleitoral sofrida pelo Tratado de Maastricht na pequena Dinamarca. Em outras palavras: se o plebiscito fosse realizado digamos - quinze dias mais tarde, o "não" com muita probabilidade teria sido realmente vitorioso. Daí o impasse no qual se encontram os que desejam a União européia: não é possível ignorar tão considerável oposição dentro de um país-chave como é a França. Há, porém, uma sombra·nesta derrota vitoriosa: considerando que estava em jogo a soberania francesa, não se compreende como cerca de um terço do eleitorado se absteve de votar. É uma interrogação que permanece no panorama francês. Por fim, resta perguntar por que não convocar plebiscito sobre a União européia em países como a Alemanha, Inglaterra e Itália. Se os governos dessas nações o fizessem, muito provavelmente, resultados significativos como o da França sinalizariam a aversão popular aos sonhos utópicos de uma Europa unida.

Nelson Ribeiro FRAGELLI

Comunidade Européia: campanha da TFP francesa em defesa da soberania das nações Diante de cenários magníficos, como catedrais góticas, imponentes palácios e monumentos seculares, tremularam nos céus de várias cidqdes francesas os rubros e altaneiros estandartes da TFP, em memorável campanha propugnando a rejeição do Tratado de Maastricht

N

o seu melhor estilo de ação junto ao público, a TFP francesa saiu às ruas de Paris, Tours, Blois, Nancy e outras cidades da França, no mês de setembro. Capas e estandartes rubros reluziam ao sol do verão europeu. Fanfarra e megafones proclamavam aquela com sons heróicos e estes com vozes vivazes - a posição da entidade em face da grave questão com que o país se defrontava. Do que tratava aquela recente campanha? O Governo socialista convocara a população às umas para que esta se pronunciasse a respeito do destino da nação. Deveria ela integrar, às custas de ponderáveis parcelas de sua soberania, a organização supra-nacional denomiCATOLICISMO

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nada Comunidade Européia (CE)? Ou a França deveria continuar sendo ela mesma, a reger o curso de sua história, como vem fazendo desde a çonversão de Clóvis, há 1.500 anos? Diante de tão grave alternativa, a população se dividia entre o SIM e o NAO à integração do país na CE. Doze nações européias devem constituir essa Comunidade, que passará a dirigir os respectivos governos, sua economia e sua cultura. Um acordo - o Tratado de Maastricht - já tinha sido assinado pelos governos dos doze países. Mas, na França, ele precisava agora ser ratificado mediante um plebiscito. A TFP publicou num dos mais conhecidos jornais da capital, "Le Quoti-

Em todas as cidades foi marcante o interesse do público pelo manifesto da emidade dien de Paris", na edição de 18 de setembro, um manifesto à nação em favor do NÃO, ou seja, pela manutenção da integridade da soberania francesa. Seus cooperadores distribuíram nas ruas folhetos com a íntegra do manifesto. Reações do público A fanfarra atraía de longe o transeunte. O enorme estandarte fixava-lhe o olhar. O tema era facilmente compreendido, pois a atenção já estava o mais das vezes despertada para o plebiscito. Tours é uma grande cidade, mas a vida é ali menos agitada do que em Paris. Pessoas paravam ao lado dos megafones, ouviam a proclamação até o fim, e depois pediam o texto do manifesto. Era comum ver, nos lugares em torno da campanha, quem o lia atentamente: nos bares, paradas de ônibus, nas lojas de comércio. Alguns, ao recebê-lo, diziam em voz alta: "C'est bien", "merci", "d'accord" ("muito bem", "obrigado", "de acordo"). Pouco adiante paravam para olhar o estandarte mais uma vez. Raros eram os que recusavam o folheto. Constituíram exceção os que o jogaram ao chão de modo ostensivo.

Certo número, ainda pouco informado sobre as posições doutrinárias da TFP, recusava o volante, mas ao se convencerem da inpiração católica da entidade, o aceitavam de bom grado. As manifestações de hostilidade à campanha foram mais definidas em Paris. E lá também as simpatias se mani-

festaram mais calorosas. A divulgação cemeçou no movimentado ponto, em frente ao conhecido edifício da Opera. Ali se cruzam importantes boulevards, em volta se situam famosos cafés da capital. À tarde, os cooperadores se postaram em face da movimentada estação ferroviária de Montparnasse. Muitos passageiros observavam atentamente a campanha. Dois jovens, declarando-se socialistas, recusaram os folhetos, para, em seguida, disfarçadamente colhê-los do chão onde ocasionalmente alguns haviam caído ... Belgas, e logo depois mexicanos, saíram da estação declarando-se contrários ao Tratado de Maastricht. Muitos foram os pontos da capital francesa, nos quais foi feita a campanha. Os partidários do NÃO se manifestavam de modo efusivo. Os simpatizantes do SIM eram menos calorosos. Muitos, de um e outro lado, após lerem o manifesto, retornavam aos cooperadores para argumentar. Uma senhora: "Sou francesa dos pés à cabeça - eu voto NÃO".

Prçpagandistas da TFP, em fonnação diante da eslátua eqüestre de Carlos Magno, lenM ao fundo a caüdral de Notre Dame

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O rapaz, esse desconhecido

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gente até gostaria de ser rebelde .... mas [a gente] não sabe muito bem como fazer isso" ("Veja", 8-4-92). Enquanto o jovem gaúcho Rodrigo Nunes assim se manifesta, outros da mesma idade, afrontando o risco, escalam o concreto, até atingir o topo do prédio mais alto de São Paulo, o Edifício Itália. Só para lá deixar inscrições que identifiquem seu grupo. Se algum leitor julgar inverossúnil tal escalada - o que pode ser compreensível - informo-o que essa prática está se incrementando em nossos dias. Os adeptos do novo esporte - o alpinismo urbano - utilizam-se dos mesmos instrumentos empregados para o exercício do alpinismo clássico, que visa a subida de montanhas. Outros, vestem-se de negro e freqüentam cemitérios. Há ainda outros mais, que tomam um romance e distribuem entre si os papéis. E revivem em conjunto a trama daquela ficção, geralmente tecida em torno de heróis medievais ou do velhooeste americano. Não poucos derrapam para a droga e para o crime. Enfim, os rapazes disparam em direções diferentes, por ocasião de suas primeiras barbas. A menos que fiquem parados, como o "rebelde" do início do artigo. As cabeças de não poucos adultos também disparam em direções diferentes, sem entender o que se passa. Para alguns, rapaz é uma máquina de procluzir dinheiro, recebendo os últimos acertos para começar a funcionar. Para outros, não passa de um longo investimento feito por seus pais, em vias de proporcionar o almejado "retorno". De outro lado, infelizmente·, não poucos homens maduros, lamentando sua juventude perdida, procuram transpor para a mente do rapaz aspirações suas, geralmente inconfes-

sadas. E então imaginam, no corpo do jovem, a própria cabeça. Cabelos brancos por fora, e por dentro um poço quase sem fundo de corrupção e venalidade, com o entulho de anos e mais anos de uma vida desperdiçada. Estes se surpreendem com o caso de uma Cristina Onassis, jovem das mais ricas do mundo, que se suicidou há algum tempo. Como? Ela não tinha tudo o que a vida pode dar? Por que se matou? indagam sem entender.

*** Uma das características do rapaz ou · da moça adolescente, tanto de boje quanto de outrora, é desejar afirmar-se, aparecendo. Mero exibicionismo? Essa resposta é muito delicada. Por vezes, o jovem quer ser admirado, porque gostaria de ver aplaudido e estimulado nele algo de bom que precisa desse estímulo. Por detrás do exibicionismo, às vezes há a necessidade de fazer admirar uma certa forma de grandeza, que desejam, mesmo sem disso se darem inteiramente conta. O jovem, no fundo, quer ter uma história, ainda que ninguém a conheça; uma biografia que, a ser narrada, seria interessante de ser ouvida. Confusamente, quer chegar a certa altura da vida, olhar para trás e poder dizer: "vivi!" Isto vale para qualquer ser humano. Mas os jovens, por terem pecado menos, têm mais chances de ainda não ter espezinhado essa grandeza, essa visão çla vida, que é a verdadeira. E precisam de muita proteção para conservar tal idealismo. O rapaz ou a moça sentem que, se seguirem certos exemplos de adultos, lhes entrará na alma um luto, que um dia vai se exprimir pelo seguinte brado interior: "Eu vivi, e não precisava ter vivido. Deus me criou para algo, e esse algo eu não fiz". CATOLICISMO

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Um Santo que rivalizou com os Anjos pela elevação de pensamentos e por obras insignes, destacando-se por seu desapego às honras, combate às heresias e empenho na reforma dos costumes

O

relógio acabava de marcar oito horas da noite em São Paulo, quando meu automóvel transpôs uma ponte sobre o poluído e mal-cheiroso rio Tietê. Eu me dirigia ao bairro de Santana, e ia refletindo sobre como abordar a vida de São Carlos Borromeo nas páginas de Catolicismo. Para tanto, a iluminação elétrica ao longo do leito do rio foi-me sugestiva ... A noite era densa. Entretanto, havia sobre o Tietê toda uma área de claridade, que resultava das lâmpadas que ali fendiam as trevas. De maneira simbólica, essa era a situação do mundo no tempo de São Carlos Borromeo (1538-1584), cuja festa celebramos a 4 de novembro: densa de trevas de pecado, de heresias, de irreligião. Contudo, naquele contexto - menos infame que o de nossos dias, diga-se de passagem -,foi ele uma lâmpada acesa para romper as trevas. Lâmpada de fidelidade, de afirmatividade e de coragem católicas, projetando a luz da verdadeira doutrina da Igreja, dos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Em Milão, a 2 de outubro de 1538, na nobre família dos Borromeos - honrada com personagens ilustres, entre os quais um Papa e alguns Cardeais da Santa Igreja-, uma misteriosa luz resplandeceu sobre a casa onde ele nascia, indicando por antecipação o quanto aquele menino deveria ser admirável em santidade.

A tenaz protestante-muçulmana Triste era a época em que São Carlos viveu: já iam longe os dias esplendorosos de intensa religiosidade dos tempos medievais! Enquanto o luteranismo devastava a Alemanha e a Península Escandinava, o calvinismo se lançava com violência sobre o centro e o sul da Europa, visando, ambos, aniquilar a Santa · Igreja. Simultaneamente, surgia nas i-

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São Carlos Borromeo, antítese dos erros do século XVI, esteio da Contra-Reforma

lhas britânicas o anglicanismo. E todas essas heresias tinham por meta comum oprimir, e, se possível, extirpar o culto católico. Enquanto no seio da Cristandade ardiam violentas lutas de religião, um inimigo externo a ameaçava com virulência : o islamismo. Alguns Papas da Renascença, desde Nicolau V até Paulo III, pregaram cruzadas contra o Crescente. E foi só no último ano do pontificado do Papa Pio IV (15591565), tio de São Carlos Borromeo, que os otomanos foram expulsos da ilha de Malta, no Mediterrâneo. Sendo que, no pontificado seguinte, de São Pio V, a Europa foi duravelmente preservada da ofensiva muçulmana devido à célebre batalha de Lepanto (1571). Foi necessário chegarmos ao século XX, para que essa ameaça se fizesse novamente presente ... Tantos males eram ainda agravados pela corrupção geral dos costumes. A Itália estava de tal modo acometida por ela, que em Roma o povo chegava a dizer que, se as mulheres de má vida fossem expulsas, a cidade ficaria vazia ...

A restauração da vida da Igreja Urgia uma profunda renovação da vida da Igreja de então. Essa obra de restauração foi realizada por uma plêiade de homens, cheios do Espírito Santo, obedientes aos dogmas católicos e à legítima autoridade da Santa Igreja. Trabalharam eles com zelo abrasado, empreendendo incansável e enérgica atividade, não só para a sua própria s;mtificação - neste sentido, tiveram papel decisivo os c.élebres Exercícios Espirituais, de Santo Inácio - mas também pela conversão de seus contemporâneos. A base dessa restauração foi o Concílio de Trento, concluído por obra do Papa Pio IV. E nesse empreendimento se cifravam as melhores esperanças dos fiéis. NOVEMBRO 1992

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Cardeal Carlos Borromeo Desenho de Ambrogio Figino, Biblioteca Ambrosiana, Milã,o

A partir de Trento, Pio IV transformou a Cúria Romana, reformando seus tribunais e estabelecimentos de ensino. É preciso que se diga, desde logo, que nessa empresa monumental teve papel inapreciável, estando junto do Papa como conselheiro e Secretário de Estado, seu sobrinho, São Carlos Borromeo, quem, juntamente com São Caetano de Thiene, São Felipe Neri, São Tomás de Vilanova e Santo Inácio de Loyola, encarnava a legítima expressão da restauração católica no século XVI. Alembrança de sua atividade apostólica se perpetuará até a consumação dos séculos, ocupando ele um lugar destacado em tal restauração, conhecida como Contra-Reforma.

Títulos honoríficos prodigiosos Já aos vinte e dois anos de idade, o jovem Carlos.acumulava uma abundância prodigiosa de situações e de títulos: Cardeal, Secretário de Estado da Santa Sé, Administrador do Arcebispado de Milão, protetor de Portugal e da Baixa Alemanha, legado papal em Bolonha, protetor dos Carmelitas, dos Cônegos


de Coimbra, dos Franciscanos, da Ordem de Cristo, Grande Penitenciário da Igreja. . Funções tais que poderiam'i'ê~lo feito perder a cabeça, se não fosse o fato de São Carlos, exímia e devotamente, fazer com assiduidade os Exercícios Espirituais de Santo Inácio, que são de molde a conduzir a alma ao mais completo desapego. Assim, soube ele conciliar admiravelmente a vida em meio a homarias, indispensáveis para o esplendor da Igreja, com a humildade interior. Perfil moral Nessa idade,já havia o Santo adquirido uma experiência da vida e um gra u de sabedoria e de inteligência nada comuns num jovem. Seus biógrafos no-lo apresentam magro, de nariz curvo, com fisionomia sem charme, mas da qual se irradiava uma expressão de calma, de energia, de eficácia operativa e de lúcida coragem verdadeiramente incomparáveis. E tudo isso fruto de uma profunda vida de piedade e espírito sobrenatural. O exemplo de sua vida de renúncias e mortificações era uma resposta viva aos motejadores que pretendiam ver em tantos títulos uma manifestação do nepotismo da parte do Papa, seu tio. A ponto de seu panegirista poder dizer, sem contradita, em sua oração fúnebre: "Em matéria de riquezas, Carlos não conheceu senão aquilo que um cão recebe de seu dono: água, pão e palha" .. . Seu prestígio como administrador era tal, que o povo romano, a Cúria e os Cardeais pensaram em oferecer-lhe a tiara pontifícia, após a morte de seu tio. Carlos, contudo, aspirava tornar-se um camaldulense * completamente isolado, e atuou afincadamente para a eleição do Cardeal Ghisleri, futuro São Pio V. Aplicando as normas do Concílio de Trento Terminadas as sessões do Concílio de Trento, São Carlos Borromeo considerou que deveria ser o primeiro a dar o exemplo de obediência às determinações conciliares sobre residência episcopal, instalando-se definitivamente em sua Arquidiocese de Milão. A situação ali era realmente lamentável : sacerdotes relaxados, que chegavam a ignorar a fórmula da absolvição; igrejas vazias, a ponto de algumas delas servirem de granjas; alguns mosteiros tão decadentes que, em seus refeitórios, se realizavam bailes mundanos, casamentos e banquetes.

São Carlos Borromeo consagrou-se por inteiro a combater tantos desmandos. A 23 de setembro de 1565 entrou ele solenemente em Milão e, i~continenti, reuniu um concílio provincial, para o qual convocou todos os sufragâneos, a fim de promulgar os decretos tridentinos e fazer conhecer suas intenções. A seguir, trouxe para junto de si os melhores auxiliares que pôde conseguir, com o intuito de empreender essa grande obra de restauração: jesuítas, teatinos, barnabitas e clérigos da novel Congregação dos Oratorianos, fundada por São Felipe Neri. Seminários Maiores foram criados. Em Pavia, o célebre Colégio Borromeo; em Milão, o Colégio Suíço. Uma firme disciplina foi restaurada e os padres fa ltosos convidados a se recolherem em casas de retiro. Nos mosteiros, nada mais de festas e bailes. As religiosas de clausura receberam ordem de colocar grades sólidas em suas janelas, a fim de que os galãs não pudessem mais transpô-las ... É claro que uma tal ação não podia agradar a todos, contando São Carlos com adversários declarad.os ou velados. Houve uns tais "humilhados", ramo degenerado de uma espécie de ordem terceira beneditina, que haviam se enriquecido no comércio de lã, vivendo num luxo escandaloso. São Carlos quis reduzi-los à compostura, e um deles, um tal Farina, durante a celebração do Santo Sacrifício da Missa, tentou atingi-lo com um tiro de arcabuz. A peste de 1576 A glória de São Carlos Borromeo deveria chegar a seu ponto culminante em 1576, quando a cidade de Milão foi atingida por uma epidemia das mais terríveis da época. Os pestíferos morriam de frio ou de fome, não havendo quem se apiedasse deles. Eram entretanto visitados pessoalmente pelo Santo, que para eles celebrava a Missa, levandolhes o Santo Viático. Chegou mesmo a vender todos os seus bens, inclusive sua mobília e vestuário, para socorrê-los! O Santo Arcebispo se impunha pelo prestígio de sua força de vontade, de sua santidade e de seu exemplo. O povo o venerava. Defende a Suíça das Inovações protestantes Históricas foram suas visitas à Suíça, onde criou instituições católicas de grande importância, e onde recebiam CATOLICISMO

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jubilosamente o "Santo Bispo". Foi São Carlos Borromeo quem introduziu na Suíça a Companhia de Jt;sus e a Ordem dos Capuchinhos, defendendo os católicos contra as inovações protestantes. No ano de ·1584, quando, segundo seu costume, se retirara para fazer os Exercícios Espirituais de Santo Inácio, sofreu redobrados acessos de febre, que lhe consumiram as forças, vindo a expirar a 3 de novembro daquele ano. Suas últimas palavras foram : "Eis, Senhor, eu venho, vou já". Em tempos de São Carlos Borromeo, o mundo estava imerso no contrário daquilo que ele pensava, queria e esperava. Mas o admirável Arcebispo de Milão nos legou o exemplo de um batalhador que se sacrifica e se imola, com vistas a extirpar a irreligião, as heresias e os pecados, para o Reino de Cristo ser efetivo sobre a Terra. Seguindo seu exemplo, peçamos a Nossa Senhora que também nós faça mos brilhar a luz de nossas convicções católicas, e assim proclamarmos as verdades eternas, em meio às trevas que toldam os horizontes de nossa época neopagã, muito pior do que os tempos em que viveu São Carlos Borromeo.

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Sem Cruz a alma se arrasta, rnole, covarde e sern valor SÃO

Luíz MARIA GRIGNON DE MONTFORT

A felicidade é boa para o corpo, mas é o desgosto que desenvolve as forças do espirita MARCEL PROU ST

A partir do rnornento em que se tira a Cruz do caminho de alguém, a normalidade se transforma em tédio PUNIO CORRÊA DE OLIVEIRA

Tudo se pode na vida exceto uma seqüência excessivarnente longa de dias f elizes GOETHE

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Luís Carlos AZEVEDO

• Camaldu lense - é o religioso da Ord em dos Camáldu los. Trata-se de monges eremitas segundo a regra beneditina, instituídos no ano 960 por São Romualdo no povoado chamado Camaldoli, na Toscana, a 40 quilômetros d a cidade de Florença (Itália). Vivem no reco lhimento e no silêncio ma is absolutos. Obras consul tad as 1. Carta Encíclica Editae Saepe, d e São Pio X, 29-5-1910 in AAS , 2 (1910), pp. 357-80 2. Enciclopedia Cattolica, Casa Editrice Sansoni, Fire nze (Itália), 1949, vol. III 3. Da nie l-Rops, L 'Église de la Renaissance et de laRéfonne, Artheme Fayard, Paris, 1955 . 4. Ludovico Pastor, Historia de los Papas, Gustavo Gili Editor, Barce lona, 1929, vo l. XV. 5. Le Bréviaire Rornain, Labergerie, Pa ris, fascículo 13. 6. L'Abbé Rohrbacher, Vies de Saints, Gaume Freres, Libraires-Éditeurs, Paris, 1854, tomo VI. 7. João Batista Lehmann, Na Luz Perpétua, Livraria Ed itora "Lar Católico", Juiz de Fora (MG), 1950, vol. II. 8. Sto. Antonio Maria Clare t, Selectos Panegíricos, Imprenta de Pablo Riera, Barcelona, 1861, tomo VII.

.• .

.•. •. ''n• . . .. .

1

,- ) ·\ obre o ca1xao, a bandeira das Filipinas . Enquanto os soldados o carregam, es tru ge uma salva de 21 Liros.

como quem diz: "desculpem ". Mas ele não se negou a compar ecer, de alva e estola. .

Quem é o defunto? Ninguém. Trata-se do corpo de um simples cachorro, d propriedade da então Presidente das Filipinas, Coração Aquino.

O que dirão os pósteros desta época dita '' ecológica" em que os homens homenageiam animais, enquanto, pela eutanásia e pelo aborto, trucidam seus idosos e nascituros, dotados de uma alma imortal?

Um padre acompanha a ridícula cerimônia, esboçando um sorriso,

w- ) ' #,,


jflor ba "J}rímabera ba jff' fulgor dos candelabros realça o fundo dourado dos afrescos, espargindo com seu brilho um imponderável de recolhimento e sacralidade. Algo de celestial impregna o ambiente. Intensa nessa parte do edifício, a luz se torna amena e discreta à medida que, elevando nosso olhar, seguimos o perfil harmônico e majestoso dos arcos ogivais. No alto, cores e formas se conjugam com cristal e pedra para constituir uma obra-prima do gênio arquitetônico medieval: a rosácea gótica. Esse magnífico vitral representa episódios da História Sagrada, através de figuras e cenas montadas num grande mosaico de vidro policromático. Pouco abaixo da rosácea, tudo converge para um ponto central, onde se encontra, num trono de glória, Cristo gladífero com uma espada na boca, símbolo daJ ustiça divina. Para além da beleza artística, paira sobre tal, edifício sagrado uma unção sobrenatural que o

transforma numa antecâmara do Paraíso. Fruto d a piedade de um rei santo, São Luís IX, a Sainte Chapelle de Paris foi construída para abrigar fragmentos da Coroa de espinhos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Desafiando os séculos, as guerras e as revoluções, este monumental escrínio de pedra e cristal permanece incólume, testemunhando a elevação e fecundidade do espírito medieval. Como flor estupenda daquela doce primavera da fé - como tão adequadamente foi denominada a Idade Média -,a Sainte Chapelle evoca um passado carregado de bênçãos, "em que a filosofia do Evangelho governava os Estados e a influência da sabedoria cristã penetrava os povos" (Leão XIII). Regada pelo sangue dos mártires, pelas lágrimas das virgens e pelo suor dos cruzados, como rosa magnífica, desabrochou naquela época, em todo seu esplendor, a Civilização Cristã!



CATOLICISMO

N 2 504 Dezembro

biscernindo, distinguindo, classificando ...

Os contos de Natal Ocorreu-me escrever para este mês um conto de Natal. Ao menos tentar fazê-lo, se a inspiração, que é curta, até lá alcançasse. A esse projeto, porém, resolvi substituir um simples comentário, por razões que o leitor julgará se foram boas, quando chegar ao fim do artigo. /

E

empurrado o menino de rua, ou enuma tradição de longo tempo tão a velha desamparada, tiritando celebrar a bela data de 25 de dezembro narrando contos de Na tal. de frio, pálidos de fome, olhando através do vidro fechado de uma E se compreende. As graças, os imponderáveis, o clima espiritual que janela o lauto banquete do burguês e o crepitar do fogo na lareira. circunda a comemoração do nascimento do Menino-Deus nos remeÉ uma queda tremenda! O so' 1. brenatural é suplantado pelo matetem para muito além daquilo que a rial. É a Juta de classes que se anunrazão humana pode atingir por si só . .J cia, não em termos doutrinários e É o campo da fé que se abre diante polêmicos, mas produzindo já um de nós. Com a peculiariedade marsentimenta lismo forçado, 0111 algo cante de que, por ocasião do Natal, de mórbido, m fa da nH artifio Céu como que oscula a Terra, cia lmente ri ada p lo s ·ritor. lntorna-se mais fácil crer, mais suave, -_, s ns ivc lrn ·n tc, nos ·onl os d • Notai, m ais ameno. A inocência revive a s uavidfld divina do M nino J ·sus sem esforço mesmo nas pessoas foi sendo trn ·:ida pelo ran ·or odil' nmais afastadas da virtude, como to d Marx, disfarçado 11i nd:1 c·111 uma promessa de conversão. mpaixã p l p r . Então, amparada e guiada pelas sse nov lipo d graças natalinas, a imaginação voa à procura da gruta de Belém, com- Mathiot e, tendo desádo tJela chaminé, snrge na cela consl iluiu a ponl paras ·h •p11r 110s dias de hoje, cm qu os ·0111os dl' põe situações ideais, pinta aq uela onde estava preso o conde de Plessis-Morambert Natal praticamcnlc d su 1 Hr •crn1111 . realidade superior que a alma visOs poucos produzidos s o, d · 111 odo lumbra e sente, mas que o mundo Ademais, os prodfgios gerados pela geral, sem interesse ou, pior, faz ·m p11r circundante não contém. graça de Natal ao longo dos sécu los, em te das aberrações da li t ra lu ru 1110dl' r1111 : Tudo isso translu z nos contos de meio às guerras, durante a paz, nos papor vezes, dirc lam c11t b lasfl•111os , N a ta l, frutos d a imagina ção como lácios dos reis ou nas choupanas dos E não apenas os rn 11tos, Pnr 1111111 quaisquer contos, de uma fantasia, popobres, nas estradas e nos caminhos disposição da Provid 11 ci11 divl1111 , 11docomo nas montanhas e nos perigos dos rém, embebida nas ág uas do sorável com o Sf o 10 l11s 11, di Npos iço ·s brenatural, à procura de exprimir algo mares, tudo isso os contos nos disseram, dEla, m as t rr v ·I, p11rt•n• qut· 11s 111 csde muito ... muito alto, que o M enino sempre com aquela unção sagrada, mas graçus d · N11111I 11h1111do1111ru m a aquela sublimidade suave que só o Natal Jesus, Nossa Senhora e São José lhe Tcrru. R · ·usad11s, t•11xot11 1111-1, l'las se reproporciona. O historiador G. Lenotre fazem tocar e até saborear. fu g iam lal wz 1·1111111 0111 i•rupo de fiéis, (1857-1935), por exemplo, compôs váFoi assim que, do solo sagrado da mas n, os· cspurpt•11111111 is como outrora rios contos natalinos, cujo enredo se civilização cristã, brotarain em profusão e d ·ix11111 111N1·ri l1111H'llll' os homens à os contos de Natal, a encantar crianças desenvolve nos dias da R evolução Franm ·r · de st· us dt•sv11tios. cesa, descrevendo situações e personae adultos, revelando-nos as respeitosas Isto dl'fi11i1 ivo'/ Nao o cremos, pois gens daquela época.Entre eles "Mathioconversas dos Reis Magos e dos pastos ·1110 lt·r 111110s dll'g11doscmremissãoaos res com São José, as enternecidas con- . te", o limpa-chaminés que numa noite di11s lo ri111 do mundo. Nossa.Senhora, de N atal ajudou o Conde de Plessis-M ofidências de alma trocadas entre Nossa por 111 , pr or111·lt'll l'lll Fátima que uma paz, rambert a fugir da prisão (ver CatolicisSenhora e o Menino, dando-nos a co1111111 s111lli11w paz irradiada de seu Coração nhecer visitantes insuspeitados que ch emo, dezembro/88) . l11 111rnl11do, 11i11<la inundará a Terra. Porém, oh dor! A civilização ·risla gavam maravilhados à Gruta, vindos de Tr i1111fai Jogo, ó Imaculado Corade outrora veio deca indo, e as grnças M' todos os cantos do mundo e de todas as ' Ili! Vi11d~· ·m breve, muito breve, e aí distanciaram . Já no ~écu lo XlX os ·011 épocas da História, sem que os Evange116s pmdamaremos vossa vitória de totos de Natal começaram a transfor11111r1is tas lhes tenham registrado a presença, dos os modos, mesmo através de novos se. A Sagrada Família, as bé:nçãos pr transportados que fora m àquele lugar t· 11111rnvilhosos contos de Natal. prias da data foram desapa rc ·ndc1 d11s sagrado pela carruagem alada da imagi_ narrações, e para o centro do palco foi nação dos fiéis. e" CATOLICJ M

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1992

Assestando o foco este Natal de 1992, pairam sobre nossa querida Nação • _densas trevas: problemas de difícil solução, previsões de perigosas desavenças, à maneira de veementes tufões .

que se afastem de nós tantos fatores de preocupação e de tensão, por efeito da única solução autenticamente válida: a paz de Cristo no Reino de Maria. Sim, o Brasil terá um esplêndido porvír se ele seguir o caminho de Nossa Senhora. E tal é o porvir, carregado de bênçãos, de virtude e de grandeza cristã, que imploramos seja concedido pela Virgem Santíssima à Terra de Santa Cruz.

Nessa perspectiva, elevemos nossos olhares à Santa Mãe de Deus - sem cuja intercessão nenhuma prece sobe ao seu Divino Filho, e nenhuma graça baixa até os homens - para implorar-lhe

Por fim, formulamos votos muito cordiais de que, em 1993, as graças dAquela que nos trouxe o Redentor se difundam com largueza maternal sobre todos e cada um dos elementos constitutivos da extensa família de almas dos assinantes de nossa revista. Que a Sagrada Família defenda vitoriosamente a Santa Igreja e a civilização cristã, hoje mais do que nunca expostas às ciladas e às violentas investidas de implacáveis adversários.

índice Discernindo...

Catolicismo é uma publicação mensal da Editora Padre Belchior de Pontes Lida .

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Os contos de Natal

A Realidade Concisamente

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Sonho ... F'esadelo!

Diretor: Paulo Corrêa de Brito Filho

Destaque

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Encontro das CEBs: até pai-de-santo e pajé

Jornalista Responsável: Takao Takahashi Registrado na DRT-SP sob o Nº 13748

Entrevista

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A privatização é aplicável aos presídios

Brasil Real, Brasil Brasileiro

Redação e Gerência: Rua Martim Francisco, 665 01226-001 - São Paulo, SP Tel: (011) 825.7707

9

A missão providencial do Brasil

Ecologia Metamorfose das esquerdas brasileiras

10 Diagramação: Antonio Carlos F. Cordeiro

Caderno Especial Então, a claridade de Deus envolveu os pastores

13

Fotolitos: Microformas Fotolitos Lida. Rua Javaés, 681 - 01130-01 O São Paulo - SP

Atualidade Manipulação lingüística prepara aprovação do aborto

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Comente, comente... Um agro-reformista em apuros

Impressão: Artpress Indú stria Gráfica e Editora Lida . Rua Javaés, 681 - 01130-010 São Paulo - SP

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História Princípio da civil ização cristã nas Américas

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A correspondência relativa a ass inatura e venda avulsa pode ser enviada ao endereço da Gerência de Catolicismo.

TFPsemação Homenagem de TFP-Covadonga

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à Rainha Isabel, a Católica Em painel Frases e imagens

ISSN - 0008-8528

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Nossa capa: Zurbarán (1625- 1630), coleção particular, Barcelona

DEZEMBRO 1992

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Hospedeiro real

Sonho? ... Pesadelo! Segundo a edição do "Rocky Mountains News" , de 30-6-92, nos Estados Unidos os fatos, a partir de 1960, indicam: cresceram as que~as de abuso de crianças - de menos de um milhão para 3 milhões ; a imorali dade entre adolescentes dobrou, acompanhada naturalmente das doenças ven éreas; o número de mães solteiras mais que quintuplicou; a coabitação sem casamento aumentou em seis vezes ; a porcentagem de crianças que não viviam com seus pais, em 1960, era de 10%, e passou, hoje em dia, para 30% . Apesar desse declínio da família e da moralidade norte-americana em geral, muitos há que ainda sonham com o modo de vida americano, o famosoAmerican way of life .. .

obedece aos padrões mínimos de higiene e a contaminação por bactérias e vírus ultrapassa duas vezes as taxas permitidas; o ar respirado por um terço da população está poluído. Apenas 25% dos moradores das cidades e 30% das áreas rurais são considerados sadios. Na rede hospitalar: 42% dos hospitais não têm água quente, 18% não dispõem de esgotos e 12,% não têm água corrente. Africa? Não. Rússia, o ex-paraíso comunista. É o resultado estampado no "Nezavisimaya Gazeta" - do primeiro relatório sobre saúde pública e meio ambiente publicado" honestamente" em 70 anos!

Mikhail e Raíssa Gorbachev, convidados de honra do re i Juan Carlos, da Espanha, passaram idílicos quinze dias nas belas terras onde nasceu Anchieta , as Canárias. Chegaram com quatro malas e partiram com doze volumes. "Recebemos muitos presentes, os espanhóis são muito generosos", justificou Raíssa. Resta saber o por quê dessa real e inexplicável largueza: prêm io consolação por ter fracas sado a perestroika?

Pormenor igualitário Na ótica estrábica de muitos centristas contemporâneos, os antagonismos entre empresários e políti-

que o próprio jornal "O Globo" registrou tal pormenor?

Lama tupiniquim Faz parte de propaganda new age (nova era), que sopra pelo mundo, incentivar práticas orientais e pôr nos cornos da lua figuras até aqui vistas com desconfiança e desdém, como o DalaiLama, do budismo tibetano. Dentro desse programa está também criar lamas tupin iquins, à imagem e semelhança do supremo modelo do Tibet. Assim, surgiu já em São Paulo a primeira lama budista brasileira, Maria Luiza de Aquino Ferreira, que se faz chamar de "Detchen Drolma". Criou um centro de "arte e terapia", onde realizará cursos de filosofia, psi-

A serviço do caos-Leonardo Boff, que renunciou ao sacerdócio recentemente, afirmou-se agora pregoeiro do caos. Pretende ele estimular "elementos positivos da desordem". E acrescenta: "A moderna cosmologia ensina que o caos é o patamar da nova ordem".

*** Reforma stalinista - Sobre o projeto de reforma urbana - contra o qual a TFP realizou brilhante campanha - fez notar o diretor do SECOVI (Sindicato das Empresas de Compra e Venda de Imóveis de São Paulo), Mauro Marcondes Pincherle: "Ele seria perfeito na URSS de Stalin .... São resquícios de um comunismo antigo, já esfacelado".

*** Herança desprezada - Três soldados russos do antigo Exército Verme-

lho trocaram um tanque - herança do comunismo - por três garrafas de vodka, informou a agência Itar-Tass.

*** Plebiscito na França - Abriu-se um abismo entre a classe política francesa e a população: a respeito do Tratado de Maastricht, 86% dos senado res e deputados votaram pelo SIM e metade dos eleitores votou pelo NÃO. O que, na verdade, representam os ditos "representantes do povo"?

*** Estatística desmente as esquerdas - Dados colhidos pela FAO: diminuiu consideravelmente o número de pessoas que passam fome crônica no mundo. Já nos Estados Unidos, os problemas de nutrição se caracterizam "pelo excesso de alimentação".

Indigência russa - Durante a EXP0-92, em Sevilha, os depauperados russos limitaram-se a apresentar uma reminiscência do passado: o satélite da ex-URSS, que há muitos anos colheu dados no lado oculto da lua.

*** Incentivo aos drogados -

A Câ-

mara Municipal de Roterdã (Holanda) pretende fornecer heroína gratuita aos viciados da cidade !

*** Monarquia custa menos -

O líder do movimento monarquista italiano, Cario Boschiefo, argumenta: "Qualquer monarquia do mundo custa menos que um processo tão complicado como o de escolher um Presidente".

DESTAO!l~ Encontro das CEBs: até pai-de-santo e pajé...

Um passo a mais

Não é novidade que a tendência revo lucionária atual conduz ao nudismo . Mas tal tendência não se contenta com um mundo sensual. E se faz bizarra, senão grotesca. Em Munique, na Alemanha, virou moda tomar ba nho de sol sem roup erri ambiontos públi cos. o lug r o co lhido ó n d m is , nad mono quo o comltório oxislente c::..:liL-----~- - - - - -- no b irro do Schwabing, com sous túmuÁfrica? Não lo antigos o árvores centenári s. O ospoctro que surAlto índice de doonç s o g o por detrás dess.a mortalidade, graves altora "moda", ademais de imoral, ções ecológicas; matado do ó macabro. volume de água potável n o

Corbachf/V e l?aissa em férias

cos de esquerda parecem irreconciliávois. fie m sem en tond r trocadomesuras onlro um Lula do PT e o Roberto M rinho, das Organi7açõos Globo. Sem ontrar aqui nos motivos dosse encontro, analisemos dele apenas um aspecto sutil, mas profundo. O tom da conversa foi estabelecido pela regra igualitária de tratamento mútuo: "você". Sem falar na diferença de formação cultural, esse informalismo já não se justificaria dada a grande diferença de idade entre ambos. Fato sem importância, dirá algum cético. Então por

cologia e medicina, orientados pela ioga. E para melhor adaptarse ao ambiente nacional, e assim mais facilmente atrair os incautos, informa uma notícia da "Veja" queDrolma "vai ao cinema, namora e sai com amigos" .

As Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) parecem mesmo decididas a demolir a Igreja Católica até seus fundamentos (a "autodemolição" de que falava Paulo VI), e voltar aos ritos pagãos mais demoníacos. Em seu último Encontro, realizado em setembro, em Santa Maria (RS), condenaram veementemente a atuação dos missionários e colonizadores - caluniados como "opressores" - ao longo destes 500 anos pós-descoberta da América. E exaltaram as "divindades" dos índios (às quais estes freqüentemente ofereciam sacrifícios humanos) e dos negros, bem como seus "costumes" pagãos, que muitas vezes comportavam infanticídio, antropofagia etc. O documento final do Encontro afirma: "Os opressores diziam que nossos deuses eram falsos; nossos ritos, superstição; nossos mitos, heresia; nossos costumes, pecados". E faz duras críticas à Santa Igreja: "As igrejas eram enfeitadas com o ouro retirado da terra com o preço de nosso sangue!" Que melhor destinação para o ouro do que enfeitar as igrejas, casas de Deus? O mais caro e precioso bálsamo não foi derramado nos pés de Jesus, com o agrado dEle? E o que significa "preço do nosso sangue"? Por acaso

o sangue dos missionários e colonizadores não foi aqui largamente derramado para nos trazer a verdadeira religião de Jesus Cristo e a civilização? Numa das celebrações de encerramento, notam-se claramente sinais de diabolismo: "Em lugar de altares cheios de imagens sacras e adornos em ouro, apenas uma tosca cruz de 11U1deira circundada por bandeiras dos movimentos semterra, negros, índios, mulheres e migrantes. Em substituição ao Bispo com o solidéu na cabeça, um pai-de-santo negro usando o gorro eketé. Como sacristão, um pajé sacudindo o seu chocalho. Em vez de hósti.as distribuídas na patena, um grande pão sovado sobre um pano de prato. Na liturgia, saULlações como (l.Xé". O que talvez seja mais impressionante é que o Encontro contou com a presença de 98Bispos e numeroso Clero (cfr. "Zero Hora",Porto Alegre, 10-9-92).Pretendem unir-se ao PT e outros organismos para exigir mudanças.

... num!i f9sta bem pouco cristã Uma estrela (decaída!) do Encontro das CEBs foi Leonardo Boff, cujo nome civil sabe-se agora: Genésio Darcy. O fato de ele ter abandonado publicamente a condição de frade franciscano parece não ter diminuído em nada a acolhida calorosa

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que recebe na esquerda católica. Confessou que, apesar do esforço desenvolvido pelas CEBs, "é difícil convencer o pobre de que ele é pobre por ser oprimido" . Ou seja, os pobres não têm a ideologia das CEBs, e estas procuram de todos os modos impingir a idéia de que eles são "oprimidos", para pô-los em estado de revolta. É a famosa "conscientização". O Pe. Beozzo, de Lins (SP), outro ativo participante do Encontro, acusou: "AIgreja sempre representou o colonialismo". Já para Frei Betto, esse congresso foi "uma grande farra [festa?] do Espírito Santo". O emprego do termo "farra" - que, em sentido estrito, significa festa licenciosa, sinônimo de orgia - vinculado ao Espírito Santo, é uma blasfêmia. A Terceira Pessoa da Santíssima Trindade teria animado os participantes da farra! O certo é que "houve muita música, danças e cantos, misturando o candomblé e a umbanda com a Bíblia". Quanto ao "espír'ito" que por ali pairou, seguramente não foi a graça divina infundida mediante os dons do Espírito Santo, mas proveniente de Exu, o "deus" da macumba ... Houve um compromisso de solidariedade "com as mulheres, inclusive no desejo de serem sacerdotizas ", e também com a "luta pela refor11U1 agrári.a" (cfr. "Jornal do Brasil", 14-9-92).


A privatização é aplicável aos presídios? Corporation, que administra 12 presídios, ou a CCA Correction Corpora tion, que administra 21, demonstram que o sistema é viável e elenca enorme vanta gem para o governo americano. Um dado, que não se deve desprezar, é que em presídios privados nos EUA, em Portugal, na Itália e até na Austrália Prof. Luiz Flávio D'Urso não se tem registro de rebeliões, o que demonstra serem satisfatónas as condições propiciadas ao preso, a um custo Catolicismo - Qual é o futuro inferior do que era anteriormente gasto previsível de nosso sistema carcerário? pelo Estado. Borges D'Urso - O quadro caóCatolicismo - Não choca um tico do sistema revela que temos 110 mil pouco os hábitos atuais o fato de partipresos no País, acomodados em 47 mil culares concorrerem para a administravagas, agravando-se a desproporção na ção da Justiça? região sudeste, pois nessa há mais de Borges D'Urso três presos para cada A transferência no vaga. Em matéria de privatização, Catolicismo sempre teve sua Brasil, para a iniciativa Apesar do grande posição: é a favor. O que evidentemente não implica em imiscuir-se privada, da ação estatal déficit atual de vagas, em toda uma gama de assuntos técnicos, que não são de sua na execução da pena existem ainda, nas ruas, alçada. pode se dar por privatimais de 300 mil mandaA polêmica sobre a privatização dos presídios está nos jornais. zação, delegação, autodos de prisão para sePara manter nossos leitores informados sobre alguns aspectos da rização, concessão, perrem cumpridos. A consmesma, entramos em contacto com o insigne professor de Procesmissão, porquanto não so Penal da Faculdade de Direito das Faculdades Metropolitanas tatação é evidente, jaé função jurisdicional, Unidas (FMU), de São Paulo, Luiz Flávio Borges D'Urso. Especialista mais o Estado poderá mas tão-somente matena matéria, concedeu ele, sobre o momentoso tema, entrevista à construir tantas vagas reportagem de Catolicismo, estampada nesta página e na serial. quanto necessárias. guinte. Catolicismo Só para exemplifiNosso entrevistado, além de exorcor o magistério universitário, Há vantagens adiciocar: se o Estado consé advogado criminalista, membro da Comissão de Cu ltura da nais para o detento? truísse 3 mil vagas por Ordem dos Advogados do Brasil, Seção de São Paulo (OAB/SP), Borges D'Urso ano, o que já seria muimembro do Cons lho Doliborativo da Associação Comercial-SP e Outro dado muito to e bastante oneroso, consolhoiro da As ociação dos Advogados Criminais de São Pau lo. importante é que no sispara fazer frente aos tema privatizado o pre300 mil mandados, preso poderá trabalhar, o cisar-se-ia de 100 anos que hoje é obrigatório por nossa lei, mas casos, também na construção da cadeia - um s culo! - para se amenizar o impraticável, por razões de absoluta falou penitenciária. O sucesso da experiênproblema . ta de meios. cia americana demonstra que o ideal, Ora, é impossível caminhar nessa A remuneração percebida pelo idéia, porquanto seria o contribuinte a . quando a iniciativa privada só administrabalho do preso destina-se, exclusitra o presídio, é um contrato de, no financiar essas cadeias, enquanto essa vamente, a ele próprio, à sua família e máximo, três anos. verba seria melhor empregada em casas, ao ressarcimento às vítimas d seu criJá no caso da empresa- privada tameducação etc. me, mas jamais ao administrador priCatolicismo - Em que sentido a bém construir o prédio, este será entrevado. gue ao Governo após 10 anos, permaneprivatização dos presídios seria uma soCatolicismo 'l'odos s:1bemos cendo com a iniciativa privada sua adlução? que o objetivo prindpnl 1111 atividade Borges D'Urso-Afacilidadedo ministração. empresarial não a filnntropia .. . Qual o Catolicismo-A privatização dos sistema privatizado, para substituição interesse do emprl's do 1•1111•11fr ·utar tal presídios já alcançou êxitos? da empresa prestadora de serviços, repdesafio? Borges D'Urso-Empresas ameresenta um avanço, pois afasta o acomoA resposta é Borge D'Ur o ricanas de porte, como a Whakenhut dado funcionário do Estado, que geralmente não concorre. Caso se constate que a empresa privada não atende às expectativas e às especificações determinadas pelo Governo, o contrato será simplesmente rescindido. Uma saudável concorrência no setor seria dinamizada, obtendo-se melhor preço por melhor qualidade, até porque as empresas atrairiam para suas fileiras especialistas nos diversos setores ligados ao penitenciarismo. Catolicismo-O que é, afinal, um presídio privado? Borges D'Urso - Na verdade, a privatização geralmente ocorre só na administração do presídio e, em alguns

simples, pois enquanto na administração estatal americana o preso custa aos cofres públicos cinqüenta dólares por dia, esse mesmo preso, para a iniciativa privada, custará vinte e cinco dólares, recebendo o empresário, por contrato com o Estado, trinta dólares, acumulando, além da economia para o Estado,

umplus, um lucro, que é alvo de interesse do administrador privado. Catolicismo - Não seria melhor tentar salvar o sistema atual? Borges D'Urso- O sistema, nos moldes em que se encontra, é inviável. Por mais que se injetem recursos e se envidem esforços, não resta outra op-

ção, senão a de experimentar o novo, representado pela privatização, inclusive acompanhando as tendências mundiais e essa onda de redução dos indesejáveis tentáculos do Estado, que deve se direcionar exclusivamente às suas atividades básicas.

Casa de Detenção: a quein aproveita a tragédia? O

motim interno, ocorrido em 2 e 3 de outubro último, na Casa de Detenção, em São Paulo, teve origem numa disputa entre quadrilhas de traficantes e ladrões. Em pequeno número, os agentes penitenciários não conseguiramj ugular a rebelião, que se estendera por muitas dependências do presídio, originando-se daí várias mortes. Chamados a intervir, a Tropa de Choque do Grupo de Ações Táticas Especiais (GATE) e os bombeiros foram recebidos com estiletes e pedaços de pau pelos detentos, muitos destes contaminados com o vírus da AIDs. No intuito de impedir a entrada dos policiais, os presos atearam fogo às barricadas por eles erguidas com móveis, colchões e cobertores. Em seguida, estouraram as instalações hidráulicas e cortaram a luz de todo o pavilhão. Para penetrar no local, os soldados da PM - cerca de 300, munidos de armas pesadas, escudos e luvas cirúrgicas anti-AIDS - tiveram de cortar as trancas e cadeados das portas de ferro que impedem a passagem de um andar a outro. Segundo o Cel. Hermes Cruz, os presos - detendo 13 armas de fogo: revólveres e pistolas automáticas-atiraram nos policiais, que reagiram, disparando contra os delinqüentes. O major Nagalli, por sua vez, declarou que os detentos amotinados empunhavam barras de ferro e estouravam bombas construídas com pequenos botijões de gás, quando os soldados entraram no local. Conforme o então Secretário de Segurança de São Paulo, Pedro Campos, os criminosos estavam preparando uma fuga em massa da Casa de Detenção (Cfr. "O Globo", 4-10-92). Saldo da tragédia: 111 presos mortos; 32 policiais e 130 presos feridos.

Clérigos, políticos e a mídia Por outro lado, o coordenador nacional e arquidiocesano da Pastoral Carcerária, Padre Realdon bem como o Padre Sbeehan, também da Pastoral - ambos norte-americanos naturalizados brasileiros e membros da Congregação dos Oblatos de Maria Imaculada - afirma-

a ação policial teria sido, de qualquer forma, inábil, desproporcionada ou precipitada , pois só assim se explicaria o elevado número de mortes entre os detentos. O caráter dramático do ocorrido - que a múlia esmiuçou à saciedade, de forma visivelmente sensacionalista concorreu, sem dúvida, para vincar tal

Tiranos ou _vilões: é como certos órgiios da mídia, bem como esquerdistas e cnpto~comunistas tendem a apresentar os policiais e os integrantes da Polícia Militar de São Paulo.Já o marginal é considerado conw po&re vítima

ram estar convencidos de que os presos foram agredidos e assassinados pela Tropa de Choque da PM (Cfr. "Jornal do Brasil", 3-10-92). i Diversos eclesiásticos, bem como líderes políticos - notadamente de esquerda - pronunciaram-se em sentido análogo, fazendo coro com certos organismos internacionais, que já se apressam em pôr o Brasil no banco dos réus. A tal propósito, intenta-se frisar que

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impressão. Corresponderia isto, porém, à verdade?

O homem da lei é sempre mau? Independentemente de abusos e excessos que possam ter ocorrido-e com os quais naturalmente não se pode estar de acordo-, a principal discussão deve situar-se num outro patamar. De forma quase sistemática - nos meios de comunicação social, bem como entre os esquerdistas e criptoco-


munistas - o defensor da ordem é apresentado como tirano ou vilão, enquanto o marginal aparece como po1bre vítima injustiçada. Eis o ponto nevrálgico da questão, cujo desconhecimento ou subestima falseia gravemente o debate. Com efeito, vários dos soldados feridos durante a operação no presídio do Carandiru, salientaram não ter recebido visita de Padre, ministro ou representantes de entidades que se apresentam como defensoras dos direitos humanos ... (cfr. "Jornal da Tarde", São Paulo, 10-10-92). Obviamente, dois pesos e duas medidas em favor não do homem honesto, mas do detido, que, ao mesmo tempo, era injusto .agressor! Como observou um policial, "agora fazem essa apologia da marginalidade. Hoje, só se preocupam em combater a Polícia Militar. Ainda vamos pagar caro por essa apologia dos bandidos. Nós, agora, é que somos os marginais. Está havendo uma inversão de valores" ("O Estado de S. Paulo", 7-10-92). Conforme a imprensa, a Casa de Detenção estaria sob o domíuio de mais de 50 quadrilhas, onde os traficantes e ladrões de banco são regiamente tratados. Privatização dos presídios O problema, entretanto, não serestringe a isto. Atualmente, cerca de 124 mil presos se comprimem nas pouco mais deS0 mil vagas de presídios existentes no País. E há 175 mil mandados de prisão (ou seja, um número de homens aproximadamente idêntico ao de todo o Exército nacional!) já expedidos pela Justiça e

ainda não cumpridos, devido à falta de vagas nos presídios. Nesse contexto, aflora a idéia de privatização dos serviços penitenciários. O Conselho de Defesa dos Direitos Humanos - que encaminhou proposta nesse sentido ao Ministério da Justiça - calcula que vivam em permanente ócio 95% dos presidiários, expostos a um sistema que mistura imprudentemente criminosos primários com os de alta periculosidade (cfr. "Jornal do Brasil", 11-10-92). Caso a iniciativa privada tome em mãos a direção dos cárceres, pode-se admitir que tal situação gradativamente tenda a cessar. Convém ressaltar, porém, que toda a questão da criminalidade se prende a causas muito mais profundas - isto é, de natureza moral e religiosa - que as meramente administrativas. Contudo, é sabido também que o Estado - inoperante e deficitário por natureza, em diversos campos -não se vem portando melhor na organização dos presídios. Entende-se, pois, a oportunidade da proposta formulada pelo mencionado Conselho, bem como pelo ilustre professor Luiz Flávio Borges D'Urso, em elucidativa entrevista publicada na presente edição. Tomadas de posição em face do ocorrido Importa assinalar que, logo após o evento na Casa de Detenção, a PM recebeu entusiásticas expressões de apoio de ponderáveis parcelas da população. Isto pode ser comprovado

por meio das manifestações de rua organizadas por taxistas, motoristas de ônibus e caminhões., parentes de policiais e de vítimas de criminosos etc. que obstruíram o tráfego no centro da cidadedurantelongas horas, em apoio à PM. Diariamente, e na mesma linha, as seções de leitores dos jornais tem publicado considerável número de cartas aplaudindo vivamente a PM, sugerindo ora a matança pura e simples dos marginais revoltados, ora que o Sr. Cardeal Arcebispo, P. Evaristo Ams, a OAB e organismos internacionais de esquerda levem para suas casas os bandidos, já que têm tanta pena deles. Gracejos espirituosos não desprovidos de cômica e oportuna mordacidade, a qual consideramos entretanto excessiva no que diz respeito ao Pastor da Arquidiocese paulopolitana Cabe lembrar ainda que D. Ams, ao rezar Missa na Catedral pelos detentos mortos, criticou acerbamente a polícia. Ter-nos-ia entretanto causado bem-estar se, nessa mesma ocasião, S. Emcia. houvesse acrescentado um muito oportuno "Memento" em prol daqueles valorosos militares - defensores da ordem e da lei - , os quais se expuseram durante longas horas aos transes de graves apreensões pela própria integridade física, e de que foram partícipes suas respectivas famílias. A fortiori, pelos que, de modo inclemente e injusto foram feridos pelos amotinados. ARMANDO 8RAIO ARA

Brasil Real Brasil Brasileiro

A missão providencial do Brasil

S

e analisarmos as origens psicológicas e morais de nossa Pátria, vemos que, de Portugal, herdamos a bondade, a valentia e um certo senso prático que não descola da realidade. Dos negros recebemos uma apetência para o colorido, o maravilhoso. Dos índios, a esperteza. O resultado: um espírito brasileiro extremamente variegado, sutil, com facilidade para fazer correlações entre as coisas e grande senso do universal. Uma senhora paulista que conheci, de tradicional família de quatrocentos anos, exprimiu certa vez o ideal de vida dela, mas que era, no fundo, o ideal de vida do brasileiro. Dizia ela para seu filho: "A vida, meu filho, é estar juntos, olhar-se e querer-se bem". Essa senhora não era uma filósofa, nem possuía estudos teológicos. Tinha apenas a formação católica e a cultura próprias de uma senhora de boa família de São Paulo, do fim do século passado, acrescidas de profundo senso católico. E desse entranhado senso católico aflorou algo maravilhoso, que foi a explicitação daquilo pelo qual o brasileiro reflete um aspecto de Deus: um certo tipo de bondade e benevolência, expressão, das mais elevadas, da virtude da caridade.

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Nosso povo recebeu de Deus um território de dimensões continentais. Herdamos recursos, não só no campo agrícola, mas também de natureza mineral, praticamente inesgotáveis. Temos as maiores reservas de ferro do mundo e reservas de ouro ainda desconhecidas; somos ademais um dos maiores produtores de pedras preciosas. Temos sobretudo qualidades de alma imensas. Dentre elas, a facilidade em admirar os valores dos outros povos, compreendê-los, e com isso ajudá-los na solução dos seus problemas. O brasileiro é dadivoso por nature-

za, à semelhança de Deus, que criou o universo por pura generosidade. O brasileiro tem, entretanto, ao lado dessa bondade, um senso de justiça muito grande. Quando essa bondade é rejeitada, quando a ordem das coisas é per-

Dom Luiz de Orleans e Bragança Chefe da Casa Imperial do Brasil (especial para Catolicismo)

turbada, primeiro ele procura afastar as dificuldades por bem. Dizem que, no Brasil, se dá um boi para não entrar numa briga e uma boiada para não sair dela. Isso é muito verdadeiro, e está muito afim com a vocação de nossa Pátria. Quando a bondade não é aceita, então o brasileiro Vj i até o fim para extirpar o mal que provocou aquela desordem. Nós vimos isso, por exemplo, na guerra do Paraguai.

*** O que significa isso para o futuro? Significa que o Brasil, voltando às suas origens cristãs, restabelecendo a plenitude da observância da Religião

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Católica, restaurando a vigência da Lei Natural e, com ela, a ordem orgânica, hierárquica, monárquica e católica, poderá tomar-se - e deverá tomar-se-, sob o signo da Cruz, uma das maiores potências da Terra. Potência não só do ponto de vista da riqueza e do poderio militar, mas principalmente do ponto de vista da influência e da bondade, no universo. Deve fazer brilhar, na sua plenitude, aquela bondade, aquele senso de estar juntos, olhar-se e querer-se bem, no mundo inteiro. E fazer com que todos os povos vejam no Brasil esse ideal, e o imitem, e que haja uma grande harmonia entre as nações, uma grande paz, um grande bem-estar em todo o mundo. Tal é a vocação principal do Brasil. Nossa índole é feita para isso. O que nos falta é retornar à Religião de nossos pais, restabelecer a moralidade, a sociedade orgânica; é fazer com que cada brasileiro e cada família, cada corporação, município, província, região, cada Estado enfim, tenha toda a plenitude de persona Iidade que lhe é própria, e desenvolva suas potencialidades dentro de uma sociedade orgânica. Parece-me muito oportuno citar, a propósito das considerações acima, as palavras pronunciadas pelo grande líder e pensador católico Plinio Corrêa de Oliveira, no Congresso Eucarístico de 1942: "A missão providencial do Brasil consiste em crescer dentro de suas próprias fronteiras, em desdobrar aqui os esplendores de uma civilização genuinamente católica, apostólica e romana, e em iluminar amorosamente todo o mundo com o facho dessa grande luz que será verdadeiramente o lumen Christi que a Igreja irradia". É para isso, para obter graças para tal luta, com vistas a essa grande conquista, que eu apelo a Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil.


ECOLOGIA

Metainorfose das esquerdas brasileiras para sobreviverein ao colapso soviético Com a crise do comunismo na Rússia, os esquerdistas tupiniquins entraram em pânico e perderam o rumo estratégico. Mas agora -a exemplo de seus congêneres pelo mundo afora - encontraram um novo disfarce: a ecologia, conforme depoimentos colhidos na Eco-92

A

Eco-92, Conferência sobre o Meio Ambiente promovida pela ONU, no Rio de Janeiro, em meados de 1992, foi um palco privilegiado para se -Ver em ação também os flamantes ecologistas revolucionários brasileiros. O Partido dos Trabalhadores (PT), a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a Comissão Pastoral da Terra (CPT), "teólogos da libertação" como Leonardo Boff, Frei Betto etc., todos estavam ali, ostentando sua "nova face" - verde, a cor dos ecologistas. PT: "eco-socialismo" Na luta pela sobrevivência, o PT já conta com uma corrente denominada "eco-socialista". Seus integrantes mostraram-se muito ativos durante a mencionada conferência, e explicavam que obtiveram sua "carteira de cidadania" no Partido por ocasião do "1 Encontro Nacional dos Ecologistas do PT", em agosto de 1991. Nessa oportunidade, foi aprovada uma declaração de "Princípios básicos para uma sociedade ecosocialista", o chamado "Manifesto ecosocialista". No referido documento, os ecologistas revolucionários do PT analisam a queda do comunismo soviético e propõem uma "nova visão do mundo", "ecosocialista e libertária", a partir da qual se deverá "reformular" a "utopia transformadora" revolucionária. Assim, com esse palavreado todo, o "verde" dos ecologistas do PT mal dissimula o "vermelho" dos clássicos slogans marxistas: fortes ataques à propriedade privada e proposta de implantação de Reformas Agrária e Urbana radicais.

Luíza Erundina, prefeita de São Paulo e importante figura do PT, já compreendeu as vantagens estratégicas de assumir a "bandeira ecológica". Ela passeou pela Eco-92 e afirmou ca tegoricamente que "o Partido dos Trabalhadores hoje assume integralmente a bandeira ecológica", porque "sem dúvida nenhuma" esta favorece a causa socialista.

chamada Associação Pernambucana de Defesa do Meio Ambiente -Aspam. Laxe manifestou abertamente nessa ocasião sua esperança de que o movimento ecológico sirva para superar a atual crise do socialismo: "A grande chance do soe ialismo é que, através da ecologia, se demonstre as contradições do capitalismo". O sacerdote franciscano, Rodrigo Péret, defendeu na Eco-92 uma estreita colaboração entre "teologia da libertação" e movimentos ecológicos

PT: organismos de fachada Membros da corrente socialistaecológica do PT aderiram a movimentos ecológicos brasileiros. Tal é o caso, por exemplo, do sociólogo Maurício Waldmann, representante de São Paulo na subsecretaria dos ecologistas do PT e defensor de uma "eco[teo]logia" ins_pirada em escritos de Leonardo Boff. Waldma1m, que foi coordenador de meio ambiente da Prefeitura de São Bernardo do Campo, na administração pelista, fez declarações ecologistas revolucionárias em nome de um autodenominado "Comitê de Apoio aos Povos da Floresta". Maurício Laxe, ativo militante do PT de Pernambuco, apresentava-se na conferência do Rio como dirigente da CATOLICISMO

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CUT: ecologia "libertadora" A CUT, a desgastada central sindicalista ligada ao PT, de tendência marxista, também decidiu entrar de cheio na "luta eco-libertadora", manifestando no Rio sua adesão à "perspectiva eco-socialista" e propondo a execução, em nível internacional, de um "Plano de Ação eco -libertador" incluindo uma radical "transformação da ordem social vigente". Para ajudar a vencer resistências ao referido plano, a CUT apóia até mesmo a criação de "tribunais populares". Jair Meneguelli, presidente da entidade, esteve presente no evento do Rio e foi um dos organizadores da marcha "Eco dos Oprimidos", da qual participaram militantes de partidos e movimentos de esquerda, representantes de numerosas organizaçõ s não-governamentais (ONGs)"', inclusive demovimentos homoss xuais.

"Eco [teo]logia da libertação" como "condição fundaImportantes figuras da "teologia da mental" para resolver os libertação" vêm apostando forte na problemas brasileiros. "carta ecológica". Por esta via, os "teóEm uma sessão sologos da libertação" tentam reciclar bre o_s "500 anos de insuas propostas revolucionárias, tão desvasão [sic] da Amériprestigiadas depo is da queda do comuca", o Pe. Jerônimo Nunismo na Europa, cujas supostas "connes, membro da CPT, quistas" em matéria de justiça social afirmou: "A moda da eles tanto elogiaram. ecologia veio nos [aos O ex-religioso franciscano e figurada CPT) ajudar". chave dentro da "esquerda católica", Leonardo Boff, teve ativa participação Aliança "teologia da na conferência do Rio e lançou, no ano libertação"-ecologia passado, um livro intitulado "Ecologia Outro sacerdote franda libertação". Boff manifestou a especiscano, oPe. RodrigoPérança de que, a partir do referido evento, ret, da "Equipe de AnimaA juventude da Internacional Socialista, incluindo ção Pastoral e Social no representantes de partidos de e~qu_erda brasileiros, defendeu "se reforce" um movimento eco-revol u· Rura 1"' exp1ICOU . na Eco-92 um socialismo ecológico cioná rio "que já está em curso, e que M CIO na obtenha pressões cada vez mais fortes Eco-92 como foi possível à "teologia da sobre os governos". 1ibertação" adaptar seu discurso ao tema O religioso dominicano Frei Betto ecológico: - vedete publicitária da "esquerda ca"A resposta se encontra nos pró+ ONGs Organizações Não-Govertólica" do Brasil - também esteve na prios fundamentos da teologia da libernam e ntais - são entidades privadas, reconhecidas pela ONU, que procuram Eco-92. A partir de sua nova perspectitação. Ela é ato segundo; o momento representar diversos setores da sociedava eco-revolucionária, manifestou a es- primeiro é a praxis. Portanto, à medida de civil. É tendência majoritária e ntre e las perança de que, em nível mundial, o em que a sociedade vai tomando consco locar-se numa posição de contestação, verde ecológico possa trazer inclusive ora mais, ora menos exp lícita, ao sistema ciência da transformação através da "ma is propolítico-social e econôm ico em vigor no questão ambienOcidente. blemas que o tal, a teologia da vermelho" para libertação vai Bibliografia: o "imperalisassumindo isso. mo" norte-ame"A teologia - "Debate", suplemento do jornal "Contexricano. da libertação to Pastoral", nº 3, Centro Evangélico Na ocasião, Bras ileiro de Estudos Pastorais-Cebep e não é uma teoempenhou-se Centro Ecumên ico de Documentação e logia que define Informação-Cedi, Rio de Janeiro, agosem organizar o seu objeto to/setembro de 1991. uma homenaatrás de uma - "Aconteceu", suplemento do nº 575 , Cengem a seu amitro Ecumênico de Documentação e Inmesa, mas sim go, o ditador Fiformação-Cedi, Rio deJaneiro,sete mbro um movimento de 1991. del Castro, junsocial. E aí, - "Justiça social e prese rvação do ambiente", tamente com nesse momento, Com issão Pastoral da Terra, Edições Leonardo Boff, Loyola, São Paulo, l 992. existe um eno senador Darcontro muito - "O que é o !BASE", Rio de Janeiro, 1992. - Boletim nº 3 do Secretariado de Justiça e cy Ribeiro, o argrande, uma Paz da Conferência Franciscana Bolivaquiteto comucolaboração riana, Cochabamba, Bolívia, jan e inista Oscar Niero/março de 1992. enorme que a meyer e o presiA prefeita de São Paulo, "S)ndicalismo e Meio Ambiente", Central teologia da lidente da AssoLuíza Erundina, declarou que a bandeira Unica dos Trabalhadores (CUT), São bertação pode Paulo, maio de 1992. ciação Brasileiecológica favorece a causa socialista trazer" ao mo- - Programa da Vigília Ecumênica Permara de Imprensa, Barbosa Lima. vimento ecológico. nente durante a Eco-92, Serviço Inter"A moda da ecologia veio nos ajudar" A cúpula da Comissão Pastoral da Terra (CPT)-ligada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e conhecida por incentivar conflitos de terras - esteve presente à Eco-92. Seus representantes propuseram uma nova ética "ecológico-teológica", que inclui a efetivação de uma Reforma Agrária radical,

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O atual "new-loolt" das forças socialistas em geral, e da brasileira em particular, é a ecologia. É preciso, pois, assumir uma atitude crítica face à propaganda ecológica, e ver no que ela favorece ou não à esquerda. O presente artigo pretende ser apenas uma colaboração nesse sentido. GONÇALO GUIMARÃES

DEZEMBRO 1992

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franciscano de Justiça, Paz e Ecologia do Brasil, Rio deJaneiro,junho de 1992. "O ECO dos Oprimidos pe la Vida!", folheto editado pe la CUT, Forum das ONGS, Forum da Reforma Urbana etc. Comunicado de imprensa nº 211 do Forum Global, Rio de Janeiro, 10 de junho de 1992. "Granma Internaciona l", Havana, 21 de junho de 1992. Fitas magnéticas pertencentes à Agência Boa Imprensa-ABIM, comprobatórias de declarações co nstantes do presente artigo, co lhidas durante a Eco-92.


Uma organização não-governamental (ONG) chamada "Família Franciscana" A Ordem Franciscana, que se constituiu numa organização não-governamental (ONG) sob a denominação de "Família Franciscana", teve também importante atuação esquerdista na Eco-92. Em entrevista à imprensa, assistida pelo Superior da Ordem, Frei Hermann Schalück OFM, os franciscanos propuseram uma "nova eco-teologia" como complemento harmonioso da "teologia da Iibertação". O secretário-executivo do Serviço Interfranciscano de Justiça, Paz e Ecologia do Brasil, Pe. José Alamiro Andrade Silva, reivindicou, em nome da Ordem, a liberdade do sacerdote franciscano Antonio Puigjané "e seus companheiros presos na Argentina". Mas sem mencionar os comprometedores pormenores de sua detenção: a tentativa, em 1990, de assaltar à mão armada um quartel do Exército em La Tablada, localidade da Província de Buenos Aires. O Pe. Puigjané, embora na prisão em virtude daquele grave delito, foi eleito delegado da "Família Franciscana" ante a Eco-92. "Prêmio" análogo recebeu o ex-religioso Leonardo Boff.

Irmã Eunice: "Creio no eco-socialismo" A religiosa franciscana Eunice Berri, do Serviço Interfranciscano de Justiça, Paz e Ecologia do Brasil, declarou categoricamente na Eco-92: "Eu creio no eco-socialismo". A Irmã Berri narrou as dificuldades encontradas num primeiro momento em entidades esquerdistas, como o Movimento dos Sem-terra e a Pastoral da Terra, para compreender as vantagens de assumir a bandeira ecológica: "Foi difícil a muitos do movimento popular compreender. Olhavam para mim, e diziam: 'Mas ecologia? A sra. agora está se comprometendo com o outro lado?'" A religiosa chegou a colocar Marx como pioneiro da temática ecológica: "Eu creio que há uma forma de respeitar todas as criaturas, e isso dentro do socialismo. PorqueMarx escreveu tudo isto. Não usou a palavra 'ecologia', mas sua posição diante de todas as coisas, de todas as pessoas, tem frases fundamentais para a ecologia hoje".

aderno Especial Nº 17

As esquerdas brasileiras se infiltram nas ONGs A existência de organizações não-governamentais (ONGs), cujo âmbito de ação vai desde a defesa do meio ambiente até a promoção de atividades educacionais, não, teria, de si, nada de censurável. O problema é que no Brasil as esquerdas não perderam tempo, e realizaram bem-sucedidos esforços para articulá-las em seu proveito. Hoje, diversos elementos esquerdistas controlam a direção do denominado "Forum Nacional de ONGs", que contaria com cerca de 1.500 entidades filiadas em todo o Brasil. Esse controle do "Forum das ONGs" deu-se em meados de 1991, quando foi eleita uma Coordenadoria Nacional integrada por 26 ONGs. Delas, pelo menos 11 são notoriamente esquerdistas. As mencionadas ONGs esquerdistas atuaram habilmente no seio dessa Coordenadoria com o objetivo de nomear uma Secretaria Executiva composta por sete ONGs, quatro das quais são ostensivamente dominadas pela esquerda radical. Citemos a CUT, vinculada ao PT; o Centro Ecumênico de Documentação e Informação (CEDI),

que mantém liames com o protestante e esquerdista Conselho Mundial das Igrejas; e o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (!BASE), uma espécie de "reservatório de pensamento" esquerdista. O !BASE opera também como banco de dados e de conexão com redes de ONGs eco-revolucionárias em nível internacional, através da rede eletrônica Nodo Alternex, instalada como apoio ao Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e de Cooperazione e Sviluppo (CESVI), da Itália. Dessa maneira, por hábeis jogos de eleições indiretas, setores da esquerda brasileira se apoderaram do timão do movimento das ONGs no Brasil. A constatação acima não deve ser subestimada. A revista "Veja", em artigo intitulado "Guerreiros do Verde", chegou a afirmar: "As entidades ecológicas brasileiras já formam um exército respeitáve~ capaz de eleger deputados e de jogar populações inteiras contra ou a favor de alguma coisa".

CATOLICISMO

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Adoração dos pastores · Zurbarán (1625-1630), coleção partk:ular, Barcelona

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Cfntão, a claríbabe be 1!\eus

cnbo lbcu os pastores!


(

''~u bo~''anuncío uma granbe alegría: nasceu o ~albabor, que é o ~rísto ~enbor" Belém de Judá (Palestina) - Ano 1 da era cristã. É inverno. Fora da cidade, rebanhos de cabras e carneiros são vigiados por rudes pastores, os quais, na entrada da noite, recolhem seus animais em cavernas ou sob as saliências dos rochedos, muito abundantes naquela região calcária, para protegêlos das intempéries e da investida de animais ferozes. A cidade, sentada como rainha no cume de uma colina de setecentos metros de altura, faz jus a seu nome: Belém Ephrata, isto é, a fértil casa do pão. Suas encostas sorriem com a abundância de suas vinhas e olivais, ela é rica em suas colheitas. É nessa fértil casa do pão, numa daquelas cavernas, reclinado em uma manjedoura, que acaba de nascer Jesus Cristo, o pão vivo dos homens, descido do Céu! Aqueles pastores, deserdados da fortuna, são muito mal vistos pelos judeus das sinagogas. Com efeito, vivem como nômades, longe do Templo e das casas de oração, sem condições de se conformarem à observância estrita dos ritos judaicos. E isso era inadmissível para um fariseu! Contudo, entre eles havia almas retas e corações puros. E aconteceu que naquela noite alguns velavam e guardavam o seu rebanho. "E eis que

apareceu junto deles um Anjo do Senhor, e a claridade de Deus os envolveu, e tiveram grande temor. Porém, o Anjo disselhes: Não temais, porque eis que vos anuncio uma grande alegria, que terá todo o povo. Nasceu-vos hoje, na cidade de Davi, um Salvador, que é o Cristo S enhoi' (Lc. 2, 8-11). ***

A noite ia em seu meio. As trevas

tinham chegado ao auge de sua densidade. Tudo em torno dos rebanhos era interrogação e perigo. Quiçá alguns pastores, relaxados ou vencidos pelo cansaço, estivessem dormindo. Entretanto, outros havia a quem o zelo e o senso do dever não consentiam o sono. Subitamente, uma luz apareceu para estes e os envolveu. Toda a sensação de perigo se desfez. E lhes foi anunciada por um Anjo a solução por excelência para todos os problemas e todos os riscos. Muito mais do que os problemas e os riscos de alguns pobres rebanhos ou de um pequeno punhado de pastores. Muito mais do que os problemas e os riscos que põem em contínuo perigo todos os interesses terrenos. Sim, foi-lhes anunciada a solução para os problemas e os riscos em relação ao que o homem tem de mais nobre e mais precioso, isto é, a alma. Os problemas e os riscos que ameaçam, não os bens desta vida - que, cedo ou tarde, perecerão-, mas a vida eterna, na qual tanto o êxito quanto a derrota não têm fim. Esses pastores, esses rebanhos, essas trevas, lembram a situação do mundo no dia do primeiro Natal. ***

Numerosas fontes históricas daquele tempo longínquo nos relatam que se apoderara de muitos homens de então a sensação de que o mundo havia chegado a um fracasso irremediável, de que um emaranhado inextricável de problemas fatais lhes fechava o caminho, de que estavam em um fim de linha além do qual só se divisava o caos e a aniquilação. O mais cruciante da situação em que se encontrava o Mundo Antigo

não estava em que os homens não tivessem o que queriam. Consistia em que, grosso modo, dispunham do que desejavam, mas depois de terem feito laboriosamente a aquisição desses instrumentos de felicidade, não sabiam o que fazer deles. De fato, tudo quanto haviam desejado ao longo de tanto tempo e de tantos esforços, lhes deixava na alma um terrível vazio. Mais ainda, não raras vezes atormentava-os. Pois o poder e a riqueza de que não se sabe tirar proveito para a glória de Deus servem tão-só para dar trabalho e produzir aflição. Assim, em torno dos homens, tudo eram trevas. - E nessas trevas, o que faziam eles? - O que fazem os homens sempre que baixa a noite. Uns correm para as orgias, outros afundam no sono. Outros, por fim - e quão poucos - , fazem como os pastores zelosos: vigiam, à espreita dos inimigos que saltam no escuro para agredir; apressam-se para lhes dar rudes combates; oram com as vistas postas no céu escuro, e as almas confortadas pela certeza de que o sol raiará por fim, dissipará todas as trevas, eliminará ou fará voltar a seus antros todos os inimigos que a escuridão acoberta e convida ao crime. No Mundo Antigo, entre os milhões de homens esmagados pelo peso da cultura e da opulência inúteis, havia homens de escol que percebiam toda a densidade das trevas, toda a corrupção dos costumes, toda a inautenticidade da ordem, todos os riscos que rondavam em torno do homem, e sobretudo toda a loucura a que conduziam as civilizações baseadas na idolatria. Essas almas de escol não eram necessariamente pessoas de uma instrução ou de uma inteligência privilegiadas. Pois a lucidez para perceber os grandes horizontes, as grandes crises e as grandes soluções, vem menos da

penetração da inteligência do que da retidão da alma. De tal situação, davam-se conta os homens retos de então, para os quais a verdade é a verdade, e o erro é o erro. O bem é o bem, e o mal é o mal. As almas que não pactuavam com os desmandos do tempo, acovardadas pelo riso ou pelo isolamento com que o mundo cerca os inconformados. Eram almas deste quilate, raras e esparsas um pouco por toda parte, que vigiavam naquela noite, oravam, lutavam e esperavam a Salvação. Esta começou a vir para aqueles pastores fiéis. O velho mundo, adorador da carne, do ouro, e dos ídolos, morria. Um mundo novo nascia, baseado na Fé, na pureza, na ascese, na esperança do Céu. Nosso Senhor Jesus Cristo resolverá tudo. *

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Nos tristes dias em que vivemos há ainda, daqui, dali e acolá, homens de boa vontade autênticos, que vigiam' nas trevas, que lutam no anonimato, que fitam o Céu esperando com inquebrantável certeza a luz que voltará! Esses homens de boa vontade ignotos, esses genuínos continuadores dos pastores de Belém, entendam como dirigidas a si próprios as palavras do Anjo: "Não temais, porque eis

que vos anuncio uma grande alegria: naseeu o Salvador".

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Fontes de referência 1. Cônego Duarte Leopoldo e Silva, Concordância dos Santos Evangelhos, Escola Typographica Salesiana, São Paulo, lª edição, 1903 . 2. Plínio Corrêa de Oliveira, "Luz, o grande presente" in "Fo lha d e S. Paulo", 26-12-71. 3 . R. P. B erthe ,jésus-Christ - Sa vie, sa passion, son triomphe, Librairie Téqui, Paris, 57ª edição, 1924. 4. Fe rdinand Prat, S.J,Jésus-Christ - Sa vie, sa doctrine, son oeuvre, Beauchesne et ses Fils, Paris, 16ª edição, 1947. 5. Santo Antonio Maria Claret, Selectos panegíricos, Librería Religiosa - Impre nta de Pablo Riera, Barcelona, 1860, tomo I.


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História Sagrada em seu lar

A Lei Mosaica: considerações diversas A propósito das leis concedidas aos hebreus, por meio de Moisés, disse o Senhor: "Guardai as minhas leis e os

meus mandamentos, e ponde-os em prática, a fim de que a terra em que estais para entrar e para habitar não vos vomite também a vós. Não caminheis segundo os costumes das nações que Eu estou para expulsar da vossa vista; porque Eu as abominei" (Lev. 20, 22-23).

Bênçãos diversas - "Servireis ao Senhor vosso Deus, para que Eu abençoe o teu pão e a tua água, e afaste de ti a enfermidade" (Ex. 23, 25). "Se guardardes os meus mandamentos, e os praticardes, Eu vos darei as chuvas nos seus tempos, e a terra dará o seu produto, e as árvores se carregarão de frutos; e comereis o vosso pão à saciedade. Afastarei de vós os animais nocivos" (Lev. 26, 3-6). "Serei inimigo dos teus inimigos" - "Eis que eu enviarei o meu anjo, que vá adiante de ti, e te guarde pelo caminho. Respeita-o, e ouve a sua voz e vê que não o desprezes, porque ele não te perdoará se pecares, e o meu nome está nele. Se ouvires a sua voz, e fizeres tudo o que te digo, eu serei inimigo dos teus inimigos, e afligirei os que te afligem. E o meu anjo cami-

Defesa da propriedade - "Se alguém roubar um boi ou uma ovelha e os matar ou vender, restituirá cinco bois por um boi e quatro ovelhas por uma ovelha. Se (o ladrão) não tiver com que pague o furto, será vendido ele mesmo. Se alguém danificar um campo ou uma vinha, e deixar que o seu gado ande a pastar nos campos alheios, dará o melhor que tiver no seu campo ou na sua vinha, segundo a avaliação do dano" (Ex. 22, 1-5). "Se vires extraviado o boi ou a ovelha do teu irmão, reconduzi-tosá a teu irmão, ainda que este irmão não seja teu parente nem tu o conheças. O mesmo farás a respeito do jumento, do vestido e de (outra) qualquer coisa de teu irmão que seperdesse" (Deut. 22, 1-3). "Malditooquetranspõe os marcos de seu próximo" (Deut. 27, 17). Empregados e escravos- "Se, obrigado pela

pobreza, o teu irmão se vender a ti, não o oprimirás com a servidão de escravo, mas (em tua casa) será como um jornaleiro [ou empregado] e um colono" (Lev. 25, 39). "Os escravos e escravas que tiverdes, sejam das nações que vos cercam. E dos estrangeiros que vivem entre vós ou que destes nasceram na vossa terra; e por direito de herança os deixareis aos vossos fillws"

(Lev. 25, 44-46). Honrar o velho - ''Levanta-te diante de uma cabeça encanecida, e honra a pessoa do velho" (Lev. 19, 32). Juízo justo - ''Não terás também compaixão do pobre em juízo" (Ex. 23, 3).

Deus quer a santidade - "Vós sereis para mim homen's santos" (Ex. 22, 31 ). "Sede santos porque Eu, o Senlwr vosso Deus, sou santo" (Lev. 19, 2). "Santificai-vos e sede santos, porque Eu sou o Senhor vosso Deus. Guardai os meus preceitos, e cumpri-os. Eu sou o Senhor que vos santifico" (Lev. 20, 7-8). [Os sacerdotes] "serão santos para o seu Deus e não profanarão o seu nome" (Lev. 21, 6).

"Enviarei o meu anjo, que vá adiante de ti"

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Manipulação lingüística prepara aprovação do aborto

noções básicas nhará adiante de ti" (Ex. 23, 20-23). "Enviarei o meu terror diante de ti e farei com que todos os teus inimigos voltem as costas diante de ti" (Ex. 23, 27). "Se saíres à guerra contra os teus inimigos e vires os (seus) cavalos e carroças e o exército contrário mais numeroso que o que tu tens, não os temerás, porque o Senhor teu Deus é contigo. E quando se aproximar a batalha, o pontífice estará diante do exército e falará assim ao povo: Não recueis nem lhes tenhais medo porque o Senhor vosso Deus está no meio de vós e combaterá para vós contra os VOSSOS inimigos" (Deut. 20, 1-4). "Perseguireis os vossos inimigos, e eles cairão diante de vós. Cinco dos vossos perseguirão um cento dos estranhos, e cem dos vossos perseguirão dez mil deles; os vossos inimigos cairão ao fio da espada diante de vós" (Lev. 26, 7-8).

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No Brasil, para facilitar a aprovação dos projetos em tramitação no Congresso Nacional, que ampliam os casos legalmente permitidos de aborto, os abortistas vêm tentando embair a opinião pública, mascarando, mediante jogos de palavras, os vários métodos de extermínio dos inocentes e indefesos nascituros

I

magine-se, caro leitor, vendo na seção policial de algum jornal a seguinte notícia: "Carente de recursos

econômicos, inclusive para se alimentar, um grupo de cidadãos do sexo masculino penetrou numa agência bancária para pedir ao gerente uma doação compulsória. A intransigência de alguns guardas armados provocou a privação da vida de dois deles". Assim redigida, a notícia pode até provocar hilaridade, já que se tratam de expressões ridículas, cuja única finalidade é o escárnio de um episódio trágico: um assalto à mão armada, seguido de morte. Entretanto, manipulação lingüística semelhante vem sendo utilizada na grande imprensa pelos defensores da legalização do aborto em nosso país. Os abortistas sabem que a alma nacional é naturalmente cristã, afetiva e bondosa. Jamais o coração do brasileiro . consentiria numa matança indiscriminada de seres humanos inocentes. Por isso, o caráter imoral, discriminatório e cruel da prática abortiva é apresentado sob o véu atenuante de certas expressões e de sofismas habilmente manipulados. Vejamos alguns exemplos.

"Interrupção da gravidez" e "aborto terapêutico" "Conselho de Medicina quer legalizar aborto terapêutico. Projeto permite interromper gestação do feto com problemas irreversíveis" 1. Este é o título de uma notícia estampada num diário paulista. À primeira vista, nada de especial. Porém, com um pouco de reflexão, descobre-se a contradição flagrante dos termos empregados. Quem fala de terapia, refere-se à cura. Mas aborto significa sempre a morte do feto. "Aborto terapêutico" 2 equivale, portanto, à "cura pela morte" .

Ocorre que os abortistas precisam esconder, sob as roupagens de expressões científicas, a realidade brutal da eliminação de uma criança ainda não nascida. É por isso que, ao invés de "matar o feto", utilizam a expressão "interromperagestação", dando assim a impressão de se tratar de procedimento cirúrgico corriqueiro, mais ou menos como uma extração dentária. Os termos referem-se, ademais, apenas à condição transitória da mãe - ao período de gestação-, ignorando por completo o ser humano, autônomo e individuado, que ela traz no ventre. De que modo os abortistas "interrompem" a vida de uma criança no seio materno? Depende do estágio da gravidez.

Os métodos de extermínio Até a 10ª semana de gestação, nor-

malmente se emprega o método de sucção: um aparelho 29 vezes mais potente do que um aspirador de pó arranca violentamente o feto do claustro materno. Algumas dessas máquinas letais possuem lâminas especiais que reduzem a pedaços o nascituro antes de sugá-lo, completamente desfigurado. Quando se trata de um período adiantado de gestação, além de 16 semanas, mata-se a criança por envenenamento salino. Aplicado esse método, de imediato começam as convulsões irregulares e violentas daquele pequeno ser, que já conta com todos os sistemas orgânicos e possui até impressões digitais. O efeito corrosivo do sal queimalhe a pele delicada . Em vão tenta escapar, sacudindo-se de um lado para outro, em terríveis contorções. O suplício dura em média de uma a duas horas. A mãe pode acompanhar a

O que é "aborto terapêutico" Na med icina atual, dá-se o nome de "aborto terapêutico" ao aborto direto e voluntário, praticado com a pretensa final idade de impedir que a gravidez provoque agra• vamento numa doença de que a mãe é portadora. Por exemplo, a mãe sofre de uma doença cardíaca que seria agravada com a intercorrência de uma gravidez, a qual até poderia colocar em risco a vida da mulher. O aborto' "terapêutico" então real izado teria a finalidade, não de curar a doença da mãe, mas apenas de imped ir seu agravamento. O que se opõe ao conhecido princípio da moral de que "o fjm não justifica os meios"; pois matar o nascituro é um meio mau e não pode ser util izado para um fim bom. DEZEMBRO 1992

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Atualmente, ademais, esta alegação para a prática do aborto está superada pelos recursos científicos de que dispõe a medicina moderna, não havendo ma is casos de doenças maternas que justifiquem cientificamente a realização de tais abortos "terapêuticos" . Também, muitas vezes, dá-se o nome de "terapêutico" ao aborto que muitos chamam de "eugênico", ou seja, aquele realizado para matar e extrair um concepto que nasceria com doença ou deform idade congênita como, por exemplo, o mongolismo. Ainda é mais aberrante chamar este tipo de aborto de "terapêutico", pois em vez de se curar a doença do nascituro, o que se faz é matá- lo! É uma autêntica eutanásia ativa pré-natal.


Faixas em f àvor do aborto siio portadas durante manifestaçã,o efetuada na capital, paulista

lenta agonia do próprio filho pelos movimentos bruscos de uma defesa tão desesperada quanto inútil 3• Q uando afinal a morte chega, nem por isso cessa o drama. É preciso aguardar de 24 a 72 horas até que o cadáver da criança seja expelido, completamente escalpelado, como se tivesse sido vítima do napalm 4• Este elenco macabro oferece ainda dois outros métodos de extermínio: aborto por microcesariana, operação realizada nos últimos três meses da gravidez para retirar e matar o bebê fora do ventre materno; e injeção de prostaglandina. Este tipo de hormônio provoca o parto prematuro da criança, que então é assassinada pelo médico. Muitos cirurgiões, no entanto, se "esquecem" de tal ''procedimento", jogando no lixo bebês ainda com vida. Daí se passarem fatos como o narrado abaixo por dois jornalistas ingleses: " Um ginecologista da Harley Street, em Londres, vende fetos para uma fábrica de produtos químicos para a produção de sabão e cosméticos. Faz abortos de sete meses e, certa vez, não teve tempo de matar quatro bebês extraídos quando já formados e que, um ao lado do outro, choravam como desesperados. 'Era uma pena jogá-los no incinerador, porque eles tinham muita gordura animal que poderia ser comercializada ... "' 5.

Direito de decidir: sobre quem? No órgão do Sindicato dos Médicos de São Paulo, SJMESP, encontramos uma apologia mal concatenada do aborto, que contém desde sofismas grosseiros até blasfêmias contra Nosso Senhor Jesus Cristo. "Nenhuma mulher fa z opção p elo

aborto como se fosse a um baile. Todas pensam suas razõeS; sofrem com o medo do desconhecido. E uma decisão sofrida, consciente. Entretanto, é à mulher que cabe o direito de decidir e fazer a escolha sobre a gravidez, a maternidade, seu corpo e sua vida" 6 • É um absurdo querer identificar a "opção" pelo aborto com o direito da .mulher sobre o próprio corpo. Quando a mãe resolve abortar, não está decidindo sobre seu corpo, mas sobre a vida de um ser humano inocente: a criança em gestação. O sofisma utilizado confunde o corpo da mãe com o corpo do nascituro, absurdo este sem nenhum fundamento científico 7 • Ademais, para uma mulher grávida, ser mãe não é uma "opção", mas uma obrigação. Pelo mesmo motivo que ninguém pode optar pelos pais que têm, os pais não podem optar pelos filhos que terão. Se ser filho não é uma op,ção, assim também, nessas condições, ser mãe não o é. Discriminação odiosa Ainda no jornal do SIMESP lemos, cm outro artigo, que "a dependência êconômica e emocional [das mulheres] em relação aos homens" e uma suposta "falta de poder da mulher sobre sua própria vida" seria "o grande triunfo da sociedade patriarcal, perpetrado pela Igreja Católica. Que tormento não tem sido explicar por que Cristo nasceu

de uma mulher e não, simplesmente, veio nas asas de uma cegonha!" 8• Blasfêmias como esta são freqüentes nos lábios de quem considera a vida humana como algo de trivial, como um sopro sem finalidade e sem destino transcendente. Hitler e os médicos nazistas usavam expressões semelhantes. Só que, além do nascituro, tamb"ém consideravam "sub-humanos" os não arianos. Com a eventual legalização do aborto em nosso país, assistiríamos não mais ao pretenso "triunfo da sociedade patriarcal", mas ao aparecimento da "mater-familias" abortista, figura mais cruel e despótica do que o antigo "paterfamilias" romano. Uma e outro, com direito de vida e de morte sobre os filhos. A isto chamam" libertação da mulher"? E quem faz o papel de "escravo" nesta tragédia? A criança não nascida? As abortistas se insurgem contra a dependência econômica e emocional que dizem ter em relação aos homens. Estes lhes imporiam certos valores não aceitos por elas. Nesta espécie de luta de classes entre os sexos, as esposas sempre seriam vítimas dos maridos. Mas se a mulher abortista se diz vítima de uma discriminação insuportável, o que dizer do nascituro? Não é a mã e criminosa que impõe, de modo radical e intransigente, "seus valores" a esse pequeno ser humano, barbaramente imolado apenas por que é "indesejado"?

TFP-Covadonga lança campanha anti-aborto na Porta do Sol, centro de Madri

4-4

cotidiano

Dom,ngo, 26 de abril d~ 1992

Conselho de Medicina quer legalizar aborto terapêutico Projeto permite interromper gestação de feto com prohlemas irreversíveis

---

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ANA BONCHRISTIANO Da Reportagem Local

O Conse lho

Página 10

1 GESTAÇÕES

PROBLEt'ÁTICAS

1 1

As cbances de nascer uma criança deficiente

Vejacomoéa lei no exterior

1

Junno/Julho/92

SIMESP

Aborto legal: uma questão de democracia

O direito de decidir é o direito de viver

Tática de propaganda abortista: expressões anódinas escondem a brutal, realidade do massacre de inocentes

Não há discriminação mais odiosa do que a baseada nas fases iniciais do desenvolvimento da vida humana. Não existe lesão jurídica mais fundamental do que aquela que atenta contra inocente_s. Portanto, quaisquer que sejam os pretex tos, jamais o aborto provocado deixará de ser, objetivamente, um crime nefando. Porém, os abortistas são incansáveis. Não perdem oportunidade para bombardear a opinião pública com argumentos grosseiros, mas que podem penetrar nas mentalidades desprevenidas através de uma ardilosa manipulação lingüística. Por isso, devemos ficar vigilantes co ntra tal manipulação, que visa amortecer nosso senso moral e nossa indigna ção diante de um pecado que brada ao Céu e clama a De us por vingança ! BRÁULIO DE ARAGÃO

Notas 1. "Folha d e S. Paulo", 26-4-92. 2 . "Aborto te rapê utico". Sobre esse tipo de aborto, v ide q uadro na p .. O chamado "aborto e ugê nico", que muitas vezes é co nsid e rado co mo um tipo de "aborto te rapê utico", foi analisado em nosso artigo "Aborto e ugên ico : ressurge o nazismo?" , publicado na ed ição de jane iro de 1992 de Catolicismo. 3. É preciso salientar que, a partir do 43° dia de gestação, já se detectam ondas ce rebrais no concepto, bem como todos os re flexos de dor e de alegria de um

Estandartes da TFP norte-americana sobressaem durante marcha contra o aborto

ad ulto. Este mé todo abortivo é cons id erado o ma is atroz, porque subm e te o bebê a uma prolongada tortura antes da morte (Cfr.J ohn 1.t Noonanjr. , TheExperienceof Pain by lhe Unborn, inNew Perspectives on Human Aborlion, Aletheia Books, NewYo rk, 1981, p. 213). 4. Napalm é um produto químico de a lto poder corros ivo, utilizado em bombas na guerra do Vietnã parà desfo lh ar as matas tropica is. 5. Michael L itch ifield e Susan Kentish, Bebês paraqueima.r, Ed. Paul inas, São Pau lo, 1977 , p. 153.

CATOLICISMO

DEZEMBRO 1992

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6.

Margarida S. Barreto, A borto Legal: uma. questão de democracia, SIMESP, Junho/Julho d e 1992, p. 10. 7. A mod e rna embrio log ia mostra clarame nte esta distinção profunda e radical: não é a mãe que transforma as suas cé lu las em célu las do novo ser, mas é o nascituro que empreende, numa verdadeira exp losão de vita lidade, sua própr ia autoconstrução de acordo com um cód igo genético único e irrepetíve l. 8. Hans Halbe, O direito de decidir é o direito de viv er, SIMESP,Junho/Julho de 1992, p. 10.


INTERNACIONAL

Lei do aborto na Aleinanha: polarização religiosa A imprensa brasileira noticiou em fins de junho a aprovação de projeto de lei que liberaliza o aborto na Alemanha. Nossa mídia, porém, omitiu o amplo e acalorado debate público que precedeu a triste decisão política, conforme apresentamos a seguir a nossos leitores Frankfurt-A reunificação das duas Esse fato levou a discussão pública manobra traidora do partido conservaAlemanhas foi concluída por um acordo sobre o aborto a seu auge, transferindo-a dor dito cristão. firmado entre ambas as partes, pelo qual a para o campo religioso. A CDU foi duAs forças abortistas passaram então ex-Alemanha Oriental passava a adotar o ramcntc criticada por trair dessa maneia atacar a Igreja Católica e seus dirigensistema de governo e as leis vigentes na ra sua denominação de "cristã". O Cartes, pelo fato de terem provocado a Alemanha Ocidental.No quedizres- - - - - - - - - - - - - - - - - - ~ - ~ transferência da discussão sobre o peito à legislação, foi imposta à aborto para o campo religioso e Alemanha Ocidental a aceitação ter-se criado assim a questão de de duas "conquistas populares" ficonsciência. xadas em lei pela Alemanha comunista, como condição indisUma organização pensável para a conclusão da reuse destaca: a DVCK nificação. Tais "conquistas" Dentre todas as organizações eram: engulir as conseqüências da anti-aborto existentes na AlemaReforma Agrária feita pelos sonha, teve destacado papel no deviéticos em território alemão bate público a "Deutsche Vereinioriental em 1945, e a prática legal gung für eine Christliche Kultur do aborto nos três primeiros meDVCK e.V" (Associação Alemã ses de gestação. Estas duas leis por uma Civilização Cristã), que, continuariam válidas no território Manifestação pró-aborto na A lemanha ocidental: mulheres através de sua ação "SOS Leben" fantasiadas de bruxas carregam faixa que diz: "Caça às da ex-Alemanha comunista. (SOS Vida) empenhou-se em inbruxas 1989 - Benvindos à Idade M édia!!!" fluenciar a discussão política soO Bundestag (Câmara dos Debre a questão. Por meio do sistema de putados) foi incumbido, pelo mesmo deal de Colônia, D. Joachim Meisner, acordo de reunificação, de reformar a lei chegou a negar ao partido CDU o direito mala-direta, milhões de alemães foram do aborto até fins de 1992, para que de usar a designação de "cristão", por convidados a enviar cartões postais à então passasse a vigorar uma única lepresidente do Bundestag. Dra. Rita Süsnão respeitar o quinto mandamento da gislação para toda a Alemanha. smuth, que se apresenta como católica, Lei de Deus: "Não matarás"! Disse membro da CDU e, contraditoriamente, igualmente que a Igreja não abrirá abortista radical, e aos demais deputaConservadores traem mão da <lefesa do direito à vida das dos, pedindo que orientassem as discusA partir de dezembro de 1990, acencrianças não nascidas. No dia da votasões sobre a nova lei no sentido de gadeu-se a discussão pública sobre a legalição da lei, o mesmo Cardeal celebrou zação ou não do aborto. Seis projetos de solene pontifical na catedral de Colônia, rantir o direito à vida dos nascituros. A mencionada associação alemã dilei foram apresentados para votação no inteiramente lotada. Iniciou seu sermão rigiu também carta ao Presidente da ReBundestag, no dia 25 de junho último. com as palavras que Pio XI usara como O debate parlamentar durou nada abertura de sua famosa Encíclica : "Mit pública, solicitando-lhe que não assimenos do que 14 horas, e saiu vencedor brennender Sorge" ("Com ardente nasse a nefanda lei aprovada pelo Buno projeto apresentado conjuntamente destag. "Pilatos não é exemplo a ser preocupação"),contra o nazismo. Ao pelos Partidos Liberal e Socialista, que seguido", dizia a missiva, referindo-se lado dos pronuncimentos corajosos do legaliza o aborto na Alemanha. Como à covardia do Governador romano em Cardeal de Colônia, vários outros memestes dois partidos não dispunham de bros do Episcopado alemão levantaram Jerusalém, que diante da pressão dopopulacho, entregou à tortura e à morte a votos suficientes para garantir tal aproa voz em defesa da lei de Deus. vação, apelaram eles para deputados do Nosso Senhor Jesus Cristo, a própria O Comitê Central dos Católicos partido conservador CDU (democrata Inocência. Alemães, que representa o laica to catócristão), acabando por obter o número lico, bem como outras organizações leinecessário, com a incrível adesão de 32 gas, católicas e protestantes, também se BENO H OFSCHULTE deputados desse partido. Nosso correspondente pronunciaram com muito vigor contra a CATOLICISMO

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s primeiras sombras do ocaso já se projetavam sobre a cidade, numa tarde de agosto, quando nos reuníamos para rezar, encerrando mais um dia de campanha. Refiro-me ao vitorioso abaixo-assinado promovido pela TFP contra as reformas agrária e urbana, socialistas e confiscatórias, cujo resultado -1.133.507 assinaturas, em apenas um mês surpreendeu a quantos ingenuamente criam na popularidade de tais reformas. Nesse momento, vi aproximar-se de mim Sinfônio, um velho conhecido, a quem há muito não via, e que me segura pelo braço: - Olhe - disse com voz mansa não compreendo todo esse esforço da TFP para impedir a RA! Afinal, creio que feita com critério e moderação, algum benefício ela nos trará ... - Benefício! - exclamei eu -. Mas Sinfônio, você bem sabe que há tempo vêm sendo feitas experiências de RA no Brasil. Aponte~me um só caso em que esta tenha trazido algum benefício real e durável para os trabalhadores, e a agricultura em geral. J;> ara não falar da miserável situação em que a RA deixou a extinta URSS, e de seu fracasso retumbante em países como México, Chile, Portugal e outros. - Não ! Não se trata disso. Veja, eu acho que uma certa RA tem de haver. Admito que nas terras produtivas não se deva mexer. Mas os latifúndios improdutivos ... ! Não são eles uma injustiça? Sou contrário à concentração de terras nas mãos de poucos, enquanto a grande maioria não as tem para plantar. Esses latifundiários, que mantêm terras incultas, são verdadeiros malfeitores e devem ser desapropriados sem perdão. - Estranho tanto zelo pela produtividade de nossos campos - interrompi uma vez que a agricultura brasileira vem cumprindo galhardamente sua missão. Como você sabe, somos o primeiro produtor mundial de cacau, café, laranja e cana de açucar, e possuímos o maior rebanho bovino do mundo: 120 milhões de cabeças de gado. Mas ... já que você preza tanto nossa produtividade agrícola, vou apontar-lhe um latifundiário im-

TFP comer,wra obtenção de 1 milluio de assinaturas, nas ruas de São Paulo

produtivo gigantesco, contra o qual voltar-se-á certamente sua indignação. - É claro! Quem é ele? - interrompeu sôfrego meu interlocutor. - O Estado brasileiro - respondi-, que detém mais de 350 milhões de hectares de terras aproveitáveis para a agricultura. Meu amigo Sinfônio não conseguiu esconder seu desapontamento. Embara çado, tentou uma resposta, mas as palavras não lhe saíam dos lábios. Fingindo não perceber sua confusão, prossegui: - Você já imaginou até on~e poderia chegar o êxito da nossa agricultura, se todos os agro-reformistas se coligassem para exigir do Poder Público o aproveitamento racional, científico e urgente dessas terras devolutas? Um tanto refeito do embaraço, meu interlocutor retrucou: -E quantos anos levaria tal colonização? Pois não chame a isso RA! Durante todo esse tempo os latifundiários continuariam a gozar de seus latifúndios improdutivos? - Mas então não é o incremento da produção agrícola o que você procura, com o conseqüente ~enefício para milhares de trabalhadores rurais, que poderão desta forma vir a ser proprietários? - disse-lhe. - Sim,mas ... - Ora - interro~pi - o que você busca, na verdade, não é o bem dos trabalhadores, mas o mal para os proprietários. DEZEMBRO 1992

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- Você me insulta! - Insulto foi o que você lançou há pouco contra os proprietários. Mais do que insulto, você os caluniou, Sinfônio, acusando-os de malfeitores. E nem o quadro alvissareiro dos êxitos que a agricultura brasileira vem obtendo, no plano internaciona l, arrancou de você um movimento de simpatia para com eles. Pelo contrário, o fato de o Estado, o maior latifundiário do País, conservar improdutivas suas terras, também não lhe causou nenhuma indignação. Como, pois, não concluir que o que lhe move é desejar o mal para os proprietários e não o bem dos trabalhadores? O meu amigo, a essa altura da conversa, mal podia conter sua irritação. - Você acha justo então -vociferou - que uns tenham muito e outros pouco, ou quase nada? Você não vê que o que a RA visa é a eliminação das desigualdades sociais, através de uma mais justa distribuição das riquezas? -Ah! Afinal você confessa, Sinfônio. ARA, para vocês, não é uma questão de produção e bem estar, mas um problema de doutrina social e mesmo filosófico. Ou seja, por trás da RA, da RU e de outras reformas congêneres, está uma concepção igualitária e socialista da vida, uma pura teoria sem base na realidade, que vocês querem fazer prevalecer custe o que custar, ainda que o resultado seja a fome e a miséria. O meu amigo, ou ex-amigo, retirouse resmungando e proferindo desaforos. Eu ia já tomando. meu caminho, quando uma voz me detém. - O senhor me dá licença? Voltei-me e me deparei com uma modesta e simpática senhora, já sexagenária, que me falava um tanto desconcertada. - Tomei a liberdade de ouvir a conversa dos senhores. Desculpe-me! Mas agora compreendo por que, depois do fracasso do regime comunista, ainda há gente que se diz socialista. É porque os move o fanatismo ideológico, e não o verdadeiro bem dos pobres. Muito obrigada pelo esclarecimento! Comentarei o que ouvi com minhas amigas. Caro leitor, faça como essa senhora. Comente também.


São traços preciosos que permanecem como sugestões e esboços dos desígnios providenciais ainda por realizarse neste continente da esperança.

HISTÓRIA

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Princípio da civilização cristã nas Ainéricas A grandiosa epopéia dos portugueses e espanhóis na colonização e evangelização do nosso imenso continente

Q

uai foi a realidade qu_e enpodiam ser sacrificados mais de contraram nas praias e vinte mil prisioneiros em uma só montanhas, selvas e planícies da celebração ritual! Alguns historiaAmérica, os europeus que aqui dores relatam que, no ano de 1487, chegaram há 500 anos? Coro tirano Ahuitzotl sacrificou oirespondeu ela ao mito do "bom tenta mil vítimas humanas em uma selvagem" numa América paradisó festa, numa mesma cidade ... síaca? Também os maias ofereciam Que as coisas não eram bem constantes sacrifícios humanos assim, logo se tornou evidente. em análogos rituais religiosos. E Nem inocentes, nem sempre amáos incas, ao sul, tampouco estaveis ou pacíficos, nem tão ávidos vam isentos dessa monstruosa práem aprender eram os nativos. tica. Nas Américas, antes do Quando o rei inca era coroado, Descobrimento, encontrava-se virgens eram imoladas ao sol, e um conjunto heterogêneo de triquando estava enfermo, meninos bos nômades e semi-nômades, eram mortos em holocausto. Com avessas a qualquer organização o sangue dessas vítimas, os sacersuperior, freqüentemente guerdotes-magos untavam o rosto. E reando entre si. ao celebrarem-se as festas de coHavia algumas sociedades roação do novo rei, um grande númaiores, dirigidas por tiranias mámero de casais de meninos e megico-religiosas como a dos astecas ninas eram enterrados vivos. e a dos maias, no México, bem Em regiões de tribos nômades como a dos incas, no Peru, que Nossa Senhora de Guadalupe, Padroeira das Américas, ou semi-nômades, não havia a apareceu ern 1531, no México, rnanifestando sua possuíam cidades e mesmo rudimesma organização, mas os vícios predileçã,o maternal, para com os indígenas mentos de um Estado primitivo, eram habitualmente os mesmos e frágil e estagnado. o canibalismo generalizado com Predominavam, de norte a sul das vítimas eram jogadas de costas na pedra caçadas humanas, inclusive no Brasil. Américas, práticas de sacrifícios huma- sacrifical, agarradas por cinco sacerdoAqui, a maioria das tribos formava nos e canibalismo. tes, dois dos quais seguravam as pernas, pequenos agrupamentos que se bastaEram comuns o infanticídio, a euta- dois os braços e o quinto a cabeça vol- vam a si mesmos, viviam percorrendo o násia e outras violações da lei natural, tada para trás. Seu peito era aberto pelo território de um ponto a outro, não dealém de rituais sinistros com o uso de sacerdote-mor com uma faca, armorando, em geral, em cada lugar, mais bebidas alucinógenas, que acabavam rancavam-lhe o coração com as mãos e do que quatro ou cinco meses, e habiem desregramentos morais e idolatrias. tando choças com umas 25 "famílias" o ofereciam aos deuses. Tal situação ilustra o ensinamento diviem média. Os sacerdotes se revezavam, esgotano contido nas Sagradas Escrituras: Eis alguns aspectos fundamentais dos pela carnificina, cobertos pelo san"Omnesdiigentmmdaemonia" (SI. 95, gue que salpicava suas longas cabelei- dessa dura realidade que os eco-tribalis5) - Todos os deuses dos gentios são ras, que nunca lavavam. Os corações tas de hoje procuram passar em silêncio. demônios. eram colocados em uma bacia e os corEntre os astecas eram de rotina os pos atirados pelos degraus do templo, A evangelização dos indígenas mais nefandos sacrifícios humanos, até um pátio, onde os encarregados desA Igreja, que é Mãe, entretanto não para saciar os "deuses" com o sangue sa horrível função os retalhavam. Em recuou ante a consideração desses cridas infelizes vítimas. seguida, as diversas p0rtes eram envia- mes, nem abandonou horrorizada estas Os historiadores contam que, diante das aos banquetes da antropofagia: as terras. Tampouco as nações católicas dos templos piramidais, milhares de pri- melhores partes destinadas às mesas da colonizadoras deixaram seus empreensioneiros aguardavam em fila a hora da dimentos, nos quais se incluía o desejo corte e o restante para os guerreiros. morte. Levadas ao alto das pirâmides, as missionário. Na inauguração de um novo templo,

A "tsantsa": cabeça humana reduzida, costume pagão praticado pela tribo Shuar, no Equador Afastadas as trevas opressivas do paganismo, os infelizes indígenas conheceram o verdadeiro sol de justiça, que é Nosso Senhor Jesus Cristo, e aprenderam a amar a intercessão bondosa de sua Mãe Santíssima, a Virgem Maria. Abriram-se então para eles as sendas da civilização cristã, quebrando-se o domínio tirânico da barbárie que os subjugava, e rompendo o i"nfluxo tenebroso dos sacerdotesmagos e dos pajés. Grupos e povos indígenas inteiros aliaram-se aos europeus na conquista e civilização das Américas. A preeminência selvagem dos chefes e caciques nativos transformou-se em uma autoridade humanizada e cristã. Por todas as partes nasceram os aldeamentos de índios católicos. Os indígenas de todas as Américas aprenderam a escrever suas próprias línguas e a ler nelás o catecismo e a doutrina católica. Índios foram aculturados nas vias da civilização cristã e protegidos pela~ leis das monarquias católicas, quedesciam a impressionantes pormenores para defendê-los dos abusos que viessem a ocorrer. Deu-se grande miscigenação. A excepcional intuição indígena, sua compreensão privilegiada do maravilhoso religioso, sua capacidade de expressão cheia de sensibilidade, ficaram impressas em obras-primas do barroco americano e marcaram de modo peculiar o espírito dos povos da ÍberoAmérica.

São Luís Beltran ou nosso Beato José.de Anchieta. Na luso e hispano América apareceram Vice-reinados, Governos Gerais, tribunais, constituindo uma imensa rede político-administrativa com os cabildos espanhóis e os passos municipais portugueses. Multiplicaram-se sem fim vilas e povoados, nos quais floresciam o artesanato, o comércio, a agricultura e a criação de gado. Não é, pois, de se estranhar que Leão XIII, ao cumprir-se o IV Centenário do Descobrimento da América, considerasse, em sua Encíclica comemorativa "Quarto Abeunte Seculo" (Transcorrido o Quarto Século), este feito como sendo parte dos desígnios de Deus, e exclamasse que se tratava "da façanha mais grandiosa que hajam podido ver os tempos".

A Cristandade de ultramar A História registra igualmente o desvelo dos reis pelos indígenas, seus novos e débeis vassalos. São cartas aos descobridores, aos colonizadores, são legislações que ainda hoje surpreendem pelo sentido missionário e pelo esforço de adequação às realidades na defesa dos nativos americanos. Nesta magna obra que unia o altar e o trono, atravessaram o oceano nas caravelas portuguesas e espanholas mais de 16 mil heróicos missionários, para embrenhar-se pelas selvas e montanhas da América. Dedicaram suas vidas a esta epopéia descobridores, conquistadores, oficiais e soldados, fundadores de povos e cidaCARLOS SODRÉ lANNA des, prelados, evangelizadores, civilizadores e colonizadores. Nasceu uma nobreza americana, Bibliografia tendo sido mesmo reconhecida, em cer1. José Antonio Arze y Arze, Sociografía dei tos casos, uma nobreza indígena, cujos Jnkario, Librería Editorial ''.Juventud", La membros não raro contraíam matrimôPaz, Bolívia, 1989. nio com representantes das nobrezas 2. Salvador de Madariaga,Hemán Cortes, portuguesa e espanhola. Instituição Brasi leira de Difusão da Derramaram seu sangue, martirizaCultura S.A. - !BRASA, São Paulo, 1961. 3. Gabrie l Guarda.O.S.B, Los laicos en la dos, religiosos e leigos, inclusive índios cristianizaâ6n de América, Ediciones convertidos. Vários desses combatentes Universidad Católica de Chile, Santiago, de Cristo a Igreja elevou aos altares, 1987 . como os mártires São Roque González, Santo Afonso Rodriguez e ~ - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - , São João dei Castillo. Iluminaram os séculos, com sua santidade, potentados espirituais como São Toríbio de Mogrovejo, patrono do Episcopado americano; Frei Martin de Porres, o santo mulato; grandes figuras .da mística como Santa Rosa de Lima e Santa Mariana de Quito; os beatos Juan Massias, no Peru, ou Gregório Lopes, no México, e a Bemaventura d a Marie de l'Encarnatfon, no Canadá; apóstolos como São Francis.\ co Solano, São Pedr~ Claver,

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Indígenas rezando ao pé da cruz, na implantação da Religião Católica na América do Sul Desenho do séc. XVIII, Chile

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Hoinenagein de TFP-Covadonga à Rainha Isabel, a Católica Causou viva impressão a presença no cortejo de vários cavaleiros montados, vestidos com o traje de gala da TFP espanhola: à altura do peito, uma grande Cruz de Santiago, evocando o tempo

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RANADA, Espanha - Por ocasião do V Centenário do Descobrimento da América, a 12 de outubro último, a Sociedade Espanhola de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP-Covadonga) - juntamente com representantes de suas congêneres, coirmãs e autônomas, existentes em 18 países - promoveu uma das mais solenes e impressionantes homenagens à Rainha Isabel, a Católica, a grande protetora do navegador Cristóvão Colombo. Aspecto parcial do cortejo, que percorreu as ruas centrais de Granada

Cavaleiros, envergando trajes de gala, encabeçam o desfile

Tal iniciativa teve também o caráter de protesto e desagravo em relação às detrações de que vem sendo vítima, em nossa época, a obra evangelizadora impulsionada pela grande soberana na América espanhola. Na Praça do Triunfo, junto ao histórico monumento à Imaculada Conceição, teve início o cortejo - ao qual se associaram pessoas do público - conduzindo coroas de flores com dizeres de homenagem e gratidão à Rainha Isabel. Provinham elas de TFPs e entidades afins dos seguintes países: Espanha, Brasil, Portugal, França, Argentina, Bolívia, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba (exilados), Equador, Estados Unidos, Filipinas, Irlanda, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela.

das Cruzadas, das Ordens de Cavalaria e da Reconquista Espanhola. A fanfarra de TFP-Covadonga, já bastante conhecida do público espanhol, pela primeira vez saiu às ruas com seus membros também revestidos desse traje de gala. Postado nas calçadas, grande número de populares, assistiu com agrado e simpatia o desfile. Em consonância com o público, e levando em conta o caráter solene e ordeiro da manifestação, os policiais encarregados do trânsito facilitaram ao máximo o deslocamento triunfal do cortejo. Durante o percurso, numa praça onde figura bela estátua da Rainha Isabel, os

manifestantes bradaram slogans e rezaram na intenção de sua canonização. Ao chegar à Catedral de Granada, em cuja capela anexa se encontram sepultados os Reis Católicos, as delegações das TFPs foram recebidas oficialmente pelo Revmo. Cônego José Vico Ortega. Ali, sobre os túmulos desses monarcas, foram colocadas as coroas de flores, enquanto o coro de TFP-Covadonga entoava hinos gregorianos. Nessa oportunidade, usou da palavra o Sr. José Francisco Hemandez, presidente da entidade, o qual assim expressou os sentimentos dos participantes do cortejo: "Majestade Católica, representando o Prof. Plini.o Corrêa de Oliveira, Presidente do ConselhoNaci.onal da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, F amília e Propriedade e inspirador das TFPs no mundo inteiro, viemos aos pés de vosso sepulcro, Senhora, para rendermos nossa homenagem mais entusiasta e agradecida; nosso protesto indignado pela onda de calúnias que contra vossa

Na Capela anexa à Catedral, coroas de flores das diversas TFPs siilJ depositadas sobre a tumba dos Reis Católicos

Homenagem diante da esláJ.ua da Rainha Isabel, a Católica

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memória se desatam". Em Granada, na mesma tarde, os cavaleiros da Tradição, Família e Propriedade dirigiram-se ao famosíssimo Alhambra, para ali prestar mais uma homenagem à Rainha Isabel. Pois foi em 1492, nesse antigo palácio, que o rei muçulmano Boabdil se rendeu às tropas dos Reis Católicos, marcando assim o fim da indesejada presença do Islã na Península Ibérica.

Não são anglos, mas anjos SÃO GREGÓRIO MAGNO, PAPA E ITALIANO, SOBRE OS INGLESES

Há quem tenha explicado a ação dos

portugueses no Oriente como simples corrida atrás do lucro. Foi muito mais do que isso. Foi a última Cruzada ELAINE SANCEAU, HISTORIADORA INGLESA

Eis aqui se descobre a nobre Espanha, Como cabeça ali de Europa toda, Em cujo senhorio e glória estranha Muitas voltas tem dado a fatal roda LUIZ VAZ DE CAMÕES, VATE PORTUGUÊS

Cristandade! Palavra cheia de doçura, cheia de beleza simbólica, que soa como uma música; era a grande família das nações cristãs sob a autoridade espiritual do Papa e debaixo de uma tal ou qual supremacia, majestosa, serena e paterna dos Imperadores do Sacro Império Romano Alemão! PUNIO CORRÊA DE OLIVEIRA

Na estrutura e no clima moral de uma Europa maastrichiana, as tradições se estiolariam e, por sua vez, a família e a propriedade entrariam em agonia TFP FRANCESA, MANIFESTO A RESPEITO DA RATIFICAÇÃO DO TRATADO DE MAASTRICH

1942-1992. Há meio século, Plinio Corrêa d e Oliveira,jovem líder católico com 33 anos de idade, exaltava diante d a imensa multidão que lotava o vale do Anhan gabaú, em São Paulo, a missão p rovidencial do Brasil. Denunciava os males então incipientes e que hoj e nos aflige I indicava o caminho a seguir. Assim foi em 1942, como o é em 1992: cinqüenta anos d e fidelidad e à Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana e nobre empenho em fortalecer os princípios da civilização cristã em nossa Pátria.



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