Estruturas de Mercado: O Oligopólio

No campo económico é possível detetar, por vezes,comportamentos-padrão. Sabemos, por exemplo, que o desejo dos comerciantes é maximizar o seu lucro e, do outro lado da relação económica, os consumidores estão constantemente à procura dos preços mais baixos. A partir daqui surgem as estruturas de mercado, o tema que abordamos neste segundo dossier.

Uma das estruturas de mercado, aquando de concorrência imperfeita, é o Oligopólio. Já devem estar familiarizados com o conceito de monopólio (“apenas um para vender”) e, diferindo deste, o Oligopólio consiste na situação de mercado em que existem “poucos para vender”. Isto significa que existem poucos produtores e apenas alguns vendedores, oferecendo cada um produtos/serviços muito semelhantes.

Se existirem apenas um número muito reduzido de empresas a distribuir um certo tipo de produto/serviço é natural que vá existir uma tentativa de cooperação entre as mesmas. Neste mercado, as empresas são tão coligadas que quando uma baixa ou aumenta o preço, as outras fazem o mesmo, com o objetivo de equilíbrio entre elas. Apesar disso, o interesse próprio acaba por prevalecer,de modo a obter uma maximização dos lucros.

Características do Oligopólio

  • Um mercado composto por poucas empresas, normalmente apenas duas ou três;
  • Estruturado em concorrência imperfeita (entre monopólio e concorrência perfeita);
  • Existe uma interdependência entre as empresas, que dominam o mercado por possuírem uma produção eficiente e de custos controlados;
  • A procura pelo produto ou serviço é concentrado nas mesmas empresas.
  • Pode existir num cenário ainda competitivo, como também por cooperação das empresas, formando assim cartéis.

Tipos e formas de Oligopólios

Oligopólio Puro existe quando o produto oferecido é homogéneo, como é o caso do alumínio ou do cimento, por exemplo.

Oligopólio Diferenciado é característico de produtos que se podem diferenciar,inclusive na qualidade, como é o caso da indústria automobilística, por exemplo. A diferenciação de produtos serve para que a concorrência possa existir e representa um grande incentivo à inovação, à investigação e provoca a necessidade de publicidade.

De que forma é que os consumidores podem ser afetados?

Como temos um cenário de concorrência imperfeita, ou seja, temos uma ou poucas empresas como poder de produção, estas podem aumentar o preço dos produtos/serviços ou diminuir o total da sua produção, lucrando indevidamente com isso. Apesar de não existir uma empresa a dominar o mercado, estas continuam a ter poder sobre os preços no mercado.

No entanto, a concorrência entre as empresas que fazem parte do Oligopólio pode ser benéfica para os consumidores, já que os preços se mantêm reduzidos e o produto é oferecido em maior quantidade.

Exemplo do Duopólio

Se existirem apenas duas empresas a distribuir um certo produto/serviço, existem formas destas maximizarem o seu lucro sem se prejudicarem mutuamente. Podemos considerar uma situação de monopólio em que existe um certo preço e uma certa quantidade oferecida que permitem à única empresa no mercado obter o maior lucro possível. Quando duas empresas dominam o mercado estas vão, em conjunto, produzir mais do que aquilo que aconteceria se apenas uma dominasse. Isto resulta numa redução de lucros. Se ambos os produtores tomassem decisões segundo o seu interesse individual, produzir-se-ia mais do que no monopólio, o preço seria mais baixo, e o lucro, por sua vez, também seria menor.

Se um de dois produtores decidir aumentar a quantidade produzida, o preço e o lucro iriam baixar. Conclui-se então que acaba por existir uma quantidade de equilíbrio que ambos vão produzir. Como um produz x, o outro opta pela estratégia de produzir exatamente a mesma quantidade.

Solução de equilíbrio de Nash: os agentes económicos interagindo entre si, cada um deles, escolhe a melhor estratégia para si tendo como base a decisão tomada pelos outros.

Neste caso, a cooperação seria a melhor opção para ambas as empresas, de modo a obterem os lucros de monopólio. Mas como o interesse próprio prevalece, as empresas produzem mais, o que resulta num preço mais baixo do que o monopólio. Apesar disso, também produzem menos e a um preço mais elevado do que o que aconteceria numa situação de concorrência perfeita. Concluindo, a cooperação desejada é difícil de obter.

Teoria dos Jogos

A teoria dos jogos define a estratégia de comportamento que uma empresa segue num Oligopólio.

Como exemplo utiliza-se o Dilema do Prisioneiro:

Pela imagem percebemos que se ambas as pessoas tivessem a oportunidade de fazer um acordo prévio optariam por não confessar, ficando com uma pena mais reduzida. Esta opção de cooperação iria melhorar a condição de ambas, sem que nenhuma saísse prejudicada. Só que na realidade as pessoas têm em conta o seu interesse pessoal e, desse modo, confessam, esperando que a outra não confesse. O que acaba por acontecer quando confessam é que ambas saem prejudicadas e com um pior resultado. A melhor estratégia a tomar por uma empresa, a estratégia dominante, é aquela que é independente das decisões tomadas pelo opositor.

A cooperação é difícil de manter, porque não corresponde ao melhor interesse do jogador individual. Também não é a situação mais desejada pelos consumidores, uma vez que, a quantidade produzida seria menor e com preços mais elevados.

Formação de cartéis

No caso em que as empresas optem pela cooperação dá-se a formação de cartéis. Através da cooperação entre empresas de um Oligopólio, é possível que cada uma exerça preços mais elevados com um nível de produção reduzido. A formação de cartéis baixa a eficiência do mercado, fazendo com que os consumidores paguem mais por produtos essenciais. Posto isto, as empresas não competem no mercado e comportam-se como se de um monopólio se tratasse.

A respeito do cartel, o artigo 4º da nova Lei da Concorrência (Lei 18/2003) estabelece o princípio geral da proibição da cartelização entre empresas:

São proibidos os acordos entre empresas, as decisões de associações de empresas e as práticas concertadas entre empresas,qualquer que seja a forma que revistam, que tenham por objeto ou como efeito impedir, falsear ou restringir de forma sensível a concorrência no todo ou em parte do mercado nacional”.

Outras formas de Oligopólio

Além dos cartéis, existem outras formas das empresas se relacionarem, sempre com o objetivo do lucro máximo.

Truste

O truste surge quando algumas empresas perdem poder individual, e realizam uma fusão que resulta numa única empresa. Em casos extremos, pode tornar-se num caso de monopólio para a economia.

Holding

Um holding é quando uma empresa maior controla outras empresas subsidiárias, que oferecem o mesmo produto no mercado, com o objetivo de serem um grupo empresarial de atividades mistas.

Conglomerado (grupo empresarial)

Um grupo empresarial é formado a partir de uma empresa holding, que se expande por participar em diferentes mercados, aumentando o poder de capital do grupo.

Exemplos de Oligopólios em Portugal

A competição entre RTP, SIC e TVI é um bom exemplo de um Oligopólio em Portugal. As decisões das diferentes empresas são feitas em função dos gostos dos telespectadores e das escolhas das outras cadeias. O papel da interação estratégica é claro quando olhamos para as respetivas programações.

Outro exemplo bem atual são as empresas de telecomunicações. Em Portugal existem três operadoras donas do mercado MEO, Vodafone NOS. Não existe muita união entre elas, mas uma acaba por definir o preço de acordo coma expectativa de preço da outra concorrente. Neste caso, o Oligopólio é facilmente sentido pelos consumidores, pois o serviço prestado apresenta custo elevados, o que resulta numa menor concorrência entre as empresas. Apesar das tentativas de diferenciação, estas não são suficientes, porque as inovações são rapidamente copiadas pelas outras empresas do Oligopólio.

Sobre esta matéria recomendamos dois artigos, um do Dinheiro Vivo e outro do Jornal Económico.

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