Fábricas e DMZ – a fronteira desmilitarizada entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul

Viajamos em três grupos. O grupo que foi para ficar apenas cinco dias, como ia embora, resolveu convidar a galera para poder fazer uma saída. Sair é forma de dizer né? Porque, na verdade, como disse, não tínhamos autorização para sair do hotel. Tomamos primeiro em um bar e depois descemos para um Karaokê que, adivinhe, ficava também no hotel. Ficamos lá cantando e rindo quando me toquei que, só um minuto, eles estavam viajando pela manhã, mas eu teria programa para o outro dia pela manhã e já eram rodados duas da manhã. Eu teria que acordar no outro dia as sete, eles não. Engraçado que o David não quis nem saber, ficou por lá mesmo e foi dormir quatro horas da manhã. Esse gosta.

No outro dia, continuando nossa viagem no maravilhoso mundo mágico de Kim Il Sung e seu sistema perfeito. Era necessário, lógico, visitar uma fábrica de maçãs. Porque toda potência que se preze tem uma fábrica de maçãs. Ao chegarmos já ficamos impressionados com o tanto de soldados armados meio que “patrulhando” a fazenda de maçãs. A fazenda de maçãs é completamente vigiada por policiais. É lógico, em um país que passa fome, comida passa a ser um importante recurso estratégico e pessoas desesperadas podem tentar roubar frutas. Depois de uma breve demonstração de toda a fazenda, continuamos a conhecer a fábrica de alimentos processados de maçã.

Não podiam faltar placas motivadoras vangloriando algum dos Kims, lógico

É engraçado que apesar de termos ido em uma “fabrica”, tudo lá brilhava bastante. Nada de graxa ou peças pelos cantos, mas parecia uma casa de boneca. Havia centenas de maquinas, mas sempre um ou outro cara operando. Parecia MUITO um parque temático, aqueles da Disney onde você vai e vê o Pateta ou o Donald sorrindo e lustrando sua casa.

Fábrica, literalmente, brilhando

Depois da fábrica de maçãs fomos também para uma fazenda de tartarugas, sapos e outros seres, que, apesar de asquerosos para gente, são base da cadeia alimentar coreana. Lógico que um de nós logo se empolgou para poder comprar uma tartaruga para provar como seria a carne da bichinha.Além da fábrica de maçãs, de seres asquerosos, também fomos a uma fazenda “modelo”. Um grande parque fazendário baseado nas grandes ideias do grande líder. Vimos alguns campos verdes ao fundo e, lógico, mais e mais propaganda do regime.

No meio de uma visita a uma das fazendas, nos foi proporcionado a possibilidade de visitar uma “casa modelo” de um camponês norte-coreano. Lógico que a casa era toda decorada e repleta de eletrodomésticos, ainda que parecendo da década de 70. Era mais ou menos como a casa do Mickey, lógico que eu tinha que tirar uma foto no sofá..

Sempre que íamos a algum restaurante ou algo assim, alguém do nosso grupo dava uma gorjeta para o garçom ou garçonete, que geralmente era um maço de cigarros (qualquer semelhança com uma prisão é mera coincidência…). Bem, dar maço de cigarro como gorjeta para criança de “casa-modelo” parece ser um pouco demais..
No meio do passeio era gente fazer um piquenique. Com a chuva, só nos restou comer dentro do ônibus mesmo

ERA CHEGADA A HORA ESPERADA: VISITAR A DMZ!

Como já expliquei anteriormente, a DMZ é a zona desmilitarizada mais vigiada do planeta. Tão vigiada que… é um dos principais pontos turísticos tanto da Coréia do Norte como da Coréia do Sul. É aquele típico ponto turístico sádico que você gosta de ir só para saber “como é que eles se ferram”.
Seguimos para a fronteira e antes de chegarmos na DMZ, o guia já começou com as informações. Lógico, os EUA, como sempre, são o problema. Eles separaram as Coréias, eles não querem que elas se desenvolvam, eles são o capeta de chifre. Foram eles que trouxeram as armas nucleares para a península e por isso a Coréia do Norte teve que se nuclearizar.
Se bem que, olhando por um lado, este não está muito longe da verdade. Antes de chegarmos na DMZ, o guia já foi falando que seria fácil saber quem queria paz e quem queria guerra, sem explicar, lógico de que lado ele estava falando que queria paz. Mas se fosse a Coréia do Norte, ficava difícil de engolir.

Lógico, uma das principais atrações turisticas da DMZ são os soldadinhos e suas gravatas na altura do peito. Todo mundo quer bater foto com eles. Esse cara deve bater tanta foto por dia que dá para ver a sua cara de felicidade servindo de modelo fotográfico.
Eu, lógico, não ia perder a oportunidade de bater minha foto também. Dá para ver que a pose do soldado é bem original, brinque de jogo de sete erros com a foto de baixo.

Ele explicou que a Coréia do Norte tem como plano e meta se unificar com a Coréia do Sul, afinal, eles dois são países irmãos e não há porque eles ficarem separados. Porém, a Coréia do Norte defende que haja uma reunificação sem interferências externas, baseada apenas no interesse das duas Coréias. Lógico que qualquer iniciativa da Coréia do Sul que não os agrade, eles logo alegam que os EUA estão por detrás e se retiram da mesa de negociações.
Eles podem até demonizar os Estados Unidos, mas é possível ver símbolos americanos, ainda que discretos, na Coréia do Norte. Acima, acento de Snoopy do motorista do ônibus e abaixo a Bela e a Fera sendo transmitidos na TV do restaurante…

Já pela parte da Coréia do Sul, ainda há uma vontade de tentar uma reunificação com a Coréia do Norte, o problema é que esse apoio vem decaindo anos após ano. As gerações anteriores da Coréia do Sul tinham grande interesse nessa reunificação porque tinham parentes, as vezes irmãos ou filhos, que ficaram aprisionados na parte norte da península. O problema é que essas pessoas vão envelhecendo e esses laços entre as duas Coréias vão se desfazendo. Imagine se seu avô tivesse um irmão aprisionado em algum lugar, ele teria muito interesse em tentar soltá-lo, o mesmo eu não diria de você ou de um filho seu, pois, no limite, como você não o conhece, essa pessoa acaba ficando vagamente apenas como o “irmão do seu avô”.

Bandeira Norte Coreana de um lado
Bandeira Sul Coreana do outro

Além disso sempre se discute o preço pela reunificação das duas Coréias. Sim, porque, cara, imagina, nós estamos falando de um dos países mais ricos do mundo se unificando com um dos países mais pobres do mundo. É lógico que uma reunificação invariavelmente levará a uma massa gigantesca de refugiados mal alimentados e mal instruídos, que pode basicamente colapsar a economia sul-coreana. Uma invasão de maltrapilhos famintos e levando miséria a umas das economias mais dinâmicas do planeta. Por isso que, para evitar que isso ocorra, para reunificar as Coréias, a Coréia do Sul teria que inundar a do Norte com investimentos e ainda assim receber uma leva de refugiados em suas cidades.

Ainda há um trem ligando as duas Coréias e também estradas, mas estão fechadas e vez ou outra são reabertas levando ao encontro de algumas famílias para simbolizar que as negociações estão em andamento.
Algo que é interessante e engraçado de se notar. Reparem que no ônibus branco, o volante encontra-se na direita (padrão inglês) e no verde encontra-se na esquerda (padrão utilizado aqui no Brasil). Como pode-se ver, eles não seguem um padrão específico, o que eu acredito que deva ser porque em um país com tão poucos carros, o trânsito não deve ser tão difícil de se controlar.
Todo mundo em fila. Ai de quem sair correndo na DMZ

Nós,lógico, como chegamos lá procurando encrenca, começamos a confabular o que seria bem engraçado de se fazer. Lógico que tivemos a ideia de todo mundo ir com aquelas roupas de oficiais e quando chegássemos na fronteira, sair correndo e gritando “estou livre” para tentar cruzar a fronteira. Abdicamos do plano quando levamos em consideração que isso poderia levar a fuzilamento sumário.

Um dado interessante é que como a Coréia do Norte é um país essencialmente montanhoso, tendo dois metros de área plana, eles já começam a plantar o que for. Não poderia ser diferente na DMZ. No lado norte coreano ha plantações, porém no sul não.
Esta placa tem 9,4 metros de comprimento para lembrar que nela está gravada a assinatura do presidente quando ele visitou a DMZ no ano de 1994. Eu adoro quando colocam esses simbolismos nas coisas…
Lógico que havia um oficial nos acompanhando na visita a DMZ. Era para nos ajudar com qualquer problema, não para nos vigiar, lógico…

Ele me falou que isso ocorre porque o a Coréia do Sul e os EUA querem invadir de qualquer forma a Coréia do Norte e por isso não querem plantações atrapalhando no caminho. Ele esqueceu de citar que um país que produz semicondutores, chips, navios, carros e produtos de tecnologia de ponta como a Coréia do Sul, LÓGICO que não precisa se preocupar em plantar, pode simplesmente comprar no mercado internacional. E esqueceu de citar também que a Coréia do Norte precisa plantar em toda e qualquer terra que tem por ser montanhosa e extremamente ineficiente, com uma produção de alimento por hectare ridículo.Você deve imaginar porque, mas lógico que eu fui perguntar ao guia.

Plantações em uma das fronteiras mais tensas do planeta
Por isso eles plantam ate na DMZ. É engraçado você ver aqueles soldados com rifles e metralhadoras gigantescas e do lado dele um tiozinho de chapéu, com uma foice na mão, plantando da mesma forma que mil anos atrás. Sem dúvida uma imagem perfeita da máquina do tempo em que entramos quando passamos pela imigração da Coréia do Norte.
Estradas que um dia ligaram Pyongyang a Seul. As estradas mais cuidadas da Coréia do Norte hoje, só esperando o dia em que serão utilizadas para invadir Seul
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3 comentários em “Fábricas e DMZ – a fronteira desmilitarizada entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul

  1. Claudiomar, sou seu fã! Continue postando sobre viagens, muita gente se inspira com seu exemplo. Transforma em um livro depois!

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  2. Claudiomar, eu sou o neto do genro do King Jon-Fu… Semana que vem estarei em brasília pra te levar à Coreia do Norte para se explicar por não estar falando como a Coreia do Norte é mais forte e mais rica que a Coreia do Sul…

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