A Capacidade Crítica e a Resolução de Problemas como competências essenciais no mundo de hoje

A Capacidade Crítica e a Resolução de Problemas como competências essenciais no mundo de hoje


Falei no post anterior sobre resiliência, competência essencial nos perfis que os Presidentes nos solicitam quando descrevem o executivo solicitado.

Outra competência que as empresas também definem como extremamente relevante é a capacidade crítica e a resolução de problemas.

Conceitualmente, todos têm capacidade crítica. Todos podem concordar ou discordar de uma ideia.

Mas você já viu pessoas que discordam e ficam quietas? Já viu pessoas que parecem que estão “em transe” e não questionam o que lhes foi dito? Ou pessoas que não se importam com o que está acontecendo à sua volta?

Nos dias de hoje, bombardeados com informações de todos os lados, com fake news a cada momento, precisamos estar atentos ao que ouvimos. Ter um pensamento crítico é um exercício demorado e inclui questionar pessoas sobre seu embasamento para realizar afirmativas e/ou assumir determinadas posturas. 

O executivo precisa ter 3 atitudes básicas para exercer sua capacidade crítica:

Para sermos críticos, precisamos ser um pouco céticos, a fim de fazer nossa própria análise de tudo o que nos chega. Ceticismo faz parte da postura dos executivos com capacidade crítica. É mais uma conduta permanente do que uma ação.

A capacidade de observação também é mais um comportamento, uma forma de encarar a vida: como a mensagem está sendo passada? Por quem é passada? Em que contexto? Ela está embasada em dados consistentes? Pode ser uma invenção? Ela é uma análise precipitada? A informação é uma distorção da verdade? Todas essas informações devem estar constantemente no radar do executivo que procura entender quais objetivos podem estar sendo focados quando as mensagens estão sendo passada.

A curiosidade também é uma postura das pessoas com capacidade crítica: Estão sempre querendo se aprofundar mais, saber mais, fazer perguntas, não aceitar passivamente as explicações se acreditarem que estas não esclareceram o suficiente.

Se automatizarmos o pensamento, se não exercitarmos estas 3 atitudes, estaremos criando uma barreira para exercer nosso pensamento crítico.

Assim, para pensar de forma clara e estruturada, um executivo tem que exercitar uma escuta atenta (“active listening”). A partir da decodificação do que escutamos, da compreensão do conteúdo do que nos foi dito ou da mensagem passada, podemos começar a analisar argumentos, ideias, entender se há uma firmeza lógica, se a argumentação está bem estruturada e até mesmo se os valores são os mesmos que nos norteiam.

Só então podemos começar a fazer perguntas produtivas para esclarecer nossas dúvidas, complementar as informações que temos, compreender os argumentos, fazer conexões e ilações que nos permitam chegar a conclusões sobre o que ouvimos. A partir de um pensamento analítico, o executivo deve questionar hipóteses, conjecturas, teorias, princípios, enfim, pressupostos que foram assumidos quando foi exposto um problema ou um ponto de vista para que se tenha visão mais ampla da situação que permita a este gestor chegar a melhor conclusão. Ele vai elaborar, assim, o que chamamos de raciocínio lógico.

Outras vezes, estaremos inserindo no problema valores pessoais, o que torna uma discussão muito mais complexa. Ter opiniões próprias, visão crítica, inclui questionar valores pessoais. Sempre da forma adequada, embasado em premissas e conceitos, sem agressões, o que normalmente levam a discussões mais profundas.

O executivo não pode fazer nunca destes conflitos uma disputa pessoal. Não se trata de ganhar ou perder uma discussão. Ele deve ser objetivo e se restringir a dados e fatos, reunir a maior quantidade de pontos de vista diferentes que puder. A capacidade crítica permite aos profissionais chegar à melhor conclusão do que a empresa precisa para lidar com uma situação objetiva ou com o clima organizacional da empresa.

Isto é o que permitirá aos executivos desenvolver a habilidade de resolver problemas. Ao analisar dados, fatos, justificativas para determinados raciocínios, possíveis consequências para determinadas ações, estes gestores exercem sua capacidade crítica e ao mesmo tempo geram possibilidades para resolução de problemas.

Quando os gestores têm a informação correta, válida, completa, eles são capazes de questionar, filtrar, incorporar, consolidar e decidir.

Além de tudo, um executivo com a habilidade de pensamento crítico, exercita a análise das causas de um determinado problema, buscando não só a resolução deste como fazendo simulações de intervenções que projetam alternativas de solução viáveis para dar resultados melhores a outros problemas semelhantes.

Isto inclui criatividade para manter a mente aberta e identificar possíveis alternativas de solução para a situação momentânea e mesmo outras semelhantes e médio e longo prazo.

Neste sentido, é importante que o executivo esteja aberto a rever conceitos seus que estejam arraigados e que podem estar interferindo na sua análise de uma determinada situação. Por exemplo, negativismo, da mesma maneira que o otimismo, sem critério ou o uso de rótulos pode prejudicar muito nossa visão crítica. A atitude de humildade é essencial na capacidade crítica para que a sua opinião não se transforme numa verdade absoluta e que a capacidade de diálogo permita sempre fazer reflexões e com isso, rever modelos internos arraigados, podendo desta forma ampliar visões, ser uma pessoa de mente mais aberta e mais justa.

Com esta capacidade, o executivo consegue pensar de forma clara e estruturada, consegue formular perguntas certas, reconhecer problemas e buscar alternativas de soluções até então não identificadas.

O executivo que tem um pensamento crítico deve estar preparado para, de alguma maneira, intervir no “status quo”, no jeito que as coisas são e acontecem.

Questionar práticas estabelecidas há muito tempo ou métodos tradicionais nunca foi um problema para executivos com capacidade crítica. Não fosse assim, não teríamos criado o Uber, o Airbnb, tantos aplicativos de entrega e tantos outros modelos disruptivos que tivemos nos últimos tempos. Pensar de forma diferente, questionar modelos, criar soluções “fora da caixa” foi sempre o que moveu nossa sociedade.

São profissionais assim que mudam a forma como enxergamos o mundo. Pessoas que questionam sempre, com capacidade crítica, “open-minded”, humildes para refletir sobre seus próprios erros, criativos, sonhadores, que não se abstém de se posicionar quando necessário e de tomar as ações necessárias para corrigir o rumo do rio, sempre que possível.

Você já ouviu a história sobre a Roupa Nova do Rei? Era uma vez um reinado onde o rei gostava de desfilar a cada mês com uma roupa nova para seus súditos. O alfaiate já não sabia mais que tecido trazer para satisfazer os desejos de seu rei. Então, ele fingiu que trouxe um tecido novo, e veio de “mãos abanando” dizendo que havia trazido um tecido que só os inteligentes podiam enxergar. O rei fingiu adorar o tecido e o alfaiate bordou uma “roupa linda”. No domingo seguinte, o rei desfilou para seus súditos com a “roupa nova” e ninguém se atreveu a dizer-lhe a verdade. Só um menino, que de repente gritou:

- “Mas o rei está nu!”. E a multidão se deu conta de que não conseguia ver a roupa nova do rei não porque não era inteligente, mas simplesmente porque todos tinham aceitado aquela verdade como absoluta.

Por que vamos perdendo esta capacidade de dizer certas verdades mesmo que elas incomodem?


Reflexões:

  • Descreva uma situação em que você teve que exercer sua capacidade crítica e discordar do seu chefe ou dos seus amigos?
  • Como você o fez?
  • Aprendeu alguma coisa com esta experiência?
  • O que faria diferente na próxima oportunidade?
  • Como você demonstraria sua capacidade crítica de forma construtiva numa entrevista?
Carlos Morato

Consultor de Compliance, Riscos Operacionais, PLDFT, Anti Corrupção e Processos Organizacionais

4 a

Parabéns Eline, tudo o que colocou, foi de maneira clara e verdadeira, na vida profissional precisamos de muita clareza para enxergarmos o que precisa ser melhorado, todas as atitudes que você descreveu, ao meu ver também, fazem parte do perfil do profissional dos novos tempos, aquele não tem receio de melhorar o que acontece a sua volta. Mas deve ter todos os cuidados , e saber o momento certo para sugerir suas melhorias, ter argumentos precisos e validamente comprovados, para que assim suas idéias possam ser concretizadas, ou seja se for para melhor , que mal tem? Parabéns

Ivana Mendes

Consultora em Desenvolvimento Organizacional | Transição de Carreira| Outplacement | Aposentadoria| Coaching| Assessment

4 a

Parabéns Eline!! Como sempre você apresenta suas ideias de forma clara e consistente, estimulando as pessoas a refletirem. Grande beijo

Tânia Valle de Melo

Sales Manager - LATAM | MBA em Data Science & Analytics - Já levei cerca de 1000 empresas em toda América Latina para a Cloud ☁️

4 a

Excelente artigo Eline Kullock , você tem indicações de livros que detalhem um pouquinho mais sobre as competências listadas no WEF? Pode ser em qualquer idioma. Obrigada

Carlos Frezarinni

Business Director @ FZ Frezarini | Driving Customer Success

4 a

Parabéns. Muito boa reflexão.

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