Tragédia ou Drama?

Tragédia ou Drama?

Ontem cedo, vi um post circulando aqui no #LinkedIn sobre a diferença entre tragédia e drama. O motivo foi o incêndio catastrófico no alojamento do #Flamengo. Aí, de noite, estive numa festa de família e vi alguém recitando o post praticamente na íntegra como se fosse uma verdade e pagando de antenada. Não comprei briga lá, pois não daria em nada, mas acho válido levantar a lebre aqui:

De acordo com o post, tragédia ocorre quando é uma força maior (natureza, deuses, etc) e drama é quando a culpa é humana. 

Então, essa diferenciação é uma bobagem extrema, pois uma existe dentro da outra e normalmente em estado de interdependência. Primeiro por conta da origem das duas coisas: o teatro grego. Drama e tragédia são praticamente sinônimos para a forma mais séria e respeitada da arte teatral. Drama também servia para definir a ação em si, e a mistura do gênero tragédia com o gênero comédia, especialmente quando tentava emular a vida real.

Mas, como tudo na lingua, os significados foram se modificando. #Tragédia perdeu o contexto exclusivo de força maior e passou a ser utilizado para todas as calamidades, desgraças e infortúnios da vida. Enquanto #Drama, ganhou uma amplitude maior de "drama da raça humana". 

No uso moderno, só seria possível utilizar drama no sentido sugerido pelo post se a tragédia que acometeu os meninos do Flamengo tivesse uma duração estendida, por exemplo, "já dura 3 dias o drama dos meninos tailandeses presos na caverna". As famílias de #Brumadinho que ainda não encontraram seus mortos passam por um drama. As que confirmaram as perdas, sofrem da tragédia. A tragédia é o fato consumado, um fato em si, algo sério, uma desventura, e, na maioria dos casos, finita. O drama pressupõe ansiedade, tensão, incerteza e, sim, um pouco de esperança; mas ele se extende, amplia todos os sentimentos citados anteriormente e, em muitos caos, gera sofrimento maior ainda, pois sempre traz consigo a perspectiva da não-resolução.

A culpabilidade não influencia nenhuma das duas coisas. Mesmo considerando a gênese dos termos no teatro grego, notoriamente influenciado pelos deuses, a questão não era apontar a culpa, mas compreender, filtrar e difundir um fato. A arte propõe que o espectador encerre o ciclo da obra com uma nova visão sobre o tema ou que, ao menos, pense a respeito da temática apresentada. O objetivo não era apontar o dedo para o Olimpo e culpar Zeus e cia, mas sim permitir que os mortais assimilassem as tragédias inevitáveis geradas pelo drama da existência humana.

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