Você está na página 1de 100

CAPÍTULO XXVII

Ordem LEPIDOPTERA

Superfamília P Y R A L I D O I D E A 1
(Pyralidina Stainton, 1859, Meyrick, 1895; Pyralidoidea Mosher, 1916;
Pyraloidea Börner, 1925; Pyralidoidea Tillyard, 1926)

1. Caracteres - Lepidópteros de aspecto e tamanho variáveis.


Quase todos são microlepidópteros, ou mariposas de porte médio.
Alguns, porém, são grandes, com cêrca de u m decímetro de enver-
gadura (Morpheis smerintha Hübner, 1821).
Antenas nas fêmeas simples, ciliadas ou, r a r a m e n t e , pectinadas,
nos machos. Ocelos presentes ou ausentes.
E s p i r i t r o m b a e palpos maxilares, via de regra, desenvolvidos;
êstes, porém, curtos; às vêzes, como aquela, ausentes.
Palpos labiais moderados, não raro, porém, b e m salientes,
porretos ou ascendentes.
Pernas longas, tinas, com esporões tibiais distintos.
Asas anteriores quase sempre com borda externa distinta e
sem aréola (célula acessória); 1A + 2A simples ou em forquilha
na base; Cu 2 geralmente ausente ou sòmente visível perto da margem.
Asas posteriores largas, com Sc + R 1 aproximando-se de Rs,
ou com ela coalescendo (fundindo-se) n u m a certa distancia, além
do meio da célula e, depois, dela se afastando p a r a a costa. E s t e
caráter, peculiar a quase todos os Piralídeos, só se observa t a m b é m
em Drepanoidea. Geralmente a aproximação ou anastomose das

1 De (pyralis, idos), vermelho como fogo.


8 INSETOS DO BRASIL

duas nervuras se dá, como disse, depois do fim da célula, entre-


tanto, em Thyrididae, Sc + R1 pode divergir de Rs antes do ápice
da célula; neste caso, porém, todos os ramos de R1, na asa anterior,
partem diretamente da célula.
Área anal, na maioria das espécies, pereorrida por 3 nervuras.
Frenulum presente em quase tôdas espécies.
Ovos de tipo chato. Lagartas em geral pouco pilosas, providas
de 10 pernas abdominais.
Crisálidas do tipo das pupae obteetae.
Um dos maiores grupos de Lepidópteros, com mais de 10.000
espécies descritas, fartamente representado na América do Sul,
principalmente no Brasil.
Constituem a superfamília Pyralidoidea 18 famílias; duas das
quais, Tineodidae Rebel, 1899 (com espécies da Austrália, da
Papuásia e da India) e Musotimidae Meyrick, 1899 (da Aus-
trália e da Polinésia), sem representantes americanos.
As outras famílias são:

Ancylolomiidae Macrothecidae
Anerastiidae Nymphulidae
Chrysaugidae Phyctidae
Crambidae Pyraustidae
Endotrichidae Pyralididae
Epipaschidae Schoenobiidae
Galleriidae Scopariidae
Glaphyriidae Thyrididae

Estas famílias distribuem-se em 2 grupos perfeitamente dis-


tintos: o primeiro, com a família T h y r i d i d a e, compreendendo
mariposas cujas asas posteriores não têm a nervura Cu2 (1.ª A de
COMSTOCK) ou a apresentam obsolescente, portanto só com 2 ner-
vuras livres na área anal; o segundo (Pyralina ou Pyralites de
alguns autores) constituído pelas famílias em que se vê aquela
LEPIDOPTERA 9

ncrvura mais ou menos distinta, portanto com 3 nervuras livres


na área anal.
É este, sem duvida, o mais importante, e as famílias que nêle
se incluem, ainda hoje são consideradas por muitos autores como
subfamílias de uma grande família - Pyralidae, ou melhor, Pyrali-
didae.
À seguir apresento as principais chaves que podem ser utilizadas
para a determinação dessas subfamílias ou famílias de Pyralidoidea,
a de HAMPSON (1898) e a de FORBES (1920). Ambos tratam-nas
como subfamílias.

CHAVE DE HAMPSON

1 - Asas posteriores com Cu fortemente pectinada na face superior 2


1' - Asas posteriores com Cu não pectinada na face superior da asa, 5

2(1) - Asas anteriores com R5 presente ........................................................................ 3


2' - Asas anteriores com R5 ausente .............................................................. 4
3(2) - Palpos maxilares triangularmente escamosos ................................................ Crambinae
3' - Palpos maxilares não triangularmente escamosos ................................................ GalIeriinae

4(2') - Espiritromba presente. ................................................................................ Phycitinae


4' - Espiritromba ausente ........................................................................................ Anerastiinae

5(1') - Espiritromba presente ................................................................................................ 6


5' - Espiritromba ausente ........................................................................ Schoenobiinae

6(5) - Asas anteriores com R 5 em forquilha com R 4 e R 3 ........................ 7


6' - Asas anteriores com R 5 partindo da célula .................................................... 10

7(6) - Asas anteriores com tufo de escamas eretas na célula Epipaschiinae


7' - Asas anterioress sem tufo de escamas eretas na célula ........................ 8

8(7') - Asas posteriores com Sc anastomosando-se com a célula ........................ 9


8' - Asas posteriores com Sc livre ........................................................................ Pyralinae

9(8) - Palpos maxilares ausentes ........................................................................ Chrysauginae


9' - Palpos maxilares presentes ..................................................................... Endotrichinae

10(6') - Asas anteriores com R 2 em forquilha com R3 e R4 Nymphulinae 1


10' - Asas anteriores com R 2 partindo da célula ........................................... 11

11(10') - Asas anteriores com tufo de cscamas eretas na célula.. Scopariinae


11' - Asas anteriores sem tufo de escamas na célula ......................... Pyraustinae

1 Em Azochis Walker e alguns outros gêneros de Pyraustinae a nervura R2 (10), como em


Nymphulinae forma forquilha com R 3 (9) e R4 (8).
10 INSETOS DO BRASIL

CHAVE DE FORBES

1 - Asa anterior com Cu 2; espiritromba fraca ou ausente; franja de


Cu Fraca ou ausente .......................................................... Schoenobiinae
1' - Asa anterior sem Cu 2 ..................................................... 2

2(1') - Nervura 2A (3ª A de C OMSTOCK ) da asa anterior anastomo-


sando-se com 1A + 2A (2.ª A de Comstock) perto da base
da asa ........................................................................................................... 3
2' - Nervura 2A livre ou curvando-se perto do meio da asa, formando
uma larga curvatura; frequentemente rudimentar .................................... 6

3(2) - Espiritromba e ocelos ausentes; macho com o 3.° segmento dos


palpos rudimentar ............................................................................................................. 4
3' - Espiritromba e ocelos presentes; palpos normais ........................................ 5

4(3) - Frente com tufo cônico; revestimento geral não liso ............... Gallerinae
4' - Frente e tórax com revestimento geral liso ................................ Macrothecinae

5(3') - Palpos maxilares mais ou menos desenvolvidos; Sc das asas


posteriores livre ..................................................................................... Pyralidinae
5' - Palpos maxilares ausentes; S c e R s das asas posteriores anasto-
mosando-se ................................................................................................. Chrysauginae

6(2') - M 1 das asas posteriores partindo da nervura que fecha a célula,


bem separada de Sc; Rs mais ou menos fraca; célula finamente
fechada; palpos labiais rostriformes, maxilares triangulares ........................
........................................................................................................................... Ancylolomiinae
6' - M 1 das asas posteriores, na origem, aproximando-se de R ................... 7

7 (6') - R 5 em forquilha com R 3 + 4 apenas uma nervura abaixo da nervura


em forquilha, das que partem do tronco radial e se dirigem
para o ápice da asa .......................................................................... 8
7' - R5 livre; 2 nervuras livres abaixo da nervura em forquilha, das
que partem do tronco radial e se dirigem para o ápice da asa,
Sc e Rs das asas posteriores quase sempre se anastomosando .............. 13

8(7) - R 3 e R 4 completamente unidas; franja de Cu da asa posterior forte ....... 9


8' - R 3 e R 4 em forquiIha .......................................................................... 11

9(8) - Célula da asa posterior fechada por uma. nervura, conquanto fina.,
completa; frenulum da fêmea simples ............................................................ 10
9' - Célula da asa posterior aberta; frenulum da fêmea múltiplo .....................
.............................................................................................. Crambinae (Rapthiptera)
LEPIDOPTERA 11

10(9) - Espiritromba forte, separando os palpos na base ...................... Phycitinae


10' E s p i r i t r o m b a rudimentar, escondida pelos palpos q u a n d o enrolada
....................................................................................... Anerastiinae

11(8') - Franja de pêlos (pécten) bem desenvolvida na base de Cu da


asa posterior (face superior), palpos labiais rostriformes, m a -
xilares triangulares ............................................................ Crambinae
11' - Pécten na base de Cu pouco desenvolvido ou ausente; palpos
maxilares plumosos ou pequenos e escondidos .......................... 12

12(11') - Asas anteriores com tufos de escamas erectas ......................................... Epipaschinae


12' - Asas anteriores lisas .................................................................................... Pyralidinae

13(7') - Franja na base do Cu bem visível; palpos labiais rostriformes;


palpos maxilares triangulares ................................................................ Crambianae
13' - F r a n j a n a base do Cu pouco visível o u ausente; palpos labiais
r a r a m e n t e rostriformes; palpos maxilares geralmente m o d e r a d o s
pequenos, não triangulares ............................................................... 14

14 (13') - Cerdas ou e s c a m a s espatululadas mais ou m e n o s dicíduas e em


m a i o r ou m e n o r número, imediatamente p e r t o ou a b a i x o do
ápice da célula, em relação com uma franja de longas cerdas
presas a Cu ........................................................................ Glaphyriinae
14' - Sem escamas espatuladas esparsas na parte dorsal da asa .................. 15

15(14') - R2 em forquilha com R3 e R4 .................................................. Nymphulinae


15' - R2 livre ................................................................................................................. 16

16(15') - Palpos labiais porretos, rostriformes; palpos maxilares g r a n d e s


e triangulares; asas anteriores, em geral, com a superfície mais
ou menos áspera; M 1, na origem, bem separada de R 5 , (lis-
tando tanto de R3 + 4 como de M 2 ...................................... Scopariinae
16' - Palpos labiais geralmente voltados p a r a cima; palpos maxilares
raramente grandes e triangulares e, neste caso, R 3+ 4, R 5 e M 1
aproximados ........................................................................................... Pyraustinae

2. Bibliografia.

BERG, C.
1874 - Pyralidina argentina.
Bol. Acad. Nac. C i , Córdoba, 1:150 182.
1876 - Beiträge zur den Pyralidinen Süd-Amerikas.
Stett. E n t . Zeit.: 342 355.
12 INSETOS DO BRASIL

BERG, C.
1877 - Contribución al estudio de las Pyralidinas de la fauna suda-
mericana.
An. Soc. Ci. Argent., 3 : 139-151
187 - Lepidopterologische Studien. I-Neue Palustra-Arten, II-Ceci-
dipta excoecaria.
Stett. Ent. Zeit., 39:230-237, 1 est. col.
GUENÉE, A.
1854 - Histoire naturelle des Lépidoptères: Deltoides et Pyralites,
448 p., 10 ests. Paris: Roret.
HAMIBLETON, E. J.
1935 - Alguns dados sobre lepidópteros brasileiros do Estado de Minas
Geraes.
Rev. Ent., 5 : 1-7.
HAMPSON, G.
1897 - Descriptions of new Pyralidae of the sub-fam. Hydrocampinae,
Scoparinae.
Ann. Mag. Nat. Hist. 19, 114, P. 457.
1916 - Descriptions of new Pyralidae of the sub-families Epipaschinae,
Chrysauginae Endotrichinae and Pyralinae.
Ann. Mag. Nat. H i s t . (8) 18, 126-160; 349-372.
LEDERER J.
1863 - Beitrag zur Kenntnis der Pyralidinen.
Wien. Ent. Monats., 7 : 243 280; 331-378; 379-427; 428-504;
ests. 2-18.
MEYRICK, E.
1936 - On Venezuelan Pyralidae and Microlepidoptera.
Veröff. Deuts. Kol. Mus. Bremen, 1 : 3 2 1 - 3 3 4 , 1 ests.
1936 - New species of Pyralidae and Mierolepidoptera from the Deuts-
ches Entomologisches Institut.
Arb. Morph.-Taxon. Ent., 3 : 9 4 - 109.
PHILPOTT, A.
1929 - The male genitalia of the New Zealand Thyrididae, Pyralidae,
Galleriidae and Phycitidae.
Trans. Proc. N. Z. Inst., 6 0 : 4 7 3 - 480, 14 figs.
PIERCE, F. N. & J. W.
1938 - The genitalia of the Pyrales with the Deltoids and Plumes.
Ah account of the morphology of the male clasping organs
and the corresponding organs of the female.
Warmington.: F. N. Pierce, X I I I + 69 p., 30 ests.
RAGONOT, E. L.
1888 - Essai sur la classification des Pyralites.
Ann. Soc. Ent. Fr., (6) 1 0 : 4 3 5 - 5 4 6 , ests. 7 e 8.
1891 - Classification des Pyralites.
Ann. Soc. Ent. Fr.: 15-114.
LEPIDOPTERA 13

RAGONOT, E. L.
1891 - Essai sur la classification des Pyralites- Note supplémentaire
et rectification.
Ann. Soc. E n t . Fr.: 599-652.
SCHAUS, W.
1940 - Insects of Porto Rico and the Virgin Islands. Moths of the
families Geometridae and Pyralididae.
Sci. Surv. Porto Rico, New York. Acad. Sci., 12 : 291-417.
SNELLEN, P. C. T.
1874 - Opgave der Geometrina en Pyralidina in Nieuw-Granada en
e op St. Thomas en Jamaica verzameled doer W. Baron Vou
1875 Nolcken met beschrjiving eu afbeelding der nieuwe soorten.
Tijds. E n t . , 1 8 : 1 8 7 - 2 6 4 , ests. 11-14.
WARREN
1889 - On the Pyralidina collected la 1874 and 1875 by Dr. J. W.
H. Trair, in t h e B a s i n of t h e A m a z o n s .
T r a n s . E n t . Soc. L o n d o n : 227-295.

3. Famílias de menor importância - As famílias Ancylo-


lomiidae (reunida por alguns à Crambidae), Anerastiidae (Hypso-
tropinae), Glaphyriidae, Macrothecidae e Scopariidae, não têm
espécies brasileiras cuja biologia tenha sido estudada.
A família Nymphulidae1 (Steniadae Guenée, 1854; Steniidae
Cotes, 1889; Hydrocampidae Guenée, 1854; Musotimidae Meyrick,
1890) compreende cêrca de 1300 espécies, cujas lagartas, em geral,
mais ou menos adaptadas à vida aquática, vivem em águas paradas
ou correntes, respirando mediante branquias traqueais filamentosas,
distribuídas simètricamente pelos metâmeros. As que vivem em
águas paradas alimentam-se de arroz e de várias plantas aquáticas
(dos gêneros Potamogeton, Nymphaea, etc.), As que atacam o arros,
as vêzes, causam danos consideráveis.
Relativamente à Ninfulídeos brasileiros, devem ser lidas as
observações de MUELLER feitas em Blumenau (Santa Catarina),
relativas a lagartas aquáticas de uma espécie de Nymphula Schranck
(Paraponyx Hübner) e de duas espécies de Cataclysta Hübner, 1826.
l Eis um dos vários casos em que não se pode dizer com segurança qual deva ser o autor da família
A adotar-se o criterio de ser autor de uma família quem primeiramente usou um dado nome
para o grupo supergenérico (tribu ou sub-família), iepresentado por um ou mais geristes dos
que atualmente constituem essa família, sem duvida o nome desta família deve ser Nymphulidae
Duponchel, acompanhado portanto do nome de quem em 1884 reuniu Nyrnphula Schranck ( = Hy-
drocampa Latr.) e gênero afins do grupo Nymphulites (Nymphulidi Sephens, 1850, Steniadae
Guenée, 1854).
A admitir-se, porém, como organizador ou autor do grupo tão semente quem primeiro o
considerou como família, designando-o rigorosamente de acôrdo com as Regras, o nome da mesma
terá de ser Steniidae Cotes, 1889.
14 INSETOS DO BRASIL

4. Bibliografia.

HAMPSON, G. F.
1897 - On the classification of two subfamilies of moths of the Hy-
drocampinae and Scoparinae.
Trans. Ent. Soc. London: 127-240.
1917 - Descriptions of new Pyralidae of the sub-fam. Hydrocampinae,
Scoparinae, etc.
Ann. Mag. Nat. Hist., (8) 19 : 361-376; 457-472; 20 : 201-
216; 265-282.
1918 - A classification of the Pyralidae, sub-fam. Hypsotropinae.
Proc. Zool. Soc. London: 55-131.
JONES, E. D.
1921 - Descriptions of new moths from South-East Brazil.
Proc. Zool. Soc. London: 323-356, ests. 1-3.
KLIMA, A.
1937 - Pyralididae: Sub. fam. Scopariinae, Nymphulinae.
Lcpid. Catal., 84:226 p.
ILOYD, J. T.
1911 - Lepidopterous larvae from rapid streams.
Jour. N. Y. Ent. Soc., 2 : 1 4 5 152, 2 ests.
MUIR F. & J. C. KERSHAW
1909 - Notes on the life history of Aulacodes simplicialis Snell.
Proc. Ent. Soc. London: X L - X L I V , 4 figs.
MUELLER, G. W,
1884 - Ueber einige in Wasser lebende Schmetterlingsraupen Brasiliens.
Areh. Naturg., 50 : 194-212, est. 14.
1892 - Beobachtungen an im Wasser lebender Schmetterlingsraupen.
Zool. Jahrb., Syst., 6:617-630, est. 287.
SCHAUS, W.
1924 - New species of Pyralides of the subfamiIy Nymphulinae from
tropical America (Lepidoptera).
Proc. Ent. Soc. Wash., 2 6 : 9 3 - 1 3 0 .
1924 - New species of moths in the United States Museum.
Proc. U. S. Nat. Mus., 65 (7) 2520:741.
SISON, P.
1938 - Observations on the life history, habits and control of the
rice caseworm (Nymphula depunctalis Guén.).
Philip. Jour. Agric., 9 : 2 7 3 - 3 0 1 , 4 ests.
WILLIAMS, F. X.
1944 - Biological studies in Hawaiian water-loving insects. Part IV
- Lepidoptera or moths and butterflies.
Proc. Haw. Ent. Soc., 12 : 180-185, ests. 10 e 11.
LEPIDOPTERA 15

Família T H Y R I D I D A E 1
(Thyrididae Herrich-Schäffer, 1856; Siculidae Lederer, 1863;
Siculodidae Meyrick, 1886)

5. Caracteres - Família de Lepid ópteros pequenos ou grandes,


de aspecto piralóide, nuctuóide ou geometróide, geralmente com

as asas apre-
sentando áreas
translúcidas
mais ou menos
extensas efi-
nas linhas ou
máculas escuras
(fig. 1).
A n t e n a s sim-
ples. Sem ocelos
e sem palpos
maxilares; pal- Fig. 1. Risama falcata (Felder, 1875) (Thyrididae). Macho.
(Lacerda del.).
pos labiais finos,
dirigidos para diante ou obliquamente voltados para cima.
Asas anteriores normalmente com todos os ramos de R par-
tindo isoladalamente da
célula, ou com R2, R3 e
R4 em forquilha (fig. 4).
Asas posteriores com
duas nervuras apenas na
área anal e Sc + R 1,
anastomosando-se com
Rs antes da parte apical
da célula (Thyridinae)
ou dela se aproximando
antes ou depois do fim
Fig. 2 - Genitalia do macho de Risama falcata da célula (Rhodoneuri-
(Thyrididae) (Lacerda fot.). nae).
Os Tiridídeos
são mariposas frenadas. Alguns, porém, como
Belonoptera frondicola (Guenée, 1877) e Draconia fenestratalis Costa
1 De (Thyris), portula (pequena porta, janela).
16 INSETOS DO RRASIL

Lima, 1932, que apresentam o ângulo humeral das asas posteriores


consideràvelmente expandido, não possuem frenulum.
Larvas piraliformes com 5
pares de pernas abdominais.
Família relativamente pe-
quena, com cêrca de 600 espé-
cies descritas, a maior parte das
regiões neotropical e indiana.
Uma das nossas espécies
(Belonoptera frondicula (Guenée,
1877), é um verdadeiro gigante
na família, pois chega a atingir
70 mm de envergadura. Não
Fig 3 - Draconia Jenestratalis Costa Lima,
1932 (Thyrididae) (Lacerda fot.).
menos conspícua é a Hepialodes
follicula Guenée, 1877, de
Cayenne (Guiana Francesa), com cêrca de 80 m m de envergadura.

Fig. 4 - Asas de Draconia fenestratalis (Thyrididae) (De Costa Lima, 1932;


designação das nervuras segundo Comstock).

A espécie mais interessante, sob o ponto de vista agrícola, é


Risama falcata (Felder, 1875) (Siculodes falcata) (fig. 1), estudada
LEPIDOPTERA 17

por BONDAR (1913, Pragas das myrtaceas, etc.), que sôbre ela
escreveu o seguinte:

"A lagarta, quando pequena, é vermelho-pintada; crescendo, tor-


na-se branca, até 30 mms. de comprimento. O primeiro segmento do
corpo é alargado no dorso e m u m a placa escura. C a d a anel t e m u m
p o n t o escuro ao lado.
As lagartas se alimentam da parte cambial dos troncos das goiabeiras,
respeitando g e r a l m e n t e a casca externa. As p a r t e s c a r c o m i d a s sob a
casca são irregulares, p o u c o p r o f u n d a s .
N o princípio, a l a g a r t a p a s s a todo o seu t e m p o n e s s a s galerias,
p o r e m crescida, faz os f u r o s d e n t r o do tronco, h o r i z o n t a i s n o comêço,
depois dirigidos p a r a baixo. A p a r t e l o n g i t u d i n a l do furo é a l a r g a d a ,
e d á a l a g a r t a a possibilidade de se virar. É n e s t e abrigo q u e ela
se esconde d o s i n i m i g o s e lá p a s s a seu e s t a d o de chrysalida, q u e d u r a
q u a t r o a cinco s e m a n a s , m a i s ou m e n o s . N ã o h a periodos fixos de desova.
O a d u l t o é u m a b o r b o l e t a de côr geral a m a r e l a , c o m u m d e s e n h o
escuro, p o u c o delineado.
A e n v e r g a d u r a é de 40 m m . ; os m a c h o s são m e n o r e s . O b o r d o
anterior d a s a s a s é m u i t o desenvolvido m a relação ao outro, e f o r m a
n a e x t r e m i d a d e da aza u m a p p e n d i c e e m f o r m a de gancho. O d e s e n h o
d a s a z a s anteriores é c o n s t i t u i d o por a l g u m a s m a n c h a s de côr e s c u r a
e por u m a flexa q u e desce da e x t r e m i d a d e do a p p e n d i c e a t é a m e t a d e
do bordo posterior. As azas posteriores têm um ponto translucido e
m a i s claro no meio dellas.
F r e q u e n t e m e n t e as l a g a r t a s v i v e m e m colonias de 5 a 10, p r o d u z i n d o
a d e f o r m a ç ã o e o d e f i n h a m e n t o do tronco. E n c o n t r a m - s e t a m b e m m u l t a s
vêzes nos ferimentos produzidos pelo Polyrrhaphis grandini, cuja ser-
r a d u r a serve a b o r b o l e t a p a r a p o r os ovos.
E n t r e os i n i m i g o s n a t u r a e s d a borboleta, o m a i s i m p o r t a n t e é u m a
mosca, que põe os ovos n a lagarta. A s l a r v a s d e v o r a m - n a g e r a l m e n t e
quando esta já está no sem abrigo, e á sua custa desenvolvem-se 3-4
moscas."

6. Bibliografia

DALLA TORRE, W. VON


1914 - Thyrididae, in Lepid. Catal., 20 : 55 p.
GAEDE, M.
1916 - Thyrididae, in Seitz, Gross-Schmetterlinge der Erde.
( F a u n a A m e r i c a n a ) : 1187-1213, ests. 173-175.
GUENÉE, A.
1877 - Ébauche d'une manographie de la famille des Siculides.
Ann. Soc. E n t . Fr., (5) 7 : 2 7 5 - 3 0 4 .
18 INSETOS DO BRASIL

F ORBES, W. T. M.
1942 - The Lepidoptera of Barro Colorado Islands, Panama, N.o 2.
Bull. Mus. Comp. Zool., 90: 335-351.
HAMPSON, G. F.
1897 - On the classification of the Thyrididae, a family of the Le-
pidoptera Phalenae.
Proc. Zool Soc. London: 603-633, 26 figs.
1906 - On new Thyrididae and Pyralidae.
Ann. Mag. Nat. Hist. (17): 189-222.
H EINRICH, C.
1921 - On some forest Lepidoptera, with descriptions of new species
larvae and pupae.
Proc. U. S. Nat. Mus., 57:89.
LISTA, A. DA COSTA
1932 - Um novo lepidoptero heterocero (Pyralididae: Thyrididae).
Bol. Biol., 21:57-57, 4 figs.
P OULTON, E. D.
1906 - A note on the cryptic resemblance of two South America
insects, the moth Dracenta rusina Druce, and the locustid
Plagioptera bicordata Serv.
Trans. Ent. Soc. London: 533-539, est. 32, fig. 2.
W ARREN, W.
1906 - Some new South American moths.
Proc. U. S. Nat. Mus., 29:347-352.

Família SCHOENOBIIDAE
(Schoenobidae Duponchel, 18441; Siginae Hampson, 19182)

7. Caracteres, etc. - Mariposas de pequeno porte, pouco vis-


tosas, providas de antenas simples, espiritromba mais ou menos
desenvolvida e palpos labiais geralmente porretos, mais ou menos
alongados.
Pequeno grupo constituído por espécies que lembram os Cram-
bídeos e que, segundo vários autores, têm hábitos aquáticos, vivendo
as lagartas de plantas aquáticas, algumas como brocas dessas
plantas.

1
De (schoenos), pinheiro.
2
De (sige), silêncio.
LEPIDOPTERA 19

O principal caráter, que permite diferenciar êstes Piralídeos dos


demais, é a presença de Cu2 (1.ª A) na asa anterior quase sempre
bem desenvolvida.
As lagartas de Acentropus, da Europa, são perfeitamente adap-
tadas à vida aquática, o mesmo se observando com as fêmeas da
geração do verão, que são ápteras.

8. Bibliografia.

HAMPSON, G. F.
1895 - On the classification of the Schoenobiinae and Crambinae, two
sub-families of moths of the family Pyralidae.
Proc. Zool. Soc. London: 897-974, figs.
H EINRICH, C.
1937 - Moths of the genus Rupela (Pyralididae, Schoenobiinae).
Proc. U. S. Nat. Mus., 84 (3019): 355-388, 12 ests.

Família CHRYSAUGIDAE 1

(Chrysaugidae Lederer, 1863; Azamoridae Warren, 1889;


Semnianae Hampson, 1918)

9. Caracteres - Piralídeos de aspectos e tamanho variáveis,


incluídos por alguns autores em Pyralididae, porém dêles se dis-
tinguindo por
não terem
palpos maxi-
lares. Ocelos e
palpos labiais
bem desen-
volvidos, ês-
tes, em várias Fig. 5 - Acrodegmia pselaphialis Ragonot, 1890, macho (à esquerda) e
fêmea, pousados e vistos de perfil (Chrysaugidae). (J. Pinto fot.).
espécies, ex-
traordináriamente alongados. Algumas espécies, que apresentam a
borda costal das asas anteriores mais ou menos conspicuamente
ondulada, podem ser confundidas com representantes de outras
famílias, especialmente com Tortricídeos.

1 De (chrysos), ouro: (auge), brilho.


20 INSETOS DO BRASIL

Os machos, via de regra, além de t e r e m as n e r v u r a s d e s v i a d a s


o curso normal, a p r e s e n t a m , n a asa, tufos de escamas m o d i f i c a d a s ,
em relação com a b o r d a an-
terior e u m r e t i n a c u l u m com
aspecto de alça, onde se in-
t r o d u z o frenulum, t a m b é m
mais ou menos modificado.
Nêles t a m b é m f r e q u e n t e m e n -
te se e n c o n t r a u m a prega ou
bôlsa na base da asa a n t e r i o r
(figs. 9 e 1 l). Foi êste aspecto
Fig. 6 - Acrodegmia pselaphialis Ragnot, 1890,
macho (Chrysaugidae). (J. Pinto fot.) que levou WARREN, a criar,
para Azamora Walker, Sa-
lobrena Walker, Tosale Walker, Clydonopteron Riley e outros gêneros,
que a apresentam, a família Azamoridae.

10. Hábitos e espécies


mais interessantes - As la-
gartas dos Crisaugídeos, em
geral, são filófagas, d o b r a n d o
ou enrolando as fôlhas de que
se alimentam. E n t r e t a n t o , as
de Acrodegmia pselaphialis
Ragonot, 1890 (figs. 5-7),
conforme já assinalei (1932), Fig. 7 - Acrodegmia pselaphialis Ragonot, 1890,
fêmea (Chrysaugidae). (J. Pinto fot.).
são brocas do caule de "ba-
leeira'" ou "maria preta" (Cordia verbenacea D. C.) (Borraginaceae).
ARISTÓTELES SILVA veri-
ficou que as lagartas de uma
espécie de Clydonopteron
muito próxima de C.
tecomae, criam-se em se-
mentes de Cybistax antisy-
philitica (figs. 8 e 9).
Em Pôrto Rico, as favas
de Tecoma pentaphylla, se-
Fig. 8 - Clydonopteron sp., p. tecomae (Chrysaugidae),
fêmea. (Lacerda fot.). gundo WOLCOTT (1936), são
atacadas pelas lagartas de
Bonchis munitalis (Lederer, 1863).
LEPIDOPTERA 21

Há tempos enviaram-me para determinação uma espécie de


Bonchis, que não me parece diferente daquela (figs. 13-15).

Fig. 9 - Asas de Clydonopteron sp., macho (Chrysaugidae) ( L a c e r d a fot.).

O inseto foi obtido por CH.


HATHAWAY de favas de "ipê
roxo" (Tecoma sp.), vivendo
as lagartas no interior das
sementes. H a t a m b é m em
nossa coleção um exemplar da
m e s m a espécie, o b t i d o por
DARIO MENDES de lagarta
criada em laranja e u m a fê-
mea, bem menor, com cêrca
de 15 m m de e n v e r g a d u r a (a
Fig. 10 - G e n i t a l i a de Clydonopteron sp.
de munitalis têm cêrca de ( C h r y s a u g i d a e ) (Lacerda fot.).
22 INSETOS DO BRASIL

Fig. 11 - Asas do macho de una Crisaugideo não determinado (Lacerda del.).

Fig. 12 - G e n i t a l i a do Crisaugideo, cujas


asas se vêem na fig. 11 (Lacerda del.).
LEPIDOPTERA 23

22 mm (asa - fig. 15), de espécie extremamente próxima daquela


(como se pode ver comparando os sistemas de nervação das asas
representadas nas
figs. 14-16), obtida
de galha em caule
de uma Piperácea.
O Engenheiro
Agrônomo ARISTÓ-
TELES SILVA entre-
gou-me para deter-
minação uma espé-
de Caphys Walker,
extremamente pró-
xima de C. bilinea Fig. 13 - Bonchis munitalis (Lederer, 1863)
(Chrysaugidae) (Lacerda fat.).
Walker, 1863 (figs.
16-18), cuja lagarta se cria em sementes de pinheiro (Araucaria
angustifolia). É interessante assinalar que, nessa espécie, as
nervuras M 2+3 e
Cu1a (na fêmea) apre-
sentam-se longamente
pedunculadas, segun-
do a d e s c r i ç ã o do
g ê n e r o ; n o macho,
porém (fig. 17) dis-
põem-se exatamente
como em Acallis Ra-
gonot, 1890.
As lagartas de Pa
chypodistes goeldii, no
Baixo Amazonas, se-
gundo HAGMANN
(1907), v i v e m em
ninhos arbóreos da
formiga Dolichoderus
gibbosus analis. Ali-
mentam-se do cartão
Fig. 14 - Asas de Bonchis munitalis, fêmea
(Crysaugidae) (Lacerda del.), do formigueiro e, com
24 INSETOS DO BRASIL

fragmentos dessa substância, constroem um estôjo ou casulo.


que as protege das formigas e dentro do qual t a m b é m encrisalidam.

Fig. 15 - Asas de Bonchis sp. especie galícola. (Chrysaugidae) (Lacerda del.).

Fig. 16 - Caphys, p. bilinea Walker, 1863 (Chrysaugidae) (Lacerda fot.).


LEPIDOPTERA 25

As mariposas, ao nascerem, apresentam corpo, asas e pernas, co-


bertas de espêsso revestimento de pêlos caducos, erectos, de côr
amarela-dourada, com cêrca de 3 mm de comprimento, que impede
o ataque das formigas, permitindo-lhes possam sair indenes do
formigueiro em que se criaram.

Fig. 17 - Asas de Caphys da fig. 16 (Chrysaugidae), (Lacerda fot.).

Devo ainda mencionar um grupo de Piralídeos desta família,


constituído pelas espécies dos gêneros Cryptoses Dyar, Bradypodicola
Spuler e Bradypophila R. von Ihering, encontradas da América
Central ao Brasil e muito interessantes pelo singular saprofagismo
das lagartas, que vivem, como ectoparasitos, no pêlo das preguiças
(Bradypus sp.) (v. os trabalhos de DYAR, R. VON IHERING e SPULER.
26 INSETOS DO BRASIL

Fig. 18 - Genitalia do macho de Caphys, da fig. 16


(Chrysaugidae) (Lacerda fot.).

Fig. 19 - Asas de Bradypophila garbei R. von Ihering, 1914


(Chrysaugidae), de u m paratipo fêmea da coleção
do M u s e u Paulista (Lacerda fot.).
LEPIDOPTERA 27

Fig. 20 - Asas de Bradypophila garbei (Chrysaugidae), exemplar 8.545


da coleção da E. N. A., macho (Lacerda fot.).

Fig. 21 - Genitalia de Bradypophila garbei, vista


de lado, do exemplar 58.003 da coleção do Museu
Paulista, criado sôbre Bradypus marmoratus, do
Rio Doce (Espírito Santo) (Lacerda fot.).
28 INSETOS DO BRASIL

Fig. 22 - Genitalia de Bradypophila garbei, do e x e m p l a r


8.545 da coleção da E. N.A. (Lacerda fot.).

Fig. 23 - Asas de Bradypodicola hahneli Spuler, 1906, mutiladas


fêmea; e x e m p l a r 58.016 da coleção do M u s e u P a u l i s t a , criado sôbre
Choloepus didactylus I11., do Pará. (Lacerda del.).
LEPIDOPTERA 29

Fig. 24 - Asas de Bradypodicola hahneli (mutiladas) macho, exemplar


58.017 da coleção do Museu Paulista criado sôbre Choloepus didactylus
Ill., do Pará. (Lacerda del.).

Fig. 25 - Genitalia de Bradypodicola hahneli, do exemplar


n º 58.013 d a coleção do M u s e u Paulista, criado sôbre
Choloepus didactylus do Ill. Pará. (Lacerda fot).
30 INSETOS DO BRASIL

11. Bibliografia.

DYAR, H. G.
1908 - A pyralid inhabiting the fur of the living sloth.
Proc. Ent. Soc. Wask., 9:142-144, fig. 9.
1908 - A further note on the sloth moth.
Proc. Ent. Soc. Wash., 10:81-82.
1912 - More about the sloth moth.
Proc. Ent. Soc. Wash., 14 : 169-170.
HAGMANN, G.
1907 - Beobachtungen über einen myrmekophilen Schmetterlinge am
Amazonenstrom.
Biol. Centralb., 27:337-341, est. 2, figs. 2, e 2.
HAMPSON, G. F.
1897 - Onthe classification of the Chysauginae, a subfamily of moths
of the family Pyralidae.
Proc. Zool. Soc. London: 633-692, 74 figs.
IHERING, R. VON
As traças que vivem sobre a preguiça, Bradypophila garbe
n. gen., n. sp.
Rev. Mus. Paul., 9 : 123-127, est. 3, fig. 4.
LIMA, A. DA COSTA
1932 - Insetos que atacam borragináceas do genero Cordia.
Rev. Ent., 2:176-179, 9 figs.
SPULER, A.
1906 - Ueber einen parasitisch lebenden Schmetterling Bradypodiecola
hahneli n. sp.
Biol. Centralb., 26:690-697, 7 figs.

Famlía P Y R A U S T I D A E 1
(Pyraustidae Saalm., 1890)

12. Caracteres - Piralídeos de aspecto e hábitos os mais


variados; uns, microlepidópteros, apresentando nas asas áreas ou
marcas diversamente coloridas, não raro de côres vistosas; outros,
macrolepidópteros, as v ê z e s c o n f u n d í v e i s com Noctuídeos ou com
Geometrídeos.
P o u s a d o s , f i c a m c o m as a s a s e n t r e a b e r t a s .

1 De (pyraustes), mariposas que se queimam no fogo.


LEPIDOPTERA 31

Ocelos presentes. E s p i r i t r o m b a desenvolvida. Palpos maxilares


pequenos, mas distintos; labiais de vários aspectos, p o r é m com o
3.° segmento curto (exceto em Zinckenia, que o apresenta quase
tão longo quanto o 2. ° segmento).
Asas anteriores
triangulares, rara-
m e n t e arredondadas
no ápice ou estrei-
tadas, às vêzes dis-
t i n t a m e n t e falcadas
(Megaphysa herbife-
ralis Guenée); R 1,
R 2 e R 5 partindo
d i r e t a m e n t e da cé-
lula; R 3 e R 4 em Fig. 26 - Zinckenia fascialis (Cramer, 1782)
(Pyraustidae) (X 2,8) (Lacerda fot.).
forquilha, exceto em
alguns gêneros; em Azochis e outros gêneros R 2, R 3 e R 4 formam
forquilha como em Nymphulidae; tais espécies, porém, se reconhe-
cem fàcilmente como Piraustídeos, principalmente por t e r e m ocelos
desenvolvidos.
Asas posteriores
com a p a r t e basal de
Cu (limite posterior da
célula) sem pécten ou
apenas com alguns
pêlos.

13. Hábitos e es-


pécies mais interes-
santes - Os Lepidó-
pteros dêste grupo,
Fig. 27 - Loxostege bifidalis (Fabricius. I794), fêmea m e s m o depois que dêle
(Pyraustidae) (De Sauer, 1937. est. 31, fig. A).
foram destacados os
que constituem hoje as famílias N y m p h u l i d a e e Scopariidae (incluídas
por Meyrick e outros em Pyralididae) f o r m a m u m a das maiores
famílias de Pyralidoidea, com grande número de espécies nas regiões
tropicais, geralmente crepusculares ou noturnas, algumas, porém,
de hábitos diurnos.
32 INSETOS DO BRASIL

Fig. 28 - Epipagis cambogialis (Guenée, 1854), macho


(Pyraustidae) (Lacerda fot.).

Fig. 29 - Asas de Epipagis combogialis macho (Pyraustidae) (Lacerda del.)


LEPIDOPTERA 33

Ovos mais ou menos achatados, ovóides, lisos ou finamente


reticulados.
L a g a r t a s delicadas, de côres claras, pouco pilosas, geralmente
vivendo em fôlhas, sob dobras feitas com fio de sêda, ou como
brocas caulinares ou ra-
diculares. T e c e m casulo e en-
crisalidam no local e m q u e
vivem, ou perto dêle. Várias
p e n e t r a m no solo p a r a encri-
salidar.
Passarei r à p i d a m e n t e em
revista as espécies que, no
Brasil, são m a i s conhecidas
pelos d a n o s que causam
tratando primeiramente das
que t ê m lagartas filófagas.
Zinekenia perspectalis
Fig. 30 - Genitalia do macho de Epipagis
(Hubner, 1796) (Hymenia pers- cambogialis (Pyra ustidae)(Lacerda fot.).
pectalis (Hübner) e Psara bi-
panctalis (Fabricius, 1794). Ambas observadas por HAMBLETON
(1935), em Minas Gerais, atacando fôlhas de beterraba (Beta vulgaris).
As lagartas de Zinckenia fascialis (Cramer, 1782) (fig. 26) atacam
fôlhas de caruru (Amaranthus sp.).
SAUER, em S ã o P a u l o ,
estudou os hábitos de L o -
xostege bifidalis (Fabricius,
1794) (Phlyctaenodes bifidalis
Fabricius) (fig. 27) e de
Epipagis cambogialis
(Guenée, 1854) (Mimorista
cambogialis) (Guénée) (figs.
28-30). As lagartas da pri-
Fig. 31 - HelluIa phidilealis (Walker, 1859) meira, que no c a m p o a t a c a m
(Pyraustidae) (Lacerda fot.).
habitualmente carurús (Ama-
ranthus patens e Portulaca oleracea), danificam também algodoeiros
novos (Gossypium hirsutum). Segundo me comunicou SAUER, São
parasitadas por Eiphosoma sp. (Ichneumonidae). As de Epipagis
34 INSETOS DO BRASIL

cambogialis atacam Pereskia grandiflora e Talinum e, segundo também


me comunicou SAUER, São parasitadas por Chelonus busckiella,
Hormius sp. (Braconidae) (êste por sua vez parasitado por uma
espécie de Horismenus (Entedontidae), Brachymeria cominator (Chal-
cididae) e Perilampus sp. (Perilampidae). E m Niterói (Estado do
Rio), observei as lagartas de E. cambogialis brocando o caule de
Epiphyllum truncatum.
Pilocrocis infuscalis (Guenée, 1854). As lagartas, na Bahia,
segundo BONDAR (1925), atacam fôlhas de fumo.
No mesmo Estado BONDAR (1939, Ins. Noc. Cacaueiro-Inst.
Cac. Bahia, Bol. Tech., 5 : 6 5 ) t a m b é m observou as lagartas de
Sylepta prorogata
Hampson, 1912, a t a -
cando fôlhas novas de
cacaueiro. As lagartas
de ambas espécies tém
h á b i t o s noturnos, fi-
cando durante o dia
esconditas sob dobras,
nas fôlhas, ligadas por
fio de sêda.
Outras espécies d e
S y l e p t a H ü b n e r e de
Fig. 32 - Crochiphora testulalis Geyer, 1832
(Pyraustidae) (De Mendes, 1937). Pilocrocis Lederer, que
atacam, em certos
países americanos, fôlhas de batata-doce e de outras Convolvu-
láceas, foram bem estudadas por WILSON (1923) e JONES (1917).
Crocidophora adornatalis (Warren, 1894). As lagartas, em
São Paulo, segundo SAUER, criam-se em fôlhas de murici (Byrsomina
sericea).
No Rio de Janeiro, em Minas Gerais e em São Paulo são bem
conhecidos os estragos feitos em fôlhas, brôtos e caule de Brassica
sp. e outras Crucíferas pelas lagartas de Hellula phidilealis (Walker,
1859) (fig. 31), elegante mariposinha com cêrca de 15 mm de en-
vergadura, muito próxima de Hellula undalis (Fabricius), que talvez,
le encontre no Brasil causando danos equivalentes (Sôbre o inseto
v. trabalhos de MONTE (1944) e de PASTRANA (1946). No Rio a
lagarta é atacada por Microbracon hellulae Costa Lima, 1938.
LEPIDOPTERA 35

Lamprosema indicata (Fabr., 1794), espécie de vasta dis-


t r i b u i ç ã o g e o g r á f i c a , é c i t a d a p o r HAMBLETON (1935) c o m o c o m u -
m e n t e e n c o n t r a d a , t o d o ano, e m
Viçosa ( M i n a s Gerais); as l a g a r t a s
a t a c a m f ô l h a s d e Glycine max e
de v á r i a s espécies de feijões (Pha-
seolus spp.).
Crochiphora testutalis Geyer,
1832 (Maruca testulalis (Geyer)
(fig. 32) - Outro inimigo dos
feijões e m M i n a s G e r a i s , t a m b é m
Fig. 33 - Margaronia hyalinata (L. 1767)
a s s i n a l a d o p o r HAMBLETON, c u j a s macho (Pyraustidae) (Lacerda fot.).
lagartas atacam vagens de várias
Leguminosas. Trata-se de uma mariposinha de aspecto característico,
c o l a as p a r t e s escuras d a s asas côr de c h o c o l a t e .
MENDES, assinalando os estragos das lagartas em inflorescências
de "crista de muram" (Mucuma huberi), assim descreveu os hábitos.
do inseto:

"Os ovos são postos nos botões floraes ou nas vagens; as lagar
tinhas penetram nos botões floraes destruindo-os; ellas têm o habito
de ligar as flores ou botões com uma teia. Na Mucuna Huberi Dueke
as lagartas destroem os orgãos de reprodução da flor, impedindo, com-
pletamente, a frutificação da planta. Nos feijões furam as vagens e
roem as favas. As lagartas da M. testulalis, em seu maior desenvol-
vimento, medem 18 a 20 mm. de comprimento por 2 a 3 mm. de dia-
metro. A princípio são branco-pallidas, mais tarde, nos ultimos estadios,
tornam-se roseas. A cabeça é castanho-escura; o prothorax tem uma
placa parda um pouco mais clara do que a cabeça, dividida ao centro
por um sulco estreito; mesothorax, metathorax e segmentos abdominaes,
com placas pardas providas de cerdas".

Quando as lagartas completam o desenvolvimento saem das


favas e tecem o casulo em qualquer parte, mesmo no solo, e encri-
dalidam.
Em outros territórios é verdadeira praga dos feijões (v. os
trabalhos de BRUNER (1931) e de LEONARD & MILLS (1931).
Margaronia hyalinata (L. 1767) e Margaronia nitidalis
(Cramer, 1782) (figs. 33-34). - As lagartas de ambas atacam Cucur-
bitàcisa
36 INSETOS DO BRASIL

As da primeira espécie tornam-se daninhas quando infestam


plantas jovens. E m plantas desenvolvidas, e m geral, roem pri-
meiramente as fôlhas, antes de p e n e t r a r e m no caule ou nos frutos.
Daí os bons resultados que se obrem da aplicação de inseticidas,
q u e intoxiquem a s lagartas
jovens, antes de e n t r a r e m nos
tecidos da planta.
As lagartas de Margaronia
nitidalis, que atacam de pre-
ferência os botões florais e
frutos e não p o d e m ser enve-
nenadas nos primeiros está-
Fig, 34 - Margaronia nitidalis (Cramer, 1782),
m a c h o (Lacerda fot.). dios, são mais prejudiciais que
as de M. hyalinata.
Encrisalidam em casulos tecidos sôbre fôlhas sêcas ou no chão.
Segundo FIGUEIREDO e ANDRADE (1913) o desenvolvimento
embrionário se processa em 3 ou 4 dias, durando o período larval
cêrca de 10 dias e o pupal de 12 a 14 dias.
H. SAUER informou-
me que as lagartas de
M. hyalinata são pa-
rasitadas, em S. Paulo,
pelos seguintes micro-
himenópteros: Ephialtes
sp. (Ichneumonidae),
Polycyrtus saladonis
(Ichn.) e Brachymeria
cominator (Chalcididae).
E m outros territórios
Fig. 35 - Magastes pasialis Snellen, 1875, f ê m e a
da r e g i ã o neotrópica (Pyraustidae) (Lacerda fot.).
observou-se o parasitis-
mo das lagartas pelos seguintes microimenópteros; Polycyrtus
lituralis, Pimpla margineIla, Neolheroma bicincta (Ichneumonidae) e
Spilochalcis fulvescens (Chalcididae.)
Polygrammodes ponderalis (Guenée, 1854), um dos mais
conspícuos representantes desta família, pois tem cêrcam de 55 m
LEPIDOPTERA 37

de e n v e r g a d u r a ; asas de côr a m a r e l a com u m a g r a n d e m á c u l a c e n t r a l


de côr rósea vinhosa, que se c o n t i n u a com a d a o u t r a asa m e d i a n t e
estreita faixa, d a
m e s m a côr, ao longo
da costa e s ô b r e a
parte anterior do
t ó r a x ; foi e s t u d a d a
por HOFFMANN (1932,
Deuts. Ent. Zeits.
147), segundo mate-
rial colhido por K i r b y
Schmidt. A lagarta
é b r o c a das raízes de Fig. 36 - Azochis grypusalis Walker, 1859 (Pyraustidae) (Fot.
"chamarita" (Ver- gentilmente cedido por Sauer do Inst. Biol. São Paulo).
nonia sp.).
Hábitos semelhantes têm as mariposas do gênero Megastes,
Megastes grandalis Guenée, 1854 e M. pusialis Snellen, 1875
(fig. 35).

As lagartas brocam o caule e os tubérculos da batata-doce,


deixando intáta apenas a parte cotrical.

A presença da praga 5 denunciada, segundo COWLAND (1926).

"by the stunting and shedding of the leaves of the plant, by the
accumulation of frass ar the surface of the ground around the crown
by the splitting of the crown and the case with which it can be broken
off".

Azochis grypusalis Walker, 1859 (fig. 36) A lagarta é broca


do caule da figueira cultivada.

Transcrevo o que sôbre êle escreveu CARVALHO (1939):

"O inseto adulto é uma pequena mariposa de uns trez centimetros


de envergadura. As suas azas têm a côr de palha, intercaladas com
manchas estriadas de côr castanho-escuro e dispostas mais ou menos
longitudinalmente.
A época da postura é entre Outubro e Novembro. Neste ultimo
mês ainda observei lagartinhas recem-nascidas. A postura é feita ge-
ralmente na parte axilar dos peciolos da parte superior dos galhos.
38 INSETOS DO BRASIL

Terminado o periodo da incubação, cujo tempo pode variar de


acôrdo com a temperatura reinante, nascem as lagartinhas, as quais
se alimentam, á princípio, da casca tenta dos galhos onde se deu a
eclosão e, então, á medida que vão crescendo e que as suas mandíbulas
vão se tornando mais fortes, perfuram, ou melhor, "broqueiam" a parte
lenhosa do galho, penetrando em sua medula. Dêste ponto elas se di-
rigem para baixo, formando uma verdadeira galeria, só interessando á
medula. A proporção que as larvas vão expelindo os seus excrementos
através do orifício de entrada onde se nota regular quantidade dêles,
entremeados com fios de seda, por elas também segregados. Isso serve
ao mesmo tempo de proteção contra a humidade e possivelmente contra
os seus inimigos naturais. Pelo aspéto que apresenta o galho atacado,
se póde determinar o ponto em que se acha localizada a "broca". As
folhas situadas acima dêsse ponto apresentam-se geralmente murchas,
e os frutos, que por ventura existem, paralisim o seu crescimento e
por fim secam.
As vezes encontram-se mais de uma "broca" em o mesmo galho,
posto que distanciada uma da outra.

Quanto mais fundo penetrarem as "brocas" no galho,tanto maior


numero de folhas murchas é observado.
A "broca" é uma larva muito ativa. Abrindo-se um galho onde
ela se acha alojada, observa-se como, ao se sentir tocada, ela se pre-
cipita para fora da galeria, recuando e abandonando-a. Ao se deixar
cair ela fica pendurada por um fio de seda, pelo qual ela volta ao seu
lugar primitivo, logo que cesse a perturbação.
O seu comprimento atinge mais ou menos á 21/2 centímetros, por
3 ou 4 milimetros de grossura. Sua côr geral 6 castanha, tendo a cabeça
um colorido mais forte.
A sua ação "broqueadora" só termina quando ela atinge o seu
completo desenvolvimento larval, o que se dá mais ou menos depois
de vinte dias de seu crescimento, a larva, ao cessar de se alimentar,
procura um local conveniente para se encrisalidar. Observei algumas
se encrisalidarem dentro da própria galeria; outras, porem, abandonando
as galerias, escolhem um lugar protegido onde se prendem por meio
de fios de seda, formando um casulo protetor para a futura crisálida.
A crisálida tem a côr castanho-escura e mede 12 milímetros de
comprimento por quatro de diametro.
No estado de crisalida passa a "broca" mais ou menos 15 dias,
nascendo então o inseto adulto.

Meios de combate - Torna-se necessário, em primeiro lugar, vigiar


as figueiras, logo em seguida á brotação, durante a primavera, para,
logo que apareçam as lagartinhas roendo a casca dos galhos, se tomar,
em tempo, as providencias adequadas. Tratando-se de pés isolados,
LEPIDOPTERA 39

num pequeno quintal por exemplo, procede-se a cataçã o das lagartinhas


(o que não é muito faciI tarefa devido ao tamanho delas) antes de per-
furarem a parte lenhosa dos galhos. Em culturas maiores, porém, e
de acôrdo com a intensidade da infestação, torna-se necessário faze-
rem-se algumas pulverizações com o arseniato de chumbo".

como medidas de combate ao inseto, CARVALHO recomenda,


além da poda e queima dos galhos brocados, pulverizações com
arscniato de chumbo, aplicadas principalmente sôbre as pontas dos
galhos e repetidas de acôrdo com o prazo da postura à saída das
agartas.

Fig. 3 7 - Neoleucinodes elegantalis (Guenée, 1854)


(Pyraustidae) (Lacerda fot).

Neoleucinodes elegantalis (Guenée, 1854) (fig. 37). Assinalando


em 1922 (2º Catálogo de Insetos, etc.) a existência do insere no
Brasil, como broca do tomateiro, fi-lo baseado em um exemplar
do Ceará, enviado para determinação por Dias da ROCHA com essa
indicação.
Apresento nas linhas que seguem o que MONTE escreveu sôbre
o insere (1934 - Borboletas que vivem nas plantas cultivadas):

Biologia - A borboleta deposita seus ovos, que são brancos, du-


rante os mêses de agosto e setembro, aqui pelos nossos lados, podendo,
entretanto, em outras regiões, anteceder, ou segundo cremos, dar duas
gerações anuais; a primeira, provavelmente se realiza em abril ou maio,
produzindo adultos que hibernam no tempo frio (junho e julho), para
continuarem a propagação da espécie logo que apareçam os primeiros
plantios, agosto ou setembro.
40 INSETOS DO BRASIL

O ovo é depositado no próprio fruto, junto ao cálice ou mesmo


sôbre as sépalas. O número pode variar até três, segunda ao nossas ob-
servações, parecendo-nos que o número de lagartas que se encontra
dentro de um fruto corresponde ao número de ovos posto sôbre êle.
Procuramos observar se era possível uma lagarta passar de um fruto
para outro, quando já crescida. Não pudemos verificar, mas cremos
muito nesta possibilidade, visto que nada a isso obstaria, porque os
frutos se tocam, na árvore. O que, entretanto, nos fez dúvida, foi um
certo hábito que notamos na lagarta: ela cava sómente o orifício de
saída, quando prestes a tornar-se crisálida; donde concluímos que ela,
penetrando no fruto, só sairá para metamorfosear-se e daí a nessa
opinião de que ela não costuma passar de um fruto para outro.
Nascida a lagartinha, procura esta introduzir-se no fruto, roendo,
a delicada película. O orifício que ela fabrica para entrar, devido mesmo
ao seu tamanho, é muito pequeno, quasi imperceptível, e desaparece
posteriormente, com o destacamento da massa interna do fruto, feito
pelos movimentos por ela produzidos no seu interior.
Dentro do fruto fica em por espaço de um mês, em média, variando
mais ou menos, conforme a temperatura. Alimenta-se da parte carnosa
do fruto, estragando-o e concorrendo para o seu apodrecimento, tor-
nando-o assim imprestável para qualquer use.
O tempo de eclosão da lagarta também varia com o grau de calor
atingindo no máximo uns 10 dias.
Findo o ciclo larval, a lagarta procura abandonar o fruto onde viveu
e procura crisalidar-se nos detritos existentes. No insetário, ela pro-
duziu um delicado casulo sedoso, nas paredes laterais da caixa de criação,
ficando nesse estado pelo espaço de 17 dias.
Os estragos produzidos são notáveis; o tomate não servirá mais
para qualquer uso. Basta a presença desta espécie em tomateiros, para
causar prejuízos, de cerca de 50%.
Meios de combate - Dado o local em que viveu a lagarta, im.
possível se torna a aplicação de qualquer inseticida que atue diretamente
sôbre ela, de nada valendo a pulverização, por que a lagarta, alimen-
tando-se da parte interna do fruto, no qual se acha, não tocará no ve-
neno pulverizado na superfície. Neste caso, outro remédio não há, do
que colher todo tomate broqueado, enterrando-o a profundidade sufi-
ciente, meio metro em media, ou queimando-o. Desta maneira evita-se
a propagação da espécie, diminuindo o número de futuras lagartinhas,
e, a fortiori, o número de borboletinhas, que viriam pôr ovos sôbre os
frutos, disseminando mais ainda a praga. Este é o método direto, um
pouco trabalhoso, mas eficiente.
Poder-se-á, entretanto, aplicar o método preventivo, isto é, espargir
sôbre os frutos, quando ainda novos, e mui especialmente na época da
postura da borboleta ou próximo ao nascimento das lagartinhas, uma
LEPIDOPTERA 41

solução arsenical, por exemplo, o arseniato de chumbo. Assim, todo


plantador de tomate deverá verificar a época em que aparecem as pri-
meiras lagartas na sua plantação, para fazer a aplicação do inseticida.
Esta aplicação tem por fim envenenar as lagartinhas que procuram
introduzir-se no fruto, envenenamento êsse que se dará quando procurarem
elas roer a. película já pulverizada com a solução venenosa.

Sendo o tomate muito atacado por fungos, é de toda conveniência


que se aplique, outrossim, uma solução mista, ou seja adicionando à
solução arseniacal, a calda bordalesa, que por sua vez impedira a fru-
tificação dos fungos.

Estas pulverizações devem ser feitas semanalmente, ou então três


vezes por mês, num espaço de tempo de 10 dias".

Lineodes integra Zeller, 1873 (fig. 38) - Como as demais


espécies de Lineodes Guenée e as espécies de Stenoptycha Zeller,
fazem lembrar Pteroforideos.

HAMBLETON (1939) viu


as lagartas de Lineodes
integra atacando fôlhas de
batata (Solanum tubero-
sum.
O inseto, p o u s a d o , fica
em atitude característica:
o abdômen distintamente
curvado para cima e as
asas entreabert, as.
Fig. 38 - Lineodes integra Zeller (Pyraustidae)
Atitude um tanto se- (Lacerda fot.).
melhante assumem as
espécies de Terastia Guenée. Na figura 39 vê-se T. msticulosalis
Guenée, 1854, pousada numa superfície plana (figs. 39-40).

OLIVEIRA (1942), em interessante estudo sôbre as pragas de


oiticica, trata detalhadamente de uma espécie de Phlyctaenia
Hübner (Pionea Guenée), provàvelmente nova, cuja lagarta se
desenvolve nos frutos novos dessa planta, causando danos consi-
deráveis.
42 INSETOS DO BRASIL

A êsse gênero pertence a espécie Phlyctaenia opalizalis (Guenée,


1854), cuja lagarta, no Rio e em Belo Horizonte (Minas Gerais)
(material remetido para determinação
por O. MONTE), ataca, respectivamente,
o manjericão (Ocimum sp.) e a man-
jerona.
Um gênero próximo de Terastia é
Agathodes Guenée, ao qual pertenee
Agathodes monstralis Guenée, 1854,
cuja lagarta, segundo informação que
me foi comunicada pelo Eng. Agr.
ARISTÓTELES SILVA, é broca da goia-
beira, no Espírito Santo.
Na República Argentina, Agathodes
designalis Guenée, 1854, cria-se em
Fig.39 - Terastia meticulosalis Guenée,
1854 (Pyraustidae) (J. Pinto fot.). fôlhas de Erythrina cristagalli, segundo
Bourquin (1932, 1945).
Nenhuma das espécies de Pyrausta Schrank da região neotró-
pica foi assinalada como praga de plantas culivadas. Entretanto, é a

Fig. 40 - Asas de Terastia meticulosalis (Pyraustidae) (Lacerda del.).

êsse gênero que pertence o famoso "european cor borer" dos


norte-americanos, a lagarta de Pyrausta nubilalis (Hübner, 1796)
LEPIDOPTERA 43

O inseto (fig. 41), originário da Europa e da Asia, introduzido


nos Estados Unidos e descoberto em 1917, já em 1927 obrigava
o Congresso o votar um crédito de $ 10.000.000 para o custeio
das medidas para o combater.

Fig. 41 - Pyrausta nubilalis (Hübner, 1796); à esquerda, o macho (20 a 26 mm.);


à direita a fêmea (25 a 34mm.) (De Caffrey & Worthley, 1927, fig. 387).

Desde então os norte-americanos tudo têm feito para dominar


a praga, que, não obstante, vai gradativamente se espalhando pelos
vários territórios dos Estados Unidos
e do Canadá, manifestando-se sempre
como um dos mais temíveis ini-
migos do milho e outros cereais.
Segundo informa o " I n s e c t Pest
S u r v e y " os estragos causados pelo
" E u r o p e a n corn borer", em 1944,
nos Estados U n i d o s , f o r a m d e fig. 42 - Aglossa caprealis Hübner
(Pyralidinae) (Lacerda fot.).
$ 22. 713. 923.
Na parte final da bibliografia que se segue, dou uma relação
de alguns dos mais interessantes trabalhos sôbre a praga. Recomendo
também a leitura da parte a ela referente no livro de BALACHOWSKY
e MESNIL (Les insectes nuisibles aux plantes cultivées).

14. Bibliografia.

BONDAR G.
1925 - Pilocrocis infuscalis Guén., m a r i p o s a do fumo.
Corr. Agric., Bahia, 3 (4) : 102-103, 3 figs.
BOURQUIN, F.
1939 - Metamorphosis de Pilocrocis leucoplagalis (Lep. Pyralididae)
Physis, 1 7 : 4 1 9 - 4 2 2 , 4 figs.
44 INSETOS DO BRASIL

BOURQUIN, F.
1944 - Mariposas Argentinas.
Buenos Aires: 117 e 205.
BRUNER, S. C.
1931 - Informe del Departamento de Entomología y Fitopatologia,
ejercicio de 1929 a 1930.
Est. Exp. Agr. Santiago de Las Vegas: 74 p., est. 14.
CARVALHO, J. H. DE
1939 - A broca da figueira (Ficus carica).
Rev. Agron., Porto Alegre, 28 (Abril): sep. 7 p.
COMPTON, C. C.
1937 - Lineodes integra Zell., a potential pest of greenhouse tomatoes.
Jour. Econ. Ent., 30:451-454, 1 fig.
COWLAND, J. W.
1926 - Notes on the sweet potato pyralid moth, Megastes grandalis
Guén.
Bul. Ent. Res., 16:369-372, 2 figs.
FIGUEIREDO, JR. E. R. & A. N. ANRADE
1943 - A broca d-is nossas cucurbitáceas Diaphania nitidalis (Cram.).
O Bíol., 9 : 3 5 - 3 8 , 2 figs.
HAMPSON, G. F.
1898-1899 - A revision of the moths of the subfamily Pyraustinae of family
Pyralidae.
Proc. Zool. Soc. London: Part. I (1898): 590-761 ests. 49-
50; Part. II (1899): 172-291.
1912 - Descriptions of new species of Pyralidae of the subfamily Py;
raustinae.
Ann. Mag. Nat. Hist., 9: 149-176; 242-269; 321-336
433-446; 625-633; 1 0 : 1 - 2 0 ; 557-573.
1913 - Idem, ibidem, 11:322-342; 509-530; 12 : 1-38; 299-319.
JONES, T. H.
1917 - The sweet-potato leaf folder.
U. S. Dep. Agr., Bull. 609 : 12 p., 4 figs.
KLIMA A.
1939-1941 - Lepidopt. Catal., 89 e 94: Pyralididae, subfam. Pyraustinae:
384 p.
LEONARD, M. D. & A. S. MILLS
1931 - A preliminary report on the lima bean pod-borer and other
legume pod-borers in Porto Rico.
Jour. Econ. Ent., 24:466-473.
LIMA A. DA COSTA
1938 - Sôbre um microhimenóptero parasito da lagarta da couve (Bra-
conidae, Vipiinae).
Chac. Quint., 57:785-786, 1 est.
LEPIDOPTERA 45

LIMA, A. D. FERREIRA
1941 - Inimigos da Diaphania hyalinata.
Bol. Soc. Bras. Agron., 4 : 121.
LUED ERWALDT, H.
1919 - Sôbre a biologia da T a n a p h y s a adornatalis Warren (Lepid.).
Rev. Mus. Paul., 11:461-462, 1 fig.
MENDES, D.
1937 - Nota sôbre a Maruca testulalis (Geyer) 1832) (Lep. Pyralididae).
Rodriguésia, 3 : (10) : 167-169, 1 ests.
MONTE, O.
1932 - Lepidobroca das figueiras.
Bol. Agric. Zoot. Vet., Belo Horizonte: 5, 95-96, 1 fig.
1933 - U m a lagarta que broqueia o tomate.
Bol. Agric. Zoot. Vet., Belo Horizonte, 6:357-359, 1 fig.
1944 - Uma lepidobroca da couve.
O Biol., 10 : 141-144.
MUELLER-RUTZ, J.
1929 - Die Subfamilie Pyraustinae (Lep.). Versuch einer Klassification
dieser Gruppe unter Berüchsichtigung der männlich Kopula-
tionsorgane.
Mitt. Schweiz. Ent. Ges., 14:182-190, 4 ests., 15 figs.
OLIVEIRA, M. A. DE
1942 - Contribuição do estudo das pragas e moléstias da oiticica (Li-
canja rigida, Benth.) com especial referência às brocas dos
frutos.
Separ. Bol. Insp. Fed. Obr. e. Sêcas, 3.° trimestre, 31 p.,
várias ests.
PASTRANA, J. A.
1946 - Una nutra mariposita en las coles de la Republica Argentina
- Hellula phidilealis (Walker) (Lep. Pyraustidae).
Instit. Sanid. Vegetal, Rep. Argent., n.º 16:8 p., 3 figs.
PORTO, G. M.
1941 - Uma lepidobroca das Cueurbitáceas, Diaphania nitidadis Cr.
Chac. Quint., 4 4 : 7 3 5 - 7 3 6 , 1 fig.
RAYMUNDO, B.
1920 - A lagarta amarela das cucurbitáceas (aboboras, pepinos, me-
lancias, etc.) Gliphodes nitidalis Stoll.
Ch. Quint., 21 (5) Maio: 371-372, 0 figs.
SAUER, H. F. G.
1937 - O aparecimento de Phlyctaenodes bifidalis (Fabr.) como praga
de algodoeiro no Brasil (Lep. Pyraustinae).
Arch. Inst. Biol., S. Paulo, 8 : 201-210, 3 figs., ests. 31-32.

1938 - Notas biológicas sôbre Mimorista cambogialis (Guén.) (Lep.


Pyraustinae).
Arq. Inst. Biol. S. Paulo, 9:93-98, 3 figs., est. 15.
46 INSETOS DO BRASIL

SCHAUS, W.
1920 - New species of neotropical Pyraustinae.
Proc. Ent. Soc. Wash., 22 : 172-190; 202-222.
WILLE, J.
1932 - Margaronia quadristigmalis Guén. (Lepidopt. Pyralidae) ein
Grossoschadling des Olivenbaumes.
Rev. Ent., 2 : 339-369, 10 figs.
WILSON, C. E.
1923 - Truck crop insect pests in the Virgin Islands and methods of
combating them.
Virg. I s l . Exp. Sta., Bull., 4 : 3 5 p., 24 figs.
WOLCOTT, G. N.
1933 - The lima bean pod-borer caterpillars of Puerto-Rico.
Jour. Dep. Agric. Puerto Rico, 17:241-255, 6 figs.

Pyrausta nubilalis

BABCOCK, K. W.
1927 - The european corn borer P y r a u s t a nubilalis Hübn.
I. A discussion of its dormant period; II. A discussion of
its seasonal history in relation to various climates.
Ecology, 8 : 45-49; 177-193.

BABCOCK, K. W. & A. M. VANCE


1929 - The corn borer in Central Europa. A review of investigations
from 1921 to 1927.
U. S. Dep. Agric., Tech. Bull., 1 3 5 : 5 4 p., 10 ests.
BAKER, W. A.
1934 - Studies of Exeristes roborator (Fab.) a parasite of the european
corn borer in the lake Erie area.
U. S. Dep. Agric., Tech. Bull., 4 6 0 : 2 6 p., 7 figs.
BOTTGER, G. T.
1940 - Preliminary studies of the nutritive requirements of the Eu-
ropean corn borer.
Jour. Agric. Res., 6 0 : 2 4 9 - 2 5 7 .

CAFFREY, D. J. & L. H. WORTHLEY


1927 - The european corn borer; its present status and methods of
control.
U. S. Dep. Agric., Farm. Bull., 1 5 4 8 : 4 8 p., figs.
CLARK, C. H.
1934 - The european corn borer and its controlling factors in the
Orient.
U. S. Dep. Agric., Techn. Bull.; 4 5 5 : 3 7 p., 8 figs.
LEPIDOPTERA 47

DRAKE, C. J. & G. C. DECKER


1927 - Some caterpillars frequentlly mistaken for lhe European com
borer.
Agr. Exp. Sta, Iowa State Col. Agr. & Mechan. Arts,
Circ., 103 : 16 p., 19 figs.

D RAKE , C. J., G. C. DECKER & H. M. HARRIS


1944 - The european cora borer and its control.
Agric. Exp. Sta., Ames, Iowa, Bull. P 60; 923-926, 13 figs
ELLIS, E. O.
1925 - Some Lepidoptera larvae resembling the eqropean corn borer.
Jour. Agric. Res., 30 : 777-792, 2 ests.

FLINT, W. P. & J. R. MALLOCH


1920 - The european corn-borer and some similar native insects.
Bul. Illin. Surv., 13 (10) :287-305.
GIBSON, A.
1920 - Boring caterpillars affecting corn and other crops and which
are liable to be mistaken for the european corn borer.
Dep. Agr. (Canada), Ent. Branch, Circ., 14 : 14 p., 6 figs.
HODGSON, B. E.
1928 - The host plants of lhe european corn-borer in New England
U. S. Dep. Agric., Tech. Bull., 7 7 : 6 3 p., 34 figs.

H. L. P ARKER , & W. R. THOMPSON


1927 - A contribution to lhe study of hibernation in lhe larva of
lhe european com borer (Pyrausta nubilalis Hübn).
Ann. Ent. Soc. Amer., 2 0 : 10-22, 5 figs.
PARKER, H. L.
1931 - Macrocentrus gifuensis Ashmead, a polyembryonic parasite in
lhe european com borer.

U. S. Dep. Agric., Tech. Bull., 2 3 0 : 6 2 p., 21 figs.


ROUBAUD, E.
1929 - Biological researches on Pyrausta nubilalis.
Intern. Corn Borer Invest., Sci. Rep., 2 : 1 - 2 1 .

THOMPSON, W. R. & H. L. PARKER


1928 - The european corn borer and its controlling factors in Europe.
U. S. Dep. Agric., 5 9 : 6 2 p., 3 figs.

1928 - Host selection in Pyrausta nubilalis.


Bull. Ent. Res., 18 : 359-364.
48 INSETOS DO BRASIL

VANCE, A. 3I.
1931 - Apanteles thompsoni Lyle, a braconid parasite of the european
corn borer.obbbobbbbr
U. S. Dep. Agric., Tech. Bull., 2 3 3 : 2 8 p., 7 figs.

1932 - The biology and morphology of the braconid Chelonus annu-


lipes Wesm., a parasite of the european corn borer.
U. S. Dep. Agric., Tech. Bull., 294 : 48 p.

VINAL, S. C. & D. J. CAFFREY


1919 - The european corn borer and its control.
Mass. Agric. Exp. Sta., Bull., 189:71 p., figs.

Família ENDOTRICHIDAE

15. Caracteres, etc. - Os Piralídeos desta família possuem


probóscida e palpos maxilares bem desenvolvidos. Nas asas anteriores,
que são lisas, R 5 em forquilha com R 4 e R 3 , às vêzes ausente; pos-
teriores sem pécten em Cu e Sc + R 1 anastomosando-se com Rs.
Pequeno grupo de Piralídeos cujas espécies são incluídas por
alguns autores em Pyralilidae.
Excetuando Perforadix sacchuri Sein, 1930, cujas lagartas
broqueiam as raízes da cana de açúcar em Pôrto Rico, não conheço
outras e spécie de real interêsse econômico. JORDAN (I936) des-
creveu Shenauge parasitus, cujas lagartas, no Pará, são parasitas de
lagartas de Automeris e Dirphia (Saturniidae).

16. Bibliografia.

HAMPSON, G. F.
1896 - On the classification of three sub-families of moths of the fa-
mily Pyralididae; the Epipaschinae, Endotrichinae and Py-
ralidinae.
Trens. Ent. Soc. London: 451 - 550.
J ORDAN, M. L.
1926 - On a Pyralid parasitic as larva on spiny Saturnian caterpillars
at P a r á .
Nov. Zool., 33:367-370, 6 figs.
SEIN, JR. F.
1930 - The sugar cane root caterpillar and other new root pests in
Puerto Rico (Perforadix sacchari, new genus and species).
Jour. Dep. Agric. Porto Rico, 14:167-191, 20 ests,
LEPIDOPTERA 49

Família PYRALIDIDAE
(Pyralidae Leach, 1818; Swainson, 1840; Pyralididae Lederer, 1863)

17. Caracteres, etc. - Mariposas pequenas, de côres sombrias


ou pouco vistosas. Fronte mais ou menos lisa; ocelos, palpos maxi-
lares e labiais geralmente bem desenvolvidas, mesmo quando a
espiritromba se apresenta rudimentar (Aglossa Latreille).
Asas anteriores triangulares, mais ou menos alongadas e lisas;
costa às vêzes sinuada; R 5 em forquilha R 4 e R 3; asas posteriores
sem pécten cubital;
Sc + R 1 e Rs pa-
ralelas, a p r o x i m a n -
do-se u m pouco além
da célula, mas não
s e anastomosando
(fig. 43).
A s lagartas s ã o
geralmente fitófagas;
algumas, porém, a-
limentam-se de pro-
dutos vegetais secos,
especialmente fari-
nhas de cereais (mi-
lho, arroz).
Família pequena,
tendo como princi-
pal representante
Pyralis farinalis Fig. 43 - Asas de Aglossa capreaIis (Pyralididae) (Lacerda del.).
(Linnaeus, 1758),
mariposa de origem asiática, hoje espalhada por todo o mundo.
As mariposas têm 15 a 25 mm de envergadura e cor geral par-
dacenta; as asas anteriores apresentam aspecto característico: são
de côr parda clara, exceto nas partes basal e apical, que são de
côr escura limitadas, por linha sinuosa de côr branca.
As lagartas atacam de preferência farinhas e detritos da moagem
de cereais. Tecem longos túneis, ou galerias de sêda, onde se es-
condem.
Outra espécie cosmopolita e de hábitos semelhantes é a Py-
ralis manihotalis (Guenée, 1854).
Estes insetos são muito menos importantes que os Piralídeos
da família Phycitidae, que tambem atacam sementes armazenados
V. artigo de BOURQUIN sôbre Aglossa caprealis (Hübn., 1800).
em Acta Zool. Lill., (1946): 249-252, 2 figs., 1 est.) figs. 42 e 42.
50 INSETOS DO BRASIL

Família GALLERIIDAE
(Galleridae Wallengren, 1871; Galleriidae Butler, 1879; Tineinae Hampson, 1918)

18. Caracteres - Família constituída por mariposas de porte


extremamente variável segundo as espécies. Se umas podem ser
consideradas microlepidópteros, outras (espécies de Morpheis) sã o
tão grandes e robustas quanto os Esfingídeos.
Antenas nos machos simples ou finamente ciliadas. Sem ocelos.
Espiritromba curta ou rudimentar. Palpos maxilares presentes;
labiais nas fêmeas mais ou menos alongados; nos machos curtos e
escondidos sob um tufo frontal.
Asas anteriores com R3 a R5 em forquilha; posteriores com forte
pécten cubital na margem posterior da célula.

Fig. 44 - Morpheis smerintha Hübner, 1821 (Galleriidae) (Lacerda del.).

19. Hábitos; espécies mais interessantes - Mariposas de


hábitos noturnos. As lagartas vivem de regimes alimentares os mais
díspares; umas são fitófagas, algumas alimentam-se de produtos
sêcos de origem vegetal, outras, porém, especializaram-se em comer
cêra.
Passo a considerar as espécies mais conhecidas em nosso país.
Morpheis smerintha Hübner, 1821 (fig. 44) - Mariposa
grande, com 100 a 120 mm de envergadura, bem conhecida no Rio
de Janeiro, porque, periòdicamente aparece em grandes quantidades,
esvoaçando em tôrno das lâmpadas elétricas, principalmente quando
estas são de arco-voltaico.
LEPIDOPTERA 51

Nessas ocasiões, não raro as calçadas ficam cobertas de mariposas


e dos corpos sai apreciável quantidade de gordura. Nas gavetas das
coleções continuam a exsudar essa substância graxa, manchando-
lhes o fundo.
As lagartas, segundo vários autores, vivem dentro de inter-
n ó d i o s d os b a m b ú s o u t a q u a r a s .
Nas linhas seguintes transcrevo parte de um artigo de R. VON
IHERING (1934) sôbre os hábitos do inseto.

"A lagarta brancacenta, comprida e grossa como um dedo indicador,


vive no interior da taquara, ahi faz o seu casulo, transforma-se em chry-
salida e, atingindo o estado adulto de mariposa, sae por um orificio,
previamente roido no bambú. Esta portinha oval fica vedada apenas
por uma ligeira tampinha, que a mariposa, quando quer abandonar de
vez a sua cellula, faz cahir, empurrando-a com a cabeça.
Já os antigos escriptores, como NUNEZ CABEÇA DE VACCA em 1555
e em 1817 A. DE SAINT HILAIRE, aquelle no Paraguay, este em Minas,
constataram que os indígenas procuravam avidamente essas lagartas,
tidas não só como optimo manjar, mas ainda como medicinaes e apre-
ciaveis por varias outras qualidades.
Indagámos desde logo de onde poderia provir tão grande numero
de mariposas que, apezar de todos os esforços do Serviço da Limpeza
Publica, tornaram immundas as ruas centraes da cidade e das avenidas
profusamente illuminadas. Apezar de nos dizerem os escriptores que
a lagarta vive na taquara do matto (e segundo BASlLIO FURTADO, em
Minas, na especie chamada "quicê"), não sabíamos em qual das muitas
especies dessa familia deviamos procurar de preferencia. Assim fomos
rebuscando os taquaraes dos arredores de São Paulo, cada vez a maior
distancia, pois BURMEISTER em um dos seus escriptos dura-nos a certeza
de que essas mariposas são capazes de longos vôos. Affirmava o velho
naturalista haver apanhado um especimen (e iustamente no mes de
Setembro) quando, em demanda ao porto do Rio de Janeiro, navegava
nas alturas de Cabo Frio, a distancia tal que ainda não se avistava a
terra (portanto pelo menos a 25 ou 30 kilometros da costa).
Depois de muitas buscas infructiferas, fomos encontrar o fóco em
uma capoeira na estrada da villa de São Bernardo, junto ao apiario do
Sr. Peters. Havia ahi abundantes touceiras de taquara póca ("póca"
em guarany: "o que faz barulho", pois é impossível agitar esses taquaraes
sem fazer grande estrepito), uma taqura longa, de 3 a 4 c. de diametro,
de paredes relativamente tinas, facil de cortar, com densos tufos de
hastes antes curtas e maltas folhas ao redor dos nós (provavelmente "Me-
rostachys speciosa") .²
1 De (galeros), agradável.
2
Em emenda feita no separado que me enviou, Ihering escreveu, Merostachys clausseni,
var. mollior (Löfgren det.).
52 INSETOS DO BRASIL

Todo o taquaral estava morto, pois havia florescido ha pouco e,


como é sabido, as plantas desta familia seccam depois de produzida
a semente (espigas semelhantes às das outras gramineas); devo observar
entretanto que foi este o unico taquaral dessa especie que vi florescido
este ano.

Havíamos chegado tarde demais ao local para poder estudar a


biologia toda da mariposa, cujo cyclo completo, do ovo ao insecto adulto,
se extende por todo um anno. Assim só pudemos deduzir os dados que
aqui registramos, dos restos e vestigios deixados pelas larvas; comtudo
esses indicios bastan para dahi podermos recompor quasi todos os
detalhes do desenvolvimento do lepidoptero, mormente porque, por um
feliz acaso, deparámos tambem algumas lagartas e nymphas retarda-
tarias, talvez doentias, que não acompanharam no tempo certo a evolção
por que passaram as suas companheiras.

As mariposas, desde que abandonam o interior da taquara, não


se alimentam mais; trazem no abdomen toda a provisão de alimento
de que n e c e s s i t a m p a r a p a s s a r os poucos dias de v i d a q u e lhes r e s t a m
- pouco mais de uma semana, se tanto. - e este periodo da sua exis-
tencia o consagram inteiramente aos cuidados da reprodução da especie.
As femeas fecundadas trazem ennoveladas no ventre 8 cordões de ovarios,
cada um de 90 mm. de comprimento, e por um calculo bastante apro-
ximado podemos affirmar que dias dispõem ahi de pelo menos 20.000
ovos. Pelo instincto nornml vão ellas procurar outras plantas de espécie
egual à que lhes serviu de alimento, para ahi depôr os ovos, e assim,
d i z e m o s m a i s u m a vez, n o r m a l m e n t e , as m a r i p o s a s irão p o u s a r s o b r e
a f o l h a g e m ou sobre os talos de o u t r a t a q u a r a - p ó c a , ou e n t ã o , a p e q u e n a
d i s t a n c i a e n c o n t r a r ã o , g u i a d a s talvez pelo olfacto, o u t r o t a q u a r a l q u e
lhes c o n v e n h a p a r a a p o s t u r a dos ovos. E s t e s são m u i t o m e n o r e s do
que se deveria esperar de um insecto tamanho; quasi microscopicos,
r e d o n d o s , c h a t o s , de 0,25 cm. de d i a m e t r o , a i n d a m e n o r e s , p o r t a r t o do
q u e este. A m a r i p o s a põe os ovos e m l i n h a s p o u c o regulares, m u i t o
j u n t o s u n s (dos o u t r o s , c a b e n d o m a i s ou m e n o s 64 delles e m u m cen-
timetro quadrado. Levámos uma destas posturas para o laboratorio.
E r a m 5. 120 ovos, d i s p o s t o s e m u m a faixa de 20 por 4 c., e d e n t r o de
15 dias cada uma dessas pequenas manchinhas produzia uma lagarta de
côr ruiva, cabecinha preta, medindo ao todo 1,5 mm. de comprimento
e 0,3 mm. de diametro.
D a h i por d i a n t e n ã o t e m o s d o c u m e n t a ç ã o sobre a vida q u e l e v a m
essas lagartas, mas é quasi certo que, deixando-se cahir pelo fio de seda
que lhes brota da bocca, dias vão pousar sobre o internodio da taquara
q u e lhes c o n v é m p a r a m o r a d i a . As m a n d í b u l a s , p r o v i d a s de d e n t e s
a g u d o s , s e r v e m - l h e s de p ú a c o m q u e f a z e m o p e q u e n o furo pelo q u a l
p e n e t r a m n a p a r t e ôca do vegetal. C a d a l a g a r t a v i v e i s o l a d a no s e u
c o m p a r t i m e n t o e ahi e n c o n t r a o a l i m e n t o sufficiente p a r a ir crescendo,
LEPIDOPTERA 53

mudando de pelle e emfim armazenar toda aquella gordura que vamos


depois encontrar no abdomen do insecto adulto. Não pode ser de outra
forma: a lagarta está presa na cella que em pequena ella mesma escolheu
e agora, depois de crescida, o furo pelo qual entrou, já não lhe dá mais
passagem.

É portanto a parede interna da taquara que lhe fornece o alimento,


e tanto é assim que na parte inferior do gommo se encontra sempre uma
certa porção de "serragem", que não é outra cousa senão a dejecção
da lagarta, egual à que examinamos colhida de fresco. Não deixa de
ser curioso, entretanto, que a taquara venha a soffrer tão pouco com
este continuo trabalho da lagarta; isto leva-nos a suppor que o vegetal
regenere os tecidos lesados e, quem sabe, forneça mesmo outros ali-
mentos mais nutritivos (do que temos exemplos na imbaúva, já ha-
bituada á symbiose com as formigas). Emfim, a lagarta cresee, attinge
92 mm. de comprimento (cf. BASlLIO FURTADO) e prepara-se para entrar
em repouso, sob a fórma de chrysalida. Ao mesmo tempo que faz o seu
casulo, excava tambem o postigo pelo qual a mariposa deverá ver a
luz do dia, esse furo oval que acima já mencionamos e cujas dimensões
variam segundo o tamanho que a lagarta tiver attingido nesta occasião
(7 a 13 mm. o diametro maior, 5 a 8 mm. no menor). Mas todo o cuidado
da lagarta está em disfarçar esta sahida, com medo de que os seus ini-
migos por ahi não a descubram e devorem, e assim ella deixa intacta
a última camada externa da casca. Como o mostra a figura 11, a cabeça
da chrysalida fica para cima, junto á portinhola, o resto do corpo é en-
volvido pelo casulo tecido de seda e recoberto por pequenos fragmentos
de madeira; atraz o casulo é aberto e ahi se encontra a ultima pelle
larval que foi despida para dar lugar á nova feição do bicho, a pupa,
que já não mede senão 40 a 50 mm. de comprimento.
Não conhecemos ainda a duração de cada uma dessas phases, ma
é provavel que em Julho ou Agosto a larva já se tenha transformado
em erysalida. Finalmente em Setembro, em alguns annos um pouco
mais cedo, em outros só nos ultimos dias do mez, surge a mariposa adulta
que, como já dissemos, tem os seus dias contados. Aparecem rodas,
For assim dizer, a um tempo, com differença de bem poucos dias apenas
e é isto que explica a subita invasão da praga nas cidades e tambem a
seu t e r m o p o u c o s dias depois".

Recomendo também a leitura do que HOFFMANN escreveu


(1930, Zeits. Insect. Biol. 2,5: 110) sôbre Morpheis palcacea Herrich-
Schäffer, 1858, baseado em observações que o levaram a duvidar
de que êsse inseto se crie em bambus.

Galleria mellonella (Linnaeus, 1758) (figs. 45-47) - Pequena


mariposa de 28 a 35 mm de envergadura, cujas lagartas habitam
54 INSETOS DO BRASIL

colmeias e se alimentam da cêra dos favos e de exúvias larvais e


pupais. Trata-se de uma praga cosmopolita, provàvelmente en-
contrada em todos os territórios em que se pratica a apicultura.

Fig. 45 - Galleria mellonella L i n n a e u s , 1758)


(Gallcriidae) (Lacerda fot.).

Descrevendo-lhes os hábitos, eis o que diz GIRARD (Traité


d'entomologie):

"La chenille no vit pas aux dépens du miel, mais de la cite; c'est
un véritable fléau pour l'apiculteur, car, à peine sortie de l'oeuf, elle
s'enfonce dans les gâteaux, rongeant la cire et bravant l'aguillon eu
se construisant un long tuyau irregulier formé de soie, dans lequel elle
se développe en sécurité.
Ce fourreau, tapissé en dedans d'unc soie blanche, très serrée, est
consolidé, à l'exterieur, par des granules d'une substance qui ne parait
différer eu rien de la cire, sauf qu'elle est plus blanche, et par des excré-
ments noirs et granulés de la chenille. La tuyau n'est d'abord plus gros
qu'un fil, mais il s'élargit et s'allonge en même temps que la chenille,
de maniére à ce qu'elle ait toujours assez de place pour se retourner
et jeter ses excréments au dehors. Ordinairement ces tuyaux ont de dou ze
à quinze centimètres de longueur; mais ou eu trouve parfois de beau-
coup pias longs. On s'aperçoit de la présence de ces chenilles dans une
rache aux déjections noirs, pareilles a des grains de poudre, qu'on trouve
sur le tablier, mêlées à de nombreuses parcelles de cire et aussi à l'odeur
qui s'exhale. En raison de la combustibilité de l'aliment hydroearbonée
qu'elles dévorent, ces chenilles entassées dans les gâteaux degagent une
chaleur considérable que j'ai vue s'élever à plus de 25 degrés au-dessus
de l'air ambient (Ann. Soc. Ent. Fr. 1864 : 676). Parvenues à tout leur
taille, les chenilles se construisent, dans l'interieur des galeries, des cocons
d'une soie blanche comme gommée, épaisse et résistante, difficile à dechirer
LEPIDOPTERA 55

entre les doigts, cocons agglomérés, les uns entre les autres. Elles s'y
changent en chrysalides d'une brun rouge, d'ou naissent les adultes
sortant pour s'accoupler; après quoi les femelles rentrent bientôt dans
la ruche et pondent. En hiver les chenilles de tout âge restent engourdies,
jusqu'à ce que la chaleur du printemps leur permette de reprendre leur
activité malfaisante.
Les chenilles creusenr et minent les rayons de cire si profondement
qu'ils se détachent et entrainent le couvain, le miel et le pollen, causant
un tel désastre que les Abeilles rebuttées abandonnent la ruche si l'a-
piculteur n'emploie pas les moyennes necessaires".

Recomenda-se evitar a praga, usando colmeias modernas e


m a n t e n d o - a s l i m p a s e b e m p o v o a d a s . As c o l m e i a s i n f e s t a d a s d e v e m

Fig. 46 - Asas de Galleria mellonella (Galleriidae) (Lacerda del.).

ser e x p u r g a d a s pelo b i s s u l f u r e t o de c a r b o n o ou pelo p a r a d i c l o r o -


benzeno, depois de se r e t i r a r e f u n d i r t ô d a a cêra q u e nelas se
achava.
56 INSETOS DO BRASIL

A Galleria mellonella e os Piralídeos dos gêneros Ephestia e


Plodio, que se criam em substâncias ou produtos armazenados di-
ficilmente deterioráveis, são
frequentemente utilizados nos
laboratórios de entomologia
para a realização de expe-
riências de fisiologia e ecolo-
gia. É grande o número de
contribuições relativas ao
assunto e as mais interessan-
tes foram citadas na biblio-
grafia inclusa na parte geral
do 5.° tomo.
Dentre elas destacam-se
as de BORCHERT (1936), DICK-
MAN (1933); SIEBER e ME-
Fig. 47 - Genitália de Galleria mellonella TALNIKOV (1904); KRAUCHE
(Galleriidae) (Lacerda fot.). (1932); KRUCK (1930) é MA-
NUNTA, 1933.
As lagartas de Galleria são frequentemente parasitadas por
Apanteles galleriae Wilkinson, 1932.

Fig. 48 - Corcyra cephalonica (Stainton, 1865) (Galleriidae) (Lacerda fot).

O u t r a espécie cosmopolita e que t a m b é m já se e n c o n t r a nos


nossos apiários atacando as colmeias é a Achroia grisella (Fabricius)¹,
espécie m e n o r que a precedente (15-22 mm).
1 Segundo M EYRICK, Achroia Hübner é sinônimo de um nome genérico anteriormente
aplicado, pelo próprio Hübner a uma borboleta da superfamília Papilionoidea, daí
o nome Meliphora grisella que deu ao inseto.
LEPIDOPTERA 57

Sabe-se que o inseto t a m b é m se cria em frutos secos (passas).


G OTZE (1929) conseguiu obter o inseto de várias sementes.

Corcyra cephalonica (Stainton, 1865) (Tineopsis theobromae


Dyar, 1913) (figs. 48 50) - Pequena mariposa de 12 a 25 mm de

Fig. 49 - Asas de Corcyra cephalonica (Galleriidae) (Lacerda del.).

envergadura e de côr cinzento-prateada, c o m u m e n t e encontrada nos


depósitos de sementes e produtos armazenados. As lagartas a t a c a m
principalnente amendoim, arroz, milho, cacau, sementes de algodão,
chocolate, biscoitos e frutos secos.
Pelos hábitos e danos que causam, as lagartas muito se parecem
com as de Ephestia cautella e de Plodia interpunctella, outros dois
Piralídeos pragas de sementes e produtos armazenados, porém da
família Phycitidae.
A biologia de Corcyra foi estudada por CHHITENDEN (1919),
KRISHNA AYAR (1934) e outros.
58 INSETOS DO BRASIL

VAYSSIÈRE (1926), estudando a etologia da Corcyra na Africa


O c i d e n t a l Fr ancêsa, a s s i n a l a o p a p e l i m p o r t a n t e d e s e m p e n h a d o por
Habròracon hebetor (Say), entravando a proliferação do inseto.
Aliás, conforme pondera FERRIÈRE no mesmo trabalho, êsse Bra-
conídeo parasita, hoje considerado também cosmopolita, ataca as
lagartas de outros Lepidopteros que se desenvolvem à custa de
produtos armazenados, como Plodia interpunctella e espécies de
Ephestia, etc.

Fig. 50 - Genitalia de Corcyra cephalonica (Galleriidae) (Lacerda fot.).

19. Bibliografia.

ANDREWS, J. E.
1921 - Some experiments with the larva of the bee moth, (galleria
mellonella, L.
Trans. Wisc. Acad. Sci. Arts. Lett., 20: 255-266.
A YYAR , P. N. K RISHNA
1934 - A very destructive pest of stored products in South India,
Corcyra cephalonica Stainton (Lep.).
Bull. Ent. Res., 25: 155-169. figs. 1-6, est. 7.
BORCHERT, A.
1935 - Zur Biologie der grossen Wachsmotte (Galleria mellonella)
- I-Ueber den Frasschaden und die Ernährung der Larven
(ler grossen Wachsmotte (Galleria mellonella L.).
Zool. Jarb., Syst. 66: 380-400, 1 est.
LEPIDOPTERA 59

CHITTENDEN, F. H.
1919 - The rice moth.
U. S. Dep. Agric., Bul. 783, 15 p., figs. 1-2, 5 ests.
HAMPSON, G. F.
1917 - A classification of the Pyralidae, subfamily Gallerianae.
Nov. Zool., 24: 17-58.
HASE, A.
1926 - Ueber die Nester der Wachsmottenraupen und der Aphomia-
raupen.
Arb. Biol. Reichsanst. Land. - u. Forstw., 14 : 555-565,
5 figs.
HAYES, W. P.
1936 - Structural differences between greater and lesser wax moth.
Jour. Econ. Ent. 29: 1055-1058, 10 figs.
IHERING, R. VON
1914 - As mariposas noturnas.
O Estado de São Paulo (10 de outubro) : 6, 2 figs.

1917 - Observações sobre a mariposa Myelobia smerintha Hübn. em


São Paulo.
Physis, 3 : 60-68.
KOEHLER, O.
1933 - La polilla de las Colmenas (Galleria mellonella L.).
Bol. Mens. Minist. Agric. Argentina, 33 : 257-277, 25 figs.

MUNRO, J. W. & W. S. THOMSON


1929 - Report on insect infestation of. stored cacao
Empire Market, Board, Publ. 24, 41 p., 4 ests.
NlCOL, J. M.
1935 - Notes on the Galleriid moth Corcyra eephalonica Staint.
Ent. Mo. Mag., 71: 153- 156, figs.
KUNIKE, G.
1930 - Zur Biologie der kleinen Wachsmotte Achroia grisella Fabr.
Zeits. Angew. Ent., 10: 304-356, 25 figs.
PADDOCK, F. B.
1930 - The bee moth.
Jour. Econ. Ent., 23: 422-427.
RAGONOT, E. L.
1901 - Monographie des Galleriinae (in N.M. Romanoff, Mémoires
sur les Lépidoptères, 8).
P a r i s : X L I + 602 p., ests. 24-57.
RIBEIRO, A. DE MIRANDA
1903 - O bicho da taquara-quicê, pelo Dr. Basilio Furtado (trans-
crito da Gazeta de Ubá, ns. 27, 28, 29, de 8, 15 e 22 de junho
de 1902 e ilustrado por Alipio de Miranda Ribeiro).
A Lavoura (Rio de Janeiro), 7 (12): 299-304, com figs.
60 INSETOS DO BRASIL

ROEBER H.
1933 a l934 - Sind die Wachsmotten Schãdlinge?
Ent. Runds,. 79: 52-53; 63 e 50: 142-144.
S PITZ, R.
1935 - Revisão das cinco espécies do gênero Myelobia Herr. - Schäff-
(Morpheis Hübn.) (Fam. Pyralidae, Microlep.)
Rev. Mus. Paul., 19:579-594,2 estes., 7 figs.
VOEHRINGER, K
1934 - Zur Biologie der grossen Waehsmótte (Galleria mellonella
Lin.). III- Teil- Morphologische und biologischen Un-
tersuehungen am Falten der grossen Wachsmotte (Galleria
mellonella Lin.).
Zool. Jahrb., Anat. 58:275 302, 9 figs.
WHITCOMB. W.
1936 - The wax moth and its control.
U. S. Dep. Agr., Circ. 386, 14 p., 5 figs.

VAYSSIÈRE, P. & J. MIMEUR


1926 - Les insectes nuisibles au cotonnier en Afrique Occidentale
Française.
Paris: Emile Larose, 176 p., 22 ests.

(Ver outros trabalhos sobre Galleria mellonella ás pgs. 74 a 78 do 5.º Tomo)

Família CRAMBIDAE 1
(Crambidae Duponehel, 1844)

20. Caracteres - Mariposas geralmente pequenas ou de porte


médio, de côres pouco vistosas (pardas, amareladas, cinzentas o
prateadas).
Antenas geralmente simples, nos machos uni ou bipectinadas.
Ocelos e espiritromba presentes na maioria das espécies. Palpos
maxilares relativamente grandes, de perfil triangular pelas escamas
que os revestem. Palpos labiais porretos, pelo menos tão compridos
quanto a cabeça, formando uma espécie de rostrum ou bico, mais
ou menos proeminente, adiante da cabeça.
Asas anteriores alongadas, às vêzes muito estreitas; R 1 livre ou
anastomosando-se com Sc; R 3 e R 4 em forquilha; R 2 e R 5 livres ou
em forquilha com aquelas. Asas posteriores com Cu, na face superior,
fortemente pectinada na base; Sc + R 1 e Rs anastomosando-se

1 De (crambos), encrespamento.
LEPIDOPTERA 61

além da célula em maior ou menor extensão; M 2 e M 3 conadas


(partindo de um mesmo ponto), em forquilha ou coincidentes (coa-
lescendo e m t ô d a a e x t e n s ã o ) .
L a g a r t a s nuas, d e d o i s t i p o s
principais: umas ( Diatraea Guil-
d i n g e gêneros afins) são b r o c a s
c a u l i n a r e s de G r a m í n e a s ; o u t r a s
(Crambus Fabricius e gêneros
próximos), vivendo em galerias ou
túneis de sêda, sôbre o solo ou
perto dêle, alimentam-se de raízes
de plantas herbáceas e encrisali-
dam nas galerias larvais.

21. D i a t r a e a saccharalis
(Fabricius, 1799) (figs. 51-63). -
A família Crambidae tem na Amé-
rica u m g r a n d e n ú m e r o d e re- Fig.51 - Diatraea saccharalis (Crambidae)
(De Holloway, Haley, Loftin & Heinrich,
presentantes, principalmente na 1928, fig. 11).
r e g i ã o n e o t r o p i c a l , a l g u n s , aliás,
de grande porte. As espécies mais interessantes pertencem ao gê-
nero Diatraea, cujas lagartas são brocas do côlmo da cana de
açúcar e do milho. O Professor J ACOB B ERGAMIN, da Escola Luiz de
Queiroz, de Piracicaba, a meu pedido, apresenta, nas linhas que se
seguem, um resumo dos principais dados relativos à Diatraea saccha-
ralis, por êle colhidos em Campinas.

A broca da cana de açúcar (Diatraea saccharalis (F.)

LIGEIRAS NOTAS SOBRE SEU DESENVOLVIMENTO EM LABORATÓRIO

A broca da cana de açucar, que nos Estados Unidos causa um


prejuizo anual orçado em cerca de 6 milhões de dolares, é mais ou menos
desconhecida no Brasil, principalmente no que se refere ao seu desen-
volvimento e à sua relação com as gramíneas em geral. Não estão ainda
estudadas as plantas hospedeiras. Não foi estudado, tambem, o seu
desenvolvimento segundo a região encarada, como não se sabe ainda
a quanto montam os prejuízos por ela causados só à cultura canavieira
do Brasil. HERVAL DE SOUZA (1942), da Estação Experimental de Cana
62 INSETOS DO BRASIL

de Açucar, em Campos, está estudando, presentemente, o processo


biológico de controle a essa praga. Dedica-se ao estudo e à criação de

Fig. 52 - Diatraea saccharalis (Crambidae) (M. Nascimento fot.).

2A
Fig. 53 - Asas de Diatraea saccharalis (Crambidae) (Lacerda del.).
LEPIDOPTERA 63

Fig. 54 - Genitália de Diatraea saccharalis


(Lacerda fot.).

Fig. 55 - Grupos de ovos de Diatraea saccharalis de diferentes idades (Foto Mazza,


da Seção de Fotomicrografia do Instituto Biológico de São Paulo).
64 INSETOS DO BRASIL

inimigos n a t u r a i s , ú n i c o s a g e n t e s de controle e m nosso meio. Ao lado


d e s s a s observações, s u r g e m , n a t u r a l m e n t e , d a d o s valiosos do c o m p o r -
t a m e n t o da broca e m C a m p o s , n o t a d a m e n t e q u a n t o ao g r a u d e a t a q u e
e às v a r i e d a d e s m a i s s u s c e t í v e i s ou mais resistentes.
T a m b é m nós, e m C a m p i n a s , E s t a d o de São Paulo, f a s c i n a d o s p e l a
m a g n i t u d e do p r o b l e m a , iniciámos, e m Abril de 1943, a l g u m a s obser-
vações sôbre os hábitos e comportamento da Diatraea, para a aplicação
do c o m b a t e biológico ou p a r a a i n t r o d u ç ã o e distribuição de p a r a s i t o s
valiosos, pelos c a n a v i a i s p a u l i s t a s . D i s s o resultou, felizmente, o a p r o -
veitamento das técnicas usadas e pesquizadas, para um estudo mais
ou m e n o s d e t a l h a d o do d e s e n v o l v i m e n t o d a broca d a cana, e m l a b o -
ratório.
C o m a p r e s e n t e n o t a são p u b l i c a d o s os d a d o s referentes ao desen-
volvimento dos diversos estádios da praga, às técnicas adotadas para
a s observações; são d a d a s ao c o n h e c i m e n t o geral, t a m b e m , a l g u m a s
o b s e r v a ç õ e s de c a m p o e o u t r a s o b s e r v a ç õ e s sôbre a criação de l a g a r t a s
e de p a r a s i t o s da p r a g a . Isso que hoje p u b l i c a m o s , foi o q u e o b s e r v á m o s
n o p e r í o d o de Abril de 1943 a M a i o de 1944.
Observação de campo - No Estado de São Paulo a broca da
c a n a se h o s p e d a e m longa escala no colmo do milho, pois q u a n d o esta
g r a m í n e a já e s t á b e m d e s e n v o l v i d a ( D e z e m b r o - J a n e i r o ) a c a n a e s t á
a i n d a p e q u e n a . F o r ç a d a s pelo clima, as l a g a r t a s n a s c i d a s e m M a i o -
J u n h o , h i b e r n a m q u e r n a c a n a , q u e r no milho. E m O u t u b r o ou N o -
v e m b r o h á e m e r g ê n c i a de a d u l t o s . P a r t e d e s s e s a d u l t o s e f e t u a p o s t u r a
n a c a n a n o v a , d a n d o a 1.ª geração. E m D e z e m b r o , c o m o o m i l h o já
se e n c o n t r a b e m crescido, d e s e n v o l v e - s e n e s t e a 2. ª geração, c o m n ú m e r o
c o n s i d e r a v e l m e n t e g r a n d e de i n d i v í d u o s . A terceira geração, q u e ocorre
m a i s ou m e n o s e m Fevereiro, divide-se e n t r e a c a n a e o milho, o m e s m o
a c o n t e c e n d o c o m a q u a r t a , q u e é a geração h i b e r n a n t e . A p ó s a colheita
do milho, q u e é feita e l a M a r ç o e Abril, f i c a m no c a m p o os r e s t o s da
c u l t u r a , t a i s c o m o e s p i g a s e p e d a ç o s de côlmo, que a b r i g a m l a g a r t a s
d u r a n t e o inverno. T a m b e m as u s i n a s n ã o c o n s e g u e m m o e r t o d a a c a n a
a n t e s de N o v e m b r o ou D e z e m b r o , o q u e p e r m i t e à p r a g a c o m p l e t a r
sua metamorfose e iniciar o ataque às socas de Junho e ao milho que
e s t á e m crescimento. O u t r o s h o s p e d e i r o s d e v e m existir e a b r i g a r l a g a r t a s
d u r a n t e o i n v e r n o . O b s e r v a ç õ e s p o s t e r i o r e s serão feitas no s e n t i d o de
d e t e r m i n a r esses hospedeiros, pois o s e u c o n h e c i m e n t o p o d e r á ser de
utilidade p a r a o c o n j u n t o de m e d i d a s e s t a b e l e c i d a s p a r a o controle d a
praga. Ovos de Diatraea já foram por nós encontrados, além da cana
e do milho, sôbre fôlhas de arroz e de sorgo.
Cópula - As mariposas são de acentuados hábitos noturnos. Todas
a s a t i v i d a d e s t ê m l u g a r à noite; isso faz c o m q u e se s u p o n h a q u e t a m b e m
a cópula se verifique à noite. Alguns entomologistas americanos fizeram
d e m o r a d a s o b s e r v a ç õ e s e n u n c a c h e g a r a m a s u r p r e e n d e r q u a l q u e r casal
e m cópula, n e m de dia, n e m à noite.
LEPIDOPTERA 65

Posturas - Os ovos são depositados ao longo do limbo, em grupos


q u e v a r i a m m u i t o e m t a m a n h o , pois o n ú m e r o de o v o s de c a d a g r u p o
é m u i t o v a r i á v e l (figs. 55 e 56). E x a m i n a m o s e c o n t a m o s de 5/11/1943
a 7/6/1944, 68 p o s t u r a s e n c o n t r a d a s e m nosso p e q u e n o c a m p o de o b -
servação, n a F a z e n d a M a t o D e n t r o , do I n s t i t u t o Biológico. Essas
p o s t u r a s , a l g u m a s d a s q u a i s c o n t i n h a m ovos p a r a s i t a d o s , a s s i m se d i s -
t r i b u i r a m , s e g u n d o o n ú m e r o de o v o s e a p o r c e n t a g e m de p a r a s i t a d o s

N.° de ovos por postura % de % de


Número Número Pa- ovos posturas
total de t o t a l de rasi- parasi- parasi-
postura ovos tados tados tadas
Médio Mínimo Máximo

16,1 5 39 68 1.091 135 12,49 23,5

O único parasito encontrado foi o Trichogramma minutum Riley.


A i n d a que os a u t o r e s s e j a m u n â n i m e s e m a f i r m a r q u e os ovos s ã o
p o s t o s i n d i f e r e n t e m e n t e n a face v e n t r a l ou d o r s a l do limbo, n a s 68 p o s .
t u r a s a q u e n o s referimos, a p e n a s 3 se e n c o n t r a v a m n a face v e n t r a l .
As 65 r e s t a n t e s , n ã o só e s t a v a m n a face dorsal d a folha, como a i n d a ,
e m s u a maioria, e s t a v a m n a b a s e do limbo, j u n t o à n e r v u r a p r i n c i p a l .

Fig. 56 - Grupo de ovos no 6.° dia (Foto Mazza. da Seção de


Fotomicrografia do Intistuto Biológico de São Paulo).

Lagartas (fig. 57) - Após certo numero de dias, ainda não deter-
m i n a d o s n a n a t u r e z a , e c l o d e m a s l a g a r t a s . S e g u n d o t i v e m o s ocasião
de observar v á r i a s vezes, os n a s c i m e n t o s se v e r i f i c a r a m ao m e s m o t e m p o ,
66 INSETOS DO BRASIL

dentro da mesma postura, o que indica que os ovos de um mesmo grupo


não só são da mesma idade, como foram postos num curto lapso de tempo.
Essa observação foi confirmada em laboratório.

Fig. 57 - Lagarta de Diatraea saccharalis, vista de cima e de lado (Crambidae


(De Holloway, Haley, Loftin & Heinrich, 1928, fig. 5 A e C).

As lagartas, logo após o nascimento, põem-se a caminhar ao longo


da folha, ora subindo, ora descendo. As que sobem, quasi sempre con-
seguem passar para folhas de outra cana, havendo assim, uma dispersão
mais ou menos homogênea pela touceira. Todas as lagartas, contudo,
procuram, depois de sua caminhada, introduzir-se na bainha, cujos
tecidos constituem o primeiro alimento até a primeira muda. Depois
desta feita, as lagartas estão com 4 ou 5 dias e já possuem mandíbulas
mais resistentes para a perfuração do colmo. O orífico de penetração
é aberto, em geral, na gema, pois esta é a parte mais mole de todo o
colmo. Tambem no anel de crescimento (meristema intercalar) situado
logo acima do nó, há penetração de lagartas, pois é uma região mais
mole do que o resto do gomo. Não obstante esse hábito generalizado,
são encontrados orifícios de penetração ao longo de todo o gomo, mas
sempre com menor frequência.
Segundo tudo indica, esse primeiro instar larval é o período mais
crítico de toda a vida do inseto, pois as lagartas ficam sujeitas ao ataque
de insetos carnívoros que facilmente se encontram entre a bainha e o
colmo. Temos feito infestação artificial em muitas touceiras e temos
verificado, depois de 30 dias, que o número de lagartas encontradas
não corresponde nunca ao de lagartas recem-nascidass colocadas sôbre
cada touceira.
Depois da penetração, cada lagarta inicia a abertura de um tunel,
que geralmente se dirige de baixo para cima. Não raro esse tunel toma
sentido horizontal, acompanhando a curvatura da casca, no anel de
crescimento. Quando isso acontece, a cana fica praticamente seccionada
e qualquer vento é capaz de derrubá-la; ou, o que tambem é comum,
cessa a circulação de seiva morrendo a parte que está acima do gomo
prejudicado.
LEPIDOPTERA 67

"A medida que a lagarta vai crescendo, mais largo se torna o tunel
Quando completamente desenvolvida, a lagarta prepara uma câmara
mais larga que a galeria comum; abre um orifício para a salda do adulto,
cortando com as mandíbulas uma secção circular da casca que é mantida
no lugar por fios de seda; fecha a extremidade do tunel com serragem
aglutinada por fios de seda e entra em prepupa no interior da câmara.
Dois dias depois passa a pupa e em cerca de 8 dias emerge o adulto.
Observação de laboratório - Como a lagarta vive no interior do
colmo da cana, seria dificil observar a sua evolução "in natura", sem
incorrermos na possibilidade de equívocos e erros inconvenientes. Por
isso foi que iniciámos uma série de tentativas para a criação de lagartas
num ambiente que permitisse a observação facil e segura de evolução
completa dos estádios. Os processos que permitiram, não só a faciI ob-
tenção dos ovos, como ainda acompanhar comodamente todas as prin-
cipais ocorrências da vida do inseto, revestem-se de muita simplicidade,
Não obstante isso, não dispensam certos cuidados, principalmente no
que se refere à conservação do alimento.

Fig. 58 - Dispositivo para obtenção de ovos (Foto


Mazza, da Seção de Fotomicrografia do Instituto
Biológico de São Paulo).

Ovo - Obtenção dos ovos - As mariposas podem ser acasaladas,


algumas horas depois de nascidas. A cópula, não obstante não ter sido
ainda presenciada, deve ocorrer à noite. Durante o dia temos conseguido
cópula entre os casais colocados em câmara escura.
68 INSETOS DO BRASIL

Qualquer ambiente se presta para a postura: mangas de vidro, tubos,


caixa de Petri, lâminas de preparação ajustadas de modo a formar um
prisma triangular, caixas de papelão, etc., têm sido ambientes por nós
experimentados para a obtenção dos ovos. As mangas de vidro, com
pedaços de folha de cana, de milho ou de arroz no interior, Prestam-se
bem, tanto para a cópula, como para as posturas. As mangas são co-
locadas sôbre uma caixa de Petri das grandes, com uma camada de areia
úmida. A parte superior é fechada com um pano, preso com elástico
(fig. 58).

Posturas - A fêmea deita os ovos em grupos, arranjando-os


de modo característico e constante. A superfície livre ou externa de
um desses grupos apresenta um aspecto bizarro, como se fosse um
segmento de couro de cobra. Os ovos são postos de modo que o polo
posterior de um ovo recobre parte do polo anterior do ovo posto em
primeiro lugar. Tambem o bordo lateral é parcialmente recoberto.
Esse arranjamento, que é conseguido naturalmente pela deslocação
da mariposa para a esquerda ou para a direita e depois para a frente,
faz com que a coplaca fique com o aspecto imbricado que tanto carac-
teriza as posturas de Diatraea.
Em laboratório são conseguidas multas posturas da mesma fêmea
em uma noite.
O total de ovos dessas posturas tem variado de algumas dezenas
até mais de trezentos, em uma única noite. Isso demonstra a alta ca-
pacidade ovipositora dessa praga.

Aspecto da cutícula - A parte mais externa do cório apresenta


uma eseulturação reticulada, sendo toda a superfície percorrida por
impressões celulares de conformação poligonal irregular. Essas im-
pressões devem ter origem nos tubos ováricos, pois em ovos retirados
dos ovários por disecção, notámos bem distintos os retículos.

Incubação - Os ovos frescos apresentam coloração amarelo- esver-


deada pálida, são semi-transparente e cheios de grânulos nutritivos do
embrião (vitelo). Sob temperatura favoravel a uma incubação rápida
(cerca de 25 ° C.), já no dia seguinte ao da postura, nota-se, por trans-
parência, mesmo a olho nú, a primeira fase embrionária. O ovo, a
medida qu e o embrião avança em seu desenvolvimento, vai-se tornando
cada vez mais amarelado. No quarto dia, à temperatura acima aludida,
o embrião atinge o seu completo desenvolvimento e a lagartinha pode
ser notada com toda nitidez atravez dos envoltórios inteiramente trans-
parentes q u e abrigaram vitelo e embrião. Finalmente, no quinto dia
a lagarta rasga com as mandíbulas uma abertura e liberta-se da casca
do ovo, sem a destruir.
LEPIDOPTERA 69

O periodo embrionário varia com a temperatura, indo de 4 a 9 ou


mais dias. Quando as temperaturas foram inferiores a 18-19ºC., não
conseguimos emergência de adultos, de modo que não pudemos avaliar
a duração do período embrionário, pois nossas observações rodas foram
feitas à temperatura ambiente.
Para o evoluir do embrião é necessária certa umidade. Os ovos
postos "in vitro" e deixados ao ar, com cerca de 50 ou 60% de umidade
relativa, secaram e não deram larvas. Isso nos leva a deduzir que o
ovos postos sôbre as folhas, na natureza, devem estar cercados de umi-
dade mais elevada, mantida, quiçá, pela constante evaporação das
mesmas,

Larva - Ainda no interior dos invólucros do ovo, podemos notar


os principais caracteres da lagarta que vai nascer; cápsula cefálica

Fig. 59 - Campânulas de criação (Foto Mazza, da Seção de Fotomicrografia do Instituto


Biológico de São Paulo).

marron, mais larga do que o corpo; côr amarelada., com segmentação


bem distinta do corpo; região torácica mais larga do que a abdominal;
Ultimos segmentos bem mais estreitos, o que torna o corpo atilado na
extremidade posterior; pêlos esparsos e eretos distribuídos por todo o
corpo. Esses são os caracteres mais notados na lagarta recemnascida.

Criação de laboratório - A fim de acompanhar a evolução do


estádio larval, idealizámos várias têcnicas que, postas em prática, de-
ram-nos a possibilidade de uma observação clara e mais ou menos precisa
dos principais fatos da vida da lagarta. Dois métodos foram julgados
bons: o primeiro, dando-nos ensejo de observar a lagarta em seus mí-
nimos movimentos, durante todo o estádio, permitiu-nos anotar as
principais ocorrências da vida da lagarta, desde que começa ase alimentar
até a sua transformação em pupa, estando incluídas nessas ocorrências
as mudanças de pele, a desintegração e mastigação de partículas de
cana para sucção do caldo, o arranjamento do bagaço ou serragem,
juntamente com as dejeções, de modo que não impeçam o seu livre
deslocamento pelo tunel. O segundo método, ainda que não permitisse
observar todos esses detalhes, deu-nos oportunidade de anotar a evolução
sem o cotínuo molestar da lagarta, aproximando-a, portanto, da evolução
natural.
70 INSETOS DO BRASIL

Primeiro método - A técnica que imaginamos e utilizamos para


o b s e r v a r o d e s e n v o l v i m e n t o larval é a seguinte: e m u m a t á b u a fina
de rendeira, de 1 a 2 m m . de espessura, 77 m . de c o m p r i m e n t o e 26 m m
de largura, a b r i m o s u m orifício circular de 22 mm. de d i â m e t r o e e m
seguida, no s e n t i d o do c o m p r i m e n t o , u m a r a n h u r a de 20 m m . de c o m -
p r i m e n t o p o r 3 m m de largura, a b r a n g e n d o t o d a a e s p e s s u r a d a t á b u a .
E s s a r a n h u r a s e r v e de abrigo a lagarta, a n t e s q u e começe a p e n e t r a r
n a secçao de c a n a q u e se coloca no orifício circular. A secção, q u e n ã o
d e v e ser c o r t a d a d o s g o m o s velhos, m a s do 2. ° ou 3. ° apicais, d e v e ter
a mesma, e s p e s s u r a d a t á b u a . P a r a introduzir a l a g a r t a a ser o b s e r v a d a ,
p r o c e d e m o s d a s e g u i n t e m a n e i r a : c o l o c a m o s a p l a c a de t á b u a s ô b r e
u m a l â m i n a de vidro (lâmina de p r e p a r a ç ã o microscópica), i n t r o d u z i m o s

Fig. 60 - Campânulas de criação (Foto Mazza, da Seção de Fotomicrografia do Instituto


Biológico de São Paulo).

a secção de gomo no orifício circular e, por meio de u m pincel de pêlo


fino, umedecido, a p a n h a m o s u m a l a g a r t a recem-nascida, do interior d a
m a n g a ou da placa onde f o r a m p o s t o s os ovos, colocando-a n a p a r e d e
d a r a n h u r a . Cobre-se t u d o c o m o u t r a p l a c a dê vidro. O c o n j u n t o é
m a n t i d o c o m firmeza, u s a n d o - s e u m elástico e m cada e x t r e m i d a d e .
A f i m de e v i t a r q u e a a r e s t a d a s l â m i n a s (que n e m s e m p r e são lapidadas)
corte o elástico, colocámos sôbre a l â m i n a , e n v o l v e n d o t o d o o s i s t e m a
u m a cinta de cartolina de cêrca de 1 cm. de l a r g u r a e 7 cm. de c o m p r i -
m e n t o . Sôbre a cartolina, enrola-se o elástico. A figura m o s t r a e s s e
i n s t r u m e n t o s i m p l e s e útil.

P o r t r a n s p a r e n c i a p o d e m ser o b s e r v a d o s t o d o s os m o v i m e n t o s da
lagarta, a m a n e i r a como ela d e s i n t e g r a e c h u p a as p a r t í c u l a s da c a n a
e como t r a n s p o r t a p a r a t r á s os r e s í d u o s ou bagaço. O b s e r v a m o s facil-
LEPIDOPTERA 71

mente a muda, ou ficamos sabendo em que dia a faz, pois a cápsula


cefálica é discernivel no meio da serragem. Basta uma observação diária
para surpreender todos os principais fatos do desenvolvimento larval.
A troca de alimento precisa ser feita periodicamente, dia sim dia
não, ou de 3 em 3 dias. As placas são conservadas em câmara úmida,
o que assegura a conservação do alimento.

Temos observado que depois da terceira muda devem ser usadas


tábuas mais grossas, a fim de proporcionar ambiente maís amplo à
lagarta e de dar-lhe maior quantidade de alimento. Exigindo a obser-
vação um orifício relativamente pequeno, o volume de alimento é em
consequência, pequeno. Para aumentar êsse volume, de par com o
crescer da lagarta, é que aumentamos a espessura da tábua ou superpomos
duas ou três tábuas finas.

Fig. 61 - Colmo e fôlhas de cana de açucar, vendo-se, sôbre


estas: 1- Diatraea saccharalis (mariposa); 2 - ooplaca; 3 -
ooplaca cujos ovos foram destruidos por formigas: 4 - ooplaca
com alguns ovos (negros) parasitados por microhimenópteros.
Através da lente, vêem-se os ovos de uma ooplaca e, sôbre
êles, em 5 - Trichogramma minutum Riley e em 6 - Te-
lenomus (Prophanurus) alecto Crawford (De Wolcott, 1943).

Ao completar o desenvolvimento larval, a lagarta vai para a ranhura,


aglutina os resíduos com fios de seda e forma uma cela entra em prepupa
e 2 a 4 dias após, transforma-se em crisálida. Esta pode ser retirada
e passada para caixa de Petri, ou ser deixada no próprio ambiente em
72 INSETOS DO BRASIL

que se criou a lagarta. E m tal caso convem limpar o orifício, deixan-


do-se nele somente a crisálida.
O método acima descrito, que só serve para a observação de detalhes
da biologia da D. saccharalis, não permite que se obtenha a duração
real dos instars larvais, pois a troca periódica de alimento retarda o
desenvolvimento.

Segundo método - Para termos a duração aproximadamente real


do desenvolvimento, outra técnica foi seguida. Ao invés da estreita
célula, dentro da qual a lagarta é observada por transparência, usámos
campânulas do vidro de 30 ou 40 m m de diâmetro por 60 ou 70 m m
de altura (as mesmas usadas na criação de Vespas de Uganda) (figs.
59-60). As lagartas recem-nascidas são colocadas sôbre um tolere ou
segmento de gomo mole, de 20 ou 30 m m de comprimento. A princípio,
por serem pequenas, as lagartas consomem pequena quantidade de
alimento, fato que permite sejam colocadas 10 em cada tolete. Os
segmentes de gomos ou toletes, à medida que recebem as 10 lagartas
recem-nascidas, vão sendo alinhados sôbre uma mesa bem lisa ou sôbre
vidro plano; cada um será coberto por uma campânula. A umidade
será mantida pela campânula e o CO2 que se forma consegue escapar
por baixo, o que mantem o ambiente adequado ao desenvolvimento
do inseto.
Dez ou doze dias depois de postas sôbre os toletes, devem as la-
gartas ser separadas. Nessa idade já estão no 3. ° instar. A quantidade
de alimento que durante êsse tempo bastou para 10 lagartas, não che-
gará, do 3. ° ao 4. º instar, para mais de 2 ou 3. Ao mudar o alimento
pela primeira vez, temos colocado 2 em cada tolere, e pela segunda vez,
apenas uma lagarta por tolete, pois ela já está quasi no termo do seu
desenvolvimento e a observação individual exige essa separação. Atin-
gido o completo desenvolvimento, a lagarta prepara a saída do adulto,
que consta de um tunel recurvado, à guisa de opérculo, feito de detritos
ligados por fios de seda. O aparecimento desse opérculo é o indício,
seguro de que a lagarta já preparou a câmara pupal e entrou em prepupa.
Todo tolere que apresente êsse indício deve ser aberto ao meio, para
verificar, todos os dias, quando se dá a transformação. As duas partes
do tolete podem, depois de cada observação, ser justapostas e mantidas
por um elástico.
Por êsse método as anotações são em menor quantidade, pois só
nos interessa a duração de cada estádio, não nos preocupando as mudas,
os movimentos, etc. Como se depreende, poucas vezes são as lagartas
molestadas. A troca de alimento feita, a primeira vez 7 dias após o
nascimento, em nada deve alterar a vida da lagarta; a segunda vez,
7 dias depois da primeira, e finalmente a última troca, 6 a 10 dias depois
da segunda, tambem não devem molestar muito a lagarta, pois esta
penetra imediatamente no novo tolete.
LEPIDOPTERA 73

Os dois métodos se completam: o primeiro dá todos os detalhes


do desenvolvimento larval, e o segundo, a duração mais ou menos real
dêsse estádio.

A importância do segundo método deve ser aqui realçada, pois


êle permite a criação, em laboratório, de elevado número de lagartas.
Sôbre essas lagartas criadas em laboratório, todas de idade conhecida,
tentaremos criar grande número de parasitos de Diatraea , única mo-
dalidade de combate à broca que se nos afigura viavel para a cultura
canavieira e m nosso meio.

Mudas - Durante o desenvolvimento das lagartas, podemos ob-


servar, usando o primeiro método, não só o mecanismo, como tambem
o numero de mudas. Durante todas as nossas observações desde No-
vembro de 1943, a Abril de 1944, verificámos haver em geral 5 mudas.
Houve, entretanto, algumas lagartas que só mudaram 4: vezes, crisali-
dando em seguida. Supusemos ter havido qualquer falha na observação
e não levámos em conta os dados de tais lagartas. Nos Estados Unidos,
onde os trabalhos sôbre Diatraea ocupam a primeira linha, as lagartas
mudam normalmente 5 vezes. Há casos de 4 mudas, como os há até
de 14, em larvas hibernantes.
Muitas vezes surpreendemos lagartas em pleno mecanismo de muda.
O indício mais seguro de que houve muda, principalmente nos lotes
observados uma só vez por dia, é a presença da cápsula cefálica entre
a serragem, no tunel onde se abriga a lagarta. É hábito quasi generalizado
a lagarta comer a pele que deixou, ficando na galeria somente a cápsula.

Instars - Para as lagartas que observamos, houve 4 e 5 instars,


sendo este número mais comum. A duração de um instar é mais ou
menos de 5 dias quando a evolução é normal. A medida que a tempe-
ratura vai-se tornando mais baixa, verifica-se um retardamento na
evolução, e os instars vão se tornando mais longos.

As lagartas, ao nascerem, medem 1,3 mm a 1,68 mm., com média


aproximadamente de 1,5 mm. Ao atingirem o completo desenvolvimento,
medem de 25 a 30 mm. Há casos em que, por ser deficiente ou inade-
quado o alimento, as lagartas entram em prepupa com 18 a 20 mm.
Dão crisálidas pequenas e adultos menores do que os normais.
Evolução - O estádio larval é de curta ou longa duração, segundo
se trate de larvas normais de verão ou de larvas hibernantes. Estas,
que eclodem no Estado de São Paulo em Maio ou Junho, permanecem
nesse estádio, durante 150 a 180 dias, no interior do colmo da cana
ou do milho.

As lagartas que nascem de Outubro a Abril, evoluem mais rapi-


damente e as variações verificadas são devidas às oscilações da tem-
peratura.
74 INSETOS DO BRASIL

D e N o v e m b r o de 1943 a M a i o de 1944, o b s e r v a m o s a evolução


e m 250 l a g a r t a s e e n c o n t r á m o s : m é d i a 4 0 , 1 dias; m í n i m a 23 e m á x i m a
64 dias. A s p o r c e n t a g e n s de evolução a s s i m se d i s t r i b u i r a m : de 23 a 32
dias - 24,8%; de 33 a 44 dias - 44,8%; de 45 a 56 dias - 22,4%
e de 57 a 64 dias - 8,0%. A temperatura média foi de 24,5° C., sendo
a m í n i m a d a s m é d i a s de 23,0°C., e a m á x i m a d a s m é d i a s de 26,1°C.

Pupa - Após um período prepupal de cerca de 2 dias, a lagarta


t r a n s f o r m a - s e e m p u p a n a c â m a r a p r e p a r a d a pela l a g a r t a no interior
do côlmo. O e s t á d i o p u p a l t e m u m a d u r a ç ã o de 6 a 14 dias.

Proporção dos sexos - Os sexos correram na seguinte proporção:


fêmeas 5 3 , 2 % e machos 46,8%.

Fig. 62 - Telenomus alecto (Foto Mazza, da Seção de Fotomicrografia do


Instituto Biológico de São Paulo).

Partenogênese - A fêmea virgem, quando as condições são fa-


voraveis, deita grande quantidade de ovos, sem se preoeupar muito
com o perfeito arranjamento dos mesmos. A coloração desses ovos é
leitosa, sem se notar a transparência peculiar dos ovos normais. A par-
tenogênese não ocorre, mas os ovos infecundos servem para a criação
do parasito Telenomus alecto, que os aceita muito bem.
LEPIDOPTERA 75

Numero anual de gerações - De Maio de 1943 a Maio de 1944


foram obtidas 4 gerações completas, sendo uma hibernante. É provavel
que na natureza possam completar-se 5 gerações.

Combate - Vivendo a lagarta no interior do colmo, vemos de


difícil execução os processos normais de combate químico. Alem disso,
pela enormidade das culturas (produção de 3 milhões de sacas de açucar),
seria impraticavel, em nosso meio, um combate químico eficiente. A
quasi totalidade das lagartas hibernantes são esmagadas pelas moendas,
o que deve concorrer para que a praga não eleve ao extremo os prejuizos
que causa.

Fig. 63 - Pupas de TeIenomus alecto dentro de ovos de Diatrea (Foto


Mazza, da Seção de Fotomicrografia do Instituto Biológico de São Paulo.).

Os inimigos naturais, que são em nosso meio de grande valor, devem


exercer um controle bastante apreciavel, pois concorrem para a limitação
da população da praga.
Os principais parasitos da Diatraea por nós encontrados em Pi-
racicaba, Campinas e Itapira, pertencem a Ordem Diptera e são:
Metagonistylum minense Townsend (Tachinidae) e Paratheresia bra-
siliensis Townsend (Prosenidae).
Estas duas espécies são muito perseguidas pelos hiperparasitos, que
seriam, segundo a ocorrência mais frequente:
76 INSETOS DO BRASIL

Thysanus dipterophagus (Girault) (Chalcidoidea-Signiphoridae), Ho-


rismenus brasiliensis (Entedontidae), Trichopria cubensis Fouts (Dia-
priidae); Melittobia sp. (Chaleidoidea-Tetrastichidae).
Parasitando ovos só encontramos a espécie Trichogramma minutum
Riley.
Ao Sr. Herval Dias de Souza, da Estação Experimental de Campos,
R io de Janeiro, devemos a fineza da remessa de exemplares de Telenomus
alecto (Crawford, 1914) (figs. 62-65) parasito de ovos. Procedemos a
criação do Telenomus em laboratório, e em Maio de 1914 havíamos
libertado cerca de 800 adultos em nossa pequena cultura. Não sabemos
ainda si essa espécie se estabeleceu em Campinas. Investigações pos-
teriores e novas criações serão feitas para a introdução desse parasito
em todas as zonas canavieiras de São Paulo".

Na Guiana Inglesa MYES (1931) colheu os seguintes endó-


lagos de lagartas de Diatraea:
Ipobracon grenadensis, I. puberuloides, I. dolens, I. saccharalis,
I. pennipes, I. aquaticus, Apanteles diatracae, Microdus stigmaterus,
M. sacchari, M. parvifasciatus (Braconidae), Spilocryptus diatraeae,
(Ichneumonidae), Perisierola bogotensis (Bcthylidae) e Spilochalcis
dux (Chalcididae).
Ver a relação completa de todos os parasitos de Diatraea no
Livro de THOMPSON (1945).

D e v e ser t a m b é m consultado o mais recente trabalho de B o x


(1917).

22. Bibliografia.

BERGAMIN, J .
1943 - Métodos de laboratório para observação e criação da Diatraea
sacharalis (Fabricius, 1794), a broca da cana.
Arq. Inst. Biol., 14 : 351-354, est. 31.
BONDAR, G.
1912 - Dois insectos nocivos ao milho (Zea mays).
Chac. Quint., 5 (2): 49-50, figs.
BOX, H. E.
1927 - Los parasitos conocidos de las especies americanas de Diatraea
(Lepidoptera, Pyralidae).
Rev. Industr. Agric. Tucuman, 18: 53-60.
1931 - Tha Crambine genera Diatraea and Xanthoherne (Lep. Pyral.).
Bull. Ent. Res., 22 : 1-50, 5 figs., 5 ests.
LEPIDOPTERA 77

BOX, H. E.
1934 - The biological control of the suger cane m o t h borer in the
Leward Islands.
Trop. Agric., 12 (4): 89-96.

1935 - The food plants of American Diatraea species.


Trinid. Gov. Ptg. Off.; 11 p.

1935 - New records and three new species of american Diatraea (Lep.
Pyral.).
Bull. Ent. Res., 2 6 : 323-333, 1 est.

1936 - The species of Diatraea attacking sugar cane in new world.


Sugar Cane Tech. 5, Brisbane, 1935 : 4 7 0 4 7 6 .

1939 - Biological control of Diatraea saccharalis (Fabricius) in St.


Lucia, B. W. I.
Proc. Int. Soc. Sugar Cane Techn., 6 : 223-240, 1 fig.

1939 - Some aspects of the campaign against the m o t h borer (Dia-


traea saccharalis Fabr.) in Antigua and St. Kitts. 1931-1938.
Proc. Int. Soc. Sugar Cane Techn., 6 : 495-513, 2 figs.

1947 - Informe preliminar sobre los taladradores de la caña de azucar


(Diatraea spp,) en Venezuela.
Bol. Tech. Dep. Ent. Sec. Cana Azucar, 117 p.. 19 ests.
BRÈTHES, J.
1920 - Diatraea saccharalis eu la Provincia de Buenos Aires.
An. Soc. Rur. Argent., 5 4 : 943-948, 6 figs.

1927 - Parasites and hyperparasites of Diatraea saccharalis in T u c u m á n


sugar cane.
Bull. Ent. Res., 18: 205-207.
CLEARE, L, D.
1929 - M o t h borer control in British Guiana.
Trans. 4th Infere. Congr. Ent.: 131-137.

1932 - M o t h borer damage in relation to sugar cane varieties m


British Guaiana.
Trop. Agric., 9 : 264-271.

1934 - Sugar cane m o t h borer investigations in British Guiana; the


present position
Agr. Jour. Brit. Guiana., 5 : 13-21,

1939 - The Amazon fly (Metagonistylum minense Towns.) in British


Guiana.
Bull. Ent. Res., 3 0 : 8 5 - 1 0 2 .
78 INSETOS DO BRASIL

DAVIS, E. G.
1944 - Apanteles diatraeae, a Braconid parasite of the Southwestern
corri borer.
U. S. Dep. Agric., Tech. Bull., 871; 19 p., 12 figs.

DAVIS, E. G., J. R. HORTON, C. H. GABLE, E. V. WALTER, R. A. BLANCHARD


& C. HEINRICH.
1933 - The southwestern corn borer.
U. S. Dep. Agric., Tech. Bull. 388, 62 p., 28 figs.
DOHANIAN, S. M.
1937 - The introduction of parasites of the sugar-cane borer into
Puerto Rico.
Jour. Agric., Univ. Puerto Rico, 21:237-241.
DUTRA, G. R. P.
1899 - Microparasitos da canna de assucar.
Bol. Inst. Agr., São Paulo, 10:286.

D YAR, H. G. & C. H EINRICH


1927 - The american moths of the genus Diatraea and allies.
Proc. U. S. Nat. Mus., 71 (2691) : 1 - 48, ests. 1-20.
F LANDERS, S. E.
1929 - The mass production of Trichogramma minutum Riley and
observations on the natural and artificial parasites of the
codling moth egg.
Trans. 4th Internat. Congr. Ent.; 110-130, figs.

G ORKUM, V. V AN & L. DE W AAL


1914 - Cana atacada pela broca Diatraea saccharalis.
Bol. Agric. Pernambuco, 8 (4) :185-196.
GREAVES, C.
1945 - Un nuevo parásito del taladrador de la caña de azúcar (Diatraea
spp.) en Venezuela.
3. ª Confr. Interamer. de Agric., Caracas: 54 p.
HAMPSON. G. F.
1895 - On the classification of the Schoenobiinae and Crambinae.
Proc, Zool. Soc. London; 897-894, 52 figs.

1919 - Description of new pyralids of the subfamilies Crambinae and


Siginae.
Ann. Mag. Nat. Hist., (10) 3 : 275-292; 437-456; 533-547;
(10) 4 : 5 3 - 6 8 ; 137-154; 305-326.
HARLAND, S. C.
1937 - A note on two larval parasites of the sugar-cane moth borer
in São Paulo, Brasil.
Trop. Agric., 14 : 280.
LEPIDOPTERA 79

KAYWARD, K. J.
1943 - E1 gusano chupador de la caña de azúcar (Diatraea saccharalis
(Fabricius) en Tucuman.
Bol. Estac. Exp. Agric. Tucumán, 3 8 : 1 - 2 5 , 17 íigs.

H INDS, W. E., B. A. O STERBERGER & A. L. D UGES


1933 - Review of the six seasons'work in Louisiana in controlling the
sugar cane moth borer by field colonization of its egg parasite
Trichogramma m i n u t u m Riley.
Bull. La Agr. Exp. Sta., 2 3 5 : 3 6 p., figs.

H INDS, W. E. & H. S PENCER


1927 - Airplane dusting for sugar cane moth borer control in Louisiana.
Jour. Econ. Ent., 2 0 : 3 5 2 - 3 5 7 .
H OLLOWAY, T. E.
1916 - Larval characters and distribution of two new species of Dia-
traea.
Jour. Agric. Res., 6 ; 6 2 1 - 6 2 6 , est.

H OLLOWAY, T. E., U. C. L OFTIN & C. H EINRICH


1919 - The sugar-cane moth borer.
U. S. Dep. Agric., Bull. 746 : 74 p. 12 figs. e 9 ests.

H OLLOWAY, T. E., W. E. H ALEY, U. C. L OFTIN & C. H EINRICH


1928 - The sugar-cane m o t h borer la the United States.
U. S. Dep. Agric., Tech. Bull., 41 : 76 p., 25 figs.

I NGRAM, J. W. & E. K. B YNUM


1941 - The sugar carie borer.
U. S. Dep. Agric., Farm. Bull., 1884, 17 p.

I NGRAM, J. W., E. K. BYNUM & L. J. CHARPENTIER


1948 - Tests with new insecticides for control of the sugar cane bore r.
J. Econ. Ent., 40: 729-789.
JAYNES, H. A.
1933 - The parasites of the sugar cane borer in Argentina and Peru
and their introduction into the United States.
U. S. Dep. Agric., Tecn. Bull., 363 p., 10 figs,

1938 - F u r t h e r a t t e m p t s to establish Lixophaga diatraeae (Towns).


and other sugarcane borer parasites in Louisiana and Florida,
with recoveries in 1937 and 1937.
Proc. Int. Soc. Sugar Cane Techn. Cuba, 6 : 2 4 5 - 2 5 8 .

MC KEITH, E. K.
1944 - The bionomies of the neotropical cornstalk borer, Diatraea
lineolata Wlk. (Le. Pyral.) in Trinidad B - W . I.
Bull. Ent. Res., 3 5 : 2 3 - 3 0 .
80 INSETOS DO BRASIL

M C K EVAN, D. K. E.
1943 - The neotropical cornstalk borer Diatraea lineolata Wlk., and
the sugar-cane moth-morer, Diatraea saccharalis (Fabr.) as
maize pests in Trinidad B. W. I., with notes from Grenada.
Trop-Agric., 20 : 167-174.

M ATHE, R., I NGRAM, J. W. & W. F. H ALEY


1939 - Preliminary report on studies of progenies of sugar carie crosses
for susceptibility to sugar cane borer, Diatraea saccharalis
F. injury in Louisiana.
Proc. Int. Soc. Sugar Cane Tech., 6 : 5 8 1 - 5 8 9 .
M C C. C ALLAN, E.
1942 - Notes on Theresia claripalpis Wulp (Diptera, Tachinidae), a
parasite of Diatraea spp., in Trinidad, B. W. I.
Trop, Agric., 19: 71-73.
MONTE, O.
1933 - U m novo parasito da broca da cana (Diatraea saccharalis F.)
e considerações sôbre esta broca.
Bol. Agric. Zootech. Veter., Belo Horizonte, 6 : 5 5 9 - 5 6 3 ,
3 figs.

1935 - U m pouco de história sôbre Metagonistylum minense.


O Campo, 6 (12) :30-31.
M YERS, J. G.
1902 - The original habitar and hosts of the three major sugar-cane
pests of Tropical America (Diatraea, Castnia, and Tomaspis).
Bull. Ent. Res., 23:257-271, 1 est.

1931 - Descriptions and records of parasitic Hymenoptera from British


G u y a n a and the West Indies.
Bull. Ent. Res., 22 : 267-277, 3 figs.

1934 - The discovery and introduction of the Amazon fly.


Trop. Agric., 11 : 191-195; 12 : 158-160.

1935 - The ecological distribution of some south american grasses


anal sugar cane borers (Diatraea spp., Lep. Pyralidae).
Bull. Ent. Res., 2 6 : 3 3 5 - 3 4 2 , 1 est.
PHILPOTT, A.
1929 - The male genitalia of the New Zealand Crambidae.
Trans. Proc. New. Zeal. Inst., 6 0 : 4 9 1 - 5 1 4 , 68 figs.
PICKLES, A.
1936 - Observations on the early larvae mortality of certain species
of Diatraea (Lep. Pyralidae) under cane field conditions in
Trinidad.
Trop. Agric., 13 : 155-160.
LEPIDOPTERA 81

P LANK H. K.
1929 - Natural enemies of the sugar Bane m o t h stalkborer in Cuba.
Ann. Ent. Soc. Amer., 22:621-640, 7 figs.

R OSENFELD, A. H. & T. C. B ARBER


1914 - E1 gusano chupador de la caria de azúcar.
Rev. Indust. Agr. Tucuman, 4 : 2 2 6 - 3 6 6 , figs.
SALT, G.
1926 - Report on sugar-carie borers ar Soledad, Cuba.
Contr. Harv. Inst. Trop. Biol. Med., 3 : 62 p-.4 ests.
SCARAMUZZA, L. C.
1933 - Observaciones sobre ciertos parasitos de Diatraea del Brasil
y la Guyana Inglesa.
Mem. 7. ª Conf. An. Asoc. Tec. Azuc. C u b a : 6 3 - 6 7 .

1939 - T h e introduction and establishment in Cuba of Metagonistylum


minense, parasite of the sugar cane borer.
Proc. 13th. Ann. Confer. Assoc. Sugar Cane Techn. Cuba:
295-298, 1 fig.

S CARAMUZZA, L. C. & J. W. I NGRAM


1942 - Results attained in the biological control of Diatraea saccharalis
(F.) in Floridos.
Jour. Econ. Ent., 3 5 : 6 4 2 - 6 4 5 .
SCHAUS, W.
1922 - New species of Pvralidae of the subfamily Crambinae from
Tropical America.
Proc. Ent. Soc. Wash., 2 4 : 1 2 7 - 1 4 5 .
S OUZA, H. D. DE
1942 - A broca da cana de açúcar e seus parasitos em Campos, Estude
do Rio de Janeiro.
Boi. Inst. Exper. Agric., 4 : 2 2 p., 12 figs.
THOMPSON, W. R.
1943 - A catalogue of the parasites and predators of insect pests.
Imp. Agric. Bur., Inst. Ent., Sect. 1, P a r t 6 - Paras.
Lepidoptera.
TUCKER, R. W. E.
1935 - A review of the control work on Diataraea saccharalis F. in
Barbados.
Proc. Intern. Soc. Sugar Cane Techn. Congr., 5 : 386-397.

1937 - Larval dispersion of Diataraea saccharalis.


Agric. Jour. Barbados, 6 (4) : 157-169.
82 INSETOS DO BRASIL

WILLE, J.
1932 - Der Zuckerrohrbohrer, Diatraea saccharalis Fab., ein bisher
unbekannter Schädling am Weizen, in den Kustengebieten
Perus.
Anz. Schädl. - Kunde, 8 (3) : 25-29, 2 figs.
WOLCOTT, G. N.
1939 - Prophanurus alecto Crawford in Puerto Rico.
Jour. Econ. Ent., 32:152-153.
W OLCOTT, G. N. & L. F. M ARTORELL
1943 - Natural parasítism by Trichogramma minutum of the eggs
of the sugar-cane moth borer, Diatraea saccharalis, in the
cane fields of Puerto Rico.
Jour. Agrc. Univ. Puerto Rico, 27 : 39-83.
1943 - Control of the sugar-cane borer in Puerto Rico by laboratory-
reared parasites.
Jour. Econ. Ent., 36:460-464.

Família EPIPASCHIDAE
(Epipaschiidae Butler, 1889; Pococerinae Hampson, 1918)

23. Caracteres, etc. - Piralídeos de corpo relativamente ro-


busto, geralmente com mais de 20 mm de envergadura, não raro de
aspecto noctuóide.
O escapo das an-
tenas dos machos em
muitass espécies apre-
senta longo processo
córneo, plumiforme,
voltado para trás
(fig. 64).
Espiritromba e
p a l p o s m a x i l a r e s de-
senvolvidos; palpos
l a b i a i s g r a n d e s , as-
Fig. 64 - Macala regalis (Epipaschidae) (Lucerda fot.). cendentes. Asas ante-
riores a p r e s e n t a n d o
pequenos tufos de escamas erectas na célula; R 1 livre, R 5 em for-
quilha com R 3 e R 4 . Frenulum simples em ambos os sexos.
Sc + R 1, nas asas posteriores, livre ou anastomosando-se com Rs.
LEPIDOPTERA 83

Família relativamente pequena e com poucas espécies de im-


portância econômica. Citarei as mais interessantes.
Pococera atramentalis (Lederer, 1863) (fig. 65) - A lagarta na
Bahia, segundo BONDAR, ataca as fôlhas e bagas do cafeeiro. Em
Porto Rico, segun-
do WOLCOTT, ali-
menta-se de fôlhas
de mangueira e de
C lerodendron squa-
matuto. No Perú,
segundo WILLE
(1943 Ent. Agr.
Perú), a t a c a fre-
quentemente espi-
gas de milho e, às Fig. 65 - Pococera atramentalis (Lederer. 1863) (Epipaschidae) (à
direita, vista da face inferior das asas)
vêzes, capulhos de (De Lederer, 1863; est. 7, fig. 14).
algodão.
A mariposa, com 20 mm de envergadura, é de côr cinzenta
e parda com desenhos negros e claros, que podem ser apreciados
na figura.
A lagarta, bem desenvolvida, têm 30 mm de comprimento; é
de côr purpúrea esverdeada, com 4 linhas amarelas longitudinais.
Stericta albifasciata Druce, 1902 (figs. 66-68) - As lagartas
alimentam-se de fôlhas de abacateiro. Tratando dêste inseto escrevi
o seguinte:

"Conforme tenho observado, taes lagartas são mui vorazes e, des-


truindo as folhas, às vezes, nem mesmo poupam as nervuras.
Por isto, é provavel que este insecto, encontrando condições favo
raveis a uma proliferação excessiva, venha a ser uma praga do abacateiro.
Por enquanto, as lagartas são encontradas em alguns galhos de cada
pé; assim, os danos que produzem não são de grande monta.
Em geral se as observa gregariamente, isto é, reunidas em grupos
de algumas dezenas de individuos, mais ou menos encobertas por um
entrelaçado de fios de seda que secretam.
Ellas se originam de ovos achatados, de contorno eliptico, em-
bricados uns sobre os outros e díspostos em série linear ao longo da
nervura mediana das folhas. Das posturas à sahida das lagartas, decorrem
84 INSETOS DO BRASIL

a l g u n s dias. O d e s e n v o l v i m e n t o d a s l a g a r t a s , d a e m e r g ê n c i a d o s o v o s
à t r a n s f o r m a ç ã o e m chrysalidas, se effectúa, n a época e m q u e o observei
(Novembro - De-
zembro), e m 27
dias, e o periodo
n y m p h a l , isto é,
da, t r a n s f o r m a ç ã o
e m c r y s a l i d a s ao
a p p a r e c i m e n t o de
novas mariposas,
d u r a 17 dias.
Descripção do
insecto - As la-
Fig. 66 - Stericta albifasciata Druce. 1902 g a r t a s s ã o facil-
(Epipaschidae) (Lacerda fot.). m e n t e v i s t a s pelos
n i n h o s de fios de
seda q u e a s p r o t e g e m e b e m reconheciveis pela coloração e m a r c a s
peculiares q u e a p r e s e n t a m . São de u m p a r d o - e s v e r d e a d o . N o dorso
n o t a m - s e 8 riscas l o n g i t u d i -
nais e parallelas, de côr p a r d a ,
d e n e g r i d a s no 1.o s e g m e n t o
thoraxico, 2 m a n c h a s de côr
igual à d a s riscas, n a p a r t e
anterior do 1. o segmento
a b d o m i n a l , e n t r e a 2.ª e 4. ª
riscas de c a d a lado (a c o n t a r
do dorso p a r a os lados), e,
outras duas, em identica
posição, ao nível do 8. ° seg-
mento abdominal.
T o d a a porção a n t e r i o r d a
cabeça é enegrecida. T a m b e m
são q u a s i t o t a l m e n t e negros:
o ultimo segmento abdomi-
nal, t o d o s o s 5 p a r e s d e Fig. 67 - Genitalia de Stericta albifasciata
p e r n a s a b d o m i n a i s e os seg- (Epipaschidae) (Lacerda fot.).
mentos basaes das pernas
thoraxicas.
Quando completamente desenvolvidas medem de 2, 5 a 3 cm. de
c o m p r i m e n t o p o r 4 m m . de largura.
As chrisalidas nada de extraordinário apresentam. Medem, em
geral, 12 mm. x 4mm. e são protegidas por um casulo não muito espesso.
As mariposas se distinguem de outros microlepidópteros do mesmo
tamanho principalmente pelo colorido das azas anteriores.
LEPIDOPTERA 85

Estas são bronzeadas, em alguns lugares mais claras e, em outros,


com manchas, irregularmente dentadas, de um bronzeado escuro.
O que, principalmente, as caracteriza, é a presença de uma mancha
arredondada de escamas brancas perto da raiz, do bordo anterior ou
costal ao posterior, sem, porém, atingi-lo. As azas posteriores são trans-
parentes, irisadas e pardacentas ao longo do bordo costal, no angulo
anterior, e, em menor extensão, no bordo externo.

Fig. 68 - Asas de Stericta albifasciata (Epipaschidae) (Lacerda del.).

Os machos bem se distinguem das femeas por apresentarem uma


peça ou processo densamente escamoso, appendiculado é base da antenna
e attingido o meio do thorax. Estas mariposas medem cerca de 1 cm.
de comprimento (da cabeça ao apice do abdomen) por 23 mm de en-
vergadura".
86 INSETOS DO BRASIL

Um Epipasquídeo também interessante é a Cecidipta excae-


cariae Berg, 1877, cujas lagartas, na Argentina e no Sul, deter-
minam a formação de cecídias em caule de Sapium aucuparium
(Excaecaria biglandulosa).

24. Bibliografia.
BOURQUIN, F.
1936 - Notas biológicas sobre Cecidipta excoecariae Berg (Lep. Noct.
Pyralidae).
Rev. Ent., 6:384-388, 5 figs., 1 est.
1944 - Mariposas Argentinas.
Buenos Aires : 61, est.

H OLLAND, W. J. & W. S CHAUS


1925 - The Epipaschinae of the Western Hemisphere; a synonymic
catalog of the species hitherto described, with figures of
many which have not heretofore been depicted.
Ann. Carneg. Mus., 16 : 49-130, 13 figs. e 7 ests.
J ANSE, A. J. T.
1931 - A contribution towards the study of the genera of Epipaschinae
(Family Pyralidae).
Trans. Ent. Soc. London; 439-492, 11 ests., 3 figs.
LIMA, A. DA COSTA
1923 - Insetos inimigos do abacateiro (Persea gratissima) no Brasil.
Chac. Quint., 27 (4):304-308.
SCHAUS, W.
1922 - Notes on the neotropical Epipaschinae with descriptions of
new genera and species.
Proc. Ent. Soc. Wash., 24:208-241.

1925 - New species of Epipaschinae in the Carnegie and National


Museums.
Ann. Carneg. Mus., 2 6 : 9 - 4 8 , 4 ests.

Família PHYCITIDAE ¹
(Phycidae Guenée, 1854; Leach, 1886; Phycitidae Meyrick, 1893)

25. Caracteres, etc. - Piralídeos pequenos, de corpo delicado


e asas anteriores mais ou menos estreitadas, geralmente de côr cin-
zenta, com manchas ou faixas de cores pouco vistosas. Pousados
ficam com as asas bem encostadas ao corpo.

¹ Do (phycos) alga, mais o sufixo ita.


LEPIDOPTERA 87

Ocelos presentes. A n t e n a s dos m a c h o s g e r a l m e n t e f a s c i c u l a d a s


ou p e c t i n a d a s . E s p i r i t r o m b a d e s e n v o l v i d a . P a l p o s m a x i l a r e s m a i s
ou menos visíveis. Palpos labiais bem desenvolvidos, porretos
ou a s c e n d e n t e s .

Radius da asa anterior apenas com 4 ou 3 ramos; R 5 ausente;


R 3 e R 4 fundidas numa só nervura.

Asas posteriores c o m longo p é c t e n c u b i t a l . F r e n u l u m simples


e m a m b o s os sexos.

F a m í l i a c o n s t i t u í d a por g r a n d e n ú m e r o de espécies, m a i s
a b u n d a n t e s n a s regiões tropicais, a l g u m a s de g r a n d e interêsse sob
p o n t o de v i s t a econômico.

R e l a t i v a m e n t e à classificação dêstes m i c r o l o p i d ó p t e r o s t r a n s -
crevo a opinião de H EINRICH (1939), por estar de acôrdo com a
o b s e r v a ç ã o de todos q u e se v ê e m n a c o n t i n g ê n c i a de d e t e r m i n a r
qualquer Ficitídeo americano:

"At present the classification of the Phycitinae is a hopeless muddle.


No one searas to know just what a generic concept stands for ar to
what genus a given species (which is nar a genotype) should go. This
is nar so much the fault of any entomologist as ir is of the phycitids
themselves. The family is a fluid one. There are few obvious, hard-
and-fast divisions anywhere, nar can real divisions, when established,
be defined in simple, categorical terms; for there is hardly a single
structural character that does nar break down somewhere. In any
larga series of any given species there are specimens wherein the ve-
nation, for example, varies from that of the genus ar aí the largar group.
The palpal charaeters grade into one another by almost imperceptible
degrees and are apt to explode altogether. For example, a perfectly
good Dyorictria may have an aigrette like male maxillary palpus,
(which should place ir in Salebria) while its most closely related species
and one hardly distinguishable otherwise may have a perfecfly normal
squamous palpus. The male of one species may have a short cell and
seven veins in the hind wing while its female exhibits a long cell and
eight veins. Wing pattern and color also vary to some extent but on
the whole are more reliable for specific placement than are venational,
palpal, ar antennal characters for genera. The genitalia, both male
and female, seem to be more constant than other structures and to offer
the best characters for the identification of species and genera; but they
toa, must be used with caution. A classification based upon them alone
would be as misleading as any other.
88 INSETOS DO BRASIL

Up to the present only one serious and noteworthy attempt has


been made to classify the family, that of RAGONOT in his monumental
"Monographie des Phycitinae et des Galleriinae". He left the second
volume unfinished ar his death, bur HAMPSON completed ir freto his notes,
and HAMPSON himself was working on a generic revision of the Phy-
citinac when he retired from active entomological work. RAGONOT'S
system was based chiefly upon venation, palpal structure, vestiture,
and secondary male characters. In its broader outlines it was a natural
classification; but its great reliance upon secondary male characters
made ir unworkable for unassociated females; and many species were
then and later described forro such females and had to be placed by
guess-work. The genera themselves were more or less artificial enti-
fies and (except for the monotypic genera and some with very few
species) usually included species not closely related to one another or
not conforming on all definitive characters.

HULST, who worked contemporaneously with RAGONOT, followed,


in his own careless fashion, the R AGONOT system. He made some
attempt to use the male genitalia, bur bis observations were entirely
superficial and sporadic, and bis statements concerning these structures
are more often misleading than not. D YAR, H AMPSON, MEYRICK, C A-
R ADJA, and later authors have published only descriptions of new
genera and species. Dr. A. J. T. JANSE has made an extensive study
of the South African Phycitidae and has given special attention to the
genitalia. He probably knows the family better than any living lepi-
dopterologist, bur as yet he has not published any revisionary work
on it.
Freto my own studies I feel that the only possible way to geta
classification that will permit of workable keys and ready identification
of moths of both sexes is to make small genera, to li nit them to only
obviously related species, to define them rigidly, and in the definition
to utilize every available character of structure, habitus, and biology.
I do not suggest that I have done this here or shall be able to do it in
future papers on the group; bur such is the ideal".

26. Espécies de maior importância economica - As lagartas


dos Phycitidae o u são f i t ó f a g a s (filófagas, xilófagas, carpófagas ou
espermófagas), ou saprófagas, ou predadoras de Coccídeos.

As l a g a r t a s f i t ó f a g a s c r i a m - s e g e r a l m e n t e em frutos, principal-
mente em vagens, atacando-lhes as s e m e n t e s . Como exemplos de
t a i s espécies, c i t o as s e g u i n t e s :
LEPIDOPTERA 89

Ancylostomia stercorea Zeller, 1848 (fig. 69) - As lagartas,


segundo HAMB LETON, em Minas Gerais, vivem em vagens de fe-
degoso (Crotalaria sp).

Fundella pellucens
Zeller, 1848 e Etiella
zinckenella (Treitsch-
ke, 1846) (fig. 70) - As
lagartas de ambas têm
hábitos semelhantes aos
das lagartas de Crochi-
phora testulalis (Pyraus-
tidae). Criam-se em Fig. 69 - Ancylostomia stercorea Zeller, 1848 (Phycitidae).
vagens de várias Legu-
minosas, especialmente dos gêneros Canavalia, Crotalaria, Mucuna
e Phaseolus.
Nos primeiros estádios são de côr verde-clara, exceto a cabeça
e o escudo pronotal, que são de côr parda-escura ou negra. Dis-

Fig. 70 - Etiella zinckenella (Treitscke, 1845)


(Phycitidae) (Lacerda del.).

tinguem-se, nesse período, pelo quetotaxia. Quando ficam mais


desenvolvidas é fácil distinguí-las pela côr do escudo pronotal. A
lagarta de Etiella é de côr amarela-esverdeada, opalescente, com as
seguintes máculas enegrecidas, além de vários pontos negros: duas
no meio, em forma de crescente, perto da borda anterior, uma de
90 INSETOS DO BRASIL

cada lado dêsses crescentes, perto da margem lateral e duas maiores


posteriores, opostas aos crescentes, perto da margem posterior.
Na lagarta de Fundella o escudo pronotal é de côr parda idêntica
a da cabeça, ou mais escura.
As lagartas dêstes dois Ficitídeos normalmente tecem o casulo
no solo, profundamente. Os adultos, pousados, mantêm as asas
de encontro ao corpo, como nos demais Phycitidae.
Sôbre Etiella zinckenella e Fundella cistipennis DYAR, outra
espécie que, em Porto Rico, produz nos feijões estragos semelhantes
aos feitos por Fundella pellucens, recomendo a leitura dos trabalhos
de LEONARD MILLS e de WOLCOTT.
De lagartas de Etiella, criadas em favas de fedegoso (Crotalaria
sp.) no Rio de Janeiro, obtive dois microhimenópteros parasitos,
um Calcidídeo do gênero Eurytorna e um Braconídeo do gênero
Heterospilus, talves Heterospilus etiellae Rohwer.
SAUER, em São Paulo, verificou o parasitismo das lagartas de
Eliella por Microbracon sp. (Braconidae).

Myelois duplipunctella Ragonot, 1887- MOREIRA (1917)


obteve exemplares desta espécie de lagartas criadas em frutos de
cacaueiro, apanhados na Quinta da Boa Vista (Rio de Janeiro).
As lagartas atacam as sementes. Em Belo Horizonte atacam se-
mentes de jatobá (Hymenaea courbaril) (Leg. Caesalp.), segundo
observação de MONTE, acompanhando exemplares que me enviou
para determinação.

Myelois solitella Zeller, 1881 - Eventualmente as lagartas


atacam sementes de cafeeiro.
BONDAR (1930) estudou uma outra espécie de Myelois - M.
expunctrix Dyar & Heinrich, 1929, cuja lagarta, na Bahia, é broca
do "flamboyant" e de outras leguminosas.
O mesmo autor, em seu trabalho (1940), "Insetos nocivos e
moléstias do coqueiro (Cocos nucifera)", trata de Hyalospila ptychis
Dyar, 1919, por êle apelidada-"traça dos côcos novos", dizendo
o que se segue:
LEPIDOPTERA 91

"As lagartas de Hyalospila ptychis criam-se nas inflorescencias


recem-abertas das palmeiras nativas dos generos Cocos e Attalea, ali-
mentando-se das flôres femininas, cu jus carpellos tenros comem, pro-
vocando o aborto.

No coqueiro o insecto é muito comum, tanto nas plantações do


litoral, como nos coqueiros espalhados pelo interior do Estado da Bahia.
Verificamos a presença da praga nos arredores da Capital, nos Muni-
cipios de Ilheos, M a t t a de S. João, Esplanada, Bomfim, S. Terezinha,
etc. Recebemos amostras de côcos estragados e das lagartas, remetidas
pelo Dr. Samuel Hardmann, Estado de Pernambuco. Pensamos que
a espécie se acha generalizada em todos os coqueirais do Brasil, como
também nas palmeiras-nativas de licuri, piassava, etc.
Os estragos causados à frutificação do coqueiro são, às vezes, b a s t a n t e
serios, como observamos em Bomfim, onde verificamos a maioria das
flores femininas abortadas pela lagarta. Julgamos que, depois de Ho-
malinotus cofiaremos, esta traça é o maior inimigo da frutificação do
coqueiro, podendo-se-lhe comparar, pelos prejuízos que causa, á lagarta
rosada do algodoeiro.
Começam os estragos logo que a inflorescencia abre, roendo as
lagartas os carpelos das flôres frutigenas, ainda tenras. As lagartas
perfuram as brácteas, para atingir o tecido do mesocarpo do futuro
fruto, de que se alimentam, provocando o pêco das flores. Observamos
multiplos casos quando rodas as flôres femininas de inflorescencias,
abortavam, sendo perfuradas e abortadas pela lagarta.
Alimentado-se dentro do fruto embrionario, a lagarta expele re-
síduos da digestão, que se acumulam na superfície da frutinha, ligados
pelos fios de seda, em baixo dos quais as lagartas, ás vezes, passeiam,
invadindo outras flôres.

Nas flôres fecundadas e nos frutos em desenvolvimento, o meso-


carpo, na parte descoberta, endurece e não serve para a lagarta. Con-
serva-se mole o mesocarpo da base do fruto, protegido pelas brácteas,
onde se gera o tecido novo de crescimento do fruto. As lagartas intro-
duzem-se por baixo das brácteas, na base desses côcos, fazendo igualmente
galerias no mesocarpo, interceptando a alimentação do fruto e provo-
cando o derrame da selva, que se solidifica em forma de goma. Os frutos
atacados, ou pecam logo, ou continuam em desenvolvimento, ficando
deformados ao lado da broca, com os tecidos correspondentes pretos,
encurtados ou amortecidos. Os côcos, mesmo desenvolvidos, enquanto
possuem o mesocarpo tento na base, estão sujeitos aos ataques da
lagarta.

Uma parte importante de cocos perus, que se vêm no chão, em


nossos coqueirais, é d e r r u b a d a pelas lagartas. Muitos deles são ainda
embrionarios, outros meio desenvolvidos e ainda outros já crescidos.
92 INSETOS DO BRASIL

A maioria dos frutos pecos mostra signais evidentes da lagarta, e, em


muitos deles, o bicho encontra-se ainda em baixo das brácteas, roendo
o mesocarpo, completando o crescimento.
Os frutos, que resistem ao ataque e atingem a maturação, defor-
mam-se, perdem a simetria axial, não atingem o crescimento completo,
ficam sempre menores e perdem grande parte do seu valor comercial
(fig. 71).

Fig. 71 - Cocos com lesões produzidas pelas lagartas de Hyalospita ptychis


Dyar, 1919 (Phycitidae) (De Bondar).

Alem do coqueiro, verificamos a espécie nas inflorescencias de


licuriseiro (Cocos coronata Mart.), ariri (Cocos vagans Bondar), piassaveira
(Attalea funifera Mart.) e piassabassú (Attalea piassabossu Bondar).
Nestas palmeiras, a lagarta alimenta-se t a m b e m do tecido mesocarpico
das flores femininas, e evidentemente são estas palmeiras plantas naturais
de seva do insecto. Delas, passa êle ao coqueiro, encontrando-se o mesmo
nas proximidades.
Não obstante a importancia dos prejuízos causados, a especie ainda
é desconhecido pela entomologia economica. Conhecemos a praga desde
1922, sem poder, todavia, obter sua classificação, o que só ultimamente
conseguimos.
O inseto foi descrito em 1919, com adultos provenientes de Santiago,
Cuba, nos seguintes têrmos:
"Azas dianteiras pardas n a base da costa, brancas n a celula, a
metade interna e arca terminal nubladas com avermelhado-violeta;
linha interna perdida; um ponto preto na dobra submediana; pontos
discais pretos separados, redondos; linha interna, fina, avermelhada
ondulada, incisa e quebrada na dobra submediana, uma carreira ter-
LEPIDOPTERA 93

minal de minusculos pontos pretos. Azas posteriores translucidas, veios


e termen pardos. Envergadura 14 mm."
A lagarta é branca, pigmentada no dorso, com listas difusas parda-
centas, que desaparecem nos individuos conservados em alcool. Cabeça
amarela. Primeiro segmento toraxico com placa dorsal semicircular
amarela, subdividida no meio. No segundo anel, no dorso, h a quatro
pontos pequenos pretos, em linha transversal, dos quais partem pelos;
os medianos são duplos, os extremos são orlados por circulo. Aos lados,
dois pontos escuros com pelos. No terceiro anel, a disposição dos pontos
é a mesma, porem os extremos são sem orlas. Nos aneis abdominais,
os pontos dorsais são em quadrangulo. P a t a s brancas. Falsas paras
brancas, não pigmentadas. Penultimo e ultimo aneis abdominais sem
placas dorsais escuras; comprimento cerca de 15-16 mm. A lagarta é
pareeida com a de Ephestia cautella, com a qual se encontra frequente-
mente associada, distingue-se, porém, facilmente pelas manchas no
corpo muito menores, auseneia de placas preanais e falsas p a t a s brancas.
A crisalida forma-se nos abrigos contra a chuva, fazendo a lagarta
um casulo de seda, com que se encobre encostada á espata seca do
coqueiro, ou outro objeto protetor, geralmente de tecidos mortos.
O ciclo evolutivo completo é de cerca de 25-30 dias, passando deles
no estado de crisalida 6-8 dias".

Elasmopalpus lignosellus Zeller, 1918 (figs.72-73) - As


lagartas dêste Piralídeo), nos Estados Unidos, atacam Gramíneas,

Fig. 72 - Elasmopalpus lignosellus Zeller (Phycitidae) a, macho; b, asa da fêmea;


c, mariposa pousada; d, lagarta; f, casulo (De Watson, 1931, fig. 8).

especialmente o milho. Em Flórida, porém, segundo WATSON (1931),


o inseto causa maiores danos às vagens de várias Leguminosas co-
mestíveis (feijão, etc.).
94 INSETOS DO BRASIL

Em São Paulo, SAUER observou o inseto causando estragos


idênticos, principalmente ao arroz e ao sorgo, verificando também

Fig. 73 - Asas de Elasmopalpus lignoselIus (Phycitidae) (Lacerda del.).

Fig. 74 - Hypsipyla grandella (Zeller, 1848) (Phycitidae).

que é parasitado por uma espécie de Pristomerus (Ichneumonidae)


e por uma mosca do gênero Plagiprospherysa (Tachinidae). Para
LEPIDOPTERA 95

um estudo da praga, além da monografia de S AUER (1939), reco-


mendo também a leitura do artigo de M ONTE (1942).

Relativamente a Ficitídeos, cujas lagartas são brocas, há ainda


a referir Hypsipyla grandella (Zeller, 1848) (fig. 74). As lagartas
broqueiam o cedro ( Cedrella fissilis ), principalmente em viveiros.
Atacam também os frutos e as sementes. M ONTE , que estudou o
inseto, assim lhe descreve os hábitos:

"A lagarta tem o corpo ora azul, ora encarnado; cabeça acasta-
nhada; o escudo protoráxico escuro; comprimento do corpo 26 m m .
Sôbre o corpo vários pequenos tuberculos escuros, em numero de 10,
trazendo cada um deles um pêlo da mesma côr. Estes tubérculos se
acham dispostos em sentido transversal ao eixo do corpo, salvo na parte
dorsal, em que êles se apresentam em numero de 4, paralelos dois a dois,
sendo que os anteriores são um pouco mais unidos que os posteriores.
A lagarta tanto vive nos frutos como no caule. A borboleta deposita
os ovos sobre o fruto ou na extremidade superior do caule. Quando
no fruto, pelo que pudemos deduzir de nossas observações, deve ser
de um ou dois no máximo em cada capsula. Nascida a larva, esta pe-
netra no interior do fruto, alimentando-se das sementes: ela procura
alcançar o lóculo e aí se instala até a final metamorfose, antes do que
prepara uma saida para a futuro adulto. Este orifício, que mede 5 mm.
de diametro, ora está colocado na parte não ovoide, ora na parte Central.
A lagarta vai se desenvolvendo pouco a pouco, roendo todas as
sementes; em um fruto pode-se encontrar mais de uma, sendo entretanto
interessante que cada lagarta fabrica o seu orificio de saída, razão por
que se encontra mais de um orifício em tais frutos.
Terminando o ciclo larvário, a lagarta crisalida-se no próprio fruto
em que vives, tecendo com fios de seda um casulo que muito se assemelha
aos do grupo Arctiidae.
O adulto nascido sai pelo orifício prèviamente preparado pela larva
e fica poisado sôbre o fruto por muito tempo, mais do que necessário
para que suas asas sequem, e com as antenas poisadas sôbre o dorso,
em atitude imóvel, confundindo-se assim com o fruto.
Os estragos produzidos pela lagarta nos brotos são de t a n t a impor-
tancia, como os que são feitos nos frutos. Os brotos apresentam-se
totalmente carcomidos, cheios de serragem ligada por fios de sêda, nos
quais também se aderem partículas de lenho e excrementos, que são
lançados para fora pela lagarta; ainda se notam pequenos furos e dis-
persas aqui e alí produções gomosas, tudo isto dando um aspecto con-
tristador e desagradável a planta.
96 INSETOS DO BRASIL

Parece-nos ser esta praga uma das poucas espécies que atacam
indistintamente o fruto e o caule, e na sua família não conhecemos outra
que assim proceda; é, porém, provavel a sua existência, porque tal
comportamento não constituirá, por certo, um privilégio desta espécie.
Mas isto até agora não se conhece".

MONTE indica como meio de combate ao inseto a apanha e


d e s t r u i ç ã o dos f r u t o s a t a c a d o s .

Em Pôrto Rico, segundo L EONARD (1932), o


inseto ataca Turpinus paniculata.
Na Guiana Inglêsa as lagartas são parasitadas
por Stenorella brevicaudis Szépligeti (Ichneum.).
Tratando de Corcyra cephalonica, referi a
importância dêsse Piralídeo e de alguns Phy-
citidae dos gêneros Ephestia e Plodia nas in-
vestigações biológicas, pela facilidade com que
se criam em laboratório.
Plodia interpunctella (Hübner, 1827)
(figs. 75 e 76) ("Indian meal moth", dos inglêses
e norte-amerieanos). Mariposa de 15 a 20 mm.
Fig. 75 - Plodia inter- de envergadura. Côr geral parda-avermelhada,
punctella (Hübner, 1827)
(Phycitidae), envergadura com os 2/3 distais das asas anteriores de tona-
cêrca de 20 mm. (De Back,
& Cotton, 1938, fig. 18). lidade mais escura, côr de cobre, e o têrço
proximal de côr cinzenta esbranquiçada.
Põe os ovos (cerca de 100 a 400) isoladamente ou em pequenos
grupos. As lagartas completamente, desenvolvidas, apresentam de 18
a 20 mm de comprimento. São onívoras, alimentando-se principal-
mente de produtos armazenados: farinhas, cereais, frutas e doces
sêcos, amêndoas ou sementes várias, chocolate, etc.

O ciclo evolutivo realiza-se em pouco mais de um mês, podendo


todavia ser menos demorado ou, em condições desfavoráveis, pro-
longar-se até cêrca de 300 dias.

Em outros territórios verificam-se até 5 gerações anuais.


O inseto é cosmopolita, encontrando-se também no Brasil.
SAUER, em São Paulo, observou os seguintes microhimenopteros
LEPIDOPTERA 97

parasitando Plodia interpunctella: Glyptocolastes sp., Microbracon


hebetor (Braconidae), Antrocephalus sp. e Brachymeria sp. (Chalci-
didae.
Hábitos semelhantes a o s
de Plodia apresentam as se-
guintes espécies de Ephestia
Guenée, t a m b é m cosmopo-
litas e onívoras: E. kueh-
niella Zeller 1879, (fig. 77),
E. elutella (Hübner) e E.
cautella (Walker, 1864) (figs.
78 e 79).
Dessas espécies, a que me
parece mais interessante e m
nosso meio, é a Ephestia cau- Fig. 76 - Genitalia de Plodia interpunctella
(Phycitidae).
tella, que observei, tanto no
Nordeste, como em S. Paulo,
atacando caroços de algodão. As lagartas dêste Piralídeo atacam
também grãos de arroz e de milho armazenados, sementes de

Fig. 77 - Ephestia kuehnielIa (Phycitidae)


(De Candura, 1928, fig. 1)

cacáu e frutos sêcos, mais sêcos porém que os infestados por Plodia
interpunctella.

No excelente trabalho de M YERS, além da etologia dêste mi-


crolepidóptero na Austrátia, acham-se bem estudados os meios mais
eficientes de o combater.
98 INSETOS DO BRASIL

RICHARDS & HERFORD, para a distinção dessas espécies de


Ephestia, apresentam a seguinte chave relativa à genitália, tanto
dos machos como das fêmeas.

Fig. 78 - Asas de Ephestia cautela (Walker, 1864) (Phycitidae) (Lacerda del.).

1 - Margem dorsal da valva ("clasper") sem processo dentiforme..


............................................................................ Ephestia elutella
1' - Margem dorsal da valva com processo dentiforme .............................. 2

2 (1') - O dente da valva é apenas uma produção, perto do ápice, do


espessamento continuo e longitudinal da margem dorsal: ae-
doeagus com barra eversível estreita, fortemente esclerosada;
tegumen sem prolongamentos .......................... Ephestia kuehniella
2' - O dente da valva emerge antes do ápice do espessamento lon-
gitudinal; aedoeagus com larga placa eversível; tegumen pro-
longado em processo digitiforme na parte externa da base de
cada valva ........................................................... Ephestia cautella

Um grupo bem interessante de Phycitidae é o constituído por


espécies cujas lagartas atacam Cactáceas. Recentemente HEINRICH
(1939), monografando-o, teve o ensejo de esclarecer dúvidas relativas
a algumas espécies, como passo a mostrar nas linhas que se seguem.
LEPIDOPTERA 99

BRÈTHES (1920) descreveu Neopyralis ronnai, n. g., n. sp., da


sub-família Schoenobiinae. As lagartas, criadas por RONNA no Rio
Grande do Sul, broqueiam a "tuna" (Opuntia spp.).

Fig. 79 - Genitalia de Ephestia cautela (Walker,


1864) (Phycitidae) (Lacerda fot.).

Em meu "3.º Catálogo", citando o inseto, disse:

"Este autor (BRÈTHES) classificou o seu novo genero (Neopyralis)


em Schoenobiinae, o que não me parece exacto, pois, na figura da aza
que apresentou, R3+4, nas azas anteriores, coalescem inteiramente.
Estas, aliàs, muito se parecem com as dos Phyticidae. Todavia, como
ainda não tive o ensejo de examinar o insecto, deixo-o com os da
família Pyralidae (a qual seguramente tambem não pertence), até que se
possa classifical-o correctamente".

Fig. 80 - Zophodia goyensis Ragonot (Phycitidae)


E. Heinrich det. (Lacerda fot.).

HEINRICH, concluindo tratar-se de um representante de Phyci-


tidae, acha que deve ser uma das espécies de Cactoblastis que vivem
100 INSETOS DO BRASIL

no Sul do Brasil e na Argentina, provàvelmente o Cactoblastis cac-


torum (Berg, 1885), ou espécie muito próxima.

Fig. 81 - Asas de Zophodia goyensis Ragonot (Phycitidae) (Lacerda del.).

Tais espécies (especialmente este Cactoblastis) foram com sucesso


introduzidas na Austrália para a destruição de Cactáceas (Opuntia
inermis e outras espécies), que lá vegetam como verdadeira praga.
No trabalho de D ODD encontram-se dados valiosos relativos
ao assunto.
Outros Phycitidae de hábitos curiosos são os de lagartas pre-
dadoras de outras lagartas ou dê Coccídeos. As principais espécies
dêste último grupo pertencem aos gêneros Euzophera Zeller, Vitula
Ragonot e Laetilia Ragonot, êste com a bem conhecida L. coccidivora
(Comstock, 1879), cujas lagartas depredam Coccídeos dos gêneros
Ceroplastes, Coccus, Pulvinaria e Icerya.
LEPIDOPTERA 101

Há em nossa coleção três Ficitídeos, um do gênero Zophodia


(Heinrich det.) Z. goyensis Ragonot (fig. 80) e os outros de gênero
próximo, ainda não estudados, que se desenvolvem a custa de Coccí-

Fig. 82 - Genitalia de Zophodia goyensis


(Lacerda fot.).

deos dos gêneros Ceroplastes, Pseudococcus e Pscudokermes. Os


exemplares procedem de várias localidades dos Estados de Minas
Gerais e Rio de Janeiro.

27. Bibliografia.

AYYAR, F. V. R.
1929 - N o t e s on some I n d i a n L e p i d o p t e r a w i t h a b n o r m a l habits.
Jour. Bomb. Nat. Hist. Soe., 3 3 : 6 6 8 - 6 7 5 .
BLANCHARD, E.
1922 - Apuntes sobre Zophodia analamprella Dyar y otros Lepidópteros
que viven sobre Cactaceas en la Republica Argentina.
Physis, 6 : 119-123, 1 fig.
BONDAR, G.
1930 - U m a nova praga da silvicultura.
Rev. Florestal, Rio de Janeiro, 1 : 3 - 4 , 2 figs.
BOURQUIN, F.
1945 - Notas sobre metamorfosis de Hyalosticta prope obliqualis,
1897 (Lep. Pyralidae).
Rev. Soc. Ent. Argent., 12:248-252, 1 fig., est. 19. (Ver
t a m b e m - Mariposas Argentinas (1944):157, 1 est.
102 INSETOS DO BRASIL

BRÈTHES, J.
1920 - Insectos utiles y daniños de Rio Grande do Sul (Brasil) y de
La. Plata (Rep. Arg.).
An. Soc. Rur. Arg., 54:281-290, 307, 308, 6 figs.
D ODD, A. P.
1940 - The biological campaign against prickly-pear.
Commonw. Prickly-Pear Board; 177 p., v. ests.
DYAR, H. G.
1919 - Some tropical american Phycitidae (Lepidoptera).
Ins. lnsc. Mens. 7:40-63.

1925 - Notes on some American Phycitinae.


Ins. Insc. Mens., 13:220-226.

1929 - A new Myelois from Brasil (Lepidoptera: Pyralidae: Phyci-


tinae).
Proc. Ent. Soc. Wash., 31 : 116-118, est 6.
HEINRICH, C.
1939 - The Cactus feeding Phycitinae: A contribution towards a
revision of the American Pyralidoid moths of the family
Phycitidae.
Proc. U. S. Nat. Mus., 86:331 413, ests. 23-5l.

1945 - The genus Fundella Zeller. A contribution toward a revision


of the American pyralidoid moths of the family Phycitidae.
Proc. U. S. Nat. Mus., 96 (3190) : 105-114, ests. 4-6.
H ULST, G. D.
1890 - The Phycitidae of North America.
Trans. Amer. Ent. Soc., 17:93-228, ests. 6 8.
JACQUES, C.
1933 - Le cactoblastis cactorum.
Rev. Agric. Nouvelle Calédonie; 1085-1094.
JANSE, A. J. T.
1942 - Contribution to the study of the Phycitinae.
Jour. Ent. Soc. South Africa, 4 : 134-166, figs.
LOVETT, A. L.
1921 - The Indian-meal moth (Plodia interpunctella Huebn.).
Oreg. Bd. Hort. Bien. Rep. (1919-1920) 16 : 118-123, figs.

L UGINBILL , P. & G. G. AINSLIE


1917 - The lesser corn stalk borer.
U. S. Dep. Agric., Bull. 539, 27 p., 3 ests., 6 figs.
LEPIDOPTERA 103

MONTE, O.
1933 - Hypsipyla grandella Zeller, uma praga da silvicultura (Lep.
Phycitidae).
Rev. Ent. :281-285, 1 fig.
1934 - Novos conhecimentos sôbre a biologia da Hypsipyla grandella
Zeller, a terrivel broca do cedro.
Chac. Quint., 4 9 : 4 2 5 4 2 6 , 2 figs.
1942 - Um lagarta dos arrozais.
O Biol., S. Paulo: 8 : 161-163, 1 fig.
MOREIRA, C.
1917 - O bicho do cacáo.
Chac. Quint., 16 (1):10-11, figs.
F LANK, H. K.
1928 - The lesser cornstalk borer (Elasmopalpus Liguosellus (Zeller)
injuring sugar carie in Cuba.
Jour. Econ. Ent., 2 1 : 4 2 3 - 4 2 9 , 3 figs.
RAGONOT, E. L.
1893 - 1901 - Monographie des Phycitinae et des Gallerinae, in
N. M. Romanoff - Mémoires sur les Lépidoptbres, 7 & 8:
1332 p., 57 ests. col.
RONNA, E.
1920 - Una broca da tuna (Cereus sp), Neopyralis ronnai Brèthes.
Chac. Quint., 22 (1): 18-20.
SAUER, H. F. G.
1939 - Notas sôbre Elasmopalpus lignosellus Zeller (Lep. Pyr.) série
praga dos cereais no Estado de S. Paulo.
Arq. Inst. Biol., São Paulo, 10 : 199-206, ests. 30 e 31.
W ATSON, J. R.
1931 - Florida truck and garden insects.
Univ. Flor., Agric. Exp. Sta., Bull. 232 (Rev. do Bull. 151)
112 p., 59 figs.
WOLCOTT, G. N.
1933 - The lima bean pod-borer caterpillars of Puerto-Rico.
Jour. Dep. Agric. Puerto-Rico, 17:241-255, 1 est., 6 figs.

Ephestia e Plodía

B ACK, E. A. & R. T. C OTTON


1922 - Stored-grain pests.
U. S. Dep. Agric., Farm. Bull. 1 2 6 0 : 4 7 p., 64 figs.

BACK, E. A. & W. D. REED


1930 - Ephestia elutella Hübner, a new pest of cured tobacco in the
United States.
Jour. Econ. Ent., 23:1004-1055.
104 INSETOS DO BRASIL

BONDAR G.
1932 - Como evitar os estragos do cacáo.
O Campo, 3 (10):34-36, 4 figs.
BOVINGDON, H. H. S.
1933 - Report on the infestation of cured tobacco in London b y the
cacao moth Ephestia elutella Hbn.
Empire Market. Board, Publ., 67 : 92 p., 4 ests.
B URKHARDT, F.
1919 - Zur Biologie der Mehlmotte (Ephestia kuelniella Zeller).
Zeits. Angew. Ent., 6 : 2 5 - 6 0 , 13 figs.
CANDURA, G. S.
1928 - Contributo alla conoscenza della t.ignola grigia delle proviste
alimentari (Ephestia kuehniella Zeller) e del suo parassita
Nemeritis canescens Gravenhorst.
Boll. Lab. Zool. Gener. Agrar. Portici, 21 : 149-214, 13 figs.
CHABOUSSOU, F.
1937 - Contribution à l'étude d'Ephestia elutella Hübn.
Rev. Zool. Agric., 36:20-32, 36-48; 81-90, 100-109,
154 158, 184-190; 8 figs.
CHITTENDEN, F. H.
1911 - The Fig. moth (Ephestia cautella Walk.), in SMYTH, E. G. Report
on the fig moth.
U. S. Dep. Agr., Bur. Ent. Bull., 104 (n. s.) :41-65, figs.

C ORBET, A. S. & W. H. T. T AMS


1943 - Keys for the identification of the Lepidoptera infesting stored
food produets.
Proc. Zool. Soc. London (B), 113: 55-148, 5 ests., 287 figs.

C OTTON, R. T., J. C. F RANKENFELD & G. A. D EAN


1945 - Controlling insects in flour mills.
U. S. Dep. Agric., Circ. 720, 75 p., 41 figs.

D URRANT, J. H. & W. W. B EVERIDGE


1913 - A preliminary report of the temperature reached in arny biscuit
during baking especially with reference to the destruction
of the imported flour moth Ephestia kühniella Zeller.
Jour. Roy. Army Med. Corps, 20:615-634, ests 1-7.

H AMLIN, J. C., W. D. R EED & M. E. P HILLIPS


1931 - Biology of the indian-meal moth on dried fruits in California.
U. S. Dep. Agric., Tech. Bull., 2 4 2 : 2 6 p.
HASE, A.
1924 - Untersuchungen und Beobachtungen über die Gespinste und
und über die Spinntätigkeit der Mehlmottenraupen, Ephestia
kuehniella Zell.
Arb. Biol. Reichsanst. Land-Forstwirtsch., 13:79-128,
10 ests.
LEPIDOPTERA 105

HAYHURST, H.
1937 - lnsect infestation of stored products.
Ann. Appl. B iol., 2 4 : 7 9 7 - 8 0 7 , est. 46 47.
HERFORD, G. W. B.
1933 - The more important insect pests of cacao, tobacco and dried
fruit.
Bull. Imp. Inst,, London : 3 1 : 3 9 - 5 5 , 1 est.
HILL, G. F.
1928 - Notes on Plodia interpunctella (Indian meal moth).
Jour. Coune. Sci. Ind. Res., 1 : 3 3 0 340, 5 ets.
HINTON, H. E.
1942 - Notes on the larvae of the three common injurious species
of Ephestia (Phycitidae).
Bull. Ent. Res., 3 3 : 2 1 - 2 6 , 15 figs., 1 est.

1943 - The larvae of the Lepidoptera associated with stored products.


Bull. Ent. Res., 3 4 : 1 6 3 212, 128 figs.
KUNIKE, G.
1939 - Beiträge zur Lebensweise und Bekämpfung der Mehlmotte,
Ephestia kuehniella Z. (Pyralidae, Phycitinae).
Zeits. Angew. Ent., 2 5 : 5 8 8 - 6 0 8 , 2 figs.
LEBEDEW, A. G.
1930 - Zur Frage der geographischen Herkunft der Mehlmotte (Ephes-
tia kuhniella Zeller).
Zeits. Angew. Ent., 16:597-605.

LEHMENSICK, R. & R. LIEBERS


1938 - Beiträge zur Biologie der Mikrolepidopteren und Plodia inter-
punctella Hb.
Zeits. Angew. Ent., 24:582-643, 18 figs.
LOVETT, A. L.
1921 - The Indian-meal moth (Plodia interpunctella Huebn.).
Oreg. Bd. Hort. Bien. Rep. (1919-1920), 16 : 118-123, figs.

MUNRO, J. W. & W. S. THOMSON


1929 - Report on insect infestation of stored cacao.
Empire Marketing Board, Publ., 2 4 : 4 1 p., 4 ests.
MILES, M.
1933 - Observations on the growth in larvae of Plodia interpunctella
Ann. Appl. Biol., 2 0 : 2 9 7 307, 2 figs.
MYERS, J. G.
1928 - Report on insect infestation of dried fruit.
Empire Marketing Board, 1 2 : 3 6 p.
106 INSETOS DO BRASIL

NORRIS, M. J.
1932 - Contributions towards the study of insect fertility. I-The
structure and operation of the reproductive organs of the
genera Ephestia and Plodia (Lepidopt. Phycit.).
Proc. Zool. Soc. London; 595-611, 5 ests.
PARKER, W. B.
1915 - Control of dried-fruit insects in California.
U. S. Dep. Agr. Bull. 235, 15 p., figs.
QUAST, M.
1920 - Beiträge zur Kenntnis der Sammenübertragen bei Ephestia
kuehniella Zeller.
Arch. Naturg., 86 (A) :70-90, 13 figs.
REED, W. D.
1907 - Biology of the tobacco moth and its control in closed storage,
U. S. Dep. Agr., Circ. 422 : 38 p.

R ICHARDS, O. W. & G. V. B. H ERFORD


1930 - Insects found associated with cacao, spices and dried fruits
in London warehouses.
Ann. Appl. Biol., 17:367-394, ests. 23-32.

R ICHARDS, O. W. & W. S. T HOMSON


1932 - A contribution to the study of the genera Ephestia, Gn (inclu-
ding Strymax, Dyar) and Plodia, Gn (Lepidoptera, Phyci-
tidae) with notes on parasites of the larvae.
Trans. Ent. Soe. London; 80 : 169-250, 8 ests.
RICHARDSON, C. H.
1926 - A physiological study of the growth of the mediterranean flour
moth (Ephestia kuehniella Zeller) in wheat flour.
Jour. Agric. Res., 32:895-929.
SEHL, A.
1931 - Furchung und Bildung der Keimanlage bei der Mehlmotte
(Ephestia kuehniella Zell.) nebst einer allgemeinen Uebersicht
über den Verlauf der Embryonalentwicklung.
Zeits. Morph. Oekol. Tiere, 2 0 : 5 3 3 - 5 9 8 , 42 figs.

S IMMONS, P., W. D. REED & E. A. M'GREGOR


1931 - Fig insects in California.
U. S. Dep. Agr., Circ. 1 5 7 : 7 1 p., 38 figs.

W ALOFF, N. & O. W. R ICHARDS


1946 - Observations on the behaviour of Ephestia elutella Hübner
(Lep., Phycitidae) breeding on bulk grain.
Trans. R. Ent. Soc. London, 9 7 : 2 9 9 - 3 3 5 , 5 figs.

Você também pode gostar