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SÃO PAULO
2012
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Versão Corrigida
(versão original disponível na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade)
SÃO PAULO
2012
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FICHA CATALOGRÁFICA
Elaborada pela Seção de Processamento Técnico do SBD/FEA/USP
CDD – 330.09
Várias pessoas contribuíram direta e indiretamente para este trabalho.
Primeiramente gostaria de agradecer ao Renato Perim Colistete, orientador da tese,
professor e amigo desde os tempos da minha graduação. O Renato é para mim um
exemplo de professor e pesquisador sério, humilde e talentoso. Eu quero deixar
registrada aqui minha gratidão pela sua dedicação ao longo desses onze anos.
Agradeço pelos comentários, sugestões e críticas ao grupo de estudos em História
Econômica informal da FEA, especialmente a Felipe Pereira Loureiro, Gustavo de
Barros, Molly Ball e Thomas Kang e à nova geração do grupo pela convivência.
Alexandre Saes, Bruno Aidar, Erika da Cunha Ferreira Gomes e Thiago Gambi leram e
comentaram versões anteriores do trabalho. Ao longo desses anos de doutorado eu
participei de congressos e recebi pareceres de revistas que contribuíram para os
argumentos desta tese. Agradeço aos alunos e professores da Primeira Escola de Verão
de História Econômica do Hemisfério Sul, especialmente a Luis Bértola, Alfonso
Herranz, Edwin Lopes, Diego Navarro, Thales Pereira pelos comentários e aos demais
pela convivência por duas semanas intensas no Uruguai.
Agradeço aos professores com quem tive aulas na USP por compartilharem seu
conhecimento e experiência. Agradeço aos professores Amaury Gremaud e Roberto
Vermulm, membros do exame de qualificação, pelos valiosos comentários. Sou muito
grato a Flávio Saes, Dante Aldrighi, Amaury Gremaud e Wilson Suzigan pelos
comentários e a leitura atenciosa do trabalho na defesa da tese. Aos meus colegas e
amigos da FEA agradeço pela convivência. Aos funcionários da USP pela atenção.
Agradeço também aos meus amigos da UNIFAL-MG por tornar os dias em Varginha
melhores. Os meus amigos da PUC-Campinas e da FIT também foram importantes na
jornada inicial.
Aos funcionários dos arquivos e bibliotecas que percorri esses anos agradeço pela
atenção, dedicação e ajuda na busca dos documentos. Agradeço especialmente aos
amigos Carolina Yuri Nakamura e Tiago Mayoral Ercolin pela ajuda em Jaboticabal.
À minha família agradeço pela compreensão e pelo amparo. Diante das
dificuldades e da perda tive o conforto emocional necessário para continuar meu
caminho. Agradeço a Iolanda, minha avó, meu exemplo de pessoa. Uma boa parte de
melhor que há em mim é responsabilidade dela. Ao Sérgio, o Gi, pelo apoio
incondicional. A Erika pela paciência, carinho, atenção e cumplicidade ao longo desses
anos.
ii
RESUMO
Esta tese trata das origens e evolução da indústria de máquinas e equipamentos em São Paulo
entre 1870 e 1960. As motivações para a pesquisa foram as lacunas na historiografia da
industrialização brasileira sobre as origens e evolução da indústria de bens de capital
produtora de máquinas e equipamentos. As questões geralmente investigadas pela literatura
foram a dependência da importação de máquinas e equipamentos pelo Brasil, baixa
participação da indústria de máquinas e equipamentos na indústria de transformação brasileira
e a necessidade de implantação de uma indústria de bens de capital pesada com adaptação de
tecnologia avançada devido ao seu desenvolvimento tardio. Argumentamos nesta tese que
apesar dessas questões serem importantes, seu foco de análise contribuiu para limitar o
entendimento da nascente indústria de máquinas e equipamentos nacional, com participação
de imigrantes e fazendeiros no final do século XIX. Ao longo do trabalho demonstramos que
os efeitos da Primeira Guerra Mundial contribuíram para a redução na importação de
máquinas e o aparecimento de várias pequenas empresas, geralmente pequenas oficinas e
fundições para reparar as máquinas importadas. Os efeitos mais expressivos sobre o número
de empresas fundadas foram de curto prazo, pois muitas das empresas permaneceram ativas
por pouco tempo, mas mostramos casos de empresas que surgiram nesse período, cresceram e
se desenvolveram, algumas operando até 1960. Os efeitos da Primeira Guerra Mundial foram
favoráveis às empresas maiores, principalmente às sociedades anônimas, com a diminuição da
concorrência em segmentos mais especializados devido às menores importações de máquinas
do exterior. Também mostramos que os efeitos da crise de 1929 afetaram negativamente a
indústria de máquinas e equipamentos paulista, mas apresentamos evidências que a
diversificação da produção de máquinas para a indústria acelerou-se na década de 1920 e não
foi resultado da crise. A recuperação da indústria de máquinas e equipamentos foi rápida e no
final da década de 1930 a indústria se modernizou, iniciando a produção regular de máquinas-
ferramenta. Apresentamos dois estudos de caso que ilustram que a indústria de máquinas e
equipamentos teve sua origem no final do século XIX, passou por transformações nas décadas
de 1920 e 1930 e se fortaleceu na década de 1940. Assim, nossos resultados divergem da
periodização mais aceita da industrialização brasileira, que reconhece a importância da
indústria de máquinas e equipamentos e de bens de capital somente após a década de 1950.
iv
v
ABSTRACT
This thesis covers the origins and evolution of the machinery and equipment industry in Sao
Paulo between 1870 and 1960. The research reasons were the gaps in the Brazilian
industrialization historiography about the origins and the evolution of the capital goods
industry. In general, this literature stresses the domestic dependence of foreign technological
importation, the low contribution rate of the machinery and equipments sector for the
national transformation industry and the late comer character of the heavy capital goods
industry in Brazil. In spite of the authority of these arguments, they contribute to undervalue
the raising national machinery and equipments industry, specially the participation of
foreigners and landowners in its beginnings since the end of the 19th century. Throughout the
research, we describe how the First World War contributed to reduce the technological
importation and allowed the emergence of several small companies, particularly small
workshops and foundries involved in foreign machinery support. Considering the number of
founded companies, the most preeminent outcomes had a short run character, because most
of them worked not so long. By other side, some companies continued to growth and develop,
and a few survived until the 1960s. By lowering the machinery importation level, the Fist
World War favored the larger businesses, specially the stock companies, by reducing the
concurrence in the most specialized sectors. The crisis of 1929 hampered the machinery and
equipments industry in São Paulo, but this decade also witnessed the acceleration of the
diversification in the machinery industry production. After the crisis, the recovering in the
machinery and equipments industry was fast. In the end of the decade of 1930, the sector
started a regular production of machine tools. At last, we present two consistent case studies
which show how the machinery and equipments industry emerged in the end of the 19th
century, changed in the 1920/1930s and strengthened in the 1940s. As a result, our results
disagree from the most accepted periodization of the Brazilian industrialization, which
recognizes the importance of machinery and equipments industry and capital goods sector
only after the 1950s.
vi
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 7
2.3 A rentabilidade e o financiamento em uma sociedade anônima: o caso da Cia. Mecânica Importadora
de São Paulo......................................................................................................................................................... 74
4.1 As origens de Mário Dedini e Américo Emílio Romi e suas empresas ................................................... 120
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Empresas de máquinas, oficinas mecânicas e fundições, província de São Paulo, 1873 ..... 50
Tabela 2 – Empresas de máquinas, oficinas mecânicas e fundições, estado de São Paulo, 1891 ......... 51
Tabela 3 – Empresas de máquinas, oficinas mecânicas e fundições, estado de São Paulo, 1901 ......... 56
Tabela 4 – Empresas de máquinas, oficinas mecânicas e fundições, estado de São Paulo, 1907 (em
mil-réis correntes) ................................................................................................................................. 59
Tabela 5 – Dados gerais sobre a indústria de máquinas, oficinas mecânicas, fundições e importações
de máquinas, estado de São Paulo, 1911-1920 (em mil-réis constantes de 1920 e porcentagem) ........ 64
Tabela 6 – Matriz de correlações dos dados gerais sobre a indústria de máquinas, oficina e fundições,
importações e exportações, estado de São Paulo, 1911-1920 ............................................................... 65
Tabela 8 - Empresas produtoras de máquinas registradas na Junta Comercial, São Paulo, 1911-1922 68
Tabela 9 – Empresas de máquinas, oficinas mecânicas e fundições, estado de São Paulo, 1919 ......... 71
Tabela 10 – Balanços Patrimoniais da Companhia Mecânica Importadora de São Paulo, 1910, 1912,
1914, 1916, 1918, 1920 (em contos de réis correntes) .......................................................................... 76
Tabela 12 – Taxa média anual de crescimento da produção industrial do estado de São Paulo, por
classe de produtos, 1910-1937, em porcentagem .................................................................................. 88
Tabela 14 – Valor da produção da indústria de máquinas e equipamentos, estado de São Paulo, 1920-
1937 (em mil-réis constantes de 1928).................................................................................................. 91
Tabela 16 – Oferta total (valor da produção interna mais importação) de máquinas e equipamentos,
estado de São Paulo, 1920–1933 (em mil-réis correntes e porcentagem) ............................................. 93
Tabela 18 – Medida das fontes de crescimento da indústria de transformação paulista, 1929–1937 ... 97
Tabela 20 – Distribuição das empresas de máquinas e equipamentos, por data da fundação, estado de
São Paulo, 1929 ................................................................................................................................... 100
Tabela 21 – Produção das empresas de máquinas e equipamentos, estado de São Paulo, 1929 ......... 102
Tabela 22 – Empresas produtoras de máquinas para a indústria, estado de São Paulo, em 1937 ....... 109
Tabela 23 - Produção de máquinas para a lavoura e indústria, por tipo de máquinas, 1935-1937 (em
quantidade e conto de réis) .................................................................................................................. 111
Tabela 28 – Vendas realizadas pelas empresas do grupo Dedini e importações brasileiras de máquinas,
aparelhos, utensílios e acessórios para fabricação de açúcar e álcool, 1947-1958 (em mil cruzeiros, a
preços constantes de 1965/67) ............................................................................................................. 135
Tabela 29 – Empresas produtoras de máquinas e equipamentos para o setor canavieiro, estado de São
Paulo, 1930 .......................................................................................................................................... 137
Tabela 30 – Principais empresas produtoras de máquinas para o setor canavieiro, 1963 ................... 139
Tabela 31 - Importação de máquinas operatrizes pelo estado de São Paulo e pelo Brasil, 1938-1943
(toneladas e mil-réis correntes), .......................................................................................................... 141
Tabela 32 – Empresas produtoras de tornos, estado de São Paulo, 1945 ............................................ 142
Tabela 33 – Produção total de tornos da Romi e sua respectiva participação para o mercado interno e
externo, 1941-1958 (unidades e US$ correntes) ................................................................................. 145
Tabela 34 – Comparação da produção de tornos pela Romi com a importação de máquinas operatrizes
pelo Brasil, 1941-1952 (quantidade e US$ correntes)......................................................................... 146
Tabela 35 - Comparação da produção de tornos da Romi com a produção de tornos do Brasil, 1955-
1961 (unidades) ................................................................................................................................... 147
Tabela 36 - Evolução do capital social da Dedini, 1920-1961 (mil-réis ou cruzeiros correntes)........ 149
Tabela 37 - Evolução do capital social da Romi, 1930-1961 (mil-réis ou cruzeiros correntes).......... 150
Tabela 39 - Participação relativa das vendas por produtos da M. Dedini S.A. - Metalúrgica, 1950-1957
(% do total das vendas) ....................................................................................................................... 154
INTRODUÇÃO
equipamentos, levaria à necessidade de adaptação de uma tecnologia avançada por parte das
empresas no Brasil para poderem concorrer com os produtos produzidos no exterior. Assim,
as únicas empresas capazes de produzir bens de capital seriam as grandes empresas,
geralmente empresas estrangeiras que possuíam domínio de uma tecnologia avançada e
escassa na economia doméstica. Tais trabalhos geralmente enfatizam a importância da
industrialização “pesada”, baseada na produção de bens intermediários e de capital que
ocorreu no país apenas após os anos 1950. É certo que nesse período o processo de
industrialização foi acelerado e intensificado. Entretanto, novamente essa perspectiva
negligencia todo o processo anterior de aprendizagem industrial que resultou em uma
indústria diversificada e relativamente avançada para um país periférico como o Brasil já em
meados do século XX.
Para boa parte dos autores que analisaram o assunto, a indústria de bens de capital
começou a ter importância para o desenvolvimento econômico do país apenas após o Plano de
Metas. Essa ênfase contribuiu para negligenciar fatos históricos importantes para o
entendimento das origens da indústria de máquinas e equipamentos na industrialização
brasileira. A indústria de bens de capital, especialmente o ramo produtor de máquinas e
equipamentos, tem algumas características próprias: necessidade de assistência técnica para a
instalação e manutenção das máquinas, produção por encomendas e adaptação tecnológica às
necessidades da demanda. Assim, mesmo com a dependência da importação de máquinas
foram necessários mecânicos no local da unidade de produção para fornecer a assistência
técnica necessária a um setor específico.
O objetivo deste trabalho é estudar a indústria de máquinas e equipamentos no
processo de industrialização brasileira, especificamente no período de 1870 a 1960 em São
Paulo. Em particular, buscaremos respostas para as seguintes questões: o crescimento da
indústria de máquinas e equipamentos estava ligado ao setor primário-exportador ou à
atividade do mercado interno? Houve mudanças na origem da demanda por máquinas e
equipamentos durante o período de 1870 a 1960? Qual o período de maiores mudanças? Os
efeitos dos choques exógenos (Primeira Guerra Mundial e Grande Depressão) foram
favoráveis ou desfavoráveis ao desenvolvimento dessa indústria? Como foi o financiamento e
a evolução do mercado dessa indústria? Os efeitos da Primeira Guerra Mundial e da Grande
Depressão da década de 1930 foram responsáveis pelo posterior desenvolvimento da indústria
de máquinas e equipamentos até a década de 1960? Essas questões serão abordadas ao longo
do trabalho por meio sobretudo de fontes primárias, que foram relativamente pouco utilizadas
pela historiografia.
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fundadas, qual era seu capital, quem eram seus sócios, permitindo elaborar um panorama da
evolução da indústria em um período de escassez de informações estatísticas.
Há também estudos específicos sobre a indústria, disponíveis no Boletim da Indústria
e Comércio, além de uma Estatística Industrial de 1918-1919 para o interior do estado de São
Paulo, publicada por partes em vários volumes do Boletim entre o final da década de 1910 e
início da década de 1920. Dados de balanços publicados pelas principais empresas da
indústria de máquinas e equipamentos, disponíveis no Diário Oficial do estado de São Paulo,
serão utilizados para análise econômico-financeira da situação das empresas.
Outra fonte utilizada é a Estatística Industrial do Estado de São Paulo, 1928 a 1937,
organizada em 10 volumes, com dados de valor da produção, capital, número de capital e
produto produzido por empresa industrial. Informações sobre importação foram extraídas do
Anuário Estatístico de São Paulo e das Estatísticas do Comércio com o Porto de Santos. Outra
importante fonte utilizada foi o Catálogo das Indústrias do Estado de São Paulo, 1945, com
informações de empresas da capital paulista e interior do estado. A última fonte quantitativa
importante utilizada foi o Anuário Banas: a indústria de máquinas, 1962-1963. Várias outras
fontes contemporâneas qualitativas foram utilizadas, tais como jornais, revistas especializadas
e catálogos de empresas.
A tese conta com quatro capítulos, sendo que o primeiro trata da importância do objeto
de estudo, ou seja, a relevância da indústria de máquinas e equipamentos para o processo de
industrialização. A bibliografia sobre a indústria de máquinas e equipamentos será revista de
um modo geral nos países desenvolvidos e para São Paulo. Neste capítulo também são
levantadas questões específicas que serão analisadas na tese.
Já o segundo capítulo analisa a origem dos empresários na indústria de máquinas e
equipamentos, tentando identificar sua origem social e étnica, bem como sua ligação com
setores importantes na economia paulista do período. Dá-se especial atenção à evolução do
setor durante a década de 1910, identificando efeitos positivos e negativos da Primeira Guerra
Mundial sobre a indústria de máquinas e equipamentos e sobre os diferentes tipos de
empresas nessa indústria.
O terceiro capítulo analisa as mudanças na indústria em São Paulo nos anos 1920 e
1930. Será dada ênfase à diversificação industrial na década de 1920 e aos efeitos da Grande
Depressão sobre a indústria de máquinas e equipamentos no estado de São Paulo. Serão
analisadas questões relativas à evolução da participação da produção, importações, fontes de
crescimento e evolução dos produtos produzidos pelas empresas.
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XVIII estarem familiarizados com uma grande variedade de máquinas (tornos, furadeiras,
brocas e máquinas de cortar), essas eram pouco precisas e muito lentas, apesar de adequadas
para a indústria da época. O progresso técnico na indústria de máquinas inicialmente foi
implementado por artesãos criativos, que modificaram instrumentos antigos e projetaram
novos, ou seja, a mudança foi gradual e cumulativa (LANDES, 2005, p. 100).
O ritmo do progresso técnico não pode ser medido com precisão na indústria de
máquinas do período inicial da Revolução Industrial devido ao anonimato dos
aperfeiçoamentos e pela variação entre instrumentos do mesmo nome, tornando incerto o
momento de introdução da inovação. Apesar de não ser possível analisar o progresso técnico
com precisão é possível relatar tendências. Entre duas gerações, as técnicas metalúrgicas
progrediram com as ferramentas, tornando-as mais pesadas, automáticas, precisas, versáteis e
fáceis de operar. Na metade do século XIX, alguns fabricantes e construtores de máquinas
operavam com modelos padronizados, sendo possível a venda a partir de descrições em
catálogos. Esse progresso aconteceu “graças, em grande parte, a muitas pessoas talentosas que
aprendiam umas com as outras e que formaram uma espécie de família de fabricantes de
instrumentos” (LANDES, 2005, p. 101).
Apesar do progressivo aperfeiçoamento das máquinas, no período inicial da
Revolução Industrial elas não possuíam grande precisão e não revolucionaram o modo de
produção e o ritmo do trabalho. O artesão trabalhava ainda com padrões tradicionais, com
especificações pouco uniformes e com controle sobre seu desempenho. No entanto, já havia
iniciado a transição para um novo tipo de construção mecânica que iria possibilitar a produção
em massa a preços acessíveis de bens de consumo modernos no século XX, tais como a
bicicleta, o automóvel, geladeiras e televisores. As peças intercambiáveis, ou seja, partes
muito precisas que se encaixam e se integram com outras em um equipamento maior, que
geralmente são elaboradas com o uso de um gabarito, foram essenciais para essa revolução.
Entretanto, no período inicial da Revolução Industrial os produtos não eram comparáveis às
peças intercambiáveis. A utilização do gabarito para a produção das peças das máquinas ainda
era uma exceção em meados do século XIX, mas essa prática disseminou-se rapidamente
depois desse período: “vários fabricantes de máquinas [...] vinham há muito tempo servindo-
se de moldes e matrizes para facilitar a execução das operações repetitivas. A uniformização
dos padrões da fabricação de parafusos e pinos [...] só ocorreu na segunda metade do século
[XIX]” (LANDES, 2005, p. 102).
A indústria de máquinas-ferramenta foi fundamental para a industrialização britânica
entre 1850 e 1914. Apesar de sua importância, essa indústria foi geralmente pequena,
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empregou poucos homens, embora esses fossem mais qualificados do que em outros setores
industriais. O valor monetário da produção do setor foi baixo relativamente a outros setores
industriais. Entre meados do século XIX até a Primeira Guerra Mundial houve expansão da
indústria mecânica britânica. Esse tipo de expansão foi mais comum com novas firmas
entrando no setor do que com velhas firmas produzindo novos produtos. Havia alta
mobilidade de firmas no setor, com baixas barreiras à entrada e saída, revelando que a
indústria era altamente competitiva. Entre 1877 e 1907 houve aumento de especialização, ou
seja, aumento do percentual de firmas que produziam apenas um produto, mas alguns ramos
foram muito mais especializados do que outros. A média das firmas da indústria mecânica
tornou-se mais especializada na segunda metade do século XIX, mas o setor já era altamente
especializado em 1877 (FLOUD, 1976, p. 1–15).
O aumento da especialização e diferenciação na indústria mecânica britânica foi uma
resposta do setor ao desenvolvimento de novos produtos e técnicas na segunda metade do
século XIX. Como a indústria de máquinas-ferramenta foi fornecedora primária de máquinas
para a produção de novos produtos, houve a necessidade de mudança técnica constante. O
desenvolvimento tecnológico na indústria de máquinas-ferramenta entre 1850 e 1914 foi um
processo constante de acumulação de conhecimento e não uma série de invenções isoladas,
como no período anterior. A maioria das ferramentas foi inventada antes de 1850. As
mudanças na indústria de máquinas-ferramenta foram menores no período de 1850 a 1914 em
comparação ao período inicial de desenvolvimento, mas essas mudanças fizeram muita
diferença para a produtividade do setor (FLOUD, 1976, p. 20–23).
A indústria de máquinas do continente europeu, segundo David Landes, teve sua
origem na década de 1820, sendo os franceses e belgas os pioneiros na concepção de suas
próprias máquinas. Em meados do século XIX a Alemanha desenvolveu uma produção
independente de máquinas, mas seus produtores tinham dificuldade de encontrar materiais
locais adequados e muitas firmas compravam máquinas-ferramenta mecânicas auxiliares do
exterior. O desenvolvimento de uma indústria mecânica no continente foi possível devido a
um conjunto de fatores como a importação de mão-de-obra inglesa, empenho dos governos,
altas barreiras tarifárias e outros tipos de restrições à concorrência externa. A expansão da
indústria continental iniciou-se com a imitação e reprodução dos modelos ingleses, com
algumas poucas alterações para atender necessidades específicas locais (LANDES, 2005, p.
185).
A indústria de máquinas do continente era muito menor do que a inglesa e poucas
empresas eram capazes de exportar nesse período inicial de desenvolvimento. Apesar da
19
Durante a primeira metade do século XIX nos Estados Unidos, o setor de armas de
fogo ocupou posição central no desenvolvimento de uma maquinaria de precisão
especializada, principalmente de máquinas de trituração e o torno revólver que juntos foram
indispensáveis à produção de todos os produtos baseados em peças intercambiáveis. O torno
revólver foi adaptado e modificado para utilização em várias atividades como a produção de
componentes para máquinas de costura, relógios, máquinas de escrever, locomotivas,
bicicletas e eventualmente automóveis. As exigências técnicas na indústria de máquinas de
costura entre 1850 a 1870 possibilitaram modificações importantes para essa indústria que
transbordaram para outros setores como calçados, roupas, e a máquina foi usada
extensivamente em 1890 na produção de toldos, tendas, velas, livros de bolso, bens de
borracha e elástico, selaria, arreios e encadernação de livros. A difusão da máquina de costura
depois de 1860 é um grande exemplo de convergência tecnológica. Essa difusão foi possível
devido ao fornecimento de um dispositivo mecânico altamente eficaz para a realização de
uma operação comum entre muitas indústrias.
As soluções dos problemas de fabricação de bicicletas viabilizada por novas
máquinas-ferramenta foram aproveitadas pelos produtores de automóveis. O período entre
1880 e 1910 se caracterizou pelo aumento e desenvolvimento de máquinas-ferramenta para
fins altamente especializados, com contínua adaptação de técnicas estabelecidas, novas
formas de uso e melhora sistemática nas propriedades dos materiais empregados na fabricação
de máquinas-ferramenta. O crescimento do volume na produção manufatureira foi
acompanhado por convergência tecnológica em grandes grupos de indústrias que resultou em
crescimento de processos de especialização possibilitando a produção e difusão de novo
conhecimento técnico. As pequenas melhoras na produção tenderam a criar seus próprios
problemas futuros, que obrigaram a uma nova alteração e revisão (ROSENBERG, 1963b, p.
426–443).
Ross Thomson analisou como e quão ampla foi a convergência tecnológica entre as
máquinas-ferramenta e as indústrias nos Estados Unidos entre 1815 e 1930. Segundo o autor,
a convergência envolveu a invenção e a difusão de máquinas-ferramenta e ambas ocorreram
de várias formas. Nesse período o setor de máquinas-ferramenta passou por três fases de
progressiva ampliação da convergência. Até 1865 as empresas produziam suas próprias
máquinas-ferramenta e a invenção era usada na própria firma. Neste período, a convergência
tecnológica foi muito pequena, ocorrendo através da diversificação da maquinaria das
empresas, vendas incipientes de máquinas para propósitos gerais e mobilidade de
trabalhadores. Entre 1865 e 1890 o setor de máquinas-ferramenta tornou-se central para a
21
século XIX, antes desse período surgiram algumas iniciativas isoladas no setor. Segundo Luiz
Aranha Correa do Lago et alii (1979, p. 6), no período colonial a principal demanda por
equipamentos derivava do aparelhamento de engenhos de açúcar e derivados da cana. Em São
Paulo houve produção de ferramentas e utensílios em fornos rudimentares já no final do
século XVI, mas a despeito da facilidade de aquisição de matérias-primas com a descoberta
de minério de ferro, o setor não se desenvolveu. Apenas um pouco antes da Independência e,
por iniciativa da Coroa portuguesa, tentou-se a instalação em São Paulo de uma indústria de
ferro em grande escala, a Fábrica de Ferro Ipanema, implantada em 1810, próxima à Sorocaba
(LAGO et alii,1979, p. 6-7). A Fábrica Real de Ferro de São João do Ipanema, empresa em
que a Coroa possuía metade das ações, foi administrada por uma junta com representantes do
governo. Sua direção técnica inicial em 1810 foi dividida entre o mineralogista e metalurgista
alemão Friedrich L. Varnhagen e um grupo de técnicos suecos comandados por Carl G.
Hedberg. Entre 1815 e 1821 a direção da Fábrica Real ficou sob a responsabilidade de
Varnhagen e, com o emprego de escravos e índios, a fábrica produziu ferro em barras, ferro-
gusa e obras fundidas. Entre 1835 e 1842 a responsabilidade da direção técnica da Fábrica
Real ficou com Bloem, outro técnico alemão, e neste período foram produzidos implementos
agrícolas e canhões. Depois desse período, a Fábrica Real viveu uma fase de decadência,
sendo reativada durante a Guerra do Paraguai (MOTOYAMA, 2004, p. 154-155).
Apesar da importância da Fábrica Real de Ferro, ela não conseguiu estimular a
indústria de máquinas e equipamentos em São Paulo, embora tenha produzido alguns
implementos agrícolas. Para Roberto Simonsen, a explicação para o não desenvolvimento da
indústria siderúrgica no período foi a dependência do combustível e da matéria-prima, o custo
do transporte e a baixa demanda pelos produtos: “as grandes distâncias em que se
encontravam os nossos minérios, numa época em que os transportes eram dificílimos, e o
pequeno consumo que as nossas explorações agrícolas faziam do metal, não estimularam a
evolução da nossa indústria siderúrgica” (SIMONSEN, 1939, p. 14). Uma maior demanda por
produtos dessa indústria ocorreria com o desenvolvimento da economia primário-exportadora,
com a transição do trabalho escravo pelo trabalho livre, com a imigração que aumentou a
demanda do mercado interno e a posterior urbanização.
No final do século XIX havia uma forte ligação da economia brasileira com o exterior
que favoreceu o surgimento de atividades comerciais de importação e exportação. Essa
atividade comercial facilitou a importação de máquinas e equipamentos que não podiam ser
fabricados internamente, por falta de conhecimento técnico, de matérias-primas ou pela
dependência do mercado da Europa e dos Estados Unidos, quando existiu espírito
23
empreendedor e recursos locais para a empreitada (DEAN, 1976, p. 18)1. Desta forma, quase
todas as máquinas e equipamentos utilizadas pelo setor primário-exportador, entre meados e a
última década do século XIX eram de origem importada, sendo a atividade local, em sua
maior parte, responsável pela reposição de peças simples desses equipamentos. Essa atividade
local foi realizada por fundições de origens diversas, oficinas mecânicas ou pelas próprias
empresas responsáveis pela comercialização dos equipamentos importados.
O comércio de importação de máquinas e equipamentos, nesta fase inicial do processo
de industrialização brasileiro na segunda metade do século XIX e início do século XX, não foi
obstáculo para o desenvolvimento da indústria como um todo e nem da indústria local de
máquinas e equipamentos; pelo contrário, o comércio de importação favoreceu a indústria
local, pelo menos no estado de São Paulo2.
Três fatores favoreceram o envolvimento de importadores na criação de empresas
industriais. O primeiro foi que, para importar, era necessário um certo número de operações
realizadas localmente. A instalação e manutenção de equipamentos que necessitavam de certa
perícia técnica ficavam a cargo do importador e não do comprador, que a princípio não tinha
conhecimento específico do equipamento. Assim, o importador de máquinas e equipamentos
mantinha muitas vezes uma oficina para a instalação e manutenção dos equipamentos
importados, além do escritório para o comércio de seus produtos (DEAN, 1976, p. 26).
O segundo fator em relação à importância do importador na criação de empresas
industriais foi a sua posição estratégica no acesso a crédito, mercado e logística. Segundo
Dean, todo o financiamento de produtos via crédito era oriundo do exterior. Esse crédito era
fornecido por fabricantes e distribuidores europeus ou agências locais de bancos europeus
ligados a fabricantes e casas de comércio do exterior. O crédito fornecido pelos importadores
se estendia a atacadistas, lojas do interior e mascates. Os importadores que comercializavam
máquinas financiavam tanto os fabricantes como os comerciantes. O aparecimento de
1
Fato interessante foi o caso da máquina de beneficiar café, inventada em São Paulo pelo mecânico Evaristo
Conrado Engelberg na década de 1880. Engelberg percebeu que o mercado para essa máquina deveria ser o
mercado mundial de café e que seria difícil sua produção e distribuição em quantidade no Brasil. Ele vendeu os
direitos da máquina a um grupo de norte-americanos que começaram a produzi-la em Nova Iorque e a vendê-la
em todas as regiões produtoras de café do mundo, inclusive São Paulo em 1904 (ver DEAN, 1976, p. 18).
2
Segundo Dean, em São Paulo os importadores, muito mais do que no Rio de Janeiro, tendiam a se transformar
em fabricantes. Assim, quando os importadores de São Paulo se voltavam para a indústria, à medida que a
atividade de importação se tornava mais difícil, os importadores do Rio de Janeiro se tornavam novamente
simples atacadistas (DEAN, 1976, p. 35). Cano argumentou que o Rio de Janeiro apresentou uma das maiores
frações do capital mercantil nacional, onde se concentrou o comércio e o financiamento dos principais fluxos
mercantis internos e externos. Essa concentração mercantil fez a burguesia reproduzir seu capital, criando o
primeiro espaço industrial mais significativo do país. Entretanto, a precocidade da implantação industrial e a
crise do café no Vale do Paraíba e Zona da Mata mineira inibiram o desenvolvimento industrial da região frente
ao dinamismo do café em São Paulo (CANO, 1985, p. 293-303).
24
empresários fora do ramo de importações era pouco provável, dada a escassez de crédito em
outros ramos, e quando apareciam ficavam dependentes do importador em relação ao acesso
direto de crédito estrangeiro. O importador tinha vantagens importantes no conhecimento do
mercado. Nem o atacadista, nem outro empresário em potencial tinham o conhecimento do
mercado necessário para o cálculo do custo relativo da manufatura nacional que dependia das
oscilações dos direitos aduaneiros e suas aplicações que os importadores como negociantes
estavam familiarizados. Em relação ao conhecimento da logística do negócio, muitas vezes o
importador iniciava sua carreira profissional como mascate e passava a dono de loja do
interior, de lojista a atacadista na capital e deste para importador, conhecendo assim o negócio
desde sua base de distribuição. A distribuição dos produtos do fabricante nacional era
realizada tipicamente por meio de importadores, e não por meio de atacadistas. Os produtores
nacionais, geralmente, não tinham as condições necessárias que os importadores possuíam
para a realização do negócio (DEAN, 1976, p. 27).
O terceiro fator relativo à posição estratégica do importador como potencial industrial
é ilustrado pela quantidade de exemplos de importadores que transformaram suas agências de
vendas em fábricas autorizadas. Esse fenômeno foi mais comum em um estágio um pouco
mais avançado do processo de industrialização, quando já se necessitava de importação de
máquinas complexas que eram protegidas por patentes (DEAN, 1976, p. 28). Nos casos em
que os importadores não eram os próprios proprietários industriais, eles agiam como agentes
comerciais dos industriais, dada sua disponibilidade de crédito. Para o caso específico do
setor de máquinas e equipamentos, Dean apresentou vários exemplos em que o importador
diversificou seus produtos conforme a indústria se diversificava. Assim, “acompanhando os
progressos do aprimoramento do mercado, importadores como Lion & Companhia e Mesbla
se converteram em fornecedores importantes de meios de produção”. Outro exemplo é
Frederick Upton, imigrante norte-americano que se especializou em manufaturas mais
complexas e a partir de 1903 passou a vender automóveis, tratores, motores e máquinas
agrícolas (DEAN, 1976, p. 36).
Poucos dos primeiros industriais, segundo Dean, parecem não ter começado como
importadores, pelo menos no que se refere às firmas maiores e mais importantes. Em relação
à indústria de máquinas e equipamentos, há o exemplo de um industrial que não começou
como importador: George Graig, mecânico contratado por uma fundição em 1880 e que
depois fundou sua própria fundição. Contudo, as maiores empresas do setor tinham alguma
relação com o comércio de importação: Alexandre Siciliano, que se tornou o maior produtor
de máquinas e produtos de metal em todo o Estado havia incorporado a importadora Lacerda
25
(Lidgerwood). Além disso, a capital já contava com cinco fundições em 1887 (LAGO et
alii,1979, p. 16).
Em relação aos estabelecimentos de Campinas, é notória a ligação das empresas da
indústria de máquinas e equipamentos com o comércio importador. Os quatro
estabelecimentos citados por Lago et alii tinham alguma relação com o comércio importador.
A empresa fundada por Johan Ludwig Benjamin Faber, um alemão nascido em Berlim, foi a
primeira fundição em Campinas em 1858, com a denominação de Grande Fundição
Brasileira. Faber, que possuía uma fundição em Berlim, foi convidado a ser mestre de uma
grande oficina no Rio de Janeiro, mas quando chegou ao Brasil teve sua expectativa em
relação ao trabalho frustrada. Assim, dirigiu-se para a Fazenda Ibicaba, do comendador
Vergueiro, em Limeira e em 1858 foi para Campinas instalar sua fundição. Em Campinas
enfrentou dificuldades com relação à matéria-prima, que era toda importada da Alemanha, e
com a preferência pelo produto estrangeiro em relação à produção nacional. Em 1878, com o
falecimento de Johan, a empresa passou a denominar-se Viúva Faber & Filhos. Além de
importar produtos sob encomenda da Inglaterra, a empresa produziu peças de ferro e bronze
para a Companhia Paulista de Estradas de Ferro, peças para a infraestrutura da urbanização de
cidades, moendas de cana, ventiladores para matar formigas e descascadores para café
“Faber”. A empresa também fabricava e consertava máquinas para a lavoura e indústria. A
empresa acabou encerrando suas atividades por falência em 1909 (CAMILLO, 1998, p. 44-
46).
Outra empresa com origem ligada à atividade comercial importadora foi a
Lidgerwood. A empresa foi fundada por Guilherme Van Wleck Lidgerwood, um engenheiro
mecânico norte-americano estabelecido no Rio de Janeiro desde a década de 1860 que
figurava entre os maiores importadores da capital do Império. O estabelecimento da firma em
Campinas ocorreu em 1864 e já em 1866 possuía um depósito de máquinas da famosa marca
Eagle, em São Paulo. Em 1871, a firma com a denominação Milford & Lidgerwood foi
responsável por assentar e montar as máquinas agrícolas que vendia, além de importar
qualquer máquina da Europa. Aparentemente, neste período a firma teve como principal
atividade a importação e o suporte técnico dessas máquinas importadas, não as produzindo
ainda. Em 1884, o depósito de máquinas iniciou a produção de máquinas, com a incorporação
de oficina mecânica e fundição, necessárias para a manufatura de máquinas. A empresa, além
de ser importadora de máquinas, passou a ser também manufatureira, com a denominação
Lidgerwood Manufacturing & Cia. Em 1886, a firma expandiu-se com a instalação de uma
nova oficina mecânica, uma grande fundição de ferro e bronze, serraria a vapor, caldeiraria e
27
seções de modelagem e serralheria. Um anúncio dessa época mostra que a empresa fabricante
e importadora de máquinas comercializava descascadores de café, ventiladores, separadores,
despolpadores, catadores, brunidores, moinhos para fubá, engenhos de serra vertical, serras
circulares, moendas de cana, alambiques, evaporadores, centrífugas, bombas, vapores fixos e
semi-fixos, locomóveis, turbinas de motores, rodas de ferro, motores e todos os utensílios
necessários para a montagem de qualquer mecanismo. Em 1889, há registro de depósitos e
oficinas da empresa na cidade de São Paulo. No período das epidemias de febre amarela em
Campinas, no final dos anos 1880 e início dos anos 1890, Guilherme Lidgerwood não mais
residia em Campinas. A empresa operou até 1922 (CAMILLO, 1998, p. 50-57).
Outro exemplo da relação entre a importação e produção de máquinas foi a firma
Arens & Irmãos. Ela foi constituída por três irmãos (Henrique, Fernando e Augusto Arens),
engenheiros mecânicos formados na Alemanha que em 1874 estabeleceram-se no Rio de
Janeiro como agentes importadores de máquinas para lavoura e indústria. Na tentativa de
expansão da empresa, Fernando Arens mudou-se para a província de São Paulo a fim de
estabelecer uma filial da empresa. Entre 1875 e 1877 há indícios da fundação em Campinas
de um “depósito de máquinas importadas” ou montagem de máquinas, sendo que a produção
de máquinas em Campinas por essa firma iniciou-se após 1877. As atividades da firma Arens
abrangiam fabricar e assentar máquinas completas, arados e demais implementos para a
agricultura. A empresa era o único agente da fábrica de máquinas a vapor Marshall Sons &
Cia. da Inglaterra e também comercializava a “Patent Lombard”, máquinas de descascar café
para produtores de pequeno porte. A Arens fabricou também a máquina Progresso, para o
beneficiamento de café, com capacidade de beneficiar de 150 a 200 arrobas de café em dez
horas. A máquina Progresso era movida por motor da fábrica inglesa Marshall Sons & Cia de
6 HP. Em seus anúncios há indicação ainda de catadores de café, despolpadores, secadores e
descascadores cônicos. A empresa de Campinas foi extinta em 1889 devido à epidemia de
febre amarela que assolou os negócios da cidade. Em 1890 há indícios de que a empresa havia
se estabelecido em Jundiaí (CAMILLO, 1998, p. 118–125).
Outra empresa que também possuía relação entre importação e produção de máquinas
foi a Companhia Mac Hardy. Essa empresa foi fundada na cidade de Campinas em 1875 para
fabricação de máquinas de beneficiamento de café e ferramentas para a lavoura. Seu
fundador, o mecânico Guilherme Mac Hardy, oriundo de Drumblair, na Escócia, chegou em
Campinas em 1872 para trabalhar na firma Milford & Lidgerwood, importadora de máquinas
agrícolas. Na década de 1880 a Companhia Mac Hardy ampliou suas instalações e em 1883
28
inaugurou novas e grandes oficinas de fundição em duas principais seções3: uma de mecânica,
em sociedade com John Ross, que veio da Inglaterra a pedido de Guilherme Mac Hardy para
ampliar as atividades da empresa; e uma seção de fundição, em sociedade com Joseph James
Sims, que residia em Campinas, mas havia trabalhado em fundições londrinas como a
Cadogan Iron Works e na fundição dos Hargreaves, no Rio de Janeiro, transferindo-se para
Campinas em 1874 a convite da firma Bierrenbach & Irmão. A expansão da Companhia Mac
Hardy na década de 1880 levou ao aumento da concorrência no mercado de máquinas
agrícolas paulista, dado que a Companhia concorria diretamente com a firma Lidgerwood,
grande importadora e fabricante de máquinas agrícolas. Na seção mecânica da Companhia
Mac Hardy produziu-se um tipo de máquina para beneficiar 300 arrobas de café por dia, uma
outra (máquina Provincial) que beneficiava de 150 a 200 arrobas de café por dia, além de
outras máquinas completas para beneficiar café. A fundição produzia polias, engrenagens,
engenhos de cana e turbinas. Em 1889, devido à epidemia de febre amarela que atingiu a
cidade de Campinas, os sócios de Guilherme Mac Hardy, Ross e Sims vieram a falecer. Em
1891, Guilherme Mac Hardy, com apoio de personalidades campineiras, transformou a
empresa em sociedade anônima, com a denominação de Companhia Mac Hardy
Manufatureira e Importadora. Vários proprietários importantes ligados à política de São Paulo
e à agricultura, principalmente a cafeeira, aparecem como dirigentes e acionistas da empresa.
Em 1893, Guilherme Mac Hardy voltou para a Escócia, mas mesmo de longe participou da
orientação dos rumos da empresa (CAMILLO, 1998, p. 107-113).
Como é possível perceber pela breve exposição da evolução das principais empresas
da indústria de máquinas na cidade de Campinas no final do século XIX, os primeiros
proprietários foram imigrantes, iniciaram suas atividades como importadores de máquinas ou
tinham fortes ligações com o comércio importador. Como Dean observou, os importadores
foram quase sempre imigrantes e complementaram os fazendeiros no desenvolvimento da
indústria paulista (DEAN, 1976, p. 57).
Que os imigrantes foram agentes sociais importantes para a formação industrial e da
indústria de máquinas e equipamentos paulista parece ser, então, algo bem estabelecido.
Entretanto, há dúvidas quanto a origem desses imigrantes, se iniciaram suas atividades no país
como burgueses ligados ao comércio de importação (DEAN, 1976, capítulo IV), se eram
imigrantes de classe média (BRESSER PEREIRA, 2002) ou trabalhadores e operários que se
tornaram empreendedores (BARBOSA, 2006; BRANDÃO, 2009).
3
Na verdade eram duas firmas: a Guilherme Mac Hardy & Cia., responsável pela seção mecânica e a Mac Hardy
& Cia. – Fundição Campineira de Ferro e Bronze, responsável pela fundição.
29
superior havia 7,8% dos empresários. As classes médias representaram 50%, enquanto apenas
16,7% dos empresários originaram-se de famílias pobres. Assim, a conclusão de Bresser
Pereira foi que “os empresários industriais do Estado de São Paulo, onde se concentrou a
industrialização brasileira, não tiveram origem nas famílias ligadas ao café. Originaram-se em
famílias imigrantes principalmente de classe média” (BRESSER PEREIRA, 2002, p. 146).
Outros estudos abordaram a origem dos empresários industriais em municípios
específicos. Agnaldo de Souza Barbosa estudou o processo de industrialização na cidade de
Franca de 1920 a 1990 e identificou que os empresários do setor calçadista, o principal setor
industrial da cidade, não tiveram sua origem do “vazamento” de capitais da acumulação
cafeeira e que, mesmo tendo surgido tardiamente, não necessariamente tinham que nascer
grandes (fábricas mecanizadas). As características das empresas encontradas no estudo foram
de pequeno porte e forma de produção artesanal. O autor afirmou que na indústria de calçados
em Franca houve a possibilidade de ascensão de pequenos empresários de origem pobre.
Esses empreendimentos tiveram origem no ofício manual de seus fundadores, onde artesãos
ou operários sapateiros criaram pequenas fábricas. Além de origem humilde, a maioria era de
nacionalidade italiana (BARBOSA, 2006, p. 92-110).
Marco Antonio Brandão encontrou um fenômeno semelhante ao narrado por Barbosa
na formação industrial da cidade de Ribeirão Preto, entre 1890 e 1930. Para o autor, a
formação do empresariado industrial em Ribeirão Preto se baseou, em sua maioria, em
indivíduos carentes de recursos econômicos, já que a constituição de uma pequena empresa
não demandava muitos recursos e esses empresários tinham o essencial para a produção: mão-
de-obra familiar ou contratada em pequeno número e o saber fazer necessário. A origem do
empresariado industrial em Ribeirão Preto esteve relacionada com imigrantes italianos,
trabalhadores pobres que souberam aproveitar as oportunidades, deixando a condição de
trabalhadores para tornarem-se empregadores (BRANDÃO, 2006, p. 178–228).
Especificamente para a indústria de máquinas e equipamentos, outros autores notaram
a presença do imigrante no contexto da industrialização paulista. Wilson Suzigan observa que
as fábricas que se estabeleceram [na indústria metal-mecânica] antes da guerra produziam
especialmente máquinas e implementos agrícolas. [...] Algumas das empresas mais novas, [...],
além de produzirem máquinas, ferramentas e implementos agrícolas, começaram a produção de
pequenos tornos. Outras, como a Bardella Indústrias Mecânicas e três outras firmas, iniciaram a
produção de máquinas industriais (máquinas para fábricas de papel e papelão e para a indústria de
borracha e cerâmica), bombas hidráulicas, pontes rolantes, pequenas turbinas, etc. Praticamente
todas essas novas empresas foram fundadas por imigrantes, quase sempre de origem italiana
(SUZIGAN, 2000, p. 295).
Na mesma linha, Nathaniel Leff afirmou que os imigrantes, geralmente de origem
italiana, que chegaram ao Brasil por volta do final do século XIX, foram uma das fontes de
31
as oficinas de reparos das próprias fábricas. Essas duas fontes tornaram a indústria têxtil
nacional menos dependente da indústria de máquinas estrangeiras. Os engenheiros brasileiros
ligados às fábricas têxteis, geralmente presentes nas duas últimas décadas do século XIX,
tinham a tarefa de negociar diretamente com a indústria de máquinas estrangeiras, sem a
necessidade de passar por intermediários locais ou “casas de importação”, com a finalidade de
reduzir o custo de importação do equipamento. Esses técnicos nativos possibilitavam uma
escolha melhor em relação ao equipamento têxtil, pois o engenheiro estrangeiro tendia a
indicar as máquinas de sua nacionalidade, nem sempre as de maior custo-benefício. As
oficinas de reparos fabricavam peças de reposição para as dispendiosas máquinas têxteis. Os
empresários locais diminuíram sua dependência em relação à indústria de máquinas
estrangeiras economizando mais tempo do que dinheiro. Os empresários têxteis tinham
problemas com o atraso na entrega dos equipamentos, e em relação às informações sobre as
máquinas. A oficina mecânica dentro da fábrica diminuía a anomalia de manter uma indústria
têxtil algodoeira sem uma indústria de máquinas têxteis nacional. Apesar desses avanços na
tentativa de diminuir a dependência da indústria de máquinas estrangeiras, “a instalação das
máquinas continuou a ser, na maioria dos casos, uma tarefa reservada a trabalhadores
especializados estrangeiros, sob a supervisão técnica dos montadores ingleses ou americanos”
(STEIN, 1979, p. 52).
Apesar da gênese da indústria mecânica em São Paulo ter forte ligação com o
empreendedor imigrante, seja ele o comerciante importador e depois produtor de máquinas e
equipamentos, ou ainda o imigrante técnico mecânico de classe média ou baixa, havia outros
agentes sociais responsáveis pelo desenvolvimento e expansão da indústria mecânica. As
fontes de demanda por máquinas e equipamentos até a segunda década do século XX estavam
atreladas à lógica de uma economia primário-exportadora. Conforme notado por Leff foram
várias as fontes de demanda por produtos mecânicos: a) a economia agrícola exportadora
necessitava de infraestrutura de transportes que requeria serviços de manutenção e reparação
de peças, primeiramente material ferroviário e mais tarde rodoviário. Esse tipo de serviço
necessitava ser realizado no local devido a prazos imediatos de atendimento; b) a economia
agrícola exportadora necessitava beneficiar os produtos de exportação, sendo os equipamentos
de processamento e beneficiamento de café, açúcar e algodão os primeiros entre os produtos
mecânicos introduzidos na economia brasileira; c) outros usuários e consumidores de
produtos mecânicos foram as forças militares para reparação e construção de peças de
equipamentos; d) equipamentos para a indústria de construção foram demandados
33
proveio de uma parte dos lucros da empresa de Piracicaba e da venda das patentes, mas a
maior parte teria sido de contribuições de fazendeiros que eram agora seus parentes. O
empreendimento prosperou com a influência dos maiores fazendeiros do estado como co-
diretores da empresa. Aos poucos, Siciliano foi comprando as partes dos sócios fazendeiros e
acabou tornando-se o único dono (DEAN, 1976, p.82-83).
Assim, podemos identificar várias fontes de capital para a indústria de máquinas e
equipamentos na historiografia econômica: os comerciantes e técnicos imigrantes, os
fazendeiros e a união desses grupos.
promoveram o modesto aparecimento da indústria, sua lógica estava atrelada a uma economia
primário-exportadora (ERBER et alii, 1973, p. 9).
Leff começou sua análise sobre as origens da indústria de máquinas e equipamentos
perguntando como ela pôde ter emergido em uma economia de exportação e como produtores
locais poderiam competir com importações em um período sem proteção tarifária e com
amplo comércio externo. Depois de argumentar que as principais fontes de demanda para essa
indústria estavam relacionadas com a economia de exportação, o autor afirmou que parte da
demanda foi atendida por produtores locais por causa de “vantagens locacionais”, como os
custos de transportes. Entretanto, na maioria das vezes a indústria local foi responsável pelo
reparo de máquinas e reposição de peças, complementando as importações (LEFF, 1968, p. 9-
10).
Lago et alii afirmaram que no início da República havia um clima propício para a
produção interna de bens de consumo, dadas as altas tarifas de importação e crescente
desvalorização do mil-réis, na década de 1890. Entretanto, a situação da indústria de
máquinas não foi tão favorável. A incipiente indústria de máquinas enfrentava isenções de
direitos alfandegários sobre vários equipamentos importados, inclusive no principal ramo,
máquinas agrícolas, que no início da década de 1890 tinham que pagar uma taxa de
expediente de apenas 5% para a importação. Essas desvantagens aumentaram a concorrência
do produtor local em relação às máquinas agrícolas importadas, mas por outro lado, fatores
como a desvalorização cambial, elevados custos de transporte dentro do país, facilidades de
importação de máquinas, equipamentos e matérias-primas para o setor e condições específicas
de demanda possibilitaram o desenvolvimento de novos estabelecimentos na indústria na
década de 1890 (LAGO et alii, 1979, p. 21).
Segundo Dean, em períodos de baixo comércio e de preços em queda do café (1892,
1895 e 1902-1906) a indústria acompanhou essa queda. Quando o preço do café estava em
alta (1907-1913) o parque industrial cresceu rapidamente. Neste último período a valorização
da moeda nacional estimulou os empresários a reequiparem e expandirem suas fábricas, o que
foi feito com o aumento da importação de novas máquinas (DEAN, 1976, p. 94).
Suzigan percebeu a mesma tendência geral da indústria metal-mecânica, com
desenvolvimento substancial e acelerado nos anos anteriores a Primeira Guerra. Esse
crescimento da indústria metal-mecânica foi estimulado pelo crescimento econômico das
exportações de café e borracha; ferrovias, equipamentos de portos e desenvolvimento urbano.
Houve crescente investimento, medido pela importação de máquinas para o setor, de 1906-
1907 em diante, atingindo um pico de importações em 1912-1913; 6,5 vezes superior ao
36
período inicial. Esse pico de importações de máquinas para a indústria metal-mecânica não
seria atingido novamente antes do final da década de 1930 (SUZIGAN, 2000, p. 256).
Lago et alii também confirmaram a crescente importação de equipamentos para a
indústria como um todo, reflexo do rápido crescimento do setor industrial no período de
1907-1913. Entretanto, segundo esses autores, no período ocorreu substituição de importações
de bens de consumo não duráveis, não havendo indicação de substituição de importações no
setor de máquinas e equipamentos. Assim, os autores não confirmaram que o crescimento
industrial do período de 1907-1913 foi favorável à substituição de importações de máquinas,
apesar de algumas oficinas de imigrantes que se tornaram empresas importantes do setor
posteriormente terem sido fundadas no período, entre as quais a Bardella, fundada em 1911
(LAGO et alii, 1979, p. 22-24). Para Suzigan as empresas que foram fundadas antes da
Primeira Guerra Mundial produziam máquinas e implementos agrícolas, tais como máquinas
para beneficiar café e arroz, moinhos de milho e mandioca, moendas de cana. Apesar da
produção de máquinas agrícolas, algumas empresas mais novas, como a Máquinas Agrícolas
Nardini e a Cipriano Micheletto começaram a produção de pequenos tornos, mas apenas no
período entre guerras (SUZIGAN, 2000, p. 295).
Há uma diferença de opinião sobre as características de produção das empresas,
tamanho das firmas e importância do capital estrangeiro na indústria de máquinas e
equipamentos no período de 1907 a 1913. Para Erber et alii as empresas de máquinas e
equipamentos tinham características artesanais, estabelecimentos pequenos de produção e
participação direta do empresário na produção em muitos casos. Como as características da
produção nacional eram muito diferentes do setor já implantado em países desenvolvidos, isso
contribuiu para o pouco interesse do capital internacional na indústria nacional, pelo menos
no período de 1850 a 1930, os primeiros 80 anos de existência da indústria (ERBER et alii,
1973, p. 12-13). Lago et alii, entretanto, contestaram a afirmação de que as características das
empresas de máquinas e equipamentos em 1907 eram de empresas artesanais. Para esses
autores os dados do Inquérito Industrial de 1907 mostraram que não se deve negligenciar a
quantidade de empresas que não podiam ser classificadas como artesanais. Algumas empresas
empregavam centenas de operários em um estabelecimento, com o emprego de máquinas não
movidas manualmente. Muitos desses estabelecimentos pertenciam a capitalistas brasileiros,
mas empreendimentos britânicos e americanos também foram importantes para o
desenvolvimento de fundições, principalmente em São Paulo e no Nordeste. Esses
empreendimentos foram nacionalizados com a permanência de seus empreendedores no país,
como no caso das oficinas de alemães e italianos, mas alguns como a Ligerwood, para o caso
37
de São Paulo, mantiveram laços externos pelo menos até a primeira década do século XX
(LAGO et alii, 1979, p. 34-35).
Em relação à tecnologia há um relativo consenso entre Erber et alii e Lago et alii de
que os produtores locais de máquinas e equipamentos concentravam-se entre 1907 e 1913 nas
atividades básicas da construção de equipamentos mecânicos, como forjaria, fundição,
usinagem e caldeiraria. Apesar das atividades serem em sua maioria de baixa sofisticação
tecnológica, a absorção da limitada tecnologia necessária à produção daqueles bens foi feita
com a utilização de mão-de-obra estrangeira especializada, cópia de máquinas e equipamentos
importados e alguns empresários nacionais com conhecimento técnico. Em relação aos
equipamentos utilizados pelas empresas da indústria mecânica, algumas unidades maiores
podiam abastecer-se com máquinas e equipamentos mais simples, mas a maquinaria mais
sofisticada tecnologicamente foi importada, principalmente da Grã-Bretanha e dos Estados
Unidos. Assim, parece haver um consenso na historiografia econômica de que, antes da
Primeira Guerra Mundial, a produção local de máquinas concentrava-se em sua maioria em
equipamentos mais simples e foi pequena a concorrência com as máquinas importadas mais
sofisticadas (ERBER et alii, 1973, p. 11-12; LAGO et alii, 1979, p. 34-36).
Depois de analisar a historiografia econômica no período anterior a 1913, o objetivo
do restante da seção é avaliar a historiografia sobre os efeitos da Primeira Guerra Mundial na
indústria e especificamente sobre a indústria de máquinas e equipamentos no Brasil e no
estado de São Paulo. Apesar de vários avanços na historiografia recente sobre os efeitos da
Primeira Guerra na indústria como um todo, identificando equívocos dos primeiros estudos
sobre o tema, não houve avanços equivalentes quanto aos efeitos da guerra sobre a indústria
de máquinas e equipamentos.
Dean fez uma análise muito detalhada sobre os efeitos da Primeira Guerra Mundial na
industrialização do estado de São Paulo. Seu argumento começou com a descrição das teses
de trabalhos anteriores, principalmente de Simonsen. Do trabalho de Simonsen teriam
derivado as interpretações dos efeitos da guerra sobre a indústria nas obras de Caio Prado Jr.,
Werner Baer, Dorival Teixeira Vieira, Fernando Henrique Cardoso e Nícia Vilela Luz (ver
DEAN, 1976, p. 96-97). A conclusão de Simonsen em seu trabalho foi que a guerra acelerou
o desenvolvimento industrial, dando origem a um impulso adicional que resultou em grande
diversificação de novos produtos. Dean mostrou que houve um rapidíssimo aumento na
produção industrial de São Paulo entre 1907 e 1920, pelos dados censitários do Centro
Industrial do Brasil (1907) e Censo Industrial (1920).
38
para beneficiar café, escolhedores de café, máquinas para beneficiar arroz [...]” (SUZIGAN,
2000, p. 246). Entretanto, o cônsul americano enfatizou a dependência de importações de
máquinas mais sofisticadas tecnologicamente e de matérias-primas para o setor. Essa
dependência em relação a matérias-primas, segundo Suzigan, deve ter comprometido a
expansão do setor durante o período da Primeira Guerra Mundial. Entretanto, outra
possibilidade foi a indústria trabalhar com o ferro obtido da sucata, com a construção de
fundições, nas próprias empresas. Há o exemplo da construção de uma fundição em 1914 pela
Companhia Mecânica de São Paulo, mas com início da produção de aço apenas em 1918
(SUZIGAN, 2000, p. 257-258). Suzigan notou, utilizando o Anuário Banas de 1962 sobre a
indústria de máquinas, que durante a guerra foram fundadas algumas empresas que ainda
estavam em operação em 1962: duas novas fábricas para a produção de máquinas agrícolas,
uma fábrica para a produção de máquinas para a indústria de bebidas e uma para a produção
de elevadores (SUZIGAN, 2000, p. 295).
Suzigan confirmou o surgimento de inúmeras oficinas metalúrgicas que
desapareceram após a guerra com o reinício das importações e, baseando-se no exemplo de
Dean, relatou uma exceção: uma empresa que surgiu no período da guerra e tornou-se
importante posteriormente, a Villares. Assim, “é possível que haja outros casos como este,
mas não há evidência disponível” (SUZIGAN, 2000, p. 258).
A análise de Suzigan sobre a indústria metal-mecânica entre 1914-1918, apesar de
mostrar o surgimento de pequenas oficinas metalúrgicas e de algumas fábricas no período,
teve uma conclusão pessimista dos impactos da Primeira Guerra Mundial sobre a indústria.
Para ele, a dependência de matérias-primas dificultou o crescimento da produção da indústria
metal-mecânica no período e “desse modo, quando as importações de ferro e aço caíram
continuamente durante a guerra [...], com certeza, a indústria metal-mecânica reduziu suas
operações (SUZIGAN, 2000, p. 257).
Lago et alii descreveram brevemente o debate dos efeitos da Primeira Guerra Mundial
sobre a industrialização do Brasil, mostrando as duas principais correntes: a) a primeira, que
sustentou que a interrupção das importações protegeu o mercado interno e possibilitou grande
crescimento industrial no período; b) e a segunda, que argumentou sobre a drástica redução
nas importações de máquinas e equipamentos, ocorrida durante a Primeira Guerra, levou à
maior utilização da capacidade instalada existente. Para os autores, os efeitos da queda na
importação de equipamentos no período da Primeira Guerra foram diferenciados entre os
setores industriais. Dentro da indústria de bens de capital o gênero que teve menor redução de
importações foi o de material elétrico e de comunicações, que era o gênero mais essencial,
41
dado que existia pouca produção interna desses produtos. Por outro lado, a indústria de
equipamentos mecânicos foi a que teve maior redução de importações, importando uma
média anual entre 1915-1918 de 30% do valor importado em 1913 (LAGO et alii, 1979, p.
40).
Lago et alii afirmaram que houve aumento na capacidade da indústria de máquinas e
equipamentos, com o aumento do número de estabelecimentos fundados durante a Primeira
Guerra Mundial. Utilizando dados do Censo Industrial de 1920, eles mostraram que o
aumento mais expressivo do número de estabelecimentos industriais de máquinas e
equipamentos no país em operação em 1920 ocorreu entre 1915-1919 (39 estabelecimentos),
acima dos 35 estabelecimentos fundados entre 1910-1914 e dos 16 entre 1905-1909. Outro
indicador utilizado pelos autores que mostrou os efeitos positivos sobre a indústria de
máquinas e equipamentos no período foi o crescimento da produção brasileira de ferro de
quase quatro mil toneladas em 1913, com queda para duas mil toneladas em 1914, passando
para quase doze mil toneladas em 1918 (LAGO et alii, 1979, p. 37-39).
Apesar da análise favorável de Lago et alii dos efeitos da Primeira Guerra Mundial
sobre a indústria de máquinas em termos de número de estabelecimentos, aumento de
produtividade, da produção interna, que supriu entre 32,9% e 35,6% da oferta global de
máquinas em 1919, havia ainda grande dependência brasileira de importação de máquinas em
1919, principalmente das mais sofisticadas tecnologicamente. O principal demandante de
equipamentos e máquinas em 1919, o setor agrícola, utilizou implementos em pequena escala:
15% dos estabelecimentos utilizavam algum instrumento ou máquina para a cultura, dos quais
13,9% empregavam arados; 7,1% grades; 1,2% semeadores; 1,7% cultivadores; 0,8%
ceifadores e apenas 0,2% tratores (LAGO et alii, 1979, p. 53-54).
Quais as empresas fundadas no período da Primeira Guerra que sobreviveram à
retomada do comércio de importação de máquinas e equipamentos e quais as firmas que
fecharam? Foram apenas as empresas citadas por Dean e Suzigan, fundadas no período da
guerra, que se tornaram importantes? As empresas que fecharam com o término da guerra
possuíam as mesmas características das que expandiram suas atividades? Quem eram os
proprietários dessas empresas? Qual a origem do capital desses empreendimentos? Essas são
algumas das perguntas que o próximo capítulo tentará responder.
42
A década de 1930 começou sob o efeito da crise internacional de 1929. Este fato, mais
a Revolução de 1930, transformaram a economia brasileira. Segundo a historiografia, tais
acontecimentos favoreceram a indústria que, já em 1932, viu-se recuperada e produzindo aos
níveis pré-crise. Ainda assim, Lago et alii notaram que o estrangulamento da capacidade de
importar, fruto de uma lenta recuperação do comércio mundial nos anos trinta e o porte já
atingido pela indústria de bens de capital, com a produção de máquinas no período anterior,
facilitaram sua expansão (LAGO et alii, 1979, p. 71).
Em outro importante trabalho sobre o setor, Leff sustentou que “o crescimento da
produção de equipamentos parece ter sido especialmente rápido no período 1933-1940”. O
autor relatou que não havendo estatísticas de produção disponíveis para esses anos, foi
possível realizar a análise através de informações indiretas como dados sobre o consumo de
ferro e aço no Brasil (LEFF, 1968, p. 12).
Furtado explicou como foram favoráveis os efeitos da Grande Depressão sobre a
indústria de bens de capital4. Segundo o autor, a expansão da produção para o mercado
interno e a forte elevação dos preços de importação de bens de capital, acarretada pela
depreciação cambial, refletiram no crescimento da procura e criaram as condições propícias à
instalação no país de uma indústria de bens capital. Segundo Furtado, a indústria de bens de
capital encontrou, por uma série de razões, sérias dificuldades para instalar-se em uma
economia dependente como a brasileira. Assim, havia um quadro de reduzido estímulo para
instalar as referidas indústrias nos países de economia dependente porque facilidades de
importações prevaleceram nas etapas em que aumentou a procura de bens de capital. A
diminuição relativa do comércio internacional do país devido à desvalorização cambial,
deteriorando os termos de troca, e o fortalecimento do mercado interno, com as políticas
4
Furtado utilizou o ferro, aço e o cimento como indicadores dessa indústria por falta de informações estatísticas.
44
5
Apesar de Gupta utilizar o termo setor de bens de capital, ao longo do seu trabalho fica claro que ela está
analisando apenas a indústria de máquinas e equipamentos e não a indústria de bens de capital, que também
incluem bens dos gêneros materiais de transporte, elétrico e metalurgia.
6
Esta é uma das principais fontes primárias utilizadas neste trabalho. Esta Estatística é a melhor fonte sobre a
indústria em São Paulo que abrange o período de 1928 a 1937. Ela relata dados por empresa, com informações
sobre valor da produção, capital, operários, força motriz e produto produzido.
45
Assim, empresas que em 1929 eram classificadas em “máquinas para a lavoura e indústria”,
em 1937 apareceriam em “oficinas mecânicas para consertos”, sendo que sua classificação de
produto era a mesma que em 1929. Portanto, ao utilizar apenas o subsetor “máquinas para a
agricultura e indústria”, Gupta incorreu no erro de concluir que a diminuição de empresas
classificadas em “máquinas para a agricultura e indústria” teria significado redução da
quantidade de empresas produzindo máquinas (efeito adverso da Grande Depressão). Isso não
ocorreu, pois tais empresas apenas foram classificadas em outro subsetor devido à mudança
de classificação da Estatística Industrial.
Ao fazer uma análise qualitativa do subsetor, Gupta confirmou que a indústria de bens
de capital desenvolveu-se em resposta à expansão no setor exportador: “a indústria produz
principalmente equipamentos para o setor exportador e apenas certos tipos de maquinarias
simples requeridas na produção de bens de consumo” (GUPTA, 1997, p. 248). Analisando a
evolução do emprego e produção na indústria metalúrgica e de máquinas entre 1929 a 1937,
Gupta também concluiu que “enquanto a produção real e o emprego na metalurgia triplicaram
neste período, o crescimento na indústria de máquinas foi muito baixo – o produto real
cresceu apenas 22% e o emprego 21,6%” (GUPTA, 1997, p. 248). Estas conclusões decorrem
dos problemas apontados anteriormente.
Gupta afirmou ser possível analisar com os dados da Estatística Industrial o processo
de mudança estrutural dentro da indústria. A autora concluiu que houve um declínio do
número de firmas no setor entre 1929 e 1937, principalmente devido à saída de pequenas
firmas. O número de firmas empregando menos de 20 operários declinou de 92 para 54,
devido ao desaparecimento de muitas pequenas oficinas que supriam o setor exportador.
Houve também uma mudança na composição da produção. Das 19 firmas que empregavam
mais de 50 operários em 1929, 14 produziram máquinas para a agricultura e agro-indústrias,
enquanto em 1937 apenas 10 das 23 firmas nesta categoria os fabricavam, o restante
produzindo máquinas industriais. Houve também uma diversificação da produção, com firmas
entrando na produção de máquinas para metalurgia, indústrias de medicamentos e papel, bem
como equipamentos para a geração e transmissão de energia. O emprego em grandes firmas
(com mais de 50 operários) produzindo para agricultura e agro-indústrias aumentou apenas
8,4% entre 1929 e 1937, mas aumentou 84% em grandes firmas produzindo maquinaria
industrial (GUPTA, 1997, p. 249).
Assim, Gupta identificou uma grande diversificação na indústria de máquinas e
equipamentos em São Paulo durante a década de 1930. Não apenas a produção de maquinaria
industrial assumiu grande importância, como também exibiu grande dinamismo. A autora
46
mostrou ainda que os ganhos na produção de equipamentos para a indústria têxtil foram mais
significativos. O número de firmas produzindo máquinas para a indústria de bens de consumo
ainda era pequeno neste período, mas na metade da década de 1930 as firmas começaram a
produzir máquinas para a indústria metalúrgica e de medicamentos, bem como equipamentos
de impressão.
As conclusões de Gupta sobre os efeitos da Grande Depressão no setor de bens de
capital, indústria de máquinas e equipamentos, podem ser assim resumidas: no começo da
Grande Depressão, como a indústria de bens de capital estava diretamente voltada a suprir o
setor exportador, houve efeitos adversos sobre o setor. No final da década o setor já estava
diversificado, mesmo com a principal fonte de demanda sendo ainda o setor primário. A
produção de equipamentos para a indústria de bens de consumo e intermediários tinha sido
iniciada. O setor que produzia maquinaria industrial promoveu o dinamismo no período.
Assim, “a década de 1930 necessita ser vista como um período de mudança estrutural dentro
da indústria de bens de capital” (GUPTA, 1997, p. 250).
Este trabalho pretende oferecer respostas para algumas das divergências citadas e
contribuir para a explicação do processo de industrialização paulista e brasileira, a partir da
experiência da indústria de máquinas e equipamentos nas décadas de 1920 e 1930. Essa
análise será feita no terceiro capítulo da tese.
1.3 Conclusões
máquinas e equipamentos. Lago et alii e Leff afirmaram que os efeitos da Grande Depressão
foram favoráveis à indústria de bens de capital, incluindo a indústria de máquinas. Furtado
sustentou que a indústria de bens de capital no Brasil pouco sofreu com a crise, voltando a
crescer já em 1931. Já Gupta, ao contrário dos trabalhos anteriores, concluiu que a indústria
de máquinas e equipamentos foi afetada adversamente pela Grande Depressão. O terceiro
capítulo da tese pretende contribuir com esse debate, mostrando as mudanças na indústria de
máquinas e equipamentos no estado de São Paulo nas décadas de 1920 e 1930, dando ênfase
para os efeitos da Grande Depressão no setor.
O quarto capítulo da tese apresentará dois estudos de caso de empresas da indústria de
máquinas e equipamentos no estado de São Paulo, desde a fundação das empresas até a
década de 1960. Relataremos as origens dos empresários, a evolução do mercado específico
de atuação das empresas, apresentando os concorrentes e os principais consumidores.
Apresentaremos também a evolução da estrutura empresarial e financeira das empresas. Neste
capítulo apresentaremos elementos empíricos para a tese mais geral sugerida neste trabalho:
as principais empresas da indústria de máquinas e equipamentos na década de 1960 surgiram
como pequenas oficinas ou fundições entre o final do século XIX e as três primeiras décadas
do século XX. Essas empresas evoluíram com o mercado em que atuavam, com grandes
mudanças nas décadas de 1920 e 1930 e se fortaleceram após a década de 1940.
49
2 AS ORIGENS, 1870–1919
“Brunidor Paulista”. Benedito Silvério da Silva e Nicolao Estrubim aparecem também como
carpinteiros, além de construtores de máquinas agrícolas (LUNÉ, 1985, p. 139).
FONTE: LUNÉ, A. J. B. Almanak da Província de São Paulo para 1873. São Paulo: Imprensa Oficial
do Estado: Arquivo do Estado, 1985. DEE/DEPC/SP. Catálogo das Indústrias do Estado de São Paulo,
Município da Capital e Interior, 1945, São Paulo: Tipografia Brasil, 1947.
tarifária, já que a importação de “máquinas para lavrar a terra e preparar produtos para a
agricultura, mineração, serviços de qualquer fábrica ou oficina” assim como “locomotivas”
possuíam isenção tarifária em 1890 (BRASIL, 1890, p. 123).
Há uma mudança significativa na indústria em 1891 em relação a 1873, devido ao
crescimento do comércio internacional nesse período. Várias dessas empresas, além de
fabricarem máquinas e peças para reposição das máquinas e prestarem reparos nas oficinas
mecânicas, eram também casas de importação e ou de exportação pertencentes a imigrantes.
Os proprietários estrangeiros possuíam acesso a empresas produtoras no exterior para a
importação de alguma máquina, como o caso da Arens, que foi agente de representação da
fábrica de máquinas Marshall Sons & C. da Inglaterra, e acesso a crédito de bancos
estrangeiros. Das 21 empresas que foram identificadas na indústria de máquinas, oficinas
mecânicas e fundições em 1891, 10 tinham alguma relação com o comércio internacional,
conforme pode ser identificado na própria fonte (Almanach de 1891) e em anúncios de jornais
da época. Mas é possível que outras também tivessem a mesma relação.
Aparecem como produtoras de máquinas para a lavoura e indústria e também como
casa de importação no Almanach de 1891 as empresas John Muller & Comp., J. P. de Castro
& Comp., Zerrenner & Bullow & Comp., Pedro A. Anderson & Comp. (que aparece em um
anúncio como casa de importação, exportação, comissões e fundição e fábrica de máquinas
para a lavoura, arados, bombas, carroças e etc.) e a Hasenclever & Comp. (que aparece em um
anúncio como agentes de importação de trilhos de aço portáteis e fixos, vagões para todos os
fins, locomotivas e locomoveis, linhas férreas com tração a vapor ou animal, bondes de
passageiros e de cargas, máquinas para olarias e outras indústrias e máquinas para engenhos
de cana) (SÃO PAULO, 1891, p. 303, 298, 48, 68). A Cia. Mecânica Importadora de São
Paulo, fundada em 1890 e sucessora das empresas Lacerda Camargo & Comp. (uma empresa
importante de importação) e da Engelberg, Siciliano & Comp., apresentou como
especialidade em um anúncio a importação direta de máquinas para todas as indústrias além
de ser construtora de máquinas e fundição (SÃO PAULO, 1891, p. 236). As empresas
Lidgerwood, Guilherme Mac Hardy e Arens Irmãos divulgaram vários anúncios como
“construtores, empresários, engenheiros, fabricantes e importadores de máquinas para a
lavoura e indústria” em jornais de Campinas (Diário, Correio e Gazeta de Campinas) entre o
final da década de 1880 e início de 1890. A firma Haupt & Cia., apesar de não constar no
Almanach de 1891, foi fundada em 1823 (segundo o Anuário Banas de 1962) e produzia
bombas hidráulicas (segundo o Catálogo de Indústrias do Município da Capital de 1945),
além de ter sido uma importante importadora de artigos metalúrgicos (DEAN, 1976, p. 33).
53
seu filho Carl Adolf como seu representante no comando da empresa. Em 1929 a sociedade
dos Zerrenner e dos Büllow operava com importação, bebidas (na Antarctica) e exportação de
café (com a Companhia Cafeeira de São Paulo, recém- criada). Antônio Zerrener morreu em
1933, sem herdeiros, deixando em testamento seus bens para sua esposa Helena, os quais
depois da morte desta última, que ocorreu em 1936, deveriam ir para a Fundação Antônio e
Helena Zerrener. A fundação passou a administrar os bens da Antarctica, como maior
acionista em 1944, após um período de litígio judicial para resolver a questão da herança de
Antônio Zerrener (EXAME, 1974, p. 51-54).
Ao analisar os dados disponíveis encontramos apenas uma empresa de máquinas e
equipamentos ligada diretamente a fazendeiros de café em 1891, a firma de Elias Pacheco
Chaves, que tinha como esposa Anésia da Silva Prado, representantes, portanto, de antigas
famílias de cafeicultores. É possível que existissem outras empresas ligadas aos cafeicultores
nesta época, mas é improvável que fossem predominantes. Apesar de serem raras as empresas
da indústria mecânica que tiveram ligação direta com os cafeicultores, o capital desses
últimos foi importante para a expansão das empresas de máquinas e equipamentos,
principalmente após 1891, com as transformações de algumas empresas pertencentes a
imigrantes em sociedade anônima, como a Mac Hardy e a Arens. No caso da Arens, há um
anúncio no Almanach de 1891 descrevendo a aquisição das oficinas Arens e Irmãos pela
Companhia Arens, empresa com capital de 2.000:000$000 (dois mil contos de réis) divididos
em dez mil ações, tendo como presidente o Barão de Jaguara, secretário Antonio de Paula
Salles e gerente Otto Schanassmann, ficando um representante da família Arens no conselho
fiscal composto por Carlos H. L. Rohe, Fernando Arens e Francisco de Araújo Cintra (ver
SÃO PAULO, 1891, p. 794). Segundo Flávio Saes, os principais acionistas da empresa (A.
Pádua Sales, José Paulino Nogueira, Pedro Souza Aranha, F. Queiroz Telez) eram fazendeiros
de café ligados à Companhia Estrada de Ferro Mogiana (SAES, 2002, p. 189).
As firmas Guilherme Mac Hardy & C. e Guilherme Mc-Hardy de Campinas passam a
denominar-se Companhia Mc-Hardy Manufatureira e Importadora em 1891, sociedade
anônima que tinha como objetivo atuar no que estivesse relacionado com a fabricação,
construção e importação de máquinas, materiais para estrada de ferro, para abastecimento de
água e dependência para iluminação, importação em geral e empreitadas, exploração de
privilégios, concessões e contratos, fornecimentos para construções civis, navais e hidráulicas,
além de adquirir, vender e fundar fábricas, fazer instalações, podendo explorá-las de conta
própria, arrendar ou vendê-las (CIA. MC-HARDY, 1891, p. 3-4). A nova empresa foi
constituída com um capital social de quatro mil contos de réis dividido em 20 mil ações. A
55
primeira diretoria foi composta pelo Barão de Ataliba Nogueira, fazendeiro; pelo industrial
Guilherme Mc-Hardy, e pelo advogado Gabriel Dias da Silva, todos residentes em Campinas.
O conselho fiscal foi composto por Roberto Paton, Pedro Miller e Antonio Celestino de
Toledo Soares (CIA. MC-HARDY, 1891, p. 5, 15-16). Em 1893, no lugar do diretor gerente
Guilherme Mc-Hardy, que permanecia na Europa, a princípio a serviço da Companhia e em
seguida por motivos de saúde, foi nomeado gerente o acionista Roberto Paton. No conselho
fiscal, devido ao falecimento de Pedro Miller, ocupou seu lugar o suplente Roberto Clark.
Assinaram o estatuto da companhia em 1893, Gabriel Dias da Silva, como diretor da
Companhia, e o Barão de Ataliba Nogueira, como presidente (CIA. MC-HARDY, 1893, p. 6-
8).
É interessante observar que entre os acionistas da Companhia Mc-Hardy
Manufatureira e Importadora em 1893 aparecem vários empresários, imigrantes, fazendeiros
de café e políticos importantes da cidade de Campinas e do estado de São Paulo, além dos
dirigentes da empresa citados acima. Fazem parte da lista de acionistas: Antonio Proost
Rodovalho, João Proost Rodovalho, Sotto Maior, John Barker, Orozimbo Maia, Manoel J.
Albuquerque Lins, Francisco Goes Pacheco, entre outros de um total de 113 acionistas e 20
mil ações em 1893. Os maiores acionistas da Mc-Hardy em 1893 foram: o Banco dos
Lavradores com 27,9% do total de ações, Guilherme Mc Hardy com 25,2%, Gabriel Dias da
Silva com 3,2%, Roberto S. Paton com 2% e o Barão de Ataliba Nogueira com 2% das ações
(CIA. MC-HARDY, 1893, p. 11-17). Segundo Saes, o Banco dos Lavradores estava ligado a
fazendeiros de café, que mantinham vínculos com as estradas de ferro e empresas de serviço
público (SAES, 2002, p. 189).
A Tabela 3 apresenta informações das empresas de máquinas, oficinas mecânicas e
fundições operando no estado de São Paulo em 1901. A principal fonte para o período, “A
indústria no estado de São Paulo, 1901” de Antonio Francisco Bandeira Jr. não foi um
levantamento completo. A tabela foi elaborada com o objetivo de amenizar esses problemas,
cruzando informações de várias fontes em anos posteriores que apresentavam datas de
fundação para as empresas, que são indicadas na tabela.
A primeira informação que podemos extrair da Tabela 3 é o maior número de
empresas ligadas à indústria de máquinas, oficinas mecânicas e fundições no estado de São
Paulo fundadas entre 1891 e 1900. Das 20 empresas apresentadas na tabela, 9 foram fundadas
entre 1891 e 1900: a Indústria Metalúrgica Bruno Meyer (1892) em Rio Claro, a Grande
Fundição do Braz (1892) de Francisco Amaro em São Paulo, a Serafim Blasi (1894) em
Botucatu, a Metalúrgica Ruegger (1895) em Araras, a Fundição Vielhaber (1895) em Ribeirão
56
Preto, a Fundição de Ferro e Bronze (1895) de George Craig e Julio Martins em São Paulo,
Naschold & Cia. (1897) em São Paulo, A. Milanesi & Irmãos (1900) em Botucatu e a
Vagnotti & Cia. (1900) em São Paulo. Há também diversificação das empresas pelo interior
do estado de São Paulo. Na maioria, as empresas fundadas entre 1891 e 1900 tiveram origem
em imigrantes que possuíam algum conhecimento técnico de mecânica ou metalurgia.
FONTE: BANDEIRA JR., A Indústria no Estado de São Paulo em 1901, São Paulo: Tipografia do
Diário Oficial, 1901. FIBGE. O Brasil: suas riquezas naturais e suas indústrias, 3 vol., 1909. Séries
estatísticas retrospectivas. Rio de Janeiro: IBGE, 1986. DEIC/SACOP/SP. Boletim da Diretoria de
Indústria e Comércio, 1908-1928. DEE/DEPC/SP. Catálogo das indústrias do estado de São Paulo,
município da capital e interior, 1945, São Paulo: Tipografia Brasil, 1947. BANAS, G. Anuário Banas:
a indústria de máquinas, São Paulo: Editora Banas, 1962.
NOTA: n.d. = não disponível.
1895, de propriedade do suíço Frederico Ruegger, casado com uma ararense. A metalúrgica
ocupava um terreno de 5.500 metros quadrados, empregava 60 operários e possuía cinco
seções: a primeira seção era responsável pela fabricação de mecanismos completos para
fábricas de farinha de mandioca, mecanismos para a produção de macarrão e engenhos de
cana, e reparos de qualquer espécie de máquinas e reformas em geral; a segunda seção era a
fundição de ferro e bronze, responsável por atender o consumo anual da metalúrgica de 60
toneladas de ferro; a terceira seção era a de modelagem, onde se criavam os modelos em
madeira para a fundição; a quarta seção incluía a ferraria, caldeiraria e carpintaria, onde
fabricavam-se depósitos de água, rodas hidráulicas, carros, carroças, trolleys, carrocerias para
veículos a motor, etc; a quinta seção era a serralheria e ainda havia uma outra seção de
desenhos, onde João e Augusto Ruegger criavam os projetos de todos os trabalhos realizados
na empresa (ZAMBARDA, 1999, p. 68-69).
A fundição de George Craig e Julio Martins foi fundada em 1895 na cidade de São
Paulo, sendo o quarto estabelecimento do gênero fundado por Craig. A fábrica empregava em
torno de 100 operários, quase todos estrangeiros, possuindo máquinas para furar, tornear,
cortar, limar, prensar e forjar, além de dois tornos patentes, rebites e uma balança de 10.000
Kg. (BANDEIRA JR., 1901, p. 83). Também em São Paulo, foi fundada em 1892 a Grande
Fundição do Tenente Coronel Francisco Amaro, discípulo da Grande Fundição Alegria do
Rio de Janeiro. Com o maquinismo a vapor, além da fundição de ferro e bronze, a empresa
fabricava máquinas inteiras, além de peças para máquinas de toda natureza. Segundo
Bandeira Jr., em matéria de mecânica e fundição a empresa rivalizava com as norte-
americanas na execução e nos inventos (BANDEIRA JR., 1901, p. 85). A firma Vagnotti &
Cia., fundada em 1900 em São Paulo, operava em 1945 com 149 operários, produzindo
acessórios para máquinas têxteis (DEE/DEPC/SP, 1947, p. 127).
Aparentemente, a maioria das empresas fundadas durante a década de 1890 (e como
veremos mais adiante, também no início da década de 1900) na indústria de máquinas e
equipamentos, além de não ter ligações com o comércio importador, também não surgiu
diretamente para atender o setor cafeeiro. Uma exceção é a Fundição Vielhaber, criada em
1895, em Ribeirão Preto pelo Banco Construtor, banco vinculado aos fazendeiros de café,
sendo depois vendida a Gustavo Vielhaber, que atendeu aos fazendeiros (BANDEIRA JR.,
1901, p. 69). A Metalúrgica Ruegger atendeu ao mercado local e regional de máquinas de
farinha de mandioca, macarrão e engenhos de cana. Segundo Zambarda, em 1893 já operava
em Araras o Pastifício Padula, fábrica de massas que fornecia ao mercado de Araras e região,
distribuindo seus produtos para cidades ligadas pelas estradas de ferro (exceto a Sorocabana).
58
7
Infelizmente a principal fonte de dados para o período, o Censo Industrial elaborado em 1907 pelo Centro
Industrial do Brasil, não apresenta dados de fundação das empresas. Entretanto, identificamos a data entre
parênteses quando possuímos a informação de fundação da empresa.
8
A comparação entre 1891 e 1907 foi feita devido à melhor qualidade das informações desses períodos em
comparação a 1901.
59
Valor da
Empresa Cidade Operários Capital Produção
F. & L. Sydow (antes 1891) São Paulo 21 4.000 100.000
F. Amaro (1892) São Paulo 100 200.000 700.000
Cia. Mecânica Importadora (1890) São Paulo 353 5.000.000 303.000
Rizkallah Jorge São Paulo 45 80.000 75.000
Herman Stoltz & C. São Paulo 51 100.000 100.000
Aliberti & C. São Paulo 33 60.000 12.000
J. Rangel & C. São Paulo 22 20.000 144.000
Philadelpho Castro São Paulo 15 25.000 60.000
Affonso Mariano São Paulo 95 40.000 480.000
Antonio Marmano São Paulo 65 50.000 360.000
Huntgen & C. São Paulo 74 350.000 380.000
Lidgerwood Company Limited (1860) São Paulo 206 400.000 583.000
Bacheli & Bulgarelli São Paulo 5 4.000 36.000
Cardinali & Matarazzo São Paulo 53 50.000 160.000
Craig & Martins (1895) São Paulo 105 100.000 400.000
Craig & Martins São Paulo 76 100.000 200.000
Bernardo Kuntgen São Paulo 136 700.000 550.000
Caldas & C. Piracicaba 10 50.000 96.000
Companhia Mac Hardy (1875) Campinas 254 978.000 860.000
Pedro Anderson & C. Campinas 49 98.000 600.000
Pedro Faber Campinas 7 40.000 30.000
Lidgerwood Company Limited (1860) Campinas 46 100.000 100.000
Arens Irmãos (1876) Jundiaí 168 650.000 920.000
Jefferson Barreto & C. São Paulo 51 300.000 350.000
A. Milanesi & Irmãos (1900) Botucatu 15 30.000 n.d.
Carlos Tonanni (1902) Jaboticabal 110 600.000 n.d.
Haupt & Cia. (1823) São Paulo 28 n.d. n.d.
Vagnotti & Cia. (1900) São Paulo 149 n.d. n.d.
Indústria Mecânica Cavallari (1905) São Paulo 107 n.d. n.d.
J. Nicola & Irmãos (1888) Mococa 57 n.d. n.d.
Serafim Blasi & Cia. (1894) Botucatu 74 n.d. n.d.
Ribeirão
Antonio Diederichsen (1903) Preto 107 n.d. n.d.
J. Klowza (1903) Jundiaí 1 n.d. n.d.
Carlos Bonfanti (1905) Leme 14 n.d. n.d.
Metalúrgica Ruegger (1895) Araras n.d. n.d. n.d.
Indústria Metal. Bruno Meyer (1892) Rio Claro 49 n.d. n.d.
Naschold & Cia. Ltda. (1897) São Paulo 120 n.d. n.d.
FONTE: FIBGE. O Brasil: suas riquezas naturais e suas indústrias, 3 vol., 1909. Séries estatísticas
retrospectivas. Rio de Janeiro: IBGE, 1986. DEIC/SACOP/SP. Boletim da Diretoria de Indústria e
Comércio, 1908-1928. DEE/DEPC/SP. Catálogo das indústrias do estado de São Paulo, município da
capital e interior, 1945, São Paulo: Tipografia Brasil, 1947. BANAS, G. Anuário Banas: a indústria
de máquinas, São Paulo: Editora Banas, 1962.
NOTA: n.d.= não disponível.
60
Das 13 empresas fundadas depois de 1891, 6 aparecem entre 1891 e 1899 (Francisco
Amaro, Craig e Naschold, em São Paulo; Ruegger, Mayer e Serafim Blasi, no interior do
estado) e 7 entre 1900 e 1907 (Vagnotti e Cavallari, em São Paulo; Milanesi, Tonanni,
Diederichsen, Klowza e Bonfanti, no interior do estado).
É interessante notar que a maioria das empresas fundadas entre 1891 e 1907 não teve
ligação direta com fazendeiros (como empreendedores), apesar de algumas empresas
crescerem com apoio de fazendeiros de café (notadamente a Mac Hardy e Arens). As
primeiras empresas foram fundadas geralmente por um imigrante (recém-chegado ou já
estabelecido nas cidades) com o objetivo de suprir o mercado local ou regional de máquinas
específicas, como reparo e construção de peças para as indústrias têxteis, de papel e borracha
e outros bens de consumo, na capital do estado; e de máquinas para o beneficiamento da
agricultura local (mandioca, arroz, cana-de-açúcar) e de exportação (café), além de máquinas
para a indústria de consumo (como a alimentícia, de massas) no interior do estado.
O que explica a fundação de empresas na indústria de máquinas e equipamentos no
período, mesmo com a concorrência de bens importados? A demanda oriunda de um mercado
local ou regional pode ser mais facilmente suprida por uma empresa instalada na região em
que atua, já que ao estar mais próxima conhece as necessidades e características do mercado
regional. Muitos ramos necessitavam de máquinas específicas, com características de
produção artesanal. Assim, além do incentivo econômico da utilização de matérias-primas
locais (madeira, por exemplo) e do custo do transporte, outro incentivo pode ser atribuído à
facilidade de reposição de peças e assistência das máquinas, bem como a possibilidade de
atender a demanda específica de setores ainda em estágios iniciais. Isso não quer dizer que a
sobrevivência e o crescimento dessas empresas foram resultados fáceis. Havia grande
concorrência de máquinas estrangeiras, que exigiu dos empresários criação e adaptação de
produtos e processos das empresas às necessidades do mercado. É por isso que algumas
empresas começaram a produzir máquinas e equipamentos para um ramo específico e
posteriormente expandiram suas atividades para outros ramos próximos.
A Indústria Mecânica Cavallari, fundada em 1905 na cidade de São Paulo, e a Carlos
Tonanni, fundada em 1902 na cidade de Jaboticabal, são exemplos de empresas que surgiram
no período anterior a Primeira Guerra Mundial. Essas empresas, fundadas por imigrantes
italianos, tiveram como objetivo inicial atender a um mercado específico e local (ou regional).
A Cavallari foi a primeira empresa de máquinas para o setor de papel, celulose e borracha de
São Paulo. Entre os anos de 1928-1937 (com a denominação Irmãos Cavallari & Puccini), e
61
1945-1962 (como Indústria Mecânica Cavallari S.A.), ela atuou no mesmo ramo inicial,
produzindo instalações completas para a fabricação de papel, celulose, papelão, pasta
mecânica e máquinas e acessórios para os setores citados e para a indústria de borracha
(DEIC/SAIC/SP, 1928-1937, DEE/DEPC/SP, 1947, p. 118; BANAS, 1962, p. 192).
Em 1902, Carlos Tonanni, um imigrante italiano de 23 anos, iniciou suas atividades
industriais em Jaboticabal como inventor e construtor de máquinas para limpeza de arroz,
beneficiamento de café e algodão. O sucesso econômico do empreendimento levou à
verticalização e a diversificação da produção. A empresa possuía serrarias para explorar
florestas no Paraná (a madeira foi a principal matéria-prima para suas máquinas) que também
fabricaram cadeiras e parquetes. A empresa teve posteriormente filiais em várias cidades,
inclusive São Paulo e Rio de Janeiro. Apesar de produzir máquinas para beneficiamento de
café e algodão, o principal produto foi a máquina para limpeza de arroz. Em um vídeo
produzido pelas autoridades italianas sobre a firma e Carlos Tonanni para a comemoração dos
cinqüenta anos de colonização italiana no Brasil, a fabricação e o funcionamento da máquina
de limpeza de arroz foram mostrados em detalhes9. A máquina Tonanni apresentada na
grande exposição do cinqüentenário da imigração oficial no Brasil era um conjunto complexo
de peças e engrenagens. O arroz era colocado na máquina, um tubo trazia o arroz misturado
até o separador de “marinheiro” que fazia a separação do arroz com casca e sem casca e a
saída da palha por outro tubo. O arroz era deslocado até o condutor e o brunidor. Depois de
brunido, o arroz subia para o classificador. Por uma abertura descia para a peneira e subia
classificado, sendo que o produto final era apresentado em quatro tipos de classificação.
É interessante a opinião da Companhia Agrícola Fazenda São Martinho sobre a
aperfeiçoada máquina “Tonanni” para beneficiamento de arroz. A Companhia Agrícola
Fazenda São Martinho foi uma das maiores empresas agrícolas do estado de São Paulo e uma
das maiores produtoras de café do mundo, localizada a cerca de 30 quilômetros de
Jaboticabal, ligada por via férrea pela Companhia Paulista:
Ilmo. Sr. Carlos Tonanni
Jaboticabal
Amigo e Sr.
Não lhe fazemos favor algum em lhe declarar que sua machina de beneficiar arroz
correspondeu plenamente a nossa expectativa: está funcionando perfeitamente bem: e como
paulistas que somos, sentímo-nos orgulhosos que em Jaboticabal, interior do nosso Estado, haja
um fabricante que possa produzir machinismos que nada deixam a desejar, pondo ao lado dos
melhores do gênero, por nós conhecidas de procedência extrangeira.
Aceite, pois, as nossas felicitações.
Com elevada estima e consideração nos, subscrevemos
9
Cinquant’anni di Colonizzazione Italiana in Brasile, Cav. Carlo Tonanni. Film organizzato sotto gli auspici
delle autorità italiane, Rossi Film. Itália, s.d.. 1 DVD (45 min): preto e branco. Italiano e Português.
62
De V.S.
Companhia Agrícola Fazenda São Martinho
(Assinado) Henrique P. Ribeiro10
10
“Cinquant’anni...”, s.d.
63
Capital na indústria
de máquinas,
oficinas mecânicas e Importação de Capital médio % importações de
fundições (preços de máquinas Empresas (preços de máquinas das
Ano 1920) (preços de 1920) fundadas 1920) importações totais
1911 1.406.371 39.199.846 6 234.395 12
1912 1.666.337 48.793.910 8 208.292 13
1913 869.188 49.701.450 8 108.648 12
1914 74.455 21.909.461 4 18.614 10
1915 163.754 9.457.152 9 18.195 4
1916 769.175 12.947.641 11 69.925 5
1917 515.316 17.661.062 16 32.207 6
1918 1.043.095 18.183.260 12 86.925 6
1919 1.904.270 31.528.891 23 82.794 8
1920 1.056.000 62.724.509 10 105.600 10
FONTE: DEIC/SACOP/SP. Boletim da Diretoria de Indústria e Comércio, 1911-1921. REAE/SP.
Anuário Estatístico de São Paulo, 1911-1920, São Paulo: Tipografia Espindola & Comp.
NOTA: Os valores foram deflacionados pelo índice setorial de Indústria de HADDAD, 1975, p. 7.
11
Os dados de capital da indústria de máquinas, oficinas mecânicas e fundições foram retirados dos registros nos
Contratos da Junta Comercial de São Paulo, anotados mensalmente entre 1911 e 1922 e publicados no Boletim
da Diretoria da Indústria e Comércio em 11 volumes de forma desordenada. Os dados completos, com
informações do nome da firma, objeto do negócio, local, capital, nacionalidade dos sócios e observações sobre
modificações e registro de distratos foram catalogados e ordenados, podendo ser consultados na Tabela A.3, e os
valores agregados na Tabela A.1, no Apêndice.
65
Tabela 6 – Matriz de correlações dos dados gerais sobre a indústria de máquinas, oficina
e fundições, importações e exportações, estado de São Paulo, 1911-1920
estabelecimentos que poderiam ser incluídos na indústria mecânica12 (DGE/ MAIC, 1927, p.
467). Portanto, pode ter havido redução no número de estabelecimentos na indústria de
máquinas e equipamentos no estado de São Paulo de 65 estabelecimentos em 1915
(considerando apenas as fábricas e oficinas de máquinas) para 46 (considerando as fundições
e laminações de ferro, construção de máquinas em geral e as oficinas mecânicas e fabricação
de peças acessórias) em 192013. O mais interessante é que, em 1915, a indústria de máquinas
e equipamentos sentia os efeitos da Primeira Guerra apenas parcialmente e, ao analisar os
dados de empresas fundadas, percebemos que houve aumento na criação de empresas entre
1916 e 1919 (ver Tabela 5).
Tabela 7 – Oficinas, fábricas de máquinas e fundições, estado de São Paulo, 1915
12
Infelizmente o Censo Industrial de 1920 não separa as fundições das empresas produtoras de máquinas.
13
Os resultados de redução no número de empresas podem ser devido a problemas de cobertura de pesquisas do
Censo de 1920, que tende a ter levantado empresas maiores.
68
NOTA: As “máquinas” e “fundições” foram agregadas porque muitas empresas que produziam
máquinas e equipamentos no período eram classificadas como fundições.
Tabela 8 - Empresas produtoras de máquinas registradas na Junta Comercial, São Paulo, 1911-
1922
14
A Tabela A.3, no Apêndice apresenta as empresas registradas na Junta Comercial de São Paulo entre 1911 a
1922.
69
Das 54 empresas (ver Tabela 9)15 que puderam ser classificadas na indústria de
máquinas, oficinas mecânicas e fundições em 1919, com dados de várias fontes, inclusive
uma Estatística Industrial para o interior do estado de São Paulo 1918-1919, conseguimos
15
Um valor próximo ao registrado pelo Censo Industrial de 1920 para o estado de São Paulo: 35 fundições e
laminação de ferro e construção de máquinas e 11 oficinas mecânicas, fabricação de peças: total de 46 empresas
(DGE/ MAIC, 1927, p. 467).
70
Tabela 9 – Empresas de máquinas, oficinas mecânicas e fundições, estado de São Paulo, 1919
Capital (em
Empresa Cidade mil-réis) Operário Produtos
J. Nicola & Irmãos (1888) Mococa 40.000 56 máquinas e turbinas*
F. Amaro & Comp. (1918) Santos 100.000 40 máquinas e peças*
M. Porto & Garcia (1917) Santos 20.000 20 máquinas e peças*
R. N. Duncan (1917) Santos 70.000 40 máquinas e peças*
Cia. Constr. de Santos S.A. Santos 1.000.000 200 fundição de peças
Fortunato Frentoni & Filhos Amparo 30.000 20 oficina mecânica
José Ricardo & Cia. (1919) Amparo 16.000 5 oficina mecânica
A. Martins Piracicaba 4.000 1 fábrica de arados*
Luiz Gozola Itu 15.000 8 fundição
Serafim Blasi (1894) Botucatu 150.000 22 máquinas diversas*
A. Milanesi & Irmãos (1900) Botucatu 30.000 15 fundições diversas
Cia. Lidgerwood (1860) Campinas 2.500.000 47 máquinas diversas*
Cia. Mac-Hardy (1875) Campinas 980.000 200 máquinas diversas*
Alexandre Sim Campinas 33.000 20 oficina mecânica
Francisco Tadini Campinas 2.000 2 oficina de caldeiras
A. Ramasco & Cia. (1914) Campinas 15.000 18 Fundição
S. Anonyma Arens (1876) Jundiai 100.000 120 oficina mecânica*
Klouza & Irmão (1903) Jundiai n.d. 10 oficina mecânica
Carlos Tonanni (1902) Jaboticabal 600.000 110 máquinas diversas*
C. Martins & Cia. Araraquara 100.000 40 oficina de fundição
Emilio Spardan & Cia. Limeira 15.000 2 oficina mecânica
Nobre & Ignolf Orlandia 9.000 10 oficina mecânica
Otto G. Grassmann São Simão 5.000 10 oficina mecânica
Vicente Serpentino Descalvado 40.000 6 oficina mecânica
Angelo Fodescari & Filho Descalvado 18.000 5 oficina mecânica
Eleuterio Rela Itatiba 30.000 3 oficina mecânica
Gomes & Irmão Bocaina 5.000 6 oficina mecânica
Belisario & Beck Palmeiras 1.500 3 oficina mecânica
Coseth & Filho Pirassununga 35.000 10 oficina mecânica
Luiz Bosithião Pirassununga 20.000 3 oficina mecânica
E. Santo
Fredem Jeranaio & Filhos Pinhal 30.000 8 máquinas diversas*
Pedro Scarpini Bragança 12.500 3 oficina mecânica
Adolpho Bianchi & Irmão Ribeirão Preto 27.000 20 oficina mecânica
Antonio Diederichsen (1903) Ribeirão Preto 200.000 100 oficina mecânica
B. Penteado (1916) Limeira 100.000 60 máquinas beneficiar*
máquinas lavoura e
Martins Barros (1911-16) São Paulo 2.000.000 200 indústria*
Mario Babbini & Irmão (1916) São Paulo 200.000 95 máquinas*
72
Capital (em
Empresa Cidade mil-réis) Operário Produtos
Pirie & Villares (1918) São Paulo n.d. n.d. oficina mecânica*
Instrumentos
L. Silva & Cia. Ltda. (1918) São Paulo 400.000 4 agrícolas*
Oficina Craig Ltda. (1896) São Paulo 675.931 117 máquinas diversas*
acessórios para
Vagnotti & Cia. (1900) São Paulo 4.613.015 149 máquinas têxteis*
Ind. Mecânica Cavallari máquinas para papel
(1905) São Paulo 1.055.431 107 e borracha*
José Dapice (1910) São Paulo 28.000 máquinas tecidos*
Haupt & Cia. (1823) São Paulo 371.942 28 bombas hidráulicas
Bardella Ind. Mecânicas eixos e fundições de
(1911) São Paulo 9.318.908 182 peças*
máquinas para
Puccetti & Cia. (1915) São Paulo 266.642 18 bebidas*
foices, arados,
Henrique Grassmann F.(1917) São Paulo 11.000 1 consertos
Lilla & Irmãos (1918) São Paulo 285.842 30 torrador e máquinas*
Carlos Bonfanti (1905) Leme 230.800 14 máquinas diversas*
Metalúrgica Ruegger (1895) Araras n.d. n.d. n.d.*
Ind.Metal.Bruno Meyer (1892) Rio Claro n.d. 49 n.d.*
Naschold (1897) São Paulo n.d. 120 n.d.
Fundição Progresso (1917) São Paulo n.d. 450 n.d.
Cia. Mecân. Importadora
(1890) São Paulo 10.000.000 n.d. n.d.*
A firma Souza, Penteado & Comp. fundada em 1916, na cidade de Limeira por
Antonio Augusto de Barros Penteado, Trajano de Barros Camargo, e Abelardo de Aguiar
Souza, para a fabricação e venda das máquinas de beneficiar café, denominada “São Paulo”,
privilegiada pela patente 8.290, operava com a denominação B. Penteado na década de 1930,
produzindo máquinas para café, e em 1934 torna-se sociedade anônima. Um ano antes da
fundação dessa firma em Limeira, em 1915, os mesmos sócios haviam registrado uma
sociedade em Piracicaba, a Sousa, Penteado & Comp. para a fabricação e venda de máquinas
para beneficiar café e arroz, de invenção do sócio Abelardo de Aguiar Souza. Abelardo saiu
da sociedade de Limeira em 1917, passando a firma para a denominação B. Penteado
(DEIC/SACOP/SP, 1915, p. 163; 1916, p. 478; 1917, p. 352; DEIC/SAIC/SP, 1929, 1934).
A firma L. Silva, fundada em 1918 na capital paulista pelo brasileiro Luiz da Silva e
pelo português José Monteiro Justo, para a fabricação de máquinas para beneficiar café e
73
Indicadores financeiros
Liquidez Corrente 3,766 1,688 1,334 1,594 2,995 1,360
Liquidez Seca 2,548 0,922 0,959 0,937 2,348 0,864
Liquidez Imediata 1,950 0,592 0,407 0,412 1,752 0,398
% Capital de Terceiros no Ativo Total 14,18 39,09 44,56 36,83 16,73 36,43
% Capital Próprio no Ativo Total 85,99 60,93 55,45 63,17 83,27 63,57
FONTE: SÃO PAULO. Diário Oficial do Estado de São Paulo, 19/03/1911, p. 1202; 25/03/1913, p.
1342; 23/03/1915, p. 1266; 21/03/1917, p. 1412; 27/03/1919, p. 2107; 21/03/1921, p. 2010.
77
NOTA: Os dados foram extraídos dos Balanços Patrimoniais publicados no Diário Oficial do Estado de
São Paulo e agregados em “Ativo Circulante”, “Ativo Permanente”, “Ativo Total”, “Passivo
Circulante”, “Patrimônio Líquido” e “Passivo Total” pelo autor. Os índices foram elaborados pelo autor.
A série completa dos dados para os anos de 1910-1920 está no Apêndice. A diferença entre Ativo Total
e Passivo total em alguns anos é devido ao arredondamento dos dados.
O quociente de cobertura total (ativo permanente mais ativo circulante, dividido pelo
passivo circulante) indica a possibilidade da empresa cumprir seus compromissos financeiros.
A possibilidade da empresa realizar seus pagamentos permaneceu boa, apesar de queda do
quociente de 1910 a 1916. Em 1916, por exemplo, para cada unidade monetária de dívida
havia 2,7 unidades monetárias de ativo real para pagamentos. Os índices de liquidez corrente
(ativo circulante dividido pelo passivo circulante), liquidez seca (ativo circulante menos
estoques dividido pelo passivo circulante) e liquidez imediata (disponível dividido pelo
passivo circulante) da Companhia Mecânica Importadora revelam deterioração financeira em
1914 com relação aos anos anteriores. Em 1910, como revelado pelo índice de liquidez
corrente, para cada unidade monetária de dívida de curto prazo, a empresa possuía 3,7
unidades monetárias em disponibilidade ou realizáveis no curto prazo. Esse indicador caiu
para 1,3 em 1914, uma situação menos confortável, mas sem risco de insolvência, como
revelado pelo índice de cobertura total. Entretanto, de 1914 até 1918 o indicador de liquidez
corrente melhorou, chegando a 2,9 neste último ano. O índice de liquidez seca seguiu
praticamente a mesma tendência da liquidez corrente. A diferença entre o índice de liquidez
corrente e a seca é não considerar neste último os estoques de mercadorias. Mesmo um índice
de liquidez seca abaixo de 1 pode ser considerado normal. A liquidez imediata mede a
quantidade de recursos disponíveis, em termos de dinheiro (no caixa) e em contas correntes,
para pagar o passivo circulante. Aqui a análise ficou prejudicada porque não sabemos o
montante do passivo circulante da empresa que se destina ao pagamento imediato. Entretanto,
mesmo um indicador de liquidez imediata de 0,4 como o apresentado em 1914 pode ser
considerado normal.
Assim, apesar da piora em alguns indicadores de liquidez da Companhia Mecânica e
Importadora de São Paulo durante a década de 1910, que não deixaram a empresa em situação
de risco de insolvência, praticamente todos os outros indicadores econômicos e financeiros
melhoram ao longo da década, mesmo nos anos do conflito da Primeira Guerra Mundial. A
rentabilidade sobre o patrimônio líquido aumentou mais de três vezes entre 1914 e 1918. O
crescimento e expansão das atividades da empresa foram financiados com aumento dos
recursos próprios entre os anos inicias ao conflito mundial (1914-1915) até pelo menos o ano
de 1918. A empresa soube aproveitar as condições proporcionadas pelos efeitos da Primeira
78
2.4 Conclusões
no início da década de 1890. A forma de contribuição dos fazendeiros foi através de compra
de ações e aquisição do controle de Companhias que principalmente produziam máquinas de
beneficiamento de café.
Durante a década de 1890 encontramos ainda fundações de muitas empresas,
aparentemente sem ligação com o comércio exterior (importação e exportação), de imigrantes
que possuíam algum conhecimento técnico de mecânica e metalurgia. Na maioria, essas
empresas fundadas entre 1891 e 1907 além de não terem ligações com o comércio
importador, também não surgiram para atender diretamente o setor cafeeiro, e sim para
atender um mercado específico local ou regional. As empresas atenderam a necessidade de
máquinas para o beneficiamento da mandioca, máquinas para a indústria alimentícia (para
fabricar massas), para o beneficiamento e limpeza do arroz, sem contar as de beneficiamento
do algodão e da indústria da cana-de-açúcar, principalmente no interior do estado, e da
necessidade de máquinas e acessórios para a indústria têxtil, de papel, papelão, borracha e
outras indústrias de bens de consumo, principalmente na capital paulista.
Apesar de não ter ligações diretas com surgimento de algumas empresas de imigrantes
mecânicos, o setor cafeeiro incentivou o movimento econômico geral que aumentou as
necessidades para máquinas de outros setores. A maioria das cidades onde localizamos a
fundação de empresas que produziam máquinas para outros setores estavam ligadas
economicamente à prosperidade do café. Certamente o desenvolvimento de economias locais
impulsionadas pela economia do café criou demanda e necessidade de outras máquinas. O
surgimento de empresas de máquinas que produziam para um mercado local talvez ajude a
explicar porque elas nasceram e prosperaram em um período de reduzida proteção efetiva,
provavelmente com aumento da concorrência no mercado de máquinas. Essas empresas
nasceram, a princípio, para atender uma demanda local e às vezes muito peculiar, ou seja,
uma produção com características semi-artesanais, no sentido de que não empregavam uma
linha seriada de produção. Outro argumento para justificar o aparecimento de empresas de
máquinas é a quantidade variada de tipos de máquinas. Mesmo em mercados menos
específicos, como o mercado de máquinas de beneficiamento de café e algodão, havia uma
grande variedade de máquinas, com grande variação de preços (ver CANABRAVA, 1984, p.
177-221; LÚNE, 1985, Anexos, p. 68, 72).
O trabalho mostrou que mesmo com os efeitos da Primeira Guerra Mundial no
comércio exterior, a evolução do capital das empresas de máquinas, oficinas mecânicas e
fundições tinha forte ligação com o setor exportador durante a década de 1910, mas nesses
anos diminuiu a relação do capital dessas empresas com o setor importador. Os efeitos da
80
Primeira Guerra Mundial foram muito negativos para a evolução do capital registrado na
indústria de máquinas, oficinas mecânicas e fundições paulista. No período do conflito
diminui a importação de máquinas em São Paulo, que ainda em 1920 não havia retornado a
patamares anteriores a 1914.
A grande redução na importação de máquinas resultou no aparecimento de várias
pequenas empresas, geralmente pequenas oficinas para reparar as máquinas importadas.
Mostramos quais foram as empresas registradas na Junta Comercial de São Paulo entre 1914 e
1920 e identificamos que muitas duraram apenas meses. Assim como relataram Dean,
Suzigan e Lago et alii, muitas das empresas que surgiram para reparar as máquinas não
sobreviveram ao fim da Primeira Guerra. Assim, concordamos com os autores que os efeitos
mais expressivos no número de empresas fundadas foram de curto prazo, mas encontramos
casos de empresas surgidas nesse período que cresceram e desenvolveram, além do caso da
Villares relatado pelos autores.
Os efeitos da Primeira Guerra Mundial favoreceram o crescimento e desenvolvimento
de outro tipo de empresa na indústria de máquinas e equipamentos: as sociedades anônimas.
Fizemos a análise de balanços da maior empresa paulista do setor na década de 1910, a
Companhia Mecânica e Importadora de São Paulo. Ao longo da década, apesar da piora em
alguns indicadores de liquidez, que não deixaram a empresa em situação de risco de
insolvência, praticamente todos os outros indicadores econômicos e financeiros melhoram,
mesmo nos anos do conflito da Primeira Guerra Mundial. A rentabilidade sobre o patrimônio
líquido aumentou mais de três vezes (de 12,6% para 38,7%) entre 1914 e 1918. A empresa
soube tirar proveito das condições resultantes dos efeitos da Primeira Guerra Mundial,
principalmente da diminuição da concorrência, com as menores importações de máquinas do
exterior e com possibilidades de diversificação em outros setores.
81
3 AS TRANSFORMAÇÕES, 1920–1939
com retração menos acentuada em meados da década do que os dados apresentados por
Haddad, e ao contrário das evidências levantadas por Fishlow e Villela e Suzigan que
tenderam a mostrar um quadro de baixo crescimento industrial na década de 1920, revela
evidências de crescimento do produto industrial vigoroso e uniforme até 1928 (crescimento de
6,2% ao ano entre 1920 e 1928). Assim, não há um consenso sobre a produção industrial
brasileira entre os autores.
Para a economia brasileira, assim com para a economia mundial, a década de 1930
começou com os efeitos da Grande Depressão. Para a indústria brasileira, a crise foi de menor
intensidade, tanto em relação à agricultura quanto às indústrias dos países desenvolvidos. De
1933 a 1939 a indústria nacional expandiu-se de forma muito rápida. Neste período, a taxa
média de crescimento da produção industrial foi de 11,2% ao ano. De 1929 a 1932, a
produção industrial cresceu apenas 1%, o que representa uma taxa média de crescimento da
84
produção industrial de 8,4% ao ano entre 1929 a 1939 (VILLELA e SUZIGAN, 2001, p.
215). Mas este crescimento não foi homogêneo dentro da indústria. Estes mesmos autores
utilizando os Censos Industriais de 1920 e 1940 descreveram as mudanças na estrutura
industrial da seguinte maneira:
observa-se que as indústrias básicas (metalúrgica, mecânica, material elétrico e material de
transportes), com a exceção da indústria de cimento (incluída em transformação de minerais não-
metálicos), praticamente dobraram a sua participação no total do valor adicionado da indústria. Por
outro lado, as indústrias tradicionais (principalmente têxtil, vestuário e calçados, produtos
alimentares, bebidas, fumo e mobiliário), apesar de ainda constituírem 60% do valor adicionado da
indústria, tiveram sua participação relativa diminuída, pois, em 1919, representavam 72%
(VILLELA e SUZIGAN, 2001, p. 221-222).
tecnologicamente mais adiantados. Por volta de 1939 estava assegurada sua posição como centro
industrial do país (FISHLOW, 1972, p. 32).
Dessa forma, como discutido acima, houve diversificação industrial em São Paulo
entre 1919 e 1939. Entretanto, como os dados utilizados pelos autores foram baseados nos
Censos industriais de 1920 e 1940, não foi possível identificar se a diversificação teve maior
impacto na década de 1920 ou na década de 1930.
A Figura 1, elaborada a partir de informações de valor da produção industrial
publicadas pela Diretoria da Indústria e Comércio de São Paulo, entre 1910 a 1937, mostra
que houve uma tendência uniforme de aumento da diversificação16 em relação aos ramos
industriais apenas na década de 1930. Entre 1912 e 1914 houve um aumento na diversificação
da produção industrial em São Paulo, diminuindo a participação relativa dos produtos
tradicionais (tecidos, vestuários, calçados, produtos alimentares, bebidas, fumos e
mobiliários).
Mas a partir de 1914, ano de início da Primeira Guerra Mundial, houve aumento da
participação da produção de produtos tradicionais, tendo a participação relativa do setor têxtil
aumentado de 21,2% em 1914 para 48,9% em 1917. A partir de 1919 há uma nova mudança
16
Diversificação entendida como a diminuição da participação relativa dos produtos tradicionais (tecidos,
vestuários, calçados, produtos alimentares, bebidas, fumo e mobiliário) na produção industrial.
87
Oficinas e Indústria de
Ano Máquinas % peças % Mecânica % transformação %
1920 15.843.727 1,61 386.443 0,04 16.230.170 1,65 986.110.258 100
1928 32.954.155 1,49 10.654.811 0,48 43.608.966 1,97 2.216.731.755 100
1929 33.307.354 1,53 4.468.988 0,21 37.776.342 1,74 2.177.022.646 100
1930 21.976.933 1,18 3.346.598 0,18 25.323.531 1,36 1.864.294.824 100
1931 21.471.054 1,10 4.918.173 0,25 26.389.227 1,35 1.954.142.320 100
1932 25.588.869 1,32 4.495.586 0,23 30.084.455 1,55 1.944.987.535 100
1933 26.191.311 1,27 6.113.076 0,30 32.304.387 1,57 2.060.363.470 100
1934 28.704.055 1,22 8.552.536 0,36 37.256.591 1,59 2.346.699.224 100
1935 37.896.105 1,30 24.819.484 0,85 62.715.589 2,15 2.918.657.943 100
1936 37.610.803 1,15 9.867.182 0,30 47.477.985 1,45 3.279.603.389 100
1937 40.611.324 1,05 8.553.622 0,22 49.164.946 1,28 3.851.878.090 100
1939 - - - - 121.419.000 1,71 7.109.143.000 100
FONTE: DGE/ MAIC. Recenseamento do Brasil 1920, vol. V. (primeira parte): indústria, Rio de Janeiro.
Tipografia de Estatística, 1927, p. 447- 489. Máquinas (fundição e laminação de ferro; construção de máquinas
em geral) Oficinas e peças (oficinas mecânicas e fabricação de peças acessórias); DEIC/ SAIC/ SP. Estatística
Industrial do Estado de São Paulo, 1928-1937, parte “Situação das Indústrias”. Mecânica (máquinas para
lavoura e indústria), Oficinas e peças (reparação de máquinas e aparelhos); FIBGE. Censos Industrial,
Comercial e de Serviços. (série regional), vol. XXV, tomo, estado de São Paulo, Rio de Janeiro, 1955, p. 1;
gênero mecânica.
NOTA: Os valores de 1939 foram apresentados originalmente em cruzeiros na fonte utilizada. Os valores foram
convertidos para o mil-réis. Pelo decreto-lei 4.791, de 5 de outubro de 1942, um cruzeiro é equivalente a um
mil-réis.
valor da produção da indústria de máquinas paulista foi de 50,5% em 1937 em relação a 1931.
Apesar da rápida recuperação dessa indústria, o valor da produção em 1937 era apenas 11%
superior ao registrado em 1928, período anterior aos efeitos da crise.
A indústria produtora de máquinas exclusivamente (sem considerar as oficinas de
produção de peças) teve evolução muito próxima ao gênero mecânica como um todo. Entre
1920 e 1929 a taxa média anual de crescimento da indústria produtora de máquinas foi de
5,9%, enquanto que entre 1929 a 1937 foi de apenas 1,1%. O valor da produção da indústria
de máquinas foi 27,5% menor em 1931 em relação ao de 1929, antes dos efeitos da crise. Essa
indústria inicia a recuperação já em 1932 com valor da produção 52,8% maior em 1937 do
registrado em 1931, pior ano para essa indústria em termos de valor da produção. Em 1937 o
valor da produção da indústria de máquinas foi apenas 10,7% maior do que ao de 1929.
Tendo analisado as mudanças na estrutura da indústria de máquinas e equipamentos e
sua participação relativa na indústria de transformação paulista nas décadas de 1920 e 1930, é
interessante examinar agora as importações de máquinas e equipamentos. A Tabela 15 mostra
a evolução das importações de máquinas e equipamentos no total da importação de produtos
manufaturados entre os anos de 1920 a 1933.
FIBGE (1990). Deflator implícito da indústria. “Importações”: a mesma metodologia da Tabela 16.
17
Esta seção é baseada em MARSON (2007).
96
produtividade desses fatores, chamada de Produtividade Total dos Fatores (Total Factor
Productivity). Esta metodologia foi desenvolvida por Robert Solow (1957) sendo que a TFP é
conhecida também como “resíduo de Solow” por não ser obtida de forma diretamente
observável. As taxas de crescimento do capital e trabalho são ponderadas pela contribuição de
cada um desses fatores no total da produção. Podemos medir o progresso técnico pelo cálculo
do resíduo, ou seja, o excesso de crescimento do produto real sobre o que pode ser atribuído
ao crescimento do capital e ao do trabalho. Para visualizar melhor, vejamos a equação a
seguir:
∆Y/Y = α∆K/K + β∆L/L + TFP ou
TFP = ∆Y/Y – [β∆L/L + α∆K/K], onde: β + α = 1
notações:
∆Y/Y = taxa de crescimento do produto
∆K/K = taxa de crescimento do estoque de capital
∆L/L = taxa de crescimento do estoque de trabalho
α = participação do fator de produção capital no valor adicionado da produção
β = participação do fator de produção trabalho no valor adicionado da produção
TFP = produtividade total dos fatores
O resíduo Solow [TFP] está relacionado à taxa de progresso tecnológico de modo
simples. As taxas de crescimento do produto e dos fatores de produção (∆Y/Y, ∆K/K e ∆L/L)
foram calculadas com dados obtidos da seção “Situação das Indústrias do Estado de São
Paulo” das Estatísticas Industriais do estado de São Paulo, 1928-1937. Os valores nominais
foram deflacionados e são apresentados em valores de 1928. A participação do trabalho (β)
foi deduzida da participação dos salários no valor adicionado na produção do Censo Industrial
de 1920. A participação do capital (α) foi deduzida como resíduo. Os resultados encontrados
para a participação do capital e do trabalho na indústria de transformação paulista foram α=
0,59 e β= 0,41 e para a indústria de máquinas e equipamentos α= 0,39 e β= 0,6118. A
produtividade total dos fatores (TFP) não é diretamente observada e conforme as equações
acima é calculada como resíduo.
18
Os resultados de α e β foram obtidos por meio do cálculo da participação do salário e do capital no valor da
transformação industrial. O Censo de 1920, p. 408-409, apresenta o valor da produção industrial e foi necessário
deduzir os salários, custos dos impostos, transportes, materiais primas para obter o valor da transformação
industrial estimada. A participação do salário (β) foi calculada dividindo o gasto com salários pelo valor da
transformação industrial estimada. A participação do capital (α) foi calculada como resíduo.
97
capital volta a aumentar, mas o fator que mais explica o crescimento do produto na indústria
de máquinas e equipamentos entre 1934 e 1937 é a expansão do trabalho.
Pode-se concluir, assim, que houve três períodos distintos no que diz respeito às
causas do crescimento do produto da indústria de máquinas e equipamentos paulista entre
1929 e 1937. O primeiro, de 1929 a 1930, correspondeu a uma queda na taxa de crescimento
do produto da indústria explicada pela redução na taxa de crescimento do fator trabalho e na
produtividade total dos fatores. O segundo período, de 1930 a 1933, foi de recuperação da
taxa de crescimento do produto explicada por aumento na produtividade dos fatores de
produção. O terceiro período, de 1933 a 1937, foi de aumento na taxa de crescimento da
indústria explicado pelo aumento na taxa de crescimento do fator trabalho. Nesse período a
taxa de crescimento da produtividade dos fatores de produção foi negativa.
indústria e 159 oficinas mecânicas para reparo de máquinas. Houve, portanto, um crescimento
muito expressivo no número de empresas neste período19. De todas as empresas catalogadas
em 1929, conseguimos obter a data da fundação de 70 empresas, com base em diversas
fontes. Das 70 empresas que conseguimos a data da fundação, 29 foram fundadas antes de
1920 e 41 foram fundadas entre 1920 e 1929. É possível que muitas pequenas empresas que
não possuímos a data da fundação tenham sido fundadas na década de 1920. A amostra de
empresas na indústria de máquinas e equipamentos em 1929, das quais possuímos
informações sobre fundação, indica uma importante renovação das empresas nesse período,
mas também mostra que há um núcleo de empresas na indústria de máquinas e equipamentos
que iniciaram suas atividades antes da década de 1920.
A relação de empresas de máquinas e equipamentos que possuímos data da fundação é
apresentada na Tabela 20.
19
Aqui deve-se tomar cuidado com generalizações de crescimento linear, pois a qualidade dos dados são
melhoradas ao longo do tempo nas Estatísticas Industrias. Assim, é possível que os dados de 1919 estejam
substimados. Entretanto, são as únicas fontes disponíveis e com certo grau de confiabilidade, já que são oficiais.
101
Tabela 21 – Produção das empresas de máquinas e equipamentos, estado de São Paulo, 1929
arroz, moendas de cana, engenhos de cana, arados, máquinas para a demanda agrícola em
geral.
As empresas da indústria de máquinas e equipamentos em 1929, fundadas a partir de
1920, principalmente a partir de 1922, promoveram uma relativa mudança na representação
dos produtos produzidos. Foram produzidas máquinas para tecelagem, cerâmica,
maquinismos para padaria, para calçados, para olarias, estamparias, para fabricação de
macarrão e pão, máquinas para metalurgia, indústria têxtil em geral, fábricas de vidros,
motores, caldeiras a vapor.
Um exemplo de empresa que produzia máquinas para a indústria foi a Irmãos Ribeiro,
fundada em 1920, em São Paulo. Essa empresa representa um marco significativo para a
indústria de máquinas porque foi a primeira a produzir o tear nacional, uma máquina para o
setor têxtil, o mais importante da indústria nacional e paulista da época.
A fundação da empresa, em 1920, pelos irmãos Joaquim Jorge Ribeiro e Luiz Jorge
Ribeiro, deu-se em decorrência das oportunidades que o período pós Primeira Guerra
oferecia. Como já mostrado neste trabalho, a indústria têxtil foi o setor com maior taxa de
crescimento (16,4% ao ano) na indústria paulista entre 1910 e 1920, sendo que o período de
maior crescimento foi entre 1914 e 1918, com taxa de crescimento anual de 30,8% (ver
Tabela 12). O crescimento do setor continuou elevado (26,5% ao ano) entre 1918 e 1923. A
produção física do setor têxtil paulista saltou de 76 milhões de metros de tecidos de algodão
em 1910 para 190 milhões em 1920. Esses indicadores mostram o aquecimento de um setor
que necessitava repor sua maquinaria, antes totalmente importada, depois de quatro anos de
guerra.
Os Irmãos Ribeiro começaram com uma pequena oficina mecânica que foi constituída
com capital de 18 contos de réis, em um espaço de 35 metros quadrados, onde trabalhavam 20
homens (os 2 irmãos proprietários e 18 operários), com um torno, uma furadeira e uma serra
de fita, improvisada em uma armação de dormentes de estrada de ferro. A produção nesse
período era de um tear a cada três meses, ao preço de 6 contos de réis. A iniciativa
empreendedora foi aliada à experiência de Joaquim Ribeiro adquirida em cinco anos de
trabalho na Tecelagem Ítalo-Brasileira como torneiro mecânico, chegando a ser contramestre.
A empresa dos Irmãos Ribeiro concentrou os esforços iniciais no atendimento do
mercado da Villa Americana, que se transformaria no município de Americana e assumiria a
liderança da indústria têxtil paulista. Assim, a cidade tornou-se grande mercado consumidor
dos teares fabricados pela Ribeiro, e a empresa contribuiu para a formação do capital das
têxteis da região.
106
e de carpintaria exclusiva para a produção de peças para a manutenção das máquinas de sua
produção antiga (BANAS, 1962, p. 71).
Uma das empresas pioneiras na produção de máquinas para a indústria metalúrgica foi
a J. de La Rosa, fundada em 1926. Até 1950 a empresa foi uma das importantes fábricas na
produção de tornos revólver para fornecimento para a indústria metalúrgica (BANAS, 1962,
p. 148). Entretanto, o núcleo da indústria de máquinas operatrizes (tornos, retificadoras,
rosqueadoras, plainas, fresadoras, furadeiras, serras, prensas, entre outras), no estado de São
Paulo, foi constituído na década de 1930, principalmente a partir de empresas estabelecidas
inicialmente na produção de máquinas para a agricultura e para a indústria, como veremos a
seguir.
Tabela 22 – Empresas produtoras de máquinas para a indústria, estado de São Paulo, em 1937
Tabela 23 - Produção de máquinas para a lavoura e indústria, por tipo de máquinas, 1935-1937
(em quantidade e conto de réis)
origem anterior ao final da década de 1930, apenas a J. de La Rosa e a José Aguilar, que
produziam máquinas para a indústria metalúrgica em 1937, não tiveram origem na produção
de máquinas para a agricultura. As principais empresas produtoras de tornos em 1962, com
origem anterior à década de 1930, como a Carlos Tonanni, Domingos Nardini e Emílio Romi,
começaram a produção com máquinas para a agricultura.
A história da Nardini ilustra o desenvolvimento de uma empresa que nasceu para a
produção de ferramentas e máquinas para a agricultura no início do século XX e que se tornou
uma das maiores produtoras de tornos do país na década de 1960. Em julho de 1908,
Domingos Nardini, um imigrante italiano, fundou na cidade de Americana uma oficina de
ferreiro e serralheiro para a produção de ferramentas para a agricultura, como machados,
facões, foices, tesouras, ferraduras, e outras. Nos anos 1910, incentivado pela demanda de
imigrantes chegados da Europa e sul dos Estados Unidos que traziam novos hábitos e
necessidades tecnológicas, Domingos Nardini expandiu sua produção para fabricação de
implementos agrícolas, como arados, carpideiras, plantadeiras, adubadeiras, e veículos, como
charretes, carroças e troles. Em meados da década de 1930 sua produção baseava-se em
implementos agrícolas, mas a partir de 1939 a empresa iniciou um projeto para diversificar
sua produção, com a inserção no ramo de máquinas-ferramenta. Neste ano, a Nardini iniciou o
projeto de fabricação de tornos e fresadoras, mas o início da fabricação dessas máquinas
realiza-se apenas em 1943, com cinco tornos paralelos e três fresadoras universais
(OSTRONOFF, 2008, p. 32).
A expansão industrial do setor têxtil na região de Americana estimulou nova
diversificação na produção da Nardini. Em 1946 a empresa iniciou sua produção de teares
mecânicos. Na década de 1950 a Nardini expandiu sua produção de máquinas-ferramenta,
ampliando suas instalações tornando-se grande produtora de tornos em escala industrial,
incorporando recursos tecnológicos da época às suas máquinas. Neste período, a empresa
cresceu com diversificação, atuando nos segmentos de implementos agrícolas, máquinas-
ferramenta e máquinas têxteis (OSTRONOFF, 2008, p. 32). Assim, nos anos 1960 a empresa
já traçava a trajetória de uma das mais importantes empresas de máquinas nacionais, com a
demanda viabilizada pela indústria automobilística.
115
3.4 Conclusões
responsável para explicar a taxa de crescimento do produto foi a produtividade total dos
fatores, indicando a importância do progresso técnico na indústria de transformação paulista
no período.
As explicações sobre as fontes de crescimento da indústria de máquinas e
equipamentos paulista podem ser divididas em três períodos distintos entre 1928 e 1937. O
primeiro, de 1928 a 1930, correspondeu a uma queda na taxa de crescimento do produto
resultante da queda na taxa de crescimento do fator trabalho e na produtividade total dos
fatores. O segundo período, de 1930 a 1933, foi de recuperação da taxa de crescimento do
produto por causa do aumento na produtividade dos fatores de produção. O terceiro período,
de 1933 a 1937, foi de aumento na taxa de crescimento da indústria devido ao aumento na
taxa de crescimento do fator trabalho. Nesse período a taxa de crescimento da produtividade
dos fatores de produção foi negativa.
Houve mudanças na pauta de produtos produzidos pelas empresas de máquinas e
equipamentos entre 1920 e 1930. Em relação às mudanças nos produtos produzidos pelo setor
a década de 1920 foi a mais importante. A maioria das empresas fundadas na década de 1920
produzia produtos em 1929 para atender a demanda industrial, ao contrário das fundadas antes
de 1919 que atendiam em sua maioria à agricultura. Apesar da maioria das empresas ofertar
máquinas ligadas à agricultura em 1929, no período há um expressivo número de empresas
suprindo a demanda de máquinas para a indústria, indicando diversificação no setor.
As empresas da indústria de máquinas e equipamentos em 1929, fundadas a partir de
1920, principalmente a partir de 1922, promoveram uma relativa mudança nos produtos
produzidos. Foram produzidas máquinas para tecelagem, cerâmica, maquinismos para
padaria, para calçados, para olarias, estamparias, para fabricação de macarrão e pão, máquinas
para metalurgia, indústria têxtil em geral, fábricas de vidros, motores, caldeiras a vapor.
No final da década de 1930 já havia um núcleo industrial de máquinas para vários
setores da indústria e também foi nessa década que se formou um núcleo de empresas
produtoras de máquinas operatrizes. Essas empresas tiveram origem tanto nas empresas que
produziam máquinas para a indústria como nas empresas que produziam máquinas para a
agricultura. E esse núcleo de empresas que se formou no final da década de 1930 foi o mesmo
que deu suporte ao estágio mais avançado do processo de industrialização na década de 1960.
O próximo capítulo analisará duas das principais empresas que nasceram na década de
1920 e tornaram-se as principais empresas de máquinas e equipamentos do país em 1960.
118
119
Neste capítulo iremos analisar algumas das principais questões levantadas ao longo
desta tese sobre a indústria de máquinas e equipamentos no estado de São Paulo, tendo como
objeto de estudo duas empresas importantes para o fortalecimento dessa indústria no país, a
Dedini e a Romi. A escolha dessas empresas deve-se à existência de estudos específicos e
acervos históricos com documentos econômico-financeiros. Destacaremos as semelhanças e
diferenças no desempenho dessas duas empresas no contexto da evolução da indústria de
máquinas e equipamentos.
Com origens muito semelhantes, a Dedini e a Romi tomaram rumos diferentes para se
tornarem já em 1960 empresas líderes na indústria de máquinas e equipamentos e nos ramos
específicos em que atuavam no período. O período escolhido para a análise é importante para
entender a constituição e maturação de empresas no processo de industrialização brasileira.
Mostraremos aqui que as origens da indústria de máquinas e equipamentos foram muito
anteriores à firmação do setor na industrialização brasileira.
Neste capítulo mostraremos como foi o início das empresas Dedini e Romi, de origem
parecida com muitas das empresas que contribuíram para o fortalecimento da indústria de
máquinas e equipamentos no estado de São Paulo e no país, e muitas outras que seguiram o
mesmo caminho, mas que não foram tão bem-sucedidas. Mostraremos os principais fatos
históricos da evolução e as características da estrutura administrativa e financeira dessas
empresas. O período aqui estudado, de 1920 a 1960, aborda a transição da forma de
administração familiar, baseada no improviso e técnicas de administração tradicionais, com
financiamento com capital próprio, para um tipo de administração de gerenciamento familiar
e financiada por capital próprio e de terceiros (do setor privado ou público).
Outra questão a ser analisada é a adaptação dessas empresas ao mercado consumidor e
a estrutura de mercado em que atuavam. Identificaremos as estratégias para o atendimento do
mercado interno, os concorrentes e os principais consumidores.
120
Mário Dedini e Américo Emílio Romi iniciaram seus próprios negócios com pequenas
oficinas. O primeiro, uma oficina de carpintaria e ferraria para a fabricação e conserto de
veículos (troles, carroças, carroções, charretes, etc.) e utensílios agrícolas (bicos de grades,
bicos de arados para tração animal, e outros tipos de arados) em 1920, na cidade de
Piracicaba. Já o segundo iniciou suas atividades na cidade de Santa Bárbara, em 1929, com
uma oficina de automóveis, na qual produzia peças e que passou a receber encomendas de
peças de equipamentos agrícolas.
Em agosto de 1920, Mário Dedini comprou, em sociedade com seu irmão Armando, a
oficina de José Sbravatti, situada na Avenida Conceição 3, 5 e 7, na propriedade da sogra de
Mário. O preço da oficina foi de oito contos e quinhentos mil-réis, dos quais três contos de
réis foram pagos por Mário, quinhentos mil-réis pelo seu irmão Armando e os outros cinco
contos de réis foram emprestados por Luiz Lombard, chefe de Mário e diretor da usina Santa
Bárbara. Luiz Lombard, além de emprestar os recursos iniciais, estimulou o empreendimento,
permitindo a Mário continuar com o trabalho na usina e liberando-o às sextas-feiras para se
dedicar à oficina em Piracicaba. Nos outros dias da semana, seu irmão Armando, que já havia
exercido a profissão de ferreiro na cidade de Pirajuí, comandava a oficina. Ainda no início da
década de 1920, Mário deixaria suas atividades formais na usina Santa Bárbara para dedicar-
se exclusivamente à sua oficina, mas continuou dando assistência técnica para a usina por
vários anos. Assim, em 1922 foi registrada a firma Mário Dedini & Irmão, conhecida como
Oficina Irmãos Dedini, com capital de dez contos de réis. Segundo Barjas Negri, a localização
da oficina, na Vila Rezende, em Piracicaba, foi essencial para o desenvolvimento inicial da
empresa porque ficava em um corredor de tráfego obrigatório da região. Assim, a firma
recebia grande demanda por serviços de reparação de veículos e a localização estratégica
facilitava o atendimento de pedidos de reparação ou fabricação de utensílios agrícolas. A
inexistência de oficinas que atendessem as necessidades de reparo de peças para os vários
engenhos de açúcar e fábricas de aguardente da região foi um fator essencial para o
desenvolvimento da Dedini (NEGRI, 1977, p. 2-5).
O conhecimento técnico adquirido por Mário Dedini no trabalho em usinas para a
produção de açúcar foi fundamental para o atendimento das necessidades de reparo para o
setor ligado ao processamento da cana-de-açúcar. Assim, o início da produção de máquinas e
equipamentos no interior de São Paulo esteve ligado ao desenvolvimento econômico local ou
regional. O desenvolvimento econômico de Piracicaba no início do século XX, local de
instalação da oficina Dedini, é um exemplo dessa ligação entre a agricultura local e o
crescimento da indústria. As atividades agroindustriais locais, ligadas ao cultivo e
123
importações, Emílio Romi comprou uma grande quantidade de peças para automóveis,
tornando-se a maior oficina mecânica da região (EXAME, 51-52; ROMI, 1970, p. 2, ROMI,
1970 b, p. 66).
Apesar dos efeitos da crise de 1929, ao longo da década de 1930 tanto a Dedini como
a Romi tiveram expansão significativa, resultando em mudanças importantes no processo de
produção e nos produtos produzidos. Em 1929, além de consertar automóveis, a empresa de
Emílio Romi reparava arados e semeadeiras estrangeiras, produzindo peças para esses
produtos. Em 1932, Romi passou de oficina de reparos para a fabricação de máquinas
agrícolas. No final de 1933 e início de 1934, os jornais de Santa Bárbara (Cidade de Santa
Bárbara e O Bandeirante) noticiaram a inauguração da nova seção de mecânica e fundição das
Oficinas Romi anexa à garagem e à oficina de marcenaria já existente. A fundição era de
grande porte e moderna para a cidade no período e estava aparelhada para fabricar quaisquer
peças de máquinas exigidas pela indústria local e das cidades vizinhas. A fundição era
composta de duas fornalhas, uma para a fundição de ferro e outra de bronze, com capacidade
de produção de 150 toneladas de peças fundidas por mês. Estava resolvido o problema da
fundição de peças de ferro e bronze. Em 1936, Romi comprou seu primeiro torno mecânico
iniciando o aparelhamento do seu maquinário com a expansão do mercado nos anos 1930
(SANTA BÁRBARA, 1933; BANDEIRANTE, 1934; EXAME, 1973, p. 52).
Em 1937, a Fábrica de Máquinas Agrícolas Santa Bárbara era uma das unidades
industriais mais importantes do município de Santa Bárbara, tendo uma seção que fabricava
as especialidades da empresa: o arado “Santa Bárbara” tipo “Cliper” e a semeadeira “Santa
Bárbara”. Uma característica do arado era ter o tombador de ponta de aço, com grande
espelhagem, que não permitia a aderência de terra quando o aparelho era utilizado. A
semeadeira realizava o serviço de doze homens na área semeada. A firma fabricava também o
cultivador “Santa Bárbara” que era empregado para limpar o terreno, a gradinha que tinha
como finalidade a remoção da terra para facilitar a infiltração das chuvas, a carpideira “Santa
Bárbara” de tipo “americano” e “simples”, a adubadeira “Santa Bárbara” e a adubadeira e
semeadeira conjugadas, que eram superiores às suas concorrentes norte-americanas. Em 1937,
a empresa possuía setenta e cinco operários em comparação aos quatro mecânicos que
iniciaram em 1929, e sua produção anual de máquinas era de quase seiscentos contos de réis
(SANTA BÁRBARA, 1937).
Em 1938, a firma Américo Emílio Romi tornou-se sociedade limitada, denominando-
se Máquinas Agrícolas Romi Ltda., com um capital de trezentos contos de réis. Em 1939, a
empresa era a maior fábrica de máquinas agrícolas do Brasil, possuindo prensas de grande
125
tonelagem para a produção dos equipamentos. Seus produtos eram fabricados com métodos
modernos, semelhantes às grandes organizações industriais dos Estados Unidos e Europa. Os
produtos eram vendidos aos mais modernos agricultores do país e exportados para países do
continente americano (EXAME, 1973, p. 52; DIÁRIO DE SÃO PAULO, 1939, p. 4).
A década de 1930 foi muito favorável para as atividades econômicas da Dedini. Nessa
década houve um processo de expansão e transformação na empresa, com aquisição de maior
parcela do mercado, novas linhas de produtos e maior escala na produção. Apesar da empresa
ter se transformado de uma simples oficina de reparos no início dos anos 1920 em uma
empresa de produção de equipamentos em meados dos anos 1920, sua estrutura de produção
ainda era modesta no início da década de 1930. As máquinas utilizadas pela empresa eram,
em sua maioria, de pequeno porte e usadas. No início dos anos 1930 a empresa era composta
de uma carpintaria, uma ferraria, uma seção de mecânica, modelagem, caldeiraria e uma
fundição de ferro e bronze.
A crise de 1929 tornou os produtos da Dedini, geralmente moendas para cana-de-
açúcar, mais baratos do que os importados. Neste mesmo ano, a Dedini fabricou um conjunto
completo de moendas, com todos os acessórios, para a Usina Nossa Senhora Aparecida,
propriedade de Virgolino de Oliveira, em Itapira, próxima à cidade de Piracicaba. Em 1932
uma grande experiência aumentou a capacidade de produção da Dedini. Pedro Ometto, grande
usineiro de Piracicaba, comprou uma velha usina em Campos no Rio de Janeiro e atribuiu a
Mário Dedini a tarefa de desmontar, transportar e reformar o maquinário da antiga usina para
que depois fosse instalado na cidade de Iracemápolis. Essa experiência na reforma do
maquinário da usina possibilitou a construção de equipamentos do mesmo tamanho (conjunto
de moendas constituído de 3 ternos de moendas de tamanho 20 por 30 polegadas e um
conjunto esmagador de 2 rolos acionados por máquinas a vapor) entre 1935 e 1936 que foram
vendidos para Virgolino de Oliveira.
Ao longo da década de 1930 as usinas passaram a exigir máquinas e aparelhos de
maior porte para a extração de caldo de cana. Os efeitos da crise de 1929 na economia
açucareira paulista não foram tão intensos como em outros estados. Com a crise do café, os
agricultores passaram a diversificar a produção agrícola, beneficiando o setor de cana-de-
açúcar. Ao longo da década de 1930 houve crescimento relativo da produção de açúcar para o
estado de São Paulo (de uma participação média do estado na produção total de açúcar do país
de 8,7% nas safras de 1925/1930 para uma participação de 19,1% nas safras de 1935/1940)
tornando-se o segundo maior produtor do país, atrás apenas de Pernambuco. Esse aumento da
participação de São Paulo na produção de açúcar do país é explicado pelo aumento no número
126
de usinas no estado entre 1929 e 1940, de 20 para 34. A partir de 1935/1936 o Instituto do
Açúcar e do Álcool (IAA) apoiou a modernização e ampliação das instalações de muitas
usinas paulistas. Assim, a participação de engenhos na produção de açúcar de São Paulo caiu
de 50% em 1930 para 25% em 1940. A cidade de Piracicaba era responsável por 20% da
produção de açúcar do estado de São Paulo em 1937. Essa produção era realizada por 6
grandes usinas e 265 engenhos. Esse foi um mercado cativo para a empresa de Mário Dedini,
que atendia o mercado de máquinas e equipamentos tanto de engenhos como de usinas
(NEGRI, 1977, p. 12-35).
Na década de 1940 as estratégias de desenvolvimento da Dedini e da Romi tomaram
rumos diferentes. Durante a Segunda Guerra Mundial, com a interrupção das importações, a
Romi decidiu especializar a sua produção e produzir um novo produto, o torno. A Dedini
notou a necessidade de complementar os produtos que produzia para as usinas e aprofundou o
processo de diversificação de seus produtos, fundando novas firmas para a produção de
máquinas e equipamentos para o setor alcooleiro e máquinas especializadas para o setor
açucareiro.
A Romi iniciou a produção de tornos mecânicos em 1941. O projeto do novo produto
surgiu de uma cópia do modelo Ericksen, que a empresa havia importado da Alemanha. A
produção de tornos mecânicos foi intensa e já em 1943 a firma havia produzido mil unidades.
De uma participação de 5% no mercado brasileiro em 1941 a empresa passou a ser
responsável por 80% do mercado de tornos do país em 1948. A Romi abandonou a produção
de máquinas agrícolas e investiu no setor de tornos mecânicos, evitando assim uma
diversificação prematura. Para reforçar e manter a especialização a empresa iniciou a
exportação desse produto para a América Latina. Em 1946, a Romi exportava em média 40
tornos por mês para a Argentina, atingindo uma grande participação nesse mercado.
Em 1948, com o auxílio do engenheiro André Toselo, a Romi iniciou a produção do
primeiro trator nacional, denominado Toro, baseado no modelo Allis-Chalmers triciclo. Esse
trator era mais pesado e mais potente do que seu concorrente direto, tendo um preço maior do
que o modelo da Ford. O preço do primeiro trator nacional inviabilizou seu projeto e a Romi
manteve-se afastada do mercado de veículos automotores até 1954, quando a empresa
adquiriu os direitos de fabricar o automóvel Isetta da Iso-Motor, de Milão, Itália. O Romi-
Isetta, primeiro automóvel nacional de dois lugares, com apenas 30% das peças importadas,
foi fabricado até 1959, mas o projeto foi encerrado pela empresa porque a política de apoio às
empresas automobilísticas pelo Grupo Executivo das Indústrias Automobilísticas para a
isenção de impostos para a importação de peças excluiu os automóveis de dois lugares.
127
Assim, seu custo inviabilizou seu sucesso no mercado automobilístico nacional, já que as
peças de automóveis de quatro lugares tinham isenção de imposto e taxa de câmbio
diferenciada para a importação de peças (EXAME, 1973, p. 52-54; ROMI, 1970; ROMI, 1970
b, p.66-67; BANAS, 1970, p. 7-12).
Na década de 1960 a Romi tornou-se uma das principais empresas produtoras de torno
do mundo, ficando atrás apenas de uma empresa estatal da União Soviética. A empresa, no
final da década de 1960, exportava tornos para diversos países, inclusive da Europa, Japão e
Estados Unidos. A empresa vendia tornos com tecnologia local inclusive para uma firma de
Cincinatti, região onde se concentravam as três maiores empresas produtoras de torno dos
Estados Unidos no final dos anos 1960 (EXAME, 1973, p. 52-54; ROMI, 1970; ROMI, 1970
b, p.66-67; BANAS, 1970, p. 7-12).
Na década de 1940, a Dedini diversificou e verticalizou sua linha de produtos diante
do crescimento do parque açucareiro e a necessidade de aumento do tamanho dos conjuntos
de moendas utilizados pelas usinas. Outro motivo para a diversificação foi a política do
Instituto do Açúcar e do Álcool para incrementar a produção de álcool. Na década de 1930,
cresceu o número de destilarias para a produção de álcool. Em 1933 havia no país apenas uma
destilaria de álcool aumentando para 44 unidades em 1941. Com a diversificação do setor
alcooleiro surgiu uma nova oportunidade no mercado de máquinas voltadas para o setor
canavieiro: a produção de máquinas e equipamentos para destilarias. Assim, com tal
conjuntura favorável, a família Dedini (Nida, Ada, Leopoldo, Ottilia Furlan e Dovilio
Ometto) em sociedade com Waldomiro Perissinotto e Lázaro Pinto Sampaio fundaram a
Construtora de Destilarias Dedini, ou Codistil, em 1943. O objeto social da Codistil era a
fabricação e o comércio de máquinas, alambiques, aparelhos, peças, acessórios, instalações do
ramo e montagem de destilarias para aguardente e álcool. No início a empresa produziu
apenas alambiques e caldeiras de pequena capacidade, além de reformar e consertar os
equipamentos existentes. Em 1945 a empresa já estava produzindo equipamentos para
destilarias completas. A empresa ampliou seu capital de Cr$ 400.000,00 em 1943 para Cr$
1.200.000,00 em 1945 admitindo entre os novos acionistas Mário Dedini, Armando Dedini e
Américo Perissinotto. A ampliação da empresa possibilitou a diversificação da produção de
equipamentos de vários tipos. Em 1953, a Codistil havia fabricado cento e quarenta destilarias
para aguardente e trinta para álcool (LEÃO, 2005, p 76-92; EXAME, 1975, p. 53-54).
No final dos anos 1940 e início dos anos 1950, a Dedini aprofundou o processo de
diversificação e verticalização com a associação da família à Metalúrgica de Acessórios para
Usinas S.A. – Mausa, da qual Mário Dedini conseguiria total controle. A Mausa produzia
128
equipamentos para usinas não produzidos pela Dedini e pela Codistil e que exigiam maior
conhecimento técnico para sua elaboração. A empresa fabricava produtos cuja tecnologia
ainda não era de domínio público, como filtros de caldos, filtros rotativos, centrífugas,
decantadores, redutores de velocidade, bombas, mesas alimentares de cana, pontes rolantes e
outros (LEÃO, 2005, p 76-92; EXAME, 1975, p. 53-54).
Em 1947, a Dedini tinha capacidade de fabricar usinas completas para a produção de
açúcar, indicando alto grau de diversificação e verticalização de seu sistema produtivo. Em
1954, as moendas produzidas pela empresa aumentaram de dimensão, sendo acionadas por
turbinas da marca GHH (associação com a empresa alemã Gutehoffnungshutte Sterkrade). Os
motores a vapor horizontais, de até 1000 hp, utilizados para movimentar os conjuntos das
moendas, antes importados, começaram a ser produzidos pela Dedini. Outro produto
importante foi a caldeira geradora de vapor que, com as moendas, tornaram-se os principais
equipamentos produzidos pela empresa. Assim, logo após o final da Segunda Guerra
Mundial, a Dedini tinha capacidade de produzir todos os equipamentos necessários dentro das
usinas nacionais. Já em 1945, a empresa deixou de ser firma individual e passou a denominar
M. Dedini & Cia., elevando seu capital de Cr$ 1.000.000,00 para Cr$ 6.000.000,00. Em 1950,
Dedini é transformada em sociedade anônima, estando as três empresas do grupo (Dedini
Metalúrgica, Codistil e Mausa) aptas para atender à demanda de equipamentos do complexo
canavieiro brasileiro (LEÃO, 2005, p 76-92; EXAME, 1975, p. 53-54).
disso, iremos identificar os consumidores das máquinas produzidas pela Romi e Dedini. Aqui
há novamente uma grande diferença entre as empresas.
A Dedini atuou no atendimento ao mercado interno e aproveitou as oportunidades
proporcionadas por políticas de modernização do setor canavieiro para ampliar a produção de
máquinas para esse setor. Já a Romi explorou a oportunidade de um mercado industrial de
máquinas para a indústria e adotou estratégia de especialização da produção de máquinas-
ferramenta. Apesar da demanda interna para seus produtos, a empresa adotou a estratégia de
atender mercados fora do país. No início, suas exportações visaram mercados similares ao
brasileiro, como o argentino e outros países latino-americanos, mas a evolução da produção
levou-a a exportar para países desenvolvidos, que em tese adotavam tecnologia mais avançada
do que a brasileira. A especialização permitiu a Romi a tornar-se uma das empresas líderes
mundiais no segmento produtor de máquinas operatrizes no final do período aqui estudado.
Outra análise será a estrutura do mercado em que a Dedini e a Romi atuavam.
Identificaremos quem foram seus concorrentes e quais as implicações da estrutura de mercado
para a evolução das empresas. A especialização em um segmento do mercado e a elaboração
de produtos mais intensivos em técnicas modernas favoreceu a Romi, enquanto a
diversificação complementar para atender um segmento de mercado mais complexo
beneficiou a evolução da Dedini. Estudaremos em detalhes a evolução das empresas em cada
mercado. Primeiramente será analisado o mercado de máquinas para a agricultura canavieira,
mercado onde a Dedini estava inserida e posteriormente estudaremos o mercado de máquinas-
ferramenta, núcleo demandante da Romi.
Na agricultura canavieira em São Paulo, no final do século XIX e início do século XX,
a demanda por máquinas era realizada por uma grande quantidade de pequenos engenhos e as
usinas. As primeiras empresas produtoras de máquinas para o setor canavieiro iniciaram suas
atividades como oficinas de reparos e produção de peças para máquinas importadas, sendo de
extrema importância a localização geográfica da oficina em relação à usina ou engenho.
Segundo Barjas Negri, o fator mais importante para o desenvolvimento de oficinas foi a
assistência técnica oferecida por elas. A assistência era extensiva a todos os aparelhos da
usina e a proximidade entre oficina e usina possibilitava a reposição de peças em tempo
menor do que com as importações. Assim, “em virtude desta capacidade de reparação e
reposição rápida as usinas não mais precisariam importar antecipadamente aquelas peças
importantes que normalmente apresentavam quebras freqüentes durante o período de
fabricação de açúcar” (NEGRI, 1977, p. 15).
130
Capital
(contos de
Usinas Fundação Município Proprietário réis) Operários
E. Central 1877 Porto Feliz S.A. Sucréries Brésiliennes 600 145
E. Central 1883 Piracicaba S.A. Sucréries Brésiliennes 1.320 360
E. Central 1884 Vila Rafard S.A. Sucréries Brésiliennes 960 300
E. Central 1884 Lorena S.A. Sucréries Brésiliennes 900 220
Freitas 1889 Araraquara José Teixeira Marques 600 100
Monte Alegre 1890 Piracicaba Antonio Alves de Carvalho 750 300
Cachoeira 1898 Franca Francisco Schmidt 100 17
Henrique dos Santos
Amalia 1899 S. Simão Dumont 1.500 160
Christiano Ozorio de
Barra 1901 Pirassununga Oliveira 70 10
Pimentel 1903 Jaboticabal Alvaro Pimentel 500 22
Esther 1906 Campinas Sociedade Anônima 2.000 500
João Baptista Lima
Itahyquara 1911 S. J. Rio Pardo Figueiredo 500 60
Schmidt - Sertãozinho Francisco Schmidt 500 42
Indaía - Franca - 200 28
FONTE: DEIC/SACOP. A lavoura da canna e a industria assucareira dos estados paulista e fluminense , 1912,
p. 95-96.
Como foi visto na seção anterior, ao chegar ao Brasil, Mário Dedini foi para a Fazenda
Amália e depois trabalhou na construção da Usina Santa Bárbara. O estado de São Paulo
possuía 14 usinas que processavam cana-de-açúcar em 1912. Até a fundação da Oficina
Dedini, em 1920, mais 3 usinas iniciaram seu funcionamento: a usina Santa Bárbara, em
Santa Bárbara, a usina Junqueira, em Igarapava e a usina Guatapará, em Ribeirão Preto. As
usinas da Barra e a Indaía não funcionaram ao longo dos anos 1910, e, portanto, no início dos
anos 1920 havia 15 usinas canavieiras no estado de São Paulo (DGE/MAIC, 1919, p. 38-41).
Em 1920, ano da fundação da oficina de Mário Dedini, o maior mercado consumidor
dos serviços da oficina eram os vários pequenos engenhos localizados na região de
Piracicaba, como, por exemplo, o engenho de aguardente da Fazenda Santo Antonio, de
propriedade da família Furlan. Os serviços de manutenção eram realizados na zona rural, ou
seja, o atendimento era no próprio engenho. O atendimento às usinas, unidades de produção
131
mais modernas e complexas, aumentou no final dos anos 1920. A Tabela 26 mostra os
principais clientes de Mário Dedini entre 1929 e 1945. Como visto na seção anterior, o
primeiro conjunto completo de moendas, com todos os acessórios, com capacidade de moer
cerca de cem toneladas de cana por dia, fabricado pela Dedini, foi vendido para a usina Nossa
Senhora Aparecida, de Virgolino de Oliveira, em Itapira, no ano de 1929. Em 1932, Dedini
reformou as máquinas e equipamentos adquiridos por Pedro Ometto para instalação da usina
Boa Vista, em Iracemápolis. Esses equipamentos eram maiores e mais complexos dos que os
produzidos até aquele momento, possibilitando à empresa acumular conhecimento técnico,
que iria deixá-la apta para a modernização das usinas incentivada pelo Instituto do Açúcar e
Álcool nos anos 1930 (NEGRI, 1977; LEÃO, 2005).
encomendava a reforma junto à empresa de Mário Dedini. Segundo Barjas Negri, essa
política de comercialização proporcionava um “veículo irradiador do progresso técnico dentro
da indústria açucareira” (NEGRI, 1977, p. 30). Tal política estimulou a modernização do setor
açucareiro resultando em processos de produção mais racionais, eficientes e de maior escala.
Uma outra iniciativa de Mário Dedini que resultou em aprendizado tecnológico para a
empresa foi a associação com interessados em investir no setor açucareiro. Geralmente os
interessados em investir no setor eram fornecedores, plantadores de cana-de-açúcar que
desejavam instalar engenhos para processar cana ou produtores de açúcar que desejavam
ampliar suas instalações ou transformá-las em usinas, com equipamentos mais modernos. O
objetivo inicial dessa associação era ampliar o mercado para os equipamentos e os serviços
oferecidos pela Dedini. Assim, a ampliação do mercado resultava em nova alimentação da
demanda no futuro para os produtos e serviços da Dedini. Essa demanda tornava-se cativa
porque anualmente havia necessidade de reposição de peças para os equipamentos, e caso a
usina ou o engenho desejasse ampliar suas instalações recorreria à empresa que forneceu os
primeiros equipamentos, já que as unidades produtoras eram projetadas para que pudessem
realizar ampliações da capacidade produtiva.
A associação era realizada como uma oportunidade tanto para o plantador de cana-de-
açúcar, como para o fornecedor de máquinas e equipamentos, já que o primeiro teria a
disponibilidade dos serviços de manutenção dos equipamentos rapidamente. Assim, Mário
Dedini participava como sócio contribuindo com os equipamentos produzidos pela empresa,
portanto, com uma parte do capital físico da usina. Essas usinas associadas à Dedini
funcionavam como um laboratório para os produtos da firma. Havia constantes
aperfeiçoamentos e testes dos produtos nas usinas onde a empresa tinha participação.
Em 1936, Mário Dedini realizou sua primeira grande associação com produtores de
açúcar, participando da constituição da Usina Costa Pinto Ltda., na cidade de Piracicaba.
Mário Dedini assumiu 25% (150 contos de réis de um total de 600 contos de réis) do capital
da usina, Pedro Ometto possuía 50% do capital (300 contos de réis), João Ometto mais 17%
(100 contos de réis) e João Bassinelo outros 8% (50 contos de réis). Os equipamentos da
usina Costa Pinto foram em sua maior parte fornecidos pela Dedini, e alguns importados da
Europa. A Dedini forneceu a manutenção das máquinas e equipamentos e reposição das peças
para a usina desde a fundação e também foi responsável por sua ampliação em 1944, sendo
que todos os novos equipamentos foram fornecidos pela empresa de Mário Dedini.
Em 1942, outras associações ampliaram a atuação da família Dedini como fabricante
de equipamentos para o setor açucareiro e proprietária de usinas: a constituição da Usina São
133
Entre 1947 e 1952 o valor das vendas do grupo Dedini aumentou em cinco vezes, com
uma taxa de crescimento anual de 31,6% (ver Tabela 28). No início dos anos 1950 a Dedini
contava com mais de dois mil clientes em todo o país. Nesse período, a Dedini havia
fabricado 64 usinas completas e 178 equipamentos de moagem. A maior parte desse mercado
estava em São Paulo, mas a empresa também atendia principalmente a demanda de usinas em
Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina (LEÃO, 2005, p. 102).
Depois de analisar a evolução do mercado de máquinas e equipamentos para o setor
canavieiro pela demanda, identificando os principais clientes da Dedini, iremos estudar a
evolução da estrutura desse mercado, ou seja, seus principais concorrentes.
O setor de máquinas e equipamentos ligado ao setor canavieiro é relativamente antigo
no Brasil com sua origem no período colonial, mas nesse período não teve desenvolvimento
contínuo e permanente. No século XIX, duas empresas destacaram-se na produção de
equipamentos para o setor canavieiro: a Fundição do Brasil, no Recife, em Pernambuco, e a
Usina Esperança, em Minas Gerais. Ambas as empresas prestavam serviços ou produziam
equipamentos simples para atender engenhos, mas também atendiam outros ramos de
atividades, além do setor canavieiro. A Usina Esperança, por exemplo, fabricava tubos para
encanamentos de água, balaustres e máquinas para engenhos para os mercados do Rio, São
Paulo e Rio Grande do Sul (NEGRI, 1977, p. 46-47).
135
Metalúrgica Grupo
Ano Dedini Mausa Codistil Dedini Importações
1947 4.888 - 588 5.474 11.912
1948 5.859 425 552 6.837 8.153
1949 7.060 1.147 1.069 9.276 5.534
1950 9.987 2.085 1.470 13.542 5.250
1951 13.150 2.817 2.146 18.111 9.330
1952 17.439 3.758 2.324 28.521 9.131
1953 11.136 2.329 1.368 14.833 3.305
1954 10.194 2.273 1.905 14.372 297
1955 9.227 2.288 1.746 13.262 84
1956 8.381 2.650 1.106 12.137 -
1957 11.879 3.394 2.638 17.910 -
1958 11.204 3.002 3.283 17.488 -
FONTE: NEGRI, 1977, p. 63, 67.
Nas duas primeiras décadas do século XX, outras empresas começaram a atender à
demanda por equipamentos e serviços dos vários engenhos do país. No estado de São Paulo,
duas empresas foram premiadas na categoria de máquinas para o setor canavieiro na
Exposição Internacional do Centenário da Independência em 1922, no Rio de Janeiro. A Cia.
Industrial “Engenho Stamato” ganhou o grande prêmio com seu engenho de ferro para cana e
a Martins Barros e Cia. Ltda. foi premiada pela sua moenda para cana. A premiação no
Centenário da Independência representava o que de melhor se produziu no estado de São
Paulo no segmento industrial nos anos 1920 (ver Tabela A.5, no Apêndice).
Ao longo dos anos 1920 outras empresas produziram equipamentos para o setor
canavieiro em São Paulo. Algumas das empresas importantes desse período foram a própria
Dedini, a Martins Barros, da cidade de São Paulo, a Carlos Tonanni, de Jaboticabal, e a
Krähenbühl, de Piracicaba. Essas empresas fabricavam geralmente pequenas moendas para
cana, sendo que a Tonanni produzia centrífugas para engenhos turbinadores. A Krähenbühn
foi fundada em 1870 por suíços e inicialmente atendia a demanda de importação e reparos
mecânicos da região de Piracicaba. A empresa saiu do mercado de equipamentos e vendeu seu
maquinário para a Dedini em 1940, concentrando-se apenas na comercialização dos produtos
agrícolas. A Martins Barros teve sérios problemas econômicos com a crise de 1929,
paralisando suas atividades no período e saindo definitivamente do mercado nos anos 1940.
136
Essa empresa também vendeu seu maquinário para a Dedini. A Tonanni concentrou sua
produção no setor de máquinas para beneficiamento de arroz e café.
Conseguimos catalogar 20 empresas produzindo máquinas para o setor canavieiro no
estado de São Paulo em 1930. A Tabela 29 apresenta essas empresas, com as respectivas
cidades, capital e produtos. Algumas dessas empresas produziam também máquinas para
outros setores da agricultura e indústria, como por exemplo, máquinas para beneficiamento de
café, arroz, bombas para serrarias, panificação e aproveitaram para ampliar sua produção para
o setor canavieiro.
A indústria de máquinas para o setor canavieiro é um setor baseado em demanda sob
encomenda, em sua maior parte de equipamentos fabricados especialmente para determinado
engenho ou usina. Mesmo os produtos padronizados nesse setor precisam ser ajustados a cada
unidade de produção específica. Os produtos são heterogêneos, em sua maioria, com uma
linha relativamente diversificada. A demanda do setor de máquinas para o setor canavieiro
está diretamente ligada às condições de mercado para os produtos extraídos pelo setor, ou
seja, depende dos preços do açúcar e do álcool. As empresas produtoras de máquinas e
equipamentos sob encomenda para o setor ficam vinculadas ao setor comprador de seus
produtos. Na tentativa de diminuir a dependência de um único setor consumidor dos produtos,
as empresas procuram diversificar a linha de máquinas e equipamentos. Neste caso, a base
produtiva principal permite flexibilidade na produção ou equipamentos que se complementam
são produzidos por meio de diversas tecnologias. A estratégia de produzir produtos
complementares tem como objetivo diminuir as oscilações do mercado. A forma de
diversificação mais fácil para diminuir a dependência cíclica de um mercado é através da
fabricação de produtos próximos à atividade principal (NEGRI, 1981, p. 89-93).
Assim, conforme mostra a análise da Tabela 29, vários produtores de máquinas e
equipamentos fabricavam equipamentos para uma indústria mais importante (neste caso, o
setor canavieiro) e também para outros setores, com características distintas. Interessante
notar é a existência de empresas relativamente grandes, com empresas de menor porte, ou
seja, há um complemento da produção entre empresas com características diferentes. As
empresas menores complementam a produção das maiores fornecendo peças de reposição ou
a produção de equipamentos de pequeno porte.
137
Capital
Empresa Cidade (mil-réis) Produtos
Ribeirão engenhos de cana, rodas d'água e reparos
Adolpho Bianchi Preto 40.000 máquinas em geral
Affonso Ramasco Campinas 110.000 engenhos de cana, máquinas de fazer telhas
Angelo Milanesi & moendas para cana, máquinas para beneficiar
Irmãos Botucatu 17.000 café, arroz
máquinas para beneficiar café e para moer e picar
Antonio Luciano São Paulo 60.000 cana
Bruno Meyer & engenhos para cana, prensas para telhas, peças
Filhos Rio Claro 60.000 fundição
engenhos para cana, máquinas para beneficiar
Cia. Mac-Hardy Campinas 943.400 café
engenhos para moagem de cana, aparelhos
Comp. Ind. Stamato São Paulo 400.000 fábrica açúcar
Irmãos Colombini Baurú 10.000 engenhos para cana, bombas
Irmãos Gazzola Itú 28.150 moendas de cana, artigos de ferro fundido
máquinas para beneficiar café e para picar cana,
Irmãos Masiero Jaú 67.850 bombas
José Bisordi São Paulo 80.000 prensas, moendas e serras
Monte
Luiz Cestari Alto 286.641 engenhos para cana
Raphael Stamato São Paulo 200.000 engenhos de ferro para lavoura de cana
V. Lilla São Paulo 20.000 torradores e moinhos de café e engenhos de cana
Celeste Toriatti Socorro 8.500 construção de engenhos de cana
moendas de cana, máquinas para usinas de
M. Dedini Piracicaba 200.000 açúcar
Roque Bianchi Ribeirão
Filhos Ltda. Preto 18.000 engenhos para moagem de cana
máquinas para panificação, serrarias, e engenhos
Vettorazzo & Rosa Sorocaba 60.000 de cana
José Gambale São Paulo 15.000 construção de engenhos de cana
Frederico Ruegger &
Filhos Araras 255.000 moendas, rodas hidráulicas, prensas, polias
FONTE: DEIC/ SAIC/ SP. Estatística Industrial do Estado de São Paulo, 1930.
Uma característica importante é que a maioria das empresas de máquinas para o setor
canavieiro atendia aos engenhos. A única empresa especializada no fornecimento de
máquinas para as usinas, uma unidade de produção mais complexa do que os engenhos era a
Dedini em 1930. Esse será um dos fatores que levaram a Dedini a ser líder da indústria
produtora de equipamentos para o setor açucareiro. As empresas, que atendiam ao setor no
início dos anos 1930, ofertavam serviços e equipamentos para o mercado de engenhos de
açúcar, com tecnologia relativamente simples. Na década de 1930, com o incentivo do
Instituto do Açúcar e Álcool, muitos dos engenhos transformaram-se em usinas, grandes
138
unidades de produção de açúcar. Assim, no início dos anos 1930 surgiu um novo segmento de
mercado especializado substituindo a produção de equipamentos de engenhos para usinas.
Enquanto as empresas concorrentes da Dedini produziam equipamentos para o mercado
decadente de engenhos de açúcar, a Dedini estava entre as poucas empresas capazes de
fornecer máquinas e equipamentos para atender um mercado em expansão.
Até a década de 1960 a Dedini permaneceu como líder em um segmento de mercado
com estrutura próxima a um oligopólio: máquinas para a indústria do açúcar. Outro segmento
de mercado que a Dedini foi pioneira foi o de máquinas para a produção de álcool, com a
constituição da Codistil. As empresas do grupo Dedini (Metalúrgica, Codistil e Mausa)
tiveram valor de vendas três vezes maior do que todas as importações brasileiras de máquinas
e equipamentos para a fabricação de açúcar e álcool em 1952 (ver Tabela 28). A partir de
1949, as vendas do grupo Dedini foram maiores do que as importações de máquinas para o
setor.
A cidade de Piracicaba apresentava um dos principais centros de produção açucareira
do Brasil nos anos 1960. Uma das características das máquinas e equipamentos por
encomenda é a especificação técnica do comprador. Os compradores, as usinas e engenhos
neste caso, esperam que os fornecedores de máquinas e equipamentos sejam capazes de
atender as demandas das unidades industriais para reposição em curto prazo de entrega e
oferecimento de assistência técnica para reparos. Essa característica explica em parte porque
as principais empresas de máquinas e equipamentos para a indústria da cana estavam
concentradas na região de Piracicaba em 1963 (ver Tabela 30). Embora a Cia. Federal de
Fundição e a Bardella produzissem instalações completas para usinas de açúcar, as empresas
do grupo Dedini eram especialistas no fornecimento de máquinas e equipamentos para açúcar
e álcool e exerceram forte influência na evolução das empresas da região de Piracicaba.
Instalada em 1936, em Piracicaba, pelo francês Jean Joseph Morlet, a empresa Morlet
concorreu na década de 1940 com a Codistil, na fabricação de destilarias. Entretanto, a Morlet
foi adquirida pelo grupo Dedini em 1958 e incorporada à Codistil em 1969. A Mepir –
Metalúrgica Piracicabana, fundada em 1950, em Piracicaba, foi adquirida pelo grupo Dedini
em 1969.
139
No início da década de 1960, a indústria de máquinas para o setor canavieiro era auto-
suficiente, produzindo todos os equipamentos necessários para o setor de açúcar e álcool. As
empresas do grupo Dedini, além de produzir todos os equipamentos necessários às usinas e
destilarias do país, realizaram exportações de seus equipamentos para a América Latina,
especialmente para a Argentina, Bolívia e Uruguai (BANAS, 1963, p. 43).
Depois de analisar a evolução do mercado de máquinas para o setor canavieiro, onde a
Dedini está inserida, iremos considerar o mercado de máquinas operatrizes, principal mercado
da Romi. As máquinas operatrizes estão inseridas na classificação do gênero industrial
mecânica e são máquinas que têm como finalidade produzir novas máquinas por meio do
movimento mecânico, de um conjunto de ferramentas. São classificadas como máquinas
operatrizes tornos, retificadoras, rosqueadoras, plainas, fresadoras, mandriladoras, furadeiras,
serras, tesouras, prensas, e outras. O torno é uma das mais antigas máquinas inventadas pelo
homem que tem como objetivo cortar, limar ou polir peças de madeira, metal ou outro
material. Como existem diversos tipos, o torno pode ser utilizado por uma pequena oficina
mecânica, ou em uma complexa organização industrial.
Como vimos na seção anterior, a Romi iniciou suas atividades produzindo máquinas
agrícolas e em 1941 iniciou a produção de tornos. A indústria de máquinas operatrizes é
constituída no Brasil, com empresas produzindo de forma contínua esse tipo de máquina, na
década de 1930. Entretanto, antes desse período algumas empresas produziam algumas
máquinas para uso próprio.
É difícil identificar os clientes da Romi ao longo dos anos. Porém, podemos fazer
algumas generalizações para entender melhor as características do mercado de tornos no país
entre 1940 e 1960. Os principais clientes foram as indústrias de auto-peças, a de ferramentaria
(que usam o torno na produção de máquinas) e o setor de manutenção (como o setor de vidro,
cimento ou porcelana, que usam o torno mais simples, na manutenção). Assim, a produção de
tornos da Romi deu-se tanto em série, para atender clientes que exigem menor complexidade
do torno, e também sob encomenda, para atender finalidades específicas. O mercado atendido
pela Romi nesse período foi de clientes diversificados, que exigiam relativo grau de
complexidade tecnológica nos produtos produzidos pela empresa (BANAS, 1970, p. 7-12).
Não existem informações estatísticas detalhadas para estimar a produção de tornos no
país e sua respectiva demanda no período aqui abordado. As estatísticas de comércio exterior
também não detalham a quantidade e valor dos tornos importados. O maior nível de detalhe
disponível é para a importação de máquinas operatrizes pelo Brasil e por São Paulo pelo porto
de Santos. Esses dados entre 1938 a 1943 são apresentados na Tabela 31. Tal período é
141
importante porque abrange o período de projeto e início da produção de tornos pela Romi,
motivada pela dificuldade de importação em um período de guerra e necessidade dessas
máquinas pelo parque industrial paulista e brasileiro.
Tabela 31 - Importação de máquinas operatrizes pelo estado de São Paulo e pelo Brasil, 1938-
1943 (toneladas e mil-réis correntes),
empresas iniciando suas atividades a partir de 1940, apesar da data de fundação na tabela
indicar a última alteração na razão social da empresa. Das 45 empresas que conseguimos
identificar produzindo tornos no estado de São Paulo em 1945, 31 foram fundadas a partir de
1940.
20
Um relato dessas histórias de adaptações e inventividade pode ser encontrado em BRANDÃO, 2008, p. 58-73
e nos vários documentos disponíveis no Centro de Documentação Histórica da Romi.
145
fonte não detalhou a descrição das máquinas; entre os anos de 1945 e 1952: “importação de máquinas-
ferramenta, inclusive tornos”. Os valores das importações foram convertidos em dólares dos Estados Unidos pela
taxa de câmbio oficial.
Máquinas operatrizes abrangem tornos, retificadoras, rosqueadoras, plainas, fresadoras, mandriladoras,
furadeiras, serras, tesouras, prensas, e outras máquinas não especificadas.
A tabela mostra que em 1945 o valor da produção de tornos da Romi representou 42%
do valor de toda a importação de máquinas operatrizes realizada pelo Brasil. Depois do fim da
guerra o indicador diminuiu, mas na média a participação do valor da produção de tornos da
Romi foi de 16% das importações de máquinas operatrizes pelo Brasil entre 1946 e 1952. É
importante notar que a comparação é feita com relação ao total de máquinas operatrizes, onde
o torno é o produto mais representativo, mas não o único21. Em 1951, por exemplo, o valor da
produção de tornos da Romi foi de 11,2% da importação de máquinas operatrizes. A
participação em 1951 da importação de tornos pelo país no total das máquinas operatrizes foi
de 23,8%. O valor em tornos produzido pela Romi foi quase a metade de toda a importação
desse produto realizada pelo Brasil em 1951 (ver CEPAL, 1962, p. 24-25).
21
Não foi possível elaborar um indicador com tornos, anterior a 1950, porque o maior detalhe da série estatística
disponível é de máquinas operatrizes.
148
22
A Dedini começou com uma sociedade dos irmãos Dedini, mas depois do falecimento de Armando Casare
Dedini, em 1926, irmão de Mário, a empresa tornou-se individual.
149
Dedini
Anos Inicial Alteração Final Origem da alteração do capital
1920 8.500
1922 8.500 1.500 10.000 Lucros
1926 10.000 40.000 50.000 Lucros
1929 50.000 100.000 150.000 Lucros
1932 150.000 150.000 300.000 Lucros
1935 300.000 200.000 500.000 Lucros
1937 500.000 500.000 1.000.000 Lucros
1945 1.000.000 5.000.000 6.000.000 Dinheiro e novos sócios
1951 6.000.000 24.000.000 30.000.000 Lucros
1952 30.000.000 30.000.000 60.000.000 Lucros
1953 60.000.000 30.000.000 90.000.000 Dinheiro e reservas
Reavaliações, reservas e
1955 90.000.000 90.000.000 180.000.000 ações de terceiros
1958 180.000.000 54.000.000 234.000.000 Bens
1961 234.000.000 150.000.000 384.000.000 Créditos
FONTE: SÃO PAULO. Diário Oficial do estado de São Paulo (vários anos); NEGRI, 1977, p. 223.
A Tabela 37 mostra a evolução do capital da Romi, desde sua fundação até 1961, com
alterações do capital e a origem dessa alteração.
Romi
Anos Inicial Alteração Final Origem da alteração do capital
1930 2.000
1934 2.000 98.000 100.000 Lucros
1935 100.000 100.000 200.000 Lucros
1937 200.000 30.000 230.000 Lucros
1938 230.000 70.000 300.000 Dinheiro e novos sócios
1943 300.000 1.200.000 1.500.000 Dinheiro e novos sócios
1946 1.500.000 850.000 2.350.000 Novo sócio
1946 2.350.000 2.650.000 5.000.000 Dinheiro e novos sócios
1947 5.000.000 1.000.000 6.000.000 Novo sócio
1947 6.000.000 3.000.000 9.000.000 Dinheiro dos sócios
1948 9.000.000 1.000.000 10.000.000 Dinheiro dos sócios
1953 10.000.000 12.000.000 22.000.000 Lucros
1954 22.000.000 18.000.000 40.000.000 Bens (imóveis)
1954 40.000.000 5.000.000 45.000.000 Dinheiro e novos sócios
1955 45.000.000 15.000.000 60.000.000 Bens (imóveis)
1956 60.000.000 76.500.000 136.500.000 Reservas e reavaliação de bens
Dinheiro, ações subscritas e bens
1957 136.500.000 13.500.000 150.000.000 (máquinas)
1959 150.000.000 50.000.000 200.000.000 Bens (máquinas)
1961 200.000.000 410.000.000 610.000.000 Bens (máquinas) e ações
FONTE: SÃO PAULO. Junta Comercial de São Paulo, ver Tabela A.7, no Apêndice.
Tabela A.7, no Apêndice). Assim, até o final da década de 1950 e início da década de 1960 a
integralização do capital pertenceu à família Romi. Apenas no início dos anos 1960 a empresa
abriu seu capital para o investimento externo, com a necessidade de modernização para
atender um mercado mais extenso e complexo, mas o controle ainda permaneceu com a
família, com Giordano Romi na presidência e os irmãos como diretores (SÃO PAULO.
Diário Oficial de São Paulo, 25/03/1962, p. 80).
A partir da transformação das empresas em sociedade anônima é possível realizar uma
análise mais detalhada da evolução econômico-financeira. A Tabela 38 reúne alguns
indicadores da Dedini na década de 1950. Esse período é importante porque a Dedini é a
maior empresa do mercado fornecendo praticamente todos os equipamentos necessários para
o setor canavieiro e também é quando termina o ciclo de transformações na agroindústria
canavieira. A partir da segunda metade dos anos 1950, o número de novas usinas cresceu
lentamente, ao contrário do período anterior. A expansão do setor canavieiro é realizada mais
com modernizações das usinas existentes do que com a construção de novas usinas (NEGRI,
1977, p. 82-85).
Rentabilidade patrimônio líquido 0,21 0,24 0,33 0,12 0,14 0,12 0,14 0,11
Rentabilidade sobre vendas 0,15 0,15 0,23 0,10 0,11 0,10 0,12 0,07
Rentabilidade do ativo 0,19 0,18 0,23 0,07 0,07 0,07 0,09 0,07
Participação capital de terceiros 0,12 0,32 0,45 0,73 0,85 0,74 0,56 0,57
% capital de terceiros no ativo 10,40 24,40 30,80 42,29 45,88 42,44 36,07 36,25
% capital próprio no ativo 89,60 75,60 69,20 57,71 54,12 57,56 63,93 63,75
FONTE: SÃO PAULO. Diário Oficial de São Paulo (vários anos), ver Tabela A.8, no Apêndice.
pagamento de suas dívidas porque um indicador 2,0 significa que para cada unidade
monetária em dívida a empresa possuiu duas unidades monetárias em ativos realizável a curto
prazo.
O índice de liquidez imediata, medido pela relação entre o disponível (caixa e bancos)
e o passivo corrente, revela uma piora significativa a partir de 1952. A empresa tinha à
disposição em caixa e em bancos apenas 1% do total das dívidas da empresa em 1956. A
empresa possivelmente teve problemas de liquidez imediata nesses anos. O indicador de
cobertura total, que mede a possibilidade da empresa liquidar seus compromissos, também
teve piora significativa a partir de 1953. Entretanto, para cada unidade monetária em dívida
em 1954, a empresa possuía 2,1 unidades monetárias em ativo total, mostrando que a situação
da solvência da empresa ainda estava relativamente boa. O indicador participação de capital
de terceiros mostra que houve maior utilização do capital de terceiros de 1950 a 1955. A
estrutura do ativo indica um aumento percentual de capital de terceiros no ativo entre 1950 e
1954.
Entre 1950 e 1955 o indicador de imobilização do capital da Dedini, medido pela
relação entre o ativo permanente e o patrimônio líquido, diminuiu. Esse resultado é
possivelmente explicado pelas alterações na estrutura do setor de bens de capital para o setor
canavieiro no período. Apesar da diminuição, o indicador voltou a aumentar a partir de 1956.
Os indicadores de rentabilidade, sobre o patrimônio líquido, vendas e ativo total,
mostram uma piora significativa após 1952. Em 1952, por exemplo, a empresa teve uma
rentabilidade de 33% sobre o patrimônio líquido. Esse indicador caiu para 12% em 1953,
permanecendo nesse nível até 1957. A queda na rentabilidade da Dedini após 1953 expõe as
mudanças estruturais no setor comprador de máquinas e equipamentos para o setor
canavieiro. Foi nesse período que o grupo Dedini intensificou o processo de diversificação
fundando empresas para atender outros setores. Essa diversificação foi impulsionada pela
necessidade do grupo em diminuir a dependência do setor canavieiro23. Na principal e
pioneira empresa do grupo, a M. Dedini S.A. – Metalúrgica, também houve mudanças no
sentido de diversificação da sua produção.
A Tabela 39 mostra a participação relativa das vendas da Dedini por produtos entre
1950 e 1957. Ao longo dos anos 1950 houve diminuição da participação relativa de máquinas
(moendas de cana, bombas, caldeiras, aparelhos para usinas) da empresa de 71,2% do total
das vendas em 1950 para 63% em 1957, chegando a 50,8% em 1953. As vendas de peças
23
Esse processo de diversificação é detalhado em NEGRI, 1977, p. 85-91. Aqui nos concentramos na análise da
principal e pioneira empresa do grupo, a metalúrgica.
154
(peças fundidas de ferro, aço e bronze) aumentaram no período de 7%, do total das vendas em
1950 para 11,1% em 1957, chegando a 14,2% em 1956.
Rentabilidade do patrimônio líquido 0,31 0,18 0,14 0,18 0,15 0,10 0,11
Rentabilidade sobre as vendas 0,51 0,26 0,26 0,23 0,29 0,20 0,16
Rentabilidade do ativo 0,18 0,11 0,09 0,10 0,10 0,07 0,07
Participação capital de terceiros 0,74 0,71 0,60 0,76 0,53 0,38 0,57
% capital de terceiros no ativo 42,58 41,44 37,44 43,33 34,68 27,29 36,44
% capital próprio no ativo 57,42 58,56 62,56 56,67 65,32 72,71 63,56
FONTE: SÃO PAULO. Diário Oficial de São Paulo (vários anos), ver Tabela A.10, no Apêndice.
4.4 Conclusões
O quarto capítulo teve como objetivo a realização de dois estudos de caso sobre a
evolução de empresas de máquinas e equipamentos no estado de São Paulo entre 1920 e
1960: o caso da Dedini e da Romi.
Mostramos a evolução histórica desde a origem dos dois empresários e de suas
empresas até os anos 1960, identificando semelhanças e diferenças que compartilharam. Em
ambos os casos identificamos a origem familiar italiana, conhecimentos e habilidades na área
de mecânica e alguma ligação com o setor agrícola. Ambos percorreram a mesma região
geográfica do interior de São Paulo, apesar de momentos diferentes. Uma hipótese advém do
fato de que as fazendas agrícolas (de café, cana-de-açúcar) da região nordeste e central do
estado de São Paulo atraíram imigrantes que possuíam outras habilidades além do trabalho na
lavoura. Essa atração pode ser explicada pela existência de estradas de ferro na região e das
fazendas de engenho e de café que demandavam manutenção para seus equipamentos
(locomotivas, vagões, máquinas de beneficiamento agrícola, caldeiras e moendas de cana-de-
açúcar, carroças, automóveis e outros implementos agrícolas).
Mário Dedini e Américo Emílio Romi iniciaram seus próprios negócios com pequenas
oficinas. O primeiro, uma oficina de carpintaria e ferraria para a fabricação e conserto de
veículos (troles, carroças, carroções, charretes, e outros) e utensílios agrícolas (bicos de
grades, bicos de arados para tração animal, e outros tipos de arados) em 1920, na cidade de
Piracicaba. Já o segundo iniciou suas atividades na cidade de Santa Bárbara, em 1929 com
uma oficina de automóveis, na qual produzia peças e que passou a receber encomendas de
peças de equipamentos agrícolas.
O início da produção de máquinas e equipamentos no interior de São Paulo esteve
ligado ao processo de desenvolvimento econômico local ou regional. O processo
desenvolvimento econômico de Piracicaba e Santa Bárbara no início do século XX, local de
instalação da oficina Dedini e da Romi, são exemplos dessa interligação entre a agricultura
local e o processo de crescimento e desenvolvimento da indústria. As atividades
agroindustriais locais viabilizaram o aparecimento de empresas para atender à demanda de
máquinas do setor.
Na década de 1940 as estratégias de desenvolvimento da Dedini e da Romi tomaram
rumos diferentes. Durante a Segunda Guerra Mundial, com a interrupção das importações, a
157
Romi decidiu especializar a sua produção e produzir um novo produto, o torno. A Dedini
notou a necessidade de complementar os produtos que produzia para as usinas e aprofundou o
processo de diversificação de seus produtos, fundando novas firmas para a produção de
máquinas e equipamentos para o setor alcooleiro e máquinas especializadas para o setor
açucareiro. A Dedini aprofundou sua atuação no mercado de máquinas agrícolas específico
para o setor canavieiro, primeiramente produzindo máquinas para as usinas de açúcar e depois
para destilarias de aguardente e álcool. A Romi após atingir o sucesso no ramo de máquinas
agrícolas para a o cultivo da terra como arados, semeadeiras e outros, ampliou sua produção
para máquinas para a indústria, a mais universal dessas máquinas, o torno mecânico.
A Dedini atuou no atendimento ao mercado interno e aproveitou as oportunidades
proporcionadas por políticas de modernização do setor canavieiro para ampliar a produção de
máquinas específicas para esse setor. A Romi aproveitou a oportunidade de um mercado
industrial demandante de máquinas para a indústria e adotou a estratégia de especialização da
produção de máquinas-ferramenta. A especialização em um segmento do mercado e a
intensificação na elaboração de produtos mais intensivos em técnicas modernas favoreceu a
evolução da Romi, enquanto a diversificação complementar para atender um segmento de
mercado mais completo beneficiou a evolução da Dedini.
Ao longo do capítulo mostramos as principais características da demanda de cada setor
específico de atuação das empresas e sua estrutura de mercado, identificando que essas
características ajudam a explicar a forma de evolução das empresas ao longo do período. A
Dedini e a Romi acompanharam a evolução do mercado em que atuaram. Conforme a
evolução do mercado, as empresas foram se modernizando, adaptando às condições mais
complexas de técnica e administração. A Romi e a Dedini conseguiram se manter no mercado
adaptando-se às suas condições por meio da constante melhora da inovação técnica do
processo de produção e de seus produtos, tornando empresas líderes do segmento de
máquinas operatrizes e de máquinas para o setor canavieiro no período aqui estudado.
Da fundação da oficina dos Irmãos Dedini em 1920 até a empresa tornar-se uma
sociedade por quotas em outubro de 1945, as alterações de capital tiveram origem nos lucros
acumulados da atividade industrial. Em 1945 o capital foi aumentado com recursos próprios
de Mário Dedini e a inclusão de novos sócios. Nos anos 1960, quando a Dedini apresentava-
se como líder do mercado de máquinas e equipamentos para o setor canavieiro, a evolução do
capital foi gradual conforme a evolução do mercado. A origem do capital para o crescimento
da empresa foi proveniente em grande parte de recursos internos à empresa, notadamente de
158
CONCLUSÕES GERAIS
máquinas não sobreviveram ao fim da Primeira Guerra. Desta forma, concordamos com os
autores em que os efeitos mais expressivos no número de empresas fundadas foram de curto
prazo, mas mostramos casos de empresas que surgiram nesse período, cresceram e se
desenvolveram, como por exemplo, a B. Penteado, Mario Babbini, L. Silva, Puccetti, Lilla &
Irmãos e Fundição Progresso, além do caso da Villares relatado pelos autores. Algumas
dessas empresas operavam nas décadas de 1930, 1940 e algumas até 1960. Os efeitos da
Primeira Guerra Mundial foram favoráveis às empresas maiores, principalmente às sociedades
anônimas, com a diminuição da concorrência em segmentos mais especializados devido às
menores importações de máquinas do exterior.
A historiografia econômica também apresenta divergências sobre os efeitos da Grande
Depressão da década de 1930 para a indústria de máquinas e equipamentos. Lago et alii e Leff
afirmaram que os efeitos da Grande Depressão foram favoráveis à indústria de bens de
capital, incluindo a indústria de máquinas e equipamentos. Furtado afirmou que a indústria de
bens de capital no Brasil pouco sofreu com a crise, voltando a crescer já em 1931. Já Gupta,
ao contrário dos trabalhos anteriores, concluiu que a indústria de bens de capital,
especialmente a produção de máquinas e equipamentos, foi afetada adversamente pela Grande
Depressão. Abaixo resumimos a contribuição do trabalho para tal discussão.
A tese mostrou que a crise de 1929 e da Grande Depressão na década de 1930
afetaram negativamente o valor da produção na indústria de máquinas e equipamentos
paulista. Os efeitos foram maiores sobre a indústria de máquinas e equipamentos do que a
indústria de transformação como um todo, diminuindo a participação relativa da indústria de
máquinas e equipamentos entre 1928 e 1931. A recuperação da indústria de máquinas e
equipamentos foi mais rápida do que a da indústria de transformação, aumentando a
participação relativa da indústria de máquinas e equipamentos em relação à indústria de
transformação entre 1932 e 1935.
Houve pequena mudança na participação relativa da indústria de máquinas e
equipamentos na estrutura da indústria de transformação paulista no período de 1920 a 1939,
mostrando que a indústria de máquinas e equipamentos manteve-se pequena em relação à
indústria de transformação. Em relação ao crescimento real do valor da produção da indústria
de máquinas e equipamentos as mudanças foram maiores na década de 1920 do que na década
de 1930.
As evidências arroladas neste trabalho convergem com Gupta de que a crise de 1929
afetou negativamente a indústria de máquinas e equipamentos paulista, mas mostramos que a
diversificação da produção de máquinas para a indústria acelerou-se na década de 1920 e não
162
foi resultado da crise. Concordamos com os demais autores que afirmam que a recuperação da
indústria de máquinas e equipamentos foi rápida e mostramos que no final da década de 1930
a indústria se modernizou, iniciando a produção regular de máquinas-ferramenta.
O argumento geral apresentado nesta tese pode ser confirmado pelos dois estudos de
caso de empresas de máquinas e equipamentos entre 1920 e 1960 aqui analisados. A Dedini e
a Romi surgiram como pequenas oficinas nas primeiras décadas do século XX. Essas
empresas evoluíram com o mercado em que atuavam, com mudanças nas décadas de 1920 e
1930 e se fortaleceram no setor após a década de 1940. Talvez a maior contribuição desta tese
seja a de mostrar que a indústria de máquinas e equipamentos teve sua origem no final do
século XIX, passou por transformações nas décadas de 1920 e 1930 e se fortaleceu na década
de 1940. Assim, nossos resultados divergem da periodização mais aceita da industrialização
brasileira, que reconhece a importância da indústria de máquinas e equipamentos e de bens de
capital apenas após a década de 1950.
163
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Economics and Statistics, 1957, 312-320.
STEIN, Stanley J. Origens e evolução da indústria têxtil no Brasil, 1850- 1950. Rio de
Janeiro: Campus, 1979.
APÊNDICES
170
Tabela A.1 – Dados gerais sobre a indústria de máquinas, oficinas mecânicas e fundições,
importações e exportações, estado de São Paulo, 1911-1920 (em mil-réis correntes)
Tabela A.2 - Balanços Patrimoniais da Companhia Mecânica Importadora de São Paulo, 1910-
1920 (contos de réis correntes e índices de análise)
1910 1911 1912 1913 1914 1915 1916 1917 1918 1919 1920
Ativo Circulante 4.403 4.866 9.101 9.505 9.561 10.945 10.899 16.582 15.692 16.902 23.099
Caixa 39 72 35 66 214 327 343 210 286 357 377
Contas Correntes 2.241 1.872 3.155 2.142 2.704 3.445 2.473 5.068 8.895 10.039 6.384
Mercadorias em Consig. 161 30 119
Fazendas Geraes (Estoques) 1.424 2.076 4.132 4.377 2.692 3.283 4.492 5.076 3.390 2.477 8.428
Clientes (Letras a receber) 309 388 922 1.721 1.109 1.098 998 1.298 394 515 1.502
Títulos caucionados e depositos 81 90 85 85 1.599 1.888 1.795 2.108 155 185 145
Fabricação (estoque de mat. primas) 309 368 772 1.114 1.082 874 798 2.822 2.453 3.329 6.263
Ativo Permanente 3.842 3.795 4.691 4.749 6.517 6.658 7.661 7.817 15.615 18.202 23.512
Propriedades, Maquin., Ferr., etc 2.969 2.943 3.565 4.084 4.392 4.405 5.492 5.766 11.682 13.382 16.791
Mobílias e Semoventes 24 37 80 74 51 45 30 20 1 1 1
Hipotecas 1.501 1.682 1.537 1.522 308 62 60
Ações e Títulos 624 545 689 511 475 405 451 478 3.469 4.674 6.329
Diversas Contas 225 270 357 80 98 121 151 31 155 83 331
Ativo Total 8.245 8.661 13.792 14.254 16.078 17.603 18.560 24.399 31.307 35.104 46.611
Passivo Circulante 1.169 1.277 5.391 5.528 7.165 8.021 6.836 8.465 5.239 7.432 16.980
Fornecedores (Contas Gerais) 559 644 3.258 3.991 3.537 2.904 2.322 2.138 2.858 4.755 12.249
Letras a Pagar 158 966 1.323 2.587 1.829 3.210 1.635 1.994 3.182
Contas a Pagar 254 90 1.283 121 98 30 121 166 46 71
Diversas Contas 10 125 308 104 88 244 109 528 111 27 462
Consignações Diversas (Gratificações) 148 161 347 119
Garantias Diversas (Val. Depositados) 82 85 85 1.599 1.888 1.793 2.108 155 185 145
Dividendo 253 253 302 255 350 350 300 300 300 400 907
Imposto sobre Dividendo 11 7 8 6 9 18 15 15 15 35
Patrimônio Líquido 7.090 7.394 8.404 8.724 8.916 9.584 11.724 15.935 26.070 27.676 29.631
Capital 5.000 5.000 5.000 5.000 5.000 5.000 5.000 5.000 10.000 10.000 10.000
Fundo de Reserva 2.069 2.235 2.518 2.688 2.795 3.001 3.493 4.634 5.977 6.529 7.208
Lucros que passam para próximo ano 21 159 886 1.036 1.121 1.583 3.231 6.301 10.093 11.147 12.423
Passivo Total 8.259 8.671 13.795 14.252 16.081 17.605 18.560 24.400 31.309 35.108 46.611
Liquidez Corrente 3,766 3,812 1,688 1,719 1,334 1,365 1,594 1,959 2,995 2,274 1,360
Liquidez Seca 2,548 2,186 0,922 0,928 0,959 0,955 0,937 1,359 2,348 1,941 0,864
Liquidez Imediata 1,950 1,523 0,592 0,399 0,407 0,470 0,412 0,624 1,752 1,399 0,398
Imobilização do Capital 0,542 0,513 0,558 0,544 0,731 0,695 0,653 0,491 0,599 0,658 0,793
Quociente Cobertura Total 7,053 6,785 2,558 2,579 2,244 2,195 2,715 2,882 5,976 4,723 2,745
Quociente de Rentabilidade PL 0,003 0,022 0,105 0,119 0,126 0,165 0,276 0,395 0,387 0,403 0,419
Est. Capital: Part. Cap. Terceiros 0,165 0,173 0,641 0,634 0,804 0,837 0,583 0,531 0,201 0,269 0,573
Quociente Rentabilidade do Ativo 0,003 0,018 0,064 0,073 0,070 0,090 0,174 0,258 0,322 0,318 0,267
% Capital de Terceiros no Ativo Total 14,18 14,74 39,09 38,78 44,56 45,57 36,83 34,69 16,73 21,17 36,43
% Capital Próprio no Ativo Total 85,99 85,37 60,93 61,20 55,45 54,45 63,17 65,31 83,27 78,84 63,57
FONTE: SÃO PAULO. Diário Oficial do Estado de São Paulo. (vários anos).
172
FONTE: DEIC/SACOP/SP. Boletim da Diretoria de Indústria e Comércio, 1910-1928. DEIC/SAIC/SP. Estatística Industrial do Estado de São Paulo, 1928-1937.
NOTA: Os valores foram deflacionados com base no índice sistematizado por MALAN et al, 1977, p. 516.
181
Tabela A.6 – Vendas da Romi para o mercado interno e externo de tornos, 1941–1970
(unidades e US$ correntes)
Tabela A.7 - Registros da Romi arquivados na Junta Comercial, estado de São Paulo, 1938–1962
89.171 09/08/1946 Capital elevado para Cr$ 2350000,00 Emílio Romi Cr$
1350000,00; Baptista Ricetti Cr$ 150000,00 e Alvares Romi,
admitido 850000,00 (26/06/1946)
89.172 09/08/1946 O sócio Baptista Lauria Ricetti transfere suas quotas no total
de Cr$ 150000,00 a Alvares Romi
92.657 10/01/1947 Capital elevado para Cr$ 6000000,00: Emílio Romi Cr$
1750000,00; Alvares Romi Cr$ 1000000,00; Julieta Romi e
Romeu Romi Cr$ 500000,00 cada; Carlos Chiti Cr$
1250000,00; Giordano Romi Cr$ 1000000,00.
96.487 06/06/1947 Capital elevado para Cr$ 9000000,00: Emilio Romi Cr$
2600000,00; Carlos Chiti Cr$ 1800000,00; Alvares Romi
Cr$ 1500000,00; Giordano Romi Cr$ 1500000,00; Romeu
Romi Cr$ 800000,00; Julieta Romi Cr$ 800000,00.
103.443 16/04/1948 Capital elevado para Cr$ 10000000,00: Emilio Romi Cr$
2890000,00; Carlos Chiti Cr$ 2000000,00; Alvares Romi e
Giordano Romi Cr$ 1665000,00 cada um; Romeu Romi e
184
156.931 28/07/1953 Capital elevado para Cr$ 22000000,00: Emilio Romi Cr$
6358000,00; Carlos Chiti Cr$ 4400000,00; Giordano Romi
Cr$ 3663000,00; Alvares Romi Cr$ 3663000,00; Julieta
Romi Zanaga Cr$ 1958000,00; Romeu Romi Cr$
1958000,00.
206.572 03/07/1962 Ata extra de 10/05/1962 para elevação de capital para Cr$
703600000,00 - mudança de denominação social para
"Indústrias Romi S/A".
Tabela A.8 - Balanço patrimonial e demonstração da conta lucros e perdas da M. Dedini S.A.,
1950-1957
Passivo Circulante 7.578.978 27.933.130 59.143.898 108.481.517 135.891.796 135.740.033 126.357.542 143.952.214
Exigível (Contas Bancárias, Fornecedores, etc.) 7.283.006 26.837.158 26.859.474 53.391.643 53.946.827 51.811.002 52.169.402 69.487.466
Contas de Compensação 295.972 1.095.972 25.142.257 47.939.671 60.747.440 49.742.985 46.276.033 52.206.151
Resultado Pendente (receitas a realizar) 7.071.025 7.150.202 1.197.529 8.111.504 9.481.340 6.641.360
Outras Contas 71.141 20.000.000 1.074.542 6.430.768 3.617.236
Provisões 25.000.000 12.000.000 12.000.000
Patrimônio Líquido 65.326.113 86.532.486 132.868.035 148.006.382 160.289.674 184.128.735 223.970.258 253.139.971
Capital, Reservas e Lucros suspensos 65.326.113 86.532.486 132.868.035 148.006.382 160.289.674 184.128.735 223.970.258 253.139.971
Passivo Total 72.905.091 114.465.616 192.011.932 256.487.899 296.181.470 319.868.767 350.327.800 397.092.185
Débito
Despesa com legislação social 1.936.918 2.342.017 2.523.058 3.060.602 2.986.067 4.010.056 7.568.756 12.133.867
Despesas diretas da fabricação 59.126.297 94.206.038 113.426.520 110.903.977 114.252.845 130.470.308 138.354.004 245.537.771
Despesas indiretas
a) pessoal 2.046.703 2.694.897 3.328.949 6.389.829 6.344.637 6.835.306 9.892.537 11.020.399
b) escritório 212.335 331.727 312.740 330.352 469.854 613.497 614.393 845.150
c) diversas 1.083.660 1.462.584 1.231.819 1.938.540 3.617.095 4.469.274 5.490.402 6.156.386
d) juros e comissões 2.423.563 4.842.364 6.754.144 8.483.948 10.570.167 12.158.177 10.149.237 16.417.587
e) transporte 240.036 399.193 357.484 105.567 258.026 153.132 8.651.989 11.776.323
f) impostos e taxas 5.003.223 6.814.365 9.663.917 15.915.766 12.211.134 8.317.049 21.234.875 13.887.381
g) conservações diversas 927.371 682.736 891.445 1.341.713 2.656.357 3.352.639 3.343.904 3.857.854
h) combustíveis e lubrificantes 119.835 182.040 217.785 343.436 824.041 1.318.049 1.527.080 2.764.603
i) depreciações 1.446.675 1.845.040 2.071.082 2.281.583 2.504.090 2.439.066 2.573.086 3.884.313
j) outras contas 590.897 845.788 1.335.035 1.738.948 1.699.788 3.023.082 3.402.379 3.381.325
Lucros e Perdas 24.351 7.359.354 1.474.629 288.697 315.032
Provisões 20.000.000 23.000.000 12.000.000 12.000.000
Fundo para a reserva legal (5%) 1.178.278 2.420.334 1.018.369 2.336.139 2.463.906 2.418.731 2.252.713
Lucro Líquido do exercício (a disposição da assembléia) 13.488.653 20.542.187 43.915.265 17.119.929 21.947.152 21.375.154 31.382.793 26.917.001
Débito Total 88.670.516 138.369.253 188.449.577 178.331.910 204.152.020 224.287.390 258.604.167 373.147.703
Tabela A.9 - Vendas da M. Dedini S.A. Metalúrgica, por produtos, 1950–1957 (preços correntes
em Cr$)
Débito
Despesas gerais 35.034.259 90.116.787 60.345.152 98.919.941 137.101.316 202.243.632 136.729.885
Fundo de reserva legal (5%) 2.012.206 1.693.114 1.601.205 2.415.730 3.039.170 4.537.224 5.745.916
Saldo a disposição da Assembléia 38.231.921 32.169.169 63.139.179 109.764.556 57.744.236 252.890.980 362.063.446
Despesas tributárias (impostos e taxas) 81.003.452
Amortização do Ativo (depreciações) 70.756.102
Provisões (para contas incobráveis) 45.582.625
a) Saldo Anterior 32.716.289 63.865.679 166.683.793 252.891.040
b) Saldo deste exercício 38.231.921 32.169.169 32.024.095 48.314.608
57.744.236 90.744.471 114.918.323
Provisão de Imposto de Renda 18.461.688
Lucros Suspensos 39.282.549
Débito Total 75.278.386 123.979.070 125.085.535 211.100.228 197.884.723 459.671.835 701.881.427