2. Objetivos
• Conceituar volição, psicomotricidade, e
pensamento para a psicopatologia
• Descrever alterações de volição,
psicomotricidade, pensamento, e juízo de
realidade
• Apontar algumas síndromas que apresentam
essas alterações
3. Vontade/volição
• O processo de decidir e se comprometer com um curso de ação em particular
– Envolve tomar decisões e agir para que elas ocorram
– “Força de vontade” é um termo coloquial para descrever volição
• Dimensão complexa da vida mental, relacionada com as esferas afetivas e cognitivas,
bem como com valores, princípios, hábitos, e normas socioculturais
• Construto importante de diversos textos filosóficos de matriz romântica, incluindo
Schopenhauer (vontade para a vida) e Nietzche (vontade de poder) e os existencialistas
(conflitos entre livre arbítrio e determinismo)
• Esfera motivacional: definição de como o comportamento é iniciado, dirigido, e
sustentado, em suas dimensões intencionais e reguladoras
• Não esqueçamos que a psicopatologia é da mesma matriz que a prisão! Assim, uma
pergunta fundamental que se faz é: “ele queria fazer isso?” - ou seja, há volição
envolvida em determinados atos (violentos)?
4. Atos volitivos
• Para Nobre de Melo (1979), o ato volitivo (ou ato
de vontade) é traduzido pelas expressões típicas
do “eu quero” ou “eu não quero”
• Distinguem-se também os motivos, ou razões
intelectuais que influem sobre o ato volitivo, dos
móveis, ou influências afetivas atrativas ou
repulsivas que pressionam a decisão volitiva
para um lado ou para outro.
5. Processo volitivo
• O ato volitivo se dá como um processo
1) fase de intenção ou propósito, na qual se esboçam as tendências básicas
do indivíduo, suas inclinações e interesses.
●
Impulsos, desejos e temores inconscientes exercem influência decisiva
2) fase de deliberação, que diz respeito à ponderação consciente, levando-
se em conta tanto os motivos como os móveis implicados no ato volitivo
●
Análise básica, quase sempre com base em elementos afetivos
3) fase de decisão propriamente dita é o momento culminante do processo
volitivo, instante que demarca o começo da ação
4) fase de execução constitui a etapa final do processo volitivo, em que o
comportamento é executado
6. Abulia / hipobulia
• Diminuição ou até abolição da atividade volitiva
• O indivíduo refere que não tem vontade para nada,
sente-se muito desanimado, sem forças, sem “pique”
• Geralmente, a hipobulia/abulia encontra-se associada à
apatia (indiferença afetiva), à fadiga fá cil, à dificuldade
de decisão, tão típicas dos depressivos grave
7. Atos impulsivos
• Ato impulsivo – “curto-circuito” do ato voluntário da fase de
intenção à fase de execução
– “O ato impulsivo abole abruptamente as fases de intenção,
deliberação e decisão, em função tanto da intensidade dos
desejos ou temores inconscientes como da fragilidade das
instâncias psíquicas implicadas na reflexão, na análise, na
ponderação e na contenção dos impulsos e dos desejos”
• Nos impulsos patológicos predominam as ações
psicomotoras automáticas, sem reflexão, ponderação ou
decisão prévias, de tipo instantâneo e explosivo.
8. Atos impulsivos
• É realizado sem fase prévia de intenção, deliberação e decisão.
• É realizado, de modo geral, de forma egossintônica.
• É geralmente associado a impulsos patológicos, de natureza
inconsciente, ou à incapacidade de tolerância à frustração e
necessária adaptação à realidade objetiva.
• O indivíduo dominado pelo ato impulsivo tende a desconsiderar os
desejos e as necessidades das outras pessoas
9. Atos compulsivos
• Geralmente uma ação motora complexa que pode
envolver desde atos compulsivos relativamente
simples, como coçar-se, picar-se, arranhar-se, até
rituais compulsivos complexos, como tomar banho de
forma repetida e muito ritualizada, lavar as mãos e
secar-se de modo estereotipado, por inúmeras vezes
seguidas, etc.
• Diferem do ato impulsivo por ser reconhecido pelo
indivíduo como indesejável e inadequado, assim como
pela tentativa de refreá-lo ou adiá-lo
10. Atos compulsivos
• Há a vivência freqüente de desconforto subjetivo por parte do
indivíduo que realiza o ato compulsivo.
• Comumente são egodistônicos
• Há a tentativa de resistir (ou pelo menos adiar) à realização do
ato compulsivo.
• Poder haver sensação de alívio ao realizar o ato compulsivo,
que logo é substituído pelo retorno do desconforto subjetivo e
pela urgência em realizar novamente o ato compulsivo.
•
11. Impulsos e compulsões agressivas
auto- e heterodirigidas
• Automutilação. É o impulso (ou compulsão) seguido de
comportamento de autolesão voluntária
– Leves a moderadas observadas em pacientes borderline e TOC; as
formas mais graves podem acontecer em estados psicóticos
• Frangofilia. Impulso patológico de destruir os objetos que
circundam o indivíduo, associado geralmente a estados de
excitação impulsiva intensa e agressiva
• Piromania. Impulso de atear fogo a objetos, prédios, lugares, &c
• Impulso suicida.
12. Impulso suicida
• Ocorre quase sempre associado a outros sintomas mentais e
condições gerais como humor depressivo, desesperança, ansiedade
intensa, desmoralização crônica, dor ou disfunções orgânicas
crônicas.
• Sempre que o examinador encontrar um paciente deprimido,
cronicamente ansioso e hostil, ralizado, sem perspectivas, deve
investigar detidamente os impulsos suicidas.
• Mais comum em depressão maior, dependência de álcool,
esquizofrenia, distimias e transtornos da adaptação do tipo
depressivo, bem como em transtornos de personalidade borderline,
dependente, esquizóide, histriônica, e de evitação (Ferreira de Castro
et al.,1998).
13. Semiotécnica da ideação e do
impulso suicida
• A ideação, os impulsos e os planos suicidas devem ser
sempre investigados no caso de mínima suspeita.
• O tema deve ser tratado como algo delicado e pessoal, de
modo circunspecto, mas franco.
• Após contato inicial, inquirir de modo que seja mais fácil para
o paciente falar sobre o tema, começando a perguntar sobre
o desejo de “desaparecer”, de “sair de cena”, de “dormir para
sempre” até o desejo definido de se matar. O paciente
potencialmente suicida sente-se, muitas vezes, aliviado por
poder falar sobre o tema.
14. Semiotécnica da ideação e do
impulso suicida
• Perguntar, por exemplo: “Às vezes, você se sente tão mal que gostaria de desaparecer,
dormir muito tempo ou não mais viver?”
• Prosseguir então avaliando idéias claramente suicidas, planos suicidas: “Pensa em
terminar com a sua vida? Já fez alguma coisa no sentido de realizar tais idéias?”
• Verificar se o paciente pensa em adquirir ou já comprou veneno, remédios, uma corda, um
revólver, etc.
• Verificar se o paciente tem outros sentimentos, idéias ou atos autodestrutivos.
• Perguntar se já tentou o suicídio alguma vez.
• A notificação é obrigatória! Portaria GM/MS nº 1271/2014 e SINAN versão 5.0
15. Atenção especial a pacientes que...
1) Tentaram o suicídio recentemente (nos últimos meses ou anos) e
continuam com graves problemas.
2) Estavam muito deprimidos e “melhoram” subitamente (pois tal
“melhora” pode resultar em, finalmente, ter se decidido a cometer o
suicídio e, assim, livrar-se do sofrimento).
3) Embora neguem o impulso suicida, comportam-se de forma muito
autodestrutiva, revelando o seu potencial suicida.
4) “Resolvem” seus negócios (vendem pertences, fazem testamento,
etc.) sem motivo aparente.
16. Impulsos e compulsões relacionados
à ingestão de substâncias ou alimentos
• Dipsomania. Impulso ou compulsão periódica para ingestão
de grandes quantidades de álcool.
– O indivíduo bebe seguidamente até ficar inconsciente; a crise é
superada, voltando o paciente à situação anterior, havendo
geralmente amnésia retrógrada para o ocorrido.
• Bulimia. Impulso irresistível de ingerir rapidamente grande
quantidade de alimentos, seguido de vômitos voluntários ou
laxativos.
• Potomania. É a compulsão de beber água ou outros
líquidos sem que haja sede exagerada.
17. Impulsões e compulsões relacionados
ao desejo e comportamento sexual
• Fetichismo. Impulso e o desejo sexual concentrado em (ou exclusivamente
relacionado a) partes da vestimenta ou do corpo da pessoa desejada.
• Exibicionismo. impulso de mostrar os órgãos genitais, geralmente contra a vontade
da pessoa que observa. O ato de mostrar já é suficiente para o indivíduo obter prazer;
ele não busca contato sexual direto com a pessoa para a qual se exibe.
• Voyeurismo. Impulso de obter prazer pela observação visual de uma pessoa que está
tendo relação sexual, ou simplesmente está nua ou se despindo.
• Ninfomania e satiríase. Aumentos patológicos do desejo sexual ocorrem
principalmen-te em indivíduos em fase maníaca
• Cronoinversões. Pedofilia e gerontofilia.
• Outras parafilias. Zoofilia, necrofilia, coprofilia.
18. Alterações volitivas típicas da
esquizofrenia
• Tipicamente, alterações de volição acompanham a esquizofrenia catatônica,
comumente associadas a catalepsia e flexibilidade cerácea
• Negativismo. É a oposição do indivíduo às solicitações do meio ambiente.
Verifica-se uma resistência automática e obstinada a todos ou quase todos os
pedidos que a equipe médica ou a família faz ao paciente
• Sitiofobia. Recusa sistemática de alimentos, geralmente revelando
negativismo profundo
• Obediência automática. É o oposto ao negativismo. Nesse caso, o indivíduo
obedece automaticamente, como um robô teleguiado, às solicitações de
pessoas que entrem em contato com ele.
19. Alterações voliticas típicas da
esquizofrenia
• Fenômenos em eco (ecopraxia, ecolalia,
ecomimia, ecografia). Neste caso, o indivíduo
repete de forma automática, durante a entrevista,
os últimos atos do entrevistador, suas palavras
ou sílabas, reações mímicas ou escrita.
• Os fenômenos em eco revelam acentuada perda
do controle da atividade voluntária e sua
substituição por atos automáticos, sugeridos pelo
ambiente circundante.
21. Definições
• Integração das funções motoras e
psíquicas em consequência da
maturidade do sistema nervoso.
• Assim como o ato motor é o componente
final do ato volitivo, as alterações da
psicomotricidade frequentemente são a
expressão final de alterações de volição
22. Alterações da psicomotricidade
• Agitação psicomotora: Aceleração e exaltação de toda a atividade motora do indivíduo, em geral secundária a
taquipsiquismo acentuado. Comumente se associa à hostilidade e à heteroagressividade. É um sinal psicopatológico muito
frequente, sendo visto todos os dias nos serviços de emergência e internação.
– Associado a quadros maníacos, episódios esquizofrênicos agudos, quadros psico-orgânicos agudos (p.ex intoxicação por substâncias
químicas, síndromes de abstinência, traumas cranioencefálicos,encefalopatias metabólicas,etc.), quadros paranóides em transtornos do
neurodesenvolvimento e em indivíduos com transtorno neurocognitivo maior.
• Lentificação psicomotora: Reflete a desaceleração de toda a atividade psíquica (bradipsiquismo), tendo toda a atividade
de movimentação voluntária lentificada,”pesada”, o que se denomina classicamente de inibição psicomotora.
23. Alterações da psicomotricidade
• Estupor. Perda de toda a atividade espontânea que atinge o indivíduo
globalmente, na vigência de um nível de consciência aparentemente preservado
e de capacidade sensório-motora para reagir ao ambiente. Envolve toda a
atividade voluntária, incluindo a comunicação não-verbal, verbal, mímica, olhar,
gesticulação e marcha. Em geral, o indivíduo fica restrito ao
leito,acordado,porém sem reagir de modo algum ao ambiente.
• Catalepsia. Acentuação exagerada do tônus postural, com grande redução da
mobilidade passiva dos vários segmentos corporais e com hipertonia muscular
global de tipo plástico.
• Flexibilidade cerácea. O indivíduo, ou uma parte de seu corpo (braço, perna,
cabeça), é colocada em uma posição, mesmo muito desconfortável,
permanecendo nessa posição como se fosse um homem de cera.
24. Alterações da psicomotricidade
• Cataplexia. Perda abrupta do tônus muscular,geralmente
acompanhada de queda ao chão.
• Estereotipias motoras. Repetições automáticas e uniformes de
determinado ato motor complexo, indicando geralmente marcante
perda do controle voluntário sobre a esfera motora. O paciente repete
o mesmo gesto com as mãos dezenas ou centenas de vezes em um
mesmo dia.
• Maneirismo. É um tipo de estereotipia motora caracterizada por
movimentos bizarros e repetitivos, geralmente complexos, que buscam
certo objetivo, mesmo que esdrúxulo. A harmonia do conjunto de
gestos do indivíduo é substituída por posturas e movimentos
estranhos, exagerados, afetados ou bizarros.
25. Alterações da psicomotricidade
• Tiques. Atos coordenados, repetitivos, resultantes de contrações súbitas,
breves e intermitentes,envolvendo geralmente um grupo de músculos que atua
em suas relações sinérgicas normais. Acentuam-se muito com a ansiedade.
• Conversão. Surgimento abrupto de sintomas físicos (paralisias, cegueira,
anestesias, parestesias, etc.), de origem psicogênica. A conversão motora
(paralisias, contraturas conversivas, ataxias psicogênicas, etc.) ocorre
geralmente em situação estressante, de ameaça ou conflito intrapsíquico ou
interpessoal significativos para o indivíduo.
27. Semiotécnica da volição e da
psicomotricidade
• O paciente vem à consulta por iniciativa
própria ou é trazido por alguém?
• A atitude geral do paciente é passiva ou
ativa? Colabora com o entrevistador, é
indiferente ou se opõe a ele?
• Como são os seus movimentos espontâneos?
Seus gestos são lentos e “difíceis” ou rápidos
e “fáceis”?
• Anda de um lado para outro? Esfrega as
mãos? Mexe as pernas inquietamente?
• Como é sua mímica de repouso?
• O tom da voz é alto, baixo ou estridente?
• Fala espontaneamente ou apenas quando
solicitado?
• Mostra-se hostil, contrariado, agressivo?
Parece ter dificuldades em controlar seus
impulsos?
• O paciente parece estar pronto a explodir
a qualquer momento?
• Faz movimentos inadequados? Faz
movimentos ou gestos bizarros?
• O paciente parece ter dificuldade em
controlar suas emoções?
28. Semiotécnica da volição e da
psicomotricidade
• Pragmatismo: O que você tem feito nos últimos dias e semanas? Tem sido capaz de
trabalhar ou estudar no último mês? O que você tem sido capaz de fazer? Tem
dificuldade em terminar o que começa? O que faz para se divertir?
• Impulsividade (perguntar ao paciente mas, sobretudo, aos acompanhantes): Ele
(você) responde sem pensar? Interrompe com frequência os outros? Não consegue
esperar a sua vez? Tem pavio curto, é explosivo? Descreva suas explosões.
• Julgamento e sentimento moral: Se você encontrasse um envelope endereçado e
selado em uma calçada, o que faria? Se encontrasse uma carteira com dinheiro e uma
carteira de identidade em uma calçada, o que faria?
30. Definições
• O pensamento se constitui a partir de elementos sensoriais, que, embora não sejam
propriamente intelectivos, podem fornecer substrato para o processo do pensar: são as
imagens perceptivas e as representações.
• O conceito não apresenta elementos de sensorialidade, não sendo possível contemplá-lo,
nem imaginá-lo. Trata-se de um elemento puramente cognitivo, intelectivo.
– O conceito é o elemento estrutural básico do pensamento, nele se exprimem os caracteres essenciais
dos objetos e fenômenos da natureza.
• O juízo consiste, a princípio, na afirmação de uma relação entre dois conceitos.
– O juízo tem por função básica formular uma relação unívoca entre um sujeito e um predicado.
– Na dimensão linguística, os conceitos se expressam geralmente por palavras; e os juízos, por frases ou
proposições.
• O processo do raciocínio representa um modo especial de ligação entre conceitos, de
sequência de juízos, de encadeamento de conhecimentos, derivando sempre uns dos outros
31. O processo do pensar
• O curso do pensamento é o modo como o
pensamento flui, a sua velocidade e seu ritmo ao longo
do tempo.
• A forma do pensamento é a sua estrutura básica, sua
“arquitetura”, preenchida pelos mais diversos conteúdos
e interesses do indivíduo.
• O conteúdo do pensamento pode ser definido como
aquilo que dá substância ao pensamento, os seus
temas predominantes, o assunto em si.
32. Alterações dos conceitos
• Desintegração dos conceitos. Ocorre quando os conceitos sofrem
um processo de perda de seu significado original. Os conceitos se
desfazem, e uma mesma palavra passa a ter significados cada vez
mais diversos, por vezes idiossincráticos (Paim, 1986).
• Condensação dos conceitos. Ocorre quando dois ou mais
conceitos são fundidos, o paciente involuntariamente condensa duas
ou mais idéias em um único conceito, que se expressa por uma
nova palavra.
33. Alterações dos juízos
• Juízo deficiente ou prejudicado. É um tipo de
juízo falso que se estabelece porque a elaboração
dos juízos é prejudicada por deficiência intelectual
e pobreza cognitiva do indivíduo.
– Conceitos são inconsistentes; e o raciocínio, pobre e
defeituoso. Os juízos são por demais simplistas,
concretos e sujeitos à influência do meio social
• Delírio
34. Alterações do raciocínio
e do estilo de pensar
• O tipo e o estilo de pensamento comum de
um indivíduo não acometido por doença
mental são apenas precariamente lógicos.
Isso faz com que seja difícil discriminar
entre pensamento normal e pensamento
patológico.
• Ainda assim, alguns padrões emergem da
observação da psicopatologia.
35. Alterações do raciocínio
e do estilo de pensar
• Pensamento mágico. É o tipo de pensamento que fere frontalmente os princípios da
lógica formal, bem como os indicativos e imperativos da realidade.
– Contiguidade e similaridade
• Pensamento dereístico. Só obedece à lógica e à realidade naquilo que interessa ao
desejo do indivíduo, distorcendo a realidade para que esta se adapte aos seus anseios.
– O pensar volta-se muito mais ao mundo interno do sujeito, suas fantasias e seus sonhos,
manifestando-se como um devaneio, no qual tudo é possível e favorável ao indivíduo
• Pensamento inibido. Ocorre a inibição do raciocínio, com diminuição da velocidade e do
número de conceitos, juízos e representações utilizados no processo de pensar
• Pensamento vago. Relações conceituais, formação dos juízos e a concatenação destes
caracterizadas pela imprecisão
– Pode ser um sinal inicial da esquizofrenia ou ocorrer em quadros demenciais iniciais, transtornos da
personalidade (p. ex., esquizotípica) e neuroses graves
36. Alterações do raciocínio
e do estilo de pensar
• Pensamento prolixo. O paciente não consegue chegar a
qualquer conclusão sobre o tema de que está tratando,
senão após muito tempo e esforço.
• Pensamento oligofrênico (deficitário). Estrutura pobre e
rudimentar. O indivíduo tende ao raciocínio concreto; os
conceitos são escassos e utilizados em sentido mais literal
que abstrato ou metafórico. A abstração apenas ocorre
com dificuldade, sem consistência ou grande alcance.
37. Alterações do raciocínio
e do estilo de pensar
• Desorganização do pensamento
– Pensamento demencial. Semelhante ao oligofrênico, mas o
empobrecimento é desigual
– Pensamento confusional. Pensamento incoerente, tortuoso, devido à
turvação da consciência.
– Pensamento desagregado. Pensamento radicalmente incoerente, no
qual os conceitos e os juízos não se articulam minimamente de forma
lógica. A linguagem correspondente é o que se denomina “salada de
palavras”.
• Pensamento obsessivo. Predominam ideias ou representações
que, apesar de terem um conteúdo absurdo ou repulsivo ao
indivíduo, se impõem à consciência de modo persistente e
incontrolável
38. Alterações do processo do pensar:
Curso
• Aceleração do pensamento
• Lentificação do pensamento
• Bloqueio ou interceptação do pensamento. Verifica-se quando o
paciente, ao relatar algo, no meio de uma conversa, brusca e
repentinamente interrompe seu pensamento, sem qualquer motivo
aparente. O doente relata que, sem saber por que, “o pensamento
pára”, é bloqueado.
• Roubo do pensamento. É uma vivência, frequentemente associada ao
bloqueio do pensamento, na qual o indivíduo tem a nítida sensação de
que seu pensamento foi roubado de sua mente, por uma força ou ente
estranho
39. Alterações do processo do pensar:
Forma
• Fuga de ideias. É uma alteração da estrutura do pensamento secundária à acentuada aceleração do
pensamento, na qual uma ideia se segue a outra de forma extremamente rápida, perturbando-se as
associações lógicas entre os juízos e os conceitos
– Assonâncias, associação com estímulos externos contingentes
• Dissociação do pensamento. Os pensamentos passam progressivamente a não seguir uma sequência
lógica e bem-organizada, e os juízos não se articulam de forma coerente uns com os outros.
• Afrouxamento das associações. As associações parecem mais livres, não tão bem-articuladas.
• Descarrilhamento do pensamento. O pensamento passa a extraviar-se de seu curso normal, toma
atalhos colaterais, des vios, pensamentos supérfluos, retornando aqui e acolá ao seu curso original.
• Desagregação do pensamento. Profunda e radical perda dos enlaces associativos, total perda da
coerência do pensamento. Sobram apenas “pedaços” de pensamentos, conceitos e idéias fragmentadas
40. Alterações do processo do pensar:
Conteúdo
• Temas principais:
1. Persecutórios
2. Depreciativos
3. Religiosos
4. Sexuais
5. De poder, riqueza, prestígio, ou grandeza
6. De ruína ou culpa
7. Conteúdos hipocondríacos
41. Semiotécnica do pensamento
• Verificar a capacidade de abstração e de generalização e o grau de
sofisticação das respostas:
– Que diferença há entre a mão e o pé? Entre o boi e o cavalo? Entre a água e
o gelo? E entre o cristal e a madeira?
– Entre um quilo de chumbo e um quilo de palha, o que pesa mais? Que
diferença há entre falar uma coisa errada e dizer uma mentira? E entre a
admiração e a inveja? E entre ser uma pessoa econômica e ser uma pessoa
mesquinha, um “pão-duro”?
– Que semelhanças há entre o carro, o trem e o avião?
• Resposta precária e concreta: “São coisas.”
• Resposta correta, mas ainda concreta: “Servem para a gente andar.”
• Resposta com bom nível de generalização: “São veículos ou meios de transporte.”
42. Semiotécnica do pensamento
• Ao longo da entrevista, verificar:
– Como flui o pensamento do paciente; seu curso (velocidade, ritmo), forma e
conteúdos. O pensamento é lento e difícil ou rápido e fácil? O raciocínio alcança o
seu objetivo, chega a um ponto final, ou fica “orbitando” em temas secundários?
– A forma e o tipo de pensamento. O pensamento é coerente e bem-compreensível?
Ou é vago, com trechos incompreensíveis? O pensamento é predominantemente
incompreensível, muito incoerente? Há associações por assonância? Há fuga de
idéias? É concreto ou revela capacidade de abstração e uso de símbolos e
categorias de generalização? O pensamento respeita a realidade ou segue os
desígnios dos desejos e temores do paciente?
43. Semiotécnica do pensamento
• Se há pensamento desorganizado:
– tal desorganização é do tipo confusional (alteração da consciência),
demencial (alteração da cognição) ou deficitária (pobreza homogênea)?
• Estão presentes alterações características da esquizofrenia
(afrouxamento, descarrilhamento, desagregação)?
• Há idéias ou pensamentos do tipo obsessivo?
• Quais os conteúdos mais recorrentes e marcantes no discurso do
paciente?