Bacucu

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Como ler uma infocaixa de taxonomiaBacucu[1][2]
Mytella guyanensis
Valvas separadas de uma concha de M. guyanensis, sem o animal, em vista superior (esquerda) e inferior (direita); espécime coletado em Curaçau, Pequenas Antilhas, sul do mar do Caribe, e pertencente à coleção do Museu de História Natural de Leiden.
Valvas separadas de uma concha de M. guyanensis, sem o animal, em vista superior (esquerda) e inferior (direita); espécime coletado em Curaçau, Pequenas Antilhas, sul do mar do Caribe, e pertencente à coleção do Museu de História Natural de Leiden.
Estado de conservação
Espécie pouco preocupante
Pouco preocupante
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Mollusca
Classe: Bivalvia
Subclasse: Autobranchia
Ordem: Mytilida
Superfamília: Mytiloidea
Família: Mytilidae[3]
Género: Mytella
Soot-Ryen, 1955[3]
Espécie: M. guyanensis
Nome binomial
Mytella guyanensis
(Lamarck, 1819)[3]
Sinónimos
Mytilus bicolor Bruguière, 1792
Mytella bicolor (Bruguière, 1792)
Modiola guyanensis Lamarck, 1819
Modiola brasiliensis var. mutabilis Carpenter, 1857
Modiola subfuscata Clessin, 1887
(WoRMS)[3]

O bacucu é uma espécie de mexilhão; um molusco bivalve marinho, costeiro e estuarino[4], da família Mytilidae, cientificamente denominado Mytella guyanensis (anteriormente denominado Mytilus bicolor por Jean Guillaume Bruguière, em 1792, embora este nome tenha sido invalidado pelo Código Internacional de Nomenclatura Zoológica)[1][3][5]; popularmente nomeado, em inglês, Guiana swamp mussel.[6] A espécie foi classificada por Jean-Baptiste de Lamarck e originalmente denominada Modiola guyanensis, em 1819, na obra Histoire naturelle des animaux sans vertèbres. Tome 6(1): vi.[3] No litoral brasileiro também recebe a denominação popular sururu, segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa[7] e o livro Moluscos Brasileiros de Interesse Médico e Econômico[4], embora tal nome esteja mais aplicado ao seu congênere Mytella strigata (Hanley, 1843).[1][2][8] No Paraná, Região Sul do Brasil, também é conhecido como marisco-da-lama.[2] O bacucu vive agregado na região entremarés através de filamentos escuros que prendem esses animais às rochas (bisso)[6][9][10], em parte recobertos pela areia lodosa, tratando-se de espécie comestível e encontrável em sambaquis da costa brasileira, podendo também ser utilizada no artesanato.[4][5][10]

O bacucu de Eurico Santos[editar | editar código-fonte]

Em seu livro Moluscos do Brasil, o zoólogo Eurico Santos indica as espécies Mytella brasiliensis (Gray, 1825)[11] e Modiolus americanus (Leach, 1815), por ele denominado Modiolus tulipa[12], afirmando que a primeira espécie é "o mesmo marisco que no Recôncavo baiano é chamado sururu"; acrescentando que "a primeira vive enterrada na lama dos fundos das baías e lagoas de água salobra e a segunda prefere as praias batidas pelo mar forte", e que "bem ia se para a primeira mantivéssemos o nome de sururu baiano e se deixasse bacucu para M. tulipa, mas em matéria de nomes vulgares o povo é soberano".[13] O Dicionário Aurélio também chama bacucu às duas espécies supracitadas, ainda afirmando que tal denominação é de possível origem tupi.[14] Inclusive, a espécie Mytella guyanensis já fora considerada uma variedade de Mytella brasiliensis, chamada Modiola brasiliensis var. mutabilis Carpenter, 1857.[3]

Descrição da concha[editar | editar código-fonte]

Mytella guyanensis possui uma concha alongada e de valvas similares, em forma de cunha (segundo Rodolpho von Ihering, "de forma um tanto oval, alargadas na parte posterior e por isto, às vezes, de configuração quase triangular"), com até 8 centímetros de comprimento; dotada de um fino perióstraco e com linhas de crescimento aparentes; com uma carena dividindo a valva numa região anterior brilhante e noutra posterior opaca, de coloração variando entre o verde-escuro, o amarelo e o marrom (Rios cita cor verde brilhante acima da quilha e castanho-amarelada nas partes ventral e anterior-umbonal). O interior é de coloração azul-esverdeada, nacarado.[1][2][4][5][10][15][16][17]

Distribuição geográfica e habitat[editar | editar código-fonte]

A distribuição geográfica da espécie se estende da Venezuela à Santa Catarina, Região Sul do Brasil, no oceano Atlântico, e do México ao Peru, no oceano Pacífico; podendo ser encontrada em bosques de manguezais, enterrados, preferencialmente, no sedimento argiloso-lodoso da região entremarés.[1][15] Citando KLAPPENBACH (1965), Alexandre Valente Boffi chega a afirmar que "podem enterrar-se no substrato até uma profundidade de 20 centímetros".[4]

Conservação[editar | editar código-fonte]

Embora seja uma espécie comum no século XX[6], em 2018 a Mytella guyanensis foi colocada no Livro Vermelho do ICMBio; considerada uma espécie pouco preocupante (LC), com a conclusão desta avaliação feita em 2012.[18]

Referências

  1. a b c d e RIOS, Eliézer (1994). Seashells of Brazil (em inglês) 2ª ed. Rio Grande, RS. Brazil: FURG. p. 236. 492 páginas. ISBN 85-85042-36-2 
  2. a b c d ABSHER, Theresinha Monteiro; FERREIRA JUNIOR, Augusto Luiz; CHRISTO, Susete Wambier (2015). Conchas de Moluscos Marinhos do Paraná (PDF). Curitiba - PR: Museu de Ciências Naturais - MCN - SCB - UFPR. p. 10. 20 páginas. ISBN 978-85-66631-18-0. Consultado em 3 de outubro de 2021 
  3. a b c d e f g «Mytella guyanensis (Lamarck, 1819)» (em inglês). World Register of Marine Species. 1 páginas. Consultado em 3 de outubro de 2021 
  4. a b c d e BOFFI, Alexandre Valente (1979). Moluscos Brasileiros de Interesse Médico e Econômico. São Paulo: FAPESP - Hucitec. p. 50. 182 páginas 
  5. a b c IHERING, Rodolpho von (1968). Dicionario dos Animais do Brasil. São Paulo: Editora Universidade de Brasília. p. 120. 790 páginas 
  6. a b c ABBOTT, R. Tucker; DANCE, S. Peter (1982). Compendium of Seashells. A color Guide to More than 4.200 of the World's Marine Shells (em inglês). New York: E. P. Dutton. p. 298. 412 páginas. ISBN 0-525-93269-0 
  7. HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles; FRANCO, Francisco Manoel de Mello (2001). Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa 1ª ed. Rio de Janeiro: Objetiva. p. 373. 2922 páginas. ISBN 85-7302-383-X 
  8. «Mytella strigata (Hanley, 1843)» (em inglês). World Register of Marine Species. 1 páginas. Consultado em 3 de outubro de 2021 
  9. ROSA, Carlos Nobre (1973). Os Animais de Nossas Praias 2 ed. São Paulo: Edart. p. 126-128. 192 páginas 
  10. a b c SOUZA, Rosa Cristina Corrêa Luz de; LIMA, Tania Andrade; SILVA, Edson Pereira da (2011). Conchas Marinhas de Sambaquis do Brasil 1ª ed. Rio de Janeiro, Brasil: Technical Books. p. 78. 252 páginas. ISBN 978-85-61368-20-3 
  11. «Mytella brasiliensis (Gray, 1825)» (em inglês). World Register of Marine Species. 1 páginas. Consultado em 3 de outubro de 2021 
  12. «Modiolus americanus (Leach, 1815)» (em inglês). World Register of Marine Species. 1 páginas. Consultado em 3 de outubro de 2021 
  13. SANTOS, Eurico (1982). Zoologia Brasílica, vol. 7. Moluscos do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia. p. 36-37. 144 páginas 
  14. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda (1986). Novo Dicionário da Língua Portuguesa 2ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. p. 216. 1838 páginas 
  15. a b Palmeira, Karoline Ribeiro; Calixto, Flávia Aline; Keller, Luiz Antonio; Mesquita, Eliana de Fátima Marques (2016). «O sururu como produto de subsistência e renda da população ribeirinha, Brasil - Revisão de Literatura». Revista Semioses, v 10, n.03 (ResearchGate). p. 51-52. Consultado em 3 de outubro de 2021 
  16. «Mytella guayanensis (Lamarck, 1819)». Conquiliologistas do Brasil: CdB. 1 páginas. Consultado em 3 de outubro de 2021 
  17. Pei-Jan Wang (9 de agosto de 2007). «Mytella guyanensis (Lamarck, 1819)» (em chinês). Flickr. 1 páginas. Consultado em 3 de outubro de 2021. Mytella guyanensis (Lamarck, 1819)-(Ecuador) 
  18. ICMBio (2018). Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção: Volume I (PDF). Brasília, DF: ICMBio/MMA. p. 462. 492 páginas. ISBN 978-85-61842-79-6. Consultado em 3 outubro de 2021