Topo

Regina Navarro Lins

A dor de ser trocado (a) por outro (a)

Regina Navarro Lins

16/06/2015 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

 

Comentando a Pergunta da Semana

A maioria das pessoas que responderam à enquete diz já ter sido trocado (a) por outro (a) numa relação amorosa.

Geralmente, a separação inicia seu processo lentamente, na maior parte das vezes de forma inconsciente. A relação vai se desgastando e a vida cotidiana do casal deixa de proporcionar prazer. Não são raras as tentativas de desmentir o que se está sentindo, principalmente, pelas expectativas de realização afetiva depositadas na relação.

Entretanto, quando o parceiro prefere outra pessoa para viver ao seu lado, quem é excluído se sente profundamente desvalorizado, com a autoestima bastante comprometida. Acredita que falhou em alguma coisa e que sua falta de atrativos foi a grande responsável.

Essa situação não é nada fácil. Quando alguém é trocado por outro numa relação amorosa, o sofrimento é intenso e é difícil elaborar essa perda. A falta da pessoa amada provoca uma sensação de vazio e desamparo.

Quem vive uma situação de abandono diz se sentir completamente só com seu desespero. Afirma não haver palavras que amenizem a dor, porque o desespero da perda faz com que a pessoa se feche em si mesmo e é difícil que alguém possa lhe ajudar. Todo discurso racional, de conforto e de consolo, é ineficaz.

Afinal, fomos ensinados a acreditar que apenas o parceiro amoroso é capaz de nos garantir não estar só, de ser amado e de ser uma pessoa importante, aumentando nossa autoestima.

A seguir, alguns depoimentos que colhi de pessoas que viveram essa situação:

"Foi horrível. Primeiro, ela disse que queria um tempo pra pensar e duas horas depois, numa festa, já estava com outro. Eu me senti tão inútil …"

"Fui trocada várias vezes. Meu ex foi trabalhar em outro país e vinha de férias a cada dois meses. Após um ano nessa situação ele se casou por lá mesmo… não voltou. Meu atual caso, nesses três anos que estamos juntos, sempre tem uma namoradinha, coisa que dura uns dois meses no máximo e ele termina voltando. Ou seja, já virou uma doença … sou trocada de tempo em tempo."

"Perdi minha esposa para um moleque. Descobri que tinha ficado velho e ranzinza aos 35 anos. Recuperei minha autoestima, voltei a ser aquele "safado e bom fdp". Após virar amante de minha ex, "roubei-a" de volta."

"Foi terrível. Descobri, pelo celular, que meu marido me traía. Disquei e uma voz feminina atendeu: "Fala Amor!" Caí do cavalo… Mandei ele embora, mas ele nunca foi; ainda está comigo. Não me sinto vitoriosa… Não esqueço da frase dela ao atender o telefone".

"Fui trocado por um amigo distante. Fui viajar e a minha namorada encontrou esse meu amigo. Começaram a conversar e quando se deram conta já estavam transando. Como eu soube? Certo dia encontrei esse meu amigo e trocamos telefone. Numa bela noite ele me liga e me diz que havia transado com uma pessoa. Curioso, comecei a interrogá-lo e as peças foram se encaixando. Até que percebi que a pessoa com quem ele havia transado era a minha namorada. Fiquei muito chateado e decepcionado; passei a não acreditar nas pessoas. Abalado e deprimido, chorei muito. Afinal, aquela foi a pessoa por quem dediquei a maior parte da minha vida."

Em muitos casos, imagina-se que a pessoa escolhida é muito mais interessante, mais bonita, mais inteligente e melhor na cama. Tentando se sentir um pouco melhor, há quem tente desvalorizar o rival com comentários depreciativos, com se adiantasse alguma coisa: " Você viu como ela tem a canela fina?" ou "O cara é um idiota que não sabe nem falar direito."

Mas nada disso adianta. É comum numa situação de rejeição serem reeditadas inconscientemente todas as rejeições sofridas desde a infância, exacerbando a dor do momento. Sem que se perceba, se chora naquela perda todas as outras anteriores.

Se a pessoa não depende tanto de apreciações externas para alimentar sua autoestima, pode ficar triste, sofre pela perda, mas sabe que vai continuar vivendo bem e experimentar novas relações amorosas.

Os homens suportam menos do que as mulheres a dor de se saber trocado por outro. Não ter conseguido segurar a própria mulher se reveste da dramática ideia de que não foi "macho" o suficiente, principalmente na cama. Muitos homens, desesperados, partem para agressões físicas ou entram em depressão.

Contudo, ser trocado por outro não significa que se é inferior. Em muitos casos, a troca ocorre porque a pessoa objeto da nova paixão possui algum aspecto que satisfaz inconscientemente uma exigência momentânea do outro, sem haver uma vinculação necessária com o parceiro rejeitado.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

Blog Regina Navarro