Amar é... aguentar o amigo alheio

por Lia Bock

É uma pena que o ser amado venha acompanhado de alguns outros seres não tão amados assim

   É uma pena que, muitas vezes, o ser amado venha acompanhado de alguns outros seres não tão amados assim. Sempre tem aquele amigo de infância que já não tem nada a ver, mas há um carinho, uma ligação ancestral inexplicável... Aquele cara que fala pra caramba e só solta frases clichês sobre assuntos desinteressantes... O melhor é beber pra no dia seguinte não lembrar de muita coisa.
  O ser amado muita vezes vem acoplado também a um primo reacionário, que sob o efeito potencializado do whisky passa horas discorrendo sobre por que o bom momento do país não é verdadeiramente bom. Esse, geralmente, fica a conversa toda segurando no seu ombro pra evitar que você fuja ou saia de fininho fingindo procurar o garçom. Haja amor pra aguentar.
  E as amigas que ignoram solenemente a sua presença e passam a festa (churrasco ou casamento) fingindo que o seu par está só? Pega daqui, gargalha dali, fala não-sei-o-quê no ouvido. E se você esboça uma nesga de ciúme ainda é obrigada a ouvir algo do tipo “ciúme da Mari não vale!”. Oi? Onde estava essa cláusula que eu não vi?
  E sempre chega aquele dia em que você é obrigada a aguentar a mulher do “Marquinho”. Aquela que só fala de cirurgia plástica, lifting, bronzeamento marroquino e, pra piorar, não bebe, não fuma e não come fritura. Nesse caso, nem o álcool salva. O negócio é fingir que a conversa está muito interessante e ficar fazendo mentalmente a lista do supermercado! Ou melhor, cair doente no dia e, infelizmente, não poder acompanhá-los.
  E ainda tem a pior de todas as espécies de amigo alheio, aquela que nitidamente não gosta de você e não faz o menor esforço para registrar uma única frase do que você diz. Aquela que te acha insuportável e fica fazendo a lista do supermercado mentalmente enquanto você conta como foi o réveillon.

 

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