ANTES E DEPOIS DO “SIM”

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PREFÁCIO

Amado leitor…

Sobretudo, você, amada leitora, noiva naturalmente tensa para que o seu casamento seja, desde a escolha do parceiro, passando pela cerimônia até o dia a dia a dois, exatamente aquilo que sempre sonhou. Você, esposa, que entende que essa mesma vida a dois é o desvendamento de um mistério mais que sagrado, onde sentimentos são construídos e alicerces devem ser cuidadosamente preservados a cada instante… Uma ótima leitura! Aliás, uma ótima companhia. Sim, pois o que você tem em mãos não é somente um livro, mais um companheiro leal com informações e caminhos precisos para que o seu casamento ganhe cada vez mais sentido. Nas próximas páginas, você irá apreciar uma valiosíssima pedra de quartzo rosa, delicadamente lapidada e multifacetada pelas mãos mais que capazes, ou melhor, pelo coração e pela mente de uma das raras referências do cenário cristão anglicano nacional. No vasto jardim de “possibilidades religiosas” que o Brasil nos oferece, nos assusta perceber que a tradição anglicana, predominante não só nas Ilhas Britânicas, mas também na América do Norte, África e Oceania, tem na imensa terra brasilis uma baixíssima adesão, apesar de ser a segunda igreja aqui oficialmente estabelecida, depois da Católica Romana. No entanto, o Criador nos oferece a dádiva de contemplarmos os botões da mais bela flor quando um SACERDOTE DE ALMA como o Padre Jorge Aquino nos agracia com obras como essa. De alguns anos para cá, a tradição anglicana tem sido reconhecida no nosso país pela sua forte atuação junto aos casamentos, seja de anônimos ou famosos, onde tendências e tradições tornam-se acessíveis a todo o gênero de casais. No entanto, as maravilhas do “porque, para que e como”, que o casamento anglicano pode (e deve) oferecer, nenhum sacerdote ou pensador anterior ousou explicar, permitindo que o ministério de anunciar o amor transcorresse os caminhos da clandestinidade, onde o sacerdote limitasse drasticamente o seu papel, o que é nocivo para o próprio sacerdote, mas também para os casais… E, no entanto, o Reverendo Padre Jorge, notável pela sua vivência de mais de duas décadas enquanto sacerdote, formador, juiz de paz e todos os demais atributos que o consagram como um dos mais prestigiados wedding officiants do paradisíaco norte/nordeste brasileiro, tomou para si tal responsabilidade e oferece agora, nesse instante para você, uma obra que na verdade é uma assessora de casamento, uma cerimonialista (aliás, aconselho essa leitura inclusive as profissionais do mundo wedding), uma terapeuta de casais, e porque não uma orientadora espiritual ornada com páginas, na forma de um livro! Isso mesmo… Não espere por um tratado monossilábico sobre a teologia (ou a catequese) acerca das condições “eclesiásticas” para um casamento; não espere por ensaios complexos, onde personalidades da dogmática laceiam o antigo testamento, com o novo, recheado com paráfrases que o cidadão “desembatinado” não iria compreender; não espere tampouco por bordões canonizados onde palavras como “não pode”, “inferno” ou “pecado” tiranizam o consciente e despertam a cadência em que muitas vezes a Igreja Cristã como um todo se encontra, pelo contraponto dos novos tempos com o atrofiamento que muitas doutrinas vis continuam a manter. Apesar de sua grande competência acadêmica e teológica, Padre Jorge Aquino decidiu traduzir esse ponto de equilíbrio que o anglicanismo representa para o mundo (não só dentro da cristandade), nivelando a intensidade de cada tema abordado, num ritmo de “passo a passo”, com aquela profundidade soprada ao pé do ouvido, “lado a lado”, como só um mestre/pai saberia fazer…

Nas páginas, ou melhor, nas multifaces a seguir deste precioso quartzo rosa, você aprenderá desde como escolher o celebrante do seu casamento, ou como proceder junto ao cartório mais próximo para realizar a sua cerimônia nas conformidades da lei civil vigente, enquanto entenderá o porquê civilizações inteiras foram rechaçadas, quando a família deixou de ter importância em suas sociedades, com pitadas mais que adocicadas que as mais diversas áreas do conhecimento humano, tais como a filosofia, o direito, a psicologia e a própria teologia tendem a oferecer quando o assunto é casamento. A partir de agora, você tomará as rédeas para que o seu matrimônio seja realmente uma benção em todos os sentidos, tenha você já se casado ou não… Afinal, poderíamos sintetizar essa preciosidade que você tem em mãos, de autoria do Reverendo Padre Jorge, numa única expressão: “Que um casamento bem celebrado, é um casamento abençoado… E um casamento abençoado, é um casamento realizado!”.

Que Deus te acompanhe nessa leitura… E no seu casamento.

Rev. Pe. Lucas Oliva Bertolozzi+

 

À GUISA DE PROLEGÔMANA

Se você acredita que este livro é igual aos demais porque foi escrito por alguém que jamais teve dificuldades e nunca enfrentou a queda e o fracasso em um casamento, você está enganado.

O ilustre pensador Terêncio já afirmava: “Eu sou homem; e tudo o que é humano me é peculiar”. Este livro é um livro sobre casamento, sobre relacionamento e foi escrito dentro de duas perspectivas bem distintas. A primeira delas é que o autor conhece muito bem o que significa o conflito conjugal, as inúmeras crises que podem advir de uma mente não preparada para enfrentar as dificuldades inerentes à vida à dois e que conhece, também, o fracasso de um casamento com todas as dores e sofrimentos que nenhum dos leitores que não passaram por isso, sequer podem imaginar. Sim, eu conheci o fracasso, a queda, o fundo do poço, a decepção e toda a agonia e consequências resultante desta realidade.

Mas há uma segunda experiência que jamais poderia esquecer ou esconder de meus leitores. Tal como o rei Davi, depois de sentir que seus ossos pareciam estar secando dentro de si, também encontrei na misericórdia e na graça do Senhor – que superabunda onde abunda o pecado – a maravilhosa paz trazida por Jesus. Ah que graça maravilhosa! É a graça que nos faz novas criaturas, que joga nossos erros no mar do esquecimento, que impede que o diabo ou nossa consciência nos acuse de qualquer coisa, que nos recobre com novas vestes salpicadas de sangue e que faz com que lágrimas de alegria e gozo venham aos meus olhos todas as vezes que penso no que foi minha vida.

Sim, tenho consciência de que meus pensamentos, palavras, obras e omissões, ainda hoje produzem consequências reais e concretas sobre as pessoas que feri e decepcionei. Mas oro para que a mesma graça que me pôs de pé outra vez, possa, quem sabe um dia, fazer esta mágoa ou decepção ser substituída pelo perdão. Mas essa obra não é minha.

O que você vai ler neste livro é, na realidade, o resultado do que passei a estudar e a refletir sobre mim mesmo, minhas carências, deficiências e sobre minha experiência, com a finalidade não apenas de aprender e de crescer nesse assunto, mas também para que os textos escritos aqui pudessem, de alguma forma impedir que você passe pelo que eu passei. Por isso, tenho esperança. Assim como aprendemos com os erros de Abraão, de Moisés e com os de Davi, eu espero que você possa aprender algo com as conclusões de quem hoje é uma outra pessoa. Ambígua, sim; pecadora, sim; mas absolutamente e com toda a força da minha alma, consciente do amor de Deus por mim e de, mesmo sem saber a razão, chamado por Ele para trazer essas informações e sugestões até você. Portanto, se você chegou a ler até aqui, já deve ter percebido que não está diante de um anjo, mas de alguém de carne e osso, que deseja que toda a glória seja dada a Deus. O passado passou. E Deus me presenteou com alguém especial a quem dediquei e dedico meus dias, para quem retorno no fim do dia e quem me acolhe com seus braços e seus abraços. Sim. Ela me mostrou que se não podemos mudar o passado, temos o dever de fazer o melhor possível com nosso futuro. A ela, Mônica, dedico mais estas palavras.

Reverendo Jorge Aquino

APRESENTAÇÃO

Normalmente era meu marido quem escrevia os textos para o facebook, à época em que estes artigos foram escritos. Mas hoje, depois de uma ligação que eu fiz, resolvi eu própria escrever algumas linhas sobre ele e usá-las como apresentação destes textos.

Jorge é meu parceiro de todas as horas; meu confidente; meu companheiro, meu calmante natural que com suas mãos acarinhando meu corpo consegue me fazer relaxar e dormir em paz. E eu rogo ao Senhor que ele não morra antes de mim porque ele é meu tudo e quem me suporta e acalenta.

Jorge é com quem eu converso sobre tudo. Foi quem me ensinou sobre Foucault, Nietzsche, Derrida, Heidegger, Hanna Arendt. Foi com ele que eu conheci até partes do Al Corão. Tudo isso para dizer que ele é um homem inteligente, culto, mas que me ensinou, acima de tudo, a ter mais paciência e domínio do que sai de minha boca.

Com ele eu vi que não estou errada em cuidar das pessoas e estou certa no que faço mesmo que fuja dos parâmetros estabelecidos. Foi ele quem fortaleceu minha tendência de assumir posições e posturas.

Foi com ele que eu aprendi mais sobre música clássica, embora tenha demonstrado que já era admiradora de Beethoven quando ele me tentou fazer uma “pegadinha” trocando a sexta pela nona, dizendo que a sexta era a última sinfonia deste autor. Foi ótimo saber o quanto ele também gostava de Verdi, jaez e bossa nova. Mas adorei mesmo foi quando, falando sobre “vento no litoral”, descobri que ele tinha toda a coleção de Renato Russo.

Amo meu marido porque descobri que ele também gosta de doce de leite, raspadinha, picolé de coco, cupuaçu e que odeia açaí. Como me surpreendi no segundo dia que o conheci quando falei que adorava doce de buriti e ele tinha caixa na sua geladeira.

Amo meu marido porque embora tenhamos o mesmo gosto em apreciar o mar, odiamos ficar no sol e gostamos de dormir ouvindo o barulho das ondas. E fui eu quem apresentei “beira mar 2” de Zé ramalho pra ele.

Mas nossa maior empatia é que ambos somos muito coerentes com nossos princípios e com nossos valores. Ambos concordamos que o importante não é o “ter”, mas o “ser humano na sua totalidade”.

Ambos somos amantes da lua cheia. E adoramos ficar na janela apreciando o luar, tomando um bom Merlot; muito embora eu goste mais do Carbenet sauvignon.

Adoro quando ele me olha por sobre seus óculos e quando me chama de “querida” antes de dizer que me ama. Todos os dias, ao amanhecer, ouço isso. Amo meu marido porque ele me seduz no elevador todos os dias antes de irmos para mais um dia de trabalho árduo.

Reclamo com ele porque ele não toma água e que precisa cuidar mais de sua saúde. Vivo pedindo que ele coma cebola crua porque faz bem ao coração, mas ele se preocupa com o hálito.

Ao chegar ao meu local de trabalho ele me beija e diz: “não esqueça que eu te amo”. Isto me fortalece para encarar mais um dia. E que no decorrer de cada dia recebo inúmeras mensagens dizendo que está com saudades de mim, que me ama, que eu sou a vida dele e que estaremos juntinhos no fim do dia.

E as noivas? Como também sou a secretária do Reverendo, me preocupo com elas, com suas ansiedades e apreensões, e que, mesmo sem conhecê-las marco os encontros matrimoniais, tiro as dúvidas, dou sugestões, e as tranqüilizo. Faço isso porque meu marido é o melhor Reverendo da cidade. Pelo seu discernimento, sensibilidade, pelo comprometimento com aquele dia, pelo seu sermão, e porque sou chata e só indico os melhores.

Por tudo isso, quero dizer que amo meu marido com um amor eterno.

Sobre estas linhas que você está para ler, saiba que nós concordamos com cada ponto e cada vírgula que encontrar. Mas mais que isso, acredito que se você levar a sério tudo o que está escrito, terá um casamento maravilhoso.

Mônica Andréa

 

INTRODUÇÃO

ACERCA DA SOLIDÃO

Uma das características mais marcantes de nossa sociedade é a ambiguidade. Sim, vivemos em uma sociedade extremamente ambígua, e em vários aspectos. Aquele que eu gostaria de destacar neste texto tem a ver com a solidão. A ambiguidade se manifesta, por exemplo, no fato de termos centenas de “amigos” no nosso facebook ao passo em que, ao mesmo tempo, as pessoas se sentem cada vez mais sós. Quem, em algum momento de sua vida não se sentiu como o salmista que escreveu: “Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim?” (Salmo 42:5). A solidão parece ser uma experiência comum que vem se agudizando nos últimos trinta anos. Fracis Bacon, o filósofo e ensaísta inglês (1561-1626), dizia que “Não há solidão mais triste do que a do homem sem amizades. A falta de amigos faz com que o mundo pareça um deserto”. E é neste deserto que vivem tantas pessoas, apesar de estarem cercadas de gente e com centenas de “amigos” em suas redes sociais. Eis a grande ambiguidade de nossa sociedade.

  1. Mas, o que é solidão? Normalmente se define e solidão como “um sentimento no qual uma pessoa sente uma profunda sensação de vazio e isolamento. A solidão é mais do que o sentimento de querer uma companhia ou querer realizar alguma atividade com outra pessoa não por que simplesmente se isola mas por que os seus sentimentos precisam de algo novo que as transforme” (https://pt.wikipedia.org/wiki/Solid%C3%A3o). O Dr. Alastair Campbel, editor do A dictionary of pastoral care (1995, p. 148), nos diz que a solidão é “a dor e o sentimento de inabilidade em satisfazer a necessidade humana básica de relacionamentos íntimos com outras pessoas”. Para os autores BUTLER e HOPE, a solidão se resume simplesmente na “falta de amigos íntimos” (1997, p. 138). No fundo, por trás de todas estas definições está a verdade inarredável de que o ser humano é um ser social e relacional, e que sem relacionamentos, ele simplesmente definha e morre.
  2. A solidão não é uma boa conselheira. Muitas pessoas que vivem na solidão de suas vidas, sem relacionamentos profundos ou verdadeiros com alguém, acaba por ouvir os maus conselhos da solidão e ou bem querem “pagar” por uma companhia, o que acaba por aumentar seu sofrimento e sua solidão, ou “fugir” para outros caminhos bem mais destrutivos como as drogas ou a depressão. O Dr. R Jouvent, descrevendo a semiologia da depressão, nos diz que ela é composta pela “culpa, o desespero, a visão pessimista da existência e os sinais somáticos (insônia, astenia, modificações, para mais ou para menos, do apetite e do peso) completam o quadro clínico e existem em proporções variáveis de um sujeito para o outro. Atenção especial merecem as ideias de suicídio” (sic) (JOUVENT, In DORON & PAROT, 2000. p. 220). Dar ouvidos aos conselhos da solidão nunca é uma atitude sábia, justamente porque ela nos é anti-natural.
  3. Infelizmente, quando estamos envolvidos pela solidão não compreendemos que existe uma sutil diferença entre ela e a solitude. Enquanto a primeira é destrutiva e má, a segunda é produtiva e boa. É importante e necessário fazer esta distinção. Creio que a seguinte citação é consegue estabelecer a diferença entre estes dois termos: “Solidão não é o mesmo que estar desacompanhado. Muitas pessoas passam por momentos em que se encontram sozinhas, seja por força das circunstâncias ou por escolha própria. Estar sozinho pode ser uma experiência positiva, prazerosa e trazer alívio emocional, desde que esteja sob controle do indivíduo. Solitude é o estado de se estar sozinho e afastado das outras pessoas, e geralmente implica numa escolha consciente. A solidão não requer a falta de outras pessoas e geralmente é sentida mesmo em lugares densamente ocupados. Pode ser descrita como a falta de identificação, compreensão ou compaixão” (https://pt.wikipedia.org/wiki/Solid%C3%A3o).

Perceba, na solidão é possível que estejamos rodeados de gente ou não, enquanto na solitude há a exigência de se estar só. Mas a solitude é uma ação consciente e com um fim produtivo. É uma ação consciente de se ausentar da presença das pessoas visando um crescimento ou um aprofundamento existencial, espiritual ou intelectual.

Mesmo sem fazer uso da palavra solitude, Butler e Hope (1997, p. 141) entendem que “Estar à vontade consigo mesmo, sozinho, pode ser uma pausa repousante e geradora de energia. É no isolamento que às vezes se consegue buscar no âmago do próprio ser a inspiração necessária para muitas atividades criativas”. O solitário, por outro lado, até pode ter alguém ao seu lado, mas, porque a procura da companhia se fez apenas para que ele não se sentisse bem sozinho, já comprometemos, de início, o relacionamento.

  1. Lendo as Escrituras, descobrimos que Deus se preocupa com nossa solidão. Por isso Ele disse: “Não é bom que o homem esteja só” (Gênesis 2:18). Deus, que é comunidade, nos fez com uma necessidade visceral de termos um(a) companheira(o) para toda a vida. Mas até aqui preciso fazer a distinção entre “companhia” e “companheiro”. Uma “companhia” é alguém que está ao seu lado em alguns momentos específicos e esporádicos. Alguém que você convida para acompanha-lo(a) em algum evento.

O “companheiro” é muito diferente. Indo muito além da mera companhia, o companheiro, é aquela pessoa que participa das ocupações, atividades, aventuras e do próprio destino de outra pessoa. Aliás, a própria palavra “companheiro” vem do latim companibus, que surge da junção de “cum + panis” e se refere às pessoas que comem o mesmo pão consigo. Esta pessoa estará ao seu lado em todos os momentos – nos melhores ou piores, as saúde ou na doença, na riqueza ou na pobreza – sendo seu esteio, sua base sólida, ouvindo seus reclamos, chorando com você e rindo ao seu lado, quando for preciso.

Sou grato por ter recebido de Deus uma companheira que, não apenas dorme ao meu lado (quantos casais vivem uma solidão à dois!), mas participa ativamente de minha vida em todos os aspectos. Às vezes nos surpreendemos porque acordamos diariamente às 4 da manhã e ficamos conversando até às 6, quando eu me levanto para preparar o café da manhã. O mesmo ocorre quando viajamos. Lembro de ter passado quase sete horas conversando com ela sobre todos os assuntos possíveis (economia, política, teologia, relacionamento, planejando o futuro, possíveis viagens, etc.) sem percebermos o tempo passar. Com segurança, afirmo, Deus me deu uma companheira para toda a vida.

Para concluir, lembro-me da figura do navegador Amyr Klink, que em 1984 atravessou solitariamente o Oceano Atlântico e em 1989 viajou até a Antártica e só voltou em 1991. Pois bem, esse ilustre navegador disse certa vez: “Quem tem um amigo, mesmo que um só, não importa onde se encontre, jamais sofrerá de solidão; poderá morrer de saudades, mas não estará só”. Ele fez uma distinção muito feliz entre solidão e saudade. Ele, apesar de isolado, nunca esteve só, porque sempre esteve em contato com as pessoas que amava.

Estes textos foram escrito para você, que se sentia só, mas que agora, está acompanhado(a) pela pessoa mais importante da sua vida. Aquela com quem você irá passar o resto de sua existência. Espero que vocês leiam juntos estes pequenos textos e tirem deles lições para suas vidas em comum.

Referência bibliográfica

CAMPBEL, Alastair V. A dictionary of pastoral care. Bristol: SPCK, 1995.

BUTLER, Gillian & HOPE, Tony. Guia para o domínio da mente. Rio de Janeiro: Campus, 1997.

DORON, Roland & PAROT, Françoise. Dicionário de psicologia. São Paulo: Atlas, 2000

SOLIDÃO. In: https://pt.wikipedia.org/wiki/Solid%C3%A3o, acessado em 14 de março de 2016.

1. CASAR FAZ BEM À SAÚDE

Quando duas pessoas se unem pelo casamento muitas mudanças ocorrem na vida dos dois em vários aspectos. Mas um dos mais visíveis deles tem a ver com a saúde. Segundo Tara Parker-Pope, em seu conhecidíssimo texto “Felizes para sempre… a ciência para um casamento perfeito”, uma das primeiras razões pelas quais o casamento melhora a saúde é que ele essencialmente duplica os recursos familiares e isso está associado a uma saúde melhor.

Um outro fator importante que faz com que a saúde do casal melhore é que, com o casamento, ganhamos um novo grupo de amigos e familiares e isso, em momento de grande estresse está associado à criação de um sólido grupo de apoio emocional e material que nos ajuda real e positivamente nestes momentos como quando precisamos de companhia em um hospital ou que alguém nos compre um remédio.

Tara Paker é muito clara quando afirma que “pessoas casadas têm menos probabilidade de contrair resfriado, câncer, artrite ou ataques cardíacos. As mulheres casadas têm sistema imunológicos mais fortes do que as solteiras. E as pessoas felizes no casamento têm pressão arterial mais baixa. [Ademais] Pesquisadores suecos mostram que o casamento na meia-idade pode reduzir o risco de demência com o passar do tempo”. De fato em um grande estudo realizado na Holanda, ficou comprovado que os solteiros apresentam um risco de mortalidade muito maior do que os casados em praticamente todas as categorias que envolvem desde morte violenta, acidentes, homicídios e até mesmo várias formas de câncer. Estudos canadenses mostram que os homens casados vivem, em média, sete anos mais do que os que nunca casaram enquanto as mulheres vivem em média três.

Estes estudos demonstram que os benefícios do casamento não ocorrem no mesmo momento para os dois. Para os homens os benefícios são imediatos: o risco de morte cai imediatamente; para as mulheres os benefícios vêm com o tempo e estão relacionados tanto a aspectos financeiros quanto a aspectos emocionais gerados pelo combate ao estresse. Segundo Tara Paker, “quando o marido segura a mão de sua esposa, ele está fazendo mais do que um simples gesto de afeição. Ele está baixando o nível de estresse dela”.

Em um estudo realizado na Universidade do Nebraska, com 1681 pessoas de duas faixas etárias diferentes e que durou 20 anos, concluiu que existe, sim, uma relação direta entre a felicidade dos casais e uma boa saúde, independentemente da idade dos cônjuges. Segundo Cody Hollist, um dos co-autores da pesquisa, “O que descobrimos foi que existe uma relação entre a saúde e a felicidade nos dois grupos. Se eles estão bem de saúde, há mais felicidade”.

Na Finlândia, em uma pesquisa que coletou dados de 15.330 pessoas entre 35 e 99 anos e que sofreram eventos coronarianos agudos, concluiu-se que “homens solteiros de todos os grupos etários eram de 58% a 66% mais propensos a sofrer um ataque cardíaco do que os casados. Para as mulheres, os benefícios matrimoniais foram até maiores: as solteiras demonstraram ser de 60% a 65% mais propensas a sofrer eventos coronarianos, escreveram os cientistas finlandeses no periódico ‘European Journal of Preventive Cardiology’”.

Em resumo, diz o estudo, “Viver sozinho e não ser casado aumenta o risco de sofrer um ataque cardíaco e piora seus prognósticos, tanto para os homens quanto para as mulheres, independente da idade”, escreveram os estudiosos. “A maioria das mortes excedentes já se manifesta antes da hospitalização e não parece se relacionar com diferenças no tratamento.” Moral da história um bom casamento é fundamental para uma boa saúde.

 2. A DITADURA DA IMAGEM

Certo dia, enquanto voltava pra casa com minha esposa, discutíamos acerca da quantidade de “curtidas” que um excelente texto que havíamos lido tinha em relação à de uma imagem bastante apelativa. A situação era desproporcional. Enquanto aquele texto estava com umas doze “curtidas”, a foto já somava mais de duzentas. Diante desta realidade começamos a conversar sobre nossa sociedade, sobre os meios de comunicação e as mídias eletrônicas e sua influência nos conceitos e paradigmas das pessoas. Diante desta conversa chegamos à conclusão de que uma das maiores maldições de nossa sociedade é a superficialidade.

Quando olhamos para o “facebook”, por exemplo, é notória a superficialidade das informações. Desde aquelas que estão registradas – afinal de contas você REALMENTE NÃO TEM mais de mil amigos – até aquelas que aparecem no feed. Quando nos deslocamos para o “in Box” vemos a total incapacidade das pessoas em desenvolverem uma conversa consistente sobre qualquer tema com qualquer outra pessoa. A impressão que tenho é dupla. Primeiro, vivemos em uma realidade em que ninguém se aprofunda mais em seus relacionamentos. Tudo ocorre “virtualmente” no “ciberespaço”. Que tipo de relações pessoas assim terão no futuro? Isto me faz lembras as palavras do filósofo Walter Benjamim, que disse certa vez: “o homem de hoje não cultiva o que não pode ser abreviado”. Por isso entendo porque meus alunos de direito têm tanta dificuldade em ler os livros que sugiro.

Em segundo lugar, me lembro das palavras de Nietsche dizendo que quando você for casar procure aquela pessoa com quem você se veja conversando até a sua velhice. Confesso que já namorei uma garota que, em silêncio era uma ótima pessoa. Mas tenho que reconhecer que Deus guardou o melhor para o final. Minha esposa é uma pessoa com quem eu posso discutir desde os grandes temas de política internacional e nacional, até os tipos de aplicação que podem ser feitos na bolsa de valores. Quantas e quantas vezes nos surpreendemos ao ver que horas se passaram enquanto discutíamos as ideias de Foucault ou de Nietsche.

Meu querido leitor, se você está noivo(a) pense bem nos critérios que farão com que você case ou não com esta pessoa. Nós vivemos na sociedade da imagem, do ícone, da aparência. E eu quero lembrá-lo que “o essencial é invisível aos olhos”. Não busque apenas um par de bíceps ou pernas bonitas. Pense mais adiante. Pense mais elevado. Pense em uma pessoa que será sua companheira de toda uma vida. Pense em alguém com quem você compartilhará os melhores e piores momentos; a saúde e a doença. Mas, acima de tudo, pense em alguém que pode fazer de você uma pessoa melhor.

 

3. O CÔNJUGE PERFEITO

Quando nos dispomos a falar do cônjuge perfeito, creio que por uma questão de didática, seria interessante começar dividindo o assunto em aspectos do tema que julgo importantíssimos.

  1. A definição de perfeição. De uma perspectiva semântica o “ser” perfeito é aquele completo ou que não precisa de qualquer melhoria. Filosoficamente, o perfeito é “aquele que se conforma com a definição do tipo ideal”. Acredito, no entanto, que antes de mais nada precisamos compreender que é muito difícil definir o que é ser perfeito em uma perspectiva prática. Talvez a perfeição não seja definida positivamente, mas negativamente, ou seja, o ser perfeito é aquele que não tem defeitos. Talvez não. Talvez seja preciso definir a perfeição tanto positiva quanto negativamente. Mas será que existe alguém assim? A antropóloga Mirian Goldenberg fez uma pesquisa com 835 pessoas para escrever seu livro Porque os homens e as mulheres traem, e em uma de suas questões ela perguntava pelo homem ideal e pela mulher ideal dos brasileiros. O interessante é que para a maioria das mulheres a resposta era: “o meu marido melhorado”, e para a maioria dos homens a resposta era: “minha atual, só que sem alguns defeitos”.

Para as mulheres brasileira, as 10 características mais citadas que deveriam marcar o homem ideal é que ele deveria ser mais: fiel, sincero, honesto, corajoso, alegre, rico, sensual, magro, tarado e culto. Já os homens, por seu turno, entenderam que as 10 características principais que marcariam a mulher ideal é que elas deveriam ser menos: ciumenta, chata, exigente, carente, dependente, insegura, complicada, mal-humorada, histérica e gorda. Moral da história, elas querem mais e eles querem menos.

  1. A expectativa e a frustração. O que muitas vezes não somos capazes de compreender é que nossas frustrações são diretamente proporcionais às nossas expectativas. Desejamos alguém belo, gentil, honesto, responsável, carinhoso, etc. mas, quando essa pessoa “pisa na bola” o sonho desmorona e aí, procuramos outra pessoa. Na realidade os dois grandes frutos da idealização do amor são a infelicidade e a frustração. Isso ocorre porque não existem príncipes ou princesas encantadas no mundo real, e sim pessoas normais, com virtudes e defeitos. E, para piorar a situação, a cultura romântica que herdamos do século XVIII nos fez acreditar que devemos coloca no “outro” a responsabilidade de nos fazer feliz. Em outras palavras, se sou infeliz a culpa é dele(a).
  2. A origem desta expetativa. Conforme nos ensina o ilustre sociólogo britânico Antony Giddens (1938), em seu texto A transformação da intimidade, a grande promessa de felicidade está voltada para a satisfação dos anseios da felicidade conjugal, tese datada historicamente e que aparece em meados do século XVIII, acompanhada da premissa de que uma relação depende do empenho emocional mútuo e de uma completa adequação no sentimento de pertencimento, renúncia e confiança completa e incondicional.

Conforme aprendemos com Giddens, esta forma de encarar a felicidade e, portanto, a perfeição na vida conjugal, surge justamente com o movimento filosófico-literário conhecido como Romantismo. Antes dele, o amor não era idealizado como hoje o é. Antes desta data não se acreditava que a felicidade ou a plenitude pessoal eram alcançadas pelo caminho do amor. Na realidade, este modelo de amor romântico perdurou fortemente entre os séculos XVIII e XX.

Para concluir, é importante ressaltar que hoje, no século XXI, vivemos uma mudança epocal na qual permanecem alguns aspectos do romantismo (a busca pelo ideal) ao mesmo tempo em que a “cultura do mercado”, com a valorização da imagem, invadiu as relações. Em outras palavras, como revela a pesquisa feita pela doutora Goldman, o último elemento citado para identificar o homem ideal é ser mais culto, ao passo que a mulher ideal deveria ser menos gorda. Hoje a “imagem” é tudo. Eis a razão porque o Brasil é o país em que se faz o maior número de cirurgias plásticas do mundo. A essência deu lugar à aparência e o Ser ao Ter.

O que é mais triste na visão romântica é que ela nos leva a acreditar que a responsabilidade de nos fazer alguém feliz está na outra pessoa. Por outro lado, o que há de mais triste na visão contemporânea é a incapacidade de se compreender as limitações do outro e, simplesmente, desistir de uma relação, achando que uma terceira pessoa suprirá nossas expectativas. O que precisamos aprender é a conviver com a realidade concreta de nosso cônjuge, abandonando aquele sonho idealizado do romantismo ao mesmo tempo em que abandonamos a ditadura da imagem. A grande questão que fica é: estamos dispostos a enxergar e amar o outro como ele é, e não apenas como nós o idealizamos?

4. O QUE DIZER SOBRE O AMOR?

Um dos temas mais significativos à todo ser humano tem a ver com o amor. Renato Russo, em uma de suas mais conhecidas canções já afirmava: “É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã; por que se você parar pra pensar, na verdade não há”. Mas, afinal de contas, o que é o amor? Catarina Souza nos diz que ele é comumente “definido como um sentimento, uma emoção que representa uma forte afeição pessoal e apego, uma virtude associada à bondade, ao carinho e à compaixão, atração, inclinação, conquista, desejo, etc.” (SOUZA, sd, p. 33).

Quando falamos sobre esse assunto, irremediavelmente nos remetemos ao amor romântico ou ao sentimento de paixão que une duas pessoas. No entanto sabemos, até pela definição acima, que ele transcende essa relação e descreve nosso comportamento para com o outro, para com objetos, lugares e até para com Deus.

Ser amado é o mesmo que ser aceito e, portanto, estamos falando de um sentimento que, em todas as culturas é visto com muita importância, uma vez que ninguém gosta de ser rejeitado ou de ser tratado como um pária. Seguindo nesse linha de raciocínio há quem sustente que o amor foi “inventado” quando o homem experimentou, pela primeira vez a realidade da solidão e do desamparo.

Na obra Para filosofar, as autoras Neusa Vendramin Volpe e Ana Maria Laporte, dizem que “o amor é um modo de ser, de viver, que se conquista gradualmente, à medida que se desenvolve a sensibilidade para com as outras pessoas. É a capacidade de descentralizar-se, sair de si e ir ao encontro do outro, em uma atitude de zelo e respeito. (…) Amar é preservar a identidade e a diferença do outro, sem perder a sua. É estar comprometido com a realização do outro, é querer seu bem”. (VOLPE & LAPORTE In SOUZA, sd, p. 33).

Entre os filósofos esse tema foi bastante abordado. No entanto, em função do espaço, citaremos apenas o pensamento de dois deles: Platão e Espinosa. Começando com Espinosa (1632-1677), o ilustre pensador de Amsterdam. Com ele aprendemos que “O amor é uma alegria acompanhada da idéia de uma causa exterior” (sic) (ESPINOSA, Apud COMTE-SPONVILLE, In VÁRIOS, 1999, p. 40). Em Espinosa, portanto, amar é alegrar-se com, ou de. Há sempre uma causa exterior, algo além de si. E sem ela, o que resta é o sentimento de falta ou de mágoa. Importante registrar que Aristóteles já se referia ao amor como “regozijar-se” e, portanto, é interessante notar essa dependência conceitual.

Para Espinosa não podemos viver sem amor vez que ele é a o próprio motor de nossa vida. Citando mais uma vez o pensador racionalista judeu de família portuguesa, “Em razão da fragilidade de nossa natureza, sem algo de que gozemos, a que estejamos unidos e por que sejamos fortalecidos, não poderíamos existir” (ESPINOSA, Apud COMTE-SPONVILLE, In VÁRIOS, 1999, p. 39).

O amor é tão importante que Comte-Sponville chega a dizer que “se a vida vale ou não a pena ser vivida, se vale ou não vale, melhor dizendo, a pena e o prazer de ser vivida, depende primeiro da quantidade de amor de que somos capazes” (COMTE-SPONVILLE, 2002, p. 38). Ele mesmo dirá que a felicidade é um amor feliz, ou vários; ao passo que a infelicidade é um amor infeliz ou amor algum. Toda nossa felicidade e toda nossa miséria, diz Espinosa, “residem num só ponto: a que tipo de objeto estamos presos pelo amor?” (COMTE-SPONVILLE, 2002, p. 38, 39).

Um outro pensador que poderíamos citar é Platão (427-347 a.C.), para quem amar não é, primariamente, ter alegria, mas sentir falta, frustração e sofrimento. Vejamos suas palavras: “O que não temos, o que não somos, o que nos falta, eis os objetos do desejo e do amor” (PLATÃO, Apud COMTE-SPONVILLE, In VÁRIOS, 1999, p. 40). Nele o amor é associado a uma incessante busca pela beleza que tem origem nessa realidade física, imperfeita e transitória que é o mundo no qual vivemos. É a partir de nossa realidade pontual e imperfeita que buscamos a forma universal e perfeita do amor, libertando-nos, assim, da matéria. Na verdade, “Se o desejo é ‘desejo de alguma coisa’ e só desejamos o que não temos, os panegiristas da trupe estão bem erados em ornamentar o amor com todos os bens e todas belezas (LANCELIN & LEMONNIER, 2008, p. 20). É importante atentar que para ele mesmo o amor sexual pode ser visto como um degrau para nos elevar até o mundo das ideias, onde encontramos o amor platônico – confundido, lamentavelmente, com o amor não correspondido.

Para os gregos o amor era visto de uma forma dual e para cada um desses aspectos, se usava uma palavra específica. A palavra philia é usada para a alegria de amar, e eros, para sua falta. Comte-Sponville, nos diz que “A falta e a alegria, eros e philia, não são menos diferentes um do outro. Eros é primeiro, claro, já que a falta é primeira: vejam o recém-nascido que busca o seio, que chora quando lho retiram… É o amor que toma, o amor que quer possuir e guardar, o amor egoísta, o amor passional; e toda paixão devora” (COMTE-SPONVILLE, In VÁRIOS, 1999, p. 41). Enquanto eros é o amor que prende e segura fortemente, philia é a possibilidade e o amor que se multiplica pela felicidade do outro. Este é o amor que compartilha e se alegra.

Por isso amar em Espinosa é mais interessante. É amar não em ausência ou em sofrimento, mas em alegria por sua existência. Falando sobre este pensador, Souza (sd, p. 35) nos diz que Espinoza “dizia que o amor era o pleno conhecimento da verdade que faz o ser humano totalmente feliz. Ele sustentou que o amor implicava ter consciência do objeto enquanto algo que suscita o próprio bem-estar de alguém”.

Encerro citando a bela poesia de Carlos Drumond de Andrade chamada Amar se aprende amando:

“Como nos enganamos fugindo ao amor!

Como o desconhecemos, talvez como receio de enfrentar sua espada coruscante, seu formidável poder de penetrar o sangue e nele imprimir uma orquídea de fogo e lágrimas.

Entretanto, ele chegou de manso e me envolveu em doçura e celestes amavios.

Não queimava, não siderava; sorria.

Mal entendi, tonto que fui, esse sorriso.

Feri-me pelas próprias mãos, não pelo amor que trazias para mim e que teus dedos confirmavam ao se juntarem aos meus, na infantil procura do Outro, o Outro que eu supunha, o Outro que te imaginava, quando – por esperteza do amor – senti que éramos um só”.

Referência bibliográfica

COMTE-SPONVILLE, André. Apresentação da filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2002

LANCELIN, Aude & LEMONNIER, Marie. Os filósofos e o amor. Rio de Janeiro: Agir, 2008

SOUZA, Catarina A. O que é o amor, In Filosofia: grandes temas do conhecimento, São Paulo: Mythos, sd

VÁRIOS, Café fhilo. Rio de Janeiro: Zahar, 1999

 

5. OS PRESENTES DO AMOR

O amor é um dos sentimentos mais extraordinários que nós, os humanos, podemos sentir. Mas quem tem a felicidade de amar acaba por receber, juntamente com esse sentimento, alguns presentes que são inestimáveis. Citarei pelo menos três dos grandes presentes que acompanham o amor.

  1. O amor nos dá segurança. Ele nos protege de todos os aspectos possíveis da existência. Ele nos protege a alma contra as desilusões e as falsidades assim como protege nosso corpo contra doenças que a infidelidade pode trazer. O amor nos dá “segurança no palco do medo”, quando temos que enfrentar a vida e as vicissitudes da vida e as ruas escuras e perigosas. O amor nos fortalece porque quem ama anda junto e, como diz as Escrituras, é melhor serem dois do que um porque se alguém se levantar contra um, o outro nos defende. Graças a Deus eu sei o que é ter uma companheira que me protege, me dá segurança e me defende contra todos os inimigos.
  2. O amor nos dá aconchego. Ele nos ampara, ajuda e auxilia. A velha música tinha razão: “Estou de volta pro meu aconchego/ Trazendo na mala bastante saudade/ Querendo um sorriso sincero, um abraço/ Para aliviar meu cansaço/ E toda essa minha vontade”. Principalmente nos momentos frios do inverno, estar junto, acompanhado de um bom vinho e recebendo o carinho do abraço de quem amamos é sentindo seus lábios nos meus, me faz afirmar que o aconchego é uma consequência natural de quem ama. E convenhamos, não há nada melhor do que se sentir amado e muito acolhido.
  3. O amor nos faz dependente. Um dos maiores medos que as pessoas têm de amar é que não existe amor sem “se dar”, e “se dar por inteiro”. O amor é uma experiência de doação na qual nos dispomos a oferecer nosso tempo, nosso carinho, nosso cuidado, nossa atenção, enfim, nossa própria vida. Quando lemos algo assim imediatamente pensamos que o amor é uma espécie de prisão. Eis aí o mal-entendido. Só amamos completamente quando estamos completamente e livremente prontos para nos doar plenamente a quem amamos. Para muita gente isso parece uma loucura. Mas é da natureza do amor a doação. E pasmem, quem se doa assim, não se sente preso de nenhuma forma.

Lembrem do poeta que disse: “Arrisque-se! Toda vida é um risco. O homem que vai mais longe é geralmente aquele que está disposto a fazer e a ousar”. Ousem amar e sejam felizes neste lindo e maravilhoso mar.

 

6. ACERCA DO AMOR I

Estou certo que todas as pessoas que lerão este artigo conhecem o texto escrito pelo Apóstolo São Paulo na primeira carta aos Coríntios, capítulo 13 no qual ele descreve o amor. No início do capítulo é assim que ele se expressa: “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria”. (1 Coríntios 13: 1-3)

O que muita gente não sabe, é que, embora na língua hebraica do Antigo Testamento só houvesse uma palavra para falar do amor, na língua em que o Novo Testamento foi escrito – o grego – existem três palavras distintas para se referirem ao amor. Neste breve texto pretenderei apresentar brevemente o significado de cada uma destas palavras.

  1. EROS

A primeira palavra é eros.O Dicionário grego-português de Isidro Pereira, descreve eros como “paixão, amor” e “desejo ardente”. Embora esta palavra não apareça no Novo Testamento, J.J. Von Allmen nos diz que no grego a palavra eran, base da palavra erótico, “designinava especialmente o amor desejo; desejo não só do homem pela mulher, mas também por qulquer objeto digno de ser possuído (amor do belo, do bem, etc.)”. Este amor estaria por trás dos grandes impulsos da vida moral, como a busca pela virtude, pela arte, pela filosofia e pela religião. Este é o sentido mais comum em que esta palavra ocorre no grego clássico. William Barclay, uma das maiores autoridades na língua grega, no entanto, nos diz que a palavra eros é a palavra que caracteriza o amor “entre os sexos, o amor entre um rapaz para com uma jóvem; sempre há um lado predominantemente físico, e sempre envolve o amor sexual. Aristóteles diz que eros sempre começa com o prazer dos olhos, que ninguém se apaixona sem primeiramente ficar encantado pela beleza, e que o amor não é amor, a não ser que se anseie pelo amado quando ele está ausente, desejando ardentemente sua presença”. (Ética a Nicômaco 9.4.3)

  1. FILEO

A segunda palavra grega que fala do amor é fileo.Esta palavra, que dá orígem à palavra “filantropia”, fala do amor desinteressado, que é capaz de se preocupar com o homem, o amigo ou a pátria. No grego clássico esta foi a palavra que dignava os membros da elite (como Antígona) e que inspirava a energia e a nobreza necessárias para mudar as condições da realidade. Diz-nos Kenneth Wuest que “os gregos davam valor a amizade. Esse vocábulo era empregado para referir-se a uma afeição amigável”. Para Barcley “esta é a palavra mais nobre no grego secular para expressar o amor”. Esta palavra, conquanto fale da relação de amizade, tambem inclui o lado físico do amor já que o verbo philein pode, além de muita caoisa, incluir acariciar e beijar.

  1. AGAPE

Embora as duas palavras anteriores sejam extremamente importantes, São Paulo usa a palavra agapao para se referir a um amor todo especial e superior a todos os demais.De fato esta palavra tem o sentido que tem hoje graças ao cristianismo. Barcley, citando R.C. Trench nos diz que “Agape é uma palara que nasce no seio da religião revelada” e, continua Barcley, “isso não é por acidente. Agape é uma palavra nova que descreve uma qualidade nova, uma palavra que indica uma atitude nova para com os outros, uma atitude nascida dentro da comunidade, e impossível sem a dinâmica cristã”.O texto mais conhecido em que esta paavra ocorre está no Evangelho de João 3:16: “Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu filho unigênito para que todo aquele que nele crer, tenha vida eterna”. Quero chamar a atenção para o fato de que aque que ama é capaz, assim como Deus, de dar. O que um cônjuge pode dar ao seu companeiro(a)? Poderíamos citar uma série de coisas, mas com toda certeza, quem ama precisa aprender a dar tempo, carinho, atenção, ajuda e amparo.

CONCLUSÃO

William Barcley nos diz que em gaulês, se um jovem ama uma moça, há vinte maneiras diferentes para lhe dizer isso!”. Na língua em que o Novo Testamento foi escrito só temos três. Mas estras três dão conta de todos os aspectos importantes para quem ama. Quem ama tanto se preocupa com o aspecto sexual, bem como com o aspecto da amizade e da doação plena. O que nos faz lembrar da liturgia do matrimônio que sabiamente nos diz: “É da vontade de Deus que a união de esposo e esposa no coração, corpo e mente”. É como se o liturgista estivesse se referendo à pessosa por inteoro. Um casamento de sucesso precisa levar a sério a sexualidade, a amizade e a doação como os grandes elementos que mantêm a relação firme.

 

7. ACERCA DO AMOR II

Desde há muito que o amor tem sido objeto de estudo. “Quem inventou? o amor, responda, por favor”, perguntava Renato Russo. Não importa se você usa a palavra “amor”, “amore”, “amour”, “love”, “liebe” ou qualquer outro idioma. Todos eles querem falar de um único e mesmo sentimento. O amor é um destes mistérios acerca dos quais somente as pessoas absolutamente tolas procurarão explicar. No entanto, creio que algumas coisas podem ser ditas sobre ele.

  1. Fisiologicamente é possível relacionar o amor à existência de certos feromônios que fazem com que nos interessemos por algumas pessoas e não por outras. Outros pensam que a questão é a segregação de ocitocina que ocorre quando encontramos a pessoa que vai mudar nossa vida. Isto é um grande debate científico e creio que não preciso me deter muito sobre o assunto.
  2. Psicologicamente há quem diga que no amor nós estamos buscando uma representação de nosso pai ou nossa mãe. Talvez seja verdade, pelo menos, para quem não resolveu bem seu complexo de Édipo.
  3. Socio-biologicamente há quem assegure que o amor é, na verdade, um truque de seleção natural, por meio do qual escolhemos o/a melhor espécime para perpetuar a humanidade. Por isso buscamos os mais fortes, inteligentes, aptos, etc.
  4. Filosoficamente Roland Barthes já demonstrou que o amor é um tema mais obsceno do que o sexo. Não o entenda mal. É que a sexualidade se tornou algo tão banal e vulgar, que falar de amor é falar de algo quase que proscrito, incômodo e proibido. Enquanto a sexualidade é vista como o exercício do vigor e da força, o amor seria, antes, a fragilidade, a fraqueza, a ferida. Mas, simplesmente não se pode negar que amamos, nem que seja a nós mesmo, o que seria um tipo de egoísmo. Há, ainda os filhos e os amigos. Se o amor nada fosse não haveria como distinguir quem nos é caro de quem não nos é.

Dois pensadores distanciados por milênios dizem coisas bem parecidas. Para Platão “O amante ama a criança como um prato de que se quer saciar, ou como o lobo ama o cordeiro…”. E Nietzsche, para zombar do amor ao próximo diz: “Como a águia não gostaria do cordeiro, de carne tão prazerosa?”. Apesar desta visão pessimista, ensina Comte-Sponville: “Amar é poder desfrutar ou regozijar-se de algo ou de alguém. É, portanto também poder sofrer, já que prazer e alegria dependem aqui de um objeto exterior, que pode estar presente ou ausente, dar-se ou recusar-se”.

Quando não se ama não existe querela, nem tristeza nem ciúme. Diz Espinosa que “se nada amassemos […] nossa vida seria mais tranquila do que é. Mas é que também já estaríamos mortos”. Para Espinosa, não existe vida sem amor. “Em razão da fragilidade de nossa natureza, sem algo de que gozemos, a que estejamos unidos e por que sejamos fortalecidos, não podemos existir”. Por isso o amor é a marca de nossa fraqueza, fragilidade e finitude, ao mesmo tempo em que nos dá regozijo, esperança e alegria. Amar é poder gozar e sofrer ao mesmo tempo. Eis a ambiguidade do amor. Para Espinosa, “amar é uma ideia acompanhada de uma causa exterior”.

  1. Existencialmente. E quando a causa exterior está ausente? Resta-nos o desamor e a tristeza. A relação entre a existência e o amor, que acabou de ser vista em Espinosa, também pode ser lida em John Gay, que escreveu “Aquele que nunca amou nunca viveu”; ou em Bussy-Rabutim, que escreveu: “Quando não se ama demais não se ama bastante”. Quem ama verdadeiramente está de alguma forma ligado à vida do amado por meio de laços invisíveis que não são cortados facilmente. E é assim porque, como dizia São Paulo “o amor tudo suporta, tudo crê, tudo espera”. Ao mesmo tempo em que é frágil, o amor é a força mais forte que jamais existiu, pois foi por amor que Deus se encarnou para nos salvar. O amante, aquele verdadeiramente apaixonado, se reconhecerá na letra de Vinícios de Morais e Carlos Lira:

“Eu sem você não tenho por que

Porque sem você não sei nem chorar

Sou chama sem luz

Jardim sem luar

Luar sem amor

Amor sem se dar

Eu sem você sou só desamor

Um barco sem mar

Um campo sem flor

Tristeza que vai

Tristeza que vem

Sem você meu amor, eu não sou ninguém”.

Mas o amor é mais que um sentimento. Ele é também um desejo. Não amamos as pessoas pelo que elas são, mas apesar do que elas são. E quando se ama não se olha pra trás, mas pra frente. Saint-Exupéry já dizia: “Amar não é olhar-se um ao outro, é olhar juntos na mesma direção”. É fazer planos. É caminhar de mãos dadas. É reconhecer cada nova ruga no rosto da pessoa amada e ainda assim, achá-la linda. É provar os mesmos pratos, compartilhar o entardecer abraçado. No amor há também, muitas vezes, lugar para a discórdia e a discussão. Mas aquele que ama de verdade experimenta algum tipo inexplicável de racionalidade, que quem não ama não entende. Esta racionalidade está descrita nas palavras do maior dramaturgo alemão, Goethe, que escreveu: “Quem não considera os defeitos do amado como virtudes, não ama”. Portanto, atente para o que cantava Lulu Santos: “quando um certo alguém desperta o sentimento é melhor não resistir e se entregar”.

 

8. AME SEM RESERVAS

Talvez o maior empecilho que exista para se amar seja justamente este. Ou se ama sem reservas ou não se ama. Em geral queremos estar no controle de tudo. De nossa vida, de nosso futuro, de nossas decisões. Mas eis que nos apaixonamos e nos vemos, de repente, dependente de alguém, condicionado à alguém ou submisso ao bem-estar desta pessoa. Mas esta é a primeira grande verdade do amor. Ouso afirmar que não se ama verdadeiramente e plenamente até que nos sintamos absolutamente dependentes desta pessoa. Eu sei que isso soa estranho em uma sociedade como a nossa, que é tão individualista. Mas o amor é assim. Não há reservas. Não há espaços em nossa vida que não estejam abertos a quem amamos. Isto significa não ter reservas.

Em segundo lugar, o amor não é algo que “acontece” simplesmente e pronto! Já amamos para o resto de nossas vidas. O amor é como uma rosa que, apesar de seus espinhos – e eles existem – precisa ser regado e cuidado com carinho por toda a vida. Isso exige aprendizado e tempo. O amor pleno cresce e se desenvolve apesar dos defeitos do outro. Um amor sem reservas é um amor que exige cuidado e atenção. É verdade que estamos muito mais propensos a cuidar e a ter atenção com nossa própria carreira profissional. Mas quando amamos tudo o mais assume uma posição secundária. Amar sem reservas é amar com prioridade. Nada ou ninguém é mais importante do que a pessoa que amamos. Por isso Vinícius de Morais dizia: “Amai, porque nada melhor para a saúde que um amor correspondido”.

O amor sem reservas é apresentado pelo Apóstolo Paulo em sua primeira carta aos Coríntios no capítulo 13. Lá aprendemos que o amor sem reservas é paciente, faz bem ao outro, não arde em ciúmes, não se vangloria nem se enche de soberba, não é grosseiro nem busca seus próprios interesses, é capaz de perdoar e de não se enraivecer, não age injustamente, mas de forma verdadeira e protetora. Ele sempre confia, espera e persevera, mesmo em meio à adversidade. Ainda que envelheçamos e nossos rostos se encham de rugas, o amor permanece, porque quem ama sem reservas, ama para sempre. Lembremos sempre das palavras do frade Dominicano Martín Gelabert Ballester, que disse: “O amor autêntico se oferece sem medida, sem reservas; dá tudo aquilo que tem e pode”. Afinal a vida é linda quando se tem ao lado alguém que se pode amar sem reservas, a quem nos entregamos totalmente de corpo e alma e para quem ofertamos toda nossa vida e nosso coração palpitando de emoção.

 

9. O AMOR

Não acredito que algo como o amor possa ser alvo de uma definição. E creio nisso porque Deus, que é amor, também não pode ser compreendido intelectualmente. Mas há alguns fatores que podem ser destacados no amor e que revelam algo sobre sua natureza.

O primeiro fator é a doação. No texto que tem sido visto como o texto áureo da Bíblia se diz que “Deus amou o mundo de tal maneira que DEU seu Filho unigênito para que todo aquele que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3:16). Quem ama, é capaz de se dar, de se doar, de ofertar tempo, carinho, atenção, enfim, aquilo que a pessoa amada necessita.

O segundo fator é a liberdade. Não se ama à força. Na realidade, o amor é uma decisão livre de quem ama. Ele não é obrigado ou constrangido a amar certa pessoa. Embora haja um fator emocional que é importantíssimo, o amor é uma escolha na qual a razão tem tanta importância quanto os desejos e os sentimentos.

O terceiro fator é a graciosidade. Quem ama verdadeiramente não quer nada em troca. Na realidade, nada do que façamos fará com que sejamos mais ou menos amados por Deus. Da mesma forma, nós amamos não porque a pessoa é assim ou assado. Amamos apesar da pessoa. Nós a amamos com seus defeitos, suas imperfeições suas falhas e suas deformidades. Esta é a magia do amor.

Minha sugestão é muito simples, e ela é retirada de uma música da década de 80: “quando um certo alguém, desperta o sentimento, é melhor não resistir, e se entregar”. A vida é muito curta para que a gente perca muito tempo fazendo elaborações intelectuais. Jogue-se nos braços daquele(a) que despertou seu coração com a alma aberta e seja feliz.

 

10. CASAMENTO: INSTITUIÇÃO FALIDA?

Esta semana recebi uma pessoa em minha casa que, quando soube que eu era sacerdote e que celebrava casamentos, imediatamente pontificou: “para mim o casamento é uma instituição falida”. Procurei entender o que ela estava tentando dizer com aquela afirmação e ela usou o mesmo argumento das pessoas que têm este discurso, qual seja, o aumento dos divórcios. Pois bem. Eu não acredito que o casamento seja uma instituição falida, pelo contrário, é uma instituição muito prestigiada. Mas acho que preciso fazer algumas considerações a respeito.

  1. É fato que o número de divórcios está muito elevado em relação à décadas passadas. Mas isso não nos autoriza a dizer que o casamento é uma instituição falida. No máximo, poderíamos dizer que as pessoas é que não estão buscando resolver seus problemas como antes se buscava. Hoje, as pessoas casam muito cedo, sem um lastro de sustentação sólido e de autoconhecimento firme e vivem em uma sociedade em que tudo tem que ser resolvido “ontem”. Natural que desistam do casamento diante do primeiro problema. Conversar e discutir gasta tempo e custa caro. É mais fácil buscar outra pessoa.
  2. Em segundo lugar, da década de quarenta do século passado até o dia de hoje, a vida média das pessoas passou de 45 para 75 anos de vida. Ora, quando vemos o aumento da expectativa de vida associado à esta mudança de perspectiva da realidade com um aumento da velocidade das coisas, e com a dificuldade de resolver as demandas, é natural que aumente os divórcios.
  3. Outro fator que fez com que os conflitos familiares aumentassem foi a inabilidade dos homens em conviver com mulheres que trabalham ou que, em alguns casos, ganhem mais que eles. A entrada da mulher no mercado de trabalho acabou fazendo com que os homens as observassem como iguais e isso feria a programação sócio-genética do macho da espécie homo sapiens-sapiens que sempre foi o provedor e mantenedor da família. Há homens que não sabem conviver com mulheres assim. Eles se sentem diminuídos e, como consequência, muitas vezes, para demonstrar seu domínio, partem para a violência, que por sua vez, muitas vezes, acaba em divórcio.
  4. Ademais, desafio qualquer leitor a se dirigir a qualquer igreja ou salão de recepções e procurar uma data para casamento em algum sábado nos próximos seis meses. Simplesmente não há mais agenda. Tudo está ocupado! O casamento é a cerimônia mais comum nestes lugares a cada semana.

Por isso, e por outras razões afirmo: o casamento não é uma instituição falida, mas a família passou por grandes transformações nos últimos 50 anos. Casais sábios compreendem isso e se adaptam a estas mudanças, garantindo um casamento longevo.

 

11. CASAMENTO OU MATRIMÔNIO?

Muitas pessoas usam os termos “casamento” e “matrimônio” como se tivessem o mesmo significado. Este é um erro que tem sido constante cometido pelas pessoas que não se aprofundam no tema. Com esse breve texto, gostaria de estabelecer as devidas diferenças para que cresçamos no conhecimento e não cometamos mais esse erro.

Em primeiro lugar gostaria de afirmar que uma pessoa pode estar casada sem ter recebido o rito sacramental do matrimônio. Estou certo que só em fazer essa afirmação o leitor já percebeu a veracidade de minha tese inicial. Você pode procurar um Cartório e se casar, mas sem, necessariamente, buscar a bênção matrimonial. Portanto, a primeira diferença é que o casamento é algo mais amplo que o matrimônio, dessa forma nem todos os casados passaram pelo matrimônio, mas todos os que passam pelo rito sacramental do matrimônio ou já são ou se casam naquele momento de forma simultânea. André e Rita Kawahala (2008, p. 16) nos dizem que: “As duas coisas parecem ser a mesma coisa, mas não são. As pessoas podem estar casadas mas não ter celebrado o Matrimônio. Em ambos os casos, constituirão um novo lar, mas percebemos que, atualmente, é somente sob essa ótica que se enxerga o casamento. Para nós, cristão, (…) ao casarmos firmamos uma aliança única e verdadeira com a presença de Deus, mediante o Rito Sacramental do Matrimônio”.

Vamos então procurar uma definição para essas duas palavras. Segundo Donaldo J. Felippe, em seu Dicionário jurídico de bolso, casamento é um “ato solene de união entre duas pessoas (…) capazes e habilitadas com legitimação religiosa e/ou civil, para constituição de família”. (2010, p. 52). Como percebemos claramente, o casamento pode ou não vir acompanhado com a bênção matrimonial – casamento religioso com efeito civil -, mas ele é um ato mais da esfera civil do que da esfera religiosa. Por isso se fala em “casamento homoafetivo” e não em “matrimônio homoafetivo”. Porque a questão do casamento já foi decidida pela esfera jurídica, mas cabe às igrejas decidirem sobre o Matrimônio. O casamento é geralmente realizado por ou Juiz de Direito (aquele que estudou Direito e se submeteu a um concurso público) ou, em casos excepcionais, por um Juiz de Paz (que é um leigo e mero funcionário do Cartório). A própria lei do país, que é leigo, exige apenas que os nubentes expressem a vontade de se casarem para que o juiz possa declará-los casados diante da lei. Portanto, uma vez que o Brasil não tem religião oficial, nem o Juiz de Direito nem o Juiz de Paz pode realizar os atos religiosos que somente aos sacerdotes legitimamente ordenados por suas religiões têm o múnus de fazer.

O Matrimônio, por sua vez, é um rito sacramental (ou sacramento menor) vez que é um ato de fé que possui um sinal visível (a aliança) e uma graça invisível (o amor). De acordo com o Cânon 1.055 § 1, da Igreja Romana, “A aliança matrimonial, pela qual o homem e a mulher constituem entre si uma comunhão de vida toda, é ordenada por sua índole natural ao bem dos cônjuges e a geração e educação da prole, e foi elevada, entre os batizados, à dignidade de sacramento”. Sendo um rito sacramental ele é um tipo da relação entre Deus e seu povo. Por isso entendemos que “na união matrimonial se manifestam a providência e o amor de Deus para com o casal e para com a espécie humana. Através do matrimônio, através dos cônjuges, Deus expressa sua vontade de se tornar próximo tanto dos esposos que se unem entre si, movidos pelo amor de Deus, como da família que o casal constrói, impelido pelo desejo de se entregar aos seus próprios filhos” (2008, p. 65).

Entre os Anglicanos a doutrina é basicamente a mesma, como se pode ver no Catecismo da Anglican Church in North America, que, na seção que trata dos sacramentos, diz na questão 128 sobre “o que é o casamento?” E responde: “O Casamento é um pacto para toda a vida feito entre um homem e uma mulher, obrigando a ambos que se doem em amor e exclusiva fidelidade. No rito do casamento Cristão, o casal trocam seus votos para preservar seus votos. Eles fazem isso diante de Deus e na presença de testemunhas, que oram para que Deus abençoe sua vida em comum”. Na questão seguinte o Catecismo Anglicano da ACNA fala sobre o significado do casamento dizendo que ele é “O compromisso de união entre o homem e a mulher em casamento expressa a comunhão entre Cristo, o noivo celestial, e a Igreja, sua santa noiva. Nem todos são chamados ao casamento, mas todos os Cristãos são casados com Cristo e abençoados pelas graças dadas por Deus neste matrimônio”. E, finalmente, na questão 130º o Catecismo responde sobre qual a graça que Deus nos dá por meio do casamento: “No matrimônio Cristão, Deus estabelece e abençoa o pacto entre marido e mulher, e os une para viverem juntos em uma comunhão de amor, fidelidade e paz em comunhão com Cristo e sua Igreja. Deus capacita a todos os casais a crescerem em amor, sabedoria e santidade por meio da vida comum moldada no amor sacrificial de Cristo”. É em razão dessa similaridade doutrinária que o matrimônio Anglicano é reconhecido pela igreja Romana. Por isso Gonzálo Flores faz a seguinte citação da declaração Enchiridion Oecumenicum em seu número 209, dizendo que essa comissão “não encontra uma diferença fundamental de doutrina entre as duas Igrejas, quanto ao que o matrimônio é por sua natureza e quanto aos fins a que deve servir” (2008, p. 268).

Em ambas as igrejas existem exigências que podem gerar a nulidade ou a invalidade do casamento. Geralmente, o casamento pode vir a ser nulo por uma das seguintes razões: 1) Por impedimento (algo que impeça que o consentimento seja eficaz); 2) Por vício de consentimento (de um ou dos dois contraentes), ou 3) Por defeito de forma (quando não é feito de acordo com a lei da igreja). Na igreja Romana existem 12 impedimentos que podem tornar nulos o casamento. Os impedimentos são:

1) De idade: 16 anos para o homem e 14 para a mulher.

2) De impotência: se um dos dois for total ou parcialmente incapaz de realizar o ato conjugal.

3) De vínculo: se um dos cônjuges já tem vínculo conjugal com outra pessoa.

4) De disparidade de culto: ocorre quando uma das partes é católica e a outra não é batizada.

5) De Ordem sacra: os ordenados (diáconos, presbíteros e bispos) só podem se casar validamente depois da dispensa do celibato.

6) De voto: ocorre se algum religioso que fez voto público perpétuo de castidade num instituto religioso.

7) De rapto: quando o homem rapta uma mulher com a finalidade de casar com ela.

8) De crime: ocorre quando alguém mata seu cônjuge ou o de outro para casar com o supérstite.

9) De consanguinidade: em linha reta é nulo o casamento em todos os graus; em linha colateral é nulo até o 4º grau.

10) De afinidade: é o que envolve, por exemplo, sogra e genro, padrasto e filha da falecida.

11) De pública honestidade: ele surge de um matrimônio inválido ou de um concubinato público e notório. Este caso ocorre “quando um casal realiza o casamento só no civil e os dois que são católicos vivem juntos como marido e mulher” (ROMAN, 2010, p. 35).

12) De parentesco legal: é aquele que envolve pessoas que “entraram” para a família por decisão legal, como pai com filha adotada, ou irmão com irmã adotada.

Entre os Anglicanos os impedimentos são os mesmos, exceto os números 2, 5,6 e 11.

Devemos notar que a nulidade implica na “Ineficácia total do ato jurídico. Nulidade é deformidade, corrupção peculiar do ato considerado írrito (vão, sem préstimo) e juridicamente ineficaz, do ato que nasceu sem vida útil, sem qualquer força jurídica, viciado de maneira insanável” (FELIPPE, 2010, p. 184). Já a invalidade diz respeito ao ato jurídico que foi feito sem a observância das determinações e formalidade inerentes ao ato. Neste caso é possível – depois de um processo canônico – uma convalidação do ato, na nulidade, não.

Infelizmente muitos matrimônios romanos podem ser declarados nulos por defeito de forma, ou seja, 1) se não forem publicados os proclamas; 2) se a celebração não foi feita perante duas ou três testemunhas, ou se 3) se não foi realizado na presença do pároco próprio, no lugar próprio (a paróquia), e se for feito sem a forma canônica prescrita no Código de Direito Canônico. Os casos extraordinários estão prescritos no Cânon 1.116. Os cerimoniais têm a obrigação de informar os noivos sobre isso.

No caso dos Anglicanos concordamos com os itens 1 e 2, mas temos a liberdade de celebrar o matrimônio com outro pároco e mesmo fora da paróquia, ou seja, na praia, em uma fazenda, em um buffet, etc.

Referências bibliográficas

TO BE A CHRISTIAN: An Anglican Catechism. In <http://anglicanchurch.net/?/main/catechism&gt;. Acessado em 17 de maio de 2016.

FELIPPE, Donaldo J. Dicionário jurídico de bolso. Campinas: Milenium, 2010.

FLÓRES, Gonzálo. Matrimônio e família. São Paulo: Paulinas, 2008.

KAWAHALA, André & KAWAHALA, Rita. Encontros para novos casais. São Paulo: Paulinas, 2008

ROMAN, Ernesto. Nulidade matrimonial. São Paulo: Paulus, 2010

 

12. A INSTITUIÇÃO DO CASAMENTO: UMA APROXIMAÇÃO BÍBLICO-TEOLÓGICA

Em geral, discutir sobre a instituição do casamento pode fazer surgir uma série de considerações advindas das mais diversas áreas. Sociólogos, psicólogos, juristas e teólogos, todos acham que têm algo a dizer sobre o tema, e de fato, têm. Neste pequeno opúsculo, nos limitaremos a fazer uma aproximação bíblico-teológica da instituição do casamento na esperança de que traga alguma luz àqueles que estão pensando no assunto para o futuro. Tendo dito isto, podemos destacar três aspectos bíblicos da instituição do casamento.

  1. Sua motivação (Gn 2:18)

O texto de Gênesis descreve poeticamente a criação do universo e também da humanidade. E é neste contexto que o matrimônio é instituído por Deus. O texto citado acima diz: “não é bom que o homem viva sozinho. Vou fazer para ele alguém que o ajude como se fosse a sua outra metade”. Sabemos que quando falamos em “linguagem poética” não estamos falando em algo “mentiroso”, mas em uma descrição fenomênica dentro de uma realidade pré-científica. Em outras palavras, o texto bíblico revela que a grande razão de ser, ou a motivação do matrimônio é a superação da solidão.

Em nossa sociedade convivemos com a solidão, com a desconfiança e com as consequências destes sentimentos, ou seja, a depressão. O casamento é o espaço existencial adequado para que sejam vencidos todos estes inimigos que esmagam as pessoas. Encontrar um companheiro de vida não apenas (está provado cientificamente) faz bem a saúde como dá sentido à vida. Esta é a primeira razão bíblica para a instituição do casamento.

  1. Suas exigências (Gn 2: 24)

Uma aproximação bíblica do casamento nos faz ver, em segundo lugar, que há exigências a serem cumpridas. No texto de gênesis citado acima encontramos a segunda verdade acerca da instituição do casamento. Vejamos o texto: “É por isso que o homem deixa o seu pai e a sua mãe para se unir com a sua mulher, e os dois se tornam uma só pessoa”.

Neste texto, o autor fala, poeticamente, que é necessário deixar as referências antigas (pai e mãe) no passado para se construir uma nova realidade existencial no futuro: “se tornam uma só pessoa”. A exigência do casamento é, portanto, um abandono do passado para se criar, a dois, um novo futuro a dois, uma nova realidade a dois. O casal assume a preferência em relação aos pais, ou seja, o futuro assume a preferência em relação ao passado.

  1. Sua finalidade (Gn 1: 28)

O casamento também possui um aspecto teleológico, ou seja, uma razão de ser. Qual a razão de ser ou a finalidade do casamento. No texto bíblico citado acima, encontramos a seguinte expressão: “e os abençoou dizendo: – tenham muitos e muitos filhos, espalhem-se por toda a terra e a dominem e tenham poder sobre os peixes do mar, sobre as aves que voam no ar e sobre os animais que se arrastam pelo chão”.

Neste texto encontramos algumas verdades importantes. O matrimônio tem como razão de ser a frutificação, ou seja, a criação de frutos, de filhos. A ideia por traz do texto é a do crescimento da humanidade. Temos também a ideia análoga de “tenham muitos filhos”, em outra tradução “multiplicai-vos”. Vemos aqui a importância de gerar descendência. Finalmente a dominação da terra, destacando os aspectos do trabalho e da manutenção.

O casamento é o espaço em que os dois não apenas geram filhos, mas também é o espaço e que os dois, por meio do domínio dos meios de produção, crescem também financeiramente. Afinal, como disse certo autor, “casais inteligentes enriquecem juntos”.

 

13. QUESTÕES SOBRE O MATRIMÔNIO

Nestes últimos anos de atuação ministerial tenho sido interpelado por inúmeras pessoas acerca de temas relacionados com o matrimônio. Hoje, tomei para mim a incumbência de responder a algumas destas questões trazendo, quem sabe, um pouco de tranquilidade para aqueles que me Leem.

1.O que é o matrimônio?

A primeira grande questão diz respeito ao que é, de fato, o matrimônio. Particularmente me identifico com os setores do anglicanismo que veem no matrimônio um rito sacramental que aponta para a relação entre Cristo e sua igreja. Ele é, sim, um rito de passagem – numa perspectiva antropológica; ele é sim, um evento social e um fato jurídico. Mas é mais que isso. Para os que creem, o matrimônio é uma aposta no projeto de Deus para que o homem não tivesse uma vida solitária. O matrimônio é a resposta de Deus tanto para a falta fundamental de um companheiro(a) que esteja ao nosso lado em cada minuto da vida, como também é o projeto que está na base da formação e desenvolvimento de uma família.

2. Quem pode me casar?

Esta resposta dependerá de cada denominação. Em geral as igrejas históricas entendem que o ministro ordinário do casamento é o bispo e seus representantes, os presbíteros e diáconos. No entanto, tanto a igreja Romana quanto a Anglicana entendem que leigos – em situações extremamente raras – também podem presidir a cerimônia do casamento. Isto pode ser lido, no caso da igreja Romana, por exemplo, no Cânon 1112 que, na falta de sacerdotes e diáconos, “o Bispo diocesano, obtido previamente o parecer favorável da Conferência episcopal e licença da Santa Sé, pode delegar leigos para assistirem a matrimônios.” O parágrafo segundo orienta o tipo de leigo a ser escolhido dizendo: “Escolha-se um leigo idôneo, capaz de instruir os nubentes e apto para realizar devidamente a liturgia matrimonial”.

Em resumo. Podem celebrar os matrimônios, ordinariamente, o bispo, o sacerdote e o diácono. Mas, também podem presidir, leigos aptos para instruir os noivos.

Em razão da crença do “Sacerdos in aeternum” e no caráter indelével do sacerdócio a igreja Romana também admite a possibilidade de que padres casados – portanto fora do exercício do sacerdócio – também possam presidir a cerimônia de casamento.

3. Os noivos é que se casam? Como assim?

Outro tema interessante para se colocar e que a esmagadora maioria das pessoas desconhece é que, no caso do matrimônio, os oficiantes do rito sacramental são os próprios noivos, e não o ministro. Nos demais sacramentos é o ministro quem pronuncia a “fórmula” (que no casamento chamamos “votos”). Mas no caso do matrimônio, são os próprios noivos que pronunciam a fórmula, portanto, que se casam. O ministro é apenas o presidente da cerimônia. Ocorre que, em uma realidade social extremamente sacramentalista e clericalista, muito pouca gente sabe disso. Até porque não interessa aos carreirista ligados ao poder, fazer com que as pessoas conheçam estas verdades.

4. O que é essencial para o casamento?

No que diz respeito ao rito do matrimônio há pelo menos três elementos que são essenciais, ou seja, que não podem faltar jamais. O que é essencial é a declaração de vontade, os votos (ou fórmula) e as alianças (sinal visível da graça invisível). Tudo o mais, como entrada, leituras, sermão, músicas, etc. são vistos como elementos acessório.

5. Onde pode ser feito o matrimônio?

Na Idade Média o casamento ocorria ao lado do leito nupcial. Depois da bênção, os noivos se deitavam e consumavam o casamento. Com o passar dos tempos, as igrejas se tornaram lugares mais apropriados. Mas hoje, não há como negar que o casamento pode ser celebrado em qualquer lugar em que a liturgia possa ser digna e reverentemente assistida. Porque a catedral de Deus – a abóbada celeste – seria menos importante do que um templo feito por mãos humanas? Lamentavelmente a Igreja Romana não aceita que a cerimônia seja feita fora da paróquia, exceto em casos excepcionais, como no caso de alguém, já moribundo, deseje casar.

 

14. ACERCA DO MATRIMÔNIO MISTO

O tema do matrimônio misto não é um tema simples. Primeiro porque ele trata de um sentimento extremamente profundo e arraigado no coração de duas pessoas que praticam religiões diferentes. Em segundo lugar, porque, em geral, as famílias envolvidas – quer queiramos ou não – acabam por se imiscuir no assunto e, via de regra, alguém tem sua convicção desconsiderada e acaba se sentindo desprezada. Finalmente, porque, inquestionavelmente, o matrimônio misto exigirá, dependendo do grau de envolvimento religioso do casal, muito mais diálogo e capacidade de ceder do que aqueles casais que casam dentro da mesma fé. Neste texto pretendemos examinar como cada tradição cristã, mais comum no Brasil, trata desse assunto. Privilegiaremos, portanto, os Evangélicos, os Romanos e os Anglicanos.

  1. Os evangélicos

Em que pese a miríade de denominações evangélicas no mundo, a posição histórica das igrejas evangélicas tem sido a mesma: eles são, em geral, contra. Augusto Bello, por exemplo, nos diz que “O apóstolo Paulo, mostra implicitamente com quem o crente deve casar-se, em sua segunda carta a Igreja de Coríntios (II Cor 6:14). Para um crente e um incrédulo trabalharem juntos a fim de alcançarem um determinado alvo, seria como colocar juntos dois tipos opostos de animais, sob um único jugo, para ararem a terra (Deuteronômio 22:10). O boi é lento e o jumento rápido. Um quer ir por um caminho e o outro por outro caminho. No caso do jugo desigual entre o crente e o descrente, um vai estar preocupado com as coisas espirituais e o outro com as coisas materiais. Um vai em busca das coisas eternas na direção do céu e o outro nas coisas passageiras do mundo”. (sic) (BELLO, Augusto. http://solascriptura-tt.org/VidaDosCrentes/VidaAmorosa/CasamentoMisto-ABelloSFilho.htm). Este é o pecado geralmente conhecido como pecado do “jugo desigual”.

Esta é a mesma posição assumida por Renato Vargens, que em seu Blog, nos diz: “Eu poderia enumerar inúmeras razões porque não concordo com o namoro entre cristãos e não cristãos, mas, vou citar somente uma: A Bíblia, a Palavra de Deus não recomenda. (…) Para muitos deles não existe o menor problema em namorar um não cristão. Entretanto, o que talvez eles desconheçam é o ensino bíblico de que não devemos nos colocar em jugo desigual com os incrédulos (II Co 6.14). ‘Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque, que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas? E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel?’ (http://renatovargens.blogspot.com.br/2012/07/razoes-porque-eu-nao-concordo-com-o.html).

Finalmente, para não me tornar exaustivo, cito a manifestação do conhecido pastor Silas Malafaia quando chama esta atitude de “pecado” e apresenta como exemplo a figura de Salomão. Assim ele se expressa: “É evidente que a Bíblia nos revela os erros de Salomão não para serem seguidos, mas exatamente como um preventivo para que não incorramos neles; ao nos mostrar os efeitos danosos que sobrevieram ao povo de Israel [a idolatria, p. ex.], mas para o próprio Salomão, que também se tornou idólatra, e queimou incenso para outros ‘deuses’, e teve o seu reino dividido, ainda que Deus o poupasse desse desgosto, por amor ao seu pai Davi; mas assegurando-lhe de que sob o reinado do seu filho Roboão, Israel se esfacelaria. (…) Quem age deliberadamente assim não comente nada além do que pecado! E o pecado é o desprezo ao próprio Deus” (https://www.facebook.com/Pr.SilasMalafaia/posts/667432770077396).

É verdade que algumas igrejas evangélicas até realizam o casamento misto, mas mesmo nelas, este gesto não é incentivado nem aceito com normalidade.

  1. Os Católicos Romanos

O pensamento da igreja Romana está exposta em seu Código de Direito Canônico e é bastante claro. O pensamento romano sobre o assunto pode ser visto de forma resumida, por exemplo, no Guia Ecumênico da CNBB (1984, p. 186) que assim se pronuncia: “entende-se por matrimônio misto o casamento entre um cônjuge católico e outro não-católico, que este esteja batizado que não”. Existe, portanto, duas posições aqui. A) O matrimônio entre um católico batizado e um não-católico validamente batizado, e B) o matrimônio entre um católico batizado e um não-católico não batizado.

Para os Romanos, aqueles que se casam com pessoas oriundas de igrejas cujo batismo é reconhecido e o matrimônio é visto como sacramento, embora esteja fora da comunhão com Roma, são validamente aceitos, mas precisa de uma licença do Bispo. Vejamos o que diz o Código de Direito Canônico Romano em seu Cânon 1124: “O matrimônio entre duas pessoas batizadas, das quais uma tenha sido batizada na Igreja católica ou nela recebida depois do batismo, e que não tenha dela saído por ato formal, e outra pertencente a uma Igreja ou comunidade eclesial que não esteja em plena comunhão com a Igreja católica, é proibida sem a licença expressa da autoridade competente”. E quem é essa autoridade? O Bispo Diocesano, também chamado de Ordinário local.

Esta licença, contudo, só será dada com as seguintes condições apresentadas no Cânon 1632. Elas são em número de três: a) a parte católica se comprometer a fazer tudo o que puder para criar, educar e batizar a prole na igreja católica; b) informe esse compromisso à outra parte e este concorde com a condição; c) ambas as partes sejam instruídas sobre os fins e a natureza essencial do matrimônio.

Ademais, para matrimônio envolvendo uma parte católica e outra não-católica, a forma canônica é requerida para a validade. “Por isso a regra geral é que sejam contraídos perante o Ordinário [Bispo] do lugar, ou o Pároco, ou um delegado de um dos dois, e duas testemunhas” (1984, p. 191). Do mesmo modo, “não se faça uma celebração religiosa em que o assistente católico e o ministro não-católico, executando cada qual seu próprio rito, solicitam o consentimento das partes” (Cânon 1127 §§ 1 e 3). No entanto, o Diretório para a aplicação dos princípios e normas sobre o ecumenismo já prevê que, no número 158: “Se for solicitado pelo casal, o Ordinário do lugar pode permitir que o padre católico convide o ministro da Igreja ou da Comunidade Eclesial da parte não católica a participar na celebração do casamento, fazer uma leitura bíblica, fazer uma breve exortação e abençoar o casal” (2004, p. 131).

Quanto à forma, a igreja Romana entende que antes ou depois de celebrado o matrimônio no rito Romano “proíbe-se outra celebração religiosa desse matrimônio para prestar ou renovar o consentimento matrimonial” (Cânon 1127 §§ 1 e 3). No entanto, permite-se que o rito do matrimônio seja efetuado fora da liturgia eucarística (Missa), uma vez que a presença de pessoas não-católicas podem se sentir desconfortáveis com o rito da missa. A comunhão, contudo, por razões óbvias, não será dada à parte não-católica. Mesmo em se tratando da união entre um católico e um não-católico, devemos lembrar o que ensina Roman (2010, p. 14): “Todos os casamentos válidos, entre batizados, são de caráter sacramental. Também os celebrados entre dois batizados que não são católicos, se o fazem validamente de acordo com suas leis, é sacramento”.

Até aqui tratamos do caso em que tanto a parte católica quanto a parte não-católica são batizados. No caso em que apenas a parte católica é batizada e a outra não o é, assim se expressa o Direito Canônico da igreja Romana: “É inválido o matrimônio entre duas pessoas, uma das quais tenha sido batizada na Igreja Católica ou nela recebida e que não tenha abandonado por ato formal, e outra não batizada” (Cânon 1086 §1). Este é o caso, diz Ernesto Roman, de um casamento “realizado, por exemplo, entre uma pessoa católica e outra judia, maometana, budista etc., que não foi batizada” (ROMAN, 2010, p. 27). Em outras palavras, um matrimônio entre um católico e alguém que não seja cristão (por não ter sido batizado ou por ter rompido com o cristianismo) é, por natureza, inválido.

  1. Os Anglicanos

Os anglicanos não são tão presos a aspectos jurídicos quanto os Romanos. A regra geral é que não sejam realizados casamentos entre pessoas que não são batizadas. No entanto, se uma delas não for, as diversas Igrejas Anglicanas espalhadas pelo mundo, entendem que é preciso pedir permissão ao bispo. O mesmo ocorre no caso de casamentos entre um cristão e uma pessoa não-cristã. Com essa permissão o casamento se realizará.

Somos cientes que o matrimônio entre pessoas que confessam fés distintas podem gerar dificuldades tanto para a fé de cada um, como para a harmonia do casal bem como para a criação dos filhos. No entanto, entre os Anglicanos geralmente se exige apenas que um dos cônjuges seja cristão legitimamente batizado, ou seja, com água e em nome da Santíssima Trindade para que este tipo de casamento seja realizado.

Contudo, antes da cerimônia é adequado que os ministros instrua os cônjuges sobre o valor e a natureza do matrimônio. Ademais os ministros devem valorizar o fato de que Deus é maior do que as estruturas religiosas; devem valorizar o amor que uniu duas pessoas tão diferentes em tantos aspectos valiosos para elas; e, acima de tudo, devem valorizar a união dos dois como uma expressão concreta de diálogo e inclusão que deve servir de exemplo em uma sociedade que cada vez mais é exclusivista e intolerante para com o diferente.

Pessoalmente já celebrei matrimônios entre cristãos católicos e adventistas, batistas, pentecostais, mórmons e até mesmo com judeus e muçulmanos. Nunca tive dificuldades com meu bispo em nenhuma circunstância no que diz respeito a esse assunto. Outra coisa importante, não acredito que o momento do matrimônio seja o mais adequado para se falar de religião ou da doutrina de ninguém, mas do amor e do companheirismo e, acima de tudo, das bênçãos que uma união como essa pode trazer para ambos e para os filhos que virão dessa relação. Em outras palavras, em um matrimônio, principalmente um matrimônio misto, há de se ter muito cuidado com quem convidaremos para ser o celebrante da cerimônia, por que ele poderá ser o diferencial entre uma cerimônia agradável e feliz e uma terrivelmente chata e desagradável.

Referência bibliográfica

CNBB, Guia ecumênico. São Paulo: Paulinas, 1984

CONSELHO PONTIFÍCIO PARA A PROMOÇÃO DA UNIDADE DOS CRISTÃOS. Diretório para a aplicação dos princípios e normas sobre o ecumenismo. São Paulo: Paulinas, 2004

LOURENÇO, Luiz Gonzaga. Código de Direito Canônico em verbetes. Santos: Leopoldianum, 2001

LOURENÇO, Luiz Gonzaga. Direito Canônico em perguntas e respostas. Santos/São Paulo: Leopoldianum/Loyola, 2010

ROMAN, Ernesto N. Nulidade Matrimonial. São Paulo: Paulus, 2010

 

15. TIPOS DE CASAMENTO

Quando, muitas vezes, sou procurado por noivas para presidir a cerimônia de seus casamentos, sou inquirido para explicar as possibilidades que existem. Procurarei explicar de forma bem sucinta os casos mais comuns.

  1. Em primeiro lugar, pode ocorrer o casamento civil. Este casamento surge com a separação entre a Igreja e o Estado na Proclamação da República. Para tanto, pagam-se as taxas, apresentam-se os documentos necessários (certidão de nascimento – ou certidão de casamento com a averbação do divórcio, RG, CPF e comprovante de residência). Dá-se entrada e, no dia marcado ocorre o casamento. Os noivos já saem com a Certidão de casamento em mãos. Atenção, em alguns Cartórios também se exige a cópia da sentença do divórcio.
  2. Em segundo lugar, existe o casamento religioso que, a rigor, nasce na esfera religiosa e não civil, mas que normalmente exige o casamento civil anterior ou simultâneo. Este é celebrado pela autoridade religiosa e segue a liturgia de cada religião.
  3. Em terceiro lugar a Constituição Federal fala, em seu Art 226, § 2º da possibilidade de que haja um “casamento religioso” com efeito civil nos termos da lei. Para tanto os noivos vão ao Cartório, apresentam os documentos já mencionados e pedem uma habilitação para casamento religioso com efeito civil. Esta habilitação é entregue à autoridade religiosa que, com base nela, preparará um Termo de casamento religioso com efeito civil. Este termo deverá ser lido e assinado logo após a cerimônia religiosa e, em seguida, entregue ao Cartório para registro. Caberá ao Cartório, neste momento, marcar a data para o recebimento da certidão de casamento. A lei também prevê casamentos sem prévia habilitação (Art 4º da Lei 1.110 de 1950) e que estes podem ser inscritos no Registro Público desde que haja um requerimento por parte dos nubentes, a prova do casamento religioso e a apresentação da documentação.
  4. É possível, em quarto lugar, que o casamento religioso ocorra concomitantemente com o casamento civil. Para que isso ocorra é preciso que um juiz peça permissão ao Tribunal de Justiça de seu Estado e esteja presente, normalmente porque é amigo ou parente de um dos noivos, para celebrar a união civil.

Nestes casos é preciso que os noivos tenham ciência de que, conforme afirma a Constituição Federal, “O casamento é civil e gratuita a celebração” Art 226, §1º. Estas mesmas palavras aparecem no Código Civil de 2002 em seu Artigo 1.512. Em outras palavras, nenhum juiz de Direito pode cobrar para ir celebrar casamentos, e esta realidade é assim desde nossa primeira Constituição em seu Art 72, §4º. Cuidado noivas, com juízes que cobram para celebrar casamentos em recepções ou outros lugares. Eles já são muito bem remunerados pelo Estado para exercerem sua profissão. Se eles quiserem ir, podem. Mas não podem cobrar por isso. Pior, eles não são sacerdotes religiosos e não podem seguir a liturgia de qualquer religião – visto que o Estado Brasileiro e laico – ou seja, seu papel se resume a (1) arguir se é de livre vontade que os noivos desejam casar e (2) declará-los civilmente casados perante a lei. No máximo ele poderia fazer alguma explicação acerca dos deveres dos cônjuges conforme o Artigo 1.566 do Código Civil Brasileiro que são: fidelidade recíproca; vida em comum no domicílio conjugal; mútua assistência; sustento, guarda e educação dos filhos e respeito e consideração mútuos. Sermão, troca de alianças, troca de votos, e bênçãos são elementos religiosos que um juiz de Direito não tem autoridade eclesiástica para realizar. Se o fizer está entrando em outra seara que não é a dele. O mesmo pode ser dito dos chamados “juízes de paz”, que além de não serem juízes de Direito, são meros funcionários do cartório.

A única coisa que se paga são os emolumentos ao cartório de Registro Civil para o processo de habilitação. E, mesmo assim, em se tratando de pessoas cuja pobreza for declarada sob as penas da lei, a gratuidade se estende para a habilitação, o registro e a primeira certidão.

 

16. PASSOS LEGAIS PARA O CASAMENTO

Quando escrevo acerca dos passos para o casamento, estou me atendo aos passos jurídicos que precisam ser dados pelos noivos junto ao Cartório para dar entrada no processo de casamento. Para tanto é preciso, antes de mais nada, decidir se o casamento será apenas Civil ou Religioso com efeito Civil.

EM SE TRATANDO DE UM CASAMENTO APENAS CIVIL:

Quando um casal resolve se casar os passos são bastante simples. Em se tratando de um Casamento Civil, os noivos devem procurar o cartório mais próximo da residência de um deles e dar entrada. A documentação é a seguinte:

A. Em se tratando de Brasileiros, solteiros e maiores de idade

  1. Certidão de nascimento (Preferencialmente emitidas a menos de 6 meses)
  2. Cédula de Identidade
  3. Duas testemunhas
  4. Comprovante de residência

B. Em se tratando de Brasileiros maiores, mas divorciados

  1. Cópia autenticada da Certidão de Casamento anterior com a averbação do divórcio.
  2. Cédula de Identidade
  3. Duas testemunhas
  4. Comprovante de residência
  5. Cópia da inicial do processo de divórcio (em alguns estados)
  6. Cópia da sentença do juiz (em alguns casos que envolvem bens)

Obs. Estes dois últimos documentos só não são exigidos em casamentos celebrados com separação total de bens.

C. Em se tratando de viúvos

  1. Cópia autenticada da Certidão de Casamento e da Certidão de óbito do cônjuge, além da certidão de inventário ou formal de partilha.
  2. Cédula de Identidade
  3. Duas testemunhas
  4. Comprovante de residência

D. Em se tratando de estrangeiros

  1. Certidão de Nascimento Original Consularizada (retirar no Consulado do país de origem)
  2. Declaração de Estado Civil Original consularizada (retirada no país de origem)
  3. Cédula de Identidade (Passaporte)
  4. Comprovante de residência

Como se pode perceber, todo documento originado no exterior deve ser legalizado pelo Consulado do país que o emitiu. Depois de legalizado, os documentos em língua estrangeira devem, ou bem ser traduzido para o português por tradutor juramentado ligado à Junta Comercial no Brasil, ou bem, serem levados ao Consulado do Brasil no país de origem para serem validados.

No caso dos estrangeiros que moram no Brasil, deve-se levar uma cópia autenticada do Registro Nacional de Estrangeiros (RNE).

5. Duas testemunhas

E. Em se tratando de Noivos Menores:

Conforme discrimina o Código Civil: Art. 1.517. “O homem e a mulher com dezesseis anos podem casar, exigindo-se autorização de ambos os pais, ou de seus representantes legais, enquanto não atingida a maioridade civil”.

EM SE TRATANDO DE CASAMENTO RELIGIOSO COM EFEITO CIVIL

Neste caso os noivos – brasileiros ou não – devem fazer ciência ao cartório que desejam fazer o casamento religioso no mesmo momento que o civil. O processo de habilitação é o mesmo, mas os noivos receberão do cartório um documento chamado “Habilitação”, que deve ser levado ao celebrante. Depois do casamento, o termo do casamento religioso deve ser entregue ao cartório, já que uma vez expedida, a habilitação tem validade de 90 dias. Se isso não for feito, perde a validade e o processo de habilitação deve ser recomeçado.

Quando os noivos forem entregar a Habilitação ao celebrante, devem também entregar as informações referentes à no mínimo 2 testemunhas (nome, nacionalidade, idade, profissão, estado civil, RG com órgão expedidor, CPF e endereço) para a confecção do Termo de Casamento Religioso com Efeito Civil. Conforme já vimos acima, “A lei também prevê casamentos sem prévia habilitação (Art 4º da Lei 1.110 de 1950) e que estes podem ser inscritos no Registro Público desde que haja um requerimento por parte dos nubentes, a prova do casamento religioso e a apresentação da documentação”.

Obs. Em todos os casos acima é importante verificar o pagamento das taxas do Cartório.

 

17. AS NOIVAS E SEUS SONHOS

Quer queiramos ou não, todos os que trabalham com casamentos, principalmente o ministro religioso, trabalham com os sonhos de uma noiva. Em algumas culturas ancestrais, os sonhos eram vistos como revelações da vontade dos deuses. De uma perspectiva meramente científica o sonho não seria nada mais do que uma experiência de imaginação do inconsciente que ocorre durante o sono. Para muitos psicanalistas os sonhos revelam nossos desejos ou nossos medos reprimidos no inconsciente. Para nós, os sacerdotes, o sonho do casamento vai muito mais além.

Para nós, os sacerdotes, os sonhos de uma noiva nos falam dos desejos mais profundos e quase que “sagrados” que ela tem. Ela sonha, em primeiro lugar em encontrar aquele “príncipe encantado” que a fará feliz por toda sua vida. Ela sonha com aquele evento no qual sua família e amigos estarão presentes para testemunharem sua completa e total entrega a este príncipe. Ela sonha que todo este gesto seja feito na presença de Deus e que absolutamente tudo, naquela cerimônia, ocorrerá como foi minunciosamente planejado.

Particularmente, na condição de ministro religioso, faço tudo o que posso para que o sonho se realize. E minha maior satisfação é ver o rosto dos noivos cheios de alegria depois do “pode beijar a noiva”. Esta é minha realização. Ver a felicidade materializada em todas as pessoas presentes.

Caros colegas Reverendos, ministros ou profissionais que trabalham para este momento. Não pensem apenas com a mente. Usem o coração. Não sejam meros profissionais neste momento, mas instrumento da felicidade de casal num dia que será lembrado para todo o sempre. 

 

18. UM RECADO ÀS NOIVAS

Caríssimas noivas.

Antes de mais nada quero confessar que todas as vezes que vou fazer um casamento fico extremamente nervoso. Minha mulher sabe disso e sofre durante as horas que antecedem à cerimônia. Mas acho que ela já aprendeu a me compreender. Meu nervosismo é o resultado da preocupação que tenho com a excelência do casamento. Ou seja, eu primo para que tudo que está sob minha direção saia da melhor forma possível. Eu sei que estou lidando com “sonhos”, e “sonhos” não têm preço. Os noivos querem que aquele momento seja muito especial e é por isso que eu sou extremamente zeloso nos casamentos que faço.

O meu zelo começa com os encontros que tenho com os casais. Neles eu conheço a história do casal e o estilo da cerimônia que eles querem. Mas além dos encontros, eu zelo para chegar antes da cerimônia e discutir com os músicos e com o cerimonial sobre os detalhes que farão parte da cerimônia.

Mas um casamento não é feito apenas pelo Ministro. Outro elemento fundamental é a escolha do Cerimonial, do fotógrafo, da filmagem, etc. É claro que a escolha do Ministro religioso e do cerimonial – assim como dos demais profissionais envolvidos – deve levar em conta vários aspectos e um deles é o financeiro. Mas tome cuidado se este for seu único critério.

Quem busca um bom Ministro religioso, um bom fotógrafo ou um bom cerimonial deve levar em consideração outros aspectos tão ou mais importante do que o aspecto meramente financeiro, senão, aquele velho ditado pode ser lembrado: “o barato sai caro”.

Você contrataria um cirurgião com ou sem experiência para operar seu coração? Ou seja, um bom cerimonial deve ter experiência no mercado, e isso pode ser visto facilmente em uma pesquisa. Há cerimoniais que estão no mercado atuando com sucesso à anos, doutra sorte, há pessoas que se vestem de preto e querem ser cerimonialistas da noite pro dia. Já vi um cerimonial que recebeu os “votos” que a noiva queria ler na cerimônia e que, simplesmente, esqueceu de entrega-los ao Padre. E quem leva a culpa? O Padre, que não sabia de nada. Já fui fazer casamentos que o grupo musical contratado, simplesmente, não apareceu por ter confundido o horário. Há cerimoniais tão inseguros que mentem para o ministro, dizendo que a cerimônia ocorrerá tal hora, quando o padre sabe que só começará duas horas depois.

Cuidado noivas! A experiência e a integridade não têm preço. Às vezes é melhor pagar um pouco mais do que ter um cerimonial que não tem ideia do que fazer diante de eventualidades não programadas. Estas respostas ou as saídas certas só quem tem experiência e excelência conhece.

É claro que se você pode contratar um ministro que fale quatro idiomas e tenha três graduações, duas especializações e dois mestrados, que publicou 6 livros de teologia e direito, no Brasil e Inglaterra, além de 27 anos de experiência, você jamais contrataria um outro que acabou de sair do seminário não-presencial feito por módulos, que não entende uma palavra de grego ou hebraico e cuja moral é questionável. Você pode até contratar algum juiz de paz que fica maquiado, fazendo uma mímica de Sacerdote, e de juiz de Direito, mas que, muitas vezes, nem formação universitária tem e que está ali apenas para oficializar um casamento civil em nome do Cartório. Mas como distinguir um do outro? Veja o que eles escrevem, estude-os, veja como se comportam e o que publicam na internet. Reflita sobre suas ideias e seu conteúdo e tomem, finalmente, a decisão certa. Da mesma forma, se você pode contratar o melhor para a sua cerimônia, por que contratar aquele que, apenas, é mais barato? É apenas uma reflexão. Mas o “sonho” do seu casamento é feito por você. A responsabilidade é sua. Invista no que é certo, honesto e íntegro. No mais, boa sorte.

 

19. A ANSIEDADE DAS NOIVAS

Certo dia, em um encontro com um casal de noivos, perguntei quanto tempo faltava para o casamento. A noiva, prontamente respondeu: tantos meses, tantos dias e tantas horas… Fiquei surpreso ao ver que ela tinha todas estas informações de forma tão detalhada. Mas percebi que ela revelava uma certa ansiedade envolvendo aquele dia.

O filósofo romano Sêneca escreveu em seu livro a Brevidade da vida o seguinte: “finalmente, constrangido pela fatalidade, sentimos que ela [a vida] já passou por nós sem que tivéssemos percebido”. Em outras palavras “o tempo flui” e nós não conseguimos dominá-lo.

Em primeiro lugar, precisamos reconhecer que um certo grau de ansiedade é algo saudável e normal, tanto quanto o medo ou a raiva. O problema está no exagero que acomete cerca de 25% da sociedade e que se revela como uma síndrome do pânico ou outras fobias que imobilizam nossas vidas. Lamentavelmente inúmeras noivas sofrem muito com a ansiedade.

Em segundo lugar, existem aspectos físicos que acometem fortemente algumas noivas. Em geral pessoas muito ansiosas têm tremores, suores, opressão e dor no peito, boca seca, palpitações, tonturas, etc. Este conjunto de fatores pode acabar nos levando ao hospital.

Em terceiro lugar, noivas ansiosas, que procuram realizar todas as coisas rapidamente e ao mesmo tempo, acabam por não se aprofundar em nada. Pessoas assim vivem na superficialidade do que a vida poderia dar. Elas provam apenas “pedaços da vida” ou, conforme o termo da moda criado para descrever esta cultura, vivemos em uma “snack cuture”, ou cultura aos pedaços. O que fazemos, como nos divertimos, como vivemos, revela que estamos em uma cultura que é feita pra ser consumida em pouco tempo. É fácil encontrar, nas livrarias, livros do tipo “Heidegger em 90 minutos”. Até a comida tem que ser fast food. A saída mais comum para estas noivas e contratarem alguém para decidir por elas tudo a fim de que elas não tenham que passar pelo estresse de ter que tomar decisões. Estas pessoas são os famosos assessores.

O problema, diz o sociólogo Zigmunt Baumann, é que a cultura snack atingiu os relacionamentos. Segundo ele “A vida numa sociedade líquido-moderna não pode ficar parada. (…) É preciso correr. (…) Não importa o que aconteça, propriedade, situações e pessoas, continuarão deslizando e desaparecendo numa velocidade surpreendente”.

Para escapar das graves consequências da ansiedade é preciso compreender três verdades: primeiro, precisamos parar, respirar, pensar um pouco, e compreender que não se pode controlar tudo. Assim diz o psiquiatra Edward Hallowel, não podemos “Forçar o vinho a envelhecer depressa, as arvores a crescerem rápido, (…) forçar o amor a vir mais cedo, o amanhã a chegar hoje”. Em segundo lugar, temos que assumir a direção de nossas vidas e escolhas. Kierkegaard escreveu certa vez: “aventurar-se causa ansiedade, mas deixar de arriscar-se é perder a si mesmo”. Somente quando tomamos nossa vida em nossas mãos damos sentido a ela.

Finalmente, devemos receber o conselho do Apóstolo São Paulo que escreveu: “Não andeis ansiosos por coisa alguma; antes em tudo sejam os vossos pedidos conhecidos diante de Deus pela oração e súplica com ações de graças” (Fil 4: 6). Descansem em Deus, façam suas próprias escolhas, tomem suas vidas em suas mãos, assumam suas decisões e esperem, calmamente, pois aquele dia que virá cheio de felicidade.

 

20. O MITO DO ATRASO DA NOIVA

Quase todo mundo acredita em um “mito” existente no dia do casamento: o “mito do atraso da noiva”. Pensando nisso, muitos convidados já se programam para chegar uma hora depois do que está escrito no convite. Mas eu gostaria de dizer algumas palavras sobre este “mito”.

Primeiro: Sim, as noivas entram atrasadas, mas não porque querem. Aquele é o “dia dela”. Ela sequer dormiu na noite anterior ansiosa pelo dia seguinte. Ela sonhou com este dia durante meses e jamais permitiria que nada a fizesse entrar atrasada em seu casamento. Mas elas atrasam. Atrasam porque os padrinhos, as madrinhas, os pajens, as mademoiselles ou mesmos os pais atrasam. Aliás, quanto maior o número de padrinhos, maior a possibilidade de atraso. Mas não elas. Elas ficam dentro do carro em contato com o cerimonial esperando ansiosamente o momento adequado para entrar.

Segundo: Às vezes as noivas atrasam por fatores externos. Já vi noivas atrasarem por causa dos cabelereiros; já vi noivas atrasarem por causa do vestido que rasgou, ou outros fatores. Já vi noivas atrasarem por causa do tabelião que não encontrava o lugar onde ocorreria a cerimônia. Mas não por causa delas mesmas.

Terceiro: Todo aquele dia é mágico para a noiva. Desde o momento em que acordou até o receio de almoçar com medo de não entrar no vestido. Aquele dia é um dia de sonho que precisa ser compreendido por todos os convidados.

Confesso que em 27 anos fazendo casamento só fiz dois que começaram na hora. Mas preciso dizer que todo o mérito se deveu às noivas que, “gentilmente”, disse aos padrinhos: “Casarei tal hora, com vocês ou sem vocês. Se vocês quiserem assistir ao casamento cheguem na hora marcada senão perderão a entrada”.

Sempre chego com meia hora de antecedência. Já passei mais de duas horas esperando a noiva. Mas eu sei que na esmagadora maioria das vezes, a culpa não é delas e eu entendo isso. Eu compreendo o que vai no coração delas. Por isso, quando finalmente os noivos estão, um ao lado outro, na minha frente, ao invés de um olhar de reprimenda, eu sempre os recebo com um sorriso.

 

21. O CASAMENTO

Eu comecei a fazer casamentos em 1991 e até hoje penso que fico mais preocupado do que a noiva para dê tudo certo naquele dia. É que hoje, para mim, presidir uma cerimônia de casamento é um grande privilégio. Como ministro de Deus e membro da Igreja Anglicana Reformada, sei que quem é ordenado presbítero é ordenado “para sempre”, como reza a sã doutrina da igreja. Por isso nunca me furtei e jamais me furtarei a abençoar um casal que queira receber a bênção de Deus para sua vida conjugal.

Para mim, presidir uma cerimônia de casamento é um grande privilégio, em primeiro lugar, porque estou, de alguma forma, participando de um momento único na vida de um casal. Quando tenho meus encontros com os casais, converso com os dois como quem conversa com pessoas que ficarão juntas até o fim de seus dias. Por isso o dia do casamento é tão importante. Eu sempre imagino aquele casal, 50 anos depois, vendo as fotos do casamento e lembrando de minhas palavras. É uma grande responsabilidade! Eu quero que aquele momento seja único na vida dos dois. E ele há de ser!

Presidir uma cerimônia de casamento é um grande privilégio para mim, em segundo lugar, porque é um momento em quem se abençoa um casal. Embora a maioria das pessoas não saibam, os ministros do casamento são os próprios noivos, não o Sacerdote. Isto não retira a importância dos clérigos enquanto ministro de Deus. De fato, faço questão que todos estendam as mãos para abençoar os noivos para que eles saibam que estão recebendo a bênção de Deus, da família e dos amigos. E eu sei como é gratificante ter um casamento abençoado, tanto quando sei o quanto é terrível ter um casamento em crise. Mas quando Deus ocupa o primeiro lugar na vida de um casal, todas as dificuldades podem ser superadas.

Presidir uma cerimônia de casamento é um grande privilégio para mim, finalmente, porque o casamento é uma cerimônia que atesta a vitória do amor, do companheirismo, da cumplicidade e da afetividade em uma sociedade cada vez mais individualista e hipócrita. Vivemos em uma sociedade de relacionamentos “fluidos”, como afirma Zygmunt Baumann. Em uma sociedade assim nos enganamos a nós mesmos pensando que temos 500 amigos no facebook, quando, de fato, estamos sós. O casamento é o espaço em que a solidão e vencida pelo companheirismo e pelo amor. Eu realmente acredito hoje que a família é o único espaço de sanidade e de crescimento nesta sociedade cada vez mais individualista e falsa e que meu cônjuge é a única pessoa a quem eu, de fato, posso chamar de amiga e companheira.

 

22. A IMPORTÂNCIA DA CERIMÔNIA

Vivemos em uma sociedade bem ambígua. Ao mesmo tempo em que algumas pessoas têm uma certa aversão a determinados ritos e cerimônias (como, por exemplo, a do casamento) ainda somos extremamente ciosos e zelosos em tantas outras áreas: advogados precisam usar paletó mesmo no calor de 40 graus (Decisão da OAB/RJ); passou no vestibular tem que raspar a cabeça; é militar, não pode usar barba; é médico, tem que usar jaleco branco – não pode ser de outra cor; e tantas outras “tradições” que estão presentes em nosso dia-a-dia e que ninguém nem percebe. Mas quando alguém quer fazer uma cerimônia de casamento, sempre aparece alguém para dizer que isso é perda de tempo e dinheiro.

O que as pessoas não percebem é que todas as sociedades possuem o que os antropólogos chamam de “ritos de passagem”, ou seja, elementos sociais e culturais que dão sentido e significado a certos momentos históricos do homo socialis. Barbara Chesser nos diz que mesmo no ritmo acelerado do mundo de hoje, “de mudanças infindas e relacionamentos passageiros, instáveis, as pessoas ainda parecem anelar por certa constância, solidariedade, estabilidade e confiabilidade. Elas anelam por tradição”.

O sociólogo e historiador da Universidade de Harvard, Carle C. Zimmerman, em seu livro Family and civilization, comparou a desintegração de várias culturas com o declínio familiar nestas culturas. Ele identificou oito elementos que marcam esta queda e um deles foi a falta de significado tradicional na cerimônia nupcial.

Um determinado noivo, em segundas núpcias, disse certa vez: “Meu primeiro casamento já começou errado. Eu não tinha noção de responsabilidade para com minha esposa ou para com o casamento. Não tinha noção da solenidade dos votos que dissemos. Esse segundo casamento vai ser diferente. Agora percebo a seriedade do juramento e do compromisso que estamos fazendo um ao outro”.

Principalmente em uma sociedade cada vez mais fluida e descompromissada com valores duradouros, sem falar da impessoalidade e do declínio moral, resgatar os rituais da tradição tornam os gestos muito mais significativos. Estes ritos de passagem trazem consigo a noção de pertencimento e de união. Mas o casamento é apenas o começo. Os cônjuges, segundo os especialistas, precisam continuar a desenvolver rituais e tradições para fortalecerem seus laços de família. Os rituais podem ser simples como tomar café juntos antes de ir trabalhar, irem uma vez por mês ao cinema, jantar todas as sextas, fazer uma viagem por semestre, lerem uma passagem da bíblia juntos todos os dias, irem à igreja aos domingos, etc. Mas cada casal precisa de seus ritos e de suas tradições.

Os ritos e tradições têm sua importância. Mas não pense que esta importância é diretamente proporcional aos custos e à pompa do casamento. Mesmo em uma cerimônia simples, a presença das crianças no cortejo nos lembra da fertilidade e do propósito dos casamentos; a entrega da noiva pelo pai ao noivo resgata a proteção que ela sempre deverá ter e com a qual o noivo se compromete; as alianças nos remetem ao amor dos dois que é precioso (como o ouro) e eterno (como a circularidade da aliança), ou seja, sem princípio nem fim; os votos falam do compromisso público de, em nome de Deus, amarem-se, cuidarem-se e conservarem-se, em cada momento da vida (riqueza, pobreza, saúde, doença), mantendo-se sempre fiéis um ao outro, até o fim; e o beijo público, finalmente, significa o selo dessa promessa e desse compromisso.

Talvez muita gente ainda ache que a cerimônia é apenas um “gasto” dispensável. Mas eu prefiro olhar para esse momento como uma das mais significativas expressões pública e explícita daquilo que sentimos em nosso interior. Mais que isso, eles são símbolos indeléveis da mutualidade e do compromisso de cumplicidade do casal.

 

 

23. PROCURANDO UM CERIMONIAL

Como alguém diretamente ligado à casamentos e aos noivos, eu percebo a angústia por que passam alguns casais para escolher o seu Cerimonial. E é pensando em vocês que eu gostaria de dar algumas dicas a respeito deste tema.

Antes de mais nada, precisamos saber o que é um Cerimonial. O Cerimonial é o nome que damos à uma empresa em que contratamos os Cerimonialistas, ou seja, os profissionais responsáveis pela organização de evento, quer seja ele oficial – ligado ao Município, Estado ou à União – quer seja um evento de público-privado. Compete ao cerimonialista, organizar todo o roteiro da cerimônia oficial ou não, e estabelecer, cronologicamente, todos os passos do evento.

Nos casos de eventos oficiais, o cerimonialista não é o responsável pelo evento, e sim o Organizador de Eventos (que é Bacharel em Relações Públicas ou Turismo com ênfase no setor) a quem cabe a responsabilidade de cuidar da contratação do cerimonialista, do eventual deslocamento das autoridades, chegada, movimentação e atos da autoridade no transcorrer da realização do evento. Ele deve ter amplo conhecimento em formação de mesa (onde sentam o governador, prefeitos, vereadores, e representantes civis, militares e religiosos); ordem de precedência no uso da palavra, colocação adequada das bandeiras do Município, do Estado e do Brasil; além das regras protocolares aplicáveis à etiqueta de cada cultura nas cerimônias.

No entanto, em se tratando de “Cerimoniais” de festas (como quinze anos, formaturas e casamentos) o que eu posso dizer é que, a cada dia me surpreendo com algumas atitudes e posturas.

O primeiro dado razoavelmente escandaloso é que, na última vez que contei, existiam mais de 140 cerimoniais em minha cidade. Isso realmente é um absurdo e só revela que tem muita gente querendo ganhar dinheiro, mas sem ter competência alguma. Normalmente são pessoas que trabalharam por algum tempo em algum bom cerimonial da cidade e resolveu abrir o seu próprio, para ganhar um dinheiro a mais no fim de semana. Portanto, o primeiro critério que um casal deve buscar antes de contratar um cerimonial para seu casamento é a experiência. Procure saber a quanto tempo esse cerimonial está no mercado e não se engane com sorrisos largos e preços baixos; isso não é sinal de qualidade e experiência.

Em segundo lugar, procure um cerimonial que respeite o rito de sua religião. Ora, sabemos que cada religião possui ritos próprios para a celebração matrimonial. Um Anglicano, um Batista, um Luterano ou um Romano (e eu coloquei em ordem alfabética), possuem ritos próprios que devem ser observados pelo ministro obrigatoriamente. O cerimonialista não tem autoridade para impor ao ministro elementos estranhos à liturgia de cada Igreja sem, ao menos, conversar com o ministro. Lamentavelmente posso testemunhar de cerimonialistas que me “comunicaram” que haveria um elemento na cerimônia, sem sequer perguntar se esse elemento cabia ou contrariava o rito. Um bom cerimonialista respeita o sacerdote ou pastor; ele não o trata como mero coadjuvante do evento – que não existiria sem ele -, mas procura, educadamente, saber se tal ou qual elemento pode ou não ser utilizado.

Em terceiro lugar, procure um cerimonial que não seja inseguro ou que minta. Explico. Depois de ter feito o contrato com os noivos, marcando o horário da cerimônia um determinado momento, antes da celebração, recebo uma ligação do cerimonial para confirmar o matrimônio, mas me dizendo um horário geralmente anterior ao que ficou acertado no contrato. Por que fazer isso? Ou bem é um cerimonial inseguro ou bem é pura mentira mesmo. Quero registrar que, em quase 30 anos fazendo casamentos, só cheguei atrasado uma vez, e foi com a ciência dos noivos, que insistiram que eu fizesse sua cerimônia, mesmo sabendo que eu teria um matrimônio anterior. Detalhe, atrasei dez minutos.

Em quarto lugar, procure um cerimonial honesto. Lamentavelmente existem cerimoniais que omitem dos noivos que os sacerdotes católicos romanos, não podem celebrar matrimônios fora da paróquia, e que esses matrimônios podem ser anulados por defeito de forma. Isso, por si só, já pode ser um grande problema para os noivos. Mas eles não são avisados. E pior, existem padres romanos que, mesmo sabendo da proibição, vão celebrar com esses cerimoniais, mentindo e pondo em risco a validade do matrimônio do casal. Esta desonestidade (ou ignorância) ocorre também porque eles sabem que um juiz de paz não é um juiz de direito e que aquele, por ser apenas um representante de um cartório, não pode celebrar o rito matrimonial como se sacerdote fosse. Essa “mímica” ou “pantomima” feita por alguns juízes de paz (que nem formados precisam ser) é omitida por alguns cerimoniais porque eles pensam apenas em seu dinheiro.

Em quinto lugar, procure um cerimonial que tenha um canal aberto para falar com você. Quantas noivas desesperadas eu já não ouvi reclamando que não conseguiam falar com seu cerimonialista? Eu próprio já liguei mais de 10 vezes, para dois números diferentes, durante três dias seguidos, e não consegui falar com um determinado cerimonial. Esse tipo de postura, no qual o cerimonialista simplesmente desaparece, gera muita insegurança aos noivos.

Finalmente, procure um cerimonial atento aos detalhes. Lembro que celebrei um matrimônio em que os noivos escolheram por não terem os encontros matrimoniais comigo e eu só os encontrei na hora do contrato e na cerimônia. Pois bem. Eles haviam resolvido escrever uma mensagem, um para o outro, que deveriam ser lidas depois dos votos de cada um. Assim sendo, depois que o noivo fez os votos sacramentais, passei o microfone para que ele pudesse ler sua mensagem para sua noiva. Foi uma mensagem linda! Mas, depois que a noiva fez os votos sacramentais ela se dirigiu a mim e me pediu o papel com a mensagem dela. Eu, simplesmente não sabia de nada. A noiva improvisou umas palavras e eu terminei a cerimônia. Ao final, procurei a cerimonialista responsável e perguntei porque ela não me havia dado o texto para entregar à noiva. Ela me disse que quando recebeu da noiva o papel, dentro de um envelope, pensou que era o pagamento de um dos fornecedores e guardou dentro da pasta, que estava no carro dela. Moral da história, até hoje este ato de desatenção ou irresponsabilidade da cerimonialista ainda é jogado na minha conta, porque a noiva me culpou. Como se eu tivesse resolvido simplesmente “jogar fora” a mensagem da noiva. Mas a cerimonialista nunca se retratou.

Em resumo, não se deixe levar por sorrisos largos de belas jovens vestidas de preto. Na hora de seu matrimônio, pense em contratar um cerimonial que tenha experiência, que respeite o sacerdote, que seja seguro do que faz, seja honesto, que tenha um canal permanentemente aberto com você e que esteja atento aos detalhes.

Por fim, devo registrar que conheço cerimoniais em minha cidade onde você pode encontrar tudo isso. Eles podem até não ser os mais baratos (e geralmente não são), mas são os mais competentes, atenciosos, cuidadosos, pontuais, respeitosos e a segurança de que seu casamento será um sucesso. Lembre-se, as vezes, o barato sai caro.

 

24. OS ENCONTROS MATRIMONIAIS

Muitas pessoas que me procuram para que eu faça suas cerimônias de casamento ficam constrangidas quando eu falo da importância de termos alguns encontros matrimoniais. Elas perguntam: é mesmo necessário? A impressão é que elas têm uma péssima ideia sobre estes encontros. E até entendo porque. Mas procurarei dar três razões para que estas pessoas fiquem mais tranquilas.

  1. Os encontros aproximarão mais os noivos do Ministro oficiante

Em toda minha vida de sacerdote só fiz um casamento sem conhecer os noivos, e foi minha pior experiência com casamentos. Eu Estava lá parado na frente de duas pessoas que não conhecia e que não sabia nada sobre elas nem elas sobre mim. E por isso que faço os encontros. Para que os noivos possam me conhecer mais e eu a eles. Preciso saber da história do casal. Como se conheceram, quando se apaixonaram, a quanto tempo namoram, etc. E mais, preciso saber se são pessoas cujo casamento exigirá uma certa seriedade e solenidade ou se ele será mais leve e solto. Os encontros servem, em primeiro lugar, para que se crie este link entre o casal e o padre. Link que ficará explícito durante toda a celebração.

  1. Os encontros os farão compreender melhor o anglicanismo

Em segundo lugar os encontros matrimoniais são uma oportunidade para que os noivos conheçam um pouco do anglicanismo e de sua teologia. Este é um momento em que eles ficam sabendo da teologia anglicana do casamento e de nosso etos. Eles de repente estão diante de um Ministro casado e com filhos. De repente eles encontram uma igreja que recebe e abraça as pessoas que passaram pela dramática experiência do divórcio e que permite que eles comunguem. Ser acolhido após passar por um divórcio é algo libertador. Este é também o momento em que o casal conversa com o padre sobre a Comunhão – se desejam ou não, e sobre se farão ou não uma cerimônia com efeito civil. Por isso é importante ter um conhecimento daquilo que se vai fazer no casamento.

  1. Os encontros os farão saber mais sobre o casamento.

Eu entendo o medo das pessoas quando elas ouvem falar dos encontros matrimoniais. Elas pensam que estarão em um enorme grupo de pessoas e que terão que expor suas ideias e suas vidas. Não é assim que faço. Em geral tenho um encontro apenas com o casal, em minha casa, e discutimos temas relacionados ao casamento. A vantagem de se ter um Ministro casado conversando com você é que ele entende muito bem sobre o que é o casamento, suas crises, seus dilemas, suas alegrias, vitórias e o que significa criar filhos. Ademais nestes encontros tratamos de temas extremamente importantes e atuais para a saúde do casal na tentativa de evitar problemas futuros. Por tudo isso, todo casal deveria sim, participar e desejar os encontros matrimoniais.

O primeiro tema dos encontros diz respeito justamente à cerimônia do casamento e à formatação que os noivos querem dar a ela. Por isso é importante que os noivos conversem com o Sacerdote sobre que tipo de cerimônia querem.

No entanto, nenhum casal é obrigado a participar dos encontros. Ou seja, eles são facultados mas não exigidos. Seria proveitoso, interessante e instrutivo, mas, pela própria natureza da ação pastoral, eles não podem ser impostos.

 

25. E A RELAÇÃO COM OS SOGROS?

Quando falamos sobre a relação do casal com os sogros algumas verdades precisam ser pontuadas.

  1. Em primeiro lugar os sogros não são nossos inimigos. É claro que todo mundo já ouviu alguma piada comparando, particularmente, as sogras com um conjunto de bruxas. Mas eu gostaria de registrar que, em vinte e cinco anos de conversa com casais, tenho ouvido em mais de 99% das vezes, que o relacionamento dos genros com seus sogros(as) é extremamente satisfatório. É claro que existem sogros(as) que dificultam muito a relação do casal. Mas eu quero registrar fortemente que esta é a exceção e não a regra.
  2. Em segundo lugar os sogros querem nossa felicidade. É claro que “em condições normais de temperatura e pressão” os sogros(as) querem a felicidade de seus filhos. Claro que, como em tudo na vida, existem exceções, ou seja, pais que apostam no fracasso de seus filhos e que são os primeiros a detratá-los e expô-los publicamente. Mas essa não é a regra. A regra é que os pais estejam sempre dispostos a ajudar e a estender a mão diante de qualquer dificuldade que seu filho(a) venha a passar. E a razão deste comportamento é um só: o amor. Quando uma mãe/pai ama seu filho(a) ela/e a/o defende de qualquer eventual perigo simplesmente com base naquela relação de amor que surgiu desde o ventre.
  3. Em terceiro lugar os sogros têm mais experiência de vida. Se você está pensando em casar é porque seus pais já devem ter, pelo menos uns vinte anos de experiência sobre este assunto a mais que você. Eles já devem ter passado por problemas que você sequer conhece. Como dizemos popularmente, eles conhecem “o caminho das pedras”. Isto os torna infalíveis? Livres da possibilidade de errar? Claro que não. Mas a opinião dos pais deve ser considerada quando o assunto é casamento. Afinal, eles nos amam e têm mais experiência do que nós neste tema.

Mas quando os sogros(as) são sábios eles têm um comportamento bem peculiar: primeiro estarão sempre dispostos a ajudar em qualquer circunstância (e o momento mais clássico é quando a nora dá a luz ao netinho(a); segundo eles jamais interferem sem terem sido convidados para tal. Eles mantêm aquela distância como quem diz: “se precisarem de nós, estaremos aqui”, mas acima de tudo, eles respeitarão as decisões, os erros e os acertos, tomados pelo novo casal.

Casais inteligentes devem, em condições normais, contar com seus sogros(as) em todas as oportunidades. E elas virão. Vai chegar o momento em que os sogros/as vão ficar com seu filho/a para que vocês, enquanto casal, possam sair para um jantar, para ir ao cinema, ou, mais tarde, para fazerem uma pequena viagem. E assim a vida continua. Quando todos conhecem e exercem seu papel, respeitando e apoiando uns aos outros.

 

26. OS PADRINHOS

Geralmente, quando falamos em padrinho, nos referimos àqueles que podem, em alguma circunstância, substituir os pais. Ao falarmos em padrinhos ou bem nos referimos ao batizado ou bem nos referimos ao casamento. Pois bem, tanto num caso quanto no outro há algumas observações que gostaria de fazer sobre o tema.

Em primeiro lugar quero registrar minha absoluta discordância com a tese comum de que o critério para se escolher alguém como padrinho tenha que ser meramente o aspecto social ou financeiro.

Padrinho era a pessoa que, nos primeiros séculos da história da Igreja, se responsabilizava por educar a criança, ou o adulto que deixava o paganismo para e tornar cristão, nos caminhos do Senhor e leva-lo até o batismo. Os critérios para se escolher um padrinho nada tinha a ver com aspectos financeiros ou sociais, mas com aspectos religiosos e pessoais. O bom padrinho era aquele que era capaz de preparar o catecúmeno até o momento do batismo ou de servir de exemplo para o novo casal.

Corroborando o que disse acima, o bom padrinho não é aquele que é capaz de comprar um bom presente para a casa do novo casal, mas aquele que tem maturidade, experiência de vida e que pode servir tanto de exemplo como de apoio em qualquer circunstância.

É claro que a amizade e a proximidade são critérios importantes e que também devem ser lavados em consideração. Mas acima de tudo devemos escolher os padrinhos com critérios mais principiológicos, ou seja, o bom padrinho para o batizado ou para o casamento deve ser um bom cristão que vive sua fé e não uma pessoa que apenas tem um bom presente a dar.

Que os casais e pais passem a ter mais critérios na escolha dos padrinhos. Que eles sejam capazes de perceber que o futuro de uma criança ou de um casamento pode depender das palavras e do exemplo de pessoas que influenciam decididamente nossas vidas.

 

27. NOTAS SOBRE A PREFAÇÃO

O primeiro momento do casamento é chamado de prefação. É neste momento em que a cerimônia começa e o Sacerdote dá algumas explicações sobre o que significa o casamento. Em um dos Ritos anglicanos do casamento, há uma prefação em cujo segundo parágrafo há uma citação que eu gosto muito. Ela diz assim: “É da vontade de Deus que a união de esposo e esposa no coração, corpo e mente, seja para edificação mútua; para ajuda e consolo de ambos, tanto na alegria como na adversidade; e quando Deus assim o permitir, para a procriação dos filhos e sua educação no conhecimento e amor do Senhor”.

Há duas grandes verdades apresentadas aqui: em primeiro lugar encontramos o elemento fundante do casamento e, em segundo, seu aspecto teleológico. Em primeiro lugar, temos o elemento fundante, qual seja, a plena união do casal. Quando o prefácio fala da: “união de esposo e esposa no coração, corpo e mente” temos aqui uma forma retórica de descrever uma união que envolve a pessoa por inteiro. Explico. O coração é a sede dos sentimentos, o corpo é a sede dos desejos e a mente é a sede da razão. Isto significa que quem deseja casar precisa estar inteiro em seus sentimentos, desejos e razões. Não adianta ter boas razões para se casar com uma certa pessoa se o aspecto “corpo” ou o aspecto “coração” não estão presente. Não adiante se sentir atraído pelo corpo se a razão diz que esta não é a pessoa certa. O mesmo pode ser dito sobre o coração, ou seja, os sentimentos. É preciso que os noivos estejam inteiros naquilo que estão fazendo, senão o casamento tem fortes chances de ter dificuldades e de acabar.

A segunda grande verdade que esta prefação nos revela que é o aspecto teleológico do casamento. O que é isso? Teleologia tem a ver com a “finalidade” das coisas. Afinal, para que casamos? A prefação anglicana apresenta três razões: “seja para edificação mútua; para ajuda e consolo de ambos, tanto na alegria como na adversidade; e quando Deus assim o permitir, para a procriação dos filhos”. O primeiro elemento é a edificação mútua. O que significa isso? Que os noivos são mutuários de uma edificação. O casamento é uma edificação, ou seja, uma construção, em que os dois têm que participar. Não há casamento quando somente um trabalha e edifica e o outro apenas assiste – quando não destrói. O segundo elemento é “ajuda e consolo de ambos, tanto na alegria como na adversidade”. Sabemos que a vida não é feita apenas de alegrias. Se fosse seria muito bom e fácil se manter casado. Há, contudo, intempéries, lutas, dores, perdas, doenças, etc. São nestes instantes que nosso companheiro(a) se revela fundamental para nossa sustentação. Quando passamos por uma enfermidade é que compreendemos a importância de poder segurar a mão da pessoa que se comprometeu a estar do nosso lado em todos os momentos. Por isso eu compreendo a dor das pessoas que perderam seu/sua companheira(o) de 30, 40 ou 50 anos. A última razão de ser do casamento é descrito na prefação assim: “e quando Deus assim o permitir, para a procriação dos filhos”. Devo explicar, antes de mais nada, que a expressão “quando Deus assim permitir” significa que os anglicanos fazem casamentos de pessoas que não podem gerar filhos. Na Igreja Romana, por exemplo, a impotência total ou parcial é um defeito dirimente para o casamento, ou seja, pessoas com este problema não podem casar na Igreja Romana. Entre os anglicanos não há esta dificuldade. A inseminação artificial ou a adoção podem ser alguns dos caminhos trilhados por casais que não podem ter filhos e queiram se casar. Mas o que importa é compreender que o casamento existe, também, para gerar filhos e educá-los na fé cristã. Afinal há em todos nós, seres humanos, uma certa certeza de que nos eternizamos por meio dos filhos.

 

28. A PROMESSA DA HONRA

Todo casamento tem mais ou menos a mesma estrutura e os mesmos elementos. Mas um dos mais importantes é a declaração de consentimento. Nele nós declaramos que é de livre vontade que desejamos nos casar com aquela pessoa que está ao nosso lado e nos comprometemos a amar, consolar, preservar e honrar esta pessoa em todas as circunstâncias. Lamentavelmente muitos casais se esquecem destas promessas no final da festa.

Uma das promessas que julgo mais importante na Declaração de Consentimento é a de honrar nosso cônjuge. Mas o que significa honrar? O dicionário nos diz que “honrar” é dar crédito ou merecimento; honrar é dignificar, enobrecer, estimar e respeitar. Quantas vezes ouvi de algumas mulheres: “eu queria apenas que ele me respeitasse”. O respeito, para Houaiss, é um sentimento que nos leva a tratar o outro com grande atenção, profunda deferência, consideração e reverência. Já imaginou se aplicássemos esta definição todos os dias em nosso casamento?

Debbie Cherry nos diz que demonstrar respeito por seu cônjuge “significa dar absolutamente a melhor parte de si mesmo – em relação a sua atitude, seu tempo, sua maneira de expressar-se e vestir-se, seus presentes, enfim, tudo”. Na maioria das vezes, na vida real, os cônjuges ficam com o que sobra e não com o melhor. Pense no seu tempo, por exemplo. Você dá o melhor de seu tempo para seu cônjuge?

Você trata seu cônjuge tão bem quanto trata um conhecido ou um estranho? Imagine que você acabou de chegar do trabalho. Está super cansado e exausto daquilo tudo. Ficou preso no trânsito por causa de um acidente e está de mau humor. Mas quando você chega em casa encontra um amigo de infância que não via há anos. Imediatamente seu rosto muda. O semblante abatido logo dá lugar a um sorriso. Você o abraça e diz como é bom reencontrá-lo depois de tantos anos. Cherry pergunta: “qual a probabilidade de que seu cônjuge recebesse o mesmo tipo de saudação depois de um dia como esse?”

Meu amigo(a) faça com que seu cônjuge receba o melhor de você. Demonstre respeito em tudo o que diz e faz com ele. Esteja atento em como você se expressa sobre ele para as outras pessoas. Não seja rude ou agressivo com ele e mostre interesse por suas necessidades demonstrando o desejo de ajudá-lo em suas limitações.

“Honrai a todos”, é o que diz a Bíblia em I Pd 2:17. Mas abaixo de Deus, a pessoa mais importante e merecedora de sua honra é seu cônjuge. Experimente cumprir o que as Escrituras sugerem e viva feliz com seu cônjuge.

 

29. SOBRE O SERMÃO NO MATRIMÔNIO

A impressão que estou tendo, nestes últimos meses, é que alguns padre e pastores estão transformando o momento do sermão (ou homilia), na celebração do casamento, em alguma forma de terapia grupal ou mesmo de expressão de imbecilidade em estado puro e simples.

Semana passada pelo menos três casais me falaram de sermões que assistiram em cerimônias de casamento, que me deixaram preocupado. Um casal me falou que o pastor chegou a apontar para a noiva e dizer que ela estava “preocupada apenas com os bens do noivo”. Ou seja, que ela estava casando por interesse. Outro casal me confidenciou sobre um padre que disse, sem qualquer cerimônia, que, na vigência do casamento, os noivos vão sentir vontade de se matarem um ao outro. E disparou uma pergunta apontando para o pai da noiva: “O senhor já teve vontade de matar sua mulher alguma vez?”. Que saia justa!!! O terceiro casal me falou que o sermão do pastor se transformou em uma aula sobre a realização sexual do seu cônjuge, inclusive, fazendo menção a posições, etc.

Particularmente, estranho muito este comportamento. Durante os quatro anos em que estive vivendo em regime de internato no Seminário em Recife, paguei oito cadeiras sobre homilética, ou seja, a arte de fazer sermões. Foram oito semestres aprendendo a fazer todo tipo de sermão. Desta experiência retido algumas lições.

Em primeiro lugar, quanto à forma, eu prefiro pregar um sermão expositivo, ou seja, aquele que usa um texto como base e não como pretexto para não se dizer nada. Portanto, procuro não fugir do texto bíblico escolhido para o sermão.

Em segundo lugar, quanto ao conteúdo, é óbvio que um casamento não é o lugar para se dar uma aula de teologia, ou para pregar contra as igrejas dos outros ou desqualificar a religião de ninguém. O tema de um sermão em um casamento, necessariamente, terá que girar em torno do sentimento que trouxe aquele casal até aquele lugar, ou seja, o amor. Sermão de casamento precisa falar de amor, companheirismo, ternura, afetividade e temas afins.

Em terceiro lugar, quanto à duração. Vivemos dias em que as coisas precisam ser feitas com agilidade e concisão. Mas sem ser atabalhoado. Acredite, é mais fácil pregar um sermão de trinta minutos do que um de dez. porque? Por que o de dez minutos exigirá que você faça a distinção entre o que é essencial e o que é secundário, e se atenha apenas ao que é essencial. Ao passo que em um sermão de trinta minutos, assunto chama ideia, ideia chama assunto, os temas se entrelaçam, rodeia-se muito e perde-se muito tempo, tornando o que deveria ser edificante em uma experiência maçante.

Eu lamento muito pela experiência de muitos noivos que acabam escolhendo, para realizar seu casamento, alguém que sequer o português sabe pronunciar direito ou que tem algum vício de linguagem. Mas esse é o menor dos problemas, diante das loucuras que estão sendo pregadas por aí nos púlpitos. Portanto, noivos, procurem saber algo sobre o sermão do Reverendo que vocês escolheram para realizar sua cerimônia. Acreditem, o sermão ficará marcado na mente dos presentes, ou bem como uma experiência libertária e prazerosa, ou bem como algo aterrorizante e aterrador. Boa parte da responsabilidade neste caso, cabe a vocês, noivos. Portanto, escolham sempre o melhor para terem sempre o melhor naquele que será um dia único em suas vidas.

 

30. ACERCA DOS VOTOS

O momento em que efetivamente ocorre o casamento é quando os noivos, que já deram o consentimento mútuo, fazem seus votos. Os votos são também chamados de fórmula porque é o momento em que os noivos fazem solenemente seus compromissos. Nas igrejas históricas os votos são muito parecidos e nas Igrejas Anglicanas são assim: “Em nome de Deus, eu, __, recebo a ti, __, para ser minha esposa (esposo), de hoje em diante, para conservar-te, na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença, para te amar e cuidar de ti, até que a morte nos separe. E para isso, eu te dou a minha palavra e fé”.

Destes votos podemos identificar alguns elementos

  1. Ele é feito “em nome de Deus” e esta invocação do Criador nos impele a fazer o que estamos fazendo com gravidade e responsabilidade;
  2. Os votos são pessoais: “eu, __, recebo a ti, __, para ser minha esposa (esposo)”. O casamento é um gesto voluntário em que um “recebe” o outro. Normalmente, “recebemos” algo, quando recebemos um “presente”. Gosto de ver nestas palavras o reconhecimento mútuo de que Deus está presenteando cada noivo com algo muito precioso: aquele ou aquela que cuidará dela pelo resto de sua vida.
  3. Os votos possuem uma expressão temporal: “de hoje em diante”. Isto significa que não existirá um momento entre o “hoje” e o “fim”, em que os cônjuges não estarão atados pelos votos que estão fazendo.
  4. Os votos implicam em um compromisso de cuidado mútuo: “para conservar-te, na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença, para te amar e cuidar de ti”. Este cuidado ocorrerá em qualquer circunstância, quer envolva aspectos existenciais (alegria ou tristeza), financeiros (riqueza e pobreza) ou bem-estar (saúde ou doença). Quem faz estes votos estão dispostos a amar e a cuidar em qualquer circunstância.
  5. Quem faz estes votos está sem comprometendo para toda a vida, por isso ele diz: “até que a morte nos separe”. A certeza de que se ama e de que se é amado é tanta que quem faz estes votos aposta toda a sua vida no sentimento que anima seu coração.
  6. Esta certeza pode ser descrita pelas palavras que encerram os votos: “E para isso, eu te dou a minha palavra e fé”. A palavra é empenhada tanto quanto sua crença mais íntima, ou seja, sua fé. Os noivos se comprometem com sua honra e sua crença, que cumprirão estes votos.

Minha oração é que cada noivo ou noiva que faz estes votos tenham em mente a responsabilidade, a gravidade e a importância deste momento em que o casamento se materializa.

 

31. NA SAÚDE OU NA DOENÇA

Em toda a minha vida de sacerdote fiz centenas de casamentos. Em todos os noivos repetem aquelas palas tão conhecidas dos votos: “na saúde ou na doença”. Recentemente uma das noivas que fiz o casamento passou por meses de sofrimento que culminou em uma grande cirurgia que exigiu muito cuidado e atenção.

Surpreendentemente, é justamente neste momento que a gente conhece mais e melhor quem está ao nosso lado. Quando tudo está bem é ótimo estar casado. Mas quando precisamos nos levantar durante a noite para ajudar nossa esposa a sair da cama, quando precisamos administrar os remédios, assumir mais espaço nas atribuições do lar, privilegiamos a vida e a de nossa companheira diante, até mesmo, de nosso emprego, aí vemos que realmente aquelas palavras ditas nos votos têm sentido.

O marido continua sendo quem é, com todos os seus defeitos e erros. Mas nos últimos trinta dias ele tem percebido como é importante estar ao lado de sua esposa, diante de um instante tão doloroso e singular na vida deste casal. Mais que isso, ele percebeu como é importante relembrar sempre que Deus está no controle e que quando ele está ao nosso lado, tudo vai muito bem.

Hoje ele pode agradecer a Deus pela esposa maravilhosa que Deus lhe deu. Ela é uma mulher maravilhosa, inteligente, trabalhadora, íntegra e, acima de tudo, sua companheira em todos os momentos. Muito em breve ela estará absolutamente curada, e aí, agradeceremos juntos, porque Deus esteve ao lado deles durante todo o tempo de tribulação e de dor. Deus seja louvado pelo dom da vida! Graças dou a Deus pela vida desta mulher vitoriosa.

 

32. A ORIGEM DAS ALIANÇAS

Como a própria palavra indica, “aliança” é um anel usado para simbolizar um acordo ou compromisso. A origem desta palavra está no latim alligare, que aponta para uma relação de proximidade, de união. Fazer uma aliança com alguém é fazer um acordo, um pacto, enfim, uma união. Desta forma, o anel com nome de aliança é um testemunho do pacto feito entre o marido e sua esposa.

Com uma provável origem hindu, os egípcios, por volta de 2800 a.C., já usavam um anel para simbolizar o laço matrimonial. Para eles, um círculo, não tendo começo nem fim, representava a eternidade à qual a união se destinava. Por volta de 2 000 anos depois, os gregos descobriram o magnetismo, que acabou, também, influindo nessa simbologia. Como eles acreditavam que o terceiro dedo da mão esquerda possuía uma veia que levava diretamente ao coração, passaram a usar nele um anel de ferro imantado, para que os corações dos amantes permanecessem para sempre atraídos um pelo outro. Este costume foi adotado pelos romanos que chamavam esta veia de “venaamoris” e a Igreja Cristã manteve a tradição.

No início a aliança era tida como um certificado de propriedade ou de compra da noiva, indicando que a mesma não estava mais disponível para outros pretendentes. Como vemos as alianças não eram consideradas um sinal de amor, mas eram relacionadas com o dote que a noiva trazia para o casamento, que muitas vezes era negociado pelos pais dos noivos. Ela era, portanto, uma testemunha do tempo em que os casamentos eram considerados um negócio, ou seja, um contrato entre famílias, a fim de garantir a segurança econômica do casal.

Somente a partir do século IX a Igreja Cristã adotou a aliança como um símbolo de união e fidelidade entre os casais cristãos. Já o anel de noivado, por seu turno, foi introduzido no ano 860, por decreto do papa Nicolau I (858-867), que o instituiu como uma afirmação pública obrigatória da intenção dos noivos. Foi a partir de então que a aliança passou a sair da mão direita para a mão esquerda. Para representar a aproximação do compromisso definitivo. Do lado esquerdo, ela fica mais próxima do coração.

Hoje as alianças são um “sinais visíveis de uma graça invisível”, ou seja, um “sacramento” do amor. Quando vemos alguém usando uma, estamos diante não de uma propriedade de um senhor feudal, mas de uma pessoa que assumiu um compromisso perpétuo de amor e de fidelidade.

 

33. O RITO SACRAMENTAL AS ALIANÇAS

Muita gente que vai aos casamentos, e muitos noivos também, não têm uma exata compreensão do que sejam as alianças e de sua importância. Para começarmos a ter uma ideia correta sobre isso precisamos entender o que significa a palavra “sacramento”. Em sua origem latina, sacramentum significa “sinal visível de uma graça invisível”.

Em um casamento, a “graça invisível” é o amor que une o casal, mas o sinal visível deste amor são as alianças, trocadas com a promessa de amor e de fidelidade.

Quais as consequências deste gesto? Para muita gente, nenhuma. É apenas um gesto que faz parte do rito do casamento. Mas não deveria ser assim. Um casal que compreende bem o sentido do rito sacramental entende que as alianças devem ser respeitadas como um “sinal” de que o próprio Deus uniu o casal. Como o matrimônio, nas igrejas Anglicanas, têm o status de Rito Sacramental, Deus mesmo, nos dá um sinal de sua bênção ao casal, na forma do amor que une os dois.

Às vezes vejo casais que, em crise, resolvem retirar as alianças e jogar fora. Lamento muito por isso. Este é o gesto supremo de desistência de um caminho e de um sonho que foi trilhado a dois.

Caros casais. Diante de quaisquer dificuldades, olhem para suas alianças. Elas lhes farão lembrar de que o amor de vocês é preciso como o metal do qual elas foram feitas; elas lhes farão lembrar, em sua circularidade, que o amor é eterno, sem início e sem fim o que significa que o amor de vocês nasceu primeiro no coração de Deus; e elas lhes farão lembrar que vocês têm um compromisso para com o outro. Jamais retirem suas alianças e olhem sempre para elas como quem olham para o “sinal” de Deus presente sempre na vida de vocês. Que Deus os abençoe sempre.

 

34. O BEIJO I

Falar sobre o beijo é falar sobre algo que nos é muito peculiar mas, que, as vezes, é constrangedor. Entre os antigos existiam três tipos de beijos: o basium, que era praticado entre conhecidos; o osculum, entre amigos; e o suavium, ou beijo dos amantes.

Todas as histórias que ouço em minhas conversas com casais me fazem crer que este é cominho natural das coisas. Primeiro a gente conhece a pessoa, e neste processo damos dois ou três basium no rosto. Em seguida passamos a nos conhecer mais e damos o osculum na entrada ou na saída da festa, por exemplo. Mas, chega um instante em que os olhares de cruzam, as pupilas se dilatam, o coração bate mais rápido, a pressão sanguínea aumenta e aí não tem mais como segurar o suavium. Creio que esta palavra descreve muito bem o que acontece com nosso corpo e com nossa alma quando beijamos a pessoa amada. Há uma sensação de suavidade no ar e no coração.

Quando beijamos o amor de nossa vida, nosso ser se enche da suavidade própria de quem ama e de quem é amado. Particularmente este é o momento mais esperado pelos convidados para o casamento, é seu clímax.

Caros casais, querem uma sugestão? Beijem e beijem muito. Ao acordar, antes de dormir, diante do mar, ou de uma cena bonita, quando receber um presente… etc.  Mas, lembrem-se, o beijo tem a capacidade mágica de aproximar os casais. E casais felizes não têm cerimônia para expressar este carinho. Por fim, lembrem sempre das palavras de Machado de Assis: “A melhor definição de amor não vale um beijo da moça namorada”.

 

35. O BEIJO II

Quando estou realizando casamentos, é perceptível que o momento mais esperado é aquele em que digo: “o noivo pode beijar a noiva”. Percebo isso porque em muitas cerimônias que fiz, ele quase se beijaram antes. Foi preciso minha intervenção para dizer: “Calma!” e ver todos rirem.

O beijo é assim. Há um texto na Bíblia que diz: “Beije-me com os beijos de sua boca! Seus amores são melhores do que o vinho” Ct 1: 2. Eu entendo muito bem o que havia no coração de quem escreveu este texto. Ainda me lembro do primeiro beijo que dei em minha esposa. Parecia uma cena própria de um romance cinematográfico. Não por sua avidez, ou desejo, mas justamente, por sua leveza e tranquilidade.

O beijo é o gesto mais transparente de quem demonstra afeto por outra pessoa. É bem verdade que o beijo é um gesto cotidiano e comum de quem se encontra ou se despede, de quem deseja um “bom dia” ou de quem vai embora. Mas ele também pode ser visto como o gesto mais profundo entre duas pessoas que entram em sintonia. E isto é exatamente que a amada, citada no texto bíblico acreditava.

Em suas palavras são possíveis encontrar a avidez de quem quer dar o primeiro beijo, ou o último. “Beije-me” diz ela. Como quem cobiça e deseja, ardentemente, concretizar o amor com seu amado.

Beije-me “com os beijos de sua boca”, ou seja, com seus lábios. Nos lábios de quem beija, encontramos o sinal da proximidade, da vida, da bênção e do bem. Nos lábios de quem beija tanto se podem encontrar traição, como ocorreu com Judas, que traiu Jesus com um beijo, como se podem encontrar a embriaguez de quem se une por meio de um beijo envolvido em um forte abraço que acolhe.

Este beijo, que traz consigo o amor, diz o texto bíblico “é melhor que o vinho”. Em outras palavras, é mais satisfatório e delicioso que o vinho. O vinho era a bebida mais comum nas festas de casamento na Bíblia. Mas nem o melhor vinho, o mais desejável, aquele da melhor safra e com melhor Bouquet era tão importante e necessário quanto o beijo inebriante da pessoa a quem amamos e temos como nossa companheira.

Feliz é aquele que encontra no beijo da mulher amada o beijo que une e que embriaga, o beijo que intensifica o amor e que reflete a entrega total. Porque diz a Bíblia, “os golpes do amigo são leais, e mentirosos os beijos do inimigo” Pv 27:6.

 

36. A BÊNÇÃO

Quando eu era criança era impensável que se chegasse ou saísse de casa sem se dirigir aos pais e dizer: “à bênção papai”. Este hábito já não tão presente nas famílias de hoje, revelam um pedido para que os pais expressassem oralmente um bom desejo por meio de palavras. Aliás, a palavra “bênção”, no grego, é eulogia, uma palavra composta por um prefixo “eu” que quer dizer “bom” ou “boa” e a raiz “logia” que quer dizer “palavra”. “Eulogia”, portanto, é uma boa palavra emitida pelos pais, conhecidos ou por uma autoridade religiosa sobre alguém ou sobre uma comunidade, para que esta expressão material tenha reflexo na realidade espiritual.

Normalmente, quando do final da cerimônia do casamento eu peço aos noivos que se ajoelhem – em sinal de humildade, e recebam de todos os presentes a bênção de Deus, dos pais, parentes e amigos. Esta bênção reflete o desejo de Deus para que o casal caminhe juntos por toda a existência até o momento em que um dos dois se encontre com nosso Pai celestial.

 

37. AS DUAS FAMÍLIAS DE UM HOMEM

Em condições normais de temperatura em pressão, como costumo dizer, cada um de nós se envolve, no decorrer de sua vida, em duas famílias. A primeira é aquela formada pelos nossos pais, irmãos, avós, tios, primos, etc. Esta família não é escolhida por nós e, muitas vezes, é motivo de críticas e desavenças. Não é sem razão que o pensador francês Etienne Rey, em suas Máximas morais e imorais, já afirmava: “Chama-se família um grupo de indivíduos ligados pelo sangue e brigados por motivo de dinheiro”.

Mas há uma segunda família que, inevitavelmente, o decorrer da vida nos faz encontrar e construir. Ela, diferente da primeira porque é o resultado da escolha e é fruto do amor. Mas só pode surgir depois que uma atitude de ruptura com a primeira acontece. Esta ruptura é mencionada na Bíblia que diz: “Deixe o homem, seu pai e sua mãe e una-se a sua mulher, e sejam ambos, uma só carne”. É claro que a Bíblia não está dizendo que você tem que abandonar seus pais e esquecer seus parentes e seu passado. O que ela está afirmando, é que, de agora em diante, há uma nova família que terá a primazia na sua vida. Ela é feita por você, sua esposa e os filhos dessa relação.

Terão dificuldades? Claro que sim. Tolstoi, em Ana Karenina nos diz que “Todas as famílias felizes se assemelham; cada família infeliz é infeliz à sua maneira. Porque ele diz isso? Porque a infelicidade pode vir de vários fatores diferentes. Balzac, por exemplo, em seu texto A procura do absoluto, que “na vida íntima das famílias chega um momento em que, voluntária ou involuntariamente, os filhos passam a ser juízes de seus pais”. Ou seja, as vezes os problemas as vezes podem surgir dos próprios filhos.

De tudo o que foi dito acima há algo que você deve guardar. A relação que deve ter prioridade na vida do homem deve ser a com sua esposa. É por isso que “ambos serão uma só carne”. Os pais, um dia, passarão e os filhos, um dia, também se casarão e irão embora. E neste dia, você perceberá que a família mais importante que você tem, é composta pelo dueto que atravessou as épocas e as décadas; pelos cúmplices que se cuidaram na doença e que aproveitaram a saúde; pelos amantes que se viam – e não se cansavam de se ver – todos os dias; um após o outro, com avidez e absurda saudade quando, por qualquer razão, se afastavam.

Esta família é peculiar porque você a escolheu. Seus laços não são feitos de sangue, são laços construídos pelo amor, pela cumplicidade, pelo respeito, pela superação das dificuldades, enfim, pela perseverança em acreditar e em querer continuar amando. Mas é preciso que sejam dois, pois, como afirmou o Lord Byron, “Ao contrário do ouro e do barro, o verdadeiro amor, dividido, não diminui”.

Divida sua vida e seu amor com seu cônjuge e seja muito feliz, até aquele dia em que um há de fechar os olhos do outro com o mesmo carinho com que os enxugou durante as lutas da vida.

 

38. AS DIFERENÇAS NO CASAMENTO

O casamento é, por definição, a união entre duas pessoas diferentes. Estas diferenças são de diversas naturezas. Primeiramente, temos a diferença sexual. Em seguida temos a diferença de criação, de ideias, de valores, de religião, temos diferenças políticas, sociais, e tantas outras. Mas será que estas diferenças podem ser perigosas? Minha experiência me autoriza a dizer que, no que tange às diferenças, é possível afirmar três verdades.

  1. Há diferenças que prejudicam a relação

Quando o Apóstolo São Paulo escreveu em II Co6:14: “Não vos ponhais em jugo desigual” ele estava pensando exatamente naquelas diferenças que prejudicam a relação. Primeiro devemos entender a ideia presente na mente de Paulo. Ele está muito provavelmente fazendo uma referência à Dt 22:10 e Lv 19:19, que proibia a utilização do mesmo jugo em animais que, por serem de espécies diferentes, exigiriam jugos diferentes. Tanto Paulo quanto seus antecedentes rabínicos entendiam que esta ideia se aplicava a um casamento misto ou a uma relação muito íntima com alguém que seja “incrédulo” (no grego apistós, ou seja, sem fé ou infiel).

Quando as diferenças são profundas e atingem o cerne das convicções das pessoas, sejam, convicções religiosas ou ideológicas ou políticas, etc., um casamento pode passar por uma enorme dificuldade podendo, inclusive, caminhar para um fim.

  1. Há diferenças que nada dizem à relação.

Em segundo lugar, há diferenças que nada dizem à relação conjugal. Ninguém, creio eu, em sã consciência, jamais colocaria seu casamento em risco em função de temas como a cor da pele, a idade, preferências envolvendo o lazer ou aspectos culinários, etc.

  1. Há diferenças que fortalecem a relação

Mas há diferenças que podem enriquecer a relação. Surpreendentemente, estas diferenças são da mesma natureza daquelas que podem prejudicar. A diferença está na natureza das pessoas. Há pessoas que olham para o diferente como alguém que tem que ser igual a mim. Mas é possível olhar para o outro como alguém que pode enriquecer minha perspectiva de mundo com suas diferenças. O que precisa existir, sempre, é respeito. Encerro minhas palavras citando Santo Agostinho: “no essencial, unidade; no secundário, liberdade; em tudo, amor”.

 

39. AS ESCOLHAS QUE FAZEMOS…

Quando eu era criança ouvia alguns adultos falarem de pessoas que queriam “abraçar o mundo com as pernas”. No início eu não entendia bem que era isso, mas com o passar do tempo fui compreendendo que a gente não pode ter tudo na vida e que é preciso fazer escolhas.

Não existe nada mais difícil do que fazer escolhas porque elas produzem, no coração de quem é livre para escolher, a angústia. Escravos não experimentam a angústia de ter que fazer uma escolha séria na vida.

Eu acredito profundamente, depois de 50 anos de vida, de muitos erros cometidos, de muitas lágrimas derramadas e de muitos sonhos desfeitos, que é preciso escolher seu(a) companheiro(a) com muita racionalidade, sensibilidade e integridade. Às vezes escolhemos mal porque ainda somos ingênuos demais, ou por falta de vivência, ou por fuga, etc., etc., etc.

Lendo um livro, certa vez me deparei com uma frase fabulosa que reproduzo aqui: “Faça com sua vida e suas expectativas sejam reflexos profundamente pessoais daquilo que é realmente importante para você”.

As escolhas que fazemos hoje, principalmente a escolha de um(a) companheiro(a) precisa ser encarada como a escolha mais importante que fazemos na vida, por isso essa escolha deve determinar o tipo de vida que queremos ter.

Se você quer casar não há porque reclamar em ter que ficar em casa com sua esposa. Se você quer ser fiel não há porque dar espaço para que outra pessoa interfira na sua vida. Se você escolheu uma companheira para o resto de sua vida, ninguém é tão importante quanto ela na sua vida. Se sua esposa\marido é realmente importante para você, então você terá que promover as rupturas que se fizerem necessárias para que vocês sejam felizes.

Nas Sagradas Escrituras o casamento é descrito como um “deixar”: “deixe o homem, seu pai e sua mãe e una-se a à sua mulher e sejam os dois uma só carne” (Gênesis 2: 23,24). Quem está querendo casar tem que estar disposto a deixar. As vezes é preciso deixar pra trás amigos, parentes, histórias e até filhos, se eles se constituem em empecilhos para sua felicidade. Paciência! Não se pode ter tudo na vida. Mas quando a mulher, ou o homem da sua vida, passa na sua frente, você precisa tomar decisões ainda que isto implique em rupturas. Aqueles que realmente amam você entenderão. Os invejosos revidarão e o acusarão de egoísta. Fazer o que? Agora que você sabe o que quer e disse “sim”, viva intensamente esse amor.

Deus, em sua graça, te presenteou com um cônjuge para o resto de sua vida. À ele você deve devotar todo o empenho, sua vida, seu trabalho, seu esforço. À ele você deve ser fiel e exclusivo porque estas são as consequências inevitáveis do meu amor. Quanto aos que te apoiam, deseje um forte abraço; quanto aos que te odeiam e esperam o fim da relação, sugira que esperem sentados… melhor, deitados… e tomem um clonazepam antes, mas cuidado com a posologia….

 

40. A IMPORTÂNCIA DOS ACORDOS

Diz as Escrituras Sagradas no livro do profeta Amós 3:3: “Andarão dois juntos se não estiverem de acordo?”. Neste texto procurarei falar sobre a importância dos acordos para que o casal possa viver uma vida mais feliz e tranquila. Para tanto falarei de três fatos que tornam os acordos importantes.

  1. Os acordos são importantes porque estabelecem um comportamento.

Fazer um acordo é estabelecer um padrão de comportamento a dois. Quando os acordos são celebrados espera-se que as partes contraentes cumpram o que ficou estabelecido. Isto também é válido para os casais. Quando nos casamos estamos, na realidade fazendo um acordo que estabelecem comportamentos para o resto da vida.

Os acordos podem ser sobre os mais diferentes temas. É possível, por exemplo, que um dos itens acordado com sua esposa diga que você não deve dar carona a nenhuma mulher e nem ela a nenhum homem. É possível que vocês tenham feito um acordo distribuindo os custos da casa. É possível que vocês tenham feito um acordo sobre o uso do e-mail ou do facebook. É possível que faça um acordo concordando que só irão beber no sábado e que o domingo será dedicado ao descanso. O que importa é que o casal seja capaz de fazer os acordos e que eles sejam respeitados. Pois, como dizem os juristas, “o acordo entre as partes tem força de lei”.

  1. Os acordos são importantes porque trazem tranqüilidade e segurança.

Quando estabelecemos acordos podemos nos tranqüilizar porque sabemos (ou confiamos) que o acordado será cumprido. É muito difícil conviver com uma pessoa que muda de comportamento o tempo todo. Que reage de formas diferentes ao mesmo estímulo. Esta pessoa se transforma em uma caixa de surpresa

Mas quando sabemos e confiamos que o comportamento será de acordo com o que foi acordado, não há espaço para a insegurança ou a desconfiança. Podemos descansar na certeza de que a palavra de nosso cônjuge será cumprida. Para assumirmos este grau de confiança precisamos amadurecer e vencer nossos medos.

  1. Os acordos são importantes porque todos saem satisfeitos.

A satisfação das partes se baseia na capacidade que as partes têm de ceder. Senão não é acordo, é imposição, é ditadura. O parceiro não tem escolha. Ou é daquele jeito ou está tudo acabado. Isto não é acordo. Todo acordo precisa ser sinalagmático porque envolve deveres e direitos para ambas as partes.

A satisfação do acordo reside na capacidade mútua de ceder, de abrir mão, de negociar. Quando isso ocorre sabemos que o outro está se esforçado para ficar ao nosso lado e isso traz satisfação.

Conclusão. Mas há algo acerca dos acordos que precisa ser lembrado. Eles podem – e muitas vezes são – renegociados. Por que? Porque ninguém permanece a mesma pessoa durante toda a vida. Nós mudamos; as circunstâncias mudam, o mundo muda, enfim, somente uma pedra (sem vida) não muda. Tudo o que está vivo está em constante mutação, desde nossas células, até os sistemas galácticos. Tudo o que está vivo está em constante mudança ou em troca com o mundo exterior. Tudo flui, dizia Heráclito, por isso, os acordos precisam ser refeitos de tempos em tempos. Por isso certo pensador afirmou já ter casado três vezes com a mesma mulher. Para tanto é preciso a capacidade de negociar, ceder, abdicar e se ajustar a novas realidades. Mas saibam, sem acordo, é impossível que o casal permaneça junto.

 

41. O HOMEM IDEAL

Lembro de uma reportagem que saiu em uma revista semanal de 2013 e que perguntava “quem é o homem ideal?” O artigo começava citando o psicólogo Jeremy Nicholson que afirmava que as mulheres estavam presas a uma “armadilha causada pelo confronto entre o tipo de homem que achavam atraente do ponto de vista biológico – o provedor dominador – e aquele que admiram socialmente, o companheiro capaz de mostrar suas emoções”.

David Buss, da Universidade do Texas estudou as qualidades admiradas pelo sexo oposto em 37 culturas e chegou às seguintes conclusões. O homem ideal deve possuir, pelo menos 7 características:

  1. Deve ser sensível. Em outras palavras ele deve perder a vergonha de chorar e precisa aprender a dizer “eu te amo”.
  2. Deve ser prendado. As mulheres procuram homens com quem sejam capazes de dividir as tarefas domésticas. Por isso homens, lavar a louça ou preparar o café da manhã não vai torná-los menos machos na relação.
  3. Bom pai. Já dizia um velho comercial: “não basta ser pai, tem que participar”. É preciso, para o homem de hoje, ir às reuniões da escola e ajudar nas tarefas escolares dos filhos.
  4. Equilibrista. Elas admiram um homem que é bom naquilo que faz sua profissão. Mas não estão mais interessadas em workwholics que só pensam no trabalho. Elas querem um companheiro para toda a sua vida.
  5. Bem-sucedido. Elas admiram homens com ambição profissional, mesmo que ganhem menos que elas, porque isto as estimulam a se dedicarem à sua própria carreira.
  6. Atencioso. Em uma pesquisa realizada na USP, 57% das mulheres reclamaram da ausência das “preliminares”, o que revela a importância de se dar mais atenção ás necessidades de sua companheira.
  7. Vaidoso. Desde que isso não se transforme em obsessão com o corpo, as mulheres aprovam a vaidade masculina.

Onde está o problema? O problema é que este homem descrito acima não existe na vida real. É como o homo vitruviano de Da Vinci. Perfeito, mas irreal. Portanto o segredo está primeiro, em diminuir as exigências em cada um dos itens e, em segundo lugar, valorizar aquelas que, cada uma das mulheres reconhecem como “características chave”, porque, admitamos, ou não, no amor, a perfeição não existe.

Mas há algo que precisamos entender. Diante de uma sociedade cada vez mais mutante, os homens precisam ter a capacidade de se reinventar e de se adequar às novas mentalidades e expectativas. Não basta ser forte, provedor e determinado. É preciso aprender a ser dedicado, fiel e sensível. Neste jogo, os dois têm tudo para saírem ganhando se jogarem com paciência e compreensão. Se estes dois elementos estiverem presentes, estaremos assegurando famílias mais felizes no futuro.

 

42. A CONDUTA DO MARIDO CRISTÃO

“Vos, marido, amai a vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, a fim de santificar, tendo-a purificada com a lavagem da água, pela palavra” (Efésios 4: 25, 26).

Estamos experienciando uma crise de conduta e de comportamento em nossos dias. Esta crise tem como fundamento, em grande parte, as alternâncias de papéis que ocorreram em todos os setores da sociedade a partir do meio do século XX.

Sem querer fazer qualquer tipo de juízo de valor sobre estas enormes mudanças que ocorreram e que estão ocorrendo, há algumas verdades bíblicas que, julgo, devem sempre ser lembradas por aqueles que se assumem como cristãos. E uma delas tem a ver com a conduta e com o papel do marido em uma relação conjugal.

No contexto do texto bíblico citado acima – texto aliás profundamente criticado hodiernamente, São Paulo fala do papel de cada membro da família. Começaremos, nesta oportunidade, a abordar a conduta dos maridos. Neste texto é possível encontrar pelo menos três verdades acerca do papel específico do marido na relação.

  1. Uma ordem a ser seguida. “Vós maridos, amai a vossas mulheres”

A primeira grande verdade sobre a conduta dos maridos é que eles receberam uma ordem para amar suas mulheres. Esta ordem de Deus parece algo extremamente óbvio e desnecessário, mas não é. É preciso lembrar que estamos lendo um texto escrito em uma sociedade na qual as pessoas se casavam em função de acordos sociais ou familiares. Em geral, as pessoas conheciam seus cônjuges poucos meses ou semanas antes de se casarem. A grande questão que envolvia o casamento era o direito de sucessão e não os sentimentos dos noivos. Hoje, é claro que o amor é visto como uma realidade muito mais exigível e necessária quando se pretende casar.

Quando pensamos sobre a necessidade do amor, imediatamente nos detemos para refletir sobre o tipo de amor que é exigido de nós, os maridos, neste texto. De fato, uma observação mais atenta nos fará perceber que o tipo de amor que é exigido aqui é bastante interessante. Paulo poderia ter usado a palavra erao – de onde vem a palavra erótico – para se referir à paixão sexual do homem pela mulher; ele poderia ter usado a palavra phileo, que era empregada para se referir à afeição existente no seio de uma família. Mas ele usa agapao, que se refere ao “amor que não guarda qualquer resquício de egoísmo, que não procura a satisfação própria, nem mesmo afeição como resposta à afeição, mas que luta pelo mais alto bem da pessoa amada” (Francis Foulkes). Paulo usa a mesma palavra que descreve o amor de Deus por nós.

Diante do exposto, é possível afirmar, peremptoriamente, que o amor é a expressão máxima de qualquer relacionamento. Não há relacionamento suficientemente profundo sem que o desenvolvamos em amor; de fato, não há relacionamento sem amor.

Em nossa sociedade as pessoas parecem querer se enganar por meio das redes sociais. Qualquer pessoa razoavelmente inteligente sabe que os relacionamentos “desenvolvidos” nestes sítios são marcados pelo signo da superficialidade. Em resumo, quando se afirma ter 500 “amigos”, na realidade, se é indigente de afetividade. Por meio da internet temos acesso a milhares de pessoas, mas os relacionamentos estão cada vez mais superficiais. Não é este o propósito de Deus para sua família. A vontade de Deus é que haja um relacionamento sempre crescente em amor.

  1. Um modelo para este amor. “como também Cristo amou a igreja”

O modelo do amor que é exigido dos maridos, neste texto, se baseia na relação de amor de Cristo para com a igreja. Esta metáfora aparece desde o Antigo testamento, onde Javé se apresenta como o marido que ama a Israel.

O amor de Cristo é um amor que é capaz de se doar, ou, como diz a Escritura, “a si mesmo se entregou por ela (v. 26)”. O maior gesto de amor feito por Deus por suas criaturas foi encarnar-se e morrer por elas. Ao encarnar-se ele assume uma postura de empatia frente à humanidade. Ele é capaz de sofrer e de sentir o que o “outro” sente. Este é o sentido da palavra empatia: “em”, mais “patos”, ou seja, ser capaz de sentir a mesma dor ou de levar a mesma dor dentro de si. Porque nos ama, Deus assume nossa humanidade e se torna capaz de sentir nossa dor.

Para além da encarnação, foi sobretudo sua entrega à morte sua maior expressão de amor. São João diz que: “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu filho unigênito”. A maior prova do amor de Cristo por nós foi sua entrega à morte de cruz. Este tipo de amor que é capaz de se doar de forma tão radical, sem dúvida, é um amor destituído de egoísmo.

Este é o tipo de amor que Deus espera que tenhamos por nossas esposas. Um amor que nos faça, primeiro, aptos a sentir o que elas sentem; sentir seus medos, suas dores, sentir suas aflições e sermos solidários com elas. Este é o tipo e amor que Deus espera que tenhamos por nossas esposas, o tipo de amor que nos torna aptos a sacrificar nossa própria vida, nosso tempo, nossa atenção, nossa prioridade pela pessoa que amamos.

Um último aspecto que deve ser ressaltado é que este tipo de amor implica em uma decisão, o que abre nossa perspectiva para compreender que este amor é um amor volitivo muito mais do que um amor emocional. Não se trata de voltar nossa atenção para o que sente nosso coração. Os sentimentos amorosos podem ou não estar presentes e, de fato, eles virão e se irão. Mas o amor não é um sentimento e por isso, devemos amar como ato de vontade. Nas palavras de Patrick Morley “o amor que demonstramos é uma decisão tomada como ato deliberado da vontade. O amor bíblico é uma decisão, não um sentimento”. Talvez a maioria dos homens ainda não tenha entendido o grande amor de Cristo por sua igreja e por isso tenham dificuldade de amar suas esposas da mesma forma.

  1. Consequências para um marido que ama. “a fim de santificar, tendo-a purificada com a lavagem da água, pela palavra”.

É claro que quando se ama alguém este amor precisa ser expresso em gestos práticos, muito mais do que em palavras. No texto que estamos expondo podemos perceber que o amor de Cristo se reflete em duas palavras importantíssimas: santificar e purificar.

A primeira consequência do amor será a santificação. De acordo com as Escrituras, “santificar” significa reservar para o uso exclusivo, consagrar. A igreja é uma comunidade cheia de defeitos justamente porque é uma comunidade de pessoas, com todas as virtudes e defeitos que as pessoas têm. Mas quando lemos a Bíblia descobrimos que a igreja de Deus é chamada, inúmeras vezes de “santa”. A santidade, originalmente nada tem a ver com aspectos morais, mas funcionais. A igreja é santa porque é escolhida por Deus para servi-lo.

Da mesma, forma, quando falamos do amor de um marido que santifica a mulher, estamos nos referindo a um aspecto funcional, não moral. O marido santifica sua esposa porque a “separa” para um relacionamento exclusivo. A relação de amor é uma relação de exclusividade. Não há espaço, no coração que ama, para outro relacionamento que exija aquilo que o amor exige. Quem ama não pode repartir seu tempo, sua atenção, sua vida, seus planos, seus projetos e sua existência com mais ninguém. Não há amor que não exija absoluta exclusividade. Lamentavelmente muitos maridos demoram muito para entender isso e, quando entendem, as vezes já é tarde.

Em segundo lugar, como consequência, e ao lado, desta santificação se diz que este é também um amor que purifica. Ora, sabemos que purificar é limpar, retirar a sujeira, refinar, depurar. Como consequência do amor de Deus, a igreja se encontra santificada e purificada “pela água e pela Palavra”, em uma clara referência ao sacramento do batismo, ainda que estudiosos também encontrem aqui uma referência ao banho nupcial que era praticado tanto por judeus como por gentios, naquele tempo. A igreja, objeto do amor de Deus, não pode prescindir dos instrumentos que o próprio Deus dispõe para que a mantenha pura.

Da mesma forma, em um relacionamento onde o amor se desdobra em exclusividade é natural esperar que ocorra um refinamento e uma depuração deste relacionamento. O casamento é o espaço adequado para que haja um continuum de crescimento na humanidade e na pessoalidade. Maridos que amam suas esposas devem primar por manter um relacionamento rico, e que se enriquece cada vez mais, naquilo que somente os humanos são, pessoalidade. Ao buscar esta purificação, abandonamos tudo o que nos despersonifica e embrutece e nos inclinamos para tudo aquilo que nos torna pessoas melhores. Pessoas melhores serão sempre melhores maridos e esposas.

Do que vimos, ou interpretamos, no texto bíblico há, certamente, algumas informações que talvez você não concorde. Não há problema com isso. Não há problema se você discorda de algumas conclusões apresentadas aqui. Mas não há como questionar que o dom mais extraordinário que você pode dar a sua esposa é seu amor. Se você ama sua esposa lute para ser um marido melhor e isso, indiscutivelmente, implicará em aprender a desenvolver mais atenção, sensibilidade e cuidado por ela. Se você conseguir fazer isso, acredite, estará obedecendo à vontade de Deus e coroando sua relação de êxito.

 

43. A CONDUTA DA ESPOSA CRISTÃ

“As mulheres sejam submissas a seus próprios maridos, como ao Senhor; porque o marido é o cabeça da mulher como também Cristo é o cabeça da igreja, sendo este mesmo o salvador do corpo. Como, porém, a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres estejam em tudo submissas ao seu marido” (Efésios 5:22-24). “A esposa respeite o seu marido” (Efésios 5: 33b).

Na reflexão anterior tratamos do comportamento do marido cristão e neste texto faremos algumas considerações sobre como deve ser o comportamento de uma esposa cristã à luz do pensamento bíblico. É claro que temos ciência da dificuldade de tratar um tema como este em uma sociedade em que as realidades duras se fluidificaram e falar em uma regra comportamental neste mix epistemológico é quase um suicídio intelectual. No entanto é preciso ser honesto com o texto bíblico em tela e procurar retirar dele algumas lições para nossa vida de cristão no século XXI. Com base nisso, creio ser possível encontrar aqui algumas pistas para compreender melhor este texto e aplicá-lo aos nossos dias.

A primeira verdade que precisamos compreender aqui é que homens e mulheres, embora ontologicamente iguais, possuem diferenças emocionais e expectativas diferentes acerca da vida em família. Que os homens são diferentes das mulheres é um fato. Todo homem que quer satisfazer os desejos de suas esposas sabem que realizar isso é muito complicado. As mulheres, por seu turno, têm a mesma impressão. Isto ocorre porque homens e mulheres são efetivamente diferentes em muitos aspectos. Possuem perspectivas, anseios, necessidades, leituras e reações bem díspares.

Assim, de um lado, como as palavras de São Paulo exigem dos maridos um amor como o de Cristo para satisfazer às necessidades mais fundamentais das esposas, de outro, neste texto Paulo recomenda às esposas satisfazerem às necessidades básicas dos maridos.

Uma das necessidades mais prementes nos homens é a de ser respeitado. Claro que as mulheres também sentem esta necessidade, mas esta necessidade nos homens excede em muito à das mulheres. E esta diferença, em muito se deve a aspectos sociais e históricos que plasmaram comportamentos e estabeleceram expectativas procedimentais para ambos os sexos.

Mas, pergunta-se, de que forma uma mulher pode demonstrar respeito a seu marido? Qual seria a expressão máxima do respeito? A resposta de Paulo está na submissão. Ressalte-se, aqui, que obediência não é a mesma coisa que submissão. É possível obedecer por medo, mas o que está sendo exigido aqui é o respeito. Respeito é uma postura que se tem diante do outro. Ela não exige voto de silêncio nem a subserviência cega. Quem explica bem esta realidade é Patrick Morley quando diz: “Os homens precisam do respeito das esposas para terem auto-estima. Por isso a esposa precisa submeter-se ao marido, o que é praticamente impossível a menos que ela o respeite”.

Uma segunda informação relevante aqui nos faz observar que o tipo de submissão que a esposa deve ter para com seu marido deve ser semelhante a que a igreja tem a Cristo. Há, é claro, uma nítida obrigação exigível da esposa, aqui; mas, em contrapartida, também há uma clara responsabilidade sobre os ombros dos maridos: a de ser semelhante a Cristo no tratamento com suas esposas. Se as esposas se submetem a seus maridos como ao próprio Cristo eles devem tratá-las como Cristo as trataria, jamais de forma inferior.

Este é um tema difícil de abordar porque em nossos dias palavras como submissão, obediência, sujeição ou subordinação, são impopulares, inadequadas, e até ridículas. Diz-se que hoje a sociedade já prevê direitos iguais às mulheres e isto representa um progresso que foi conquistado a duras penas. Além disso, os inúmeros casos de violência doméstica parecem demonstrar que os maridos não sabem lidar bem com suas frustrações pessoais e acabam por transferir suas frustrações para a parte fisicamente mais frágil da relação por meio da força. Mas não é disso que estamos tratando. Todo tipo de violência doméstica deve ser tratada dentro dos rigores da lei.

Não estamos pregando a diferença ontológica entre pessoas de sexo diferentes; estamos falando de diferenças funcionais entre estas pessoas. O que devemos buscar é a complementariedade das vocações e das funções. O que estamos procurando aqui é ser o mais bíblico e o mais contemporâneo possível. Na tentativa de ponderar estes dois valores nosso critério mais significativo é a honestidade. Assim como não existe sociedade sem normas, e elas precisam ser obedecidas para que a sociedade sobreviva, qualquer ente social, seja uma empresa, uma escola, uma unidade de saúde, uma igreja, as forças armadas, um condomínio, uma prisão, um grupo de escoteiros, um Estado ou uma família, precisa de regras e de papéis bem definidos para seus membros, só isso. Não é sábio, em nenhuma sociedade – nem mesmo na família – achar que todos têm o mesmo papel e a mesma condição. O papel de liderança e condução é claramente colocado, nas Escrituras, sobre o marido, e ele, com sua esposa, conduzem seus filhos. É claro que este texto reproduz o pensamento de uma pessoa condicionada pelo seu tempo e pelo seu espaço, ou seja, é um pensamento culturalmente determinado. Paulo vivia em uma sociedade na qual os papéis eram bem delineados e a família era extremamente patriarcal. O princípio que fundava este comportamento estava fundado no aspecto econômico, ou seja, quem mantinha financeiramente a família era visto como o provedor e, portanto, deveria ser obedecido.

Em nossos dias, os aspectos funcionais podem ser intercambiáveis e isto não significa que quem deve estabelecer o papel de liderança seja, necessariamente quem ganha mais – que, inclusive, pode não ser o homem, mas a mulher. O princípio que rege nossos relacionamentos não é mais o econômico, mas o afetivo-funcional. Ademais, vemos hoje inúmeras famílias sem a figura masculina é claro que a liderança, em todos os aspectos, ficará com a mãe. Em uma realidade como a nossa, em que os papéis não são tão delineados como nos tempos bíblicos, há espaço de sobra para discutir até mesmo o tipo de liderança exercida pelo marido. É claro que quando se fala em liderança podermos pensar em uma escala que vai desde um líder autoritário até um laissez-faire. Ou seja, uma família onde a liderança é exercida militarmente ou aquela onde cada um faz o que quer sem dar satisfação a ninguém. Acredito que o equilíbrio seria de bom tom, quando se fala de família.

Tudo isso que expusemos acima deve ser levado em consideração em um texto que trate sobre um assunto tão delicado. Lamentavelmente a falta de compreensão sobre isso e a conseqüente luta pelo poder tem produzido muita dor e muita separação. Homens e mulheres precisam aprender que, na família, a luta não deve ser a pelo poder, mas sim a pelo serviço, porque todos temos a Cristo como referencial e ele, diz as Escrituras, “veio para servir dar sua vida em resgate de muitos”.

Para concluir, há outro texto bíblico que precisa ser citado aqui e que foi, propositalmente, deixado por último: em Cristo, diz as Escrituras, “não há homem nem mulher” (Efésios). Segundo este texto, em Cristo não há distinção de sexo. Isto significa que, embora cada cônjuge tenha suas necessidades mais prementes (amor e respeito, no caso das mulheres e dos homens), isto não significa que o que é exigido de um não se aplique ao outro. Assim, se as esposas devem respeitar seus maridos obedecendo-os e os maridos devam amar suas esposas santificando-as para si, isto não significa que as exigências não sejam intercambiáveis, ou seja, que as mulheres também amem e que os homens também respeitem. Muito ao revés. Homens e mulheres devem amar tanto quando homens e mulheres devem respeitar. Afinal, diz as Escrituras: “criou Deus o homem, a sua imagem, a imagem de Deus o criou, macho e fêmea os criou” (Gênesis 1:27), o que significa que há uma certa androgeneidade na humaniade em razão da androgeneidade que existe em Deus. Explico: se somos (homem e mulher) imagem de Deus nenhum é superior ao outro, mas somos ontologicamente iguais e iguais a Deus.

 

44. A FILOSOFIA E A MANUTENÇÃO DO RELACIONAMENTO

Acredito que todas as pessoas que se casam estão real e sinceramente desejando viver o resto de suas vidas com seu cônjuge. Não creio que alguém seja estúpido o bastante para pensar em casar já visando um divórcio. Isto seria, tanto na esfera emocional quanto na financeira, uma insensatez total.

No entanto os divórcios estão aí. Fazem parte das vidas pessoas. O que podemos fazer para evitar este ato ultimo de um casamento? Ou seja, o que podemos fazer para mantermos a relação? Se buscarmos ajuda nos grandes filósofos da história algumas lições sobre relacionamento, certamente encontraremos muitas.

(1) Uma primeira lição que podemos aprender com o filósofo Lou Marinoff, em seu texto Mais Platão, menos prozac, é que todo os tipos de estruturas, quer sejam elas máquinas, organismos ou outros tipos de sistemas, precisam de manutenção. Para ele “O relacionamento a dois, sendo um tipo de estrutura maleável e complexa, exige a restauração constante e medidas preventivas para mantê-lo funcionando tranquilamente”. Em resumo, precisamos ter consciência de que um sistema complexo como o casamento, que envolve duas pessoas diferentes, com pensamentos elaborados e suas próprias expectativas e complicações além de necessidades e carências próprias, precisa, constantemente, regularmente e sistematicamente, de pequenos ajustes.

(2) Um segundo pensador que poderia nos ajudar a pensar os relacionamentos seria Thomas Hobbes. Segundo este pensador tudo o que o homem procura na vida é a felicidade, ou seja, que ele viva como a aquisição do que a pessoa julga ser o bom para si mesma. Para ele, manter a felicidade só seria possível com o exercício do poder. Hobbes via todos os relacionamentos como formas de luta pelo poder. Ele acreditava que o homem era essencialmente mal e por isso, mesmo quando fazemos o bem ao outro, o fazemos, ou bem porque nos beneficiaremos com este gestou, ou bem porque com ele deixaremos de perder algo. Sendo inteligente, portanto, nos diz Marinoff é que o que há de maravilhoso nos relacionamentos é que, “com a manutenção apropriada, o todo é maior que a soma das partes. Em termos idéias, os dois membros têm apoio para realizarem seu potencial como indivíduos, assim como realizar o potencial do par”. Estas palavras me fazem lembrar a Bíblia que, no livro de Eclesiastes que diz: “Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho” (Ecl 4:9).

(3) Uma terceira lição que a filosofia nos dá e que nos ajuda a manter a relação está na força como os filósofos defendem a liberdade de cada pessoa. Ser livre implica muito mais do que não se submeter a ninguém. Ser livre também significa optar por alguém e ser fiel a ele. Isto significa que liberdade não anda, necessariamente, ao lado do adultério. Você precisa compreender que permanecer com sua esposa e ser fiel a ela é uma decisão sua e não uma condição imposta por outrem. Quando somos livres para escolher a fidelidade nos damos conta que somos fies porque não queremos magoar ou ferir a pessoa que amamos. Assumir compromissos não é perder, mas assumir e exercer a liberdade. Sobre isso já dizia Pitágoras: “Nenhum homem é livre se não puder comandar a si mesmo”.

(4) Um quarto pensador que poderia enriquecer nossos relacionamentos seria Martin Buber. Para este filósofo só existiam dois tipos de relações: Eu-Você e Eu-Isso. O primeiro tipo fala de relacionamentos entre pessoas iguais enquanto o segundo nos fala da forma como uma pessoa trata um objeto. Numa relação saudável não tratamos o outro de forma possessiva ou manipuladora, antes, o tratamos como um igual.

Para concluir, devemos aprender com os filósofos chamados de pós-estruturalistas que as verdades absolutas já não existem. Nietzsche, por exemplo, diz: “não há verdades, só interpretações”. Ora, se isto é verdade, não há porque “matar ou morrer” por causa de uma mera opinião. Onde não existem verdades absolutas, a maleabilidade é a chave do sucesso e da sobrevivência do casal.

 

45. A IMPORTÂNCIA DO SUPORTE EMOCIONAL

Um dos grandes motivos que aumentam as dificuldades e as crises entre os casais é que eles desconsideram os suportes emocionais que existem e que poderiam ser usados para fortalecer a relação. Mas o que são esses suportes emocionais?

Em 2013 o cinema lançou um filme chamado Gravidade, com Sandra Bullock. Neste filme ela faz o papel de uma astronauta que tem seu cabo de ligação com a sua nave cortado e, de repente, ela se encontra só e com o oxigênio limitado.

Da mesma forma, casais precisam ter a sabedoria para utilizar os suportes emocionais que têm, para se manterem ligados. São estes suportes que nos mantêm unidos sem, contudo, nos aprisionar.

Quando valorizamos estes suportes emocionais, não importa o que estamos fazendo ou sentindo. Estamos sempre ligados e próximos da pessoa amada. Se estamos em locais diferentes, não importa, estamos próximos; se estamos ocupados em atividades diferentes, não interessa, estamos conectados. Os autores Patricia Love e Steven Stosny sugerem que para que os casais se lembrem sempre desta conexão, eles exercitem a prática de escrever pequenos bilhetes e entregue ao seu amor, para que ele se lembre sempre de você quando os lerem. Eles sugerem frases do tipo: Minha vida tem mais significado por sua causa, Temos uma história preciosa juntos ou, Quando estou com problemas é você que me conforta.

O fato é que, dizem Patricia Love e Steven Stosny: “se você se imaginar constantemente conectado por um cordão invisível, todo o seu comportamento emocional com o parceiro mudará para melhor”. Estes pequenos detalhes podem fazer toda a diferença em uma relação. Invista, portanto, nos suportes emocionais que vocês dispõem.

 

46. A SUPERAÇÃO DAS ADVERSIDADES MATRIMONIAIS

Creio que qualquer pessoa há de reconhecer que, para que um casal se recupere de um grande tombo, muito tempo e esforço precisam ser feito, e, de fato, nem todos conseguem. A tendência é que estes tombos ou crises derrubem de vez a relação e as pessoas simplesmente se separem e caminhem em direções opostas.

É bom que se diga, contudo, que há casais que agem diferente diante das dificuldades ou dos fracassos. Parece que eles têm um “algo mais” que fazem com que lidem com a adversidade de forma mais produtiva. Que segredo é esse?

  1. Em primeiro lugar, acredite, não existe algum tipo de invulnerabilidade nata nestes casais que os capacita a vencer todos os problemas. Até o termo “invulnerabilidade” ou “blindagem” parecem inadequados, pois passam a idéia de que estas pessoas estão livres de qualquer espécie de infortúnio.
  2. Recentemente alguns especialistas foram busca emprestado da física um termo que está sendo aplicado a estas pessoas e casais: resiliência. Este termo é utilizado na física, diz Rafael Tonon, para “indicar a capacidade que um material tem de retornar ao seu estado original após sofrer uma grande pressão”. Uma pessoa ou um casal resiliente consegue superar e emergir mais forte das grandes frustrações da vida. Casais resilientes encaram suas crises como uma oportunidade de aprimoramento e crescimento na busca de soluções criativas.
  3. Todos os casais possuem um grau de resiliência que pode ser aprimorado. Casais resilientes precisam aprender a desenvolver pelo menos quatro qualidades: curiosidade, bom-humor, determinação e criatividade. Mas não para aqui. Tonon nos diz que pessoas resilientes são “tanto otimistas quanto pessimistas, sérios e alegres, altruístas e egoístas, compassivos e indiferentes, trabalhadores e preguiçosos”. Embora muita gente não acredite, estes pares de características paradoxais são, na verdade, sinais de um desenvolvimento emocional avançado. O que eu estou querendo dizer é que pessoas e casais resilentes não são “ou uma coisa ou outra”. Eles são flexíveis e adaptáveis a novas realidades, por isso são resilientes. As vezes é preciso ser lógico para resolver um problema; mas as vezes é preciso encará-lo com bom-humor e irresponsabilidade. Nem sempre a organização resolve todos os problemas. As vezes precisamos ser impulsivos.
  4. A maior característica de um casal resiliente é “querer seguir em frente”. O Rabino Nilton Bonder disse que “Quando você decide não desistir, o simples fato de continuar no jogo lhe abre portas e opções inimagináveis”. Quando nos consideramos vítimas das circunstâncias, nos excluímos do problema e não temos mais como interferir nele. Temos que pensar como diz a letra da música de Lulu Santos: “Eu não pedi pra nascer; eu não nasci pra sofrer; nem vou sobrar de vítima das circunstâncias”.
  5. Finalmente, um casal resiliente e que supera todos os problemas é um casal que é capaz de reconhecer os erros e ser humilde o bastante para superá-los, sem permitir que a vergonha ou o pre-conceito os empurre para baixo e, se necessário, pedir ajuda a um “outro” que seja apto para socorrer. Precisamos, então, mudar nossa opinião emocional sobre nós mesmos e aprender a dar a volta por cima, porque ela sempre é possível.

 

47. ANTES BEM DO QUE MAL ACOMPANHADO

Antigamente havia um ditado popular que dizia: “antes só do que mal acompanhado”. Particularmente acho que este ditado diz uma grande verdade. Realmente há pessoas que não acrescentam em nada em nossas vidas e que só servem para transformá-la em algo pior do que já é.

Mas devo registrar, também que, segundo as Escrituras, “há amigos mais chegados do que irmãos” (Pv 18:24). Quem tem amigos assim deve erguer as mãos para os céus e agradecer.

Há, contudo, um outro texto que tem me falado muito ultimamente. Ele não vem da Bíblia, mas do cancioneiro popular, e diz assim: “Faça uma lista de grandes amigos, Quem você mais via há dez anos atrás. Quantos você ainda vê todo dia, Quantos você já não encontra mais”. Esta letra de Oswaldo Montenegro nos coloca diante de uma realidade desconfortável mas real. Com o passar dos tempos e a chegada das crises, revela os verdadeiros amigos mas também os falsos, que desaparecem.

Hoje, depois de passar por muitos tipos de crises, depois de chegar quase a meio século de vida, eu diria que quem está certo é Marisa Monte quando diz “Eu gosto de você, E gosto de ficar com você. Meu riso é tão feliz contigo, O meu melhor amigo É o meu amor…”. Realmente hoje eu tenho que confessar minha mulher é minha melhor amiga. Ela me defende, me ouve, se orgulha de mim, me aconselha, me dá carinho e colo e, custe o que custar, estará sempre ali, disposta a ajudar.

Faça de seu cônjuge seu melhor amigo pois no final, quem estará do seu lado nos bons e nos maus momentos, será ele.

 

48. COMPANHIA OU COMPANHEIRO?

Tenho dito em algumas cerimônias que faço que vivemos em uma sociedade extremamente ambígua. Se de um lado, por meio das redes sociais, podemos encontrar qualquer pessoa, por outro lado vivemos em uma sociedade em que os relacionamentos entre as pessoas estão cada vez mais superficiais. Afinal quem está ao nosso lado é nosso companheiro ou apensa uma companhia?

Quando nos voltamos para a palavra “companheiro” descobrimos que ela vem do latim, sendo a junção de duas palavras “cum +panis” que significa, aquele com quem dividimos o pão. Ora, com quem dividimos o pão? Com aquele que confiamos o bastante para tê-lo sentado à nossa mesa e com quem dividimos nossas ideias, vitórias, derrotas, alegrias, tristezas, ou seja, a vida. Ser companheiro seria, então, desenvolver uma convivência tão íntima e profunda a ponto de que esta pessoa tenha a familiaridade necessária para participar de nossa mesa – o lugar bíblico que expressa intimidade.

A companhia não tem esta intimidade nem esta familiaridade. Companhia é uma pessoa para quem você liga e convida para um casamento no fim de semana. O companheiro é aquela pessoa com quem você compartilhará cada momento, circunstância e realidade do seu casamento. A diferença, portanto entre ser uma companhia e ser uma companheira está na profundidade da relação e no compromisso com ela.

É importante que os novos tenham o discernimento necessário para saber se são companheiros ou apenas um bom amigo de seu noivo. Que Deus permita que aquelas pessoas que abençoamos sejam, não meras companhias de viagem ou de festas, mas companheiros de uma vida inteira.

 

49. ENAMORADOS

Namorado é uma palavra que, como é comum em nossa língua, acabou sendo a descrição de quem está enamorado. Esta palavra, no entanto, jê é bastante interessante. Em-amor-ado tem uma raiz que é a palavra “amor”, tem como prefixo “em”, que aponta para “dentro” de si, e tem o sufixo “ado”, vindo da forma popular do sufixo latino “ätus”, apontando para um valor de estatuto ou condição. Em resumo, o namorado é aquele que está na condição de quem tem dentro de si o mais sublime dos sentimentos: o amor.

Sobre o amor, não se deve esquecer que ele, nas palavras de Bertrand Russell, “é uma experiência pela qual todo o nosso ser é renovado e refrescado como o são as plantas pela chuva após a seca”. Por isso, é sempre importante regar este sentimento tanto com o suor do trabalho e do esforço, quanto com as lágrimas da saudade. Um amor bem regado cresce e floresce produzindo uma arvore frutífera e bela. Quem ama, portanto, assim como uma grande árvore, é capaz de alimentar seu amor e oferecer o descanso necessário sob sua proteção.

Um antigo cancioneiro dizia: “o amor é tudo, feliz é quem ama”. Não sei definir o amor, mas sei que amo e sou feliz. Isto me basta. Se você ama seu cônjuge entenda, cada dia é um dia adequado para lembrá-lo de seu amor. Afinal, os melhores casais são aqueles que continuam sendo eternos namorados.

 

50. ELA TEM TPM… E AGORA?

Para ser absolutamente sincero, o tema que vou abordar hoje é fruto de meus próprios dilemas e desconhecimentos. Minha mulher tem TPM e como eu pretendo viver com ela até o fim de meus dias, preciso entender melhor este fenômeno para procurar ter uma relação melhor com ela.

Uma das primeiras informações que um leigo como eu tem ao abordar este tema é que TPM não se trata de uma doença, ela é, antes, uma síndrome, ou seja, um conjunto de manifestações e sintomas que marcam ou definem realidades clínicas. Em geral, quando falamos em TPM estamos nos referindo a um conjunto de sintomas e sinais, relacionados a hormônios femininos, que tendem a desaparecer com a menstruação. Os homens – e eu me incluo – tem uma enorme dificuldade de entender esta variação hormonal porque nos homens a variação hormonal (testosterona) é inexistente, enquanto nas mulheres a variação do hormônio feminino (progesterona) muda a cada dia.

Apesar de ser um assunto que envolve especificamente as mulheres, se você é um marido interessado em ter uma relação minimamente saudável com sua esposa, não há como se eximir deste debate. Sem pretender abordar todos os inúmeros temas desse assunto, há pelo menos três verdades que gostaria de lembrar aos maridos.

  1. É INEVITÁVEL NO MUNDO MODERNO

A primeira grande verdade que o marido precisa saber sobre a TPM é que ela é inevitável no mundo moderno. É claro que o grau de complicação varia de pessoas para pessoa, mas é preciso ter ciência de que 10% das mulheres modernas são acometidas pela forma mais severa de TPM. Mas a primeira pergunta que queremos responder é, porque este é um fenômeno do mundo moderno? Por duas razões.

a) Readequação do corpo a outras atividades. Os defensores das teses bio-sociais entendem que até duas gerações atrás, as mulheres estavam menos afetadas pela TPM porque, uma vez que elas engravidavam muitas vezes durante sua vida, elas raramente passavam muito tempo menstruando. Seus corpos, contudo, passaram por uma enorme mudança em função da entrada da mulher no mercado de trabalho e, por isso, enormes dificuldades físicas surgiram.

b) Readequação do inconsciente para as novas atividades. Criada com uma determinação biológica para gerar filhos, a descoberta da pílula anticoncepcional e a entrada da mulher no mercado de trabalho, conforme alguns psicanalistas, exigiu uma readequação no inconsciente da mulher que acabou por produzir dificuldades também na esfera psíquica.

Estas mudanças sociais que acometeram a sociedade nos últimos 30 anos inevitavelmente acabaram por produzir conseqüências sobre as mulheres e sobre as famílias contemporâneas. Estas mudanças são irreversíveis e não há como fugir à necessidade de nos adaptar a esta nova realidade.

  1. ENVOLVE UMA ENORME GAMA DE ELEMENTOS

Em geral os sintomas da TPM varia entre leve, moderada e extrema. As mulheres com TPM leves são cerca de 70% delas. 20% sofrem de TPM moderadas e 10% sofrem de TPM na forma extrema. Em geral, é possível elencar cerca de 200 sintomas físicos e psicológicos ligados à TPM. Dentre eles poderíamos citar:

Mau humor

Irritabilidade

Fúria

Vontade de gritar

Angústia

Cansaço

Insônia

Depressão

Enjoo

Sono

Dor abdominal

Inchaço abdominal

Prisão de ventre ou diarreia

Vômitos

Sensação de peso na pelve

Acne ou agravamento de problemas dermatológicos preexistentes

Dor de cabeça/enxaqueca

Desmaios

Sensação de zumbido

Contrações musculares

Palpitações

Descoordenação dos movimentos

Inchaço nas pernas

Sensação dolorosa nas mamas

Ganho de peso

Aumento da predisposição a alergias e gripes

Diminuição do desejo sexual

Aumento ou falta de apetite

Irritabilidade

Nervosismo

Hipersensibilidade emocional

Agitação

Raiva

Insônia

Dificuldade de concentração

Letargia

Depressão

Sensação de cansaço

Ansiedade

Baixa auto-estima

Ataques de choro

Erupções dermatológicas

Logorreicidade, etc…..

Estes são apenas alguns sintomas que podem ser encontrados nos manuais, mas, é preciso saber que eles variam de intensidade de pessoa para pessoa e que, ainda há outros inúmeros elementos que podem vir associados à TPM.

  1. EXIGE UMA POSTURA SÁBIA DO CÔNJUGE

Diante do que acaba de ser exposto, quais as possibilidades de um marido que deseja continuar casado com sua esposa? Bom, pela minha própria experiência posso afirmar que uma conversa racional pode não ser um bom caminho. Acredito que os maridos que têm esposas com TPM de moderada a extrema podem se servir de alguns subterfúgios que, em alguns casos podem dar certo.

Em primeiro lugar, não se pode esquecer que em casos de TPM leves, uma atividade física já pode resolver muitos dos problemas. Mas quando se trata de TPM moderadas ou extremas, é importante recorrer a um médico para uma opinião e um tratamento mais abalizado. Quando, por alguma razão, remédios não podem ser utilizados, é preciso acessar outros recursos que nos são oferecidos nos dias atuais. Dentre eles sugerimos:

Ioga

Meditação

Pilates

Ansiolíticos

Massagens, etc.

Outro recurso que está à nossa disposição pode ser visto em alguns alimentos que são importantes nestes dias; dentre os quais destacamos: Aveia, granola, arroz integral, grãos integrais, pães e biscoitos integrais, frutas, verduras e legumes, sementes de linhaça. Carnes brancas, carnes vermelhas de cortes magros, ovos, peixes, aves sem pele e queijos brancos. É importante também aumentar a ingestão de alimentos com fonte em vitamina D, como queijos, iogurte, cereais e folhas verdes, que ajudam a diminuir os sintomas.

Por outro lado é importante evitar alimentos que causem retenção de líquido, como o excesso de sal, molhos condimentados (catchup, molho inglês, shoyu, molho para saladas, etc.) e ingerir bastante água. Outra dica é evitar o excesso de café, chocolate ao leite, doces e álcool. É importante, finalmente, diminuir a ingestão farta, principalmente, dos carboidratos refinados, como doces, pães e demais alimentos feitos com farinha de trigo. Esses alimentos, quando consumidos em excesso, desaceleram ainda mais o metabolismo, dificultando o controle e a manutenção do peso.

Para além disso tudo, um marido que se interesse em conviver com sua esposa até o fim de sua vida, precisa aprender a antiga arte da paciência. Na realidade, não há outra saída, é preciso, antes de tudo e depois de tudo isso, ter paciência.

 

51. NÃO SE ENGANE, BONS CASAMENTOS TAMBÉM FRACASSAM

Uma as maiores e mais inquestionáveis verdades de nossos tempos é o aumento dos divórcios. O que as pessoas não percebem nesta estatística, é que boa parte dos divórcios ocorrem, ironicamente, com casais aparentemente compatíveis. Em um excelente artigo intitulado “por que bons casamentos fracassam” o Dr Richard Farson nos diz que eles fracassam justamente porque são bons. Usando as palavras de Barbara Chesser: “Quanto mais alta as expectativas, mais a insatisfação e o desapontamento quando os cônjuges descobrem que não se podem corresponder a elas”. Em outras palavras, “quanto mais os cônjuges se aproximam do casamento ‘perfeito’, menos tolerante ficam com qualquer imperfeição”. Ter uma atitude perfeccionista para com o casamento, de fato, é uma atitude altamente destrutiva e quanto mais alto os padrões, pior a queda.

Por outro lado, também não podemos assumir o extremo do poeta inglês Alexander Pope que disse: “Bem-aventurado o que não espera nada, pois ele jamais será decepcionado”. Barbara Chesser nos ensina que os cônjuges precisam ter alguns sonhos e metas pelos quais lutar em seu casamento. De fato, diz ela: “um casamento sem aspirações ruiria como um muro de pedras montado só com cola”.

Este tipo de pensamento “tudo ou nada” é o responsável por boa parte dos divórcios. Eles pensam: “se não puder ter um casamento perfeito não quero ter casamento algum”. É difícil para um perfeccionista compreender que nós não somos perfeitos, que as situações nas quais nos encontramos não são perfeitas e que nosso auto controle não é absoluto.

Para evitar o divórcio, os casais precisam saber lidar com as imperfeições e os defeitos do outro. Qualquer casamento medido com o padrão da perfeição vai deixar algo a desejar. Na vida real, os casamentos enfrentam conflitos, fantasias ou expectativas frustradas e egos feridos. É preciso, primeiro, abrir um bom canal de comunicação entre o casal, em segundo lugar, ser capaz de encarar os fracassos com mais leveza, senão, humor, e, finalmente, investir mais na sensibilidade para com o outro, no carinho e na dedicação.

 

52. CUIDADO COM O RETROVISOR…

O retrovisor, conforme sabemos, é um dos itens indispensáveis para quem deseja trafegar com segurança no trânsito em nossas estradas. Ele nos permite olhar para trás e observar os veículos que se aproximam, com que velocidade fazem isso e para que lado eles se deslocam.

Mas o retrovisor também tem sido usado como metáfora para muitos gestos e atitudes que eventualmente fazemos. Referindo-me diretamente aos casais, tenho a impressão que o excesso de uso do retrovisor pode ser particularmente perigoso para a saúde conjugal.

Quando os casais olham excessivamente para o retrovisor eles acabam por correr o risco de cometerem dois erros perigosíssimos: se focam no passado e se tornam reativos. Quando casais olham excessivamente para o retrovisor, boa parte de sua conversa e de seus debates se focam no passado. O que os dois fizeram antes de se conhecerem e de se casarem, com quem namoraram ou casaram, quais as escolhas que foram feitas, se foram certas ou erradas, influenciam sim o presente, mas devem permanecer no passado. Se erros ou acertos foram cometidos antes da relação, eles não devem mais servir de razão suficiente para discussões, a menos que haja reincidência. Não há porque discutir coisas que não dizem respeito ao casal, mas que ocorreram em uma outra circunstância. Casais inteligentes precisam olhar para frente. Pra frente é que se anda, diz a música. As Escrituras também nos orientam a “esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo pelo prêmio da vocação celestial que estão adiante” (Filipenses 3: 13, 14). Casais inteligentes olham para frente quando são capazes, por exemplo, de construírem sonhos em comum. Estabeleçam alvos para a vida dos dois e sonhem com a realização destes alvos.

O segundo problema para casais que olham muito pelo retrovisor é que eles se tornam reativos. Uma das maiores consequências da reatividade, principalmente quando se reage a um fato passado e já resolvido, é que o foco se volta novamente para trás e com ele ressurgem os sofrimentos, as vergonhas e as dores de todas as espécies. Permitir que o que não existe mais influencie tão fortemente uma nova relação é tolice. Ora, nenhum relacionamento que produza dor e vergonha de uma forma frequente é saudável e tem vida longa. Casais inteligentes são proativos e não reativos. A proatividade implica no desenvolvimento de novas atividades e temáticas agregadoras que venham a somar e não a dividir a relação. Casais proativos estabelecem metas e princípios comuns que devem ser respeitados pelos dois porque estabelecidos pelos dois.

Quando somamos a capacidade de sonhar à vontade de desenvolver atividades conjuntas e prazerosas, deixamos de olhar para trás e nos focamos no futuro da relação. Ao invés de assumir uma postura de demolição de algo que nem existe mais, nos focamos em construir uma relação criativa, real, cheia de encanto e deleite. O casamento se torna, assim, um processo de edificação em que os dois estão envolvidos na qualidade de mutuários. Ora sabemos que todo processo de edificação e de construção exige esforço, denodo, suor, cuidado e atenção. Da mesma forma, para mantermos nossos olhos voltados para frente precisamos ser atentos para o alvo ou para o norte que queremos atingir. Não podemos desviar a atenção com questiúnculas já resolvidas, que não nos dizem respeito e que em nada ajudam a relação. Olhar para frente, para o para-brisa, deixando para trás o que já passou, eis um dos segredos do sucesso do casamento.

Tudo o que foi dito até aqui, diz respeito a casais que vivem “em condições normais de temperatura em pressão”. Mas preciso reconhecer que há casais que sofrem, e sofrem muito em razão de problemas do passado. Refiro-me particularmente, aos casais que precisam conviver com uma espécie de “perseguição obsessiva” neste trajeto da vida. Explico melhor. Há casais que são sistematicamente alvos da ação maligna de um ex-cônjuge que não aceita a felicidade daquele ou daquela com quem fora casado e que agora vive uma nova relação. Neste caso, excepcionalmente, o casal precisa olhar para o retrovisor como medida de segurança, para prevenir qualquer tipo de ação daquela pessoa que, motivada pela inveja, e muitas vezes manipulando um filho(a) da relação anterior, procura inviabilizar sua felicidade.

Neste caso todos os atos de quem trafega por esta estrada vida precisam ser tomados à dois. Marido e mulher precisam ser piloto e navegador. É preciso que haja uma “sintonia fina” para definir os melhores caminhos a serem trilhados e as melhores atitudes a serem tomadas. Acredite, as melhores atitudes a serem tomadas quando se envolve um “ex” que não quer “largar o pé” de seu cônjuge, precisam ser tomadas à dois. As rupturas precisam ser feitas de forma clara, os limites estabelecidos com nitidez, mas, mais do que nunca, a relação do casal precisa ser feita de forma harmônica para que, enfim, esta sombra desapareça do retrovisor e todas as atenções sejam voltadas para frente.

 

53. CUIDADO COM OS AMIGOS

Antes de tudo quero registrar que jamais imaginei escrever o que escreverei nestas linhas. Eu nasci e fui criado em um dos bairro mais populares de Natal, o Alecrim. Lá, quando criança, brincava de esconde-esconde e jogava bola com os amiguinhos da rua. Lá tive minhas primeiras experiências do que significa ter um amigo. Com 14 anos me envolvi na juventude da Igreja e com 18 fui para o seminário em Recife. Lá também conheci pessoas a quem pude chamar de amigo. Mas desde então algo aconteceu. Eu comecei a perceber que havia algo de errado com as amizades. Mas em minha ingenuidade não dei crédito ao que via.

Hoje, quase 30 anos depois tenho que reconhecer. Um dos maiores perigos para os casamentos são as amizades. Em 25 anos de ministério, convivendo com casais, aprendi, lamentavelmente, que aqueles que consideramos nossos amigos podem se considerar, as vezes, no maior perigo de um casamento. E não digo isso porque ouvi falar. Dois daqueles que consideravam meus melhores amigos se revelaram pessoas sem escrúpulos e sem a consideração necessária para comigo, investindo e procurando seduzir minha companheira.

Estes “falsos” amigos agem, primeiro, como aqueles que retiram o marido de suas casas para se “divertirem”. Quantos maridos não deixam suas esposas em casa para passarem a noite da sexta com os colegas de trabalho no conhecido happy hour. Eles querem beber e conversar sobre política, futebol e mulheres. O passo seguinte ocorre quando os “amigos” resolvem chamar o recém casado para passar o dia de sábado jogando futebol e bebendo com os outros “colegas”.

Mas o momento mais perigoso ocorre quando você põe seu “amigo” dentro de sua própria casa. É bom que se diga que o que está sendo dito aqui também se aplica às “amigas”. Quantas vezes tomei conhecimento de “amigos” que se interessavam pela esposa do amigo ingênuo. A impressão que tenho hoje é que isto é tão comum que chega a ser trágico. A amizade “continua” enquanto o “amigo” se encontra nos motéis com a esposa daquele que ingenuamente acredita que tem uma mulher fiel.

Quando surgem os problemas normais da vida conjugal, o “amigo” se oferece para conversar com a esposa e oferece o ombro nos momentos difíceis. O resto da história não é difícil de imaginar.

Hoje eu encaro o lar como um lugar sagrado. É preciso tomar cuidado com quem convidamos para nossa casa, para a intimidade de nosso lar. O maior critério a ser usado aqui são os valores. Conheça bem os valores daqueles que você convida para adentrar à intimidade de seu lar. Quem acha normal “pular a cerca” ou que se gaba de ser um “pegador”, não deveria visitar sua casa. O trágico é que mesmo aqueles de quem você menos espera investe sorrateiramente contra seu casamento.

Só existe uma saída para que isso jamais ocorra. Case-se com uma mulher fiel e seja fiel a ela. Blinde seu casamento com a exclusividade e cubra-se sempre com o manto da verdade. Mas nunca esqueça de amar e expressar seu amor em cuidado, atenção e carinho.

 

54. CUIDADOS COM OS VIZINHOS

Todos os dias era a mesma coisa. Minha vizinha de cima acordava às 5:30 da manhã, calçava um salto alto a andava por toda casa para resolver tudo antes de sair. Ainda bem que eu e minha esposa já estávamos acordados, mas isto demonstra que certas pessoas não sabem conviver adequadamente com seus vizinhos. Em um texto muito bem elaborado, Leandro Sarmatz nos diz que existem 7 tipos clássicos de vizinhos com os quais precisamos aprender a conviver.

  1. O louco por obras é o primeiro tipo clássico de vizinho. Embora a maioria dos condomínios possuam regras sobre os horário em que as obras possam ser realizadas, estas pessoas sempre têm um quadro para colocar na parece, uma estante para consertar ou uma porta para ajustar.

Para lidar com gente assim, o ideal é trazê-lo para o seu lado e “pedir para que esse morador colabore com as obras do próprio condomínio”, diz o administrador de condomínio José Iampolsky. Quando não der mesmo para evitar o confronto, procure sempre as instâncias adequadas.

  1. O segundo tipo de vizinho problema é o baladeiro. A cena é a mesma em todos os condomínios: som às alturas, gente entrando e saindo, latinhas de cerveja espalhadas por todo canto, etc. Todos os manuais dizem que ao invés de apelar para o síndico, o ideal é fazer amizade com o baladeiro e, quando as coisas apertarem, você vai até o apartamento dele e explica a situação. Acredite, na maioria das vezes dá mais certo do que chamar a polícia.
  2. O dono de animais é o terceiro tipo de vizinho problema. Ela adora passear com o seu cachorrinho bem tosado e cheiroso. O problema surge quando ele vai passear e o dono não tem o hábito de levar consigo um saquinho para “recolher” suas fezes, ou quando resolve, com os demais cachorros da vizinhança, criar um coral e não deixar ninguém dormir. É preciso muito tato para lidar com este tipo de vizinho. Procure conversar com ele e, caso os atos continuem, levante a questão na assembleia do condomínio para que se estabeleça uma multa. Se não der certo, amigo, procure outra casa.
  3. A família problema é o quarto tipo de vizinhos problemáticos. Já tive um casal jovem como vizinhos abaixo do meu apartamento que não faziam qualquer cerimônia para esconder qual era o time do coração. A coisa piorava quando eles resolviam fazer uma DR, utilizando um jargão não muito apropriado em alta voz, ou quando eles resolviam fazer festas até altas horas.

Tratar com uma família inteira que cria problemas é preciso muito tato. Reclamar com criança, então, requer atenção redobrada. Há advogados especialistas em condomínios que sugerem a criação de um conselho só para crianças e adolescentes e deixá-los a par das regras. Casal barraqueiro é caso para síndico e, no caso de maus tratos a menores, requerem uma ação em conjunto. O ideal é que mais de um visinho se envolva e, se preciso, chame o Conselho Tutelar.

  1. O visinho Paranóico. Este é aquele que está sempre de olho na data de mudança dos extintores, está preocupado com a velocidade do fechamento do portão, com o lixo do visinho que ficou aberto, etc. Via de regra, ele é especialista em tudo, de segurança até infiltração.

Moral da história. Nos dias de hoje, a maioria dos casais não moram em casas isoladas, mas em prédios e condomínios nos quais circulam muita gente e encontramos muito tipo de gente. A palavra chave é: Paciência.

 

55. CUIDADO COM A EX-NARCISISTA-SUPER BONDER

Normalmente, quando faço meus encontros matrimoniais eu trato, no segundo encontro de como os “outros” podem influenciar a relação do casal. Geralmente eu enumero três tipos de pessoas: as que ajudam, as que são ambivalentes e as que prejudicam.

Quando chego neste grupo de pessoas – os que prejudicam, informo que no topo da lista dos que podem prejudicar uma relação estão os ex-cônjuges. Sou bastante honesto para dizer que conheço muitos casais que se separaram e que se dão muito bem com seus ex-companheiros. Em muitos casos existe até a possibilidade de contato saudável entre o atual e o ex-cônjuge.

Mas, lamentavelmente, também existem alguns “ex” que eu chamo, carinhosamente, de “ex-super-bonder”. Por quê? Porque não conseguem desgrudar de você. O pior tipo de “ex-super-bonder” é aquele caracterizado por Walter Riso em Amores de alto risco, como o(a) ex narcisista egocêntrico.

Segundo este autor quem já foi casado com uma pessoa assim se sentia como um satélite, ou seja, sempre girando em torno de um astro-rei ou uma estrela fulgurante. Segundo ele, as pessoas narcisistas “se consideram especiais, únicas, grandiosas e imbuídas de um toque quase celestial, enquanto veem os demais como inferiores, vassalos ou simples partidários”.

Nada contra o amor-próprio. Mas o narcisista só busca sua exaltação, além de ser ególatra e egocêntrico. Há uma desproporção do eu. A proposta amorosa do narcisista é inaceitável. Ela se baseia em três pontos: “As minhas necessidades são mais importantes que as suas” (menosprezo afetivo), “Que sorte você tem que eu seja seu par (grandiosidade/superioridade) e “Se você me critica, não me ama” (hipersensibilidade à crítica).

Walter Riso acrescenta ainda dois elementos interessantes na personalidade do narcisista. Primeiro a manipulação. Diz ele: “Esses indivíduos se deleitam em planejar e colocar em prática as estratégias utilitaristas com clara certeza. Escolhem sua vítima com cuidado, fazem um estudo rápido sobre as vantagens que poderiam obter e logo a introduz no jogo da manipulação”. O segundo elemento estacado por ele como sendo comum neste tipo de pessoa é a boa imagem. Diz Riso: “A chave de qualquer amor egocêntrico é saber administrar o marketing pessoal oferecido pelo seu parceiro do momento. Seja a classe social, a fama ou o aspecto físico, o ‘algo mais’ trazido pelo companheiro deve somar à imagem do ‘grande homem’ ou da ‘grande mulher’”.

Agora, quando você acrescenta a este elemento narcisista um outro que é a síndrome bipolar, então, caro leitor(a), estamos diante de uma bomba nuclear. Esta pessoa, mesmo que queira se separar de você, tem grandes chances de se tornar um(a) “ex-super-bonder terrorista”.

Ela tem algumas características bem claras. Primeiro a violência. Quando você se separa de uma pessoa “narcisista-super-bonder”, você (ou seu novo cônjuge) corre o risco de ser agredido(a) por todos os meios possíveis. Ela(e) manda e-mail, mensagens, faz ligações anônimas, manda amigos fazerem ligações, detrata sua imagem ante seus amigos(as) e muito mais. Qual a razão de tudo isso? Esta pessoa não consegue conviver com realidade de que você é feliz SEM ela(e). Sua felicidade é uma prova cabal de que ela(e) não é o centro do universo e isso, para quem é narcisista é fatal.

A segunda característica é a sazonalidade. Quando a(o) “ex-narcisista-super-bonder” sofre de um distúrbio bipolar, entra em cena a sazonalidade. Ela(e) não vai procurar te agredir durante todo o tempo, somente no estado de mania. Geralmente estas pessoas usam alguns remédios como Carbonato de lítio, Fluoxetina e Rivortril, porque as vezes é fundamental que o lítio seja usado em conjunto com um anti-depressivo e um ansiolítico. Às vezes, contudo, estas pessoas não são bem orientadas e não têm um bom tratamento, o que facilita a sazonalidade.

Finalmente, o delírio persecutório. Como os narcisistas “se acham”, elas desenvolvem este delírio com muita facilidade. Qualquer um pode ser identificado como a causa de todos os seus problemas. Qualquer um pode ser visto como o culpado por tudo o que acontece com ela(e). E quem seria a pessoa mais indicada para receber a culpa por todas as mazelas advindas sobre estas pessoas? A(o) “ex”, é claro!!. Eis a razão porque mesmo depois de muitos anos da separação, a(o) “ex-narcisista-super-bonder” continuará tentando transformar sua vida em um inferno.

A única saída para alguém conviveu com um(a) narcisista e que deseja recomeçar a vida com uma outra pessoa e ser realmente feliz, é cortar todos os laços que, de alguma forma, o(a) unem a esta pessoa. Isto significa, às vezes, ter de afastar-se de amigos próximos, de familiares, e em casos mais graves, até dos filhos menores. Nestes casos extremos o mais adequado é que qualquer comunicação seja feita entre os advogados das partes, porque até mesmo “ver” a pessoa que tanto mal te fez, mesmo em função de suas neuroses, é difícil.

Deus não quer que sejamos infelizes ou manipulados e dirigidos por pessoas ruins da cabeça e dos valores. Portanto peça ao Senhor aquela pessoa que o(a) ame o bastante para estar ao seu lado em todos os momentos, mesmo nos momentos de crise que a(o) “ex-narcisista-super-bonder” poderá criar.

 

56. CUIDADO COM A CALÚNIA

Sempre que faço os encontros matrimoniais eu trato de um grupo de pessoas que fazem de tudo para impedir a felicidade do casal. Normalmente chamo este grupo de “amigos da onça”. Eles são colegas de trabalho, amigos da faculdade, colegas de infância, etc, mas todos os amigos da onça têm algo em comum: a incapacidade de ver alguém sendo feliz perto dele. Ele tem uma necessidade crônica de jogar um “balde de água fria” na felicidade das pessoas. E muitas vezes, para fazer isso eles se servem da calúnia.

A palavra “calúnia” vem do latim (calumniare) e significa levantar um falso testemunho, fraudar ou enganar a outrem. A prática da calúnia é tão antiga quanto à da civilização humana. Diz-se que Médio, conselheiro de Alexandre o Grande (356-323 aC), rei da Macedônia, incentivava seus comandantes a caluniar seus inimigos porque “mesmo que a vítima cure a ferida, fica a cicatriz”.

A calúnia tem um papel tão importante na história que Joseph Goebbels (1897-1945), ministro da Cultura Popular e da Propaganda de Hitler (1889-1945) teria dito: “caluniai, caluniai, alguma coisa restará”. Também teria sido dele a frase “uma mentira repetida muitas vezes se torna verdade”.

O fato é que a sabedoria dos antigos nos incentiva a abandonar a calúnia. A Bíblia nos diz que seis coisas Deus odeia e a sétima ele abomina “aquele que semeia contenda entre irmãos”. O Talmud, por seu turno, é sábio ao dizer que: “A língua que calunia mata três ao mesmo tempo: àquele que profere a calúnia, àquele que acolhe a afirmação perversa e a vítima inocente”.

Lembro de um noivo que se casou faz alguns anos e que estava tomando café em um dos shoppings de minha cidade. Repentinamente ele viu passar à frente da cafeteria sua ex-mulher, com quem tinha uma ótima relação e um filho comum. Ele a chamou para tomar um café com ele e perguntar sobre seu filho – que estivera doente durante aquela semana. Enquanto conversavam sobre a criança, um amigo da onça passa ao largo, vê a cena e, imediatamente, liga para a noiva deste homem.

Ora, se a noiva já não soubesse da relação tranquila que o noivo tinha com a ex mulher, certamente estaríamos diante de um grande problema. O que aconteceu? Nada. Mas o amigo da onça não foi convidado para o casamento.

Moral da história. Como diz o velho ditado nordestino: “cuidado para não emprenhar pelo ouvido”, ou seja, não acredite em tudo que dizem a você. As pessoas sempre tendem a aumentar um ponto no assunto.

Em outro casamento que realizei, uma das “amigas” da noiva chegou a viajar até a cidade do noivo e procurar em todas as delegacias de polícia se havia algum BO aberto contra o noivo. Ela encontrou um com uns cinco anos. Ele tinha esmurrado alguém em uma briga de bar. Ela voltou até à noiva com a cópia do documento em mãos e “provou” que o noivo era um homem violento e que poderia agredi-la. Desnecessário dizer que ela não foi convidada para o casamento…

Para encerrar, quero citar Cervantes (1547-1616) que diz em sua obra Dom Quixote: “Por onde que a virtude se encontre em grau eminente, é perseguida; poucos ou nenhum dos varões do passado deixou de ser caluniado pela malícia”. A calúnia é o preço que os homens de bem pagam em uma sociedade de hipócritas e invejosos. Moral da história: cuidado com o que as pessoas invejosas dizem de seu noivo ou marido.

 

57. CUIDADO COM A QUESTÃO DA INVEJA

Parece que falar de inveja é falar de um assunto banal. Não creio assim. Muito pelo contrário, creio que a inveja é a culpada pela maioria das rupturas de relações entre amigos ou, pelo menos, pela impossibilidade da criação de relacionamentos entre pessoas. Muitos casais nem sabem, mas são extremamente invejados em sua relação e felicidade e por isso, são alvos dos mais inesperados ou desesperados ataques. Quanto a este tema creio ser possível refletir sobre, pelo menos, três aspectos:

  1. O que é a inveja?

O Dicionário Houaiss da língua portuguesa define inveja de duas formas: na primeira como o “desgosto provocado pela felicidade ou prosperidade alheia”, e na segunda como o “desejo irrefreável de possuir ou gozar o que é de outrem”. Esta palavra tem sua origem no latim e, segundo F.R. dos Santos Saraiva, em seu Dicionário latino-português (2000), vem do termo “Invidia” que também significa: ódio, despeito e até infelicidade.

Junito Brandão, em seu Dicionário mítico-Etimológico (1991, p. 453), nos fala de um personagem que não possui mito próprio. Seu nome é Ftono (phthónos) e ele é um demônio cujo personagem é a personificação da inveja, do ciúme e da mágoa provocada pela felicidade de outrem.

De uma perspectiva filosófica lembramos de Spinoza escrevendo em sua Ética, que a inveja “é a raiva enquanto afeta o homem de tal sorte que ele seja contristado pela felicidade de outrem e, ao contrário, se alegre com o mal de outrem” (IN RUSS, 1994, p. 157).

  1. Onde podemos encontrá-la?

Como já afirmava Heródoto (485-425 aC), “A inveja nasceu no homem desde o princípio”. E tudo o que é humano nos é peculiar. Por isso, a inveja é um sentimento que pode vir sobre todo e qualquer ser humano. De uma perspectiva psicológica, R. Jouvent, escreve um artigo sobre esse tema no Dicionário de psicologia (2000, p. 447) onde ele afirma que “A inveja é uma necessidade de apropriação do objeto ideal ou de suas qualidades, ao mesmo tempo que uma intenção de destruí-lo para suprimir a pressão que ele exerce como objeto de inveja”. Como é claramente revelado no texto, a inveja, com sua intencionalidade destrutiva, faz dela uma das primeiras manifestações do instinto de morte. Com esta definição em mente podemos compreender que há uma fixação positiva em ter o que não se tem e uma negativa em destruir o que não se tem para que a simples existência do que não se tem não se transforme em uma forma de tortura mental que nos oprime justamente porque não temos o que invejamos. É por isso que Balsac (1799-1850) já dizia: “É tão natural destruir o que não se pode possuir, negar o que não se compreende, insultar o que se inveja!”. Aquele que sofre de inveja tem essa capacidade de maldizer, de execrar, de abominar, no entanto, todos esses sentimentos mascaram a vontade de ter o que não se tem; e cada ser humano pode, algum dia, desenvolver esse sentimento.

  1. Como reagir a ela?

A primeira lição sobre como devemos encarar a inveja dos outros sobre nós e nosso relacionamento nos é dada por Heródoto (485-425 aC) quando diz: “É melhor ser invejado do que lastimado”. Fazer o que se você tem uma relação tão plena com seu companheiro que as pessoas sofrem e agonizam de inveja? Melhor que sintam inveja do que pena.

A segunda verdade que você precisa saber é que “as coisas medíocres escapam à inveja”, portanto saiba que se você e seu relacionamento tem valor e significado, ele é invejado. Ou mudando a perspectiva, se seu relacionamento é torpedeado pela inveja alheia, saiba, que esse é um sinal visível e gritante que sua relação com seu companheiro é tudo o que as pessoas desejam para si e não conseguem.

Entre os americanos há um ditado que afirma que “a grama do vizinho é sempre mais verde”, por isso, sempre somos alvo de inveja. Veja bem, não podemos fugir da inveja alheia, mas podemos lembrar de um outro velho ditado que diz: “enquanto a caravana passa os cães ladram”. Ou seja, deixe que falem. O que importa é o que seu companheiro acha. Quem efetivamente o conhece é quem compartilha com você a vida, as dores, os sofrimentos, as alegrias, as vitórias, etc.. Fortaleça essa união e nada, ou conforme diz as Escrituras, nenhum “dardo inflamado do Diabo” (Ef 6:16) os alcançará porque “porque há um maior conosco do que com ele” II Cr 32:7 e porque “se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Rm 8:31). Mais uma vez cito o salmista: “mil cairão ao teu lado e dez mil à tua direita, mas tu não serás atingido” (Sl 91:7). E por quê? Porque é “Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes tem o seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite”. (Sl 1:1,2). Em resumo, seja capaz de gratificar-se e recompensar-se por ter tido a grata experiência de uma relação feliz e plena com o companheiro de sua vida.

Referências bibliográficas:

BRANDÃO, Junito de Souza. Dicionário mítico-Etimológico Vol 1. Petrópolis: Vozes, 1991.

JOUVENT, R, In DORON, R. & PAROT, F. Dicionário de psicologia. São Paulo: Ática, 2000.

RUSS, J. Filosofia. São Paulo: Scipione, 1994.

SARAIVA, F.R. dos Santos.Dicionário latino-português. Rio de Janeiro/Belo Horizonte: Garnier,2000.

 

58. NOSSO TEMPO

Existem muitas dificuldades que acometem os casais nos dias de hoje. Mas dentre elas, todos os casais que já conversaram comigo antes do grande dia sabem, é a falta de tempo. É preciso admitir que nos dias de hoje o bem mais precioso que temos é o tempo.

É preciso admitir que as ruas estão cada vez mais cheias de carros e que os engarrafamentos exigem ou melhor, obrigam que os casais saiam cada vez mais cedo de casa e cheguem cada vez mais tarde.

É preciso admitir que na busca por uma morada melhor sempre nos deslocamos do centros urbanos, com sua violência, deficiência na iluminação, falta de espaço para estacionar e barulho constante, para locais cada vez mais distante do nosso trabalho. Este fator, associado ao anterior, nos faz sair cada vez mais cedo e chegar cada vez mais tarde em casa.

É preciso admitir que para a maior parte dos trabalhadores, voltar para almoçar em casa com o cônjuge se tornou algo absolutamente impossível graças à distância e aos custos com o transporte.

Para piorar a situação, tenho que admitir que boa parte dos maridos ou esposas acham absolutamente normal “esticar” o expediente da sexta-feira para fazer um happy hour com os colegas de trabalho sem a presença de seu companheiro.

Diante desta realidade, tenho duas observações a fazer: primeira, nosso maior problema não é a falta de tempo, mas a administração dele. Todos os seres humanos do planeta possuem 24h por dia para fazerem o que tem que fazer. Isto significa que precisamos começar a discutir alternativas criativas para aproveitar o tempo que temos a sós com nosso cônjuge. Para isso é importante planejar um jantar, uma ida ao cinema, uma viagem, ou simplesmente, um dia a sós, com os telefones desligados para que nada ou ninguém interrompam o encontro do casal.

Em segundo lugar, é preciso lembrar um ditado antigo que pode ser refeito: “não basta casar, tem que participar”. Há maridos que acham muito normal, depois de uma semana de trabalho, sair no sábado pela manhã com os amigos para jogar bola e deixar a esposa em casa até que, mais tarde, ele volte, cansado para poder dormir a tarde inteira. Que resolve casar precisa compreender que as prioridades precisam ser revistas. Não se pode querer casar e continuar a viver uma vida de solteiro. Estranho é que muitos casados estranhem isso.

Tenho que admitir, não falta tempo. Falta habilidade e flexibilidade para estabelecer horários exclusivos para os dois. Tenho que admitir, no meu caso, falta habilidade para lidar com a distância e com a separação física, por mais de nove horas diárias, da pessoa que amo. Tenho que admitir que tenho síndrome de abstinência e que ela se manifesta na forma de irritação e de depressão, de pressão alta e de lagrimas, de logorreicidade e de sucumbência.

Por fim, quero externalizar uma preocupação bem própria para os existencialistas como eu. Primeiro, o tempo não passa, nós é que passamos, por isso, não podemos “passar” por quem amamos como “passamos” por qualquer um. A pessoa que amamos é o bem mais precioso que Deus nos deu e não podemos tratá-la com menos cortesia com que tratamos um estranho. Segundo, como todo existencialista, eu sei que como sou um passageiro no tempo, não posso perder tempo e preciso dizer para quem amo que eu a amo, e que a amo com toda força da minha alma. Talvez seja a última vez que diga isso. Não se pode nem se deve sonegar estas verdades que precisam ser ditas diariamente. E, terceiro, que mais importante que o tempo medido é o tempo vivido. O que significa que cada instante com a pessoa que se ama precisa ser especial e cheio de vida. É bom assistir a novela de vez em quando; é legal ver um jogo de futebol (para quem gosta), mas gosto mesmo é de sentar com a mulher de minha vida, depois de um dia atabalhoado, e ouvindo uma música relaxante, bebericar uma taça de vinho e falar sobre o dia, planejando o futuro a dois.

Ainda há muito espaço para as rolhas em nosso centro… ainda há muito o que discutir sobre nossa cidadezinha florida, ainda há muito o que conversar sobre nosso futuro e ainda há muito amor e paixão a ser vivido até o fim de nossos dias. Ainda temos muito tempo para sonhar!

 

59. OBSERVAÇÕES SOBRE O “AMOR LÍQUIDO”

Um autor de origem polonesa, mas erradicado na Inglaterra escreveu um excelente texto chamado “amor líquido”. Este autor se chama Zygmunt Bauman, e em seus textos ele procura as causas das grandes mudanças que estão ocorrendo entre os seres humanos, afirmando que elas estão cada vez mais líquidas e, por via de conseqüência flexíveis e produtoras de insegurança

(1). O primeiro movimento que Bauman denuncia nos relacionamentos é a troca entre a realidade e a virtualidade. Hoje, mais do que nunca os humanos se relacionam por meios virtuais (chats, e-mails e mensagens de texto, p.e.). A trágica conseqüência desse tipo de relacionamento é o desaprendizado em se manter relacionamentos mais duradouros. Os e-mail e os SMS’s podem ser deletados em segundos e, em segundos, tudo o que foi construído entre as pessoas pode magicamente desaparecer. O medo é que este tipo de conseqüência produza algum rebatimento na vida real, trazendo a virtulidade para as palavras e para as promessas. De repente, não mais que de repente, o que fora prometido com tamanho amor a menos de seis meses pode ser deletado e enviado para a lixeira com a mesma facilidade com que se aperta a tecla de um computador. Estamos entrando no momento da crise dos relacionamentos longos e duradouros.

(2). Uma segunda conseqüência desta liquefação dos relacionamentos é que os próprios relacionamentos estão sendo tratados como se fossem mercadorias. Assim como acontece quando vamos a um shopping para comprar uma TV, sem saber se ela vem com algum vício redibitório ou se vamos gostar do produto, os relacionamentos também estão sendo vividos sob esta nuvem de desconfiança. Se eu não gostar, peço meu dinheiro de volta, ou troco a mercadoria. Hoje podemos trocar de cônjuge como quem troca um celular, que embora funcione, não tem aquela “função” nova tão cobiçada pelas pessoas. Em resumo, se ele funciona, mas se você não gostou, pode trocar por outro a hora que quiser.

(3). Uma terceira e avassaladora conseqüência destes dois pontos anteriores é que nossa sociedade está gestando uma nova ética de relacionamentos. Estamos assistindo o nascedouro de uma época de relacionamentos desumanizados, provisórios e fragilizados. Na realidade é uma sociedade de des-relacionamentos. Em uma sociedade assim não haverá mais espaço para o amor e a confiança. As pessoas tenderão a serem cada vez mais coisificadas e instrumentalizadas. Neste ambiente, não haverá espaço para se acreditar nos outros. Os casais se manterão casados em razão de interesses outros (herança, companhia, privilégios, vantagens sociais e pecuniárias, etc.), mas não por confiança e por amor. Ao invés de se amarem e se nutrirem, os cônjuges aprenderão a se usarem e a lucrarem um com o outro, e isto, tragicamente, com mútuo consentimento.

(4). A causa desta realidade se encontra na descontrução da experiência do amor romântico. Embora as pessoas se casem, e se casem muito ainda hoje, o amor romântico parece está fora de moda. O que assistimos diuturnamente nas TVs e o que lemos nas revistas de fofocas é que o amor romântico foi reduzido e rebaixado a apenas um conjunto de experiências – as mais diversas e criativas, furtivas e inusitadas – vividas pelas pessoas. Tudo isso é descrito como “fazer amor”. É possível, hoje, ir para cama com uma pessoa que você não conhece, realizar todas as fantasias sexuais possíveis, pagar um preço previamente acertado e dizer que fez amor com ela. O ator global “fulano de tal” trocou mais uma vez de parceira e a atriz “fulaninha” anuncia o fim do casamento com seu terceiro marido. Como não se tem mais a responsabilidade de se viver o que se fala, em razão da hipocrisia que se instalou na nossa sociedade, dizer “eu te amo” é a coisa mais fácil do mundo. “AMOR” tornou-se uma palavra sem sentido. Citando Bauman “Amar é querer ‘gerar e procriar’, e assim o amante ‘busca e se ocupa em encontrar a coisa bela na qual possa gerar’… não é ansiando por coisas prontas, completas e concluídas que o amor encontra o seu significado, mas no estímulo a participar da gênese dessas coisas”.

(5). Um quinto problema decorrente destes que foram apresentados anteriormente é o medo da solidão e do sofrimento. Estranhamente ao mesmo tempo em que se multiplicam as redes sociais as pessoas ficam mais solitárias, iludindo-se com a quantidade de “amigos” do Facebook. Outra forma de medo se manifesta quando as pessoas optam por relacionamentos fortuitos e rápidos porque entendem que uma relação estável e duradoura implica em mais dor e sofrimento. Ficar casado muito tempo significa sofrer com as manias, os defeitos e os problemas do marido ou da esposa. Solução: separe-se e troque de marido. As pessoas só não entendem que trocando de marido só estão trocando de problemas. Em resumo como tudo é fluido e passageiro, não podemos nos apegar a nada porque isso poderia nos fazer sofrer. Qual a saída? Multiplicar os parceiros e as experiências para evitar a solidão. Enganam-se pensando que saindo toda semana com uma pessoa diferente a resolve-se o problema da solidão. É melhor, para esta lógica, portanto, trocar a qualidade do relacionamento pela quantidade de relacionamentos. Assim como ocorre com as TVs ou com os celulares, troca-se de relacionamento por mero impulso consumista.

(6). Finalmente, e como gran finale da argumentação de Bauman ele denuncia como a grande saída escolhida por nossa sociedade para o problema da insegurança, os “encontros virtuais”, visto ser mais fácil “deletar” um contato, “apagar” uma conversa ou dizer “adeus” a quem se quer. De repente é como se nada tivesse acontecido. No momento em que um “amigo” não se torna mais interessante, ele é simplesmente, descartado e substituído.

Do que vimos acima aprendemos que o amor líquido é a descrição de uma fragilidade crônica nas relações pessoais que se manifesta na flexibilidade como que trocamos e substituímos os cônjuges e relacionamentos. Já que nada mais é duradouro neste mundo, os relacionamentos também não serão mais.

 

60. SER SOLTEIRO OU CASADO? A ESCOLHA É SUA…

Certo dia resolvemos, eu e minha esposa, sair da cidade e ir até uma pousada que gostamos muito distante 90km de casa. Passamos apenas uns dois dias lá, mas o pouco tempo que passamos nos fez perceber que algumas pessoas simplesmente não deveriam se casar.

Enquanto estávamos tomando um banho de piscina conhecemos um casal que estava em lua de mel. Que maravilha! Disse eu. “Espero que vocês sejam muito felizes”. Daí em diante a conversa se desenrolou e eu ouvi algo que jamais imaginei que ouviria de um marido. Ele me disse que, embora estivessem namorando a mais de cinco anos, só se casou com ela porque ela concordou em liberá-lo nas quintas-feiras. Ela fez um sinal com a cabeça dizendo que era verdade o que o marido estava dizendo, mas ela não conseguiu esconder a tristeza. A conversa não fluiu mais e eu e minha esposa nos afastamos. Saí dali com a certeza de que algumas pessoas simplesmente não deveriam casar.

Afinal você quer viver uma vida de solteiro ou de casado? As duas formas de vida são igualmente dignas e Paulo chega a afirmar que alguns receberam um “dom” ou uma “graça” para permanecerem solteiros. Para os solteiros é bom não ter ninguém mexendo nas coisas da casa ou deixando as roupas onde não deveriam. Os solteiros não precisam dar satisfação de suas vidas para ninguém. O que fazem, com quem saem, a hora que chegam, ninguém tem nada a ver com isso. Os solteiros podem ir a qualquer festa que quiserem e com quem quiserem. E podem chegar em casa a hora que quiserem. O que eu não consigo entender é porque alguém gostaria de ter uma vida assim sendo casado.

Sim, ser casado significa ter que assumir responsabilidades com alguém e cumprir uma série de requisitos e expectativas. Você não pode sair como, quando e com quem quiser. Mas ainda assim é um estilo de vida digno e igualmente abençoado por Deus.

Ser casado é ter um companheiro para compartilhar a vida. É ter um ombro para poder chorar nos dias ruins e oferecer um ombro quando nosso companheiro está passando por dificuldades. E eu estou falando de saúde ou doença, riqueza ou pobreza.

Ser casado é assumir a responsabilidade da fidelidade. Ser casado é não considerar a possibilidade de dividir o coração ou o corpo com mais ninguém. É levar a sério os votos de amor e de fidelidade.Ser casado é suprir as necessidades do seu companheiro. Não apenas as necessidades físicas como, por exemplo, as alimentares, mas também as psicológicas. Ser casado é ter a extraordinária capacidade de amar e ser amado. E isto significa se abrir para que alguém o machuque ainda que você tenha a certeza de que isso não vai acontecer.

Mas não é possível, não é bom, não é leal nem honesto tentar viver as duas realidades ao mesmo tempo. Não dá pra viver uma vida dupla sem ser hipócrita ou esquizofrênico. Tenho ciência que muitos discordarão de mim. Mas estou absolutamente convencido de que a única forma de vida que creio, vale a pena, é vivida a dois.

 

61. QUATRO MITOS SOBRE O CASAMENTO

É surpreendente ver que muita gente, mesmo depois de anos de casados, ou mesmo depois de ter se divorciado duas ou três vezes, ainda acredita em alguns mitos acerca do casamento. J. Allan Petersen nos mostra quatro dos mitos mais comuns acerca do casamento e que eu gostaria que você soubesse.

  1. Meu casamento foi feito no céu. Quando compramos uma calça ou camisa é cada vez mais comum ver na etiqueta a expressão “made in china”. Para muita gente, se foi Deus que fez o casamento, a consequência inevitável é que ele será um sucesso. A pressuposição deste mito é que só existe uma pessoa certa pra você e que Deus a colocou diante de si. Mas no casamento nós não somos apenas peças de um jogo de Deus. E então, quando as coisas começam a complicar, agimos como Adão: “a mulher que tu me deste”, jogando a culpa em Deus. Acreditar neste mito nos dá a falsa segurança de que não temos que nos esforçar para enfrentar as lutas e as crises próprias do casamento.
  2. Devo encontrando o meu papel no lar. Muita gente ainda pensa que quando cumprimos aqueles papéis que estão escrito em Efésios (onde o homem é o cabeça da mulher e tem que amá-la, enquanto ela tem que obedecê-lo) o casamento será um sucesso. Tenho visto muitos casais cumprindo estes papéis e assistindo seus casamentos falindo. Este texto reflete uma realidade sócio-cultural que precisa ser desconstruída e reconstruída em nossa sociedade. Hoje sabemos que fomos criados com dons, características e peculiaridades diferentes e que as funções no casamento estão relacionados ao bom exercício destes dons e não ao gênero de quem o exerce.
  3. O casamento me fará feliz. Muita gente acredita que com o casamento estamos nos separando de nosso passado e encontrando o amor perfeito que nos garantirá a felicidade eterna. É como se o casamento fosse um novo começo. Mas ele não modifica o passado. Ele o revela. Outros pensam que seu cônjuge dará tudo o que for preciso para a felicidade. Pessoas assim se tornam aleijados emocionais. David Wikerson disse certa vez: “o casamento não é feito de duas metades tentando se tornar um todo. (…) O casamento nunca funciona, a não ser que cada cônjuge mantenha sua identidade, estabeleça os seus próprios valores, encontre o seu próprio senso de realização e descubra a sua própria fonte de felicidade… através do Senhor”. Entenda, o amor, como disse Erich Fromm “não é uma vítima de minhas emoções, mas um servo de minha vontade”. O amor é um desejo e uma prática direcionada a uma pessoa.
  4. Os filhos mantêm o casamento. Diferentemente do que ensinam por aí, os filhos não resolvem os problemas conjugais, eles apenas os revelam e agudizam. O Dr. Armin Grams escreveu: “nunca se pretendeu que os filhos fossem o eixo da família. O seu lugar é na periferia, protegidos e amados, mas respeitados como crianças (…). O centro de uma família é a relação entre o marido e a esposa”.

Todos estes mitos tem algo em comum: a crença de que os outros (Deus, seu cônjuge ou seu filho) são os responsáveis pelo seu bem-estar. Acho que já é hora de acordar e questionar estes mitos e assumir a sua felicidade como uma construção cuja responsabilidade é sua e de seu cônjuge.

 

62. ESCUTAR OU OUVIR?

Pode parecer estranho ouvir esta pergunta porque, afinal, escutar e ouvir são palavras que sempre foram vistas como intercambiáveis.

Ouvir, para muita gente, é apenas permitir que o som entre pelos ouvidos fazendo seus tímpanos vibrarem. Para tanto basta fazer silêncio e deixar a outra pessoa falar.

Escutar, porém, diz, Debbie Cherryl, em seu livro Descobrindo os tesouros do casamento, “significa que você está prestando atenção àquilo que este som representa”. O objetivo do escutar, continua a autora “é alcançar uma compreensão mais profunda de seu cônjuge”. Norman Wright, em seu livro Comunicação: a chave para seu casamento, diz que “Escutar é mais do que esperar de maneira educada por seu momento de falar. É mais do que apenas ouvir palavras. O escutar real é receber e aceitar a mensagem exatamente como ela é enviada – buscando compreender o que a outra pessoa de fato quer dizer”.

No século XVIII um pesador alemão chamado Scheiermacher, considerado o pai da hermenêutica moderna, afirmou que a verdadeira interpretação ocorre na esfera da compreensão, ou como ele chamava, vestehen. Para ele, interpretar é a arte de compreender.

Estou convencido de que muitos problemas entre os casais seriam resolvidos se eles, ao invés de simplesmente ouvirem um ao outro, estivessem dispostos a escutar o que o outro quer dizer. Sim, porque, escutar implica em estar aberto para ouvir “com ouvidos de ouvir” e não armado para poder revidar o argumento. Vestehené desenvolver um tipo de em-patia capaz de sentir o que o outro está sentindo. Casais felizes precisam aprender a escutar mais do que simplesmente ouvir. Escutar é desenvolver esta experiência de sentir com o coração, ou seja, procurar entender a dor do outro (empatia). Quando os casais forem capazes de escutar, muito mais do que apenas ouvir, o crescimento matrimonial se realizará.

 

63. QUANDO NOS SENTIMOS AMEAÇADOS

Há uma expressão muito feliz dita pelo jornalista inglês George Sala (1828-1895) que diz: “O que é difícil não é apenas dizer o que é certo no lugar certo, mas sobretudo deixar de dizer o que é errado no momento tentador”. Com toda a certeza, todos os casais já passaram ou experimentaram momentos em que enquanto um dizia uma coisa o outro entendia outra. Esta experiência é, além de universal, extremamente comum entre os casais e acaba por ser a causa de inúmeros conflitos. A questão da interpretação das palavras é um dos assuntos mais prementes quando estamos em meio a uma DR com nosso cônjuge. Conforme postulava Sófocles, morto em 406 a.C., “É terrível quando falamos claramente e somos mal entendidos”. Mas isso é justamente o que acontece entre as pessoas e principalmente entre os casais. São nesses instantes de conflito que, muitas vezes assumimos uma postura defensiva e, ao invés de “ouvir com o coração” os reclamos de nosso cônjuge, nos prendemos às palavras e, muitas vezes, as interpretamos mal.

Foi estudando esta capacidade de desentendimento do que se diz e na geração de um sentimento de ameaça no coração e mente de quem ouve, que a pesquisadora e terapeuta familiar, Virgínia Satir (1916-1988), chegou à conclusão de que existem quatro estilos causadores de desentendimentos que tendem a aflorar quando nos sentimos ameaçados.

  1. O Apaziguador. As pessoas apaziguadoras são aquelas que sempre dizem “sim” e jamais um “não”. Para eles os outros sempre têm razão e ninguém precisa se preocupar com eles. Eles fogem do confronto. Eles, segundo o casal Parrott, procuram manter a paz a qualquer preço, mesmo que o preço seja sentir-se indignos. Uma vez que pessoas assim têm dificuldade em expressar raiva e externar seus sentimentos, “tendem a ficar deprimidas e, como mostram alguns estudos, podem ficar propensas a doenças” (2000, p. 90). Os apaziguadores precisam saber que não é proibido discordar e se contrapor ao que foi dito. Não precisamos aceitar todas as acusações que nos forem imputadas apenas para evitar conflitos. A resposta, contudo, deve ser feita com respeito e sem agressão.
  2. O Acusador. O segundo tipo de reação vem daquelas pessoas que se caracterizam por serem acusadores em sua estratégia de defesa. Este tipo de cônjuge vive a fazer críticas, procurar erros e generalizar. Frases do tipo: “você não faz nada direito”, “você é um incapaz para lidar com esses assuntos”, “você está agindo igual à sua mãe”, são comuns em tais tipos de pessoas. O que estas pessoas não compreendem é que, internamente, elas “sentem-se mal amados, previamente zangados por não conseguirem o que desejam” (Ibid. 2000, p. 91). É por isso que , para eles, a melhor defesa é o ataque; porque, no fundo, são incapazes de suportar o medo ou a dor de seus próprios erros. Estas pessoas precisam aprender a se defender e responder às questões e às críticas, sem precisar agredir ou ferir seu cônjuge.
  3. O Calculista. Este é aquele indivíduo que nunca admite seus erros. Ele é extremamente racional, calmo e retraído. O que ele não sabe é que seu comportamento é assim por causa do medo de suas emoções. Elas preferem se esconder por trás das estatísticas e dos fatos para não ter que encarar o que sentem. São do tipo de pessoas que pensam “Não mostro minhas emoções para ninguém e também não quero que ninguém me mostre as suas”. Eles racionalizam tudo. Cônjuges assim precisam ser questionados sobre como se sentem diante de algum tipo de questão. O foco precisa ser retirado da razão e colocado no coração.
  4. O Dissimulado. Este tipo de pessoas são aquelas que se acostumaram a evitar tensões, respostas diretas e até mesmo a olhar nos olhos do outro. Eles são ávidos para mudar de assunto quando se veem acurralados. Para eles, qualquer forma de confronto pode gerar conflito e isso eles não querem. Mas, para o casal Parrott (2000, p. 92) “Os dissimulados precisam saber que não há perigo, não estão desamparados; os problemas podem ser resolvidos e os conflitos solucionados”. A existência de um conflito conjugal não precisa necessariamente significar o fim de um casamento. Portanto não precisamos escamotear os fatos, mas enfrenta-los e vencê-los.

Você precisa ter consciência que quando acabar conversando com seu cônjuge refletindo uma dessas formas citadas, provavelmente você estará magoado ou nervoso em razão de algo. Se, por outro lado, seu cônjuge apresenta algum tipo de comportamento semelhante aos que foram expostos aqui, procure ser compreensivo para com ele, pois provavelmente, ele estará assumindo uma posição de defesa. Tentem entender o que está por trás do que está sendo dito e, dessa forma, tabular uma conversa tranquila e sem agressividade. Finalmente Lembre-se das palavras de Paulo “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe; e sim unicamente a que for boa para a edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que a ouvem” (Efésios 4: 29).

 

64. QUATRO NÍVEIS DE COMUNICAÇÃO

Certa vez, re-lendo um antigo livro de Jaime Kemp, me deparei com uma catalogação realmente magnífica sobre os tipos de comunicação que marcam as pessoas e também os casais em nossa realidade cotidiana. Qualquer um que queira ter sucesso no casamento deve procurar tentar atingir o mais elevado nível de comunicação. Jaime faz sua exposição partindo do nível mais alto como quem expõe o nível menos próximo até chegar ao nível que gera a unidade.

Nível 4

Kemp descreve este nível como o tipo de comunicação superficial, aquele tipo de comunicação que traz apenas uma impressão de segurança. Desta forma as pessoas dizem “bom dia”, “será que vai chover?”, você gostou do jogo?”, mas continuam protegidas atrás de uma máscara. Lamentavelmente há inúmeros casais que se comunicam acostumaram a se comunicar neste nível, que, seguramente, não é o mais apropriado para um casal que deseja a plena felicidade.

Nível 3

Este é o nível em que os casais se satisfazem em simplesmente relatar certos fatos acerca dos outros. O casal é capaz de ficar bastante tempo discutindo o comportamento do personagem da novela ou mesmo do vizinho, emitindo juízos de fato, mas ainda permanecem dentro de suas cascas comprometendo-se com uma posição. Este nível ainda é muito insatisfatório para um casal que deseja exercitar a felicidade conjugal.

Nível 2

Este é o nível em que os juízos de fatos dão espaço aos juízos de valor e a pessoa começa a se abrir e se expor no que pensa e no que acredita. Neste nível, diz Kemp, “a pessoa está disposta a correr o risco de expor suas idéias e soluções próprias”. Isto significa que a intimidade do interlocutor está sendo exposta e isto nos expõe à crítica de um lado, mas também nos expõe à intimidade, do outro. Este é o nível em que os casais começam a desenvolver mais proximidade.

Nível 1

Aqui encontramos uma plena comunicação. Segundo Kemp, a pessoa está disposta a compartilhar seus sentimentos, idéias e pensamentos. Este nível de comunicação possui duas bases: a honestidade e a abertura plena. Embora seja amedrontador abrir seu coração para seu cônjuge e dizer o que você efetivamente acredita, se expondo ao risco de ser rejeitado, é absolutamente vital chegar até este nível.

Casais amadurecidos compreendem que há uma diferença entre “a pessoa” e “o que ela pensa” e, desta forma, são capazes de conversar sobre suas diferenças conceituais sem, necessariamente, se agredirem ou se machucarem. Casais amadurecidos sabem que o que se está buscando, sempre, em um casamento de sucesso, é a capacidade de dialogar com respeito e honestidade, sabendo que, as vezes, cedemos e nos deixamos convencer por uma boa argumentação e, em outro momento, somos capazes de demonstrar que nossa ideia é mais adequada.

Seja como for, quando estamos falando sobre comunicação, é sempre bom lembrar que, se por um lado quando falamos em comunicação estamos falando do “conteúdo” do que falamos, a “forma” como nos expressamos também deve ser levada em conta. Por isso é imprescindível lembrar sempre as palavras do provérbio que diz: “a resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira” (Provérbios 15:1).

 

65. REGRAS MÍNIMAS PARA QUALQUER “DR”

1) Não grite

Os homens são os únicos animais de que dialogam. Muitos animais se comunicam, mas dialogar é próprio do ser humano. Todo diálogo é o confronto de duas ideias diferentes com a possibilidade de gerar um denominador comum, ou seja, de se chegar a uma posição em que os dois se satisfazem.

O primeiro problema da chamada “DR” é que, em geral, as pessoas costumam procurar impor sua tese por meio do volume de sua voz. Ou como alguém já disse: na falta de força de argumento, usa-se o argumento da força.

O triste disto tudo é que, normalmente, gritar só é um recurso que usamos quando nosso interlocutor está muito distante de nós. Porque gritar com que está ao meu lado? Talvez por isso eu venha entendendo o “grito”, ou bem como uma forma de imposição e dominação ou bem como uma demonstração de que, apesar de fisicamente próximos, os interlocutores estão muito distantes um do outro. Portanto, quando você for fazer sua “DR”, em primeiro lugar, evite gritar com aquela pessoa que é o amor de sua vida.

Conta-se que quanto mais distante estão as pessoas mais alta tem que ser a voz para que o outro ouça. É por isso que muitos casais gritam. Eles estão espiritualmente muito distantes. Por outro lado, quanto mais próximo está o casal, menos barulho se precisa fazer para que se seja ouvido. De fato, há casais em que nem se precisa falar para que o outro entenda. Basta um olhar.

2) Ouça com ouvidos de quem quer ouvir

Em geral, quando vamos para um embate nos preparamos intelectualmente para organizar nossa mente na tentativa de rebater a argumentação. Toda nossa atenção se volta para o processo de convencimento do outro. Nós sempre achamos que estamos certos e o que temos que fazer é provar que o outro está errado.

Lamentavelmente, quem faz uma “DR” não está muito preocupado em ouvir as “razões” de seu cônjuge. Não ouvimos para entender a argumentação do outro, ouvimos para rebater a sua argumentação. Isto significa que uma boa “DR” tem que ter “empatia”, ou seja, a capacidade de ouvir e sentir o que o outro pensa e sente. Em geral, a “antipatia” apenas piora a situação. Portanto, quando você for fazer sua próxima “DR” procure ouvir e entender os verdadeiros reclamos de seu cônjuge com empatia. Se isso for feito, garanto que ambos terão uma comunicação muito produtiva.

3) Centralize-se nas atitudes não nas pessoas.

Um dos grandes erros que os casais cometem é centralizar-se na pessoa e não no comportamento. Assim, é comum ouvir do cônjuge, “você é muito (chato, incompreensível, impaciente, etc.)”. O Correto é dizer: “você tem se comportado com impaciência”, etc. É muito ruim para seu cônjuge quando ele recebe um rótulo e este rótulo nada mais faz do que diminuir sua auto-estima e produzir uma auto-imagem negativa.

Lamentavelmente, quem age assim, ou bem tem a necessidade de diminuir seu parceiro(a) para poder se impor – o que já revela uma enorme insegurança e baixa auto-estima, ou bem, tem a necessidade de controlar e dominar, o que revela uma certa perversão.

Quando você for fazer sua “DR” evite se referir à pessoa taxando-a ou rotulando-a de SER isto ou aquilo. Dirija-se a um comportamento que pode ser mudado ainda que com esforço.

4) Evite adjetivações agressivas

Parece óbvio, mas por incrível que pareça, as pessoas que querem fazer sua “DR” precisam evitar adjetivações que denigram a pessoa. Palavrões, xingamentos e obscenidades só fazem piorar a “DR”. Ser cortês e falar com gentileza não deve ser algo tão difícil quando se trata de pessoas adultas e civilizadas.

 

66. SOBRE O TOM DA VOZ E A INTIMIDADE

Qual o tom de voz certo para uma conversa ou uma discussão entre o casal? Quem de nós nunca ouviu um casal de vizinhos discutindo em voz alta sobre seus problemas pessoais e, não raras vezes, utilizando palavras agressivas ou de baixo calão? Em muitos casos estas discussões acabam levando até à agressão mútua.

Mas como será que deveria ser a discussão de um casal cristão inteligente e racional? Até que ponto uma conversa ao invés de produzir o desentendimento não seria capaz de gerar maior intimidade entre o casal?

Certa vez ouvi um sábio dizer que quanto mais baixa a voz, mais próximas estão as pessoas. Esta é a mais pura verdade. Sabe porque? Porque quando maior é a distância entre as pessoas, mais alta deve ser a voz para que ela possa ser ouvida. Por isso, casais que estão existencialmente distantes, costumam gritar um com o outro. Eles querem ser ouvidos

Mas quando os casais estão próximos, tanto física, quanto existencial ou emocional, eles falam baixinho. Na realidade há casais em que nem mesmo são necessárias palavras para que eles se comuniquem. A intimidade entre eles é tão grande que basta um olhar. As palavras não precisam mais serem usadas… Casais ajustados e amorosos são assim. Não precisam nem falar alto, eles já estão próximos o suficiente para saberem o que o outro pensa, apenas pelo olhar ou pelos gestos do corpo. Somente a intimidade pode produzir este tipo de relacionamento.

Quanto a intimidade, ela é o resultado de uma equação que soma duas variantes: a atenção e o tempo. Quanto mais conhecemos nosso cônjuge mais intimidade com ele teremos. E desta forma, chegará o momento em que as palavras nem serão necessárias. Um carinho no rosto de sua amada, acompanhado de um olhar especial e ela já percebe que você quer agradá-la.

A grande vantagem que tenho em ser casado com uma enfermeira com mais de vinte anos de experiência é que, ela – apenas olhando para a cor de meu rosto – consegue descobrir se estou ou não com a pressão sanguínea alta. E lá vem ela com um vasodilatador.

A intimidade é assim, nós passamos a conhecer melhor nosso cônjuge e, desta forma, fazemos com que se sinta mais feliz e especial. Quando ela menos espera, você chega com o chocolate….

 

67. CONSTRUINDO RELACIONAMENTOS

Quando penso em construção, a primeira visão que me vem à mente é a daquele prédio que foi construído em frente de minha janela. Lembro que as vezes passava algum tempo observando o trabalho daquelas pessoas que estavam ali. Elas chegavam cedo e, apesar do sol escaldante, carregavam cimento, faziam traço, erguiam paredes, etc. Imagino que ao final do dia eles estivessem bem cansados. Toda construção é assim, exige muito esforço e suor.

Não pense você que com os relacionamentos é diferente. É preciso muito esforço, muito suor e muita vontade para se manter um relacionamento. Partindo para uma leitura mais didática, gostaria, no entanto, de citar as quatro chaves fundamentais para a construção de bons relacionamentos, segundo John Gray em seu livro Homens, mulheres e relacionamentos. Para que existam relacionamentos mutuamente recompensadores é preciso quatro chaves:

  1. Comunicação eficiente: A comunicação verdadeira é essencial para a criação da intimidade. Discordando do que pensa a maioria, o desentendimento é mais comum do que se imagina, em uma relação. Uma coisa é o que queremos dizer, outra coisa é o que dizemos e outra coisa é o que ela entende que dissemos. E isto é muito comum. É preciso ter essa visão das coisas. Para Gray, “quando nos comunicamos para intimidar, ameaçar, desaprovar, ferir, encontrar defeitos, ou faze com que alguém sinta-se culpado, estamos usando mal a comunicação”. Podemos até nos fazer entender, mas estaremos criando ressentimentos. A verdadeira comunicação tem como intenção, compreender o outro. E compreender vai além de entender palavras, tem a ver com ouvir com os ouvidos do coração.
  2. Compreensão correta: A comunicação eficaz permite que a compreensão correta aumente. Para Grey “Um dos problemas comuns no relacionamento é que depois que conhecemos alguém, temos a forte tendência de acreditar que esteja correto o significado que damos a suas palavras e gestos”. Ledo engano. Quantas vezes nos enganamos porque, por exemplo, não entendemos os sentimentos que estão por trás daquelas palavras. E aí, acabamos entendendo mal o que se quer dizer.
  3. Desistência dos julgamentos: Quanto mais compreendemos nossas diferenças, melhor comunicamos nossos sentimentos e desejos. E na proporção que somos capazes de compreender as limitações do outro, seremos capazes de desistir dos julgamentos e adjetivações negativas. Quando formos capazes de amar, aceitar, apreciar e respeitar, desaparece a necessidade de julgar e o amor toma seu lugar na relação.
  4. Aceitação da responsabilidade: A quarta chave para que um relacionamento dê certo é reconhecer que as responsabilidades pela relação são iguais. Nenhuma relação é feita de um anjo com um demônio. Esta visão maniqueísta precisa dar lugar a uma outra em que ambos sejam capazes de se responsabilizarem pelos seus erros mas também, sejam capazes de buscar juntos uma solução. Parceria e companheirismo são a saída.

Como dissemos no início, toda construção envolve muito suor e lágrimas. Mas, quando queremos, então vale a pena investir na construção de uma linda relação de amor. Invista na sua.

 

68. O SUPORTE EMOCIONAL 1

Um dos grandes motivos que aumentam as dificuldades e as crises entre os casais é que eles desconsideram os suportes emocionais que existem e que poderiam ser usados para fortalecer a relação. Mas o que são esses suportes emocionais?

Em 2013 o cinema lançou um filme chamado Gravidade, com Sandra Bullock. Neste filme ela faz o papel de uma astronauta que tem seu cabo de ligação com a sua nave cortado e, de repente, ela se encontra só e com o oxigênio limitado.

Da mesma forma, casais precisam ter a sabedoria para utilizar os suportes emocionais que têm, para se manterem ligados. São estes suportes que nos mantêm unidos sem, contudo, nos aprisionar.

Quando valorizamos estes suportes emocionais, não importa o que estamos fazendo ou sentindo. Estamos sempre ligados e próximos da pessoa amada. Se estamos em locais diferentes, não importa, estamos próximos; se estamos ocupados em atividades diferentes, não interessa, estamos conectados. Os autores Patricia Love e Steven Stosny sugerem que para que os casais se lembrem sempre desta conexão, eles exercitem a prática de escrever pequenos bilhetes e entregue ao seu amor, para que ele se lembre sempre de você quando os lerem. Eles sugerem frases do tipo: Minha vida tem mais significado por sua causa, Temos uma história preciosa juntos ou, Quando estou com problemas é você que me conforta.

O fato é que, dizem Patricia Love e Steven Stosny: “se você se imaginar constantemente conectado por um cordão invisível, todo o seu comportamento emocional com o parceiro mudará para melhor”. Estes pequenos detalhes podem fazer toda a diferença em uma relação. Invista, portanto, nos suportes emocionais que vocês dispõem.

 

69. O SUPORTE EMOCIONAL 2

Uma das maiores verdades a respeito do ser humano – particularmente dos machos da espécie, é que os humanos são seres presos à rotinas. Geralmente acordamos sempre à mesma hora; saímos de casa; chegamos no trabalho e dele saímos sempre no mesmo horário, etc. Este tipo de comportamento se agudizou com a revolução Industrial e acabou marcando toda a humanidade.

Patricia Love e Steven Stosny nos dizem ser muito importante incorporar à rotina pensamentos e comportamentos que sejam capazes de enriquecer a conexão existente entre o casal. As mudanças na rotina e no comportamento quando internalizados podem gerar grandes mudanças nas emoções do dia a dia. Hoje vou sugerir algo que pode até parecer bobagem, mas que, quando internalizado pode fazer toda a diferença: crie a rotina de abraçar seu parceiro seis vezes por dia por seis segundos.

Estou certo que todos os casais se lembram que no início da relação abraçar era muito mais comum e muito mais prazeroso. Com o passar do tempo os casais se abraçam menos e alguns já nem fazem mais isso. Este é o caminho para o desastre. Os especialista dizem que a ausência de toque entre os casais pode gerar ressentimento e solidão. Por isso proponho que cada casal gaste pelo menos estes 36 segundos ao dia para reverter esta tendência.

Geralmente os casais só se abraçam uma ou duas vezes ao dia. Elevar a prática para seis, facilita a proximidade do casal. Afirmam ainda o casal de autores: “O mínimo de seis segundos para cada abraço reconhece o fato de que no início alguns destes abraços serão forçados. Eles podem começar forçados, mas se tornarão mais autênticos no quarto ou quinto segundo desde que vocês ainda estejam próximos e não tenham entrado no estágio do desdém”.

O abraço em geral aumenta os níveis de serotonina que não apenas produz um efeito calmante, mas que também reduz o apetite. Em outras palavras, você vai se sentir melhor e ainda vai perder um ou dois quilos, além de se aproximar mais de seu cônjuge, dando mais suporte à relação. Estabeleça este hábito e solidifique cada vez mais sua relação com seu cônjuge.

 

70. REGRA OU EXCEÇÃO?

Estudando as obras de Zigmunt Bauman nos deparamos com uma visão extremamente crítica da realidade que nos cerca. Uma delas diz respeito à liquefação das identidades e das instituições, das estruturas e dos comportamentos que, julgávamos, estáveis e “normais”.

Eram “normais” porque “universais” e praticamente “exigíveis” – de uma perspectiva kantiana, de todas as pessoas. Mas algo ocorreu a partir da década de 80. As “anormalidades” foram se tornando tão comuns que hoje já não sabemos mais distinguir o que é a regra do que é a exceção.

Uma das esferas que podemos abordar esta mudança tem a ver com a amizade. O que era amigo na década de 80 e o que é um amigo hoje? Quando lembro da letra de Oswaldo Montenegro nos convidando a fazer uma lista dos grandes amigos me dou conta de que não apenas eles desapareceram mas que a própria noção de amizade mudou. Um amigo era alguém na frente que quem você podia pensar em voz alta e aquela pessoa que jamais usaria o que você disse contra você. Hoje o que temos são apenas colegas de trabalho que nos vêem como degraus para atingir um nível mais elevado na empresa ou na sociedade. As pessoas não se aproximam mais umas das outras pelo que elas são, mas pelo que elas podem nos dar em troca.

Quando tratamos de amizade entre casais a situação fica ainda mais complexa e desesperadora. Foi-se o tempo em que um casal podia contar com um outro casal diante de eventuais dificuldades conjugais. O que era regra virou exceção porque o que vemos são os amigos “flertando” ou “investindo” nas esposas de seus próprios amigos. O que vemos são as esposas dando um “passe livre”, uma vez por semana para seus maridos a fim de que elas próprias também possam vivenciar outras experiências.

Sei que já passei dos quarenta e que faço parte de uma geração que já pode ser chamada de antiquada. Mas não vejo muito futuro num tipo de comportamento em que, primeiro nos desvalorizamos enquanto pessoa e, em segundo lugar, desvalorizamos nosso cônjuge. Nos desvalorizamos porque nos apresentamos como uma “mercadoria” ou mais um “objeto de prazer” em uma feira de sensualidades. Desvalorizamos nossos cônjuges porque traímos os votos e mentimos deliberadamente para camuflar a realidade. Ou pior, sabemos que há casais em que isto ocorre sem que sequer seja necessário esconder ou encobrir esta realidade.

A grande dificuldade que se tem hoje de encontrar um amigo, ou um casal de amigos é que a exceção virou regra. Não quero um amigo que ache normal trair, que ache exceção ou vergonhoso ser fiel. É difícil encontrar hoje pessoas que tenham os mesmos princípios e os mesmos padrões. Você acaba sendo uma espécie de “ET” numa sociedade em que trair é normal, é a regra e a exceção é ser fiel.

Não se trata de buscar uma “falsa santidade”. Estou sendo apenas prático. Que tipo de relacionamento teremos quando não podemos nem sequer confiar na pessoa com quem compartilhamos a mesma cama? Afinal de contas um orgasmo com uma pessoa estranha e desconhecida é realmente tão mais importante do que anos de relação construído com esforço? Quem já passou por essa experiência e sofreu a perda de um casamento sabe que não vale a pena, sabe que o custo é muito alto.

Fidelidade não é um tema piegas, estou convencido de que hoje é uma questão de sobrevivência do casal. Até porque, voltando ao tema da amizade, acredito firmemente que o maior amigo de uma mulher é seu marido e vice versa.

Ao escrever estas linhas estou ciente de que muita gente vai rir e criticar. Não há problemas. Faz muito tempo, um autor inglês chamado John Stott lançou um comentário ao sermão da montanha que tinha como título “contracultura cristã”. Neste livro ele demonstra claramente como o “feliz” é o “que chora” e não aquele que gargalha, como quem “vive” é realmente aquele que é capaz de “morrer”.

Na vida precisamos fazer escolhas e as fazemos diariamente. Estas escolhas podem ser feitas com base em critérios e em valores ou podem ser simplesmente refletir o que a “moda” ou o que a “suciedade” entende como regra. Espero que, para além da popularidade, nossas escolhas reflitam nossa inteligência e nossa integridade.

 

71. MANTER-SE CASADO 1

Em mais de vinte e cinco anos de exercício sacerdotal já celebrei centenas de casamentos. Casar é relativamente fácil quando se é organizado e se tem um orçamento compatível com o tipo de cerimônia que se quer. Já manter-se casado, não é tão fácil assim. Na realidade manter-se casado, hoje, é razoavelmente difícil e exige uma disciplina cotidiana rígida para quem deseja realizar aquele sonho do “até que a morte nos separe”. Neste texto procurarei apresentar uma primeira verdade que precisa ser encarada por quem deseja permanecer casado até o fim de seus dias.

A primeira grande verdade que precisa ser aceita por quem deseja se manter casado para sempre é conhecer-se bem e conhecer bem seu companheiro, e isso exige tempo. Desde já apresento o maior inimigo do casamento duradouro: a pressa. É por causa da pressa que não conhecemos suficientemente aquele ou aquela com quem pretendemos viver o resto da vida e, de repente, nos vemos diante de uma realidade e de uma situação que nos surpreende. Mas aí, já é tarde demais. Gastamos os próximos anos em esforços e terapias para remediar o que deveria ter sido visto no início, mas não foi. Isto acontece porque este é o tempo da pressa, da rapidez; tudo tem que ser feito logo, pra ontem, até casar.

Claro que estou tratando daquelas relações “em condições normais de temperatura e pressão” e que existem situações excepcionais em que um casal possa em pouco tempo ter chegado a ter um conhecimento mútuo tão profundo que outro, em muito tempo ainda não tenha.

No que diz respeito às diferenças acho que podemos escaloná-las em pelos menos dois grupos, aquelas negociáveis e aquelas inegociáveis. Se você pretende casar com alguém, é absolutamente necessário que você faça uma escala de elementos que possa ser vista como aquilo acerca do que você jamais seria capaz de abrir mão. No meu caso particular, depois de experimentar muitas frustrações e fracassos, criei uma lista com cinco elementos fundamentais que não poderiam ser negociados: a fé, o pacote, o emprego a cabeça e a exclusividade. Isto significa que eu não me casaria (novamente – porque já fui casado antes) com alguém que se opusesse à minha fé em Deus, que não aceitasse os meus filhos, que não tivesse uma vida profissional própria, que não pudesse manter uma conversa inteligente e culta e que não estivesse absolutamente convicta de ter um relacionamento monogâmico e exclusivo.

Afirmar estes elementos como prioritários significa colocar em segundo lugar todos os outros eventuais temas. Podemos negociar os horários de sono, podemos negociar o que faremos no fim de semana, podemos negociar os planos para o futuro, o lugar onde iremos morar, quem vai lavar a louça ou fazer as compras, se vamos ouvir blues ou rock dos anos 80, onde aplicar as economias, onde passaremos as férias, etc. etc. etc. O que não tem sentido é estabelecer estes elementos secundários como motivos para brigas destemperadas, desrespeito e separação.

Antes de casar é absolutamente necessário estabelecer este conhecimento mútuo para que nenhuma surpresa desagradável aconteça no meio do caminho. Ademais, uma vez que se ultrapasse o primeiro critério, os essenciais, os temas secundários precisam ser tratados com respeito e com abertura. Não se deve absolutizar o que é relativo nem colocar um tema ou um assunto acima da pessoa que amamos. Por isso, não devemos mal-tratar ou des-tratar aquele(a) com quem resolvemos viver o resto de nossa vida.

 

72. MANTER-SE CASADO 2

No texto anterior fizemos uma primeira exposição acerca do que é necessário para quem deseja manter-se casado por toda uma vida. Vimos que o primeiro passo para isso é procurar conhecer-se e conhecer bem seu cônjuge. É preciso estabelecer critérios e marcos primários e secundários para nortear a escolha e a manutenção da relação. É claro que, como pressuposto básico destes textos, estamos aceitando a existência fundamental do amor, do afeto e do compromisso carinhoso com a pessoa amada.

Mas há um segundo elemento que é fundamental para quem deseja manter-se casado pelo resto de sua vida. A vontade. Quem vai se casar não pode se enganar. Vão surgir, sim, situações muito difíceis. Alguns dias vocês vão brigar, vão ficar emburrados um com o outro, vão discutir, gritar, se decepcionar, se cansar, vão pensar em desistir, etc., etc., etc. Mas há algo que faz com que estes problemas possam ser superados com facilidade: sua vontade.

Em geral, estamos trabalhando de forma sistemática e lógica. Se, em primeiro lugar, há amor; se, em segundo lugar, os compromissos foram feitos e estão sendo cumpridos, e se as diferenças entre os dois são conhecidas, os eventuais problemas não devem se constituir problemas tão sérios a ponto de serem causa de uma separação. Tudo pode ser trabalhado quando se tem por base o amor.

Quando se quer, se enfrenta os problemas sejam eles quais forem e venham de onde vierem. Eles podem vir dos lugares mais inesperados do mundo como, por exemplo, os amigos ou a própria família. Não é fácil nem simples dizer não aos amigos e familiares em razão de uma convicção interna absolutamente fundamental. Mas é necessário, se queremos viver nossa vida e não a dos outros. Já realizei casamentos em que um dos noivos tinha sérios problemas físicos que poderiam servir de argumentos para que alguém da outra família colocasse empecilhos. Já realizei casamentos de pessoas com diferenças sociais gritantes que foram vistos, normalmente pela família mais abastada, como um “golpe” da noiva sobre o “apaixonado” noivo. Tudo isso é sofrível, mas precisa ser enfrentado quando se ama.

Quando se quer se buscamos superação de todas as dificuldades. Há um texto na Bíblia que diz que o amor cobre uma multidão de pecados (I Pedro 4:8). Isto significa que quando se ama não é difícil perdoar os defeitos da pessoa amada. Não importa se ela ronca durante a noite, se ele é ansioso com respeito ao trabalho, se ela deixa a toalha molhada sobre a cama, se ele espalha a roupa pelo quarto, se ela parece agressiva ao falar. Diz a Bíblia que o amor é paciente, tudo pode, tudo espera e tudo suporta (I Coríntios 13). Quando se quer, verdadeiramente, se consegue. Até porque, se ele tem alguns problemas que precisam ser trabalhados, ela também os tem.

Ontem, assistindo uma reportagem na TV ouvi uma jornalista dizer que foi participar das bodas de 75 anos de casal amigo. Ela, inevitavelmente não resistiu e perguntou à esposa: qual o segredo de ficar 75 anos casada com a mesma pessoa. Ao que ela respondeu: “paciência, minha filha; paciência!” Para se manter casado, acredite, é preciso querer… e ter paciência.

 

73. MANTER-SE CASADO 3

Na teoria da complexidade geralmente estudamos que existem dois tipos de sistemas no mundo: os fechados e os abertos. Os sistemas fechados, em geral, são como pedras ou como mesas, ou outros objetos qualquer. Tanto as pedras quanto as mesas, estão em completo e inteiro equilíbrio e repouso, em outras palavras, eles não exercitam qualquer espécie de troca com o mundo externo. O sistema aberto, por outro lado, está sempre operando constantes trocas com o mundo ao redor e, por via de conseqüência, não pode viver em constante equilíbrio ou estabilidade. A diferença fundamental entre os sistemas fechados e os abertos é que aqueles estão mortos e estes vivos, e estar vivo exige mudanças e instabilidade.

Um casamento, em geral, deve ser visto como um sistema vivo e, portanto, aberto e em constante troca com o mundo ao redor. Dizer que o casamento é um sistema aberto é o mesmo que dizer que nele se realizam trocas conceituais com o mundo ao redor. Um casamento em que o casal consegue viver por vinte anos pensando da mesma forma, fazendo as mesmas coisas e sem modificar ou adquirir qualquer novo insight, seguramente se trata de um casamento morto onde as pessoas apenas se acostumaram a viver uma com a outra.

Para se manter casado é absolutamente fundamental estar aberto para as grandes contribuições que a ciência, a cultura, a experiência, enfim, a vida, podem dar. Um casamento vivo exige uma viagem de vez em quando, um presente fora da data do aniversário, uma surpresa, uma ligação fora de hora, enfim, algo novo. Na realidade, tudo o que está vivo muda, e opera trocas com o mundo ao redor. Ninguém é a mesma pessoa depois de ler um bom livro ou depois de passar por uma experiência de quase-morte.

Certa vez ouvi uma esposa dizer para seu marido, com quem era casado por vinte anos: “ele não é mais a mesma pessoa com quem casei”. Claro que não! Ninguém é a mesma pessoa depois de vinte anos! Isto significa que casais que querem se manter casados precisam aprender a se casar novamente com seus cônjuges várias vezes. Li, certa vez uma entrevista em que o entrevistado dizia já ter se casado três vezes com sua esposa. Isto é importante porque as pessoas mudam e isto é importante porque renovam o mesmo desejo e a mesma intenção de permanecerem juntos. As pessoas mudam no corpo, nos conceitos, nas idéias, na alma, mas quando são capazes de operarem estas mudanças juntas, mantendo o mesmo amor e o mesmo compromisso, estão prontos para ficarem juntos até que a morte os separe.

 

74. MANTER-SE CASADO EM UM MUNDO EM CRISE DE VALORES

Uma das características que admiro em minha esposa é a pontualidade ou, pelo menos, o cuidado que ela tem em avisar caso vá chegar atrasada em algum evento ou reunião. Fiz esta pequena introdução para demonstrar que, como diz as Escrituras “quem é fiel no pouco também é fiel no muito” (Lc 16:10). Olhando para nossa sociedade percebemos logo que os valores que eram praticados no passado parecem estar sendo esquecidos. Pontualidade, veracidade, honestidade, fidelidade, etc., parecem palavras que já não têm sentido na vida de muita gente. Mas como manter uma relação conjugal em meio a esta crise de valores? Patrícia Love e Steven Stosny nos dizem que a forma mais fácil de se manter fiel aos valores essenciais é invocar quatro inspirações:

  1. Melhorar. Se você buscar melhorar seu relacionamento você não vai desejar o mal, humilhar, atacar ou desvalorizar seu cônjuge. Mas você precisa desejar melhorar e se imaginar melhorando pois, desta forma, o seu neocórtex receberá mais recursos para realizar seu desejo. Começamos mudando nosso padrão mental e então, nos vemos melhorando em nosso relacionamento.
  2. Apreciar e admirar. O segundo elemento que devemos buscar é apreciar nosso cônjuge, ou seja, valorizar seu parceiro. Ao valorizar as virtudes de seu parceiro ele sentirá que você é atencioso e, portanto, não vai precisar se preocupar se você o elogiou o suficiente. Aprecie as qualidades de seu cônjuge e verbalize isso.
  3. Conectar-se. Isto significa que você tem que estar realmente preocupado com o que o outro está sentindo. Nutrir a intimidade é abrir as portas para saber o que seu parceiro está passando. É triste ver quantas esposas realmente acham que seus maridos são insensíveis. Muitas vezes não se trata de insensibilidade, mas de uma certa miopia que os impede de ver o obvio. Procure ser mais atencioso com os sentimentos de seu cônjuge.
  4. Proteger. Proteger seu marido significa ajudá-lo a aliviar-se do medo do fracasso como provedor, amante, protetor e pai. Proteger sua esposa é fazer com que ela saiba que ela jamais ficará só, isolada, privada ou desprotegida.

Estou ciente de que no mundo em que vivemos os valores que fortalecem as relações estão sendo relativizadas. Mas se queremos um relacionamento sólido, devemos edificar nossa casa sobre a rocha (Mt 7:24). Rochas não se abalam frente às intempéries que surgem em nossa sociedade.

 

75. O VALOR DO APREÇO

Certo dia sai para almoçar com minha esposa em um shopping perto de casa e, quando sentamos à mesa, nos foi impossível não ouvir a conversa de dois amigos sobre suas mulheres. Eles falavam como não suportavam mais viver aquela vida; como era difícil voltar pra casa; como eles preferiam ficar com os colegas de trabalho tomando umas cervejas ao invés de ter que retornar para aquelas mulheres chatas com quem viviam.

Não suportamos muito tempo ouvir esta conversa e nos retiramos para outro lugar onde a conversa dos dois não nos incomodasse. Mas começamos a refletir como, e com quanta freqüência, as pessoas expressam seu desapreço para com seus cônjuges hoje em dia.

Um dos maiores psicólogos da história, Willian James, certa vez escreveu aquela que poderia ser chamada de sua obra prima. Mas, pouco tempo depois se percebeu que aquele livro, que tratava da natureza humana, de suas emoções e de suas motivações, havia solenemente esquecido de tratar de um dos desejos mais prementes de todo ser humano: o desejo de ser apreciado, ou seja, de ser estimado e de ter o justo merecimento por seus atos.

Particularmente acredito que é parte desta sociedade pós-moderna a tendência de diminuir o outro para que, de alguma forma, nos sintamos melhores ou maiores, ou para que tenhamos mais visibilidade. Mas em um casamento não deve ser assim.

Quantas vezes você já foi capaz de mostrar sincero apreço pelo que seu cônjuge fez ou pelo que ele é? Barbara Chesser nos diz que a apreciação pode assumir milhares de formas. “um elogio bem merecido sobre alguma tarefa bem feita. Um ‘Muito obrigado por me amar’ (…) Um sorriso, um aperto de mão ou um braço em torno do ombro podem expressar apreciação”. Dizer o quanto ela está bonita, ou simplesmente notar que ela pintou o cabelo ou mudou o penteado. Afinal já dizia uma famosa letra da MPB: “o apreço não tem preço”…

Sou muito feliz e afortunado por ter uma esposa que me valoriza e aprecia quem sou e a qualidade de meu trabalho. Estes pequenos gestos fortalecem em muito a relação a dois. E ela sabe de como meu sentimento é recíproco.

É muito fácil perceber todos os defeitos e fazer uma lista de todas as coisas que não gostamos em nosso cônjuge. Mas é preciso um pouco mais de esforço para perceber suas virtudes e verbalizar as coisas que apreciamos nele. Mas acredite, este esforço vale à pena. Afinal, assim se expressa a Bíblia: “Seja generoso, porque o que você der a outros acabará voltado para você” (Ecl 11:1 – Bíblia Viva).

 

76. AS QUATRO BASES DE UM BOM CASAMENTO

Quando Roma foi fundada, em 753 aC., ela foi edificada sobre sete colinas que rodeavam a cidade e que serviam não apenas de base, mas que também eram ótimos locais de observação em caso de ataques inimigos.

Pois bem, quando falamos sobre o casamento, podemos muito bem utilizar a metáfora das sete colinas da chamada “cidade eterna” como modelo para falar sobre os quatro pilares de um bom casamento. Estes quatro pilares são tão inter-relacionados que, se apenas um deles faltar, a relação toda pode vir à soçobrar.

O primeiro dos quatro pilares, escreve o professor Marcos Ribeiro, é respeito. É claro que cada um dos indivíduos que compõem o casal são pessoas completamente diferentes. Elas tiveram uma educação, uma formação e, provavelmente, uma compreensão de mundo diferentes. É absolutamente fundamental, portanto, que saibamos respeitar as diferenças que temos. No verdadeiro amor não sentimos a necessidade de transformar o outro em alguém igual a mim. Ele é respeitado com suas ideias, seus ideais e seus sonhos. Ninguém precisa perder sua identidade para que o casamento prospere. Muito ao revés, são duas pessoas diferentes que se somam para construir uma história em comum.

O segundo dos quatro pilares é a admiração. Aquele que ama vê o outro com orgulho. Aquele que ama admira o outro em todos os aspectos: profissionais, pessoais, intelectuais, etc. Ainda que exista algo no outro que o desagrade, a admiração supera qualquer coisa. Um dos primeiros sinais da crise na relação é a perda de admiração. Lembremos das palavras de Theophile Gautier (1811-1872): “Amar é admirar com o coração. Admirar é amar com o cérebro”.

O terceiro dos quatro pilares que dão suporte a um bom casamento é o gosto pela conversa. Sobre esse tema o pensador alemão Friedrich Nietzsche certa vez afirmou: “ao pensar sobre a possibilidade do casamento, cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: ‘você crê que seria capaz de conversar com prazer com essa pessoa até a velhice?’ Tudo o mais no casamento é transitório”. De fato com o tempo tudo muda, a começar com nosso corpo, mas também nossas idéias. Estar vivo é ter sempre a capacidade de mudar. Só não muda quem não é um ser vivo, pois está fossilizado. E é dentro dessa constante mudança que a conversa vai “costurar” a relação e pontuar a convivência, citando mais uma vez o professor Marcos Ribeiro.

O quarto pilar que dá suporte a um bom casamento é o sexo. É imprescindível dizer antes de tudo que quando falamos em sexualidade não estamos nos limitando à genitalidade nem nos restringindo ao que acontece na cama. Com o passar do tempo vemos que a sexualidade se transforma em um lindo caminho que nos leva ao carinho e ao enorme prazer de se estar junto com àquela pessoa que escolhemos para compartilhar a vida. Mas compartilhar a vida é compartilhar o corpo, é abraçar, é beijar, e com o passar do tempo, é aceitar as mudanças inevitáveis que virão com ele. E mesmo fora dos padrões estéticos impostos pela sociedade, ainda há espaço para o prazer mútuo.

Finalmente devemos sempre ter em mente as palavras do conhecido Lorde Byron (1788-1824) que disse: “O amor nasce de pequenas coisas, vive delas e por elas às vezes morre”. Essas quatro bases que acabamos de expor precisam ser mantidas sempre em um equilíbrio sutil. Para tanto os dois precisam trabalhar em conjunto para investir diariamente na relação. Para que isso ocorra precisamos nos prevenir daquelas “pequenas coisas” que, segundo Lorde Byron podem destruir o amor.

Existem três venenos que destroem qualquer relação: o ciúme, as rusgas do passado e o mal humor. Na base do ciúme está a insegurança e a baixa auto-estima. E só podemos vencê-lo quando somos capazes de confiar. Para vencer o segundo veneno, as rusgas da história de cada um, não podemos simplesmente passar uma borracha. E a pior coisa que podemos fazer é ficar comparando nosso companheiro(a) com um “outro” de nosso passado. Precisamos parar de olhar pelo retrovisor e olhar para frente. Finalmente é preciso superar o mal humor. Os casais mais felizes são aqueles que são capazes de brincar com seus próprios defeitos. A palavra humor tem origem na conhecida medicina humoral dos antigos Gregos. Entre eles o termo humor representava qualquer um dos quatro fluidos corporais (ou humores) que se considerava serem responsáveis por regular a saúde física e emocional humana. Como logo se percebe, uma vida integralmente saudável exige a capacidade de rir e de se alegrar. É isso que torna a vida mais leve e fácil de ser vivida. Mas entenda, para vencer cada um desses três venenos da relação, cada casal precisa estabelecer pactos para buscar entendimentos respeitando as individualidades, a história e as idiossincrasias de cada um.

77. RAZÕES PARA SEU CASAMENTO TER PROBLEMAS 1: Percam o interesse por agradarem-se mutuamente.

Particularmente nunca vi casamento algum sem problemas. É normal que cada casamento tenha dificuldades e problemas. Algumas vezes estes problemas surgem por causa da diferenças normais entre o casal. Mas também sei que muitas vezes nós somos os responsáveis pelos problemas que surgem. Nós os criamos e alimentamos.

No entanto, o Dr Larry Halter apresenta em seu livro Traits of a Happy Couple, cinco razões específicas que acabam sendo as causas dos grandes problemas no casamento. A primeira grande causa dos problemas conjugais é o desinteresse gradual por agradarem-se mutuamente.

É muito comum ouvirmos as mulheres reclamando porque não têm mais a atenção que tinham no passado. Aquela mesma pessoa que dava tanta atenção quando namorava não se preocupa mais em agradá-la nem em demonstrar que se importa com ela da mesma forma. Quando namoravam havia um esforço para falar até sobre temas que não gostava. Mas agora ele apenas se esquiva e liga a televisão.

Talvez a namorada, buscando a atenção de seu pretendente, até buscasse entender mais sobre futebol que ele tanto gostava, buscando saber mais sobre o que é um “escanteio” ou um “impedimento”. Ela até parecia interessada quando ele explicava.

Depois que casaram, no entanto, ela acha que futebol é uma bobagem, pois não passa de ver um monte de homens correndo atrás de uma bola.

O que aconteceu com os dois? Se de um lado o marido não ouve mais a esposa, do outro ela não se interessa mais pelo que ele acha importante. Em resumo, ninguém está mais interessado em agradar seu cônjuge.

Saiba caro leitor, este é a primeira grande causa de problemas familiares. É importante que você, que quer melhorar sua relação se pergunte: “o que posso fazer para agradar meu cônjuge”. Não se preocupe em comprar um anel de diamantes ou em fazer um cruzeiro nas ilhas gregas. Tudo o que ele mais precisa é apenas de uma demonstração sincera de que você se interessa por ele e que deseja agradá-lo.

Não aja de forma reativa dizendo: “mas ele/ela também não me trata mais da mesma maneira”. Quando jogamos este jogo: “olho por olho”, todos terminamos cegos. Se nosso desejo é recuperar nossa relação saiba que, mesmo que isso exija tempo esforço, sempre receberemos aquilo que doamos. Tente agradá-lo e seu cônjuge se sentirá mais disposto a agradar você.

 

78. RAZÕES PARA SEU CASAMENTO TER PROBLEMAS 2: deficiências e táticas negativas de pressão.

Continuando com a argumentação iniciada no texto passado, o Dr Larry Halter, em seu livro Traits of a Happy Couple, nos revela cinco razões específicas que acabam sendo as causas dos grandes problemas no casamento. Nesta oportunidade trataremos da segunda que são as deficiências e táticas negativas de pressão.

Neste momento o Dr Halter está se referindo a algo extremamente comum em nossas famílias, que tem a ver, diz Kevin Leman, com “a tentativa de um cônjuge mudar o outro por meio de críticas, humilhações, mau-humor ou por vários outros métodos negativos”.

É triste ver a quantidade de sofrimento desnecessário causado por estas abordagens. Ora, prezados leitores, há um antigo ditado que diz ser mais fácil pegar moscas usando mel e não vinagre.

Há uma estória contada por Kevin Leman em seu livro O sexo começa na cozinha, que fala de uma mulher que se mudara para uma determinada cidade pequena. Ela precisava ir à farmácia, mas ficou horrorizada com o tratamento que recebera. O farmacêutico – que também era o proprietário da farmácia – demorou muito a atendê-la, e quando o fez, não agiu da forma adequada. A cliente ficou realmente aborrecida com tudo aquilo.

Naquela mesma tarde ela comentou com a vizinha sobre o tratamento que recebera na farmácia. E esta, demonstrando uma certa preocupação disse:

– Olha… Eu conheço bem o Tom, o farmacêutico. Talvez eu possa falar com ele sobre isso.

A mulher disse:

– Gostaria que falasse!

Alguns dias depois, ela teve de voltar à pequena drogaria, desta vez foi totalmente diferente. O farmacêutico foi simpático e eficiente, a balconista – que era sua esposa – foi gentil e prestativa. Foi um verdadeiro contraste com a primeira vez que estivera na farmácia.

Quando voltou para casa, ela telefonou para a vizinha e lhe contou o que acontecera.

– Pelo que vi, você falou com ele.

– Sim, falei.

– Disse a ele, bem, contou como eu fiquei chateada com o atendimento?

Houve uma breve pausa do outro lado.

– Bem… não… exatamente.

– O que você disse a ele?

– Disse que você ficou absolutamente encantada com o atendimento. Disse que você adorou a farmácia e que pretende tornar-se uma cliente assídua.

Bem, encerra Leman, “não sei se esta história é verídica, mas sei que o ponto que ela ilustra é verdadeiro. As táticas positivas funcionam muito melhor do que as negativas, quando se trata de mudar comportamentos”.

 

79. RAZÕES PARA SEU CASAMENTO TER PROBLEMAS 3: Comportamento negativo fruto e uma comunicação igualmente negativa.

Não tem jeito. O velho Chacrinha é que estava com a razão: “quem não se comunica se trumbica”, dizia ele, apertando uma espécie de buzina. De acordo com o DR. Larry Halter, existem vários tipos de “destruidores da comunicação”. Podemos citar os nove mais freqüentes.

  1. Descrição negativa do problema: que ocorre quando se faz uma colocação muito longa, muito vaga ou muito emotiva do problema. Qualquer um destas três características pode distorcer os fatos;
  2. Reclamações cruzadas: que ocorre quando, ao invés de você prestar atenção na queixa de seu cônjuge, você o interrompe para apresentar suas próprias queixas.
  3. Excesso de crítica: Ficar todo o tempo apontando as falhas de nosso cônjuge não é uma atitude proativa, ainda que, para você seja apenas uma crítica construtiva. Preste atenção no tom da sua voz, que, às vezes fala mais do que suas próprias palavras.
  4. Cuidado com os exageros: Tenha sempre muito cuidado com frases que se servem das palavras “sempre” ou “nunca”. Não há qualquer benefício que você possa trazer ao casamento, aumentando ou fazendo generalizações.
  5. Leitura errônea do pensamento: Muitos cônjuges acham que sabem o que vai na cabeça de seu companheiro e acabam fazendo falsas acusações. “Já que você tem que supor”, diz Kevin Leman, “suponha que os motivos dele são honestos”. Em outras palavras, dê-lhe o benefício da dúvida. Leman é bem claro sobre isso: “faça tudo o que puder para evitar afirmações sobre as quais você só poderia ter certeza se tivesse acesso à mente do conjugue – declarações do tipo: ‘você faz só para que eu me sinta mal’”.
  6. Falar demais: isso ocorre quando você recusa dar ao seu cônjuge “tempo igual” para que ele também possa falar.
  7. Fazer acusações: Isto ocorre quando sempre estamos dispostos a “atribuir” a culpa e nunca “compartilhar-la”. Lembre-se que em uma relação ninguém é totalmente certo ou errado.
  8. Definição do problema: Há muitas pessoas que perdem muito tempo na exposição do problema ou se concentrando no passado. Estas pessoas, como costumo dizer, vivem olhando para o retrovisor. Ao invés de ter sempre uma postura reativa, está na hora de assumir uma postura proativa, olhando para o futuro, buscando soluções positivas.
  9. Desvio do foco: Muitas vezes fazemos colocações irrelevantes que nos fazem fugir da real causa do problema. É preciso manter o foco na discussão ao invés de ficar pulando de problema em problema.

Se, de alguma forma, você se identificou com algum destes comportamentos, é preciso que você tenha a coragem para conter-se, retratar-se e procurar abordar a questão de uma forma mais positiva.

 

80. RAZÕES PARA SEU CASAMENTO TER PROBLEMAS 4: Baixa autoestima

É praticamente impossível entrar em uma livraria e não perceber que boa parte dela está dedicada aos livros de autoajuda. Quem não tem um livro desses em sua biblioteca particular, acredito, pode até se julgar um ser anormal.

Não se engane meu caro leitor. Pessoas normais têm uma autoestima normal. Elas não são os chamados “filhos do dono do mundo” ou, por outro lado a “escória do universo”. São pessoas normais. E como todas as pessoas normais, são brilhantes e falíveis; experimentaram o fracasso e o sucesso; são, como diz o pensador francês Edgar Morin “homo-sapiens-demens”.

Uma autoestima saudável é particularmente importante no casamento. Assim como uma baixa autoestima pode gerar desequilíbrio e incompreensão, uma autoestima saudável produz equilíbrio e compreensão na relação. Kevin Leman nos diz que “A pessoa com baixa autoestima pode ser demasiadamente submissa e complacente, porém, como dissemos, o casamento funciona melhor quando é compreendido como uma parceria entre iguais”.

Um segundo problema causado pela auto-estima baixa é que este tipo de pessoa acaba se desvalorizando e agindo defensivamente, achando que certas palavras ou ações de seu cônjuge são, de fato, ironias, insultos ou críticas pessoais. Quem tem auto-estima baixa chega mesmo a achar que merece ser criticado e vê estas críticas em qualquer gesto, por mais inocente que ele seja.

Se seu cônjuge tem baixa auto-estima você precisa ajudá-lo. Em primeiro lugar reconheça a situação, não queira encobrir os fatos; em seguida ajude-o a lidar com este problema, quem sabe reforçando as características boas que ele tem, quem sabe lendo com ele um daqueles livros que falamos no início. Pode ser, inclusive, que ele precise de ajuda profissional. Mas entenda, antes de mais nada ele precisa e um cônjuge que o aceite e o acolha com os braços abertos, mas também alguém que abra seus olhos e o faça tornar-se independente, sendo um igual no relacionamento e um parceiro na vida à dois.

 

81. RAZÕES PARA SEU CASAMENTO TER PROBLEMAS 5: Indisponibilidade de tempo para o convívio

Já dizia um antigo comercial de TV: “não basta ser pai; tem que participar”. O mesmo pode ser dito sobre a vida conjugal. Eu sei que as demandas da vida contemporânea são enormes. Sei que as distâncias entre nossa casa e nosso emprego são enormes e que, associado ao aumento de automóveis nas estradas, temos que sair de casa cada vez mais cedo e chegamos cada vez mais tarde.

Mas o que eu não consigo compreender, e nisso quero citar Kevin Leman, é porque “o marido reserva os fins de semana para pescar ou sair com os amigos. Durante a semana, à noite, joga futebol em vários times e, nas noites em que não sai para jogar, provavelmente trabalha até mais tarde. A esposa, por outro lado, tem seu próprio emprego, está envolvida nas atividades do clube e passa os fins de semana fazendo compras com as ‘meninas’”.

Afinal de contas, porque duas pessoas assim se casaram? Imagino que elas se amam, mas o que não entendo é porque não têm tempo um para o outro.

Não estou dizendo que maridos e esposas têm que passar todo o tempo juntos. No entanto, se seu cônjuge é a prioridade de sua vida, é compreensível que você passará a maior parte de seu tempo livre com ele. Afinal, a forma como você gasta seu tempo revela quais são suas prioridades. Se na sua agenda só há espaço para o trabalho e para seus amigos, é bom refazer a ordem de prioridades.

É compreensível que certos empregos exijam mais do que outros; que existam atividades que vocês participam juntos – indo à igreja, por exemplo. Mas é imprescindível que vocês tenham um tempo só para vocês.

É sempre bom que os casais tenham, pelo menos, um momento durante a semana para saírem juntos, para irem ao cinema, jantar, passear um pouco, sair da rotina estressante do dia-a-dia. E por favor, façam isso com o celular desligado…

É preciso que tenhamos consciência das terríveis conseqüências que a ausência de nosso cônjuge produze em nossas vidas. Tenho visto pessoas casadas que vivem como se fossem solteiras. Isto é, definitivamente, destrutivo para qualquer relação.

Se você pretende casar, entenda que a partir de agora, você terá como prioridade seu cônjuge. Não o futebol, nem suas saídas com os colegas à noite ou qualquer outra coisas. Trate como prioridade o que realmente é prioritário em sua vida e você terá um casamento feliz.

 

82. CONSIDERAÇÕES SOBRE FILHOS

Muitas vezes gastamos muito tempo refletindo sobre a relação do casal e esquecemos deste tema sobremodo importante: a criação de nossos filhos. Em geral, fazemos cursos para tudo: cozinhar, dirigir, digitar, etc. Mas quase ninguém pensa em se preparar para a chegada dos filhos. Neste pequeno texto gostaria de fazer algumas considerações bastante básicas sobre os filhos que precisam ser levados a sério pelos que se casam e que, um dia, desejam serem pais.

  1. Os filhos são bênção de Deus

A primeira verdade que eu gostaria de afirmar sobre os filhos é que eles são descritos pelas Escrituras como herança do Senhor. Vejam o que nos diz o Salmo 127: 3-5: “Eis que os filhos são herança do Senhor, e o fruto do ventre o seu galardão. Como flechas na mão de um homem poderoso, assim são os filhos da mocidade. Bem-aventurado o homem que enche deles a sua aljava”. O que será que a Bíblia quer dizer com essa linguagem?

Em primeiro lugar, que ter um filho é um sinal de bênção de Deus. Uma mulher que não pudesse procriar era vista como amaldiçoada naquela época. Em segundo lugar, em uma sociedade onde as leis eram ainda muito incipientes, ter muitos filhos significaria ter mais segurança e também, mais mão de obra, já que a sociedade era agrária. Ademais, eram os filhos quem se responsabilizariam pelos pais em sua velhice. Eis a razão porque os filhos eram tão bem-vindos nesta época.

  1. Os filhos devem ser criados na fé em Deus

Há pessoas que acham que são modernas e que respeitam seus filhos deixando que eles próprios decidam sobre sua religião quando crescerem. Estas pessoas acreditam que é um desrespeito impor sobre uma criança a mesma fé dos seus pais. O estranho é que elas não esperam elas crescerem para lhes dar um nome, matricular em uma escola, e administrar certos remédios. Não seria isso também um desrespeito? Será que não deveríamos esperar para que eles mesmos decidissem qual seria seu nome, ou em que escola vão estudar, ou ainda, se querem ou não, tomar aquele remédio?

As Escrituras nos dizem que a postura mais adequada é outra. Os pais não deve se “esquivar” de ensinar a seus filhos os padrões morais da fé em Deus e suas implicações. É isso que compreendemos de textos como o que aparece em Josué 24: 15 que diz: “Se vos parece mal aos vossos olhos servir ao Senhor, escolhei hoje a quem sirvais; (…) porém eu e minha casa serviremos ao Senhor”. Não havia dúvida na mente de Josué acerca da responsabilidade dele para com a formação religiosa, moral e dos valores que deveriam nortear a vida de seus filhos. Ele não iria “lavar as mãos” acerca de um tema tão importante quanto esse.

Meu querido leitor, leve seu filho até a presença de Deus. Foi por isso que Jesus repreendeu seus discípulos certa vez, conforme o relato de Lucas 18: 16, onde nosso Senhor afirma: “Deixai vir a mim as crianças, e não as impeçais, porque de tais é o Reino de Deus”. Ora, o texto nos diz que os discípulos repreendiam as crianças apenas porque elas estavam tocando no Senhor. Portanto, batize seu filho como um cristão. Se em sua maturidade ele resolver seguir outro caminho, seguirá de qualquer forma, mas você terá feito seu papel.

  1. Os filhos, quando chegam, interferem na relação conjugal

Normalmente eu converso com os casais que vão se casar e digo que a chegada dos filhos vai interferir muito na relação do casal. Quando lemos, por exemplo, Tara Parker Pope (2010, p. 188) descobrimos que “a chegada do primeiro bebê é um momento particularmente vulnerável para os casais. O pesquisador de casamentos John Gottman monitorou 130 famílias novas por treze anos. Ele descobriu que, durante os primeiros três anos da vida dos bebês, 67% dos novos pais estavam relatando menos satisfação conjugal do que antes do nascimento do bebê. Os novos pais também tinham oito vezes mais discussões do que os não pais”. Este mesmo estudo demonstrou que os pais são mais suscetíveis à depressão do que os que não são pais. Ora, não se está querendo dizer com isso que a chegada dos filhos é o fim da relação conjugal. O que ela está tentando dizer é que a chegada de um bebê implica, necessariamente em noites sem dormir, aumento de custos, responsabilidade e menos sexo, mas também, a chegada de um propósito para o casal, de alegria e uma garantia para a preservação de nosso material genético. Por isso é preciso pensar muito bem no momento mais adequado para essa chegada e utilizar todos os métodos que a ciência nos concede para planejarmos esse momento.

  1. Os filhos devem ser disciplinados

Há quem pense que as crianças são como arvores, basta regar e elas crescem naturalmente. Infelizmente não é bem assim. Elas precisam ser educadas e, ocasionalmente, disciplinadas, quando fazem coisas erradas. As Escrituras nos ensinam que “Quem se nega a disciplinar e repreender seu filho não o ama; quem o ama de fato não hesita em corrigi-lo” (Provérbios 13:24). Para o psicólogo Merval Rosa, a disciplina é “o método coerente de impor restrições ao educando (…). É o método pelo qual o homem aprende a diferença fundamental entre o possível e o desejável” (1979, p. 97).

Uma criança precisa conhecer seus limites e isso precisa ser ensinado pelos pais. Elas não podem tudo. A disciplina é uma prova de amor porque evitará que ela, quando crescer, não entre em choque com o mundo que não hesitará em puni-la, caso ela aja de forma errada. Mas, compreenda que disciplina não é a mesma coisa que vingança, nem castigo é sinônimo de violência. Aceite pelo menos duas sugestões: seja mais criativo na disciplina retirando de seu filho, por exemplo, algo que ele quer muito (como o computador) durante algum tempo, ao invés de dar uma surra com seu cinto e, não seja tão repetitivo em dizer “não” para seu filho, mas, se o disser, segure sua palavra, caso contrário, ele saberá que pode manipular você.

  1. Os filhos usam os pais a seu favor

Não se engane meu caro leitor, desde muito cedo as crianças começam a perceber que podem jogar um pai contra o outro. Eles percebem que enquanto a mãe é mais dura o pai é mais flexível. Dessa forma, quando eles quiserem algo, vão pedir ao pai e, só depois, avisarão à mãe que o pai permitiu. Elas, mesmo bem cedo percebem isso e usam a seu favor. Por isso, antes de dizer “sim” ou “não” ao seu filho, pergunte se ele já falou com a mãe ou o pai.

  1. Não desautorize seu cônjuge

O tema anterior nos leva a este novo assunto igualmente importante: não desautorize seu cônjuge quando este der uma ordem ou assumir uma postura. Caso você discorde de seu marido ou esposa, tranque-se para discutir à sós, mas nunca na frente dos filhos. Mesmo casais que são separados devem agir dessa forma, se desejam que os filhos cresçam sem se tornarem manipuladores de seus pais.

  1. Alguns filhos de casais separados acabam sendo “alienados de um de seus pais”

Lamentavelmente, quando há um divórcio e existem filhos envolvidos, eles acabam por sofrer bastante. A dor que eles sentem, por si só já é muito grande. Mas há mães ou pais que, além da dor da separação que eles sentem, acrescentam uma outra bem maior quando denigrem a imagem do outro cônjuge. No direito isso já é um crime tipificado como “alienação parental”. De acordo com o Art. 2º da lei 12.318 de 26 de agosto de 2010, “Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este”.

Normalmente essas crianças crescem sem querer ver seu “pai” ou “mãe” em razão de tudo o que ouviu a respeito dele(a). Alguns, ao atingirem a maturidade tomam a iniciativa de “ouvir” o outro lado. Mas a maioria simplesmente despreza seu genitor(a).

  1. Um dia, os filhos também vão embora

Finalmente, há algo que você precisa saber sobre seus filhos: um dia eles também irão embora. Assim como você está se casando e formando uma nova família, um dia chegará a vez de seu filho(a) alçar azas e voar por si mesmo. É bem verdade que os pais sempre se preocuparão com seus filhos. Mas, como diz o cinema, “Assim caminha a humanidade”. O caminho natural da vida é que criemos nossos filhos para que eles sejam cidadãos honrados e que ajam sabiamente nas decisões que tomarão no transcorrer de suas vidas. Afinal, alguém já disse que nós criamos nossos filhos para o mundo e que os filhos são como flechas em um arco, quanto mais os trazemos para perto, mais distante eles irão quando se soltarem.

Estes oito pontos nada significam diante do vasto material que existe no mercado sobre o assunto. Portanto, cresça lendo e se informando mais sobre esse assunto fundamental para a vida do casal.

 Bibliografia Básica

PARKER-POPE, Tara. Felizes para sempre… São Paulo: Universo dos livros, 2010.

ROSA. Merval. Problemas da família moderna. Rio de Janeiro: JUERP, 1979

 

83. HONRA A TEU PAI E TUA MÃE

Às vezes nos vemos diante de reportagens que nos deixam a todos comovidos. Filhos que abandonam seus pais em asilos, que os mantêm em cárcere privado, sub-alimentados e em situação de maus-tratos pensando apenas na parca aposentadoria que recebem mensalmente.

Esta é a realidade de nossa sociedade, mas não é esse o ensino bíblico sobre como os filhos devem tratar seus pais. Há dezenas de textos bíblicos que falam das relações entre pais e filhos, mas eu gostaria de me deter sobre o mais conhecido deles: “Honra a teu pai e a tua mãe, para que vivas muito tempo na terra que estou te dando” (Êxodo 20:12) e sua versão sob a ótica Paulina: “‘Honra teu pai e tua mãe’, este é o primeiro mandamento com promessa: ‘para que tudo te corra bem e tenhas longa vida sobre a terra’” (Efésios 6:2,3).

Neste texto vislumbramos duas realidades bem claras: a primeira nos diz o que devemos fazer e a segunda nos fala das consequências deste gesto. Tratando do primeiro aspecto, devemos nos perguntar, o que significa esta expressão “honra a teu pai e a tua mãe”? Quando vemos este texto no original em hebraico temo a seguinte inscrição: “כַּבֵּ֥דאֶת־אָבִ֖יךָוְאֶת־אִמֶּ֑ךָלְמַ֙עַן֙יַאֲרִכ֣וּן”. (Códex Westminster de Lelingrado). No grego da versão Septuaginta, lemos: “Τιμα τον πατερα σου και τηνμητερα σου”.

No caso do texto em hebraico, ele está associado à Êxodo 21: 15, 17 que diz: “Quem ferir/amaldiçoar seu pai ou sua mãe, será morto”. Esta era a ideia comum em toda sociedade antiga. Este é também conhecido como o “primeiro mandamento com promessa” (Efésios 6:2). A palavra “כַּבֵּ֥ד”, “honra” em hebraico “kabed”, diz Broadman: “está diretamente relacionado com o substantivo traduzido tanto como honra quanto como glória, a ‘glória de Deus’ (kabot) descrevia a natureza e a presença de Deus (cf. Êx 33:18; I Reis 8:11; Is 6:3)”.

Já a versão Septuaginta usa a palavra Τιμα (de timao) e não  (doxa) que se traduz glória. Segundo Broadman “no grego não-bíblico, timao era usado para designar a honra tributada a superiores, governantes e hóspedes. Em o Novo Testamento, timão descreve o valor fixado para Cristo (Mat 27:9)”. Desrespeitar pai e mãe é o mesmo que desrespeitar à Deus, a fonte de toda vida. Desta forma concluímos que a Septuaginta usou uma palavra para designar o valor de uma pessoa ou objeto, ou seja, sua honra. Broadman sugere como paráfrase: “valorizarás ou estimarás o teu pai e a tua mãe” afinal eles são a fonte de sua vida. Outra interpretação possível entende que filhos que horam seus pais são aqueles que os deixam honrados e felizes – e não envergonhados – com o que fazem.

O segundo aspecto deste texto fala de suas conseqüências, quais sejam: “para que vivas muito tempo na terra que estou te dando”. Desta forma, podemos afirmar que o sentido desta promessa é claramente exposta por R. Alan Cole quando diz: “os que constroem uma sociedade na qual a velhice ocupa lugar de honra podem esperar confiantemente desfrutar do mesmo lugar algum dia”.

Como conclusão, temos que admitir que vivemos em uma sociedade que inverteu os valores. A juventude é procurada à todo custo enquanto os mais velhos estão sendo abandonados à própria sorte nos asilos. Existe hoje uma veneração da juventude e uma luta para se permanecer eternamente jovem, não importa o quanto de academias ou de botox se utilize.

 

84. DOZE REGRAS PARA SE CRIAR UM FILHO DELINQUENTE

Em seu livro Como criar filhos felizes e obedientes, lançado pela Editora Betânia, a autora Barbara Cook apresenta doze atitudes que, se forem levadas à sério, certamente levarão nossos filhos à delinquência. O que faço neste texto é apenas usar seus temas, adaptá-los e desenvolvê-los um pouco mais. Vejamos cada uma das regras:

  1. Comece desde a infância a dar a seu filho tudo o que ele quiser. Desta maneira ele crescerá achando que o mundo tem que dar-lhes tudo. Muitos pais fazem isso para “desencargo de consciência”, uma vez que são ausentes em sua educação.
  2. Quando ele disser palavrões, ache ria e ache engraçado, isso o fará pensar que dizer isso é muito legal, ainda que você, enquanto pai ou mãe, algum dia, venha a morrer de vergonha.
  3. Nunca lhe ensine nenhum valou ou nada que tenha a ver com a vida espiritual. Espere que ele tenha 21 anos e “decida por si mesmo”. Esta é uma armadilha que muitos pais “maduros” acham absolutamente normal. O que é absolutamente principal (princípios da vida sócio-espiritual) é abandonado, enquanto o secundário é imposto.
  4. Evite o uso da palavra “errado”. Ela pode desenvolver nele um “complexo de culpa”. Isso condicionará seu filho a acreditar, mais tarde, quando for preso por roubar um carro, que a sociedade está contra ele e que ele está sendo perseguido.
  5. Apanhe tudo o que seu filho deixar espalhado: livros, sapatos e roupas. Faça tudo por ele e assim ele se acostumará a jogar todas as responsabilidades em cima dos outros. Desde cedo nossos filhos precisam assumir a responsabilidade pelo que é deles e aprender a organizar suas vidas.
  6. Deixe-o ler e ouvir tudo o que lhe cair nas mãos e ter acesso a todos os tipos de sites da internet e canais de TV fechada. Cuide sempre que as vasilhas, pratos, talheres e copos estejam esterilizados, mas deixe que sua mente se alimente de toda espécie de lixo que puder encontrar.
  7. Brigue com sua esposa (ou marido) frequentemente na presença dos filhos. Deste modo eles não ficarão chocados, mais tarde, quando o lar se desfizer. Eles, inclusive, repetirão o mesmo padrão de comportamento com seus próprios cônjuges.
  8. Dê-lhe tudo o que quiser: celular, tablet, lap-top, etc. Não permita que ele tenha que trabalhar para ganhar dinheiro e comprar suas próprias coisas. Afinal, por que ele teria que adquirir as coisas com a mesma dificuldade que você?
  9. Satisfaça qualquer desejo de comida, bebida e conforto que ele tenha. Veja que todos os seus desejos sensuais sejam satisfeitos. A inibição dos desejos, afinal, pode gerar algum tipo de frustração ainda que sua saúde seja afetada. Isto, novamente, é muito comum em pais ausentes que querem “suprir” sua ausência ou “expiar” sua culpa, dando tudo o que eles querem.
  10. Fique sempre do lado dele contra os vizinho, os professores, as autoridades. Todos eles estão errados. Seu filho está sempre certo.
  11. Quando, afinal, ele estiver envolvido em sérias dificuldades, desculpe-se a se mesmo dizendo: “Nunca consegui fazer nada com ele”.
  12. Prepara-se para uma vida de tristeza, sofrimento e decepção. Você está fazendo tudo para tê-la. E, seguindo essas orientações, em breve vai obter. 

Referência Bibliográfica

COOK, Barbara. Como criar filhos felizes e obedientes. Belo Horizonte: Betânia, 1982

 

85. OS DEZ COMPROMISSOS DO CASAL

Em seu excelente texto O sexo começa na cozinha, Kevin Leman, fazendo uma analogia aos Dez Mandamentos de Deus entregues à Moisés no Monte Sinai, apresenta, ele mesmo, aqueles que seriam os Dez Compromissos que todo casal deveria ter como norte de sua vida. Os Dez Compromissos seriam os seguintes:

 

  1. Nós nos comprometemos a fazer do amor uma escolha diária, mesmo quando a vida parece mais fácil em outro lugar.
  2. Nós nos comprometemos a considerar-nos um tesouro mútuo dado por Deus.
  3. Nós nos comprometemos a perdoar rapidamente e a não guardar ressentimentos.
  4. Nós nos comprometemos a dedicar tempo um ao outro.
  5. Nós nos comprometemos a conversar diariamente sobre o que pensamos e sentimos.
  6. Nós nos comprometemos a demonstrar respeito mútuo em público e na vida privada, evitando humilhações, exigências egoístas e palavras depreciativas.
  7. Nós nos comprometemos a tentar ver atrás dos olhos um do outro, para entender as necessidades específicas de cada um.
  8. Nós nos comprometemos a fazer todo o possível para nos certificarmos de que nosso casamento tenha um impacto positivo sobre aqueles que nos cercam.
  9. Nós nos comprometemos a orar um pelo outro e a apoiar o crescimento espiritual mútuo.
  10. Nós nos comprometemos a honrar a Deus e um ao outro por meio de pensamentos, palavras e ações (LEMAN, 2001, p. 218).

 

Quando nos detemos no exame destes Dez Compromissos podemos encontrar alguns elementos que gostaríamos de destacar alguns elementos encontrados na proposta exposta nestes Dez Compromissos.

O primeiro elemento que precisa ser destacado é que esta citação diz respeito à acordos ou compromissos mútuos feito pelo casal. Este primeiro elemento destaca que todo casamento precisa, para se manter sadio, estabelecer seus próprios acordos e compromissos e cumpri-los. Embora os compromissos apontados acima representem aqueles que foram estabelecidos como resultado da pesquisa realizada pelo autor, isso não significa que o casal não tenha o direito de estabelecer outros compromissos ou mesmo de modificar algum que esteja colocado na citação. Particularmente, acredito que os Dez Compromissos apontados pelo Dr. Leman, representam uma exposição feliz que cobre os principais aspectos da relação conjugal.

O segundo elemento que gostaria de destacar é que entre estes compromissos está transformar o amor em uma decisão diária. Casamento não tem “piloto automático”, ou seja, ele exige que você, diariamente, assuma o controle de suas decisões e renove seu desejo de amar seu cônjuge.

O terceiro elemento que destacaria nestes Dez Compromissos, é que eles não escondem que na relação conjugal sempre surgirão percalços, problemas, dificuldades, dores, mágoas e ressentimentos. O casamento, enquanto transformação de duas pessoas em “uma só carne”, não ocorre sem dor nem problemas. A questão a ser destacada é que é necessário recorrer ao perdão para que o casamento permaneça incólume. Sem perdão não existe casamento. Pode até existir uma solidão à dois, mas não casamento. O que precisamos entender é que perdoar não significa varrer os problemas para debaixo do tapete e fazer de contas que nada aconteceu. Perdoar também não significa que você nunca mais se lembrará do que ocorreu de errado no passado. Perdoar também não significa que tudo voltará ao normal em vinte e quatro horas. Perdoar é ser capaz produzir um processo mental e espiritual que nos torna aptos a fazer cessar o ressentimento ou a ira contra outrem ou contra si mesmo, em razão de uma ofensa ou erros cometidos por nós ou por outros, e que faz cessar a exigência de castigo ou de restituição. É preciso destacar que o perdão só tem sentido se, antes, houve o arrependimento.

O quarto elemento que destaco nestes Dez Compromissos é que eles fazem referência ao tempo que precisa ser gasto pelo casal para solidificar a relação. Ora, todos sabemos que as exigências do mundo moderno nos colocam cada vez mais distante do lar e, por conseguinte, mais expostos aos outros, principalmente dos colegas do trabalho. Mas se você realmente deseja que seu casamento tenha sucesso, nunca abra mão do tempo com seu cônjuge. O tempo é algo que jamais voltaremos a ter. E, se o utilizarmos mau, poderemos gerar o fracasso de uma relação.

O quinto elemento que devo destacar nestes Compromissos é o respeito ao cônjuge. Esse respeito começa no item 2, quando admitimos que nosso cônjuge é um tesouro dado por Deus. Mas continua quando nos comprometemos a dedicar tempo (item 4), a conversar sobre o que sentimos (item 5) e a evitar que saia de nossa boca QUALQUER palavra depreciativa ou humilhante – quer seja em ambiente fechado ou público – que venha a atingir nosso(a) companheiro(a).

O sexto elemento a ser destacado aqui, é a busca mútua pela empatia. Ora, sabemos que empatia significa, originalmente em grego, sentir a mesma dor dentro de nós. Quem é empático procura cumprir o compromisso de número 5, que diz respeito a conversar sobre como cada um pensa e se sente; quem é empático procura cumprir o compromisso número 7, no qual o casal buscará “entender as necessidades específicas de cada um” justamente porque antes, procurará ver a realidade através “dos olhos um do outro”. O antipático jamais fará isso. Somente quem valoriza a empatia busca ouvir, sentir e perceber a realidade do outro como se ele mesmo fosse o outro.

O sétimo e último elemento que julgo fundamental nestes compromissos é a presença da referência à dimensão espiritual da vida. Esse destaque pode ser visto tanto no item 9, quando o casal se compromete a orar e a apoiar o crescimento espiritual um do outro, bem como no item 10, quando o casal assume o compromisso de honrar a Deus e um ao outro por meio dos gestos concretos e cotidianos da vida à dois. Baseado em um livro de Bradford Wilcox chamado Soft patriarchs, New Men: How Christianity Shapes Fathers and Husbands, lançado pela Universidade de Chicago em 2004, Mark e Grace Driscoll (2012, p. 84), chegam a afirmar que “Maridos que frequentam uma igreja têm maior tendência a expressar emoções positivas para a esposa, prestar maior atenção ao casamento, servem melhor a companheira, reservam maior tempo para encontros românticos e para a convivência em geral, e investem mais na esposa”.

Referências Bibliográficas

LEMAN, Kevin. O sexo começa na cozinha. São Paulo: Mundo Cristão, 2001

DRISCOLL, Mark & DRISCOLL, Grace. Amor, sexo, cumplicidade e outros prazeres a dois. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2012

 

86. O CASAMENTO EXIGE UM COMPROMISSO PARA A VIDA TODA

Não há como negar que o primeiro e grande elemento que deve fundamentar um casamento feliz é o compromisso do marido e da esposa para toda a vida. Afinal as Escrituras nos ensinam que: “Por esta causa deixará o homem pai e mãe e se unirá a sua mulher, tornando-se os dois uma só carne” (Gênesis 2:24). Portanto, ninguém deveria se casar por brincadeira, ou por fuga, ou ainda sem medir as conseqüências de seus atos.

A palavra “compromisso” vem do latim (compromitto, compromissum) e nos remete a uma promessa que se faz a dois ou mutuamente. Nele nos com-prometemos a algo e, no caso do matrimônio, nos comprometemos a sermos fies, a amarmos e a respeitamos nosso cônjuge em quaisquer circunstâncias que a vida venha a nos levar: saúde, doença, riqueza, pobreza, na alegria ou na tristeza.

É claro que o divórcio é uma realidade e uma possibilidade para milhares de pessoas que vivem uma vida infeliz. Mas ele só deve ser buscado depois de esgotadas todas as possibilidades anteriores. Além do mais, a vontade de Deus era que todo casamento se encerrasse com a morte. Lamentavelmente, há circunstâncias supervenientes que nos impedem de cumprir a vontade de Deus neste caso. O que fazer? Lamentar pelo que ocorreu e seguir em frente na vida.

Mas, em condições normais de temperatura e pressão, o casamento deve ser encarado como um compromisso que assumimos até o fim de nossos dias. Quando esta verdade se cristaliza em nossos corações e mentes nem pensamos nem desejamos a separação. Muito ao contrário, ela é vista e sentida como uma espécie de amputação de alguma parte de nosso corpo. A separação, quando se ama, é algo surreal e fora das possibilidades reais da vida. Ela, simplesmente, não é uma possibilidade plausível.

Quando falamos que o casamento é um compromisso, queremos dizer três coisas: Primeiro que ele deve ser um compromisso feito por duas pessoas livres de quaisquer formas de pressão. Já não vivemos mais no tempo em que as pessoas eram obrigadas a casar porque alguém “avançou o sinal” ou porque, por descuido, a namorada engravidou. Casamentos realizados por este tipo de motivação têm grande chance de fracassar porque a vontade das pessoas envolvidas não está sendo levada em consideração.

Segundo que ele é um compromisso feito diante de Deus e dos homens. O casamento não é apenas um “contrato” civil feito no cartório e com reconhecimento público. Ele é também um gesto espiritual que une duas pessoas diante e segundo a vontade do criador. Ele, no mínimo, é – para usar um termo da antropologia – um “rito de passagem” que muda nosso interior em razão de certos gestos litúrgicos exteriores.

Finalmente, que ele é um compromisso que envolve a vida inteira. Não nos casamos pela metade nem para viver metade de nossos dias com nosso cônjuge. Ou estamos inteiros no casamento ou não estamos casados. Casamento não é algo que se vive pela metade ou apenas nos fins de semana. Se estamos efetivamente casados, o compromisso que fizemos estará constantemente diante de nós como uma lente por meio da qual observamos o mundo ao nosso redor. E isso tem conseqüências. Porque casamos não podemos mais olhar o mundo e as pessoas ao redor com os olhos de solteiro. Porque somos casados, não podemos mais nos comprometer com atividades que excluem ou colocam nosso cônjuge em segundo plano. Porque somos casados, as nossas prioridades mudam e migram em direção ao nosso lar e à nossa família. Mas tudo isso é o resultado natural do compromisso que assumimos. É por isso que o casamento exige um compromisso para a vida toda.

 

87. O CASAMENTO EXIGE UMA IDENTIDADE COMUM

Não podemos negar que vivemos em um mundo cada vez mais egoísta no qual as pessoas, como nunca na história da humanidade, buscam seus próprios interesses acima dos de qualquer outra pessoa, inclusive do seu cônjuge. No entanto, embora me contrapondo a tudo o que esta sociedade ensina eu teimo a afirmar que o casamento, para ser bem sucedido, exige uma identidade comum, ou seja, que ambos os cônjuges se sejam como uma só pessoa. As Escrituras Sagradas dizem o seguinte sobre isso: “Esta, afinal, é osso dos meus ossos, e carne da minha carne; chamar-se-á varoa, porque do varão foi tomada. […] tornando-se os dois uma só carne” (Gênesis 2:23, 24).

Ora, é claro que para qualquer pessoa medianamente inteligente, este texto não está dizendo que as duas pessoas vão se transformar em uma. Temos duas pessoas diferentes aqui. Diferentes na criação, na educação, nos valores, na personalidade e nas cicatrizes emocionais. Não estamos pensando que o casamento é a criação de uma espécie de clone um do outro. Cada um permanece como é, tanto física quanto emocionalmente.

Mas algo de mágico acontece em um casamento. Apesar das diferenças os dois são conduzidos à união. Eles passam a fundir suas vidas um no outro de tal forma que somente ele pode satisfazê-la e somente ela pode satisfazê-lo. Ninguém mais pode ocupar este espaço.

Este é um ato e, simultaneamente um processo. É um ato, porque ocorre de uma vez por todas. E é um processo porque exige tempo, disciplina, amor, paciência e perdão. De fato, sem estes elementos diários, a identidade comum não pode amadurecer.

Quando os dois são um eles possuem os mesmos alvos e as mesmas fidelidades. Eles se comprometem com os mesmos valores e buscam agradar um ao outro. Eles se acostumam até com os defeitos um do outro de uma forma tão íntima que, com o passar dos anos, se tornam até parecidos. E aí, quando um sofre o outro sofre; quando um se alegra o outro se alegra. Na doença ou na saúde, temos nosso companheiro(a) que nos ajuda e assiste.

Enfim, quando se tem uma identidade comum o casal se torna semelhante a um bom vinho, ou seja, com uma boa cor (agradável aos olhos), um bom bouquet (aroma agradável) e um bom sabor. Todos testemunham que estão diante de um casal diferente.

Conforme falamos no início, é bem verdade que nos nossos dias, uma parte considerável dos casais preferem viver sem precisar sequer dar satisfação de sua vida ao seu cônjuge. Mas ainda penso que quem quer viver uma vida de casado não pode querer se comportar como solteiro. Se aquela pessoa para quem você fez os votos de amor, respeito e fidelidade representa, realmente algo importante para você, então você não a tratará como se ela fosse qualquer uma. Afinal ela é osso dos seus ossos e carne da sua carne. Vivam um para o outro e sejam felizes, com a bênção de Deus.

 

88. O CASAMENTO EXIGE COMPLETA FIDELIDADE

Casar não significa apenas que você está se unindo com alguém, por meio de um compromisso, até o fim de sua vida. Há algo mais que precisa ser levado em consideração aqui: o casamento exige completa fidelidade.

Quando lemos as Escrituras sagradas encontramos inúmeros textos que falam desse assunto e eles são bem claros quanto ao tema. Vejamos, por exemplo, o texto de Provérbios 6: 27-29 que diz: “Pode alguém colocar fogo no peito sem queimar a roupa? Pode alguém andar sobre brasas sem queimar os pés? Assim acontece com quem se deita com mulher alheia; ninguém que a toque ficará sem castigo”. Há duas perguntas de retórica neste texto que exigem um sonoro “não!” como resposta. Com estes dois argumentos o autor do livro está querendo dizer que não pode haver adultério sem conseqüências. E elas são muito duras. Envolvem tanto o sofrimento e a dor devastadora de quem foi traído quanto a vergonha de ter mentido e decepcionado pessoas a quem amava, para quem traiu. E esta lista pode ser acrescida de ainda muitas conseqüências como DST, uma gravidez indesejável, etc.

Desde os dez mandamentos que vemos este preceito ser visto como fundamental para a saúde da família: “Não adulterarás” (Êxodo 20:14). Jesus faz menção deste mandamento quando conversa com um jovem rico (Mateus 19:18) e Paulo cita este pecado como o primeiro da lista dos pecados da carne em Gálatas 5:19. Segundo Voltaire, “Em latim, adultério quer dizer adulteração, colocar uma coisa em lugar de outra, crime de falsidade, uso de chaves falsas, contrato falso. Daí o nome adultério dado a quem profana o leito conjugal, como chave falsa introduzida em fechadura alheia”.

Ser fiel é cumprir com os votos que foram feitos no dia do casamento. Lá, olhamos nos olhos de nosso cônjuge e dizemos para ele: “eu te prometo ser fiel, na alegria ou na tristeza, na saúde ou na doença, na prosperidade ou na pobreza. Amando-te e respeitando-te todos os dias de minha vida”.

É claro que vivemos em uma sociedade que cultua e valoriza a infidelidade. Quem trai sua esposa é visto como o “garanhão”, o “cara”. Isto é tão comum hoje que a questão não é quem está traindo, mas sim – quem não está. Há até quem diga que “trair e coçar é só começar”. Para evitar que isso aconteça é preciso seguir alguns sábios conselhos que passarei a citar e que foram retirados e por mim resumidos, de um artigo de Rozângela Keiser Leite (In http://www.umceb.com.br/site/mensagens/989-como-esta-seu-casamento.html). Os conselhos são os seguintes:

  1. Tenha bom senso em suas companhias, ou seja, evite gastar tempo desnecessário com alguém do sexo oposto. Evite, assim, a oportunidade de cair.
  2. Tome cuidado com as confidências. As pessoas tendem a se solidarizar com quem sofre e a proximidade emocional se torna perigosa. Um homem que se queixa de sua esposa para outra mulher está traçando um caminho perigoso.
  3. Evite momentos a sós. Decida não ter momentos privados com alguém do sexo oposto. Se um(a) colega de trabalho pedir para ter um almoço com você, convide uma terceira pessoa.
  4. Vigie seus pensamentos. Se você só se detém nos defeitos de seu cônjuge, qualquer outro homem ou mulher parecerá melhor. Faça uma lista das coisas que inicialmente lhe atraíram em seu cônjuge. Aumente o positivo e diminua o negativo. Você verá como valerá a pena continuar com seu cônjuge.
  5. Evite comparações. Um homem trabalha com uma mulher perfumada, maquiada, bem vestida. Em casa encontra a esposa, com criança no colo, cabelo desfeito, banho por tomar. Uma mulher encontra um homem compreensivo com quem pode se abrir, e se sente mais à vontade com ele do que com o esposo. Ignoraram situações e contextos diferentes. Foram iludidos pelo irreal
  6. Evite a síndrome do retorno. Você não é mais um adolescente, mas um adulto e tem responsabilidades com seu cônjuge. Portanto não pense que ao ter um “caso” você reencontrou a vida de outrora. Se sua vida conjugal se “fossilizou”, há outros caminhos. Revigore-a com seu cônjuge. Há pessoas que sempre se fossilizam e pulam de relacionamento em relacionamento, procurando o que não produzem
  7. Ponha seu coração no seu lar. A solidez do casamento vem pelo tempo que os cônjuges gastam juntos. Conversas, risos, passeios, programas comuns. Se você não sai com seu cônjuge, marque datas para os próximos meses. Vocês devem ter um ao outro como o melhor companheiro. Mantenham o clima de namoro: querer estar junto com a pessoa. Orem juntos. Dificilmente duas pessoas que oram juntas brigarão entre si. Sejam parceiros espirituais.
  8. Invista em seu cônjuge. Uma boa esposa é um bom tesouro (Provérbios 18,22). De bom tesouro cuida-se e evita-se perdê-lo. Marido e mulher: um cônjuge bem tratado é um grande investimento; o retorno emocional é garantido.
  9. Busque ajuda. Havendo problemas, busque ajuda. Primeiro em Deus. Lembre-se de Tiago 1,5. Busque orientação de pessoas mais experientes ou de seu mentor espiritual.

Para concluir lembre-se, Bons casamentos não acontecem por acaso. São produto de muito trabalho e da graça de Deus. Boa parte do trabalho é investimento emocional no relacionamento conjugal. Mas investir sem proteger é problemático. É preciso levantar cercas contra os problemas externos, porque os internos são mais vistos e os dois os vivenciam. Não permita brechas.

Mas saiba, se você, alguma vez traiu, há duas coisas importantíssimas que você precisa saber: a primeira é que Deus continua te amando apesar do que você fez. A segunda é que você precisa se perdoar de ter feito o que fez, senão isso poderá adoecer você seriamente. Uma vez admitido o que ocorreu, aceite o perdão de Deus e siga sua vida. Afinal a Bíblia diz que “aquele que confessa o seu pecado e o deixa, alcança misericórdia” (Provérbio 28:13). É claro que muitos nunca vão perdoá-lo. Mas isso é algo que eles terão que ver com Deus. Não é problema seu. Siga sua vida e seja o mais fiel que pode ser, pois “o justo cai sete vezes, e se levantará” (Provérbios 24:16). Levante-se e seja fiel ao seu cônjuge porque, como dizia Carlos Drummond de Andrade: “no adultério há pelo menos três pessoas que se enganam”.

 

89. O CASAMENTO EXIGE UMA MÚTUA SUBMISSÃO

Se há uma palavra que as pessoas realmente não gostam de ouvir em nossos dias é a palavra “submissão”. Em geral, quando se trata de submissão as pessoas sempre se lembram daquela interpretação segundo a qual as mulheres devem ser submissas à seus maridos. No entanto, há um outro texto que também precisa ser visitado por todos nós hoje. Refiro-me à carta de Paulo aos Efésios 5:21 que diz: “…sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo”.

É claro que este versículo foi escrito fazendo referência à toda comunidade. No entanto, o primeiro de todos os tipos de relacionamentos que podem ser vistos à luz deste texto é o casamento. De fato, quando o casal faz seus votos de amor, fidelidade e respeito mútuos, eles estão iniciando um relacionamento que fatalmente os levará à submissão. E isto é assim porque o amor e o serviço andam juntos. Quando amamos servimos ao nosso cônjuge em toda e qualquer circunstância: saúde ou doença, riqueza ou pobreza, na alegria ou na tristeza.

Quando compreendemos que no casamento a submissão é mútua, não ficamos apenas esperando de nosso cônjuge; nós também damos. Casamento é isso: é dar e receber. É uma troca. Fernando Pessoa já dizia que: “Precisar de dominar os outros é precisar dos outros. O chefe é um dependente”. Por isso o casamento é uma experiência mútua de submissão e não de dominação.

Mais do que isso, a percepção de que o casamento implica em uma submissão mútua nos faz procurar vencer nossa própria vontade e nosso próprio “eu” para agradar a quem amamos. Por isso, quando amamos somos capazes de ceder, renunciar, abdicar, desistir para a felicidade de nosso cônjuge.

Quando um casal consegue viver este princípio de mútua submissão ele acaba gerando muita controvérsia entre as pessoas. Uns criticam a esposa dizendo que ela esta sendo uma escrava de seu marido. Outros criticam o esposo dizendo que ele está sendo manipulado por ela. E as opiniões divergem cada vez mais.

Mas quem está realmente casado sabe que abrir mão de algo que gosta por amor e para o bem daquela pessoa a quem ama, não é sacrifício algum. Muito pelo contrário. Quem realmente ama é capaz de renunciar a certos aspectos que estavam presentes em sua vida de solteiro simplesmente porque não está mais solteiro. É surpreendente que as pessoas não entendam isso. eu compreendo a perplexidade destas pessoas porque convivo entre pessoas que acham que, apesar de casados, devem continuar a viver como se solteiros fossem. Mas afinal, se você quer ser solteiro e ter uma vida de solteiro, porque casar?

Casamento é compartilhamento de uma vida, de sonhos, de projetos, de planos. Casamento é cumplicidade e conivência, e tudo isso, gera interação e inter-influência, em outras palavras, mútua submissão. Como nos sentimos bem sabendo que fazemos o outro se sentir bem. quem quer o bem do outro cede, abdica e renuncia. E quando isso é mútuo chega um momento em que ninguém mais vai precisar renunciar ou ceder nada. Por quê? Porque ambos se tornarão parecidos e os gostos, os anseios, as volições serão os mesmos. Então, serão ambos, uma só carne e um só coração.

 

90. CASAMENTO EXIGE UMA CONSTANTE COMPLEMENTAÇÃO

Um dos maiores paradoxos acerca do casamento é que se de um lado é absolutamente verdade que o casamento é a relação composta de duas pessoas com criação, valores, ideias, preconceitos, conceitos e gostos diferentes, por outro lado, é igualmente verdade que o casamento é composto pela união de duas pessoas que possuem muitas ideias, conceitos, valores e gostos comuns. Eis seu paradoxo! Todo bom casamento precisa ter muita coisa em comum, mas também exige que os cônjuges possuam muita coisa diferente.

Como poderemos superar esse paradoxo? Em primeiro lugar, acredito que esse paradoxo não precisa ser, necessariamente, superado. Quando estamos tratando de um casal inteligente, percebemos que ele é capaz de compreender e internalizar essas duas realidades. Isso nos leva a fazer duas afirmações fundamentais sobre a exigência constante de complementação no casamento.

Em primeiro lugar, é preciso que o casal seja capaz de compreender que as diferenças podem ser sobre questões periféricas ou sobre questões essenciais. É claro que quando estamos tratando de questões periféricas ou secundárias, as diferenças não são tão significativas. Ninguém, razoavelmente inteligente, porá sua relação conjugal em cheque porque ela não consegue fechar a pasta de dentes e só aperta no centro da bisnaga. Tampouco pensará em se separar porque sua esposa é extremamente ansiosa em alguns momentos do mês. É diferente quando estamos tratando de uma relação onde alguém quebra o pacto de fidelidade e cria um triângulo amoroso, ou quando se quebra o pacto do respeito e começa a agredir moral e fisicamente seu cônjuge. O que estou dizendo é que que valores são mais importantes do que hábitos para a manutenção de uma relação.

Em segundo lugar, acreditamos que as diferenças podem contribuir para que se agregue valor à relação. Quando falamos em agregar, estamos falando em acumular, somar, adicionar ou incluir. A expressão “agregar valor” é oriunda da área do marketing e da administração empresarial e aponta para o ato de se acrescentar inovações, diferenciar o que existe no mercado visando satisfazer o cliente. Quem agrega valor procura um aumento de qualidade no seu produto, tornando-o mais atrativo. Quando aplicamos essa tese às relações conjugais, concluímos que a relação pode, em primeiro lugar, em função da diferença dos cônjuges, ser diferenciada por ter um elemento que o diferencia dos demais. Em segundo lugar, quando o casal consegue agregar os valores um do outro na relação a relação se torna muito mais atraente e satisfatória.

Em minha própria experiência consigo perceber como é importante agregar valores. Enquanto eu, desde os meus dezoito anos estava estudando teologia e depois filosofia, minha esposa estava trabalhando em um mundo extremamente competitivo e machista, que fez com que ela se tornasse uma pessoa bem mais prática e resolutiva do que eu, que sou mais reflexivo e teórico. Mas, na realidade, essas diferenças – e inúmeras outras que existem entre eu e ela – foram vistas por nós como um elemento de enriquecimento e de melhora para os dois. Em todos esses anos de relação tanto eu quanto ela, mudamos em muita coisa. E encaramos essas mudanças como uma forma de “agregar valor” à nossa relação, tornando-a muito melhor e mais satisfatória para ambos. Particularmente não me sinto nem um pouco inferiorizado em saber, por exemplo, que ela lida e administra os recursos de uma forma muito mais satisfatória do que eu.

É claro que existem discordâncias e desacordos em nossa relação. E que esses desacordos e discordâncias às vezes nos levam à debates acalorados. Mas, também é verdade, que acima de todas as desavenças sobre questões secundárias, temos a mais absoluta certeza de que o que há de mais importante e fundamental em uma relação conjugal – nossos valores e nossos compromissos – está preservada e, por isso, não temos qualquer dúvida de que estaremos juntos até o último dia de nossas vidas.

 

91. CASAMENTOS EXITOSOS EXIGEM UMA COMUNICAÇÃO SINCERA

Se existe uma forma de estragar com qualquer casamento é manter o silêncio sobre o que incomoda. A pior coisa do mundo, em se tratando de insatisfação conjugal, é ser sempre o último a saber. Ela já havia falado com a mãe, com os irmãos, com alguns amigos e até com a empregada da casa. Mas nunca havia discutido seriamente o assunto com seu marido. Moral da história: o casamento foi à bancarrota.

Em uma pesquisa feita pela Associação de Serviços Familiares nos Estados Unidos, descobriu-se que 87% dos cônjuges entrevistados afirmaram que o maior problema em seus casamentos era a comunicação. O que ocorre é um círculo vicioso: ele, envergonhado por não ter conseguido suprir alguma expectativa de sua esposa, se cala; e ela, frente ao silêncio de seu marido reclama e o acusa ainda mais. Veja bem, não estamos falando de mal-entendidos; estamos falando de silêncio mesmo. Ou seja, falamos de um casal que acorda sem sequer se dirigir um ao outro e desejar um bom dia; ou de deixar de conversar um pouco na cama antes de dormir.

Hoje as pessoas além das dificuldades próprias do casamento ainda têm de administrar facebook, wattsap, e tantos outros instrumentos de comunicação que simplesmente nos impedem de nos comunicarmos com nosso cônjuge.

Além dessas dificuldades contemporâneas ainda há expectativas que cada sexo traz com respeito à comunicação.

O conhecido psicólogo Paul Tournier faz a seguinte consideração sobre a comunicação matrimonial: “Não há dúvida de que eles (o esposo e a esposa) falam a respeito de tudo, mas sempre é objetivo, a respeito de fatos e idéias, e isso é no que o marido está interessado. Para a mulher, um verdadeiro diálogo significa falar a respeito de seus sentimentos – os seus próprios sentimentos. Mas ainda mais importante, sobre os sentimentos do marido os quais ela quer compreender, mas que ele não sabe como explicar”.

Talvez o que traga mais medo em uma comunicação sincera seja a necessidade de se abrir o coração. Vivemos usando máscaras o tempo todo. Elas representam aquilo que queremos que as pessoas pensem sobre nós. Mas não podemos querer que uma relação tão íntima como é a relação conjugal se fundamente sobre máscaras. Inevitavelmente as máscaras caem. E quando elas caem acabamos revelando quem de fato somos: nossas falhas, defeitos, inconsistências e até as mentiras que sustentamos à muito custo na sociedade. Mas também quando tiramos as máscaras – e os dois as têm – mostramos nossas necessidades, fragilidades, indigências e eis que nosso cônjuge, que também possui seus próprios dilemas, se apresenta como um braço que nos sustenta e um abraço que nos acolhe. Em resumo, não falamos por medo de sermos recusados; nós somos seres que temem a solidão. Mas quem ama não é assim. Quem ama é capaz de se ver, diz Nietzsche, conversando até a velhice, com a pessoa com quem casou. E eis que nosso cônjuge nos entende, nos aceita e até nos tornamos parecidos. Pessoas assim, parecidas, nem sempre precisa falar… basta um olhar…

Mas uma coisa precisamos saber: por mais difícil que seja desenvolver a capacidade de dialogar abertamente com seu cônjuge, saiba que a comunicação honesta e sincera é fundamental para o sucesso de uma relação.

 

92. NO CASAMENTO, RESPEITO MÚTUO É FUNDAMENTAL

Há um texto que deve sempre ser lembrado quando falamos de relacionamentos entre marido e mulher. Refiro-me ao capítulo 3 da Primeira Carta de São Pedro, entre os versículos 1 e 7. Neste texto Pedro aconselha a maridos e mulheres. Mas creio que os conselhos podem se intercambiar, por isso o versículo que vou citar agora, e que se refere aos maridos, também podem ser aplicados às mulheres.

No verso 7 Pedro diz: “Maridos, vós igualmente, vivei a vida comum do lar, com discernimento; e, tendo consideração para com a vossa mulher como parte mais frágil, tratai-a com dignidade, porque sois, juntamente, herdeiros da mesma graça de vida, para que não interrompam as vossas orações”.

Há três verdades que este texto revela sobre o respeito na vida conjugal:

  1. Ela deve ser vivida com discernimento. A primeira parte do versículo diz: “vivei a vida comum do lar, com discernimento”. O lar é o espaço da prática da gravidade, do juízo e do discernimento. Eis a razão porque muitos casamentos realizados quando se é ainda um adolescente ou jovem não prospera. Não há discernimento. Muitas vezes os cônjuges nem se conhecem o suficiente para tomar um passo como esse, que envolve a vida inteira. As vezes nos surpreendemos quando vemos um casal se separando depois de vinte anos de casados. Neste momento eu pergunto, “com quantos anos eles casaram?” Quando a resposta é menos de 19 anos, em geral não me surpreendo. Não estou dizendo que TODOS os casamentos realizados nessa idade estão condenados. Mas que a probabilidade de darem errado, não por maldade, mas por imaturidade é real e não devemos desconsiderar esse fato. Muitos não entendem, mas agir respeitosamente, as vezes, exige uma certa maturidade que um garotão cheio de hormônios e louco para curtir a vida, não tem ainda.
  2. Ela deve ser vivida com respeito. A segunda parte do versículo é igualmente importante: “tendo consideração para com a vossa mulher como parte mais frágil, tratai-a com dignidade”. As duas palavras que quero destacar aqui é “consideração” e “dignidade”. Conforme disse na introdução esta verdade se aplica aos dois. Ambos precisam tratar um ao outro com respeito afetuoso, ou seja, com compostura, decoro e decência. Martin De Haan escreveu, certa vez que alguns casais são como Dr. Jekyll e Mr. Hyde. Em público, diz ele, “são atenciosos, dispostos a perdoar, pacientes e dóceis. Mas uma vez que estão detrás das portas fechadas de sua própria casa eles se tornam temperamentais, rudes e imperdoáveis”. De que adianta aparecer publicamente como um casal de propaganda de margarina se ambos se acusam com palavrões, obscenidades e convivem em uma constante desconfiança mútua? Sem respeito não há relação. Mesmo as brigas, que são normais a todos os casais, precisam ser feitas com o mínimo de respeito e dignidade.
  3. Ela deve ser vivida como por iguais. A terceira verdade deste texto é que revelada no fim do versículo que diz: “porque sois, juntamente, herdeiros da mesma graça de vida”. Em outras palavras, porque ambos são iguais perante Deus. A Graça é um favor imerecido que Deus nos dá gratuitamente, sem olhar para nossos méritos. Por isso é de graça e não pago. Pois bem, os dois são feitos por Deus como herdeiros da mesma graça de vida. Ambos receberam, por herança, a graça de viverem juntos neste mundo, até o fim de seus dias. E isto também deve nos fazer dóceis para com nosso companheiro de viagem. Para com aquela pessoa que passará por todos os problemas e dificuldades ao nosso lado, segurando nossa mão e nos dando força. Por que tratar com desrespeito alguém assim?

Respeitar nosso cônjuge é tão sério que a última frase do versículo contém uma afirmação que quase ninguém atenta: “para que não interrompam as vossas orações”. Deus não atende as orações de quem trata mal e desrespeita seu cônjuge. Já pensou nisso?

 

93. UMA FAMÍLIA SEM VALORES

Embora muita gente não saiba, o desenho animado “Os Simpsons” representam uma das mais veladas e duras críticas à família comum americana. Esta família é protagonizada pelo pai que é descrito como um homem que chega em casa todos os dias, depois do trabalho, afunda-se em sua poltrona favorita e assiste seus programas de TV enquanto saboreia algumas latinhas de cerveja. Ele não está nem um pouco interessado em sua esposa e muito menos no que ocorre com seus três filhos, um dos quais, um adolescente delinquente.

Aquele homem, como boa parte dos homens e mulheres de nossa sociedade, acreditam que sua vida é maravilhosa. No entanto, este seriado revela como é medíocre o nível de vida e de entendimento do americano médio. E creio que no Brasil não é diferente.

O que vemos é uma forma lamentável e insignificante de vida. É uma vida sem paixão, sem interesses e sem valores duradouros e sem princípios. Mas acredite meu caro leitor, na vida, existem coisas pelas quais vale a pena crer e lutar.

Não se trata aqui de fazer uma lista de valores e colocar na sua frente. Mas quero citar Kevin Leman quando diz que “os casamentos que levam em conta o lado espiritual da vida são muito melhores do que aqueles que não levam. São casamentos em que tanto o marido como a esposa entendem que existem valores eternos e lutam para que suas vidas se ajustem a eles”.

É bem verdade que não basta entender que existe um significado mais profundo para a vida. Estas coisas mais profundas e estes valores precisam fazer parte de seu casamento. O que significa que o casal precisa tomar uma decisão a produzir gestos concretos que materializem estes valores em seu lar. É preciso lutar para concretizar a compreensão, o companheirismo, a fidelidade, a honestidade, etc.

Como professor de direito vejo a facilidade com que os alunos mentem e são desonestos para consigo próprio, para com o professor e para com a instituição quando estão “colando”. “colar” é normal, dizem meus alunos. Mais tarde, quando forem advogados, juízes ou promotores, dirão “receber propina para julgar ou para pedir o arquivamento do processo, é normal”.

Mas eu pergunto: onde nossa sociedade aprendeu que é normal este comportamento? Primeiro, em casa, com o desinteresse de seus pais em educá-los com valores eternos e princípios sérios, a começar com seu exemplo; e, em segundo lugar, com os “amigos” que servem de exemplo de como enricar “licitamente” com o dinheiro público. O mesmo dinheiro que falta para a saúde, a educação, a moradia, etc.

Definitivamente, uma família sem valores eternos, sem princípios relevantes, sem espiritualidade, só pode caminhar para uma realidade assim. Lembrem-se, uma família sem valores nos levará a um mundo igualmente sem valores. Invista em seu lar e você estará dando um passo para melhorar o mundo.

 

94. A MAIOR CAUSA DE DIVÓRCIOS

Em um excelente livro chamado Traitsof a HappyCouple, o conhecido doutor Larry Halter nos apresenta as cinco maiores razões para o surgimento de problemas conjugais e para eventuais separações. Segundo sua pesquisa, a primeira delas, de longe, é o desinteresse gradual por agradarem-se mutuamente.

De fato, no início da relação, os dois faziam de tudo para agradar um ao outro. Ele era capaz de ficar ouvindo a conversa de sua namorada com suas amigas durante horas, enquanto ela não via problema algum em ir com ele assistir um jogo de futebol e ainda ficava perguntando sobre o que era escanteio e impedimento.

Mas depois do casamento, por inúmeras razões, ocorre o que Kevin Leman diz “ele não se preocupa mais em agradá-la, nem em fazer tudo ao seu alcance para mostrar que se importa com ela”. Ela, por sua vez, já não tem mais tempo para assistir um jogo de futebol com ele. Ela não faz nenhuma questão de esconder que acha ser ele um tolo por ver 22 homens correndo atrás de uma bola. Quero lembrar que o problema, aqui não é futebol.

O problema é que o marido se tornou incapaz de ouvir os desejos e reclamos de sua esposa enquanto ela não se interessa mais por aquilo que seu marido gosta e admira. Em outras palavras ninguém tem mais o desejo de se dedicar em agradar seu cônjuge.

Mas afinal, o que você pode fazer para agradar sua esposa. Estou certo que a resposta não será presenteá-la com um diamante ou com uma camisa de seu time preferido. Na realidade, voltando a citar Leman, tudo de que seu cônjuge precisa é de uma demonstração de que você verdadeiramente deseja agradar. Voltem ao tempo de namoro em que você estava disposto a ouvir cada palavra que ela dizia e em que ela buscava se interessar pelos seus interesses. Afinal, agradando nosso cônjuge ele se sentirá mais disposto a nos agradar e a se interessar pelo que gostamos.

 

95. A SEGUNDA MAIOR CAUSA DE DIVÓRCIOS

Ainda examinando o texto Traitsof a Happy Couple de Larry Halter encontramos a segunda grande razão que sua pesquisa apresenta para o surgimento de problemas conjugais e para eventuais separações. Segundo sua pesquisa, esta segunda razão é um comportamento negativo fruto de uma comunicação deficiente.

Comunicação é tudo. Já dizia o velho Chacrinha que “quem não se comunica se estrumbica”! Brincadeiras à parte, Halter nos apresenta os 9 mais eficientes destruidores de comunicação que existem. Vamos vê-los um por um.

  1. Descrição negativa do problema: cuidado para não fazer uma apresentação que seja muito longa, vaga ou emotiva do problema. Estes três defeitos podem distorcer o problema na mente de seu interlocutor.
  2. Reclamações cruzadas: Procure desenvolver paciência para esperar que seu cônjuge termine de falar antes que você comesse a apresentar as suas próprias reclamações.
  3. Crítica: Estar sempre apontando os defeitos de seu cônjuge – principalmente com aquele tom de voz destruidor – não ajudará em nada no crescimento dos dois.
  4. Exagero: Em geral reclamações que se servem de palavras como “sempre” ou “nunca”, não ajudam na resolução dos problemas pois tendem à generalizações e exageros.
  5. Leitura errônea do pensamento: Isso ocorrem quando achamos que já sabemos o que o outro vai dizer. Na hipótese de você supor o que o outro está pensando, suponha que ele está sendo honesto no que diz.
  6. Falar demais: Dê ao seu cônjuge o mesmo tempo que você desejaria para falar.
  7. Acusação: procure compartilhar a culpa nos problemas. Em questões conjugais não existe o culpado e o inocente; o santo e o demônio. Todos têm sua parcela de culpa.
  8. Definição do problema: pare de olhar para o passado – onde o problema surgiu, ou na exposição do problema. Foque na solução.
  9. Desvio de foco na discussão: Procure evitar fazer colocações irrelevantes que desviam o foco do problema, ou argumentar em saltos, saindo de um problema para outro. Mantenha o foco no problema que está sendo discutido.

 

96. MONOGÂMICOS E APAIXONADOS

Às vezes tenho a impressão, quando vejo cenas das telenovelas, que a prática do sexo com a mesma pessoa durante toda a vida parece ser alguma coisa entediante. Deve ser por isso que sempre alguém “pula a cerca” e se envolve com outra pessoa nas estórias que vemos na telinha.

Mas eu gostaria e afirmar peremptoriamente aquilo que todos os meus alunos de Sociologia Jurídica ou de Filosofia Jurídica, nas faculdades de direito que ensinei, já sabem. Eu sou um monogâmico por convicção.

Sim, já fiz minhas leituras de Nietzsche e Foucault e já tive meus vinte e poucos anos de vida. Mas hoje, estou absolutamente convencido de que não apenas é possível, mas muito mais saudável viver apaixonadamente a monogamia.

Em primeiro lugar, o sucesso de um casamento está, antes de mais nada, no compromisso de fidelidade que fazemos com nosso cônjuge. Lamentavelmente os homens não percebem que a monogamia faz com que, nas palavras de John Gray, “a mulher continue a se sentir especial e muito amada”. Sem essa confiança a mulher terá dificuldade de abrir e até de se excitar com seu parceiro.

Em segundo lugar, os homens precisam experimentar que podem tornar sua mulher feliz para continuar atraído e excitado por ela e este tipo de sentimento uma relação fortuita não pode dar. No adultério, como já citamos em outro artigo, “há pelo menos três pessoas que se enganam”. Uma relação que nasce assim não tem como prosperar.

Em terceiro lugar, sejamos práticos, em uma sociedade as DST-AIDS se transmitem generalizadamente, manter a monogamia é muito melhor para a saúde tanto do corpo quando da alma.

Ademais, quando falamos em alma, pensamos no bem que podemos fazer e que podemos fruir quando estamos com alguém em quem podemos confiar total e completamente. Como é bom saber que aquela pessoa, por inteira, tem um compromisso de exclusividade com você. Como é bom compartilhar os bons momentos de um jantar a dois de frente pro mar e degustando um Merlot; como é bom poder repetir esta experiência em outros lugares que nossas viagens proporcionam; como é bom poder ter a certeza de que, quando estivermos já no inverno de nossa vida, trazer à memória, não as dores da traição, mas as alegrias de uma vida vivida um para o outro. Como é bom e importante poder olhar nos olhos da pessoa amada e dizer que ainda a ama com o mesmo amor do primeiro dia, ou melhor, com um amor muito mais maduro e enriquecido. Isso, somente os monogâmicos apaixonados podem fazer.

 

97. REVIVENDO O ROMANCE

Muitos casais, depois de anos de convivência, acabam por permitir que o romance seja esquecido. Isto é um fato. Mas não precisa ser assim.

Se por um lado os homens sempre estão ávidos por sexo, as mulheres, mesmo aquelas inteligentes, determinadas, ou que ocupam cargos elevados no trabalho, anseiam pelo romance. Elas podem parecer duras, decididas, competentes no que fazem, mas necessitam de romance e de alguém que cuide delas. Não é que o homem não goste do romance, ele apenas não tem ideia do que isso seja. Mas ele pode aprender algo sobre esse tema.

Um exemplo bem simples de ser romântico para com sua esposa é comprar flores para ela. As flores possuem um elemento simbólico extremamente forte na mente de uma mulher. Quando um marido compra flores para sua esposa ela entende que ele a ama, que cuida dela e que compreende sua necessidade. Eis os três principais elementos do romance.

  1. Demonstrar amor

Demonstrar amor não significa ficar repetindo todo o tempo que você a ama. Embora estas palavras sejam muito importantes para a relação, elas não encerram o amor. Tenho que reconhecer que há maridos que quase nunca dizem às suas esposas o quanto as ama. Mas estas palavras jamais podem ser esquecidas em um relacionamento amoroso.

  1. Cuida dela

Conforme aponta John Gray, “Quando um homem planeja um encontro, compra ingressos, dirige o carro e cuida de todos os pequenos detalhes, isso é romance”. Ao agir dessa forma o que ele está efetivamente fazendo é permitindo à sua esposa que relaxe, aproveite o momento e “desfrute do sentimento de estar sendo cuidada”. Ao agir assim o marido está dando uma espécie de miniférias que auxiliam a esposa a voltar à sua feminilidade. Ao agir de forma romântica o homem está dizendo para sua mulher que ela é importante, que ele a entende e a respeita.

  1. Compreender suas necessidades

Não há maior necessidade na mulher do que ser ouvida. Quando os maridos agem com amor e cuidam de suas esposas elas se sentem ouvidas, apoiadas e apreciadas. Não se engane, para que um romance frutifique a mulher precisa se sentir ouvida e compreendida diuturnamente. Segundo John Gray, “quando o homem está destreinado nos papéis de ouvir e de compreender uma mulher ou quando uma mulher resiste a compartilhar os sentimentos que emergem naturalmente, ela sente que não recebe atenção e se desliga. Ela geralmente nem mesmo sabe o que aconteceu”. Quando as mulheres não se sentem ouvidas, meu amigo, nem dez mil pétalas de flores resolvem o problema. Entenda, antes que possam apreciar gestos românticos, a mulher precisa se sentir ouvida. Da mesma forma que o sexo conecta o homem aos seus sentimentos, a comunicação conecta a mulher às suas necessidades de admiração e de romance.

Portanto meu amigo, abra a porta do carro para ela, convide-a para um cinema ou para jantar fora, jogue o lixo fora todas as manhãs, lave a louça, faça elogios, toque em seus cabelos, enfim, faça com que ela perceba que é importante para você e que você cuida dela. Faça renascer a chama do romance.

 

98. UM CASAL DE ETERNOS NAMORADOS

Quase ninguém sabe, mas o dia dos namorados surgiu inspirado em uma estória que ocorreu na antiga Roma. Diz a estória que o Imperador Claudius II proibiu a celebração de casamentos porque acreditava que os homens solteiros eram mais adequados em caso de guerra vez que não tinha relação com ninguém. Ocorre que, contrariando às ordens do Imperador, um padre continuou celebrando casamentos veladamente. Seu nome era Valentino. As autoridades romanas descobriram o que ele estava fazendo e ele foi condenado à morte no dia 14 de fevereiro.

Esta história de coragem e desprendimento correu o mundo e o dia do sacrifício de Valentino acabou sendo associado ao dia dos namorados em diversos países da Europa, América, México e outros. Nestes países existe até hoje o “Valentine’s Day”.

Em nosso país, o dia dos namorados foi escolhido como o dia 12 de junho, ou seja, a véspera do dia de Santo Antônio o conhecido “santo casamenteiro”. O dia dos namorados no Brasil nada teve de romantismo. Ele foi criado nos anos 50 com a única finalidade de lucro para o comércio. Desde então, se tornou uma tradição nacional. É claro que os casais adoram esse momento. O que ninguém percebe é há dois problemas que precisam ser indicados aqui. O primeiro é que, em nossa sociedade capitalista, essa data é apenas mais truque do mercado para ganhar dinheiro. Uma forma de fazer o dinheiro “girar”. Se você tem uma namorada ou esposa, saiba, todos os dias são dia dos namorados. Você não precisa de um motivo especial para chegar em casa com um presente para ela.

Uma outra idéia muito comum é achar que namoro é algo que tem a ver com adolescência. Charbonneau (1985, p.25) diz que “namorar é próprio dessa idade”. Concordo que é nesse momento em que começamos nossas experiências amorosas, mas elas não estão limitadas a esse momento da vida. Muito pelo contrário. Quero desafiá-lo a viver um eterno namoro com sua esposa ou com seu esposo.

Quando buscamos o dicionário Houaiss, encontramos lá que o verbete “namorar” significa “empenhar-se em inspirar amor a alguém”; galantear, cortejar, seduzir, mostrar interesse por envolver-se, etc. Só estas poucas palavras já nos dão uma visão extremamente abrangente do que é o namoro.

No momento em que criou o homem Deus o criou não como indivíduo, mas como casal: “não é bom que o homem esteja só”, disse ele. E assim como o amor nasce com o homem, assim o homem nasce com o amor. Isso significa que faz parte de nossa natureza humana a experiência de “inspirar amor a alguém”. E esse sentimento implica em pelo menos quatro estágios:

  1. Cortejar e galantear. O cortejo é um cumprimento ou uma saudação que faz com que a pessoa se sinta especial. Por meio do cortejo a pessoa se sente única. Dentre todas as demais presentes, ela foi a escolhida. Algo naquela pessoa despertou sua atenção de tal forma que você já não tem mais olhos para mais ninguém. Esta é a primavera do amor. Quando nos apaixonamos e achamos que aquela pessoa é única. O namoro nesse estágio é lindo e perfeito!
  2. Mostrar interesse por envolver-se. Depois da primavera vem o verão e com ele nos damos conta de que nosso parceiro não é tão perfeito quanto achávamos. Surgem alguns desapontamentos e decepções. Alguns ficam desiludidos e acabam desistindo da caminhada. Mas quem quer investir no relacionamento se dá conta de que é preciso um certo esforço e trabalho para que a relação vá em frente. Por isso o interesse é fundamental. O namoro nesse estágio exige persistência, criatividade e muita paciência.
  3. Para aqueles que suportaram o sol causticante do verão surge agora o momento dourado, rico e satisfatório do outono. Agora o amor está mais maduro e compreensivo com os defeitos e as imperfeições de nosso companheiro. Somos até mais conscientes de nossos próprios defeitos. É um momento de partilha e agradecimento na vida do casal. Esse é o momento de relaxar e fruir do amor que foi desenvolvido até aqui. O namoro nesse estágio é maduro, consciente e satisfatório.
  4. Mas um belo dia chegamos ao inverno do amor. Segundo o Dr. John Gray em seu livro: Homens são de marte mulheres são de Venus (1997, p. 302), esse “É um momento de descanso, reflexão e renovação. Esse é um momento, num relacionamento, em que experimentamos nossa própria dor não resolvida ou nosso eu obscuro. É quando nossa tampa sai e nossos sentimentos dolorosos emergem. É um momento para crescimento solitário quando precisamos cuidar mais de nós mesmos do que dos(as) nossos(as) parceiros(as) por amor e satisfação. É o momento para cura. Esse é o momento em que os homens hibernam nas suas cavernas e as mulheres mergulham no fundo de seus poços”. Depois desse momento de cura interior eis que ressurge a primavera. E agora movida por um amor mais forte e lúcido vez que curado pela jornada invernal de cura interior. Namorar durante o inverno pode ser difícil e exige sobriedade e paciência para permitir que nosso cônjuge passe por seus lutos e feche suas gestalts inacabadas.

Mas não se engane, diz John Gray (1997, p. 303): “o amor é sazonal. Na primavera é fácil, mas no verão é um trabalho árduo. No outono você pode se sentir muito generoso(a), mas no inverno pode se sentir vazio(a)”. O importante é compreender que esses momentos de plenitude e aridez não significam que não há mais espaço para se interessar pelo outro e namorar. Durante os momentos ruins precisamos nos abrir para aprender e escutar.

Finalmente saiba, um casal que pretende ser “eternos namorados” não precisa de tanta coisa. Em uma de suas poesias, Schiller (1759-1805) escreve: “Mesmo na menor cabana há espaço/ Para um casal de namorados”. Essa pequena cabana juntamente com a motivação adequada do amor levará vocês por toda uma vida de amor frutífero.

Esta semana recebi em minha casa um casal que desejava casar e que me pediu que os avós da noiva entrassem com as alianças. Quando eu perguntei a razão à noiva me disse que eles têm 54 anos de casados. E que, aproveitam para viajarem juntos, jantarem juntos, passeiam sempre de mãos dadas e, que quando o avô vai caminhar com a neta, ele sempre para com a finalidade de apanhar uma flor e levar para sua esposa. E encerrou sua explicação dizendo: “eles são eternos namorados”. Diante deste testemunho, me dei por satisfeito. Sim, é possível namorar até o último dia de sua vida!

Referência bibliográfica

CHARBONNEAU, Paul-Eugène. Namoro e virgindade. São Paulo: Moderna,1985.

GRAY, John. Homens são de marte mulheres são de Venus. Rio de Janeiro: Rocco, 1997

 

 

99. RELACIONAMENTOS DE MÃO ÚNICA

Uma das marcas que caracterizam o ser humano como um todo é sua sociabilidade ou o seu ser gregário. Não é comum, entre os humanos, a prática eremítica solipsista. Mesmo os mosteiros possuem espaços cenobíticos para que haja contato entre as pessoas. A experiência dos presídios que submetem seus apenados a longos e duradouros estágios de solidão demonstram que ao final o que ocorre é uma despersonificação do Ser Humano, não um melhoramento dele.

No entanto, para além destas experiências religiosas ou punitivas, nós vivemos em uma sociedade que cada vez mais valoriza o indivíduo ou a individualidade ao invés do coletivo e da coletividade. E quer queiramos ou não, estas influências acabam por se manifestar em nossos relacionamentos criando o que chamo de “Relacionamentos de mão única”.

Em razão de sua própria definição, relacionamento já aponta para a existência de algum tipo de vínculo entre pessoas. Relacionar-se é ter a capacidade de viver bem com seu semelhante. E faz parte de todo relacionamento ou de toda relação, a troca, portanto, metaforicamente, a via dupla. No entanto, nesta nova realidade epocal que alguns chamam de modernidade líquida, as relações estão cada vez mais deixando de ser de via dupla e se transformando em relacionamentos de mão única. Há um domínio do indivíduo. Existem pelos menos três espaços em que isso pode ser exemplificado.

  1. Entre os amigos.

A palavra “amigo” vem do latim “amicus” e faz referência àquele que ama. E Cícero (106-43 a.C.), certamente em razão de falar a língua do Lácio já afirmava: “O amigo certo se reconhece numa situação incerta”. Bons tempos estes.

Hoje, no entanto, experienciamos uma inversão completa de valores. Muitas vezes aqueles que se dizem nossos amigos são os primeiros a trair nossa confiança. Às vezes nos surpreendemos quando apresentamos um(a) namorada a um(a) amigo(a) e ele(a), sem o menor constrangimento comenta: “você só vai aguentá-lo(a) por uns três meses; ele(a) é muito cansativo(a). Quantas vezes aqueles com quem compartilhamos nossa mesa ou para quem emprestamos nossos livros mais preciosos são os primeiros a traírem nossa confiança e nos apunhalarem pelas costas. Quantas vezes aqueles que nos procuram para dividir seus pesados fardos não acabam por investir na destruição de nosso próprio lar. Tenho visto e ouvido de “amigos” que aproveitam da amizade para cortejar a mulher daquele que o acolheu. Esta realidade me faz lembrar do que disse o Marquês de Maricá (1773-1848): “Quando moços, contamos tantos amigos quantos conhecidos; porém maduros pela experiência, não achamos um homem de cuja probidade fiemos a execução de nosso testamento”. Em resumo, a relação com os amigos, hoje, tornou-se uma relação de mão única, onde as pessoas apenas querem usufruir daquilo que você pode dar. Feliz de quem tem amigos de mão dupla.

  1. Entre pais e filhos.

Quando buscamos os parâmetros bíblicos que norteiam o relacionamento entre pais e filhos, encontramos duas verdades interessantes. Os pais não devem, de acordo com Paulo, provocar a ira dos filhos, mas criá-los na disciplina e admoestação do Senhor (Ef. 6:4), ao passo que estes devem sempre honrar seus pais (Ex 20:12). Um exemplo dessa exigência se estende até mesmo quando o pai comete algum erro. É o que vemos quando Noé, depois de sair da arca e de colher os primeiros frutos de sua vinha, se embebeda e fica nu. Enquanto um dos filhos (Cam) zomba e faz pilhéria com o fato, os outros (Sem e Jafé) encobre o corpo nu de seu pai sem sequer lhe dirigir o olhar, por respeito. Mas esses eram outros tempos.

Com o aumento médio de vida dos homens após a Revolução Industrial e o descobrimento dos antibióticos, percebeu-se que as relações marido-mulher estavam durando o mesmo tempo, mas estavam, em alguns casos, entrando em colapso. O divórcio passou a se tornar mais freqüente.

Diante da realidade do divórcio e considerando que geralmente as mulheres acabavam ficando com a responsabilidade de educar os filhos, ocorria com muita freqüência o que se chama hoje em direito de “alienação parental”. Ora, qualquer indivíduo minimamente inteligente sabe que quando há conflito entre um casal nunca existe um lado absolutamente certo e o outro completamente errado. O mundo não se divide entre anjos e demônios. No entanto, os pais eram sempre os únicos culpados (em que pese os erros realmente cometidos) pelo fim da relação. E esta versão passava a ser a verdade absoluta na mente dos filhos. Como conseqüência, sem perceber, as mães acabavam por produzir relacionamentos de mão única entre os filhos e seus pais.

Conheci um pai que ligou semanalmente durante um ano e nunca conseguiu que seu filho fosse a um almoço, ou jantar, ou cinema ou a qualquer outro lugar com ele. Moral da história, o pai deixou de tentar. Se, em algum momento seu filho o buscasse para conversar ele o ouviria. Mas o que ocorreu foi uma acusação sem o direito à plena defesa e ao contraditório. E, pelo menos nesse caso, o relacionamento se desfez.

Surpreendentemente, em muitos casos quem mais cria obstáculos para que os pais vejam os filhos que vivem com suas mães, é a própria igreja. Ela cria tantas atividades envolvendo os jovens que o pai, além de não ver seu filho durante a semana também não o vê no fim de semana, porque ele está muito envolvido com a igreja. Creio que esse tema precisa ser repensado melhor.

  1. Entre marido e mulher

O relacionamento existente entre marido e mulher é paradigmático. Não pode se relacionar no binômio domínio-subserviência muito menos na falta de confiança. O casamento simplesmente não existe se só é verdade para um dos cônjuges. Quando as coisas estão assim vive-se uma solidão acompanhada.

Mas cada dia que passa esse padrão se impõe. Os maridos saem com seus colegas e as esposas com suas amigas e ninguém precisa dar satisfação de sua vida a ninguém. Eventualmente eles se encontram e falam do que têm feito individualmente.

Há situações em que apenas uma das partes vive a relação e a outra apenas observa. Somente uma das partes é fiel, a outra aproveita o período de trabalho do marido para sair com amigos e aproveitar a vida.

A realidade é tão surreal que tenho ouvido de quem planeje casar apenas para poder gerar um filho e depois utilizar o marido como babá da criança depois que ela resolve se separar. É realmente surpreendente como as pessoas conseguem engendrar plano para manipular o outro, envolvendo até as crianças, simplesmente para obter seus objetivos. É como se a vida das pessoas fossem descartáveis e substituíveis como uma peça sobressalente. Isso nem se pode chamar de relacionamento e sim de instrumentalização do ser.

O pior da história é que, desvendado o plano mordaz, a vítima se transforma em culpado enquanto todos os antigos “amigos” passam a inverter a realidade e penalizar quem já foi penalizado com uma relação de exploração e manipulação.

Caros casais, para além dos problemas que vemos surgir nessa sociedade tão hipócrita, lembre-se de uma velha música que diz: “Tu estás fraco e carregado/ De cuidados e temor?/ A Jesus, refúgio eterno/ Vai com fé teu mal expor!/ Teus amigos te desprezam?/ Conta-Lhe isso em oração/ E com Seu amor tão terno/ Paz terás no coração”. Somente Cristo não nos decepciona e está ao nosso lado venha o que vier, pois, com ele, a relação é de mão dupla e real.

 

100. AS NECESSIDADES PRIMORDIAIS DO CASAL 1

Todos nós possuímos necessidades que nos são imperativas. Precisamos nos alimentar, precisamos de água, ar, de companhia, de um lugar para morar, de um emprego, de descanso, etc. Tudo isso é muito importante para qualquer pessoa. Mas, segundo o psicólogo John Gray homens e mulheres possuem o que ele chama de “necessidades primordiais” sem as quais, qualquer relação entrará em colapso. Trataremos neste texto da primeira grande necessidade primordial do homem e da mulher.

A primeira necessidade primordial da mulher é de carinho. Ora, o que é “carinho”? O carinho é uma manifestação de apreço, amor, meiguice, cuidado e desvelo. Mas de que forma o homem pode suprir essa primeira necessidade primordial de sua esposa? Segundo John Gray, “quando um homem mostra interesse pelos sentimentos de uma mulher e preocupação sincera com seu bem-estar, ela se sente amada e amparada”. Quando o homem desenvolve essa sensibilidade em se interessar pelos sentimentos que perpassam a mente e que, às vezes machucam o coração de sua esposa, ela passa a se sentir uma pessoa especial para ele e ele obtém êxito em satisfazer à primeira necessidade primordial de sua companheira. Quando isso acontece, a esposa geralmente passa a confiar mais em seu marido, e dessa forma, ela tornar-se mais aberta e receptiva.

A primeira necessidade primordial do homem é a confiança. Quando isso acontece na vida do homem? Geralmente quando ela está aberta e receptiva ao seu companheiro. Quando isso ocorre, ele sente que ela confia nele e isso satisfaz sua primeira necessidade primordial. A confiança é algo tão fundamental para um homem que Henry Lewis Simon (1867-1950) já afirmava: “A única maneira de tornar um homem digno de confiança é confiar nele; e a maneira mais segura de torná-lo indigno de confiança é desconfiar dele e demonstrar isso”. Para John Gray, aplicado esse princípio à relação conjugal, “Confiar num homem é acreditar que ele esteja dando o melhor de si e que queira o melhor para sua parceira”. Quando uma mulher se expressa por meio de seu discurso ou de suas reações demonstrando que acredita nas habilidades e nas intenções de seu marido, ela estará satisfazendo sua primeira necessidade primordial. Isso o fará ficar cada vez mais carinhoso e atento aos seus sentimentos e necessidades.

Do que lemos acima compreendemos que não estamos simplesmente tratando de uma relação linear de causa e efeito, mas de uma relação recursiva onde cada elemento alimenta o outro que alimenta o outro, que alimenta o outro, circularmente, ad aeternum. É como se ocorresse uma retroalimentação. A confiança expressa por sua mulher produzirá mais carinho por parte do homem que fará com que a mulher reaja com mais confiança ainda, num círculo virtuoso que nunca termina.

Oro para que cada casal que tenha a oportunidade de ler estas linhas seja capaz de satisfazer essa primeira grande necessidade primordial de seu cônjuge e, dessa forma, fortalecer ainda mais a relação.

 

101. AS NECESSIDADES PRIMORDIAIS DO CASAL 2

No primeiro texto que tratamos sobre as necessidades primordiais do casal, vimos que a primeira necessidade primordial da mulher é de carinho, enquanto que para o homem é a confiança. Agora tentaremos, com base na obra do Dr, John Gray (Homens são de marte mulheres são de Venus – 1997) apresentar a segunda grande necessidade dos homens e das mulheres: ela precisa de compreensão e ele precisa de aceitação.

Quando uma mulher está diante de um marido que é capaz de ouvi-la sem julgar e com a capacidade de ser empático ao que está sendo dito, ela se sente ouvida e compreendida. A compreensão é, portanto, a segunda maior necessidade primordial da mulher. Assumir uma atitude compreensiva não significa que tudo o que está sendo dito já é, de antemão, conhecido e aceito. Ao contrário, compreender é tentar juntar os sentidos do que se está sendo dito com aquilo que se está sendo ouvido. O filólogo e teólogo alemão Friedrich Schleiermacher usava a palavra verstehen para apontar para uma compreensão que vai além das meras palavras, mas que procura ir ao coração. Segundo pontua Gray (1997, p. 149), “Quanto mais a necessidade de uma mulher de ser ouvida e compreendida é satisfeita, mais fácil é para ela dar ao seu homem a aceitação de que ele precisa”. Isto nos faz lembrar as palavras de Proust (1871-1922), ao afirmar que “Desejamos ser compreendidos, porque desejamos ser amados, e desejamos ser amados porque amamos”.

O homem, por seu turno, necessita imensamente de aceitação. E ser aceito significa ser acolhido da forma como se é, sem que se exijam mudanças. Uma atitude de aceitação não rejeita nem abandona ou desiste. Isso não significa que a mulher “acredite que ele seja perfeito, mas indica que ela não está tentando mudá-lo, que ela confia nele para fazer seus próprios progressos” (GREAY, 1997, p. 149).

Quando um homem sabe que é aceito incondicionalmente ele desenvolve muito melhor a capacidade de ouvir e de compreender a sua companheira de vida. Em um outro texto (Homens, mulheres e relacionamentos – 1996) Gray chega a afirmar que em se tratando do homem “a aceitação é a base das mudanças de comportamento num relacionamento” (1996, p. 256). E mais, “Quando uma mulher não aceita um homem ela sentir-se-á compelida a mudá-lo. […] ele se sente desrespeitado, manipulado e rejeitado” (Ibid, p. 256).

É claro que um homem pode aceitar críticas sem se sentir diminuído. Mas para isso ele precisa não apenas está bem consigo mesmo, mas também disposto a ouvi-las. Homens que são bem aceitos, são, em geral, dóceis frente a críticas e opiniões contrárias. Isto nos faz lembras das palavras de George Eliot (1819-1880), com as quais encerraremos este texto: “A sorte da mulher depende do amor que aceita”.

 

102. AS NECESSIDADES PRIMORDIAIS DO CASAL 3

Estamos dando continuidade aos estudos acerca das necessidades primordiais do casal. Já vimos que enquanto os homens têm carência de carinho e compreensão, as mulheres precisam de confiança e aceitação. Neste terceiro artigo veremos a terceira grande necessidade de cada um dos cônjuges: o respeito e o apreço.

Toda mulher necessita de respeito e isto acontece, explica John Gray (1995, p. 149), quando um homem “responde a uma mulher de uma maneira que reconheça e priorize os direitos, desejos e necessidades dela”. A importância do respeito pode ser vista nesta frase que alguém escreveu: “O respeito para mim tem o brilho e o valor do ouro, e a dureza do diamante para que dura para sempre”.

É muito importante, para a mulher se sentir respeitada e considerada. E isto nos diz que o marido precisa levar em alta consideração o que ela pensa ou sente. Outra forma importantíssima de demonstrar respeito para com sua esposa envolve gestos e expressões físicas concretos. Isto significa desenvolver pequenos hábitos que podem não ser nada para o marido, mas para ela é fundamental. Exemplos destes gestos concretos são: enviar mensagens para ela durante o dia, dizer sempre “eu te amo”, perceber quando ela mudou o cabelo, dar flores, lembrar-se sempre dos aniversários dela e do casamento, etc. Pequenos, mas significativos gestos como esses, são capazes de satisfazer esta terceira necessidade primordial da mulher. E desta forma, quando as mulheres se sentem respeitadas, elas ficam muito mais aptas para dar a seus maridos o apreço que ele merece. Um autor desconhecido escreveu: “O respeito pode ser uma flor em extinção, mas vou continuar regando para que a espécie vingue e ressurja das cinzas…”. Que essa seja sempre a sábia decisão dos maridos para com suas esposas.

Enquanto as mulheres necessitam de respeito, a terceira necessidade primordial do homem é o apreço. Quando falamos em apreço estamos falando em estima, consideração e admiração. Em uma sempre atual letra do grupo MPB-4 ouvimos que “o apreço não tem preço”. Na realidade, nenhum amor, por maior que ele seja, alguém já escreveu, resiste à falta de consideração. Por seu turno, diz o Dr Gray (1995, p. 149) “quando um homem é apreciado, ele sabe que seu esforço não foi desperdiçado e fica assim encorajado a dar mais”. Quando um homem se sente apreciado, considerado e admirado, ele fatalmente se inclina e se motiva a responder com mais respeito por sua esposa.

Quando encontramos um casal em que o respeito e o apreço estão equilibrados, estamos diante de um círculo virtuoso no qual uma atitude alimenta a outra e assim, sucessivamente.

 

103. AS NECESSIDADES PRIMORDIAIS DO CASAL 4

Em nossa caminhada de estudos acerca das necessidades primordiais do homem e da mulher, chegamos aos dois elementos que figuram em quarto lugar dentre as necessidades primordiais do casal. Conforme afirma o Dr John Gray em Homens são de marte, mulheres são de Venus (1995, p. 149), a quarta necessidade da mulher é de devoção e para o homem é de admiração.

Uma mulher, diz o Dr Gray (1995, 150) “se realiza quando se sente adorada e especial”. Isso ocorre quando o marido se comporta dando prioridade às necessidades de sua esposa e assume o compromisso de apoiá-la e satisfazê-la. Na prática isso acontece quando ele é capaz de demonstrar que os sentimentos e as necessidades de sua esposa estão acima dos seus próprios interesses, tais como, o trabalho, o estudo e a recreação. Lamentavelmente muitos homens não percebem isso e colocam sua relação com sua esposa em segundo ou terceiro lugar na ordem de importância em seus valores. Se no único dia de folga que temos para estar com ela preferimos sair com os amigos de trabalho para “jogar uma bolinha” ou se passamos todo o fim de semana envolvido com as questões do trabalho sem sequer dar um pouco de atenção à esposa, ela obviamente entenderá que não é prioridade na vida de seu marido. Quantos maridos deixam suas esposas sós em casa para ficarem a noite inteira do sábado com seus colegas no barzinho tomando umas e outras e assistindo o MMA? Quando ela, no entanto, tem a percepção de que á coisa mais importante da vida dele, ela experimenta a plena felicidade e isso faz com que ela o admire.

Os homens, por sua vez, assevera o Dr Gray, necessitam de admiração e consideração de suas esposas. Uma boa definição nos diz que: “Admirar um homem é observá-lo atentamente com admiração, deleite e prazerosa admiração” (GRAY, 1995, 150). Quando uma mulher percebe e admira os talentos que seu marido tem, tais como, inteligência, bom-humor, integridade, honestidade, compreensão, dedicação, amor, romantismo, etc., e outras virtudes que para muitos podem até ser vistas como retrógradas, ela o admira e o aprecia cada vez mais. Na prática ela precisa verbalizar sua admiração de forma clara. Infelizmente muitas mulheres só conseguem ver e destacar os defeitos de seus maridos (e certamente, como ela, ele também os tem) e passar em rosto minando sua auto-estima e pior, minando a admiração que tem por ela. Afinal, pensa ele, vale a pena estar ao lado de quem apenas o desrespeita e desvaloriza?

Por outro lado, quando um homem se sente admirado e considerado por sua esposa, ele se sente cada vez mais inclinado a dedicar-se mais a ela com todo seu afinco. Este binômio devoção/admiração se retroalimenta tanto positiva quanto negativamente. Portanto casais sábios entenderão que precisam investir nestes pontos para tornar a relação cada dia mais saudável.

 

104. AS NECESSIDADES PRIMORDIAIS DO CASAL 5

Dando prosseguimento às nossas reflexões sobre as necessidades primordiais do casal, de acordo com os ensinamentos do Dr John Gray em Homens são de marte, mulheres são de Venus (1995, p. 150), descobrimos que a quinta necessidade primordial da mulher é a validação, enquanto que os homens precisam fundamentalmente de aprovação.

As mulheres se sentem verdadeiramente aceitas quando seus maridos são capazes de aceitar como válidos os sentimentos e as vontades de sua esposa. Quando o homem valida o que a mulher sente e deseja, ele confirma o direito que ela tem de sentir o que sente e de querer o que deseja. Como esses sentimentos não são lineares mas recursivos, ou seja, não funcionam numa simples lógica de causa e efeito, mas de uma circularidade que se retroalimenta, diz o Dr Gray: “Quando um homem aprende como fazer com que uma mulher saiba que ele tem essa atitude de validação, ele se assegura de conseguir a aprovação de que primordialmente precisa” (1995, p. 150).

Qual mulher não se sente feliz quando sabe que seu marido aceita e entende sua necessidade de ir à cabeleireira, de comprar uma bolsa ou um sapato novo? Mas não estou me referindo apenas a uma simples “anuência”. Refiro-me a um verdadeiro sentimento de que ela merece ter aquele objeto de seu desejo satisfeito.

Lamentavelmente muitas mulheres têm tudo de seus maridos (sapatos, bolsas, joias, etc.), mas não percebem que a única coisa que não têm de verdade, são seus corações. Satisfazer sua esposa é aceitar o desejo legítimo que ela tem de ser a única mulher de sua vida. Neste aspecto, a fidelidade é fundamental. Se você deseja uma relação verdadeiramente plena com sua esposa, você precisa aprender a dizer “não” às tentações e oportunidades que surgem diuturnamente diante de você.

É neste momento que o homem é satisfeito em sua quinta necessidade primordial, quando ele é visto como um marido querido, dedicado e atencioso para com sua mulher. Na realidade todo homem gosta de ser visto como um príncipe encantado vestido em uma armadura reluzente e dedicado a salvar sua prometida de todos os dissabores da vida. Conforme escreve o Dr John Gray em Marte e vênus juntos para sempre, “Quando um homem ama uma mulher sua meta principal é fazê-la feliz” (1987, p. 31). Você verá sua mulher feliz quando aprovar aquilo que ela realmente precisa.

Quando uma mulher manifesta aprovação, consentimento, assentimento e anuência para com os gestos, atitudes ou opiniões, de seu marido, reconhecendo nele as virtudes e valores que ele possui, e revela satisfação com o que ele faz, isso será para ele como uma injeção de ânimo. É bom que se diga que aprovar o que seu marido faz não significa necessariamente concordar com tudo o que ele faz. Como diz o Dr. John Gray: “uma atitude aprovadora reconhece ou procura as boas razões subjacentes ao que ele faz” (1995, p. 150). Desta forma, recursivamente, ao se sentir aprovado no que faz ele se libera mais facilmente para validar e aprovar os sentimentos de sua esposa.

Particularmente me sinto cada vez mais estimulado a entender e satisfazer as necessidades de minha esposa porque ela não esconde sua admiração e seu orgulho pelo meu trabalho e pelas minhas realizações. E quanto mais me sinto aprovado por ela, mais me estimulo a agradá-la.

Caro casal, não se cansem de agir com a validação e com a aprovação de seus cônjuges. Fazendo isso, vocês estarão construindo um muro de proteção ao redor de sua relação.

 

105. AS NECESSIDADES PRIMORDIAIS DO CASAL 6

Chegamos ao fim de nossas reflexões sobre as necessidades primordiais do casal com base nos textos do Dr John Gray em Homens são de marte, mulheres são de Venus (1995). Neste texto descobrimos que a sexta e última necessidade primordial da mulher é a reafirmação, enquanto que os homens necessitam primordialmente de encorajamento.

A reafirmação, que tanto interessa às mulheres ocorre, diz o Dr Gray “Quando um homem repetidamente demonstra que se importa, entende, respeita, valida e é devotado a sua parceira” (1995, p. 151). Ao agir dessa forma a necessidade primordial dela é suprida e satisfeita pois ela sente a reafirmação. Esta atitude de reafirmação faz com que ela se sinta continuamente amada.

Engana-se quem pensa que satisfazer todas as necessidades primordiais de uma mulher – o que a faz se sentir feliz e amada – é um verbo que se conjuga no presente do indicativo ativo. Muito ao revés, é um gerúndio, porque precisamos estar constantemente nos lembrando de reafirmar o que pensamos e o que sentimos sobre ela.

Por mais estranho que possa parecer aos homens, não adianta dizer apenas uma vez que a ama. Já conversei com um marido que me assegurou que amava sua esposa e que ela já sabia disso pois ela já a havia dito. O que ele não entendia é que a mulher sente a necessidade de que reafirmemos nosso amor e nosso afeto constantemente.

Os homens, por seu turno, necessitam primordialmente de serem encorajados por suas mulheres. Uma mulher demonstra esta atitude encorajadora quando ela “expressa confiança nas suas habilidades e no seu caráter” (1995, p. 151). Agir dessa maneira encoraja o marido. Quando uma mulher age expressando confiança, apreço, aceitação, admiração e aprovação, o que ela está fazendo é encorajando seu marido a ser tudo aquilo que potencialmente ele pode ser. Um marido encorajado assim se motiva a corresponder com a preciosa reafirmação que ela precisa.

Existem mulheres que acabam sabotando o relacionamento justamente porque não conseguem verbalizar que acreditam e que confiam na capacidade de seus maridos. Conheci um homem que jamais recebia uma palavra de encorajamento ou aceitação no que fazia. Pelo contrário. Ela fazia questão de mostrar o quão inapto ele era para ser um “pai de família” ou um “marido” em razão de sua incapacidade de mexer com eletricidade ou instalação hidráulica. Este casamento não teve um final feliz.

Ele, ao sair de casa e ter que viver sozinho, passou a resolver, ele mesmo os problemas da casa. Ainda que instintivamente e amadoristicamente ele começou a dar os primeiros passos para mobilhar sua casa nova, reformá-la e redecorar alguns dos cômodos. Ele agora estava só. Mas se sentia extremamente orgulhoso porque via que não era aquela pessoa inábil que diuturnamente sua ex-esposa fazia questão de lembrar.

Não é necessário que isso aconteça na sua vida. Quando os homens são capazes de reafirmar que ama, considera, respeita e se importa com sua esposa, ela, naturalmente responderá com uma atitude de encorajamento. Assim como ocorre com os cinco pares de necessidades primordiais que tratamos anteriormente, ocorre uma retroalimentação, uma circularidade ou uma recursividade.

Homens, nunca cansem de dizer o quanto vocês amam suas mulheres e o quanto elas são especiais para vocês. Estejam sempre dispostos a reafirmar seus sentimentos para com elas. Mulheres, estejam sempre prontas a encorajar seus maridos diante das dificuldades, expressando confiança tanto em suas habilidades quanto em seu caráter e integridade. Agindo dessa forma, estaremos nutrindo nossa relação com o melhor alimento que ele precisa e regando uma árvore que haverá de crescer forte e frondosa, produzindo muito fruto.

 

106. VOCÊ PRECISA NOTAR SEU CÔNJUGE

Nossos últimos textos vêm trabalhando a temática da empatia, ou seja, a capacidade de sentir o que o outro sente. Sabemos que desenvolver esta capacidade é crucial para que um casamento seja bem-sucedido. No entanto, não sabemos exatamente como fazer para concretizar isso.

O casal Les e Leslie Parrott, em seu brilhante texto Coloque-se no lugar dele, coloque-se no lugar dela, nos ensina que para que o casal seja capaz de trocar de lugar e, portanto, fazer com que um sinta e veja o mundo à partir do lugar do outro, são necessários três passos que eles denominaram: “Eu noto você”, “eu sinto você”, e por isso, “Ajo para ajudar”. Neste momento vamos fazer algumas considerações apenas sobre o primeiro ponto.

Antes de mais nada precisamos admitir que caminhamos pela vida acreditando que tudo seria melhor se as pessoas pensassem e agissem como nós pensamos. É claro que esta perspectiva tão comum às crianças sofre mutações com o passar do tempo. Mas sua essência permanece. Só precisamos entender que abrir mão de nosso egocentrismo nada tem a ver com sempre deixar que os outros tenham a primazia. Muito pelo contrário. Quando um casal vivencia isso, os dois vivem para satisfazer às necessidades do outro. Para tanto, afirma o casal Perrott, precisamos aprender cinco segredos.

  1. Conheça seu próprio plano. Quando falamos em nossos planos, estamos nos referindo ao que queremos fazer (jantar, caminhar, etc.), ao que queremos sentir (alegria, superioridade, etc.) e ao que queremos falar (sobre o trabalho, sobre as férias, etc.). Nossos planos são nossas metas imediatas. De uma perspectiva positiva, eles nos mantêm focados em nossos alvos, no entanto, eles podem ser constantemente refeitos e mudados.
  2. Prepare-se. A psicologia nos ensina que, quando pensamos em uma ação, já estamos, internamente, nos preparando para ela. Por isso, diz o casal Perrott: “Se você dedicar um momento a deixar de lado seu próprio plano e ao se encontrar com seu cônjuge no final do dia, fará isso com facilidade” (2015, p. 90, 91). Gaste um pouco de tempo pensando em como seu cônjuge gostaria de ser recebida em casa esta noite. Só isso já é um preparo. E isto pode ser feito a qualquer hora e em qualquer lugar.

3. Ofereça sua presença sem programá-la. Muita gente não entende que “quando nos esvaziamos dessa necessidade de mudar a outra pessoa, as coisas que nos irritam do outro se convertem em coisas que nos tornam mais íntimos” (Ibid. 2015, p. 90, 91). Quando estamos presente sem termos a necessidade de programar tudo à nossa maneira, não apenas permitimos que o outro seja quem ele é, como também relaxamos e não nos preocupamos tanto em que tudo seja como queremos. Sempre entrei em casa calçado e, somente no quarto retirava o sapato. Mas aprendi que retirar o sapato na entrada da casa não iria custar nada para mim (além de manter a casa limpa) e ainda satisfaria a vontade de minha esposa.

  1. Substitua “isso” por “você”. Que bom quando um casal consegue estabelecer uma conexão forte e uma união profunda, fruto de uma satisfatória aproximação emocional. Mas isso só ocorre quando trocamos o “isso” por “você”. Esta tese se funda no pensador austríaco Martin Buber que, ao escrever seu famoso livro Eu e Tu, sugere que para que haja um diálogo é preciso que suspendamos nossas opiniões preestabelecidas e permitamos que as opiniões dos outros possam ser plenamente expostas. Quando nosso relacionamento é do tipo “Eu-Isso”, a outra pessoa está sendo desprezada e tratada como um objeto; por isso não pode gerar conexão emocional. Modernamente os psicólogos chamam de gestor aquelas pessoas que além de não se importarem com os sentimentos dos outros, as usam para obter seus fins. Para Buber as relações devem ser “Eu-Tu”, ou seja, devem gerar um tipo de “comunhão” na qual os sentimentos dos outros são valorizados, buscados e entendidos. Neste tipo de relação os sentimentos dos outros podem nos fazer mudar. Ademais, uma das qualidades do relacionamento “Eu-Tu” é definido como: “sentir-se sentido”, ou seja, é ter a sensação de que um outro sente o que que você sente.
  2. Escutar com o terceiro ouvido. Esta expressão foi criada pelo psicanalista Theodor Reik e com ela ele queria que fossemos capazes de escutar mais do que as palavras. Na realidade, já dizia Peter Drucker, “O mais importante na comunicação é escutar o que não se diz”. Quando marido e mulher conversam há um caudaloso rio de emoções que flui entre os dois. Quando escutamos com o terceiro ouvido, diz o casal Parrott, o cônjuge “não só escuta o que está sendo dito mas também mergulha nesse rio de emoções para refletir e devolver os sentimentos que encontra” (Ibid. 2015, p. 96). É preciso atentar que “entender” não é apenas “escutar” o que está sendo dito. Escutar com o terceiro ouvido é o mesmo que escutar com o coração, empática e humildemente. E, somente quando somos humildes, estamos prontos para abandonar nosso plano.

Para concluir, lembremos que no início de sua Crítica à razão pura, Immanuel Kant nos fala da chamada revolução copernicana. O que foi isso? Foi a completa mudança de perspectiva que a ciência nos trouxe quando nos fez ver que não era o Sol que girava em torno da Terra, mas o contrário. Certamente esta primeira “ferida narcísica” nos fez ver que nós não somos o centro do universo. Da mesma forma, precisamos reconhecer que para notar adequadamente nosso cônjuge, precisamos reconhecer que o mundo não gira em torno de nós. Lembremos das palavras de Herb Cohen (1932-2010): “Escutar de forma eficaz requer mais que ouvir as palavras transmitidas. Exige que se encontre sentido e compreensão no que está sendo dito. Afinal, os significados não estão nas palavras, mas nas pessoas”.

 

107. VOCÊ PRECISA SENTIR SEU CÔNJUGE

Aquilo que chamamos de “Radar” é o acróstico de uma palavra que vem do inglês (Radio Detection And Randing) que significa detecção e telemetria por rádio. Este dispositivo nos permite detectar objetos distantes e medir sua distância por meio de uma antena transreceptora de rádio. O que ocorre é que ondas eletromagnéticas são emitidas pela antena e, ao baterem em um objeto (avião, navio, etc.) a onda, refletida, volta e é novamente detectada. Ao retornar é possível detectar, em função do tempo entre o envio e o retorno, a distância e a localização do objeto.

Todo ser humano é dotado de uma espécie de “radar emocional” que nos permite perceber até mesmo os sinais mais fracos e insignificantes que são enviados pelo nosso cônjuge. O casal Parrot nos diz (2015, p. 103) que “Quando você aprende a detectar sinais que seu cônjuge está transmitindo, quando consegue sintonizá-los, estará colocado em prática o segundo passo da troca de lugares”.

É claro que nós sempre podemos melhorar nossa capacidade de perceber os sinais emitidos por nosso cônjuge. Mas isso significa que precisamos parar de atentar apenas para o que é dito. Quanto tempo perdi discutindo com minha esposa apenas centrado naquilo que ela disse? É preciso ouvir além das palavras e observar os aspectos não verbais emitidos. Nossa atenção precisa se voltar para o tom da voz, a expressão do rosto, ao contato visual, enfim, à pessoa como um todo. Desta forma, estaremos “sintonizando os sentimentos que não são ditos e sendo sensível aos sinais do coração de seu marido e esposa” (Ibid. 2015, p. 104).

Na realidade, estima-se que 90% de nossa comunicação emocional é não verbal. Daí a importância de atentar para o que seu cônjuge está sentindo. O psicanalista Daniel Stern (1934-2012) escreveu: “Nosso sistema nervoso está construído para ser captado pelo sistema nervoso do outro, para poder sentir os outros como se estivéssemos em sua pele”. Estas palavras nos asseguram que todos nós já nascemos com nossos radares emocionais. Este processo no qual nos reconhecemos no outro é chamado de “processo de espelho” ou, por alguns autores de “sincronização social”. Na realidade fomos criados para sentir os sofrimentos e as alegrias dos outros, e mais especificamente daqueles que nos são mais próximos, como nossos cônjuges. Quando trocamos de lugar com nosso cônjuge experimentamos uma ressonância empática que pode melhorar nossa relação.

Mas se já estamos equipados, por que não somos mais empáticos com nosso cônjuge? Dando uma resposta bem simples, por falta de atenção. Ainda que tenhamos a tendência à empatia, é preciso incentivar nossa “sintonia” para que ativemos a empatia em nosso cérebro, da mesma forma como ter um rádio em casa de nada adianta se não “sintonizarmos” nosso “dial” para receber melhor a transmissão. Quando vemos alguém em grande sofrimento temos a inclinação de nos focar e atentar à dor do outro. Mas, nem sempre temos a mesma atenção quando nossa esposa está lavando a louça ou passando a roupa. Mas não precisa ser assim. Dependendo do tipo de pessoa que você é (compreensivo, personalista ou analista), existem atitudes que você precisa tomar.

Se você é uma pessoa compreensiva, seu coração ocupa um lugar mais importante que sua mente. Sendo assim, você precisa se afastar um pouco da realidade para buscar uma perspectiva mais objetiva do que está ocorrendo, uma vez que você corre o risco de projetar suas próprias emoções em seu cônjuge. Pessoas assim tendem a “sentir” tão intensamente o que percebem da dor de seu cônjuge que acabam no que se convencionou chamar de “fadiga compassiva”. O que é pior, pessoas excessivamente compreensivas querem “cuidar” tanto de seu cônjuge que acabam por sufocá-las.

Se você é uma pessoa personalista seu comportamento tende a ser diferente. O casal Parrott sugere que você “Deve tomar consciência para se afastar um pouco de si mesmo e prestar mais atenção ao que seria um momento em particular com seu cônjuge” (ibid, 2015, p.112). E mais à frente eles arrematam: “você nunca se distanciará das feridas de sua vida até perceber que trocar de lugar é seu bilhete de saída” (ibid, 2015, p.113). A pessoa focada em si mesmo não sabe, mas está sabotando o que mais deseja obter, ou seja, uma vida feliz e amorosas. É preciso olhar para além de suas próprias necessidades e carências e buscar suprir as de seu cônjuges.

Se, no entanto, você é uma pessoa analista, você naturalmente colocará sua cabeça ou sua mente à frente de suas emoções e de seu coração. Isso significa que, se você realmente deseja ligar seu “radar” emocional seu grande desafio consistirá em adotar uma postura mais compreensiva do que aquela que você costuma utilizar ao se relacionar com seu cônjuge. Em outras palavras, você precisa permitir que as emoções ocupem mais espaço em sua vida e em suas perspectivas a fim de alcançar uma maior sintonia com seu cônjuge e uma imagem mais plena da realidade. Afinal, ainda que você não queira, “você tende a se mais racional do que emocional e centrado, mesmo sem querer” (ibid, 2015, p.114). Em resumo, o analista precisa entrar um pouco na vida de seu cônjuge para experimentá-la e, assim, permitir que tanto a mente quanto o coração andem juntos.

Finalmente, precisamos entender que, não importa que tipo de pessoa você seja, suas emoções são mais fáceis de serem detectadas do que você pensa, ainda que busque ocultá-las. Nossas expressões faciais, nossa linguagem corporal, o tom de nossa voz nos “entregam” o tempo todo. Agora pense. Se isso é uma realidade em condições normais, imagine se você estiver realmente desejando, com toda a mente e coração, compreender seu cônjuge. Fatalmente você conseguirá compreender seu cônjuge.

 

108. VOCÊ PRECISA AJUDAR SEU CÔNJUGE

Se existe uma verdade que precisa ser ressaltada quando tratamos de empatia é que, como afirmava James D. Paker, filantropo australiano nascido em 1967, “A empatia sozinha importa muito pouco se não agimos”. Dando continuidade aos ensinamentos transmitidos pelo casal Parrott, “A empatia consegue isso. Ela nos muda. Desperta e nos leva a agir de uma maneira diferente” (PARROTT, 2015, p. 120). De fato, depois de abrir mão de nossos planos e de ligar nosso radar emocional, estaremos preparados para agir.

O casal Parrott (ibid. 2015, p. 120) nos diz que um aluno arguiu à famosa antropóloga Margaret Mead sobre qual seria o primeiro sinal de civilização de uma cultura. Ela respondeu: “um fêmur curado”. Parece uma resposta estranha. Mas ela elucidou-a dizendo que quando não existe civilização, não há fêmures curados. Um fêmur curado aponta para a existência de preocupação, ou seja, que alguém teve que fazer algo por aquela pessoa ferida, caçado para ela até que ela ficasse curada. Desta forma, encerra, a compaixão é o primeiro sinal da civilização.

O mesmo ocorre com os casamentos. Na realidade, sem o cuidado, a empatia se torna apenas em uma forma de manipulação e egocentrismo. Um psicopata pode deixar de lado seus planos por um tempo e até interessar-se por alguém, mas seria incapaz de cuidar de sua vítima. Esta é a linha letal de um casamento: “Depois que a pessoa chega ao ponto em que não se importa mais, a relação corre riscos, e sua sobrevivência também” (ibid. 2015, p. 122). Em outras palavras, sem afeto, sem interesse e sem cuidado, o casamento é insustentável.

A palavra “cuidado” vem do latim: “cogitare” que significa “pensar” ou “imaginar”. Isso é interessante porque nos dá uma pista: uma pessoa que cuida é uma pessoa que pensa e que tem a outra na mente. Em outras palavras, a essência do cuidado está no nosso interesse pelo outro. Quando realmente nos importamos com nosso cônjuge nos envolvemos por inteiro com ela; com toda nossa mente e coração. Sentimos o que ele sente e pensamos o que ele pensa. É como diz Aristóteles: “uma alma vivendo em dois corpos”, afinal, todos nós cuidamos do que valorizamos. É como fazer para aumentar o afeto, o cuidado e o interesse pelo seu cônjuge? Simplesmente fazendo o que sua sensação de empatia o manda fazer.

Mas temos que compreender que há uma grande diferença entre empatia e simpatia. O casal Parrott nos diz que “a simpatia consiste em parar na beira e jogar um salva-vidas a uma pessoa que está lutando na água. (…) A empatia é muito mais arriscada. É se enfiar na água e lutar com as frias ondas que subjugam a pessoa para leva-la até a praia” (ibid. 2015, p. 129). Nem todas as pessoas chegariam a tanto.

No casamento, a empatia é fundamental ainda que arriscada. Ela é um desafio para quem ama porque implica em mergulhar (de coração e mente) na vida e na situação de seu cônjuge para, com ele, sair das águas turbas. Quando se faz isso, nunca mais veremos nosso cônjuge da mesma maneira. Segundo ensinam o casal Parrott (ibid. 2015, p. 130), passamos a ter uma nova perspectiva, que nos fará ser mais paciente, ter mais graça, cuidado e interesse por ele.

Desta forma você está sendo desafiado a correr o risco de notar mais e melhor seu cônjuge, sentir mais e melhor o que ele sente e mostrar mais preocupação e cuidado para com seu cônjuge. Mas, lembre-se, a empatia é algo arriscado; não é para covardes e envolve riscos, mas riscos que valem a pena.

 

 

 

  1. O MEU, O SEU E O NOSSO: AS FINANÇAS DO CASAL

Que todos os casais enfrentam problemas, é fato. Mas problemas na área financeira são os mais perigosos para a vida de um casal. E esses problemas começam bem cedo na vida do casal. Quando o casal ainda está namorando e preparando-se para o casamento a bomba costuma explodir. De acordo com Gustavo Cerbasi (2004, p. 49) “Parte dessa crise é financeira, parte é de responsabilidade pessoal. Sim, os homens surtam ao perceber a grande responsabilidade que terão pela frente – ainda fruto da sociedade machista e da falta de capacidade de compartilhar problemas. Uma forma muito simples de suavizar essa passagem do mundo dos sonhos para o das responsabilidades é passar a dividir seus projetos antes mesmo de falar em casamento. Compartilhem sonhos e metas para a vida. Dividam medos e angústias. Comecem a construir planos de independência financeira juntos, simulando os custos mensais que teriam no futuro, se casados”. Mas não descuidem de conversar sobre esse tema, afinal, tirando a infidelidade conjugal, as estatísticas revelam que problemas financeiros são a segunda razão para o divórcio.

Mas, considerando que hoje o casal está envolvido em uma atividade profissional, que tipo de modelo poderíamos trazer para a nossa vida com o fim de servir de caminho para nosso relacionamento com o dinheiro? Em geral eu diria que existem três formas de lidar com o dinheiro que entra no final do mês na conta do casal.

  1. O modelo liberal. Eu já celebrei casamentos em que o casal resolveu casar em regime de separação total de bens, e isso, repercutiu na forma como eles viviam sua vida financeira. Normalmente esse é o tipo do casal que divide as contas em dois tipos: as pessoais e as conjuntas. Quanto às contas pessoais, cada um paga suas próprias contas (prestação do carro, plano de saúde, conta do celular, etc.) e o que sobra é colocado em uma poupança pessoal sem que o outro tenha acesso à ela. Quanto às contas conjuntas, elas são divididas da forma mais equânime possível. Assim enquanto um paga o aluguel o outro paga o condomínio; enquanto um paga a luz o outro paga a água; enquanto um paga a internet o outro paga a TV por assinatura. Pergunto: esse tipo de casamento pode dar certo? A resposta é sim. Pois, como dizia um certo filósofo do direito, Hans Kelsen, “o acordo entre as partes tem força de lei”.
  2. O modelo de compartilhamento. A maioria dos casais que conheço e mesmo aqueles mais antigos, preferem o modelo de compartilhamento amplo, ou seja, aquele no qual o salário recebido pelo casal no final do mês é colocado sobre a mesa e não existe mais o que é “meu” nem o que é “seu”. Estes casais costumam casar com o regime de comunhão parcial ou comunhão total de bens. Para eles, se eles são capazes de dividir seus sonhos, suas vidas, seus corpos, por que não dividiriam seu dinheiro? Cito as palavras do casal André e Rita Kawahala (2008, p. 45) “Na vida conjugal, não existe propriedade material que não pertença a ambos, marido e mulher. Ou melhor, não deveria existir. Mas as condições atuais, em que o eu é mais importante que o outro, o egoísmo prevalece sobre quase todas as decisões pessoais e a competição é o centro da vida, o casal acaba cedendo e praticando, no novo lar, os mesmos preceitos sociais sobre os bens materiais”.
  3. O modelo percentualista. Durante mais de uma década realizando casamentos e conversando com casais, só abordava os dois modelos acima. Até que um dia um casal de bancários bateu à minha porta pedindo que eu realizasse seu matrimônio. Quando chegamos no tema que trata das finanças do casal, apresentei os dois modelos acima. Foi então que eles me disseram que tinham um modelo que julgavam melhor para a vida deles. E a explicação foi muito simples. Imagine que o noivo ganhe 3 mil reais e que a noiva ganhe 2 mil reais. A renda familiar é de 5 mil reais. No entanto, seguindo o raciocínio daquele casal, o noivo era responsável por 3/5 das despesas e a noiva por 2/5. Da mesma forma, ele se responsabilizava por 3/5 das despesas e ela por 2/5 delas. Assim sendo, ninguém poderia dizer que contribuía mais do que o outro para a relação, porque, percentualmente, cada um contribuía com a mesma proporção. Pergunto: esse tipo de casamento pode dar certo? A resposta é um sonoro sim. Mas ele exigirá uma planilha muito bem feita e executada. Nem todos conseguem algo assim.

A questão que se impõe é: qual o modelo melhor para a família? Na realidade não existe um modelo “ideal” para a família. Nem mesmo existem apenas três modelos. O que é necessário é que o casal seja capaz de conversar muito a respeito do assunto e definir seu próprio modelo. Em outras palavras, é preciso descobrir quais valores nortearão a vida econômica do casal. É preciso, contudo, que eles levem em consideração os problemas que eventualmente possam surgir – como o desemprego de um dos casais -, e, acima de tudo uma relação em que o respeito e a justiça, e não, o capital seja o padrão. Que parte hiperssuficiente não imponha sobre a parte hipossuficiente sua opinião apenas porque ganha mais, mas que tudo possa ser discutido como iguais. Na Encíclica Mater et Magistra nº 74 está escrito: “A riqueza econômica de um povo não depende da abundância global de bens, mas também e mais ainda, da real e eficaz distribuição deles, segundo a justiça” (citado por FERNANDES, 1982, p. 57). Agora aplique essa verdade à sua família e imagine como as coisas se dariam quando a riqueza financeira da família não estivesse ligada à quantidade de bens que o casal foi capaz de angariar e sim, no quanto eles desfrutaram juntos de tudo isso.

É importante que cada cônjuge tenha uma verdadeira noção de que tipo de pessoa você é em relação ao dinheiro para que você não acabe se surpreendendo com sua futura esposa nem ela se decepcione com você. Para Gustavo Cerbasi, existem pelo menos cinco estilos de como lidar com o dinheiro. Você pode ser, em primeiro lugar, um poupador, ou seja, aquele que sabe “que é importante guardar e, por isso, não se importa nem um pouco em restringir ao máximo os gastos atuais (…) para conquistar a independência” (2004, p. 22); em segundo lugar existe aquele que é gastador, ou seja, aquele que gasta tudo o que tem (e até o que não tem), porque “gostam de ostentar” e de destacar com coisas caras; em terceiro lugar está o indivíduo descontrolado, ou seja, aquele que não tem ideia do quanto entra e do quanto sai de sua conta. Eles vivem cortando gastos, mas parece que nunca é o bastante; em seguida vem o desligado, que é aquele para quem a fatura do cartão de crédito é sempre uma surpresa todos os meses; finalmente temos os financistas, que são rigorosos com o controle dos gastos justamente porque têm o propósito de economizar. Eles economizam pensando tanto no presente imediato (comprar algo com um desconto maior) como pensando no futuro distante, economizando para a velhice que, inevitavelmente, chegará.

Com isso em mente, você terá um instrumento a mais para poder discutir com seriedade sobre o futuro da relação financeira do casal. O que jamais pode acontecer é que (a) o casal evite conversar sobre esse assunto; (b) quem ganha mais imponha sobre o outro todas as questões relacionadas às finanças; (c) quem ganha mais exponha publicamente o outro como sendo alguém que não contribui para o sustento do casal e, finalmente, que (d) um esconda do outro seus gastos e minta sobre seu salário. Nenhum casamento que trata as finanças dessa forma terá muito futuro.

 

Referências bibliográficas

CERBASI, Gustavo. Casais inteligentes enriquecem juntos. São Paulo: Gente, 2004

FERNANDES, Antônio M. Casais em reflexão vol. 1. São Paulo: Edições Paulinas, 1982.

KAWAHALA, André & KAWAHALA, Rita. Encontros para novos casais. São Paulo: Paulinas, 2008

 

 

 

  1. SEIS PASSOS PARA DESTRUIR O AMOR

Todos os casais já passaram por momentos difíceis nos quais muitas coisas mal-ditas foram pronunciadas, xingamentos, acusações, incompreensões, etc. Quando o casal tem a possibilidade de se reerguer desses problemas por meio de uma conversa franca, então a relação pode ter possibilidades. Afinal não amamos uma pessoa perfeita. Mas quando guardamos o ressentimento, deixamos de perdoar e permitimos que o comportamento infantil de vingança e de transferência de culpa inunde nosso coração, então as coisas podem acabar mal. Existem, de acordo com o psicólogo John Gray – em seu livro Marte e Vênus juntos para sempre (1997) – seis sentimentos que, quando vão se acumulando, fazem com que, inevitavelmente, deixemos de amar nosso parceiro.

  1. Perda de confiança. Este primeiro sentimento ocorre quando subitamente fica “difícil confiar que seu parceiro esteja fazendo o melhor possível ou que esteja ligado na relação. De repente você começa a duvidar de suas melhores intenções […] e você começa a julgá-lo como se ele não se importasse com você” (1997, p. 255). As estatísticas demonstram que esta tendência é mais comum entre as mulheres. É muito mais difícil para ela voltar a confiar.
  2. Perda de atenção. De repente, talvez em função de tantas palavras mal-ditas e de tantos maus-tratos, xingamentos e ressentimentos você, subitamente, sente como se não ligasse mais para nenhuma necessidade ou sentimento de sua parceira. Neste caso são os homens aqueles que precisam trabalhar mais arduamente para vencer esse sentimento.
  3. Perda de apreciação. Você lembra que em outros momentos a relação foi a razão de tanta alegria e felicidade, mas de uns tempos para cá, você vem começando a sentir que sua relação já não lhe dá nada. Você tem a sensação de que contribui mais do que seu cônjuge para a relação. Com esse repentino lapso de memória, diz o Dr, John Gray, “você se sente subitamente deprimido e totalmente depreciado pelo companheiro” (1997, p. 256). Neste caso são as mulheres as mais afetadas por esse sentimento e que precisam lutar mais arduamente para vencê-los.
  4. Perda de respeito. De repente, diz-nos o Dr Gray (1997, p. 256) você começa a negar o amor e a punir o seu cônjuge. Você se surpreende desejando que ela seja infeliz e passa a pensar, imediatamente só em si. É como se você desejasse puni-la por algo. Você trabalha e quer comprar um presente para sua esposa, mas acha que está fazendo pouco por ela. Ela não merece seus gestos de respeito. São os homens que devem lutar mais arduamente para enfrentar essa tendência que os atinge muito mais fortemente. Segundo o Dr. Gray, “é importante que ele não sinta que tenha de se anular para satisfazê-la. Do contrário irá se enfraquecer. Em um momento ele será capaz de voltar e apoiá-la, depois de ter feito algo para si mesmo. Ele aprenderá gradualmente que poderá agradá-la, sem desistir do que é. […] Esse entendimento dá ao homem a flexibilidade para conquistar ganhos após ganhos em uma relação em que ambos alcançam o que desejam” (GRAY, 1997, p. 257).
  5. Perda de aceitação. Para você aquela era a pessoa mais perfeita que você havia conhecido. De repente, começa a perceber todas as coisas que ele faz de errado ou que precisam ser modificadas. Neste momento, com a melancolia, vem a compulsão para mudá-lo e melhorá-lo. Num instante ele é o amor da sua vida, no outro você quer pô-lo no olho da rua por ter cometido um erro. Como esse sentimento atinge mais as mulheres, elas passam a pensar que eles não entendem suas necessidades. Para ela, vencer essa tendência significa ter que abrir mão da necessidade de mudá-lo e vê-lo e aceitá-lo como ele é.
  6. Perda de compreensão. Às vezes nossos cônjuges fazem ou dizem algo que nos machuca. Mas quando precisam de nós, estamos imediatamente prontos para ajudar. Mas quando ficamos impacientes ou desinteressados com a pessoa que mais amamos na vida e ficamos na defensiva achando que estamos sendo atacados quando ela está apenas desabafando, então temos um sinal de perigo. São os homens que enfrentam esta luta com mais frequência. Ele precisa ter tempo para considerar o que ela está passando e compreender os seus sentimentos.

Se por alguma razão estamos sentindo que não temos mais o amor que precisamos e estamos culpando nosso cônjuge por isso, então temos que aceitar que precisamos de ajuda. E para isso precisamos primeiro abrir nosso coração fechado para o outro e reconhecer que todos temos problemas e que podemos vencê-los. Em segundo lugar, ao invés de procurar mudar nosso parceiro, poderíamos nos concentrar em nos mudar. Para o Dr. Grey (1997, p. 259), “se nos sentimos abertos e no exercício do perdão, podemos nos reconcentrar e buscar meios que resolvam os problemas que originalmente nos aborreceram”. Ter essa atitude positiva, proativa e construtiva é mais difícil, é bem verdade, do que simplesmente desistir da relação. Mas é o caminho certo para achar tudo o que se perdeu pelo caminho.

 

 

 

  1. O QUE É EMPATIA?

O ilustre empreendedor norte-americano Henry Ford, criador da Ford Motor Company, escreveu certa vez que: “Se há um grande segredo para o sucesso na vida, este consiste na habilidade de se colocar no lugar da outra pessoa e ver as coisas tanto sob a perspectiva dela como sob a sua”. A esta capacidade de se identificar com o outro a ponto de entender suas razões, sua situação, seus sentimentos e seus motivos, damos o nome de empatia.

A empatia é talvez o elementos mais fundamental para o sucesso de uma relação. De fato, escrevem Les e Leslie Parrot (2015, p. 24) “Imagine como ela melhoraria sua habilidade de tomar decisões junto com seu cônjuge, em trabalhar em equipe, em superar os maus tempos, em conseguir objetivos e em desfrutar de intimidade física. Em poucas palavras, imagine como uma pequena medida de empatia mútua aumentaria sua felicidade e uniria para sempre seus espíritos”. Em outras palavras, como seria benfazejo que cada um pudesse ter a capacidade de olhar o mundo com os olhos da pessoa com que você casou.

Certamente um casamento assim teria muito mais frescor, muito mais cuidado mútuo no que se diz e no que se faz, compreenderíamos muito mais as limitações de nosso cônjuge e desenvolveríamos muito melhor nossas conversas e nossos projetos, em resumo, seríamos mais sensíveis e menos críticos, além de suprir melhor as necessidades do outro. Em uma palavra, teríamos mais amor.

A empatia vem, em primeiro lugar, da união dos cérebros e dos corações. As novas descobertas realizadas na esfera das ciências neuronais têm muito a contribuir no nosso debate sobre empatia. Os cientistas estão se voltando para o que chamam de “calculo neural”, ou seja, a interação dos cérebros de marido e mulher. Carl Marci, da Universidade de Hervard, chegou à dedução, em seus estudos, de que existe o que ele chama de “logaritmo para a empatia”. Em seu logaritmo ele reduz a uma equação matemática o padrão fisiológico das duas pessoas quando estão no ápice de sua compenetração, ou seja, quando um se sente plenamente entendido pelo outro. Isto nos faz lembrar as palavras do senador americano de origem nipônica S. I. Hayakawa: “Só quando entendemos completamente as opiniões e atitudes diferentes das nossas e suas razões, compreenderemos melhor nossa posição no esquema das coisas”. Quando conseguimos este tipo de troca de lugar com nosso parceiro que nos permite entender os sentimentos, desejos, ideias e ações de nosso cônjuge, então atingiremos aquilo que foi descrito pelo poeta Walt Whitman que escreveu: “Não pergunto como se sente o homem ferido, eu mesmo sou esse homem”. Esta relação entre cérebro e coração nos faz lembrar as palavras de Pascal: “O coração tem razões que a própria razão desconhece”. Em outras palavras, na empatia, amamos nosso cônjuge com nossa mente e com nosso coração. Segundo afirmam Les e Leslie Parrott (2015, p. 28) “A maioria faz uma ou outra coisa bastante bem; ou sentimos a dor de nosso cônjuge com o coração ou tentamos solucionar seus problemas com a cabeça”.

É imprescindível compreender que a verdadeira empatia conjugal precisa ser mútua e recíproca. Esta é uma verdade que os dicionários não chegam a explicitar em sua definição. Uma vez atingido este alvo o resultado é a mais plena harmonia conjugal. Esta plena harmonia é o resultado de uma empatia que envolve tanto nossas habilidades analíticas e cognitivas quanto nossa ressonância e intuições emocionais, ou seja, mente e coração. Somente com essas duas assas o avião da empatia decola e isso, quando os dois estão sentados no kockpit do piloto. Somente assim o casal gozará plena harmonia conjugal.

 

Referência Bibliográfica:

PARROTT, Les & PARROTT, Leslie. Coloque-se no lugar dele. Coloque-se no lugar dela: Como entender melhor as necessidades e expectativas de seu cônjuge. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2015.

 

 

 

  1. EMOÇÃO E EMPATIA

O ilustre psicólogo e escritor americano Daniel Goleman disse certa vez que “A empatia se apoia na consciência de nós mesmos”. Começo com essas palavras para tentar dizer que boa parte das grandes discussões entre o casal está muito mais baseada em fatores emocionais do que, propriamente, no que dizemos verbalmente.

Foi em 1990 que o psicólogo de Yale, Peter Salovey e John Meyer da Universidade de New Hampshire popularizaram a ideia de “inteligência emocional” como o instrumento mais adequado para se levar a máxima potência as interações humanas. Ora o casamento é, por definição, um tipo especial de interação humana. E, já que a empatia é vista como a forma mais elevada desta inteligência emocional, o matrimônio é o terreno mais adequado em que se pode desenvolver uma familiaridade intima. A tese defendida por Goleman diz que “se não sabemos o que estamos sentindo, não podemos deixar nossos sentimentos particulares de lado por um momento para ingressar no mundo emocional de nosso cônjuge” (PARROTT, 2015, p. 64). Isto ocorre, segundo Goleman (Ibid, p. 64) porque quando estamos presos em nossas próprias e intensas emoções, estamos em um vetor diferente e, por natureza, fechado às chaves mais sutis que permitem a comunicação. É por isso que a empatia, como afirmamos acima, se apoia na consciência de nós mesmos. Desde Sócrates que já ouvíamos a lição: “conhece-te a ti mesmo”.

É justamente quando estamos mais inclinados à agir emocionalmente que precisamos encontrar o caminho da empatia para poder entender a emoção do outro, exercitando a compaixão para entender o que está acontecendo dentro do outro. Quando o casal está se perdendo em um debate emocional, um dos dois precisa ter a sabedoria de procurar compreender o que vai na cabeça do outro e agir de forma mais compassiva. Para tanto é preciso atentar para nosso próprio terreno emocional. Ao invés de responder de forma ácida e caustica, do tipo: “só converso com você quando você sair de sua crise”, o que elevaria ainda mais a tensão emocional, é preciso abrir caminho para nossos sentimentos e para os do outro. Quando abrimos mão de nossos próprios sentimentos, damos espaço para a empatia. Não adianta simplesmente dizer que a emoção nos cegou a razão e, por isso, acabamos ferindo a quem amamos. Mas, precisamos nos lembrar e refletir nas palavras do escritor grego Esopo (620-564 a.C.) que dizia: “As emoções são bons servos, mas péssimos professores”.

Aqueles que são emocionalmente inteligente não passam por esse tipo de problema porque são capazes de encontrar as razões que estão escondidas por trás das emoções mais irracionais. Estas pessoas são capazes de desenvolver o que os psicólogos chamam de “meta-humor”, ou seja, a capacidade de compreender as próprias emoções.

 

 

 

  1. A EMPATIA E OS ESTILOS SOCIAIS

Relendo o matéria de Les e Leslie Parrot sobre o momento em que Les estava no meio de seus estudos doutorais sobre empatia, eles debatiam este tema até a exaustão. Foi neste instante em que perceberam que a tese da empatia como mudança de lugar, ou como assumir – mesmo que seja por um instante – o lugar em que o outro está, além de implicar na presença concreta e participativa dos dois elementos do ser humano – a compreensão cognitiva (razão) e a intuição emocional (coração) – chegaram a estabelecer a tese de que existem o que eles chamam de “quatro estilos sociais” que caracterizam cada um dos cônjuges na relação. Estes quatro estilos são: compreensivo, personalista, empático e analista, e cada um dos membros da relação (marido ou mulher) acabam assumindo um desses quatro estilos. Vamos examinar cada um deles particularmente.

  1. O compreensivo.

Este é aquele cônjuge que valoriza mais os sentimentos do que o pensamento. Antigamente, dize o casal Parrot (2015, p. 31), “nos primeiros dias da aviação, os pilotos utilizavam uma frase que hoje nos assustaria: ‘Improvise no caminho’”. Claro que no início do século XX ainda não existiam os instrumentos que são utilizados hoje nos grandes aviões de passageiros. Por isso, os pilotos só podiam contar com seus instintos ou sentimentos. Sem o altímetro, como perceber se o avião estava subindo ou descendo? Simples, os pilotos apenas sentiam pressão no assento, era sinal de que estavam subindo. Da mesma forma, se sentissem o ouvido doer mais ou ainda a sensação de que estavam mais leves, era sinal de que o avião estava descendo. A mesma coisa pode acontecer com um casamento. Há pessoas que confiam apenas em seus sentimentos para determinar a situação de seu casamento. E, se esta pessoa for muito resistente à mudanças, isso pode ser desastroso para a relação. Segundo o casal Parrot, “O problema é que seu estilo compreensivo o faz tirar conclusões sem fundamentos, que se baseiam mais nos sentimentos que nos fatos” (PARROT, 2015, p. 32). Gente assim pode ver uma palavra de desagrado onde não existe nada ou ainda, pode projetar seus próprios sentimentos no comportamento do cônjuge. Isso acontece porque vemos o mundo que nos cerca à partir de nossos próprios valores e perspectivas. Mas nem tudo está perdido! O cônjuge compreensivo está perto de ser uma pessoa empática e de uma relação mais plena.

  1. O personalista.

O casal Parrot utiliza o conto de Rapunzel para exemplificar essa condição. Segundo a estória, Rapunzel era uma linda jovem que vivia presa em uma torre por uma bruxa que insistia em dizer que ela era muito feia. Um dia, quando Rapunzel estava cantando, um príncipe ouviu sua linda voz e ao chama-la, ficou encantado com sua beleza. Ele pede que ela jogue seu cabelo (que nunca havia sido cortado) pela janela e sobe até ela para pedi-la em casamento. Segundo o casal Parrot “A mensagem implícita nesse conto de fadas é simples e profunda. A prisão de Rapunzel não é a torre, mas o medo de ser feia e sua incapacidade de amar. Os olhos de seu príncipe, no entanto, dizem que ela é amada, e, assim, fica liberada da tirania da sua imaginação, que a fazia pensar que não valia nada” (PARROT, 2015, p. 33).

O cônjuge personalista é como Rapunzel. Aprisionado pelos seus medos. Esses medos tanto podem ser as palavras cruéis que ouvia quando criança, as dores causadas por um casamento anterior que fracassou, como podem ser a violência que sofre em sua relação. O fato é que o personalista não sofre pelo que é, mas pelo que os outros fazem com ele. Ele acaba se retraindo para evitar mais dor. Por isso, para o personalista “é difícil amar o outro com sua cabeça ou com seu coração. Sua sensibilidade à dor potencial e seu rechaço o mantém sempre focado em si mesmo” (PARROT, 2015, p. 34). É como a estória do gato escaldado. Ele sempre fugirá da água, mesmo que ela esteja fria. Infelizmente, para o personalista, a única forma de evitar a dor é proteger seu coração e guardar-se de tudo e de todos, sem se abrir para ninguém. Lamentavelmente isso também pode incluir o seu cônjuge. Se você vive preso a um passado doloroso, lembre-se, há uma saída: o seu príncipe/princesa te vê com outros olhos. Aceite isso e se abra ao outro.

  1. O analista.

O cônjuge analista é aquele que acha que a verdadeira empatia tem a ver com a possibilidade de entender o estado psicológico do cônjuge e dar uma explicação com base a psicologia popular. O que eles não conseguiam ver é que a empatia nada tem a ver com explicações psicológicas. Normalmente pessoas assim dizem coisas do tipo: “Você está projetando suas necessidades em mim”, ou, “Talvez você se sinta assim porque sempre foi abandonado em suas relações anteriores”. O que estas pessoas fazem, na realidade, é deixar o verdadeiro problema de seu companheiro de lado para passar a analisar as supostas causas e curas. O analista não consegue entender que não importa as boas intenções, a verdadeira empatia nem usa psicologia para diagnosticar o parceiro nem presume saber a “verdade” sobre o que está acontecendo com ele. Eu mesmo já passei por isso. Temos que entender que “Analisar com sua cabeça e rechaçar a importância de seu coração nunca o levará à troca de lugar” (PARROT, 2015, p. 36), ou seja, à verdadeira empatia. Assim como acontece com o compreensivo, o analista tem a outra metade necessária para ser empático.

  1. O empático.

A verdadeira empatia ocorre naquele lugar em que a análise e a compreensão se encontram, ou seja, no lugar onde o pensamento consegue conviver com o sentimento. Neste lugar, a cabeça e o coração agem como moderadores um do outro. Quando o casal consegue chegar juntos a este estágio eles atingiram a possibilidade de uma convivência e de harmonia emocional plena. Isso é empatia: ter a capacidade de pensar (mente) e sentir (coração) como o outro. Não se engane. Não é algo simples. Mas é possível, desejável e, com a graça de Deus, vocês podem chegar até este estágio da vida conjugal. Como disse o ilustre poeta épico Homero, autor de Odisséia e Ilíada, “Assim, eu aprendi ao longo do tempo, meu coração aprendeu a brilhar pelo bem de outros e a se derreter por sua aflição”.

 

Referência Bibliográfica:

PARROTT, Les & PARROTT, Leslie. Coloque-se no lugar dele. Coloque-se no lugar dela: Como entender melhor as necessidades e expectativas de seu cônjuge. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2015.

 

 

 

  1. CASAMENTO E EMPATIA

Muita gente nos procura para perguntar qual o segredo de um casamento bem-sucedido. Existem muitas possibilidades de respostas no mercado, no entanto, acredito que a mais relevante tem a ver com a capacidade de trocar de lugar com seu cônjuge. O que quero dizer com isso? Quero dizer que os casais precisam aprender a desenvolver a empatia. Mas o que é isso? Simplesmente, a capacidade de colocar-se no lugar do outro.

Se dermos uma olhada na palavra “empatia” veremos que ela chegou até nós vinda do grego e é formada de duas partes: o prefixo “em” que significa “dentro”, e a raiz “patos” que significa dor, sofrimento. Ser empático, portanto, significa ter a capacidade de sentir a mesma dor que o outro está sentindo. O contrário da empatia é a antipatia. E sobre essa palavra, certamente, você já deve saber bastante coisa. O que precisa ser colocado de forma clara neste primeiro momento são as palavras de Les e Leslie Parrott em seu livro Coloque-se no lugar dele – coloque-se no lugar dela, lançado pela editora Thomas Nelson em 2015. Neste textos este casal de autores afirmam categoricamente: “Os casais mais felizes sobre a face da terra são aqueles que se tornam especialistas em trocar de lugar” (2015, p. 14).

É fundamental que o casal desenvolva a capacidade de ter empatia porque é ela que nos dará uma visão mais adequada do que nosso cônjuge sente, percebe, compreende e julga. Quando não desenvolvemos a empatia trabalhamos na ignorância e dessa forma, nada sabemos sobre nosso cônjuge. E a consequência natural da ignorância é a confusão, ou seja, nos surpreendemos diante de certas atitudes de nosso cônjuge e, de repente, perguntamos a nós mesmos: puxa! Ele(a) pensa assim mesmo? São esses seus valores e prioridades? Aquele que ignora o que seu parceiro pensa ou sente, não consegue a verdadeira felicidade conjugal.

Há um ditado anônimo que diz: “As duas partes da empatia são, as habilidades (a ponta do iceberg) e as atitudes (a parte submersa)”. Estes dois elementos podem ser desenvolvidos em nossa relação conjugal, mas precisamos estar cientes de que, segundo o conhecido psicólogo de casais Bernard Guerney, “Mais que qualquer outra deficiência em particular, acho que a falta de empatia mútua é o que faz as espadas brandirem em um casamento”. Esta verdade nos coloca diante de uma outra verdade que raramente é reconhecida: os casais acreditam que sabem tudo um do outro. Ou seja, como disse Daniel Boorstin: “O maior obstáculo para a descoberta não é a ignorância, mas a ilusão de que se sabe tudo”. Esqueça o que você acredita saber sobre seu cônjuge e procure, pelo menos uma vez, “calçar seus sapatos” para sentir o que ele sente e ter a perspectiva que ele tem da realidade.

Caro casal, é preciso que vocês se convençam de que podem ser capazes de utilizar esta incrível e essencial habilidade “para reduzir os conflitos, melhorar a comunicação, aumentar a intimidade e até acender sua vida amorosa (2015, p. 16). Se agirem dessa forma certamente vocês serão mais compreensivos e mais compreendidos, ou seja, você amará mais e será mais amado.

 

 

 

  1. A BIOLOGIA E SUA IMPORTÂNCIA NO RELACIONAMENTO

Les e Leslie Parrott, em seu famoso livro: Coloque-se no lugar dele, coloque-se no lugar dela (2015), nos diz, em certo momento que os pais de Joseph LeDoux, donos de um mercado de carne em Louisiana, jamais imaginariam que seu filho, acostumou-se a cortar principalmente os cérebros dos animais, se formaria como neurologista na Universidade de Nova York e se tornaria responsável pelo descobrimento do que poderíamos chamar de “curto-circuito” no cérebro “que permite que as emoções atuem antes que o intelecto tenha a oportunidade de intervir” (2015, p. 68).

De fato nos últimos vinte anos a ciência desenvolveu uma enorme compreensão sobre o que ocorre dentro de nosso cérebro e de que forma ele interfere em nossos comportamentos e em nossas relações. Em sua obra O enigma do homem (1975), o sociólogo e pensador francês Edgar Morin, falando sobre as noções básicas da natureza do ser humano, o descreve como homo sapiens/demens. Na base desta concepção dialógica da natureza humana está a noção de um “cérebro triúnico que comporta em si o paleocéfalo (herança réptil, fonte da agressividade, do cio, das pulsões primárias), o mesocéfalo (herança dos antigos mamíferos em que o desenvolvimento da afetividade e o da memória remota estão ligados), o córtex que, muito modesto nos peixes e nos répteis, cresce nos mamíferos até envolver todas as estruturas do encéfalo e formar os dois hemisférios cerebrais e, enfim, o neocórtez, que nos homens atinge um desenvolvimento extraordinário” (MORIN, In MARTINAZZO, 2002, p. 74, 75). É, segundo Morin, na formação do cérebro que encontramos a explicação para todas as inconsistências de nossa racionalidade e o entendimento de que não existe “ordem hierárquica entre as três instâncias cerebrais, ou seja, entre a inteligência, a afetividade e a pulsão” (MARTINAZZO, 2002, p. 75). Ou seja, se de um lado, somos capazes de agir racionalmente e com equilíbrio, no outro, somos dominados pela desrazão e o desequilíbrio. Desta verdade compreendemos também que, dependendo do momento e das circunstâncias, uma instância pode preponderar sobre as demais.

Os recentes estudos efetuados por Joseph LeDoux, define de onde, exatamente, vem as emoções e porque os sentimentos são tão essenciais nisso. Segundo o casal Parrott “as respostas emocionais primitivas, em um tempo, eram chave para a sobrevivência: o medo leva o sangue aos músculos de maior tamanho, para que a pessoa possa correr; a surpresa faz com que nossas sobrancelhas se levantem, permitindo que os olhos vejam um pouco mais e apurem mais informações sobre um acontecimento inesperado” (2015, p. 69).

A biologia nos diz hoje que a vida emocional surge em uma área do cérebro chamado de sistema límbico, precisamente na amídala cerebelosa. É daqui que vem o medo, o desgosto, a raiva, o prazer, etc. O neocórtex é que dá ao ser humano a capacidade de planejar, aprender e lembrar. Como os répteis não possuem neocórtex eles não podem experimentar o amor materno; por isso os pequenos crocodilianos precisam fugir de sua mãe quando nascem, doutra sorte, poderiam ser devorados por elas. Os humanos, por seu turno, graças ao neocórtex, amam e protegem suas crias oportunizando que elas próprias desenvolva seus cérebros. Para o casal Parrott “Quanto mais conexões existirem entre o sistema límbico e o neocórtex, mais respostas emocionais haverá” (2015, p. 69). Se você estiver andando em uma floresta e, repentinamente observar de soslaio uma figura longilínea e retorcida com forma de uma cobra. Depois de se acalmar, “seu córtex recebe a mensagem uns milissegundos depois que sua amídala e ‘regula’ sua resposta primitiva” (2015, p. 70).

Antônio Damásio, neurologista da Universidade de Iowa, desenvolveu um trabalho com pacientes que tinham a conexão entre o cérebro emocional (sistema límbico) e o neocórtex danificado em razão de alguma lesão cerebral. Como resultado ele percebeu que as “pessoas que tinham perdido essa conexão eram inteligentes e rápidas em seu raciocínio, mas suas vidas desabavam do nada” (2015, p. 70). Estas pessoas, apesar de extremamente inteligentes não sabiam tomar a decisão correta por não saber como se sentiriam com suas escolhas.

Diante de qualquer eventual discussão conjugal, uma palavra mal-dita ou uma colocação errada pode desencadear uma reação desastrosa para o casal. Isso ocorre porque nossa primeira reação tende a ser emocional. Depois que damos atenção à nossa resposta emocional – ou a processamos pelo nosso neocórtex, então haverá mais possibilidade de reverter a situação. É preciso, portanto, para os casais inteligentes, desenvolver esse “meta-humor” que está ligada à nossa consciência e que nos permite reconhecer e controlar o que estamos sentindo para que não sejamos movidos apenas pelas emoções e, dessa forma, falemos e ajamos de uma forma impulsiva. Isto não é fácil de ser feito uma vez que as nossas emoções se disfarçam. Quando você perde seu marido, por exemplo, você pode expressar todo o seu luto e tristeza por sua morte; no entanto, você também pode, inconscientemente, estar bravo com ele porque ele o abandonou. Da mesma forma, ensina o casal Parrott (2015, p. 71) “Se seu filho corre até a rua, o mais provável é que você grite e expresse a sua raiva por desobedecer. Mas sua raiva pode ser motivada mais pelo medo que sente pelo que poderia ter acontecido do que pela desobediência”. Ou como dizia Aristóteles: “Qualquer um pode zangar-se – isso é fácil. Mas zangar-se com a pessoa certa, na medida certa, na hora certa, pelo motivo certo, e da maneira certa – não é fácil”. Todo casal precisa aprender essa lição com Aristóteles. Ou melhor, todo casal precisa aprender com as Escrituras que “o tolo dá vazão à sua ira, mas o sábio domina-se” (Provérbios 29:11). Colocar controle e vontade nas emoções e na consciência não é fácil, mas é possível se nos esforçarmos para tal. Se conseguirmos essa proeza, certamente evitaremos muitos mal-entendidos em nossa relação conjugal.

 

Referências bibliográficas

PARROTT, Les & Leslie. Coloque-se no lugar dele, coloque-se no lugar dela. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2015.

MARTINAZZO, Celso José. A utopia de Edgar Morin: da complexidade à consciência planetária. Ijuí: Editora Unijuí, 2002.

 

 

 

  1. CONSEQUÊNCIAS DE UMA CONSCIÊNCIA SEM CONTROLE

Já vimos em um texto anterior que que como humanos possuímos um cérebro que comporta em si três instâncias: a inteligência, a afetividade e a pulsão, e que é na formação do cérebro que encontramos a explicação para todas as inconsistências de nossa racionalidade e o entendimento. Vimos que o neurologista Joseph LeDoux, se tornaria responsável pelo descobrimento do que poderia ser chamado de “curto-circuito” no cérebro, ou seja, aquele ato que permite que as emoções atuem milésimos de segundos antes que o intelecto tenha a oportunidade de intervir. Vimos, também, que basta uma palavra mal-dita ou uma colocação errada para que uma reação desastrosa possa surgir para o casal. Vimos que somente depois de atentarmos à nossa resposta emocional, ou depois que a processamos pelo nosso neocórtex, é que a situação pode ser revertida. Só então haverá possibilidade de reverter a situação. É preciso que os casais inteligentes, desenvolver um “meta-humor” que está ligada à nossa consciência e que nos permite reconhecer e controlar o que estamos sentindo para que não sejamos movidos apenas pelas emoções e impulsividades. Finalmente vimos a necessidade de controlar nossas vontade, emoções e consciência. Sabemos que isso não é fácil, mas é possível. Para tanto exporemos que, se não conseguirmos, fatalmente ocorrerão três consequências inevitáveis.

A submersão nos sentimentos

Talvez um dos sentimentos mais comuns entre os humanos seja a raiva. Ela surge quando temos a sensação de que alguém ultrapassou o limite para conosco. A resposta do nosso corpo se dá por meio da liberação de neurotransmissores chamadas de catecolaminas. As vezes ouvimos que o ideal é dar espaço à raiva e permitir que ela flua em uma plena catarse. Estudos recentes demonstram, contudo, que liberar a raiva, apenas a faz crescer ainda mais. Sabe-se hoje que a velha tática de contar até dez é mais produtiva, uma vez que permite que o corpo processe a adrenalina e se afaste das reações meramente emocionais. O casal Parrott nos diz: “todos nós vimos pessoas que se encontraram fora de controle ou instáveis, emocionalmente. Entregam-se a qualquer sentimento em sua psique, seja tristeza, ansiedade ou surpresa. Sentem-se sozinhos ao lidar com suas emoções e permitem que seu humor domine” (2015, p. 72). Elas abdicam da objetividade e do cultivo da consciência, o que poderia ajuda-las. Elas acabam submersas no oceano das emoções.

Supressão dos sentimentos

A universidade de Stanford fez um experimento sobre as consequências sociais produzidas pela supressão das emoções. Dois grupos de pessoas foram exposto ao mesmo filme sobre a bomba atômica e suas consequências sobre as pessoas que sobreviveram. Enquanto uns ficaram tristes e até emocionados, outros permaneceram indiferentes. Ora, é claro que aqueles que expressam seus sentimentos se sentem fora de sintonia com os que os reprimem. Qualquer um de nós já esteve na presença de alguém que reprime seus sentimentos. A maioria delas confunde consciência emocional com repressão dos sentimentos. Diz o casal Parrott (ibid p. 73) que colocar vontade para alcançar a atenção de suas emoções não é o mesmo que reprimi-las. Muito ao revés. À proporção que você se torna mais consciente das emoções sua tendência não será retirá-la do caminho, mas controla-la e fazê-la controla-la para você. A consciência nos dá controle sobre os sentimentos.

Renúncia dos sentimentos

Diferentes dos que são absorvidos por seus sentimentos, estes sabem muito bem o que sentem, mas fazem quase nada para lidar com eles. Quando examinamos, por exemplo, a preocupação, podemos ver que em algumas pessoas ela nos permite nos preparar para o perigo e procurando obter soluções.

O problema aparece quando ela nos aprisiona a tal ponto que nos resignamos e só vemos o fim da estrada. Neste momento, nos rendemos e deixamos que ela assuma o controle de nossa vida. O que pode acontecer? Seu maior medo pode se tornar realidade.

Lamentavelmente, as pessoas resignadas, embora tenham clareza de seus problemas, não percebem que podem modifica-los. Elas são capazes de falar de sua depressão, por exemplo, mas nada fazem para mudar. Sim, controlar nossas emoções não é fácil, mas tudo começa com a vontade de fazer isso. Isto se torna “mais fácil do que acreditamos, depois de nos armamos da vontade para fazê-lo” (ibid p. 74). Ou seja, quando estamos em plena realização.

Temos que compreender que nossos sentimentos não precisam nos dominar. Da mesma forma, não precisamos suprimi-los ou nos resignarmos. Desenvolvendo nosso pensamento intencional, poderemos ficar atentos o bastante para controlar nossas emoções com sucesso. Reconheça o que está acontecendo dentro de você e entenda que você tem a possibilidade de reagir de uma forma ou de outra. O psicólogo e linguista da Universidade de Harvard Steven Pinker (1954) afirmava: “O conhecimento de si mesmo e o que permite que consigamos nos tornar o mais amigável e amável possível quando estivermos com outras pessoas”.

Caro casal, decida focar sua atenção em suas emoções e vocês perceberão que é possível controla-las. Isto significa que aquele impulso agressivo pode ser controlado e, desta forma, você abrirá mão da gratificação imediata de denegrir seu cônjuge, para ter outra gratificação bem maior, a de criar uma esfera de positividade para o casal. Ou seja, nossa capacidade de auto controle emocional determinará nossa capacidade de intercâmbio conjugal. Por fim, devemos sempre lembrar das belas palavras do pensador jovem francês Blaise Pascal (1623-1662): “A claridade mental significa também claridade com as paixões; é por isso que uma mente grandiosa e clara ama ardentemente e vê com distinção o que ama”.

 

 

 

  1. REALIDADES ACERCA DA INFIDELIDADE CONJUGAL

Em pesquisas realizadas por Share Hite, descobrimos que 66 por cento dos homens (americanos) têm casos extraconjugais. Na pesquisa feita pelo Redbook em 1974 descobrimos que quase um terço das mulheres pesquisadas haviam tido “casos” com outros homens. Hoje a situação está muito mais agudizada.

Com base no extraordinário estudo feito por J. Alllan Petersen, em seu texto O mito da grama mais verde, existem pelo menos três maneiras por meio das quais a infidelidade se transformar em um desastre para um casamento.

  1. Em primeiro lugar ela causa uma imensa dor no outro conjugue.

O que faz com que um casamento comece ou termine não é um documento expedido por um cartório. O casamento ocorre quando você encontra aquela pessoa com quem você acredita poder passar o resto da vida juntos, gerar filhos, realizar planos, enfim, compartilhar uma existência em amor. Ao fazerem isso eles aceitaram livremente o compromisso de cuidarem um do outro e de serem fiéis um ao outro, até o fim de suas vidas. A verdadeira traição ocorre, explica Petersen “quando um cônjuge decide afastar-se de seu companheiro, em busca de intimidade ou realização, e mantém esta decisão em segredo”. Ele não pode ou não quer compartilhar certos assuntos com sua esposa ao passo que procura outra pessoa com quem conversar e desenvolver intimidade.

Além do aspecto do envolvimento existencial e emocional, um cônjuge sexualmente infiel também emprega tempo e dinheiro para manter sua aventura. Em outras palavras seja lá o que o cônjuge infiel está dando à outra ou ao outro, ele está tirando de seu ou sua companheira. E isto significa sofrimento pois o traído fica sem o tempo, sem o dinheiro, sem a atenção sem o consolo, sem o cuidado, que se está dando a outra pessoa.

  1. Em segundo lugar, ela mascara o verdadeiro problema

Já está mais do que provado pelos pesquisadores que pessoas que traem estão, na verdade, procurando aliviar sintomas de insatisfação com seu cônjuge, sejam estes ligados a aspectos físicos, intelectuais, emocionais ou de outra natureza. Ao invés, diz Petersen “de procurar uma confrontação honesta, com todos os seus riscos e possibilidades, ambos aceitam o ato desonesto da infidelidade” – às vezes um ativamente e outro passivamente. Procurando fugir da angústia de uma separação eles fingem ser fieis enquanto se satisfazem com outras pessoas.

  1. Em terceiro lugar, ela atua como uma destruidora de egos

O pior dos problemas que uma traição pode trazer, recairá sobre o próprio traidor. Aquele que é infiel e que acredita poder conservar seus “casos” em segredo para proteger a família está, de fato, enganando-se a si próprio. Quem se auto-engana cria em si próprio, um inimigo contra si. Petersen nos ensina que “É quando achamos que precisamos mentir a alguém que confia em nós e a quem amamos que caímos na armadilha do que os psicólogos chamam de laço duplo”. Um marido infiel sabe que agiu de forma errada e quer voltar para a pessoa que ele ama de verdade. Ele quer voltar a ser, novamente, intimo dela, mas como não pode contar o que fez, ele mente. O que ele não percebe é que esta mentira tem um efeito bumerangue. Ela não o aproxima de sua esposa, antes, a afasta ainda mais. Segundo Petersen, “A mentira que o poupará da ira e da rejeição dela, trouxe consigo uma dor caracteristicamente sua”. Paradoxalmente, quanto maior for o desejo de se aproximar de quem se está enganando, maior será a dor que o divide ao meio. Neste processo seu ego experimenta o fracasso.

O “caso”, desta forma, não apenas “destrói a integridade intrínseca do indivíduo, o amor próprio dos cônjuges bem como sua possibilidade de intimidade, e destrói ainda as futuras gerações, porque estes erros se refletem nos filhos.

Busque a verdade e siga-a. Seja fiel a seus princípios e a si mesmo; desta forma vocês serão felizes.

 

 

 

  1. A PREVENÇÃO DA INFIDELIDADE CONJUGAL EM SEU CASAMENTO

Certa vez passei uma noite em casa sem ter que receber nenhum casal para realizar encontros matrimoniais. Resolvi então ligar a televisão e constatei uma realidade chocante. Em todas as novelas, desde a que passa no fim da tarde (Malhação) até a última, há histórias de infidelidade dando a impressão de que isto é algo absolutamente normal. Isto me fez lembrar uma frase atribuída a Lutero: “Você não pode impedir um pássaro de passar por sobre sua cabeça; mas pode impedi-lo de fazer um ninho nela”. Este pequeno artigo foi escrito para quem você saiba como se prevenir contra a infidelidade e, para tanto, pontuarei as seguintes verdades:

  1. É preciso desejar ser fiel. Isto é fundamental! Se você não deseja ser fiel, pode parar de ler este texto agora mesmo. Mas, se seu desejo é cumprir os votos que fez para sua esposa, é preciso que você se esforce de verdade para realizar o que quer. Você precisa compreender que seu cônjuge é especial e que vocês têm todos os recursos necessários para criar um lindo relacionamento. Mas é preciso se empenhar nisso. E este empenho tem que ser diário.
  2. Não compare o que não pode ser comparado. É comum ouvir que a grama do vizinho é mais verde. Mas isto é apenas ilusão. De fato, não existe casamento-padrão e “as comparações são como portas giratórias, que não levam a gente a lugar nenhum”. Comparar casamentos ou pessoas é muito perigoso porque ninguém conhece a realidade de ninguém. Todos têm suas virtudes e defeitos. Entenda uma coisa, trocar de cônjuge porque ele tem este ou aquele defeito, é apenas, trocar de defeito.
  3. Não se exponha a situações de perigo. Isto significa que você não deve armar armadilhas para si mesmo. J. Petersen nos diz que “numa sociedade em que o flerte é normal, e a infidelidade, comportamento aceito, você precisa escolher e cultivar as amizades com muito cuidado”. Outro perigo enorme ocorre quando você começa a trocar informações sobre sua vida íntima com um/uma colega de trabalho. De repente vocês se tornam íntimos também e daí para o início de um “caso” é um passo. Em seu trabalho, limite-se a assuntos profissionais. Ah, e aceite uma sugestão: nada de caronas, mesmo que ela more perto de sua casa.
  4. Seja o melhor amigo de seu cônjuge. Quando isto é uma verdade em um casamento, a intimidade tende a crescer. Em uma pesquisa realizada pela Psycology Today com mais de 40 mil americanos, ficou claro que as qualidades mais apreciadas em um amigo são: a capacidade de guardar confidências, lealdade, calor humano e afeição. Se você é o melhor amigo de seu cônjuge, você não vai querer vê-lo sofrer. Você irá protegê-lo e satisfazê-lo em todas as suas necessidades. Com um detalhe, diferentemente do que afirmam por aí, não é “a vida sexual que fortalece a intimidade”, é a intimidade que fortalece a vida sexual do casal.

Conclusão: Se você deseja a felicidade em seu casamento e vencer todas as tentações para viver uma vida íntegra com seu cônjuge, receba a sugestão sábia vinda das Escrituras Sagradas no livro de Provérbios 5:1-4, 15 que diz: “Filho meu, atende à minha sabedoria; (…) os lábios da mulher licenciosa destilam mel, e sua boca é mais macia do que o azeite; mas o seu fim é mais amargoso do que o absinto, agudo como a espada de dois gumes. (…) bebe a água da tua própria cisterna, e das correntes do teu poço”. Não ponha seu casamento em risco (nem físico: DST, AIDS, etc., nem existencial: sofrimento, dor, depressão, etc) Seja fiel e seja feliz com seu cônjuge.

 

 

 

  1. EVITANDO A INFIDELIDADE CONJUGAL 1

Uma das piores dores que alguém pode sentir em sua vida é a dor de ter sido traído(a) justamente por aquela pessoa que lhe prometeu fidelidade eterna. A cada dia que passa a infidelidade parece que se torna mais comum e aceita socialmente e, na maioria das vezes em que ela ocorre, foi o próprio casal que acabou concorrendo para que ela ocorresse. Em outras palavras, um casamento não é feito por um anjo e um demônio, mas por duas pessoas normais que acabam concorrendo para que algo assim aconteça. As estatísticas mostram que, na maioria das vezes, o erro foi dos dois.

Conforme nos ensina J. Allan Petersen, há pelo menos três maneiras de a infidelidade poder ser desastrosa para o futuro de qualquer casamento (1985, p. 17): primeiro ela causa muita dor ao outro cônjuge; segundo, ela mascara o verdadeiro problema; finalmente, ela destrói o ego de quem trai. Nos próximos textos procurarei defender a tese de que a infidelidade é, antes de mais nada, o resultado da insatisfação de um ou mesmo dos dois cônjuges, com a realidade em que vivem.

Estou absolutamente convencido que, se ambos os cônjuges forem capazes de satisfazer as cinco grandes necessidades de seu companheiro(a), estarão dando um passo fundamental para a prevenção da infidelidade. Na realidade, quando somos aptos de descobrir e de satisfazer, a contento, essas necessidades emocionais estaremos dando um passo gigantesco para um casamento à prova de infidelidade. Vejamos, portanto cada uma dessas necessidades, pormenorizadamente.

A mulher precisa de carinho

Conforme ensina o ilustre psicólogo de casais Willard Harley Jr., “para a maioria das mulheres, carinho simboliza segurança, proteção, conforto e aprovação, itens de importância vital para elas” (2014, p. 38).

Meu caro amigo, você precisa compreender que o carinho é o cimento que solidifica uma relação e que, quando um marido é capaz de demonstrar, de forma efetiva, essa afeição e carinho para com sua esposa, ele está dizendo para ela: “Eu gosto de você”, “Você é importante para mim”, “Eu me preocupo com você e não permitirei que nada de mal lhe aconteça”. O Dr. John Gray nos diz que “As mulheres são especialmente vulneráveis ao afeto ou falta de afeto da parte de um parceiro. Ele pode fazer com que ela se sinta no paraíso e então lança-la no inferno. Quando um homem é carinhoso com uma mulher, ela confia que suas necessidades são válidas e não egoístas. Mas quando uma mulher está num relacionamento ou ambiente sem carinho, é muito difícil para ela afirmar suas necessidades sem se sentir culpada por ser carente ou egoísta demais. Ela facilmente se julga fraca e indigna de compartilhar sentimentos e necessidades” (GRAY, 1996, p. 246).

Demonstrar carinho não exige nada demais. Pequenos gestos como um simples abraço, pode ter uma extrema significação no coração de sua mulher. Dizer que a ama é fundamental, e, pode acreditar, ela jamais vai achar que você está sendo exagerado. A esmagadora maioria dos homens precisa desenvolver este hábito.

É óbvio que o carinho não se resume a isso. Você pode enviar-lhe um cartão dizendo o quanto ela é importante para você; um simples bilhete ou melhor, um buque de flores. Acredite, ela vai adorar!! Mas você pode ser mais criativo. Convide-a para ir ao cinema e depois para jantar a dois, vendo a lua. Caminhe com ela de mãos dadas. Converse expressando palavras amorosas. Massageie seus pés ou suas costas quando ela tiver chegado do trabalho. Isso é fundamental.

O importante é que o marido compreende o quanto esses gestos de carinho são fundamentais para a mulher. Sem eles, ela fatalmente se afastará pouco-a-pouco de você. Mas lembre-se de algo de extrema importância: isso não tem nada a ver com sexo ou com as preliminares. Se você só dá carinho na hora do sexo acaba passando a imagem de que é um egoísta e de que apenas está “usando” sua esposa.

Entenda uma coisa, meu amigo. O sexo começa quando você acorda, olha para ela, e lhe diz: “bom dia, querida. Como você está linda hoje!”. Por isso foi criada a chamada “primeira lei de Harley” para o casamento. E ela diz: “Quando se trata de sexo e carinho, não se pode ter um sem o outro” (2014, p. 41). Aprenda a desenvolver hábitos diários que demonstre carinho para com sua esposa.

– Quando ela acordar, diga que a ama e dê-lhe um abraço;

– Ao se despedirem, beije-a e diga que a ama;

– Ligue para ela durante o expediente, apenas para dizer que sente sua falta e que ela é muito importante para você;

– Quando chegarem em casa, converse carinhosamente como foi seu dia e demonstre interesse pelo que ocorreu com ela;

– Ajude-a com a louça depois do jantar ou logo ao acordar;

– Beije-a e diga que a ama, antes de dormir;

– Envie flores, mesmo que não seja um dia especial;

– Jamais esqueça as principais datas dos dois.

Faça tudo para transformar esses itens em hábitos e você verá o quanto ela vai adorar, ainda que isso leve algum tempo. Mas acima de tudo, lembre-se que há um círculo vicioso que todo casal precisa saber evitar: “A mulher não recebe afeição suficiente do marido, então fecha-se sexualmente para ele. O marido não consegue ter a quantidade de sexo na frequência que gostaria, daí a última coisa que tem vontade é de ser carinhoso com ela”. Com o tempo, e se ninguém fizer nada, esse círculo vicioso acabará levando o casal ao desastre. Acredite, um dos dois precisa urgentemente, quebrar esse círculo, senão, como diz a música: “o perigo mora ao lado”.

Como se pode ver, o primeiro passo para se criar uma relação protegida do risco da infidelidade conjugal depende do homem e nem é tão difícil assim. Portanto, meu amigo, mãos à obra e invista na sua relação.

 

Referência Bibliográfica:

GRAY, John. Homens, mulheres e relacionamentos. Rio de Janeiro: Rocco, 1996

HARLEY JR, Willard. Casamento à prova de traição. Rio de Janeiro: Sextante, 2014

PETERSEN, J. Allan. O mito da grama mais verde. Rio de Janeiro: JUERP, 1985

 

 

 

  1. EVITANDO A INFIDELIDADE CONJUGAL 2

O texto anterior foi escrito especialmente para os homens, mas este será dedicado às mulheres. Talvez tenha sido um tanto quanto forte com os homens mas creio que tanto eles quanto elas precisam compreender às necessidades de seu cônjuges e satisfazê-las.

Todo mundo sabe que quando se está namorando os homens são carinhosos e gentis. Mas parece que quando casam, todo aquele carinho simplesmente evapora. A única coisa que resta é a vontade de fazer sexo. Se você perguntar a uma esposa qual a razão dos homens serem assim, ela provavelmente dirá que eles não se importam tanto com elas quanto se importam com o sexo.

O que ocorre é que assim como os homens em geral não compreendem a profunda necessidade que as mulheres têm de carinho, elas também não compreendem que os homens têm uma profunda necessidade de sexo. Conforme ensina Harley Jr (2014, p. 51), “O casamento é uma união bastante condicional. Se um marido não tenta satisfazer as necessidades de sua esposa e ela não tenta satisfazer as dele, os dois podem estar tecnicamente casados, mas não irão conhecer a felicidade e a realização que um bom casamento pode oferecer”. Assim como o homem precisa entender que o carinho é a ambientação que gera o sexo, as mulheres precisam entender que, para os homens, o sexo é fundamental.

Concordando com essa tese vejamos o que nos diz o Dr. John Gray: “A opinião da mulher começa a se atenuar quando ela descobre as verdadeiras razões pelas quais alguns homens parecem querer apenas sexo. Com uma profunda compreensão de nossas diferenças sexuais, baseadas em nosso desenvolvimento histórico e em nosso condicionamento social, ela pode começar a entender por quê, para muitos homens, o estímulo sexual é a chave que os ajuda a conectar e a realizar seus sentimentos amorosos” (GRAY, 1998, p. 13).

Entendam mulheres, quando, no dia do casamento, eles prometem ser fiel até o fim de suas vidas, ele realmente acredita que aquela será sua parceira sexual para sempre e que ela o deseja na mesma proporção que ele a ela. Quando isso não acontece eles se sentem ludibriados porque concordaram em limitar suas experiências sexuais a apenas uma mulher e ela não se dispõe a satisfazer a esta sua necessidade vital. Se, conforme afirma Harley Jr (2014, p. 51, 52), suas convicções morais e religiosas forem fortes o bastante, ele até poderá tentar se adaptar à situação. Mas alguns maridos simplesmente não conseguem e vão se satisfazer em outro lugar. O marido infiel pode procurar justificar seus atos dizendo que sua esposa não o satisfaz; mas ainda que ela mude de comportamento, o estrago pode ter sido irreversível se ela estiver muito magoada e ressentida ou se ele estiver muito envolvido em seu caso extraconjugal. A prevenção da infidelidade começa quando os dois compreendem a diferença da sexualidade na mente do homem e da mulher. Em geral existem três grandes diferenças sobre sexualidade entre os homens e as mulheres.

  1. Quanto ao desejo. É lugar comum dizer que os homens possuem bem mais desejo sexual do que as mulheres. Isso ocorre porque eles são inundados de testosterona em seu organismo, ao passo que esse afrodisíaco natural, é bem menos presente na mulher. É isso que faz com que a necessidade emocional número 1 dos homens seja o sexo. Com o tempo, no entanto, os níveis de testosterona tendem a declinar na corrente sanguínea e eles se tornam menos motivados sexualmente.
  2. Quanto ao autoconhecimento. Falar em autoconhecimento significa saber se o indivíduo tem uma correta compreensão de sua experiência com o sexo. Desta forma, as estatísticas revelam que a maioria dos homens se masturbam e que esta experiência surgiu entre os 8 e 10 anos. Já as mulheres, somente 50% delas tiveram essa experiência, mas quando a praticaram, ocorreu entre os 18 e 21 anos.

Sobre a primeira experiência sexual, é interessante notar que ambos os sexos relataram ter tido sua primeira experiência entre 13 e 16 anos. Mas enquanto os homens disseram ter gostado muito da primeira vez, as mulheres relataram que foi decepcionante. Estes dados mostram que homens e mulheres chegam ao casamento com vivências opostas com sua sexualidade. Como afirma o Dr. Harley Jr (2014, p. 54, 55): “Ele tem mais experiência sexual e é motivado por desejos muito fortes; ela é menos experiente, menos motivada e às vezes ingênua. Além disso, é difícil para o homem entender que a maioria das mulheres precisa aprender como agir sexualmente, ou que é necessário se preparar para ensinar a noiva a ter prazer com sua própria sexualidade”. Um homem não atinge sua realização sexual a menos que sua companheira esteja igualmente satisfeita. Ainda que o homem precise mais de sexo que a mulher, sua necessidade continuará insatisfeita se ela não desejar. Portanto, diz o Dr Harley Jr (2014, p. 55), a mulher não faz favor nenhum ao marido quando transa sem vontade. Mas ele só se sentirá realizado quando ela se unir a ele na experiência de fazer amor. É verdade que algumas mulheres relatam que aceitam transar com seus esposos mesmo sem vontade. E que, acabam ficando tão excitadas ao ponto de chegar ao orgasmo antes dele. Mesmo assim, muitas vezes elas recusam. E isso acontece em razão da terceira diferença entre os sexos.

  1. A motivação sexual. Afinal, porque fazer sexo? Os homens tendem a responder que o sexo os alivia em suas necessidades. As mulheres, por seu turno, tendem a dizer que fazem sexo para se sentirem mais próximas e terem mais intimidade e união emocional com seu marido. Se uma mulher se recusa a fazer sexo com seu marido, certamente é porque ela não se sente emocionalmente unida a ele, naquele momento. Talvez ele não esteja cumprindo sua parte no acordo e sendo carinhoso o bastante.

Assim que compreendemos essas diferenças nos tornamos mais aptos para resolver os problemas sexuais que surgirem, de forma respeitosa e sempre desejando a maior satisfação sexual de seu cônjuge. Como afirma o DR. Gray: “Quando o sexo torna-se melhor, subitamente todo o relacionamento melhora. Através de um sexo maravilhoso, o homem começa a sentir mais amor e, como resultado, a mulher começa a obter o amor do qual ela poderia estar sentindo a falta” (GRAY, 1998, p. 15).

Antes de encerrar, no entanto, gostaria que você lembrasse das palavras de jesus em Lucas 6:31: “Como vocês querem que os outros lhes façam, façam também vocês a eles”. Em outras palavras, satisfaça as necessidades de seu cônjuge da mesma forma que você deseja que ele o satisfaça.

 

Referência Bibliográfica:

HARLEY JR, Willard. Casamento à prova de traição. Rio de Janeiro: Sextante, 2014

GRAY, John. Marte e vênus no quarto: um guia para preservar o romance e a paixão. Rio de Janeiro: Rocco, 1998

 

 

 

  1. EVITANDO A INFIDELIDADE CONJUGAL 3

Se o primeiro texto foi escrito para os homens e o segundo para as mulheres, neste eu me dirijo mais uma vez aos maridos. Já vimos que a primeira necessidade básica da mulher é a de carinho, e a do homem, é a da satisfação sexual. Agora trataremos da segunda grande necessidade que as mulheres precisam que seja suprida para que se sintam amadas e, desta forma, se previnam de qualquer forma de infidelidade: a conversa íntima. Ou, nas palavras de Mark e Grace Driscoll: “Em última instância, a intimidade pode ser resumida à conversação. Como diz um antigo provérbio: ‘o caminho para o coração passa pelo ouvido’” (DRISCOLL, 2012, p. 54).

Geralmente os casais, quando namoram, sempre encontram um tempo para conversar e trocar ideias acerca de vários temas. Mas, infelizmente, parece que depois do casamento, os casais já não têm mais tempo nem interesse para conversar. A culpa é, geralmente, jogada sobre o trabalho. Vamos ver, neste texto que existem alguns inimigos e alguns aliados da conversa íntima. O casal sábio, saberá investir em uma boa conversa a dois.

Muitas vezes as esposas perguntam: “por que meu marido não conversa comigo?”. Uma parte considerável da resposta consiste no fato biológico de que os homens não têm tanta necessidade de conversar quanto as mulheres. Eles conversavam na época do namoro para poder conhece-la. Ele quer entende-la e saber como torna-la feliz e realizada. Mas uma vez casado, ele acha que já provou pra ela o quanto ele a ama. Ele não consegue compreender que foram justamente aqueles momentos que a fizeram se apaixonar por ele. Conforme nos diz Willard Harley Jr (2014, p. 72) “A mulher quer um homem que goste dela profundamente e que a proteja. Quando percebe que ele age assim, a mulher se sente próxima dele, o que é um ingrediente essencial para que tenha vontade de fazer amor com o parceiro. Como a conversa íntima é uma das formas mais importantes de o homem transmitir seu amor, ela e o carinho estão irremediavelmente interligados”. Isso obviamente significa que o afeto concreto e a conversa íntima devem ser uma realidade diuturna na vida de um casal à prova de infidelidade. Mas porque a conversa é tão fundamental para a mulher? Primeiro, porque por meio da conversa ela expõe suas necessidades emocionais; segundo, porque por meio da conversa as diferenças são dirimidas e os pactos são formulados; finalmente, porque, pela conversa, elas satisfazem uma necessidade emocional básica. Elas simplesmente gostam de conversar.

Outra coisa que precisamos lembrar é que precisamos evitar as expressões de crítica frente à conversa íntima. Normalmente a conversa íntima se centra naquilo que ela está pensando, sentindo ou fazendo. A pior coisa que um marido pode fazer é dizer para sua esposa: “não me venha com esses temas insuportáveis; não aguento mais”. Isso fatalmente vai terminar em insultos mútuos e a problemas maiores porque sem um companheiro que ouça seus reclamos, as mulheres se sentem desprotegidas e procurarão outra pessoa com quem conversar.

Segundo ensina Willard Harley Jr., existem quatro inimigos que precisam ser vencidos para que o casal consiga tabular uma conversa íntima frutífera. O primeiro deles é fazer exigências. Entenda, pedir é diferente de exigir. Não há nada de errado em pedir. Mas quando você exige algo, você está dizendo para seu cônjuge “que não se importa com como se sente ao satisfazer seu desejo. Você quer aquilo e pronto. […] Exigências não dão ao seu cônjuge o direito de se recusar a atende-las” (HARLEY JR., 2014, p. 72). A melhor forma de driblar esse inimigo é perguntar a seu marido: “O que acha de me ajudar com um problema que está me incomodando?”.

O segundo inimigo da conversa íntima é o Desrespeito. Se existe uma forma de acabar com a possibilidade de qualquer conversa com seu marido é desrespeitá-lo. E quando falo em desrespeito me refiro tanto ao revirar dos olhos quanto à um comentário infeliz sobre a possibilidade de uma conversa. Ora, conflitos existem em toda as relações. Mas reagir ofensivamente é um atalho seguro para uma discussão. Pior, para o afastamento emocional.

O terceiro inimigo a ser vencido é a raiva. Ainda que sejam ruins, a raiva e o desrespeito podem surgir não intencionalmente. Isso porque, em condições normais, os casais não querem nem gostam de se ferirem mutuamente. No entanto, quando demonstramos raiva, estamos manifestando a intensão e o desejo de machucar. O Dr Harley Jr (2014, p. 81) nos diz que “Explosões de raiva não devem ter lugar em qualquer área de sua vida, e são especialmente destrutivas no casamento. Sua relação deve ser de carinho e proteção mútuos. Mas a raiva transforma seu cônjuge em sua maior ameaça. Quando estiver irritado é melhor não dizer nada”.

O quarto inimigo a ser vencido é a tentação de remoer o passado. Todo mundo erra. E também erramos em nossa relação com nosso cônjuge. Lamentavelmente existem casais que ficam remoendo o tempo todo os erros um do outro, trazendo à tona e repetindo as acusações e ladainhas, discutindo quem tem mais razão e quem é o maior culpado, incessantemente. Quanto tempo perdido!

Mas, se por um lado, a conversa íntima possui esses quatro inimigos, Willard Harley Jr., nos diz que ela também possui quatro amigos que podem fazer com que ela aconteça e flua da melhor forma para o casal. O primeiro grande amigo da conversa íntima é a informação. A razão de ser da conversa íntima é criar maior proximidade emocional para o casal. Por isso, quanto mais sabemos do outro mais íntimo ficamos. Em outras palavras, “fale sobre seus sentimentos, seus interesses e suas atividades” (Ibid. 2014, p. 83), ou seja, abra seu coração para seu cônjuge. Não escondam nada um do outro e procurem entender seus interesses, atos e sentimentos.

O segundo amigo da conversa íntima é o interesse. Uma das maiores barreias que precisam ser vencidas pelos casais é o interesse pelos assuntos de nosso cônjuge. Quantas vezes os casais ficam mudos porque não demonstram interesses nos temas que são caros para seu marido ou esposa? Este interesse é fundamental para que a intimidade surja e se desenvolva. Lembro de ter saído com minha esposa para um hotel e de ter ficado sentado com ela diante da piscina conversando sobre política internacional, filosofia, economia, sociologia, etc, e quando nos demos conta, estávamos conversando – pasme! – a sete horas. Graças a Deus nunca faltou assunto em minha relação com minha esposa.

O terceiro amigo de uma boa conversa íntima é o equilíbrio. Se uma conversa não for equilibrada, não é conversa, é monólogo. É verdade que dizem que o “silêncio é de ouro”, mas em se tratando de um casal, ambos devem participar, dando e recebendo, informando e questionando o que acham dos temas apresentados. Quanto a esse tema há algo que precisamos aprender: nunca interrompa o raciocínio de seu cônjuge. Deixe-o falar e em seguida exponha sua opinião. É verdade que há pessoas que gostam de monopolizar a conversa, mas permita que o outro se exprima sem que seja interrompido.

O quarto amigo da conversa íntima é a atenção. Se existe uma forma eficaz para enfurecer sua esposa é continuar olhando para a TV enquanto ela fala. Mas não pensem que com os homens é diferente. Qualquer cônjuge se sente magoado quando não tem a atenção que desejava. Normalmente não se dá atenção ao que o outro está falando quando não estão presentes dois amigos da conversa íntima: o interesse e o equilíbrio. Certa vez John Gray escreveu: “Lembro-me de ter perguntado a uma cliente o que ela precisava da parte do marido. Martha respirou fundo e começou a chorar, dizendo: ‘Só preciso que ele preste atenção… que me escute. Sinto que ele não me ama mais’” (GRAY, 1996, p. 46).

Se um marido consegue satisfazer a necessidade de conversa íntima que sua esposa tem, eles terão a possibilidade de se entenderem cada vez mais e a aprenderem a como satisfazerem cada vez melhor seu cônjuge. Eu encerraria citando as palavras de Tara Parker-Pope (2010, p. 182) quando diz: “Aprenda a diferença entre reclamar e criticar e preste atenção em suas palavras e em sua linguagem corporal durante uma discussão”. Em resumo, as palavras em uma conversa a dois são fundamentais. Elas podem ser bem-ditas ou mal-ditas; destruir ou construir.

 

Referência Bibliográfica:

DRISCOLL, Mark & Grace. Amor, sexo, cumplicidade e outros prazeres a dois. São Paulo: Thomas Nelson, 2012

GRAY, John. Homens, mulheres e relacionamentos: fazendo as pazes com o sexo oposto. Rio de Janeiro: Rocco, 1996

HARLEY JR. Willard F. Casamentos à prova de traição. Rio de Janeiro: Sextante, 2014

PARKER-POPE, Tara. Felizes para sempre… A ciência para um casamento perfeito! Rio de Janeiro: Universo dos Livros, 2010

 

 

 

  1. EVITANDO A INFIDELIDADE CONJUGAL 4

Como o leitor já deve ter percebido, estamos escrevendo alternadamente para as esposas e os maridos. Este texto, diferentemente do anterior, é dirigido às mulheres. Já sabemos que a primeira necessidade básica da mulher é a de carinho, vindo em seguida a conversa íntima. Vimos também que a primeira necessidade básica do homem é a satisfação sexual. Agora trataremos da segunda grande necessidade que os maridos expressam e que precisa ser suprida para não se dê espaço à infidelidade conjugal: o companheirismo no lazer.

Quando conheci minha esposa logo nos demos conta que tínhamos muita coisa em comum, no quesito lazer. Ambos adoramos ver o mar e ouvir suas ondas, mas odiamos ficar tostando ao sol durante horas – aliás odiamos excesso de luz. Ambos adoramos ficar o domingo inteiro deitado assistindo os filmes na TV ou ir a um cinema. Ambos adoramos viajar mas, ao contrário da maioria das pessoas, não gostamos de ir aos shoppings dos lugares, preferimos um turismo mais cultural. Ambos gostamos de um bom vinho acompanhando uma lasanha contemplando uma linda lua cheia nascendo. Até hoje ficamos planejando nossas viagens, porque ambos adoramos viajar e eu adoro dirigir. E algo que também temos em comum é que não gostamos de futebol.

Lamentavelmente, parece que alguns casais começam bem neste assunto, mas não perseveram. Eles vão junto assistir o futebol ou o jogo de basquete, pescar, etc. Aparentemente adoram as festas juninas, sair nos blocos de carnaval e aproveitar os torneios de MMA ou mesmo fazer um rali com os amigos. No entanto, depois do casamento alguma coisa muda. Normalmente é a mulher que passa a preferir atividades mais culturais e menos envolvidas com aspectos físicos. Isso deixa os homens confusos e, não raramente, eles se perguntam: “o que a fez mudar?”.

Na realidade elas não mudaram. Elas se juntaram a seus namorados em suas atividades na esperança de que eles, no futuro, também se juntassem a elas nas atividades que elas têm mais interesse. Quando essa tentativa fracassa os homens acabam por seguirem em frente em suas atividades de lazer sozinhos, deixando suas esposas em casa. No entanto, conforme afirma Willard Harley Jr.: “essa é uma escolha perigosa, porque os homens dão uma importância surpreendente às suas atividades recreativas. Durante o namoro, a compatibilidade no lazer é geralmente um critério crucial para os homens selecionarem a mulher com quem vão se casar. Eles presumem que sua noiva irá acompanha-los em todas as afinidades para o resto da vida” (HARLEY JR. 2014, p. 93). Quando elas passam a revelar pouco interesse pelos seus interesses favoritos, eles ficam chocados e decepcionados. Isso ocorre porque os homens planejam com ansiedade esses momentos e não pensam duas vezes em gastar dinheiro com essas atividades. Para eles passar o tempo de lazer com suas esposas só perde em importância, para fazer sexo. Mas a maioria das mulheres acabam achando que estas atividades são pueris e de mau gosto. Elas preferem atividades onde ocorrem mais interação social ou aquelas mais tranquilas. O resumo é o seguinte: não permita que seu companheiro passe os momentos de prazer sozinho e abra espaço para que outra pessoa ocupe o seu lugar.

É verdade que alguns maridos, mais sensíveis, percebendo que suas esposas apenas os acompanhavam em suas atividades de lazer no namoro para agradá-los, mas que, de fato, preferiam outras atividades, acabam por preferirem, eles mesmos, escolher à dois uma atividade que satisfizesse a ambos. De fato, “Quando um casal define sua lista final de atividades de interesse mútuo, depara com muitas surpresas. Algumas delas nunca foram experimentadas por nenhum dos dois, mas ambos acreditam que podem ser muito prazerosas” (HARLEY JR. 2014, p. 98). Eu, particularmente, adoro ler e escrever, além de assistir bons filmes.

Afinal descobrir atividades recreativas que ambos gostem é interessante primeiro, porque reflete o carinho e o interesse que um tem pela satisfação do outro. Em segundo lugar, quando gostamos de fazer algo com alguém, é provável que repitamos essa atividade outras vezes, logo, isto os manterá juntos por muito tempo. A terceira razão é que os homens se sentem particularmente amados quando suas esposas se esforçam para fazer algo que os deixam felizes e isso aumenta o potencial de resposta positiva dos homens em outras áreas. Particularmente, eu tenho um desejo enorme de satisfazer o desejo de minha esposa e aprender a dançar. Acredito que se isso acontecer ela ficará muito mais feliz e satisfeita na relação.

O que a maioria das pessoas não entende é que homens e mulheres são sócio e biologicamente programados para pensarem de forma diferente. Segundo o Dr. Gray, o homem “está mais preparado para enfrentar emoções fortes tentando silenciosamente resolver um problema. Como um guerreiro protetor na selva, ele se adaptou a este papel e enfrentou sentimentos fortes de medo, raiva e perda por meio da solução silenciosa dos problemas. […] Mulheres, por outro lado, se adaptaram a seus papéis de procriadoras e aprenderam a enfrentar os sentimentos e a solucionar problemas por meio da conversa compartilhada com as amigas, com a família e com a comunidade” (GRAY, 1997. p. 84, 85). É óbvio que este tipo de descrição é um mero estereótipo dos dois. Conforme afirma o Dr. John Gray, “o homem masculino tende a ser mais racional que intuitivo” (GRAY, 1996, p. 62) ao passo que a mulher é muito mais associada ao romance e à paixão. Mas o que é “romance” para a mulher pode não ser o mesmo para o homem. Enquanto ela prefere uma conversa íntima, durante um bom jantar ao luar, ele pode preferir o companheirismo recreativo – assistindo o futebol na TV, intercalando com sexo. Geralmente todas as quatro necessidades básicas são atendidas por ambos os sexos quando estão namorando. O problema surge quando casam. Eles passam a ficar relapsos em satisfazer seus cônjuges. As mulheres tendem a “encontrar tempo para carinho e conversa íntima, mas ficam ocupadas demais para oferecer satisfação sexual ou companheirismo recreativo” (HARLEY JR. 2014, p. 102). Com os homens, o que acontece é exatamente o oposto. Portanto, procurem com todas as suas energias evitar cometer esse erro. Cada um possui necessidades que só podem ser satisfeitas por seu cônjuge. E quando os dois estão satisfeitos nestas quatro necessidades, nada ou ninguém poderá separá-los.

No entanto é preciso registrar que tanto existem mulheres com características mais masculinas quanto homens com maior sensibilidade. Na realidade, “As mulheres que são atraídas por homens controladores tendem a ser igualmente boas em conformar-se, concordar e negar a si mesmas. Elas se tornam excessivamente dependentes dos parceiros para conseguir um senso de identidade. Por vontade própria oferecem seu senso de personalidade aos parceiros, para merecerem o amor e criar harmonia. […] Quando o tipo de mulher independente começa a relacionar-se com um homem sensível, depois de algum tempo seu lado feminino suprimido começa a emergir” (GRAY, 1996, p. 76, 77).

Para encerrar quero contar um fato que minha esposa presenciou. Semana passada estávamos fazendo compras juntos no supermercado quando, enquanto ela estava na seção de frutas, ouviu um homem falando com um amigo ao telefone marcando um encontro para aquele dia à tarde (era um sábado) e perguntando se ele já havia ligado para um amigo comum que também iria. Ao lado estava sua esposa e seu filhinho de uns quatro anos. Ela reclamou pelas saídas que estavam ficando constantes e que a excluíam. Ele retrucou dizendo que se ela reclamasse muito, ele, além de sair no sábado, sairia também no domingo.

Temos aqui duas realidades. De um lado, uma esposa que não estava disposta a sair com seu marido para sua diversão com os amigos no sábado à tarde. Mas por outro a insensibilidade do marido em perceber que aquelas atividades não agradavam sua esposa e que ela preferia ter um fim de semana com ele em uma atividade à dois. Não conheço aquele casal nem as circunstâncias em que tudo aquilo ocorreu, mas posso garantir uma coisa: casais que se divertem juntos, permanecem juntos. Portanto, planejem juntos aquelas atividades que satisfaçam aos dois.

 

Referência Bibliográfica:

GRAY, John. Homens, mulheres e relacionamentos: fazendo as pazes com o sexo oposto. Rio de Janeiro: Rocco, 1996

GRAY, John. Marte e vênus juntos para sempre: novas formas de relacionamento para um amor duradouro. Rio de Janeiro: Rocco, 1997

HARLEY JR. Willard F. Casamentos à prova de traição. Rio de Janeiro: Sextante, 2014

 

 

 

  1. EVITANDO A INFIDELIDADE CONJUGAL 5

Como sabemos, estamos escrevendo uma série de textos acerca daquelas necessidades emocionais que tanto os maridos quanto as mulheres têm e que, se não forem satisfeitas cabalmente, podem dar espaço para a infidelidade conjugal. Os artigos são intercalados. Ou seja, se o primeiro texto foi escrito para ela e o segundo para ele, este é direcionado mais uma vez para os maridos. Desta feita, os maridos precisam saber que a terceira coisa sem a qual ela não pode viver é sem confiança, honestidade e franqueza.

Existem homens que possuem um comportamento profundamente evasivo. Eles são pessoas que necessitam de uma certa privacidade em sua vida. E, acredite, isso necessariamente nada tem a ver com algum caso extraconjugal. Ele apenas acreditava que não precisava ter que dar satisfações sobre todos os aspectos de sua vida à sua esposa e que poderia chegar em casa a hora que quisesse. Quando você é um marido assim e que, ainda por cima, trabalha com um horário bastante irregular, precisa saber de uma coisa, você está minando, ainda que sem querer sua relação conjugal.

Sua esposa ficará cada vez mais frustrada com a relação e ficará vulnerável para que alguém apareça e lhe ofereça a segurança, a honestidade e a abertura que ela tanto precisa. O Dr Harley Jr. já dizia que “Se o marido não mantém uma comunicação aberta e honesta com sua parceira, ela vai perdendo a confiança nele, e, com o tempo, isso destrói o senso de segurança dela” (HARLEY JR, 2014, p. 106).

Meu caro leitor, você precisa compreender que as mulheres são honestos para com ela a fim de que elas se sintam seguras. Mais do que isso. Elas precisam saber tudo sobre sua vida passada, presente e futura. Eu mesmo achei muito estranho o fato de que minha esposa me perguntava detalhes sobre todas as minhas ex-namoradas ou mesmo conhecidas. Hoje eu compreendo essa necessidade. As mulheres querem a segurança e a estabilidade que somente uma relação transparente e franca pode dar. Omitir informações pode ser perigoso para uma relação, mas, mentir, será um verdadeiro desastre. Mark e Grace Driscoll sugerem aos homens “Abra sua mente, conte para sua mulher como você está se sentindo. Ouça sem ser distraído (deixe o telefone celular de lado) e concentre-se nela, olhando-a nos olhos por longos períodos de tempo. Seja sincero com ela em relação as suas emoções e permita que ela seja sincera sobre as emoções dela” (DRISCOLL, 2012, p. 54).

A transparência é fundamental para uma mulher. Ela quer ser sua melhor amiga e saber de tudo sobre você. Portanto não tenha medo de “se abrir” com sua esposa. É justamente isso que ela precisa e espera de você. Isso é importante porque ela vai, à medida em que o tempo vai passando, formando uma imagem sobre você. E, acredite, essas informações serão vitais para que, diante de uma calúnia, por exemplo, ela possa dizer: isso é mentira! Eu conheço meu marido!

Portanto, meu caro amigo, quando sua esposa vier com perguntas do tipo “O que você está pensando?” ou “Você encontrou alguém conhecido no supermercado enquanto fazia compras hoje?”, não responda com piadinhas do tipo “Você é alguma repórter escrevendo um livro?”. Ela só está querendo sua honestidade e transparência.

E a questão da privacidade? Afinal não temos o direito de omitir nada dela? Caro amigo, se por privacidade você está se referindo a um aspecto de sua vida, como se fosse um quarto em sua casa, ao qual ela não pudesse, de forma alguma ter acesso, então eu diria que esse quarto precisa ser aberto para o bem da relação. É claro que você pode discordar de mim e achar um absurdo que sua esposa tenha acesso à sua caixa de e-mails. Mas acredito que entre marido e mulher não deve existir qualquer aspecto privado.

O Dr Harley Jr (Ibid. 2014, p. 109) identifica três razões para que os casais sejam absolutamente transparentes e honestos entre si. Em primeiro lugar, a honestidade proporciona “um mapa bem claro para os ajustes necessários no casamento”. Quando o casal é honesto um com o outro ele consegue negociar com rapidez os eventuais problemas e efetuar as mudanças que dirimam as questões. Em segundo lugar, porque as consequências da desonestidade pode ser devastadora na alma de quem confia e se entrega sem reservas. Essa dor pode ser tão grande que a própria relação pode entrar em xeque. Finalmente, devemos manter um relacionamento transparente e honesto com nossa esposa porque é esse tipo de relacionamento que a torna satisfeita e feliz na relação. Normalmente, elas se apaixonam muito mais por parceiros que são íntegros, transparentes e honestos.

A política de honestidade proposta pelo Dr Herley (Ibid, 2014, p. 110) se divide em quatro partes: “1. Honestidade emocional. Revele pensamentos, sentimentos, gostos e aversões. Ou seja, revele suas reações emocionais – tanto positivas quanto negativas – aos acontecimentos de sua vida, principalmente em relação ao comportamento de seu cônjuge. 2. Honestidade histórica. Revele informações sobre o seu passado, em especial eventos que demonstrem fraquezas pessoais. 3. Honestidade presente. Revele informações sobre os eventos de seu dia a dia. Dê a seu cônjuge um calendário de suas atividades, ressaltando aquelas que podem afetá-lo(a). 4. Honestidade futura. Revele seus pensamentos e seus planos em relação a atividades e objetivos para o futuro”.

Para terminar há uma questão que precisa ser enfrentada. Quando há uma infidelidade conjugal, ela deve ser confessada? Eu sei que muitos acreditam que se ninguém sabe é melhor deixar as coisas como estão e não criar problemas onde não existe. No entanto, se queremos um casamento honesto, precisamos ser francos. Se a honestidade for comprometida toda a relação estará. Eu sei que alguns casais já se separaram quando um contou ao outro sobre sua traição, mas, a confissão não foi a causa primária da separação. Se o cônjuge infiel consegue ser honesto e aberto, aquele que foi traído, se tiver um pouco de compaixão e desejar reerguer a relação, pode estabelecer algumas disciplinas para o soerguimento do casamento. Mas sejam sábios. Não permitam que um erro do passado seja sempre usado para humilhar a quem caiu. Ou, como ensina Allan Petersen: “O passado agora é história, e não pode ser vivido outra vez. Você não pode fazer nada a respeito do comportamento do passado, mas pode aprender com dele. Você pode viver apenas o momento presente; quaisquer recordações pessoais ou de outras pessoas a respeito dos erros do passado só o ferirão e o tornarão incapaz de agir agora. Recuse-se a permitir que seu casamento seja ferido pelo que existiu no passado” (PETERSEN, 1985, p. 168).

O que os maridos não podem jamais esquecer é que a mulher precisa confiar e acreditar em seu marido. Ser aberto e honesto para com sua esposa é um passo fundamental suprir a necessidade emocional de confiança de sua esposa e para prevenir qualquer eventual caso extraconjugal. Lembre-se das palavras de Patrícia Love e Steven Stosny: “Os casais precisam de suportes emocionais para que fiquem próximos, assim como os astronautas precisam de suportes durante uma jornada no espaço. Quando estão fora da espaçonave, os astronautas se mantêm ligados a ela e à vida por essa longa linha que representa seu suporte. Os suportes emocionais nos mantêm unidos sem nos amarrar” (LOVE & STOSNY, 2007, p. 272).

 

Referência bibliográfica

HARLEY JR. Willard F. Casamentos à prova de traição. Rio de Janeiro: Sextante, 2014

DRISCOLL, Mark & Grace. Amor, sexo, cumplicidade e outros prazeres a dois. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2012

PETERSEN, J. Allan. O Mito da grama mais verde. Infidelidade conjugal – causas, prevenção e soluções. Rio de Janeiro: JUERP, 1985

LOVE, Patrícia & STOSNY, Steven. Não discuta a relação. São Paulo: Nova Fronteira, 2007

 

 

 

  1. EVITANDO A INFIDELIDADE CONJUGAL 6

Dando continuidade às nossas reflexões alternadas sobre os passos necessários para evitar a infidelidade conjugal, dirijo-me, agora, às mulheres que leem estes textos. Quanto a vocês, minhas queridas leitoras, é importante que vocês atentem para as pesquisas que demonstram que a terceira coisa que os homens mais prezam em suas esposas é a atração física.

Logo de chofre temos algo importante a dizer. Diferentemente do que algumas mulheres poderiam pensar, essa não é a primeira necessidade apontada pelos homens, mas a terceira. O que significa que numa escala de valores, ela não é tão significativa quanto à prática sexual ou à participação nas atividades conjuntas. Mas ela existe e precisa ser compreendida adequadamente.

Lamentavelmente, os estudos demonstram que muitas vezes, depois do casamento as mulheres relaxam em seu aspecto físico e não percebem o quão importante este item é relevante para a mente masculina. Já tive a oportunidade de conversar com maridos que reclamavam com suas esposas sobre isso e elas, simplesmente, diziam que “se ele me ama, terá que me amar como eu sou”. Honestamente, acho que este tipo de resposta trava o diálogo e complica ainda mais as coisas. Afinal quem não conhece o comentário feito por Vinícius de Morais? “Que me perdoem as feias, mas beleza é fundamental”. Um daqueles maridos que conheci passava por uma situação difícil. Ele era membro de uma igreja bastante conservadora e prezava muito pela fidelidade. Mas desde o casamento sua esposa ganhara 50 quilos e isso o incomodava.

Renato e Cristiane Cardoso, autores do best selersCasamento blindado” nos diz que “é necessidade básica do homem se sentir atraído fisicamente pela esposa. O homem é muito mais atraído pelo visual do que a mulher, por isso, a esposa deve cuidar de sua aparência física. (…) A mulher tem de se cuidar para manter a chama da atração física. No entanto, ela deve fazer isso para o seu marido, e não para outras mulheres, como costuma acontecer”. (…) Muito menos para outros homens. A mulher segura, diz o casal Cardoso, “se torna uma caça interessante para o homem. Afinal ele é o caçador” (CARDOSO, 2012, p. 202, 203).

Concordando com essa tese vemos as palavras do Dr. Gray que afirma: “É importante que a mulher compreenda que os homens primeiro se atraem visualmente por uma mulher. Um homem vê uma mulher bonita e instintivamente quer olhar o seu corpo. (…) Mesmo se às vezes no começo de um relacionamento o homem não está seguro de que se sinta plenamente satisfeito com o corpo de sua parceira, com o tempo, quanto mais ele a conhece e a ama, vai começar a experimentar a perfeição de seu corpo para ele” (GRAY, 1998, p. 68). Neste momento, nem mesmo os padrões impostos pela mídia importam. Para ele, sua mulher é única. Mas nem por isso elas devem relaxar em investir em si mesmas.

É verdade que muitos maridos não veem problema algum nestas questões físicas. Para eles simplesmente não importa se elas são magras ou gordas; loiras ou morenas, etc. Enquanto inúmeras mulheres morrem de sofrer por causa das rugas de expressão ou entram em paranoia por causa das celulites e varizes, seus maridos seque sabem distinguir uma das outras. A aparência física simplesmente não é tão fundamental assim para a relação. Para esses maridos, há outras necessidades emocionais que são bem mais importantes. Mas, acredite, para boa parte dos homens uma esposa atraente é fundamental. Para estes homens, a infidelidade pode ser ocasionada por uma esposa que é descuidada ou desleixada com sua aparência. J Allan Petersen, que é especialista no tema da infidelidade nos diz que “Quando um cônjuge se envolve em um ‘caso’ (…) há razões. Nem a parte culpada nem a inocente podem entender plenamente essas razões ou descrevê-las exatamente. Pode ser que não saibam quais são as suas mais profundas dimensões psicológicas, emocionais, físicas e espirituais, e o que pode parecer uma razão válida para um, pode parecer uma desculpa para o outro” (PETERSEN, 1985, p. 35). Na maioria das vezes o “caso” é apenas uma tentativa de solucionar uma deficiência que existe no relacionamento. Descrevendo um diálogo que tivera com um marido que se separou de sua esposa essas foram as palavras que ele usou: “Minha esposa é tão simples e modesta! (…) Ela veste roupas tão fora de moda que todos a notam no meio da multidão. Fico embaraçado, embora queira orgulhar-me dela. Eu já lhe falei repetidas vezes para arrumar-se melhor, porém ela se recusa” (PETERSEN, 1985, p. 47).

Muitas vezes achamos melhor fugir a esse fato. E uma das formas mais comuns de fugir disso é acreditar em um mito muito propagado nas igrejas por aí, e que afirma que seu casamento foi “feito no céu”. Minha cara, somente as etiquetas de calças ou camisas de marca são críveis quando afirmam: “Made in China” ou “Made in USA”. Seu casamento é o resultado de uma relação humana e extremamente humana, com tudo o que isso implica. Por isso, esse tipo de mito não apenas propicia uma falsa segurança, como também se torna uma desculpa para o relaxamento de um ou dos dois cônjuges ou os imobiliza, achando que não precisam fazer mais nada, porque já se casaram no céu.

Se você, minha cara leitora, está procurando satisfazer plenamente todos os aspectos emocionais de seu marido, então você terá que ter mais cuidado com seu aspecto físico. Citando as palavras de Willard Harley Jr (2014, p. 125), “Sua aparência física é muito importante para seu esposo. Isso não é apenas uma implicância. É algo de que ele precisa desesperadamente. A linda mulher com quem ele se casou está se escondendo sob esse excesso de peso. Ao cuidar do seu corpo você estará cuidando de seu marido também”.

É claro que todos queremos ser amados da forma que são. Mas quando você se casou com seu marido você o fez com base no que ele fazia. Ele satisfazia suas necessidades emocionais básicas. Depois de casados é importante que continuemos a cuidar e a satisfazer essas necessidades. Ele te deu carinho, intimidade, segurança, fidelidade e foi isso que o fez se sentir à vontade para casar-se com ele. Mas você também tem que satisfazê-lo.

Não sou exatamente o que você poderia chamar de um homem típico da modernidade, ou seja, aquele cujo padrão de beleza se encontra nas modelos que desfilam nas passarelas de Milão, Paris, etc. Muito ao revés, sou um medievalista em tudo, inclusive nos meus padrões estéticos. Por isso uma outra razão que me faz ser apaixonado pela minha esposa é seu padrão estético de madona medieval.

É obvio que todo padrão de beleza é subjetivo e ninguém está “encorajando ninguém a tentar ficar igual a um modelo de revista. Só estou dizendo que a esposa deve tentar ficar do jeito que o marido gosta – lembrando-o da mulher com quem um dia ele se casou” (HARLEY JR, 2014, p. 127). Lembre-se, volto a ressaltar, lembre-se, que o padrão estabelecido aqui não é aquele proposto ou imposto por nossa sociedade consumista e fútil, mas o padrão que agrada seu marido.

É óbvio que não estamos fazendo apologia da superficialidade e da futilidade trazida pela toxina botulínica ou pelo excesso de silicone. Envelhecer faz parte da vida e devemos viver cada um dos momentos de nossas vidas da melhor maneira possível. E isto significa que sempre podemos investir em uma roupa nova, em fazer uma “repaginada”, em investir em uma boa maquiagem, em ir à cabelereira mudar o penteado, fazer as unhas, comprar um bom perfume, em procurar uma academia ou mesmo em fazer uma reeducação alimentar, e tudo isso com apoio – senão a parceria – de seu marido. Afinal devemos cuidar bem de nosso corpo que é citado nas Escrituras como “templo do Espírito Santo”. Cuidar de nosso corpo é fundamental, antes de mais nada, para nossa saúde e autoestima.

Lembro quando pesava 98 quilos. E olhe que eu sou bem baixo. Mas algumas vezes durante o dia, estava sofrendo picos hipertensivos. Um dia meu médico me disse que tudo comigo estava ótimo, mas que eu precisava reduzir minha circunferência abdominal. Com a ajuda de minha esposa, perdi 17 quilos em sete meses, apenas me alimentando melhor. E ainda estou no processo até chegar aos 78 quilos. O peso com o qual minha esposa me conheceu.

Minha cara leitora, se você desejar, se você se esforçar e quiser, você certamente conseguirá. O segredo está na disciplina. E a saída é básica: “Equilibre sua ingestão de calorias com a quantidade de exercícios” (HARLEY JR, 2014, p. 129).

Você pode até não acreditar que sua aparência é fundamental para a manutenção de seu casamento. Mas pelo menos acreditará que, se você investir mais em si mesma, você se sentirá melhor e mais bonita. Lembre-se de que segundo Harley Jr (2014, p. 136) “beleza é o que você faz com aquilo que você tem”. Para Patrícia Love e Steven Stosny (2007, p. 135). “É impossível se sentir melhor quando você negligencia seu corpo” Ainda seguindo o raciocínio de Harley Jr, “Toda mulher ganharia se buscasse uma avaliação de cada aspecto da imagem que projeta – postura, cabelo, roupas, gestos, maquiagem, peso e assim por diante”. Se for preciso mudar, você vai procurar mudar. Algumas mudanças demoram dias, outras semanas, outras meses, mas é preciso se prevenir contra a infidelidade conjugal investindo em si mesma para conquistar seu marido cada vez mais a cada dia.

Mark e Grace Driscoll são extremamente abertos e claros quanto a este tema ao afirmarem às esposas: “Seja visualmente generosa, usando a preferência visual do seu parceiro para sua vantagem e para o prazer dele. Em vez de lutar com seu parceiro, lute por ele e tente sempre oferecer uma boa imagem. Faça amor com as luzes acesas, ou à luz de velas. Durma nua. Dispa-se na frente do parceiro. Tome banho junto com ele. ‘Provoque’ seu marido em todos os lugares da casa. Baixe as cortinas e ande nua pela casa. Vista-se com roupas mais sensuais e trabalhe a sua imagem corporal. Pendure um espelho em algum lugar perto da cama. Ficar de olho no peso e trabalhar a boa forma também são atitudes bem-vindas. Um esposo amoroso não espera a perfeição, mas aprecia o esforço sincero feito pela esposa que busca comer bem e se exercitar” (DRISCOLL, Mark & Grace, 2012, p. 220).

Não há dúvida de que a verdadeira beleza da mulher está em sua sobriedade e honestidade. No entanto, a própria Bíblia valoriza a atitude da mulher sábia que conquista seu marido com sua sensualidade e beleza. O livro dos Cânticos possui o que os teólogos chama de a dança de Manaim. Por meio dela, a esposa confiante, se oferece a seu marido em um striptease exótico, provocando no marido inúmeros elogios verbais que podem ser lidos em Cânticos 6: 13-7:13. O marido, encantado por sua esposa, fala de seus pés, das curvas de suas coxas, de seu umbigo, seios, etc.

Minha cara leitora, o texto de Cantares diz: “Eu pertenço ao meu marido e ele me deseja”. Que você tenha a sabedoria necessária para saber vestir-se e despir-se para seu marido, sendo sábia e cada vez mais, atraindo seu esposo para junto de si.

 

Referência bibliográfica

CARDOSO, Renato & Cristiane. Casamento Blindado. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2012

DRISCOLL, Mark & Grace. Amor, sexo, cumplicidade e outros prazeres a dois. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2012

GRAY, John. Marte e vênus no quarto: um guia para preservar o romance e a paixão. Rio de Janeiro: Rocco, 1998

HARLEY JR. Willard F. Casamentos à prova de traição. Rio de Janeiro: Sextante, 2014

LOVE, Patrícia & STOSNY, Steven. Não discuta a relação. São Paulo: Nova Fronteira, 2007

PETERSEN, J. Allan. O Mito da grama mais verde. Infidelidade conjugal – causas, prevenção e soluções. Rio de Janeiro: JUERP, 1985

 

 

 

  1. EVITANDO A INFIDELIDADE CONJUGAL 7

O último texto desta série sobre a infidelidade conjugal foi dirigido às mulheres. Este, será dirigido aos homens. Já sabemos até aqui que os homens possuem necessidades emocionais básicas para se sentirem satisfeitos em sua relação. Em resumo, vimos que eles precisam de satisfação sexual, companheirismo no lazer e atração física. Vimos também que elas precisam de carinho, intimidade e absoluta honestidade e franqueza. Neste texto veremos o quarto elemento fundamental para a tranquilidade emocional da mulher e, portanto, como uma barreira contra qualquer possibilidade de infidelidade conjugal: conforto e apoio financeiro.

Por favor, antes de mais nada, gostaria de enfatizar fortemente que eu não estou dizendo que as mulheres casam por dinheiro. Sei que existem muitos comentários a respeito disso, mas estou falando seriamente e sobre questões sérias, o que significa que não me interessa os desvios da linha, mas o que indica as estatísticas. E as estatísticas dizem que elas “querem que eles ganhem dinheiro suficiente para sustentar pelo menos a si mesmos” (HARLEY JR, 2014, p. 140). O casal Mark e Grace Driscoll citam uma pesquisa que apontou que “as esposas norte-americanas, mesmo aquelas com uma visão mais feminista a respeito do trabalho e da divisão de tarefas domésticas, são geralmente mais felizes quando o marido contribui com, pelo menos, 68% da renda familiar” (DRISCOLL, 2012, p. 77). É claro que esse estudo apenas revela a importância da participação do marido na construção da renda familiar. Cada casal tem seu próprio padrão e constrói sua relação e seus limites individualmente.

Não há dúvida que a sociedade presenciou, nos últimos 50 anos a entrada da mulher no mercado de trabalho e que hoje, elas ocupam espaços de liderança tanto quanto os homens – embora algumas estatísticas afirmem que elas ganham menos que os homens fazendo as mesmas coisas.

O que é interessante é que, embora elas tenham assumido esta postura, boa parte das mulheres ainda reproduzem o comportamento machista acreditando que é papel do homem ser o provedor e o mantenedor do lar. Lembrem-se, todo homem machista foi criado por uma mulher machista. Essa é a razão de vermos tantos casamentos acabarem porque as mulheres não conseguem trabalhar com a ideia de que seus maridos possam ganhar menos que elas. E olhe que hoje há um forte movimento indicando que cresce o número de homens que trabalham em casa lavando, passando, cozinhando e cuidando das crianças, enquanto suas mulheres sustentam o lar.

O fato é que muitas mulheres se ressentem por precisarem trabalhar. O Dr. Harley nos diz que “As mulheres com quem converso normalmente querem poder escolher entre seguir uma carreira ou ficar em casa com os filhos – ou se possível ter uma combinação de ambos. Muitas vezes elas querem ficar em casa quando as crianças são pequenas, para depois retomar suas carreiras” (HARLEY JR, 2014, p. 141). Embora já tenha ouvido esta possibilidade de muitas mulheres, minha experiência com os casais me revela que a maioria está, inclusive, adiando a possibilidade de serem pais para depois do mestrado do da residência médica. Isto ocorre primeiro em função dos altos custos da manutenção de uma casa hoje, e depois, porque antes de pensarem em ter filhos, eles precisam se sentir estabilizados no mercado de trabalho.

Estou ciente de que este tema é controverso e de que você pode discordar de mim. Mas acredite, sua esposa espera sinceramente que você seja capaz de supri-la com o mínimo de conforto possível. Isso não significa que o marido tem que sustentar a esposa, mas que elas querem ver o esforço de seus maridos no apoio financeiro do lar.

Em geral os maridos que ganham o bastante para sustentar a casa, em função da criação machista que tiveram, até entendem que “o meu salário é nosso, enquanto o dela é dela”. Já ouvi muito isso em tom de brincadeira. Mas não brinquem com dinheiro. Isso é coisa séria e mais de 70% dos divórcios ocorrem por razões que envolvem algum aspecto financeiro. Para que todos fiquem tranquilos acho importante que o casal seja capaz de fazer um orçamento mensal, justamente porque ele mostrará o quanto é necessário para se manter a qualidade de vida que o casal quer.

Não acredito que os casais, no futuro, vão fazer muitas exigências em que o marido ganhe mais que a mulher. Quem tem uma leitura mais ampla da vida sabe que não importa ganhar mais ou menos. O que importa é participar. Lamento muito por mulheres que não conseguem ver essa realidade hoje e acabam por cometer o maior erro que, segundo Patrícia Love e Steven Stosny, pode ser cometido contra seu marido: fazê-lo sentir vergonha. Conheci um casal bem exemplar, quanto a isso. Ele era um advogado de sucesso na cidade e meu colega em uma das faculdades de direito em que ensinei. Sua esposa era uma Juíza de Direito em uma das varas de nossa cidade. Os dois se apaixonaram e casaram. Mas logo as diferenças começaram a aparecer. Ela é funcionária pública, o que significa que ela tem estabilidade e um plano de cargos e carreira. Ele é advogado, logo, autônomo. O que significa que seu salário dependeria das causas que ele conseguisse mês a mês. Infelizmente, ela não conseguia ter uma relação com um homem que ganhasse menos. Primeiro foram as brigas em casa; depois vieram as acusações na frente dos amigos do casal; finalmente ela pediu o divórcio. Algum tempo depois ele refez sua vida e casou-se novamente, com uma colega de trabalho. Quanto à ex-mulher, sei que ela teve um aumento de salário (como todo o funcionalismo público) e que continua só, quem sabe, procurando alguém que ganhe mais que ela. Os autores Patrícia Love e Steven Stosny resumem tudo assim: “Quando uma mulher critica um homem, conscientemente ou não, ela o impossibilita de se sentir conectado a ela. Onde há um homem retraído ou silencioso, em geral há uma mulher crítica” (LOVE, P. & STOSNY, S., 2007, p. 104).

Não há mágica. Neste assunto é imprescindível que o casal converse e dialogue muito. Até porque cada casal é diferente do outro. Há casais em que os homens exigem que suas esposas fiquem em casa e eles suprem todas as necessidades; há casais em que eles ganham mais que elas mas permitem que elas trabalhem e gaste seu salário no que quiser; há casais que a mulher ganha mais que o marido e isso jamais se constituirá em um problema para a relação, e, recentemente, tem surgido casais em que o marido assume todo o trabalho doméstico – o que também é um trabalho. O que temos que aprender é a dialogar e acertar qual será o modelo adotado.

Por fim, acho que todo casal precisa saber que ser feliz não custa muito. Custa se tivermos que ostentar para os outros o que não podemos. Aliás, alguém já disse que o capitalismo é um sistema econômico no qual você compra o que não precisa, com o dinheiro que não tem, para mostrar aos outros o que você não é. Isso não é felicidade. Felicidade é qualidade de vida. E qualidade de vida exige um conhecimento das reais possibilidades do casal, ou seja, um planejamento orçamentário a curto, médio e longo prazo. Se a maioria dos casais refletisse sobre isso descobririam que é, sim, possível viver melhor com menos do que estão ganhando. Cito novamente o Dr. Harley Jr (2014, p. 147) quando afirma: “praticamente qualquer família pode viver de maneira confortável com menos do que gasta no momento. Quero apenas que considerem a ideia de que muito daquilo que as pessoas pensam ser imprescindível é na verdade dispensável”. Na sociedade consumista em que vivemos, somos levados a acreditar que nunca seremos felizes se não compramos aquelas bugigangas que são anunciadas nos canais da TV. Nossa sociedade é consumista compulsiva. Temos cada vez mais aparelhos em casa mas nossa qualidade de vida está decaindo com o tempo.

Tenho um colega de ministério que trabalhava em São Paulo e que vivia uma vida de louco, tendo que dar conta de visitar os seus paroquianos, atender os enfermos, fazer as atividades da igreja e cuidar de sua família. Um belo dia ele se mudou para o interior ganhando um terço do que recebia na capital mas com a possibilidade de poder ter toda a família reunida nas três refeições diárias e fazer todo seu trabalho pastoral à pé. Sim, ele perdeu dinheiro, mas ganhou qualidade de vida. Ou, como afirma, mais uma vez o Dr Harley Jr. (2014, p. 147): “Em se tratando de dinheiro e casamento, menos pode ser mais”. Muitos casais não entendem isso e, citando o ensino de J. Petersen (1985, p. 42) “O americano médio vê menos a sua família do que qualquer marido e pai do mundo, observou Peter Buck. Os destruidores de lares são frequentemente o trabalho, a firma, a carreira. Porém nem todo sucesso do mundo nos negócios pode substituir ou compensar o fracasso em casa. A promoção extra e um salário mais alto dificilmente compensam a perda de uma esposa amorosa e a alienação dos filhos. O sucesso não vale muito para um homem de negócios cujas promessas não cumpridas resultaram em um lar desfeito”. Paradoxalmente, quantas mulheres não arrumam um amante porque seus maridos tinham um “caso” com seus empregos?

Por outro lado, há homens que – por causa do machismo latente em nossa cultura – quando perdem o emprego, acham que sua masculinidade está sendo ameaçada. E o que fazem? Pensam que uma conquista sexual vai ajuda-los a reafirmar sua virilidade. Isso pode até parecer patético, mas é real.

Tragicamente, como também afirmei acima, quando o homem perde seu emprego, muitas vezes ele, por si só, já se sente humilhado. As coisas só pioram quando a esposa “passa em rosto” a falta de emprego e perde a consideração por seu marido. O Dr. Gray nos diz que “Considerar uma pessoa é reconhecer que o que ela faz ou o modo como ela se expressa é valioso para você pessoalmente, e que gera algum benefício. (…) Sem consideração, uma pessoa começa a sentir-se desajustada e incapaz de oferecer apoio. Sem respeito, uma pessoa sente-se indigna de receber apoio” (GRAY, 1996, p. 251).

Conforme já afirmei acima, garantir conforto e apoio financeiro, ou seja, suprir essa necessidade emocional de sua esposa, não significa que você terá que sustentar a esposa, sendo o mantenedor do lar, mas que elas ficarão felizes e satisfeitas ao ver seu esforço na busca de apoiar financeiramente o lar. Lembre-se que o apoio financeiro é extremamente importante para a mulher, mas lembre-se também que ele está em quarto lugar na sua ordem de prioridades. Portanto, acima de tudo, seja carinhoso, íntimo e absolutamente honesto e fiel para com sua esposa, mas nunca esqueça de garantir que ela tenha conforto e o apoio financeiro.

 

Referência bibliográfica

DRISCOLL, Mark & Grace. Amor, sexo, cumplicidade e outros prazeres a dois. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2012

GRAY, John. Homens, mulheres e relacionamentos: fazendo as pazes com o sexo oposto. Rio de Janeiro: Rocco, 1996

HARLEY JR. Willard F. Casamentos à prova de traição. Rio de Janeiro: Sextante, 2014

LOVE, Patrícia & STOSNY, Steven. Não discuta a relação. São Paulo: Nova Fronteira, 2007

PETERSEN, J. Allan. O Mito da grama mais verde. Infidelidade conjugal – causas, prevenção e soluções. Rio de Janeiro: JUERP, 1985

 

 

 

  1. EVITANDO A INFIDELIDADE CONJUGAL – 8

No texto anterior eu me dirigi aos maridos, mas este, por sua vez, terá como alvo às mulheres. O objetivo deste oitavo texto sobre como evitar a infidelidade conjugal é mostrar para as mulheres o quarto elemento fundamental para a tranquilidade emocional do homem e, portanto, uma ajuda para estabelecer uma prevenção contra a infidelidade conjugal. Este quarto elemento é a paz e a tranquilidade, ou seja, o apoio doméstico.

Vamos imaginar um caso hipotético que revela que um casamento pode iniciar de forma perfeita e, descambar para um verdadeiro fracasso se esse item não for compreendido pela esposa. Um casal jovem se casa, ambos trabalham e compram a casa de seus sonhos. E menos de um ano depois a esposa engravida e com o bebê chegam mais obrigações e despesas. A esposa resolve assumir um emprego de meio expediente e as obrigações domésticas do marido crescem. Inadvertidamente chegam mais dois filhos e o marido passa a assumir mais um expediente por causa do aumento dos custos e a casa fica cada vez menor para cinco pessoas. A antiga e tranquila vida do marido de repente se transformou em uma luta constante. Ele procura se refugiar assistindo um filme na TV ou lendo um jornal, mas é sempre interrompido pela esposa que reclama sua presença. Chateado com tudo isso ele passa a ficar mais tempo na empresa, o que faz com que a esposa fique mais enraivecida ainda por ter que cuidar de tudo sozinha e lhe negava a prática do sexo. Mas, enquanto ele estava na empresa, passava um bom tempo conversando com uma colega que, além de não lhe falar de problemas ou coisas do tipo, estava sempre relaxada e ainda demonstrava abertamente estar interessada nele. O que ocorreu em seguida é previsível. Ele simplesmente deixou de voltar para casa e, depois do trabalho ia para a casa da amante. Você acha que essa estória não pode acontecer na vida real? Está redondamente enganada. Ela aconteceu e está descrita no texto de Willard Harley (2014, p. 149-151). No final o marido voltou para a esposa porque ela, depois de um processo terapêutico de casal, compreendeu o verdadeiro valor do que o Dr Harley chama de “apoio doméstico”.

Na realidade, quando frustramos nossas necessidades emocionais nos abrimos à fantasias e imaginações nem sempre reais. Segundo o Dr Harley, a fantasia masculina é basicamente assim: “sua vida doméstica não tem qualquer estresse ou preocupação. Após cada dia de trabalho, sua esposa o recebe amorosamente à porta e suas crianças bem-comportadas também estão felizes em vê-lo. Ele entra no conforto de uma casa bem cuidada enquanto sua esposa pede que ele relaxe antes do jantar, cujo cheiro ele já sente vir da cozinha. A conversa durante o jantar é agradável e sem conflitos. Mais tarde, ele coloca as crianças na cama sem qualquer resistência por parte delas. Depois ele e a mulher relaxam, conversam, assistem um pouco à televisão, vão para a cama e fazem amor” (HARLEY JR., 2014, p. 152). Você pode não acreditar no que vou dizer, mas se sua vida for muito diferente do que está descrito acima, você pode estar em apuros.

Mas de onde vem essa fantasia masculina? De uma programação sócio-biológica na qual, por milhares de anos ele foi o provedor que saia de seu lar para caçar, passava por todos os perigos que isso envolvia, e voltava para casa, onde encontrava sua esposa e sua prole em paz. O mesmo ocorre com as mulheres. John Gray nos diz que “É difícil para uma mulher chegar em casa e esquecer os problemas do dia quando o seu cérebro programado lhe diz: ‘Cozinhe mais, limpe mais, ame mais, se relacione mais, alimente mais, dê mais, faça mais’ (GRAY, 1997, p. 33).

Há algo que você precisa compreender, quer goste ou não. Conforme afirma o casal Allan e Barbara Pease (2000, p. 173, 174), “Homens e mulheres são diferentes. Nem melhores nem piores – apenas diferentes. A ciência sabe disso, mas as pessoas politicamente corretas fazem de tudo para negar. Existe uma visão política e social de que homens e mulheres devem ser tratados igualmente com base na estranha crença de que são iguais. É claro que não são”.

Todos nós sabemos que nos últimos trinta anos houve uma grande mudança no papel do homem no que concerne aos trabalhos domésticos. Hoje eles são parceiros de suas esposas e dividem as tarefas de casa. No entanto, essa revolução não foi capaz de mudar a essências de suas necessidades emocionais. Eles até acreditam ser injusto não contribuir com as atividades domésticas, mas, na hora de agir, a maior parte acaba sobrando para as mulheres.

Pesquisas demonstram que a maioria dos homens casariam com as mulheres que amam, mesmo se elas não contribuíssem financeiramente com nada para o lar, ao passo que a maioria das mulheres não casariam com um homem que pretendesse permanecer desempregado por toda a vida. Esta pesquisa apenas aponta para qual seria uma de suas necessidades emocionais básicas. Já vimos isso nos textos anteriores. É claro que há casais que vivem muito felizes e onde os maridos são ótimos em cuidar da casa e das crianças. Mas as estatísticas demonstram que “na maioria das vezes o marido tem uma necessidade de apoio doméstico. Ele precisa que a esposa administre a casa” (HARLEY JR., 2014, p. 153).

O problema que pode surgir na mente da leitora, neste momento, é que eu estou colocando um questão do tipo “ou tudo ou nada”. Não é isso que estou fazendo. Na realidade, acredito que casais maduros precisam conversar e dividir as tarefas em conjunto.

Este problema não existia a cinquenta anos, quando as mulheres acreditavam que o lar era seu espaço de trabalho. Mas hoje, elas assumem as mesmas atribuições de seus maridos e ganham tanto quanto ou mais.

Alan e Barbara Pease chegaram a dizer que as mulheres optaram por seguir uma carreira “porque, além da realização de potencial ou necessidade de contribuir para o orçamento doméstico, querem algumas coisas que os homens têm: dinheiro, prestígio e poder. Estudos apontam que algumas profissionais de sucesso conseguiram também alguns efeitos colaterais: problemas cardíacos, úlceras, estresse e morte prematura. E passaram a beber e fumar como nunca” (PEASE, 2000, p. 174). Além desses problemas, o adiamento da gravidez proporcionada pelo surgimento dos métodos contraceptivos, acabou produzindo o que hoje chamamos de TPM. John Gray, seguindo nessa linha, diz: “As mulheres são muito mais afetadas pelo estresse do trabalho do que os homens, as pressões do trabalho fora de casa duplicam sua carga. No emprego, elas dão tanto quanto os homens, mas quando chegam em casa, seu instinto de mulher fala mais alto, e elas continuam a trabalhar” (GRAY, 1997, p. 33).

Isto ocorre em função das diferenças sócio-biológico-psicológicas existentes entre os homens e mulheres. Mas será que é possível que um casal possa admitir essas diferenças e, ao mesmo tempo, reconhecer as mudanças que ocorreram em nossa sociedade nos últimos cinquenta anos? Creio que sim. Kevin Leman, por exemplo nos diz: “Um casamento feliz é aquele em que ambos os cônjuges entendem e aceitam as diferenças, e sabem como se relacionar apesar do fato de terem uma relação diferente com o mundo. A chave para o crescimento e o enriquecimento no matrimônio reside em estender a mão e tocar o outro de uma forma especial que traduz: ‘Entendo como você se sente e vou fazer o melhor que puder para suprir suas necessidades’” (LEMAN, 2001, p. 17).

Nessa nova situação, a divisão do trabalho doméstico se tornou fonte de conflito conjugal. Segundo Harley (2014, p. 154), elas não só não conseguem atender à necessidade de apoio doméstico do marido como ela também passa a ter a mesma necessidade. Ambos querem “relaxar” após um exaustivo dia de trabalho. É neste momento que muitas mulheres se sentem injustiçadas por uma divisão não equânime das obrigações. Pensemos nas saídas apontadas pelo Dr Harley para resolver o problema da divisão do trabalho doméstico. Ele sugere cinco elementos para que o problema se resolva.

  1. Identifiquem suas responsabilidades em casa. Isto deve ser feito nomeando cada tarefa, estabelecendo o que e quando ela deve ser feita, estabelecendo quem a fará, e indicando, numa escala e 0 a 5, qual a importância dessa tarefa para você. Por meio desse exercício, será possível ver quem se identifica mais ou menos com qual das tarefas domésticas e isso fará com que aquela pessoa a realize com mais satisfação.
  2. Assumam responsabilidades por alguma tarefa. Já que cada um assumiu a tarefa que gosta mais de fazer, escrevam duas listas: “Responsabilidades dele” e “responsabilidades dela”. Se os dois querem se responsabilizar pela mesma tarefa, ela pode ser feita de forma alternada.
  3. Dividam as tarefas restantes. Sempre sobram aquelas tarefas que nenhum dos dois gostam de fazer. A saída é atribuí-la àquele que colocou um escore maior nesse item. Se ambos realmente não gostam da atividade, a solução é contratar alguém que a faça.
  4. Mostre como você ficaria feliz com a ajuda de seu marido. Até aqui tudo bem. Todos estão cumprindo as tarefas que escolheram e estão felizes com a participação de seu cônjuge nas atividades. Mas pense na possibilidade de se oferecer para ajudar seu marido em uma das atividades que estão atribuídas a ele. Acredite, ele vai adorar.
  5. Ofereça ajuda onde seu esforço for mais apreciado. Uma mulher conhece seu marido e sempre que ela se oferece para ajudar naquelas tarefas que ela sabe que ele não gosta muito, ela estará fazendo com que ele fique mais feliz e grato a ela. Em outras palavras, uma mulher sábia concentrará suas atividades naquelas tarefas que trarão mais retorno emocional e gratidão. Fazer isso não apenas demonstra amor mas revela sabedoria. Quem não faria algo que fizesse surgir sentimentos tão benfazejos?

Para concluir nosso texto, devemos nos lembrar das palavras da Dra Joyce Brothers que diz: “Casamento não é apenas comunhão espiritual, também é lembrar-se de colocar o lixo para fora”. Isto significa que os casais que são capazes de resolver seus conflitos sobre questões comezinhas ou prosaicas, como a limpeza, são aqueles mais tipicamente felizes. Mas, diz Tara Parker-Pope, “a questão não é, necessariamente, pedir ao marido para lavar a louça ou as roupas com mais frequência. Também é necessário permitir que ele faça isso sem controlar o modo como ele faz, e não criticar porque ele faz isso diferente de você. E para os homens, resolver o conflito sobre as tarefas domésticas não apenas melhorará seu casamento, mas também gerará menos estresse, melhor saúde e até mesmo mais sexo” (PARKER-POPE, 2010, p. 213).

 

Referência bibliográfica

GRAY, John. Marte e Vênus juntos para sempre. Rio de Janeiro: Rocco, 1997

HARLEY JR. Willard F. Casamentos à prova de traição. Rio de Janeiro: Sextante, 2014

LEMAN, Kevin. O sexo começa na cozinha. São Paulo: Mundo Cristão, 2001

LOVE, Patrícia & STOSNY, Steven. Não discuta a relação. São Paulo: Nova Fronteira, 2007

PARKER-POPE, Tara. Felizes para sempre… São Paulo: Universo dos livros, 2010

PEASE, Allan & Barbara. Por que os homens fazem sexo e as mulheres fazem amor? Rio de Janeiro: Sextante, 2000

 

 

 

  1. EVITANDO A INFIDELIDADE CONJUGAL – 9

Este é o último texto da série que escrevo para os maridos expondo as principais necessidades emocionais de sua esposa e o que você precisam fazer para evitar a infidelidade conjugal. No texto de hoje apresentarei uma das mais importantes necessidades emocionais de uma mulher: elas possuem uma grande necessidade de um núcleo familiar estável.

Mesmo sabendo que as mulheres estão cada vez mais entrando no mercado de trabalho e adiando a experiência da maternidade, ainda existe, lá dentro delas, uma enorme vontade de ser mãe e de ter uma família. Isto é normal e faz parte do universo feminino. No entanto Tara Parker-Pope é bem explícita quando afirma que “Desde o início da década de 1980, mais de duas dezenas de estudos descobriram que a felicidade conjugal e a qualidade no relacionamento despencaram quando os casais se tornaram pais” (POPER, 2010, p. 184). A chegada do primeiro filho, continua a pesquisadora, é responsável “por uma queda significativa no contentamento conjugal” (Ibid. 2010, p. 183) estimado em 70%. Ela, no entanto esclarece: “se os filhos fazem parte dos seus planos – ou se já estão em casa -, não se desespere. A chegada dos filhos traz tanto alegria quanto turbulência ao casamento, e o desafio é ter certeza de que se está equipado para navegar em águas tão tempestuosas” (POPER, 2010, p. 184). Apesar destes dados, a Dra. Poper também nos diz que cerca de 20% dos casais pesquisados permanecem felizes em seu casamento e até mesmo relatam altos níveis de felicidade conjugal, mesmo com a chegada do primeiro filho. Qual o segredo desses casais?

Para começar precisamos entender quais são as expectativas e necessidades emocionais das mulheres. Segundo o Dr Harley Jr., “a esposa quer que seu marido se comprometa no desenvolvimento moral e educacional dos filhos” (HARLEY JR., 2014, p. 166). Seguindo nessa linha o Dr Kevin Leman nos diz ser verdade que às vezes os filhos atrapalham a intimidade conjugal, “mas normalmente uma mulher sente-se confortada e amada quando o marido dedica um tempo significativo aos filhos” (LEMAN, 2001, p. 135). O problema é que vivemos em um mundo em que os homens estão cada vez mais focados em suas carreiras profissionais e cada vez menos em sua família. Segundo afirma Petersen (1985, p. 42), citando uma pesquisa feita por Pearl Buck, “O americano médio vê menos a sua família do que qualquer marido e pai do mundo”. Em outras palavras a ausência da participação do pai pode gerar um vácuo na relação, e é justamente aqui, neste vácuo, que pode haver espaço para o surgimento de um caso extraconjugal.

Muitas vezes, e por diversas razões – que podem variar desde questões psicológicas até o tipo de emprego que o marido tem – as mulheres acabam procurando outros homens em sua família ou entre os seus amigos, que assumam essa figura masculina e que ajude no bem-estar e criação de seus filhos. Estes homens podem variar desde o avô até um tio ou primo, ou mesmo, um amigo da família.

Eu, por exemplo, perdi meu pai quando tinha apenas um ano e meio de idade, mas lembro que as duas figuras masculinas que serviram de modelo para mim durante minha infância e adolescência foram as de dois tios que tive: Diomedes e Araújo. O primeiro me auxiliou muito em minha infância e o segundo, casou-se com minha tia, que acabou me criando, depois da morte de meu pai.

Mas o que ocorre, muitas vezes é que, em função da ausência do marido, a esposa acabe buscando alguém que a auxilie na criação dos filhos, e isso, redunde na criação de algum tipo de envolvimento emocional.

Para evitar que essa possibilidade se materialize o casal precisa ter o seu canal de comunicação aberto em duas áreas fundamentais: tempo e treinamento.

Quando falamos que os homens devem dedicar um tempo de qualidade à sua família, não estou me referindo ao que já tratamos aqui, ou seja, aquelas tarefas rotineiras da casa. O Dr Harley Jr. (2014, p. 167) entende que “Tempo de qualidade com a família é quando pais e filhos estão juntos em atividades que levam ao desenvolvimento moral e educacional das crianças”. E ele sugere que os pais devem investir, pelo menos, 15 horas semanais nesta tarefa. Não se engane, criar filhos leva tempo. Mas para isso é preciso uma reorganização das prioridades de suas vidas. Afinal, “se vocês querem influenciar seus filhos para que se tornem adultos bem-sucedidos, reservar momentos para estar ao lado deles é fundamental” (HARLEY JR., 2014, p. 168). É claro que este tempo deve ser gasto no ensino da consideração e do cuidado com o próximo, do carinho uns para com os outros, a ajuda dos mais necessitados, etc. Tudo isso pode ser objeto de atividades como:

– Sentar juntos no momento das refeições

– Passeios pela vizinhança, à pé ou de bicicleta

– Brincar com jogos grupais

– Ir à Igreja

– Ler para os filhos antes de dormir, etc, etc.

Como você pode ver, não estamos eliminando atividades, mas apenas fazendo algumas modificações para que todos possam estar juntos. Lamentavelmente, hoje em dia é cada vez mais comum que as refeições sejam feitas cada um em um cômodo diferente; os jogos sejam sempre aqueles que estão no smartfone, e as conversas ocorram mais no whatsap. Isso exigirá muita criatividade e persistência para que os filhos dessa nova geração abandonem suas “bolhas virtuais” e convivam com seus pais. O fato irremovível é que se vocês “levarem a sério esse tempo com a família desde os estágios iniciais de crescimento das crianças, vocês não terão muitos problemas mais tarde” (HARLEY JR., 2014, p. 170).

Não quero com isso dizer que não haverá dias em que você, pai, não estará disposto a brincar ou a fazer outra atividade com seu filho. O que mais importa neste instante é que você seja honesto e diga que naquele momento você não pode brincar com ele. Acredite, ele entenderá, porque eles entendem quando fazemos as coisas só por obrigação. Eva-Maria Zurhorst nos diz que quando você parar de utilizar suas últimas energias “para bancar o pai exemplar ou a mãe amorosa, quando você encarar seus defeitos conscientemente, você pode até não passar uma tarde animada e divertida com seus filhos, mas pode encontrar uma proximidade real” (ZURHORST, 2009, p. 186).

Infelizmente a maioria dos pais assumem a postura do que o Dr Leman chama de “provedor indiferente”. Estes tipos de homens, “Trabalham oito horas por dia para ganhar muito dinheiro e comprar uma casa elegante num bairro requintado – entretanto nunca vêem a família que mora lá” (sic) (LEMAN, 2001, p. 135). Eles acabam sendo estranhos à família.

O outro elemento fundamental que a criação de filhos exige é o treinamento. Assim como ninguém nasce sabendo dirigir, ninguém nasce sabendo criar uma criança. Sim, é possível aprender a ser um bom pai. O Dr Leman nos diz que “criar filhos é uma habilidade que tem de ser aprendida, como qualquer outra” (LEMAN, 2001, p. 135). Existem centenas de livros sobre isso nas livrarias e dezenas de seminários apresentando esse tema nas igrejas, ONG’s, ou Organizações de Serviço. Os pais precisam “assumir um compromisso de estudar o assunto, passar pelo aprendizado e acima de tudo dedicar o tempo necessário para se tornarem os maiores especialistas no desenvolvimento dos próprios filhos” (LEMAN, 2001, p. 135). Seja como for, conforme expõe o Dr. Harley Jr., existem pelo menos cinco capacidades que os pais precisam aprender:

  1. Aprenda a fazer acordos com sua esposa. Se seu desejo é atender às necessidades de seus filhos, não há razão para não buscar entrar em acordo com sua esposa em alguma questão relevante. Os dois precisam estar juntos na criação dos filhos.
  2. Aprenda a expor as regras. Toda criança precisa entender por que devem fazer isso ou por que não devem fazer aquilo. Os homens precisam ter a paciência e a sabedoria de ensinar seus filhos os valores éticos e morais que regem a vida social. Não adianta, simplesmente, dizer, “porque eu quero e pronto!”. Ela precisa entender as razões das coisas.
  3. Aprenda a ser consistente. Você pode não acreditar mas as crianças as vezes podem manipular seus pais. Se o pai está alegre elas se aproveitam do fato para fazerem o que querem. Já quando o pai está chateado, todo cuidado é pouco. O pai precisa agir da mesma forma sempre para que a criança entenda o valor da regra. Elas precisam estar atentas à consistência da regra e não ao humor do pai.
  4. Aprenda a punir apropriadamente. Crianças que nunca são repreendidas se tornam problemas mais tarde. Elas precisam aprender seus limites até seus 7 anos de idade. Uma das formas mais consagradas de punir os filhos – entre os 8 e 12 anos – é retirar-lhes seus privilégios. Isto pode significar ficar sem televisão ou sem computador. O que não deve ser estimulado é a simples agressão física ou moral, que produzirão cicatrizes que serão levadas pelo resto da vida. Quando adolescentes, as punições devem ser substituídas pelas retribuições que podem ser desde um tênis novo para jogar futebol até uma viagem em família para um local que ele sempre quis ir.
  5. Aprenda a controlar a raiva. O pior momento para disciplinar a criança é quando se está com raiva. Nesse momento, podemos ser desproporcionais. Quando disciplinamos em momentos de fúria, nós não só estamos ferindo suas almas e gerando dores que aflorarão mais tarde, mas também estaremos ensinando um padrão de comportamento que eles reproduzirão quando forem pais.

Finalmente, há uma última questão que precisa ser tratada aqui: a criação dos filhos não deve transformar uma amante em apenas mãe. Você pode não acreditar mas, conscientemente ou não, muitos casos extraconjugais ocorrem imediatamente depois que as mulheres se tornam mães por ciúme do papel que o filho acaba de assumir. As desculpas usadas são muitas. A mais comum é a de que ela só pensa na criança e abandonaram o pai, perdendo todo o interesse e a libido nele. De fato estatísticas mostram um elevado número de divórcio depois que o casal teve o primeiro filho. O que ocorre é um choque de prioridades. A prioridade de cuidar da criança concorre com a prioridade de cuidar de seu marido. Quando a primeira vence, em geral o casal se separa. Conforme ensina o Dr Harley Jr. quando “uma esposa se transforma de amante em mãe, a maioria dos homens vê apenas a perda de sua satisfação sexual e do companheirismo no lazer como causadores do colapso de seu casamento. Mas o que costuma acontecer é que as necessidades da mulher de carinho e conversa íntima também não são atendidas” (HARLEY JR., 2014, p. 175). Sem tempo e sem privacidade para satisfazerem às necessidades emocionais básicas um do outro, o casamento entra em perigo. É preciso equilíbrio nesse momento.

 

Referência bibliográfica

HARLEY JR. Willard F. Casamentos à prova de traição. Rio de Janeiro: Sextante, 2014

LEMAN, Kevin. O sexo começa na cozinha. São Paulo: Mundo Cristão, 2001

PARKER-POPE, Tara. Felizes para sempre… São Paulo: Universo dos livros, 2010

PETERSEN, J. Allan. O mito da grama mais verde. Rio de Janeiro: JUERP, 1985

ZURHORST, Eva-Maria. Ame a você mesmo e… permaneça casado. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009

 

 

 

  1. EVITANDO A INFIDELIDADE CONJUGAL – 10

Chegamos ao fim de nossa série de textos que tratando sobre os passos necessários para que se evite a infidelidade conjugal. Neste último texto, me dirijo às mulheres com a finalidade de que elas entendam que precisam satisfazer uma quinta e última necessidade emocional de seus maridos, e, desta forma, blindar sua relação contra qualquer possibilidade de infidelidade conjugal. Nesse último escrito, portanto, trataremos da última, mas não menos importante necessidade de um marido: a admiração, o orgulho e o respeito.

Muitas mulheres não entendem, mas os homens têm uma enorme necessidade de serem admirados, respeitados e de verem suas mulheres orgulhosas com o que eles fazem ou realizam. Na realidade a admiração sincera funciona como uma mola propulsora para a maioria dos homens, inspirando-o a ir mais longe e a seguir adiante de uma forma melhor. O Dr. Harley Jr., tratando do tema nos diz que “Ele passa a se ver como alguém capaz de assumir novas responsabilidades e aperfeiçoar suas técnicas e seus conhecimentos, e se dá conta de que pode ir além” (HARLEY JR., 2014, p. 179). No entanto temos que concordar que essa admiração é a resposta da mulher a um passo dado pelo próprio homem. Por isso o Dr. John Gray diz que “Quando uma mulher sente que é a coisa mais importante na vida dele, então, com bastante facilidade, ela o admira” (GRAY, 1997, p. 150).

O que acontece na mente do homem é que o elogio não apenas serve de recompensa pelo que ele realizou, mas também de motivação para que ele realize mais e melhor. Esta satisfação, alguém já disse, é maior do que aquela que ocorre no dia em que ele recebe o seu contracheque. E mas, ele passa a ter uma imensa gratidão para com este tipo de esposa que o apoia emocionalmente e fortalece sua autoconfiança. Cito mais uma vez as palavras do Dr, Harley Jr. (2014, p. 180) quando ele afirma que “Um homem espera – e precisa – que sua esposa seja sua fã mais entusiástica. Ele fica mais autoconfiante quando a mulher o apoia e geralmente consegue alcançar muito mais na vida com o incentivo dela”. O homem se sente admirado, afirma o Dr, John Gray, “quando ela fica alegremente espantada com suas características ou talentos únicos, que podem incluir humor, força, persistência, integridade, honestidade, romantismo, amabilidade, amor, compreensão e outras das chamadas virtudes antiquadas. Quando um homem se sente admirado, ele se sente seguro para se devotar a sua mulher e adorá-la” (GRAY, 1997, p. 150).

Uma outra vantagem da apreciação e da admiração sobrevêm sobre aqueles maridos que trazem em suas almas e vidas, algumas feridas emocionais que o fizeram experienciar a baixa autoestima. Quando sua esposa o valoriza e fala do que ele fez e de como se sente orgulhosa dele, ela está, na realidade, agindo terapeuticamente, ajudando-o a superar seus medos, seus fracassos, suas falhas e sua falta de autoconfiança. Esta baixa autoestima é, geralmente, o resultado de uma criação na qual ele, enquanto criança, foi muito criticado pelo que fez, ou, quando mais tarde, sempre era objeto de críticas feitas por seus amigos, parentes ou pessoas próximas. Ou seja, ele internalizou essa visão de si mesmo e passou a duvidar de suas próprias habilidades em realizar certas atividades. Quando a esposa ressalta seus erros e fracassos, ela está assumindo o papel que era de seus pais. Um marido que tenha passado por problemas assim e que se desvaloriza “pode agir defensivamente e entender ações inconscientes do cônjuge como ironias, insultos ou críticas pessoais contra ele” (LEMAN, 2001, p. 43). Como essa é uma realidade mais comum do que imaginamos, ao valorizarmos nosso cônjuge estamos criando uma barreira de proteção para o nosso casamento.

Na realidade, a pior coisa que uma esposa pode fazer para seu relacionamento é se tornar a maior crítica de seu marido. Respeitar, nos lembram Mark e Grace Driscoll, significa “ter ciência, dar atenção, honrar, preferir, incentivar, amar e admirar” (2012, p. 95). É claro que um ambiente onde só existem críticas e deboche não é exatamente um lugar muito saldável para um marido. De fato, este tipo de comportamento acaba por desenvolver um sentimento de vergonha no marido, por não satisfazer às necessidades de sua esposa. Vejamos o que dizem os doutores Patrícia Love e Steven Stosny: “Para perceber a relação entre agressão e vergonha basta entender o que esses estados emocionais poderosos fazem com sua mente e seu corpo. Com altas doses de cortisol, a vergonha fere e drena toda a energia disponível – só o que você quer é se enterrar num buraco. A mensagem é de rejeição ou fracasso – pare e se proteja! A raiva vem em seu resgate, com efeitos analgésicos e estimulantes que anestesiam a dor e aumentam sua energia. (…) A raiva e a agressão afastam a vergonha, encobrindo a dor, substituindo-a por energia. Só o que você precisa fazer para que um homem seja verbal ou fisicamente agressivo é envergonha-lo: ‘Você é um covarde, um fracassado, um traste, e tem um pênis pequeno!’” (2007, p. 35, 36). A vergonha e o desprezo é tão doloroso para os homens que eles farão tudo o que for possível para evita-los e isso pode significar aproximar-se de alguém que o valorize e reconheça seu valor. É por isso que a falta de reconhecimento pode se constituir em uma oportunidade para a infidelidade conjugal. Com esse comportamento, a esposa só conseguirá colocá-lo na defensiva, ou pior, ela pode conseguir que ele busque alguém que valorize o que ele faz.

É claro que todos cometemos erros e o que eu estou dizendo não é que as mulheres devem fazer de conta que seus maridos são perfeitos. Não vejo problemas em que a esposa reclame de algo que foi feito de forma errada e até acredito que os casais devem ter canais abertos para comunicarem suas insatisfações, mas a maioria dos autores concordam que existe uma grande diferença entre a reclamação e a crítica.

Na reclamação você está expressando um problema que gostaria que fosse resolvido; na crítica você adiciona julgamentos desrespeitosos que, via de regra, procura rebaixar seu marido. Na reclamação o que está em jogo é uma atitude; na crítica o que está em jogo é uma pessoa. Fale sério, qual das duas atitudes você acha que produzirá um resultado adequado? Se você tem uma reclamação a fazer, faça, mas guarde a crítica desrespeitosa para si, ensina o Dr. Harley Jr. (2014, p. 183).

Se você é uma dessas esposas que são extremamente ácidas em suas críticas e desrespeitosas ou em suas adjetivações, por favor, repense a forma como você fala. Isso não significa que você vai ter que aprender a cobrir seu marido de elogios, fingindo que o admira. Acredite, ele saberá que você está mentindo e isso só piorará as coisas. Um verdadeiro elogio tem que refletir o que você realmente acredita e ele vem de um coração aberto.

Você talvez possa pensar que não existe nada de bom que possa ser dito sobre seu marido. Mas, acredite, isso é uma ilusão. Não importa a dificuldade que você esteja passando, você sempre poderá dizer algo de bom sobre ele. Ninguém é totalmente mal e sem valor algum que mereça um elogio, por menor que seja. Ademais, um dos maiores problemas que os casais cometem é confundir o gesto com a pessoa. Desta forma elas acabam direcionando toda sua ira e crítica à pessoa e não ao gesto ou comportamento errado.

Com isso em mente é importante que você saiba que o Dr. Harley sugere três passos para que você possa modificar seu comportamento frente à seu marido.

  1. Identifique os comportamentos que criam ou destroem a admiração. Isto, obviamente, implica em que o casal seja capaz de conversar um com o outro. Como nos ensina Dabbie Cherry, “Estruturar boas práticas de comunicação, que incluem encontrar o equilíbrio entre falar e escutar, é uma das maneiras benéficas para melhorar o relacionamento” (CHERRY, 2006, p. 130, 131). O Dr Harley sugere que as esposas devem fazer duas listas: uma contendo aquilo que ela admira e a outra contendo os comportamentos que destroem a relação. Estas duas listas devem versar exatamente sobre as cinco necessidades básicas das mulheres: carinho, conversa, apoio financeiro, honestidade/franqueza e compromisso com a família. O conteúdo desta tabela deve ser compartilhado com seu marido para que ele tome ciência das áreas em que não satisfaz sua esposa a fim de que possa mudar seu comportamento. Mas também deve servir para que ela reconheça que ele não é apenas um saco de problemas.
  2. Mude atitudes também. Normalmente os problemas conjugais são superados quando ambos os cônjuges se envolvem na superação do problema. Acredite, “ele se sentirá mais encorajado se souber que não é o único que precisa fazer mudanças. Portanto, (…), a esposa será mais bem-sucedida em motivar seu marido a mudar seu comportamento se ela também estiver disposta a fazer algumas alterações na própria forma de agir” (HARLEY JR., 2014, p. 186). Para tanto ambos precisam ter uma mentalidade positiva. Afinal, ensina Barbara Chesser, “os casamentos mais satisfatórios são edificados sobre as qualidades dos dois cônjuges, não sobre a preocupação com seus defeitos” (CHESSER, 2000. p. 42, 43). Foquem nas virtudes e não nos defeitos um do outro.
  3. Adquira novos hábitos. Diferentemente do que se acredita, formar novos hábitos é extremamente simples. Uma vez que sabemos qual hábito pretendemos adotar, é preciso criar incentivos para praticá-lo e punições para nos desestimular a retornar aos velhos hábitos, e, em seguida, repeti-lo exaustivamente até que ele se torne natural para você. Se o problema é que seu marido não participa das atividades de casa, estabeleçam que todas as manhãs ele vai lavar a louça do jantar que ficou na pia. Simples assim!

Uma vez que a esposa passou a admirar o comportamento de seu marido novamente, ela deve dizer isso a ele. O incrível é que esse gesto simples não é tão fácil para algumas mulheres. Ela pode até ter passado a sentir orgulho dele, mas expressar isso em palavras elogiosas exige o estabelecimento de um novo hábito, para algumas mulheres. Talvez ela pense que ele a está enganando por algum tempo e que depois retornará ao antigo comportamento. Mas, mesmo assim, elogie. Isso poderá fazer toda a diferença se o elogio for sincero e ele, poderá, de fato, ter mudado.

Por fim, nunca esqueça que homens e mulheres possuem necessidades emocionais básicas e peculiares. Reconhece-las e satisfazê-las é absolutamente fundamental para evitar que seu cônjuge se sinta inclinado a buscar satisfação em outro lugar senão em você.

 

Referência bibliográfica

CHERRY, Debbie L. Descobrindo os tesouros do casamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2006

CHESSER, Barbara R. O mito do casamento perfeito. São Paulo: Mundo Cristão, 2000

DRISCOLL, Mark & DRISCOLL, Grace. Amor, sexo, cumplicidade e outros prazeres a dois. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2012

GRAY, John. Homens são de marte, mulheres são de vênus. Rio de Janeiro: Rocco, 1997

HARLEY JR. Willard F. Casamentos à prova de traição. Rio de Janeiro: Sextante, 2014

LEMAN, Kevin. O sexo começa na cozinha. São Paulo: Mundo Cristão, 2001

LOVE, Patrícia & STOSNY, Steven. Não discuta a relação. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007

 

 

 

  1. CONFISSÕES

Quando o escritor africano Terêncio, no 2º século a.C., escreveu: “Sou um homem: nada do que é humano me é estranho” ele estava fazendo uma das mais profundas afirmações jamais feitas sobre a natureza humana. Todos nós, que somos humanos, conhecemos e experienciamos todas as sensações e todos os sentimentos próprios de nossa natureza humana.

Mais tarde, um outro homem, também africano, ficaria conhecido por uma das obras mais profundas jamais escritas: Confissões, de santo Agostinho (IV d.C.). Neste texto ele conta toda sua vida de licenciosidade e de como encontrara em Deus aquele que o acolhera com sua graça e o cobrira com seu perdão.

Muitos séculos mais tarde um outro filósofo nos dará uma outra enorme contribuição à quem deseja compreender-se a si mesmo e ao outro. Refiro-me ao pensador espanhol do século XX Ortega y Gasset que disse: “Eu sou eu e minhas circunstâncias”.

Porque fazer estas citações? Porque eu, como qualquer outro humano da espécie, também tenho vergonha e muitas coisas erradas que fiz e orgulho de muitas coisas certas que realizei. É por isso que um educador contemporâneo chamado Edgar Morin nos ensina que somos, simultaneamente, homo sapiens demens.

Meu querido amigo ou amiga. Não existe relação que não se baseie na honestidade e na confiança. Se você está prestes a casar aceite uma sugestão. Abra seu coração para a pessoa que você ama e revele todas as circunstâncias que fizeram você ser o que você é hoje. Estou certo de que, se esta pessoa te ama, ela o/a compreenderá e entenderá tudo o que aconteceu. Esta verdade possui respaldo bíblico: Prov 28:13 diz: “O que encobre as suas transgressões nunca prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia”.

 

 

 

  1. O QUE SIGNIFICA PERDOAR?

Certa vez uma jovem compareceu diante de seu estuprador e disse algumas palavras reveladoras: “Eu não te odeio. O que você fez foi terrível. Mas aprendi a perdoar. Tive que fazer isso para sobreviver”. Surpreendentemente, quando se trata de perdão, quem mais lucra é quem perdoa.

No Novo Testamento, que foi escrito originalmente em grego, há duas palavras para perdoar: aphiemi, que significa “redimir ou deixar de lado” e apuluo que significa “libertar, colocar em liberdade”. Para David Stoop e James Masteller “perdoar, enquanto ato, implica na deliberação de abrir mão de uma dívida emocional contra outrem. Enquanto processo, implica em trabalharmos nossas relações interiores até que a ofensa cometida deixe de ter importância para nós”. Por seu turno, o Dr. Mario Rivera nos diz que “o perdão é fruto de uma decisão, não de um sentimento”. Primeiro tomamos a decisão de perdoar. Só depois sentimos que perdoamos. George Foster nos apresenta uma lista de passos a serem dados para quem deseja chegar a exercitar o perdão:

  1. Reexaminar, com objetividade a ofensa sofrida.

Fazer isso é ser capaz de dizer: “é verdade que ele/a me ofendeu. Mas não vou morrer por isso. Com a ajuda de Deus, posso perdoar e me reerguer”.

  1. Rejeitar ideias de desforra.

Lembre-se do que a Bíblia diz: “a ninguém deis mal por mal… não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem” (Romanos 12: 17, 21).

  1. Admitir que a ofensa pode não ter sido intencional, ou que quando aquela pessoa nos magoou podia estar passando por problemas sérios, sofrendo de alguma dor ou um estresse.

As vezes não damos aos outros o benefício da dúvida ou o direito de resposta. E magoamos os outros sem saber todas as circunstâncias envolvidas, conhecendo apenas uma parte da situação.

  1. Levar em conta todos os pecados que Cristo nos perdoou.

Alguém já disse: “o cristão não é alguém perfeito. É apenas alguém perdoado”. Lembre-se “Deus nos deu vida, perdoando todos os nossos delitos” (Colossenses 2:13). Nós mesmos já fomos objetos do perdão de Deus.

  1. Arrepender-nos de amarguras guardadas no coração.

A ofensa ou a agressão que sofremos não tem o poder de nos destruir, mas a amargura e o ressentimento, sim. Estes podem fazer um grande estrago em sua mente e coração.

  1. Aceitar a nossa parte no conflito.

Aprendemos com a Bíblia que se alguém fizer algo de errado para conosco, devemos procurar a pessoa e dizer o que aconteceu. Se ela não ouvir, devemos levar testemunhas e até, se for o caso, chamar a liderança da igreja (Mt 5: 23, 24).

  1. Apropriar-nos da certeza de que Cristo perdoou nossos pecados.

Nunca devemos nos esquecer do que as Escrituras dizem: “se dissermos que não temos pecado, não há verdade em nós; mas se confessarmos nossos pecados ele é fiel é justo para nos purificar de toda injustiça” (I João 1:9)

  1. Libertar nossos ofensores de qualquer dívida ou obrigações que eles possam ter conosco.

Se aquele que nos ofendeu nos pedir perdão, devemos perdoar. Mas se ele não o fizer, não permita que exista qualquer dívida emocional em seu coração. Esteja sempre predisposto a perdoar. Mas lembre o perdão só existe em resposta a um arrependimento. Nem Deus nos perdoa se não nos arrependemos, mas há nele, sempre, a disposição em perdoar.

  1. Confiar no poder do Espírito Santo para nos ajudar a perdoar e amar.

Não basta apenas perdoar. Temos que aprender a amar aqueles que nos fazem mal. Mas lembre-se “amar” nada tem a ver com sentimentos em seu coração, tem a ver com “gestos concretos” nos seus atos.

  1. Reafirmar o perdão concedido sempre que é necessário.

Mesmo depois de termos perdoado alguém, ainda podem vir pensamentos e lembranças cheias de ódio. Procure lembrar sempre que tudo ficou no passado.

  1. Definir com clareza de quem é a culpa do erro, e, isto feito, perdoar é não culpar a mais ninguém.

É importante saber quem, efetivamente cometeu o erro para não sairmos acusando pessoas erradas pelo que não fizeram. Tendo feito isso, resolva sua questão com a pessoa e siga sua vida. Lembre-se “a verdade vos libertará” (João 8:32).

  1. Refazer relacionamentos desfeitos.

Um pensador disse uma vez: “todos os nossos problemas são questões de relacionamentos”. Nosso alvo não é apenas nosso bem-estar espiritual. Precisamos restaurar relacionamentos que foram quebrados por causa de nossa incapacidade de compreender. No que depender de vós, disse Paulo, “tende paz com todos os homens” (Romanos 12: 18). Se a pessoa não quiser, paciência. Siga sua vida em paz, amando ao próximo e perdoando com o mesmo perdão com que você foi perdoado. Acredite. Perdoar é o maior investimento que você fará em sua saúde!

 

 

 

  1. O DIVÓRCIO E O NOVO CASAMENTO

Muitas vezes sou perguntado pela possibilidade de um segundo casamento para alguém que já se casou uma primeira vez no religioso. Em geral eu respondo que tudo vai depender da autoridade que invocamos para justificar ou fundamentar nossos comportamentos. Se estamos muito preocupados com o que a igreja ou a família acha a respeito disso, você pode optar por desistir do segundo casamento. Mas sinceramente, se você gostaria de saber o que Deus pensa a respeito, eu gostaria que você prestasse atenção um pouco mais ao que diz as Escrituras sobre o assunto. Em outras palavras você pode encerrar sua leitura aqui ou seguir adiante.

  1. O divórcio das Escrituras

Se você está lendo estas palavras é sinal que está preocupado em saber o que as Escrituras dizem a respeito do divórcio, logo, você estabeleceu Deus, e não a igreja como padrão para o seu comportamento. Vejamos o que diz a Bíblia sagrada sobre o divórcio.

  1. O divórcio não é a expressão da vontade original de Deus para o casamento

É claro que quando lemos as Escrituras nos deparamos com aquele texto já bastante conhecido e que diz “não separe o homem o que Deus uniu” (Marcos 10:9 ). Este texto outra coisa não faz além de expressar a vontade de Deus para as pessoas casadas, não em função do casamento em si, mas em função da pessoa em si. Em outras palavras, as pessoas são mais importantes que as instituições. Todo tipo de ruptura é extremamente dolorosa. Quem quer que já tenha passado por um divórcio sabe como é difícil e sofrido passar por isso. Pensando nisso temos neste texto a expressão carinhosa do desejo de Deus para nós: “Que o homem não separe o que Deus uniu”.

Mas ainda que se queira sustentar o contrario ao que colocamos acima, ainda se pode argumentar dizendo que o que o texto diz é “que o homem não SEPARE”; o texto não diz “o homem não SEPARA”. Faz diferença? Sim, e muita. Na primeira frase temos a expressão de um desejo amoroso, na segunda temos uma afirmação determinista que pode ser declarada falsa por qualquer pessoa que passe 5 minutos em um cartório.

Em outras palavras, para o bem do homem, o IDEAL é que o casamento seja eterno e que só se encerre com a morte. Toda espécie de ruptura é contrário ao IDEAL de Deus, e por isso, extremamente dolorosa para os envolvidos, e profundamente tristes para todos.

  1. O divórcio foi reconhecido por Jesus como uma saída para a maldade do homem.

Partindo do ponto anterior enquanto IDEAL, podemos cair no mundo REAL e perceber que na vida do dia a dia, as pessoas nem sempre se comportam como deveriam se comportar idealmente. Nem sempre os cônjuges se comportam como deveriam se comportar.

Certo dia, questionado pelos fariseus acerca do divórcio Jesus afirmou que no princípio não era para ser assim, mas que Moisés aceitou o divórcio. Vejamos suas palavras: “Por causa da dureza do vosso coração é que Moisés vos permitiu repudiar (apolysê) vossas mulheres, mas não foi assim desde o princípio” (Mateus 19:8). O que significa isso? Ora, sabemos que as relações familiares na Palestina do primeiro século são, em tudo, diferentes das que temos hoje em nossa sociedade. Para início de conversa, o papel da mulher em casa era apenas a de reprodutora e que as conseqüências de um divórcio seriam avassaladoras para a parte mais fraca.

Em razão disso, os homens agiam como verdadeiros ditadores humilhando sistematicamente suas esposas não apenas verbalmente, mas também por meio da violência física. É neste contexto que Jesus entende que a “dureza” dos homens podem se converter em razão suficiente para o divórcio, que deveria ser aplicado como medida para proteção da mulher. Embora no princípio o divórcio não fosse plano de Deus, ele o aceita em razão da defesa da mulher.

Quando Jesus diz que o divórcio só deveria ser aceito em caso de adultério ele estava dizendo que, caso a mulher cometesse adultério, ao invés da violência, o divórcio seria o cainho mais adequado. Ocorre que com a complexidade social os motivos da violência se tornaram muito mais numerosos. As mulheres são agredidas hoje por qualquer coisa ou diante de qualquer circunstância. Fazendo uma interpretação extensiva compreendemos hoje que, qualquer razão que produza humilhação e desrespeito são motivos adequados para o divórcio.

Quem faz esta interpretação é Paulo quando escreve sua primeira carta aos Coríntios (7:15) postulando que, se uma mulher cristã estiver casada com um homem que não queira ficar com ela em razão de sua conversão à Cristo, então que ela se separe (kôrizesthô) dele. Paulo, portanto, amplia o número de causas para o divórcio, porque entende que o que Cristo faz é apresentar não uma norma, mas um princípio.

iii. O segundo casamento é sempre uma saída para a realização da pessoa humana: não é bom ser só.

Ora, as Escrituras afirmam desde o início não ser bom que o homem/mulher esteja só. Não fomos criados para a solidão; somos seres gregários e nos realizamos enquanto humanos, apenas em sociedade. Estou convencido – e cada dia mais convencido – de que a família é o espaço mais significativo e mais agregador que homem de hoje pode ter.

  1. Casei de novo e agora?

Ok? Vamos imaginar que ao se casar de novo você tenha cometido um pecado. (o que não acredito) Mas não um pecado qualquer, um pecado enorme. Será que Deus vai rejeitar você eternamente? Eu faço esta pergunta por que há milhares de pessoas cristãs, honestas e tementes a Deus que sofrem dominicalmente por não poderem comungar em razão de seu segundo casamento. Vamos observar alguns textos e procurar entender um pouco o que diz as Escrituras.

Em primeiro lugar entendo que se você deixa de comungar porque se considera indigna ou indigno, quero afirmar que ninguém comunga porque é digno, mas porque somos filhos e estamos sendo convidados para a ceia do Pai.

Em segundo lugar se você acha que Jesus negaria a comunhão a você porque você fez algo de errado, lembre-se de que ele, na ultima ceia, deu a comunhão à Judas mesmo sabendo do que ele fizera, recebendo dinheiro para traí-lo. Se você não quer comungar porque tem medo de cometer um erro no futuro, lembre-se que Jesus também deu a comunhão à Pedro, que o trairia três vezes na noite seguinte.

Que temos pecados, disso sabemos. Mas, diz Cristo: “Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhe pedirem?” (Mateus 7:11). Será que o Pai celestial negaria o pão, o alimento e a ceia a um filho pecador e humilhado? Cito mais uma vez Cristo: “E qual de entre vós é o homem que, pedindo-lhe pão o seu filho, lhe dará uma pedra? E, pedindo-lhe peixe, lhe dará uma serpente?” (Mateus 7:9-10). Você faria isso com seu filho? Deus não faria com você.

Conclusão

Nas Escrituras temos uma parábola de um filho que abandonou a casa de uma forma tão forte como se estivesse dizendo que seu pai estaria morto. Depois de reconhecer seu erro, diz as Escrituras que ele resolve voltar para casa humilhado. Qual seria a reação do Pai? Diz as Escrituras que ele se levantou, correu, abraçou seu filho, mandou fazer uma festa e disse: “Este meu filho estava morto e reviveu; estava perdido e foi achado” (Lucas 15:32).

Você se sente distante de Deus porque casou de novo? Saiba que Deus é o Deus do recomeço. Ele sempre estará de braços abertos para acolher seus filhos e filhas machucados por relacionamentos difíceis. Não importa o que dizem as pessoas ou as igrejas. O que importa é que Deus te ama e te aceita como você é, te recebe e deseja a tua felicidade plena.

Tenha fé! Confie em Deus! Aceite que ele te aceita! Receba seu abraço paterno e comungue em sua mesa, porque você é da família de Deus.

 

 

 

  1. SOBREVIVENDO A UM CASO EXTRACONJUGAL

Vivemos em uma sociedade na qual parece que os casos extraconjugais já são encarados com uma certa normalidade. Pelo menos é isso que vejo na maior parte das novelas e nas conversas com as pessoas. Tudo parece ser muito normal, até que aconteça com você. Aí você estará diante de uma das mais lancinantes dores que o ser humano pode sentir. E digo mais; não apenas a pessoa traída sofre, mas, se realmente há ou houve algum amor na relação, mesmo quem traiu também sofre por seu fracasso e sua incapacidade de cumprir seus votos.

Há, no entanto, algumas verdades acerca do caso extraconjugal que preciso pontuar antes de começar a tratar diretamente do assunto de como sobreviver a ele. Em primeiro lugar, temos que ter consciência de que um caso extraconjugal não é algo que acontece “de repente” ou sem explicação alguma. Ele nasce na mente de quem trai algum tempo antes de que o ato ocorra. Ele é alimentado e até desejado bem antes de acontecer. Ninguém acorda um belo dia, pela manhã, e diz: hoje eu vou cometer adultério. O caso, é o resultado de vários e intrincados fatores que nem sempre estamos dispostos a encarar.

A segunda verdade é que quando ocorre um caso extraconjugal, geralmente, o casal tem uma parcela de responsabilidade. É claro que quem traiu transgrediu as normas e quebrou suas promessas. Mas muitas vezes esta pessoa dá sinais de sua insatisfação com as expectativas que nunca foram supridas ou atendidas e que a tornou vulnerável à outra pessoa. Assumir a condição de vítima é, certamente, muito mais cômodo do que ter que admitir as expectativas frustradas e as promessas não cumpridas. Mas volto a dizer, isso não a desculpa do ato de quem foi infiel. Em resumo, nenhum casal com problemas é composto de um anjo e de um demônio, e não é demonizando um dos dois que se resolvem os problemas.

A terceira verdade fundamental é que homens e mulheres possuem necessidades físicas e emocionais básicas que precisam ser conhecidas e supridas pelo cônjuge para que a vida à dois possa ser fortalecida e a traição evitada. Se isso não acontecer, se essas necessidades não forem supridas, se nada for feito a respeito, é muito provável que um triângulo amoroso se forme.

A quarta verdade fundamental retiro das sábias palavras do Dr. Willard F. Harley Jr., que em seu livro Casamentos à prova de traição, nos diz: “a única maneira de o casal sobreviver a um caso extraconjugal é transformando seu casamento numa experiência apaixonante e plena de satisfação. Se não passarem a ter um relacionamento melhor do que o que tinham antes, os cônjuges não voltarão a ficar juntos” (HARLEY JR, 2014, p. 198).

Com isso em mente, nos perguntamos, como sobreviver a um caso extraconjugal? Existe vida depois de uma traição? Antes de mais nada quero dizer que acredito no perdão e na graça de Deus. Mas não em perdão que não exige mudança de comportamento nem em uma graça barata. Mas, quando ocorre um caso extraconjugal, alguns passos bem concretos precisam ser dados. Conforme nos ensina o Dr. Willard F. Harley Jr., existem pelo menos três passos a serem dados.

  1. Primeiro passo: termine o caso. Isso nos parece óbvio, mas é muito mais sério. Não estou dizendo apenas que o “caso em si” precisa terminar, mas que é preciso cortar todo tipo de relação ou contato com o(a) amante e assumir a postura de quem nunca mais vai ver ou falar com essa pessoa. Não adianta acabar e continuar “amigos” ou mantendo algum tipo de contato social. Pode parecer drástico e de fato o é. Mas seu cônjuge, jamais o(a) aceitará de volta se todos os laços não forem rompidos. E, acredite, algumas pessoas terão que escolher entre sua família e seu emprego. A melhor maneira de fazer com que o caso que teima em persistir, termine é expô-lo para a família e os amigos. Manter a traição em segredo não resolve o problema, quando nosso cônjuge se recusa a acabar. É preciso expor a situação para que todos percebam a insensatez do que está acontecendo. Se isso não der certo e em se tratando de homens que traem, seria interessante que a esposa saiam de casa. Segundo as estatísticas, a saúde das mulheres traídas decai muito rapidamente quando se vive no mesmo espaço que o marido infiel.
  2. Segundo passo: criar transparência. Quando nos deparamos com uma pessoa que terminou um caso e que deseja reconstruir seu casamento, é preciso tomar algumas precauções para que não ocorra outra “queda”. Portanto, diz o Dr. Harley Jr. (2014, p. 202) é preciso ser transparente. Esta atitude tanto protege o casal de outro eventual caso quanto aumenta a intimidade entre os dois. Isto é muito importante: “Nada deve ser ocultado. Senhas, e-mails, mensagens de celular (SMS), números para os quais você ligou, histórico de navegação na internet e todas as outras formas de comunicação devem ficar disponíveis para seu cônjuge” (HARLEY JR., 2014, p. 203). O cônjuge traído deveria saber onde o outro está 24 horas por dia e ele deveria fazer o mesmo. Isto implicaria, também, em ligações frequentes entre os dois, para saberem onde estão e como. É claro que quem traiu vai se sentir vigiado, mas a ideia é justamente voltar a criar confiança no coração e na mente de quem foi traído.
  3. Terceiro passo: satisfaça as necessidades um do outro. A ideia é que, uma vez que o casal resolveu se reconciliar, geralmente quem foi traído aprende a satisfazer as necessidades, anteriormente atendidas pelo(a) amante, mais facilmente do que quem traiu. A ideia por traz dessa atitude é estabelecer “uma relação romântica que seja tão apaixonada quanto um caso amoroso. Não quero que a escolha deles seja entre paixão e razão – o extra-conjugal oferecendo a paixão e o casamento oferecendo a razão. Eu quero que eles tenham as duas coisas, algo que só pode ser encontrado no casamento deles” (HARLEY JR., 2014, p. 204). Desta forma ela poderá dar a ele satisfação sexual, companheirismo no lazer, poderá ser mais atraente para ele, dar mais paz e tranquilidade e admirar o que ele faz e é. Por outro lado ele poderá dar mais carinho, conversar mais com ela, ser sempre franco e honesto, dar apoio financeiro e ter mais compromisso com a família.

É claro que, afirma o Dr Harley Jr. (2014, 206) “é muito mais fácil aprender a satisfazer as necessidades um do outro depois de um caso extraconjugal do que teria sido antes”. Mas mesmo depois de uma traição, quando ainda existe vontade e amor, ainda é possível que um casamento sobreviva de forma gratificante a apaixonada se ambos estão dispostos a satisfazer as necessidades básicas do outro.

 

 

 

  1. RECOMEÇANDO OUTRA VEZ

Creio que quase todo mundo já experimentou uma frustração em uma relação. Como sacerdote já vi casais se separando e mesmo noivos rompendo a relação pelas causas mais diversas. O que fica é aquele gosto amargo na boca, aquele aperto no peito e aquela sensação de que não tem mais jeito pra você. Mas nem tudo está perdido.

O primeiro passo que temos que dar é aprender a não sermos prisioneiros de nossos ressentimentos e de nossa raiva. É natural que esses sentimentos venham à tona de vez em quando. O problema é que temos a tendência de transferir para a pessoa com quem estamos saindo, os mesmos defeitos que víamos em nosso ex-cônjuge quando ele diz ou faz algo que nos lembra o passado. Aí fica difícil começar uma nova relação.

Em segundo lugar, temos que aprender com nossos próprios erros. É verdade que sempre tentamos culpar o outro pelo fracasso da relação. Mas me permita dizer algo. Em toda crise relacional nunca existe uma parte satânica e uma outra angelical. Os dois têm culpa na crise. Portanto não adianta racionalizar e jogar a culpa no outro eximindo-se de qualquer erro porque isso não adianta nem vai te ajuda a melhorar. Quer recomeçar de uma forma melhor? Admita seus erros. Nenhuma crise conjugal é feita de uma pessoa certa e outra errada.

Em terceiro lugar compreenda que, conforme escreveu John Gray, “parte da capacidade de encontrar a pessoa certa no futuro se deve ao que aprendemos com os erros que cometemos nos relacionamentos anteriores”. Não adianta simplesmente aceitar que você teve uma parcela de culpa no fracasso de sua relação anterior, é preciso procurar saber onde você errou e procurar não mais repetir os mesmos erros do passado. Na realidade, quando somos capazes de aprender com o passado somos mais aptos a evitar que os mesmos erros ocorram novamente. Saiba que isso exige muita sinceridade e auto-disciplina.

Finalmente, é preciso querer que a nova relação funcione. Quando duas pessoas que não são compatíveis se unem, escreveu John Gray, mas “procuram fazer com o relacionamento funcionar, inevitavelmente revelarão o que há de pior na outra”. No entanto, por outro lado, não pense que estar com aquela pessoa que julgamos certa, significa que, como um passe de mágica, todos os nossos problemas vão desaparecer.

Em resumo não existe a pessoa certa ou a pessoa errada. Existe aquela pessoa que não quer repetir os padrões de comportamento que foram a causa de seus fracassos anteriores.

Alguém já disse que “de perto ninguém é normal”. E um dos problemas de nossa sociedade pós-moderna e fluida do século XXI é que ainda queremos manter os padrões da sociedade romântica do fim do século XIX, onde os príncipes perfeitos existiam e salvavam as princesas presas nos castelos guardados por dragões. O mundo não é assim. Seu marido ou sua esposa tem problemas, tem dificuldades, tem limitações e não é, simplesmente, se chocando com essa realidade e trocando de marido ou de esposa que você vai resolver tudo. Você estará apenas trocando de problemas.

Mas se as dificuldades foram tamanhas a ponto de tornar a relação insustentável, saiba, vença o ressentimento que te visita com certa frequência; admita sua parte no fracasso da relação; procure aprender a não mais agir como você agia; entenda que não existe “a pessoa certa” e, finalmente, deseje firmemente ser feliz com essa outra pessoa que você encontrou. Olhe para ela como uma oportunidade que Deus está te dando para que você seja novamente feliz e simplesmente, seja!

 

 

 

  1. CONSIDERAÇÕES DE UM REVERENDO QUE CASOU DE NOVO

Sempre tive muita dificuldade em compreender a razão pela qual algumas igrejas não aceitam as pessoas que passaram por relacionamentos anteriores. Elas acabam sofrendo todo tipo de discriminação e são impedidas de recomeçar sua vida normalmente e até de participar da comunhão eucarística. Particularmente acredito que essas igrejas acabam impondo sobre tais pessoas – que já sofreram muito o trauma de uma separação – um fardo ainda maior, quando afirmam que essa não é “simplesmente” uma ideia defendida pela igreja, mas a “vontade de Deus”.

Fico me perguntando se Deus realmente agiria assim com um de seus filhos. Lembro do que escreveu o Evangelista Mateus quando diz: “Se vós, pois, que sois maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celeste dará boas coisas aos que lhe pedirem” (Mt 7:11). Em outras palavras, se nós, que somos falhos, pecadores, vingativos e maus por natureza, perdoamos nossos filhos e os acolhemos, mesmo quando eles erram, será que Deus, à semelhança do pai da parábola do filho pródigo – que o recebeu com um forte abraço e realizou uma festa para celebrar sua volta -, também não acolheria tantos filhos e filhas feridas, já que Ele é todo amor e misericórdia?

Sou feliz porque no anglicanismo as pessoas não são condenadas porque passaram por uma experiência de crise e separação. Elas podem ter uma segunda chance, casar novamente e recomeçando suas vidas; inclusive os padres. Foi exatamente isso que aconteceu comigo. É claro que quando casamos queremos que o casamento dure para sempre. No entanto, podem surgir alguns fatores superveniente e indesejáveis que tornam a relação algo insustentável. Normalmente sugerimos uma conversa pastoral e, se não der certo, uma terapia de casal. Mas, se nem assim as coisas se resolvem, acredito que a separação consensual é a saída mais digna para os dois, que, podem, enfim, recomeçar suas vidas e serem felizes.

Em toda a minha experiência de vida, tive algumas namoradas, fiquei com algumas pessoas, mas, particularmente três pessoas foram muito marcantes. Primeiro a minha primeira esposa, com quem casei com 17 anos de idade e que me deu dois filhos. Nossa relação não resistiu às diferenças conceituais e religiosas trazidos com o tempo, nem a ausência das minhas constantes viagens pelo Brasil e pelo mundo afora. Até tentamos recomeçar uma segunda vez; mas o “cristal já se havia quebrado” e não fomos muito longe. Dela sinto um profundo respeito em relação à sua dignidade e valor.

Logo em seguida me envolvi com uma pessoa que, no final do primeiro mês juntos, comecei a perceber que não daria certo porque ela nunca aceitava a ideia de nos casarmos. Mas ela, num gesto calculista e proposital, engravidou no primeiro mês da relação – e olhe que ela já tinha cerca de quarenta anos e já vinha de um outro casamento com alguém que nunca quis ter um filho com ela. Mas, relevei tudo isso e permaneci na relação. A situação, contudo, se agravava com o tempo e fomos até a uma psicóloga para falar sobre nossos problemas. Ela desistiu da terapia na terceira consulta e eu continuei até o fim da relação. Hoje, passados quase 10 anos que nos separamos ainda sou perseguido por ela. Esta pessoa sonda meus contatos nas redes sociais; denigre minha imagem para as os outros e procura distorcer minha imagem na sociedade – pena que as pessoas não tenham coragem de me falar sobre isso para que eu tome atitudes mais sérias a respeito. Mas, além de me atacar, ela invadiu a individualidade e a privacidade de minha esposa ao fazer ligações anônimas e, mais tarde, vendo que não conseguiria êxito, ligações abertas, falando coisas horríveis a meu respeito. Minha sorte é que minha esposa tinha a senha de meu e-mail e leu todas as mensagens trocadas entre eu e ela desde sempre, revelando, quem de fato era essa pessoa. Hoje me dou conta, pelo que vivi e estudei, que ela manifesta sofrer de um distúrbio bipolar e, quando está nos momentos de “mania”, faz coisas absurdas e imagina realidades que só existem em sua mente; isso sem falar em seu delírio persecutório, sua megalomania ou em sua labilidade emocional/social e instabilidade afetiva. Desta mulher, quanto maior a distância, melhor.

Passei, então por um momento extremamente turbulento em minha vida. Namorei e saí com algumas pessoas, e até tive a vontade de ter algo sério com alguém, mas tudo foi em vão.

Até que, Deus, em sua misericórdia, num dia em que eu havia sido convidado para ir até à festa de São Pedro e São Paulo, colocou uma pessoa em minha vida. Uma mulher inteligente, sábia, vivida, sóbria, forte e que me fez ver muita coisa que eu não percebia. Sim, ela me abriu os olhos para ver quem eram as pessoas que me cercavam e revelou o que elas realmente pensavam a meu respeito. Ela é uma mulher que me conhece profundamente, me apoia incondicionalmente, me defende impetuosamente e, por via de consequência, acredita em mim e em nosso futuro juntos. Ela é o meu amor maduro e o bálsamo que traz refrigério à minha alma.

Esta mulher é hoje minha outra metade. Alguém que amo com toda a força do meu coração e da minha alma. Com ela fazemos planos, lemos livros, viajamos, provamos o sabor das massas e das maçãs, oramos todas as manhãs e passamos horas conversando sobre todos os temas imagináveis. Ela me realiza, me completa, me faz feliz, me alegra e dá sentido à minha vida. Olhando para ela não posso negar que existe amor à primeira vista! Nos apaixonamos no primeiro dia em que nos vimos e, desde lá, nosso amor e nossa vontade de estar juntos só aumenta. Não existe qualquer segredo entre nós e não conseguimos ficar sem nos falar, pelo menos a cada meia hora, pelo celular.

Mônica, não existe mulher nesse mundo como você. Você é a prova viva de que Deus me ama e que ele quer que eu tenha um futuro maravilhoso na sua companhia. Você é minha companheira em todos os caminhos e minha orientadora e conselheira nos momentos difíceis. Sou grato à Deus por tê-la colocado em minha vida. Hoje posso afirmar com a maior convicção que alguém possa ter: sou feliz ao seu lado, meu amor. Te Amo Muito!!

À Deus, devo agradecer porque ele nos acolhe como um Pai amoroso que apaga todo o nosso passado e nos faz ver que as coisas do passado passaram e que tudo se fez novo. De todas as experiências que passei posso chegar a duas conclusões. Primeiro, posso afirmar que um Ministro casado tem muito mais experiência para lidar com os casais e seus problemas do que um padre que nunca passou pela experiência de um casamento. Mas, em segundo lugar, posso afirmar que, embora tenha passado pela crise e pela dor de uma separação, isso me fez muito mais experiente para entender as crises e sofrimento por que passam os casais e orientá-los a não cometer os mesmos erros que cometi. E creio assim, porque sei o que significa a dor e o sofrimento do rompimento de uma relação e porque passamos pelo sofrimento, diz Paulo, para ter com que ajudar aos que passam pelos mesmos problemas.

 

 

 

  1. AMOR E SEXO

Muita gente acha que falar em sexo é um tema marginal para um religioso. Nada mais obtuso e preconceituoso. Deus nos criou sexuados e ter uma vida sexual plena é uma das maiores bênção que podemos receber de Deus.

Ocorre que, historicamente, a forma como os homens e as mulheres encaram o sexo tem sido vista como bem diferentes. Quer queiramos ou não há uma enorme diferença sócio-biológica entre os dois gêneros e isso acaba influenciando as relações, as vezes negativa, as vezes positivamente.

Não podemos negar o que a experiência demonstra, ou seja, que o sexo é mais importante para os homens enquanto o romance é mais importante para as mulheres. A grande questão que precisa ser discutida é por quê.

Sem que sejamos aptos para compreender essa diferença as mulheres acabam cometendo o erro de subestimarem os homens e de acharem que eles são superficiais e fixados no sexo.

Tudo começa a ficar mais claro quando elas entendem as razões que fazem com que os machos da espécie parecem pensar apenas em sexo. Desta forma, com base no desenvolvimento histórico da humanidade e em seus condicionamentos sociais as mulheres estão começando a compreender que, como diz John Gray em seu excelente texto Marte e Venus no quarto, “o estímulo sexual é a chave que os ajuda a conectar e a realizar os seus sentimentos amorosos” (1998, p. 13).

O Dr. John Gray é enfático quando afirma que “é através do sexo que o coração do homem se abre, permitindo-o experimentar ao mesmo tempo tanto sentimentos amorosos quanto a fome de amor. Ironicamente é o sexo que permite ao homem sentir sua necessidade de amor, enquanto que é ao receber amor que uma mulher é estimulada a sentir sua fome de sexo” (1998, p. 14).

Lamentavelmente os homens parecem não estar adaptados a perceber e a compreender o quanto a mulher necessita do romance. E, em razão disso, muitos homens acham que ela está se reprimindo sexualmente. Desta forma, se ele quer sexo e ela não, é comum que ele se sinta rejeitado. Ele não compreende que uma mulher precisa se sentir amada e seduzida, antes que possa sentir sua libido funcionar.

Segundo postula o Dr John Gray, “assim como uma mulher precisa de uma comunicação de qualidade com seu companheiro para se sentir amada e amar, o homem precisa de sexo” (1998, p. 14). É obvio que o homem pode também se sentir amado de outras formas. Mas a natureza ainda não inventou uma forma mais forte para que uma mulher possa tocar o coração de um homem como o sexo. De fato, continua o Dr Gray “o sexo pleno é o caminho mais poderoso para abrir o coração de um homem e ajudá-lo a sentir seu amor e expressá-lo para uma mulher” (1998, p. 15).

Mas há algo que precisa ser colocado. Para que o sexo seja satisfatório é absolutamente necessária a existência de três elementos fundamentais: o amor, a monogamia estável e a comunicação solidária. De fato, o Dr. Gray afirma que “o sexo pleno é um presente de Deus para aqueles que se comprometeram a criar um relacionamento de amor e solidariedade” (1998, p. 21).

 

 

 

  1. AMOR OU SEXO?

Um dos maiores pensadores franceses do século passado, chamado Roland Barthes, disse, certa vez que o amor é um assunto mais obsceno para nossa sociedade do que o sexo. Esta frase, certamente, pode nos fazer pensar. Mas, porque ele dizia isso? Tenho algumas ideias. Primeiro porque o falar sobre amor é mais incômodo do que falar sobre sexo. A sexualidade é discutida com muito mais frequência e mais profundidade do que o amor, que permanece um assunto tabu para muita gente, inclusive, casais.

Em segundo lugar, porque amor envolve intimidade enquanto o sexo está explícito em qualquer banca de jornal. As pessoas em nossa sociedade não querem mais intimidade. Querem “curtir” e “ficar” com alguém naquele fim de semana. O amor não. Ele quer conviver, quer ter comunhão e intimidade com a pessoa amada. Quer ficar junto e misturado com quem se ama.

Em terceiro lugar porque o amor virou exceção enquanto o sexo virou regra. Chegar “virgem” até o fim da adolescência é o maior “mico” que a meninada acha que existe. Sexo é feito por esporte e para demonstrar que se é mais viril do que o colega. Mas não pense que isso só ocorre com adolescentes. Dentre os adultos, existem os garanhões que falam de suas aventuras de fim de semana como quem fala de uma caçada.

Em quarto lugar, a obscenidade do amor reside no fato de que ele é visto como uma fraqueza enquanto o sexo como poder e dominação. Amar é para os fracos, alguém já me disse. Já o sexo é a experiência do domínio do corpo do outro e de suas vontades. Daí surgirem seus desvios, tais como o sadomasoquismo.

Em outras palavras, como disse André Comte-Sponville: o amor é “mais difícil de dizer, de mostrar, de pensar”. Por isso é mais obsceno. Ninguém quer falar ou mostrar. Isto é algo para ser escondido e omitido.

Lamentavelmente as pessoas não percebem que amar é poder desfrutar ou regozijar-se de algo ou de alguém. Não só de um bom vinho ou de Mozart, mas de um companheiro que estará ao nosso lado o resto de nossa existência. Já cantava Rita Lee:

“Amor é para sempre

Sexo também

Sexo é do bom…

Amor é do bem…

Você ama? Viva seu amor em toda sua plenitude e obscenidade.

 

 

 

  1. A SEXUALIDADE PLENA DO CASAL

As Escrituras Sagradas nos trazem muitos ensinamentos sobre a vida matrimonial abundante. E um dos aspectos que envolvem uma vida matrimonial abundante diz respeito à sexualidade.

Diz as Escrituras em I Coríntios 4:3,4 o seguinte: “O marido conceda à esposa o que lhe é devido, e também semelhantemente a esposa a seu marido. A mulher não tem poder sobre seu próprio corpo e, sim, o marido; e também semelhantemente o marido não tem poder sobre seu próprio corpo e, sim, a mulher”.

Deste texto é possível retirar algumas lições sobre a sexualidade do casal. A primeira grande lição que Paulo nos dá acerca desse assunto é que, dentre as mais variadas obrigações que um casal tem um para com o outro, elas também envolvem nosso corpo, ou seja, nossa sexualidade. O corpo do casal não é mais uma propriedade particular, ela é mútua. Paulo nos diz que quando nos casamos mesmo, nem o homem é mais o dono de seu corpo nem a mulher. Pelo contrário, há um mútuo pertencimento.

A segunda verdade é que, por traz da primeira afirmação subjaz a ideia de que devemos estar preocupado em satisfazer as necessidades sexuais de nosso cônjuge. São muitas as necessidades de nosso cônjuge e a sexualidade deve estar incluída. Este é um tema tão sério que Paulo chega a dizer: “Não vos priveis um do outro, salvo, talvez por mútuo consentimento, por algum tempo, para vos dedicardes à oração e novamente vos ajuntardes, para que Satanás não vos tente por causa da incontinência” (I Coríntios 7:5).

Uma terceira verdade é que a iniciativa, segundo esse texto, é mútua e não apenas do homem. Em nossa sociedade machista muita gente acredita que é o homem que tem que buscar ou procurar sua esposa para satisfazer-se. Nada mais retrógrado que isso. A iniciativa pertence aos dois e a motivação deve ser antes a satisfação do companheiro(a) do que a nossa.

Uma quarta verdade inarredável desse texto é que a sexualidade deve ser praticada para a satisfação. Antes de ser algo pecaminoso, errado, feio, ou ruim, a sexualidade sadia é aquela que torna o companheiro “satisfeito” e “pleno” nesse aspecto tão importante da vida. Para tanto, tudo o que é lícito e acordado entre o casal é permitido, desde que não envolva práticas que humilhem ou despersonifiquem um dos dois.

Desta forma, a vontade de Deus é que a sexualidade seja vivida pelo casal na sua plenitude para que o casal se fortaleça na intimidade e resista a toda forma de tentação.

 

 

 

  1. A VIDA SEXUAL DO CASAL

Precisamos reconhecer que, por incrível que pareça, falar sobre sexualidade ainda parece ser um tabu para boa parte das pessoas que nos cercam. No entanto, se alguém quer ter um casamento satisfatório e feliz, esse é um tema que inevitavelmente, terá que ser abordado. Antes de iniciar nosso tema precisamos reconhecer que todo ser humano possui eroticidade ou erotização, ou seja, “o processo de associar o prazer e a satisfação sexual com as várias partes do corpo e suas funções” (GOLDENSON & ANDERSON, 1989, p. 93). A erotização é a mesma coisa que libidinização. Cientes da naturalidade da existência da libido na vida de um ser humano normal, procurarei abordar esse assunto a partir de alguns temas que julgo serem importantes para o casal.

  1. Em primeiro lugar, precisamos compreender que a sexualidade é um dom de Deus. Longe de ser algo mal, pecaminoso ou sujo, a sexualidade, vivida em sua plenitude é uma bênção que Deus deu aos seres humanos. Isto é tão sério que nem mesmo podemos privar nosso cônjuge do sexo sob pena de não termos nossas orações ouvidas por Deus. Assim diz as Sagradas Escrituras: “Igualmente vós, maridos, coabitai com elas com entendimento, dando honra à mulher, como vaso mais fraco; como sendo vós os seus co-herdeiros da graça da vida; para que não sejam impedidas as vossas orações” (I Pedro 3:7). Afinal, Deus, que conhece o homem como ninguém viu, logo no princípio “não é bom que o homem esteja só” (Gênesis 2:18). O homem não foi feito para a solidão, mas para a vida familiar, onde a sexualidade pode ser vivida em sua plenitude. Outro fator importante é que o homem tem mais inclinação para o sexo que a mulher. Allan e Barbara Pease (2000, p. 126) nos ensinam que “O centro do sexo (…) fica no hipotálamo, que é a parte do cérebro que também controla as emoções, as batidas do coração e a pressão sanguínea. Tem mais ou menos o tamanho de uma cereja e pesa cerca de 4,5 gramas. É maior nos homens que nas mulheres (…). É nessa área que os hormônios, principalmente a testosterona, estimulam o desejo por sexo. Se levarmos em conta que o homem tem de 10 a 20 vezes mais testosterona que a mulher e um hipotálamo maior, vamos entender por que é capaz de fazer sexo praticamente a qualquer hora e em qualquer lugar” (sic). Em outras palavras, Deus nos criou como seres sexuados e, no caso dos homens, com uma libido muito mais acentuada.
  2. Um segundo tema extremamente importante diz respeito à função do sexo. Afinal, para que serve o sexo? Lendo as Escrituras aprendemos que o sexo existe, pelo menos por duas razões: para a procriação e para o prazer. É óbvio que a procriação é a primeira razão da prática sexual. Afinal a Bíblia diz muito claramente: “Sede fecundos, multiplicai e enchei a terra” (Gênesis 9:1). Isso não significa, contudo, que não possamos usar todos os recursos que dispomos para planejar o nascimento dos filhos. Hodiernamente podemos nos servir tanto do preservativo, quanto de pílulas, injeções, DIU, diafragma, e muitos outros recursos que a ciência moderna nos oferece.

Mas esta não é a única razão de ser do sexo. Lendo as Escrituras aprendemos que ele também existe para o nosso prazer e deleite. Existe um livro na Bíblia em que esta verdade é exposta de forma bem clara, o livro de Cantares de Salomão. Lá, lemos versículos que descrevem brincadeiras sexuais bem claras. Por exemplo em Cantares 7:2 lemos: “O seu umbigo é uma taça onde não falta vinho”; ou em Cantares 7:8, que diz: “Os seus seios são para mim como cachos de uvas”. Finalmente veja o que o texto sagrado registra na boca do noivo em Cantares 7:6: “Como você me dá prazer! Como é agradável a sua presença” (Bíblia na Linguagem de Hoje). É por isso que no início a Bíblia diz que “ambos estavam nus e não se envergonharam” (Gênesis 2:25).

É fundamental que o casal seja capaz de se descobrir sexualmente e de atingir o orgasmo como ápice desse dom maravilhoso que Deus nos legou. Quando um casal descobre o chamado “ponto G” (abreviação para ponto de Gräfenberg) que é “uma pequena área na parede anterior da vagina, a cerca de 5 cm da entrada, sensível à pressão profunda e que, em muitas mulheres, incha e leva a um orgasmo intenso quando estimulado” (GOLDENSON & ANDERSON, 1989, p. 215), ele goza de uma vantagem extremamente grande se compararmos com tantos casais cujas esposas nunca conheceram o orgasmo. Se por alguma razão, o homem tiver alguma disfunção erétil ou mesmo uma ejaculação precoce, ou anorgasmia, esses problemas podem ser tratados e superados hoje por meio de terapia ou pela implantação de uma prótese.

  1. A terceira questão que aflige muita gente tem a ver com a pergunta: “Até onde eu posso ir em minha relação sexual com minha esposa?”. Respondendo a essa pergunta, o casal Mark e Grace Driscoll, que pastoreiam a Igreja Mars Hill em Seattle, EUA, afirmam que qualquer casal pode praticar com seu cônjuge a masturbação, “sexo oral, praticar sexo anal, fazer uma carícia sexual ostensiva, fazer sexo por sobre a roupa, fazer sexo virtual e sexo por telefone” (2012, p. 144, 145). Particularmente penso que não existem limites para o que um casal cristão possa fazer dentro de seu quarto desde que estejam presentes dois elementos: a consensualidade e o respeito à dignidade do outro. Isso significa que existem práticas que, porque atingem a dignidade do outro (sadomasoquismo) ou porque são consideradas imorais (do grego pornéia), como a pedofilia, o incesto, a troca de casais ou a zoofilia, não são adequadas à um casal cristão.

O fato inarredável é que, quando o sexo se torna melhor, todo o relacionamento melhora. O Dr. John Gray nos diz que “Através de um sexo maravilhoso, o homem começa a sentir mais amor e, como resultado, a mulher começa a obter o amor do qual ela poderia estar sentindo a falta” (GRAY, 1998, p. 15). Isso significa que o casal deve usar de todos os recursos que a ciência e o mercado dispõe (desde a pílula azul até brinquedos eróticos, vibradores, fantasias, máscaras ou uma prótese) para que a satisfação sexual ocorra de forma plena entre o casal. Não devemos nos olvidar da criatividade para que a vida sexual do casal seja melhor. Para tanto a leitura e a prática das posições do kama sutra são bastante interessante para quem só conhece e pratica a posição “papai e mamãe” (em inglês missionary position).

Para tanto é necessário que o casal saiba que existem diferenças entre os sexos e que os dois reagem de forma diferente. O homem, em geral, está sempre preparado para o sexo, ao passo que a mulher só fará sexo dependendo do que ocorrer durante todo o dia. Não espere, portanto, que depois de começar o dia brigando com ela sobre o horário, ela estará disposta à fazer sexo com você à noite. O marido precisa aprender a arte de cortejar sua esposa. Ligue para ela várias vezes durante o dia; envie várias mensagens sugerindo um encontro à dois quando estiverem em casa; leve uma caixa de chocolate para ela depois do trabalho e bebam um vinho juntos. Conversem um pouco na banheira com água quente, massageie os pés de sua amada, enfim, seja amoroso e gentil e as portas do sexo se abrirão para você.

 

Referência bibliográfica

DRISCOLL, Mark & DRISCOLL, Grace. Amor, sexo, cumplicidade e outros prazeres a dois. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2012

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GRAY, John. Marte e vênus no quarto. Rio de Janeiro: Rocco, 1998

PEASE, Allan & PEASE, Barbara. Por que os homens fazem sexo e as mulheres fazem amor? Rio de Janeiro: Sextante, 2000.

 

 

 

  1. SOBRE FLORES E ESPINHOS

Outro dia assisti um programa na TV onde um homem encontrava com um amigo que não via a algum tempo e percebeu que ele estava usando uma aliança. Surpresou, ele olhou para seu amigo e disse: “é uma aliança de casado?”. Ao que o amigo respondeu: “não, é uma forca”.

Este diálogo revela uma perspectiva que existe e que é muito difundida em nossa sociedade. Na base dessa perspectiva está o preconceito de que o casamento é algo ruim e questionável para quem deseja viver uma vida plena. Um fardo a ser carregado e uma cruz a ser levada até o fim da vida.

Particularmente entendo que estas pessoas ou bem passaram por experiências ruins em sua relação matrimonial, ou bem conviveram com pessoas que passaram por experiências assim. Pessoalmente confesso que tenho outra perspectiva sobre o tema. Como muitos na minha geração, casei bem cedo. Talvez cedo demais. Passei por inúmeras vicissitudes, sofri e fiz sofrer, errei muito e acertei o bastante. Amei e fui amado, mas também me decepcionei e decepcionei meu cônjuge. Mas, em momento algum deixei de acreditar no matrimônio como o plano de Deus para vida de uma pessoa. A Bíblia é muito sábia quando afirma: “Não é bom que o homem esteja só”. A vida a dois é uma das experiências mais extraordinariamente ricas que se pode ter na vida. Mas, como todas as experiências relacionais, elas possuem alegrias e tristezas.

Erra quem pensa que o casamento é um mar de rosas. Até existem rosas. E muitas! Mas elas vêm acompanhadas, inevitavelmente, por espinhos. Certa vez o padre Fábio de Melo escreveu: “A vida requer cuidado. Os amores também. Flores e espinhos são belezas que se dão juntas. Não queira uma só, elas não sabem viver sozinhas…Quem quiser levar a rosa para sua vida, terá de saber que com elas vão inúmeros espinhos. Não se preocupe, a beleza da rosa vale o incômodo dos espinhos…”.

Aquele jovem que casou com dezessete anos e meio hoje está prestes a completar meio século de vida. E hoje, ainda casado, sei – até porque lido com casais a mais de 25 anos – que em muitas relações existem espinhos e que esses espinhos podem assumir muitas formas: eles podem aparecer no tom da voz, que as vezes revela arrogância ou desdém; nas palavras mal-ditas que ferem; nos gestos que agridem; nas ameaças veladas que ficam pairando no ar e fazendo você imaginar dezenas de bobagens; nas maquinações maquiavélicas e até na infidelidade conjugal. Mas a rosa também traz consigo sua beleza e seu aroma. E na beleza e no aroma da rosa encontramos o amor, o carinho, a gentileza, a cumplicidade, o companheirismo e a alegria de estar ao lado de alguém que estará conosco até o fim.

Muitas pessoas, por medo dos espinhos, procuram atalhos. Evite essa atitude. Com o tempo você aprende que todos os atalhos são falsos e perigosos. Eles mostram apenas meias verdades. Com o tempo você aprende que os atalhos também têm seus próprios espinhos e que as dores que eles trazem são bem maiores. Com o tempo você aprende que fugir dos espinhos o fará se afastar das rosas e do seu aroma e beleza.

Na vida a dois existem, inevitavelmente, rosas e espinhos. Mas, como diz a citação que fizemos acima, “a beleza da rosa vale o incômodo dos espinhos”. Por isso trilhe com seu cônjuge seu próprio caminho sem se importar para os espinhos nem procurar os atalhos que lhe são oferecidos. Aprenda com os espinhos a amadurecer e a crescer o bastante para desenvolver a paciência e a dominar seu gênio e sua língua. Dessa forma você passará a olhar para os espinhos como oportunidades para poder crescer. No final, ambos estarão bem mais experiente, é verdade, mas também, bem mais sábios, por causa do amor. Afinal, já dizia Clarice Lispector: “Qualquer um pode amar uma rosa; mas é preciso um grande coração para incluir os espinhos”.

 

 

 

  1. O COMPANHERISMO ESPIRITUAL NO CASAMENTO

Não há dúvida de que quem pretende se casar está disposto a assumir uma condição de companheiro e não de uma simples companhia. Mas o que estou propondo neste texto é algo mais profundo e, reconheço, mais difícil. Estou propondo que cada cônjuge seja um companheiro espiritual um do outro.

O que estou propondo é que os casais vejam suas vidas como uma caminhada para a qual vocês receberam, de Deus, um companheiro. Vocês estão juntos nesta caminhada da vida, de mãos dadas e indo em direção à eternidade com Deus. Como é importante ter em seu cônjuge alguém com quem você adora, ora e desenvolvem esta dimensão espiritual.

A Bíblia diz que “o cordão de três dobras não se quebra com facilidade” (Eclesiastes 4:12). Como seria interessante se os casais tivessem alguns minutos por dia (bastam 1 ou 2) para poderem orar juntos um pelo outro. Será que dois minutos fazem tanta falta assim? Como seria edificante se o casal pudesse adorar a Deus à dois, fortalecer um ao outro na fé, buscar a vontade de Deus juntos e juntos comungarem do corpo e do sangue de Cristo.

Creio que o maior obstáculo para que isso ocorra é a correria, a falta de tempo. Ou melhor, sejamos honestos, a falta de prioridade. Encontramos tempo para tudo o que achamos importante. Mas será que Deus não é importante em nossa vida? É claro que é. E se é, por que não dar o devido espaço a Ele em nossa vida familiar?

Sou uma pessoa bastante racional e não consigo encontrar nenhuma razão que me convença de que a adoração a dois faz mal a um casal. Muito ao contrário, só fará bem. De fato, há autores que dizem que quanto mais marido e mulher crescem em seu relacionamento com Deus, tanto mais será fortalecido o relacionamento familiar. Que argumento minimamente inteligente contrariaria esta afirmação? Nenhum!

Caros casais. Vivemos em uma sociedade em que os valores estão em crise. A família é um espaço privilegiado para se resguardar da inversão de valores que nossa sociedade propõe. Assim sendo, não se furtem de orarem com e pelo outro, apresentando seu marido e sua esposa às mãos dadivosas de Deus diariamente.

Se vocês conseguirem fazer isso, serão mais do que companheiros em um casamento, serão companheiros espirituais, ou seja, envolvendo uma esfera da vida que é tão importante quanto as demais, senão a mais importante de todas.

 

 

 

  1. DEUS ESTÁ VIVO OU MORTO EM SUA FAMÍLIA?

Quando falamos sobre a morte de Deus, inevitavelmente as pessoas se reportam à figura do filósofo alemão Friedrich Nietzsche. O que a maioria das pessoas não entendem é que, quando ele fala da morte de Deus, ele não está se referindo a uma espécie de “deicídio”, ou seja, a alguém que deu um tiro ou esfaqueou Deus enquanto ele estava cochilando em seu trono.

Falar da “morte de Deus” é falar de um gesto que “eu” e “você” podemos fazer diariamente. Somos nós quem matamos Deus. Mas, como assim? Devemos nos lembrar que na época de Nietzsche o positivismo de Comte declarou a substituição da religião pela ciência, e, desta forma, afirmou o fim de todo e qualquer absoluto que esteja fora ou independente das provas científicas – e isso inclui Deus. A ciência assumiu a absolutitidade e assentou-se no trono de Deus, exigindo adoração. As pessoas continuaram mantendo sua religião, mas seus valores primordiais mudaram. É desta forma que “matamos Deus”. Nós o matamos quando o relativizamos ou quando o utilizamos para justificar uma sociedade de consumo e instrumentalização e descarte do “outro”, bem como o estabelecimento e ampliação do grande vazio (o nada) moral de nosso tempo, ou seja, o niilismo. O que é o niilismo? É a desvalorização de todos os valores mais básicos e fundamentais – como o amor, a verdade e a justiça – e a instauração do nada.

Olhe para nossa Câmara de vereadores, ou para o Senado Federal, ou mesmo para os Tribunais de Justiça. Em todos eles você poderá encontrar um crucifixo na parede. Mas, pergunto: será que o que é discutido e decidido ali é de encontro com a vontade de Deus? Se não, Deus está morto. Não adiante o presidente do Senado iniciar a sessão dizendo: “Em nome de Deus….”, etc. Estas são palavras vazias ditas por homens que não têm qualquer compromisso com os valores do Reino de Deus. Deus, para eles, é o capital, o dinheiro, a “grana que ergue e destrói coisas belas”. Esse é o deus deste mundo! O nome dele é Mamom.

Mas, e em nossas famílias? Deus está vivo ou morto? Estará vivo se os pais levarem a sério a educação ética, moral e espiritual de seus filhos e ensinarem os princípios e os valores do Reino de Deus: “amá-lo acima de todas as coisas e ao próximo, como a si mesmo”; a justiça e a verdade como compromissos morais e sociais e o perdão e a misericórdia como compromissos com as pessoas.

Doutra sorte, lamento informar, mas se você ensina a seus filhos que mentir e roubar é normal, se a violência é algo valorizado em sua família, se o consumo é fundamental, se é preciso ter sempre mais e melhor, se temos de jogar fora o que ainda funciona apenas porque a moda nos impõe esse modelo de vida, se você tem tempo para tudo na vida, mas não consegue parar por apenas 20 minutos por semana, repito, 20 breves minutos por semana, para simplesmente orar com sua esposa e filhos, você está matando Deus em sua família.

O que fazer? Ore com seus filhos. Agradeça a Deus pelo alimento de cada dia. Leve seus filhos à comunhão eucarística e comungue em família. Preocupe-se com a formação religiosa de seus filhos. Não faça como alguns discípulos fizera, impedindo as crianças de chegarem até Deus. Deixai ir a Ele às criancinhas. Mostre você mesmo o caminho, por palavra e exemplo. Cito as palavras do casal André e Rita Kawahala: “A família precisa ser. Este é o apelo profético de todos os que ainda acreditam nesta instituição no meio do deserto do individualismo, do egoísmo, da mentira, da injustiça e da tribulação do início do terceiro milênio. (…) Ouso dizer que a família tem de ser a fonte de um amor-doação sem limites; uma escola do perdão incondicional; a origem da verdade que cura e liberta; a testemunha executora da justiça que promove o bem e destrói o mal; e a transmissora de uma paz perseverante que tranquiliza a humanidade” (KAWAHALA, 2008, p. 135).

Estou certo que alguém poderá me chamar de démodé, ou seja, antigo, velho e fora de moda. Mas, na realidade, nunca fui de seguir as “outras” como faz Maria. Prefiro as orientações do ilustre psicólogo Merval Rosa quando afirma: “A religião, quando adequadamente praticada, pode funcionar como importante fator de integração da família. Ela é capaz de conservar o sabor e a vitalidade das relações familiares que tornam mais provável a permanência da família. (…) Se queremos preservar a família, portanto, devemos dar a Deus o lugar de relevância que ele merece no seu seio” (ROSA, 1979, p. 155).

Quem concorda com Merval Rosa sobre o papel da religião no casamento é o Casal Mark e Grace Driscoll, quando, citando várias pesquisas científicas realizadas em Universidades americanas, afirmam (2012, p. 85): “Casais que vão regularmente juntos à igreja são menos propensos a se separar ou a se divorciar, que é o resultado mais comum da separação. Casais que ‘frequentam cultos religiosos correspondem a apenas cerca da metade dos processos de separação’. Além disso, a taxa ‘de dissolução conjugal (divórcio) é 2,4 vezes maior entre os casais em que nenhum dos parceiros frequentam cultos religiosos, do que entre os casais em que ambos comparecem toda semana’. Um estudo revelou que casais que frequentam a igreja juntos, regularmente, tinham cerca de 35% menos probabilidade de se divorciar, em comparação aos casados que raramente ou nunca frequentavam cultos religiosos”.

Encerro com as palavras fortes e incisivas de Soren Kierkegaard, um dos maiores filósofos do século XIX, que afirmou: “Louvado seja o casamento, louvado seja todo aquele que o exalte! O que afirmo não é nenhuma nova descoberta, pois seria bastante difícil encontrar novidade que se refira à mais velha instituição do mundo” (KIERKEGAARD, In CHARBONNEAU, 1985, p. 9).

 

Referências bibliográficas

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