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Coevolução: a evolução das relações ecológicas

Quando é Coevolução? (When is it Coevolution?)


Tem coisa que não fica velha. Nas ciências biológicas é o livro Origem das Espécies de Charles Darwin que continua sendo a bíblia dos processos básicos em evolução, mesmo tendo mais de 150 anos de idade. É o caso desse artigo publicado em 1980 sobre a coevolução, e que eu gosto muito de citar nas minhas aulas sobre o assunto.


A coevolução é a evolução das relações ecológicas que envolvem reciprocidade e especificidade. Explico: todo relacionamento que afeta a vida de todos os envolvidos (como a predação, a competição, o parasitismo...) pode resultar em um ajustamento mútuo, que podemos chamar de coadaptação. Mas para isso, também é necessário haver especificidade, ou seja, fidelidade entre as partes envolvidas. Se um patógeno tem um relacionamento sério com um hospedeiro, mas de repente ele não consegue mais driblar seus mecanismos de defesa e passa a infectar outra espécie de hospedeiro, então essa história de amor e ódio não resultará em coevolução.



O pior é que é comum afirmar que a coevolução resulta na cofilogenia (ou filogenia espelhada), e na coadaptação, mas a única verdade absoluta em biologia é que toda regra tem a sua exceção. Tanto, que, em biológicas, a regra É a exceção.


Nesse artigo de 1980, Janzen chama a atenção para o perigo das generalizações. É possível que duas espécies que mantenham uma interação ecológica no presente sejam perfeitamente coadaptadas, mas isso não implica necessariamente que seus ancestrais evoluíram nesse relacionamento se moldando mutuamente. Essas espécies podem ter se encontrado pelo caminho e formado uma parceria desde então, conservando características que elas já tinham antes do encontro.


Em outro caso, quando vemos duas árvores filogenéticas que se sobrepõem perfeitamente, isso também não significa que as espécies evoluíram juntas no mesmo relacionamento histórico. O relógio molecular tem mostrado que árvores filogenéticas semelhantes entre patógenos e hospedeiros se construíram em tempos muito diferentes, e só recentemente eles se encontraram.



Ou seja, pra saber quando uma interação ecológica é resultado de uma coevolução, é preciso avaliar se a relação é recíproca, específica, por meio de técnicas filogenéticas, saber se os ancestrais dessas espécies evoluíram juntos afetando a vida um do outro. É bem difícil generalizar, e às vezes é bem mais fácil saber quando não é coevolução. Mas, embora seja um tema muito específico da área das ciências biológicas, é um assunto fascinante, e se você for estudante, professor ou profissional nessa área, dedique-se um pouquinho nas curiosidades desse assunto.


(imagens: acervo pessoal)

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