Revista Agronegócio
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Por Lourdes Rodrigues


Cerca de 80% do rebanho bovino de corte é formado pela raça nelore cujo valor de arroba comercial começa a perder força — Foto: Evandro Monteiro/Valor
Cerca de 80% do rebanho bovino de corte é formado pela raça nelore cujo valor de arroba comercial começa a perder força — Foto: Evandro Monteiro/Valor

Com um rebanho de 225 milhões de cabeças, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil lidera o ranking mundial dos exportadores de carne bovina. Mas enfrentou no primeiro semestre um recuo nos negócios: exportou 1,02 milhão de toneladas, volume 3,8% menor que o registrado em igual período de 2022, e faturou US$ 4,8 bilhões, 21,4% a menos. O levantamento é da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec).

Os principais importadores são, pela ordem: China, Estados Unidos (EUA), Chile, Egito e Arábia Saudita, entre os mais de 150 países compradores do produto. A China importou 512.306 toneladas, volume 5% menor do que no primeiro semestre de 2022, e com faturamento 29% inferior, totalizando US$ 2,6 bilhões. Em fevereiro, o país registrou um caso atípico de encefalopatia espongiforme bovina (mal da vaca louca) e a China embargou o produto brasileiro por um mês, o que impactou negativamente os resultados do período.

O segundo maior mercado do Brasil no primeiro semestre foram os EUA, com 71.451 toneladas, recuo de 8,4% em relação ao primeiro semestre de 2022. As receitas caíram 18,9%, somando US$ 428,6 milhões. Somente para a carne bovina in natura, os volumes somam 49.545 toneladas, com faturamento de US$ 225,6 milhões. Hoje, o Brasil é o terceiro maior fornecedor de carne bovina in natura para o mercado americano. As exportações para a União Europeia aumentaram 7,7% nos primeiros seis meses do ano, com 39.330 toneladas e faturamento de US$ 287,2 milhões.

Rui Mendonça, da Marfrig: produtos com maior valor agregado e rentabilidade — Foto: Gustavo Pitta/Divulgação
Rui Mendonça, da Marfrig: produtos com maior valor agregado e rentabilidade — Foto: Gustavo Pitta/Divulgação

Com o mercado recentemente aberto, as exportações de carne in natura para o Canadá somaram 2.500 toneladas no primeiro semestre, com receitas totais de US$ 10,6 milhões. A Abiec destaca ainda o crescimento de 44,7% das exportações para a Rússia, com 23.556 toneladas, e de 40% no faturamento, para US$ 83,6 milhões.

Um novo mercado para a carne in natura brasileira é o México, após a recente abertura de comércio entre os países, e as expectativas, de acordo com a Abiec, são de aumento progressivo dos embarques devido à necessidade do México de maior diversificação de fornecedores desse tipo de proteína para o consumo local.

Cerca de 80% do rebanho bovino de corte brasileiro é formado pela raça nelore. De acordo com a Associação de Criadores de Nelore do Brasil (ACNB), a partir do segundo semestre de 2022, o valor da arroba do nelore comercial começou a perder força, caindo mais de 23,5%, de R$ 340 para os atuais R$ 260. Neste último mês, houve uma discreta elevação dos preços, mas longe do patamar anterior, diz Nabih Amin El Aouar, presidente da ACNB.

“Com a entressafra, teremos uma melhora nos preços da arroba, mas longe da condição no início do ano passado. Acreditamos em uma maior recuperação só a partir de 2024.”

O consumo de carne bovina vem caindo internamente. De 40 kg per capita/ano há alguns anos, hoje está pouco acima de 24 kg per capita/ano. Para Aouar, existem várias razões para isso, especialmente a crise econômica e a pandemia. “Apesar dessa queda importante de preço para o produtor, nos açougues e supermercados, os valores permanecem os mesmos, o que contribui para a redução da demanda.”

Mesmo com as altas e baixas dos preços e do consumo nos mercados interno e mundial, grandes empresas do setor estão otimistas. Edison Ticle, CFO da Minerva Foods, diz que a oferta global de carne bovina segue cada vez mais restrita, o que deve se acentuar ainda mais com a queda prevista na produção americana nos próximos anos. Em contrapartida, segundo ele, o aumento na disponibilidade de gado no Brasil, reflexo da retomada do ciclo bovino, tendência que deve permanecer no biênio 2023/2024, também contribui para um cenário mais positivo. Além disso, o clima impacta a produção global de grãos, refletindo nos custos de produção de proteínas substitutas como frango e porco, o que tende a “ampliar ainda mais a competitividade do nosso continente no mercado internacional de carne bovina”, afirma Ticle.

Cerca de 70% da receita bruta da Minerva Foods vem das vendas no mercado externo, com 20% de market share na América do Sul. O foco da empresa é voltado para mercados emergentes e de nichos, com envio de carne orgânica para EUA e Europa, e cortes especiais (incluindo kosher e halal) para o Oriente Médio, entre outros. No Brasil, a companhia prioriza mercados de nicho, ganhando market share, rentabilidade e crescimento em marcas premium.

A questão sanitária é uma das preocupações da empresa. “Contamos com um rigoroso processo de fabricação, procedimentos sanitários e de higiene operacionais, biossegurança e proteção contra contaminação cruzada em todas as nossas plantas”, diz Ticle. No caso de alguma restrição à carne bovina brasileira, a estratégia de diversificação geográfica da Minerva Foods permite seguir atendendo os clientes por meio das plantas da empresa em outros países da América do Sul.

Preocupada em zerar as emissões de CO2 até 2035, a Minerva assumiu o Compromisso com a Sustentabilidade, que tem como meta desmatamento ilegal zero em toda a cadeia produtiva da América do Sul até 2030. “Entendemos que a sustentabilidade do nosso negócio depende da manutenção dos ecossistemas que sustentam a produção agrícola, especialmente no que se refere à proteção florestal e o combate ao desmatamento ilegal. No Brasil e no Paraguai, por exemplo, já possuímos 100% de monitoramento dos fornecedores diretos”, afirma o CFO da Minerva Foods.

Posicionada entre as maiores produtoras de alimentos do mundo, a JBS faz há 15 anos o monitoramento socioambiental de toda a sua rede de mais de 70 mil produtores de gado pelo país, informa Maria Paula Silveira Bibar, gerente de sustentabilidade da JBS Brasil. “Utilizamos bases de dados oficiais e imagens de satélite para observar se as atividades desses fornecedores estão em conformidade socioambiental e em linha com a nossa política de compra responsável de matéria-prima”, afirma. Atualmente, cerca de 71 milhões de hectares são monitorados diariamente. Como resultado desse trabalho, 12 mil fazendas foram bloqueadas da base de fornecedores, uma vez que os produtores não estavam alinhados com os critérios da empresa, conta Bibar.

Para aprimorar as normas de transparência na cadeia produtiva, em 2021, a JBS lançou a Plataforma Pecuária Transparente. “A proposta é que nossos fornecedores também consigam realizar o monitoramento de critérios socioambientais de seus próprios fornecedores, utilizando a tecnologia blockchain para contribuir com a rastreabilidade do gado.” Os dados cadastrados na plataforma são mantidos em confidencialidade, segundo ela, e fornecedores diretos analisam, caso a caso, os dados dos parceiros. “Já temos 45% de nossos fornecedores diretos e indiretos inscritos na plataforma. A partir de 1º de janeiro de 2026, o produtor rural que não fizer parte da plataforma não mais poderá comercializar com a JBS.”

A Marfrig também monitora seus fornecedores (fazendas) de gado, que são homologados e verificados regularmente, atendendo aos critérios socioambientais estabelecidos pela companhia. De acordo com Paulo Pianez, diretor de sustentabilidade e comunicação corporativa da Marfrig, a empresa trabalha para ter toda a cadeia de produção identificada e rastreada, desde o abate dos animais. “As regras determinam que as fazendas não podem estar em área de desmatamento, embargo ou trabalho escravo, nem em unidade de conservação ou terras indígenas.”

Para a companhia, o mercado neste semestre está favorável, e vem sendo favorecido pela diversificação de exportação para novos países, como Canadá e Singapura. “Começamos a exportar também para o México”, diz Rui Mendonça, CEO da operação América do Sul da Marfrig. Outro fator positivo é a participação de industrializados, que tem crescido e hoje representa 15% do faturamento da Marfrig na América do Sul, em comparação a 5% há cinco anos. “O mesmo movimento ocorre com carne in natura com marcas (especialmente Bassi e Montana Steakhouse), que respondem por 30% do faturamento. São produtos com maior valor agregado e melhor rentabilidade”, afirma.

No primeiro trimestre, a operação América do Sul exportou 33% de sua produção, o que equivale a 118 mil toneladas de carne e geração de receita líquida de R$ 2,89 bilhões. Os principais destinos foram China e Hong Kong (63% das exportações), União Europeia (16%), Estados Unidos (10%) e Oriente Médio (9%).

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