MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
COORDENADORIA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E INTEGRAÇÃO ACADÊMICA
PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E EM DESENVOLVIMENTO
TECNOLÓGICO E INOVAÇÃO
JEAN CARLOS FREITAS DE CARVALHO
RELATÓRIO FINAL
INICIAÇÃO CIENTÍFICA:
PIBIC CNPq ( X), PIBIC CNPq Ações Afirmativas ( ), PIBIC UFPR TN ( ), PIBIC Fundação
Araucária ( ), PIBIC Voluntária ( ), PIBIC Ações Afirmativas Voluntária ( ) ou PIBIC EM.
Edital 2014-2015
“A unidade política ameaçada: a Britania romana e a regionalização dos poderes políticos na
Antiguidade Tardia segundo os panegíricos latinos de finais do século III (289 – 297)”
Relatório
apresentado
à
Coordenadoria de Iniciação Científica e
Integração Acadêmica da Universidade
Federal do Paraná por ocasião da
conclusão das atividades de Iniciação
Científica
ou
Iniciação
em
desenvolvimento
tecnológico
e
Inovação - Edital 2014/2015
Prof. Dr. Renan Frighetto – Departamento de História
PROJETO: AS GENTES GOTHICAE E AS RELAÇÕES DE PODER NO REINO HISPANOVISIGODO DE TOLEDO (SÉCULOS VI – VII). BANPESQ/THALES: 2014015625
CURITIBA
2015
Título:
A unidade política ameaçada: a Britania romana e a regionalização dos poderes políticos na
Antiguidade Tardia segundo os panegíricos latinos de finais do século III (289 – 297)
Resumo:
O presente estudo se propõe a comparar os panegíricos dedicados à Maximiano (289 e 291)
e Constâncio Cloro (297), bem como o contexto em que estas últimas são produzidas. Procura
apontar ainda, as bases do reconhecimento e legitimidade imperial, uma vez que a crise do século
III, também conhecida como Anarquia Militar só termina, grosso modo, com a ascensão de
Diocleciano ao poder em 284 e a implantação do sistema político-administrativo da tetrarquia.
Destaca também, a influência da província da Britânia no âmbito imperial, bem como a repercussão
das usurpações ocorridas em seu território, com destaque àquela perpetrada por Caurasio,
autoproclamado Imperator da Britania e do norte da Gália. Tolerado, porém não reconhecido pelo
Imperadores legítimos Diocleciano - Augusto Senior vinculado ao deus Júpiter e governante da
parte oriental do império - e Maximiano - Augusto responsável pela porção ocidental do império e
cuja imagem se vincula a Hercules, semideus hierarquicamente inferior a Júpiter. Portanto, os
objetivos desta pesquisa são, através da análise dos panegíricos, esboçar o contexto político,
econômico e militar da Britânia Romana após os eventos conhecidos pela historiografia como
ANARQUIA MILITAR pela ótica da Antiguidade Tardia; verificar e problematizar a questão da
legitimidade Imperial através da comparação entre os imperadores “legítimos” e os usurpadores.
Introdução:
O século III d.C. é de vital importância para o estudo do Império Romano, pois neste período
profundas transformações de caráter político, econômico, religioso e social podem ser verificadas,
resultando em desdobramentos posteriores que afetariam de maneira significativa toda a estrutura
na qual se baseava o império até então. A Antiguidade Tardia é conceito historiográfico datado da
primeira metade do século XX, e compreende o período de transformações ocorridas após o século
III, com suas transformações sociais, políticas, econômicas, e a Idade Média, com instituições
distintas e aparentemente novas. Conhecido como “o declínio do Império Romano do Ocidente”,
pela ótica da Antiguidade Tardia, estas mudanças ganham um novo significado. Nesse sentido,
entende-se que não houve uma substituição das instituições romanas por seus equivalentes
bárbaros, e sim, transformações e adaptações desses elementos. Estas alterações foram motivadas
pelo choque entre os antigos valores pagãos-helenísticos e os novos conceitos propostos pelo,
cada vez mais, atuante cristianismo. O resultado é a sua alteração desses elementos clássicos,
calcada pelas ideologias cristãs e neoplatônicas, onde surgem como uma nova roupagem.
Mais precisamente, entre os anos 235 e 284 d.C, é possível verificar uma grande alternância
de imperadores, geralmente por curtos períodos, e em sua maioria, provenientes da esfera militar.
Em outras palavras, este intervalo de tempo é marcado pela aclamatio, ou seja, a escolha por parte
das tropas legionárias do sucessor imperial.
A carreira militar é, no início do século III, praticamente a única maneira de ascensão social,
e é através dela que Maximino Trácio chega à condição de imperador em 235, onde permanece até
238. A partir daí tem início, a grosso modo, o período conhecido pela historiografia como “Anarquia
Militar” ou “Crise do Terceiro Século”. A aclamatio não era suficientemente forte para consolidar a
posição de Maximiano, havia ainda a necessidade do reconhecimento por parte do corpo senatorial,
pois sem ele sua situação política era frágil. Ciente disso, toma uma atitude incomum em relação a
outros usurpadores, ao invés de se voltar para Roma e pressionar o senado para que o
reconhecesse como sucessor legítimo, se mantém no limes em campanha contra os germanos.
Provavelmente, esta decisão se deu graças a influência que a dinastia dos Severos ainda exercia
no âmbito senatorial. Buscando equilibrar seu apoio, Maximiano opta por fortalecer suas bases de
apoio, as espadas legionárias. A principal medida tomada por Maximiano é dobrar os soldos das
legiões. Esta medida tem duas consequências diretas: a primeira é aumentar as taxas impostas, o
que relaciona-se diretamente com a queda na popularidade de Maximiano, e em segundo lugar,
fortalecer o papel que cabia até então às legiões na escolha do sucessor à púrpura.
Além dos fatores internos, o Império também sofria fortes pressões externas. A combinação
formada pelos persas ao leste e os germanos, sobretudo góticos, ao norte, afetou significativamente
um império, que até pouco tempo, estava acostumado com a paz. Ainda que Septímio Severo,
pouco antes, tenha aumenta o tamanho do exército e criado uma política que incentivava soldados
de carreira a se tornarem oficiais sênior (ou seja, procurando manter nas fileiras legionárias
indivíduos com experiência e habilidades bélicas), o exército romano ainda era pequeno ante a
demanda criada. As duas forças invasoras, vastas e bem organizadas, atacando a partir de dois
polSoma-se a isso, as dificuldades fiscais. As guerras contínuas são caras e exigem maiores
impostos, agravando ainda mais a crise.
É nesse cenário que as forças militares se veem fortalecidas e no direito de decidir quem é
digno ou não, de assumir o cargo máximo do império e pôr fim à crise. Com dificuldades cada vez
maiores de manter as fronteiras, as diversas tropas espalhadas pelo território elegem o general que
creem ser capaz de resolver os problemas internos e externos. É o período dos “imperadores
soldados”, caracterizado por imperadores essencialmente militares. A sua legitimidade está
baseada unicamente em seu poderio militar e vitórias, um general que falha em campanha é
desafiado por seus próprios tenentes. Os mesmos soldados que os haviam elevado à condição
imperial seriam os responsáveis pelas suas mortes. Segundo Gonçalves (GONÇALVES, 2006,):
Assim, no período da chamada “Anarquia Militar”, o Império Romano enfrentou
problemas de diversas ordens. A crise política se expressava pela intervenção
constante das legiões de fronteira, pelas lutas civis e pela impossibilidade de se
organizar novas dinastias no poder, visto que não se conseguiu implementar uma
política sucessória coerente. Um imperador legítimo nada mais era que um
usurpador vitorioso. [...] Também se percebia uma crise econômica, refletida nos
gastos com o exército, com a corte e com a burocracia que crescia com a ausência
do imperador de Roma, empenhado em estar nas várias frentes de batalha nas
fronteiras”
Este período conturbado é marcado pelos governos curtos e repentinos de líderes militares,
cuja duração estava diretamente ligada às vitórias em campanha, contra os invasores ou contra um
outro general igualmente eleito por suas tropas. A situação só sofreria alterações após a ascensão
de Diocleciano em 284. Nascido na província da Dalmácia, Diocleciano entra para as fileiras
militares durante o poder de Marco Aurélio Caro, se tornando oficial de alta patente. Procurando
concretizar uma linha sucessória, Caro leva somente um de seus filhos em campanha, Numeriano.
Ao primogênito Carino, coube a importante tarefa de permanecer em Roma e cuidar da
administração imperial, sendo nomeado augusto, ou seja, legitimado e pretenso sucessor de seu
pai, em 283. Após a morte de Carus ainda em 283, enquanto liderava uma praticamente vitoriosa
campanha contra os persas sassânidas, Numeriano assume o comando de suas tropas sem
maiores problemas, pois conforme dito anteriormente, neste contexto a legitimidade está
diretamente ligada aos êxitos militares. A campanha é concluída vitoriosamente em 284, e
Numeriano se põe a caminho de Roma, entretanto, não chega ao seu destino. É morto por seu
prefeito do pretório Aper. As tropas não reconhecem o augusto em Roma como sucessor de Caros,
proclamando como imperador, o oficial Diocles, mais tarde conhecido como Diocleciano, que
declarando-se o responsável por trazer justiça ao assassinato de Numeriano, executa Aper.
Nesse meio tempo, Carino estava ocupado com outro usurpador, Marco Aurélio Sabino
Juliano, general e governador da província da Panônia. Chega a emitir moeda na qual se intitula
Pannoniae Augusti, ou seja, augusto (imperador) da Panônia. Após derrotar mais este usurpador,
e assimilar suas tropas, Carino vai em direção a Diocleciano.
As duas forças opositoras se
encontram em Margum, próximo ao Danúbio. Durante a batalha, Carino é assassinado por um de
seus oficiais, pondo fim às hostilidades. As tropas do Imperador morto são unidas às de Diocleciano,
e uma intensa campanha propagandística é criada com o intuito de desmoralizar Carino.
Esta atitude de Diocleciano pode ser explicada uma vez que até aquele momento, o
imperador legítimo era Carino, proclamado augusto por seu pai antes de morrer, dessa forma,
buscava minar a legitimidade além de fortalecer a sua posição, não havendo indivíduos
politicamente fortes para desafiar a sua pretensão ao poder imperial.
Cabe lembrar, que todos estes fatos se deram entre a morte de Carus em 283, e o fim da
disputa entre Diocleciano e Carino, em 285. Em outras palavras, em dois anos, inúmeros líderes
aspiraram e ocuparam o poder imperial. A condição de usurpador ou de imperador legítimo era
facilmente invertida, dependendo meramente do ponto de vista adotado.
Diocleciano se mantém no poder por duas décadas. O fato de conseguir se perpetuar por
tanto tempo como imperador deve-se ao empreendimento de profunda reestruturação econômica,
política e militar. Uma das primeiras mudanças significativas é a indicação de Maximiano, experiente
chefe militar que também servira no exército de Carus, como seu césar em julho de 285.
As guerras constantes nos anos anteriores haviam contribuído para aumentar a insatisfação
da população devido às taxas e impostos cada vez mais pesados. Os Bagaudae nos territórios da
Gália, por se tratar de territórios nos quais a presença romana era relativamente menor, são um
reflexo desse descontentamento. Os Bagaudas, como ficaram conhecidos, foram grupos
heterogêneos formados camponeses, sendo a questão fiscal a maior motivação de sua revolta,
Uiran Silva, em seu artigo Rebeldes contra o Mediterrâneo” os define como:
O nome dado a grupos de camponeses insurretos na Gália romana, na maior parte
das vezes ao norte, que agem no século III e no século V d.C. (conquanto alguns
autores acreditem que tenham agido também no século IV). Contudo, alguns
autores modernos veem em maior ou menor grau a presença de escravos e, por
outro lado, outros autores veem a presença de grandes proprietários no controle do
movimento.
O imperador então, envia seu césar Maximiano para controlar a revolta, que é duramente
reprimida sem maiores complicações em 286. Temendo a conversão de seu aliado em um novo
usurpador, ou já planejando o que viria a ser a futura tetrarquia, Diocleciano eleva Maximiano ao
patamar de augusto em abril do mesmo ano, tornando-o responsável pela parte ocidental do
império. Todavia, ainda que houvessem dois augustos e dois cesares, uma distinção entre eles se
faz notar. Diocleciano, por ser augusto a mais tempo, é augusto senior, estando, portanto,
hierarquicamente acima de Diocleciano, (augusto junior). Cabe ainda ressaltar que não houve uma
divisão formal do território, e sim de responsabilidade. Dessa forma, a presença do imperador era
sentida em dois pontos simultâneos no império, desencorajando usurpadores oportunistas, além de
facilitar a administração e coleta de impostos, que devido a sua grande extensão territorial, tornava
praticamente impossível de ser realizada por um único indivíduo. A aura da Roma “cidade eterna”
deixa de ser estar vinculada a parte física, passando a acompanhar os augustos onde quer que eles
estivessem.
Todavia, ainda que a influência imperial fosse maior agora, não foi suficiente para impedir
novas usurpações, um exemplo em específico, é o de Carausio. Após receber o comando naval
com objetivo de lidar com o problema dos piratas saxões e francos na costa da Gália, tarefa esta
que executa com maestria, Carausio acaba crescendo em admiração por parte de seus
comandados, além de riqueza proveniente dos saques. Maximiano, ciente da ameaça, ordena a
execução de Carausio, que se revolta, recebendo apoio da Gália e Britânia, para onde se dirige e
auto proclama. Sem nenhum respaldo à sua pretensão imperial, o usurpador não busca a deposição
dos diarcas Diocleciano e Maximiano, pelo contrário, procura utilizar-se da legitimidade destes,
colocando-se como aliado e irmão, designado para governar a província em seu nome.
Aliado a isso, as fronteiras das quais Maximiano ficara responsável passam a sofrer
constantes ataques de coalisões bárbaras no Reno em 287 e 288. No verão do mesmo ano, dizem
os panegíricos dedicados a ele, atravessa o rio e consegue estabilizar a situação, é a partir desse
momento que volta sua atenção para Carausio, tolerado porém não aceito, governante da Britânia.
O ataque a Carausio elaborado pelos diarcas Diocleciano e Maximiano partem de duas
frentes, uma física, composta por uma grande frota construída especificamente para esse fim, e
outra, de caráter muito mais complexo, que visava minar ideologicamente as bases de legitimidade
utilizadas por Carausio.
Na passagem do ano 290 para 291, Diocleciano e Maximiano se encontram em Milão, em
um evento descrito e ressaltado em detalhes no panegírico em honra de Maximiano datado de 291.
Não se tratava de um mero encontro e troca de formalidades, sendo utilizado como poderosa
ferramenta propagandística. A natureza do poder imperial é alterada novamente com a indicação
de dois cesares, submetidos cada qual a um imperador, que por sua vez, ficariam responsáveis por
uma fração territorial do império. Diocleciano escolhe Galério, que oferece sua filha Valeria em
casamento com o intuito de criar laços familiares que fortaleceriam a relação entre ambos.
Maximiano por sua vez, aponta Constâncio Cloro como seu césar, que é obrigado a deixar sua
primeira esposa Helena, e desposar Theodora, filha de Maximiano com o mesmo objetivo, estreitar
as relações político-familiares. Está formada a primeira tetrarquia, o mecanismo criado para facilitar
a sucessão e continuidade no poder. Neste modelo, após a renúncia de ambos os augustos, seus
respectivos cesares assumem a púrpura, além de indicarem os seus cesares, teoricamente,
garantindo a manutenção e continuidade do sistema.
Aliado a este arranjo, a autoridade imperial começa a atribuir a si, uma série de atributos
míticos, retirando a figura imperial do “âmbito comum”, colocando-a em um patamar inatingível aos
meros mortais. Esta característica é uma influência de estruturas monárquicas orientais e
helenísticas, cada vez mais atuantes no meio romano. Sendo assim, Diocleciano reclama para si a
descendência divina de Júpiter (Ioui), ou seja, o senhor dos deuses, um dos mais importantes seres
do panteão romano, enquanto Maximiano declara-se da linhagem de Hércules (Herculios), filho de
Júpiter, conhecido por sua força e coragem. Esta construção se estende para os seus respectivos
cesares. Os governantes não passaram a ser vistos como deuses, mas, ainda assim, se
apropriaram e usufruíram da proteção e características divinas visando consolidar ainda mais sua
posição. A distinção entre a divindade e o imperador é atenuada. Esta construção ideológica afasta
Carausio e corrói suas bases legitimatórias, pois atribui aos membros da tetrarquia um caráter
divino, esta característica viria a ser fortalecida paulatinamente nos períodos subsequentes,
culminando na sacralização do imperador. Segundo Renan Frighetto, a posição de Carausio era
incerta pois:
Apesar de reconhecido pelos diarcas, Carausio ficou alijado da partilha efetiva da
autoridade imperial e, consequentemente, excluído da participação nas múltiplas
tarefas da defesa e administração imperiais. Posição excludente que acentuava a
condição de Carausio como usurpador e ilegítimo diante do universo político-militar
romano.
Após a criação da tetrarquia as campanhas para retomar os territórios controlados por
Carausio são temporariamente suspensas, o foco dos imperadores são os problemas externos.
Após a nomeação de Constâncio Cloro, entretanto, a principal tarefa a ser concluída é a retomada
da Britania e partes da Gália que Maximiano falhara em retomar nos conflitos de 288 e 289. No ano
seguinte, mesmo com a propaganda dos tetrarcas contra si, Carausio se declara governante no
mesmo nível de Diocleciano e Maximiano, emitindo moeda na qual aparece os bustos dos três,
acompanhada legenda CARAVSIVS ET FRATRES SVI, (Carausio e seus irmãos). Não existem
evidências nas fontes que apontam para o reconhecimento dessa aceitação por parte de Maximiano
e Diocleciano, ainda assim, as poucas tentativas em lidar com a situação entre os anos de 289 e
292 apontam para uma possível “aceitação momentânea” e não oficial da posição de Carausio.
Em 293, entretanto, a atenção de Constâncio, césar de Maximiano, se volta completamente
para os territórios controlados por Carausio. Retomando sem maiores dificuldades as regiões da
Gália sobre controle de Carausio, começa a construção de uma frota com o objetivo de atacar
definitivamente a Britania. Este episódio é amplamente abordado no panegírico dedicado a ele
datado de 297.
Carausio, que mantinha sob seu comando forças consideráveis, resistira às campanhas
empreendidas por Maximiano, todavia, em 293, tem seus planos fracassados. É assassinado por
Alecto, segundo em comando, que toma seu posto. A revolta só tem fim em 296, quando Alecto
finalmente é derrotado por Constâncio e a região volta ao controle imperial.
MATERIAIS E MÉTODOS
Conforme abordado no relatório parcial, a pesquisa se deu através de levantamento
bibliográfico relacionado ao contexto de produção das obras, uma vez que este possui importância
crucial, pois afeta diretamente os responsáveis por escrever as fontes. Sendo assim, foi necessária
uma abordagem mais ampla, que incluísse discussões historiográficas referentes ao período.
Somado a isso, há ainda a necessidade de aprofundamento em conceitos chaves que conduzem a
pesquisa, sendo necessária a sua definição. Entre eles, destaca-se os seguintes: legitimidade
imperial, usurpação, aclamatio, Antiguidade Tardia, Dominato e tirania. As fontes consistem em
panegíricos, discursos de caráter propagandísticos, que tinham por objetivo enaltecer um indivíduo.
O termo tem origem na retórica grega, e passam a ganhar um significado cada vez mais relevante
com a legitimidade imperial em um contexto no qual o poder está, cada vez mais, personificado no
Imperador.
RESULTADOS e DISCUSSÃO
Marcado por várias transformações, o período analisado é amplamente complexo. As
pressões exercidas nas fronteiras pelas populações bárbaras, aliadas aos conflitos internos
constantes e políticas taxativas pesadas, foram responsáveis por criar uma crise sem precedentes.
O fortalecimento do poder das legiões na escolha do sucessor à púrpura aumenta ainda mais o
clima de instabilidade pelo qual passa o Império. Além dos problemas internos, os persas ao leste,
e os principalmente os germanos ao norte, contribuem ainda mais para o agravamento da situação.
A guerra civil, a crise econômica e as invasões funcionam como um verdadeiro círculo vicioso, pois
as legiões atribuem a si o direito de escolher o general que conseguira lidar com a crise, exigindo
que novas aclamações e deposições sejam efetuadas, o que por sua vez, acaba agravando ainda
mais a crise. O mecanismo imposto por Diocleciano em 286, com a indicação de Maximiano como
augusto, altera a própria essência do poder imperial. Tornando-a mais atuante e sentida nos
territórios mais afastados de Roma. Durante seu governo, a autoridade do imperador Romano se
fortalece, e com o auxílio de Maximiano, amplia sua zona de influência. A posterior indicação de um
césar para cada augusto atua como um mecanismo que facilita e torna quase certa a sucessão sem
maiores problemas. Somado a isso, a propaganda que busca imputar ao imperador descendência
divina isola ainda mais as pretensões de usurpações, além de fortalecer a estrutura na qual se
baseia a legitimidade dos tetrarcas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Marcado por conflitos internos e externos, crise tributária e guerra civil, o século III é, para a
historiografia, tema de profunda análise. A grande extensão territorial propícia a usurpadores, aliada
à crise econômica proveniente das guerras constantes se combinam a um novo elemento: a
influência crescente do poder militar de intervir nas sucessões. Sendo assim, eclode a guerra civil
que abala, num contexto mais amplo, a própria unidade política do império. Entretanto, as
adaptações implementadas por Diocleciano conseguem promover o fortalecimento da figura
imperial. Personificada nos membros da tetrarquia, o imperium alcança, ao mesmo tempo, quatro
pontos do território. Este arranjo político-administrativo expõe, à primeira vista, paridade, entretanto,
percebe-se uma forte hierarquização dos seus membros. Ao mais antigo no poder, Diocleciano,
cabe a primazia, sendo identificado como senior, estando portanto, acima de Maximiano (augusto
junior), da mesma forma, os dois cesares estavam submetidos ao seu augusto (respectivamente,
Galério e Constâncio Cloro).
Outro fator pertinente, é atribuição, a partir desse momento, de elementos míticos à figura
imperial. A descendia divina é o principal deles. Diocleciano vincula-se a Júpiter, senhor dos deuses,
e Maximiano, Hércules, filho de Júpiter e detentor de grande força - Novamente, percebe-se a
hierarquia entre ambos, pai e filho, deus e semideus - A influência de elementos orientais e
helenísticos (sobretudo as monarquias persas), contribuem para a paulatina sacralização do
imperador. Tido como representante das divindades, a linha que os distingue se torna cada vez
mais tênue, o seu direito de governar é providencia divina.
Entretanto, isso não foi suficiente para extinguir completamente as usurpações. Carausio,
oficial submetido a Maximiano e responsável pela frota marítima, se declara imperador da Britania,
recebendo apoio das legiões lá estacionadas, além das localizadas na Gália. Apesar de declararse augusto, Carausio não questiona a legitimidade de Diocleciano ou Maximiano, pelo contrário, se
utiliza desta, colocando-se lado a lado com os diarcas legítimos. A recíproca entretanto, não é
verdadeira, não há nenhum indício que aponte o reconhecimento de Carausio como tal por parte
de Carausio. De fato, durante dos anos de 289 e 290, campanhas empreendidas por Maximiano
com o objetivo de depor o autoproclamado augusto que, devido às forças que conseguira reunir e
tropas mercenárias, consegue se manter no poder. Entre os anos de 290 e 293 não há atritos entre
estes poderes, isso pode ser explicado de duas maneiras. A primeira seria que os olhos dos
imperadores estivem voltados para as fronteiras, onde a pressão externa, principalmente ao norte
com os germanos, exigisse medidas mais imediatas. A segunda seria um acordo estabelecido entre
Maximiano e Carausio, ainda que haja nenhum indício de reconhecimento oficial.
As hostilidades são retomadas no ano de 293, após a nomeação de Constâncio Cloro como
cesar submetido a Maximiano, que no mesmo ano retoma facilmente regiões da Gália controladas
por Carausio. Ainda em 293, Carausio é traído e assassinado por Alecto. Seu segundo em
comando, que toma seu posto e continua a guerra com Constâncio. A Britania só é retomada
definitivamente em 296, com a derrota de Alecto.
Bibliografia
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FRIGHETTO,R.: A Antiguidade Tardia. Roma e as monarquias romano bárbaras numa época de
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In: VII Semana de Estudos Medievais. Por uma longa duração. Perspectivas dos estudos medievais no Brasil.
Brasília : Casa das Musas, 2010. v. 1. p. 101-22.
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romano clássico na Antiguidade Tardia. Diálogos. Maringá: v. 12, p. 19-42, 2010.
.____________: Algumas considerações sobre o poder político na Antiguidade Clássica e na Antiguidade
Tardia. Stylos – Instituto de Estudios Grecolatinos ‘Prof.Francisco Nóvoa’. Buenos Aires: v.13,p.3747,2004.
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SILVA, Gilvan Ventura da, MENDES, Norma Musco. Diocleciano e Constantino: a construção do
DOMINATO. In: Repensando o Império Romano - Perspectiva socioeconômica, política e cultural. Vitória:
Edufes, 2006
__________, Gilvan Ventura da. A Domus Imperial e o fenômeno das usurpações no século IV.
In: Phoînix / UFRJ, Rio de Janeiro, 1995.
SILVA, Uiran Gebara da. Bagaudas e circunceliões: revoltas rurais e a escrita da história das classes
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Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013. Disponível em:
<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-25062013-103928/>. Acesso em: 2015-05-20
SILVA, Uiran Gebara da. “Rebeldes contra o Mediterrâneo”. Academia.edu; Disponível em:
http://www.academia.edu/5831621/Rebeldes_contra_o_Mediterr%C3%A2neo. Acesso em: 2015-05-26
WINKELMANN, Friedhelm. Historiography in the age of Constantine. In: Greek and roman historiography
in Late Antiquity. Gabriele Marasco (ed.) Boston: Brill, 2003
APRECIAÇÃO DO ORIENTADOR
Bolsista: JEAN FREITAS CARVALHO
PIBIC/CNPq – período Agosto 2014/Julho de 2015.
Orientador: Renan Frighetto
CPF do orientador: 73771813700
Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes / Depto. de História
Curitiba, 06 de agosto de 2015.
Venho por este meio, apreciar o desempenho do bolsista Jean Freitas Carvalho que
desenvolveu o plano de trabalho intitulado A unidade política ameaçada: a Britania romana e a
regionalização dos poderes políticos na Antiguidade Tardia segundo os panegíricos latinos de
finais do século III (289 – 297), vinculado ao projeto “AS GENTES GOTHICAE E AS
RELAÇÕES DE PODER NO REINO HISPANO-VISIGODO DE TOLEDO (SÉCULOS VI –
VII)” (BANPESQ/THALES: 2014015625).
O bolsista participou ativamente das discussões de textos e fontes propostas em reuniões com
o orientador e com outros colegas numa periodicidade quinzenal. Participou como ouvinte do evento
continuado Diálogos Mediterrânicos, promovido pelo Núcleo de Estudos Mediterrânicos da UFPR e
que contou com a participação de pesquisadores nacionais e internacionais com os quais a bolsista
pode intercambiar idéias e opiniões, além de participar como ouvinte de outros eventos de extensão
universitária.
O bolsista já manifesta pretensões de encaminhamento para o Mestrado ao término de sua
Graduação, onde terá grandes chances de desenvolver mais profundamente o tema de sua pesquisa.
Um bolsista que tem levado muito a sério suas responsabilidades acadêmicas e científicas e cujo
empenho demonstrado e desenvolvimento apresentado apontam para um ingresso na pós-graduação
em condições de desenvolver uma dissertação de Mestrado de qualidade, dentro do tempo previsto
pela CAPEs.
Prof. Dr. Renan Frighetto
DEHIS/CPGHIS
Núcleo de Estudos Mediterrânicos – UFPR
Pesquisador ID - CNPq
Curitiba, 07 de agosto de 2015
Prof. Dr. Renan Frighetto
DEHIS/CPGHIS
Núcleo de Estudos Mediterrânicos UFPR
Pesquisador ID - CNPq
Jean Carlos Freitas de Carvalho
Graduando em História – UFPR