A fumaça das queimadas na Amazônia pode viajar pela atmosfera e prejudicar a saúde até de quem vive longe da floresta. Conheça alguns fatos sobre a fumaça e o fogo na Amazônia

Queimada na Gleba Abelhas, no município de Canutama (AM), registrada em sobrevoo realizado em 2 de agosto de 2023, durante monitoramento de desmatamento e fogo do Greenpeace Brasil. © Marizilda Cruppe / Greenpeace

Na Amazônia, o fogo não ocorre naturalmente, ele é usado pelos humanos no processo de desmatamento da floresta. Mas além de prejudicar a biodiversidade e contribuir para as mudanças climáticas, esse fogo criminoso gera uma fumaça tóxica que afeta a saúde de milhares de pessoas.

Separamos cinco fatos que vão ajudar você a entender como o fogo e a fumaça das queimadas e incêndios florestais na Amazônia prejudicam nossa saúde e nosso futuro. 

  1. Fumaça tóxica

A fumaça das queimadas está repleta de partículas minúsculas (sulfatos, nitratos, amônia, cloreto de sódio, fuligem, pós minerais e água) com menos de 2,5 micrômetros de diâmetro (PM 2.5). 

Esses resíduos, chamados de material particulado (PM – particulate matter), podem se acumular nos pontos mais terminais do nosso sistema respiratório, os alvéolos, onde ocorre a hematose, que é a troca de gás carbônico por oxigênio e, a partir dali, esse material entra na corrente sanguínea, causando complicações de saúde imediatas e de longo prazo.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a exposição à poluição causa 7 milhões de mortes prematuras todos os anos no mundo e reduz a expectativa de vida da população. Em 2021, a organização revisou as diretrizes globais para a qualidade do ar e determinou que a média diária de material particulado no ar não pode passar de 25 μg/m³. Mas no período do ano em que ocorrem as queimadas criminosas na Amazônia, de julho a outubro, essa concentração pode ser duas vezes maior que o limite de segurança e persistir por tempo prolongado

  1. Como a fumaça afeta a saúde? 

Entre os sintomas mais comuns causados pela interação com o material particulado da fumaça estão ardência na garganta e narinas, dor ao respirar, dor de cabeça e tosse persistente. Os efeitos podem ser ainda mais devastadores para pacientes que já contam com alguma comorbidade, como hipertensão, asma ou doença pulmonar obstrutiva crônica, levando até  internação.

Os mais acometidos pela poluição causada pelas queimadas na Amazônia são os idosos e as crianças. “As crianças, por terem o sistema imunológico ainda em desenvolvimento e por apresentarem um aparelho respiratório anatomicamente menor”, explica o médico pediatra Daniel Pires de Carvalho, diretor geral adjunto do Hospital Infantil Cosme e Damião, de Porto Velho (RO). 

Mas o material particulado pode continuar agindo por muitos anos no corpo humano. A exposição crônica a essas partículas pode favorecer o surgimento de tipos de câncer, como o câncer de pulmão, doenças hematológicas, hipertensão e Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC)

  1. Veneno à domícilio

Você já ouviu falar dos rios voadores? São enormes nuvens carregadas de água que se formam sobre a Amazônia, e viajam pela atmosfera, levando água para todo o centro-oeste, sul e sudeste do País. Pois da mesma maneira que esse sistema de ventos pode carregar água acima das nossas cabeças, ele também transporta a fumaça, que pode viajar por muitos quilômetros, afetando a saúde de quem mora perto e de quem mora longe da floresta.

Uma pesquisa recente mostrou que Manaus, capital do Amazonas, por exemplo, foi um dos municípios que ficaram mais tempo expostos à má qualidade do ar nos últimos anos, com de 75% a 100% dos dias no período de agosto a outubro entre 2010 e 2019 com qualidade do ar ruim. A maior concentração de focos de calor, no entanto, ficam distantes da capital.

Mas a fumaça não fica restrita às metrópoles amazônicas. Em 2019, as queimadas na Amazônia foram tão intensas, que a fumaça do fogo fez o dia virar noite em São Paulo e em outras grandes cidades no sudeste e centro-oeste. Se até as roupas no varal ficaram cheias de fuligem, imagina o nosso pulmão? 

  1. Queimando recursos da saúde

Um estudo da  Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) sobre o impacto das queimadas para a saúde infantil em aproximadamente 100 municípios da Amazônia Legal, publicado em 2019, mostrou que o número de internações de crianças devido a problemas relacionados à exposição a fumaça dobra na região amazônica durante o período em que ocorrem as queimadas criminosas, o que acarretou num custo extra de R$ 1,5 milhão ao Sistema Único de Saúde (SUS).

De acordo com a pesquisa, viver em uma cidade próxima aos focos de incêndio aumenta em 36% o risco de se internar por problemas respiratórios. 

“Aumenta a demanda nas unidades de saúde, aumentam os custos de saúde, por conta dos procedimentos que você tem que dar para a pessoa, e essa questão econômica afeta as famílias também, é medicamento que tem que comprar, deslocamento que tem que fazer”, explica Arlete Baldez, médica epidemiologista da Agência Estadual de Vigilância e Saúde estado de Rondônia (Agevisa).

  1. É ruim para o clima, é ruim para a gente

O desmatamento e as queimadas correspondem por 49% das emissões de gases do efeito estufa do Brasil, mais do que as emissões de todos os carros, aviões e fábricas do pais juntas! O que acontece é que as árvores da floresta guardam um monte de carbono em sua biomassa (seu tronco e folhas). Mas quando essa floresta é derrubada e queimada, todo esse carbono volta para a atmosfera. 

Assim, a floresta, que é uma grande aliada na luta contra a crise climática, por sua capacidade de guardar carbono, acaba se transformando em uma gigantesca fonte de emissões. E quanto mais emissões destes gases, pior nossa situação. 

Há algum tempo as mudanças climáticas deixaram de ser uma previsão de cientistas e passaram a fazer parte do nosso cotidiano. Este ano, o planeta vem registrando temperaturas recorde e eventos climáticos extremos com intensidade e frequência nunca antes vistos, fazendo milhares de vítimas, inclusive aqui no Brasil. Para piorar, a maior parte das nações ainda não estão preparadas para lidar com isso, o que torna a tragédia ainda maior. 

E como acabar com esse problema? Bem, acabar com o desmatamento é uma missão que depende da ação de todos os atores envolvidos.

Este ano, finalmente voltamos a ver movimentações do governo federal no combate ao crime ambiental, com a retomada de políticas públicas e ações do Ibama e do ICMBio. De janeiro a agosto de 2023, o número de focos de calor na Amazônia teve uma redução de 32% e a área com alertas de desmatamento caiu 48%, comparados com os números do mesmo período do ano passado. 

Mas isso não basta, o desmatamento tem que chegar a zero! E para isso será preciso que empresas se comprometam a fechar de vez a porta para produtos vindos do desmatamento, assumindo esta responsabilidade, e que os governos dos estados amazônicos deixem para trás este modelo de desenvolvimento do século passado e comecem a levar a sério a missão de proteger a floresta e seus povos, com adoção de políticas públicas para coibir o avanço da agropecuária e do garimpo sobre a Amazônia, e investimentos em novos modelos econômicos, que valorizem a floresta em pé. 

Na Carta pelo Futuro fazemos uma série de recomendações de ações que os estados da Amazônia Legal podem colocar em pratica para endurecer o combate ao crime ambiental. Assine e ajude a pressionar por mudanças. 

Sem a ajuda de pessoas como você, nosso trabalho não seria possível. O Greenpeace Brasil é uma organização independente - não aceitamos recursos de empresas, governos ou partidos políticos. Por favor, faça uma doação hoje mesmo e nos ajude a ampliar nosso trabalho de pesquisa, monitoramento e denúncia de crimes ambientais. Clique abaixo e faça a diferença!