Cinema

A vida radical de Arnaldo Baptista

Redação O Tempo


Publicado em 18 de junho de 2009 | 18:24
 
 
 
normal

São Paulo. "Loki", que estreia hoje em Belo Horizonte, vale-se de pelo menos dois trunfos para ser tão bom como é. Um deles vem do personagem fascinante que é Arnaldo Baptista, o criador dos Mutantes. O outro é a maneira bastante franca como o diretor Paulo Henrique Fontenelle aborda a trajetória desse artista. Um diretor mais tímido, mais recatado (no mau sentido do termo), talvez estragasse o que tinha em mãos. Para sorte de todos, inclusive do biografado, Fontenelle vai fundo. E conta tudo. Ou, pelo menos, conta muita coisa da vida nada vulgar de Arnaldo. Ele foi uma espécie de músico precoce e criou Os Mutantes ainda menor de idade. De mentor intelectual da banda composta por seu irmão Sérgio e Rita Lee, evoluiu a profeta de uma trip composta de muita loucura, experimentação musical, e, sim, muita experiência com drogas. Arnaldo viveu a fundo a era do LSD e outros aditivos, e o filme nada esconde.

Como ninguém sai impune desse tipo de aventura, Arnaldo foi internado em hospitais psiquiátricos, e num deles caiu - ou se jogou - da janela. Tudo lá é dito, palavra por palavra, e nem mesmo amigos, convidados para os depoimentos, livram a cara do artista. Esse tom de sinceridade dá o tônus ao filme. Sem lamúrias, como deve ser quando se entra nessa de ir ao limite, Arnaldo pagou e paga o preço. Mas o faz de maneira suave. Vive, com sua terceira mulher, na região de Juiz de Fora, em Minas, onde pinta para se expressar. É pena que o filme não se detenha mais na pintura de Arnaldo. De relance, dá para ver que se trata de um processo de reconstrução interna permitido pela arte visual. A pintura parece um meio privilegiado para restituir unidade a almas dilaceradas, como sabia a dra. Nise da Silveira em seus procedimentos com os pacientes do Hospital de Engenho de Dentro.

"Loki" refaz a trajetória de Arnaldo Baptista por suas palavras, pelas de amigos e também, felizmente, por inserções musicais dos Mutantes e de sua fase posterior, separado da banda. Fica transparente que Arnaldo não foi fundo apenas na questão das drogas ou do desregramento. Sua viagem foi, sobretudo, musical, como prova o álbum "Loki?", que dá título ao filme e é considerado sua obra mais radical. Era um momento de transição, em que a questão entre a música brasileira "pura" e a de influência internacional já parecia superada.

Tendo participado dos festivais da canção e do tropicalismo, os Mutantes fizeram parte daquela geração que desatou esse falso nó. E, tendo desatado, ou cortado de vez, esse nó paralisante, puderam se abrir a tudo que poderia alimentar a música. Desse modo, o que salta à vista na trajetória de Arnaldo é um ecletismo criativo que pode chegar ao extremo e brinca no abismo. "Loki?", seu disco, é prova disso. "Loki", o filme, seu testemunho.

Agenda

O que. Estreia do documentário "Loki"
Onde. Ponteio Lar Shopping, na sala Ponteio 1
Quando. A partir de hoje, às 18h

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!