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Portal Movente • jul. 05, 2020

Dúvidas sobre saúde mental?

PERGUNTE AO MOVENTE

O que é Psicopatologia

Você pode estar se perguntando, neste exato minuto: afinal, o que é Psicopatologia, a tão falada, ouvida e, por alguns, até mesmo temida? Brincadeiras à parte, eu, Lucas Fantini, Médico Psiquiatra e mente pensante no Movente, quero te contar mais sobre o assunto — sim, você está no lugar certo. 


Neste post, você vai encontrar não só conceitos importantes sobre Psicopatologia. Aqui, irei abrir o jogo sobre algumas de minhas experiências diante de meus pacientes. 


Você vem comigo em mais essa jornada aqui no Movente? Eu sabia que sim!


Pois bem, como começar com tudo que vou te contar e o que isso tem a ver com Psicopatologia?


Vamos dar o primeiro passo do começo — do fato de eu não saber nadar.


Por não saber nadar, sou muito inseguro em águas que ultrapassem o meu joelho. E foi exatamente assim que eu me senti durante um bom tempo diante dos meus pacientes da psiquiatria


Eu ainda não tinha a ferramenta essencial (talvez você esteja na mesma situação agora) para poder examinar a pessoa que se apresentava diante de mim, eu ainda não sabia sobre a psicopatologia.


E, sendo bem sincero, imagino que pouco importa se você é psicólogo (a), psicanalista, terapeuta ocupacional, médico ou médica da unidade básica, psiquiatra, entre outros.


Se você se propôs a atender uma pessoa portadora de alguma enfermidade mental e não domina psicopatologia, você pode, como eu, se afogar na imensidão do psiquismo do seu paciente. A gente tem que combinar que ela é infinitamente profunda, sem fim.


No entanto, com essa ferramenta preciosa você pode nadar, mergulhar, navegar, velejar e se divertir com o estudo do psiquismo do seu paciente. 


Obviamente, com o consentimento deste, afinal, este mundo particular que é o psiquismo é dele, não seu!


Pois bem: se agora a gente pode sair da dor do afogamento e partir para o desafio de aprender a nadar, precisamos responder… o que é Psicopatologia?


Psicopatologia é aquela que tem como objetivo contemplar os estados psíquicos relacionados ao sofrimento mental, ou seja, o corpo de estudos básico para a psiquiatria com maior foco clínico.


Neste universo, são várias as correntes – que não nos afogam, mas salvam - psicopatológicas, as “psicopatologias”, como a psicopatologia descritiva, fundamental, humanista, dinâmica, psicanalítica, etc.


Mas vamos combinar de nos ater a psicopatologia descritiva? Podemos, ser pensante?


O que é Psicopatologia descritiva?


Para a Psicopatologia descritiva, o interesse primordial é a descrição minuciosa das funções psíquicas e suas eventuais alterações, além da estruturação e categorização dos sinais e sintomas. 


Como isso se dá? Eu te explico.


As manifestações que chamarei de objetivas são aqueles sinais que se apresentam evidentes para o examinador (a); já as manifestações subjetivas são os sintomas observados pelo examinador (a).


Você já deve ter notado que a psicopatologia descritiva é uma ferramenta essencial para examinar o paciente e o seu psiquismo, né?  


Sem este exame acurado, a condução do caso, na sua formulação diagnóstica e tratamento acabam ficando entregues a qualquer sorte. 


Falaremos sobre a aplicação da psicopatologia descritiva…


A aplicação precisa da psicopatologia descritiva na prática de qualquer profissional que trabalhe com a saúde mental, é necessária, no mínimo, por três motivos que quero te contar. 


São eles: 


Motivo #1: Ela é absolutamente fundamental — e para não dizer que estou sendo repetitivo — ela é, possivelmente, a única ferramenta diagnóstica exclusiva dos trabalhadores da área.


Motivo #2: Ela também é mais que uma mera descrição do psiquismo. Estamos falando da ligação obrigatória entre os “psiquismos”, do paciente e do terapeuta. Sem essa ligação nada acontece, sabe?


Motivo #3: A aplicação da psicopatologia descritiva influencia diretamente na condução de qualquer caso na saúde mental, pois possibilita um diagnóstico mais claro e, consequentemente, o tratamento correto.


Acho que já deu pra entender o porquê dela ser tão importante, certo? 


Agora, qual é, de fato, o tal fenômeno da psicopatologia descritiva?


Tecnicamente falando, a Fenomenologia é o estudo voltado para eventos, físicos ou psicológicos, sem recorrer ou “florear” com as explicações de causas ou funções.


Ou seja, quando falamos sobre Fenomenologia e Psicopatologia, estamos dialogando sobre a categorização de experiências trazidas pelos pacientes, suas visões internas a respeito daquilo que eles vêm vivendo. 


A Fenomenologia requer aos pacientes uma descrição exata de como se sentem por dentro.


Por sua vez, você (ou a pessoa que atua como terapeuta) participa de maneira a observar e compreender o evento psíquico do que aquela pessoa sente, experimenta. 


No início desta jornada, eu estava falando sobre o ato de se afogar no psiquismo, de observar. Pois bem: o processo de empatia é de primeira ordem para que você possa operar lado a lado com a psicopatologia descritiva, trazendo aspectos de duas naturezas.


São eles: 

  • Aspectos objetivos: são aqueles em que nos voltamos para a descrição dos comportamentos;
  • Aspectos subjetivos: aqueles mais focados na Fenomenologia. 


Aqui, estamos dialogando de um processo em que há a preocupação com as experiências do paciente, no entanto, que restringe seu âmbito àquilo que possui relevância clínica.


Ou seja, o estudo da Fenomenologia viabiliza recursos para o diagnóstico que você irá realizar, elevando seu “olfato" clínico enquanto profissional e otimizando a comunicação com seus pacientes.


Um conselho meu para você: conectar-se ao psíquico do seu paciente através do exame minucioso de suas funções psíquicas é a forma mais sutil (e primeira, hein?) de iniciar uma psicoterapia, seja lá qual for a sua linha psicoterápica preferida.


E por falar em estudos e conexão ao psíquico, tenho uma surpresa pra você: o Relógio Psíquico do Movente! 


Eu adoro surpresas, confesso. Por isso, quis deixar para essa parte da nossa jornada algo especial e que vem facilitar o estudo das funções psíquicas: o Relógio Movente


Este é um método que consiste em ter, a cada hora do relógio, um item ou função psíquica a ser examinada. Serve para nos orientar na hora do exame. Legal, né?


Pela experiência que a gente tem, notamos que bastam dez passadas pelos ponteiros do relógio e você registra em sua memória todas as funções psíquicas e a sequência sugerida por nós.


Existe uma hierarquia dentre as funções psíquicas, sendo elas: 

  • A orientação, a atenção e o nível de consciência, quando alterados, nos fazem pensar, imediatamente, em uma afecção orgânica, possivelmente mascarada aos olhos do observador desatento. Por esta razão, essas funções psíquicas estão presentes no primeiro terço do relógio.
  • Em seguida, temos as funções essencialmente alteradas nos quadros de humor. Em nossa lista, inclui-se o pensamento, a afetividade e a "conação", também nomeada por alguns autores como volição.
  • Às oito horas, lembrando que o oito é um número cabalístico e simboliza a morte, temos as funções psíquicas relacionadas aos quadros clínicos da psicose. São as funções: juízo de realidade, consciência do “EU” e sensopercepção.
  • Às nove horas temos a memória e, às dez, a inteligência. A maioria dos autores preferem registrar as alterações da memória inteligência em itens iniciais do exame psíquico. Talvez seja até mais inteligente mas, por uma questão de memória, a gente preferiu deixá-las mais ao final do relógio.  
  • Por fim, às 11h registramos o juízo de morbidade (insight), pragmatismo e prospecção.


Bem massa, né?! Se você acredita que o Relógio Movente possa te ajudar, CLIQUE AQUI e imprima o seu (é grátis!). Depois me conta o que achou dele e vamos conversar sobre o assunto! 



Psicopatologia descritiva: como falar sobre ela sem citar Karl Jaspers?


Jaspers aparece em nossas leituras e referências por vezes (prepare-se, pois ele estará presente por vários momentos!). Ao falar sobre Psicopatologia e Fenomenologia, ele não poderia ficar de fora.


Karl possui distintas visões sobre Fenomenologia, no entanto, a gente pode resumir este conceito como “manifestações subjetivas da vida psíquica perturbada”.


Ainda segundo Jaspers, tais manifestações psicopatológicas podem ser enxergadas como subjetivas, ou seja, fenômenos subjetivos (vistas pela Fenomenologia), bem como objetivas, os fenômenos objetivos vistos pelo profissional, no caso, você. 


Neste cenário, exercer a empatia também é importantíssimo para que a gente possa avaliar as manifestações subjetivas do (a) paciente.


A obra Psicopatologia Geral, de Karl Jaspers


De 1913, o livro escrito por Jaspers oferece uma visão descritiva sobre fenômenos psíquicos anormais de maneira como se apresentam à experiência consciente. 


A partir deste momento, o autor iniciou um movimento em prol da aplicação do método fenomenológico na clínica médica, oferecendo uma nova ciência da Psicopatologia — a fim de verificar, adjetivar e analisar o paciente e o ambiente ao seu redor. 


Jaspers não reduz o ser em estudo a apenas conceitos psicopatológicos. 


E então, o que aprendemos sobre Psicopatologia nesta jornada Movente?


Você, como profissional do campo da saúde mental, deve ser, antes de tudo, uma pessoa curiosa por natureza — como um detetive e um obstinado, como o escavador. 


O psíquico de cada um pode ser um labirinto de possibilidades, e você precisa ter força e empenho máximos para essa jornada de examinar as profundezas da psiquê.


Não existe escavador do psíquico sem a ferramenta psicopatológica. Ou melhor, uma caixa de ferramenta onde contém todas as funções psíquicas e suas particularidades estimuladoras.


Afinal, você quer saber o que Jaspers quer saber? :) 


Aí vai: “(…) queremos saber o que os homens vivenciam e como o fazem. Pretendemos conhecer a envergadura das realidades psíquicas. E não queremos investigar apenas as vivências humanas em si, mas também as condições e causas de que dependem, os nexos em que se estruturam, as relações em que se encontram e os modos em que, de alguma maneira, se exteriorizam objetivamente”.


E então, gostou da nossa jornada até aqui? Afinal, descobriu o que é Psicopatologia? Vamos conversar sobre o assunto: comente e compartilhe esse artigo com mais pessoas que se interessem pelo tema.


Até a próxima! 




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