Massacre une irlandeses e italianos

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A selecção e os adeptos irlandeses vão homenagear os mortos de há 18 anos em Loughinisland PETER ANDREWS/REUTERS

Há precisamente 18 anos, em Loughinisland, seis pessoas foram mortas num bar quando assistiam a um Rep. Irlanda-Itália

Loughinisland, Irlanda do Norte, 18 de Junho. No The Heights, um bar de uma pequena vila a sul de Belfast, duas dezenas de pessoas assistem pela televisão ao jogo entre a Rep. Irlanda e a Itália. São 22h20, os irlandeses ganham 1-0 e faltam pouco mais de 25 minutos para terminar a partida. No The Heights, porém, o encontro acaba mais cedo e de forma abrupta: dois homens, de cara tapada e armas automáticas, entram no bar e atiram indiscriminadamente. Quando acabam de disparar, há seis mortos e cinco feridos graves. Exactamente 18 anos depois, Rep. Irlanda e Itália voltam a defrontar-se e os irlandeses vão homenagear as vítimas do "massacre de Loughinisland".

O incidente de 18 de Junho de 1994 foi mais um capítulo num longo conflito entre unionistas e republicanos na Irlanda do Norte, que apenas serenou quando, em 2005, o Exército Republicano Irlandês (IRA) deu ordens aos seus membros para abandonarem a luta armada. Dois dias antes do "Massacre de Loughinisland", os separatistas do Exército de Libertação Nacional Irlandesa, facção dissidente do IRA, abateram três membros da Força Voluntária do Ulster (UVF), grupo paramilitar unionista, na Shankill Road, em Belfast. O ataque ao The Heights, bar frequentado por católicos, foi considerado uma retaliação da UVF. Quase vinte anos depois, ninguém foi condenado pela investida, embora 16 pessoas tenham sido detidas para interrogatório.

Barney Green (87 anos), Eamon Byrne (39), Malcolm Jenkinson (53), Daniel McCreanor (59), Patrick O"Hare (35) e Adrian Rogan (34), as seis vítimas mortais do ataque, nunca chegaram a festejar a vitória irlandesa frente aos italianos de Baggio, Maldini e Baresi. A partida, disputada no Giants Stadium, em Nova Jérsia, marcava a estreia das duas selecções no Mundial de 1994, realizado nos Estados Unidos. Apesar da derrota, a Itália foi finalista vencida (derrota contra o Brasil nas grandes penalidades) e a Rep. Irlanda foi afastada nos oitavos-de-final pela Holanda.

Agora, o cenário é diferente: os irlandeses já estão eliminados do Euro 2012, os italianos dependem de terceiros. No entanto, o jogo para a equipa de Giovanni Trapattoni terá um significado especial. Pelo simbolismo da data, a UEFA concedeu uma permissão excepcional à federação irlandesa (FAI) para que os jogadores da Rep. Irlanda usem na partida de hoje, em Poznan, braçadeiras negras em homenagem às vítimas de Loughinisland.

"O que aconteceu em Loughinisland, em 1994, foi uma tragédia terrível e profundamente comovente para todos os adeptos de futebol. Gostaria de agradecer à UEFA por ajudar na comemoração desta atrocidade, aproveitando a oportunidade para lembrar todos aqueles que perderam a vida", declarou John Delaney, director-executivo da FAI. Igualmente grato pela homenagem está Niall Murphy, advogado das famílias das vítimas: "As famílias ficaram para sempre tocadas com este acontecimento trágico e agradecem por ser comemorada num dia tão pungente, o 18.º aniversário da atrocidade."

A homenagem desta noite não é, no entanto, bem recebida por todos. O radical unionista Jackie McDonald, líder das milícias protestantes da Associação de Defesa do Ulster (UDA), considera que o gesto da FAI é "uma receita para o desastre", que "transporta a política para o desporto". "E se a selecção da Irlanda do Norte também usar braçadeiras negras para assinalar o ataque na Shankill Road, o que pensariam?", questionou McDonald em declarações ao Belfast Telegraph. Para o líder da UDA, "o desporto sempre foi uma área neutral" no conflito da Irlanda do Norte e este episódio "apenas servirá para colocar uma enorme pressão sobre as pessoas que trabalham dos dois lados da fronteira". "Com todo o respeito pelos familiares das vítimas, considero esta decisão terrível", conclui.

A política volta a entrar em campo no Euro 2012.

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