12.05.2013 Views

2001 - Escola Superior do Ministério Público

2001 - Escola Superior do Ministério Público

2001 - Escola Superior do Ministério Público

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Rev Revista Rev ista Jurídica<br />

Jurídica<br />

<strong>Escola</strong> <strong>Superior</strong> <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong><br />

Volume 1 - n.º 2<br />

(Julho a dezembro/<strong>2001</strong>)<br />

LOGO DA<br />

IMESP


EXPEDIENTE<br />

ESCOLA SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO DE SÃO PAULO<br />

(Rua Minas Gerais, 316 - Higienópolis - São Paulo/SP)<br />

Conselho Editorial:<br />

Carlos Alberto de Salles<br />

Hugo Nigro Mazzilli<br />

Luiz Otavio de Oliveira Rocha<br />

Luiz Roberto Cicogna Faggioni<br />

Oswal<strong>do</strong> Henrique Duek Marques<br />

Ricar<strong>do</strong> Barbosa Alves<br />

Diretor:<br />

Rodrigo César Rebello Pinho<br />

Assessores:<br />

Dalva Teresa da Silva<br />

Ricar<strong>do</strong> Barbosa Alves<br />

Waléria Garcelan Loma Garcia<br />

Jornalista responsável:<br />

Rosana Sanches (MTb 17.993)<br />

Capa:<br />

Luís Antônio Alves <strong>do</strong>s Santos<br />

Impresso por:<br />

Imprensa Oficial <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

(Rua da Mooca, 1.921)<br />

“Revista Jurídica da ESMP” é semestral, com tiragem de 3 mil exemplares.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 3<br />

Í<br />

N<br />

D<br />

I<br />

C<br />

E<br />

Apresentação...............................................................<br />

Rodrigo César Rebello Pinho<br />

Questões e Questiúnculas de Processo Penal................<br />

Sergio Demoro Hamilton<br />

Sistema Constitucional de Crises.................................<br />

Sérgio Resende de Barros<br />

Concurso de Pessoas nos Delitos Omissivos..................<br />

Reincidência Específica e Livramento Condicional.....<br />

Imputação Objetiva e Ações a Próprio Risco..............<br />

Damásio Evangelista de Jesusl<br />

O La<strong>do</strong> Anacrônico na Reforma <strong>do</strong> Artigo 28 <strong>do</strong> CPP.....<br />

José Ademir Campos Borges<br />

Prisão Cautelar............................................................<br />

José Carlos Mascari Bonilha<br />

O Relacionamento entre o <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> e a<br />

Polícia Judiciária no Processo Penal Acusatório........<br />

Fauzi Hassan Choukr<br />

Control de la Policía por el Fiscal versus<br />

Dominio Policial de la Instrucción................................. 119<br />

Kai Ambos<br />

La Reforma del Proceso Penal: Principios<br />

Irrenunciables y opciones de Política Criminal........... 149<br />

Teresa Armenta Deu<br />

La Investigacion Criminal: Problemas Actuales y<br />

Perspectivas de Unificacion Internacional................... 187<br />

Juan-Luis Gómez Colomer<br />

Justicia Consensuada y Proceso Penal.....................<br />

Richard Vogler<br />

7<br />

11<br />

31<br />

55<br />

61<br />

65<br />

69<br />

75<br />

99<br />

221


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 5<br />

A<br />

P<br />

R<br />

E<br />

S<br />

E<br />

N<br />

T<br />

A<br />

Ç<br />

Ã<br />

O<br />

Este é o segun<strong>do</strong> número da Revista da <strong>Escola</strong> <strong>Superior</strong><br />

<strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> de São Paulo. Trata-se de continuidade<br />

importante para a consolidação da nossa entidade de<br />

aperfeiçoamento funcional, hoje considerada modelo de<br />

organização para diversas outras Instituições em to<strong>do</strong> o país.<br />

Levan<strong>do</strong> em conta o prestígio alcança<strong>do</strong> pelo nosso Centro<br />

de Estu<strong>do</strong>s, que busca o aprimoramento <strong>do</strong>s membros e<br />

servi<strong>do</strong>res da Instituição e uma maior interação com outras<br />

forças vivas da sociedade civil, impõe-se, para melhor divulgação,<br />

preservação e discussão de idéias, a edição de publicações<br />

que <strong>do</strong>cumentem as diversas atividades desenvolvidas<br />

em palestras, seminários e eventos. Esta chama de produção<br />

<strong>do</strong> conhecimento deve permanecer sempre acesa para o fortalecimento<br />

<strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> como órgão com a relevante<br />

atribuição constitucional de defesa da ordem jurídica, <strong>do</strong> regime<br />

democrático e <strong>do</strong>s interesses sociais e individuais indisponíveis.<br />

Para tanto, Cadernos Jurídicos sobre assuntos atuais,<br />

como a teoria <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> fato e da imputação objetiva<br />

em matéria penal, a bioética e o biodireito, foram distribuí<strong>do</strong>s<br />

aos colegas e encaminha<strong>do</strong>s para órgãos congêneres de<br />

to<strong>do</strong> o país. Esta Revista Jurídica destina-se à publicação<br />

de outros temas que sejam de interesse <strong>do</strong>s membros da<br />

Instituição e demais opera<strong>do</strong>res sociais.<br />

Nesta seqüência editorial, temos a grata satisfação de<br />

publicar diversas colaborações de colegas, artigos de<br />

eméritos professores e <strong>do</strong>utrina<strong>do</strong>res, bem como trabalhos<br />

de juristas de diversos países que participaram <strong>do</strong> “Congresso<br />

Internacional de Direito Processual Penal”, promovi<strong>do</strong><br />

pela ESMP, pelo CAO das Promotorias Criminais e pelo Instituto<br />

Max Planck, com o apoio da Associação Internacional<br />

de Direito Penal, <strong>do</strong> Departamento de Direito Penal, Medicina<br />

Forense e Criminologia da Faculdade de Direito da USP e<br />

<strong>do</strong> Instituto Manoel Pedro Pimentel.<br />

O Procura<strong>do</strong>r de Justiça Sergio Demoro Hamilton, decano<br />

<strong>do</strong> MP <strong>do</strong> Rio de Janeiro, encaminha um interessante


6<br />

A<br />

P<br />

R<br />

E<br />

S<br />

E<br />

N<br />

T<br />

A<br />

Ç<br />

Ã<br />

O<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

trabalho sobre “Questões e Questiúnculas de Processo<br />

Penal”. O Professor de Direito da USP, Sérgio Resende de<br />

Barros, apresenta um texto sobre a palestra proferida no<br />

Curso de Especialização em Direito <strong>Público</strong>, aprofundan<strong>do</strong><br />

uma questão pouco discutida na <strong>do</strong>utrina nacional: “Sistema<br />

Constitucional de Crises”. O Professor Damásio Evangelista<br />

de Jesus honra a revista com três artigos sobre temas da<br />

atualidade na <strong>do</strong>gmática penal: “Concurso de Pessoas nos<br />

Delitos Omissivos”, “Reincidência Específica e Livramento<br />

Condicional” e “Imputação Objetiva e Ações a Próprio Risco”.<br />

Nosso colega da Promotoria Criminal de Barretos, José Ademir<br />

Campos Borges, traz uma séria e justa advertência sobre<br />

“O La<strong>do</strong> Anacrônico na Reforma <strong>do</strong> Artigo 28 <strong>do</strong> CPP”.<br />

Do Congresso Internacional em Direito Processual Penal<br />

foram seleciona<strong>do</strong>s trabalhos de renoma<strong>do</strong>s juristas: José<br />

Carlos Mascari Bonilha, Assessor da Correge<strong>do</strong>ria-Geral <strong>do</strong><br />

MP, discute a “Prisão Cautelar”, Fauzi Hassan Choukr, da<br />

Promotoria de Jundiaí, estuda o “Relacionamento entre o<br />

MP e a Polícia Judiciária no Processo Penal Acusatório”; Kai<br />

Ambos, conheci<strong>do</strong> <strong>do</strong>utrina<strong>do</strong>r alemão, discute o “Control<br />

de la Policía por el Fiscal Versus Domínio Policial de La<br />

Instrucion”; Teresa Armenta Deu estuda “La Reforma del<br />

Processo Penal: Principios Irrenunciables y Opciones de<br />

Política Criminal” ; Juan-Luis Gómes Colomer, da Espanha,<br />

“La Investigacion Criminal: Problemas Actuales y Perspectivas<br />

de Unificación Internacional”; e, finalmente, o inglês Richard<br />

Vogler trata da “Justicia Consensuada y Proceso Penal”.<br />

Temos a certeza de continuar contan<strong>do</strong> com a valiosa<br />

colaboração científica <strong>do</strong>s membros <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong><br />

para o engrandecimento da Instituição.<br />

Rodrigo César Rebello Pinho,<br />

Procura<strong>do</strong>r de Justiça, Diretor da <strong>Escola</strong><br />

<strong>Superior</strong> <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> de São Paulo


questões questões questões e e questiúnculas<br />

questiúnculas<br />

de de processo processo penal<br />

penal<br />

sergio demoro hamilton,<br />

procura<strong>do</strong>r de justiça no rio de janeiro


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 9<br />

QUESTÕES E QUESTIÚNCULAS<br />

DE PROCESSO PENAL (*)<br />

Sergio Demoro Hamilton<br />

1. A experiência <strong>do</strong> magistério leva-nos, muitas vezes, a abordar,<br />

no curso da exposição em aula, quase nunca com a necessária<br />

profundidade, uma série de temas interessantes versan<strong>do</strong> sobre<br />

processo penal. Muitos desses assuntos, embora merece<strong>do</strong>res de<br />

estu<strong>do</strong>, acabam por cair no oblívio, relega<strong>do</strong>s a um segun<strong>do</strong> plano em<br />

razão <strong>do</strong> aparecimento de questões nem sempre mais relevantes, mas,<br />

sem dúvida, de maior urgência, ou, quan<strong>do</strong> menos, mais práticas em<br />

razão da fúria de legiferar que, há muito, assola o País, necessitan<strong>do</strong><br />

ser digerida e aplicada no dia-a-dia <strong>do</strong> foro. Haja cabeça para estudar o<br />

direito positivo, constantemente modifica<strong>do</strong> por leis de má qualidade<br />

técnica. Muitas delas, impõe-se reconhecer, brigan<strong>do</strong> entre si e contra<br />

o sistema (se é que ele ainda existe!), quan<strong>do</strong> não eivadas de<br />

inconstitucionalidade. Inúmeras destas leis hurlent de se rester<br />

ensemble, geran<strong>do</strong> para o aplica<strong>do</strong>r da norma sérias perplexidades.<br />

Em razão disso, aqueles temas, realmente relevantes, vão sen<strong>do</strong> postos<br />

de la<strong>do</strong>. No campo penal, nota-se uma evidente orientação <strong>do</strong> legisla<strong>do</strong>r<br />

no senti<strong>do</strong> de conceder ao indicia<strong>do</strong> e/ou réu todas as franquias em<br />

detrimento <strong>do</strong> bem comum, deixan<strong>do</strong> o homem de bem cada vez mais<br />

desabriga<strong>do</strong>. Só o réu tem “direitos humanos”!<br />

E as vítimas e suas famílias como ficam?<br />

Bem, estas que “se virem”, per<strong>do</strong>em-me o tom pouco acadêmico.<br />

É chegada a hora de criar-se uma pastoral para as vítimas de crime!<br />

Por que não?<br />

(*) Trabalho concluí<strong>do</strong> no outono de <strong>2001</strong>.


10<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

Outra obsessão, esta voltada, exclusivamente, para a lei<br />

processual, é a da velocidade. A rapidez na solução <strong>do</strong>s litígios é alçada<br />

como valor maior <strong>do</strong> processo, esquecen<strong>do</strong>-se o legisla<strong>do</strong>r que há casos<br />

e casos. Situações haverá em que o processo, necessariamente, terá<br />

que ser lento, obedecen<strong>do</strong> um rito mais delonga<strong>do</strong>.<br />

A matéria, por si só, mereceria cuida<strong>do</strong>so exame, que refoge <strong>do</strong>s<br />

limites traça<strong>do</strong>s para o presente trabalho. Vale o registro da sagaz<br />

observação de José Carlos Barbosa Moreira (1) a propósito <strong>do</strong> mito da<br />

rapidez acima de tu<strong>do</strong> ou o <strong>do</strong> “quanto mais depressa melhor”. Observa<br />

o renoma<strong>do</strong> processualista:<br />

“Se uma Justiça lenta demais é decerto uma Justiça má,<br />

daí não se segue que uma Justiça rápida seja necessariamente<br />

uma Justiça boa. O que to<strong>do</strong>s devemos querer é<br />

que a prestação jurisdicional venha a ser melhor <strong>do</strong> que é.<br />

Se para torná-la melhor é preciso acelerá-la, muito bem.<br />

Mas não a qualquer preço.”<br />

Feita a crítica, talvez acrimoniosa, a tu<strong>do</strong> o que estou ven<strong>do</strong> em<br />

matéria de legislação, retomo o fio da meada. Em aulas, quer nas<br />

Universidades em que lecionei, quer ao tempo em que professorava<br />

em cursos preparatórios para concursos na área jurídica, movi<strong>do</strong>, muitas<br />

vezes, por interessantes perguntas de alunos, analisei algumas das<br />

questões que, aqui, serão objeto de exame. Impõe-se afirmar que os<br />

diversos assuntos não guardarão entre si qualquer encadeamento,<br />

merecen<strong>do</strong>, cada um, por tal razão, tratamento insula<strong>do</strong>.<br />

2. Dois termos processuais sempre geraram dúvida no espírito<br />

<strong>do</strong>s alunos, ten<strong>do</strong> em conta o uso indiscrimina<strong>do</strong> que deles faz a lei<br />

processual. Refiro-me aos vocábulos representação e requisição.<br />

Representação é condição de procedibilidade nos crimes de ação<br />

pública condicionada. Sem ela, nem mesmo o inquérito policial pode<br />

ser instaura<strong>do</strong> (art. 5º, § 4º, <strong>do</strong> CPP), estan<strong>do</strong> seus requisitos formais<br />

estabeleci<strong>do</strong>s no art. 39 <strong>do</strong> CPP. Sua falta acarreta a rejeição da denúncia<br />

1 José Carlos Barbosa Moreira, “O futuro da Justiça: alguns mitos”, in Revista da Associação <strong>do</strong>s<br />

Magistra<strong>do</strong>s Brasileiros, Ano 4, nº 8, 1º semestre/2000, pp. 6/15.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 11<br />

(art. 43, III, in fine, <strong>do</strong> CPP), embora não obste, em definitivo, o exercício<br />

da ação penal, uma vez satisfeita a condição (art. 43, parágrafo único,<br />

parte final, <strong>do</strong> CPP), enquanto não extinta a punibilidade. Impende observar<br />

que a regra <strong>do</strong> art. 39 da lei processual penal apresenta caráter de norma<br />

imperfeita, pois o preceito nela conti<strong>do</strong> encontra-se despi<strong>do</strong> de sanção.<br />

Ainda que inobserva<strong>do</strong> o aspecto formal <strong>do</strong> dispositivo em tela, desde<br />

que inequívoca a manifestação de vontade <strong>do</strong> particular legitima<strong>do</strong> para<br />

representar no senti<strong>do</strong> de ver iniciada a persecução penal contra o<br />

indicia<strong>do</strong>, seu valor será pleno, conforme tranqüilo entendimento da<br />

<strong>do</strong>utrina e da jurisprudência, que, por amor à brevidade, me eximo de<br />

transcrever. Assim, por exemplo, se o ofendi<strong>do</strong>, dizen<strong>do</strong>-se ameaça<strong>do</strong><br />

de morte, dirige-se à autoridade policial requeren<strong>do</strong> a instauração <strong>do</strong><br />

procedimento criminal respectivo contra o autor <strong>do</strong> crime, ou, simplesmente,<br />

notician<strong>do</strong> o fato, ainda que não seja lavra<strong>do</strong> o termo de<br />

representação, sua manifestação de vontade, muito embora desobediente<br />

à forma, vale como condição de procedibilidade.<br />

Porém, o vocábulo representação apresenta senti<strong>do</strong> outro em<br />

nossa legislação, completamente diverso <strong>do</strong> que acabamos de analisar.<br />

Estou a referir-me, agora, ao significa<strong>do</strong> <strong>do</strong> termo conti<strong>do</strong> no art. 311<br />

<strong>do</strong> CPP, que trata da prisão preventiva decretada pelo juiz, atenden<strong>do</strong> à<br />

representação da autoridade policial. Da mesma forma, outra providência<br />

cautelar pode ser decretada pelo juiz “mediante representação<br />

da autoridade policial” (art. 127). Na última hipótese, trata-se da cautelar<br />

real indicada no Capítulo VI, <strong>do</strong> Título VI, <strong>do</strong> Livro I, <strong>do</strong> CPP, sob a designação<br />

genérica de “medidas assecuratórias.”<br />

Representação, nesses <strong>do</strong>is significa<strong>do</strong>s, nada mais é que uma<br />

exposição escrita levada a efeito pela autoridade policial por ocasião<br />

<strong>do</strong> relatório (art. 10, § 1º <strong>do</strong> CPP) ou, mesmo antes, no decorrer <strong>do</strong><br />

inquérito sobre a necessidade da decretação de providência cautelar<br />

de natureza pessoal ou real. Averbe-se que a lei faz alusão ao fato de<br />

que a representação poderá ocorrer “em qualquer fase <strong>do</strong> inquérito<br />

policial” (art. 311 <strong>do</strong> CPP) ou, dizen<strong>do</strong> de outra forma, quan<strong>do</strong> estiver<br />

em jogo uma cautelar real, como é o caso de seqüestro, antes <strong>do</strong> oferecimento<br />

da inicial de acusação.


12<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

O vocábulo, neste senti<strong>do</strong>, não guarda qualquer relação com<br />

aqueloutro acima examina<strong>do</strong>, em que o termo é emprega<strong>do</strong> como<br />

condição de procedibilidade.<br />

A palavra representação, também no senti<strong>do</strong> de exposição<br />

escrita objetivan<strong>do</strong> determinada providência, é usada para o juiz, como<br />

ocorre, v.g., por ocasião <strong>do</strong> desaforamento (art. 424 <strong>do</strong> CPP). Nesta<br />

hipótese, cogita-se de providência <strong>do</strong> juiz <strong>do</strong> júri postulan<strong>do</strong> ao Tribunal<br />

no senti<strong>do</strong> de desaforar o julgamento para comarca ou termo próximo<br />

em face da dúvida surgida sobre a imparcialidade <strong>do</strong> júri, em razão <strong>do</strong><br />

interesse da ordem pública ou, ainda, quan<strong>do</strong> houver risco sobre a<br />

segurança pessoal <strong>do</strong> réu.<br />

No caso, tal como ocorre com a representação emanada da<br />

autoridade policial, dá-se uma exposição de motivos escrita pelo juiz<br />

para justificar a medida pretendida. A diferença, no entanto, decorre <strong>do</strong><br />

fato de que uma tem sua origem por ato da autoridade policial, ao passo<br />

que a outra decorre de providência judicial.<br />

3. A palavra requisição, igualmente, não guarda, em nosso direito<br />

positivo, senti<strong>do</strong> unívoco. Ela é usada no art. 5º, inciso II da lei processual<br />

penal no senti<strong>do</strong> daquela providência que o <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> pode exigir<br />

da autoridade policial para que instaure inquérito policial ou realize<br />

diligências probatórias outras (art. 13, inciso II, <strong>do</strong> CPP). A requisição,<br />

embora não possa ser desatendida, não se confunde com a ordem. Esta<br />

supõe uma hierarquia entre funcionários de uma mesma carreira. Nesse<br />

senti<strong>do</strong>, pode-se dizer que o Procura<strong>do</strong>r-Geral de Justiça dispõe de<br />

autoridade administrativa sobre os membros <strong>do</strong> Parquet. Ora, a Polícia<br />

Civil, em nossa legislação, não guarda qualquer relação de subordinação<br />

para com o <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>. São carreiras diversas. Indaga-se, então:<br />

por que a Polícia Judiciária não pode deixar de cumprir as requisições a<br />

ela remetidas pelo <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>? A resposta é de rara singeleza;<br />

estan<strong>do</strong> o Parquet obriga<strong>do</strong> a promover a ação penal pública (art. 24 <strong>do</strong><br />

CPP), torna-se natural que, para realizar aquela função institucional (art.<br />

129, I da CF), deva dispor de meios para tanto. Assim, de nada adiantaria<br />

a previsão legal <strong>do</strong> princípio da obrigatoriedade da ação penal (art. 24 <strong>do</strong><br />

CPP) caso o <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> requisitasse providências à Polícia Civil


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 13<br />

mas esta não estivesse obrigada a atendê-las. Aqui, a requisição tem<br />

efeito vinculante, obrigan<strong>do</strong> a autoridade policial a proceder a<br />

investigação criminal.<br />

De outra feita, é a lei penal material que usa a palavra requisição<br />

em senti<strong>do</strong> completamente diverso daquele que acabamos de ver.<br />

Dessa maneira, os arts. 7º, § 3º, letra “b” e 145, parágrafo único <strong>do</strong> CP<br />

cogitam <strong>do</strong> vocábulo como condição de procedibilidade. Sem ela,<br />

torna-se impossível mover a ação penal (art. 24 <strong>do</strong> CPP e 100, § 1º<br />

<strong>do</strong> CP), pois faltaria condição exigida em lei para o exercício da ação<br />

penal (art. 43, III, in fine, <strong>do</strong> CPP). É preciso ter em conta que a<br />

requisição, vista como condição de procedibilidade política, não vincula<br />

o <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>; vale dizer, a requisição <strong>do</strong> Ministro da Justiça não<br />

obriga o Parquet a intentar a ação penal. A independência funcional <strong>do</strong>s<br />

membros da instituição ministerial autoriza liberdade plena na formação<br />

da opinio delicti diante <strong>do</strong> caso concreto (art. 129, I c/c 127 § 2º da<br />

Constituição Federal). Aliás, muito antes da atual Carta Política, Frederico<br />

Marques (1-a) , nos seus preciosos Elementos, já ensinava poder o<br />

<strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> promover o arquivamento da requisição desde que<br />

convenci<strong>do</strong> da inexistência de motivo para formular a acusação.<br />

4. Outra matéria nem sempre bem explicada e que, não raro,<br />

gera perplexidade no espírito <strong>do</strong>s alunos, diz respeito à razão de ser<br />

das regras que regem a competência por prerrogativa de função,<br />

impropriamente chamada, na <strong>do</strong>utrina, de foro privilegia<strong>do</strong>. Ela recebe<br />

regulação em vários níveis, tratada que é na Constituição Federal, em<br />

leis federais, nas Constituições Estaduais e nas próprias leis de organização<br />

judiciária.<br />

Pelo que ensinam incontáveis <strong>do</strong>utrina<strong>do</strong>res <strong>do</strong> mais eleva<strong>do</strong> valor,<br />

pessoas há que ocupam cargos e funções de especial importância e,<br />

em razão disso, estão a exigir foro especial, ao contrário de qualquer<br />

pessoa <strong>do</strong> povo sujeita ao julgamento pelos órgãos jurisdicionais comuns.<br />

1-a José Frederico Marques, Elementos de Direito Processual Penal, volume I, p. 344, Forense, Rio-<br />

São Paulo, 1ª edição, 1961.


14<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

Com o devi<strong>do</strong> respeito por tal entendimento, assim não penso.<br />

Não há qualquer privilégio para tais pessoas em função da relevância<br />

<strong>do</strong>s cargos que exercem. Muito pelo contrário, são elas tratadas com<br />

maior rigor que qualquer <strong>do</strong> povo.<br />

Caso assim fosse, aí sim, haveria flagrante privilégio a malferir o<br />

princípio da isonomia (art. 5º, proêmio, da CF), violentan<strong>do</strong>, de forma<br />

expressa, o dispositivo constitucional que veda juízo ou tribunal de<br />

exceção (art. 5º, XXXVII).<br />

Na verdade, ao meu pensar, a competência por prerrogativa de<br />

função tem como única finalidade assegurar um julgamento<br />

independente e justo à pessoa que goza <strong>do</strong> “privilégio”. Explico-me<br />

melhor: recentemente, o Presidente Collor esteve acusa<strong>do</strong> pela prática<br />

de crime comum. Foi processa<strong>do</strong> e julga<strong>do</strong> pelo Supremo Tribunal<br />

Federal (art. 102, I, “b” da CF), caben<strong>do</strong> a acusação ao Procura<strong>do</strong>r-<br />

Geral da República. Segun<strong>do</strong> enten<strong>do</strong>, a competência ratione personae<br />

<strong>do</strong> Pretório Excelso para julgar o Presidente da República não decorre<br />

da especial relevância <strong>do</strong> cargo por ele ocupa<strong>do</strong>, mas, sim, tem por<br />

fim assegurar um julgamento justo. Qualquer pessoa medianamente<br />

lúcida perceberá, com facilidade, a terrível pressão política que sofreria<br />

um Promotor de Justiça ou um Procura<strong>do</strong>r da República que tivesse<br />

que oficiar nos autos, oferecen<strong>do</strong> denúncia contra o Presidente. Que<br />

dizer <strong>do</strong> juiz de primeiro grau de jurisdição chama<strong>do</strong> a decidir a causa?<br />

Diverso seria, como efetivamente foi, o julgamento, uma vez entregue<br />

a acusação ao Procura<strong>do</strong>r-Geral da República e o julgamento ao Pleno<br />

<strong>do</strong> Supremo Tribunal Federal. Assegura-se, assim, total independência<br />

no julgamento. É pura questão de bom-senso.<br />

Ficou assinala<strong>do</strong> que, nos casos de prerrogativa de função, há<br />

maior rigor no julgamento das pessoas neles compreendidas. Por que?<br />

Qualquer pessoa <strong>do</strong> povo dispõe <strong>do</strong> duplo grau de jurisdição, ten<strong>do</strong> o<br />

direito de recorrer contra a sentença que lhe trouxe gravame.<br />

Porém, nos casos de competência originária tal não se dá, uma<br />

vez que não há recurso de apelo contra a decisão de uma causa daquela<br />

natureza. Terão cabimento, quan<strong>do</strong> muito, o recurso extraordinário, o<br />

recurso especial e, se houver denegação de habeas corpus, o recurso<br />

ordinário (art. 102, II, “a” da CF).


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 15<br />

Observe-se, no entanto, que tanto o recurso extraordinário (art.<br />

102, III da CF) como o especial (art. 105, III da CF) são impugnações<br />

extraordinárias sujeitas a severo juízo de admissibilidade, pois tutelam<br />

o direito federal, prestan<strong>do</strong>-se, unicamente, ao reexame das questões<br />

de direito, deles excluída qualquer análise de matéria de fato.<br />

Não se pode negar que a competência por prerrogativa de função,<br />

no exemplo cita<strong>do</strong> (<strong>do</strong> Presidente Collor), tolheria ao réu, se condena<strong>do</strong>,<br />

a oportunidade de qualquer recurso, pois, no caso, o Presidente viu-se<br />

julga<strong>do</strong> pelo plenário da Corte Suprema.<br />

Que estranha homenagem à “relevância <strong>do</strong> cargo”!<br />

Pode-se dizer que estaríamos diante de um autêntico presente<br />

de grego...<br />

Assim, data venia das respeitabilíssimas opiniões em contrário,<br />

a competência por prerrogativa de função não tem por finalidade<br />

“homenagear” pessoas que exercem eleva<strong>do</strong>s cargos e funções. Ela<br />

existe, unicamente, com o fito de assegurar a essas mesmas pessoas<br />

e à sociedade, um processo justo, infenso , ao mínimo, às influências<br />

e pressões que, como é notório, ocorrem em tais casos, em razão <strong>do</strong><br />

poder político de que tais pessoas são investidas.<br />

5. Outro tema que sempre me causou inquietação refere-se ao<br />

tratamento da<strong>do</strong> pela Lei de Execução Penal ao recurso único nela<br />

previsto. A minuciosa LEP, que contém 204 artigos, regula o<br />

procedimento judicial em apenas três dispositivos legais (arts. 194 a<br />

197), que integram o seu Título VIII. Pois bem: o art. 197 estabelece que<br />

das decisões proferidas pelo juiz caberá recurso de agravo, sem efeito<br />

suspensivo. No sistema anterior, <strong>do</strong> Código de Processo Penal, das<br />

decisões proferidas em sede de execução penal (Livro IV), cabia recurso<br />

no senti<strong>do</strong> estrito (art. 581, incisos IX, XI, XII, XVII, XIX, XX, XXI, XXII, XXIII<br />

e XXIV). Porém, em alguns casos, o recurso portava efeito suspensivo<br />

(como ocorria nas hipóteses de concessão de livramento condicional,<br />

de unificação de penas e de conversão de multa em detenção ou prisão<br />

simples). Era o que dispunha o art. 584 <strong>do</strong> CPP. Examinan<strong>do</strong> a questão,


16<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

salienta Mirabete que a lei não concedeu ao agravo em execução o<br />

efeito suspensivo “sob o fundamento teórico de que, como regra geral,<br />

não haverá dano enquanto se aguarda a decisão <strong>do</strong> recurso interposto<br />

pela parte.” (2) Não participo, data venia, da certeza manifestada pelo<br />

eminente jurista. Pode ser que a parte não corra risco de dano até que<br />

sobrevenha a decisão <strong>do</strong> recurso. Pode ser. Porém, casos há em que a<br />

disciplina anterior era, sem dúvida, mais técnica, ao conferir ao recurso<br />

efeito suspensivo em certas hipóteses, como, v.g., nas decisões<br />

concessivas de livramento condicional ou naquelas que versassem a<br />

respeito de unificação de penas. Na matéria, é preciso ter em mente que<br />

as disposições relativas ao efeito suspensivo <strong>do</strong>s recursos, quan<strong>do</strong> em<br />

jogo a liberdade individual, devem ser diversas no processo de execução<br />

e no processo de conhecimento; neste, a regra deve ser a liberdade. É<br />

por tal razão que o réu, em geral, pode apelar em liberdade, prestan<strong>do</strong><br />

fiança, salvo se for primário e de bons antecedentes, ou, ainda, nos casos<br />

em que se livre solto (art. 594 <strong>do</strong> CPP). Por outro la<strong>do</strong>, as cautelares de<br />

natureza pessoal só podem atingir a liberdade individual desde que<br />

observa<strong>do</strong>s os rigorosos preceitos que as cercam, como, à guisa de<br />

exemplo, acontece nos arts. 302 c/c 310 e 312 <strong>do</strong> CPP.<br />

Na execução, porém, a situação apresenta-se completamente<br />

diversa, pois o sentencia<strong>do</strong> tem contra si uma sentença condenatória<br />

transitada em julga<strong>do</strong>. A regra, agora, deixa de ser a liberdade,<br />

tornan<strong>do</strong>-se, pois, necessário que, em certas situações processuais,<br />

se permitisse conceder ao <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> que o recurso por ele<br />

interposto ganhasse efeito suspensivo. As duas hipóteses acima<br />

referidas são um bom exemplo de situações jurídicas em que o recurso<br />

deveria merecer aquele efeito.<br />

Como obviar a má opção <strong>do</strong> legisla<strong>do</strong>r?<br />

Embora a matéria não seja tranqüila, tem-se admiti<strong>do</strong>, desde que<br />

presentes o fumus boni juris e o periculum in mora, a possibilidade <strong>do</strong><br />

manda<strong>do</strong> de segurança por parte <strong>do</strong> agravante objetivan<strong>do</strong> dar efeito<br />

2 Julio Fabbrini Mirabete, Execução Penal, p. 359, Editora Atlas S.A., São Paulo, 1992.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 17<br />

suspensivo ao agravo em execução. Torna-se indispensável, no entanto,<br />

a interposição <strong>do</strong> agravo, pois, se tal não se der, o mandamus fica<br />

destituí<strong>do</strong> de senti<strong>do</strong>, uma vez que, não ten<strong>do</strong> a parte exerci<strong>do</strong> o recurso<br />

cabível, não seria possível a alegação de dano potencial decorrente da<br />

demora no julgamento <strong>do</strong> recurso adequa<strong>do</strong>.<br />

Impõe-se o registro de que o tema nada tem de pacífico, não<br />

faltan<strong>do</strong> opiniões no senti<strong>do</strong> de que o periculum in mora enseja<strong>do</strong>r <strong>do</strong><br />

mandamus nunca pode ser alega<strong>do</strong> em prol da sociedade só<br />

encontran<strong>do</strong> amparo quan<strong>do</strong> volta<strong>do</strong> para beneficiar o sentencia<strong>do</strong>.<br />

Mirabete (3) lembra que, por exceção, há uma hipótese em que o<br />

agravo interposto pelo <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> apresenta efeito suspensivo.<br />

Ela vem indicada no art. 179 da LEP que somente autoriza a expedição<br />

de ordem para desinternação ou liberação após o trânsito em julga<strong>do</strong><br />

da decisão. O dispositivo em questão está inseri<strong>do</strong> no Capítulo II, <strong>do</strong><br />

Título VI da LEP, referin<strong>do</strong>-se à decisão que declara cessada a<br />

periculosidade, quan<strong>do</strong> da execução das medidas de segurança.<br />

É interessante observar que o manda<strong>do</strong> de segurança contra ato<br />

jurisdicional penal tem si<strong>do</strong> admiti<strong>do</strong>, com largueza, em relação ao<br />

recurso no senti<strong>do</strong> estrito interposto ainda no curso <strong>do</strong> processo de<br />

conhecimento. Com efeito, tem-se admiti<strong>do</strong>, com certa tranqüilidade, a<br />

ação autônoma de impugnação com o intuito de atribuir, liminarmente,<br />

efeito suspensivo em relação ao recurso interposto contra decisão de<br />

relaxamento de prisão.<br />

O Pretório Excelso, mais de uma vez, já assinalou ser cabível a<br />

impetração de manda<strong>do</strong> de segurança pelo <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> no objetivo<br />

de atribuir efeito suspensivo a recurso em senti<strong>do</strong> estrito por ele<br />

interposto com aquela finalidade. (4)<br />

3 Julio Fabbrini Mirabete, Execução Penal, p. 459, Editora Atlas S.A., São Paulo, 1992.<br />

4 Jurisprudência <strong>do</strong> Supremo Tribunal Federal, precedentes HC 66.794, RTJ 128/1199 e HC<br />

76.416-3, unânime, 03.03.98, Rel. Min. Octavio Gallotti, apud parecer <strong>do</strong> Promotor de Justiça<br />

Guilherme Mattos de Schueler, in Revista <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>-RJ, 3ª fase, nº 10, pp. 235/240.


18<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

De igual sentir, agora no campo da <strong>do</strong>utrina, o pensamento <strong>do</strong><br />

professor Hely Lopes Meirelles: (5)<br />

“Generalizou-se, hoje, o uso <strong>do</strong> manda<strong>do</strong> de segurança para<br />

dar efeito suspensivo aos recursos que não o tenham, desde<br />

que interposto o recurso normal cabível.”<br />

Se tal se dá quan<strong>do</strong> ainda em curso o processo de conhecimento,<br />

em que, no campo penal, a regra é a da liberdade provisória, por que<br />

não estendê-la ao processo de execução para certos e determina<strong>do</strong>s<br />

casos, ten<strong>do</strong> em conta que o sentencia<strong>do</strong> já tem contra si uma<br />

condenação fundada em sentença definitiva?<br />

De qualquer maneira, para evitar discussões intermináveis, melhor<br />

seria dar nova redação ao art. 197 da LEP para que se conferisse, em<br />

alguns casos, tal como fazia o art. 584 <strong>do</strong> Código de Processo Penal,<br />

efeito suspensivo ao recurso interposto pela parte interessada.<br />

6. Assunto que exige meditação diz respeito à legitimidade ativa<br />

para os casos da impropriamente designada ação privada subsidiária<br />

da pública. (6) Quan<strong>do</strong> estudei o tema, com detença, escapou-me<br />

examinar este aspecto. A ação privada substitutiva da pública, como<br />

sabi<strong>do</strong>, vem prevista no art. 29 <strong>do</strong> CPP. Examinan<strong>do</strong> o assunto, dei<br />

como legitimadas para agir tão somente as pessoas enumeradas nos<br />

arts. 30 e 31 <strong>do</strong> CPP. (7)<br />

Meditan<strong>do</strong> melhor sobre a matéria, enten<strong>do</strong> que a questão, na<br />

atualidade, não é tão simples. Explico-me melhor: sabe-se que a queixa<br />

subsidiária ganhou status constitucional. Com efeito, dispõe o art. 5º, nº<br />

LIX da CF, que “será admitida ação privada nos crimes de ação pública,<br />

se esta não for intentada no prazo legal.” Diante <strong>do</strong>s termos da Lei Maior,<br />

duas ilações podem ser tiradas:<br />

5 Hely Lopes Meirelles, in Manda<strong>do</strong> de Segurança, Ação Popular, Ação Civil Pública, Manda<strong>do</strong><br />

de Injunção, Habeas Data, 16ª edição, pp/36/37, apud parecer cita<strong>do</strong> in nº 04 dessas notas.<br />

6 As críticas à designação encontram-se estampadas no item 02 <strong>do</strong> meu trabalho “A Queixa Subsidiária<br />

- Questões Controversas”, in Revista <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>-RJ, 3ª fase, nº 10, pp. 189/192.<br />

7 Op. cit., in nº 06 dessas notas, item 15.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 19<br />

a) – a primeira delas reside no fato de que a queixa substitutiva<br />

só poderá ser intentada caso o <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> permaneça inerte.<br />

Vale lembrar que a inércia não se caracteriza somente pelo fato de o<br />

Parquet deixar de ajuizar a ação (o que nem sempre será possível!).<br />

Na realidade, o que proporciona a queixa subsidiária é um non facere<br />

por parte <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>. Sobre a matéria, remeto o eventual leitor<br />

ao meu estu<strong>do</strong> a respeito da queixa subsidiária, onde propus a seguinte<br />

redação para o art. 29 <strong>do</strong> CPP: “esgota<strong>do</strong> o prazo sem pronunciamento<br />

<strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>, será admitida queixa...”; (8)<br />

b) – a segunda conclusão a que nos leva a Lex Maxima consiste<br />

em que, no momento, qualquer pessoa <strong>do</strong> povo, ut cives, encontra-se<br />

legitimada para agir, uma vez que a lei processual não pode limitar a<br />

ação somente àquelas pessoas indicadas nos arts. 30 e 31 <strong>do</strong> Código<br />

de Processo Penal. Revejo, assim, o que antes afirmara no meu estu<strong>do</strong><br />

sobre a queixa subsidiária (9) quan<strong>do</strong> não atentara para o fato de que o<br />

Código de Processo Penal não pode limitar a legitimidade ampla para<br />

agir que a Constituição Federal veio conferir à queixa substitutiva. É<br />

certo que, raramente, qualquer cidadão fará uso da prerrogativa, pois,<br />

mesmo antes dela, poucas vezes, deparei-me, na prática, com o seu<br />

exercício pelo próprio ofendi<strong>do</strong>. Porém, a ressalva se impõe.<br />

7. Um questionamento interessante merece o art. 424 <strong>do</strong> Código<br />

de Processo Penal, que cuida <strong>do</strong> desaforamento. Segun<strong>do</strong> o dispositivo<br />

em tela ele deverá dar-se para a “comarca ou termo próximo”, onde<br />

ocorrerá o julgamento. A jurisprudência <strong>do</strong> Supremo Tribunal Federal já<br />

se manifestou no senti<strong>do</strong> de que a indicação da comarca para o<br />

desaforamento “deve ser a mais próxima e que a exclusão das mais<br />

próximas deve ser fundamentada.” (10)<br />

8 Op. cit., in nº 06 dessas notas, item 03.<br />

9 Op. cit., in nº 06 dessas notas, item 15.<br />

10 Jurisprudência <strong>do</strong> Supremo Tribunal Federal, in RTJ 34/588, 47/471, 71/26 e 131/588, apud<br />

Código de Processo Penal Anota<strong>do</strong>, Damásio Evangelista de Jesus, p. 317, Editora Saraiva, 1999,<br />

16ª edição.


20<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

Com a devida vênia, parece-me que a lei não fez tal exigência,<br />

bastan<strong>do</strong>, apenas, que o julgamento se dê em comarca próxima. Assim,<br />

seria inadmissível que o desaforamento viesse a ocorrer para uma<br />

comarca de outro Esta<strong>do</strong> ou ainda para comarca muito distante, ainda<br />

que dentro da mesma unidade federativa.<br />

Mas o ponto que preten<strong>do</strong> ferir consiste em saber se a lei foi sábia<br />

ao optar por comarca próxima. Penso que não. Na verdade, o instituto<br />

processual <strong>do</strong> desaforamento importa na derrogação da regra básica<br />

de que o réu deve ser julga<strong>do</strong> no distrito da culpa pelas razões que a lei<br />

enumera no proêmio <strong>do</strong> art. 424 <strong>do</strong> CPP (interesse da ordem pública,<br />

dúvida sobre a imparcialidade <strong>do</strong>s jura<strong>do</strong>s ou a segurança pessoal <strong>do</strong><br />

réu). Afasta-se, em tais casos, a competência ratione loci, genérica no<br />

processo penal, que cede lugar se presentes um daqueles motivos<br />

enseja<strong>do</strong>res <strong>do</strong> desaforamento.<br />

Em parecer que prolatei em face de caso concreto de<br />

desaforamento (11) , tive a oportunidade de sustentar, com apoio em voto<br />

<strong>do</strong> sempre lembra<strong>do</strong> Ministro Cordeiro Guerra, que o fundamental não<br />

é “a proximidade <strong>do</strong> lugar da ocorrência delituosa, mas a isenção <strong>do</strong><br />

julgamento.” Tratava a hipótese de requerimento de desaforamento<br />

requeri<strong>do</strong> pela Defensoria Pública da Comarca de Barra Mansa para a<br />

da Capital, que, evidentemente, não é a mais próxima de Barra Mansa.<br />

O parecer foi acolhi<strong>do</strong>, por unanimidade de votos, pela Egrégia 3ª<br />

Câmara Criminal <strong>do</strong> Tribunal de Justiça-RJ, passan<strong>do</strong> a integrar o<br />

acórdão, na forma regimental.<br />

O julga<strong>do</strong> em questão e o parecer que lhe serviu de base não<br />

seguiram, com rigor, a exigência da lei que alude à comarca próxima.<br />

Não tenho dúvida, porém, que atenderam melhor aos sadios objetivos<br />

<strong>do</strong> desaforamento: obter um julgamento justo.<br />

Penso, ao contrário <strong>do</strong> que dispõe a lei processual, que, quanto<br />

mais próxima a comarca, maiores serão os riscos de parcialidade (ou<br />

qualquer outro contempla<strong>do</strong> na lei) no julgamento em razão <strong>do</strong>s reflexos<br />

que o fato possa ter na região.<br />

11 Parecer por mim proferi<strong>do</strong> no Desaforamento de nº 04/90, in Revista de Direito da Defensoria<br />

Pública, pp. 394/397, nº 06, 1992.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 21<br />

Assim, melhor andaria o Código se deixasse ao juiz, independentemente<br />

de requerimento das partes, indicar, de maneira fundamentada,<br />

a comarca adequada para proceder o julgamento, decidin<strong>do</strong> o Tribunal<br />

como entendesse de direito.<br />

8. O art. 82 <strong>do</strong> CPP cogita da avocatória exercida pela autoridade<br />

com jurisdição prevalente (art. 83 <strong>do</strong> CPP) nos casos de conexão ou<br />

continência. Faz, porém, uma ressalva: ela não se dará em relação<br />

aos processos que já estiverem com sentença definitiva. A redação<br />

da lei pode levar o intérprete a equívoco, ten<strong>do</strong> em vista que a expressão<br />

sentença definitiva faz entrever o trânsito em julga<strong>do</strong> <strong>do</strong> decisum,<br />

apresentan<strong>do</strong> senti<strong>do</strong> unívoco, uma vez que ela se destina a julgar o<br />

mérito da causa, condenan<strong>do</strong>, absolven<strong>do</strong> ou não fazen<strong>do</strong> nem uma<br />

coisa nem outra, como se pode observar <strong>do</strong> art. 593, II, <strong>do</strong> CPP. Aqui,<br />

melhor diria a lei se fizesse referência à sentença final, contra a qual<br />

cabe apelo (art. 593, <strong>do</strong> CPP). É óbvio que o juiz prevalente não pode<br />

fazer tábula rasa da sentença prolatada em outro Juízo, atuan<strong>do</strong>, na<br />

prática, como verdadeira instância revisora de outro julgamento. Daí, a<br />

ressalva constante da parte final <strong>do</strong> art. 82 <strong>do</strong> CPP: em haven<strong>do</strong><br />

sentença definitiva (rectius: final), a unidade <strong>do</strong>s processos só se dará,<br />

ulteriormente, para o efeito de soma ou de unificação de penas. Quan<strong>do</strong><br />

todas as sentenças se tornarem definitivas, isto é, com trânsito em<br />

julga<strong>do</strong>, far-se-á a soma (no caso de concurso material) ou a unificação<br />

de penas (se presente o concurso formal) perante o juízo das<br />

execuções, onde houver (art. 66, III, letra “a” da LEP).<br />

A regra <strong>do</strong> art. 82 <strong>do</strong> CPP refere-se, unicamente, aos casos de<br />

conexão e/ou continência. A jurisprudência, no entanto, acertadamente,<br />

veio a estender a aplicação <strong>do</strong> art. 82 <strong>do</strong> CPP também para os casos<br />

de crime continua<strong>do</strong> (art. 71 <strong>do</strong> Código Penal), pois, não há dúvida,<br />

para os fins da lei, as situações guardam semelhança, embora haja<br />

distinção ontológica entre as espécies jurídicas.<br />

Obraria melhor o legisla<strong>do</strong>r se, no dispositivo em análise, tivesse<br />

usa<strong>do</strong> a expressão sentença final, partin<strong>do</strong> <strong>do</strong> princípio que a lei deve<br />

usar as palavras na sua acepção técnica. Aliás, o art. 593, nos seus<br />

incisos I e II, padece de igual imprecisão.


22<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

9. Não an<strong>do</strong>u bem o legisla<strong>do</strong>r ao admitir que o juiz, “em qualquer<br />

fase <strong>do</strong> processo”, possa reconhecer sua incompetência (art. 109, <strong>do</strong><br />

CPP). É que, no meu entendimento, deveria a lei, ao versar sobre a<br />

matéria, ter feito uma distinção entre incompetência relativa (ratione<br />

loci) e incompetência absoluta.<br />

O Código de Processo Civil, de técnica mais apurada, faz perfeita<br />

separação entre competência absoluta e a relativa. A primeira é<br />

insuscetível de sofrer alteração, quer atenden<strong>do</strong> a pedi<strong>do</strong> das partes,<br />

quer por ato <strong>do</strong> próprio juiz, não se aplican<strong>do</strong> a ela nem mesmo as<br />

causas legais de prorrogação (conexão ou continência). Já em se<br />

tratan<strong>do</strong> de competência relativa, há possibilidade de sua modificação<br />

em razão de postulação das partes (arts. 111, in fine e 114 <strong>do</strong> CPC),<br />

ou de imposição legal, como ocorre nos casos de conexão ou<br />

continência (arts. 102 e 104 <strong>do</strong> CPC).<br />

No processo penal, desde que em jogo incompetência relativa,<br />

se a parte não manifestar a exceção de incompetência (art. 108 <strong>do</strong><br />

CPP), no prazo de defesa, ou for ela rejeitada, haverá preclusão,<br />

ocorren<strong>do</strong> a prorrogação de foro.<br />

Porém, ao contrário <strong>do</strong> que ocorre no processo civil, permitiu a lei<br />

que o juiz “em qualquer fase <strong>do</strong> processo” (art. 109 <strong>do</strong> CPP) reconheça<br />

a sua incompetência, não fazen<strong>do</strong> qualquer distinção entre a<br />

competência relativa e a absoluta.<br />

A orientação não me parece acertada, uma vez que tal dispositivo<br />

deveria referir-se, tão somente, ao juiz absolutamente incompetente.<br />

Graves prejuízos podem advir para o feito criminal em razão <strong>do</strong><br />

tratamento legislativo conferi<strong>do</strong> à matéria pela lei processual, ten<strong>do</strong>-se<br />

em conta a brevidade <strong>do</strong> lapso prescricional de muitas infrações penais.<br />

É certo que o art. 567 <strong>do</strong> CPP, buscan<strong>do</strong> atenuar os efeitos<br />

maléficos da orientação seguida pelo Código, estabelece que a<br />

incompetência <strong>do</strong> juízo anula somente os atos decisórios. Atenua, não<br />

resta dúvida, ma non troppo. Acaso o recebimento da denúncia não<br />

reveste o caráter de ato decisório? A Corte Suprema (12) , aprecian<strong>do</strong> a<br />

12 Jurisprudência <strong>do</strong> Supremo Tribunal Federal, RTJ 69/758, apud Código de Processo Penal<br />

Anota<strong>do</strong>, DAMÁSIO E. DE JESUS, p. 398, Editora Saraiva, 1999, 16ª edição.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 23<br />

matéria, manifestou-se pela nulidade daquela decisão, quan<strong>do</strong><br />

emanada de juiz incompetente, somente interrompen<strong>do</strong> a prescrição<br />

a denúncia recebida no juízo competente (art. 117, I, <strong>do</strong> CPP). O<br />

exemplo serve de amostra <strong>do</strong> grave prejuízo que pode advir para o<br />

processo a regra <strong>do</strong> art. 109 da lei processual básica ao admitir a<br />

atuação ex officio <strong>do</strong> juiz em matéria de incompetência relativa; podese<br />

invalidar to<strong>do</strong> um processo sem que a incompetência tivesse si<strong>do</strong><br />

argüida pela parte no momento oportuno.<br />

É certo que, em se tratan<strong>do</strong> de incompetência absoluta, desaparece<br />

a razão da crítica, deven<strong>do</strong> o juiz, a to<strong>do</strong> o tempo, reconhecê-la. Aliás,<br />

mesmo depois <strong>do</strong> trânsito em julga<strong>do</strong> da decisão, a nulidade pode<br />

ser reconhecida, desde que pro reo, pela via <strong>do</strong> habeas corpus (art.<br />

648, VI, <strong>do</strong> CPP).<br />

10. Uma distinção que nem sempre é bem feita decorre <strong>do</strong> uso<br />

indiscrimina<strong>do</strong> <strong>do</strong>s vocábulos prisão e captura. O art. 304 <strong>do</strong> CPP , que<br />

se situa no Capítulo II <strong>do</strong> Título IX <strong>do</strong> Livro I, versa a respeito das formalidades<br />

da prisão em flagrante, fazen<strong>do</strong> perfeita distinção entre as duas situações<br />

processuais, embora não aluda, expressamente, à captura. Esta consiste<br />

na momentânea privação da liberdade de alguém até que a autoridade<br />

resolva se vai ou não transformá-la em prisão. A diferença surge bem<br />

nítida no parágrafo primeiro <strong>do</strong> aludi<strong>do</strong> art. 304 onde está dito que<br />

“resultan<strong>do</strong> das respostas fundada suspeita contra o conduzi<strong>do</strong>, a<br />

autoridade mandará recolhê-lo à prisão, exceto no caso de livrar-se<br />

solto (pitoresca expressão da lei!) ou de prestar fiança e prosseguirá...”<br />

Portanto, há um momento anterior que precede a prisão, onde a<br />

autoridade, conforme o caso, após ouvir o condutor, as testemunhas e<br />

o ofendi<strong>do</strong>, além <strong>do</strong> próprio conduzi<strong>do</strong> (se ele não optar pelo silêncio),<br />

decidirá se deve ou não autuar em flagrante o captura<strong>do</strong>, recolhen<strong>do</strong>-o<br />

à prisão. Só haverá prisão em flagrante, como indica a lei, em uma<br />

segunda etapa, caso a autoridade entenda cabível a providência.<br />

Daí, parecer-me equivoca<strong>do</strong> o art. 301 <strong>do</strong> CPP quan<strong>do</strong> afirma<br />

que “qualquer <strong>do</strong> povo poderá prender quem quer que seja encontra<strong>do</strong><br />

em flagrante delito.” Na verdade, “qualquer <strong>do</strong> povo” pode capturar quem<br />

esteja em situação de flagrante (art. 302 <strong>do</strong> CPP); a prisão em flagrante<br />

.


24<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

é ato privativo da autoridade (em geral, policial), uma vez que o particular<br />

não dispõe <strong>do</strong> poder de coação legal para prender. (13)<br />

Aliás, o próprio caput <strong>do</strong> art. 304 <strong>do</strong> CPP não prima pela precisão<br />

e pela técnica ao aludir ao “preso” e ao “acusa<strong>do</strong>”, quan<strong>do</strong> devera dizer<br />

conduzi<strong>do</strong> e suspeito. Somente após as respostas, se delas resultarem<br />

fundadas suspeitas contra o conduzi<strong>do</strong>, é que se poderá falar em preso<br />

(ressalvada a hipótese em que se livre solto ou preste fiança) e indicia<strong>do</strong><br />

(nunca acusa<strong>do</strong>!).<br />

11. Questão extremamente delicada toca de perto com a aplicação<br />

<strong>do</strong> disposto no art. 616 <strong>do</strong> CPP. Com efeito, ali vem faculta<strong>do</strong> ao Tribunal,<br />

ou órgão fracionário dele, colher “novo” interrogatório, “reinquirir”<br />

testemunhas ou, ainda, determinar outras diligências, diretamente ou<br />

mediante carta de ordem dirigida ao juiz da causa.<br />

Ao falar a lei em “novo” interrogatório, faz supor que, antes, já fora<br />

realiza<strong>do</strong>, perante o primeiro grau de jurisdição, um interrogatório pelo<br />

menos. Diga-se o mesmo em relação às testemunhas, uma vez que o<br />

dispositivo em foco fala em “reinquirir” testemunhas; ora, somente pode<br />

haver reinquirição se já ocorreu a inquirição. Já em relação às diligências,<br />

há amplitude de atuação por parte <strong>do</strong> Tribunal, pois ele pode determinar<br />

“outras” diligências, não apenas aperfeiçoar aquelas já colhidas no juízo<br />

a quo. Seguramente foi em nome <strong>do</strong> princípio da verdade real que tal<br />

preceito legal encontrou inspiração, violan<strong>do</strong>, inclusive, o sistema<br />

acusatório (14) , pois a redação <strong>do</strong> Código, contida no art. 616, não<br />

condiciona aquelas providências ao requerimento das partes.<br />

O ponto inquietante <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> dispositivo relaciona-se com a<br />

possível violação <strong>do</strong> princípio <strong>do</strong> duplo grau de jurisdição. Pode o Tribunal<br />

conhecer de material probatório que não foi objeto de apreciação pelo<br />

juiz da sentença? Não haveria, em tal caso, uma verdadeira supressão<br />

de instância?<br />

13 O leitor interessa<strong>do</strong> poderá encontrar abordagem mais ampla sobre o tema em meu trabalho “O<br />

Habeas Corpus contra ato de particular”, in Revista <strong>do</strong> Tribunal Regional Federal, 1ª Região,<br />

volume 08, nº 04, outubro-dezembro, 1996, Brasília, Distrito Federal, onde o conceito de autoridade<br />

e de poder de coação vem analisa<strong>do</strong> com vagar.<br />

14 As sucessivas violações ao sistema acusatório em nossa legislação processual penal foram objeto<br />

de análise em meu estu<strong>do</strong> “A orto<strong>do</strong>xia <strong>do</strong> sistema acusatório no processo penal brasileiro: uma<br />

falácia”, encontra<strong>do</strong> no endereço http://www.amperj.org.br/associa<strong>do</strong>s/dalla/demoro.htm


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 25<br />

Tenho para mim que a prova assim obtida ou a diligência assim<br />

realizada não poderá, jamais, prejudicar o réu. Violaria, frontalmente, o<br />

princípio <strong>do</strong> favor libertatis uma prova ou uma diligência assim efetivada<br />

que não foi objeto <strong>do</strong> processo de conhecimento perante o juiz da causa.<br />

Não ocorreria, porém, qualquer obstáculo caso a prova assim<br />

recolhida viesse a beneficiar o réu. Porém, ela nunca poderia ser<br />

aproveitada pro societate.<br />

12. Uma pergunta que acode o meu espírito relaciona-se com o<br />

art. 366 <strong>do</strong> CPP. A <strong>do</strong>utrina majoritária salienta que o legisla<strong>do</strong>r não<br />

pretendeu restaurar a prisão preventiva obrigatória, ao usar a expressão<br />

“se for o caso” no texto <strong>do</strong> dispositivo. Formulo, então, a seguinte<br />

indagação: o réu cita<strong>do</strong> por edital, que não comparece nem constitui<br />

advoga<strong>do</strong> e que se encontra em lugar incerto e não sabi<strong>do</strong>, assegura a<br />

aplicação da lei penal (art. 312 <strong>do</strong> Código de Processo Penal)?<br />

Penso que não.<br />

O próprio Supremo Tribunal Federal já decidiu que “a simples<br />

fuga <strong>do</strong> acusa<strong>do</strong> <strong>do</strong> distrito da culpa, tão logo descoberto o crime<br />

pratica<strong>do</strong>, já justifica o decreto de prisão preventiva” (RT 497/403). No<br />

mesmo senti<strong>do</strong> o <strong>Superior</strong> Tribunal de Justiça (RHC 492, 5ª Turma,<br />

DJU 30.04.90, p. 3530). (15)<br />

Vale o registro de que a preventiva, uma vez efetivada, acarretan<strong>do</strong><br />

o comparecimento coativo <strong>do</strong> réu, poderia ser revogada desde que não<br />

subsistissem razões outras para mantê-la (art. 316 <strong>do</strong> CPP).<br />

13. Segue outra indagação versan<strong>do</strong>, ainda, sobre a revelia<br />

premiada <strong>do</strong> art. 366 <strong>do</strong> CPP. Relaciona-se com a “produção antecipada<br />

das provas consideradas urgentes.” Que é “prova urgente”?<br />

Não posso, com o devi<strong>do</strong> respeito, concordar com a posição<br />

<strong>do</strong>utrinária no senti<strong>do</strong> de que “provas urgentes”, para os fins <strong>do</strong> art. 366<br />

<strong>do</strong> CPP, sejam somente aquelas situações indicadas no art. 225 <strong>do</strong><br />

CPP. Assim, no meu entendimento, a prova pericial seria sempre<br />

urgente, sob pena <strong>do</strong> perecimento <strong>do</strong> objeto da prova.<br />

15 Julga<strong>do</strong>s <strong>do</strong> STF e <strong>do</strong> STJ extraí<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Código de Processo Penal Anota<strong>do</strong>, de Damásio E. de<br />

Jesus, p. 219, 16ª edição, 1999, Editora Saraiva.


26<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

E a prova oral?<br />

Acaso a testemunha teria que ficar comunican<strong>do</strong> ao juízo qualquer<br />

mudança de residência in aeternum?<br />

Evidentemente que não. Por sinal, a lei processual somente obriga<br />

que as testemunhas comuniquem ao juiz, “dentro de um ano”, qualquer<br />

mudança de residência (art. 224 <strong>do</strong> CPP).<br />

Diga-se o mesmo em relação ao ofendi<strong>do</strong>, pois a ele aplicam-se,<br />

analogicamente, muitas das regras processuais relativas à prova<br />

testemunhal, ten<strong>do</strong> em vista que o Código a ele faz referência somente<br />

no art. 201 <strong>do</strong> CPP (16) .<br />

Assinale-se, ainda, que o ano a que se refere o art. 224 <strong>do</strong> CPP<br />

deve ser conta<strong>do</strong> a partir da data em que a testemunha foi inquirida no<br />

inquérito policial, reabrin<strong>do</strong>-se o perío<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> da sua oitiva em juízo.<br />

Dessa maneira, o melhor critério a ser segui<strong>do</strong> pelo juiz será o de<br />

considerar “urgente” qualquer prova, sob pena <strong>do</strong> art. 366 <strong>do</strong> CPP<br />

transformar-se em mais uma porta aberta para a impunidade.<br />

Nada impedirá que o réu, quan<strong>do</strong> e se comparecer, caso deseje,<br />

venha a requerer a renovação da prova colhida na sua ausência, caso<br />

tal providência ainda seja possível.<br />

14. Não me julgue o paciente e eventual leitor um selenita desavisa<strong>do</strong><br />

a especular sobre o sexo <strong>do</strong>s anjos. Na verdade, os temas aqui<br />

ventila<strong>do</strong>s, to<strong>do</strong>s colhi<strong>do</strong>s à ventura, retratam, apenas, algumas<br />

colocações de um observa<strong>do</strong>r perplexo e aturdi<strong>do</strong> diante <strong>do</strong>s rumos<br />

excessivamente liberais que o nosso processo penal vem toman<strong>do</strong> nos<br />

últimos tempos.<br />

Sergio Demoro Hamilton,<br />

Procura<strong>do</strong>r de Justiça no Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro<br />

16 Sobre a matéria, veja-se o meu estu<strong>do</strong> “A disciplina legislativa da prova penal”, in Doutrina, nº<br />

07, pp. 276/293, item 12.


sistema<br />

sistema<br />

constitucional<br />

constitucional<br />

de de de crises<br />

crises<br />

sérgio resende de barros,<br />

mestre e <strong>do</strong>utor em direito <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> (USP),<br />

professor <strong>do</strong>s cursos de bacharela<strong>do</strong> e<br />

pós-graduação da usp


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 29<br />

SISTEMA CONSTITUCIONAL DE CRISES<br />

Sérgio Resende de Barros<br />

(Observação: Este se texto se origina de uma apostila produzida<br />

pelo autor para uso interno da ESCOLA SUPERIOR DO MINISTÉRIO<br />

PÚBLICO DE SÃO PAULO – ESMP. É proibida a reprodução sem<br />

autorização expressa <strong>do</strong> autor, permitidas citações identificadas.)<br />

1. A CRISE CONTRA O DIREITO<br />

Algumas noções sobre crise<br />

Informa o jesuíta português Isidro Pereira que o substantivo grego<br />

“krisis” significa (1) ação ou faculdade de separar, de discernir, (2) luta,<br />

litígio, processo, (3) decisão, juízo, sentença, (4) resulta<strong>do</strong>, desenlace,<br />

crise. 1 Outro dicionarista da língua grega, o professor francês Pierre<br />

Chantraine arrola para o nome “krisis” as seguintes significações:<br />

Daí, em latim surgiu o substantivo “crisis, is” e resultaram em<br />

português basicamente três nomes: crítica, ação de separar para<br />

discernir, julgar, decidir; critério, aquilo que serve de norma para separar,<br />

discernir, julgar, decidir algum litígio; e finalmente crise, ação de separar<br />

em conflito exigin<strong>do</strong> um julgamento, uma decisão. Nesta última acepção<br />

está a definição nominal que interessa ao presente estu<strong>do</strong>. Nela, o<br />

nome “crise” indica processo, movimento, ação, em que, a um esta<strong>do</strong><br />

normal, sucede uma separação de elementos entran<strong>do</strong> em luta, conflito,<br />

litígio, de mo<strong>do</strong> que exige uma avaliação ou julgamento e, enfim, uma<br />

decisão ou solução.<br />

A definição <strong>do</strong> nome conduz à definição real (“res” = coisa).<br />

Realmente, “crise” traduz as idéias de separação, luta, conflito, e induz<br />

1 Cf. PEREIRA, Isidro, S. J. Dicionário grego – português e português – grego. 8.ª ed. Braga,<br />

Portugal: Livraria Apostola<strong>do</strong> da Imprensa, 1998. verbete krisis. p. 333.


30<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

as idéias de avaliação, julgamento, decisão. Nesse senti<strong>do</strong>, obtém-se<br />

uma noção real e geral: crise é um complexo de ações e reações em<br />

que duas ou mais partes entram em luta, desencadean<strong>do</strong> um processo<br />

de separação e desagregação <strong>do</strong> to<strong>do</strong> <strong>do</strong> qual participam, cuja<br />

preservação exige imediata avaliação ou julgamento da situação e pronta<br />

decisão e solução. Não se pretende com isso definir “crise”, o que não<br />

seria tarefa conveniente a este estu<strong>do</strong>, nem fácil de executar, porque o<br />

termo comporta diversas e sutis variantes de acepção. Mas apenas iniciar<br />

aqui a formulação de uma noção útil <strong>do</strong> tipo de crise objeto deste estu<strong>do</strong>.<br />

A crise pode ser individual ou social. Aqui interessam as crises<br />

sociais. As individuais (exemplo: uma crise de depressão, uma crise<br />

de ira, uma crise cardíaca) só interessam por suas eventuais<br />

repercussões sociais. Não é raro no mun<strong>do</strong> político uma crise individual<br />

gerar uma crise social em virtude da importância <strong>do</strong> indivíduo na<br />

sociedade. Por exemplo, uma crise pessoal que leve o Chefe de Esta<strong>do</strong><br />

à renúncia pode desencadear uma sucessão de crises político-sociais<br />

na evolução histórica <strong>do</strong> país.<br />

As crises sociais podem ser locais, regionais, nacionais, internacionais<br />

e hoje, com o advento da supranacionalidade, são possíveis<br />

crises supranacionais. Aqui interessam crises sociais nacionais, vale<br />

dizer, as crises sociais no quanto afetam a sociedade nacional. Tais<br />

crises são mais graves quan<strong>do</strong> estruturais e, se meramente conjunturais,<br />

em geral são mais brandas. Em ambos os casos podem ter<br />

repercussões tais, que afetem gravemente a normalidade social. Ao<br />

estu<strong>do</strong> interessam as crises estruturais e as conjunturais, desde que<br />

revistam gravidade social.<br />

Pelo seu conteú<strong>do</strong>, a crise estrutural ou conjuntural pode ser<br />

econômica, agrícola, industrial, financeira, moral, religiosa, administrativa,<br />

diplomática, <strong>do</strong> ensino, da saúde pública, de energia elétrica, <strong>do</strong>s<br />

transportes etc. Mas todas as crises sociais, independentemente <strong>do</strong> seu<br />

conteú<strong>do</strong> primário, qualificam-se como crises políticas no quanto afetam<br />

a governabilidade da sociedade política, vale dizer, atingem negativamente<br />

a possibilidade de governo da sociedade nacional pelos órgãos estatais.<br />

Em suma, para o presente estu<strong>do</strong> têm interesse as crises políticosociais,<br />

de qualquer conteú<strong>do</strong>, quer estruturais, quer conjunturais, no


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 31<br />

quanto afetam a sociedade nacional brasileira e sua governabilidade,<br />

pon<strong>do</strong> em risco a estabilidade institucional, a eficiência funcional e a<br />

eficácia social <strong>do</strong> seu governo pelo Esta<strong>do</strong>.<br />

Contradições normais e crises insuportáveis<br />

Na contínua evolução <strong>do</strong>s seres ao longo <strong>do</strong> tempo nada surge por<br />

simples seqüência, mas sempre traduz alguma conseqüência <strong>do</strong> que<br />

passou. Assim é to<strong>do</strong> o processo histórico, desde uma parte singular<br />

(um indivíduo), passan<strong>do</strong> por partes coletivas determinadas (categorias<br />

ou classes sociais), até o coletivo total e indetermina<strong>do</strong> (a sociedade<br />

humana difusamente considerada). No processo histórico-social, as<br />

ações e reações <strong>do</strong>s indivíduos integra<strong>do</strong>s na sociedade interagem<br />

geran<strong>do</strong> contradições entre eles, que são aceitas como normais quan<strong>do</strong><br />

se resolvem conforme as normas socialmente aceitas, sejam elas ou<br />

não juridicamente instituídas. Resolvidas normalmente, as contradições<br />

não ameaçam a constituição jurídica <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, mesmo se decididas na<br />

via judiciária, quan<strong>do</strong> o litígio não se compõe fora dela.<br />

A contradição deixa de ser normal quan<strong>do</strong> os indivíduos (raramente<br />

isola<strong>do</strong>s, mas reparti<strong>do</strong>s em facções, seitas, parti<strong>do</strong>s, etc.) entram em<br />

choques que não se compõem normalmente, conforme as normas<br />

sociais e jurídicas, e crescem em quantidade e qualidade tão<br />

intensamente, que se transformam em crise social insuportável para o<br />

Esta<strong>do</strong> nacional (sobretu<strong>do</strong> se constituí<strong>do</strong> em esta<strong>do</strong> de direito), uma<br />

vez que ameaçam romper a sua constituição jurídica e, na mesma<br />

medida, afetam a governabilidade da sociedade política.<br />

Urge redimir o termo “governabilidade” da degeneração que<br />

sofreu pelos desvios recentemente pratica<strong>do</strong>s, tais como “pactos de<br />

governabilidade” que na verdade foram “pactos de governismo”,<br />

nortea<strong>do</strong>s só pelo oportunismo e casuísmo da politicaria. Considerada<br />

sem desvios, a governabilidade da sociedade política é, exatamente,<br />

o objeto maior <strong>do</strong> direito político. Com a evolução <strong>do</strong> constitucionalismo,<br />

o direito político foi assumi<strong>do</strong> pelo direito constitucional. Daí, que<br />

incumbe e convém ao direito constitucional preservar a acepção lídima<br />

<strong>do</strong> termo “governabilidade”.


32<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

Governabilidade é possibilidade de um governo estável institucionalmente,<br />

eficiente funcionalmente, eficaz socialmente. Traduz a<br />

possibilidade de governo da sociedade humana pelo seu poder político.<br />

Sem esse governo superior, equacionan<strong>do</strong> meios segun<strong>do</strong> fins, a<br />

sociedade <strong>do</strong>s indivíduos não atinge seus objetivos. Hoje o poder político<br />

– o poder de governar superiormente a sociedade política – exerce-se<br />

nas relações jurídico-sociais cujo to<strong>do</strong> se chama “Esta<strong>do</strong>” e cuja melhor<br />

constituição é a de esta<strong>do</strong> de direito. Mas, por trata<strong>do</strong>s, acor<strong>do</strong>s,<br />

convênios, convenções, protocolos, declarações etc. os esta<strong>do</strong>s nacionais<br />

se integram em organismos internacionais e comunidades<br />

supranacionais, de mo<strong>do</strong> que, na atualidade, a governabilidade adquire<br />

condição transnacional, embora na base ainda subsista sen<strong>do</strong> nacional.<br />

Com essa extensão e compreensão, já in<strong>do</strong> além <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>-nação, a<br />

governabilidade é conceito-chave para a ciência política, bem como para<br />

o direito constitucional, que é o ramo eminentemente político <strong>do</strong> direito<br />

interno ao Esta<strong>do</strong> nacional.<br />

Na exata medida em que por sua extensão e compreensão<br />

ameaça romper a constituição jurídica <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, a crise afeta a<br />

governabilidade da sociedade política. Abala a estabilidade institucional<br />

<strong>do</strong> governo, na proporção em que lhe prejudica a eficiência funcional e<br />

a eficácia social. O Esta<strong>do</strong> é posto à prova. Deve resolver a crise, agin<strong>do</strong><br />

como esta<strong>do</strong> de direito, conforme sua Constituição jurídica.<br />

Garantias constitucionais<br />

O esta<strong>do</strong> de direito é submeti<strong>do</strong> por sua Constituição a uma ordem<br />

jurídica que dedica especial atenção à relação de governo. De um la<strong>do</strong>,<br />

impõe aos governantes uma separação de poderes introduzin<strong>do</strong> entre<br />

eles um mecanismo de freios e contrapesos para mantê-los conti<strong>do</strong>s<br />

um pelos outros. De outro, opõe aos governantes uma declaração de<br />

direitos <strong>do</strong>s governa<strong>do</strong>s a fim de conter a expansão absoluta <strong>do</strong> poder<br />

de governo. Os direitos <strong>do</strong>s governa<strong>do</strong>s coincidem com os direitos<br />

humanos, no quanto são basilares da pessoa humana em da<strong>do</strong><br />

momento histórico-social. Os direitos humanos são fundamentais de tu<strong>do</strong><br />

o que é humano, inclusive <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e <strong>do</strong> governo. Enfim, fundamentais<br />

da sociedade política constituída em Esta<strong>do</strong> e por ele governada.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 33<br />

A Constituição de um esta<strong>do</strong> de direito é em si uma garantia <strong>do</strong>s<br />

direitos humanos fundamentais. Na passagem da Idade Moderna para<br />

a Contemporânea, a Constituição surgiu (passou a ser escrita) com o<br />

fim maior de garantir os indivíduos perante o Esta<strong>do</strong>, coibin<strong>do</strong> a expansão<br />

absoluta <strong>do</strong> poder político que uns exercem sobre os outros. Mas, além<br />

de já ser em si mesma uma garantia, oferta garantias especiais ao ser<br />

humano e, em especial, ao cidadão <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> por ela constituí<strong>do</strong>.<br />

A Constituição em si garante os direitos, se não for absoluta. Em<br />

vez de concentrar poder em um só órgão, deve efetivamente (não<br />

ilusoriamente) impor na estruturação <strong>do</strong> poder político uma separação<br />

de poderes, estabelecen<strong>do</strong> entre eles um sistema de freios e<br />

contrapesos recíprocos (checks and balances). Na constituição assim<br />

configurada, está a garantia constitucional em senti<strong>do</strong> primário (ou<br />

amplíssimo). Mas a Constituição vai mais longe: institui garantias<br />

constitucionais especiais para os direitos de ser humano e <strong>do</strong> cidadão.<br />

A primeira dessas garantias é a inserção <strong>do</strong>s direitos humanos<br />

na Constituição por declaração explícita (como no artigo 5 o da<br />

Constituição de 1988) ou por reconhecimento implícito (como no § 2 o<br />

desse artigo 5 o ). Ao mesmo tempo que os declara fundamentais, a<br />

Constituição os garante por um complexo de princípios e regras, de<br />

vedações e ações, especificamente destina<strong>do</strong>s à sua proteção. São<br />

garantias constitucionais em senti<strong>do</strong> estrito. Simplesmente ditas<br />

garantias constitucionais. Por exemplo, o princípio da unidade e<br />

universalidade de jurisdição (art. 5 o , XXXV), o princípio da definição legal<br />

<strong>do</strong>s delitos e penas (art. 5 o , XXXIX), o princípio <strong>do</strong> devi<strong>do</strong> processo legal<br />

(“due process of law”) (art. 5 o , LIX), a regra que assegura o direito de<br />

resposta e o direito a indenização por dano material, moral ou à imagem<br />

(art. 5 o , V), a regra de que a pena deve ser cumprida em estabelecimentos<br />

adequa<strong>do</strong>s (art. 5 o , XLVIII), a regra que assegura ao preso o<br />

respeito à integridade física e moral (art. 5 o , XLIX), a vedação de tortura<br />

e tratamento desumano ou degradante (art. 5 o , III), a vedação da censura<br />

ou licença para as publicações (art. 5 o , IX), a vedação de associação<br />

paramilitar (art. 5 o , XVII), a vedação da interferência estatal no funcionamento<br />

das associações e cooperativas (art. 5 o , XVIII), as ações de habeas<br />

corpus (art. 5 o , LXVIII), manda<strong>do</strong> de segurança (art. 5 o , LXIX e LXX), habeas<br />

data (art. 5 o , LXII), manda<strong>do</strong> de injunção (art. 5 o , LXXI) etc.


34<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

Legalidade constitucional excepcional<br />

Essas garantias constitucionais são plenamente respeitáveis em<br />

esta<strong>do</strong> de normalidade. Se a crise ameaça o Esta<strong>do</strong> em sua Constituição<br />

como esta<strong>do</strong> de direito, decorre um esta<strong>do</strong> de fato em que o<br />

atendimento pleno das garantias constitucionais estorvaria a atuação<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e, sobretu<strong>do</strong>, comprometeria a governabilidade de tal mo<strong>do</strong>,<br />

que causaria a instabilidade institucional, tolhen<strong>do</strong> a eficiência funcional<br />

e a eficácia social <strong>do</strong> governo da sociedade política. A ordem política<br />

constituída pelo Direito fica sob grave ameaça de desordem. Daí, se a<br />

crise põe em risco a constituição jurídica <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, prenuncian<strong>do</strong> ou<br />

desencadean<strong>do</strong> efeitos ruinosos para a ordem constituída, deve ser<br />

solvida pelo próprio Esta<strong>do</strong>. Para esse fim, a Constituição põe normas<br />

jurídico-políticas – normas de direito constitucional político – nas quais<br />

cria e disciplina institutos e condições de ações que constituem a<br />

legalidade constitucional excepcional, assim dita por visar a<br />

excepcionar legalmente – constitucionalmente – as garantias<br />

constitucionais, o que no esta<strong>do</strong> de direito assume peculiar relevância.<br />

Por força da legalidade constitucional excepcional, restringem-se<br />

ou suspendem-se provisoriamente algumas garantias constitucionais.<br />

Não se suprimem os direitos e as liberdades fundamentais por<br />

elas garanti<strong>do</strong>s. Há suspensão ou restrição, mas não supressão <strong>do</strong>s<br />

direitos e garantias que o esta<strong>do</strong> de direito assegura. Supressão tem<br />

caráter definitivo. Significaria o fim <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de direito. Não é este o<br />

senti<strong>do</strong> da legalidade constitucional excepcional. Esta se enquadra no<br />

esta<strong>do</strong> de direito. Sem negá-lo. Ao invés, procura afirmá-lo contra os<br />

que pretendem negá-lo. Atende a um princípio constitucional maior: salus<br />

reipublicae suprema lex esto.<br />

Em latim, “salus, utis” diz o esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> que está “salvus”. Tanto<br />

significa “saúde”, quanto “salvação”. O princípio se traduz: “a salvação<br />

(a saúde) da republica é a suprema lei”. Esse princípio ainda está entre<br />

os maiores <strong>do</strong> direito constitucional. Já que a república se constitui por<br />

escrito e da Constituição escrita depende sua saúde ou, em extremos,<br />

sua salvação, pode-se converter o princípio nos seguintes termos: salus<br />

constitutionis suprema lex esto. A saúde (salvação) da Constituição<br />

é a suprema lei.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 35<br />

No Brasil, a saúde constitucional está sob os cuida<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Supremo<br />

Tribunal Federal, cuja competência precípua é a guarda da Constituição,<br />

conforme o caput <strong>do</strong> art. 102 da Constituição de 88. Menos por sua posição<br />

no texto constitucional, mais por sua condição no contexto jurídico, tal<br />

competência sobreleva-se às demais competências constitucionais<br />

desse Tribunal: a originária (art. 102, inc. I), a recursal ordinária (art.<br />

102, inc. II) e a recursal extraordinária (art. 102, inc. III).<br />

Exercen<strong>do</strong> essa competência, o Supremo Tribunal Federal<br />

profere acórdãos que são precipuamente de natureza jurídicopolítica,<br />

nos quais decide de mo<strong>do</strong> que preserve a saúde constitucional,<br />

seja banin<strong>do</strong> a inconstitucionalidade, seja – sobretu<strong>do</strong> –<br />

salvan<strong>do</strong> a Constituição de ser mutilada por algum golpe ou<br />

sublevação. Mas, se nem pelo exercício dessa competência precípua<br />

se consegue defender a normalidade constitucional, aí tem lugar a<br />

legalidade constitucional excepcional.<br />

A legalidade de exceção não deve ser confundida com os próprios<br />

esta<strong>do</strong>s de fato a que visa debelar. Estes, abalan<strong>do</strong> a sociedade política<br />

por uma ação natural, ou rompen<strong>do</strong> a ordem jurídica contra a qual<br />

irrompem intencionalmente, configuram esta<strong>do</strong>s de exceção. São<br />

comoções de fato – derivadas de calamidades naturais ou de<br />

sublevações sociais ou ações de grupos – que originam crises políticosociais<br />

ruinosas para a ordem constituída. A legalidade constitucional<br />

excepcional constitui a reação <strong>do</strong> Direito nos termos <strong>do</strong> Direito a esta<strong>do</strong>s<br />

de fato que excepcionalmente o ameaçam. É uma condição jurídica<br />

excepcional para debelar um esta<strong>do</strong> de exceção antijurídico.<br />

2. O DIREITO CONTRA A CRISE<br />

A ditadura romana<br />

Costumeira (direito consuetudinário), a ordem constitucional <strong>do</strong>s<br />

antigos romanos gerou na fase republicana um instituto jurídico-político<br />

precipuamente destina<strong>do</strong> à salvaguarda da constituição <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

romano: a dictatura (= ditadura), termo pelo qual se exprimem o cargo


36<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

e o encargo, a função e a dignidade <strong>do</strong> dictator (= dita<strong>do</strong>r), magistra<strong>do</strong><br />

excepcional, com autoridade transitória, mas plenipotenciária, sobre os<br />

demais magistra<strong>do</strong>s romanos.<br />

Em seu étimo, notoriamente, o vocábulo está liga<strong>do</strong> ao verbo<br />

dictare, forma freqüentativa ou intensiva <strong>do</strong> verbo dicere. Este verbo<br />

significa “dizer”. Aquele significa “ditar”, acrescentan<strong>do</strong> à ação o tom<br />

quantitativo de “dizer extensamente, muitas vezes” ou o tom qualitativo<br />

de “dizer intensamente, com força”.<br />

Desse mo<strong>do</strong> – como próprio nome já começa a definir – a dictatura<br />

era entre os antigos romanos a magistratura excepcional, superior às<br />

demais, e transitória, duran<strong>do</strong> seis meses, pela qual um magistra<strong>do</strong>,<br />

indica<strong>do</strong> <strong>do</strong>s cônsules e confirma<strong>do</strong> pelo sena<strong>do</strong>, assumia autoridade<br />

suprema para ditar sem nenhuma contradita (= dizer com intensidade<br />

superior e tantas vezes quantas necessárias) os coman<strong>do</strong>s <strong>do</strong> governo<br />

ao povo romano, com o fim precípuo – único e exclusivo – de tirá-lo de<br />

uma crise político-social, de origem interna ou externa, inicialmente de<br />

natureza militar, que lhe afetava a estabilidade das instituições.<br />

Nunca tranqüila, a história da Roma antiga enfrentou reiteradas<br />

crises político-sociais, de origem interna ou externa, ora estruturais,<br />

ora conjunturais, que atingiram a res publica romana (= coisa pública<br />

romana), ameaçan<strong>do</strong> a estabilidade <strong>do</strong> status rei publicae romanae<br />

(= o esta<strong>do</strong> da coisa pública romana), pon<strong>do</strong> em risco o senatus<br />

populusque romanus (= o sena<strong>do</strong> e o povo romano), termo com que<br />

os romanos traduziam a viga mestra de sua constituição jurídico-política.<br />

Roma era o sena<strong>do</strong> e o povo romano governa<strong>do</strong>, em última análise,<br />

pelo sena<strong>do</strong>. Ameaçada essa constituição, a reação era a ditadura,<br />

cuja instauração dependia de um juízo de admissibilidade <strong>do</strong> sena<strong>do</strong>.<br />

A ditadura romana teria si<strong>do</strong> praticada pela primeira vez em 501 a<br />

C. e subsistiu inalterada, em seus traços gerais, até a Segunda Guerra<br />

Púnica, quan<strong>do</strong> foi empregada para defender Roma ante as vitórias de<br />

Aníbal. Sua finalidade original foi a defesa militar contra invasões<br />

estrangeiras. Exs.: contra os équos (458 a. C.) e contra Aníbal (216 a.<br />

C.). Evoluin<strong>do</strong>, foi usada contra sublevações internas. Exs.: contra os<br />

plebeus subleva<strong>do</strong>s ante a lex licinia (367 a. C.) ou contra as sublevações<br />

de escravos, como a liderada por Eunous e Cleon (138 a. C.), a liderada


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 37<br />

por Aristônico (130 a. C.) e a conduzida por Espártaco (73 a 71 a. C.).<br />

Vários foram dita<strong>do</strong>res na história romana. O mais célebre é Cincinato<br />

(Lucius Quinctius Cincinnatus), herói legendário que, em 458 a. C., deixou<br />

seu ara<strong>do</strong> para tirar Roma de uma crise militar, salvan<strong>do</strong> a Minúcio<br />

(Minucius Esquilinus Augurinus), sitia<strong>do</strong> pelos equos invasores. Em 439<br />

a.C. foi de novo dita<strong>do</strong>r para enfrentar Mélio, dito “o espúrio” (Maelius,<br />

Spurius). Dita<strong>do</strong>res mais antigos, como Cincinato, tornaram-se lendas nas<br />

tradições <strong>do</strong> povo romano. Mas a expansão imperialista de Roma e a perda<br />

da autenticidade original de suas instituições condenaram a ditadura à<br />

extinção. A partir de Sila (Lucius Cornelius Silla ou Sulla), o instituto foi<br />

deturpa<strong>do</strong> para vestir tiranias pessoais, culminan<strong>do</strong> com César (Caius<br />

Julius Caesar), que se fez proclamar dita<strong>do</strong>r perpétuo, em 48 a.C.<br />

A esimnetia <strong>do</strong>s gregos<br />

Não somente entre os romanos, mas entre hebreus, cartaginenses,<br />

gauleses, elegiam-se magistra<strong>do</strong>s extraordinários, com poderes<br />

quase absolutos, para prover à solução de graves crises político-sociais,<br />

em geral provenientes de agressões ou ameaças externas. Igualmente,<br />

entre os gregos, algumas de suas pólis tiveram o esimneta ou esineta,<br />

espécie de tirano eletivo, que assumia um forte poder discricionário em<br />

momento de perigo para a pátria. 2 Não há confundir o conceito de<br />

discricionário com o de arbitrário. A discricionariedade é um amplo poder<br />

de decisão e ação exerci<strong>do</strong> nos termos <strong>do</strong> direito, é um poder jurídico,<br />

ampara<strong>do</strong> pelo direito, ao passo que a arbitrariedade é uma decisão ou<br />

ação fora <strong>do</strong> direito, contra o direito, sem o seu sustento. Do mesmo<br />

mo<strong>do</strong> que o dita<strong>do</strong>r na cívitas romana, o ensineta grego exercia um<br />

poder quase que absoluto, grandemente discricionário, mas sempre<br />

nos termos e com apoio <strong>do</strong> direito político constitucional da pólis. 3<br />

2 Cf. MAXIMILIANO, Carlos. Comentários à Constituição Brasileria. 2. ed. ampl. Rio de Janeiro:<br />

Jacintho Ribeiro <strong>do</strong>s Santos, Editor: 1923. p. 379.<br />

3 Na Idade Antiga, a sociedade política constituída no âmbito e ao re<strong>do</strong>r de uma cidade não se<br />

estruturava na forma de Esta<strong>do</strong> como hoje, tipifica<strong>do</strong> por um poder soberano, defini<strong>do</strong> por uma<br />

força que se impõe por si mesma, por sua própria força, em última análise uma força armada e<br />

mantida constantemente para apoiá-lo. Não havia exércitos regulares para assegurar o poder<br />

político. Este se definia com base no jus sanguinis (direito de sangue) ancestral. Aqueles que<br />

tinham o sangue das tribos originais que ali se haviam assenta<strong>do</strong> e constituí<strong>do</strong> a cidade compunham<br />

a elite de cidadãos, cujas famílias sustentavam seus próprios agentes de segurança e de coação


38<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

O historia<strong>do</strong>r grego Dionísio de Halicarnasso já assinalou a<br />

analogia entre a ditadura romana e a esimnetia grega. As causas eram<br />

similares, pois a esimnetia, embora visasse antes crises estruturais<br />

que conjunturais, destinava-se, como a ditadura romana, a salvar a polis<br />

de uma grave crise. Espécie de monarquia eletiva, a esimnetia consistia<br />

– como a ditadura romana – na atribuição de poder extraordinário a um<br />

magistra<strong>do</strong> ímpar para resolver a crise. Mas, ao contrário <strong>do</strong> dita<strong>do</strong>r<br />

romano, o poder <strong>do</strong> esimneta nem sempre se limitava a pouco tempo<br />

(houve esimnetas até vitalícios), como também era mais amplo: incluía<br />

o poder legislativo – o poder de reformar as leis – que o dita<strong>do</strong>r romano<br />

não tinha. As melhores referências à esimnetia foram feitas por<br />

Aristóteles em sua obra “Política”, ao tratar da identificação e classificação<br />

das formas de governo. Fora daí, pouca coisa se sabe.<br />

A suspensão da Constituição<br />

A defesa da Constituição pela suspensão da Constituição surgiu<br />

na França com a Constituição de 13 de dezembro de 1799 (22 Frimário<br />

<strong>do</strong> ano VIII). O seu art. 92 dispunha: “Em caso de revolta a mão armada<br />

ou de distúrbios que ameacem a segurança <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, a lei pode<br />

suspender, nos lugares e pelo tempo que determinar, o império da<br />

Constituição. Esta suspensão pode ser provisoriamente declarada, nos<br />

mesmos casos, por decreto <strong>do</strong> governo, se o Corpo legislativo estiver<br />

social sobre os não-cidadãos, que eram os escravos e os estrangeiros (mesmo se habitassem na<br />

cidade ou na sua periferia). Dessa elite de sangue, surgiam os que por diversas formas – monarquia,<br />

tirania, aristocracia, oligarquia, timocracia, democracia, etc. – governavam a sociedade política,<br />

dita polis (entre os gregos) ou civitas (entre os romanos). Em caso de guerra, convocavam-se os<br />

cidadãos às armas e, juntan<strong>do</strong>-se a eles os que lutavam pela partilha <strong>do</strong> butim (bens toma<strong>do</strong>s aos<br />

inimigos venci<strong>do</strong>s), formavam-se as tropas que defendiam a pólis ou cívitas. Só quan<strong>do</strong> algumas<br />

cidades (Roma é o caso típico) começam a expandir seu poder sobre terras e povos longínquos,<br />

forman<strong>do</strong> impérios, é que os exércitos se vão profissionalizan<strong>do</strong>, terminan<strong>do</strong> por assumir papel<br />

relevante na definição <strong>do</strong> poder político. Mas aí já se está chegan<strong>do</strong> à Idade Média européia,<br />

quan<strong>do</strong> o Império Romano ruiu por sua desagregação interna, propician<strong>do</strong> a invasão <strong>do</strong>s bárbaros,<br />

de cuja fusão com os povos romanos surgiu o feudalismo, regime econômico, social, político, em<br />

que as terras, a população e o poder de governo na Europa foram esmigalha<strong>do</strong>s em sociedades<br />

políticos diminutas, unidades territoriais, econômico-político-sociais ditas feu<strong>do</strong>s. No princípio da<br />

alta Idade Média, na virada para o segun<strong>do</strong> milênio da era cristã, intensifica-se na Europa a prática<br />

<strong>do</strong> comércio, cujo desenvolvimento na Idade Moderna levará <strong>do</strong> mercantilismo ao capitalismo e,<br />

no plano político, às revoluções liberais, que marcaram o início da Idade Contemporânea e das<br />

quais a mais radical e típica foi a Revolução Francesa de 1789.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 39<br />

em férias, desde que este Corpo seja convoca<strong>do</strong>, no mais breve prazo,<br />

por um artigo <strong>do</strong> mesmo decreto”.<br />

É para<strong>do</strong>xo garantir a Constituição pela sua suspensão. Esse<br />

instituto fere o espírito <strong>do</strong> constitucionalismo. Foi agrava<strong>do</strong> em 4 de<br />

agosto de 1802 (16 Termi<strong>do</strong>r <strong>do</strong> ano X) por um senatusconsulto de<br />

Napoleão Bonaparte, que deu ao Sena<strong>do</strong> e não mais a to<strong>do</strong> o Corpo<br />

legislativo o poder de colocar departamentos fora <strong>do</strong> império da<br />

Constituição, se o exigirem as circunstâncias, o que – no recesso<br />

parlamentar – seria possível ao governo sem o referen<strong>do</strong> <strong>do</strong> parlamento.<br />

O autoritarismo da Constituição bonapartista foi imita<strong>do</strong> na<br />

América pela Constituição <strong>do</strong> Chile de 1833, que dispôs: “Declara<strong>do</strong><br />

em algum ponto da República o esta<strong>do</strong> de sítio, suspende-se o império<br />

da Constituição no território compreendi<strong>do</strong> na declaração, mas durante<br />

esta suspensão, e no caso de usar o Presidente das faculdades extraordinárias<br />

concedidas pelo Congresso, não poderá a autoridade pública<br />

condenar por si, nem aplicar penas. As medidas que tomar nestes casos<br />

contra as pessoas não podem exceder a prisão e o desterro para<br />

qualquer ponto da República”.<br />

No Brasil somente a Carta de 1937 admitiu sua própria suspensão.<br />

Seu art. 166 estatui: “Em caso de ameaça externa ou iminência de<br />

perturbações internas ou existências de concerto, plano ou conspiração,<br />

tendente a perturbar a paz pública ou pôr em perigo a estrutura das instituições,<br />

a segurança <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> ou <strong>do</strong>s cidadãos, poderá o Presidente<br />

da República declarar em to<strong>do</strong> o território <strong>do</strong> País, ou na porção <strong>do</strong><br />

território particularmente ameaça<strong>do</strong>, o esta<strong>do</strong> de emergência. Desde<br />

que se torne necessário o emprego das forças armadas para a defesa<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, o Presidente da República declarará em to<strong>do</strong> <strong>do</strong> território<br />

nacional ou em parte dele, o esta<strong>do</strong> de guerra”. O art. 171 permite<br />

suspender a Constituição: “Na vigência <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de guerra deixará de<br />

vigorar a Constituição nas partes indicadas pelo Presidente da República”.<br />

A lei marcial<br />

No direito anglo-americano, em senti<strong>do</strong> lato, lei marcial coincide<br />

com direito militar. Mas o termo é mais emprega<strong>do</strong> em senti<strong>do</strong> estrito


40<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

para designar a faculdade legítima que, segun<strong>do</strong> o direito comum (common<br />

law), o Esta<strong>do</strong> e seus agentes possuem de repelir a força pela força nos<br />

casos de invasão, insurreição, tumulto ou, em geral, de resistência violenta<br />

à lei. Neste senti<strong>do</strong>, a lei marcial significa colocar as autoridades militares à<br />

disposição das civis para o fim de manter a ordem pública, sem suspender<br />

nenhum direito e sem que os tribunais militares adquiram jurisdição sobre<br />

civis, fican<strong>do</strong> os militares responsáveis por seus atos perante os tribunais<br />

ordinários. Portanto, nesse senti<strong>do</strong> estrito, a lei marcial não implica<br />

suspensão da lei comum, nem <strong>do</strong> governo ordinário. Acarreta apenas o<br />

uso de meios extraordinários para manter a ordem e, particularmente, o<br />

emprego da força bruta. Assim é a lei marcial uma espécie de legítima<br />

defesa da ordem pública pela força militar. Embora seja executada pelos<br />

militares, pelas forças armadas, a lei marcial é lei estritamente<br />

instrumental: não suspende a lei principal, a lei ordinária, o direito comum.<br />

Magistra<strong>do</strong>s, solda<strong>do</strong>s, agentes civis, cidadãos – to<strong>do</strong>s isoladamente<br />

ou em bloco têm o dever de combater a desordem, lutar pela<br />

ordem, mas a ninguém é da<strong>do</strong> ultrapassar a justa medida no emprego<br />

da força contra a força. Deve haver proporcionalidade. Se houver<br />

excesso de força, to<strong>do</strong>s ficam igualmente sujeitos a responder perante<br />

os tribunais. Não há privilégio. To<strong>do</strong>s são defensores da lei e to<strong>do</strong>s<br />

respondem perante a lei, inclusive os militares. A lei marcial não exonera<br />

ninguém. A responsabilidade individual, a lei ordinária e a administração<br />

regular permanecem sem colapso durante as situações de emergência.<br />

Somente uma lei <strong>do</strong> Parlamento –um act of indemnity– pode<br />

excepcionalmente desculpar atos e exonerar da responsabilidade. O<br />

esta<strong>do</strong> de lei marcial é assim considera<strong>do</strong> um esta<strong>do</strong> de fato que muito<br />

se assemelha ao esta<strong>do</strong> de legítima defesa ou ao esta<strong>do</strong> de necessidade<br />

<strong>do</strong> direito penal. Os agentes públicos, inclusive os militares, podem valerse<br />

da força para promover a autodefesa da ordem pública, mas só<br />

escapam à punição, se a repressão for proporcional à agressão.<br />

A suspensão <strong>do</strong> habeas corpus<br />

O direito anglo-americano, além da lei marcial, prevê outra defesa<br />

da ordem constitucional: suspender o habeas corpus. O que se aproxima<br />

<strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de sítio.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 41<br />

O habeas corpus é o principal meio de defesa <strong>do</strong>s direitos<br />

humanos, porque preserva a mais básica das liberdades, a locomoção<br />

física, necessária ao exercício daqueles direitos. Mas, em momentos<br />

de grave crise, a concessão irrestrita <strong>do</strong> habeas corpus pode dificultar<br />

a defesa <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de direito, porque impede a detenção de suspeitos<br />

e outras providências necessárias a evitar que a insurreição ganhe as<br />

ruas. Daí, que a Lei inglesa de 1679, ao regular o habeas corpus, admitiu<br />

sua suspensão em caráter transitório, mediante lei, sempre que a<br />

gravidade da situação exigir medida tão drástica. Ao passar para as<br />

colônias da América, o habeas corpus veio com essa possibilidade de<br />

suspensão. Tanto que a Constituição <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s falou <strong>do</strong><br />

habeas corpus para proibir sua suspensão, salvo em casos de rebelião<br />

ou invasão, se o exigir a segurança pública (ver art. 1 o da seção IX).<br />

Assim, mesmo quan<strong>do</strong> não for necessário implantar a lei marcial, o<br />

direito anglo-americano admite a suspensão da garantia da liberdade<br />

de locomoção, para salvaguardar a ordem pública.<br />

O esta<strong>do</strong> de sítio<br />

Nos países de direito escrito de origem romanística, prefere-se<br />

para defesa da ordem constituída o esta<strong>do</strong> de sítio, cuja origem é<br />

francesa: l’état de siège.<br />

Mesmo após serem declara<strong>do</strong>s direitos individuais, verificou-se<br />

que, em circunstâncias excepcionalmente graves, como o sítio de uma<br />

cidade por um inimigo em armas, a garantia <strong>do</strong>s direitos individuais<br />

não era possível como nos esta<strong>do</strong>s de normalidade. Por isso, um Decreto<br />

de 10 de julho de 1791, após a Declaração <strong>do</strong>s Direitos <strong>do</strong> Homem e <strong>do</strong><br />

Cidadão, mas antes da Constituição de 1791, previu o chama<strong>do</strong> “esta<strong>do</strong><br />

de sítio”, em cuja vigência se poderiam suspender temporária e<br />

localizadamente certas garantias constitucionais. Previsto originariamente<br />

para casos de cerco por tropas inimigas, o esta<strong>do</strong> de sítio logo se estendeu<br />

aos casos de desordem interna. O art. 66 <strong>do</strong> Ato Adicional de 1825<br />

regulamentou o instituto de mo<strong>do</strong> muito próximo <strong>do</strong> atual, nascen<strong>do</strong> aí o<br />

modelo segui<strong>do</strong> pelo constitucionalismo brasileiro e de outros países.


42<br />

3. SISTEMA CONSTITUCIONAL DE CRISES<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

Constituição <strong>do</strong> Império<br />

A Constituição brasileira de 1824 a<strong>do</strong>tou o esta<strong>do</strong> de sítio sem<br />

usar essa denominação. No artigo 179, § 35, dispôs: “Nos casos de<br />

rebelião ou invasão de inimigos, pedin<strong>do</strong> a segurança <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> que se<br />

dispensem, por tempo determina<strong>do</strong>, algumas formalidades que<br />

garantem a liberdade individual, poder-se-á fazê-lo por ato especial <strong>do</strong><br />

Poder Legislativo. Não se achan<strong>do</strong>, porém, a esse tempo reunida a<br />

Assembléia, e corren<strong>do</strong> a Pátria iminente perigo, poderá o Governo<br />

exercer esta mesma providência, como medida provisória e indispensável,<br />

suspenden<strong>do</strong>-a imediatamente, quan<strong>do</strong> cesse a necessidade<br />

urgente que a motivou; deven<strong>do</strong> em um e outro caso, remeter à Assembléia,<br />

logo que reunida for, uma relação motivada das prisões e de outras<br />

medidas de prevenção tomadas; e quaisquer autoridades que tiverem<br />

manda<strong>do</strong> proceder a elas serão responsáveis pelos abusos que tiverem<br />

pratica<strong>do</strong> a esse respeito.”<br />

Constituições republicanas anteriores<br />

A Constituição de 1891 usou pela primeira vez entre nós a<br />

expressão “esta<strong>do</strong> de sítio”. A matéria é tratada no artigo 80 e seus<br />

quatro parágrafos. A competência para “declarar em esta<strong>do</strong> de sítio<br />

qualquer parte <strong>do</strong> território da União” é <strong>do</strong> Congresso Nacional,<br />

“suspenden<strong>do</strong>-se aí as garantias constitucionais por tempo determina<strong>do</strong>,<br />

quan<strong>do</strong> a segurança da República o exigir, em caso de agressão<br />

estrangeira, ou de comoção intestina”. Essa competência estava prevista<br />

no artigo 34, n. 21. Mas, no § 1 o <strong>do</strong> artigo 80, prevê-se que, “não se achan<strong>do</strong><br />

reuni<strong>do</strong> o Congresso e corren<strong>do</strong> a Pátria iminente perigo, exercerá essa<br />

atribuição o Poder Executivo federal”, conforme competência prevista no<br />

artigo 48, n. 15. Nos demais parágrafos <strong>do</strong> artigo 80 são previstas as<br />

medidas de repressão aplicáveis, a necessidade de justificar perante o<br />

Congresso Nacional as medidas efetivamente tomadas e, enfim, a<br />

responsabilidade por abusos cometi<strong>do</strong>s.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 43<br />

O uso freqüente <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de sítio sob a primeira Constituição<br />

republicana levou a detalhar a disciplina <strong>do</strong> instituto na Constituição de<br />

1934 no seu art. 175, a cujo caput acompanham quinze parágrafos. Aí<br />

se previa esta<strong>do</strong> de sítio para caso de guerra externa. Mas, ante o pânico<br />

causa<strong>do</strong> pela intentona comunista e outras comoções internas, o Decreto<br />

Legislativo n. 6, de 18 de dezembro de 1935, emen<strong>do</strong>u a Constituição<br />

para autorizar “a declarar a comoção intestina grave, com finalidades<br />

subversivas das instituições políticas e sociais, equiparada ao Esta<strong>do</strong> de<br />

guerra, em qualquer parte <strong>do</strong> território nacional”, bem como determinou<br />

a perda da patente e <strong>do</strong> posto, por decreto <strong>do</strong> Poder Executivo, sem prejuízo<br />

de outras sanções, para o oficial da ativa, da reserva ou reforma<strong>do</strong><br />

“que praticar ato ou participar de movimento subversivo das instituições<br />

políticas e sociais”, e nas mesmas condições determinou a demissão<br />

<strong>do</strong> funcionário civil ou inativo.<br />

Esse “pânico constitucional” criou clima para o golpe de 37, que<br />

decretou uma Carta que, como visto acima, admite sua própria suspensão,<br />

no art. 171. Essa Carta contém um título, “Da defesa <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>”, em<br />

que longamente –<strong>do</strong> art. 166 ao art. 173– disciplina institutos e condições<br />

para defender o Esta<strong>do</strong>, com rigor, ante de ameaças externas e<br />

conspirações internas. A Constituição liberal de 1946 retomou o texto de<br />

1934, sem os aden<strong>do</strong>s autoritários <strong>do</strong> Decreto Legislativo n. 6, de 18 de<br />

dezembro de 1935. Nela a matéria se disciplina nos artigos 206 até 215.<br />

A Constituição de 1967, no capítulo “Do Esta<strong>do</strong> de Sítio” (arts.<br />

152 a 156), já revela o autoritarismo <strong>do</strong> regime da época, também<br />

visto no art. 151. Neste, após a declaração direitos e garantias (art.<br />

150, com 35 parágrafos), prevê-se a cassação <strong>do</strong>s direitos políticos:<br />

“Aquele que abusar <strong>do</strong>s direitos individuais previstos nos §§ 8 o , 23, 27<br />

e 28 <strong>do</strong> artigo anterior e <strong>do</strong>s direitos políticos, para atentar contra a<br />

ordem democrática ou praticar a corrupção, incorrerá na suspensão<br />

destes últimos direitos pelo prazo de <strong>do</strong>is a dez anos, declarada pelo<br />

Supremo Tribunal Federal, mediante representação <strong>do</strong> Procura<strong>do</strong>r-<br />

Geral da República, sem prejuízo da ação civil ou penal cabível,<br />

assegu-rada ao paciente a mais ampla defesa”. O parágrafo único<br />

ressalva que, “quan<strong>do</strong> se tratar de titular de mandato eletivo federal, o<br />

processo dependerá de licença da respectiva Câmara”.


44<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

Enfim, a Emenda n. 11, de 13 de outubro de 1978, acresceu ao<br />

esta<strong>do</strong> de sítio as medidas de emergência e o esta<strong>do</strong> de emergência,<br />

institutos agrega<strong>do</strong>s à Constituição de 67 já toma<strong>do</strong> com a redação<br />

dada pela Emenda Constitucional n. 1, de 17 de outubro de 1969, que<br />

passou a ser a Constituição vigente.<br />

Constituição de 1988<br />

A Constituição da República Federativa <strong>do</strong> Brasil, de 5 de outubro<br />

de 1988, aboliu as medidas de emergência e o esta<strong>do</strong> de emergência.<br />

No seu Título V, “Da defesa <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e das Instituições Democráticas”,<br />

o Capítulo I institui <strong>do</strong>is esta<strong>do</strong>s de legalidade excepcional: o ESTADO<br />

DE DEFESA e o ESTADO DE SÍTIO – cujo estu<strong>do</strong> se fará a seguir,<br />

como parte e na forma de um questionário.<br />

QUESTIONÁRIO COM RESPOSTAS<br />

- Explique o que é legalidade constitucional excepcional.<br />

- RESPOSTA: As garantias constitucionais são plenas na normalidade.<br />

Mas, se a crise ameaça o Esta<strong>do</strong> em sua constituição como esta<strong>do</strong> de<br />

direito, decorre um esta<strong>do</strong> de fato, transitório e excepcional, em que o<br />

pleno atendimento das garantias constitucionais seria empecilho à ação<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de mo<strong>do</strong> a deixar desprotegida a ordem constituída pelo Direito.<br />

Se está em risco sua constituição jurídica, o Esta<strong>do</strong> se defende como<br />

esta<strong>do</strong> de direito. Para isso, normas de direito constitucional político<br />

criam institutos e condições de ações, constituin<strong>do</strong> uma legalidade<br />

constitucional excepcional, assim dita porque excepciona legalmente<br />

–constitucionalmente– as garantias constitucionais <strong>do</strong>s direitos humanos.<br />

- Explique o que se entende por garantia constitucional.<br />

- RESPOSTA: A Constituição escrita surgiu historicamente para garantir<br />

os direitos fundamentais <strong>do</strong> homem e <strong>do</strong> cidadão. No princípio <strong>do</strong><br />

constitucionalismo, escrever a Constituição teve por fim garantir por<br />

escrito o indivíduo e o cidadão contra o absolutismo <strong>do</strong> poder político,


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 45<br />

então exerci<strong>do</strong> pelos reis. Em si mesma, a Constituição escrita já<br />

garante os direitos. Além disso, para melhor assegurar os direitos nela<br />

explicitamente declara<strong>do</strong>s ou implicitamente reconheci<strong>do</strong>s, a Constituição<br />

institui garantias específicas: princípios e regras, vedações e<br />

ações, para proteger por prevenção ou restauração os direitos contra<br />

as agressões. São garantias da Constituição ao ser humano em geral<br />

e, em especial, ao cidadão. No to<strong>do</strong>, eis o que é garantia constitucional:<br />

é a própria Constituição em si, estabelecen<strong>do</strong> um sistema de separação<br />

de poderes com freios e contrapesos (checks and balances), bem como<br />

princípios e regras, vedações e ações por ela especialmente instituí<strong>do</strong>s<br />

para garantir os direitos humanos.<br />

- Qual é o princípio basilar da legalidade constitucional excepcional?<br />

- RESPOSTA: A legalidade de exceção atende a um princípio constitucional<br />

maior: salus reipublicae suprema lex esto. Em latim, “salus” traduz<br />

o esta<strong>do</strong> daquilo que está “salvus”. Tanto significa “saúde”, quanto<br />

“salvação”. Como hoje a república se constitui por escrito e de sua constituição<br />

escrita depende sua saúde ou salvação converte-se o princípio<br />

nos seguintes termos: salus constitutionis suprema lex esto. Quer<br />

dizer: a salvação (a saúde) da Constituição é a suprema lei. Atenden<strong>do</strong> a<br />

esse princípio maior, o Tribunal guardião da Constituição profere decisões<br />

de eleva<strong>do</strong> nível político-jurídico.<br />

- No Brasil, qual é o Tribunal guardião da Constituição da República?<br />

- RESPOSTA: Entre nós, não há Tribunal Constitucional, especial, para<br />

guardar a Constituição. O guardião é o Supremo Tribunal Federal. Esta,<br />

sua competência precípua (art. 102, caput), acima da originária (art. 102,<br />

inc. I), da recursal ordinária (art. 102, inc. II) e da recursal extraor-dinária<br />

(art. 102, inc. III). Por essa competência, o Supremo Tribunal profere<br />

acórdãos precipuamente jurídico-políticos, nos quais decide de mo<strong>do</strong> que<br />

se preserve a saúde da Constituição, salvan<strong>do</strong>-a de ser agredida pela<br />

inconstitucionalidade ou mutilada por golpe ou sublevação. Mas, se nem o<br />

exercício dessa competência precípua consegue salvar a legalidade<br />

constitucional, tem lugar a legalidade constitucional excepcional.<br />

- É a legalidade constitucional excepcional um esta<strong>do</strong> de exceção?<br />

- RESPOSTA: A legislação constitucional de exceção não deve ser


46<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

confundida com situações fáticas antijurídicas, rupturas da ordem constituída,<br />

ditas esta<strong>do</strong>s de exceção, a que visa a combater. A legalidade<br />

constitucional excepcional constitui esta<strong>do</strong>s jurídicos. Não simples esta<strong>do</strong>s<br />

de fato. É a reação <strong>do</strong> Direito, nos termos <strong>do</strong> Direito, contra a crise que o<br />

ameaça. Trata-se de excepcionalidade plenamente submetida ao Direito.<br />

- A legalidade constitucional excepcional suprime direitos e<br />

liberdades?<br />

- RESPOSTA: Nos esta<strong>do</strong>s de legalidade constitucional excepcional (o<br />

esta<strong>do</strong> de defesa e o de sítio na Constituição de 88), restringe-se a<br />

garantia constitucional <strong>do</strong>s direitos, até por suspensão provisória de<br />

um ou outro, mas não se suprimem esses direitos nem suas garantias.<br />

Não há supressão. Há restrição ou suspensão <strong>do</strong> direito ou de sua garantia<br />

constitucional. Provisoriamente, diminui a proteção. Suspende-se<br />

em parte e nunca no to<strong>do</strong> (= restringe-se) a garantia ofertada pela<br />

Constituição às pessoas. Mas a Constituição continua a vigorar e garantir<br />

contra arbítrios e violências. Não se suspende a Constituição em si.<br />

Não se suprimem os direitos fundamentais por ela garanti<strong>do</strong>s, ainda<br />

que um ou outro seja restringi<strong>do</strong> ou suspenso provisoriamente.<br />

Isso, em esta<strong>do</strong> de direito. Fora daí, há esta<strong>do</strong> de fato, antijurídico, dito<br />

esta<strong>do</strong> de exceção, que não se deve confundir a legalidade de exceção.<br />

- De quem é a competência para decretar esta<strong>do</strong> de defesa e<br />

esta<strong>do</strong> de sítio?<br />

- RESPOSTA: Pelos arts. 136 e 137 da Constituição, compete ao Chefe<br />

<strong>do</strong> Poder Executivo decretar o esta<strong>do</strong> de defesa e o de sítio. Cabe ao<br />

Legislativo referendar (no esta<strong>do</strong> de defesa) ou previamente autorizar<br />

(no esta<strong>do</strong> de sítio) a decretação. Ao Judiciário, incumbe prevenir ou reparar<br />

abusos cometi<strong>do</strong>s contra a legalidade constitucional excepcional.<br />

A decretação está condicionada à prévia consulta <strong>do</strong> Presidente da<br />

República ao Conselho da República e ao Conselho de Defesa Nacional,<br />

instituí<strong>do</strong>s pelos arts. 89, 90, 91. O parecer desses Conselhos, embora<br />

obrigatório, é opinativo: não vincula a decisão presidencial.<br />

- Qual a finalidade e a causa <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de defesa e <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de<br />

sítio?<br />

- RESPOSTA: O esta<strong>do</strong> de defesa é mais bran<strong>do</strong> que o de sítio. O art. 136,


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 47<br />

caput, define que o esta<strong>do</strong> de defesa tem por finalidade preservar ou<br />

prontamente restabelecer a ordem pública ou a paz social. Sua causa<br />

é o fato de estarem elas ameaçadas por grave e iminente instabilidade<br />

institucional ou atingidas por calamidades naturais de grandes<br />

proporções. Já o esta<strong>do</strong> de sítio (art. 137, inc. I e II) tem por causa e finalidade:<br />

(1o caso) conter comoção grave de repercussão nacional;<br />

(2o caso) suceder ao esta<strong>do</strong> de defesa, se comprovada sua ineficácia<br />

total ou parcial; (3o caso) prover condições internas necessárias e<br />

correspondentes à declaração de guerra externa pelo Presidente da<br />

República, autoriza<strong>do</strong> ou referenda<strong>do</strong> pelo Congresso Nacional (art.<br />

49, inc. II, e art. 84, inc. XIX) e ouvi<strong>do</strong> o Conselho de Defesa Nacional<br />

(art. 91, § 1o , inc. I); (4o caso) responder a agressão armada estrangeira.<br />

- O esta<strong>do</strong> de defesa é pressuposto <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de sítio?<br />

- RESPOSTA: No caso <strong>do</strong> inciso II <strong>do</strong> artigo 137 (guerra externa ou<br />

agressão armada estrangeira), claramente não. Já o inciso I <strong>do</strong> artigo<br />

137 prevê <strong>do</strong>is casos-tipo independentes um <strong>do</strong> outro. No primeiro<br />

caso (comoção grave de repercussão nacional) a decretação <strong>do</strong><br />

esta<strong>do</strong> de sítio não é necessariamente sucessiva, nem condicionada<br />

à decretação de um prévio esta<strong>do</strong> de defesa. No segun<strong>do</strong> caso<br />

(ocorrência de fatos que comprovem a ineficácia de medida tomada<br />

durante o esta<strong>do</strong> de defesa), há tal sucessão e condição. Este é o<br />

único caso em que necessariamente o esta<strong>do</strong> de sítio deve ser<br />

precedi<strong>do</strong> pelo esta<strong>do</strong> de defesa.<br />

- Qual a duração <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de defesa e <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de sítio?<br />

- RESPOSTA: O esta<strong>do</strong> de defesa não será superior a trinta dias. É<br />

prorrogável só uma vez por perío<strong>do</strong> igual, caso persistam as razões que<br />

justificaram a decretação. Prorroga<strong>do</strong> uma vez, se subsistirem as razões<br />

que o justificaram, a Constituição pressupõe a necessidade de esta<strong>do</strong><br />

de sítio. Já o esta<strong>do</strong> de sítio, na hipótese <strong>do</strong> inciso I de artigo 137, não<br />

poderá ser superior a trinta dias, nem poderá ser prorroga<strong>do</strong> de cada vez<br />

por prazo superior a este. A Constituição não restringe o número de<br />

prorrogações. Sen<strong>do</strong> recurso extremo da legalidade constitucional, poderá<br />

ser prorroga<strong>do</strong> quantas vezes necessárias. Já na hipótese <strong>do</strong> inciso II <strong>do</strong><br />

artigo 137, o esta<strong>do</strong> de sítio poderá ser decreta<strong>do</strong> por to<strong>do</strong> o tempo em


48<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

que perdurar a guerra externa ou a agressão armada estrangeira.<br />

- Qual a base territorial <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de defesa e <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de sítio?<br />

- RESPOSTA: O esta<strong>do</strong> de defesa tem vigor territorialmente limita<strong>do</strong>.<br />

Tem por base locais restritos e determina<strong>do</strong>s (art. 136, caput). O esta<strong>do</strong><br />

de sítio vigora em to<strong>do</strong> o território nacional. Porém, depois de ser<br />

publicada a sua decretação, o Presidente da República deve designar<br />

o executor das medidas específicas e fixar as áreas em que estas serão<br />

aplicadas (art. 138, caput).<br />

- Que direitos podem ser restringi<strong>do</strong>s no esta<strong>do</strong> de defesa e<br />

no de sítio?<br />

- RESPOSTA: Em qualquer hipótese de esta<strong>do</strong> de defesa, as medidas<br />

coercitivas só poderão restringir o direito de reunião (mesmo se reunião<br />

de associações) e o de sigilo de correspondência, comunicação<br />

telegráfica e telefônica. Na hipótese de calamidade pública, poderá haver<br />

ocupação e uso temporário de bens e serviços públicos, responden<strong>do</strong> a<br />

União por danos e custos, se os bens ou serviços forem de outra pessoa<br />

jurídica. No esta<strong>do</strong> de sítio funda<strong>do</strong> no art. 137, I, além da restrição aos<br />

direitos de reunião e de sigilo cabível no esta<strong>do</strong> de defesa, a Constituição<br />

autoriza contra as pessoas: confinamento (obrigação de permanecer<br />

em local determina<strong>do</strong>); detenção especial (em edifício não destina<strong>do</strong> a<br />

deti<strong>do</strong>s ou presos por crime comum); restrição à liberdade de informar, à<br />

liberdade de imprensa, rádio e televisão; suspensão da liberdade de<br />

reunião; busca e apreensão em <strong>do</strong>micílio; intervenção em empresas de<br />

serviço público; requisição de bens; (art. 139). A contrario sensu, o silêncio<br />

sobre medidas cabíveis no esta<strong>do</strong> de sítio funda<strong>do</strong> no art. 137, II, deve<br />

ser interpreta<strong>do</strong> como autorização da Constituição a toda a restrição<br />

necessária a enfrentar a guerra ou agressão armada estrangeira.<br />

- Fixa a Constituição normas especiais para o esta<strong>do</strong> de defesa,<br />

acautela<strong>do</strong>ras <strong>do</strong>s direitos individuais?<br />

- RESPOSTA: A Constituição preocupa-se destacadamente com a<br />

liberdade individual e com a integridade física e mental das pessoas<br />

detidas ou presas durante <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de defesa. Daí, as normas <strong>do</strong> § 3 o<br />

<strong>do</strong> artigo 136, que suscitam em especial a competência e a atuação <strong>do</strong>


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 49<br />

Poder Judiciário, junto ao qual continua atuan<strong>do</strong> o <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>,<br />

como igualmente não se afasta, guarda<strong>do</strong>s os termos da legalidade<br />

constitucional excepcional, a regular atuação <strong>do</strong>s Delega<strong>do</strong>s de Polícia<br />

e das diversas Procura<strong>do</strong>rias, nem se prejudica o exercício da advocacia.<br />

- Qual a competência <strong>do</strong> Congresso Nacional no tocante ao esta<strong>do</strong><br />

de defesa e ao esta<strong>do</strong> de sítio?<br />

- RESPOSTA: Em última instância, desde a decretação, o esta<strong>do</strong> de<br />

defesa e o de sítio ficam sob vigilância jurídica <strong>do</strong> Supremo Tribunal Federal<br />

e política <strong>do</strong> Congresso Nacional. Se aquele é guardião jurídico, este é o<br />

guardião político da legalidade de exceção e, disto, lhe derivam<br />

competências relevantes. Nos termos e prazos <strong>do</strong>s §§ 4o , 6o e 7o <strong>do</strong> art.<br />

136, bem como <strong>do</strong> caput e parágrafo único <strong>do</strong> art. 137 e <strong>do</strong> § 2o <strong>do</strong> art.<br />

138, a decretação e a prorrogação <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de defesa e <strong>do</strong> de sítio têm<br />

de ser justificadas ante o Congresso Nacional e por ele aprovadas por<br />

maioria absoluta (mais da metade <strong>do</strong>s membros da casa). Se em<br />

recesso, será convoca<strong>do</strong> em cinco dias, extraordinariamente (§ 5o <strong>do</strong><br />

art. 136 e § 2o <strong>do</strong> art. 137). Ficará reuni<strong>do</strong> enquanto durar o esta<strong>do</strong> de<br />

legalidade excepcional (art. 136, § 6o , e art. 137, § 3o ). Para bem exercerem<br />

a vigilância política, deputa<strong>do</strong>s e sena<strong>do</strong>res não sofrem restrição das<br />

imunidades parlamentares, deven<strong>do</strong> apenas a difusão de pronunciamentos<br />

nas Casas ser aprovada pela Mesa (parágrafo único <strong>do</strong> art. 139).<br />

Com igual senti<strong>do</strong> de vigiar a execução <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de defesa ou de sítio,<br />

designa-se a comissão parlamentar prevista no artigo 140. Enfim, <strong>do</strong><br />

esta<strong>do</strong> de defesa e <strong>do</strong> sítio, uma vez cessa<strong>do</strong>s, o Presidente da República<br />

dará contas ao Congresso Nacional nos termos <strong>do</strong> artigo 140, fican<strong>do</strong><br />

executores e agentes sujeitos à plena responsabilidade: civil, penal,<br />

administrativa e política.<br />

Sérgio Resende de Barros,<br />

Mestre e Doutor em Direito <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> pela Faculdade de Direito<br />

da Universidade de São Paulo, onde leciona nos Cursos de<br />

Bacharela<strong>do</strong> e de Pós-Graduação


50<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

(apenas algumas indicações de obras nacionais):<br />

FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. O esta<strong>do</strong> de sítio na Constituição brasileira<br />

de 1946 e na sistemática das medidas extraordinárias de defesa da ordem<br />

constitucional. (Tese de Livre-Docência). SP: edição <strong>do</strong> autor, 1964. Esta obra pode<br />

ser consultada na Biblioteca Geral ou na biblioteca <strong>do</strong> Departamento de Direito <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong> da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.<br />

FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. SP: Saraiva,<br />

diversas edições.<br />

FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Comentários à Constituição brasileira de<br />

1988. Saraiva, diversas edições.<br />

SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. SP: Malheiros,<br />

diversas edições.<br />

BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito constitucional. S P: Saraiva, diversas edições.<br />

FERREIRA, Pinto. Curso de direito constitucional. SP: Saraiva, div. ed.<br />

MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. São Paulo: Atlas, diversas edições.<br />

ROSA, Antonio José Migual Feu. Direito constitucional. 2. ed. atual. SP: Saraiva, 1999.<br />

ARAÚJO, Luiz Alberto David; e NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. Curso de direito<br />

constitucional. 3. ed. revista e atual. SP: Saraiva, 1999.<br />

JACQUES, Paulino. Curso de direito constitucional. 9. ed. R J: Forense, 1983.<br />

MELLO FILHO, José Celso de. Constituição federal anotada. SP: Saraiva, 1984.<br />

Comentários à Constituição brasileira, anteriores ou atuais, como os de: Carlos<br />

Maximiliano; Pontes de Miranda; Manoel Gonçalves Ferreira Filho; Celso Ribeiro<br />

Bastos e Ives Gandra Martins; Orlan<strong>do</strong> Soares; José Cretella Júnior; e outros.


concurso concurso de de de pessoas<br />

pessoas<br />

nos os delitos delitos omissiv omissivos<br />

omissiv os<br />

damásio de jesus,<br />

ex-procura<strong>do</strong>r de justiça, presidente <strong>do</strong><br />

complexo jurídico “damásio de jesus”


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 53<br />

CONCURSO DE PESSOAS<br />

NOS DELITOS OMISSIVOS<br />

Damásio de Jesus<br />

Os crimes podem ser comissivos ou omissivos. Comissivos são<br />

os pratica<strong>do</strong>s mediante ação, como, no homicídio, atirar na vítima,<br />

golpeá-la etc. Crimes omissivos, ensina CLAUS ROXIN, são infrações de<br />

dever, em que autor não pode ser qualquer pessoa, e sim a quem<br />

incumbe a obrigação concreta de evitar o resulta<strong>do</strong> descrito no tipo1 .<br />

Ex.: aban<strong>do</strong>no material (Código Penal, art. 244). Nesses delitos, o dever<br />

de agir “não deriva propriamente de fundamentos positivos, mas de<br />

exigências de solidarismo <strong>do</strong> homem para com outros homens dentro<br />

da comunidade” 2 . Classificam-se em omissivos próprios e impróprios.<br />

Crimes omissivos próprios ou puros são os que se perfazem<br />

com a simples não-realização de um ato espera<strong>do</strong>, independentemente<br />

de um evento posterior. A afetação jurídica <strong>do</strong> interesse protegi<strong>do</strong> é<br />

objetivamente imputada ao sujeito pela simples omissão normativa. Ex.:<br />

omissão de socorro, que se consuma com a abstenção de prestação<br />

de assistência ao necessita<strong>do</strong>, não se condicionan<strong>do</strong> a forma simples<br />

a qualquer conseqüência jurídica.<br />

Denominam-se delitos omissivos impróprios (impuros ou<br />

comissivos por omissão) aqueles em que o sujeito, absten<strong>do</strong>-se de<br />

realizar a esperada conduta impeditiva <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> jurídico, deixa que<br />

ele ocorra. Neles, o evento está liga<strong>do</strong> normativamente à abstenção da<br />

realização da conduta impeditiva a qual o “garante” omitente estava<br />

obriga<strong>do</strong>. São crimes materiais, de conduta e resulta<strong>do</strong>3 . A atuação<br />

1 Autoría y Dominio de Hecho en Derecho Penal. Trad. Joaquín Cuello Contreras e José Luis<br />

Serrano Gonzáles de Murillo. Madri: Marcial Pons, 2000. p. 498.<br />

2 DIAS, Figueire<strong>do</strong>. Direito Penal. Coimbra: Universidade de Coimbra, 1975. p.166.<br />

3 DA ROCHA, Fernan<strong>do</strong> A. N. Galvão. Imputação objetiva nos delitos omissivos. Revista Brasileira<br />

de Ciências Criminais, São Paulo, vol. 33, p. 118, n. 7, jan.-mar.<strong>2001</strong>.


54<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

esperada não é um comportamento positivo qualquer, mas uma ação<br />

que possivelmente obstaria a afetação jurídica <strong>do</strong> bem penalmente<br />

protegi<strong>do</strong>4 . O art. 13, § 2.º, <strong>do</strong> CP disciplina a imputação objetiva nos<br />

delitos omissivos impróprios, descreven<strong>do</strong> elementos normativos <strong>do</strong><br />

tipo5 . Ex.: a mãe deixa de alimentar o filho de tenra idade, vin<strong>do</strong> a vítima<br />

a falecer. Responde por homicídio (delito comissivo por omissão). São<br />

descritos em tipos abertos, compostos de uma figura típica<br />

incrimina<strong>do</strong>ra e de uma norma de extensão prevista na Parte Geral,<br />

que impõe a obrigação de agir, exigin<strong>do</strong> sempre “a atividade integra<strong>do</strong>ra<br />

<strong>do</strong> Juiz” 6 . Na omissão imprópria, encontramos delitos omissivos e não<br />

comissivos. Isso decorre da cláusula genérica de conversão de crimes<br />

ativos em omissivos prevista no art. 13, § 2.º, <strong>do</strong> CP.<br />

Nos delitos omissivos, sejam próprios ou impróprios, comuns<br />

ou que contenham no tipo uma condição especial <strong>do</strong> autor (crimes<br />

próprios), não há co-autoria ou participação mediante omissão.<br />

Realmente, uma das formas de concurso de pessoas, a co-autoria,<br />

na lição de Johannes Wessels, baseia-se no princípio “<strong>do</strong> atuar em<br />

divisão de trabalho e na distribuição funcional <strong>do</strong>s papéis”,<br />

consideran<strong>do</strong> o co-autor um “colabora<strong>do</strong>r e parceiro da resolução<br />

comum para o fato e da realização comunitária <strong>do</strong> tipo, de forma que<br />

as contribuições individuais completam-se num to<strong>do</strong> unitário, deven<strong>do</strong><br />

o resulta<strong>do</strong> final ser imputa<strong>do</strong> a to<strong>do</strong>s os participantes” 7 .<br />

Nos delitos de conduta negativa, não se pode dizer que a<br />

omissão de um sujeito constitui parte <strong>do</strong> to<strong>do</strong>, que a conduta omissiva<br />

de um completa a <strong>do</strong> outro, que há divisão de tarefas etc. Como diz<br />

Beatriz Vargas Ramos, “a omissão não é fracionável”, não se constatan<strong>do</strong>,<br />

sob o aspecto objetivo, uma “obra comum” 8 . O dever de atuar,<br />

4 SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María. El Delito de Omisión: Concepto y Sistema. Barcelona: Bosch,<br />

1986. p. 281 e ss.<br />

5 REALE JÚNIOR, Miguel. Teoria <strong>do</strong> Delito. São Paulo: Revista <strong>do</strong>s Tribunais, 1998. p. 184, n. 3.3.<br />

6 FRANCO, Alberto Silva. Crimes comissivos por omissão. In: FRANCO, Alberto Silva. Temas de<br />

Direito Penal. São Paulo: Saraiva, 1986. p. 52. Para Silva Franco, esse sistema acarreta “o<br />

surgimento de um dispositivo penal de duvi<strong>do</strong>sa constitucionalidade por representar um flagrante<br />

agravo ao princípio da legalidade”. (p. 40)<br />

7 Direito Penal: Parte Geral. Trad. Juarez Tavares. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor,<br />

1976. p. 121.<br />

8 Do Concurso de Pessoas. Belo Horizonte: Del Rey, 1996. p. 153.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 55<br />

observa NILO BATISTA, “é indecomponível” 9 . Suponha-se que vários<br />

sujeitos encontrem uma pessoa se afogan<strong>do</strong> e, poden<strong>do</strong> salvá-la sem<br />

risco pessoal, deixem-na morrer. Há tantos crimes de omissão de<br />

socorro quantos sejam os omitentes10 , uma vez que não é admissível<br />

que os autores possam repartir comportamentos negativos11. Não existe co-autoria na omissão imprópria. Imagine que<br />

pai e mãe, de comum acor<strong>do</strong>, venham a matar uma criança por falta<br />

de aleitamento. Há <strong>do</strong>is autores diretos de homicídios <strong>do</strong>losos. Como<br />

diz Nilo Batista, “a omissão de um não completa a omissão <strong>do</strong> outro” 12 .<br />

9 Concurso de Agentes. Rio de Janeiro: Liber Juris, 1979. p. 65.<br />

Damásio Evangelista de Jesus,<br />

ex-Procura<strong>do</strong>r de Justiça, Professor de Direito Penal,<br />

Presidente <strong>do</strong> Complexo Jurídico “Damásio de Jesus”<br />

10 PRADO, Luis Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro: Parte Geral. São Paulo: Revista <strong>do</strong>s<br />

Tribunais, 1999. p. 269.<br />

11 CALVO, Julio J. Casende. Problemas de autoría y participación en relación con los delitos de<br />

homicidio y asesinato. In: CALVO, Julio J. Casende. Delitos Contras las Personas. Madri: Consejo<br />

General del Poder Judicial, 1999. p. 151; PRADO, Luis Regis. Loc. cit.<br />

12 BATISTA, Nilo. Loc. cit. No mesmo senti<strong>do</strong> da inexistência de co-autoria e sim autorias: JAKOBS,<br />

Günther. Derecho Penal: Parte General. Trad. Joaquín Cuello Contreras e José Luis Gonzáles de<br />

Murillo. Madri: Marcial Pons, 1997. p. 791; Idem. La omisión: esta<strong>do</strong> de la cuestión. In: JAKOBS,<br />

Günther. Sobre el Esta<strong>do</strong> de la Teoría del Delito. Madri: Civitas, 2000. p. 142-143, n. 3; BACIGALUPO,<br />

Enrique. Derecho Penal: Parte General. Buenos Aires: Hammurabi, 1999. p. 564, n. 1.158.


eincidência reincidência específica específica específica e<br />

e<br />

livramento livramento condicional<br />

condicional<br />

damásio de jesus,<br />

ex-procura<strong>do</strong>r de justiça, presidente<br />

<strong>do</strong> complexo jurídico “damásio de jesus”


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 59<br />

REINCIDÊNCIA ESPECÍFICA<br />

E LIVRAMENTO CONDICIONAL<br />

Damásio de Jesus<br />

O art. 83, V, <strong>do</strong> Código Penal, com redação da Lei <strong>do</strong>s Crimes<br />

Hedion<strong>do</strong>s1 , relacionan<strong>do</strong> os requisitos <strong>do</strong> livramento condicional, exige<br />

que o condena<strong>do</strong> tenha cumpri<strong>do</strong> mais de <strong>do</strong>is terços da pena nos<br />

casos de ter pratica<strong>do</strong> delito hedion<strong>do</strong>, tortura, tráfico de drogas ou<br />

terrorismo, desde que não seja reincidente em crimes dessa natureza.<br />

Apresentam-se duas condições:<br />

1.ª) cumprimento de mais de <strong>do</strong>is terços da pena;<br />

2.ª) que não haja reincidência específica nos delitos<br />

indica<strong>do</strong>s no inciso2 .<br />

Assim, sen<strong>do</strong> o sujeito reincidente específico em tais crimes, não<br />

é admissível o livramento condicional. Há reincidência específica, para<br />

efeito da disposição, quan<strong>do</strong> o sujeito, já ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> irrecorrivelmente<br />

condena<strong>do</strong> por qualquer um <strong>do</strong>s delitos relaciona<strong>do</strong>s3 , vem novamente<br />

a cometer um deles, observa<strong>do</strong> o art. 64, I, <strong>do</strong> CP4 . Exemplos: tráfico<br />

de drogas e estupro; latrocínio e latrocínio; latrocínio e tortura; terrorismo<br />

e extorsão mediante seqüestro etc. Nesses casos, a pena deve ser<br />

cumprida integralmente em regime fecha<strong>do</strong>5 .<br />

1 Lei n. 8.072, de 25.7.1990.<br />

2 Sem prejuízo da necessidade de preenchimento das outras condições <strong>do</strong> art. 83.<br />

3 Nesse senti<strong>do</strong>: MIRABETE. Código Penal Interpreta<strong>do</strong>. São Paulo: Atlas, 2000. p. 468, n. 83.4.<br />

De maneira que não há reincidência específica quan<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s delitos não se encontra no elenco<br />

<strong>do</strong> inc. V <strong>do</strong> art. 83.<br />

4 Temporariedade <strong>do</strong> efeito de a sentença condenatória gerar a reincidência.<br />

5 Lei n. 8.072/90, art. 2.º, § 1.º.


60<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

O referi<strong>do</strong> inc. V, por dispor sobre norma prejudicial de direito<br />

penal material, não tem efeito retroativo6 . Dessa forma, pode ser aplica<strong>do</strong><br />

o livramento condicional no caso de ter si<strong>do</strong> cometi<strong>do</strong> o primeiro crime<br />

antes da vigência da Lei n. 8.072/90, ainda que os <strong>do</strong>is delitos estejam<br />

previstos em seu elenco (ex.: estupro e latrocínio), desde que cumpri<strong>do</strong>s<br />

mais de <strong>do</strong>is terços da pena. Entendemos que a lei, na parte que impede<br />

o livramento condicional em face da reincidência específica, só incide<br />

quan<strong>do</strong> os <strong>do</strong>is delitos tenham si<strong>do</strong> cometi<strong>do</strong>s em sua vigência7 .<br />

Esse entendimento acaba de ser a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> pelo <strong>Superior</strong><br />

Tribunal de Justiça. No HC n. 14.532, a 6.ª Turma, em 28.8.<strong>2001</strong>, por<br />

votação unânime, rel. o Ministro Fernan<strong>do</strong> Gonçalves, decidiu que “a<br />

reincidência específica, de que trata o art. 83, V, <strong>do</strong> CP, com redação<br />

dada pela Lei n. 8.072/90, somente se perfectibiliza quan<strong>do</strong> ambos os<br />

delitos tenham si<strong>do</strong> cometi<strong>do</strong>s já na vigência <strong>do</strong> menciona<strong>do</strong> diploma<br />

legal, não sen<strong>do</strong> suficiente que somente o último crime tenha ocorri<strong>do</strong><br />

sob a égide da Lei <strong>do</strong>s Crimes Hedion<strong>do</strong>s” 8 .<br />

Damásio Evangelista de Jesus,<br />

ex-Procura<strong>do</strong>r de Justiça, Professor de Direito Penal,<br />

Presidente <strong>do</strong> Complexo Jurídico “Damásio de Jesus”<br />

6 CF, art. 5.º, XL.<br />

7 Nesse senti<strong>do</strong>: FRANCO, Alberto Silva. Código Penal e sua Interpretação Jurisprudencial. Parte<br />

Geral. 7.ª ed. São Paulo: Revista <strong>do</strong>s Tribunais, <strong>2001</strong>. vol. I, p. 1.559, n. 2.03.<br />

8 DJU, Brasília, 24.9.<strong>2001</strong>, p. 347.


imputação imputação imputação objetiva objetiva e<br />

e<br />

ações ações a a próprio próprio risco<br />

risco<br />

damásio de jesus,<br />

ex-procura<strong>do</strong>r de justiça, presidente<br />

<strong>do</strong> complexo jurídico “damásio de jesus”


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 63<br />

IMPUTAÇÃO OBJETIVA<br />

E AÇÕES A PRÓPRIO RISCO<br />

Damásio de Jesus<br />

Há casos em que a vítima contribui decisivamente para a produção<br />

<strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> danoso, o que a <strong>do</strong>utrina denomina “ações a próprio risco”,<br />

permitin<strong>do</strong> que parte <strong>do</strong>s normativistas1 exclua a imputação objetiva <strong>do</strong><br />

autor, isentan<strong>do</strong>-o de responsabilidade penal. Em nossa obra Imputação<br />

Objetiva, apresentamos a história <strong>do</strong> “ébrio insistente”:<br />

“No final de uma festa, Pedro, após ingerir grande quantidade de<br />

bebida alcoólica, solicita a Antônio, visivelmente embriaga<strong>do</strong>, que o leve<br />

de automóvel até a sua residência. Antônio diz que está voltan<strong>do</strong> para<br />

casa a pé, uma vez que não tem condições de dirigir. Pedro insiste e<br />

Antônio aquiesce. Há um desastre e Pedro morre” 2 .<br />

Aprecian<strong>do</strong> as soluções, afirmamos que existem duas posições:<br />

1. a ) Há imputação objetiva <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong>, responden<strong>do</strong> o<br />

motorista pela morte da vítima;<br />

2. a ) Fica afastada a imputação objetiva <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong>, tratan<strong>do</strong>-se<br />

de conduta a próprio risco excludente da tipicidade3 .<br />

Jairo José Gênova, na excelente obra lançada pela <strong>Escola</strong> <strong>Superior</strong><br />

<strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> de São Paulo, Teoria da Imputação Objetiva e Teoria<br />

<strong>do</strong> Domínio <strong>do</strong> Fato4 , em artigo intitula<strong>do</strong> “O comportamento da vítima e<br />

1 Defensores da teoria da imputação objetiva.<br />

2 São Paulo: Saraiva, 2000. p. 59.<br />

3 Idem, ibidem, p. 60.<br />

4 São Paulo: Imprensa Oficial, 2000. n. 1. Caderno Jurídico.


64<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

a teoria da imputação objetiva” 5 , comentan<strong>do</strong> o nosso exemplo, afirma:<br />

“Há os que sustentam que o motorista não responde pelo<br />

dano, pois a conduta da vítima foi a próprio risco” 6 .<br />

E cita-nos na nota de rodapé n.º 11.<br />

Não é a nossa opinião. Sobre o exemplo e outros que com ele<br />

guardam similitude7 , dissemos:<br />

“Há imputação objetiva, responden<strong>do</strong> o balseiro, o motorista<br />

<strong>do</strong> passageiro apressa<strong>do</strong> e o ébrio pelo resulta<strong>do</strong> morte (é<br />

a nossa posição). As vítimas consentiram em sofrer o risco,<br />

não a afetação jurídica (resulta<strong>do</strong> normativo). A teoria <strong>do</strong><br />

consentimento não pode ser aplicada, uma vez que, de<br />

acor<strong>do</strong> com seus princípios, o ofendi<strong>do</strong> aceita o evento lesivo<br />

e não o risco. Além disso, as condutas <strong>do</strong>s autores superam<br />

as que carregam o risco permiti<strong>do</strong>. Assim, a travessia de<br />

um rio em barco já apresenta um risco permiti<strong>do</strong>; durante<br />

tempestade, risco proibi<strong>do</strong>, além de o balseiro apresentarse<br />

na posição de “garante”. Dirigir veículo de forma normal<br />

contém um risco tolera<strong>do</strong>; em excesso de velocidade ou<br />

em esta<strong>do</strong> de embriaguez, um perigo proibi<strong>do</strong>. Não se pode<br />

dizer que o balseiro e o motorista observaram o cuida<strong>do</strong><br />

objetivo necessário” 8 .<br />

Fica o registro corretivo, observan<strong>do</strong> a valiosa contribuição de<br />

Jairo José Gênova ao estu<strong>do</strong> da teoria da imputação objetiva.<br />

5 Op. cit. p. 41.<br />

6 Idem, ibidem, p. 45.<br />

Damásio Evangelista de Jesus,<br />

ex-Procura<strong>do</strong>r de Justiça, Professor de Direito Penal,<br />

Presidente <strong>do</strong> Complexo Jurídico “Damásio de Jesus”<br />

7 Casos <strong>do</strong> balseiro e <strong>do</strong> passageiro apressa<strong>do</strong>.<br />

8 Op. cit. p. 61.


o o o la<strong>do</strong> la<strong>do</strong> anacrônico<br />

anacrônico<br />

na na ref reforma ref orma <strong>do</strong><br />

<strong>do</strong><br />

artigo artigo 28 28 <strong>do</strong> <strong>do</strong> cpp<br />

cpp<br />

josé ademir campos borges,<br />

4.º promotor de justiça de barretos


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 67<br />

O LADO ANACRÔNICO NA<br />

REFORMA DO ARTIGO 28 DO CPP<br />

José Ademir Campos Borges<br />

O <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>, titular da ação penal, tem legítimo e manifesto<br />

interesse nas inovações da legislação processual penal.<br />

A propósito, no anteprojeto sobre a investigação policial, chama<br />

a atenção a redação proposta ao artigo 28 <strong>do</strong> CPP, na parte em que<br />

determina a remessa obrigatória de to<strong>do</strong> e qualquer arquivamento de<br />

inquérito policial ou peça de informação à apreciação <strong>do</strong> órgão <strong>Superior</strong><br />

<strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>.<br />

Tal dispositivo nada mais é <strong>do</strong> que uma versão piorada <strong>do</strong> arcaico<br />

reexame necessário das decisões judiciais desfavoráveis ao Esta<strong>do</strong>,<br />

cuja supressão integra a pauta de reforma <strong>do</strong> Judiciário.<br />

Para<strong>do</strong>xalmente, a excrescência que se pretende banir da área<br />

processual civil querem introduzir no âmbito <strong>do</strong> processo penal, mais<br />

especificamente no tocante à investigação policial.<br />

O legisla<strong>do</strong>r precisará distanciar-se milhas e milhas da realidade<br />

para admitir em nosso ordenamento jurídico processual penal tamanho<br />

disparate, e nesse seu distanciamento inconseqüente e insensato, fruto<br />

de idéias saídas provavelmente <strong>do</strong> próprio <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>,<br />

transformará o órgão superior <strong>do</strong> Parquet num agiganta<strong>do</strong> cartório de<br />

delegacia de polícia, que para sobreviver exigirá a contratação de número<br />

incalculável de servi<strong>do</strong>res, tu<strong>do</strong> para fazer com que a conhecida e<br />

eficiente burocracia possa ir adiante, no seu interminável bater de<br />

carimbos, elevan<strong>do</strong> os gastos da instituição num tempo em que se<br />

busca enxugar a máquina estatal.<br />

Uma vez concretizada, a pretensa inovação <strong>do</strong> artigo 28, certamente,<br />

produzirá uma expansão funcional sem precedentes nos


68<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

quadros <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>, exigin<strong>do</strong> investimentos para o aparelhamento<br />

<strong>do</strong> órgão superior desenvolver as novas e perfeitamente<br />

dispensáveis atividades.<br />

Dispensáveis, sim, porquanto outras formas de controle de<br />

arquivamento de inquérito e peças de informações poderão ser imaginadas<br />

sem que a sociedade pague custo tão eleva<strong>do</strong> para isso.<br />

Chega à beira <strong>do</strong> risível dizer que, com a mudança prevista no<br />

anteprojeto, a lei processual estará em harmonia com o modelo<br />

acusatório a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> pelo nosso ordenamento jurídico. Essa afirmativa<br />

não passa de um jogo de palavras, enfim de sedutora retórica.<br />

Ora, a sociedade brasileira precisa de um modelo de investigação<br />

policial ágil, seguro, eficiente e que não gere ao erário despesas<br />

inimagináveis. A remessa obrigatória ao órgão superior de todas as<br />

peças de informações e inquéritos arquiva<strong>do</strong>s que tramitam em primeira<br />

instância nas delegacias desse Brasil, como se pretende, exigirá incontáveis<br />

modificações estruturais em to<strong>do</strong> o <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> para<br />

recepcionar a mudança assinalada. E a sociedade brasileira, pode, em<br />

tempo de tamanha desolação, dar-se a esse luxo?<br />

Não me ilu<strong>do</strong>, imaginan<strong>do</strong> que a feraz expansão funcional e<br />

material decorrente da modificação pretendida <strong>do</strong> artigo 28 <strong>do</strong> CPP surja<br />

como fator de fortalecimento <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>. Ao contrário. A<br />

instituição estará dan<strong>do</strong> passos irremediáveis para seu ingresso no<br />

mun<strong>do</strong> das instituições obesas, poden<strong>do</strong>, num curto espaço de tempo,<br />

experimentar as conseqüências nefastas da concreção desse desejo<br />

maléfico retrata<strong>do</strong> no anteprojeto.<br />

O artigo 28 <strong>do</strong> CPP, na forma –e não na reforma– prevista, é<br />

instrumento procedimental que não abala a autonomia <strong>do</strong> Promotor de<br />

Justiça. Muito pelo contrário, afiguran<strong>do</strong>-se autêntico recurso <strong>do</strong> magistra<strong>do</strong><br />

diante <strong>do</strong> órgão ministerial, que no exercício exclusivo da ação<br />

penal optou pelo arquivamento <strong>do</strong> inquérito.<br />

Se o propósito da aludida remessa obrigatória é fiscalizar a ação<br />

<strong>do</strong> Promotor de Justiça de primeiro grau, que se faça por mecanismos<br />

já existentes (ex.: fiscalização freqüente de integrantes <strong>do</strong>s órgãos


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 69<br />

superiores às promotorias), ou que sejam criadas formas de controle<br />

menos onerosa e que não venham proporcionar o inchaço <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong><br />

<strong>Público</strong>; se, no entanto, o propósito da modificação <strong>do</strong> famigera<strong>do</strong> artigo<br />

28 é afastar de vez a figura da autoridade judiciária de qualquer interferência<br />

no inquérito policial, como se ao Judiciário não interessassem<br />

as mentiras e verdades que pulsam no inquérito, a questão, nesse caso,<br />

toma forma de odioso corporativismo, que benefício algum trará ao<br />

ordenamento jurídico ou ao <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>. A sociedade e o MP,<br />

certamente, não sairão engrandeci<strong>do</strong>s pela pretensa inovação legislativa,<br />

porquanto estará a nova redação <strong>do</strong> artigo 28 impregnada de tola,<br />

vazia e dispendiosa vaidade.<br />

Será que os idealiza<strong>do</strong>res da aludida remessa obrigatória, verdadeira<br />

contra-revolução processual, imaginaram o tamanho <strong>do</strong> rombo<br />

que tal medida geraria às burras <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>?<br />

O fato é que a redação proposta ao artigo 28, no tocante à<br />

remessa obrigatória <strong>do</strong> inquérito policial ao órgão superior <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong><br />

<strong>Público</strong>, representa evidente retrocesso –de custo social nenhum pouco<br />

desprezível– à persecução penal em sua fase inquisitiva, e, por isso,<br />

espera-se <strong>do</strong> legisla<strong>do</strong>r um não mastodôntico a esse luxo perdulário,<br />

que na essência de novo nada traz para aprimorar ou atender as<br />

necessidades prementes da moderna investigação policial.<br />

José Ademir Campos Borges,<br />

4º Promotor de Justiça de Barretos


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 71<br />

prisão prisão cautelar<br />

cautelar<br />

josé carlos mascari bonilha,<br />

promotor em são paulo, professor<br />

de direito processual penal e mestre<br />

em direito processual penal (puc)


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 73<br />

PRISÃO CAUTELAR<br />

José Carlos Mascari Bonilha<br />

Impende registrar, desde logo, que a realidade social brasileira,<br />

que não difere, nesse particular aspecto, das realidades <strong>do</strong>s demais<br />

países da América Latina, evidencia a existência de tormentosa e<br />

crescente criminalidade, que traz profundas e angustiantes inquietações<br />

à toda a comunidade.<br />

A descontrolada corrupção, somada ao desenfrea<strong>do</strong> tráfico ilícito<br />

não só de substâncias entorpecentes, causa<strong>do</strong>ras de dependência física<br />

e psíquica, mas também de armas de fogo; os delitos que atentam, entre<br />

outros bens jurídicos, contra o patrimônio, contra a pessoa e contra a<br />

vida; as viscerais e severas, porquanto péssimas, distorções no que<br />

pertine a distribuição de rendas e a descrença na classe política, maculada<br />

pelos incontáveis episódios vexamosos que envolvem integrantes<br />

<strong>do</strong>s Poderes Legislativo e Executivo; a ainda embrionária, porém concreta,<br />

preocupação com a retidão <strong>do</strong>s opera<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Direito, assentada em<br />

esporádicos, mas reais, fatos que enxovalham a reputação de incontida<br />

dignidade <strong>do</strong>s Magistra<strong>do</strong>s; a falta de confiança em relação a parte de<br />

ambas as polícias (judiciária e militar), implicam a ocorrência de um quadro<br />

conspurca<strong>do</strong> que se revela dentro de um contexto de futuro sombrio.<br />

Tu<strong>do</strong> isso, agora singelamente recorda<strong>do</strong>, permite que seja<br />

alcançada a conclusão segun<strong>do</strong> a qual se afigura imprescindível a tomada<br />

de providências tendentes à recuperação da dignidade social. Interessanos,<br />

por ora, é bem verdade, e não podemos perder de vista, o campo<br />

<strong>do</strong> Direito e, observa<strong>do</strong> esse perímetro, o Direito Processual Penal.<br />

É cediço que os diplomas jurídicos prestam-se para regular<br />

relações sociais e, nessa ordem de idéias, o Brasil está <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de uma<br />

constituição avançadíssima, que consagra, expressamente, entre<br />

outras, alcan<strong>do</strong>radas à categoria de princípios, garantias de indisfarçável<br />

relevância, tais como a <strong>do</strong> devi<strong>do</strong> processo legal; a presunção <strong>do</strong>


74<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

esta<strong>do</strong> de inocência; a <strong>do</strong> contraditório; a da ampla defesa; a da<br />

necessidade de motivação das decisões judiciais; a da publicidade; a<br />

<strong>do</strong> sistema acusatório; a <strong>do</strong> juiz natural. No que pertine às prisões,<br />

vem a pêlo averbar que somente são concebidas mediante ordem escrita<br />

e fundamentada de juiz de direito. Por outro la<strong>do</strong>, deve haver comunicação<br />

à família <strong>do</strong> preso, reservan<strong>do</strong>-se-lhe assistência de advoga<strong>do</strong>,<br />

identificação <strong>do</strong>s responsáveis pela prisão etc. Viu-se banida, entre nós,<br />

a prisão administrativa, na medida em que se exige o controle jurisdicional<br />

em face de to<strong>do</strong> e qualquer encarceramento.<br />

Cabe lembrar que a legislação pré-existente à vigente Constituição<br />

Federal, apresentava-se assaz rigorosa, valen<strong>do</strong> frisar que o art. 594 <strong>do</strong><br />

Código de Processo Penal já exige a prisão para recorrer. À semelhança,<br />

o art. 595 <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> código prevê a deserção, em caso de fuga. A Lei<br />

6.368/76, especificamente em seu art. 35, impõe a prisão para que o<br />

sentencia<strong>do</strong> recorra, nas hipóteses de cometimento <strong>do</strong>s crimes defini<strong>do</strong>s<br />

nos seus arts.12;13 e 14 (que cuidam <strong>do</strong> tráfico de drogas).<br />

Todavia, a legislação ordinária superveniente à entrada em vigor da<br />

Carta Política, ou seja, a ordem legal infra-constitucional construída em<br />

época contemporânea a da Constituição Federal, aparentemente e por<br />

intermédio de um juízo açoda<strong>do</strong>, negou a influência <strong>do</strong>s vetores<br />

constitucionais, em especial porque foi possível verificar-se o crescimento<br />

das hipóteses de prisões precedentes ao trânsito em julga<strong>do</strong> da<br />

condenação e uma diminuição das liberdades individuais processuais.<br />

À guisa de exemplos, podem ser citadas a Lei que instituiu a prisão<br />

temporária (7.960/89), cria<strong>do</strong>ra de uma nova custódia, reservada para a<br />

fase pré-processual ( investigatória) e que, consorciada com a Lei que<br />

define os crimes hedion<strong>do</strong>s (8.072/90) tolera a manutenção <strong>do</strong> investiga<strong>do</strong>,<br />

no cárcere, por um perío<strong>do</strong> de até sessenta dias. Bem a propósito,<br />

a Lei <strong>do</strong>s crimes hedion<strong>do</strong>s (8.072/90) veda liberdade provisória e fiança,<br />

além de impor regime integralmente fecha<strong>do</strong> durante a execução da<br />

sentença penal, não deferin<strong>do</strong>, assim, a forma progressiva de execução<br />

penal. Por fim, mencionada Lei veda a concessão da anistia, da graça e<br />

<strong>do</strong> indulto. A Lei antitruste (8.884/94), por seu turno, introduziu um novo<br />

fundamento para a decretação da prisão preventiva. A Lei <strong>do</strong> crime<br />

organiza<strong>do</strong> (9.034/95) ve<strong>do</strong>u a concessão de fiança, bem como de


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 75<br />

liberdade provisória e impossibilitou o recurso em liberdade. A Lei de<br />

tortura (9.455/95) ve<strong>do</strong>u a concessão de fiança, como também da<br />

anistia e da graça.<br />

Malgra<strong>do</strong> permita liberdade provisória e recurso em liberdade, a<br />

jurisprudência vem negan<strong>do</strong> a extensão desses benefícios aos demais<br />

crimes considera<strong>do</strong>s hedion<strong>do</strong>s ou assemelha<strong>do</strong>s. A Lei de lavagem<br />

de dinheiro (9.613/98), por derradeiro, ve<strong>do</strong>u a concessão de fiança e<br />

de liberdade provisória.<br />

Em tempos mais distantes, algumas Leis já haviam introduzi<strong>do</strong><br />

modificações na nossa ordem processual penal, visan<strong>do</strong> ao abrandamento<br />

<strong>do</strong>s dispositivos mais rígi<strong>do</strong>s. A Lei 5.349/67 aboliu, com acerto,<br />

diga-se de passagem, a prisão preventiva obrigatória. A Lei 5.941/73<br />

alterou o art. 594 <strong>do</strong> Código de Processo Penal, para permitir, ao primário<br />

e de bons antecedentes, o recurso em liberdade. A Lei 6.416/77 modificou<br />

o art. 310 <strong>do</strong> Código de Processo Penal, acrescentan<strong>do</strong>-lhe o parágrafo<br />

único, a fim de propiciar a concessão de liberdade provisória vinculada,<br />

porém sem fiança. Vinculada porque condiciona a liberdade processual<br />

ao comparecimento <strong>do</strong> beneficiário aos atos <strong>do</strong> processo para os quais<br />

tenha si<strong>do</strong> notifica<strong>do</strong>.<br />

A legislação ordinária, depois da entrada em vigor da Constituição<br />

Federal, vale dizer, sob a sua vigência, ampliou prisões e restringiu a<br />

liberdade <strong>do</strong> imputa<strong>do</strong>.<br />

A jurisprudência pre<strong>do</strong>minante seguiu a trilha aberta pela legislação.<br />

A <strong>do</strong>utrina, em boa parte, não se orientou da mesma forma,<br />

atribuin<strong>do</strong> o desacerto <strong>do</strong> legisla<strong>do</strong>r, avaliza<strong>do</strong> pelos aplica<strong>do</strong>res da lei,<br />

ao desatendimento <strong>do</strong>s preceitos constitucionais.<br />

Penso, humildemente, que assim não é, em especial porque se<br />

as leis não estivessem em conformidade com os princípios constitucionais,<br />

expressos ou implícitos, teriam si<strong>do</strong> declaradas inconstitucionais,<br />

perden<strong>do</strong>, por óbvio, a validade.<br />

Deveras, esse segmento <strong>do</strong>utrinário demonstra interpretar<br />

equivocadamente a Constituição da República, posto que o seu espírito<br />

não parece ser o retrata<strong>do</strong> pela <strong>do</strong>utrina antes apontada.


76<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

A interpretação deve processar-se conforme a realidade social,<br />

de forma dinâmica.<br />

Vem a pêlo ponderar que o momento histórico de 1988<br />

(promulgação da Constituição Federal vigente no Brasil) , assim como<br />

o de 1789 (Declaração <strong>do</strong>s Direitos <strong>do</strong> Homem e <strong>do</strong> Cidadão), tinha<br />

como móvel pôr fim ao absolutismo e caminhar para o Esta<strong>do</strong><br />

Democrático de Direito, com realização de justiça social (preâmbulo e<br />

art. 1o . da CF). Buscava-se, em 1789 e 1988, refrear o braço forte <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong> autoritário. Em 1789, o abuso era pratica<strong>do</strong> pelo Esta<strong>do</strong> (que<br />

negava direitos fundamentais). Hoje, o abuso é pratica<strong>do</strong> pelo criminoso,<br />

em larga escala (que nega esses mesmos direitos fundamentais).<br />

A vida e a liberdade são tutela<strong>do</strong>s, continuam a ser. Mas, quem<br />

atenta contra esses bens não é mais o Esta<strong>do</strong> (entendi<strong>do</strong> aqui como o<br />

Esta<strong>do</strong>-Administração, corporifica<strong>do</strong> no <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> e o Esta<strong>do</strong>-<br />

Juiz), porque não há mais o processo inquisitivo, expurga<strong>do</strong> da nossa<br />

ordem jurídica, com a a<strong>do</strong>ção <strong>do</strong> sistema acusatório, no qual a “rainha<br />

das provas” ( a confissão <strong>do</strong> agente) era obtida mediante a perpetração<br />

da tortura. A prisão processual servia para a colheita da confissão,<br />

que bastava à lastrear o édito condenatório. Hoje, quem atenta contra<br />

esses bens tão caros é o criminoso. A criminalidade cresceu<br />

vertiginosamente e se organizou.<br />

Exige-se uma nova visão <strong>do</strong> texto constitucional, com a realidade<br />

vivida, para dar-lhe eficácia.<br />

Firmar a orientação política não segun<strong>do</strong> a realidade que<br />

movimentou a construção da Constituição Federal (em 1988), mas<br />

segun<strong>do</strong> a realidade de hoje.<br />

É preciso analisar o texto e seu contexto, forman<strong>do</strong>-se o<br />

denomina<strong>do</strong> círculo hermenêutico, porque a realidade é passível de<br />

alterações, modifican<strong>do</strong>-se com o passar <strong>do</strong>s tempos. E esse passar<br />

<strong>do</strong>s tempos tem recrudesci<strong>do</strong> a vida <strong>do</strong> povo brasileiro, mercê da<br />

delinqüência que se alastra ligeiramente, premin<strong>do</strong> as pessoas de bem<br />

à se acautelarem cada vez mais, colocan<strong>do</strong> grades nas portas e janelas<br />

de suas residências, instalan<strong>do</strong> diversos mecanismos de segurança<br />

pessoal e patrimonial, evitan<strong>do</strong> sair de suas casas durante horas


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 77<br />

avançadas nas noites etc., tu<strong>do</strong> para conquistar um mínimo satisfatório<br />

de segurança.<br />

A interpretação deve corresponder aos anseios da evolução<br />

social, na consonância com as preciosas lições de Celso Bastos.<br />

A interpretação não deve ser estática e tem que se adaptar às<br />

necessidades dentro <strong>do</strong> contexto variante, deven<strong>do</strong> haver constante<br />

atualização da regra, sem alteração <strong>do</strong> texto.<br />

A realidade é cambiante e, por isso, não é o momento em que foi<br />

gerada a Constituição Federal que deve determinar sua interpretação.<br />

Não há contradição, pois, entre o ordenamento processual pátrio<br />

e a Constituição Federal, pois caso ocorresse a antinomia, haveria<br />

inconstitucionalidade das leis ordinárias, o que, repisa-se uma vez mais,<br />

não foi declara<strong>do</strong>.<br />

Há harmonia, porque a leitura <strong>do</strong>s dispositivos da Constituição<br />

Federal deve ser procedida de conformidade com o momento atual.<br />

O legisla<strong>do</strong>r infra-constitucional, sensível aos reclamos da<br />

sociedade, combalida pela proliferação infracional, fortaleceu os<br />

dispositivos legais ordinários, enrigecen<strong>do</strong> algumas normas, em perfeita<br />

compatibilidade com o texto constitucional.<br />

Estabelecidas essas premissas, apontadas como fundamento<br />

para o encadeamento <strong>do</strong> raciocínio que se pretende desenvolver,<br />

apoia<strong>do</strong> na modéstia de quem pretende apenas submeter seu ponto<br />

de vista à consideração de to<strong>do</strong>s e distancian<strong>do</strong>-se da arrogância<br />

daqueles que pretendem sepultar o assunto, jogan<strong>do</strong>, com sua opinião,<br />

a última pá de cal sobre a questão, torna-se factível o ingresso na análise<br />

acerca da prisão e liberdade, como instrumentos processuais.<br />

Apresenta-se, inicialmente, indispensável a observação que se<br />

hospeda na necessidade de existência de celeridade processual em<br />

ambas as instâncias, como proposto, aliás, pelo Pacto de San José da<br />

Costa Rica, para que se possa assegurar uma correta distribuição de<br />

Justiça. De igual forma, deve haver efetividade de defesa, no que pertine<br />

a produção das provas e utilização <strong>do</strong>s recursos, não parecen<strong>do</strong> existir


78<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

ampla defesa apenas com obediência a formalidades legais e cometimento<br />

de prazos para facultativas práticas de atos (como exemplos,<br />

citam-se a defesa prévia e a interposição de recursos). Visto como<br />

sujeito de direitos e não mero objeto de investigações, o agente é<br />

merece<strong>do</strong>r de efetivas e concretas oportunidades para o desenvolvimento<br />

de sua defesa, militan<strong>do</strong>, a seu favor, o princípio que assegura a<br />

presunção <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de inocência. Por este princípio, o réu não será<br />

condena<strong>do</strong>, caso não consiga provar sua inocência, porquanto a prova<br />

incumbe àquele que a alega. Desse raciocínio resulta inafastável que,<br />

se o autor da ação não lograr êxito na sua demanda, deve o imputa<strong>do</strong><br />

ser absolvi<strong>do</strong>, mesmo que não tenha sucesso em demonstrar sua<br />

inocência ( pois esta é presumida). No que se refere às cautelares, de<br />

igual sorte, o princípio incide em toda a sua extensão.<br />

A prisão cautelar tem lugar somente se indispensável, a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong>-se,<br />

por óbvio, a legalidade, a adequação e a proporcionalidade. A<br />

escala de graduação, que se estabelece pela existência de, por exemplo,<br />

fiança; liberdade vinculada; arresto; hipoteca legal, seqüestro, apreensão<br />

e prisões, indica a possibilidade de ser evita<strong>do</strong> o encarceramento no<br />

curso <strong>do</strong> processo, deixan<strong>do</strong> a privação de liberdade para a hipótese<br />

mais extremada.<br />

Merece, todavia, destaque a questão relativa a importância das<br />

cautelares, mormente porque, entre o nascimento, o desenvolvimento<br />

<strong>do</strong> processo e o seu provimento final, há, por vezes, um risco real de<br />

ocorrência de eventos que reúnem o condão de comprometerem a<br />

atuação jurisdicional ou afetarem a eficácia e utilidade da decisão.<br />

Por isso há, segun<strong>do</strong> Piero Calamandrei, o instrumento <strong>do</strong> instrumento,<br />

que são as cautelares, ou seja, as providências urgentes que<br />

visam a amenizar ou eliminar esses riscos.<br />

Nas hipótese nas quais não são a<strong>do</strong>tadas, nada obstante a incidência<br />

<strong>do</strong> binômio “periculum in mora” e “fumus boni iuris” a decisão<br />

pode não alcançar a satisfação <strong>do</strong> direito da parte, motivo pelo qual se<br />

exige a antecipação <strong>do</strong>s efeitos de um provimento definitivo para que<br />

seja assegurada sua eficácia.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 79<br />

A ocorrência de mora para a solução <strong>do</strong> litígio pode tornar inócua<br />

a decisão, sen<strong>do</strong> que a cautelar presta-se à servir ao processo e este<br />

ao Direito Material e à sociedade, consoante ensinamento de Cândi<strong>do</strong><br />

Rangel Dinamarco.<br />

Cautelares são mecanismos processuais que servem para<br />

superar os riscos inerentes ao processo, posto que a solução da lide<br />

demanda cuida<strong>do</strong> e, não raras vezes, o processo se protrai no tempo,<br />

razão pela qual as provas bem podem se perder.<br />

Há, nas cautelares, uma cognição superficial, premida e regida<br />

pela urgência na a<strong>do</strong>ção da medida. Há as cautelares pessoais (prisões,<br />

medidas de segurança, interdição de direitos); as reais (arresto, seqüestro,<br />

hipoteca legal, busca e apreensão); e as relativas à prova (produção<br />

antecipada de provas).<br />

Para todas , entrementes, há a premente necessidade da presença<br />

<strong>do</strong>s seguintes pressupostos: “periculum in mora” (ou “periculum<br />

libertatis”), que significa o perigo na demora da prestação jurisdicional.<br />

Em liberdade, o agente pode impedir a solução <strong>do</strong> litígio ou a aplicação<br />

da sanção e “fumus boni iuris”, que se traduz na existência de crime<br />

e indícios de autoria.<br />

As cautelares estão ligadas ao processo de conhecimento ou<br />

execução e têm natureza de instrumento. Só se justificam em razão<br />

de outro processo. Com elas, buscam-se investigar o fato, ressarcir o<br />

dano causa<strong>do</strong> pelo delito e/ou cumprir a sanção.<br />

Possuem, como características principais, a provisoriedade da<br />

tutela, a urgência e sumariedade de cognição.<br />

A prisão somente é aceita, durante o processo, se cautelar, pois, <strong>do</strong><br />

contrário, caracterizada estaria uma desenganada antecipação de pena.<br />

Há, segun<strong>do</strong> o magistério <strong>do</strong> nunca suficientemente festeja<strong>do</strong><br />

Antonio Magalhães Gomes Filho, uma duplicidade de fundamentos, que<br />

consiste, antes da sentença, no “periculum libertatis” e, depois da sentença,<br />

na personalidade <strong>do</strong> agente (fundamentalmente primariedade e<br />

bons antecedentes).


80<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

Os efeitos processuais gera<strong>do</strong>s pelas cautelares visam a garantir<br />

a produção de prova (cautela instrumental) e aplicação da sanção<br />

(cautela final). Aquela, procura obstar influências nefastas à reunião <strong>do</strong><br />

material probante e esta, por seu vez, procura impedir o desaparecimento<br />

<strong>do</strong> autor <strong>do</strong> fato, o que frustraria a efetividade <strong>do</strong> julga<strong>do</strong>. Noutras palavras,<br />

a cautela instrumental pretende assegurar a escorreita produção das<br />

provas, elidin<strong>do</strong> a influência de fatores que possam deturpá-las. A cautela<br />

final quer a asseguração da aplicação da lei penal.<br />

Há, igualmente, efeitos extraprocessuais, tais como a prevenção<br />

de novos crimes e a reação ao seu cometimento.<br />

Sempre e inexoravelmente mediante controle jurisdicional (prévio,<br />

como na maioria das hipóteses ou posterior, também denomina<strong>do</strong> de<br />

convalidação, como ocorre na prisão em flagrante delito), o que significa<br />

a existência de uma ordem escrita e fundamentada de autoridade judicial<br />

competente, a prisão cautelar assume condição de um poderoso<br />

instrumento e dela o processo não pode prescindir, notadamente porque<br />

sua utilidade salta aos olhos, quer por fornecer elementos garanti<strong>do</strong>res<br />

da manutenção da ordem pública, acalman<strong>do</strong> a sociedade ante a<br />

perpetração de determina<strong>do</strong>s delitos, que introduzem desacomodação<br />

<strong>do</strong> teci<strong>do</strong> social, quer por obstruir as nocivas influências que buscam<br />

distorcer as provas, quer, ainda, por viabilizar a eficácia da decisão judicial.<br />

Devem ser menciona<strong>do</strong>s, por oportunos e relevantes, os princípios<br />

que asseguram o juiz imparcial, o contraditório, o duplo grau de<br />

jurisdição, a fundamentação das decisões, a publicidade e a igualdade<br />

das partes perante a lei.<br />

Tem lugar a ressalva constitucional, alojada no art. 5o ., inciso LXI,<br />

pela qual não há necessidade da ordem escrita e fundamentada nos<br />

casos de flagrante delito, tampouco das transgressões militares e crimes<br />

militares propriamente ditos.<br />

De bom alvitre observar-se a norma contida no art. 5 o . , inciso<br />

LVII, da Constituição Federal, que prevê a presunção <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de<br />

inocência, máxime porque seu alcance não se cinge ao ônus da prova,<br />

vale dizer, o acusa<strong>do</strong>r tem que provar o que alega, uma vez que o réu<br />

não será condena<strong>do</strong> , caso não consiga provar sua inocência. O princípio


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 81<br />

em exame refere-se à prisão cautelar, posto que só será ela concebida<br />

antes <strong>do</strong> trânsito em julga<strong>do</strong>, se possuir natureza cautelar, ou seja, se<br />

for necessária em face de circunstâncias concretas que evidenciem o<br />

“fumus boni iuris” e o “periculum in mora “.<br />

A Constituição Federal preceitua, entre outras, diversas garantias<br />

ao preso, poden<strong>do</strong> ser relacionadas as que se acham contidas no art.<br />

5o , inciso LXII, que exige a comunicação da prisão à família <strong>do</strong> preso e<br />

ao magistra<strong>do</strong>; inciso LXIII, que salvaguarda o direito de permanecer<br />

cala<strong>do</strong>, além de deferir ao preso a assistência de advoga<strong>do</strong>, como<br />

também da família; inciso LXIV, que impõe a necessidade de identificação<br />

<strong>do</strong>s responsáveis pela prisão; inciso LXV, que ordena o relaxamento<br />

de prisão ilegal.<br />

Ao ser perpassada, em rápida analise, as prisões no curso <strong>do</strong><br />

processo, através da história, não será difícil identificar-se que, no Direito<br />

Eclesiástico, era muito utilizada, marcantemente porque as penas eram<br />

capital, de degre<strong>do</strong>, de banimento etc. A prisão era apenas a processual.<br />

No Direito Romano, destinava-se à compelir o agente ao comparecimento<br />

ao processo, para criar condições de aplicação da pena. Na<br />

Idade Média, com a disseminação <strong>do</strong> processo inquisitivo, com o<br />

escopo de ser angariada a “rainha das provas” (confissão), impunhase<br />

a tortura e, para se torturar, era preciso prender.<br />

Feito o despretencioso registro da história, é conveniente o<br />

enfoque de como a prisão foi tratada pelas Constituições brasileiras.<br />

1) Constituição Política <strong>do</strong> Império ( 25 de março de 1824).<br />

O art. 179, inciso VIII, previa que ninguém poderia ser preso sem<br />

culpa formada, exceto nos casos declara<strong>do</strong>s na lei; e nestes, dentro de<br />

vinte e quatro horas, contadas da entrada na prisão, sen<strong>do</strong> em cidades,<br />

vilas ou outras povoações próximas aos lugares da residência <strong>do</strong> juiz;<br />

e nos lugares remotos dentro de um prazo razoável, que a lei marcaria,<br />

atenta a extensão <strong>do</strong> território.<br />

O juiz por uma nota, dizia o dispositivo supra aludi<strong>do</strong>, por ele<br />

assinada, faria constar ao réu os motivos da prisão, os nomes de seu<br />

acusa<strong>do</strong>r e os das testemunhas, se houvessem;


82<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

O inciso IX previa que, ainda com culpa formada, ninguém seria<br />

conduzi<strong>do</strong> à prisão ou nela conserva<strong>do</strong> estan<strong>do</strong> já preso, se prestasse<br />

fiança idônea, nos casos em que a lei a admitisse; e em geral nos crimes<br />

que não tivessem maior pena <strong>do</strong> que a de seis meses de prisão, ou desterro<br />

para fora da comarca. Nesses casos, poderia o réu livrar-se solto.<br />

À exceção <strong>do</strong> flagrante delito, a prisão não poderia ser executada,<br />

era o que preconizava o inciso X, <strong>do</strong> art. 179, salvo por ordem escrita<br />

da autoridade legítima. Se a prisão fosse arbitrária, o juiz que deu a<br />

ordem e quem a tivesse requeri<strong>do</strong> seriam puni<strong>do</strong>s com as penas que a<br />

lei determinasse;<br />

O que ficava disposto acerca da prisão antes da culpa formada<br />

não compreendia as ordenança militares, nem mesmo o recrutamento<br />

<strong>do</strong> Exército; nem os casos que não eram puramente criminais, e em<br />

que a lei determinava todavia a prisão de alguma pessoa, por<br />

desobedecer aos manda<strong>do</strong>s da Justiça, ou não cumprisse alguma<br />

obrigação dentro de determina<strong>do</strong> prazo;<br />

As cadeias deveria ser limpas, seguras e bem arejadas, haven<strong>do</strong><br />

diversas casas para separação <strong>do</strong>s réus, conforme suas circunstâncias<br />

e natureza <strong>do</strong>s seus crimes, consoante inserto no inciso XXI, <strong>do</strong> art. 172;<br />

2) Constituição da República Federativa <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong> Brasil (24 de fevereiro de 1891).<br />

Havia previsão, no art. 72, parágrafo 13, de que, à exceção <strong>do</strong><br />

flagrante delito, a prisão não poderia executar-se, senão depois de<br />

pronúncia <strong>do</strong> indicia<strong>do</strong>, salvos os casos determina<strong>do</strong>s em lei, e mediante<br />

ordem escrita da autoridade competente;<br />

Ninguém seria conserva<strong>do</strong> em prisão sem culpa formada, salvas<br />

as exceções especificadas em lei, nem leva<strong>do</strong> à prisão ou nela deti<strong>do</strong>,<br />

se prestasse fiança idônea, nos casos em que a lei a admitisse. Era o<br />

que previa o parágrafo 14;<br />

Ficava abolida a pena de galés, consoante art. 72, parágrafo 20;<br />

O “habeas-corpus”, com assento no art. 72, parágrafo 22, ficava<br />

reserva<strong>do</strong> para casos em que o indivíduo sofresse ou se achasse na


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 83<br />

iminência de sofrer violência ou coação, por ilegalidade ou abuso<br />

<strong>do</strong> poder;<br />

3) Constituição de 24 de fevereiro de 1891, com Emendas<br />

de 1926.<br />

Substituía o art. 72 pelo seguinte:<br />

parágrafo 13 - à exceção <strong>do</strong> flagrante delito, a prisão não<br />

poderia ser executada , senão depois de pronúncia <strong>do</strong><br />

indicia<strong>do</strong>, salvo os casos determina<strong>do</strong>s em lei e mediante<br />

ordem escrita de autoridade competente;<br />

parágrafo 14 - ninguém poderia ser conserva<strong>do</strong> em prisão<br />

sem culpa formada, salvo as exceções especificadas em<br />

lei, nem leva<strong>do</strong> à prisão ou nela manti<strong>do</strong>, ser prestasse<br />

fiança idônea, nos casos em que a lei a admitisse;<br />

Ficava abolida a pena de galés, consoante se depreendia <strong>do</strong><br />

parágrafo 20;<br />

O “habeas-corpus” tinha assento no parágrafo 22 e era utiliza<strong>do</strong><br />

sempre que alguém sofresse ou se achasse no iminente perigo de<br />

sofrer violência por meio de prisão ou constrangimento ilegal em sua<br />

liberdade de locomoção;<br />

4) Constituição da República <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Brasil<br />

(16 de julho de 1934).<br />

O art. 113, 21, dizia que ninguém seria preso senão em flagrante<br />

delito ou por ordem escrita da autoridade competente, nos casos<br />

expressos em lei.<br />

A prisão ou detenção, previa o mesmo dispositivo, de qualquer<br />

pessoa seria imediatamente comunicada ao juiz competente, que a<br />

relaxaria, se ilegal e promoveria, sempre que de direito, a responsabilidade<br />

da autoridade coatora;<br />

Ninguém ficaria preso, se prestasse fiança idônea, nos casos<br />

por lei estatuí<strong>do</strong>s, é o que previa o art. 122, 22;<br />

A previsão <strong>do</strong> “habeas-corpus” se achava no número 23 <strong>do</strong> aludi<strong>do</strong><br />

artigo, sen<strong>do</strong> reservada para os casos em que alguém sofresse ou se


84<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

achasse ameaça<strong>do</strong> de sofrer violência ou coação em sua liberdade,<br />

por ilegalidade ou abuso de poder.<br />

Nas transgressões disciplinares não caberia “habeas-corpus”,<br />

conforme previsto no art. 122, 23.<br />

Não havia pena de caráter perpétuo, previsão inserta no art. 122, 29;<br />

O número 30 <strong>do</strong> menciona<strong>do</strong> artigo preconizava a impossibilidade<br />

de prisão por dívidas, multas ou custas.<br />

5) Constituição <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Brasil (10 de novembro<br />

de 1937).<br />

O art. 122, 11, previa que , à exceção <strong>do</strong> flagrante delito, a prisão<br />

não poderia efetuar-se senão depois de pronúncia <strong>do</strong> indicia<strong>do</strong>, salvo<br />

os casos determina<strong>do</strong>s em lei e mediante ordem escrita da autoridade<br />

competente.<br />

O mesmo dispositivo previa que ninguém poderia ser conserva<strong>do</strong><br />

em prisão sem culpa formada, senão pela autoridade competente, em<br />

virtude de lei e na forma por ela regulada.<br />

Não se concebia pena corpórea perpétua, preconizava o artigo<br />

122, 13;<br />

Havia previsão <strong>do</strong> “habeas-corpus” sempre que alguém sofresse<br />

ou se achasse na iminência de sofrer violência ou coação ilegal, na sua<br />

liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punição disciplinar.<br />

6) Constituição <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Brasil (18 de setembro<br />

de 1946).<br />

Espécies de prisão:<br />

Civil: Não havia prisão civil, dizia o art. 141, parágrafo 32, por<br />

dívida, multa ou custas, salvo o caso <strong>do</strong> depositário infiel e o de<br />

inadimplemento de obrigação alimentar, na forma <strong>do</strong> que dispunha a lei;<br />

Penal: Não havia prisão de caráter perpétuo (art. 141, § 31);<br />

Ninguém poderia ser preso, preconizava o parágrafo 20, <strong>do</strong> art.<br />

141, salvo em flagrante delito ou por ordem escrita de autoridade<br />

competente, nos casos expressamente previstos em lei;


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 85<br />

Ninguém seria leva<strong>do</strong> à prisão ou nela manti<strong>do</strong> se prestasse fiança<br />

permitida em lei , rezava o parágrafo 21 <strong>do</strong> aludi<strong>do</strong> artigo;<br />

Havia previsão <strong>do</strong> “habeas-corpus” , no art. 141, parágrafo 23,<br />

utiliza<strong>do</strong> sempre que alguém sofresse ou se achasse ameaça<strong>do</strong> de<br />

sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por<br />

ilegalidade ou abuso <strong>do</strong> poder.<br />

Nas transgressões disciplinares não caberia “habeas-corpus”;<br />

A prisão ou detenção de qualquer pessoa, dizia o parágrafo 22,<br />

<strong>do</strong> art. 141, seria imediatamente comunicada ao juiz competente, que<br />

a relaxaria, se ilegal e, nos casos previstos em lei, promover-se-ia a<br />

responsabilidade da autoridade coatora.<br />

7) Constituição <strong>do</strong> Brasil ( 24 de janeiro de 1967).<br />

Espécies de prisão:<br />

Civil: art. 153, parágrafo 17 - o texto constitucional impedia a<br />

prisão civil por dívida, multa ou custas, salvo o caso de depositário infiel<br />

ou <strong>do</strong> responsável pelo inadimplemento de obrigação alimentar, na<br />

forma da lei;<br />

Penal: Previsão de “habeas-corpus” - art. 153, parágrafo 20 -<br />

dar-se-á “habeas-corpus” sempre que alguém sofrer ou se achar<br />

ameaça<strong>do</strong> de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção<br />

por ilegalidade ou abuso <strong>do</strong> poder.<br />

Prisão apenas por flagrante delito ( art. 302 <strong>do</strong> CPP) ou por ordem<br />

escrita de autoridade competente - art. 153 , parágrafo 12;<br />

A prisão, dizia o mesmo artigo e parágrafo, ou detenção de<br />

qualquer pessoa seria imediatamente comunicada ao juiz competente,<br />

que a relaxaria se ilegal;<br />

Não havia possibilidade de prisão perpétua, vedação prevista no<br />

art. 153, parágrafo 11;<br />

8) Constituição da República Federativa <strong>do</strong> Brasil (17 de<br />

outubro de 1969).<br />

Espécies de prisão:


86<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

Civil: art. 153, parágrafo 17 - o texto constitucional impedia a<br />

prisão civil por dívida, multa ou custas, salvo o caso de depositário<br />

infiel ou <strong>do</strong> responsável pelo inadimplemento de obrigação alimentar,<br />

na forma da lei;<br />

Penal: Previsão de “habeas-corpus” - art. 153, parágrafo 20 - darse-á<br />

“habeas-corpus” sempre que alguém sofrer ou se achar ameaça<strong>do</strong><br />

de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção por<br />

ilegalidade ou abuso <strong>do</strong> poder.<br />

Nas transgressões disciplinares não caberia “habeas-corpus”, por<br />

previsão <strong>do</strong> mesmo dispositivo acima aludi<strong>do</strong>;<br />

Impossibilidade da pena de prisão perpétua - art. 153, parágrafo 11;<br />

Prisão apenas por flagrante delito (art. 302 <strong>do</strong> CPP) ou por ordem<br />

escrita de autoridade competente - art. 153 , parágrafo 12;<br />

A prisão, dizia o mesmo artigo e parágrafo, ou detenção de<br />

qualquer pessoa seria imediatamente comunicada ao juiz competente,<br />

que a relaxaria se ilegal;<br />

Art. 153, parágrafo 14 - impunha-se a todas as autoridades o<br />

respeito à integridade física e moral <strong>do</strong> detento ou <strong>do</strong> presidiário;<br />

9) Constituição da República Federativa <strong>do</strong> Brasil (05 de<br />

outubro de 1988).<br />

Espécies de prisão:<br />

Civil: art. 5o . , LXVII; o texto constitucional impede a prisão civil<br />

por dívida, salvo a <strong>do</strong> responsável pelo inadimplemento voluntário e<br />

inescusável da obrigação alimentícia e a <strong>do</strong> depositário infiel.<br />

Penal: Comunicação ao Judiciário e à família <strong>do</strong> preso - art. 5o . ,<br />

LXII; impõe-se a necessidade de comunicação imediata, da prisão<br />

efetivada, ao Juiz de Direito, bem como à família <strong>do</strong> preso ou à pessoa<br />

por ele indicada;<br />

Ilegal, relaxamento - art. 5o ., LXV; nas hipóteses de prisão ilegal,<br />

haverá relaxamento pela autoridade judiciária;<br />

Na vigência <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de defesa; duração máxima - art. 136,


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 87<br />

parágrafo 3. o ., III; durante o esta<strong>do</strong> de defesa, a prisão por crime contra<br />

o Esta<strong>do</strong>, determinada pelo executor da medida, será por este comunicada<br />

imediatamente ao juízo competente, que a relaxará, se ilegal, facultan<strong>do</strong><br />

ao preso requerer exame de corpo de delito à autoridade policial. A comunicação<br />

será acompanhada de declaração , feita pela autoridade, <strong>do</strong><br />

esta<strong>do</strong> físico e mental <strong>do</strong> deti<strong>do</strong> no momento de sua autuação. É vedada<br />

a incomunicabilidade <strong>do</strong> preso e a prisão não poderá ser superior a dez<br />

dias, salvo quan<strong>do</strong> determinada pelo Poder Judiciário.<br />

Ordem escrita - art. 5o ., LXI; somente haverá prisão em flagrante<br />

delito (art. 302 <strong>do</strong> CPP) ou proveniente de ordem escrita e fundamentada<br />

emanada de autoridade judicial competente (manda<strong>do</strong> de<br />

prisão), salvo nos casos de transgressão militar ou crime militar<br />

próprio, defini<strong>do</strong>s em lei;<br />

Perpétua; vedação constitucional - art. 5o . , XLVII, “b”. Não se<br />

concebe a imposição de pena de prisão perpétua;<br />

Liberdade provisória, com ou sem fiança - art. 5o . LXVI - quan<strong>do</strong> a<br />

lei admitir a liberdade provisória, como ou sem fiança, ninguém será<br />

leva<strong>do</strong> ou manti<strong>do</strong> no cárcere;<br />

Identificação <strong>do</strong>s responsáveis pela prisão - art. 5o ., LXIV - é direito<br />

<strong>do</strong> preso saber quem são os responsáveis por sua prisão;<br />

Informação <strong>do</strong>s direitos, entre os quais o de permanecer cala<strong>do</strong><br />

e de ter advoga<strong>do</strong> - art. 5o . , LXIII - constitui direito <strong>do</strong> preso saber seus<br />

direitos, entre outros, o de permanecer cala<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong>-lhe assegurada<br />

a assistência da família bem como de advoga<strong>do</strong>;<br />

Respeito assegura<strong>do</strong> à sua integridade física - art. 5o . XLIV - constitui<br />

direito <strong>do</strong> preso o respeito à sua integridade física ( corporal e psíquica);<br />

Presidiárias com direitos para permanecer com os filhos, durante<br />

o perío<strong>do</strong> de amamentação - art. 5o ., L - constitui direito das presas;<br />

Previsão <strong>do</strong> “habeas-corpus” - art. 5 o ., LXVIII - utiliza<strong>do</strong> sempre<br />

que alguém estiver sofren<strong>do</strong> ou na iminência de sofrer uma coação ou<br />

violência em sua liberdade de locomoção (ir e vir), por ilegalidade ou<br />

abuso <strong>do</strong> poder.


88<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

A prisão preventiva, posta como está no Código de Processo<br />

Penal, exige sempre a prova de existência de crime e indícios de autoria.<br />

No procedimento investigatório ou no processo, terá cabimento<br />

quan<strong>do</strong> se cuidar de crimes <strong>do</strong>losos puni<strong>do</strong>s com reclusão ou com<br />

detenção, se o agente for vadio ou não houver elementos para sua<br />

identificação (313 <strong>do</strong> CPP).<br />

A garantia da ordem pública, como um de seus motivos, rende<br />

ensejo a críticas veementes por parte da <strong>do</strong>utrina, porquanto passa a ser<br />

considerada como verdadeira medida de segurança, com conseqüente<br />

antecipação da sanção. Objeta-se esse fundamento, apontan<strong>do</strong> para uma<br />

permissão de discricionariedade a cargo <strong>do</strong> juiz, em especial porque o<br />

conceito não é delimita<strong>do</strong>, aceitan<strong>do</strong> uma carga meramente emocional.<br />

Contu<strong>do</strong>, justifica-se a licitude <strong>do</strong> fundamento em questão, uma<br />

vez que visa a impedir que o agente pratique outros delitos.<br />

A asseguração da aplicação da lei penal, por sua vez, procura<br />

evitar a fuga, o desaparecimento <strong>do</strong> imputa<strong>do</strong>, nisso residin<strong>do</strong> a chamada<br />

cautela final. Disso resulta a exigência, em tese, de um exame mais<br />

rigoroso <strong>do</strong> “fumus boni iuris”, na medida em que se impõe uma<br />

probabilidade de condenação, com imposição de pena corporal.<br />

A conveniência da instrução criminal acolhe a cautela instrumental<br />

e se destina a garantir a produção de provas.<br />

A garantia da ordem econômica passou a habitar a lei processual<br />

penal, como fundamento da prisão preventiva, em face <strong>do</strong> exagera<strong>do</strong><br />

crescimento da criminalidade econômica. A Lei 8.884/94 introduziu esse<br />

novo motivo de prisão cautelar, objetivan<strong>do</strong> o desencorajamento da<br />

prática de crimes contra a ordem econômica.<br />

A prisão em flagrante delito revela a atualidade como prova <strong>do</strong><br />

delito e a visibilidade, que eclode <strong>do</strong> fato de alguém ter a ele assisti<strong>do</strong>.<br />

O art. 302 <strong>do</strong> Código de Processo Penal elenca as hipóteses de<br />

flagrante delito e, nos seus incisos I e II, trata <strong>do</strong> denomina<strong>do</strong> próprio,<br />

que ocorre quan<strong>do</strong> o agente, respectivamente, está cometen<strong>do</strong> ou<br />

acabou de cometer a infração; o inciso III cuida <strong>do</strong> chama<strong>do</strong> flagrante<br />

impróprio ou quase-flagrante, que ocorre quan<strong>do</strong> o agente é persegui<strong>do</strong>,


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 89<br />

logo após, em situação que faça presumir ser ele o autor da infração; por<br />

derradeiro, o inciso IV, abriga o flagrante ficto ou presumi<strong>do</strong>, que se dá<br />

quan<strong>do</strong> o agente é encontra<strong>do</strong>, logo depois, com instrumentos, armas,<br />

objetos ou papéis, que permitam concluir ser ele o autor da infração.<br />

Essa prisão, que se for relativa a menor de vinte e um anos de<br />

idade, exige a presença de cura<strong>do</strong>r por ocasião <strong>do</strong> interrogatório extrajudicial,<br />

sob pena de relaxamento da prisão, precisa ser convalidada<br />

pelo magistra<strong>do</strong>, que pode, por seu turno, substituir a cautela por<br />

liberdade provisória vinculada.<br />

A prisão temporária, criada pela Lei 7.960/89, não pode ser<br />

decretada de ofício e obriga que a decisão fudamentada se dê em vinte<br />

e quatro horas.<br />

O magistra<strong>do</strong> pode: determinar a apresentação <strong>do</strong> preso; solicitar<br />

informações ao Delega<strong>do</strong> de Polícia; submeter o preso à exame de<br />

corpo de delito e ouvir o preso, que deve, como de resto em todas as<br />

demais hipóteses de prisão cautelar, permanecer encarcera<strong>do</strong><br />

separadamente.<br />

O prazo de duração da prisão varia de acor<strong>do</strong> com o crime e,<br />

como já dito antes, se for erigi<strong>do</strong> à categoria de hedion<strong>do</strong> ou assemelha<strong>do</strong>,<br />

pode chegar até a sessenta dias, porque admite decretação por<br />

trinta dias, prorrogáveis por até igual perío<strong>do</strong>. O prazo será de cin<strong>do</strong><br />

dias, prorrogável por até igual perío<strong>do</strong>, nos casos em que se tratar de<br />

crime, previsto pela aludida lei, mas que não esteja incluí<strong>do</strong> naquelas<br />

conceituações. A não liberação, expira<strong>do</strong> o prazo, implica crime de<br />

abuso de autoridade.<br />

Os requisitos para a sua decretação encontram-se na presença<br />

<strong>do</strong> “periculum libertatis”, que estão no art. 1o ., incisos I (imprescindível<br />

para investigação) e II (indicia<strong>do</strong> sem residência fixa ou que não fornece<br />

elementos para o esclarecimento de sua identidade), como também <strong>do</strong><br />

“fumus boni iuris”, que acha abrigo no inc. III, que relaciona os crimes<br />

que admitem-na, como, por exemplos, o homicídio <strong>do</strong>loso, o seqüestro<br />

ou cárcere priva<strong>do</strong>, roubo, extorsão, estupro, tráfico de drogas etc.<br />

O art. 2 o . da Lei 8.072/90, associa<strong>do</strong> ao art. 1. o da Lei 7.960/89<br />

apresentam rol taxativo <strong>do</strong>s delitos que comportam a prisão temporária,


90<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

deven<strong>do</strong> sempre haver a combinação, para dar legalidade à custódia,<br />

<strong>do</strong> inciso III com os incisos I ou II.<br />

A prisão para recorrer, visto como outra modalidade de prisão<br />

cautelar, desaparece, em face da Lei 5.941/73, que permitiu recurso em<br />

liberdade, ao primário e de bons antecedentes (arts. 408, parágrafo<br />

segun<strong>do</strong> e 594, ambos <strong>do</strong> Código de Processo Penal), haven<strong>do</strong> apelação<br />

em liberdade nas hipóteses de o réu livrar-se solto, o que ocorre nos<br />

crimes sem punição corporal ou com pena máxima não superior a três<br />

meses. Também é possível recorrer em liberdade nos crimes afiançáveis,<br />

se tiver o agente presta<strong>do</strong> fiança. Por fim, se primário e de bons<br />

antecedentes, não carece recolher-se para recorrer.<br />

O art. 35 da 6.368/76 não permite o apelo em liberdade, se houver<br />

condenação por crimes de tráfico de drogas (arts. 12; 13 e 14 da mencionada<br />

lei).<br />

Deve ser ressalta<strong>do</strong> que o art. 594 <strong>do</strong> Código de Processo Penal<br />

subsiste em face da atual Constituição Federal, porque sua finalidade<br />

(de prisão) é assegurar o próprio resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> processo, com o cumprimento<br />

da pena, evitan<strong>do</strong>-se fuga (nesse senti<strong>do</strong> já se posicionaram<br />

tanto o Supremo Tribunal Federal quanto o <strong>Superior</strong> Tribunal de Justiça).<br />

Na prática, todavia, o réu deixa de apelar, para, obti<strong>do</strong> o trânsito<br />

em julga<strong>do</strong> da decisão judicial, ajuizar a ação de revisão criminal.<br />

Se já estivesse preso no curso <strong>do</strong> processo, agora, diante da<br />

condenação recorrível, com maior razão deve permanecer no cárcere,<br />

até porque está condena<strong>do</strong>, salvo se desapareceram os motivos de sua<br />

prisão, o que poderia ocorrer se houvesse si<strong>do</strong> decretada por conveniência<br />

da instrução criminal.<br />

Se o tempo de pena é inferior ao tempo de prisão cautelar, soltase,<br />

não importan<strong>do</strong> se primário e de bons antecedentes.<br />

O “habeas corpus” pode ser utiliza<strong>do</strong> para buscar reexame de<br />

decisões que imponham prisões cautelares, valen<strong>do</strong> repisar que a<br />

presunção de inocência e o devi<strong>do</strong> processo legal são os princípios<br />

quem orientam-nas.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 91<br />

No que pertine à liberdade provisória, tem-se que o mais correto<br />

seria batizá-la de vinculada ou não vinculada, conforme ensinamento de<br />

Antonio Scarance Fernandes, porque to<strong>do</strong>s que estão soltos durante o<br />

processo podem vir a ser presos (cautelarmente ou por condenação<br />

com trânsito em julga<strong>do</strong>). O ônus, imposto ao agente em determina<strong>do</strong>s<br />

casos, para conferir-lhe a liberdade no curso <strong>do</strong> processo, acarreta a<br />

vinculação. A ausência de ônus, por evidente, não vincula, como acontece,<br />

por exemplo, quan<strong>do</strong> o magistra<strong>do</strong> permite que o pronuncia<strong>do</strong> aguarde o<br />

julgamento a ser realiza<strong>do</strong> na sessão <strong>do</strong> júri popular em liberdade.<br />

O princípio da legalidade faz com que não exista, no processo<br />

penal, o poder geral de cautela <strong>do</strong> magistra<strong>do</strong> (como ocorre no processo<br />

civil). Na seara criminal, como se cuida de liberdade individual,<br />

e não interesse econômico, se preenchi<strong>do</strong>s os requisitos legais, é direito<br />

subjetivo <strong>do</strong> agente a liberdade, não fican<strong>do</strong> à mercê da discricionariedade<br />

<strong>do</strong> juiz, conforme Weber Martins Batista.<br />

Somente nega-se a liberdade, se houver vedação legal ou se<br />

ausentes os requisitos para a sua concessão, à luz <strong>do</strong> que preconiza o<br />

art. 5o ., inciso LXVI, da Constituição Federal, vaza<strong>do</strong> nos seguintes<br />

termos: “ninguém será leva<strong>do</strong> à prisão ou nela manti<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> a lei<br />

admitir liberdade provisória, com ou sem fiança “.<br />

Da adequação na aplicação das medidas cautelares, emerge a<br />

necessidade de o magistra<strong>do</strong>, dentre as previstas, procurar a medida<br />

cautelar mais ajustada ao caso sujeito à jurisdição.<br />

A proporcionalidade (ou gradualidade) recomenda o graduar-se<br />

de acor<strong>do</strong> com a gravidade <strong>do</strong> delito e sanções que poderão ser aplicadas.<br />

A prisão é a mais gravosa e só será aplicada quan<strong>do</strong> outras não<br />

se revelarem adequadas.<br />

A graduação, no Código de Processo Penal, passa pela liberdade<br />

provisória sem vínculo (art. 321); pela liberdade provisória sem fiança,<br />

com vínculo de comparecimento a to<strong>do</strong>s os atos <strong>do</strong> processo ( art.<br />

310, “caput” e parágrafo único); pela liberdade provisória com fiança,<br />

com vínculo de comparecimento a atos <strong>do</strong> inquérito policial e instrução<br />

criminal, não mudança de endereço, sem permissão e não ausentar-se<br />

por mais de oito (8) dias, sem comunicação (arts. 327 e 328).


92<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

A fiança é uma cautela como a liberdade provisória e pode substituir<br />

a prisão e a liberdade provisória vinculada, consistin<strong>do</strong> no pagamento<br />

em dinheiro.<br />

A lei 6.416/77 acrescentou o parágrafo único, no art. 310, da lei<br />

processual penal, para permitir a concessão de liberdade provisória<br />

sem fiança.<br />

A lei 5.941/73 alterou o art. 594 e deferiu, ao primário e de bons<br />

antecedentes, a apelação em liberdade. Alterou o art. 596, ou seja,<br />

haven<strong>do</strong> absolvição, a apelação não impede a soltura.<br />

O Código de Processo Penal e a Constituição Federal relacionam<br />

os crimes que não admitem fiança e citamos, como exemplos, a Lei<br />

Maior, no art. 5o . , incisos XLII e XLIII, (tortura, racismo, terrorismo,<br />

hedion<strong>do</strong>s, tráfico) e XLIV (ação de grupos arma<strong>do</strong>s, civis ou militares,<br />

contra a ordem constitucional e o esta<strong>do</strong> Democrático).<br />

No Código acima referi<strong>do</strong>, os crimes com pena mínima superior a<br />

<strong>do</strong>is anos. Contu<strong>do</strong>, nesses casos, terá cabimento a liberdade provisória,<br />

sem fiança. Não há, assim, adequação, nem proporcionalidade.<br />

Assim, a fiança perdeu um pouco seu senti<strong>do</strong>. Em regra, quem<br />

tem direito à fiança, tem direito à liberdade sem fiança.<br />

É de Romeu Pires de Campos, a preciosa lição de que, nos<br />

crimes com detenção, o Delega<strong>do</strong> de Polícia pode arbitrar fiança, não<br />

precisan<strong>do</strong> de pronunciamento judicial. Na fiança, a cognição é menos<br />

aprofundada. O procedimento é mais célere, nem precisa da ouvida <strong>do</strong><br />

órgão <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>.<br />

O princípio da razoabilidade, segun<strong>do</strong> o qual não é a mera soma<br />

aritmética que deve imperar para a aferição <strong>do</strong> excesso de prazos, fornece<br />

balizas que devem ser observadas em Primeira Instância (hoje, nada<br />

obstante este princípio, entende-se que deve a prova acusatória se ultimar<br />

dentro em oitenta e um dias e setenta e seis, nas hipóteses de tráfico de<br />

drogas). Há, igualmente, previsão legal de desaforamento, para os casos<br />

em que, decorri<strong>do</strong> um ano, a contar <strong>do</strong> recebimento <strong>do</strong> libelo acusatório,<br />

não tenha si<strong>do</strong> realizada a sessão de julgamento pelo júri popular. Mas, a<br />

celeridade processual deve, à semelhança, incidir na Segunda Instância


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 93<br />

e nos Tribunais <strong>Superior</strong>es da União, o que contribuiria para a efetiva<br />

garantia constitucional, estan<strong>do</strong> em conformidade com a Convenção<br />

Americana <strong>do</strong>s Direitos Humanos.<br />

Por imperativo legal, os presos processuais devem ficar<br />

separa<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s definitivamente condena<strong>do</strong>s e a observância de direitos<br />

constitucionalmente salvaguarda<strong>do</strong>s, para que sejam conferidas<br />

condições compatíveis com a dignidade humana, é questão que não<br />

admite controvérsia.<br />

A prisão cautelar não é vedada pela Constituição Federal e, atendidas<br />

a legalidade, a proporcionalidade, a celeridade processual e a<br />

adequação, é medida que restabelece a segurança social e confere<br />

credibilidade à justiça, além das cautelas instrumental e final. É medida<br />

utilíssima ao processo, assumin<strong>do</strong> condição de instrumento necessário<br />

para viabilizar a distribuição da Justiça. Tu<strong>do</strong> isso, no propósito de ser<br />

alcança<strong>do</strong> o equilíbrio entre o combate à criminalidade sem elidir as<br />

garantias individuais.<br />

José Carlos Mascari Bonilha,<br />

Promotor de Justiça em São Paulo,<br />

Assessor da Correge<strong>do</strong>ria Geral <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>,<br />

Professor de Direito Processual Penal,<br />

Mestre em Direito Processual Penal pela PUC/SP


o o relacionamento<br />

relacionamento<br />

entre entre o o mp mp e e a a a polícia<br />

polícia<br />

judiciária judiciária no no processo<br />

processo<br />

processo<br />

penal penal penal acusatório<br />

acusatório<br />

fauzi hassan choukr,<br />

promotor de justiça,<br />

mestre e <strong>do</strong>utor em direito (USP)


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 97<br />

O RELACIONAMENTO ENTRE O<br />

MINISTÉRIO PÚBLICO<br />

E A POLÍCIA JUDICIÁRIA<br />

NO PROCESSO PENAL ACUSATÓRIO<br />

Fauzi Hassan Choukr<br />

1. Bases para a compreensão <strong>do</strong> tema<br />

Como já aponta<strong>do</strong> em trabalhos anteriores1 , bem como repeti<strong>do</strong> à<br />

exaustão pela <strong>do</strong>utrina processual penal2 engajada com a construção de<br />

um sistema repressivo assenta<strong>do</strong> nas bases de um esta<strong>do</strong> democrático<br />

e de direito3 , deve-se repudiar a estrutura inquisitiva quan<strong>do</strong> mescla num<br />

único órgão estatal, as funções de investigar, acusar e julgar4 , ao mesmo<br />

tempo em que se deve erigir um sistema pelo qual o acusa<strong>do</strong> não seja<br />

mais um mero objeto da relação processual, mas sim seu protagonista. 5<br />

Desta forma, é correto afirmar que “O sistema acusatório<br />

transformou a fisionomia da persecução penal, visto que situou o réu e<br />

acusa<strong>do</strong>, nessa atividade estatal, como sujeito de direitos e não apenas<br />

como objeto das investigações. Processualizou-se a persecutio criminis....<br />

sem que o interesse público da punição <strong>do</strong> culpa<strong>do</strong> ficasse diminuí<strong>do</strong> ou<br />

debilita<strong>do</strong>. O juiz deixou de encarnar a função repressiva <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> contra<br />

o infrator da lei penal, para permanecer imparcial e sereno, como órgão<br />

exclusivo da aplicação <strong>do</strong> Direito Penal objetivo, ou seja, da jurisdição<br />

1 Choukr, Fauzi Hassan “Processo Penal à Luz da Constituição”, Bauru, Edipro, 1999, passim<br />

2 entre outros, veja-se Asencio Mela<strong>do</strong>, José Maria, Princípio Acusatório y derecho de defensa en<br />

el proceso penal, Estúdios Trivium, Madrid, 1991, passim, especialmente cap. 1.<br />

3 Pra<strong>do</strong>, Geral<strong>do</strong>. “Sistema acusatório – a conformidade constitucional das leis processuais penais”,<br />

RJ, Lumen Juris, 2ª ed, 2000<br />

4 para uma breve explicação histórica da origem desta mescla e <strong>do</strong> modelo inquisitivo, Carvalho<br />

Salo de. A Desconstrução Do Modelo Jurídico Inquisitorial, in www.direitopenal.com.br<br />

5 Suannes, Adauto. “Os fundamentos éticos <strong>do</strong> devi<strong>do</strong> processo penal”, SP, RT, 1999


98<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

penal propriamente dita.” 6 Isto se traduz, em outras palavras na<br />

superação <strong>do</strong> modelo de juiza<strong>do</strong> de instrução, de resto anunciada pela<br />

<strong>do</strong>utrina há tempos7 , a apresenta<strong>do</strong>-se como um <strong>do</strong>s pontos-chave das<br />

reformas institucionais, na busca de uma justiça rápida, barata e eficaz<br />

na melhor explanação conceitual8 .<br />

Tal cenário apresenta-se modifica<strong>do</strong>, igualmente, na esfera<br />

investigativa9 , como afirma KAI AMBOS10 . De acuer<strong>do</strong> con el<br />

propósito del legisla<strong>do</strong>r reformista del siglo XIX, con la creación del<br />

ministerio fiscal (Staatsanwaltschaft) se persiguieron fundamentalmente<br />

tres objetivos11 : la derogación del tradicional proceso inquisitivo mediante<br />

la realización de forma separada de las funciones de acusación y<br />

enjuiciamiento por parte de la fiscalía y de los tribunales; la creación de<br />

una institución objetiva encargada de la investigación, que al mismo<br />

tiempo habría de asumir el papel de guardián de la ley con respecto a<br />

la actuación estatal; y finalmente relaciona<strong>do</strong> con esto último –el control<br />

jurídico-estatal de las investigaciones policiales. De este mo<strong>do</strong>, debi<strong>do</strong><br />

a sus amplias competencias en la dirección material, el ministerio<br />

fiscal habría de convertirse en „dueño y señor de la instrucción<br />

procesal“ 12 y también –precisamente con respecto a la policía– en<br />

garante de un proceso jurídico-estatal revesti<strong>do</strong> de forma judicial13 .<br />

6 Frederico Marques, José, nas suas anotações à obra de Pimenta Bueno, José Antonio.<br />

“Apontamentos sobre o processo criminal brasileiro”, anotada e atualizada por. SP, RT, 1959, pg. 28<br />

7 Tiedmann, Klaus. ‘Relatorio general’, in Revue International de Droit Penal, vol 64, p. 789<br />

8 Gómez Colomer Juan-Luis . La Instrucción Del Proceso Penal Por El Ministerio Fiscal:Aspectos<br />

Estructurales A La Luz Del Derecho Compara<strong>do</strong>. Revista De La Asociación De Ciencias Penales<br />

De Costa Rica Agosto 1997 Año 9, N° 13<br />

9 Vide nosso “Garantias Constitucionais na Investigação Criminal”, Rj, Lumens Júris, 2ª ed., <strong>2001</strong>,<br />

especialmente primeira parte da obra.<br />

10 Título original: Staatsanwaltschaftliche Kontrolle der Polizei versus Verpolizeilichung des<br />

Ermittlungsverfahrens. Traducción de Teresa Manso Porto, colabora<strong>do</strong>ra científica en el Instituto<br />

Max Planck de Friburgo. Texto apresenta<strong>do</strong> no Seminario Internacional “Novos Rumos <strong>do</strong> Processo<br />

Penal no Brasil e na América Latina”, organiza<strong>do</strong> pelo <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> de São Paulo e pelo<br />

MPI, de 31 de julho de <strong>2001</strong> a 03 de agosto de <strong>2001</strong>. Os anais <strong>do</strong> congresso encontram-se no prelo<br />

para publicação.<br />

11 Roxin, Rechtsstellung und Zukunftsaufgaben der Staatsanwaltschaft, DRiZ 1969, págs. 385 y s.<br />

12 Bundesverfassungsgericht (Tribunal Constitucional, BVerfG), en: Neue Juristische Wochenschrift<br />

1976, pág. 231; cfr. En la – inabarcable – literatura entre otros Hellmann, Strafprozeßrecht, 1998,<br />

§ 3 núm. marg. 1.<br />

13 Cfr. Riess, Prolegomena zu einer Gesamtreform des Strafverfahrensrechts, Libro-homenaje a<br />

Schäfer (1980), pág. 155 (194).


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 99<br />

Surge a necessidade, dentro deste novo contexto político de atuação<br />

e controle <strong>do</strong> poder estatal de persecução, analisar como se dá o<br />

relacionamento entre os órgãos estatais encarrega<strong>do</strong>s de investigar<br />

e promover a ação penal, ligação esta que se apresenta como verdadeiro<br />

centro das atenções de um processo considera<strong>do</strong> de estrutura<br />

democrática.<br />

Isto se deve, entre outros fatores, à forte influência que esse<br />

relacionamento desencadeia na aplicação da legalidade penal e <strong>do</strong><br />

princípio da obrigatoriedade da ação penal que se lhe acompanha14 . A<br />

conhecida seletividade substancial <strong>do</strong> sistema penal15 passa através da<br />

atividade policial investigativa e o relacionamento deste órgão com o <strong>Ministério</strong><br />

<strong>Público</strong>, a ponto de poder legitimamente ser concluí<strong>do</strong> que a legalidade<br />

penal e a obrigatoriedade da ação penal são absolutamente retóricas<br />

se observa<strong>do</strong> que to<strong>do</strong> o sistema é seleciona<strong>do</strong> (e é potencialmente<br />

selecionável) pela atividade de polícia. No limite, haverá de significar a quebra<br />

também <strong>do</strong> princípio da igualdade penal, base da concepção garantista16 .<br />

Por tal razão, como adiante se verá, nas reformas legislativas<br />

tendentes à modernização processual, entenden<strong>do</strong>-se aqui por modernidade<br />

a mudança paradigmática <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> intervencionista e<br />

autoritário no senti<strong>do</strong> da formação de um processo condizente com<br />

os prima<strong>do</strong>s <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> democrático e de direito, houve uma profunda<br />

alteração na forma de condução da investigação criminal e no<br />

relacionamento <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> e Polícia Judiciária.<br />

14 El principio de legalidad, ciertamente califica<strong>do</strong> como “clásico” en nuestro orden cultural, se<br />

recuesta más sobre el respal<strong>do</strong> que le otorgan las teorías absolutas de la pena (fiat iusticia,<br />

pereat muridus) y, por ello, está carga<strong>do</strong> de un alto gra<strong>do</strong> ético, consecuente con el Esta<strong>do</strong> de<br />

derecho. Por ello, sus valores principales residen en la pretensión de igualdad de tratamiento<br />

de los habitantes ante la ley(grifos no original) “Hassemer, Winfried. La persecución penal:<br />

legalid y oportundad, in Revista de La Asociación de Ciencias Penales de Costa Rica nº 10,<br />

setembro de 1995<br />

15 Veja-se, entre outros, Andrade Pereira, Vera Regina. “A Ilusão da Segurança”, Porto Alegre,<br />

Livraria <strong>do</strong> Advoga<strong>do</strong> Ed., 1998, passim.<br />

16 “Questo nesso tra uguaglianza e garantismo può essere rintracciato in tutti e ter elmenti della<br />

fenomenologia Del diritto penale – il reato, il processo e la pena –e in tutti e tre momenti dell’intervento<br />

punitivo: quello della legislazione, quello della giurisdizione e quello dell’esecuzione penale”.<br />

Ferrajoli, Luigi. Ugusglianza penale e garantismo, in Diritto, Uguaglianza e giustizia penale, org.<br />

por Cottino, Amedeo e Sarzotti, Cláudio. Ed., L’Harmattan Itália, Torino, 1995, pg. 88


100<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

2. Breve Análise da legislação comparada latino-americana 17<br />

Conforme ensina<strong>do</strong> por Siqueira & Quitério18 em relação ao<br />

cenário latino-americano, “A partir <strong>do</strong>s anos finais da década de 70,<br />

...., na maior parte desses países iniciou-se processos de democratização<br />

<strong>do</strong> regime político e das instituições, além da consolidação de Esta<strong>do</strong>s<br />

de Direito, por meio da realização de eleições presidenciais diretas e,<br />

principalmente, da elaboração de novas Constituições comprometidas<br />

com o reconhecimento e a garantia <strong>do</strong>s direitos fundamentais <strong>do</strong> indivíduo<br />

e da coletividade em face <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.”<br />

Tal movimento, como irremediavelmente aconteceria, acabou por<br />

refletir na reforma <strong>do</strong> processo penal, até porque, em última instância,<br />

havia a necessidade, desde um ponto de vista estatal, de relegitimar a<br />

persecução penal com valores culturais e disposições normativas<br />

condizentes com o denomina<strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de direito.<br />

Nessa cronologia reformista, e para que se situe o tema dentro da<br />

perspectiva histórico-política atrás mencionada, frise-se que na Bolívia<br />

o Código de Processo Penal era vigente desde 1973 e foi altera<strong>do</strong><br />

em 25 de março de 1999, com perío<strong>do</strong> de vacatio de 24 meses; no<br />

Chile, o Código de Processo Penal estava em vigor desde 1907,<br />

ten<strong>do</strong> o novo si<strong>do</strong> promulga<strong>do</strong> em 30 de setembro de 2000; quanto<br />

ao Equa<strong>do</strong>r, cujo Código de Processo Penal era vigente desde<br />

1983, teve-se um novo Código de Processo Penal em janeiro de<br />

2000, e que se encontra em perío<strong>do</strong> de vacatio; no que tange ao<br />

Peru, o Código de Processo Penal era vigente desde 1940, conjuntamente<br />

com alguns artículos <strong>do</strong> Código Processual aprova<strong>do</strong> em<br />

1991 e foi altera<strong>do</strong> em 1997; na Venezuela o Código anterior era de<br />

1962, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> o atual aprova<strong>do</strong> em 1998 e ten<strong>do</strong> entra<strong>do</strong> em vigor<br />

17 Para o tema, no âmbito <strong>do</strong> Tribunal Penal Internacional, veja-se Behrens Hans-Jörg Investigação,<br />

Julgamento E Recurso,, traduzi<strong>do</strong> por Choukr, Fauzi Hassan in Tribunal Penal Internacional, org.<br />

por Choukr,Fauzi Hassan e Ambos, Kai. SP, RT, 2000. No cenário europeu, entre outros Colomer,<br />

Juan Luis e Gonzalves, Fracois. ‘La procédure pénale face au principe acusatoire: la position<br />

a<strong>do</strong>petée par le Ministère Public en Espagne et dans les principaux pays latino-américans. Influences<br />

européennes et nord-américaines’. In Revue International du Droit Pénal, 1997, vols 1-2, pgs. 61-82.<br />

18 Antunes Quitério, Cristiane Bernardes & Pontes, José Antonio Siqueira, in “Evolução das<br />

Garantias Constitucionais relativas ao Processo Penal na América Latina”, In “Estu<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Processo<br />

Penal - O Mun<strong>do</strong> à Revelia”, coord. Por Fauzi Hassan Choukr, Campinas, Agá Juris ed., 2000, passim


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 101<br />

em 1999. Na Colômbia, o atual Código veio em substituição ao<br />

vigente desde 1991, entran<strong>do</strong> em vigor em janeiro de <strong>2001</strong>. Tal quadro<br />

é largamente acompanha<strong>do</strong> pelos demais países latino-americanos,<br />

conforme aponta<strong>do</strong> em obra recente sobre a matéria19 , fican<strong>do</strong> isola<strong>do</strong><br />

neste contexto reformista, de resto marca<strong>do</strong> pela reforma global <strong>do</strong> Código<br />

de Processo Penal20 .<br />

Para que se fique apenas com os países acima menciona<strong>do</strong>s, a<br />

respeito da forma de ser da direção da investigação criminal no regime<br />

decaí<strong>do</strong>, é imperioso frisar que a etapa pré-processual tinha sua condução<br />

pela denomina<strong>do</strong> “juiz de instrução” na Bolívia21 , no Chile22 , no Equa<strong>do</strong>r<br />

23 24 25 , no regime peruano e no venezuelano supera<strong>do</strong> , fugin<strong>do</strong> desta<br />

situação o novel código colombiano, pois o revoga<strong>do</strong> já dava ao <strong>Ministério</strong><br />

<strong>Público</strong> a condução das investigações26 . To<strong>do</strong>s os demais países<br />

aponta<strong>do</strong>s nessa breve incursão comparada tiveram a alteração no<br />

senti<strong>do</strong> de dar ao <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> a condução das investigações, com<br />

o auxílio da polícia. Assim se passou na Bolívia27 , no Chile28 ,no Equa<strong>do</strong>r29 ,<br />

19 “La Reforma Procesal Penal en Latino América”, organizada por Julio B. Maier, Kai Ambos e Jan<br />

Woischnik<br />

20 Para uma crítica às reformas pontuais brasileiras, nosso texto “As Reformas Pontuais <strong>do</strong> Processo<br />

Penal”, in “O Mun<strong>do</strong> à Revelia”, Campinas, 2000, passim.<br />

21 La dirección de la Instrucción la tiene el juez de Instrucción, quien apertura el auto inicial de<br />

la instrucción, recibien<strong>do</strong> las declaraciones y dictan<strong>do</strong> las medidas pertinentes para asegurar<br />

el proceso y acumular las pruebas. Cuenta con amplios poderes para la investigación, tanto del<br />

delito, como sobre el imputa<strong>do</strong>: antecedentes, gra<strong>do</strong> de cultura, ambiente social en el que vive,<br />

in www.cajpe.org.pe<br />

22 Encarga la investigación al mismo Juez de Letras (Juez del Crimen) que luego sentencia el caso<br />

23 A cargo del Juez Penal, quien dirige el sumario; En casos de contravenciones o faltas de<br />

policía se encargan los Jueces de Policías. in www.cajpe.org.pe<br />

24 Existen 2 tipos principales de procesos: a) Proceso Sumario.- El juez penal se encarga de la<br />

instrucción (investiga) y posteriormente sentencia; b) Proceso Ordinario.- El juez penal se<br />

encarga de la instrucción (investiga) y presenta un informe a la Sala Penal, para el juzgamiento<br />

de la causa. in www.cajpe.org.pe<br />

25 La investigación se encuentra a cargo de los Tribunales de Primera Instancia en lo Penal y los<br />

órganos de la Policía Judicial con las limitaciones que le establece la ley. Asímismo otras<br />

autoridades y funcionarios que la ley pueda designar.<br />

26 Corresponde a la Fiscalía General de la Nación dirigir, realizar y coordinar la investigación en<br />

materia penal.La Fiscalía General actúa mediante el Fiscal General y los fiscales que él delegue.<br />

Novo Código de Processo Penal.- mantiene el mandato del Código anterior. in www.cajpe.org.pe<br />

27 Novo Código de Processo Penal.- El Ministerio <strong>Público</strong> se encarga de la investigación de los<br />

delitos, con el auxilio de la Policía Nacional. in www.cajpe.org.pe<br />

28 Novo Código de Processo Penal.- El Ministerio <strong>Público</strong> dirige la investigación fiscal preparatoria,<br />

practican<strong>do</strong> u ordenan<strong>do</strong> se practiquen las diligencias necesarias. En esta labor cuenta con el<br />

apoyo de la policía (artículos 93 y 253). in www.cajpe.org.pe


102<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

no regime projeta<strong>do</strong>30 e na Venezuela31 .<br />

A <strong>do</strong>utrina peruana pode ser empregada para dar uma visão geral<br />

deste quadro. Como afirma César San Martin, “la investigación del delito,<br />

desde su inicio, está constitucionalmente atribuida al Ministerio <strong>Público</strong>.<br />

Con esta finalidad, el Fiscal puede requerir el apoyo e intervención de la<br />

policía, la cual, en lo estrictamente funcional, está obligada a obedecer<br />

sus órdenes. Esta conducción, en buena cuenta e por una serie de<br />

razones (psicológicas, técnicas y financieras, entre otras) se ha limita<strong>do</strong>,<br />

como apunta Jürgen Baumann, a la dirección y la vigilancia jurídica de<br />

las investigaciones ”32 .<br />

Nesses países, assim como em to<strong>do</strong> os demais inseri<strong>do</strong>s no<br />

contexto reformista, não se perde a noção da importância <strong>do</strong> papel policial<br />

ao longo da fase preparatória ao exercício da ação penal, nem o fato<br />

óbvio de que a polícia desenvolve a primeira atividade cognitiva da<br />

ocorrência da infração penal e que, em países marca<strong>do</strong>s pela ausência<br />

29 El art. 219 de la Constitución política establece que el Ministerio <strong>Público</strong>, prevendrá del<br />

conocimiento de las causas. Esta anticipación se refiere a que deberá dirigir y promover las<br />

investigaciones preprocesal y procesal penal. El novo Código de Processo Penal establece<br />

que el Fiscal resolverá el inicio de la instrucción en cuanto considere que existen fundamentos<br />

suficientes para imputar a una persona participación en un hecho delictivo. Si como medida<br />

cautelar o por tratarse de un delito flagrante se hubiere priva<strong>do</strong> de la libertad a alguna persona,<br />

el Fiscal deberá dictar la resolución de inicio de la instrucción dentro de las veinte y cuatro<br />

horas siguientes al momento de la aprehensión. Es obligación del Fiscal poner a disposición<br />

del imputa<strong>do</strong>, del ofendi<strong>do</strong> y de sus defensores, todas las evidencias que tenga en su poder,<br />

incluyen<strong>do</strong> las de naturaleza exculpatoria, de manera que el imputa<strong>do</strong> ejerza su derecho de<br />

examinar to<strong>do</strong>s los objetos, instrumentos y <strong>do</strong>cumentos recogi<strong>do</strong>s durante la investigación. Si<br />

es requeri<strong>do</strong>, el Fiscal deberá entregar al imputa<strong>do</strong> copias de to<strong>do</strong>s los <strong>do</strong>cumentos relaciona<strong>do</strong>s<br />

con la infracción. La investigación del Ministerio <strong>Público</strong> debe ser reservada. Sin perjuicio de<br />

las garantías del debi<strong>do</strong> proceso, las actuaciones del Ministerio <strong>Público</strong> y de la Policía Judicial<br />

para el esclarecimiento del delito durante la indagación previa, se mantendrán en reserva.<br />

Sus resulta<strong>do</strong>s serán conoci<strong>do</strong>s durante la etapa de instrucción. Los fiscales, los investiga<strong>do</strong>res,<br />

los jueces, el personal policial y los demás funcionarios que habien<strong>do</strong> interveni<strong>do</strong> en estas<br />

actuaciones, las divulguen o pongan de cualquier otro mo<strong>do</strong> en peligro el éxito de la<br />

investigación, serán sanciona<strong>do</strong>s conforme a Ley.Código de Processo Penal, Art. 215 y 217<br />

30 Proyecto de Código Procesal Penal.- Se encuentra a cargo del Fiscal, quien puede solicitar<br />

a la policía realizar una investigación preliminar al inicio del proceso, para despejar las dudas<br />

sobre la procedencia del ejercicio de la acción penal.La investigación se inicia al promover<br />

la acción penal, comunicán<strong>do</strong>sela al juez, quien debe expedir la resolución fundamentada<br />

declaran<strong>do</strong> promovida la acción penal.<br />

31 Novo Código Orgánico Procesal Penal.- El Ministerio <strong>Público</strong> ordena el inicio de la investigación,<br />

la dirige y dispone se practiquen las diligencias necesarias (artículos 105, 292 y 309).<br />

32 San Martín, Cesar. “Derecho Procesal Penal”, vol I, Lima, Grijley, 2000, pg. 171.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 103<br />

de sólidas tradições democráticas, é com a instituição policial que a<br />

comunidade identifica a própria atividade judicial.<br />

No entanto, se no modelo supera<strong>do</strong> boliviano, a polícia tinha<br />

um pleno espectro funcional 33 , fican<strong>do</strong> a sorte da ação penal quase<br />

que ao sabor exclusivo daquilo que se produzia na investigação,<br />

no novo ordenamento a subordinação ao <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> é uma<br />

regra, especializan<strong>do</strong>-se sobremaneira a atividade investigação<br />

<strong>do</strong> ponto de vista organizacional, para esta finalidade 34 , sen<strong>do</strong><br />

que estes funcionários estão vincula<strong>do</strong>s às determinações <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong><br />

<strong>Público</strong> ao longo da investigação e <strong>do</strong> juiz ao longo <strong>do</strong><br />

processo, não poden<strong>do</strong> a autoridade administrativa contestá-las 35 ,<br />

restan<strong>do</strong> a sanção disciplinar pelo não cumprimento <strong>do</strong> determina<strong>do</strong>.<br />

Assim também se dá no Chile 36 , na Colômbia 37 , no Equa<strong>do</strong>r<br />

38 e na Venezuela 39 . Visita<strong>do</strong> o cenário internacional reformula<strong>do</strong>,<br />

33 tiene por misión averiguar y comprobar los delitos, acumular las pruebas, detener y entregar<br />

a los presuntos culpables a los tribunales para su juzgamiento. Quienes pueden desempeñar<br />

las funciones de policía judicial son, además de los jueces de instrucción en lo penal, los<br />

fiscales, prefectos, suprefectos, corregi<strong>do</strong>res y autoridades de la policía en general.<br />

34 Un organismo especializa<strong>do</strong>, la Policía Técnica Judicial, es un auxiliar directo de la Fiscalía<br />

para la investigación de los delitos. To<strong>do</strong>s los organismos de la Policía Nacional que ejerzan<br />

funciones de policía judicial también actúan bajo la dirección de la Fiscalía.<br />

35 Novo Código de Processo Penal.- Los funcionarios policiales que ejerzan funciones de investigación<br />

deben cumplir las órdenes de la Fiscalía y las que durante el Processo señalen los jueces, las<br />

órdenes de los fiscales y los jueces no pueden ser modificadas por la autoridad administrativa.<br />

36 La Policía de Investigaciones es auxiliar del Ministerio <strong>Público</strong> en las diligencias de la<br />

instrucción. Por iniciativa propia u orden del Ministerio <strong>Público</strong>, investiga los delitos de<br />

acción pública y los que dependan de instancia privada cuan<strong>do</strong> corresponda. También ejecuta<br />

las medidas de coerción que se decreten. En los delitos de acción privada, no practica<br />

diligencias de investigación, salvo orden judicial. En los lugares <strong>do</strong>nde no existe la Policía de<br />

Investigaciones y cuan<strong>do</strong> el Fiscal lo ordene, los Carabineros cumplen estas funciones (artículo<br />

99)En la instrucción la policía ejecuta las tareas y órdenes bajo la dirección y responsabilidad<br />

del Ministerio <strong>Público</strong>, a quien debe informar de cualquier investigación que inicie.<br />

37 Las entidades que tienen atribuciones de policía judicial se encuentran bajo la dirección de<br />

la Fiscalía General. Estas son: la policía judicial de la Policía Nacional, el Cuerpo Técnico de<br />

Investigación del la Fiscalía General y el Departamento Administrativo de Seguridad.<br />

38 La Policía Judicial es un cuerpo auxiliar del Ministerio <strong>Público</strong> encarga<strong>do</strong> de realizar la<br />

investigación de los delitos de acción pública y de instancia particular, bajo la dirección y<br />

control del Ministerio <strong>Público</strong>, a fin de reunir o asegurar los elementos de convicción y evitar la<br />

fuga u ocultamiento de los sospechosos.<br />

Corresponde a la Policía Judicial lo siguiente: 1. Dar aviso al Fiscal, en forma inmediata y<br />

detallada, de cualquier noticia que tenga sobre un delito de acción pública; 2. Recibir y cumplir<br />

las órdenes que impartan el Fiscal y el juez competente; 3. Proceder a la aprehensión de las<br />

personas sorprendidas en delito flagrante, y ponerlas dentro de las veinticuatro horas siguientes<br />

a órdenes del juez competente, junto con el parte informativo para que el juez confirme o


104<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

resta indagar como o direito vigente brasileiro tratou a matéria,<br />

sobretu<strong>do</strong> após a alteração cultural advinda com o texto constitucional<br />

em vigor.<br />

3. O modelo constitucional brasileiro de 1988<br />

A Constituição de 1988 trouxe uma profunda reformulação das<br />

bases <strong>do</strong> processo penal brasileiro 40 , com a a<strong>do</strong>ção explícita <strong>do</strong><br />

modelo acusatório em seu interior, ao qual se veio posteriormente<br />

agregar toda a gama de disposições contida no Pacto de São José<br />

da Costa Rica 41 e que, com referência ao tema ora enfoca<strong>do</strong>, apresenta<br />

importantes disposições que, ao mesmo tempo em que<br />

aproxima o modelo brasileiro daqueles visto em sede de direito<br />

compara<strong>do</strong> e supranacional, também traz diferenças que em nada<br />

auxiliam a perfeita sistematização da matéria, deixan<strong>do</strong>-o muitas<br />

vezes ao sabor de discussões de ordem corporativa e distante de<br />

uma compreensão adequada aos prima<strong>do</strong>s da acusatoriedade.<br />

Isto porque, ao mesmo tempo em que a Constituição previu<br />

no art. 129 a atribuição ao <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> <strong>do</strong> controle externo<br />

da atividade policial, deixou um vasto leque de disposições acerca<br />

da estrutura policial e suas atribuições contidas no art. 144, crian<strong>do</strong><br />

uma série de policias 42 , caben<strong>do</strong> à Polícia Federal apurar infrações<br />

revoque la detención de lo cual informará en forma simultánea al Fiscal; 4. Auxiliar a las<br />

víctimas del delito; 5. Proceder a la identificación y examen del cadáver. 6. Preservar los<br />

vestigios del delito y los elementos materiales de la infracción, a fin de que los peritos puedan<br />

reconocerlos y describirlos de acuer<strong>do</strong> con la ley: y, 7. Realizar la identificación de los<br />

imputa<strong>do</strong>s.Código de Processo Penal, Art. 208 y 209.<br />

39 Bajo dirección del Ministerio <strong>Público</strong>, la Policía de Investigaciones Penales realiza las<br />

diligencias conducentes a la determinación de los hechos punibles y a la identificación de sus<br />

autores y partícipes. Se encuentran subordina<strong>do</strong>s al Ministerio <strong>Público</strong>, tenien<strong>do</strong> el Fiscal<br />

General de la Nación facultades disciplinarias sobre las autoridades policiales.<br />

40 Veja-se o nosso texto “A Ordem Constitucional E O Processo Penal”in “Processo Penal à Luz da<br />

Constituição, op cit.<br />

41 A este respeito, Piovesan, Flávia. “A incorporação, a hierarquia e o impacto <strong>do</strong>s Trata<strong>do</strong>s de<br />

proteção <strong>do</strong>s direitos humanos no direito brasileiro” In “O sistema interamericano de proteção <strong>do</strong>s<br />

direitos humanos e o direito brasileiro”. Org. por Piovesan, Flávia e Gomes, Luiz Flávio. SP, RT, 2000.<br />

42 Art 144 da CF prevê as seguintes polícias I – polícia federal; II – polícia ro<strong>do</strong>viária federal;<br />

III – polícia ferroviária federal; IV – polícias civis; V – polícias militares e corpos de bombeiros<br />

militares e as Guardas Municipais (§ 8.º Os Municípios poderão constituir guardas municipais<br />

destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei)


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 105<br />

penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens,<br />

serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e<br />

empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha<br />

repercussão interestadual ou internacional e exija repressão<br />

uniforme, segun<strong>do</strong> se dispuser em lei 43 , exercen<strong>do</strong>, dentre outras<br />

funções44 , com exclusividade, as funções de polícia judiciária da<br />

União45 , ao mesmo tempo em que deu guarida às atribuições da<br />

polícia ro<strong>do</strong>viária federal46 , polícia ferroviária federal47 , polícias<br />

militares e corpos de bombeiros48 , além da polícia civil que, dirigidas<br />

por delega<strong>do</strong>s de polícia de carreira, tem por função o exercício da<br />

polícia judiciária e apuração de infrações penais, salvo as militares49 ,<br />

apuráveis pela própria polícia militar.<br />

Num primeiro momento, as discussões giraram em torno <strong>do</strong><br />

objeto e da forma <strong>do</strong> elo de ligação mais explícito entre o <strong>Ministério</strong><br />

<strong>Público</strong> e a Polícia Judiciária50 , que é o controle externo da atividade<br />

43 Art. 144, §1º, I.<br />

44 Art. 144, §1º,II – prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o<br />

contraban<strong>do</strong> e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos<br />

nas respectivas áreas de competência;<br />

III – exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras.<br />

45 Art. 144, §1º,IV.<br />

46 Art. 144, § 2.º A polícia ro<strong>do</strong>viária federal, órgão permanente, organiza<strong>do</strong> e manti<strong>do</strong> pela<br />

União e estrutura<strong>do</strong> em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das<br />

ro<strong>do</strong>vias federais<br />

47 Art. 144, §3.º A polícia ferroviária federal, órgão permanente, organiza<strong>do</strong> e manti<strong>do</strong> pela<br />

União e estrutura<strong>do</strong> em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das<br />

ferrovias federais.<br />

48 Art. 144, §5.º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem<br />

pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a<br />

execução de atividades de defesa civil.; § 6.º As polícias militares e corpos de bombeiros<br />

militares, forças auxiliares e reserva <strong>do</strong> Exército, subordinam-se, juntamente com as polícias<br />

civis, aos Governa<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s, <strong>do</strong> Distrito Federal e <strong>do</strong>s Territórios.<br />

49 Art. 144, § 4.º Às polícias civis, dirigidas por delega<strong>do</strong>s de polícia de carreira, incumbem,<br />

ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações<br />

penais, exceto as militares.<br />

50 Veja-se, por exemplo, Guasque, Luiz Fabiao. O <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> E O Controle Externo Da<br />

Atividade Policial in Revista Do <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> Do Esta<strong>do</strong> Do Rio De Janeiro, Jan/Jun 96, págs.<br />

3/132-141; Rolim, Deusimar Controle Externo Da Atividade Policial, in Revista da Procura<strong>do</strong>ria-Geral<br />

Da República, 1995 , páginas 6/92-95; Paulino, Jose Alves. O <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> E O Controle<br />

Externo Da Atividade Policial in Revista Da Procura<strong>do</strong>ria-Geral Da República, 1995 , 6/103-111.


106<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

policial 51 . Em trabalho anterior 52 , Trata-se de norma que guarda<br />

equivalência a muitas outras encontradas na mesma matriz, como<br />

temos na Constituição espanhola, italiana e portuguesa. Na verdade<br />

nada mais é que uma decorrência lógica <strong>do</strong> figurino acusatório tantas<br />

vezes menciona<strong>do</strong>, onde o <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>, titular da ação penal<br />

pública, tem na polícia judiciária sua longa manus. Nosso caso prevê<br />

apenas o controle externo da atividade policial, isto é, não haven<strong>do</strong> a<br />

intromissão <strong>do</strong> MP em assuntos policiais de caráter preventivo, mas<br />

apenas no que diz respeito à atividade de polícia judiciária. Tal postura<br />

era verificada na explanação de Hugo N. Mazzilli 53 e também por<br />

Mártires Coelho 54 e Maurício Augusto Gomes. 55<br />

51 Sobre o tema veja-se, igualmente, Silva Jardim Afranio O <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> e o controle da<br />

atividade policial Revista Forense – VOL. 322/3 ; Rolim Waldir Supervisão da investigação criminal<br />

pelo <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> no direito compara<strong>do</strong> .REVISTA FORENSE. 302/ 3; Costa , José Arman<strong>do</strong><br />

Da. Limites <strong>do</strong> controle externo da atividade policial . REVISTA FORENSE, 344/489<br />

52 Choukr, Fauzi Hassan. “Garantias Constitucionais na Investigação Criminal”, SP, RT, 1ª ed,<br />

1995; RJ, Lúmen Júris, 2ª ed., <strong>2001</strong>.<br />

53 Na verdade, qualquer exame sério sobre a questão <strong>do</strong> controle externo da atividade policial, a<br />

ser exerci<strong>do</strong> pelo <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>, deve começar pelo ponto de interseção entre as duas instituições<br />

- <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> e Polícia. Em outras palavras, pelo nosso atual ordenamento jurídico, a propositura<br />

da ação penal, que é tarefa privativa <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>, pressupõe, normalmente, uma fase<br />

preliminar, investigatória, desempenhada pelas autoridades policiais... Como já havíamos destaca<strong>do</strong><br />

em obra anterior (O <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> na Constituição de 1988, Ed. Saraiva, 1989. pág. 117), tal<br />

controle ministerial não incide indistintamente sobre toda e qualquer questão ligada, direta ou<br />

indiretamente, à atividade policial. Retoman<strong>do</strong> esse aspecto, bem destaca Walter Paulo Sabella, em<br />

tese aprovada à unanimidade no VIII Congresso Nacional <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> (Natal-RN), que seria<br />

um erro supor que o controle a ser desempenha<strong>do</strong> pelo <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> devesse alcançar “toda e<br />

qualquer atividade da polícia, preventiva ou repressiva, inclusive as atividades-meio, simplesmente<br />

ordinatórias <strong>do</strong> funcionamento interno <strong>do</strong>s órgãos policiais como centros de competência, <strong>do</strong>s<br />

segmentos civil ou militar”. Na verdade, a se entender assim, estar-se-ia afastan<strong>do</strong> o <strong>Ministério</strong><br />

<strong>Público</strong> de seu próprio perfil, da destinação que a própria Constituição da República Ihe impôs.<br />

Mazzili, Hugo Nigro. “O Controle externo da atividade policial”, in Justitia 154-1991.<br />

54 Mártires Coelho, Inocêncio. “O Controle Externo da Atividade Policial pelo <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>”, in<br />

Justitia 154-1991. no tocante às áreas da atividade policial que deverão ser objeto <strong>do</strong> controle externo<br />

pelo <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>, devam ser compreendidas somente aquelas que tiverem relação com as funções<br />

<strong>do</strong> Parquet, dentro <strong>do</strong> sistema de freios e contrapesos consagra<strong>do</strong> em nossa Lei Fundamental.<br />

55 O inciso VII <strong>do</strong> artigo 129, que diz competir ao <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> o controle externo da atividade<br />

policial, tem sua razão de ser no fato de ser o <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> o órgão imparcial incumbi<strong>do</strong> de<br />

promover a persecução penal em juízo, no exercício <strong>do</strong> jus puniendi <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, o que faz agora com<br />

exclusividade com relação aos crimes de ação penal pública. Para a promoção da ação penal,<br />

contu<strong>do</strong>, depende o órgão da acusação <strong>do</strong>s elementos colhi<strong>do</strong>s em investigação desenvolvida pela<br />

atividade policial. Por ser o <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>, assim, o destinatário de tal atividade e novamente<br />

aplican<strong>do</strong> o sistema de freios e contrapesos, a lei deverá estabelecer mecanismos de controle da<br />

atividade policial, pelo <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>. As áreas da atividade policial que deverão ser objeto <strong>do</strong><br />

controle, serão somente aquelas que tiverem relação com as funções <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>, sen<strong>do</strong><br />

que a lei a que se refere o dispositivo constitucional é a lei orgânica <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>, prevista<br />

no artigo 128, § 5º da Constituição. Gomes, Maurício Augusto.”O <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> na Constituição<br />

de 1988- breves anotações” Justitia 145-1989.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 107<br />

No entanto, num claro desvirtuamento <strong>do</strong> tema 56 , chegou a<br />

ser usada esta norma como justificativa para não inserir o<br />

<strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> como integrante <strong>do</strong> Poder Executivo, mas<br />

alocan<strong>do</strong>-o à parte. Aliás, é de ser dito que, em não raras ocasiões,<br />

aclamou-se o <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> como um “quarto poder”, tema cuja<br />

discussão é longa na história institucional e da <strong>do</strong>gmática pátria, poden<strong>do</strong><br />

ser encontra<strong>do</strong>s antecedentes ainda na década de 40, quan<strong>do</strong> se<br />

buscava a realocação constitucional <strong>do</strong> parquet 57 , ou mais recentemente,<br />

quan<strong>do</strong> se afirmou que teoricamente nada impediria estar o<br />

<strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> dentro de qualquer <strong>do</strong>s ramos <strong>do</strong> poder ou ser erigi<strong>do</strong>,<br />

por opção legislativa, a um quarto Poder. A opção <strong>do</strong> constituinte de<br />

1988 foi, sem dúvida, conferir um eleva<strong>do</strong> status constitucional ao<br />

<strong>Ministério</strong> público, quase erigin<strong>do</strong>-o a um quarto Poder. 58<br />

Posteriormente o discurso tornou-se mais ameno, quan<strong>do</strong> foi<br />

afirmada uma posição “genuína” <strong>do</strong> parquet, como “nem Poder Judiciário,<br />

nem Poder Executivo, nem mesmo quarto poder, necessariamente, mas,<br />

em essência, organismo ao la<strong>do</strong> e <strong>do</strong> la<strong>do</strong> da Sociedade e sua vontade<br />

disciplinada, definida e expressa na ordem jurídica” 59 ou, quan<strong>do</strong> menos,<br />

justifican<strong>do</strong>-o como “categoria à parte” 60 , com o que alguns estudiosos<br />

<strong>do</strong> assunto parecem concordar, ao afirmar De qualquer forma, porém, a<br />

solução que nos parece a melhor, justamente para contribuir de forma<br />

pragmática para esse desiderato de autonomia e independência da<br />

Instituição, não é erigir o <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> a um suposto “quarto Poder”,<br />

nem colocá-lo dentro <strong>do</strong>s rígi<strong>do</strong>s esquemas da divisão tripartite atribuída<br />

56 Ademais, se ao <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> cabe, como função institucional, “exercer o controle externo<br />

da atividade policial” (art. 129, VII), à evidência, não pode pertencer ao Poder Executivo na<br />

medida em que atividade policial está inserida dentre as atividades desse Poder. Se ele - o<br />

<strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> - fosse <strong>do</strong> Executivo, esse controle não seria externo, mas interno, isto é, de um<br />

órgão sobre outro órgão <strong>do</strong> mesmo Poder. Burle Filho, José Emmanuel. “O <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> e<br />

sua Posição constitucional”, in Justitia 146-1989<br />

57 vide Salignac E Sousa, Leôncio De. O <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> Do Brasil in Justitia vol 05 set<br />

1942-abril 1943<br />

58 Saraban<strong>do</strong> José Fernan<strong>do</strong> Marreiros Controle Externo Da Atividade Policial Pelo <strong>Ministério</strong><br />

<strong>Público</strong> Justitia 177-1997.<br />

59 (Tese citada). Camargo Pentea<strong>do</strong>,Jaques De O Princípio Do Promotor Natural - Justitia 129-1985<br />

60 Siqueira Netto, Carlos <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>: Uma Nova Estratégia Para Seu Aperfeiçoamento -<br />

Justitia 99-1977


108<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

a Montesquieu, mas sim inseri-lo em título ou capítulo próprio, ou seja,<br />

colocan<strong>do</strong>-o, la<strong>do</strong> a la<strong>do</strong> com o Tribunal de Contas, entre os órgãos de<br />

fiscalização e controle das atividades governamentais, ou, como já o<br />

fizera a Constituição de 1934, entre os “órgãos de cooperação nas<br />

atividades governamentais” (artigos 95 a 98). 61<br />

No entanto, tal entendimento sempre foi alvo da desconfiança de<br />

renoma<strong>do</strong>s nomes da <strong>do</strong>utrina nacional, 62 , com a reserva explícita a tal<br />

entendimento de Frederico Marques, ao afirmar que “o <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong><br />

nem é um quarto poder, nem tampouco órgão integrante <strong>do</strong> Poder<br />

Judiciário. A<strong>do</strong>tan<strong>do</strong> a opinião de Tito Prates da Fonseca e Pontes de<br />

Miranda (para lembrar apenas juristas não peregrinos), enten<strong>do</strong> que o<br />

<strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> “não é órgão jurisdicional, mas administrativo”, sen<strong>do</strong><br />

outrossim “um <strong>do</strong>s ramos <strong>do</strong> Poder Executivo”. E perfilhan<strong>do</strong> ensinamento<br />

de Allorio, assim escrevi: “o <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> está na zona extrema da<br />

administração, justamente onde esta confina com a atividade jurisdicional”<br />

(“Instituições de Direito Processual Civil”, 1966, vol. I, pág. 200, n. 112). 63<br />

Ficou claro que a norma seria campo fértil para o florescimento<br />

de debates judiciais de cunho corporativo, e de fato assim se<br />

passou, chegan<strong>do</strong>-se a afirmar jurisprudencialmente que A extensão<br />

conceitual <strong>do</strong> controle externo da atividade policial pelo <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong><br />

é questão a ser dirimida pela cúpula da Administração, consideran<strong>do</strong> os<br />

altos interesses públicos, abstraídas as políticas corporativas. Eventual<br />

debate sobre o tema, em que ocorre discussão e desacor<strong>do</strong> entre<br />

promotores de justiça e delega<strong>do</strong>s de polícia, não configuram, em tese,<br />

crime de desobediência, pois não se confunde controle externo com<br />

subordinação hierárquica 64 .<br />

Mesmo assim pulularam conflitos entre órgãos de execução <strong>do</strong><br />

<strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> e autoridade policiais, ten<strong>do</strong> em seu cerne o alega<strong>do</strong><br />

descumprimento de requisições daquele por estas últimas, sobre o que<br />

61 Mazzilli, op. cit.<br />

62 v.g. Nonato Orosimbo “Em Defesa Das Garantias Do <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>”- Justitia 32-1961, Afonso<br />

Da Silva José <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> Nos Processos Oriun<strong>do</strong>s Do Exercício Da Ação Popular - Justitia<br />

56-1967; Ferraz, Sérgio . O <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> Na Constituição Estadual De 1967 Justitia 61-1968,<br />

63 Frederico Marques, José A Chefia <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> e a Constituição Federal. Justitia 76-1972.<br />

64 Recurso ordinário provi<strong>do</strong>. Relator(a) .Min. VICENTE LEAL RSTJ VOL.:00117 PG:00533


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 109<br />

muitas vezes se decidiu que a requisição de informações pelo MP, nos<br />

procedimentos administrativos de sua competência, aos delega<strong>do</strong>s de<br />

policia, esta compreendida no exercício <strong>do</strong> controle externo da atividade<br />

policial, defini<strong>do</strong> nos arts. 7., II, 9., II e 38 da lei complementar n. 75, de 20<br />

de maio de 1993. - o não cumprimento das diligencias solicitadas,<br />

acarretan<strong>do</strong> instauração de inquérito policial, e procedimento absolutamente<br />

legal que não deve ser tranca<strong>do</strong> sob a alegação de falta de justa causa. 65<br />

Chegou-se, inclusive, a invocar o Poder Judiciário para dirimir,<br />

conflito de atribuições“ (sic) entre integrantes dessas duas instituições,<br />

com direito a participação da autoridade judicial. Neste senti<strong>do</strong>, caso<br />

emblemático afirmou que se tratava de I) conflito de atribuições entre<br />

autoridade policial federal e representante <strong>do</strong> ministério publico federal,<br />

instaura<strong>do</strong> porque o ultimo estaria tentan<strong>do</strong> usurpar atribuições <strong>do</strong><br />

primeiro, ao se imiscuir indevidamente na condução de inquérito policial.<br />

ii) liminar concedida em correição parcial pelo juiz correge<strong>do</strong>r <strong>do</strong> tribunal<br />

regional federal da 3.ª região a procura<strong>do</strong>ria da republica para assegurarlhe<br />

não somente vista <strong>do</strong>s autos <strong>do</strong> inquérito policial como também<br />

garantir-lhe o pleno exercício de funções institucionais e reserva<strong>do</strong>s ao<br />

parquet na constituição de 1988, de controle externo da atividade policial<br />

e requisição de diligencias investigatórias (art. 129, VII e VIII), obstaculiza<strong>do</strong><br />

pelo mm. juiz federal de primeiro grau. iii) descumprimento da decisão<br />

correcional, pelo mm. juiz federal de primeiro grau, que sugeriu a autoridade<br />

policial a argüição <strong>do</strong> conflito. inviabilidade <strong>do</strong> conflito de atribuições,<br />

por não figurar em qualquer de seus pólos uma autoridade judiciária, resolven<strong>do</strong>-se<br />

a pendência no âmbito disciplinar <strong>do</strong> tribunal regional federal. 66<br />

Fato é que os des<strong>do</strong>bramentos constitucionais, <strong>do</strong> ponto<br />

de vista legislativo, deixam muito a desejar para melhorar o relacionamento<br />

entre as instituições enfocadas, como adiante se verá.<br />

4. Des<strong>do</strong>bramentos infraconstitucionais<br />

O direito em vigor dá à modalidade de investigação conhecida<br />

como inquérito policial um relacionamento bastante diverso daquele<br />

65 RT , 681/401.<br />

66 Relator(a) Min. CARLOS THIBAU (345) Data da Decisão 05/12/1991.


110<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

determina<strong>do</strong> pelo texto constitucional entre o <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong><br />

e a Polícia Judiciária, fazen<strong>do</strong> com que esta se relacione com o<br />

Poder Judiciário quase que com exclusividade.<br />

Assim, na (des)regulamentação <strong>do</strong> inquérito, a autoridade<br />

policial pede ao juiz dilação de prazo para conclusão das<br />

investigações 67 , e a ele que também dirige seu relatório conclusivo<br />

68 e vincula a polícia à autoridade judicial para fornecimento<br />

de informações para o julgamento <strong>do</strong>s processos 69 , limitan<strong>do</strong> a<br />

expor que também deverá a autoridade policial atender aos<br />

requerimentos <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> 70 . O mesmo se passa no<br />

Código de Processo Penal Militar. Porém, por mais para<strong>do</strong>xal<br />

que possa parecer, o relacionamento entre a autoridade policial<br />

militar, na condução <strong>do</strong>s denomina<strong>do</strong>s Inquéritos Policiais<br />

Militares com o <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> é mais estreita na produção<br />

probatória 71 .<br />

Porém, o grande tema deixa<strong>do</strong> pela Constituição resta<br />

desconsidera<strong>do</strong> pela legislação infraconstitucional, a saber a<br />

essência e a forma de controle. Quan<strong>do</strong> muito, foi o tema trata<strong>do</strong><br />

nas leis orgânicas <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> 72 ou em atos internos<br />

deste órgão estatal, o que causou demandas judiciais de varia<strong>do</strong>s<br />

67 Art. 10 § 3º, <strong>do</strong> CPP: Quan<strong>do</strong> o fato for de difícil elucidação, e o indicia<strong>do</strong> estiver solto, a<br />

autoridade poderá requerer ao juiz a devolução <strong>do</strong>s autos, para ulteriores diligências, que<br />

serão realizadas no prazo marca<strong>do</strong> pelo juiz.<br />

68 Art. 10 § 1º <strong>do</strong> CPP. A autoridade fará minucioso relatório <strong>do</strong> que tiver si<strong>do</strong> apura<strong>do</strong> e enviará<br />

os autos ao juiz competente.<br />

69 Art. 13. Incumbirá ainda à autoridade policial: I - fornecer às autoridades judiciárias as<br />

informações necessárias à instrução e julgamento <strong>do</strong>s processos.<br />

70 II - realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>;<br />

71 No CPPM: Art. 8º. Compete à polícia judiciária militar: a) apurar os crimes militares, bem como<br />

os que, por lei especial, estão sujeitos à jurisdição militar, e sua autoria; b) prestar aos órgãos<br />

e juízes da Justiça Militar e aos membros <strong>do</strong> MP as informações necessárias à instrução e<br />

julgamento <strong>do</strong>s processos, bem como realizar as diligências que por eles lhe forem requisitadas.<br />

72 V.g. na LEOMP: Art. 117 - Incumbe ao <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> Militar: I - requisitar diligências<br />

investigatórias e a instauração de inquérito policial-militar, poden<strong>do</strong> acompanhá-los e apresentar<br />

provas;<br />

.<br />

II - exercer o controle externo da atividade da polícia judiciária militar.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 111<br />

matizes 73 . Mesmo a forma de tramitação direta entre o <strong>Ministério</strong><br />

<strong>Público</strong> e a Polícia Judiciária foi contestada judicialmente 74 .<br />

Desta maneira restou praticamente inatacada a forma de<br />

tratamento <strong>do</strong>utrinário da matéria mesmo após a Constituição, refletin<strong>do</strong><br />

a <strong>do</strong>utrina problemas estruturais da investigação da forma<br />

como se fez desde a entrada em vigor <strong>do</strong> Código em 1942 75 , muitas<br />

73 Exemplo disto a seguinte ação: Consideran<strong>do</strong> que, em sede de controle abstrato de<br />

constitucionalidade, é inviável a análise de ato regulamentar, o Tribunal manteve decisão <strong>do</strong> Min.<br />

Maurício Corrêa, relator, que negara seguimento a ação direta de inconstitucionalidade, ajuizada<br />

pelo Parti<strong>do</strong> Liberal - PL, contra o Ato 158 da Procura<strong>do</strong>ria-Geral de Justiça <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Paraná,<br />

que institui a Promotoria Especializada de Controle Externo da Atividade Policial. Entendeu-se<br />

que os alega<strong>do</strong>s excessos <strong>do</strong> poder regulamentar <strong>do</strong> ato impugna<strong>do</strong> não revelariam<br />

inconstitucionalidade, mas sim eventual ilegalidade frente à lei complementar regulamentada<br />

(Lei Orgânica <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> estadual), sen<strong>do</strong> indireta, ou reflexa, a alegada ofensa à CF.<br />

Precedentes cita<strong>do</strong>s: ADInMC 708-DF (DJ U de 7.8.92); ADInMC 1.347-DF (DJU de 1º.12.95). ADIn<br />

(AgRg) 2.426-PR, rel. Min. Maurício Corrêa, 2.8.<strong>2001</strong>.(ADI-2426).<br />

74 O Tribunal, por maioria, não conheceu de ação direta de inconstitucionalidade ajuizada pelo<br />

Parti<strong>do</strong> Social Liberal - PSL contra dispositivos <strong>do</strong> Provimento 7/97, <strong>do</strong> Correge<strong>do</strong>r Geral da<br />

Justiça <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Pernambuco, que disciplina a distribuição de inquéritos policiais perante a<br />

Distribuição <strong>do</strong> Foro de Recife, e <strong>do</strong> Ato PGJ 93/97, <strong>do</strong> Procura<strong>do</strong>r-Geral de Justiça <strong>do</strong> mesmo<br />

Esta<strong>do</strong>, que cria a Central de Inquéritos no âmbito <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>, em que se alegava<br />

inconstitucionalidade por ofensa aos arts. 128, 129, VIII e 22, I da CF. O Tribunal entendeu que os<br />

provimentos impugna<strong>do</strong>s não se qualificam como regulamentos autônomos <strong>do</strong>s arts. 128 e 129 da<br />

CF, porquanto não dão ao <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> o controle externo da atividade policial, não<br />

evidencian<strong>do</strong> inconstitucionalidade, mas sim eventual ilegalidade frente à legislação<br />

infraconstitucional. Venci<strong>do</strong> o Min. Marco Aurélio, que deferia a liminar, por aparente ofensa ao<br />

art. 129, VIII da CF, por entender que o <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> estaria atuan<strong>do</strong> no âmbito de competência<br />

<strong>do</strong> Poder Judiciário. ADIn 1.968-PE, rel. Min. Moreira Alves, 1º.2.2000.<br />

75 Exemplo disto o seguinte trecho <strong>do</strong>utrinário: Finalmente, havemos de nos deter num determina<strong>do</strong><br />

ponto: o <strong>do</strong> indiciamento <strong>do</strong> suspeito. Aí reside importante implicação de ordem legal: o código<br />

adjetivo penal incumbe a autoridade policial, ou seja, o delega<strong>do</strong> de polícia, de tal proceder (artigo<br />

6º, VIII e IX). O mestre Sérgio Marcos Moraes Pitombo já teve a oportunidade de ensinar: “o indiciamento<br />

implica certa qualificação jurídica, ou melhor, categoria determinante de conseqüências próprias, no<br />

âmbito <strong>do</strong> procedimento inquisitivo, prevalentemente, restritivas de direitos. O indicia<strong>do</strong>... pode,<br />

ainda, sofrer apreensão e seqüestro de bens, providências cautelares, coarctantes <strong>do</strong>s direitos de<br />

posse e propriedade (arts. 6, II, 127 e 240 <strong>do</strong> Cód. de Proc. Penal). No plano fático, padece<br />

limitações econômicas, como o cerceamento <strong>do</strong> crédito”.(5) Em seguida, na mesma obra, demonstra<br />

que “o indiciamento, como instituto jurídico, deverá emergir configura<strong>do</strong> em ato formal de polícia<br />

judiciária” (grifos originais). Razão inteira ao grande jurista assiste. Temerário seria se pretender que<br />

tal ato, o <strong>do</strong> formal indiciamento, fosse entrar para o âmbito de competência <strong>do</strong> promotor público;<br />

emergin<strong>do</strong> nos autos provas da autoria da infração contra um suspeito, deverá ele ser indicia<strong>do</strong>, pelo<br />

que incumbirá ao membro da instituição ministerial oficiar ao delega<strong>do</strong> competente, remeten<strong>do</strong>-lhe<br />

cópias de todas as peças, requisitan<strong>do</strong> tal providência, a qual será feita em autos próprios de<br />

inquérito policial. Se quanto ao poder de requisitar diligências quaisquer à polícia judiciária não se<br />

discute, evidentemente que exceto as manifestamente ilegais, o que decerto que se trata de hipótese<br />

bem remota, ao mesmo tempo poderá alguém questionar a elaboração de tal tipo de inquéritos (para<br />

apenas uma providência). Inexistem óbices legais ou mesmo práticos a tal medida; a feitura de<br />

inquérito ditos complementares é perfeitamente usual, visan<strong>do</strong> via de regra mesmo o formal<br />

indiciamento de alguém, possibilitan<strong>do</strong> se, destarte, a remessa <strong>do</strong> Boletim de Identificação Criminal<br />

ao setor de estatística competente,bem como a viabilização de se erigir aquele inicialmente suspeito,


112<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

vezes apenas conceden<strong>do</strong> um breve aceno ao tema para afirmar<br />

que o instituto de controle externo da atividade policial já existia,<br />

difusamente, antes da Constituição Federal de 1988, ten<strong>do</strong> aí o seu<br />

advento, entretanto, sob forma expressa e inequívoca; 2.ª - os artigos<br />

5.º, II, 13, II, e 47, <strong>do</strong> Código de Processo Penal, e os artigos 8.º, “b”, 10,<br />

“c”, 55 e 56, <strong>do</strong> Código de Processo Penal Militar, bem como o artigo 15,<br />

III, da antiga Lei Orgânica Nacional <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong>, já instituíam o<br />

poder/dever <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> de controlar, externamente, a atividadefim<br />

das polícias judiciárias, que é exatamente a da apuração das infrações<br />

penais (materialidade + autoria) 76 , derivan<strong>do</strong>-se outra discussão, a da<br />

atividade investigativa <strong>do</strong> próprio <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> 77 .<br />

5. Perspectivas <strong>do</strong> tema<br />

Da forma como se encontra o debate <strong>do</strong> tema no plano interno,<br />

em âmbito <strong>do</strong>utrinário, legislativo e jurisprudencial, o futuro imediato não<br />

é <strong>do</strong>s mais promissores.<br />

No plano acadêmico, ainda que se tenha em conta a lição de Ambos,<br />

quan<strong>do</strong> afirma que uma das diretrizes para a reforma <strong>do</strong> relacionamento<br />

entre <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> e Polícia Judiciária é que La autoridad acusatoria<br />

debe ser partícipe lo más amplia y tempranamente posible de las<br />

investigaciones para poder ejercer su función de control. Por tanto, también,<br />

mero objeto de investigação, a alguém sujeito de direitos (sem dúvida que a implicação mais<br />

contundente é a de possibilitar a apreensão e seqüestro de seus bens), além de ingressar para os<br />

arquivos de indicia<strong>do</strong>s da polícia, muitas vezes figuran<strong>do</strong> até em computa<strong>do</strong>r, de valia inestimável<br />

principalmente ao se chegar o momento de aferição <strong>do</strong>s antecedentes e conduta social <strong>do</strong> réu. Em<br />

artigo que tivemos a oportunidade de ver publica<strong>do</strong> no jornal “A Tribuna” (de Santos-SP), em data<br />

de 04/12/88, ao discorrermos sobre “A Identificação Criminal Diante da Nova Ordem Constitucional”,<br />

mencionan<strong>do</strong> trecho de autoria diversa afirmamos: “...se resume à coleta de da<strong>do</strong>s sobre o<br />

indicia<strong>do</strong>...e é necessário à abertura ou alimentação <strong>do</strong> respectivo prontuário criminal e obtenção<br />

da folha de antecedentes...”(6). Saraban<strong>do</strong>, José Fernan<strong>do</strong> Marreiros. “Da apuração das infrações<br />

penais pelo Promotor de Justiça”, Justitia 152-1990.<br />

76 Saraban<strong>do</strong>, op cit.<br />

77 Para uma visão <strong>do</strong> tema, Fonteles Claudio Investigação Preliminar: significa<strong>do</strong> e implicações<br />

Boletim Dos Procura<strong>do</strong>res Da República 35 , Março De <strong>2001</strong>. Para uma visão francamente<br />

contrária, Morais Filho, Antonio Evaristo. O <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> e o Inquérito Policial, in Revista <strong>do</strong><br />

Instituto Brasileiro de Ciência Criminais19/105 e sgs.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 113<br />

pero sobre to<strong>do</strong>, en el ámbito de la lucha preventiva contra la delincuencia<br />

debe ser informada sin demora de las medidas de investigación, o ya<br />

con anterioridad, de la fijación de puntos prioritarios en el estadio previo,<br />

y no sólo cuan<strong>do</strong> se la requiere para llevar a cabo medidas coercitivas.<br />

Especialmente, debe tener un acceso ilimita<strong>do</strong> al efectivo de datos<br />

policiales78 . Tal temprana participación no sólo es correcta en un Esta<strong>do</strong><br />

derecho, sino también exigible por razones de eficacia, pues incrementa<br />

la calidad (jurídica) de los resulta<strong>do</strong>s de la investigación y, en su caso, de<br />

la acusación, de cara a las probabilidades de condena79 . 80 Não existe<br />

uma discussão consistente sobre o tema, fican<strong>do</strong> o asunto ao sabor de<br />

disputas corporativas para o exercício <strong>do</strong> poder.<br />

Do ponto de vista legislativo, o projeto de reforma sobre a<br />

investigação criminal é absolutamente omisso a respeito81 , como se o<br />

tema não devesse ser trata<strong>do</strong> pela reforma desta parte <strong>do</strong> Código. Por<br />

fim, refletin<strong>do</strong> sobre tu<strong>do</strong> isto, a jurisprudência se vê inundada de ações<br />

que versam sobre o assunto mas de um ponto de vista de lutas de<br />

corporações e, invariavelmente, nada responde de concreto, pois as ações<br />

são, na sua maioria, julgadas sem apreciação <strong>do</strong> mérito.<br />

Com isto deixa-se como está esta face da administração <strong>do</strong> poder<br />

estatal de punir. Como resulta<strong>do</strong> prático, atua-se um processo penal<br />

com os mesmos valores <strong>do</strong> Código de 1942, deixan<strong>do</strong>-se ao aban<strong>do</strong>no<br />

a reflexão sobre o relacionamento desses órgãos estatais em campos<br />

mais delica<strong>do</strong>s ainda, como na investigação da criminalidade organizada<br />

78 Cfr. asímismo Lilie, supra nota, pág. 642; Roxin, supra nota, pág. 121; Schaefer, supra, págs. 196 ys.<br />

79 Habel, supra nota, págs. 165 y s., demuestra que a comienzos del siglo XX en el „sistema<br />

badense“ la tasa de declaraciones de inocencia en relación con las acusaciones era bastante<br />

inferior al caso, por ejemplo, de Prusia, <strong>do</strong>nde la fiscalía ejercía un control menor sobre la policía<br />

dentro del Processo de instrucción. Esto se corresponde con el panorama criminológico del que da<br />

noticia Kinzig, supra nota, pág. 211, sobre que la fiscalía en la consideración de determina<strong>do</strong>s<br />

supuestos de hechos como pertenecientes a la criminalidad organizada es al parecer más cauteloso<br />

que la Jefatura de Policía de Baden-Württemberg.<br />

80 Ambos, op. Cit.<br />

81 Para uma completa visão <strong>do</strong> assunto, veja-se Choukr, Fauzi Hassan & Ambos, Kai. “A Reforma <strong>do</strong><br />

Processo Penal no Brasil e na América Latina”, SP, Méto<strong>do</strong>, <strong>2001</strong>, especialmente capítulo de<br />

comentários ao anteprojeto de investigação criminal.


114<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

e no quase virgem tema no direito brasileiro, que é o relacionamento<br />

<strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> e Polícia Judiciária na proatividade investigativa.<br />

Fauzi Hassan Choukr<br />

Promotor de Justiça,<br />

Mestre e Doutor pela Faculdade de Direito<br />

da Universidade de São Paulo.<br />

Especializa<strong>do</strong> em Direitos Humanos<br />

pela Universidade de Oxford (New College).<br />

Pesquisa<strong>do</strong>r convida<strong>do</strong> <strong>do</strong> Instituto Max Planck para<br />

Direito Penal Estrangeiro, Internacional e Criminologia<br />

–Freiburg im Breisgau– Alemanha.


control control de de la la la policía policía por<br />

por<br />

el el fiscal fiscal v vversus<br />

v versus<br />

ersus <strong>do</strong>minio<br />

<strong>do</strong>minio<br />

policial policial de de de la la la instrucción<br />

instrucción<br />

kai ambos,<br />

Doutor em direito penal pela<br />

universidade de munique -alemanha


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 117<br />

CONTROL DE LA POLICÍA POR<br />

EL FISCAL VERSUS DOMINIO<br />

POLICIAL DE LA INSTRUCCIÓN *<br />

Kai Ambos<br />

Observación preliminar<br />

De acuer<strong>do</strong> con el propósito del legisla<strong>do</strong>r reformista del siglo XIX,<br />

con la creación del ministerio fiscal (Staatsanwaltschaft) se persiguieron<br />

fundamentalmente tres objetivos1 : la derogación del tradicional proceso<br />

inquisitivo mediante la realización de forma separada de las funciones de<br />

acusación y enjuiciamiento por parte de la fiscalía y de los tribunales; la<br />

creación de una institución objetiva encargada de la investigación, que al<br />

mismo tiempo habría de asumir el papel de guardián de la ley con respecto<br />

a la actuación estatal; y finalmente - relaciona<strong>do</strong> con esto último - el control<br />

jurídico-estatal de las investigaciones policiales. De este mo<strong>do</strong>, debi<strong>do</strong> a<br />

sus amplias competencias en la dirección material, el ministerio fiscal<br />

habría de convertirse en „dueño y señor de la instrucción procesal“ 2 y<br />

también -precisamente con respecto a la policía- en garante de un proceso<br />

jurídico-estatal revesti<strong>do</strong> de forma judicial3 . A este punto de partida histórico<br />

volveremos posteriormente, sin embargo, merece ser menciona<strong>do</strong> ya<br />

* Título original: Staatsanwaltschaftliche Kontrolle der Polizei versus Verpolizeilichung des<br />

Ermittlungsverfahrens. Traducción de Teresa Manso Porto, colabora<strong>do</strong>ra científica en el Instituto<br />

Max Planck de Friburgo; revisión y actualización del autor.<br />

Agradezco a mi colega Dr. Jörg Kinzig por importantes referencias. Cand. iur. Martin Viciano<br />

Gofferje merece asimismo mi agradecimiento por su apoyo en la composición del texto.<br />

1 Roxin, Rechtsstellung und Zukunftsaufgaben der Staatsanwaltschaft, DRiZ 1969, págs. 385 y s.<br />

2 Bundesverfassungsgericht (Tribunal Constitucional, BVerfG), en: Neue Juristische Wochenschrift<br />

1976, pág. 231; cfr. En la – inabarcable – literatura entre otros Hellmann, Strafprozeßrecht, 1998,<br />

§ 3 núm. marg. 1.<br />

3 Cfr. Riess, Prolegomena zu einer Gesamtreform des Strafverfahrensrechts, Libro-homenaje a<br />

Schäfer (1980), pág. 155 (194).


118<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

aquí por cuanto que se puede afirmar sin más que la lucha del ministerio<br />

fiscal por el control de la policía ha i<strong>do</strong> dejan<strong>do</strong> huella a lo largo su historia;<br />

es más, es tan antigua como la institución misma. Esto no debe perderse<br />

de vista si pretendemos hablar desde la perspectiva actual de la<br />

contradicción existente entre la situación legal (I.) y la realidad del proceso<br />

(II.) para ocuparnos finalmente de la llamada lucha preventiva contra la<br />

delincuencia (III.).<br />

I. La situación legal<br />

1. Fundamentos<br />

El ministerio fiscal está llama<strong>do</strong> a ejercer la acusación pública<br />

(principio de acusación, § 152 I StPO) 4 . Está obliga<strong>do</strong> a intervenir en<br />

cualquier hecho penal perseguible, siempre y cuan<strong>do</strong> haya indicios<br />

suficientes, es decir, cuan<strong>do</strong> exista lo que se llama una sospecha inicial<br />

(principio de legalidad, § 152 II). Es quien decide acerca del resulta<strong>do</strong><br />

final de la instrucción procesal en tanto que formula la acusación (§ 170<br />

I) o – por razones de oportunidad (§ 153 y sgs.) o por motivos fácticos o<br />

jurídicos (§ 170 II) – dicta el sobreseimiento.<br />

Según la concepción normativa del ordenamiento procesal, el<br />

ministerio fiscal debe, tal y como señala el Tribunal Supremo Federal<br />

(Bundesgerichtshof), „garantizar el correcto transcurso de las<br />

investigaciones y ejercer el permanente control jurídico de la actividad<br />

de investigación policial ...; está obliga<strong>do</strong> a ejercer la función de control<br />

y dirección, ... la competencia exclusiva en la dirección material“ 5 . Según<br />

el § 161 I primer inciso, primera alternativa, el fiscal puede incluso asumir<br />

él mismo las investigaciones. Sin embargo, eso es sólo una posibilidad<br />

teórica, pues no dispone de una policía judicial propia, tal como la<br />

4 Parágrafos sin designación específica corresponden al Ordenamiento procesal alemán<br />

(Strafprozeßordnung, StPO).<br />

5 Bundesgerichtshof Strafsachen (Corte Suprema, asuntos penales = BGHSt), t. 34, pág. 215 (217);<br />

la misma en NJW 1987, pág. 1033.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 119<br />

conocemos del derecho francés bajo police judiciaire6 , o como existe<br />

también en España y Latinoamérica como policía judicial7 . El fiscal<br />

alemán es más bien, como lo expresó una vez Kern8 , una „cabeza sin<br />

manos“ y, como tal, dependiente de la policía. Generalmente, el ministerio<br />

fiscal deja que las investigaciones sean realizadas por parte de la policía<br />

(§ 161 I, primer inciso, segunda alternativa); ésta, „como brazo<br />

prolonga<strong>do</strong> de la fiscalía“ 9 , está obligada a satisfacer el requerimiento o<br />

la instrucción del ministerio fiscal (§ 161 I segun<strong>do</strong> inciso), está vinculada<br />

– en el ámbito represivo – a las órdenes de éste10 . Se trata de una<br />

relación legal de encargo, de un mandato a iure, la policía es mandataria<br />

del ministerio fiscal11 .<br />

Se deben distinguir <strong>do</strong>s categorías de funcionarios de la policía:<br />

por un la<strong>do</strong>, los llama<strong>do</strong>s funcionarios auxiliares de la fiscalía conforme<br />

al § 152 de la Ley de Organización Judicial (Gerichtsverfassungsgesetz,<br />

GVG) – imitan<strong>do</strong> a los „officiers de police judiciaire auxiliaires“ franceses12 – y, por otro, los funcionarios de policía ordinarios, que no poseen el estatus<br />

de los funcionarios auxiliares. Dicho estatus se determina a través de<br />

reglamentos ejecutivos de los Esta<strong>do</strong>s Federales respectivos por grupos<br />

(§ 152 II GVG), es decir, se nombran los grupos de funcionarios que<br />

6 Cfr. Görgen, Die organisatorische Stellung der Staatsanwaltschaft, 1973, págs. 53 y s.; Rüping,<br />

Das Verhältnis von Staatsanwaltschaft und Polizei, ZStW 95 (1983), págs. 894 y s.; acerca del<br />

control a través del ministerio y del juez de instrucción cfr. Cédras, en: Arbour/Eser/Ambos/Sanders<br />

(eds.), The Prosecutor of a Permanent International Criminal Court, 2000, pág. 327.<br />

7 Aquí, sin embargo, es necesario hacer algunas diferenciaciones. Así, según Gómez Colomer, en<br />

España no existe una policía judicial en el senti<strong>do</strong> de un cuerpo policial perteneciente<br />

exclusivamente al Ministerio Fiscal, en: Arbour/Eser/Ambos/Sanders (eds.), supra nota 6, págs. 311<br />

y s. Sobre Latinoamérica, cfr. Ambos/Woischnik, ZStW 113 (<strong>2001</strong>), págs. 334 y ss., con ulteriores<br />

reseñas bibliográficas.<br />

8 Kern, Gerichtsverfassungsrecht, 1965, pág. 227; cfr. asímismo Roxin, supra nota 1, pág. 388.<br />

9 Bundesverwaltungsgericht (Tribunal Supremo Administrativo = BVerwG), t. 7, pág. 255 (263); la<br />

misma en NJW 1975, pág. 893.<br />

10 Sobre las limitaciones de la facultad de dar instrucciones – que también se deriva del § 152 I<br />

GVG – cfr. Habel, Möglichkeiten einer Reform des Verhältnisses von Staatsanwaltschaft und Polizei<br />

im Ermittlungsverfahren, 1982, págs. 44 y ss.<br />

11 Cfr. para mayor detalle Görgen, supra nota 6, págs. 89, 123 y 162; asímismo Habel, supra nota<br />

10, pág. 47; Kunzmann, Die Kollision zwischen der Aufgabe der Gefahrenabwehr und anderen<br />

Aufgaben der Polizei, 1990, págs. 27 y ss., 157.<br />

12 Cfr. Görgen, supra nota 6, pág. 54.


120<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

deben ser considera<strong>do</strong>s funcionarios auxiliares en el senti<strong>do</strong> de la ley.<br />

Así, por ejemplo, en Baviera se cuentan entre los funcionarios auxiliares<br />

del la fiscalía funcionarios de la administración financiera y tributaria, de la<br />

policía federal (policía criminal y policía uniformada), de la Administración<br />

de montes, caza y pesca, así como de las direcciones de minas del<br />

Gobierno 13 . Disposiciones similares se encuentran en los reglamentos<br />

de los otros Esta<strong>do</strong>s Federales 14 , si bien cabe matizar que no sólo están<br />

afecta<strong>do</strong>s miembros de la policía criminal, sino también fundamentalmente<br />

servicios de categoría intermedia y también sectores de la policía común 15 .<br />

Cuan<strong>do</strong> se trata de una tarea encomendada por la fiscalía a funcionarios<br />

auxiliares se habla de encargo („Auftrag“), mientras que si es a<br />

funcionarios de policía ordinarios se habla de requerimiento<br />

(„Ersuchen“) 16 . La verdadera diferencia entre funcionarios de policía<br />

ordinarios y funcionarios auxiliares estriba en que algunas de las<br />

medidas coercitivas previstas en el ordenamiento procesal para casos<br />

de „peligro en la demora“ no pueden ser a<strong>do</strong>ptadas por funcionarios de<br />

policía ordinarios , sino por funcionarios auxiliares – además de por la<br />

fiscalía–, como, por ejemplo, una exploración corporal conforme al § 81<br />

a II ó un registro <strong>do</strong>miciliario de acuer<strong>do</strong> con el § 105 I 17 .<br />

13 Reglamento acerca de los Funcionarios Auxiliares de la Fiscalía de 21 de diciembre de 1995,<br />

Bayerisches Gesetz und Verordnungsblatt (BayGVBl.) 1/1996, pág. 4.<br />

14 Cfr. por ejemplo el Reglamento del Gobierno Federal de Baden-Württemberg de 12 de febrero<br />

de 1996, Gesetzblatt (GBl.) de 6 de marzo de 1996, pág. 184; también el Reglamento de Renania<br />

del Norte-Westfalia de 31 de agosto de 1982 (GVBl. 592), Änderungsverordnung de 7 de mayo de<br />

1985 (GVBl. 382), así como de Thüringen, de 12 de junio de 1996 (GVBl. 110).<br />

15 Cfr. también Kühne, Strafprozessrecht, 5. ed., 1999, núm. marg. 147; Hellmann, supra nota 2, §<br />

3 núm. marg. 91; Peters, Strafprozess, 4. ed. 1985, § 24 IV; detalladamente Habel, supra nota 10,<br />

pág. 52 y ss., que lamenta que no se haga funcionarios auxiliares a los de mayor graduación.<br />

16 Cfr. Beulke, Strafprozessrecht, 5. ed. 2000, núm. marg. 102; Volk, Strafprozessrecht, 1999, § 7<br />

núm. marg. 5 y s.; Füllkrug, Neue Formen der Kriminalitätsbekämpfung und ihre Auswirkungen auf<br />

das Verhältnis von Staatsanwaltschaft und Polizei, ZRP 1984, pág. 193 (194).<br />

17 Además, la confiscación de acuer<strong>do</strong> al § 98 I (cfr. también § 111 e I), investigación de otras<br />

personas según el § 81 c V, empleo de medios técnicos (§ 100c I) según el § 100 d I, establecimiento<br />

con el fin de realizar una detención según el § 131 I, búsqueda y captura según el § 131 c I,<br />

medidas para asegurar la persecución o la ejecución según el § 132 II, pesquisas policiales con<br />

registro de datos en los casos del § 163 d II, así como seguimientos prolonga<strong>do</strong>s según el § 163 f<br />

III. – Los funcionarios auxiliares disponen además – con independencia del peligro en la demora<br />

– de las facultades del § 100b III y § 111 f I.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 121<br />

2. Imprecisiones normativas<br />

Sin embargo, la relación entre policía y ministerio fiscal a nivel<br />

normativo no está libre de ciertas imprecisiones. Ello tiene que ver, por<br />

un la<strong>do</strong>, con el hecho de que la policía y el ministerio fiscal sirven a <strong>do</strong>s<br />

amos distintos: la policía está subordinada en el aspecto jurídicoorganizativo<br />

a los respectivos ministerios estatales del interior, mientras<br />

que la fiscalía depende de los ministerios de justicia. En el aspecto<br />

disciplinario, el funcionario de policía ordinario solamente está sujeto a<br />

sus superiores policiales. El ministerio fiscal, más allá de sus facultades<br />

de instrucción y vigilancia, no posee ningún poder disciplinario sobre la<br />

policía en el ejercicio de sus funciones represivas18 . Ya en la Exposición<br />

de Motivos de la Ley de Organización Judicial se caracterizó a la relación<br />

entre ministerio fiscal y policía como „inacabada e indeterminada en cuanto<br />

a sus límites“, „pues no existe un vínculo organizativo entre ambos“ 19 .<br />

Últimamente se la ha califica<strong>do</strong> de „inestable“ 20 . En este senti<strong>do</strong>, se ha<br />

manifesta<strong>do</strong> tempranamente la sospecha de que uno debe conformarse<br />

conscientemente con esta indeterminación, a fin de no someter la<br />

supuesta eficacia policial a mayores limitaciones. Así, Mittermaier ya<br />

recogía la opinión de „que con una escasa libertad de movimientos y una<br />

posición de la institución policial en la que la discrecionalidad para disponer<br />

lo conveniente según las necesidades del caso concreto ha de ser<br />

traspasada, la buena efectividad de la policía no está garantizada“ 21 .<br />

Sobre esto, el derecho vigente – y ya incluso el Ordenamiento<br />

Procesal del Imperio – resulta contradictorio en cuanto que faculta a la<br />

policía – dentro del marco del llama<strong>do</strong> primer asalto22 o, como decimos<br />

hoy en día, la primera intervención23 – „a investigar hechos penales y a<br />

dictar todas las órdenes que no permitan dilación...“ (§ 163 I primer inciso),<br />

pero, por otro la<strong>do</strong>, obliga a que dé trasla<strong>do</strong> de las „actuaciones sin<br />

18 Cfr. Görgen, supra nota 6, pág. 112; Habel, supra nota 10, págs. 47 y ss.<br />

19 Cfr. Hahn, Die gesamten Materialien zu dem Gerichtsverfassungsgesetz, Sección 1, 1879, pág. 153.<br />

20 Cfr. Rüping, supra nota 6, pág. 916.<br />

21 Mittermaier, Gesammelte Schriften 14 (1862), pág. 41; cit. según Rüping, supra nota 6, pág. 897.<br />

22 Así todavía en el derecho prusiano, cfr. Görgen supra nota 6, págs. 40 y ss.<br />

23 Cfr. Pfeiffer, Strafprozeßordnung, 3. ed. 2000, § 163 núms. margs. 1 y 2.


122<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

demora“ al ministerio fiscal (§ 163 II segun<strong>do</strong> inciso) y la somete de manera<br />

general a las órdenes de la fiscalía (§ 161 I). Esto se ha interpreta<strong>do</strong><br />

siempre por parte de la postura tradicional como que el mandato policial<br />

a través del ministerio fiscal conforme al § 161 I constituye lo que el<br />

ordenamiento procesal considera como caso general, mientras que la<br />

facultad de la primera intervención de conformidad con el § 163 I es<br />

solamente una facultad de urgente necesidad, es decir, una excepción 24 .<br />

En contra de dicha relación de regla-excepción, esto es, del sometimiento<br />

estricto de la policía, habla, sin embargo la asignación ilimitada de funciones<br />

con carácter general dentro de la primera intervención, es decir, „investigar<br />

hechos penales y a<strong>do</strong>ptar todas las medidas que no admitan demora,<br />

para evitar que se entorpezca la causa“ 25 . Además, la última Ley de<br />

Reforma del Procedimiento Penal (Strafverfahrensänderungsgesetz,<br />

StVÄG) de 2 de agosto del 2000, ha converti<strong>do</strong> la asignación originaria de<br />

funciones contenida en los §§ 161 I y 163 I en una cláusula general de<br />

investigación 26 . Si bien ello ha de contener únicamente la facultad de<br />

a<strong>do</strong>ptar medidas de investigación que sean menos intensivas en cuanto<br />

a recorte de derechos fundamentales que en el caso de las medidas<br />

coercitivas individuales (Einzeleingriffsermächtigungen) 27 , lo cierto es que<br />

la policía también está facultada – en el marco de esta primera intervención<br />

(„con este fin“) – „para llevar a cabo investigaciones de to<strong>do</strong> tipo“; se le<br />

otorga, por tanto, una facultad de investigación procesal penal 28 . Esta<br />

facultad adquiere mayor significa<strong>do</strong> si se la considera dentro del contexto<br />

de la discusión acerca de la competencia de la policía para la a<strong>do</strong>pción<br />

24 Cfr. Peters, supra nota 15, § 24 Ap. 3; Pfeiffer, supra nota 23, § 163 núm. marg. 10; cfr. asimismo<br />

Görgen, supra nota 6, págs. 69 y s., que pretende limitar las competencias de la policía a las<br />

medidas impostponibles.<br />

25 Cfr. Karlsruher Kommentar-Wache, 4. ed 1999, § 163 núm. marg. 4; Rüping, supra nota 6, págs.<br />

65 y ss.; Habel, supra nota 10, págs. 41 y ss.<br />

26 Cfr. Hilger, Zum Strafverfahrensänderungsgesetz 1999 (StVÄG 1999) – Parte 1, NStZ 2000, pág.<br />

561 (563 y s.).<br />

27 Ejemplos en ibidem, 564; de la misma opinión Murmann/Grassmann, Die strafprozessuale<br />

Zusatzfrage im Ersten Juristischen Staatsexamen, Juristische Schulung (JuS) anexo al fascículo 3/<br />

<strong>2001</strong>, pág. 1 (6).<br />

28 Cfr. Pfeiffer, supra nota 23, § 163 núm. marg. 2. Críticamente, P. A. Albrecht, Vom Unheil der<br />

Reformbemühungen im Strafverfahren, StV <strong>2001</strong>, pág. 416 (419), que habla incluso de „violación<br />

constitucional“.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 123<br />

de las llamadas investigaciones previas, investigaciones en estadio previo<br />

o investigaciones iniciales. Sobre ello se volverá más adelante.<br />

Finalmente, en este contexto debe también advertirse del hecho<br />

de que la disposición legal de dar trasla<strong>do</strong> de las „actuaciones sin demora“<br />

del § 163 II – toman<strong>do</strong> como base una sentencia del Tribunal del Imperio<br />

(Reichsgericht) del año 1883 – desde siempre se ha interpreta<strong>do</strong> con<br />

relativa generosidad en el senti<strong>do</strong> de que la obligación de entrega no<br />

surge hasta que se haya „actua<strong>do</strong>“, es decir, se haya investiga<strong>do</strong> algo29 .<br />

Así, „sin demora“ significa después del aseguramiento imposponible de<br />

las pruebas, de las debidas actuaciones de investigación y de su<br />

<strong>do</strong>cumentación escrita en el sumario30 .<br />

Ahora bien, en esta discusión no debe perderse de vista la<br />

dimensión histórica. Si en el proceso inquisitivo de la primera mitad<br />

del siglo XIX era práctica habitual que los funcionarios de policía<br />

monopolizasen completamente el fase de instrucción y entregasen el<br />

asunto al tribunal penal una vez que el supuesto de hecho estuviese<br />

totalmente investiga<strong>do</strong> y listo para su enjuiciamiento definitivo por parte<br />

del tribunal31 , con la creación de la fiscalía y la introducción de un<br />

procedimiento penal reforma<strong>do</strong> durante la segunda mitad del siglo XIX<br />

primero en Prusia, a la policía se contrapuso un órgano de control<br />

jurisdiccional32 , si bien no se alcanzó un control total de ella por parte<br />

de la fiscalía.<br />

En el año 1845 el célebre v. Savigny, entonces ministro prusiano<br />

de legislación, acordó con el nuevo Ministro de Justicia Uhden: „el<br />

ministerio fiscal debe mostrarse efectivo no solamente en interés del<br />

Esta<strong>do</strong>, sino también en gra<strong>do</strong> similar en favor del acusa<strong>do</strong>, esto es,<br />

29 Cfr. Görgen, supra nota 6, págs. 68 y s.; Habel, supra nota 10, págs. 63 y s.<br />

30 Cfr. Pfeiffer, supra nota 23, § 163 núm. marg. 10; asimismo, entre otros AK-Achenbach, Tomo 2,<br />

Parte 1, 1992, § 163 núm. marg. 25.<br />

31 Cfr. Schünemann, Polizei und Staatsanwaltschaft – Parte 1, Kriminalistik 1999, pág. 74 (76 y ss.).<br />

32 Cfr. Görgen, supra nota 6, págs. 48 y ss.; Habel, supra nota 10, págs. 15 y ss., 24 y s.; en detalle,<br />

Collin, „Wächter der Gesetze“ oder „Organ der Staasregierung“? Konzipierung, Einrichtung und<br />

Anteilung der Staatsanwaltschaft durch das preußische Justizministerium, 2000, págs. 62 y ss.;<br />

asimismo Füllkrug, supra nota 16, págs. 193 y ss.


124<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

para su defensa. Ello contribuirá esencialmente a lograr el acuer<strong>do</strong> público<br />

para la nueva implantación que se pretende y a rebatir la opinión de que<br />

sólo se ponen las miras en proporcionarle al Esta<strong>do</strong> nuevos postes,<br />

particularmente en los crímenes políticos“ 33 . Consecuentemente, también<br />

la policía habría de someterse al control del ministerio fiscal, como resulta<br />

por ejemplo del voto de v. Savigny de 17 de diciembre 1845: „precisamente<br />

en las ... operaciones de la policía subyace el peligro de una infracción<br />

jurídica y la experiencia muestra cómo no pocas veces los agentes de<br />

policía inferiores ... incurren en semejantes infracciones“ 34 .<br />

Posteriormente, en la „Promemoria del Ministro del Esta<strong>do</strong> y del Ministro<br />

de Justicia v. Savidny y Uhden acerca de la implantación del ministerio<br />

fiscal“, el 23 de marzo de 1846, éste se obligó „como guardián de la ley ...<br />

a intervenir desde el comienzo para que en todas partes la ley resulte<br />

satisfecha“, extendién<strong>do</strong>se el control jurídico del ministerio fiscal de manera<br />

expresa „a operaciones policiales precedentes“, „pues de otro mo<strong>do</strong> una<br />

parte del proceso esencial y a menu<strong>do</strong> muy prejuzga<strong>do</strong>ra quedaría<br />

excluída a su control“ 35 .<br />

Básicamente, el ministerio fiscal había de ser concebi<strong>do</strong> como<br />

órgano de control de la policía. Sin embargo, no se puede ignorar que por<br />

otra parte el ministerio fiscal siempre fue visto como órgano del Esta<strong>do</strong> y<br />

representante de sus intereses36 , y ya entonces se manifestó la crítica<br />

de que un control por parte de la fiscalía obstaculizaría una actividad policial<br />

efectiva37 . Se sugirió, por tanto, que entre un procedimiento de instrucción<br />

jurídico-estatal y la eficiencia policial existe una contradicción irresoluble,<br />

una visión de las cosas conocida hasta la actualidad. Finalmente, el<br />

reglamento prusiano de 3 de enero de 1849 sometió a la policía a un<br />

(limita<strong>do</strong>) derecho de instrucción („derecho de requisición“) del ministerio<br />

33 Cita según Otto, Die preussische Staatsanwaltschaft, Berlin 1899, pág. 35. Según Collin, supra<br />

nota 32, págs. 77 y s., la concepción original provenía de Friedberg, colabora<strong>do</strong>r de Uhden,<br />

mientras que Savigny únicamente dio su conformidad.<br />

34 Cita según Otto, supra nota 33, pág. 40 y s.<br />

35 Cita según Otto, supra nota 33, págs. 40 y s.; crítico con la trascendencia de la Promemoria<br />

Collin, supra nota 32, pág. 37.<br />

36 Cfr. Collin, supra nota 32, págs. 64 y ss.<br />

37 Cfr. Habel, supra nota 10, pág. 30; Collin, supra nota 32, pág. 78.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 125<br />

fiscal, pero subordinó a éste al ministerio de justicia y a la policía le dejó la<br />

facultad de investigar autónomamente 38 . Si bien con ello fracasaba la<br />

concepción originaria de uno de los colabora<strong>do</strong>res de Uhden, Friedberg,<br />

consistente en conceder al ministerio fiscal el „imperio material“ sobre la<br />

policía en el senti<strong>do</strong> de una facultad de control y ordenanza absolutos 39 ,<br />

con la institucionalización del ministerio fiscal se alcanzó al menos un<br />

contrapeso a la policía. Una mirada en la historia confirma la tesis ya<br />

formulada al principio: la lucha del ministerio fiscal por el control de la<br />

policía es tan antigua como la institución misma. Por lo demás, la idea de<br />

un control jurisdiccional externo de las investigaciones policiales se ha<br />

implanta<strong>do</strong> en casi to<strong>do</strong>s los ordenamientos continentales europeos 40 –<br />

a excepción de Dinamarca –, mientras que en los procedimientos penales<br />

angloamericanos, como es conoci<strong>do</strong>, las investigaciones („investigation“)<br />

las lleva a cabo la policía de una manera prácticamente autónoma, y<br />

sólo tiene lugar un control interno dentro de la jerarquía policial 41 .<br />

II. La realidad del proceso<br />

En la práctica, tanto los que actúan dentro de la administración<br />

de justicia como los que se dedican a la ciencia jurídica critican en igual<br />

medida el <strong>do</strong>minio policial en la fase de investigación, el cual ha deja<strong>do</strong><br />

poco a la idea legal de un ministerio fiscal que sea amo y señor del<br />

procedimiento de investigación. Así, señala con resignación la Fiscal<br />

<strong>Superior</strong> Jefe Margarete Bräutigam que miembros veteranos del<br />

Ministerio Fiscal al oir el término „facultad de dirección“ resoplaban<br />

negan<strong>do</strong> con la cabeza y que posición y realidad jurídicas eran ya <strong>do</strong>s<br />

38 Cfr. § 4 del Reglamento de 1849, en Collin, supra nota 32, pág. 205; también ibidem, págs. 91<br />

y ss.; Rüping, supra nota 6, pág. 896; Roxin, Zur Rechtsstellung der Staatsanwaltschaft damals uns<br />

heute, DRiZ 1997, pág. 109 (111). Sobre la Ley de 1846, cfr. Collin, op. cit., págs. 83 y ss.<br />

39 Collin, supra nota 32, págs. 85 y s., 205, 210; además, el derecho de requisición de la fiscalía se<br />

interpretó como un mero derecho de petición a los funcionarios de policía (ibidem, págs. 208 y s.).<br />

Acerca de los posteriores (vanos) esfuerzos hacia un control de la policía: ibidem, págs. 218 y ss. (221).<br />

40 Cfr. Gleß, en: Gleß/Grote/Heine (Eds.), Justizielle Einbindung und Kontrolle von Europol, Tomo 1,<br />

<strong>2001</strong>, págs. 660 y ss.; Ambos, en: Arbour/Eser/Ambos/Sanders (eds.) supra nota 6, págs. 513 y ss.;<br />

también el mismo, Eur.J.Crime CrLCrJ 8 (2000), pág. 89 (105 f.);<br />

41 Cfr. Ambos, supra nota 6, págs. 512 y s.; también el mismo, Eur.J.Crime CrLCrJ 8 (2000), pág. 89<br />

(105 f.); Gleß, supra nota 40, pág. 662.


126<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

cosas totalmente distintas 42 . Según la opinión del Fiscal <strong>Superior</strong> de<br />

Munich Manfred Wick, la policía ha invadi<strong>do</strong> el terreno del ministerio fiscal<br />

precisamente en el campo de la lucha preventiva contra la criminalidad y<br />

<strong>do</strong>mina partes de la fase de investigación sin estar sujeta a control alguno 43 .<br />

En investigaciones científicas se critica que en la realidad del proceso,<br />

con respecto a amplios ámbitos de criminalidad, la fiscalía sólo aparece<br />

en el esclarecimiento de los hechos y la adquisición de información en la<br />

fase diligencias previas como una figura marginal 44 . La expresión<br />

„policialización“ (Verpolizeilichung) en la fase de instrucción, e incluso en<br />

to<strong>do</strong> el proceso penal – por cierto, también en otros ordenamientos<br />

jurídicos de la Europa continental 45 – hace la ronda, entendién<strong>do</strong>se por<br />

tal, en general, el creciente papel <strong>do</strong>minante que juega la policia en la<br />

investigación de los hechos 46 . En concreto, esto significa que en los<br />

ámbitos de la criminalidad menor y media la policía dirige las<br />

investigaciones de manera prácticamente autónoma 47 , es decir, averigua<br />

los hechos con independencia y solamente informa a la fiscalía – „sin<br />

demora“ – cuan<strong>do</strong> obtiene un resulta<strong>do</strong> de la investigación que este listo<br />

42 Bräutigam, Probleme der Sachleitungsbefügnis der Staatsanwaltschaft, DriZ 1992, pág. 214.<br />

43 Cfr. Wick, Gefahrenabwehr – Vorbeugende Verbrechensbekämpfung – Legalitätsprinzip, DRiZ<br />

1992, pág 217 (222); cfr. también ya Kuhlmann, Gedanken zum Bericht über das Verhältnis<br />

„Staatsanwaltschaft und Polizei“, DRiZ 1976, pág. 265 (266); Schoreit, Verpolizeilichung des<br />

Ermittlungsverfahrens, StV 1989, pág. 499 (450).<br />

44 Cfr. fundamentalmente Blankenburg/Sessar/Steffen, Die Staatsanwaltschaft im Prozeß<br />

strafrechtlicher Sozialkontrolle, 1978, págs. 90 y ss., 303 y ss.; también Lilie, Das Verhältnis von<br />

Polizei und Staatsanwaltschaft im Ermittlungsverfahren, ZStW 106 (1994), pág. 625 (626). Wolter,<br />

Datenschutz und Strafprozeß, ZStW 107 (1995), pág. 793 (813, 826), lamenta que el moderno<br />

derecho procesal penal de seguridad, entre otras cosas, disimula la facultad de dirección material de<br />

la fiscalía. Para Roxin (supra nota 38, pág. 119), „hoy la opinión general es que no es la fiscalía el<br />

dueño y señor de la fase previa, sino que las investigaciones, bajo inobservancia del § 163 II 1, se<br />

realizan básicamente por la policía bajo su propia responsabilidad“. (de manera similar, el mismo,<br />

Strafverfahrensrecht, 25. ed. 1998, § 10 núm. marg. 34). Schünemann, supra nota 31, pág. 146,<br />

advierte que la policía ha pasa<strong>do</strong> de ayudante a amo oculto del proceso penal; cfr. asimismo Habel,<br />

supra, nota 10, págs. 2, 41 y ss., 199.<br />

45 Cfr. Gleß, supra nota 40, pág. 661.<br />

46 Cfr. por ejemplo Paeffgen, „Verpolizeilichung“ des Strafprozesses – Chimäre oder Gefahr?, en<br />

Wolter (ed.), Symposium für Ru<strong>do</strong>lphi, 1995, pág. 13 (14) con ulteriores reseñas bibliográficas; cfr.<br />

asimismo Schoreit, supra nota 43, pág. 449; Schaefer, Zur Entwicklung des Verhältnisses<br />

Staatsanwaltschaft – Polizei, Libro-homenaje Hanack (1999), pág. 191 (196); Schünemann, supra<br />

nota 31, pág. 78; Albrecht, supra nota 28, págs. 417 y ss.<br />

47 Cfr. fundamentalmente Blankenburg/Sessar/Steffen, supra nota 44, págs. 90 y ss., 303 y s.;<br />

también Paeffgen, supra nota 46, pág. 14; Wick, supra nota 43, pág. 219.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 127<br />

para ser presenta<strong>do</strong>. Por el contrario, la fiscalía ejerce más decididamente<br />

sus facultades de dirección en la investigación de crímenes capitales,<br />

como el asesinato o el homicidio, y en la criminalidad económica<br />

tradicional48 . Esta situación es objetable debi<strong>do</strong> a la conocida dependencia<br />

de la fiscalía del resulta<strong>do</strong> de las investigaciones policiales49 y la<br />

„revaloración“ de la criminalidad por parte de la policía50 .<br />

Sin embargo, puede decirse sin caer en la exageración que el<br />

ejecutivo ha intenta<strong>do</strong> adaptar la situación normativa a la real a través<br />

de ciertas recomendaciones o mediante la promulgación de<br />

disposiciones de rango inferior a ley. Un ejemplo de lo primero son las<br />

„directrices sobre la nueva configuración de las relaciones entre la policía<br />

y el ministerio fiscal“ 51 , aprobadas en el año 1975 por la Conferencia de<br />

Ministros de interior y de justicia, en cuyo núm. 7 d) se aboga, por<br />

ejemplo, en favor de una facultad general de la policía de encargarse<br />

autónomamente del procedimiento dentro de un plazo – prorrogable –<br />

de diez semanas a partir de la fecha de presentación de la denuncia o<br />

del comienzo de las investigaciones52 . Con ello, si bien es cierto que<br />

no se opta explícitamente por una instrucción policial, sí se renuncia a<br />

un procedimiento de investigación que esté plenamente en manos de<br />

la fiscalía53 . Aún más importantes son, sin duda, las directivas comunes<br />

48 Cfr. diferenciadamente Blankenburg/Sessar/Steffen, supra nota 44, págs. 161 y ss., 268 y ss.,<br />

304; también, entre otros, Bräutigam, supra nota 42, págs. 215 y s.; Hellmann, supra nota 2, § 3<br />

núm. marg. 58; Roxin, supra nota 38, pág. 120.<br />

49 Blankenburg/Sessar/Steffen, supra nota 44, págs. 81 y ss., 86, 307 y s., 317, 322 y s.<br />

50 Fundamentalmente Steffen, Analyse polizeilicher Ermittlungstätigkeit aus der Sicht des späteren<br />

Strafverfahrens, 1976, págs. 292 y ss. y passim; el mismo, Die polizeiliche Ermittlungstätigkeit,<br />

Kriminalistik, 1976, págs. 97 y ss.; Kaiser, Kriminologische Forschung in Deutschland und die<br />

empirischen Untersuchungen am Max-Planck-Institut, ZStW 83 (1971), pág. 1093 (1110 y s.); también<br />

Kuhlmann, supra nota 43, pág. 268, así como también desarrolladamente y con referencias Habel,<br />

supra nota 10, págs. 58 y ss. –Sobre la a menu<strong>do</strong> temprana suposición policial de <strong>do</strong>lo de<br />

homicidio debi<strong>do</strong> a una orientación excesivamente parcial al resulta<strong>do</strong> de la acción cfr. Sessar,<br />

Rechtliche und soziale Prozesse einer Definition der Tötungskriminalität, 1981, págs. 208 y ss. y<br />

passim; Eisenberg, Kriminologie, 5. ed. 2000, § 45 núm. marg. 15; cfr. también Kaiser, Kriminologie,<br />

3. ed. 1996 § 37 núms. margs. 24 y ss.; Bock, Kriminologie, 2. ed. 2000, núms. margs. 262 y ss.<br />

51 Cfr. Blankenburg/Sessar/Steffen, supra nota 44, págs. 95 y ss.; críticamente Kuhlmann, supra<br />

nota 43, págs. 266 y ss.; también Roxin, Strafverfahrensrecht, 25. Aufl. 1998 (edic. en castellano de<br />

Daniel Pastor y Gabriela Cor<strong>do</strong>ba, Buenos Aires 2000), § 10 núms. margs. 34 y s.<br />

52 Reproducción en Kuhlmann, supra nota 43, pág. 266 en nota 7.<br />

53 Cfr. Kuhlmann, ibid.


128<br />

del Bund y de los Länder para el proceso penal y el procedimiento de<br />

imposición de multas (Bußgeldverfahren, RiStBV) 54 . Allí se puede leer<br />

en el núm. 3 ap. 1 „que la fiscalía ... en los casos relevantes o ... difíciles<br />

(deberá) esclarecer él mismo el supuesto de hecho desde la primera<br />

intervención“ 55 , de lo que se deduce a contrario que esto no es aplicable<br />

en los casos de criminalidad menor o media, esto es, la criminalidad en<br />

masa, por cuanto que aquí, ya por disposición normativa, se le deben<br />

asignar a la policía facultades de investigación con una amplia autonomía.<br />

Si bien la fiscalía, de acuer<strong>do</strong> con lo dispuesto en el núm. 3 ap. 2 RiStBV,<br />

debe dirigir las investigaciones también en estos casos y, especialmente,<br />

puede disponer medidas concretas relativas a la clase de actos de<br />

investigación específicos y a su ejecución, ya no se puede hablar stricto<br />

sensu del ejercicio de la dirección material cuan<strong>do</strong> la fiscalía únicamente<br />

decide sobre la base de los resulta<strong>do</strong>s de la investigación obteni<strong>do</strong>s<br />

autónomamente por la policía56 .<br />

El reparto de competencias descrito en el caso de las formas<br />

tradicionales de criminalidad se debe fundamentalemente a que, por regla<br />

general, es la policía la que primero toma conocimiento de los hechos<br />

penales – por medio de denuncia o de otro mo<strong>do</strong> – mientras que la fiscalía<br />

ya no está personalmente en disposición de perseguir ella mismo<br />

cualquier hecho sospechoso57 . En los casos fáctica y jurídicamente<br />

sencillos se podría sostener que tiene senti<strong>do</strong> también desde un punto de<br />

vista práctico que la policía haga una „primera investigación“ del asunto y<br />

que remita las „actuaciones“ al ministerio fiscal cuan<strong>do</strong> pueda mostrar<br />

un resulta<strong>do</strong> de las investigaciones procesalmente significativo58 , sobre<br />

to<strong>do</strong> tenien<strong>do</strong> en cuenta que también en este caso el ministerio fiscal<br />

conserva una notable influencia a través de su facultad de disponer<br />

medidas y especialmente la de concluir la investigación (§ 170). Desde<br />

54 Reproducción en Kleinknecht/Meyer-Goßner, StPO, 44. ed. 1999, págs. 1813 y ss.<br />

55 Cursiva del autor.<br />

56 Cfr. de manera similar Blankenburg/Sessar/Steffen, supra nota 44, pág. 92.<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

57 Sobre los (otros) motivos del <strong>do</strong>minio policial en la criminalidad tradicional cfr. Habel, supra nota<br />

10, págs. 62 y ss.; también Lilie, supra nota 44, págs. 627 y ss.; Roxin, supra nota 38, págs. 119 y s.<br />

58 Cfr. entre otros Hellmann, supra nota 2, § 3 núm. marg. 62; AK-Achenbach, supra nota 30, § 163<br />

núm. marg. 4.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 129<br />

esta óptica es perfectamente comprensible que la actual discusión jurídicopolítica<br />

y <strong>do</strong>gmática gire menos en torno a la criminalidad tradicional y<br />

más en torno a la lucha contra el llama<strong>do</strong> „crimen organiza<strong>do</strong>“ a través<br />

de investigaciones previas a la comisión del delito. Este aspecto tiene<br />

que ser aborda<strong>do</strong> más detenidamente.<br />

III. Criminalidad organizada y<br />

lucha preventiva contra la delincuencia<br />

1. Fundamentos<br />

La prevención de delitos o investigaciones en estadio previo<br />

consiste en medidas policiales de inquisición e investigación que se<br />

llevan a cabo con ocasión de una sospecha inicial en el senti<strong>do</strong> del §<br />

152 II StPO y que tienen como meta sondear un ámbito turbio o medio<br />

social determina<strong>do</strong> en el que se supone la comisión (futura) de delitos59 .<br />

Aquí se trata enteramente de piezas de investigación que se dirigen<br />

contra la llamada criminalidad organizada (CO). Esta está definida en<br />

el núm. 2. 1. del Anexo E a la RiStBV de la forma siguiente:<br />

„Criminalidad organizada es la comisión de hechos penales<br />

planificada y determinada por la ambición de lucro o poder, la<br />

cual, individualmente o en su conjunto, adquiere notable<br />

relevancia cuan<strong>do</strong> más de <strong>do</strong>s partícipes actúan bajo división<br />

de trabajo durante un tiempo prolonga<strong>do</strong> o indetermina<strong>do</strong>:<br />

a) emplean<strong>do</strong> estructuras industriales o semi-comerciales,<br />

b) emplean<strong>do</strong> la fuerza u otros medios idóneos para la<br />

intimidación, o<br />

59 Cfr. entre otros Weßlau, Vorfeldermittlungen – Probleme der Legalisierung vorbeugender<br />

Verbrechensbekämpfung aus prozessualer Sicht, 1989, pág. 27; Schüler Springorum, Kriminalpolitik<br />

für Menschen, 1991, pág. 248; Merten/Merten, Vorbeugende Verbrechensbekämpfung, ZRP 1991,<br />

pág. 213 (217); Kniesel, Vorbeugende Bekämpfung von Straftaten im juristischen Meinungsstreit –<br />

eine unendliche Geschichte, ZRP 1992, págs. 164 y s.; Lisken, Vorfeldeingriffe im Bereich der<br />

Organisierten Kriminalität“ – gemeinsame Aufgabe von Verfassungsschutz und Polizei?, ZRP 1994,<br />

pág. 264 (265); Wolter, supra nota 44, pág. 824; Hoppe, Vorfeldermittlungen im Spannungsverhältnis<br />

von Rechtstaat und der Bekämpfung organisierter Kriminalität, 1999, págs. 25 y ss.; Artzt, Die<br />

verfahrensrechtliche Bedeutung polizeilicher Vorfeldermittlungen, 2000, págs. 11 y ss.


130<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

c) ejercien<strong>do</strong> influencia sobre la política, los medios de<br />

comunicación, la administración pública, la justicia o la<br />

economía“ 60 .<br />

Según la RiStBV las manifestaciones de la CO no sólo son<br />

multiformes, sino que se pueden detectar en casi to<strong>do</strong>s los ámbitos de<br />

la criminalidad que quepa imaginar – desde el tráfico de drogas hasta el<br />

robo <strong>do</strong>miciliario con reparto centraliza<strong>do</strong> del botín, pasan<strong>do</strong> por la trata<br />

de personas – 61 . La consideración de un determina<strong>do</strong> supuesto de hecho<br />

como criminalidad organizada ha de ser posible con arreglo a numerosos<br />

indica<strong>do</strong>res, aunque sólo unos pocos son precisos62 .<br />

60 En: Kleinknecht/Meyer-Goßner, supra nota 54, pág. 1914. La definición tiene su origen en una<br />

definición de un grupo de trabajo de los ministros y sena<strong>do</strong>res de justicia y de los ministros y<br />

sena<strong>do</strong>res de interior de los Länder del año 1990 (cfr. Hoppe, supra nota 59, págs. 172 y s.; Kinzig,<br />

Organisierte Kriminalität und ihre Einflussnahme auf Polizei, Wirtschaft und Justiz in Deutschland,<br />

en: Militello/Arnold/Paoli (eds.), Organisierte Kriminalität als transnationales Phänomen, 2000,<br />

pág. 191 (196 y s.); Gropp, en: Gropp/Huber (eds.), Rechtliche Initiativen gegen organisierte<br />

Kriminalität, <strong>2001</strong>, pág. 65 (84).<br />

61 Según el Núm. 2.2 de Anexo E RiStBV, las formas de manifestación de la criminalidad organizada<br />

son „múltiples. Junto a formas de organización estructuradas, construidas jerárquicamente (a<br />

menu<strong>do</strong> respaldadas auxiliarmente a través de la solidaridad étnica, la lengua, las costumbres, el<br />

entorno social o familiar) se encuentran – sobre la base de un sistema de conexiones personales o<br />

comerciales criminalmente útiles –concentraciones de autores criminales con distintos gra<strong>do</strong>s de<br />

vinculación de las personas entre sí, cuya concreta configuración se determina a través de los<br />

respectivos intereses criminales“. El Núm. 2.3 menciona numerosos ámbitos de criminalidad, si<br />

bien los hechos penales en relación con el terrorismo están expresamente exclui<strong>do</strong>s en el Núm. 2.1<br />

(Kleinknecht/Meyer-Goßner, supra nota 54, pág. 1914).<br />

62 El Núm. 2.4 Anexo E RiStBV remite, en este senti<strong>do</strong>, a los siguientes „indica<strong>do</strong>res generales<br />

para reconocer sucesos relevantes desde el punto de vista de la criminalidad organizada“<br />

(Kleinknecht/Meyer-Goßner, supra nota 54, págs. 1919 y ss.).<br />

- Preparación y planificación del hecho penal: planificación precisa; adaptación a las exigencias<br />

del merca<strong>do</strong> a través del aprovechamiento de las lagunas del merca<strong>do</strong>, reconocimiento de<br />

necesidades o similares; trabajo a encargo; altas inversiones, por ejemplo, a través de financiación<br />

anticipada proveniente de fuentes desconocidas. - Ejecución del hecho penal: ejecución<br />

cualificada, precisa y profesional del hecho; empleo de conocimientos y medios económicos<br />

proporcionadamente más caros, desconoci<strong>do</strong>s o difíciles de poner en marcha; actuación de<br />

especialistas (también del extranjero); actuación mediante división del trabajo. - Aprovechamiento<br />

del botín obteni<strong>do</strong> a través del hecho penal: fuerte orientación a la obtención de beneficios;<br />

reflujo al curso económico legal; enajenaciones en el marco de actividades económicas (legales)<br />

propias; medidas de lava<strong>do</strong> de dinero. – Comportamientos conspira<strong>do</strong>res por parte del autor:<br />

contra-observación; aislamiento; nombres falsos; codificación del idioma y la escritura. - Contactos<br />

del autor/circunstancias del hecho: supraregional; nacional; internacional. - Estructura de los<br />

grupos: construcción jerárquica; un comportamiento no explicable a simple vista de autoridad y<br />

dependencia entre varios sospechosos; sistema interno de sanciones. – Ayuda para miembros del<br />

grupo: apoyo en la huida; contratación de ciertos aboga<strong>do</strong>s y pago de honorarios a través de


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 131<br />

En el fon<strong>do</strong>, en este concepto de CO estructura<strong>do</strong> aquí a groso<br />

mo<strong>do</strong> de lo que se trata es de abarcar cualquier práctica punible de tipo<br />

industrial o semicomercial desempeñada por más de <strong>do</strong>s personas o –<br />

según los baremos internacionales – por tres personas 63 . Se trata, por lo<br />

tanto, de manera pre<strong>do</strong>minante – y aquí resulta clara la influencia de la<br />

„illegal-enterprise Theorie“ esta<strong>do</strong>unidense 64 – de „criminalidad de <strong>do</strong>minio<br />

económico“ 65 , o lo que es lo mismo – expresa<strong>do</strong> de mo<strong>do</strong> más neutral –<br />

criminalidad económica organizada de forma colectiva 66 . Por el contrario,<br />

el ejercicio de influencia sobre la política, los medios de comunicación, la<br />

administración pública, la justicia o la economía sólo se exige<br />

alternativamente („o“), pues la infiltración social que esto conlleva, aunque<br />

es sostenida una y otra vez desde el sector policial 67 , no se puede<br />

demostrar empíricamente, al menos en lo que respecta a la República<br />

terceros; llevar poderes de representación ya prepara<strong>do</strong>s para aboga<strong>do</strong>s; altas ofertas de fianza;<br />

amenaza e intimidación de partícipes en el proceso; inexistencia de testigos; típico silencio por<br />

temor por parte de los afecta<strong>do</strong>s; aparición repentina de testigos de descargo; asesoramiento en la<br />

prisión preventiva o en la condena; asistencia a parientes; readmisión tras la puesta en libertad. –<br />

Corrupción: inclusión en el estilo de vida lujoso del autor; generación de dependencias (por<br />

ejemplo a través del sexo, juegos de azar prohibi<strong>do</strong>s, créditos o intereses usureros); pago de<br />

sobornos, entrega de viviendas de vacaciones, vehículos de lujo, etc. – Afán de monopolio:<br />

„Adquisición“ de empresas comerciales o participaciones; dirección de empresas comerciales por<br />

medio de testaferros; control de determina<strong>do</strong>s sectores comerciales (casinos, burdeles); „garantía<br />

de protección“ a cambio de un pago por los procedimientos penales o de imposición de multa. –<br />

Actividades públicas: publicaciones con una orientación determinada o carácter tendencioso;<br />

mecenazgo ostentoso, entre otros, de actividades deportivas; búsqueda de contacto con personajes<br />

de la vida pública.<br />

Críticamente, Wessel, Organisierte Kriminalität und soziale Kontrolle, <strong>2001</strong>, págs. 55 y ss, con otras<br />

referencias bibliográficas.<br />

63 Cfr. Art. 2 (a) UN Convention against Transnational Organised Crime de 2.11.2000, UN Doc. A/55/<br />

383<br />

64 Paoli, Das organisierte Verbrechen in Italien und Deutschland, en: Militello/Arnold/Paoli (eds.)<br />

supra nota 60, pág. 58.<br />

65 Arnold, Kriminelle Vereinigung und organisierte Kriminalität in Deutschland und anderen<br />

europäischen Staaten, en: Militello/Arnold/Paoli (eds.) supra nota 60, pág. 95; asímismo Gropp,<br />

supra nota 60, págs. 331 y ss.<br />

66 Cf r. de manera similar Albrecht, Organisierte Kriminalität und neuere Strafprozeßreformen in<br />

Deutschland, en Libro-homenaje a Nishihara (1998), Tomo 5, pág. 311 (318), para quien los<br />

elementos de la definición de CO no permiten una diferenciación entre CO y comercio económico<br />

organiza<strong>do</strong>; crítico también Wessel, supra nota 62, pág. 54 con otras referencias bibliográficas.<br />

67 Últimamente, en un congreso científico de la Fundación Friedrich Ebert, cfr. FAZ de 22.5.01.


132<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

Federal Alemana68 . La política criminal nacional actúa aquí, nolens volens,<br />

sin solidez científica69 , lo cual sorprende muy poco si se recuerda que en<br />

Alemania el concepto fue admiti<strong>do</strong> en la corte a raíz del exitoso, pero<br />

desde luego carente de fundamentación científica, bestseller „Der Mob“<br />

(La chusma), del periodista bávaro Dagobert Lindlau70 . Pero si la supuesta<br />

peligrosidad de la CO de facto no existe o no en la magnitud que se<br />

propaga por parte policial71 , a la estrategia en estadio previo en cierta<br />

medida le falta una razón de ser. Con ello debería ser claro que ya desde<br />

un punto de vista meramente lógico sólo se puede hablar de una cosa –<br />

estrategias en estadio previo – cuan<strong>do</strong> la otra – la CO como su objeto<br />

de investigación – esté definida exacta o, al menos, más exactamente.<br />

Para evitar malentendi<strong>do</strong>s, no se trata aquí de llevar a cabo una<br />

purga de conceptos ni de cuestionar que existen (y que siempre ha habi<strong>do</strong>)<br />

formas organizadas de criminalidad. En este senti<strong>do</strong>, me pue<strong>do</strong> remitir a<br />

mis propias investigaciones de campo en Colombia, Perú y Bolivia72 . Sin<br />

embargo, la definición oficial de CO como criminalidad económica<br />

organizada de forma colectiva debe ser analizada críticamente, pues<br />

proporciona un concepto de CO tan carente de contornos que ya no es<br />

capaz de cumplir su función de legitimar un derecho penal especial de<br />

seguridad73 . No queda mucho para llegar a la afirmación de que, „por<br />

principio“, las estrategias en estadio previo son necesarias porque el<br />

sometimiento a las posibilidades procesual-penales impide „una eficiente<br />

68 Cfr. Albrecht, supra nota 66, pág. 317: Si el peligro potencial de la CO efectivamente reside en el<br />

„efecto demole<strong>do</strong>r para el sistema democrático“ y su reverso es la corrupción, entonces un concepto<br />

fundamenta<strong>do</strong> teóricamente sería muy difícil de elaborar y una base empírica resultaría de to<strong>do</strong><br />

punto imposible; en cualquier caso, los cuadros informativos hasta ahora existentes no son adecua<strong>do</strong>s.<br />

Cfr. también Kinzig, supra nota 60, pág. 197, 205, 217. 69 Kinzig, supra nota 60, pág. 192; crítico<br />

asímismo Lisken, supra nota 59, pág. 264.<br />

70 Cfr. instructiva y críticamente Schüler Springorum, supra nota 59, págs. 237 y ss.<br />

71 Dudas entre otros en Kinzig, supra nota 60, pág. 192.<br />

72 Cfr. Ambos, Die Drogenkontrolle und ihre Probleme in Kolumbien, Peru und Bolivien, 1993,<br />

págs. 38 y ss., 56 y ss., 88 y ss., 115 y ss. Acerca de la historia de Pablo Escobar, cfr. entre otros<br />

Bowden, Killing Pablo, <strong>2001</strong>.<br />

73 Cfr. de nuevo Wessel, supra nota 62, págs. 71 y ss., 217 y s. y passim; cfr. asímismo Albrecht,<br />

supra nota 66, pág. 317, según el cual, hoy no se puede pasar por alto que existe un cierto<br />

desvalimiento, cuan<strong>do</strong> no una crisis, en los intentos de describir la CO de forma comprensible.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 133<br />

lucha contra la criminalidad“ 74 . Aquí, al parecer se fundamenta el<br />

„policialización“ en la lucha contra la CO por medio, no sólo de la<br />

necesidad, sino también de la supuesta efectividad de la lucha preventiva<br />

contra el delito. Esto, sin embargo, puede demostrarse tan poco<br />

empíricamente como la misma CO. La muy controvertida discusión<br />

muestra al menos que una ciencia del derecho penal moderna y sobre<br />

to<strong>do</strong> también una politíca criminal no pueden sobrevivir sin una<br />

investigación criminológica de sus fundamentos 75 .<br />

2. Lucha preventiva contra el delito y Esta<strong>do</strong> de Derecho<br />

Supuesta la existencia de CO – a pesar del necesario excepticismo<br />

en la base científica – se plantea naturalmente la cuestión de cómo puede<br />

uno hacerse dueño de semejante fenómeno de la criminalidad sin<br />

estrategias proactivas. No se puede poner en duda que, como consta en<br />

el Anexo E a la RiStBV bajo el rótulo „investigaciones iniciales“, la CO se<br />

manifiesta rara vez por sí sola, pues en este ámbito casi no se interponen<br />

denuncias. Esto se debe especialmente a que en el caso de la CO se<br />

trata de una forma de criminalidad que no genera „verdaderas“ víctimas,<br />

de manera que ya por eso tiene que prescindir – contrariamente a lo que<br />

sucede en la criminalidad clásica – de personas directamente afectadas<br />

que sean testigos presenciales. En caso de que haya víctimas y/o testigos<br />

inmediatos, estos normalmente no se muestran muy dispuestos a<br />

cooperar por mie<strong>do</strong> a represalias. Tampoco se puede ignorar que las<br />

formas de criminalidad que en su mayor parte operan de forma anónima<br />

y neutral son difíciles de identificar y de delimitar espacial y personalmente.<br />

Por ello, el esclarecimiento y la persecución eficaz de la CO presupone,<br />

como se indica en el Anexo E a la RiStBV, que la fiscalía y la policía, en el<br />

marco de sus competencias legales, recaben por sí mismas informaciones<br />

o reúnan las que ya posean a fin de lograr un enfoque para nuevas<br />

investigaciones, es decir, que realicen las llamadas investigaciones<br />

74 Kniesel, supra nota 59, pág. 164.<br />

75 Cfr. nuevamente Albrecht, supra nota 66, pág. 338, que denuncia la falta de investigación<br />

empírica, especialmente de evaluación, y reclama apoyos.


134<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

iniciales. Por lo que respecta a la sospecha inicial, ésta tendría ya lugar<br />

cuan<strong>do</strong> según la experiencia criminalística exista una posibilidad aún<br />

pequeña de que se haya cometi<strong>do</strong> un hecho penal perseguible. Incluso<br />

cuan<strong>do</strong> la existencia de una sospecha inicial sea poco clara, los órganos<br />

de persecución penal podrían buscar enfoques para nuevas investigaciones<br />

con la finalidad de su esclarecimiento. Por la especial peligrosidad de la<br />

CO, en el supuesto de puntos de partida en relación a hechos penales se<br />

deben agotar, por regla general, las posibilidades de esclarecimiento.<br />

Propiamente se trata en dichas investigaciones iniciales, esto es,<br />

en la lucha preventiva contra la delincuencia, no de la persecución reactiva<br />

de una sospecha inicial en el senti<strong>do</strong> del § 152 II, sino de obtención<br />

proactiva de sospecha, regularmente mediante la cumulación de<br />

diferentes actos de investigación. 76 Aquí, como quedó proba<strong>do</strong> en un<br />

reciente estudio de Matthias Artzt77 , juegan un papel, por un la<strong>do</strong>, meras<br />

suposiciones criminalísticas; éstas se considerarían como primer escalón<br />

en el camino hacia la configuración de una sospecha, y no se basarían<br />

en la existencia de puntos de partida fácticos, sino que tendrían que ver<br />

con el trasla<strong>do</strong> de una idea a la realidad78 . Por otro la<strong>do</strong>, habría una<br />

sospecha general o pre-sospecha que, como estadio previo inmediato a<br />

la verdadera sospecha inicial, estaría caracteriza<strong>do</strong> por tratarse de una<br />

situación incierta de sospecha y por la existencia de un indicio más bien<br />

general79 . El cuadro resultante es claro: la lucha preventiva contra la<br />

criminalidad se ha separa<strong>do</strong> en gran medida del umbral procesual-penal<br />

de la sospecha inicial. De facto, tiene lugar un procedimiento de diligencias<br />

policiales previas, cuya finalidad principal consiste en darle cuerpo de<br />

sospecha concreta a suposiciones criminalísticas de to<strong>do</strong> punto<br />

subjetivas80 . El procedimiento de diligencias previas común, previsto en<br />

el ordenamiento procesal penal81 , se convierte en maculatura normativa.<br />

76 Cf. Steinmetz, Zur Kumulierung strafprozessualer Ermittlungsmaßnahmen, NStZ <strong>2001</strong>, 344 con<br />

comentario de BGH NStZ <strong>2001</strong>, 386.<br />

77 Artzt, supra nota 59, págs. 108 y ss.<br />

78 Ibidem, pág. 122.<br />

79 Ibidem, pág. 132.<br />

80 Cfr. asímismo ibidem, pág. 163; cfr. también Núm. 6. 4. primer guión, Anexo E RiStBV: Objetivo<br />

de las primeras investigaciones el esclarecimiento de la sospecha inicial/de la situación de peligro.<br />

81 Cfr. entre otros Füllkrug, supra nota 16, pág. 194.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 135<br />

Las objeciones desde consideraciones del Esta<strong>do</strong> de derecho frente<br />

a una fase policial de obtención de sospechas previa a la sospecha inicial<br />

procesal-penal son obvias: la revaloración policial de la criminalidad<br />

demostrada en estudios criminológicos 82 adquiere nueva cualidad, pues<br />

la policía sienta „proactivamente“ los puntos básicos de la investigación<br />

de forma completamente autónoma y, en ocasiones, hasta origina<br />

delincuencia – a través de la provocación al hecho 83 – cuan<strong>do</strong> no incluso<br />

la „produce“. La actuación policial con estrategias en estadio previo es<br />

por ello tan poco transparente como los criterios por razón de los cuales<br />

se investiga a determina<strong>do</strong>s círculos o grupos de autores. Ya se habla de<br />

una „vuelta a un proceso inquisitivo de una autoridad secreta sin forma<br />

judicial“ 84 . Pero la cuestión tiene relevancia no sólo desde consideraciones<br />

del Esta<strong>do</strong> de derecho sino también por razones de efectividad policial<br />

en la lucha contra la criminalidad organizada. Uno puede partir del<br />

presupuesto de que los recursos policiales nunca serán suficientes para<br />

poder investigar y combatir todas las manifestaciones de criminalidad<br />

organizada. Precisamente por razones de efectividad to<strong>do</strong> depende de<br />

manera esencial de la correcta elección de los objetivos y objetos de la<br />

investigación. Finalmente, no puede pasarse por alto que la existencia<br />

fáctica de diligencias previas de investigación policial obligatoriamente<br />

conduce a una transformación de la esencia del procedimiento de<br />

investigación hacia un proceso de investigación „que está acuña<strong>do</strong> por el<br />

pensamiento policial y que con ello, conforme a la experiencia, pierde en<br />

cuanto a morfología judicial y transparencia“ 85 . Mientras que la policía en<br />

82 Cfr. supra texto de la nota 50.<br />

83 Cfr. fundamentalmente Eschelbach, Rechtsfragen zum Einsatz von V-Leuten, StV 2000, pág 390<br />

(391) con ejemplos del repertorio de la provocación al hecho: insistente influir sobre personas<br />

especialmente seleccionadas, seducción mediante exhibición de grandes sumas de dinero,<br />

aprovechamiento de situaciones de necesidad, preparación precisa y dirección intensiva de la<br />

comisión de hechos penales, obtención de medios para el hecho, así como la disposición de<br />

múltiples supuestos de hecho. Crítico asímismo Körner, Tatprovokation und BtM-Sachen, 17°Grupo<br />

de Trabajo de la Oficina Central de la Lucha contra la Criminalidad relacionada con las Drogas (ZfB),<br />

manuscrito no publica<strong>do</strong>, Francfort 1.2.<strong>2001</strong>. De un caso concreto da noticia von Danwitz, Anmerkungen<br />

zu einem Irrweg in der Bekämpfung der Drogenkriminalität, StV 1995, pág. 431. La Corte Suprema<br />

(BGH NJW 2000, págs. 1123 y ss.) se mantiene – pese a las críticas de la <strong>do</strong>ctrina – en la „solución<br />

de la medición de la pena“ y rechaza otras soluciones propuestas por la <strong>do</strong>ctrina (impedimento<br />

procesal, prohibición de solucitud y de valoración de prueba; referencias ibidem, pág. 1124).<br />

84 Köhler, StV 1994, 386 (388); conforme P. A. Albrecht, supra nota 28, pág. 418.<br />

85 Wick, supra nota 43, pág. 220.


136<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

el marco de las investigaciones en estadio previo trabaja orientada a la<br />

obtención de una sospecha inicial, la fiscalía examina dicha sospecha inicial<br />

a la vista de su solidez de cara a una ulterior acusación y – en última instancia<br />

– condena del acusa<strong>do</strong> o acusa<strong>do</strong>s86 . A la luz de la creciente importancia<br />

del procedimiento de investigación como núcleo fáctico y punto culminante<br />

del proceso87 , habrá que constatar aún más allá que las diligencias previas<br />

de investigación modifican la esencia del proceso penal en su conjunto.<br />

Estas objeciones, realizadas desde consideraciones del Esta<strong>do</strong><br />

de derecho, sólo pueden ser equilibradas mediante del establecimiento<br />

de un contrapoder jurídico. En un procedimiento acusatorio de<br />

instrucción al estilo alemán sólo entra en consideración como tal la<br />

fiscalía. La discusión acerca de la ordenación correcta de la lucha<br />

preventiva contra la delincuencia – como protección de peligros policialpreventiva<br />

o como persecución penal represiva88 – tiene aquí un rango<br />

secundario; la decisión depende también en muchos aspectos, no tanto<br />

de las mejores razones jurídicas, sino más bien del origen y de los<br />

intereses particulares de quienes deben tomar decisiones o posturas. 89<br />

86 Cfr. también Wick, supra nota 43, pág. 220.<br />

87 Wolter, Aspekte einer Strafprozeßreform bis 2007, 1991, págs. 35, 53 y ss.<br />

88 Cfr. la reproducción del esta<strong>do</strong> de la discusión en Hoppe, supra nota 59, págs. 95 y ss. A favor de una<br />

valoración en función del objetivo de la medida Görgen, supra nota 6, págs. 164 y ss.; Habel, supra nota<br />

10, pág. 40. Cfr. también Kunzmann, supra nota 11, págs. 32 y ss., 91 y ss., quien en los resulta<strong>do</strong>s opta<br />

(177) por una ponderación de intereses. Desde una perspectiva comparada Grote, en: Gleß/Grote/<br />

Heine (Eds.), supra nota 40 (tomo 2), págs. 563 y ss. – Según en Núm. 6. 4. Anexo E RiStBV en las<br />

investigaciones iniciales existen a menu<strong>do</strong> elementos de la persecución penal y de la defensa frente a<br />

peligros en situaciones complejas, o bien se entremezclan unos y otros en el transcurso de un proceso<br />

de reconocimiento o de concretización. - Sobre la primera asignación en la jurisdicción constitucional<br />

de una medida de lucha preventiva contra la delincuencia - el test de identidad del ADN según el § 2<br />

de la Ley sobre el test de Identidad del ADN (DNA-Identitätsfeststellungsgesetz) en unión con el § 81<br />

g StPO – a la persecución penal cfr. Senge NStZ <strong>2001</strong>, pág. 331 (Comentario a la Sentencia del<br />

Tribunal Constitucional alemán BVerfG NStZ <strong>2001</strong>, pág. 328).<br />

89 Así, Hoppe, supra nota 59, págs. 95 y ss., subsume en su trabajo, realiza<strong>do</strong> bajo el asesoramiento del<br />

jurista de derecho público von Münch, la prevención de hechos penales bajo la norma jurídico-policial<br />

de asignación de tareas, mientras que las investigaciones en el estadio previo destinadas a precaución<br />

para la investigación de futuros hechos penales sería, en general, no permitida; como resulta<strong>do</strong> final,<br />

en cambio, sí serían encuadrables, en cuanto sean medidas para eliminación de un peligro abstracto<br />

(sic), dentro de la defensa policial frente a peligros. (págs. 169 y s.). Artzt (supra nota 59, págs. 91 y ss.),<br />

por su parte, diferencia de forma más convincente que Hoppe entre un punto de vista jurídico-policial<br />

y un punto de vista procesal. Precisamente su exposición pone de manifiesto que la adscripción<br />

exclusiva de medidas al derecho policial o al derecho procesal depende del punto de partida y del<br />

origen de quien opina: desde el ámbito del derecho policial se tiende a someter la lucha preventiva<br />

contra la criminalidad con carácter general al derecho policial, mientras que los procesualistas penales<br />

quieren someterla con carácter general, ya debi<strong>do</strong> a la facultad de dirección material que ostenta la<br />

fiscalía, al derecho procesal penal.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 137<br />

En la práctica, se trata de algo totalmente distinto, de una cuestión de<br />

poder, a saber, si la fiscalía, en cuanto al tema central de sus poderes,<br />

puede ir más allá de la mera actuación técnica en la lucha preventiva<br />

contra la delincuencia, supervisan<strong>do</strong> personalmente los actos de la policía.<br />

Como es natural, esto presupone que la lucha preventiva contra la<br />

delincuencia se incardine en la persecución penal, ya que en el caso de<br />

protección frente al peligro, como señala explícitamente el núm. 6 del<br />

Anexo E RiStBV, no le corresponde a la fiscalía una facultad de dirección.<br />

La coordinación dentro de la persecución penal se puede fundamentar<br />

en que la lucha preventiva contra la criminalidad en el senti<strong>do</strong> de la<br />

obtención de sospechas descrita siempre constituye también una<br />

previsión para la posterior persecución penal, es decir, una intervención<br />

represivo-policial90 . Esto se confirma también a través de la Ley de<br />

Modificación del Proceso Penal de 1999 (Strafverfahrensänderungsgesetz,<br />

StVÄG), ya que reconoce – por fin – la componente que asocia el registro<br />

y la conservación preventiva de datos a la persecución penal (§§ 483 y<br />

ss.) 91 , un ámbito de regulación, por tanto, que hasta ahora estaba<br />

reserva<strong>do</strong> al derecho policial.<br />

Sin embargo, no debe pasarse por alto que con la fundamentación<br />

jurídica no se ha gana<strong>do</strong> mucho mientras que no se reduzca al menos<br />

el desequilibrio de recursos que existe entre el ministerio fiscal y la<br />

policía. Las razones para el reforzamiento del mayor peso investigatorio<br />

de la policía, puestas de manifiesto sobre to<strong>do</strong> por Lilie, como son los<br />

mejores recursos personales y técnicos, así como la profesionalización<br />

técnico-criminalística92 , se acentúan aún más dentro del ámbito de la<br />

lucha preventiva contra la delincuencia porque la policía es quien posee<br />

la soberanía en las decisiones y sobre los datos. Soberanía en la<br />

decisión posee en cuanto que puede decidir cuán<strong>do</strong>, dónde y contra<br />

90 Cfr. Hund, Polizeiliches Effektivitätsdenken contra Rechtsstaat, ZRP 1991, pág. 463 (465); Artzt,<br />

supra nota 59, págs. 95 y ss.; Wolter, supra nota 44, pág. 829; en el resulta<strong>do</strong> final, asímismo<br />

Merten/Merten, supra nota 59, pág. 220; deján<strong>do</strong>lo abierto Kniesel, supra nota 59, pág. 165.<br />

91 Cfr. Hilger, Zum Strafverfahrensrechtsänderungsgesetz 1999 (StVÄG 1999) – 2. Parte, NStZ<br />

<strong>2001</strong>, pág. 15 (17).<br />

92 Cfr. Lilie, supra nota 44, págs. 627 y ss.; asímismo Kühne, supra nota 15, núm. marg. 135;<br />

Hellmann, supra nota 2, § 3 núm. marg. 4; Roxin, supra nota 38, pág. 119.


138<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

quién han de dirigirse „investigaciones estructurales“ 93 („hoy le toca al<br />

barrio de prostitutas, mañana a los albaneses“). La soberanía sobre los<br />

datos por parte de la policía se basa en que con el sistema Inpol (Sistema<br />

de Información de la Policía) sólo ella dispone de la reserva central de<br />

datos para fines investigatorios y la fiscalía no tiene ningún acceso directo<br />

a este sistema 94 . También la creciente internacionalización fortalece la<br />

supremacía de la policía, pues ésta se manifiesta única y preferentemente,<br />

sobre to<strong>do</strong> a nivel europeo, como fenómeno de policialismo carente de<br />

instancias de control jurídico 95 . Así, la Policía Europea (Europol), no sólo<br />

en lo que respecta a la protección jurídica de datos, sino en general, no<br />

está sujeta a ningún tipo de control jurídico, pues un ministerio fiscal<br />

europeo hasta la fecha sólo existe sobre el papel 96 .<br />

IV. ¿Reformas?<br />

Hasta ahora las reformas en cuanto a la relación entre ministerio<br />

fiscal y policía han reacciona<strong>do</strong> contra la policialización de mero hecho<br />

en el procedimiento de investigación y especialmente han teni<strong>do</strong> en cuenta<br />

las supuestas exigencias de una lucha más eficaz contra la criminalidad<br />

organizada en forma de recomendaciones ministeriales y disposiciones<br />

de rango inferior a ley97 . Con ello, en un principio se incrementó la<br />

tendencia al policialismo en el senti<strong>do</strong> de investigaciones autónomas de<br />

la policía en el estadio previo al proceso penal. Con la adaptación del<br />

93 Cfr. sobre este concepto entre otros Lisken, supra nota 59, pág. 264; Artzt, supra nota 59, pág. 2;<br />

Weßlau, Waffengleichheit mit dem „Organisierten Verbrechen“?, Kritische Vierteljahresschrift für<br />

Gesetzgebung und Rechtswissenschaft (KritV) 1997, pág. 238 (241).<br />

94 Cfr. Lilie, supra nota 44, págs. 631 y ss.; Schaefer, supra nota 46, págs. 196 y s.<br />

95 Cfr. Nelles, Europäisierung des Strafverfahrens – Strafprozessrecht für Europa?, ZStW 109 (1997),<br />

pág. 727 (730).<br />

96 Crítico con Europol Schaefer, supra nota 46, págs. 197 y ss.; P.A. Albrecht, Europäische<br />

Informalisierung des Strafrechts, StV <strong>2001</strong>, págs. 69 y ss.; fundamentadamente entre otros Gleß/<br />

Grote/Heine (Eds.), supra nota 40. – Sobre el establecimiento de un „European Public Prosecutor“<br />

cfr. Arts. 18 y ss. Corpus Iuris, en: Delmas-Marty/Vervaele (Eds.), The implementation of the Corpus<br />

Iuris in the Member States, Vol. I, 2000, págs. 196 y ss.; crítico con el Corpus Iuris – en lugar de<br />

muchos otros – Weigend, Spricht Europa mit zwei Zungen?, StV <strong>2001</strong>, pág. 63 (65 y ss.) – Sobre<br />

„Eurojust“ en este contexto Hamm, Der Einsatz heimlicher Ermittlungsmethoden und der Anspruch<br />

auf ein faires Verfahren, StV <strong>2001</strong>, pág. 81 (84 y ss.).<br />

97 Cfr. texto nota 52.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 139<br />

instrumentario procesal-penal a las necesidades jurídico-policiales<br />

mediante la creación de autorizaciones legales para a<strong>do</strong>ptar medidas<br />

especiales de investigación destinadas a combatir la criminalidad<br />

organizada98 , se fortalece, por el contrario, la posición jurídica de la fiscalía<br />

y de los tribunales frente a la policía, pues dichas medidas de investigación<br />

– ya debi<strong>do</strong> al lugar que ocupan en el ordenamiento procesal – se integran<br />

dentro de la persecución penal y con ello quedan subordinadas al control<br />

jurídico del ministerio fiscal. También la reciente interpretación restrictiva<br />

hecha por el Tribunal Constitucional alemán (Bundesverfassungsgericht,<br />

BVerfG) del concepto de „peligro en la demora“ 99 , que desarrollará<br />

sus efectos más allá de los registros <strong>do</strong>miciliarios conforme al Art. 13<br />

II de la Constitución Alemana (Grundgesetz, GG) y § 105 I 1, 100 se<br />

mueve en esta dirección. Con to<strong>do</strong> – además del ya menciona<strong>do</strong><br />

desequilibrio de recursos – no se debe pasar por alto que la fiscalía<br />

sólo puede entrar en acción si llegan a su conocimiento investigaciones<br />

policiales. En el ámbito de la lucha preventiva contra la delincuencia<br />

esto suele suceder en la práctica cuan<strong>do</strong> la policía requiere al ministerio<br />

fiscal para llevar a cabo una medida coercitiva que no pueda decretar<br />

por sí misma – ni siquiera en caso de peligro en la demora –. Un<br />

ejemplo de importancia práctica lo constituye en este contexto el<br />

decreto de las escuchas telefónicas conforme al § 100 a. A este<br />

respecto pue<strong>do</strong> remitir aquí al estudio de actas sumariales realiza<strong>do</strong><br />

actualmente por Kinzig en el Instituto Max Planck101 .<br />

Por otra parte, las propuestas de reforma que pretendían mejorar<br />

estas anomalías mediante la creación de una unidad policial propia para<br />

98 Cfr. Gropp, en: Militello/Arnold/Paoli, supra nota 60, págs. 334 y ss.<br />

99 BVerfG EuGRZ <strong>2001</strong>, 156 = NStZ <strong>2001</strong>, 382, Leitsatz 1 b) „‘peligro en la demora‘ debe estar<br />

fundamena<strong>do</strong> en hechos referi<strong>do</strong>s al caso concreto. Meras especulaciones, estimaciones hipotéticas<br />

o presunciones independientes del caso o basadas únicamente en la experiencia criminalística<br />

cotidiana no son suficientes“. La ordenación por parte judicial ha de ser la regla, no la excepción.<br />

100 Ver Amelung, Die Entscheidung des BVerfG zur „Gefahr im Verzug“ i.S. des Art. 13 II GG, NStZ<br />

<strong>2001</strong>, 337 (342 f.) extendien<strong>do</strong> esta decision a medidas coercitivas de la misma naturaleza, por ej.<br />

la intercepción telefónica según §§ 100 b I, 100 d I.<br />

101 Según una primera impresión de esta investigación, aún no confirmada válidamente, en<br />

cuestiones de criminalidad organizada el proceso de instrucción comienza a menu<strong>do</strong> con la<br />

solicitud de una medida especial de investigación, como por ejemplo, la intervención telefónica<br />

según el § 100 a.


140<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

el ministerio fiscal, sobre la base del modelo francés o badense, 102 han<br />

fracasa<strong>do</strong> sistemáticamente en Alemania, bien por la policía, bien ante<br />

los ministerios de interior 103 . Así, anteriores defensores de esta solución,<br />

como por ejemplo Roxin 104 , actualmente se resignan a sostener que<br />

es inviable 105 . Tampoco el análisis fundamental de Habel en 1982 106<br />

acerca de las distintas propuestas de reforma relativas a la relación<br />

entre policía y ministerio fiscal tuvo mucha trascendencia. Los criterios<br />

jurídico-políticos para una reforma desarrolla<strong>do</strong>s por este autor merecen<br />

sin embargo ser teni<strong>do</strong>s en cuenta, pues intentó conjugar por igual<br />

intereses policiales y fiscales, es decir, las perspectivas de la eficacia y<br />

del Esta<strong>do</strong> de derecho 107 . Sobre dicha base, pueden formularse, para<br />

la actual discusión acerca de la reforma, las tres directrices siguientes:<br />

La unidad de los cuerpos de policía debe mantenerse tanto en el<br />

aspecto organizativo como en el funcional, es decir, una policía judicial<br />

con independencia jurídico-organizativa y con competencias sólo<br />

represivas no es recomendable, pues a ello se asociarían pérdidas de<br />

eficiencia y fricciones y, además, en la práctica no se pueden separar<br />

estrictamente las actividades policiales preventivas y represivas (<strong>do</strong>ble<br />

funcionalidad). Es decir, en to<strong>do</strong> caso entraría en consideración una<br />

asignación temporalmente limitada de determina<strong>do</strong>s funcionarios de la<br />

policía al ministerio fiscal (en el senti<strong>do</strong> del „sistema badense“) 108 , en<br />

cuyo caso, este último también estaría <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de potestad disciplinaria<br />

sobre estos funcionarios 109 .<br />

102 Cfr. ya supra en nota 6 así como – adentrán<strong>do</strong>se en el „sistema badense“ – Habel, supra nota 10,<br />

págs. 80 y ss., 164 y ss., 192 y s.; sobre la provincia prusiana del Rin cfr. Collin, supra nota 32, págs.<br />

205 y ss.<br />

103 Cfr. histórico-jurídicamente Collin, supra nota 32, págs. 205 y ss.<br />

104 Roxin, supra nota 1, págs. 388 y ss.; de forma similar Kuhlmann, supra nota 43, págs. 268 y s.;<br />

Lilie, supra nota 44, pág. 641 en nota 70.<br />

105 Roxin, supra nota 38, pág. 121; el mismo, supra nota 51, § 10 núm. marg. 35, ambos con<br />

ulteriores referencias bibliográficas; crítico también Rüping, supra nota 6, pág. 908.<br />

106 Habel, supra nota 10, págs. 71 y ss., 102 y ss.<br />

107 Ibidem, págs. 184 y ss.<br />

108 Ibidem, págs. 192 y ss.<br />

109 Cfr. Görgen, supra nota 6, pág. 168.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 141<br />

La autoridad acusatoria debe ser partícipe lo más amplia y<br />

tempranamente posible de las investigaciones para poder ejercer su<br />

función de control. Por tanto, también, pero sobre to<strong>do</strong>, en el ámbito de<br />

la lucha preventiva contra la delincuencia debe ser informada sin demora<br />

de las medidas de investigación, o ya con anterioridad, de la fijación de<br />

puntos prioritarios en el estadio previo, y no sólo cuan<strong>do</strong> se la requiere<br />

para llevar a cabo medidas coercitivas. Especialmente, debe tener un<br />

acceso ilimita<strong>do</strong> al efectivo de datos policiales 110 . Tal temprana<br />

participación no sólo es correcta en un Esta<strong>do</strong> derecho, sino también<br />

exigible por razones de eficacia, pues incrementa la calidad (jurídica)<br />

de los resulta<strong>do</strong>s de la investigación y, en su caso, de la acusación, de<br />

cara a las probabilidades de condena 111 .<br />

El desequilibrio de recursos entre la policía y el ministerio fiscal<br />

debe eliminarse o, al menos, reducirse mediante una mejor <strong>do</strong>tación<br />

técnica y personal, así como un reforzamiento de la especialización en la<br />

fiscalía112 . Es evidente que esto, tal y como se comprobó muy pronto en<br />

Baden-Württemberg, no se va a conseguir mediante una ampliación de<br />

personal del ministerio fiscal en el ámbito de la lucha contra la criminalidad<br />

organizada unida a una multiplicación del personal policial113 .<br />

Naturalmente, en la discusión acerca de dichas propuestas de<br />

reforma no deben dejarse a un la<strong>do</strong> los límites estructurales policiales<br />

o generales de la lucha contra la criminalidad organizada. Precisamente<br />

110 Cfr. asímismo Lilie, supra nota 44, pág. 642; Roxin, supra nota 38, pág. 121; Schaefer, supra nota<br />

46, págs. 196 y s.<br />

111 Habel, supra nota 10, págs. 165 y s., demuestra que a comienzos del siglo XX en el „sistema<br />

badense“ la tasa de declaraciones de inocencia en relación con las acusaciones era bastante<br />

inferior al caso, por ejemplo, de Prusia, <strong>do</strong>nde la fiscalía ejercía un control menor sobre la policía<br />

dentro del procedimiento de instrucción. Esto se corresponde con el panorama criminológico del<br />

que da noticia Kinzig, supra nota 60, pág. 211, sobre que la fiscalía en la consideración de<br />

determina<strong>do</strong>s supuestos de hechos como pertenecientes a la criminalidad organizada es al parecer<br />

más cauteloso que la Jefatura de Policía de Baden-Württemberg.<br />

112 Cfr. asímismo Roxin, supra 38, pág. 121.<br />

113 Cfr. Südkurier, 16.3.01. Según el mismo, la fiscalía adquiere 20 nuevas delegaciones, mientras<br />

que la policía obtiene 60. El Ministro de Interior Schäuble ha señala<strong>do</strong> asímismo el hecho que en<br />

el transcurso del año 2000 el número de los funcionarios de policía se ha incrementa<strong>do</strong> de 60 a<br />

400, y el de departamentos especiales de 15 a 27.


142<br />

cuan<strong>do</strong> se parte, adhirién<strong>do</strong>se a la política criminal oficial, de un concepto<br />

de criminalidad configura<strong>do</strong> de manera pre<strong>do</strong>minantemente económica,<br />

hay que tolerar el reproche de que con un mero endurecimiento del<br />

derecho penal y con el equipamiento (técnico) de los órganos de<br />

persecución penal no se logra una aproximación a las causas de esta<br />

criminalidad. En efecto, de este mo<strong>do</strong> la criminalidad organizada y la<br />

policía lo único que logran es – propiamente en el senti<strong>do</strong> de la<br />

oficialmente propagada igualdad de armas 114 – generar recíprocamente<br />

un escalamiento. Esto no es sino una verdad evidente que entre tanto<br />

ha si<strong>do</strong> reconocida en Alemania por la propia policía 115 . El desarrollo de<br />

una política criminal no sólo represiva, de una política criminal para seres<br />

humanos 116 , que al mismo tiempo garantice una mayor efectividad y se<br />

corresponda así a las necesidades legítimas de seguridad por parte de<br />

la población, es otro tema que ya no se puede desarrollar aquí.<br />

Resumen<br />

La regulación normativa del procedimiento de instrucción procesal<br />

alemán se encuentra en contradicción con la realidad jurídica. El ministerio<br />

fiscal es únicamente el dueño y señor del proceso de instrucción, es<br />

decir, posee una facultad exclusiva de dirección material en los casos de<br />

la tradicional delincuencia grave, como delitos capitales y delincuencia<br />

económica. En to<strong>do</strong>s los demás casos, es decir, en la criminalidad menor<br />

y media y especialmente en el ámbito de la lucha preventiva contra la<br />

delincuencia para combartir la criminalidad organizada, el verdadero dueño<br />

y señor ha pasa<strong>do</strong> a ser la policía. La facultad de dirección material de la<br />

fiscalía se limita al decreto u ordenación de determinadas medidas<br />

coercitivas o a la decisión acerca del cierre de la instrucción. Mientras<br />

que esto resulta poco objetable o incluso necesario en la práctica cuan<strong>do</strong><br />

se trata de criminalidad inferior o media, en el ámbito de la lucha preventiva<br />

contra la delincuencia prácticamente se desarrolla un aparato policial<br />

114 Cfr. Weßlau, supra nota 93, págs. 238 y ss.<br />

115 Cfr. entre otros Lisken, supra nota 59, pág. 270.<br />

116 Schüler Springorum, supra nota 59.<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 143<br />

autónomo que lleva a cabo intervenciones o medidas independientes,<br />

las cuales potencialmente podrían afectar a cualquier ciudadano, de tal<br />

manera que es indispensable un control jurídico-estatal más eficiente.<br />

Un control de este tipo en un proceso acusatorio de instrucción al estilo<br />

alemán solamente puede ser ejerci<strong>do</strong> a través del ministerio fiscal. Esto<br />

hace necesario su reforzamiento frente a la policía; un reforzamiento<br />

no sólo normativo, sino fundamentalmente fáctico.<br />

Kai Ambos,<br />

Doutor em Direito Penal pela Universidade de Munique<br />

(Alemanha), Assessor Científico <strong>do</strong> Instituto Max Planck<br />

para Direito Penal Estrangeiro e Internacional


la la ref reforma ref orma del del proceso<br />

proceso<br />

proceso<br />

penal: penal: principios<br />

principios<br />

irrenuncia<br />

irrenunciables irrenuncia bles y y opciones<br />

opciones<br />

de de de política política criminal<br />

criminal<br />

teresa armenta deu,<br />

catedrática de derecho procesal da<br />

universidad de gerona


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 147<br />

LA REFORMA DEL PROCESO PENAL:<br />

PRINCIPIOS IRRENUNCIABLES Y<br />

OPCIONES DE POLÍTICA CRIMINAL<br />

I. INTRODUCCIÓN<br />

Teresa Armenta Deu<br />

El proceso penal vuelve a ser objeto de discusión al filo de las<br />

importantes reformas de que recientemente ha si<strong>do</strong> objeto en varios<br />

paises de Europa y en otros muchos de Latinoamérica.<br />

Estas reformas han teni<strong>do</strong> en muchos casos tal alcance que<br />

conducen a plantear cuestiones verdaderamente cruciales: ¿existe un<br />

canon sobre lo que deba ser un proceso penal conforme a las exigencias<br />

propias de un Esta<strong>do</strong> de Derecho? ¿Son por igual exigibles a tales<br />

efectos los principios procesales que en mayor o menor medida<br />

informan los procedimientos penales actuales? ¿cuál es el ámbito, que<br />

lejos de tal presupuesto, pertenece al marco de la mera opción de política<br />

criminal? Y quizás como síntesis: las cuestiones que suscitan en la<br />

actualidad mayor debate ¿pertenecen a la categoría de elementos<br />

esenciales, indisponibles, y por ello necesariamente exclui<strong>do</strong>s de toda<br />

opción de política criminal, o se incardinan en mayor medida dentro de<br />

éste segun<strong>do</strong> grupo?<br />

Debe advertirse inmediatamente las necesarias limitaciones en el<br />

objetivo enuncia<strong>do</strong>: el corolario de preguntas expuestas constituye casi<br />

en su mera formulación el fin inmediato del mismo, operan<strong>do</strong>, espero,<br />

como punto de partida de posteriores análisis. En este último senti<strong>do</strong> la<br />

idea inicial es muy sencilla: los procesos penales que postula un Esta<strong>do</strong><br />

de Derecho deben partir ineludiblemente de un <strong>do</strong>ble condicionante, el<br />

derecho penal, a cuyo servicio está el proceso to<strong>do</strong> y la Constitución del


148<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

Esta<strong>do</strong> y Pactos internacionales suscritos por aquél. A partir de los<br />

principios cuya vigencia impone este <strong>do</strong>ble presupuesto, el tema se<br />

centra en dilucidar el necesario equilibrio entre los diversos componentes<br />

del sistema que se a<strong>do</strong>pte, de manera que el conjunto guarde la<br />

necesaria coherencia.<br />

II. CONDICIONANTES DE TODO PROCESO<br />

A) la naturaleza del derecho.- Así como el fin de to<strong>do</strong> proceso<br />

penal es la búsqueda de la verdad y la verificación de la justicia<br />

imponien<strong>do</strong> en su caso una pena, la forma que este proceso adquiera<br />

varia según la concepción que se tenga del derecho penal sustantivo y<br />

de los factores políticos y sociales <strong>do</strong>minantes en cada época1 . En<br />

efecto, aunque en origen la justicia penal a<strong>do</strong>ptó una forma que<br />

correspondía a una concepción privada del derecho penal y por ende el<br />

primer sistema procesal penal fué el acusatorio en su senti<strong>do</strong> estricto2 ,<br />

el derecho penal en su configuración actual viene determina<strong>do</strong> por la<br />

necesidad de un proceso como única forma de imponer una pena, lo<br />

que a su vez implica que no exista una relación jurídica material penal,<br />

ni un derecho subjetivo a la citada imposición por quienes ejercitan la<br />

acción penal. De la misma naturaleza se infiere que al renunciarse al<br />

ejercicio de la acción penal por los particulares, atribuyen<strong>do</strong> tal función<br />

a un órgano oficial como el fiscal, se haya acompaña<strong>do</strong> tradicionalmente<br />

dicha atribución de la garantía insita en el sometimiento de tal función al<br />

principio de legalidad. Otras opciones hacen prevalecer otros valores.<br />

B) La Constitución y Trata<strong>do</strong>s Internacionales. La Constitución<br />

de cada país reconoce derechos que condicionan decisivamente la<br />

estructuración del proceso penal. En senti<strong>do</strong> semejante los Trata<strong>do</strong>s<br />

1 WACH, cita<strong>do</strong> por GOMEZ ORBANEJA en “Comentarios a la Ley de Enjuiciamiento Criminal”,<br />

Barcelona, 1951, pp. 160-162; y ROXIN, “Strafverfahrensrecht”, 19 ed. , München, 1985, pp. 64ss.<br />

Se utiliza el término verdad, tanto en su senti<strong>do</strong> “material” como en el “formal”.<br />

2 La acción penal es privada y se reconoce to<strong>do</strong> miembro de la comunidad, quien debe ejercitarla<br />

para que se inicie el proceso.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 149<br />

Internacionales contienen mandatos de naturaleza procesal de obliga<strong>do</strong><br />

cumplimiento. En este aparta<strong>do</strong> deben comprenderse: a) derechos<br />

incorpora<strong>do</strong>s al ordenamiento español a través de la ratificación de<br />

Trata<strong>do</strong>s Internacionales (“Declaración de Derechos del Hombre y del<br />

Ciudadano” y “Pacto Internacional de Derechos Civiles”) 3 ; b) derechos<br />

que informan cualquier proceso, y por supuesto el penal comprendi<strong>do</strong>s<br />

en el art. 24 CE 4 ; y, c) derechos contempla<strong>do</strong>s en el Título VI de la propia<br />

CE y que el Tribunal Constitucional ha engarza<strong>do</strong> con los del art. 24 CE 5 .<br />

III. PRINCIPIOS Y DERECHOS IRRENUNCIABLES<br />

Son los que no han si<strong>do</strong> objeto de debate, y tampoco pueden<br />

serlo en un Esta<strong>do</strong> de Derecho.<br />

En este senti<strong>do</strong>, no se cuestiona la configuración del proceso en<br />

el marco de un sistema acusatorio, esto es, incorporan<strong>do</strong> la plena<br />

vigencia de los principios de igualdad entre las partes, la plena<br />

contradicción, el derecho de defensa y la triple ramificación del principio<br />

acusatorio, en el senti<strong>do</strong> que seguidamente se resume:<br />

1) Sistema acusatorio: una referencia de síntesis.- Se parte<br />

aquí de una configuración que diferencia entre un sistema acusatorio,<br />

comprensivo de la plena vigencia de los principios de igualdad y de<br />

contradicción y del derecho de defensa , y el principio acusatorio que<br />

ciñe su conteni<strong>do</strong> a la necesidad de existencia y conocimiento de la<br />

acusación formulada, que el pronunciamiento judicial sea congruente<br />

con la misma6 y, que caso de existir recurso, vuelva a formularse una<br />

3 Así el derecho al <strong>do</strong>ble orden jurisdiccional en el proceso penal.<br />

4 Derecho a obtener la tutela judicial efectiva; derecho a la interdicción de toda indefensión;<br />

derecho al juez ordinario predetermina<strong>do</strong> por la ley; derecho a la defensa y asistencia letrada;<br />

derecho a un proceso sin dilaciones indebidas; y, derecho a un proceso con todas las garantías.<br />

5 Derecho a la publicidad de los procesos; derecho a la motivación de las resoluciones; derecho a<br />

la acusación popular y Tribunal del Jura<strong>do</strong>.<br />

6 Lo que se denomina “correlación entre acusación y sentencia”, términos con que tradicionalmente<br />

se designa la congruencia en el proceso penal.


150<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

acusación ante el órgano “ad quem” 7 . A partir de ahí, los principios y<br />

derechos menciona<strong>do</strong>s se configuran así:<br />

A) Principio de igualdad. Sin estar menciona<strong>do</strong> en el art. 24<br />

CE,el Tribunal Constitucional lo ha conecta<strong>do</strong> con el derecho a la tutela<br />

efectiva, el derecho de defensa, e incluso con el derecho a un proceso<br />

con todas las garantías. Su vigencia presenta una <strong>do</strong>ble intensidad en<br />

las diferentes fases del proceso. En la instructora, la Ley de<br />

Enjuiciamiento Criminal, a partir de una concepción originaria de patente<br />

desigualdad, provocada por el presunto criminal y de la que se<br />

consideraba al mismo el único responsable, ha deriva<strong>do</strong> hacia la<br />

creciente ampliación del derecho de defensa y de la existencia de<br />

contradicción en esta fase, diluyen<strong>do</strong> así esta idea primitiva y<br />

acrecentan<strong>do</strong> la igualdad de las partes acusa<strong>do</strong>ras y acusada, a partir<br />

del momento en que ésta última adquiere dicha condición de parte.<br />

Esta última situación, convertirse en parte, surge para el sujeto<br />

pasivo desde aquél momento en que el juez tiene elementos de juicio<br />

suficientes para otorgarle la condición de imputa<strong>do</strong>, instante en el que<br />

simultáneamente despliega su eficacia el derecho de defensa en<br />

diversas manifestaciones: obligatoriedad de la defensa técnica a partir<br />

del auto de procesamiento (art. 118 LECrim); derecho del deteni<strong>do</strong> y<br />

preso provisional a comunicarse con su aboga<strong>do</strong> (art. 523 LECrim.) ;<br />

posibilidad de instar diligencias de investigación de su interés (art. 302<br />

LECrim.) ; y asistencia a la práctica de determina<strong>do</strong>s actos de<br />

investigación (arts. 333, 569 y 584 LECrim) 8 .<br />

7 La llamada “prohibición de reformatio in peius”.<br />

8A diferencia de esta tendencia equipara<strong>do</strong>ra entre las partes acusa<strong>do</strong>ras y la acusada, la línea<br />

legislativa manifestada en las últimas reformas y, más aún, en la jurisprudencia constitucional más<br />

reciente, justifica una igualmente creciente desigualdad entre las partes acusa<strong>do</strong>ras oficiales, por<br />

ostentar tal carácter, frente a las privadas. Muestra esclarece<strong>do</strong>ra de la misma es la reforma de de<br />

28 de diciembre de 1989 que introdujo el procedimiento abrevia<strong>do</strong>, y dentro del mismo, el art.<br />

790,2 <strong>do</strong>nde se otorgan facultades bien diferentes al MF y a las restantes partes acusa<strong>do</strong>ras. A<br />

juicio de la Fiscalía tal discriminación esta plenamente justificada por cuanto la representación<br />

pública se rige por los principios de legalidad e imparcialida, en tanto las acusaciones particulares<br />

se mueven por intereses parciales y ajenos al interés público (Circular 1/1989). Por si restaba<br />

alguna duda interpretativa, la STC 186/1990 consagró tal diferencia de trato. Véase tambien en<br />

este senti<strong>do</strong> , el último aparta<strong>do</strong> del presente trabajo.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 151<br />

En la fase intermedia y de juicio oral, la igualdad debe respetarse<br />

escrupulosamente, tanto entre parte acusa<strong>do</strong>ra y acusada, cuanto entre<br />

las diferentes partes acusa<strong>do</strong>ras, si bien ésta última circunstancia no<br />

es admitida pacíficamente9 .<br />

B) Principio de audiencia o contradicción. Este principio,<br />

resumi<strong>do</strong> en la frase “nadie puede ser condena<strong>do</strong> sin ser oi<strong>do</strong> y venci<strong>do</strong><br />

en juicio”, constituye uno de los grandes avances en la erradicación de<br />

una justicia primaria o inquisitorial. También llama<strong>do</strong> de contradicción,<br />

ha pasa<strong>do</strong> de tener históricamente una vigencia claramente diferenciada<br />

en las <strong>do</strong>s repetidas fases del proceso penal (de investigación y de<br />

enjuiciamiento) a una situación como la actual en <strong>do</strong>nde -al igual que<br />

ocurre con el de igualdad- su aplicación en una y otra es tendencial y<br />

prácticamente equiparable.<br />

En el sumario, que cumple una función de investigación y<br />

preparatoria del juicio, la necesidad, por una parte, de que las<br />

actuaciones lleguen a buen fin, conducen a que estas puedan<br />

desarrollarse “inaudita parte”, así como a que la rebeldía no las<br />

suspenda (art. 841 LECrim). Ello no obstante, la influencia de aquella<br />

<strong>do</strong>ctrina -en orden a preservar al máximo el derecho de defensa,<br />

también en la fase de instrucción- origina el deber para el órgano<br />

jurisdiccional de informar, tan pronto sea posible, sobre la adquisición<br />

de la condición de imputa<strong>do</strong> “, con el ya cita<strong>do</strong> despliegue de efectos<br />

del derecho de defensa10 .<br />

El principio de audiencia rige en toda su plenitud en la fase de<br />

enjuiciamiento o de juicio oral. Esta no podrá iniciarse sin la existencia<br />

de un acusa<strong>do</strong>, que además esté a disposición del órgano enjuicia<strong>do</strong>r.<br />

En caso de declaración de rebeldía, el juicio debe suspenderse (art.<br />

841 LECrim). La enfermedad del imputa<strong>do</strong> es causa de suspensión e<br />

9 La regulación que incorporó el procedimiento abrevia<strong>do</strong> consagró –como se acaba de señalarun<br />

trato desigual respecto del acusa<strong>do</strong>r oficial y los restantes acusa<strong>do</strong>res en el art.. 790,2 (SSTC<br />

15-11-1990; 31-1 y 11-3-1991).<br />

10 STC 186/1990.


152<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

incluso de interrupción del juicio (art. 749 LECrim). Y, finalmente, de tal<br />

regla existen sólo <strong>do</strong>s excepciones11 .<br />

La exigencia de contradicción tiene otra manifestación importante<br />

en relación con las posibles modificaciones del debate en la fase de juicio<br />

oral. La congruencia y el principio acusatorio en el proceso penal limitan,<br />

de una parte, la resolución judicial al marco de la acción penal (el sujeto y<br />

los hechos que fueron objeto de acusación) y de otra impiden que el juez<br />

se exceda en su juicio más allá de lo que fue objeto de acusación (una de<br />

las facetas de la incongruencia) so pena de convertirse así en acusa<strong>do</strong>r.<br />

El principio de audiencia, a su vez, cubre el importante campo de aquellas<br />

cuestiones que sin afectar el objeto del proceso, para poder ser<br />

modificadas, exigen del juez que sean sometidas al conocimiento de la<br />

otra parte para su contradicción.<br />

En este segun<strong>do</strong> aspecto, aquél que obliga al juez a dar cuenta a<br />

las partes de las posibles modificaciones sobre aspectos que no incidan<br />

en el objeto del proceso penal, so pena de vulnerar el principio de<br />

contradicción, se echa en falta un precepto como el parágrafo 266 de la<br />

StPO que permita salvaguardar el principio de audiencia y el derecho<br />

de defensa y a la par propiciar que el tribunal, incluso modifican<strong>do</strong> el<br />

objeto del proceso, pueda condenar con pleno respeto al principio de<br />

contradicción. En el ordenamiento español la deficiente regulación legal<br />

y el <strong>do</strong>ble régimen existente obliga a diferenciar12 :<br />

a) en el proceso abrevia<strong>do</strong>, el Tribunal sólo puede intervenir una<br />

vez ratificadas las conclusiones de acusación y defensa, si se dan <strong>do</strong>s<br />

circunstancias específicas: que la acusación en sus conclusiones<br />

11 La primera es la prevista en los arts. 789,4; 791,4 y 793,1 LECrim, conforme a los cuales, si se<br />

cumplen determina<strong>do</strong>s requisitos -entre ellos que la pena solicitada no puede exceder de un año<br />

de privación de libertad- cabe celebrar el juicio en ausencia del acusa<strong>do</strong>. La segunda es el juicio<br />

de faltas, <strong>do</strong>nde si se ha cita<strong>do</strong> al imputa<strong>do</strong> con las formalidades legales, cabe celebrar juicio y<br />

dictar sentencia en ausencia del acusa<strong>do</strong>.De ahí, la especial relevancia que se otorga a los actos<br />

de notificación en el juicio de faltas -primer momento, no se olvide, en que el futuro acusa<strong>do</strong><br />

tiene noticia de la existencia de una actuaciones judiciales en curso- y , por ende, la práctica<br />

erradicación de la citación por edictos en este procedimiento a partir de la STC 126/1996.<br />

12 El del proceso ordinario por delitos graves (a partir de nueve años) y el del procedimiento<br />

abrevia<strong>do</strong> (para los delitos persegui<strong>do</strong>s con penas de hasta nueve años).


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 153<br />

definitivas cambie la tipificación penal de los hechos, o en el mismo<br />

escrito se aprecie un mayor gra<strong>do</strong> de participación o de ejecución o<br />

circunstancias de agravación de la pena. En ambos supuestos, el juez<br />

o tribunal podrá aplazar la sesión hasta diez días, a petición de la<br />

defensa, para que ésta pueda aportar los elementos de prueba y de<br />

descargo que estime pertinentes (art. 793,7 LECrim.).<br />

b) En el proceso ordinario por delitos graves, las facultades<br />

judiciales ante los errores de la calificación u otras circunstancias<br />

(agravantes, atenuantes.....) formuladas una vez practicada la prueba,<br />

sólo pueden corregirse si algún acusa<strong>do</strong>r, a propuesta del tribunal,<br />

acepta y asume la variación, modifican<strong>do</strong> sus conclusiones, o el tribunal<br />

puede ampararse en la homogeneidad entre los delitos13 .<br />

La circunstancia descrita ha i<strong>do</strong> derivan<strong>do</strong> hacia una criticable<br />

tendencia jurisprudencial en un triple senti<strong>do</strong>: 1) la progresiva restricción<br />

de las facultades discrecionales judiciales en la fase enjuicia<strong>do</strong>ra, so<br />

pretexto de que su intervención le hace perder imparcialidad, convirtién<strong>do</strong>le<br />

en acusa<strong>do</strong>r; 2) la excesiva inflexión de dicha tendencia, de manera que<br />

se equipara el principio acusatorio al principio dispositivo, y por ahí, se<br />

van aproximan<strong>do</strong> proceso civil y proceso penal14 ; y 3) la constante<br />

13 Se entiende por delito homogéneo aquel de la misma naturaleza o especie, aunque suponga<br />

una modalidad distinta dentro de la tipicidad penal, así por ejemplo, utilización ilegítima de<br />

vehículos de motor y hurto; amenazas y coacciones. En cuanto a la extensa bibliografía sobre este<br />

temas pueden seleccionarse : ASENCIO MELLADO, “Principio de defensa y principio acusatorio”,<br />

Madrid, Trivium ; 1991 ; VERGER GRAU, “La defensa del imputa<strong>do</strong> y el principio acusatorio”,<br />

Barcelona, Bosch, 1994 ; ARMENTA DEU, “Principio acusatorio y derecho penal”, Barcelona,<br />

Bosch, 1995 ; ORTELLS RAMOS ; “Principio acusatorio, poderres oficiales del Juzga<strong>do</strong>r y principio<br />

de contradicción. Una crítica del cambio jurisprudencial sobre correlación acusación y sentencia”<br />

en Justivia 91 y del mismo autor “Correlación acusación sentencia : antiguas y nuevas orientaciones<br />

jurisprudenciales”” en la misma revista y año ; y más recientemente VILLAGOMEZ CEBRIAN, “El<br />

agravamiento judicial de la acusación” en la Ley , 1 de marzo de 1999.<br />

14 Y como ya se advirtiera hace tiempo : “La competencia judicial para el derecho de penar no se ha<br />

altera<strong>do</strong> en el proceso acusatorio, que es en realidad una institución técnico-artificial y una creación<br />

del Esta<strong>do</strong> de Derecho. El proceso acusatorio ha configura<strong>do</strong> el proceso penal según el modelo del<br />

proceso civil como un “actus trium personarum”.. El senti<strong>do</strong> y el fin de esta medida de política<br />

procesal es dispensar al juez de la iniciativa de la persecución penal, para garantizar la imparcialidad<br />

de su actuación. (..) Pero por eso no hay que construír el proceso acusatorio mecánicamente según<br />

el proceso civil. La situación jurídica del querellante es completamente otra que la del actor. No hace<br />

valer, como éste, un derecho propio y pide su adjudicación, sino que afirma el nacimiento del<br />

derecho judicial de penar y exige el ejercicio de este derecho que al mismo tiempo representa un<br />

deber. Tal es el verdadero senti<strong>do</strong> del “j’accuse”. J. GOLDSCHMIDT, ob.cit. p.28.


154<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

confusión entre el ámbito de aplicación del principio acusatorio, que tiene<br />

que ver con la naturaleza del derecho penal y su indisponibilidad, y el<br />

principio de audiencia o contradicción, que exige que las eventuales<br />

modificaciones más allá del objeto del proceso, no afectan al repeti<strong>do</strong><br />

principio acusatorio, pero sí al de contradicción en cuanto éste último<br />

exige su trasla<strong>do</strong> a las otras partes intervinientes.<br />

C) El derecho de defensa y sus garantías. El principio de<br />

audiencia guarda una estrecha relación, tanto con el derecho de defensa<br />

(faceta positiva), cuanto con la prohibición de indefensión (faceta<br />

negativa), lo que no debe llevar a la conclusión de que son términos<br />

equivalentes. De hecho, si bien toda vulneración del principio de audiencia<br />

parece que provoca irremediablemente indefensión, el párrafo segun<strong>do</strong><br />

del artículo 238 LOPJ permite interpretar que algunas infracciones del<br />

principio de audiencia pueden no provocar tal defecto15 . El derecho de<br />

defensa se pertrecha de una serie de garantías, corolario ineludible de<br />

su propia salvaguarda. Son las siguientes:<br />

a) Derecho a ser informa<strong>do</strong> de la acusación formulada. Este<br />

derecho, que se manifiesta en este ámbito pero no en menor medida<br />

en la esencia de un sistema acusatorio16 , se solapa en ocasiones con<br />

15 Después de muchos titubeos, el TC parece haber estableci<strong>do</strong> una “<strong>do</strong>ctrina consolidada” sobre<br />

este etéreo concepto. Así la indefensión “constitucionalmente relevante” en términos del propio<br />

TC no coincide con la indefensión jurídico-procesal. Aquélla hace referencia a un resulta<strong>do</strong><br />

efectivamente produci<strong>do</strong>, lo que dependerá, a la postre, de las circunstancias en que la infracción<br />

se produzca, el resulta<strong>do</strong> final del proceso y la conducta procesal de las partes (SSTC, 48/84; 175/<br />

87; 155/88; 205/88; 35/ 89; y 112/89, entre otras muchas y como más aclaratorias).<br />

Los rasgos básicos que deben concurrir para que quepa entender producida indefensión recaen<br />

sobre los siguientes elementos: a) que se haya infringi<strong>do</strong> una norma procesal (requisito necesario<br />

pero no suficiente) SSTC 13/1981; 18/1983; b) que exista privación o limitación de oportunidades<br />

de defensa, entendien<strong>do</strong> por éstos los consistentes en realizar alegaciones o en proponer y<br />

practicar pruebas; c) que la indefensión no sea imputable al que la sufre, de mo<strong>do</strong> que la prueba<br />

de la indefensión corre de cargo de quien la sufre, así como, debe determinarse en cada caso el<br />

gra<strong>do</strong> de diligencia exigible al justiciable o a su aboga<strong>do</strong> o procura<strong>do</strong>r ; d) que la privación o<br />

limitación de la defensa no haya queda<strong>do</strong> posteriormente sanada; e) que se ponga de manifiesto<br />

no sólo la limitación o privación, sino además el conteni<strong>do</strong> que hubiera teni<strong>do</strong> lo preteri<strong>do</strong>, esto<br />

es, demostrar la indefensión material; y, finalmente, f) que la privación o limitación haya teni<strong>do</strong><br />

incidencia efectiva en el fallo.<br />

16 No puede predicarse la vigencia del prinicipio de audiencia, sin que, simultáneamente, se<br />

tenga conocimiento de la acusación formulada.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 155<br />

este último, comprendien<strong>do</strong> en su conteni<strong>do</strong> la correlación entre<br />

acusación y sentencia y la prohibición de reforma peyorativa a través del<br />

ejercicio de un recurso. Su conteni<strong>do</strong> es diverso en la fase instructora,<br />

en la detención o en aquél otro momento en que se debe dar trasla<strong>do</strong> y<br />

conocimiento al titular del hecho punible del que se le considera autor<br />

con todas sus circunstancias y los derechos que le asisten (arts. 2 ; 118<br />

y 520 LECrim.); y en la de juicio, <strong>do</strong>nde se formula la acusación formal<br />

(arts. 652 y 791,1 LECrim.). Naturalmente, tanto en uno como en otro<br />

supuesto, se integra en esta garantía la asistencia de un intérprete para<br />

el desconoce<strong>do</strong>r del idioma español, generalmente por ser extranjero<br />

(art. 6 CEDH, art. 14 CDCP y art. 24 CE) 17 .<br />

La proyección de este derecho alcanza momentos preprocesales,<br />

en relación con la detención y la necesidad de información sobre los<br />

derechos y la razón de la detención (arts. 17.3 CE y 520.2 LECrim.),<br />

así como a situaciones anteriores a la propia formulación de la acusación,<br />

lo que permite hablar con más propiedad de un derecho a conocer de<br />

la existencia de un proceso penal y de un concepto más amplio que el<br />

de acusación llama<strong>do</strong> imputación18 .<br />

b) Derecho a no declarar contra sí mismo y a no declararse<br />

culpable. Tanto uno como otro –que en realidad constituyen <strong>do</strong>s caras<br />

17 Se han da<strong>do</strong> casos en que ciudadanos vascos han solicita<strong>do</strong> intérprete, alegan<strong>do</strong> su<br />

desconocimiento del español y reclaman<strong>do</strong> el uso del euskera.<br />

18 La imputación es condición imprescindible para poder formular acusación desde el momento en<br />

que, según <strong>do</strong>ctrina constitucional consolidada, no cabe formular acusación contra quien previamente<br />

no haya adquiri<strong>do</strong> la condición de imputa<strong>do</strong> (STC 186/1990, entre otras muchas). Tal situación -<br />

que determina el momento inicial para ejercitar el derecho de defensa- surge, bien desde el<br />

primer acto de iniciación del proceso en que se determine al imputa<strong>do</strong> (arts. 118,1 y 2 LECrim.),<br />

bien desde la detención o a<strong>do</strong>pción de cualquier otra medida cautelar, bien desde el procesamiento<br />

(Instrumento formal de la acusación en la instrucción del proceso ordinario por delitos graves,<br />

regula<strong>do</strong> en el artículo 384 LECrim.).La jurisprudencia en este tema es abundante, destacaremos<br />

aquéllas sentencias de mayor interés: SSTC 135/1989; 144/1990; 186/1990; 36/1991; 54/1991;<br />

152/1993; 32/1994; 277/1994; 60/1995; y 154/1995<br />

Junto al conteni<strong>do</strong> se contemplan diferentes manifestaciones externas que constituyen en definitiva<br />

requisitos formales que deben observarse. Se trata de los siguientes: a) la formulación de la<br />

acusación debe ser explícita y efectiva; b) se consignará en diversos escritos según el proceso de<br />

que se trate (conclusiones definitivas en el proceso ordinario por delitos graves (arts. 649; 650-1; y<br />

732 LECrim.) (SSTC 44/85 y 135/1989); el escrito de acusación en el procedimiento abrevia<strong>do</strong><br />

(art. 790,1 y 5 LECrim) (SSTC186/1990 y 54/1991) ; o en el propio acto del juicio oral en el juicio<br />

de faltas, siempre y cuan<strong>do</strong> el acusa<strong>do</strong> pueda defenderse en el cita<strong>do</strong> juicio (SSTC 34/1985 ; 54/<br />

1987; 72/1991; 182/1991; 11/1992 y 56/1994); y, finalmente, c) se reiterará en cada una de las<br />

instancias (SSTC 53/1987 ;168/1990;100/1992).


156<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

de una misma moneda- son garantías o derechos instrumentales del<br />

genérico derecho de defensa (SSTC 36/1983; 127/1992 y 197/1995).<br />

En atención a los mismos, los órganos judiciales deben ilustrar desde<br />

el primer acto procesal que se dirija contra una persona concreta, de<br />

su derecho a no prestar declaración en contra suyo y de no declararse<br />

culpable. Tal información deberá realizarse, si es posible, antes de la<br />

toma de declaración19 .<br />

c) Derecho a la defensa y a la asistencia de letra<strong>do</strong>; la<br />

autodefensa. El derecho a la asistencia de letra<strong>do</strong> como parte del derecho<br />

de defensa constituye un derecho de <strong>do</strong>ble proyección que garantiza: a)<br />

la asistencia letrada al deteni<strong>do</strong> (art.17.3 CE) y, b) la asistencia letrada al<br />

imputa<strong>do</strong> o acusa<strong>do</strong> (art. 24.2 CE), y cuyo conteni<strong>do</strong>, a veces solapa<strong>do</strong><br />

(cuan<strong>do</strong> el deteni<strong>do</strong> adquiere la condición de imputa<strong>do</strong>) no es idéntico<br />

sino mucho más amplio en el segun<strong>do</strong> de los casos (STC 196/1987) 20 .<br />

La asistencia debe ser real, efectiva y no meramente formal, de ahí<br />

que, conforme al art. 31 LAJG, salvo que los aboga<strong>do</strong>s designa<strong>do</strong>s de<br />

oficio hagan uso de su derecho a excusarse de la defensa en los estrictos<br />

términos en él contempla<strong>do</strong>s, la defensa es obligatoria y no puede aducirse<br />

la insostenibilidad del recurso respecto de los condena<strong>do</strong>s21 . En idéntico<br />

senti<strong>do</strong>, los órganos judiciales deben velar por la efectividad del derecho<br />

en cada caso concreto, especialmente en el ámbito penal, no limitán<strong>do</strong>se<br />

a proveer para que se designe aboga<strong>do</strong> de oficio sino amplian<strong>do</strong> su campo<br />

a poner remedio frente a la pasividad del letra<strong>do</strong>, singularmente en los<br />

casos en que actúan de oficio22 .<br />

19 Cabe que la percepción judicial sobre la situación de imputa<strong>do</strong> se produzca al hilo de la propia<br />

declaración ante el juez. Si es así, se vulneraría el derecho de defensa en estas <strong>do</strong>s manifestaciones<br />

si no se suspende la declaración y se le advierte de estos <strong>do</strong>s derechos y de su nueva condición.<br />

Consecuentemente, además, lo declara<strong>do</strong> previamente no podrá ser utiliza<strong>do</strong> en su contra (SSTS,<br />

15.9.1990) y (SSTC 22-3-1985, 15-2-1989; 15-11-1990; 11-3-1991; 3-5-1993; y 31.1.1994).<br />

20 Forma parte del conteni<strong>do</strong> de este derecho el de poder designar libremente a un aboga<strong>do</strong>,<br />

desechan<strong>do</strong> la posibilidad de que se le imponga uno de oficio (art. 14.3 d) P.I.d.C.P. y art. 6.3 c)<br />

C.E.D.H. y STC 196/1987. Esta nota es aplicable a la asistencia letrada del art. 24.2 CE (defensa<br />

del imputa<strong>do</strong>), pero no a la del art. 17.3 CE (asistencia al deteni<strong>do</strong>) (STC 196/1987).<br />

21Arts. 32 y 35 LAJG y SSTEDH, de 9 de octubre de 1979; 13 de mayo de 1980 y 25 de abril de 1983.<br />

22 El derecho a la asistencia de letra<strong>do</strong> se tiene también en los procesos en que la intervención es<br />

facultativa para las partes, en cuanto no cabe denegar el nombramiento de oficio de un justiciable<br />

que alega no tener medios suficientes para litigar, sin antes suspender y motivar el rechazo. Sí es<br />

posible denegar tal nombramiento, no obstante, si se razona la existencia de fraude procesal por el<br />

exclusivo fin de dilatar el procedimiento (STC 92/1996).


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 157<br />

La autodefensa constituye un tema no solventa<strong>do</strong> en el proceso<br />

penal español. Si bien su aplicación se contempla en los Trata<strong>do</strong>s<br />

suscritos por España y el propio Tribunal Constitucional ha admiti<strong>do</strong> que<br />

en el art. 24 CE se reconoce tanto un derecho a la defensa técnica o a<br />

través de aboga<strong>do</strong>, cuanto a la autodefensa o defensa privada; no existe,<br />

sin embargo, un derecho constitucional a la autodefensa excluyente de<br />

la defensa técnica en aquellos casos en que el legisla<strong>do</strong>r ha opta<strong>do</strong> por<br />

establecer la obligatoriedad de dicha defensa técnica. Se atribuye en<br />

definitiva al legisla<strong>do</strong>r el señalar para cada proceso si la autodefensa es<br />

una alternativa o si la defensa técnica es obligatoria (S.29/1995). En to<strong>do</strong><br />

caso, el conteni<strong>do</strong> de la defensa técnica es mayor, ya que, si bien la<br />

asistencia letrada puede ser impuesta pero nunca excluida, la autodefensa<br />

puede ser permitida pero nunca impuesta23 .<br />

d) Derecho a utilizar to<strong>do</strong>s los medios pertinentes para la<br />

defensa. Este derecho, constitucionaliza<strong>do</strong> como el anterior en el art.<br />

24 CE, y aplicable, asimismo, tanto al proceso penal como al civil,<br />

presenta unos caracteres tan amplios que debe irse matizan<strong>do</strong> con las<br />

múltiples delimitaciones que ha i<strong>do</strong> elaboran<strong>do</strong> la <strong>do</strong>ctrina constitucional.<br />

Partien<strong>do</strong> de un conteni<strong>do</strong> básico configura<strong>do</strong> en tres aspectos: a)<br />

derecho a proponer la práctica de medios de prueba; b) derecho a<br />

obtener un pronunciamiento motiva<strong>do</strong> sobre la inadmisión de alguno o<br />

to<strong>do</strong>s los medios de prueba propuestos; y c) derecho a la práctica de la<br />

prueba propuesta; el ejercicio de cualquiera de ellos, como “derecho<br />

de configuración legal” que es, se encuentra someti<strong>do</strong> al cumplimiento<br />

de las normas procesales que regulan la prueba en el proceso<br />

correspondiente, en este caso el proceso penal.<br />

La importante y numerosa <strong>do</strong>ctrina constitucional se puede resumir<br />

en torno a los siguientes puntos: 1) la inadmisión motivada y razonada de<br />

un medio de prueba no vulnera este derecho fundamental24 ; 2) el concepto<br />

de “pertinencia” es más amplio que el utiliza<strong>do</strong> generalmente en la técnica<br />

procesal, abarcan<strong>do</strong> no sólo la pertinencia en senti<strong>do</strong> estricto, sino la<br />

23Vid. DIEZ PICAZO GIMENEZ, I, “Comentario al art. 24 Ce” en “Comentarios a la Constitución<br />

española de 1978 dirigi<strong>do</strong>s por Oscar Alzaga”, Edersa,1996, T.III.<br />

24 STC 147/1987 y 52/1989, entre otras muchas.


158<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

utilidad/necesidad de la prueba y la licitud de la misma; 3) para que la<br />

falta de práctica de una prueba ya admitida vulnere este derecho<br />

fundamental, no es suficiente el hecho en sí, se exige, además, que el<br />

mismo no sea imputable al justiciable y que su inejecución no derive de<br />

la aplicación motivada y razonable de una causa legal que lo permita25 ;<br />

finalmente, 4) la inadmisión o falta de práctica del medio de que se trate<br />

debe haber provoca<strong>do</strong> efectiva indefensión, con arreglo a los parámetros<br />

señala<strong>do</strong>s líneas más arriba26 .<br />

D) Principio acusatorio. Este principio, tan frecuente como<br />

incorrectamente cita<strong>do</strong>, se resume en una idea, importante pero bien<br />

simple, “no hay proceso sin acusación”, lo que si bien se piensa<br />

comprende que “quien acusa no puede juzgar” (Wo kein Kläger, da kein<br />

Richter”). Con esta última matización se incide en mayor medida en el<br />

ámbito de la imparcialidad del juez, sin que ello permita entender que el<br />

derecho al juez imparcial obtiene tutela constitucional a través de la<br />

alegación de vulneración del principio acusatorio.<br />

En la configuración jurisprudencial del artículo 24 CE la<br />

imparcialidad –objetiva y subjetiva- se inserta en el “derecho a un proceso<br />

con todas las garantías” al mo<strong>do</strong> que la referencia del art. 6 C.E.D.H y<br />

toda la jurisprudencia del TEDH sobre el mismo 27<br />

El principio acusatorio, como tal, comprende:<br />

a) La necesidad de la existencia de una acción como<br />

presupuesto del juicio y de la condena, lo que en primer término exige<br />

el previo conocimiento de la acusación formulada, proyectán<strong>do</strong>se así<br />

sobre el derecho de defensa, en tanto, en segun<strong>do</strong> lugar, abarca un<br />

<strong>do</strong>ble ámbito: de conteni<strong>do</strong>, en cuanto la acusación es el objeto del<br />

proceso y de ahí que sus límites marcan la existencia y amplitud de la<br />

misma (correlación entre acusación y sentencia); y de forma, ya que la<br />

25 STC 246/1994.<br />

26 STC 1/1996.<br />

27 Caso Piersak, de 1.10.1982; caso De Cubber, de 26.10.1984; caso Delcourt, de 17.1.1970; y del<br />

caso Hauschildt, de 24.5.1989). Vid. asimismo, SSTC 145/1988; 164/1988; 11/1989 y 98/1989 y<br />

otra muchas posteriores.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 159<br />

acusación deberá ser comunicada al sujeto pasivo en los términos que<br />

marca cada proceso desde el punto de vista formal ya analiza<strong>do</strong>28 .<br />

b) La correlación entre acusación y sentencia, en cuanto ésta<br />

última no puede condenar por hecho punible distinto del que fue objeto<br />

de la acusación, ni a sujeto diferente del aquél a quien se imputó y<br />

posteriormente se acusó, según la delimitación formal, en los escritos<br />

de calificación o acusación, a tenor de lo señala<strong>do</strong> líneas más arriba y;<br />

c) La prohibición de “reformatio in peius”, en cuya virtud, la<br />

exigencia de acusación se extiende a las diferentes instancias, sin que<br />

pueda entenderse que la existente en la primera sirva a tales efectos, y<br />

exigién<strong>do</strong>se así la formulación en la segunda instancia a través de<br />

apelación principal o de adhesión a la misma29 .<br />

Al margen de los matices deriva<strong>do</strong>s de determinadas concepciones<br />

específicas sobre el conteni<strong>do</strong> de alguno de los principios expuestos30 ,<br />

el acuer<strong>do</strong> en torno a su vigencia es, como se acaba de señalar, unánime.<br />

Esta misma anuencia se produce respecto de la presunción de<br />

inocencia como concepto fundamental en torno al cual se construye un<br />

modelo procesal orienta<strong>do</strong> a establecer garantías imprescindibles para<br />

el imputa<strong>do</strong> frente a la actuación punitiva estatal31 .<br />

2) En virtud de la presunción de inocencia, en su faceta de regla<br />

del juicio fáctico, se establece una serie de requisitos que deberán<br />

28 La acusación, además de conocida por el acusa<strong>do</strong>, debe existir ineludiblemente para poder abrir<br />

la fase enjuicia<strong>do</strong>ra y ha de ser sostenida a lo largo de ésta por órgano distinto del enjuicia<strong>do</strong>r.<br />

Desde esta perspectiva, el órgano juzga<strong>do</strong>r ve circunscrito el ámbito de su conocimiento y decisión<br />

al marco estricto -hecho y sujeto) que delimitan la acción.<br />

29 Resulta así, que es la impugnación de una sentencia lo que opera la investidura del juez superior,<br />

determinan<strong>do</strong> la posibilidad de que este desarrolle los poderes que tiene atribui<strong>do</strong>s, con la limitación<br />

determinada por la pretensión de las partes. De esta forma, salvo las expresas excepciones previstas<br />

por la ley, el efecto devolutivo de la apelación se limita a los puntos a lo recurri<strong>do</strong>.<br />

30 Fundamentalmente las muy diversas configuraciones –o por ser más precisos- derivaciones del<br />

principio/sistema acusatorio, así como la interpretación extensiva que se efectúa del mismo, no<br />

sólo por los Tribunales sino por el propio Legisla<strong>do</strong>r a la hora de fundamentar determinadas<br />

modificaciones legales.<br />

31 Ese es el senti<strong>do</strong> conteni<strong>do</strong> en el art. 9 de la Declaración francesa de Derechos del Hombre y del<br />

Ciudadano.


160<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

cumplirse para alcanzar legítimamente un juicio de culpabilidad del<br />

acusa<strong>do</strong> en el proceso penal32 .<br />

En su interpretación jurisprudencial y en apretadísima síntesis, la<br />

conexión entre la presunción de inocencia, la libre valoración de la prueba<br />

y el principio “in dubio pro reo” teje un entrama<strong>do</strong> <strong>do</strong>ctrinal que se resume<br />

en las siguientes reglas:<br />

a)Sólo la actividad probatoria de cargo, debidamente practicada,<br />

puede conducir al juzga<strong>do</strong>r al convencimiento de la certeza de la<br />

culpabilidad. Si no se produce tal convencimiento debe operar la<br />

presunción de inocencia33 ;<br />

b) Dicha “mínima actividad probatoria de cargo” significa la<br />

existencia de una actuación probatoria, objetivamente incriminatoria, que<br />

sometida posteriormente a valoración judicial consigue la íntima<br />

convicción de la culpabilidad. Es decir la relación “libre valoración de la<br />

prueba y presunción de inocencia coexisten perfectamente, a la par<br />

que la referida presunción de inocencia y el principio “in dubio pro reo”,<br />

operan de manera que éste último “sólo entra en juego cuan<strong>do</strong>,<br />

efectivamente practicada la prueba, ésta no ha desvirtua<strong>do</strong> la presunción<br />

de inocencia, o dicho de otra manera, la aplicación del referi<strong>do</strong> principio<br />

se excluye cuan<strong>do</strong> “el órgano judicial no ha teni<strong>do</strong> duda alguna sobre el<br />

carácter incriminatorio de la prueba practicada” 34 ; finalmente,<br />

c) la prueba con las características reseñadas debe haber<br />

cumpli<strong>do</strong> todas las garantías, es decir haberse practica<strong>do</strong> en el seno<br />

del juicio oral ; con inmediación, oralidad, concentración y publicidad ;<br />

32 La presunción de inocencia tiene otras <strong>do</strong>s vertientes: 1) como “regla de tratamiento” es un postula<strong>do</strong><br />

directamente referi<strong>do</strong> al tratamiento del imputa<strong>do</strong> durante el proceso penal, conforme al cual ha de<br />

partirse de la idea de que el inculpa<strong>do</strong> es inocente y, por ende, reducir al mínimo las medidas<br />

restrictivas; y 2) como”regla de juicio” referida al juicio de hecho dela sentencia penal, con incidencia<br />

en el juicio probatorio, conforme al cual, la prueba completa de culpabilidad debe ser suminstrada por<br />

la acusación, imponién<strong>do</strong>se la absolución si la culpabilidad no queda totalmente demostrada.<br />

VEGAS TORRES “Presunción de inocencia y prueba en el proceso penal”, Madrid, 1991.<br />

33 Esta configuración, calificada por el TC en diversas ocasiones como “inversión de la carga de la<br />

prueba” o “presunción iuris tantum”, no se corresponde, sin embargo, ni con el correcto entendimiento<br />

de carga o de la inversión de la misma, ni con el de presunción En el primer senti<strong>do</strong>, SSTC 31/<br />

1981; 107/1983; 17/1984; y 70/1985; en el segun<strong>do</strong> STC 76/1990.<br />

34 SSTC 31/1981 ; 13/1982 ;y 25/1988.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 161<br />

sometién<strong>do</strong>la a contradicción y ; habién<strong>do</strong>se obteni<strong>do</strong> sin vulneración<br />

de derechos fundamentales35 .<br />

El acuer<strong>do</strong> concurre de nuevo al tratar de la necesidad de articular<br />

un medio procesal en virtud del cual se revisará toda resolución<br />

condenatoria, o de garantizar la publicidad de las actuaciones, la oralidad<br />

y la inmediación.<br />

3) La llamada <strong>do</strong>ble instancia. Como es conoci<strong>do</strong> la instancia<br />

única forma parte de las notas características de un sistema acusatorio,<br />

sien<strong>do</strong>, además y por otra parte, lo apropia<strong>do</strong> a un proceso en el que<br />

también rige el principio de libre valoración de la prueba y el de oralidad.<br />

Fue precisamente el sistema de instancia única el instaura<strong>do</strong> en la<br />

Ley de Enjuiciamiento Criminal y el que pervive todavía para el proceso<br />

ordinario por delitos graves, cuya resolución es susceptible únicamente<br />

de recurso de casación, si concurren los motivos y presupuestos al efecto.<br />

La aplicación de los Trata<strong>do</strong>s Internacionales suscritos por España entre<br />

los que figura el derecho a una segunda revisión jurisdiccional de to<strong>do</strong><br />

veredicto de culpabilidad condujo, no obstante, en 1988 a que en la<br />

reforma introductora del proceso abrevia<strong>do</strong> se incorporara la <strong>do</strong>ble<br />

instancia a través del recurso de apelación frente a las resoluciones<br />

tramitadas por este procedimiento y resueltas por el juez de lo penal36 .<br />

Las normas internacionales, por otra parte, han si<strong>do</strong> incorporadas<br />

a través de la <strong>do</strong>ctrina del Tribunal Constitucional en virtud del art. 10.2 de<br />

la CE y en conexión con el art. 24.1 del propio Texto Constitucional <strong>do</strong>nde<br />

se reconoce el derecho fundamental a la tutela judicial efectiva del art.<br />

24.1 CE en su vertiente de “derecho al recurso”. La jurisprudencia<br />

35 Es decir, no pudien<strong>do</strong> calificarse como “prueba prohibida”. Vid. FERNANDEZ ENTRALGO, J,<br />

“Las reglas del juego. Prohibi<strong>do</strong> hacer trampas: La prueba ilegítimamente obtenida” en el Curso<br />

sobre “La prueba en el proceso penal”, “Cuadernos del CGPJ”, 1996, p.55ss; URBANO CASTRILLO,<br />

“Prueba ilícita en particular”, ibidem, p.211ss; VEGAS TORRES, J. “Prueba ilícita en particular (II):<br />

La ilicitud de la diligencia de entrada y resgistro en lugar cerra<strong>do</strong> y sus consecuencias”, ibidem,<br />

p.293ss; y VELASCO NUÑEZ, E. “Prueba obtenida ilícitamente. Doctrina del “fruto del arbol<br />

envenena<strong>do</strong>”: Correcciones actuales y tendencias de futuro”, en el curso sobre “Medidas restrictivas<br />

de derechos fundamentales”, Cuadernos del CGPJ, 1996, p.425ss<br />

36 El protocolo nº 7 del C.E.D.H. y el art. 14.5º del Pacto Internacional de Derechos Civiles señalan<br />

que: ”toda persona declarada culpable de un delito tendrá derecho a que el fallo condenatorio y la<br />

pena que se le haya impuesto sean someti<strong>do</strong>s a un tribunal superior, conforme a lo prescrito por la ley”.


162<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

constitucional ha perfila<strong>do</strong> su conteni<strong>do</strong> en torno a las siguientes notas : a)<br />

se circunscribe al campo del proceso penal; b) desde el punto de vista<br />

subjetivo, corresponde sólo al condena<strong>do</strong>; y, c) desde el punto de vista<br />

objetivo, se refiere únicamente al fallo condenatorio y no al resto de<br />

cuestiones susceptible de dilucidarse en el proceso penal.<br />

Esta última precisión tiene mucho que ver con lo que son los<br />

<strong>do</strong>s problemas que presenta la regulación procesal penal a los efectos<br />

de cumplir con el mandato del art. 14.5 del PIDC. De una parte, en la<br />

realidad española coexisten tres procesos con <strong>do</strong>ble instancia (el<br />

abrevia<strong>do</strong>, el del Tribunal del Jura<strong>do</strong> y el juicio de faltas) y uno de<br />

instancia única (el ordinario por delitos graves); de otra, qué debe<br />

entenderse por ese derecho a la revisión por otro tribunal, esto es, si<br />

objetivamente abarca tan sólo el fallo condenatorio o si comprende el<br />

enjuiciamiento de la primera instancia en su conjunto37 .<br />

En la realidad práctica y hasta la fecha, el Tribunal Constitucional<br />

ha reconoci<strong>do</strong> la posibilidad de que la segunda instancia se articule a<br />

través de un recurso diferente a la apelación, concretamente del recurso<br />

de casación -a pesar de su carácter extraordinario- interpretan<strong>do</strong> que la<br />

repetida normativa internacional no impone un recurso determina<strong>do</strong>,<br />

sino el que otro tribunal pueda fiscalizar la decisión penal condenatoria,<br />

aunque sea limitadamente, ya que el art. 14.5 del Pacto no configura de<br />

hecho un derecho a la <strong>do</strong>ble instancia en senti<strong>do</strong> propio. Incluso, en los<br />

casos en que por aplicación de reglas de competencia específica, como<br />

los de “aforamiento” 38 , el sujeto no renuncia a esta condición, el Tribunal<br />

Supremo entiende que se lleva a cabo una opción que justifica la falta<br />

de una efectiva fiscalización posterior39 .<br />

37 Vid. CALDERON CUADRADO, “El recurso de anulación penal”, Comares, 1995 y de la misma<br />

autora “Apelación de sentencias en el proceso penal abrevia<strong>do</strong>”, Comares, 1996.<br />

38 Supuestos en que por razón del sujeto (Ministros, Diputa<strong>do</strong>s...) el conocimiento del proceso en<br />

primera instancia corresponde al propio Tribunal Supremo, esto es, a la cúspide jurisdiccional.<br />

39 En contra de tal integración, véase mi trabajo “El derecho a los recursos: su configuración<br />

constitucional”, R.G.D.Proc. julio-agosto 1994. p.8105ss.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 163<br />

3) Principio de oralidad. El art. 120.2 CE incorpora la oralidad<br />

al marco constitucional, especialmente en el proceso penal (“el<br />

procedimiento será pre<strong>do</strong>minantemente oral, sobre to<strong>do</strong> en materia<br />

criminal”). Dicho mandato, sin embargo, no es excluyente, de manera<br />

que no se opone al precepto constitucional el establecimiento de una<br />

fase o de determina<strong>do</strong>s actos inspira<strong>do</strong>s en el principio de la escritura,<br />

como por ejemplo, los escritos de calificaciones (arts. 650 y 732.2<br />

LECrim.) o los artículos de previo pronunciamiento (art.668 LECrim)<br />

o el régimen de la prueba <strong>do</strong>cumental diseña<strong>do</strong> por el art. 726 LECrim.<br />

En términos generales, sin embargo, nuestro proceso penal se informa<br />

por el principio de oralidad en sus aspectos más esenciales: la práctica<br />

de la prueba (arts. 701 a 730 LECrim.), los informes de acusación y<br />

defensa (arts. 734 a 737 LECrim.); la última palabra al acusa<strong>do</strong> (art.<br />

739 LECrim.); y especialmente, que el juez dicte sentencia con arreglo<br />

a las pruebas practicadas en el juicio (art. 741 LECrim.).<br />

Parte sustancial de la vigencia del principio de oralidad, como del<br />

de escritura, es que llevan acompañada la de otros principios que son<br />

su consecuencia. En el caso de la oralidad: el de inmediación, el de<br />

contradicción y el de publicidad.<br />

4) En cuanto al principio de inmediación , informa el proceso<br />

penal español, sobre to<strong>do</strong> en su fase oral (arts. 701 y 734 a 739 LECrim.).<br />

La actividad probatoria e informes han de realizarse ante el tribunal<br />

(arts. 688,2 ss; 683 LECrim.). La sentencia ha de discutirse<br />

inmediatamente después de celebra<strong>do</strong> el juicio (art. 149 LECrim.), en<br />

tres días si se trata de delito y el mismo día si fuera una falta (art.741-<br />

203 LECrim.). Además, en caso de suspensión dilatada del juicio (art.<br />

746.4 y 5) se declara la nulidad del juicio, inicián<strong>do</strong>se otra vez el juicio<br />

oral (art. 749 LECrim.) 40 .<br />

40 En la fase instructora, sin embargo, en parte porque al menos teóricamente no hay fase probatoria<br />

alguna, y porque en to<strong>do</strong> caso, quien instruya no juzgará posteriormente, la inmediación no tiene<br />

la relevancia que presenta en la fase enjuicia<strong>do</strong>ra.


164<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

5) Finalmente, la publicidad se encuentra actualmente<br />

constitucionalizada en los arts. 24.2 y 120 de la Norma Fundamental; y<br />

en el art. 14.1 PIDCP y art. 6.1 CEDH41 .<br />

Por garantizar, precisamente, la publicidad externa, la aplicación<br />

de este principio presenta distinta intensidad en las <strong>do</strong>s fases del proceso<br />

penal. En la fase de investigación las partes personadas conocerán de<br />

las actuaciones que se vayan practican<strong>do</strong>, salvo que se declare secreto<br />

el sumario (art.302,1 y 2 LECrim. y 234 LOPJ) . La publicidad externa, no<br />

obstante, no rige hasta el juicio oral (art.301 LECrim.). En éste último, la<br />

vigencia del principio de publicidad es absoluta, constituyen<strong>do</strong> su infracción<br />

motivo de nulidad absoluta conforme al art. 681,1º LECrim. y 238 LOPJ) 42 .<br />

Dos cuestiones merecen una atención especial, aunque breve,<br />

antes de finalizar este aparta<strong>do</strong>: el secreto del sumario y la intervención<br />

de los medios de publicidad y aparatos de reproducción en los juicios.<br />

1)Secreto del sumario. Entendien<strong>do</strong> por “secreto externo del<br />

sumario” aquél que conforme al art. 301 LECrim. rige frente al público<br />

en general, el TC ha elabora<strong>do</strong> una <strong>do</strong>ctrina que a la par que lo legitima<br />

(resulta procedente prohibir llevar a cabo una revelación indebida<br />

(trasmitien<strong>do</strong> datos de los que se ha conoci<strong>do</strong> a través del sumario), su<br />

conteni<strong>do</strong> y extensión deben interpretarse restrictivamente, de forma<br />

que si el hecho se conoce por otra via que no sea la revelación indebida,<br />

el secreto no afecta a los hechos, pudien<strong>do</strong> revelarse en uso de la libertad<br />

de información. Lo contrario, se aduce, sería crear una atípica e ilegítima<br />

materia reservada (STC 13/1985). En cuanto al conoci<strong>do</strong> como “secreto<br />

interno del sumario”, aquél que excepcionalmente puede imponerse a<br />

41 El Tribunal Constitucional resalta la importancia de este principio en atención a su <strong>do</strong>ble<br />

finalidad : “por un la<strong>do</strong>, proteger a las partes de una justicia sustraída al control público, y por otro,<br />

mantener la confianza de la comunidad en los Tribunales, constituyen<strong>do</strong> en ambos senti<strong>do</strong>s tal<br />

principio una de las bases del debi<strong>do</strong> proceso y uno de los pilares del Esta<strong>do</strong> de Derecho” (STC 96/<br />

1987). Su vigencia se desarrolla, asimismo, en la <strong>do</strong>ctrina emanada del TEDH en los siguientes<br />

casos : Le Compte, Van Leuven y De Meyere, de 28 de junio de 1981; Albert y Le Compte, de 10<br />

de febrero de 1983; Pretto, de 8 de diciembre de 1983; y, Axen, de diciembre de 1983).<br />

42 Las escasas excepciones que contempla la LECrim (art. 680; 684; 686-687) no hacen sino<br />

confirmar la regla general, y deben, además, por tener tal carácter, resolverse mediante resolución<br />

motivada, conforme al art. 232.2 LOPJ y aludir expresamente a los motivos que justifican tal<br />

exclusión de la publicidad.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 165<br />

las partes, el TC ha recorda<strong>do</strong> que no debe ponerse en relación con el<br />

principio de publicidad interna sino con el derecho de defensa43 .<br />

2) Intervención de los medios de comunicación. El TC ha<br />

entendi<strong>do</strong> comprendi<strong>do</strong> en el art.14.1 PIDCP y en el art. 6 CEDH la<br />

posibilidad de que los medios de comunicación proyecten al exterior<br />

los juicios, más allá del circulo de los presentes en los mismos44 .<br />

IV. LAS CUESTIONES OBJETODE DEBATE (UNA SELECCIÓN)<br />

Si los anteriores principios no han si<strong>do</strong>, en su esencia, objeto de<br />

controversia, existe sin embargo un espacio de discusión abierto por<br />

las reformas acometidas recientemente en España, en varios paises<br />

hispanoamericanos y, antes, en Francia, Italia, Portugal y Alemania. En<br />

ese espacio se han plantea<strong>do</strong> reiteradamente una serie de cuestiones<br />

que invariablemente vienen a nuclearse en torno a los siguientes puntos:<br />

1) el juego que debe otorgarse a los principios de legalidad y oportunidad;<br />

2) la atribución de funciones instructoras, su relación con la a<strong>do</strong>pción<br />

de medidas cautelares y la independencia del órgano acusa<strong>do</strong>r; y, 3) el<br />

régimen de monopolio o no en el ejercicio de la acción penal .<br />

Desde la convicción de que no existe un sistema perfecto y de<br />

validez universal, entien<strong>do</strong> que existe un amplio margen de decisión<br />

sobre las cuestiones apuntadas. Pero cualquiera que sea, la opción<br />

que se a<strong>do</strong>pte deberá observar el necesario equilibrio entre potestades<br />

y garantías. Ilustra<strong>do</strong> con un supuesto concreto: la correlación entre<br />

principio de legalidad y principio de oportunidad debería cohonestarse<br />

con una vigencia al menos pre<strong>do</strong>minante del principio de oficialidad.<br />

Sin que la alternativa contraria sea incompatible, reforzar la oficialidad<br />

y simultáneamente ampliar el margen de las facultades discrecionales<br />

que el principio de oportunidad conlleva, configura de hecho un proceso<br />

43 STC 64/1994 y ATC 270/1994.<br />

44 SSTC 30/1982 y 128/1988.


166<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

en que los órganos oficiales (juez o fiscal) acaparan excesivas<br />

facultades frente a las que el ciudadano carece de las necesarias<br />

garantías. Y no cabe apelar al modelo norteamericano –<strong>do</strong>nde<br />

conviven ambos principios- sustancialmente porque allí el control<br />

fundamental se ejercita a través de la elección democrática, directa<br />

o indirecta, de quien ostenta el monopolio de la acción penal y de<br />

quien juzga. Paralelamente, incorporar sistemas de consenso<br />

(”Absprache”) no de deja de acarrear importantes costes desde el<br />

punto de vista de la prevención general, la aplicación igualitaria de la<br />

ley y la seguridad jurídica.<br />

Pasemos ahora al análisis de las tres cuestiones planteadas.<br />

1) La alternativa entre el principio de legalidad y el de oportunidad<br />

o como se denomina en otros casos (“el principio de obligatoriedad de<br />

la acción penal) dista mucho de ser un tema resuelto, como la propia<br />

historia demuestra. Su análisis debe desarrollarse en conexión con la<br />

configuración institucional (orgánica y funcional) del ministerio fiscal:<br />

con el examen de sus funciones y de si figura entre éstas la de dirigir<br />

la fase de investigación del proceso, para plantear entonces si ostenta<br />

o no el monopolio sobre el ejercicio -obligatorio o discrecional- de<br />

aquélla acción.<br />

En el sistema de la Ley de Enjuiciamiento Criminal el ejercicio<br />

de la acción penal por parte del fiscal se sujeta inicialmente al principio<br />

de legalidad, como garantía de igualdad y seguridad jurídica, en cuanto<br />

deberá procederse siempre que la ley así lo determine. En los países<br />

de nuestro entorno, sin embargo, a partir de la primera guerra mundial,<br />

se abre en Europa una importante discusión sobre la imposibilidad de<br />

perseguir todas las conductas tipificadas conforme a la estricta<br />

aplicación de este principio. Se pretende entonces discriminar o<br />

seleccionar tal persecución ante la incapacidad de policía, fiscalía y<br />

Tribunales.<br />

Frente a esta denominada “crisis del principio de legalidad”, su<br />

par correspondiente, el principio de oportunidad, ha conoci<strong>do</strong> un<br />

desarrollo imparable. Los diferentes ordenamientos jurídicos han<br />

a<strong>do</strong>pta<strong>do</strong> soluciones diversas inscribibles, ya en un concepto amplio


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 167<br />

de principio de oportunidad, ya en otro más estricto45 , sirvién<strong>do</strong>se para<br />

ello de modelos diversos, singularmente el alemán y el norteamericano46 .<br />

A partir de ahí, y dejan<strong>do</strong> al margen otras medidas como las contenidas<br />

en los supuestos de descriminalización o de despenalización, se han<br />

acometi<strong>do</strong> diversas reformas cuya última ratio es descongestionar la<br />

administración de justicia penal47 .<br />

Ciñén<strong>do</strong>me al caso español, y después de un intenso debate<br />

sobre los riesgos de renunciar a la estricta aplicación del principio de<br />

45 Conforme al primero, se entiende como aplicación del reitera<strong>do</strong> principio to<strong>do</strong> tratamiento<br />

penal diferencia<strong>do</strong> del conflicto social representa<strong>do</strong> por el hecho delictivo, esto es, tanto las<br />

técnicas despenaliza<strong>do</strong>ras cuanto las específicamente procesales. PLAGIERO, C.E., “Minima non<br />

cura praetor” (Ipertrofia del diritto penale descriminalizzazione dei reati bagatellari)”, 1985;<br />

BACIGALUPO, “Descriminalización y prevención” en Poder Judicial 1987, nº especial, II, p.14ss.<br />

Con arreglo a un senti<strong>do</strong> más estricto, el principio de oportunidad se limita en el aspecto subjetivo<br />

a los sujetos públicos, y desde el objetivo al marco del proceso, abarcan<strong>do</strong> desde la obligación de<br />

incoación ante to<strong>do</strong> conocimiento de una “notitia críminis” a su finalización a través de una<br />

resolución, según lo previsto en la ley procesal penal.Los términos de la discusión sobre el juego<br />

del par principio de legalidad-principio de oportunidad pueden resumirse como sigue. Los<br />

partidarios de incorporar el principio de oportunidad alegan básicamente:1) razones de interés<br />

social o utilidad pública en una triple vertiente : a) la falta de interés público en la persecución del<br />

delito, por su escasa lesión social ; b) estimular la pronta reparación de la víctima ; y c) evitar los<br />

efectos criminógenos de las penas cortas privativas de libertad. 2) contribuir decisivamente a la<br />

consecución de la justicia material por encima de la formal; 3) favorecer el derecho a un proceso<br />

sin dilaciones indebidas; y 4) constituir el único instrumento -desde una perspectiva eminentemente<br />

práctica- que permite tratar de forma diferenciada los hechos punibles que deben ser persegui<strong>do</strong>s<br />

en to<strong>do</strong> caso, y aquellos otros en que se considera que la mínima lesión social debe conducir a su<br />

no persecución.En contra se utilizan un <strong>do</strong>ble tipo de motivos. De una parte, aquéllos que atienden<br />

al punto de vista constitucional y que se centran en la lesión del principio de igualdad y de la<br />

administración de justicia como función encomendada exclusivamente a los órganos jurisdiccionales.<br />

De otra, los que rechazan el principio de oportunidad bajo la acusación de poner en peligro los<br />

logros que conlleva la estricta sujeción al principio de legalidad; especialmente, el efecto<br />

conminatorio de la sanción penal o la seguridad jurídica implícita en la certidumbre de que to<strong>do</strong><br />

hecho que revista los caracteres de delito será persegui<strong>do</strong> en términos de igualdad.<br />

46 El primero, desde una perspectiva que incide primordialmente en el marco de la llamada<br />

“criminalidad bagatelaria” y a través de la aplicación de los parágrafos 153 y 153a StPO. Véase al<br />

respecto: ARMENTA DEU,T, “Criminalidad de bagatela y principio de oportunidad: Alemania y<br />

España”, Barcelona, PPU, 1991. La innegable influencia anglosajona y más específicamente<br />

norteamericana se deja notar en las incorporaciones de las diversas variantes de la conformidad<br />

(“plea bargaining”). Prueba incontestable de esta influencia son las últimas reformas procesales<br />

penales acaecidas en Portugal (Decreto Ley 78/87, de 17 de febrero) e Italia (Decreto nº 447/448<br />

y 449, de 22 de septiembre de 1988).<br />

47 La reforma del Código Penal de 1983, previa al nuevo Código Penal de 1985, que modificó<br />

sustancialmente el Libro III, destipifican<strong>do</strong> númerosas conductas anteriormente contempladas como<br />

faltas. Simultáneamente, sin embargo, no se efectuó la necesaria remisión –previa creación y<br />

regulación- a un código de sanciones administrativas, al mo<strong>do</strong> del modelo aleman de las<br />

“contravenciones administrativas” (“Ordnungswidrigkeit”). Con mayor extensión, mi trabajo “El proceso<br />

penal: nuevas tendencias, nuevos problemas” en “Poder Judicial”, 1996 (1), p. 53ss.


168<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

legalidad en su vertiente jurisdiccional, el principio de oportunidad se<br />

aplica mediante la institución de la conformidad, prevista ya en la<br />

primitiva Ley de Enjuiciamiento Criminal de 1882, pero ampliada<br />

sustancialmente en la importante reforma de 28 de diciembre de 1988.<br />

En una apretadísima síntesis, la “conformidad del acusa<strong>do</strong> con la<br />

calificación más grave” se contemplaba originariamente en la Ley de<br />

Enjuiciamiento Criminal de 1882, en una fase avanzada del proceso –<br />

una vez fija<strong>do</strong>s y califica<strong>do</strong>s los hechos- como forma de finalizar el<br />

proceso anticipadamente en función de meras razones de economía<br />

procesal (arts. 655 y 688 LECrim.) 48 . A partir de la reforma de 1988 se<br />

incluye y amplia esta modalidad, atendien<strong>do</strong>, además de a razones de<br />

economía y celeridad procesal, a potenciar las facultades negocia<strong>do</strong>ras<br />

de las partes y a la posibilidad de renunciar al derecho de defensa49 .<br />

Desde un punto de vista procedimental, se distingue una<br />

conformidad nada más abrirse el juicio oral (arts. 655, y 791,3) y otra,<br />

antes de practicarse la prueba, en el interrogatorio del acusa<strong>do</strong> (arts.<br />

689.2 y 792.3) 50 . La primera posibilidad que se ofrece al acusa<strong>do</strong> para<br />

conformarse con la pena y poner así fin adelanta<strong>do</strong> al proceso penal se<br />

presenta una vez formulada la acusación en el escrito de calificación<br />

provisional o escrito de acusación. La segunda oportunidad , más frecuente<br />

en la práctica, aparece cuan<strong>do</strong> la acusación y la defensa, con la anuencia<br />

del acusa<strong>do</strong> presente piden al juez o tribunal que proceda a dictar sentencia<br />

de conformidad con el escrito de acusación que contenga pena de mayor<br />

gravedad o con el que se presente en ese acto, que no podrá referirse a<br />

48 La modificación de penas que supone el nuevo Código Penal de 1995 ha supuesto, finalmente,<br />

que las conformidades hayan desapareci<strong>do</strong> del procedimiento ordinario por delitos graves.Ello no<br />

quiere decir, sin embargo, que los arts. 655 y 688 y concordantes hayan queda<strong>do</strong> deroga<strong>do</strong>s. Dada<br />

la escasa y deficiente regulación legal en el procedimento abrevia<strong>do</strong>, es razonable y defendible<br />

que la primitiva regulación legal , sea de aplicación extensible a estas conformidades, en el seno<br />

del procedimiento abrevia<strong>do</strong>.<br />

49 Resulta especialmente ilustrativa a este efecto la Circular de la Fiscalía del Esta<strong>do</strong> 1/1999.<br />

50 Cabe añadir una tercera posibilidad, específica del proceso ante el Tribunal del Jura<strong>do</strong>, en el<br />

escrito de conclusiones definitivas (art. 50 LOTJ). Esta eventualidad ha si<strong>do</strong> objeto de duras<br />

críticas, ya que de llegarse al acuer<strong>do</strong> de conformidad se sustrae el conocimiento de la causa al<br />

Tribunal del Jura<strong>do</strong>, resolvien<strong>do</strong> con arreglo a lo conforma<strong>do</strong>.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 169<br />

hecho distinto, ni contener calificación más grave que la del escrito de<br />

acusación (arts. 688 a 700 y 793,3 LECrim). Si la pena no excediese<br />

de seis años, el juez o tribunal dictará sentencia de estricta conformidad<br />

con la aceptada por las partes51 .<br />

Varios han si<strong>do</strong> los temas que han origina<strong>do</strong> mayores dificultades<br />

interpretativas en la práctica, casi to<strong>do</strong>s en relación con el ámbito de<br />

las facultades judiciales ante el acuer<strong>do</strong> de conformidad. Sin negar<br />

que así se limitan extraordinariamente éstas, tampoco puede afirmarse<br />

que desaparezcan: El hecho queda formalmente fija<strong>do</strong> en la sentencia<br />

como ocurri<strong>do</strong>, sin necesidad de prueba52 ; asimismo el Tribunal queda<br />

vincula<strong>do</strong> al título de condena53 , salvo que el órgano enjuicia<strong>do</strong>r<br />

entienda que los hechos son atípicos o resulte manifiesta la<br />

concurrencia de alguna circunstancia determinante de la exección de<br />

la pena o de su preceptiva atenuación, en cuyo supuesto, y previa<br />

audiencia a las partes dictará sentencia “en los términos que proceda”<br />

(793,3.2) 54 e incluso –aunque discuti<strong>do</strong>- cuan<strong>do</strong> se entienda que la<br />

tipificación es desacertada correspondien<strong>do</strong> una calificación más<br />

grave55 . Finalmente, en cuanto a la pena, pese al tenor literal del párrafo<br />

final del art. 793.3.1, en lo relativo a penas inferiores a seis años, una<br />

amplia corriente interpretativa de la Sala Segunda del Tribunal Supremo<br />

ha pasa<strong>do</strong> de ceñirse a tales términos a ir diluyén<strong>do</strong>la en el senti<strong>do</strong><br />

de permitir rebajar la condena e incluso absolver56 .<br />

51 Sobre este instituto de aplicación creciente la literatura es abundante. A título indicativo puede<br />

citarse: BARONA VILAR, S., “ La Conformidad en el Derecho español”, Tirant lo Blanc, Valencia,<br />

1993 ; DE DIEG0 DIEZ, L.A. “La Conformidad del acusa<strong>do</strong>”, Tiránt lo Blanc, Valencia, 1977 y del<br />

mismo autor, “Alcance de los términos “sentencia de estricta conformidad”, Colex, 1998.; AGUILERA<br />

MORALES, E., “El “principio de consenso: La conformidad en el proceso penal español”, Cedex,<br />

1999; y entre otros, MIRA ROS, C., “Régimen actual de la conformidad”, Bosch, 1999.<br />

52 SSTS, de 18-10-1991; 28-2-1996; 19-7-1996 y 4-2-1997.<br />

53 SSTS 4-12-1979 y 1-3-1988.<br />

54 SSTS 11-10-1993 y 19-7-1996.<br />

55 DE DIEGO DIEZ, “ Significa<strong>do</strong>....”, ob.cit.<br />

56 (SSTS de 4.12.1990 y 11.3.1993, entre otras). Los argumentos justificativos se apoyan en la<br />

“indeclinable función de los jueces, ex artículo 117 CE” y el que la acentuación (por exageración)<br />

en la interpretación del conteni<strong>do</strong> del principio acusatorio conduce a convertir al fiscal en el<br />

“<strong>do</strong>minus litis” hacien<strong>do</strong> innecesaria incluso la figura del juez (STS 17-10-1992).


170<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

A falta de una deseable regulación legal en torno la mayoría de<br />

cuestiones que implican los acuer<strong>do</strong>s de conformidad, una creciente<br />

jurisprudencia ha i<strong>do</strong> configuran<strong>do</strong> una <strong>do</strong>ctrina relativamente completa,<br />

en torno a la función del juez en los acuer<strong>do</strong>s de conformidad, más allá<br />

de los cita<strong>do</strong>s, en lo relativo a preservar las garantías con que se ha<br />

llega<strong>do</strong> al mismo. En síntesis destacan las siguientes:<br />

El juez debe revisar el acatamiento :<br />

a) de los presupuestos; que la pena solicitada no exceda de los 6<br />

años y 3 meses, por ejemplo; y b) de los requisitos y entre ellos:<br />

- que la conformidad sea “absoluta”, esto es, no sometida a plazo<br />

o condición;<br />

- que esté prestada libremente;<br />

- que sea personalísima;<br />

- que sea “formal”, es decir, sometida a los requisitos legales<br />

estableci<strong>do</strong>s;<br />

- que sea “vinculante” tanto para las partes acusa<strong>do</strong>ras como<br />

para las acusadas, quienes una vez formulada deberán estar y pasar<br />

por to<strong>do</strong>s sus extremos, e incluso para la Audiencia, quien no podrá<br />

poner pena superior a la conformada, aunque sí una inferior o absolver;<br />

y, finamente,<br />

- que sea “de <strong>do</strong>ble garantía”, exigien<strong>do</strong> inexcusablemente<br />

anuencia de la defensa y ratificación del o de los acusa<strong>do</strong>s (caso b)<br />

(art,655) o anuencia del acusa<strong>do</strong> o acusa<strong>do</strong>s más consecutiva<br />

manifestación del defensor o defensores sobre la no necesidad de<br />

continuar el juicio (hipótesis a), art. 688ss57 .<br />

Si el juez considera que el acusa<strong>do</strong>r no ha formula<strong>do</strong> la calificación<br />

procedente por error o ignorancia y estima que los hechos constituyen<br />

título de acusación que conlleve pena de mayor gravedad, deberá<br />

57 SSTS 1.3.1988 (RJ 1511); 7-11-1990 (8777); 17-6-1991 (4739); 17-7-1992 (6681); y 28.2.1996<br />

(1331).


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 171<br />

continuar el proceso (art. 655,II LECrim), concedien<strong>do</strong> un plazo al<br />

defensor para que califique los hechos.<br />

Si apreciara la ausencia de algún requisito básico, la conformidad<br />

así alcanzada sería nula de pleno derecho, debien<strong>do</strong> declararse en tal<br />

senti<strong>do</strong> ex art. 238 LOPJ .<br />

Si son varios los acusa<strong>do</strong>s, y alguno no se conforma, debe<br />

proseguirse el juicio, incluso para el que se conformó en virtud de la<br />

inescindibilidad del proceso penal, salvo que pudiera dividirse el objeto<br />

sien<strong>do</strong> varios los acusa<strong>do</strong>s por varios delitos (art. 655,IV LECrim)<br />

En cuanto a la responsabilidad civil, opera de manera<br />

independiente, de forma que cabe conformarse en lo penal, pero no<br />

con aquélla, de manera que en tal supuesto el juicio continuará para<br />

discutir sólo este objeto, partien<strong>do</strong> de la admisión de la responsabilidad<br />

penal (art.655,V LECrim.).<br />

La resolución sobre la conformidad, al igual que en el otro<br />

supuesto, no es susceptible de recurso de casación.<br />

A primera vista, sólo existe otro supuesto de aplicación del repeti<strong>do</strong><br />

principio de oportunidad. Se trata del art. 171,3 del Código penal de<br />

1995 conforme al cual, y a semejanza del parágrafo 154c StPO, ante<br />

la denuncia de ser objeto de un chantaje, si el delito cometi<strong>do</strong> y objeto<br />

de la amenaza está castiga<strong>do</strong> con pena inferior a <strong>do</strong>s años, podrá dejar<br />

de perseguirse. Si la pena es superior deberá perseguirse y el único<br />

efecto será la rebaja discrecional de la pena.<br />

Junto a lo que se acaba de exponer van surgien<strong>do</strong> en la realidad<br />

intentos más o menos claros de ampliar el espectro de aplicación de<br />

facultades discrecionales. Así, cabe citar la presencia –y consiguiente<br />

ejercicio o no de la acción- del fiscal en los juicios de faltas contempla<strong>do</strong>s<br />

en el art. 969,2 LECrim. Claro que se podrá decir que su ausencia no<br />

provoca el no ejercicio de la acción penal –que es la fundamental<br />

consecuencia que se extrae del principio de oportunidad- en cuanto la<br />

denuncia ratificada equivale a su ejercicio; pero lo cierto es que con arreglo


172<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

al principio de legalidad, el fiscal debe estar y actuar en to<strong>do</strong>s aquellos<br />

supuestos y procesos en que el código penal tipifique un delito o falta 58 .<br />

2) La atribución de la dirección de la fase instructora al MF:<br />

el principio de oficialidad.<br />

En clara conexión con la forma de aplicación del principio de<br />

oportunidad en alguna de sus varias modalidades, y más concretamente<br />

con aquélla que sitúa el ejercicio de las facultades discrecionales a la<br />

hora de iniciar o no el proceso, opera, como ya se adelantó, la atribución<br />

de la dirección de la fase instructora o de investigación y su relación con<br />

<strong>do</strong>s cuestiones más: la necesidad de separar la investigación de la<br />

a<strong>do</strong>pción de medidas cautelares y la necesidad de diferenciar entre quien<br />

investiga y quien acusa. El motivo es claro: en la medida que el órgano<br />

instructor sea el fiscal –máxime si además ejercita la acción penal en<br />

régimen de monopolio- resulta más eficaz la efectiva implantación del<br />

principio de oportunidad; si la incorporación del principio de oportunidad<br />

no se incardina al inicio del proceso, la conexión desaparece y el debate<br />

se centra en torno a los restantes aspectos discuti<strong>do</strong>s.<br />

A la hora de afrontar esta cuestión se suele apelar frecuentemente<br />

a los modelos instaura<strong>do</strong>s en los países de nuestro entorno. En esta<br />

línea, conviene resaltar un hecho objetivo, que sin eliminar el valor del<br />

argumento se lo resta en buena medida y ayuda a situarlo en sus justos<br />

términos: la realidad de los diferentes países es plural y debe examinarse<br />

en el contexto del conjunto del sistema procesal penal de que se trate:<br />

no es lo mismo atribuir la dirección de la instrucción al fiscal en Italia,<br />

<strong>do</strong>nde este órgano es independiente, rige la obligatoriedad de la acción<br />

penal, y se precisa la intervención del “Giudice per le indagini preliminari”<br />

para a<strong>do</strong>ptar medidas que afecten derechos fundamentales, controlar<br />

los “tiempos” de las investigaciones preliminares y el mismo ejercicio<br />

de la acción penal, y decidir sobre los resulta<strong>do</strong>s de las investigaciones<br />

58 No lo es, sin embargo, la Instrucción de la Fiscalía General del Esta<strong>do</strong> de mayo de 1999 sobre la<br />

conducción bajo los efectos de bebidas alcohólicas, ya que en definitiva, la cuestión versa sobre la<br />

integración del tipo penal.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 173<br />

preliminares del fiscal o la imputación 59 ; que en Alemania, <strong>do</strong>nde la fiscalía<br />

depende del Ministro de Justicia del “Land” correspondiente y ejercita<br />

facultades discrecionales sobre la acción penal en delitos castiga<strong>do</strong>s<br />

con penas de hasta un año (pgfs. 153 y 153a StPO) 60 . O en Portugal,<br />

<strong>do</strong>nde el hecho de haber traslada<strong>do</strong> la investigación al fiscal se equilibra<br />

con tres elementos: el control del juez de instrucción tras la investigación<br />

del fiscal, pudien<strong>do</strong> completar aquella si así lo estima necesario y otro<br />

acusa<strong>do</strong>r lo solicita; la necesaria intervención jurisdiccional para la<br />

a<strong>do</strong>pción de toda medida que afecte derechos fundamentales, y la<br />

sumisión del fiscal al principio de legalidad 61 . Los ejemplos pueden<br />

multiplicarse: Holanda, <strong>do</strong>nde las llamadas actuaciones de averiguación<br />

preliminares se encomiendan directamente a la policía que a su vez envía<br />

las actuaciones al fiscal, órgano encarga<strong>do</strong> finalmente del control de la<br />

investigación(art. 141 y 148,2 LECrim. holandesa y art. 13.1 ley de policia),<br />

la acción se ejercita en régimen de monopolio y rige muy ampliamente el<br />

principio de oportunidad, frente a cuyo uso sólo puede reclamar la víctima<br />

ante un tribunal equivalente a nuestra Audiencia Provincial 62 ; o Noruega,<br />

<strong>do</strong>nde instruye la policia a instancias de los propios ciudadanos; o Suiza,<br />

<strong>do</strong>de conviven hasta tres de estos sistemas 63 . Finalmente, por reseñar<br />

el país más próximo (Francia) la instrucción sigue en manos del juez<br />

(art. 81 CPP), no sólo por motivos tradicionales, sino también por las<br />

59 ARMANDO SPATARO, “Italia” en la obra colectiva “Sistemas de proceso penal en Europa”,<br />

dirigida por R. Maciá, Colex, 1999, p.231ss; GIUSEPPE DI FEDERICO, “La independència del<br />

Ministeri Fiscal i el principi democràtic de la responsabilitat a Itàlia: Anàlisi d’un cas anòrmal des<br />

d’una perspectiva comparada”, en “Informe Pi y Sunyer sobre la justicia a Catalunya”, Barcelona,<br />

1999, p.653.<br />

60 Vid. ARMENTA DEU, “Criminalidad de bagatela…..”, ob .cit. pp. 74-138.<br />

61 ANTÓNIO ALMEIDA SANTOS, “O <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> num Esta<strong>do</strong> de Direito Democrático”,<br />

Conferencia inaugural conmemorativa del 20º Aniversario del Estatuto del Ministerio <strong>Público</strong>,<br />

Parque de las Naciones, 1998; ANTÓNIO LEONES DANTAS “Sistemas de Proceso Penal en<br />

Europa” (obra dirigida por R.Maciá) , Cedex, 1999, p.319; ORLANDO VIEGAS MARTINS AFONSO;<br />

JOAO ALBINO R. ATÍDE das NEVES y JOSÉ MOURANZ LOPES, “El sistema judicial portuguès:<br />

realitas y crítiques”, en “Informe Pi y Sunyer sobre la justicia a Catalunya”,1998, p.635ss<br />

62 NOORDHOEK, Eric Willen, “Holanda”, en “Sistemas de proceso penal en Europa”, ob.cit. p.<br />

193ss.<br />

63 CARLA DEL PONTE, “Suiza” en la obra colectiva citada “Sistemas procesales en Europa”,<br />

p.357ss. Asismismo otros datos pueden recabarse en “Crisis del sistema político, criminalización de<br />

la vida pública e independencia judicial”, Cuadernos del Consejo General del Poder Judicial,<br />

Madrid, 1998, p.109ss , específicamente: Franco IPPOLITO, “El caso italiano”; Philippe TEXIER,<br />

“El caso francés” y Raoul MUHM, “El caso alemán.


174<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

concretas experiencias históricas relacionadas con la falta de<br />

independencia del fiscal frente al ejecutivo y sus competencias respecto<br />

a la llamada “opportunité des poursuites” ex art. 40 CPP (recuérdese que<br />

en Francia no hay Fiscal General del Esta<strong>do</strong> y la autoridad última<br />

corresponde al Ministro de Justicia) y al práctico monopolio del fiscal en<br />

el ejercicio de la acción penal64 .<br />

Recapitulan<strong>do</strong> sobre lo expuesto e insistien<strong>do</strong> en la inexistencia<br />

de un ideal sistema con validez universal, ha de respetarse, sin embargo,<br />

una premisa irrenunciable: to<strong>do</strong> acto investiga<strong>do</strong>r que –con<br />

independencia de quien lo realice- bien por su naturaleza o por limitar<br />

un derecho fundamental, implique ejercicio de funciones jurisdiccionales,<br />

deberá a<strong>do</strong>ptarse necesariamente por un órgano jurisdiccional. A partir<br />

de ahí, habrá que ponderar los diversos elementos que confluyen:<br />

naturaleza y conteni<strong>do</strong> de la fase investiga<strong>do</strong>ra65 ; atribución en régimen<br />

de monopolio o no del ejercicio de la acción penal; amplitud de la<br />

aplicación del principio de oportunidad y otros <strong>do</strong>s que recupero entre<br />

64 La reforma procesal de enero de 1993, inspirada en el “informe Delmas Marty” que postulaba<br />

encomendar a la Fiscalía las funciones de investigación y a otro juez las decisiones sobre derechos<br />

fundamentales, fue modificada por otra de 24 de agosto de 1993, devolvien<strong>do</strong> al juez de instrucción<br />

las facultades para decidir sobre la prisión preventiva. Vid. “El caso francés” en la obra colectiva<br />

“Crisis del sistema político, criminalización de la vida pública e independencia judicial”, en<br />

“Cuadernos de Derecho judicial”, Madrid, 1998, p. 137ss.<br />

65 En la reforma que introdujo el procedimiento abrevia<strong>do</strong> la asignación al Ministerio Fiscal de la<br />

condición de “director de la investigación preliminar” ha supuesto conferirle las siguientes facultades:<br />

recepción de denuncias o atesta<strong>do</strong>s policiales; impartir instrucciones generales o particulares a la<br />

Policía Judicial: aportación de fuentes de prueba; solicitud al Juez de la práctica de diligencias de<br />

investigación; acordar citaciones de comparecencia; petición de archivo o sobreseimiento de las<br />

diligencias previas o, en su caso, de apertura de juicio oral. Bien poco que no pueda realizarse en<br />

un sumario ordinario. En el procedimiento ante el Tribunal del Jura<strong>do</strong>, la estructura que se<br />

contempla en los arts. 24 a 29, en aras a garantizar una mayor imparcialidad del juez, encomienda<br />

la solicitud de diligencias a las partes, previa audiencia contradictoria y bajo el control, esta vez<br />

sí judicial, de su procedencia. El problema aquí se centra en la viabilidad real de la instrucción en<br />

este tipo de proceso, tal como permiten adivinar las Circulares 3/1995 y 4/1995 de la Fiscalía<br />

General del Esta<strong>do</strong>; lo que de hecho provoca que, en la práctica, sean escasas las ocasiones en<br />

que se incoe directamente este proceso, sucedien<strong>do</strong> con frecuencia, que instrui<strong>do</strong> mediante<br />

diligencias previas, se transforme posteriormente en el repeti<strong>do</strong> procedimiento ante el Tribunal<br />

del Jura<strong>do</strong>. Finalmente, la LOTJ no introduce en realidad nguna novedad en cuanto a la ampliación<br />

de facultades investiga<strong>do</strong>ras preprocesales al fiscal, para ello hubiera hecho falta que, por una<br />

parte, la citada ley hubiera amplia<strong>do</strong> las facultades de investigación autónoma de la Policía<br />

Judicial y/o del MF, y por otra, que se hubiera exclui<strong>do</strong> expresamente la intervención del juez en<br />

la investigación hasta que apareciera algún responsable del delito.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 175<br />

los inicialmente señala<strong>do</strong>s y que suponen en realidad <strong>do</strong>s caras de una<br />

misma moneda: a) si debe extenderse la exigencia de imparcialidad al<br />

órgano investiga<strong>do</strong>r, fundamentalmente en lo relativo a la a<strong>do</strong>pción de<br />

medidas limitativas de derechos fundamentales o de cualquier otra<br />

ín<strong>do</strong>le que precise una actividad enjuicia<strong>do</strong>ra, y b) si investigación y<br />

juicio de acusación han de estar separa<strong>do</strong>s, o dicho de otra manera, si<br />

la regla base del acusatorio (“quien instruye no puede juzgar”) ha de<br />

extenderse a quien investiga, impidién<strong>do</strong>le acusar. Las primeras de estas<br />

interrogantes afectan tanto a los sistemas en que instruye un juez como<br />

a aquellos en que lo hace un fiscal; la postrera sólo los segun<strong>do</strong>s66 .<br />

a) Principio de oficialidad. En España, el interés público a que<br />

obedece la propia tipificación de las conductas y la vigencia del principio<br />

de legalidad, conducen a la oficialidad: con la “noticia criminis” el juez<br />

(303 y 308 LECrim.) debe incoar sumario para averiguar si concurren<br />

o no circunstancias delictivas67 . Esta obligación, que se extiende al MF<br />

como inspector directo en el proceso ordinario (art. 306 LECrim.) o con<br />

carácter mas extenso en el procedimiento abrevia<strong>do</strong> (art. 785bis<br />

LECrim.), ofrece su polo opuesto en el “derecho de acceso“ del<br />

ciudadano que presenta una querella, como derecho a una resolución<br />

motivada sobre la calificación jurídica de los hechos68 .<br />

66 Este fue de hecho uno de los temas claves del llama<strong>do</strong> “Informe de la Comisión Truche”. En el<br />

mismo se resalta que mientras toda la tradición jurídicopolítica heredada de la Revolución<br />

Francesa ha considera<strong>do</strong> que el equilibrio básico es la ya repetida separación entre instrucción y<br />

juicio, hoy en día debe recaer también en la separación entre investigación y acusación, por una<br />

parte, y la protección de los derechos del imputa<strong>do</strong>, por otra. Vid. “Rapport de la Commission de<br />

réflexion sur la justice (La <strong>do</strong>cumentation française)”, París, 1997. En Portugal, por ejemplo, a raiz<br />

de la reforma de 1987, la investigación se encomienda al fiscal, la instrucción (control de la<br />

actividad investiga<strong>do</strong>ra realizada) al juez de instrucción, y el juicio al juez “de julgamento”. Este<br />

modelo, por cierto, es cita<strong>do</strong> como referente inmejorable en la Memoria de la Fiscalía General del<br />

Esta<strong>do</strong> de 1996, al tratar sobre las facultades de investigación del Ministerio Fiscal, p. 651.<br />

67 Esta circunstancia tildada con frecuencia de “residuo inquisitivo” ha si<strong>do</strong> prácticamente erradicada<br />

en la realidad diaria. Dogmáticamente se considera, empero, manifestación de la oficialidad en<br />

la fase instructora del proceso (art. 308; L.O.7/88, de 28 del 12; art. 780 if; y 789 LECrim.).<br />

68Archivo directo, por no ser constitutivos de delito; sobreseimiento provisional, previas las<br />

correspondientes diligencias; o, desarrollo de la actividad instructora hasta la constatación de la<br />

perpetración del delito y la culpabilidad de los delincuentes (arts. 299 y 785 LECrim. ) supuesto en<br />

que debe abrirse el juicio oral (STC 148/87). El derecho de acceso constituye , de esta foma, un<br />

“ius ut procedatur” . Quien ejercita la acción en forma de querella no ostenta un derecho<br />

incondiciona<strong>do</strong> a la apertura y plena sustanciación del proceso penal.


176<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

Al igual que respecto de otros principios, la vigencia del principio<br />

de oficialidad en el proceso penal español, no es la misma en las <strong>do</strong>s<br />

fases en que se divide. En la primera, la destinada a la investigación de<br />

los hechos para determinar si constituyen o no un supuesto delictivo e<br />

identificar al delincuente, la oficialidad es preponderante 69 . Por contra,<br />

en la fase de enjuiciamiento (también llamada de Juicio oral) la vigencia<br />

de la oficialidad desaparece prácticamente, a la vez que por aplicación<br />

del principio de aportación de parte, los hechos son los estableci<strong>do</strong>s<br />

por éstas en sus escritos acusatorios, siempre y cuan<strong>do</strong> hayan si<strong>do</strong><br />

determina<strong>do</strong>s en el sumario o instrucción, esto es, no surjan por vez<br />

primera en tal ocasión, evitán<strong>do</strong>se así acusaciones sorpresivas (art.<br />

650,1 y 790,5 LECrim) 70 . Conviene resaltar, en este perio<strong>do</strong>, la<br />

reinterpretación jurisprudencial que ha sufri<strong>do</strong> el principio de oficialidad<br />

en relación con la prueba, como muestra entre otras de la influencia de<br />

una interpretación expansiva del principio acusatorio. Hasta fechas<br />

relativamente próximas, una importante línea <strong>do</strong>ctrinal entendía que<br />

aunque las alegaciones sobre los hechos y la proposición y aportación<br />

de prueba correspondía en principio a las partes, la especial naturaleza<br />

del proceso penal y su propia finalidad –orientada hacia la búsqueda de<br />

la verdad material- justificaba el reconocimiento de facultades<br />

extraordinarias al órgano judicial para practicar prueba no solicitada por<br />

las partes en casos excepcionales, aunque siempre sobre hechos<br />

introduci<strong>do</strong>s por ellas (art. 729.2 LECrim.) 71 . Actualmente, la citada nueva<br />

69 El tan repeti<strong>do</strong> interés público obliga a Cuerpos y Fuerzas de Seguridad del Esta<strong>do</strong> a investigar<br />

los extremos señala<strong>do</strong>s, de manera que en cuanto de esa actividad surja la probable existencia de<br />

un hecho aparentemente delictivo, policía (art. 284 LECrim.) y fiscalía (art. 789bis,1LECrim) tienen<br />

el deber de ponerlo en conocimiento del juez. Este dirige dicha actividad instructora “ex officio”<br />

con la colaboración del fiscal, quien desarrolla labores de inspección (arts. 303,1 y 306 LECrim.),<br />

y supervisa las actuaciones que instan las partes personadas (art. 311 LECrim). Además, el MF<br />

puede ordenar la práctica de cualquier acto de investigación, excepto la detención, siempre que<br />

no sea limitativo de derecho fundamental o no haya asumi<strong>do</strong> la instrucción el juez (art. 5.2 EOMF,<br />

Ley 50/1981, de 30 de diciembre y art. 785bis LECrim.).<br />

70 Paralelamente, la actividad probatoria será la que susciten las partes en los mismos escritos de<br />

calificación y defensa <strong>do</strong>nde deberán proponerse (arts. 656 y 728 LECrim.).<br />

71 Se excepciona la prohibición de practicar cualquier prueba no propuesta por las partes en el caso<br />

en que el tribunal considere necesaria la comprobación de alguno de los hechos introduci<strong>do</strong>s por<br />

ellas en los escritos de calificación.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 177<br />

interpretación del principio de oficialidad en relación con el acusatorio<br />

ha lleva<strong>do</strong> a la Sala Segunda del Tribunal Supremo a desechar tal<br />

posibilidad por no corresponder a una lectura constitucional del 729.2<br />

LECrim, <strong>do</strong>nde se regulan dichas facultades judiciales72 .<br />

En relación al principio de oficialidad, debe significarse, que aun<br />

cuan<strong>do</strong> la dirección de la fase instructora se encomiende a un órgano<br />

jurisdiccional no se cuestiona la vigencia del sistema acusatorio, siempre<br />

que, claro está, no sea el mismo juez quien después juzgue. Aún así,<br />

no cabe negar la enorme influencia del sistema norteamericano y las<br />

reformas procesales reseñadas, hasta crear un verdero esta<strong>do</strong> de<br />

opinión a favor de la modificación del modelo español que traslade al<br />

fiscal la dirección de dicha fase de instrucción. Se aduce que así se<br />

salvaguardaría en mayor medida el repeti<strong>do</strong> sistema acusatorio73 y se<br />

propiciaría una mayor celeridad74 . Asimismo, se insiste en la<br />

imparcialidad del órgano que se pronunciará sobre el fundamento de la<br />

acusación y aquél que por imperativo constitucional debe intervenir en<br />

to<strong>do</strong> caso a la hora de a<strong>do</strong>ptar medidas cautelares limitativas de derechos<br />

72 Sólo perviven <strong>do</strong>s especialidades en torno a la práctica de la prueba: el que el tribunal examine<br />

por sí mismo, sin necesidad de que nadie se lo pida, los libros, <strong>do</strong>cumentos y demás papeles de<br />

convicción (art. 726 LECrim.); la facultad del tribunal para alterar el orden de práctica de las<br />

pruebas propuesto por las partes cuan<strong>do</strong> así lo considere conveniente para el descubrimiento de la<br />

verdad (art. 701,VI LECrim.), así como intervenir en el interrogatorio de los testigos (art. 708.2) o en<br />

el del propio acusa<strong>do</strong> (art. 700.2 LECrim.) Curiosamente, aun representan<strong>do</strong> una excepción de<br />

muy menor relevancia, las que se acabande señalar no presentan dudas en torno a la imparcialidad<br />

del juzga<strong>do</strong>r, siempre que se utilizen moderadamente (STS, 730/94, de 6 de abríl).<br />

73 Aunque a fuerza de repetirse parece un argumento irrebatible, sigo entendien<strong>do</strong> que el sistema<br />

acusatorio bien entendi<strong>do</strong> queda igualmente salvaguarda<strong>do</strong> por el hecho de la división de nuestro<br />

proceso penal en <strong>do</strong>s fases (investiga<strong>do</strong>ra y enjuicia<strong>do</strong>ra), y en la atribución diferenciada de las<br />

mismas a <strong>do</strong>s órganos judiciales.<br />

74 Como el anterior suele ser un argumento reitera<strong>do</strong>, aunque no por ello, a mi juicio, más funda<strong>do</strong><br />

y evidente. No existien<strong>do</strong> una mayor <strong>do</strong>tación –ni humana ni de medios- de la fiscalía frente a la<br />

órganos jurisdiccionales, no alcanzo a imaginar los efectos acelera<strong>do</strong>res que se auguran. El Real<br />

Decreto 23.21996 (Ar.972) amplia la plantilla de la Fiscalía intentan<strong>do</strong> acomodarla a los cometi<strong>do</strong>s<br />

origina<strong>do</strong>s por la implantación del Jura<strong>do</strong>. Ello no obstante, la ratio fiscalía/jueces sigue sin ser<br />

equiparable. Por otra parte, resulta especialmente ilustrativo un examen de las Circulares de<br />

Fiscalía General del Esta<strong>do</strong> y de las que allí se recogen y en las que reiteradamente se aborda la<br />

cuestión de la presencia y actuación del fiscal en la fase de instrucción. En la de 1995 (p.726) se<br />

desecha la posibilidad de atribuir la responsabilidad de la realización o dirección de la investigación<br />

penal, por <strong>do</strong>s motivos: por ser una mera posibilidad y porque “las circunstancias de plantilla,<br />

medios y despliegue territorial (..) hacen totalmente imposible su viabilidad”.


178<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

fundamentales (la prisión provisional, singularmente) 75 . Quienes se<br />

oponen, o por mejor expresarlo no alcanzan a convencerse de las<br />

superiores ventajas de tal sistema, entre los que me cuento, lo hacen<br />

con argumentos como la naturaleza jurisdiccional de gran parte de las<br />

actividades desarrolladas en la instrucción; la mayor i<strong>do</strong>neidad del órgano<br />

que dirige la investigación para decidir sobre las medidas cautelares que<br />

en ella se susciten 76 , y finalmente, que la sospecha de prejuicios que hoy<br />

recae en el juez por ser quien investiga y debe decidir sobre la existencia<br />

de acción penal (hechos presuntamente delictivos e imputa<strong>do</strong>) se<br />

trasladaría al fiscal, quien concentraría en su persona la investigación<br />

sobre la concurrencia de tales hechos y sujetos y la decisión sobre el<br />

ejercicio de la acción. La prevención que subyace en definitiva en el informe<br />

de la Comisión Truche a la que me he referi<strong>do</strong> antes 77 .<br />

3) La potenciación de las facultades del órgano oficial de la<br />

acusación: breve referencia a la acción popular.<br />

75 Este es el argumento utiliza<strong>do</strong> para la última reforma de la prisión provisional, prescribien<strong>do</strong> la<br />

necesidad de que la solicitud para a<strong>do</strong>ptar dicha medida cautelar debe provenir necesariamente<br />

de alguna de las partes acusa<strong>do</strong>ras, debién<strong>do</strong>se celebrar una comparecencia con carácter previo<br />

a tal efecto. Si después de la misma ninguna de las partes solicita la prisión provisional, el juez<br />

deberá ordenar cesar en la detención y poner en libertad inmediata al imputa<strong>do</strong> (art. 504 bis 2<br />

LECrim.). A mi juicio, si se trata de garantizar la imparcialidad en la a<strong>do</strong>pción de la medida y<br />

conjurar el riesgo de la desnaturalización e instrumentalización de la misma, lo más eficaz resultaría<br />

articular un sistema de recursos de tramitación urgente y prioritaria, incorporan<strong>do</strong> incluso la<br />

contradicción y la necesidad de ratificación del auto de prisión o libertades provisionales<br />

76 Garantizar la imparcialidad es sin duda un tema capital, pero no resta peso al argumento de la<br />

mayor garantia en el enjuiciamiento por parte de aquél órgano que tenien<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s los datos se<br />

forma un juicio adecua<strong>do</strong> a la hora de tomar una decisión tan relevante.<br />

77 Ya hace bastante tiempo (1962), VIADA LOPEZ PUIGCERVER, en su “Curso de Derecho Procesal<br />

penal” t.II, ponía de manifiesto el riesgo de que al atribuír la instrucción al fiscal, éste acumula en<br />

sí los poderes del juez instructor y los suyos como acusa<strong>do</strong>r, quedan<strong>do</strong> el equilibrio roto, y aunque,<br />

como se ha propuesto, se atribuyera a otro fiscal las funciones acusatorias, el problema no haría<br />

más que trasladarse, y surgirían cuestiones sobre su independencia. En palabras del propio autor :<br />

el sistema de instrucción por el fiscal, que parece ser más orto<strong>do</strong>xo con el sistema acusatorio,<br />

oculta, en definitiva, si se refuerzan sus poderes, un sistema inquisitorial.<br />

En atención a todas estas críticas, surgen hoy en día algunas propuestas orientadas a encomendar<br />

la instrucción a la policía, al mo<strong>do</strong> esta<strong>do</strong>unidense u holandés, bajo supervisión del fiscal y<br />

actuan<strong>do</strong> el juez en el estricto ámbito de las medidas limitativas de derechos fundamentales y<br />

actos jurisdiccionales. Esta posición, sin duda más radical aunque no por ello menos coherente, no<br />

está exenta de riesgos, en atención fundamentalmente a la naturaleza de las actividades instructoras,<br />

pese al límite constitucional de la intervención judicial en aquellas medidas que así lo requieran.<br />

Vid. DE LLERA SUAREZ-BÁRCENA, E. “El modelo de investigación penal de la CE de 1978: los<br />

papeles asigna<strong>do</strong>s al juez, al fiscal y a la policía judicial”, Rev. del MF, n.5.1998, p.97ss.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 179<br />

Para terminar, no es baladí valorar la innegable potenciación de las<br />

facultades otorgadas a la parte acusa<strong>do</strong>ra “oficial” 78 . En aquellos países<br />

en que ésta no tiene el monopolio del ejercicio de la acción penal, este<br />

hecho pone en cuestión el acierto de diversificar el ejercicio de la repetida<br />

acción, reconocien<strong>do</strong> facultades al efecto a la víctima o incluso, como en<br />

España, a cualquier ciudadano, perjudica<strong>do</strong> o no por el delito79 . Último<br />

ejemplo en España de lo que podríamos llamar “tendencia oficializante”<br />

es la reciente ampliación al Ministerio Fiscal de la legitimación para el<br />

ejercicio de la acción penal de las faltas de malos tratos80 . La tendencia a<br />

dicho monopolio que puede encontrar justificación en virtud de razones<br />

de una mayor eficacia en la consecución de una determinada política<br />

criminal, debe equilibrarse en to<strong>do</strong> caso, ya sea con mecanismos de<br />

control a través de la sujeción al principio de legalidad y la posibilidad de<br />

recurrir la decisión ante un órgano jurisdiccional81 , ya con el sometimiento<br />

a controles electorales, so pena de que converjan en un único sujeto<br />

excesivos ámbitos de poder.<br />

En el primer senti<strong>do</strong>, en su variante de sometimiento de la decisión<br />

sobre el ejercicio de la accción penal a control, debe subrayarse que<br />

éste existe desde el momento en que se abren diligencias judiciales82 ,<br />

pero no antes83 . En el segun<strong>do</strong> senti<strong>do</strong>, el tema se traslada a la<br />

78 Muestra de dicha tendencia son las reformas legales, comenzan<strong>do</strong> por la de 28 de diciembre de<br />

1988, en las que o bien se amplia la intervención del fiscal o bien se otorga mayor eficacia vinculatoria<br />

a sus actos. En contra de tal tendencia, la reforna del art. 969.2 LECrim. en el juicio de faltas.<br />

79 Y cara a tal valoración deberían sopesarse los diferentes argumentos a favor y en contra,<br />

reseña<strong>do</strong>s al tratar de la acción popular, o la preterición de la víctima en los múltiples trabajos<br />

publica<strong>do</strong>s sobre el tema.<br />

80 Artículo tercero del Capítulo II de la LO 14/, de 9 de junio, de modificación del Código Penal de<br />

1995 en materia de protección a las víctimas de malos tratos y de la Ley de Enjuiciamiento Criminal<br />

(BOE 138/99, de 10 de junio) que reforma el art. 104 LECrim. para permitir la persecución de oficio.<br />

81 Al mo<strong>do</strong>, por ejemplo de la “Klageerzwingunsverfharen” alemana<br />

82 El argumento es <strong>do</strong>ble: por una parte, el que el fiscal no monopoliza el ejercicio de la acción<br />

penal, y por ende que ya pu<strong>do</strong> instar el ejercicio por su cuenta; por otra, por corresponder al<br />

ejercicio de sus funciones, con el único límite del sometimiento al principio de legalidad “ex art.<br />

124 CE” (Auto TS, de 2o de diciembre de 1990 y Auto del TC de 4 de abríl de 1984, en el que se<br />

deniega la tutela de amparo por ser algo ajeno a su ámbito de aplicación)<br />

83 El Fiscal General del Esta<strong>do</strong> en su Consulta 2/1995, de 19 de abril señala expresamente: “(..) la<br />

presentación de una denuncia ante la Fiscalía no genera en el denunciante el derecho a que la<br />

comprobación de los hechos se lleve a cabo (..) el Fiscal puede optar por abrir esas diligencias (..) o<br />

instar inmediatamente el inicio del procedimiento judicial, y esa decisión del fiscal no es en mo<strong>do</strong><br />

alguno revisable por los Jueces y Tribunales”. Advertir que esta Consulta recoge la tesis expuesta por<br />

el fiscal jefe de Zamora, que a raíz de esta falta de posible impugnación de la decisión del fiscal<br />

antedicha, deduce la absoluta separación entre las diligencias informativas y los procedimientos<br />

judiciales.


180<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

legitimación democrática, como fundamento con el que se pretende<br />

legitimar a partir de la Constitución to<strong>do</strong> el aparato del Gobierno, y<br />

tambien al Ministerio Fiscal. Esta legitimación que a cada orden alcanza<br />

se da en la medida en que ocupe, sin extralimitarse, el lugar que en ese<br />

orden le corresponde con las cualidades y títulos que le asisten. Y aquí<br />

puede decirse que el de la legitimación democrática, entendida como<br />

representatividad, no es uno de ellos en el caso del Ministerio Fiscal, ni<br />

tan siquiera del Gobierno, del que procederían las instrucciones para su<br />

actuación. El calificativo de democrático lo predica el texto constitucional<br />

del modelo de Esta<strong>do</strong> (art. 1.1 CE). A partir de ahí puede decirse que el<br />

Gobierno, como parte del mismo participa de esa nota, pero no que el<br />

Gobierno es democrático84 . Es más, en el caso del Gobierno, éste no<br />

está abierto a un proceso electoral, en tanto el art. 66.1 CE deja claro<br />

que la representación del pueblo español la ostentan las Cortes. Así las<br />

cosas, la legalidad a la que, en to<strong>do</strong> caso, debe someterse el fiscal (art.<br />

124 CE) está presidida por la Constitución y las leyes que emanen de<br />

las Cortes como expresión de la voluntad popular, sin que pueda en<br />

mo<strong>do</strong> alguno hablarse de una <strong>do</strong>ble fuente de legitimación de normas<br />

con efectos externos -que serían sin duda alguna las instrucciones- al<br />

estilo del constitucionalismo de principios del siglo XIX, como resulta<strong>do</strong><br />

de la reacción monárquica85 .<br />

Centrán<strong>do</strong>nos en la primera faceta, la peculiaridad española se<br />

centra en la acción popular. Como es de sobras conoci<strong>do</strong>, el art. 125<br />

CE y el art. 101 LECrim. atribuyen el ejercicio de la acción penal no<br />

sólo al ministerio fiscal y al particular ofendi<strong>do</strong> por el delito, sino a to<strong>do</strong><br />

ciudadano español que la ejercite conforme a las prescripciones de la<br />

ley86 . Este tipo de acción “quivis ex populo”, de claras connotaciones<br />

84 La representatividad y el componente democrático se da, por ejemplo, en nuestro país, en los<br />

Municipios, y en los EEUU de Norteamérica el fiscal de muchos de los Esta<strong>do</strong>s en que se eligen<br />

directamente y someten su gestión elecciones periódicas. Vid. WEIGEND, “Anklageplicht und<br />

Ermessen”, Baden-Baden, 1978.<br />

85 Se trata en definitiva del conoci<strong>do</strong> dualismo que representa la afirmación del principio<br />

monárquico y principio democrático, como <strong>do</strong>ble fuente de legitimación, tambíen normativa,<br />

superada definitivamente hace ya más de un siglo.<br />

86 Asismo a los ciudadanos extranjeros por los delitos cometi<strong>do</strong>s contra sus personas o sus bienes o<br />

las personas de sus representa<strong>do</strong>s).


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 181<br />

acusatorias, ha si<strong>do</strong> objeto de acerbas críticas y encendidas defensas<br />

Unos autores, en atención fundamentalmente a una cierta desconfianza<br />

hacia el uso exclusivo de la acción oficial, defienden una concepción<br />

más amplia del derecho al acceso a la acción popular como instrumento<br />

democratiza<strong>do</strong>r que acerca la administración de justicia a los ciudadanos<br />

y fomenta su participación en la misma. Otros, y especialmente la<br />

Fiscalía General del Esta<strong>do</strong>, le achacan que su uso indiscrimina<strong>do</strong><br />

desnaturaliza las finalidades propias del proceso penal al obedecer a<br />

intereses particulares de venganza, política o personal87 . Desde el punto<br />

de vista de su utilización en la práctica, ha pasa<strong>do</strong> de un uso casi<br />

anecdótico a otro ciertamente no frecuente pero de enorme<br />

trascendencia pública por su utilización en casos de corrupción política<br />

o por parte de algunas minorías88 .<br />

La concreta configuración legal de la acción popular en el proceso<br />

penal español no puede desarrollarse en estas páginas89 . Sí, cabe, no<br />

obstante, esbozar brevemente sus líneas maestras en torno a los<br />

siguientes puntos: a) su ámbito objetivo de aplicación es el ordinario,<br />

esto es, delitos públicos y semipúblicos, quedan<strong>do</strong> excluida en los delitos<br />

priva<strong>do</strong>s o en los procedimientos especiales90 , b) puede ser utilizada<br />

tanto por personas físicas como jurídicas, merced a una amplia<br />

interpretación del término “ciudadano” conteni<strong>do</strong> en el art. 125 CE91 ;<br />

c) el acceso a la condición de parte del acusa<strong>do</strong>r popular se condiciona<br />

87 Veánse Las “Memorias de la Fiscalía del Esta<strong>do</strong>”, de 1983, p.21ss; 1989, p.314; y, muy<br />

especialmente, la de 1996, pp.701-721 con el ilustrativo título: “La acusación penal: ¿ejercicio de<br />

soberanía? Ministerio Fiscal versus acción popular”.<br />

88 Importantes procesos cuyo caso más significativo lo ha constitui<strong>do</strong> el llama<strong>do</strong> “caso GAL”), han<br />

supuesto la personación como parte procesal de parti<strong>do</strong>s políticos o asociaciones como “Víctimas del<br />

terrorismo” o “SOS Racismo” que de no ser por esta vía no hubieran podi<strong>do</strong> intervenir en el proceso<br />

con tal condición. Los ejemplos son muchos : caso escuchas del CESID , caso Ruiz Mateos etc.<br />

89 Como en tanto otros temas, véase mi trabajo “Principien und Systeme des Strafverfahrens: Das<br />

spanische system als Bezugspunkt”, en fase de publicación.<br />

90 Jurisdicción de menores y Jurisdicción militar. Así se señala respecto de este último caso en la<br />

reciente sentencia del Tribunal Constituciona, de 26 de marzo de 1999, en la que se deniega el<br />

amparo solicita<strong>do</strong> por la Asociación de Información por la Defensa del solda<strong>do</strong>, contra el Auto del<br />

Tribunal Militar Territorial Primero que rechazaba a dicha asociación intervenir como acusa<strong>do</strong>r<br />

popular en el proceso.<br />

91 Se imponen, eso sí, determinadas restricciones: debe tratarse en to<strong>do</strong> caso de la defensa de<br />

intereses comprendi<strong>do</strong>s en su objeto (asociones de víctimas del terrorismo en delitos contra el<br />

terrorismo; asociaciones ecológicas en delitos de esta ín<strong>do</strong>le; asociaciones de consumi<strong>do</strong>res...(SSTC<br />

241/1992, de 21 de diciembre; 34/1994, de 31 de enero; 50/1998, de 2 de marzo; y SSTS de 4 de<br />

marzo de 1995 (RAJ 1802) y de 2 de febrero de 1996 (RAJ 788).


182<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

a la interposición de querella (art. 270 LECrim) salvo que el proceso ya<br />

esté inicia<strong>do</strong>92 ; d) su ejercicio está sujeto a la prestación de fianza93 ; y e)<br />

no puede solicitar cosa distinta de lo que es la pura acción penal, esto es,<br />

ni le cabe instar simultáneamente el ejercicio de la acción civil acumulada<br />

-como sí podría hacerlo tanto el ministerio fiscal como la víctima (acusa<strong>do</strong>r<br />

particular)- ni pedir la condena en costas94 .<br />

Recapitulan<strong>do</strong> sobre to<strong>do</strong> lo expuesto en este aparta<strong>do</strong> y a la hora<br />

de reflexionar sobre el monopolio en el ejercicio de la acción penal cabe<br />

efectuar <strong>do</strong>s consideraciones.<br />

El monopolio en el ejercicio de la acción penal atribui<strong>do</strong> al MF, que es<br />

un factor de innegable relevancia para una correcta ejecución de la política<br />

criminal -siempre que el fiscal no goce de una autonomía e independencia<br />

al mo<strong>do</strong> italiano- debe someterse al principio de legalidad como contrapartida<br />

frente a un ejercicio discrecional de la acción penal. Por otra parte, si tal<br />

monopolio se aúna con la dirección de la instrucción en manos del fiscal,se<br />

incrementa entonces el riesgo de actuaciones de fiscalía fiadas en exceso<br />

a un hacer imparcial que la falta de contrapeso hace difícilmente alcanzable.<br />

En senti<strong>do</strong> contrario, la cotitularidad en el ejercicio de la acción penal,<br />

si bien puede interferir en la correa de transmisión entre quienes definen<br />

una determinada política criminal y quienes están llama<strong>do</strong>s a ejecutarla,<br />

no deja de producir un efecto modera<strong>do</strong>r de las eventuales desviaciones<br />

que en aquél pudieran producirse, singularmente en la aplicación del<br />

principio de oportunidad. Limitar en esta línea la titularidad a los<br />

perjudica<strong>do</strong>s por el delito no parece, sin embargo, la mejor solución por<br />

cuanto éstos actuarán siempre en interés propio.<br />

Teresa Armenta Deu<br />

Catedrática de Derecho Procesal da<br />

Universidad de Gerona<br />

92 Se pretende evitar así los negativos efectos de las meras denuncias interesadas o revanchistas<br />

como mecanismo inicia<strong>do</strong>r del proceso.<br />

93 La cuantía de ésta, con ser exigible desde el punto de vista del derecho al acceso a la jurisdicción<br />

(SSTC 62/1983, de 11 de julio; 113/1984,de 29 de noviembre; 147/1985, de 29 de octubre;326/<br />

1994, de 12 de diciembre; y 50/1998, no puede ser de cuantía desproporcionada de manera que<br />

se impida de hecho su ejercicio (art. 20.3 LOPJ).<br />

94 STS 12-3-1992 (RAJ 2442).


la la insv insvestigacion<br />

insv insv estigacion<br />

criminal: criminal: criminal: problemas<br />

problemas<br />

actuales actuales y y perspectivas<br />

perspectivas<br />

de de unificacion<br />

unificacion<br />

internacional<br />

internacional<br />

juan-luis gómez colomer,<br />

professor, <strong>do</strong>utor, catedrático de<br />

derecho procesal da universidad jaime i<br />

de castellón (espanha)


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 185<br />

LA INVESTIGACION CRIMINAL:<br />

PROBLEMAS ACTUALES Y<br />

PERSPECTIVAS DE<br />

UNIFICACION INTERNACIONAL*<br />

Juan-Luis Gómez Colomer<br />

(Texto de la conferencia inaugural, pronunciada por el autor, en el<br />

Seminário Internacional sobre Processo Penal, que bajo el lema<br />

Temas actuais na perspectiva comparada e o Direito Brasileiro, tuvo<br />

lugar en Sâo Paulo-Brasil los días 1 a 3 de agosto de <strong>2001</strong>)<br />

I. EL PROCESO PENAL, AL EXIGIR EN SU CONFIGURACIÓN<br />

ACTUAL SUESTRUCTURACIÓN DE ACUERDO CON DOS MÁXIMAS<br />

IRRENUNCIABLES, A SABER, EL PRINCIPIO ACUSATORIO, Y EL<br />

JUICIO ORAL Y PÚBLICO, OBLIGA A UNA ARTICULACIÓN DE LA<br />

FASE DE INVESTIGACIÓN PREVIA AL SERVICIO DE AMBAS.<br />

El deseo intelectual de que to<strong>do</strong>s los países democráticos tengan<br />

un proceso penal si no idéntico, sí muy similar, someti<strong>do</strong> a iguales<br />

principios, que den lugar a unas mismas o muy parecidas pautas de<br />

actuación práctica, es evidente, no necesita fundarse <strong>do</strong>ctrinalmente<br />

ya a día de hoy.<br />

En el desarrollo de esa aspiración cuenta y mucho que la unificación<br />

legislativa, y en concreto el gozar de un mismo proceso penal, se<br />

considere una excelente vía para superar gravísimos problemas causa<strong>do</strong>s<br />

por el delito hoy, que incluso pueden ir más allá de lo estrictamente jurídico,<br />

pues unificar significa también progresar, intentar superar juntos conflictos<br />

sociales comunes de gran entidad, lo que implica una mayor integración<br />

política, económica y cultural entre los diferentes pueblos, muchos de<br />

los cuales somos familia, atendi<strong>do</strong> el excelso auditorio que ante mí tengo<br />

en estos momentos.


186<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

El ansia de unificación legislativa, de intentar alcanzar una identidad<br />

similar, de buscar los lugares comunes del proceso penal, es por tanto<br />

muy palpable en la actualidad desde un punto de vista internacional.<br />

Pero el problema surge precisamente cuan<strong>do</strong> se desciende del<br />

terreno intelectual abstracto al concreto con el fin de elaborar los criterios<br />

meto<strong>do</strong>lógicos de esa soñada unificación, es decir, al intentar plasmar<br />

sobre el papel qué principio o principios deben ser los estructurales de<br />

ese proceso penal que ha de proteger la pacífica y democrática<br />

convivencia de to<strong>do</strong>s los ciudadanos honra<strong>do</strong>s del mun<strong>do</strong>. Y nace el<br />

problema no tanto porque no haya acuer<strong>do</strong> en esos principios, que ni son<br />

ni deben ser muchos, sino porque cuan<strong>do</strong> llega el momento de articularlos<br />

en concreto, los conceptos no tienen el mismo significa<strong>do</strong> en to<strong>do</strong>s los<br />

países, los intereses en juego difieren en matices nada desdeñables y,<br />

en suma, las tan distintas condiciones culturales, políticas y económicas<br />

de cada uno de los pueblos afecta<strong>do</strong>s hacen que se planteen verdaderos<br />

problemas de aplicación práctica aun cuan<strong>do</strong> se esté de acuer<strong>do</strong> en la<br />

necesidad de su existencia.<br />

El aspecto más problemático, en mi modesto entender, en <strong>do</strong>nde<br />

los problemas meramente acaba<strong>do</strong>s de indicar se dan con toda su<br />

crudeza, se presenta en la fase de investigación del proceso penal. Ello<br />

no es casual. Es en la instrucción criminal en <strong>do</strong>nde el legítimo poder del<br />

Esta<strong>do</strong> de investigar el hecho criminal y de perseguir a los criminales se<br />

manifiesta con mayor intensidad, y es ahí precisamente en <strong>do</strong>nde los<br />

también legítimos derechos de los ciudadanos necesitan una mayor<br />

protección. La fase de investigación es así un campo de tensiones<br />

garantiza<strong>do</strong>, de peligro constante de colusión entre intereses de la<br />

Sociedad y principios y valores constitucionales que afectan a los<br />

ciudadanos, en <strong>do</strong>nde nunca debe imponerse el deseo o el criterio del<br />

más fuerte, ni el del más inteligente. En absoluto y muy al contrario, la<br />

preparación del juicio, o de la decisión de su evitamiento, debe basarse<br />

en la razón del justo, en una decisión neutral tomada por quien<br />

constitucionalmente ejerce imparcialmente la función jurisdiccional o tiene<br />

encomendada la labor neutral de la investigación.<br />

Pero vayamos por partes. Empezaré por el acuer<strong>do</strong> de partida<br />

básico y luego intentaré explicar los problemas más importantes que se<br />

dan y cómo deberían resolverse.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 187<br />

Creo que un observa<strong>do</strong>r atento de la realidad jurídico-procesal penal<br />

internacional, llegaría rápidamente a la conclusión de que las <strong>do</strong>s grandes<br />

características esenciales de los procesos penales propios de los países<br />

democráticos son, con to<strong>do</strong>s los matices que se quiera añadir:<br />

1) El sometimiento del sistema de enjuicimiento criminal al<br />

principio acusatorio; y<br />

2) La incardinación en ese sistema de un juicio oral y público.<br />

Veo difícil considerar, a estas alturas de la evolución de la<br />

Humanidad, el proceso de un Esta<strong>do</strong> como el propio de un país<br />

democrático si no se basa en esas <strong>do</strong>s características. De manera que<br />

despreciaré a los países que todavía tienen un proceso penal inquisitivo;<br />

y no trataré tampoco a aquéllos que aunque proclamen su fe en la<br />

oralidad y en la publicidad, en realidad juzguen en la práctica de manera<br />

absolutamente carente de control, escrita y secreta. Que el país con<br />

sistema acusatorio y juicio oral y público carezca de Jura<strong>do</strong>, aunque<br />

sería importante para reforzar esas características esenciales<br />

antedichas, no me plantea problemas, pues creo que el Jura<strong>do</strong> no es<br />

otra característica esencial del proceso penal propio de un Esta<strong>do</strong> de<br />

Derecho, ya que se puede tener un proceso penal «democrático» y<br />

carecer al mismo tiempo de Jura<strong>do</strong> sin problema conceptual, <strong>do</strong>gmático<br />

o práctico alguno; por ello tampoco analizaré esta cuestión aquí.<br />

Pues bien, principio acusatorio y juicio oral y público son los<br />

<strong>do</strong>s criterios meto<strong>do</strong>lógicos básicos, los <strong>do</strong>s grandes principios de<br />

partida. Creo que Vdes., personalidades altamente cualificadas del<br />

mun<strong>do</strong> procesal de Alemania, Inglaterra, Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s y de to<strong>do</strong>s<br />

los países latimoamericanos, en especial de nuestro queri<strong>do</strong> país<br />

anfitrión, Brasil, están de acuer<strong>do</strong> conmigo y ello es un buen punto<br />

de partida para entendernos.<br />

Sin duda, hay muchos matices conceptuales para explicar su<br />

significa<strong>do</strong>, es claro, pero si seguimos observan<strong>do</strong> atentamente esa<br />

misma realidad, yo diría que hay en la actualidad, desde hace unos 30<br />

años más bien, una clara tendencia a fijarnos en el modelo de<br />

enjuiciamiento criminal anglosajón, que es el que se está imponien<strong>do</strong> si<br />

contemplamos las grandes reformas europeas (Alemania la primera en


188<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

1975, después Italia y Portugal, ambos países en 1988; y España a<br />

punto de empezar) y americanas (como consecuencia principalmente<br />

del Código Procesal Penal Modelo para Iberoamérica de 1988, sobre el<br />

que pronunciaré unas breves palabras al final de mi intervención,<br />

empezaron las reformas Guatemala y Costa Rica, siguien<strong>do</strong> El Salva<strong>do</strong>r,<br />

Chile, algunas provincias de Argentina, Venezuela, Paraguay, Bolivia,<br />

Honduras, Colombia, Uruguay, Brasil, República Dominicana, Ecua<strong>do</strong>r,<br />

Panamá, Perú y Nicaragua, bien con Códigos Procesales Penales<br />

totalmente nuevos, bien con intentos más o menos profun<strong>do</strong>s de reforma<br />

legislativa del proceso penal, alguno de los cuales con poco éxito por<br />

cierto, debien<strong>do</strong> reflejar la notable excepción a estas reformas de México,<br />

sorprendentemente para mí dada la gran importancia jurídica que desde<br />

hace décadas ha teni<strong>do</strong> y tiene este gran país).<br />

Esto presenta un problema adicional en nuestro análisis, que me<br />

limitaré a mencionar al ser igualmente muy conoci<strong>do</strong>, pues las diferencias<br />

entre el sistema de common law y el de civil law son tan grandes, que<br />

repercuten en cualquier institución jurídica que se considere. Si ésta es<br />

procesal, las diferencias pueden ser y de hecho son abismales.<br />

Estamos obliga<strong>do</strong>s por tanto a buscar en estas características<br />

aquéllo que nos une, desechan<strong>do</strong> lo que nos separa. Una advertencia<br />

de carácter meto<strong>do</strong>lógico debo hacer no obstante antes: Evitaré<br />

referirme a un país en concreto salvo que sea oportuno para seguir<br />

mejor esta exposición, y citaré al final cómo han resuelto los intentos<br />

internacionales más importantes las cuestiones que antes haya relata<strong>do</strong>.<br />

A) EL PRINCIPIO ACUSATORIO<br />

Creo que en la actualidad no hay duda alguna en afirmar que el<br />

principio acusatorio es el que mejor garantiza que haya, si se me permite<br />

emplear terminología anglosajona, un juicio limpio, lo que implica a su<br />

vez una investigación limpia, o, como mejor se entiende en la Europa<br />

continental, un juicio imparcial para el acusa<strong>do</strong>, lo que implica a su vez<br />

también una investigación imparcial u objetiva. Su significa<strong>do</strong>, al que<br />

me referiré enseguida, así lo demuestra.<br />

Si estamos de acuer<strong>do</strong> que en el proceso penal debe prevalecer


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 189<br />

la verdad material, aunque ciertamente éste no sea hoy el único fin del<br />

proceso penal, la imparcialidad del juzga<strong>do</strong>r, la objetividad del acusa<strong>do</strong>r<br />

y la ecuanimidad de las normas procesales, son la mejor garantía de<br />

hallarla. Luego el principio acusatorio, al garantizarla, es el que mejor<br />

sirve a la justicia de la decisión.<br />

Pero su configuración es muy distinta en los países anglosajones<br />

y en los segui<strong>do</strong>res del sistema francés de enjuiciamiento criminal, porque<br />

en Inglaterra o en Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s el principio acusatorio siempre se ha<br />

entendi<strong>do</strong> en su senti<strong>do</strong> más puro posible, mientras que en la Europa<br />

continental ha coexisti<strong>do</strong> con el principio inquisitivo, dan<strong>do</strong> lugar a sistemas<br />

de enjuiciamiento mixtos (el llama<strong>do</strong> proceso acusatorio formal).<br />

Pero ello no quiere decir que los países que tomaron el modelo<br />

francés no entiendan lo que es el principio acusatorio, ni que<br />

desconozcan lo que debe ser una regulación satisfactoria mínima del<br />

mismo. Si nos fijamos, por ejemplo, en Alemania o en España vemos<br />

en este senti<strong>do</strong> que el proceso penal español, al igual que el alemán,<br />

está inspira<strong>do</strong> por el principio acusatorio, que rige desde su inicio y a lo<br />

largo del mismo para averiguar, en un primer momento si hay base o<br />

no para formular la acusación, y posteriormente para concretarla.<br />

Este principio es una garantía esencial del proceso penal, eleva<strong>do</strong><br />

a rango de derecho fundamental, por ejemplo, en España, al entenderse<br />

implícito en el derecho a un proceso con todas las garantías consagra<strong>do</strong><br />

constitucionalmente. Dentro de esta máxima genérica se encuentra la<br />

exigencia de la imparcialidad del Juez, lo que supone la separación<br />

entre las funciones de instruir, acusar y juzgar.<br />

Más concretamente, y partien<strong>do</strong> del senti<strong>do</strong> original del término<br />

referi<strong>do</strong> a la imparcialidad judicial, creo que este principio significa que:<br />

a) No puede existir proceso sin acusación formulada por persona<br />

distinta a quien juzga: La acusación es condición y presupuesto del<br />

proceso y para garantizar la imparcialidad será formulada por persona<br />

distinta y ajena al Tribunal sentencia<strong>do</strong>r, generalmente el Ministerio Fiscal<br />

(Ministerio <strong>Público</strong>), en régimen de monopolio o comparti<strong>do</strong> con la víctima<br />

o incluso, como es el caso español, con el no ofendi<strong>do</strong> (acción popular).


190<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

b) No cabe condena por hechos distintos ni persona distinta a los<br />

señala<strong>do</strong>s en la acusación: La determinación del conteni<strong>do</strong> de la<br />

acusación no puede quedar en manos del juzga<strong>do</strong>r, pues se pondría en<br />

peligro su imparcialidad ante los hechos y sujetos que debe juzgar. El<br />

concepto clave para la comprensión de esta exigencia es el de objeto<br />

del proceso. Esto conlleva una cierta, pero no absoluta, correlación<br />

objetiva y subjetiva entre acusación y sentencia.<br />

c) La imparcialidad del juzga<strong>do</strong>r: El principio acusatorio garantiza<br />

esencialmente la imparcialidad del juzga<strong>do</strong>r. Esta garantía se logra, junto<br />

con las <strong>do</strong>s exigencias analizadas, mediante la distinción entre las<br />

funciones de instrucción o investigación y de enjuiciamiento, que<br />

necesariamente han de recaer en órganos distintos, pues el órgano decisor<br />

perdería su imparcialidad si entrara en contacto con las fuentes de los<br />

materiales del juicio sobre los que versa el debate contradictorio.<br />

Esta nota se encuentra expresamente contemplada en el art. 6.1<br />

del Convenio Europeo de Derechos Humanos de 1950, y en el art. 8.1<br />

de la Convención Americana sobre Derechos Humanos de 1969.<br />

En conclusión, podemos decir que existiría acuer<strong>do</strong> respecto a<br />

esta característica esencial si dijéramos que el principio acusatorio<br />

supone la existencia de una acusación, y que ésta debe ser planteada y<br />

sus elementos fija<strong>do</strong>s por un órgano o sujeto distinto del que deba juzgar<br />

imparciamente el caso.<br />

B) EL JUICIO ORAL Y PÚBLICO<br />

La segunda nota esencial es más sencilla de determinar en ese<br />

caminar hacia una unificación internacional, porque es fácilmente<br />

comprensible en lo cultural y en lo jurídico por to<strong>do</strong>s los países<br />

democráticos. Los problemas, por contra, se plantean a la hora de<br />

hacerlo efctivo, es decir, en la práctica.<br />

Para que el juicio sea oral sólo es preciso que se dé (y se aplique)<br />

una condición: Que el Juez o Tribunal que dicte la sentencia en el proceso<br />

penal, tiene que condenar o absolver toman<strong>do</strong> como base los hechos y<br />

pruebas que se hayan practica<strong>do</strong> ante él de forma oral en una vista, juicio<br />

oral o debate concentra<strong>do</strong>.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 191<br />

Naturalmente, no to<strong>do</strong> el proceso penal puede ser oral, pero sí<br />

pre<strong>do</strong>minantemente. La cuestión es que es en la vista o juicio oral en<br />

senti<strong>do</strong> estricto (debate, vista principal, etc., el nombre es indiferente),<br />

en <strong>do</strong>nde se han de practicar las pruebas sobre los hechos alega<strong>do</strong>s y<br />

en <strong>do</strong>nde se ha de pedir la condena o absolución de una persona, y ello<br />

se hace oralmente ante el órgano jurisdiccional.<br />

Consecuencia inmediata de esta afirmación, y aquí nos<br />

enfrentamos ante un problema muy grave, es que ni uno sólo de los<br />

actos de investigación practica<strong>do</strong>s durante la instrucción del proceso<br />

penal tiene valor probatorio alguno, no sirve para condenar ni para<br />

absolver, sólo sirve para meritar si se acusa a una persona de un<br />

determian<strong>do</strong> delito o no. Esto resta un enorme poder a la Policía, y ése<br />

es el problema práctico más relevante que plantearía la unificación<br />

internacional, porque las resistencias podrían llegar a ser «heroicas». Es<br />

cierto que los casos límite (urgencia, flagrancia, prueba anticipada), tienen<br />

una fácil regulación, pero los demás no, sobre to<strong>do</strong> aquéllos en los que<br />

pueden resultar vulnera<strong>do</strong>s derechos fundamentales (entrada y registro<br />

<strong>do</strong>miciliario, intervención telefónica, injerencias corporales,<br />

principalmente), en los que la Policía, por la contundencia del resulta<strong>do</strong><br />

probatorio que se puede obtener, merece un control específico, al que<br />

los poderes públicos, que deben vender en sus elecciones su contribución<br />

a la seguridad ciudadana, se suelen negar, con mayor o menor descaro.<br />

De la máxima general de la oralidad se derivan, a su vez, principios<br />

muy interesantes, también fácilmente comprensibles e identificables<br />

en el ámbito internacional. Destacaré el principio de publicidad, y dejaré<br />

ahora el de inmediación y concentración.<br />

El juicio oral, salvo excepciones previstas expresamente en la<br />

ley, que tengan auténtica relevancia, interpretadas además<br />

restrictivamente, debe ser público, ha de ser necesariamente público.<br />

Publicidad significa <strong>do</strong>s cosas distintas: Publicidad para las partes de<br />

los actos procesales, aunque en este caso estamos más bien ante el<br />

principio de contradicción o defensa; y publicidad para terceros, para el<br />

público en general, que es la verdadera publicidad.<br />

Es evidente, al contemplar precisamente al público, al pueblo en<br />

suma, que este principio tiene un trasfon<strong>do</strong> ideológico muy importante,


192<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

porque es una posibilidad excelente de que los ciudadanos puedan<br />

controlar a sus Jueces.<br />

Por eso casi todas las naciones democráticas han consagra<strong>do</strong> el<br />

juicio oral y público, o el principio de oralidad y el principio de publicidad,<br />

en sus Constituciones, por tanto, gozan de categoría de derecho<br />

fundamental y de garantía institucional básica. Y hasta tal punto tiene<br />

importancia ello que, en caso de vulnerarse este principio, el juicio es<br />

nulo de pleno derecho.<br />

C) LA ADECUACIÓN DE LA FASE DE INVESTIGACIÓN AL<br />

PRINCIPIO ACUSATORIO Y AL JUICIO ORAL Y PÚBLICO<br />

Parece que la explicación anterior sea fácilmente asumible por<br />

to<strong>do</strong>s. El problema es que es aceptable si nos fijamos en la articulación<br />

del juicio, del debate. Pero, ?lo es también si nos fijamos en la fase de<br />

investigación previa a ese juicio?<br />

Esto es otro cantar. La tendencia continental es, con excepciones<br />

notables, tremendamente proclive a mantener todavía principios<br />

inquisitivos, absolutamente contrarios al principio acusatorio. Pensemos<br />

en la figura del Juez Instructor, aunque sobre esto podríamos hablar<br />

mucho y algo diré más adelante; pensemos en la preeminencia en la<br />

investigación del poder público oficial sobre la defensa; pensemos en el<br />

secreto posible de la investigación. Vdes. tienen tremendas experiencias<br />

sobre estos temas, de manera que sería una grave desconsideración<br />

que yo me detuviera en narrar casos concretos.<br />

Pensemos por otra parte en qué utilidad tendría introducir la oralidad y<br />

la publicidad en la investigación. ?No se perjudicaría ésta irremediablemente?<br />

Estos problemas existen, ello es cierto. Pero ahora el enfoque<br />

debe ser distinto. ?Qué nos puede unir en la investigación de los crímenes<br />

que se cometen en nuestro territorio, que no violente ni el principio<br />

acusatorio, ni el principio de oralidad y, por ende, el de publicidad?<br />

El espejo anglosajón es inevitable, porque para responder<br />

adecuadamente a esta cuestión to<strong>do</strong>s los resquicios inquisitivos de<br />

nuestros procesos deberían ser elimina<strong>do</strong>s, y eso es muy difícil.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 193<br />

Es muy difícil, porque implicaría afrontar y resolver correctamente<br />

muchos temas, de entre los que destaco los siguientes:<br />

1) Equilibrar los papeles del Juez (no investiga<strong>do</strong>r si nos fijamos<br />

en los países anglosajones, pues allí no existe, sino de Garantías), del<br />

Fiscal, de la Policía y del acusa<strong>do</strong> (conjuntamente con su aboga<strong>do</strong><br />

defensor o con su defensor público).<br />

En nuestros sistemas mixtos, la posición del Fiscal es<br />

relevantemente superior a la del inculpa<strong>do</strong>; si hay Juez instructor, sus<br />

poderes son enormes generalmente; y, prácticamente sin excepción, la<br />

Policía es realmente la dueña y señora de la investigación. Redefinir estos<br />

papeles parece tarea ingente, pero es necesario afrontarlo y hacerlo.<br />

2) La ausencia de tradición acusatoria en Europa plantea muchos<br />

desequilibrios graves, pero en América Latina es letal. Me explicaré: Los<br />

problemas de adaptación de reformas acusatorias como la alemana de<br />

1975, que eliminó la figura del Juez instructor, establecien<strong>do</strong> la competencia<br />

para la investigación en favor del Fiscal, trajo problemas de adaptación<br />

importantes y, de hecho, no ha podi<strong>do</strong> impedir que en Alemania quien<br />

investigue de facto sea la Policía y no el Fiscal; la aplicación práctica del<br />

Código Procesal Penal italiano de 1988 no ha teni<strong>do</strong> ni un solo minuto de<br />

tranquilidad, existien<strong>do</strong> un auténtico clamor de dejar los fundamentos<br />

acusatorios anglosajones en los que se basa para volver a un sistema<br />

mixto perfecciona<strong>do</strong>. Pero en to<strong>do</strong>s esos países, entre el sistema<br />

inquisitivo medieval y moderno y el acusatorio anglosajón al que se tiende,<br />

ha habi<strong>do</strong> unos <strong>do</strong>scientos años de vigencia de un sistema acusatorio<br />

formal o mixto naci<strong>do</strong> con la Revolución Francesa de 1789.<br />

En América Latina esto no existe. Generalmente se toma como<br />

modelo la Ley de Enjuiciamiento Criminal española de 1872 (la vigente<br />

es de 1882), aunque no siempre (como ocurre en Argentina a mitad del<br />

siglo pasa<strong>do</strong> segui<strong>do</strong>ra del modelo italiano), que previó un proceso inquisitivo<br />

y secreto, y, de repente, tras cien o más años de vigencia, sin tránsito por<br />

un paso intermedio que facilite una modernización menos traumática, se<br />

quiere implantar un proceso acusatorio puro como el norteamericano. Los<br />

problemas son inimaginables, aunque últimamente hay intentos muy serios<br />

que, conscientes de este problema, han intenta<strong>do</strong> una adaptación a las<br />

estructuras propias ante to<strong>do</strong>, como es el caso de Nicaragua.


194<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

Por ello creo modestamente que estamos ante reformas que tienen<br />

los elementos suficientes para no triunfar, incluso en algunos casos<br />

concretos pienso que están condenadas al más estrepitoso de los<br />

fracasos, y lamento tener que decirlo porque no deseo que ello ocurra.<br />

Sólo fundaré mi afirmación en un ejemplo, el más significativo, que<br />

demostrará sin ambages mi postura: Se aprueba en un país determina<strong>do</strong><br />

un Código Procesal Penal acusatorio de corte claro norteamericano,<br />

que encomienda por tanto la instrucción del proceso penal al Ministerio<br />

<strong>Público</strong>, y en ese país nunca ha existi<strong>do</strong> Ministerio <strong>Público</strong>, o si ha existi<strong>do</strong><br />

ha si<strong>do</strong> una figura meramente decorativa o irrelevante. Es decir, la<br />

investigación se otorga por puro mimetismo y deslumbramiento de un<br />

pretendi<strong>do</strong> modelo externo mejor, sin pensarlo <strong>do</strong>s veces, a quien carece<br />

de cualquier experiencia en la dirección de un proceso penal en fase de<br />

investigación, a quien no tiene administrativamente una organización<br />

asentada, posiblemente a quien no posee ni una página de historia.<br />

)Cómo va a triunfar así la reforma del proceso penal?<br />

3) Finalmente, existen instituciones del proceso penal acusatorio<br />

que difícilmente van a cuajar en nuestra mentalidad. Yo no me imagino un<br />

proceso penal en España en el que rija el discovery norteamericano. A los<br />

fiscales españoles habría que sacarles con blood, sweat and tears su<br />

material probatorio, y la defensa delinquiría antes de anticipar la prueba de<br />

su coartada. Su sonrisa delata que me han comprendi<strong>do</strong> perfectamente,<br />

por lo que basta ya de tratar este tema.<br />

Estamos por tanto de acuer<strong>do</strong>, al menos, en la identificación de estos<br />

problemas. Y eso que no están to<strong>do</strong>s expuestos. Por ejemplo, para finalizar<br />

con esta parte, cómo regularíamos la cooperación jurisdiccional en la<br />

persecución internacional del genocida, del narcotraficante, del terrorista,<br />

del gran estafa<strong>do</strong>r? Esto también afecta al proceso acusatorio, oral y público,<br />

y, sin embargo, cuántos juristas de los aquí presentes estamos<br />

desencanta<strong>do</strong>s a la vista de los recientes acontecimientos, cuántos<br />

pensamos que el político jamás nos dejará las manos libres para alcanzar<br />

una regulación auténticamente justa y efectiva?<br />

Pasemos ahora, tras esta exposición sobre las características<br />

esenciales, a lo que creo que son los tres problemas más importantes<br />

que debemos resolver en la investigación del crimen para aspirar a<br />

una unificación real.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 195<br />

II. LAS POSIBILIDADES DE UNIFICACIÓN INTERNACIONAL<br />

DE LA FASE DE INVESTIGACIÓN CRIMINAL DEPENDEN DE QUE<br />

SE RESUELVAN PREVIAMENTE LOS GRANDES TEMAS QUE EN<br />

ELLA SE PLANTEAN.<br />

Naturalmente, no voy a entrar en cuestiones de detalle, pues cada<br />

uno de estos temas podría ser objeto de varias conferencias muy extensas<br />

y prolijas. Sólo preten<strong>do</strong> poner el de<strong>do</strong> en la llaga de la unificación.<br />

a) La aplicación y respeto a las garantías procesales del<br />

inculpa<strong>do</strong>, en especial, del derecho de defensa:<br />

Nos encontramos todavía inmersos en el fenómeno de<br />

constitucionalización del proceso penal. La razón no es otra que el deseo<br />

de que nuestros procesos penales sean acordes con nuestros modelos<br />

de Esta<strong>do</strong>, es decir, democráticos.<br />

De esta manera se quieren resolver adecuadamente los problemas<br />

que plantean la inevitable lucha y confrontación entre la necesaria<br />

tranquilidad social de los ciudadanos, que exige al Esta<strong>do</strong> perseguir los<br />

delitos y castigarlos (principio de legalidad penal, ius persequendi,<br />

principio de necesidad procesal o garantía jurisdiccional, entre otros), y<br />

los derechos y garantías de to<strong>do</strong>s los imputa<strong>do</strong>s (prohibición de la tortura,<br />

libre apreciación de la prueba, investigación limpia de lo ocurri<strong>do</strong>, etc.).<br />

Para ello se parte de una Constitución democrática directamente<br />

aplicable, no programática, en la que se reconocen por un la<strong>do</strong> valores<br />

superiores del Ordenamiento Jurídico, como la libertad, la igualdad y la<br />

justicia, explícita o implícitamente, y por otro determina<strong>do</strong>s derechos<br />

fundamentales procesales penales de los ciudadanos, que operan como<br />

límite frente al poder del Esta<strong>do</strong>, como por ejemplo el derecho a ser<br />

informa<strong>do</strong> de la acusación, el derecho a no declarar contra sí mismo, el<br />

derecho a no confesarse culpable, el derecho a la prueba, el derecho a<br />

la presunción de inocencia o, destacan<strong>do</strong> por encima de to<strong>do</strong>s, el<br />

derecho de defensa.<br />

El sentir internacional acompaña adecuadamente estos anhelos<br />

y realidades estatales, como lo demuestran fehacientemente el Convenio<br />

Europeo de Derechos Humanos de 1950, y la Convención Americana


196<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

sobre Derechos Humanos de 1969, que antes cité, normas empeñadas<br />

cabalmente en defender con efectividad en el plano internacional los<br />

derechos humanos y, por tanto, los derechos procesales penales de<br />

los imputa<strong>do</strong>s en causas criminales.<br />

La protección se complementa con tutela judicial al máximo nivel a<br />

través de Tribunales Constitucionales o Salas Constitucionales de<br />

«Cortes» Supremas. Aunque las diferencias organizativas son relevantes,<br />

no afectan a lo que estamos tratan<strong>do</strong> ahora, porque esos altos tribunales<br />

garantizan un cumplimiento adecua<strong>do</strong> de los principios democráticos del<br />

proceso penal y un respeto constante a los derechos humanos del<br />

inculpa<strong>do</strong>, sobre to<strong>do</strong> durante la fase de investigación del mismo.<br />

Su <strong>do</strong>ctrina garantista, generalmente uniforme y en verdad más<br />

en beneficio de la defensa que de la acusación, se centra en <strong>do</strong>s<br />

aspectos clave:<br />

1) La objetivación de la prueba: Gracias a la <strong>do</strong>ctrina constitucional<br />

nuestros sistemas de enjuiciamiento criminal no soportan averiguar la<br />

verdad a cualquier precio, de ahí que la investigación deba realizarse<br />

necesariamente dentro de ciertos límites, claramente defini<strong>do</strong>s hoy,<br />

aunque con importantes quiebras prácticas lamentablemente. La teoría<br />

de la prueba prohibida ayuda a esa objetivazión, aunque deja muchas<br />

cuestiones en el aire todavía, pues por ejemplo no encuentran una<br />

aplicación satisfactoria en nuestros países ni los llama<strong>do</strong>s «frutos del<br />

árbol envenena<strong>do</strong>», ni el efecto enerva<strong>do</strong>r del «descubrimiento<br />

inevitable». Por otro la<strong>do</strong>, la presunción de inocencia no encuentra un<br />

significa<strong>do</strong> conceptual idéntico en to<strong>do</strong>s los países, lo que ayuda poco<br />

a su efectivo reconocimiento en la práctica.<br />

2) La efectividad del derecho de defensa: Es quizás el aspecto<br />

en <strong>do</strong>nde el desarrollo procesal penal ha si<strong>do</strong> más relevante en los<br />

últimos tiempos, básicamente en su faceta de asistencia técnica por<br />

parte de un Aboga<strong>do</strong> o Letra<strong>do</strong>, bien designa<strong>do</strong> de confianza por el<br />

propio inculpa<strong>do</strong>, bien designa<strong>do</strong> de oficio por el Esta<strong>do</strong> (defensor de<br />

oficio o público) o de manera equivalente. Ello garantiza al imputa<strong>do</strong> y<br />

luego acusa<strong>do</strong> una defensa efectiva de sus derechos, pues los<br />

sistemas de enjuiciamiento criminal de los países democráticos,<br />

aunque con diferencias en algunos casos demasia<strong>do</strong> importantes,


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 197<br />

apuestan por un defensor activo incluso en el momento de la detención<br />

policial. Otros derechos, como el de no confesarse culpable o no declarar<br />

contra sí mismo, o incluso el propio derecho a ser informa<strong>do</strong> de la<br />

acusación, refuerzan activamente desde otras vertientes el derecho de<br />

defensa, al menos desde un punto de vista teórico.<br />

Si continuamos observan<strong>do</strong> la realidad, creo que en el tema de<br />

las garantías procesales del inculpa<strong>do</strong> las posibilidades de hallar criterios<br />

de unificación son relativamente sencillas si atendemos a su<br />

reconocimiento en papel impreso. Más me preocupa sin embargo su<br />

práctica, porque el problema, por ejemplo, de declarar nula una prueba<br />

obtenida ilegalmente, o de garantizar el derecho de defensa activo en<br />

una declaración policial, no reside sólo en la letra de la Ley, sino también<br />

y principalmente en su práctica, y aquí la experiencia, el asentamiento<br />

de los principios, la organización de la Policía, las relaciones con la<br />

Fiscalía, etc., juegan un papel decisivo, que no to<strong>do</strong>s los países pueden<br />

garantizar en estos momentos, especialmente las nacientes<br />

democracias. Con ello lo que quiero decir asímismo es que el éxito de<br />

esta cuestión no depende sólo de una reforma concreta, sino también<br />

y en lugar destaca<strong>do</strong> de una consideración global de todas las<br />

instituciones implicadas, atendien<strong>do</strong> a las peculiaridades propias de<br />

cada país. ?Quién se atrevería a defender, en este senti<strong>do</strong>, un sistema<br />

totalmente economicista de organización de la defensa técnica en el<br />

proceso penal como existe en Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, en cada uno de los<br />

países que hoy estamos aquí representan<strong>do</strong>? Creo que nadie, porque<br />

la unificación va mucho más allá del mimetismo plagia<strong>do</strong>r.<br />

B) La definición exacta de los papeles del Juez, del Fiscal y<br />

de la Policía:<br />

La segunda cuestión clave afecta a que la unificación internacional<br />

del proceso penal pasa necesariamente por una definición exacta del<br />

papel que el Juez, el Fiscal y la Policía deben desempeñar en él,<br />

establecien<strong>do</strong> con precisión sus funciones y la manera de resolver los<br />

problemas que se planteen.<br />

Para ello hay que definir primero el modelo de instrucción, es<br />

decir, si debe instruir el Juez o el Ministerio <strong>Público</strong>; después hay que<br />

establecer la relación entre el papel que desempeña la acusación y los


198<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

derechos de la víctima; y finalmente hay que fijar las funciones,<br />

obligaciones y límites de la Policía Judicial, interrelacionan<strong>do</strong> todas estas<br />

cuestiones de manera fructífera a los fines propios del proceso penal.<br />

1) El modelo de instrucción: Creo sinceramente que en un país cuya<br />

Constitución política consagre que corresponde a los Jueces juzgar, atribuir<br />

la instrucción al Ministerio <strong>Público</strong> es tan constitucional como atribuírsela al<br />

Juez, porque instruir no es juzgar, sino preparar el juzgar, que es muy<br />

distinto. Por eso me parece erróneo, desde otro punto de vista, decir que el<br />

principio acusatorio no tolera que instruya la causa penal un Juez. Creo<br />

que no tiene nada que ver, siempre y cuan<strong>do</strong>, claro, ese Juez no sea el<br />

propio del proceso inquisitivo prerrevolucionario. Es más, pocos se han<br />

fija<strong>do</strong> hasta ahora en la gran contradicción que existe en defender que<br />

instruya el Fiscal porque así se logra una investigación no contaminada, ya<br />

que el Fiscal es parte acusa<strong>do</strong>ra y, consecuentemente, no puede ser neutral,<br />

por lo que difícilmente podrá realizar una investigación imparcial, y mucho<br />

menos garantista, pero aunque Vdes. saben de mi gran preocupación al<br />

respecto dejemos esa cuestión ahora.<br />

El problema no es <strong>do</strong>gmático. Quien vaya por esa vía yerra<br />

irremediablemente. La cuestión es puramente pragmática, de efectividad,<br />

de rapidez en la investigación, de deslumbramiento cega<strong>do</strong>r produci<strong>do</strong><br />

al contemplar el modelo anglosajón. Casi to<strong>do</strong>s los países han opta<strong>do</strong><br />

por él, con notables resistencias en algunos casos (Francia se ha nega<strong>do</strong><br />

tajantemente hace bien poco), lo que puede facilitar la unificación en<br />

torno al modelo. Pero ?atención!, para lograr un sistema váli<strong>do</strong> hay que<br />

desvincular ante to<strong>do</strong> e inmediatamente al Ministerio <strong>Público</strong> investiga<strong>do</strong>r<br />

del proceso penal del Poder Ejecutivo, y eso parece muy difícil, al menos<br />

en mi país. Si no lo logramos, las causas contra el poder pasarán a ser<br />

mero recuer<strong>do</strong> o pura farsa.<br />

2) Acusación y víctima en el proceso penal: Creo que no es<br />

satisfactoria tampoco la posición de la víctima en el proceso penal<br />

norteamericano, nuestro modelo más reciente. Su papel, si lo llega a<br />

tener, es irrelavante, consecuencia del monopolio acusa<strong>do</strong>r del Ministerio<br />

<strong>Público</strong>. Qué hará la víctima si el Fiscal decide no acusar? No nos fijemos<br />

en ese sistema por tanto y busquemos criterios unifica<strong>do</strong>res en aquellos<br />

países en los que la víctima puede ser parte acusa<strong>do</strong>ra en el proceso


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 199<br />

penal si lo desea (como España sin ir más lejos, que permite incluso a<br />

los no ofendi<strong>do</strong>s acusar, la llamada acusación popular), o al menos en<br />

los que es oída antes de cualquier decisión que le pueda perjudicar<br />

(Nicaragua por ejemplo). Resolveríamos así de una manera mucho más<br />

adecuada además los graves problemas que asociaciones y grupos<br />

plantean hoy en procesos penales de una complejidad extraordinaria,<br />

que no pueden depender de la simple decisión oportunista del Ministerio<br />

Fiscal. Pensemos en grupos de vecinos que luchan diariamente contra<br />

la droga que se trafica en sus barrios y calles, asociaciones que luchan<br />

contra los delitos medioambientales, etc., y tendremos la constelación<br />

inmediatamente planteada ante nosotros.<br />

3) Finalmente, la Policía Judicial: Tan importante es este tema hoy<br />

que es objeto de un taller internacional especializa<strong>do</strong>, aquí en San Pablo,<br />

que se está celebran<strong>do</strong> al mismo tiempo que este Congreso, patrocina<strong>do</strong><br />

por el Instituto Max-Planck de Derecho Penal extranjero e internacional<br />

de Friburgo de Brisgovia (Alemania), que sin duda abrirá unas perspectivas<br />

de estudio en los próximos años muy fructíferas. Con la Policía Judicial<br />

nos encontramos de lleno con uno de los aspectos que más llevan al<br />

difícil equilibrio, por inestable, en el que siempre se mueve el proceso<br />

penal, porque existe necesidad de garantizar una investigación eficaz,<br />

que en realidad únicamente puede conseguir una Policía bien organizada<br />

y auténticamente profesionalizada, y sin embargo ella, mero auxiliar en el<br />

proceso penal, no puede llevar formalmente la dirección de la<br />

investigación, que necesariamente ha de corresponder o a un Fiscal o a<br />

un Juez por fuerza de la Ley. Y ese Juez o ese Fiscal necesitan a la<br />

Policía ineludiblemente para poder cumplir con esa dirección.<br />

Gráficamente decía el gran jurista alemán KERN que la Fiscalía sin la<br />

Policía es como una cabeza sin manos, no puede actuar sin ella. Pero<br />

esto implica un riesgo permanente de colisión o, lo que es peor, que una<br />

parte, la profesional (el auxiliar), se acabe imponine<strong>do</strong> en realidad a la<br />

otra, la técnica (el jefe).<br />

El peligro no sólo de una investigación ineficaz, sino también de<br />

otros males mayores, como el de impunidad o de corrupción policial,<br />

está en el fon<strong>do</strong> de esta cuestión, puesto que ni el sistema legal<br />

considera<strong>do</strong> en la abstracción de la ley ni su práctica deben tolerar que<br />

la investigación real descanse en manos de la Policía. No se nos oculta


200<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

la tremenda oposición que por parte del Poder político existe y existirá<br />

en esta cuestión, pero hay que conseguirlo a toda costa si queremos<br />

que exista en nuestros países una verdadera Justicia Penal. Para ello<br />

habrá que empezar por establecer normas de responsabilidad de la<br />

Policía claras y facilitar prudentemente a los ciudadanos su exigibilidad,<br />

y luego habrá que crear un cuerpo auténtico de Policía Judicial,<br />

desvinculada del Poder ejecutivo. Aquí las diferencias entre los diferentes<br />

países son abismales y se me antoja muy complicada en estos<br />

momentos una unificación en este senti<strong>do</strong>, salvo aspectos concretos<br />

en que la colaboración internacional ya es una realidad fructífera.<br />

La actuación principal de la Policía Judicial se circunscribe a la<br />

fase de investigación del proceso penal, como es obvio, al ser su función<br />

más importante investigar los delitos. Su formación jurídica es por tanto<br />

un deber ineludible del Esta<strong>do</strong>, porque de la corrección de su actuación<br />

jurídica, independientemente del alto gra<strong>do</strong> de preparación técnica<br />

exigi<strong>do</strong>, dependerá el éxito de la investigación. Ella debe saber<br />

indubitadamente cuán<strong>do</strong> puede actuar y cuán<strong>do</strong> no (prueba prohibida),<br />

cuán<strong>do</strong> puede detener y cuán<strong>do</strong> no (detención ilegal, habeas corpus),<br />

cómo debe investigar (prueba inútil), qué enfoque táctico debe dar a<br />

su actuación frente a la macrodelincuencia organizada (policía<br />

infiltra<strong>do</strong>, testigos de auditur, actos complejos), y cuáles son los límites<br />

de su actuación frente a determina<strong>do</strong>s actos garantiza<strong>do</strong>s muy<br />

importantes (escuchas telefónicas, injerencias corporales, entradas<br />

y registros en morada ajena, etc.). El más mínimo error en estas<br />

cuestiones puede significar el fracaso total de la investigación, el<br />

fracaso más rotun<strong>do</strong> del Esta<strong>do</strong> de Derecho en suma.<br />

Y si atendemos a los países que ahora nos preocupan, la<br />

formación jurídica de la Policía deja mucho que desear, de ahí el grave<br />

peligro que se cierne sobre nuestras aspiraciones y las dificultades de<br />

unificación que ello plantea.<br />

C) La regulación de la toma de resoluciones que acuerden<br />

diigencias de investigación y su valor jurídico:<br />

El tercer y último gran tema que abordaré afecta a la relación esencial<br />

entre los resulta<strong>do</strong>s probatorios obteni<strong>do</strong>s como consecuencia de la<br />

investigación criminal, y su valor jurídico de cara a la sentencia que se


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 201<br />

dicte al final de la vista pública. Es un tema clave, poco estudia<strong>do</strong> y sobre<br />

el que la práctica pasa por encima generalmente, pero que afecta nada<br />

menos que al modelo de enjuiciamiento criminal que se quiere a<strong>do</strong>ptar.<br />

Los actos de investigación son los que se realizan en la fase<br />

preparatoria o preliminar del proceso penal para descubrir los hechos<br />

criminales que se han produci<strong>do</strong> y sus circunstancias, y la persona o<br />

personas que los hayan podi<strong>do</strong> cometer, de manera que una vez<br />

investiga<strong>do</strong> to<strong>do</strong> ello, se pueda proceder a formular una acusación o, al<br />

contrario, a terminar el proceso penal por sobreseimiento.<br />

Aun sien<strong>do</strong> conscientes de las diferencias terminológicas que existen<br />

entre los distintos países, pues en muchos de ellos se habla indistintamente<br />

de prueba, tanto si se refiere a la obtenida en la fase de instrucción como a<br />

la practicada en el juicio es conveniente distinguir, pues entre ambos actos,<br />

los de investigación y los de prueba, existen notables diferencias:<br />

1) El acto de investigación se dirige a averiguar algo que se<br />

desconoce, a fin de que se pueda realizar una afirmación sobre hechos<br />

criminales o posibles responsables; el acto de prueba se dirige a<br />

convencer al Juez de la verdad de una afirmación.<br />

2) El acto de investigación se realiza en el procedimiento preliminar;<br />

el acto de prueba, salvo los casos de prueba anticipada (v.gr., declaración<br />

de testigo en peligro de muerte), en el acto del juicio oral.<br />

3) La fundamental diferencia consiste en la distinta función que<br />

cumplen en el proceso: El acto de investigación, aunque dé resulta<strong>do</strong>s<br />

no ciertos sino probables, puede fundar por sí sólo una resolución<br />

judicial, puesto que se dirige a decidir si se puede abrir el juicio oral<br />

contra una persona o no; mientras que, en caso de duda, el acto de<br />

prueba no puede fundar la sentencia, resolvién<strong>do</strong>se en favor del acusa<strong>do</strong><br />

por aplicación del principio de la presunción de inocencia, pues para<br />

resultar condena<strong>do</strong> el acto de prueba debe producir resulta<strong>do</strong>s ciertos<br />

e irrefutables, da<strong>do</strong> que el fin de la prueba es precisamente proporcionar<br />

al Juez los datos fácticos que sirvan para fundar su sentencia.<br />

4) También existen diferencias por la forma de ejecutarlos, pues el<br />

acto de investigación puede practicarse sin contradicción si la investigación<br />

así lo exige, v.gr., por estar declara<strong>do</strong> el secreto; mientras que los actos de


202<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

prueba se deben practicar siempre con audiencia de todas las partes.<br />

Pues bien una unificación internacional en esta materia exigiría<br />

meritar que los actos de investigación no son prueba, pues prueba es el<br />

acto que se practica en la vista pública para convencer al Juez de una<br />

sentencia de culpabilidad o absolutoria; que el inculpa<strong>do</strong> debe intervenir<br />

generalmente por el principio de contradicción en la práctica de los actos<br />

de investigación; que el inculpa<strong>do</strong> tiene pleno derecho a proponer actos<br />

de investigación exculpatorios y a desvirtuar los inculpatorios; que el<br />

garantismo en la fase de investigación, necesario por otra parte ante la<br />

sanción de nulidad, entre otras, de actos de investigación prohibi<strong>do</strong>s o<br />

ilegales, no debe llevar a la ineficacia o inutilidad de la misma, por lo que<br />

es perfectamente admisible que se practiquen actos de investigación<br />

de oficio por el Juez o el Fiscal; y que, finalmente, sin perjuicio de una<br />

regulación correcta de los supuestos de prueba anticipada, se deben<br />

establecer los presupuestos para una lectura en la vista pública de<br />

diligencias de instrucción practicadas en la investigación que no puedan<br />

reproducirse, de manera que alcancen valor probatorio.<br />

III. TRES EJEMPLOS LABORIOSOS EN LOS QUE SE<br />

CONCRETAN POSIBILIDADES DE UNIFICACIÓN INTERNACIONAL.<br />

Las anteriores opiniones que me he atrevi<strong>do</strong> a exponer ante Vdes.,<br />

agradecién<strong>do</strong>les enormemente que me continúen prestan<strong>do</strong> atención,<br />

no han parti<strong>do</strong> sólo de una reflexión basada en deseos de lege ferenda,<br />

pues también he considera<strong>do</strong> experiencias de unificación internacional<br />

que se han produci<strong>do</strong>, con mayor o menor fortuna, o que están en curso<br />

de estudio para su efectiva implantación.<br />

Me referiré por ello a las propuestas del Código Procesal Penal<br />

Modelo para Iberoamérica de 1988; a la investigación en el proceso penal<br />

competencia del Tribunal Penal Internacional de acuer<strong>do</strong> con su Estatuto<br />

de 1998; y a los criterios estableci<strong>do</strong>s en la investigación del crimen contra<br />

los intereses financieros de la Unión Europea en la propuesta Corpus<br />

Iuris de 1997/99, como ejemplos más importantes. Al ser menos conocida<br />

esta última en América, me detendré especialmente en ella.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 203<br />

A) El Código Procesal Penal Modelo para Iberoamérica y el<br />

tipo de investigación propuesto:<br />

Constituye el primer intento importante de unificación en América<br />

Latina, en una época en que era absolutamente necesario tomar<br />

posición frente a los procesos penales inquisitivos, muy en boga por la<br />

afición que a ellos tenían los sangrientos dicta<strong>do</strong>res que por desgracia<br />

sufría desde hace tiempo la región.<br />

El Código Procesal Penal Modelo para Iberoamérica de 1988 tuvo<br />

un gran valor porque pretendió influir y realmente influyó en la reforma<br />

de los procesos penales de muchos países latinoamericanos. Partien<strong>do</strong><br />

del Código de Cór<strong>do</strong>ba (Argentina) de 1970, de inspiración italiana, tomó<br />

en cuenta otros modelos europeos, entre ellos España, y articuló un<br />

proceso penal que pretendía acentuar la forma acusatoria, con un juicio<br />

oral y público que le sirviera de colofón natural.<br />

La <strong>do</strong>ctrina reconoce de forma prácticamente unánime que este<br />

Código, sin embargo, ha queda<strong>do</strong> bastante desfasa<strong>do</strong> hoy, de manera<br />

que sus disposiciones sólo sirven ya de precedente histórico,<br />

probablemente porque en lo teórico las realidades que se derivan de un<br />

entendimiento más puro del principio acusatorio difícilmente tienen<br />

cabida en él (un Código modelo no se puede reformar), y porque se<br />

antoja difícil pensar que en cuanto a lo práctico fuera eficaz en la lucha<br />

contra la grave delincuencia que nos asola y en la resolución de los<br />

graves problemas con que se enfrenta el proceso penal actual.<br />

El Código modelo previó una investigación (procedimiento<br />

preparatorio) en manos del Fiscal, quien a su vez era el director de la<br />

Policía, subordinada a él, pero sin constituir una verdadera Policía Judicial.<br />

B) La investigación en el proceso penal competencia del<br />

Tribunal Penal Internacional:<br />

El segun<strong>do</strong> ejemplo que he de poner es mucho más reciente,<br />

pues data de 1998, y es el relativo al proceso penal que se prevé<br />

introducir para los gravísimos delitos contra la Humanidad y de guerra<br />

competencia del Tribunal («Corte» dicen Vdes.) Penal Internacional,<br />

crea<strong>do</strong> en Roma ese año, según su Estatuto propio.


204<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

La investigación del delito se otorga a la Fiscalía, pues la norma<br />

fundacional sigue el modelo procesal penal anglosajón (excepto en lo<br />

obvio, porque en estos procesos como es lógico no habrá Jura<strong>do</strong>). Rige<br />

por tanto el principio acusatorio puro y existe un juicio oral y público. Las<br />

Reglas de Procedimiento y Prueba, aprobadas en Nueva York en 2000,<br />

matizan las facultades instructorias del Fiscal y complementan las<br />

pertinentes disposiciones del Estatuto sobre esta materia.<br />

La instrucción puede comenzar por instancia de un Esta<strong>do</strong> parte<br />

o del Consejo de Seguridad, pero el Fiscal evalúa si hay fundamento<br />

razonable para ello observan<strong>do</strong> el cumplimiento de los requisitos de<br />

admisibilidad legalmente previstos, o de oficio por el propio Fiscal si<br />

considera que hay fundamento suficiente, pero en este caso la apertura<br />

del procedimiento la debe autorizar la Sala de Cuestiones Preliminares.<br />

En la investigación el Fiscal está obliga<strong>do</strong> a actuar objetivamente y<br />

a buscar la verdad. Actúa en régimen de monopolio, pues la víctima no<br />

puede ser parte en estos procesos, aunque goza de determinadas<br />

protecciones y derechos, como el de ser oída si pueden quedar afecta<strong>do</strong>s<br />

su intereses personales. El imputa<strong>do</strong> goza de amplios derechos,<br />

principalmente del de defensa, pudien<strong>do</strong> hacerlo personalmente.<br />

Finalmente diré que no existe Policía al servicio del Fiscal del<br />

Tribunal Penal Internacional, porque será la propia de cada Esta<strong>do</strong> en<br />

virtud del principio de cooperación, lo cual por la propia naturaleza de la<br />

estructura policial puede ser peor solución que la de crear un cuerpo<br />

propio. Veremos qué ocurre con el paso del tiempo.<br />

C) La investigación del crimen contra los intereses financieros<br />

de la Unión Europea en la propuesta Corpus Iuris:<br />

El Corpus Iuris es un proyecto de la Unión Europea para la<br />

protección penal y procesal penal de sus intereses financieros. Gesta<strong>do</strong><br />

en 1997, incluso antes, su texto de 1999 está sien<strong>do</strong> discuti<strong>do</strong> estos<br />

días. Constituye el intento de armonización del proceso penal europeo<br />

más serio probablemente, aunque su objeto se limite a la persecución<br />

del fraude y tutela del presupuesto de la Unión.<br />

El texto recoge un articula<strong>do</strong> armónico y unitario, en <strong>do</strong>nde se<br />

prevén los tipos penales básicos y las normas procedimentales mínimas


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 205<br />

atinentes a dicho fin, que se aplicaría en to<strong>do</strong>s los países de la Unión<br />

Europea, cuyas normas internas serían complementarias.<br />

Los aspectos clave de la regulación que ahora nos interesan<br />

afectan a la creación de un Ministerio <strong>Público</strong> europeo y a la organización<br />

de la fase de investigación:<br />

1) El Ministerio <strong>Público</strong> Europeo: Es la novedad esencial<br />

probablemente. El órgano acusa<strong>do</strong>r será en principio el Fiscal europeo,<br />

en régimen de monopolio y totalmente independiente. Estará al frente<br />

el Fiscal General Europeo y tendrá bajo su man<strong>do</strong> a los Fiscales<br />

Europeos Delega<strong>do</strong>s y a los Fiscales nacionales.<br />

Las autoridades nacionales están obligadas a colaborar con la<br />

Fiscalía europea, que puede incluso delegar provisionalmente la ejecución<br />

de determinadas materias en ellas, lo cual afecta especialmente a la<br />

Policía. Pero, obsérvense las dificultades de unificación sólo en 15 países<br />

europeos, que sea una figura totalmente independiente va a plantear<br />

problemas de constitucionalidad en algunos países, como por ejemplo<br />

España, en <strong>do</strong>nde la Fiscalía está en relación jerárquica dependiente del<br />

Gobierno (Ministerio de Justicia) desde un punto de vista orgánico.<br />

De entre sus funciones, que asumen cualquiera de sus miembros,<br />

la más importante es la de ser el responsable de la investigación criminal<br />

dirigien<strong>do</strong> la persecución penal, lo cual planteará también problemas<br />

en aquellos países (como España) en los que instruye un Juez.<br />

2) La fase de investigación: Se denomina legalmente «fase<br />

preparatoria». Lo curioso es que el procedimiento en esta fase es<br />

europeo, no nacional (a diferencia de la vista pública que tiene lugar<br />

ante un tribunal nacional), y es además secreto, lo que también planteará<br />

problemas de ajuste a la <strong>do</strong>ctrina constitucional en algún país europeo,<br />

como España, en <strong>do</strong>nde el principio de contradicción se defiende de<br />

manera incluso hipergarantista.<br />

La puesta en marcha de la investigación se debe a denuncia, o<br />

comunicación equivalente, de la existencia de un hecho punible de los<br />

tipifica<strong>do</strong>s en el Corpus Iuris, formulada por una autoridad nacional<br />

(Policía, Fiscalía, Juez de Instrucción o una autoridad interna fiscal o de


206<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

aduanas), por una autoridad europea, por un ciudadano, o por queja de<br />

la Comisión europea.<br />

La regulación de los actos de investigación pretende alcanzar un<br />

equilibrio entre los países de tradición inquisitoria, es decir, <strong>do</strong>nde todavía<br />

instruye un Juez (Benelux, Francia y España), y los de sistema acusatorio,<br />

en <strong>do</strong>nde instruye un Fiscal (los demás): Por un la<strong>do</strong>, el Fiscal tendrá<br />

atribui<strong>do</strong> el monopolio de la investigación, que conducirá en función de la<br />

solidez de las pruebas (modelo inquisitivo), y por otro un Juez controlará<br />

la legalidad de esa investigación y el respeto a los derechos fundamentales<br />

de las medidas en ella acordadas (modelo acusatorio).<br />

La técnica consiste en atribuir al Ministerio <strong>Público</strong> europeo<br />

ciertos poderes de investigación, a saber, dirección de la investigación,<br />

coordinación de la investigación y avocación de casos, to<strong>do</strong> ello con<br />

el fin de permitir hallar la verdad y meritar si el asunto debe ser lleva<strong>do</strong><br />

a juicio, debien<strong>do</strong> recogerse tanto lo que beneficie como lo que<br />

perjudique al imputa<strong>do</strong>.<br />

Los actos que puede practicar el Fiscal, mezclán<strong>do</strong>se actos de<br />

investigación y medidas cautelares, son los siguientes: a) Interrogatorio<br />

del acusa<strong>do</strong>; b) Recogida de <strong>do</strong>cumentos y datos informatiza<strong>do</strong>s; c)<br />

Solicitud al Juez de las Libertades para que nombre un perito; d)<br />

Solicitud al Juez para que autorice registros, embargos y escuchas<br />

telefónicas, así como su ejecución en caso positivo; e) Interrogatorio<br />

de testigos; f) Imputación de los cargos al acusa<strong>do</strong>; y g) Solicitud al<br />

Juez de las Libertades de la orden de detención, o de puesta bajo<br />

control judicial (obsérvese que la detención es ordenada por el Fiscal<br />

europeo, pero controlada por el Juez de las Libertades).<br />

Concluida la fase de investigación, el Fiscal europeo tiene<br />

posibilidad de ofrecer alternativas a la persecución penal: a)<br />

Trasla<strong>do</strong> de las actuaciones a las autoridades nacionales, para que<br />

ellas continúen el procedimiento, cuan<strong>do</strong> los hechos no revistan<br />

especial gravedad; b) Archivo de las actuaciones, en el supuesto<br />

de que el acusa<strong>do</strong> reconozca su culpabilidad, repare el daño<br />

causa<strong>do</strong> y restituya los fon<strong>do</strong>s irregularmente percibi<strong>do</strong>s; y c)<br />

Autorización para que la autoridad nacional que haya solicita<strong>do</strong> la<br />

persecución pueda negociar.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 207<br />

CONCLUSIONES<br />

Es hora ya de concluir. Queda, como creo que se desprende<br />

diáfanamente de mis palabras, mucho por hacer, porque no estamos a<br />

pesar de las numerosas coincidencias ante el mismo tipo de proceso<br />

penal en to<strong>do</strong>s los países democráticos. Sabemos y queremos que el<br />

proceso se base en el principio acusatorio, y que el juicio sea oral y<br />

público, pero aun contan<strong>do</strong> con la aceptación de estos principios,<br />

nuestros procesos son todavía muy diferentes.<br />

Creo por otra parte que queda también claro que, para la mejora<br />

de nuestros propios sistemas y el logro desde la base de pautas seguras<br />

de una futura unificación, el méto<strong>do</strong> de copiar sistemas o de transplante<br />

mimético de los mismos, no es ni bueno ni aceptable. Las cosas que<br />

funcionan en un país no tienen por qué funcionar en otro. Además, plagiar<br />

significa siempre obviar las peculiaridades propias, y ahí está la primera<br />

piedra del fracaso. Naturalmente, el estudio del Derecho compara<strong>do</strong><br />

siempre es útil, por lo que no copiar no debe significar en ningún caso<br />

no observar o no estudiar lo que sucede en otros países, sobre to<strong>do</strong> si<br />

son importantes jurídicamente.<br />

Pienso que la unificación del proceso penal pasa, pues, por el<br />

reconocimiento de los siguientes hitos en cada uno de los Esta<strong>do</strong>s, que<br />

resumo toman<strong>do</strong> en consideración el hilo de la exposición que estoy a<br />

punto de concluir:<br />

1) Existencia de un Poder Judicial verdaramente independiente e<br />

imparcial; de una Fiscalía o Ministerio <strong>Público</strong> no dependiente del<br />

Gobierno; y de una Policía Judicial profesional, al servicio de la Justicia<br />

y responsable ante los ciudadanos; to<strong>do</strong>s ellos articula<strong>do</strong>s en estable<br />

equilibrio en la fase de investigación del proceso penal;<br />

2) Amplio reconocimiento legal y efectiva tutela en la práctica de<br />

los derechos del inculpa<strong>do</strong>, particularmente del derecho de defensa,<br />

específicamente durante la instrucción, sin más límites que los que las<br />

exigencias naturales de la investigación aconsejen;<br />

3) Regulación uniforme de la posición de la víctima en el proceso<br />

penal, esencialmente por su importancia en la fase de investigación,


208<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

pues en ella su intervención es decisiva; y<br />

4) Dotación de valor jurídico distinto a los actos de investigación,<br />

cuya eficacia probatoria es nula, limitán<strong>do</strong>se exclusivamente a servir<br />

para afrontar correctamente la decisión de si debe abrirse la vista pública<br />

contra el inculpa<strong>do</strong> o, al contrario, debe archivarse la causa, pero<br />

establecien<strong>do</strong> claramente dentro de ellos los méto<strong>do</strong>s prohibi<strong>do</strong>s, cuya<br />

constatación debe dar lugar a la nulidad absoluta.<br />

Cuan<strong>do</strong> esos puntos esenciales se cumplan en to<strong>do</strong>s y cada uno<br />

de nuestros países, estaremos en condiciones idóneas de afrontar la<br />

anhelada unificación. Antes, sería temerario.<br />

Ni que decir tiene que nada de lo dicho sirve si al mismo tiempo<br />

no gozamos en lo sustantivo de un Código Penal moderno y adapta<strong>do</strong><br />

a las necesidades de nuestra Sociedad, al que el proceso penal que<br />

queremos sirva necesariamente de fluí<strong>do</strong> cauce de aplicación.<br />

ORIENTACIÓN BILIOGRÁFICA<br />

El texto anterior es el que se corresponde con la conferencia<br />

pronunciada en el Congreso internacional indica<strong>do</strong>. Para su exigida<br />

publicación no he considera<strong>do</strong> necesario intercalar notas, porque<br />

irremediablemente se perdería el hilo expositor pergeña<strong>do</strong>. Por ello,<br />

además de dividir el trabajo en epígrafes tras un sumario indicativo, a<br />

efectos de facilitar su lectura, adjunto un índice bibliográfico orientativo,<br />

que considero satisfactorio para el lector que desee ampliar alguno o<br />

algunos de los temas trata<strong>do</strong>s. Es, en definitiva, el que yo he consulta<strong>do</strong><br />

para la preparación de mi intervención pública.<br />

Juan-Luis Gómez Colomer,<br />

Professor, Doutor, Catedrático de Derecho Procesal<br />

Universidad Jaime I de Castellón (Espanha)


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 209<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

1. Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s de Norteamérica y Reino Uni<strong>do</strong>:<br />

- ABRAHAM H. J., The Judicial process. An introductory analysis of the Courts of the United<br />

States, Engaland and France (6.ª ed.), Ed. Oxford University Press, New York-Oxford 1993<br />

- BAUM, L., American Courts. Process and policy (4.ª ed.), Ed. Houghton Mifflin Co.,<br />

Boston 1998<br />

- BAUM, L., El Tribunal Supremo de los Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s de Norteamérica (trad. de<br />

QUERALT JIMENEZ y RUIZ MORENO), L. Bosch, Barcelona 1987<br />

- BURNHAM, W., Introduction to the legal system of the United States, Ed. Nest<br />

Publishing Co., St Paul, MINN 1995<br />

- CARP, R. A./STIDHAM, R., The Federal Courts, Ed. Congressional Quartely Inc.,<br />

Washington, D.C. 1985<br />

- CHIESA APONTE, E. L., Derecho Procesal de Puerto Rico y Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, Ed.<br />

Forum, Bogotá 1995<br />

- FANCHIOTTI, V., Lineamenti del processo penale statunitense. Corso di Lezioni, Ed.<br />

Giappichelli, Torino s/f<br />

- FLETCHER, G. P., En defensa propia, Ed. Tirant lo Blanch, Valencia 1992<br />

- FLETCHER, G.P., Las víctimas ante el Jura<strong>do</strong>, Ed.Tirant lo Blanch, Valencia 1997<br />

- HENDLER, E. S., Derecho Penal y Procesal Penal de los Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, Ed. Ad-<br />

Hoc, Buenos Aires 1996<br />

- HOOD PHILLIPS, O. / JACKSON, P., Constitutional and Administrative Law (7.ª ed.),<br />

Ed. Sweet & Maxwell, Lon<strong>do</strong>n 1993<br />

- LAFAVE, W. R./ISRAEL, J. H./KING, N. J., Criminal Procedure (3.ª ed.), Ed. West<br />

Publishing Co., St. Paul, MINN 2000<br />

- LILLY, G.C., An introduction to the Law of Evidence (3.ª ed.), Ed. West Publishing Co.,<br />

St. Paul, MINN 1996<br />

- NESI, G., Accusa e difesa nel procedimento penale inglese, Ed. Giuffrè, Milano 1972<br />

- PASTOR LOPEZ, M., El proceso penal inglés (Estudio comparativo de sus directrices<br />

fundamentales), Revista de Derecho Procesal 1967, núm. I y II<br />

- PURSLEY, R. D., Introduction to Criminal Justice (6.ª ed.), Ed. MacMillan Publishing<br />

Co., New York 1994<br />

- SCAPARONE, M., Common Law e processo penale, Ed. Giuffrè, Milano 1974.<br />

- SCHMID, N., Das amerikanische Strafverfahren. Eine Einführung, Ed. C.F. Müller,<br />

Heidelberg 1986<br />

- SPRACK, J., Criminal procedure (7.ª ed.), Ed. Blackstone, Lon<strong>do</strong>n 1997<br />

- STUCKEY/ROBERSON/WALLACE, Procedures in the Justice system (5? ed.), Ed.<br />

Prentice Hall, 5th ed., Saddle River, New Yersey 1998<br />

- WEIGEND, Th., Funktion und Tätigkeit der Staatsanwaltschaft in den U.S.A., en<br />

JESCHECK / LEIBINGER, «Funktion und Tätigkeit der Anklagebehörden im


210<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

ausländischen Recht», Ed. Nomos, Baden-Baden 1979<br />

- WEINREB, L. L., Criminal process. Cases, comment, questions, Ed. Foundation<br />

Press, New York 1998<br />

- WHITEBREAD, C. H./SLOBOGIN, C., Criminal Procedure. An analysis of cases and<br />

concepts (4.ª ed.), Ed. Foundation Press, New York 2000<br />

2. España:<br />

- ANDRES IBAÑEZ/CONDE-PUMPIDO/FERNANDEZ ENTRALGO/PEREZ MARIÑO/<br />

VARELA CASTRO, La reforma del proceso penal, Ed.Tecnos, Madrid 1990<br />

- ARMENTA DEU, T., Criminalidad de bagatela y principio de oportunidad: Alemania<br />

y España, Ed. PPU, Barcelona 1991<br />

- ARMENTA DEU, T., Principio acusatorio y Derecho Penal, Bosch, Barcelona 1995<br />

- ARMENTA DEU, T., Principio acusatorio: realidad y utilización (lo que es y lo que no),<br />

Revista de Derecho Procesal 1996, núm. 2, págs. 265-291<br />

- AROZAMENA SIERRA, J., Las garantías judiciales en la jurisprudencia constitucional,<br />

Poder Judicial, núm. 35, págs. 21-42<br />

- ASENCIO MELLADO, J. M., Principio acusatorio y derecho de defensa, Ed. Trivium,<br />

Madrid 1991<br />

- ASHWORTH, A., Principles of Criminal Law (2.ª ed.), Claren<strong>do</strong>n Press, Oxford 1996<br />

- BARONA VILAR, S., La conformidad en el proceso penal, Ed. Tirant lo Blanch,<br />

Valencia 1994<br />

- BERZOSA, V., Principios del proceso, Justicia 92, págs. 553-620<br />

- CABAÑAS GARCIA , J. C., El proceso penal español ante una perspectiva de justicia<br />

penal negociada, Revista de Derecho Procesal 1991, núm. 2, 231-298<br />

- CABEZUDO RODRIGUEZ, N., El Ministerio <strong>Público</strong> y la justicia negociada en los<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s de Norteamérica, Ed. Comares, Granada 1996<br />

- CONDE-PUMPIDO FERREIRO, C., Las líneas inspira<strong>do</strong>ras de la reforma de la Ley<br />

de Enjuiciamiento Criminal, Poder Judicial 1982, núm. 4, págs. 27-32<br />

- CONDE-PUMPIDO FERREIRO, C., El modelo postconstitucional del Ministerio Fiscal<br />

en España, Poder Judicial núm. 27, págs. 1-20<br />

- DE DIEGO DIEZ, L. A., El principio «el que instruye no debe juzgar» como garantía de la<br />

imparcialidad en el Enjuiciamiento penal, Poder Judicial núm. 8, págs 9-26<br />

- DE DIEGO DIEZ, L. A., El control judicial sobre la conformidad del acusa<strong>do</strong>, Poder<br />

Judicial núm. 23, págs. 33-62<br />

- DE DIEGO DIEZ, L. A., El derecho a la tutela judicial efectiva en la sentencia penal:<br />

los principios acusatorio y de contradicción, Justicia 88, págs. 103-138<br />

- DE DIEGO DIEZ, L.. A., La conformidad del acusa<strong>do</strong>, Tirant lo Blanch, Valencia 1997<br />

- DE LA OLIVA SANTOS, A., Disponibilidad del objeto, conformidad del imputa<strong>do</strong> y<br />

vinculación del Tribunal a las pretensiones en el proceso penal, Revista General del<br />

Derecho 1992, págs. 9853-9903<br />

- DEL MORAL GARCIA, A., El derecho a ser informa<strong>do</strong> de la acusación en el<br />

procedimiento abrevia<strong>do</strong> para determina<strong>do</strong>s delitos, Actualidad Penal 1989, núm.<br />

13, págs. 649-677


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 211<br />

- GOMEZ COLOMER, J. L., El proceso penal especial ante el Tribunal del Jura<strong>do</strong>, Ed.<br />

Civitas, Madrid 1996<br />

- GOMEZ COLOMER, J.L., La instrucción del proceso penal por el Ministerio Fiscal:<br />

Aspectos estructurales a la luz del Derecho compara<strong>do</strong>, en Gómez Colomer y González<br />

Cussac (coordina<strong>do</strong>res), «La reforma de la Justicia Penal. Estudios en homenaje al<br />

Prof. Klaus Tiedemann», Ed. Universidad Jaume I, Castellón 1997, págs. 459-496<br />

- GOMEZ COLOMER, J. L., La procedure pénale face au principe accusatoire: La<br />

position a<strong>do</strong>ptée par la Ministère Public en Espagne et dans les principaux pays<br />

Latino-Américains. Influences Européennes et Nord Américaines, En Revue du Droit<br />

Pénal (vol. 68), págs. 61-82<br />

- GOMEZ COLOMER, J.L., La protección procesal penal de la Unión Europea en<br />

materia de lucha contra el fraude (el Proyecto Corpus Iuris), Revista de Derecho<br />

Penal y Criminología (España) 2000, núm. 6, págs. 139 a 176<br />

- GOMEZ COLOMER, J.L., Das Ermittlungsverfahren in Spanien, Zeitschrift für die<br />

gesamte Strafrechtswissenschaft, Band 112 (2000), Heft 1, págs. 135 a 156; el<br />

original se ha publica<strong>do</strong> en español en la Revista Brasileira de Ciências Criminais,<br />

con el título La instrucción del proceso penal en España y los derechos del imputa<strong>do</strong>,<br />

<strong>2001</strong>, núm. 34, págs. 26 a 43.<br />

- GOMEZ ORBANEJA, E., Comentarios a la Ley de Enjuiciamiento Criminal, Ed. Bosch,<br />

Barcelona 1947-1951<br />

- GONZALEZ-CUELLAR SERRANO, N., Proporcionalidad y derechos fundamentales<br />

en el proceso penal, Ed. Colex, Madrid 1990<br />

- GONZALEZ-CUELLAR/HERNANDEZ/PAZ/RODRIGUEZ RAMOS/TOME, Ley de<br />

Enjuiciamiento Criminal (Concordancias y comentarios) (3.ª), Colex, Madrid 1993<br />

- GUTIERREZ DE CABIEDES, E., Correlación entre acusación y sentencia, en<br />

«Estudios de Derecho Procesal», Ed. Eunsa, Pamplona 1974<br />

- MARTINEZ ARRIETA, A., Principio acusatorio: teoría general y aplicación práctica, en<br />

«Los Principios del Proceso Penal», Cuadernos de Derecho Judicial, CGPJ, Madrid<br />

1992, págs. 53-102<br />

- MARTINEZ ARRIETA, A., La nueva concepción jurisprudencial del principio acusatorio,<br />

Ed. Comares, Granada 1994<br />

- MONTERO AROCA, J., Introducción al Derecho Procesal (Jurisdicción, acción y<br />

proceso) (20 ed.), Ed. Tecnos, Madrid 1979<br />

- MONTERO AROCA, J., El principio acusatorio. Un intento de aclaración conceptual,<br />

Justicia 92, págs. 776-788<br />

- PICO I JUNOY, J., Las garantías constitucionales del proceso penal, Ed. Bosch,<br />

Barcelona 1997<br />

- PLANCHADELL GARGALLO, A., El derecho fundamental a ser informa<strong>do</strong> de la<br />

acusación, Ed. Tirant lo Blanch, Valencia 1999.<br />

- RAMOS MENDEZ, F., El proceso penal. Lectura constitucional (6.ª ed.), Ed. Bosch,<br />

Barcelona 2000<br />

- RIVAS CARRERAS, V. R., El planteamiento de la tesis por el Tribunal: art. 733 de la


212<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

Ley de Enjuiciamiento Criminal en la ley y en la jurisprudencia, Revista Jurídica de<br />

Cataluña 1992-2, págs. 163-174<br />

- ROMERO COLOMA, A., Alcance de los principios del proceso penal español a la luz<br />

del ordenamiento constitucional, Actualidad Penal 1995-1, núms., 297-316<br />

- RUIZ VADILLO, E., El principio acusatorio y su proyección en la <strong>do</strong>ctrina jurisprudencial<br />

del Tribunal Constitucional y Tribunal Supremo, Ed. Aranzadi, Madrid 1994<br />

- RUIZ VADILLO, E., Algunas consideraciones sobre el sistema acusatorio y la<br />

interdicción constitucional de toda indefensión en el proceso penal, La Ley 1987-4,<br />

págs. 873-888<br />

- SANCHIS CRESPO, C., El Ministerio Fiscal y su actuación en el proceso penal<br />

abrevia<strong>do</strong>. Especial referencia al procedimiento preliminar, Comares, Granada 1995<br />

- SOTO NIETO, F., Correlación entre acusación y sentencia. La tesis del artículo 733<br />

de la Ley de Enjuiciamiento Criminal, Ed. Montecorvo, Madrid 1979<br />

- VAZQUEZ SOTELO, J. L., El principio acusatorio y su reflejo en el proceso penal<br />

español, Revista Jurídica de Cataluña 1984, núm. 2, págs. 374-410<br />

- VERGER GRAU, J., La defensa del imputa<strong>do</strong> y principio acusatorio, Ed. Bosch,<br />

Barcelona 1994<br />

- VIVES ANTON, T., La reforma del proceso penal, Tirant lo Blanch, Valencia 1992<br />

3. Alemania:<br />

- BAUMANN, J., Grundbegriffe und Verfahrensprinzipien des Strafprozeßrecht (3.ª<br />

ed.), Ed. Kohlhammer, Stuttgart 1979<br />

- BEULKE, W, Strafprozeßrecht, Ed. C.F. Müller, Heidelberg 1994<br />

- DAHS, H., Das rechtliche Gehör im Strafprozeß, Ed. Beck’s, Munich 1965<br />

- ESER, A., Einführung in das Strafprozeß, Ed. C.H. Beck, Munich 1993<br />

- FEZER, G., Strafprozeßrecht (2.ª ed.) Ed. C.H. Beck, Munich 1995<br />

- FEZER/REINER, KMR Kommentar zur Strafprozeßordnung und zum<br />

Grundesverfassungsgerichtsgesetz, Ed. Stoyschoff, Darmstadt 1995<br />

- GOMEZ COLOMER, J. L., El proceso penal alemán. Introducción y normas básicas,<br />

Ed. Bosch, Barcelona 1985<br />

- GÖSSEL, K. H., Strafverfahrensrecht, Ed. Kohlhammer, Stuttgart 1977<br />

- HASSEMER, W., Reihe Alternativkommentar. Kommentar zur Strafprozeßordnung in<br />

drei Bänden, Ed. Luchterhand, Berlín 1993<br />

- KERN, E., Gerichtsverfassungsrecht, Ed. C.H. Beck, München 1965<br />

- KLEINKNECHT, Th./MEYER, K./MEYER-GOßNER, L., Strafprozeßordnung. Mit GVG<br />

und Nebengesetzen (43.ª ed.), Ed. Beck, Munich 1997<br />

- KRAMER, B., Grundbegriffe des Verfahrensrechts: Ermittlung und Verfahren (3.ª<br />

ed.), Ed. Kohlhammer, Stuttgart 1997<br />

- KREY, V., Strafverfahrensrecht, Ed. Kohlhammer, Stuttgart 1988<br />

- KÜHNE, H., Strafprozeßlehre (4.ª ed.), Ed. C.F. Müller, Heidelberg 1993<br />

- LÖWE, E./ROSENBERG, L., Die Strafprozeßordnung und das


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 213<br />

Gerichtsverfassungsgesetz. Großkommentar (24.ª), W. de Gruyter, Berlín-New York 1988<br />

- PEDRAZ PENALVA, E., La reforma procesal penal de la R. F. de Alemania, Revista de<br />

Derecho Procesal 1976, núm. 2-3, págs. 647-701<br />

- PETERS. K., Strafprozeß. Ein Lehrbuch (4.ª ed.), Ed. C.F. Müller, Heidelberg 1985<br />

- PFEIFFER, G. (editor), Karlsruher Kommentar zur Strafprozeßordnung (3.ª ed.), Ed.<br />

C.H. Beck, Munich 1993<br />

- PFEIFFER, G., Grundzüge des Strafverfahrensrecht, C.H. Beck, Munich 1987<br />

-PFEIFFER/FISCHER,Strafprozeßordnung. Gerichtsverfassungsgesetz (2? ed.), Ed.<br />

Beck’sche, Munich 1999<br />

- RANFT, O., Strafprozeßrecht (2.ª ed.), Ed. Boorberg, Munich 1995<br />

- ROXIN/ARZT/TIEDEMANN, Einführung in das Strafrecht und Strafprozeßrecht (3.ª<br />

ed.), Ed. C.F. Müller, Heidelberg 1994, traduci<strong>do</strong> al español bajo el título Introducción<br />

al derecho penal y al derecho penal procesal, notas y comentarios de los profesores<br />

ARROYO ZAPATERO y GOMEZ COLOMER, Ed. Ariel, Barcelona 1989<br />

- ROXIN, C, Strafverfahrensrecht (25? ed.), Ed. C.H. Beck, Munich 1998, traduci<strong>do</strong> al<br />

español bajo el título Derecho Procesal Penal por CORDOBA, G. y PASTOR, D., bajo<br />

la supervisión de MAIER, Ed. del Puerto, Buenos Aires 2000<br />

- RUDOPHI/FRISCH/ROGALL/SCHLÜCHTER/WOLTER, StPO und GVG<br />

Systematisches Kommentar, Ed. Metzner, Berlín 1996<br />

- RÜPING, H., Das Strafverfahren (2.ª ed.), Ed. Vahlen, Berlín 1983<br />

- SCHÄFFER, K., Strafprozeßrecht. Eine Einführung, W. de Gruyter, Berlín 1976<br />

- SCHRÖEDER, F., Strafprozeßrecht, Ed. C.H. Beck, Munich 1993<br />

- VOLKER; K., Strafverfahrensrecht, Ed. Kohlhammer, Stuttgart 1990<br />

- ZIPF, H., Strafprozeßrecht, Ed. W. de Gruyter, Berlín 1996<br />

4. Italia:<br />

- CARULLI / MASSA / ESPOSITO / PALUMBO, Lineamenti del nuovo processo penale,<br />

Ed. Jovene, Napoli 1993<br />

- CORDERO, F., Procedura Penale (20 ed.), Ed. Giuffrè, Milano 1993<br />

- CHIAVARIO, M., La riforma del processo penale. Appunti sul nuovo Codice (2.ª ed.),<br />

Ed.- Utet, Turín 1990<br />

- DALIA / FERRAIOLI, Corso de Diritto Processuale Penale, Cedam, Pa<strong>do</strong>va 1992<br />

- FORTUNA / DRAGONE / FASSONE / GIUSTOZZI / PIGNATELLI, Manuale Pratico del<br />

Nuovo Processo Penale (3.ª ed.), Ed. Cedam, Pa<strong>do</strong>va 1993<br />

- NAPPI, A., Guida al nuovo Codice di Procedura Penale, Ed. Giuffrè, Milán 1992<br />

- PISANI / MOLARI / PERCHINUNNO / CORSO, Appunti di Procedura Penale, Ed.<br />

Monduzzi, Bolonia 1992<br />

5. Portugal:<br />

- DA COSTA PIMENTA, Introduçao ao Processo Penal, Almedina, Coimbra 1989<br />

- DE FIGUEIREDO DIAS, J., Sobre os sujeitos processuais no novo Codigo de<br />

Processo Penal, en «Jornadas de Direitto Processual Penal. O novo Código de


214<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

Processo Penal», Ed. Almedina, Coimbra 1991<br />

- LOPES MAIA GONÇALVES, Código de Processo Penal anota<strong>do</strong> (60 ed.), Ed.<br />

Almedina, Coimbra 1994<br />

6. Francia:<br />

- KERNALEGUEN, F., Institutions judiciaires, Ed. Litec, París 1994<br />

- LARGUIER, J., La procédure pénale (8? ed.), Ed. Presses Universitaires de France,<br />

que sais-je, París 1994<br />

- ROZÈS, S., Le Juge d’Instruction, en «Strafrecht, Unternehmensrecht, Anwaltsrecht.<br />

Festschrift für Gerd Pfeiffer zum Abschied aus dem Amt als Präsident des<br />

Bundesgerichtshofes» (coordina<strong>do</strong> por VON GAMM, RAISCH y TIEDEMANN), Ed. C.<br />

Heymanns, Köln-Berlin-Bonn-München 1988<br />

- STEFANI, G. / LEVASSEUR, G. / BOULOC, B., Procédure Pénale (160 ed.), Ed.<br />

Dalloz, París 1996<br />

7. América Latina (selección):<br />

- AA. VV., Una oportunidad para reflexionar. XXV aniversario del Ministerio <strong>Público</strong>, Ed.<br />

Poder Judicial, San José 2000<br />

- ALMAGRO NOSETE , J. (coord.), Códigos Procesal Civil y Procesal Penal, Modelos<br />

para Iberoamérica, Ed. Ministerio de Justicia, Madrid 1990<br />

- AMBOS, K. / CHOUKR, F.H., A reforma <strong>do</strong> processo penal no Brasil e na América<br />

Latina, Ed. Méto<strong>do</strong>, Sâo Paulo <strong>2001</strong><br />

- AMBOS, K. / WOISCHNIK, J., Las reformas procesales penales en América Latina,<br />

Justicia. Revista de Derecho Procesal 2000, núms. 2-3-4, págs. 427 y ss.<br />

- ARMIJO SANCHO, G., Garantías constitucionales, Prueba Ilícita y la Transición al<br />

nuevo Proceso Penal, Ed. Colegio de Aboga<strong>do</strong>s, San José 1997<br />

- ARMIJO SANCHO, G. / LLOBET RODRIGUEZ, J. / RIVERO SANCHEZ, J.M., Nuevo<br />

Proceso Penal y Constitución, Ed. IJSA, San José 1998<br />

- ATILIO FALCONE, R. / AUGUSTO MEDINA, M., El nuevo proceso penal en la provincia<br />

de Buenos Aires, Ed. Ad-Hoc, Buenos Aires 2000<br />

- BERMUDEZ, V.H. et als, La víctima en el proceso penal. Su régimen legal en Argentina,<br />

Bolivia, Brasil, Chile, Paraguay y Uruguay, Depalma, Buenos Aires 1997<br />

- BERTOLINO, P.J., El proceso penal en la Constitución de la provincia de Buenos<br />

Aires de 1994, Ed. Depalma, Buenos Aires 1996<br />

- BERTOLINO, P.J., Código Procesal Penal de la provincia de Buenos Aires (Ley 11.922)<br />

comenta<strong>do</strong> y concorda<strong>do</strong> (5.ª ed.), Ed. Depalma, Buenos Aires 1998<br />

- BERTOLINO, P.J., El Juez de Garantías en el Código Procesal Penal de la Provincia<br />

de Buenos Aires, Ed. Depalma, Buenos Aires 2000<br />

- BINDER, A.M., Introducción al Derecho Procesal penal (2.ª ), Ad-Hoc, Buenos Aires 2000<br />

- CHOUKR, F.H., Garantias constitucionais na investigaçâo criminal (2.ª ed.), Ed.<br />

Lumen Juris, Rio de Janeiro <strong>2001</strong><br />

- CRUZ CASTRO, F., La función acusa<strong>do</strong>ra en el proceso penal moderno, Ed. Ilanud,


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 215<br />

San José 1991<br />

- CUBAS VILLANUEVA, V., El proceso penal. Teoría y práctica (3.ª ed.), Ed. Palestra,<br />

Lima 1998<br />

- GARITA VILCHEZ, A. (coord.), El Ministerio <strong>Público</strong> en América Latina desde la<br />

perspectiva del Derecho Procesal Penal moderno. Bolivia, Colombia, Costa Rica,<br />

Ecua<strong>do</strong>r, Guatemala y Panamá, Ed. Ilanud, San José 1991<br />

- GARITA VILCHEZ, A. (coord.), La Defensa Pública en América Latina desde la<br />

perspectiva del Derecho Procesal Penal moderno. Bolivia, Colombia, Costa Rica,<br />

Ecua<strong>do</strong>r, Guatemala y Panamá, Ed. Ilanud, San José 1991<br />

- GONZALEZ ALVAREZ, D., Los diversos sistemas penales. Principales ventajas del<br />

sistema procesal mixto, Ed. Ilanud, San José 1988<br />

- GONZALEZ ALVAREZ, D., La oligatoriedad de la acción en el proceso penal<br />

costarricense. Notas sobre la función requirente del Minsiterio <strong>Público</strong>, Ed. IJSA, San<br />

José 1992<br />

- GONZALEZ ALVAREZ, D., (comp.), Reflexiones sobre el nuevo proceso penal, Ed.<br />

Mun<strong>do</strong> Gráfico, San José 1996<br />

- LEVENE, R. (hijo) et als, Código Procesal Penal de la Nación (Ley 23.984) comenta<strong>do</strong><br />

y concorda<strong>do</strong>, Ed. Depalma, Buenos Aires 1992<br />

- LLOBET RODRIGUEZ, J., La reforma procesal penal (un análisis comparativo<br />

latinoamericano-alemán), Ed. Corte Suprema - Escuela Judicial, San José 1993<br />

- MAIER, J.B., La investigación penal preparatoria del Ministerio <strong>Público</strong>. Instrucción<br />

sumaria o citación directa, Ed. Lerner, Buenos Aires - Cór<strong>do</strong>ba 1975<br />

- MAIER, J.B., Derecho Procesal Penal argentino (20ª), Ed. Hammurabi, B. Aires 1989<br />

- MAIER, J.B.J. et als, Juicio por Jura<strong>do</strong>s en el Proceso Penal, Ad-Hoc, B. Aires 2000<br />

- MAIER, J. / AMBOS, K. / WOISCHNIK, J., Las reformas procesales penales en América<br />

Latina, ed. Ad-Hoc, Buenos Aires 2000<br />

- MARTINEZ RAVE, G., Procedimiento penal colombiano (3.ª ed.), Temis, Bogotá 1984<br />

- SAN MARTIN CASTRO, C., Derecho Procesal penal, Ed.Grijley, Lima 1999<br />

- SANCHEZ ROMERO, C., Sistemas penales y Derechos Humanos, Ed. Conamaj,<br />

San José 1997<br />

- SUPERTI, H.C., Derecho Procesal Penal. Temas conflictivos, Iuris, Rosario 1998<br />

8. Procesos penales europeos compara<strong>do</strong>s (selección):<br />

- DELMAS-MARTY, M., Procesos penales de Europa, Edijus, Zaragoza 2000<br />

- DELMAS-MARTY, M./ CHIAVARIO, M., Procedure penali d’Europa, Cedam, Pa<strong>do</strong>va <strong>2001</strong><br />

- HENDLER, E.S., Sistemas Procesales Penales compara<strong>do</strong>s, Ad-Hoc, B. Aires 1999<br />

- MACIA GOMEZ, R. (director), Sistemas de Proceso Penal en Europa, Ed.<br />

Cedecs, Barcelona 1998


justicia justicia consensuada<br />

consensuada<br />

y y y proceso proceso penal<br />

penal<br />

richard vogler,<br />

director del centro de investigación de<br />

postgra<strong>do</strong> em estudios legales -<br />

universidad de sussex, inglaterra


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 219<br />

JUSTICIA CONSENSUADA Y PROCESO PENAL<br />

(CONSENSUAL DISPOSAL IN CRIMINAL PROCEDURE)<br />

Richard Vogler<br />

1. INTRODUCCIÓN<br />

Aunque soy consciente de que la tentación de abreviar o evitar el<br />

proceso penal por negociación es universal, es claramente prevalente<br />

en los sistemas de common law. Este <strong>do</strong>cumento, por tanto, enfocará<br />

el curioso fenómeno del anglo-americano charge/fact or plea bargain.<br />

Es curioso porque representa una para<strong>do</strong>ja a ciertos niveles. En un<br />

sistema comprometi<strong>do</strong> con la confrontación contradictoria representa<br />

acuer<strong>do</strong> y consenso. En un sistema construi<strong>do</strong> alrede<strong>do</strong>r de la<br />

presunción de inocencia presume culpabilidad. En un sistema<br />

comprometi<strong>do</strong> con la libre discusión de cuestiones en tribunal a puertas<br />

abiertas, es reserva<strong>do</strong>, burocrático, discrecional y casi inapelable.<br />

Finalmente, en un sistema que enfatiza los derechos del procesocon<br />

un fervor casi religioso destruye, al menos, cuatro de los Derechos<br />

Fundamentales y Libertades garantiza<strong>do</strong>s por la Convención Europea<br />

de Derechos Humanos (Ashworth 1998, pp. 286-92) y un número de<br />

derechos procedimentales consagra<strong>do</strong>s en la Constitución de los<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s (Alschuler 1983, p. 934). Algunos comentaristas han<br />

visto esta contradicción como un “fraude” (Langbein 1992, p. 120), como<br />

una trampa en sí misma ideológica (McBarnett 1980) o como una “crisis”<br />

seria de la representación en la justicia criminal (Dubber 1997). ¿Por<br />

qué entonces las gentes del mun<strong>do</strong> de common law, el Reino Uni<strong>do</strong>,<br />

los Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, Canadá, Australia, Nueva Zelanda y otros países<br />

de la Commonwealth1 aceptaron con entusiasmo un concepto que<br />

aparece completamente ajeno a sus más valoradas creencias? ¿Cuál<br />

es la atracción para los esta<strong>do</strong>s con sistema de Derecho Civil? Intentaré<br />

1 El plea bargaining es reconoci<strong>do</strong> como más frecuente e intenso en Canadá que en Australia y<br />

Nueva Zelanda, en los que opera un sistema no diferente al inglés


220<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

dar una respuesta a estas cuestiones explican<strong>do</strong> cómo funciona el<br />

sistema en el Reino Uni<strong>do</strong> y los Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, examinan<strong>do</strong> los<br />

intentos de importar el concepto dentro de la Europa continental y<br />

revisan<strong>do</strong> algunas de las violentas controversias que han teni<strong>do</strong> lugar<br />

en las últimas décadas. Concluiré intentan<strong>do</strong> edificarlas condiciones<br />

bajo las que un sistema de justicia negociada podría funcionar con éxito.<br />

2.JUSTICIA CONSENSUADA EN EL MUNDO DE COMMON LAW<br />

Puede ser útil empezar aclaran<strong>do</strong> algunos puntos acerca de la<br />

necesaria condición previa de la justicia consensuada en el sistema de<br />

common law: el guilty plea.<br />

Para nosotros, el guilty plea es el méto<strong>do</strong> principal en la gestión y<br />

disposición de un caso en los países de common law. En cierta medida,<br />

quizás no sea muy exagera<strong>do</strong> entender que nuestra justicia criminal es<br />

“consensuada” en su inmensa mayoría. Un estudio del Departamento<br />

de Justicia de los Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s publica<strong>do</strong> en 1999 mostró que el<br />

94% de las condenas actas de condena en los 75 principales conda<strong>do</strong>s<br />

de los Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s fueron obtenidas a través del guilty plea. El 20%<br />

de éstas procedían de delito grave2 . En Inglaterra y Gales, el 92% de<br />

1.8 millones de los acusa<strong>do</strong>s que comparecieron en los Magistrates’<br />

Courts (tribunales inferiores) se declararon culpables mientras que el<br />

73% de una cifra bastante inferior (97,000) lo hizo en los Crown Courts<br />

(tribunales superiores) 3 . Fuera del sistema de common law, la<br />

declaración de culpabilidad aparece para nuestros colegas como una<br />

monstruosa perversión de la justicia. ¿Cómo puede una condena<br />

legítima ser archivada en circunstancias <strong>do</strong>nde la prueba quizás no ha<br />

si<strong>do</strong> leída y mucho menos examinada o probada en tribunal a puertas<br />

abiertas por un juez independiente? Presión politica, soborno,<br />

discriminación o algunas otras prácticas sospechosas pueden darse en<br />

2 US Bureau of Justice Statistics (1999). Felony Defendants in arge Urban Counties (1996, p.5).<br />

3 Ashworth 1998, pp. 268-70; Home Office Research Development Statistics (2000). Cautions, Court<br />

Proceedings and Sentencing, England and Wales, Lon<strong>do</strong>n, HMSO; Criminal Justice Business<br />

Quarterly Reports 1999-2000, www.criminal.justice.system.gov.uk.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 221<br />

tales ocultas negociaciones. La crítica se ha expresa<strong>do</strong> con elocuencia<br />

en boca de un creciente numero de académicos y, de una manera notable,<br />

en Langbein (1979), Schulhoffer (1979, 1984) and Pizzi (1999) en los<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, que han manteni<strong>do</strong> una prolongada batalla y hecho<br />

enérgicas campañas contra la práctica, a menu<strong>do</strong> recurrien<strong>do</strong><br />

reiteradamente a las percibidas ventajas de un sistema legal civil<br />

“continental”. Sin embargo, la desconfianza hacia la supervisión judicial<br />

tiene una larga historia en el Reino Uni<strong>do</strong> y los Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s y el modelo<br />

“consensual”, dependiente de la desconfianza mutua entre el fiscal y la<br />

defensa, es aproba<strong>do</strong> y apoya<strong>do</strong> por la inmensa mayoría de aquéllos que<br />

aplican el sistema. Me gustaría presentar un caso en apoyo de la práctica<br />

y empezaré explican<strong>do</strong> brevemente como funciona.<br />

2.I. «PLEA BARGAINING EN INGLATERRA Y GALES»<br />

El plea bargaining en Inglaterra fue un producto del movimiento de<br />

confrontación que emergió en el Old Bailey (Tribunal Penal de Londres)<br />

a finales del siglo XVIII (Langbein, 1978; Landsman, 1983). De acuer<strong>do</strong><br />

con Feeley (1997), éste empezó a desarrollarse al principio como<br />

consecuencia de la presencia de aboga<strong>do</strong>s de la defensa en el Tribunal<br />

y las presiones crecientes de existencia de casos penales. Claramente,<br />

las posibilidades de negociación fueron estrictamente limitadas mientras<br />

el crimen fuera c apital pero el desarrollo de los gra<strong>do</strong>s en los diferentes<br />

niveles de castigo y la creacion de la penitenciaría proveyeron las<br />

necesarias condiciones para que éste creciera. Tanto confrontación<br />

como plea-bargain fueron producto de la Revolución Industrial inglesa y<br />

de la necesidad de inclinar el equilibrio politico en la sala del tribunal<br />

lejos de los jueces reales y hacia los representantes de las partes. Esta<br />

era un reflejo directo de la ideología y de las prácticas de la nueva<br />

economía comercial.<br />

Actualmente, en Inglaterra se dan diferentes casos de justicia<br />

consensuada. Un acusa<strong>do</strong> o su aboga<strong>do</strong> pueden discutir la desviación<br />

del proceso por la via de una caucion (Ashworth 1998, pp. 152-62). En<br />

segun<strong>do</strong> lugar, un demanda<strong>do</strong> que ha si<strong>do</strong> acusa<strong>do</strong> de un delito puede<br />

negociar un “Charge Bargain” (negociacion de cargos). Hay <strong>do</strong>s formas


222<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

de charge bargain. Cuan<strong>do</strong> hay varias acusaciones, el proceso puede<br />

aceptar un guilty plea para una o más a cambio de anular las demás.<br />

Otra posibilidad tiene lugar cuan<strong>do</strong> un delito posee una alternativa menos<br />

grave incluida (tal como homicidio sin premeditación por asesinato,<br />

agresión indecente por violación, hurto por robo), entonces el fiscal puede<br />

estar de acuer<strong>do</strong> en aceptar un guilty plea por la variante menos grave<br />

con el senti<strong>do</strong> de resolver el asunto sin un juicio (ibid., pp.271-5). En<br />

tercer lugar, es comun para las partes negociar un “Fact Bargain”<br />

(acuer<strong>do</strong> de hecho) por medio del cual una declaración de culpabilidad<br />

es interpuesta sobre la base de que el proceso esta de acuer<strong>do</strong> en<br />

presentar los hechos al tribunal en una interpretación de mutuo acuer<strong>do</strong><br />

y menos seria. (ibid. pp.275-6).<br />

En to<strong>do</strong>s los casos de delito grave4 , con independencia de si se ha<br />

hecho o no algun trato, es comun para el sentencia<strong>do</strong>r imponer una<br />

sentencia significantemente reducida a cambio de un guilty plea. Esto<br />

podía añadirse a alguna sentencia atenuada surgida bajo la clase de<br />

acuer<strong>do</strong>s menciona<strong>do</strong>s arriba. Hasta 1994, la única autoridad para esta<br />

práctica se encontraba en un numero de destacadas decisiones en la<br />

Court of Appeal, tales como R v Buffrey [1993], que determinaron el<br />

principio de que, como un punto de comienzo, el descuento por un guilty<br />

plea debería ser un tercio de la sentencia normal por el delito cometi<strong>do</strong>5 .<br />

La Royal Commission on Criminal Justice de 1993 recomendó que las<br />

negociaciones debían ser formalizadas, que el descuento de la sentencia<br />

por una declaracion debia tener una base clara en un estatuto y ser<br />

articula<strong>do</strong> en tribunal a puertas abiertas. 6 En el acto, la asamblea legislativa<br />

no iria tan lejos y la s.48(1) del Criminal Justice and Public Order Act de<br />

1994 requiere simplemente eso; <strong>do</strong>nde un tribunal esta rebajan<strong>do</strong> una<br />

sentencia con respecto al guilty plea, debe tener en cuenta el esta<strong>do</strong> del<br />

procedimiento en el que el plea fue indica<strong>do</strong> (sin duda para animar a una<br />

pronta indicación de la intención de plead guilty) y todas las circunstancias<br />

que giran alrede<strong>do</strong>r de esa indicación. Un sentencia<strong>do</strong>r que rebaja la<br />

4 La reducción de la sentencia por guilty plea, a pesar de que la s.48 del Criminal Justice and<br />

Public Order Act de 1994 (ver abajo) la aplica , raras veces tiene lugar en los Magistrates’ Courts<br />

(Mulcahy 1994).<br />

5 [1993] 14 Criminal Appeal Reports (S) 511.<br />

6 Royal Commission on Criminal Justice (1993), parr. 7.45-47. Ver Ashworth 1998, pp. 285-6;<br />

Henham 1999, pp. 519-22.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 223<br />

sentencia debe hacerlo a puertas abiertas (s.48(2)). La sección ha si<strong>do</strong><br />

objeto de una considerable crítica académica como un compromiso<br />

inefectivo, que no ofrece una orientación a los tribunales (Thomas 1995,<br />

p. 7; Wasik & Taylor 1995, p. 18; Henham 1999, pp. 519-22).<br />

Oportunidades para negociar un plea, charge-bargain or fact-bargain<br />

pueden tener lugar en cualquier etapa del proceso y la posibilidad puede<br />

incluso ser solicitada por la policía como un estímulo para conseguir la<br />

confesión (Darbyshire 2000, p.902). La mayoria de los plea bargains se<br />

discuten de manera informal ( a menu<strong>do</strong> por teléfono o en el tribunal<br />

antes de la audiencia) entre los aboga<strong>do</strong>s representantes del acusa<strong>do</strong> y<br />

el Crown Prosecution Service (Ministerio <strong>Público</strong>). Dos estratégicos<br />

acontecimientos en el proceso, la audiencia en el “Pre-Trial Review”<br />

(revisión de la fase pre-judicial) y el “Plea Before Venue” proveen<br />

oportunidades institucionales para tales discusiones (Ashworth 1998,<br />

pp.278-81). Un acusa<strong>do</strong> tiene derecho a plead not guilty y a cambiar su<br />

plea para declararse culpable en cualquier momento antes de la condena.<br />

Incluso aunque el retraso influye en una reducción potencial, ello ofrece<br />

significantes ventajas compensatorias a un acusa<strong>do</strong> dispuesto a<br />

arriesgarse. Debi<strong>do</strong> al retraso, hay quien cambia de actitud hasta<br />

inmediatamente antes del juicio y un acusa<strong>do</strong> puede llegar a un acuer<strong>do</strong><br />

basa<strong>do</strong> en la identidad y propensiones del juez del proceso (Bredar 1992)<br />

y en si, por ejemplo, to<strong>do</strong>s los testigos de la acusación han asisti<strong>do</strong> al<br />

tribunal. El día del juicio las negociaciones entre aboga<strong>do</strong> defensor y el<br />

Ministerio <strong>Público</strong> en el Crown Court son governadas por las directrices<br />

del Court of Appeal, dadas en el caso de R v Turner en 1970. 7 Éstas<br />

enfatizan la importancia del consejo independiente del aboga<strong>do</strong> y la libertad<br />

de elección del acusa<strong>do</strong>. El aboga<strong>do</strong> puede pedir una vista al juez<br />

privadamente si es necesario pero el juez no está autoriza<strong>do</strong> para indicar<br />

la sentencia más probable en caso de que el acusa<strong>do</strong> admita su<br />

culpabilidad. Estas disposiciones fueron recientemente sostenidas en el<br />

caso de R v Dossetter8 <strong>do</strong>nde fue declara<strong>do</strong> de mo<strong>do</strong> inequívoco:<br />

“El plea-bargaining, en el senti<strong>do</strong> de solicitar de un juez una<br />

indicación de la sentencia que fallará si un acusa<strong>do</strong> se declara<br />

culpable, no forma parte de la jurisprudencia penal inglesa”.<br />

7 [1970] 2 QB 321.<br />

8 Times 5 de Febrero 1999


224<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

La investigacion de los hechos, sin embargo, muestra que las reglas<br />

son ampliamente desatendidas en la práctica, particularmente por jueces<br />

que ofrecen indicaciones codificadas de sus intenciones (Ashworth 1998,<br />

pp.281-2; Darbyshire 2000, p.900) y se da una fuerte presión tanto de la<br />

abogacía como del poder judicial en orden a permitir una relajación.<br />

2.II PLEA BARGAINING EN LOS ESTADOS UNIDOS<br />

En contraste con la equivoca actitud tomada por los tribunales<br />

ingleses, la Corte Suprema de los Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s ha sosteni<strong>do</strong> con<br />

fuerza que el plea bargaining es un componente esencial de la<br />

administración de la justicia. 9 El número de oportunidades de charge,<br />

fact and plea-bargaining es mucho más amplio en los Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s<br />

que en Inglaterra y la complejidad de las negociaciones se limita sólo a<br />

la invención de las partes. Aunque el sistema del plea bargaining varía<br />

considerablemente de esta<strong>do</strong> a esta<strong>do</strong>, las principales diferencias con<br />

el procedimiento en Inglaterra son (a) que un nivel mínimo de sentencias<br />

es indica<strong>do</strong> ampliamente, (b) que en muchos esta<strong>do</strong>s de los Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s el fiscal puede hacer una recomendación al tribunal sobre la<br />

sentencia10 y (c) que en algunos esta<strong>do</strong>s los jueces, de forma rutinaria,<br />

participan directamente en las negociaciones y pueden hacer<br />

recomendaciones sobre la sentencia antes del plea. To<strong>do</strong>s estos<br />

factores ganan poder si estan en manos de los negocia<strong>do</strong>res.<br />

En principio, antes de que un juez pueda aceptar un guilty plea,<br />

negocia<strong>do</strong> o no, puede dirigirse al acusa<strong>do</strong> personalmente, sobre el<br />

informe, y ser convenci<strong>do</strong> de que la naturaleza y las consecuencias del<br />

plea son propiamente entendidas (Bradley 1999, p. 419). Sin embargo,<br />

acuer<strong>do</strong>s implícitos o pleas induci<strong>do</strong>s por la acción independiente del<br />

fiscal, pueden distraer la atención judicial (Giudirizzi 1998, p. 756) y, de<br />

acuer<strong>do</strong> con Giudirizzi “los jueces raramente niegan acuer<strong>do</strong>s de pleabargaining,<br />

sien<strong>do</strong> cómplices de las recomendaciones de la sentencia<br />

9 Santobello vNew York, 404 U.S. 257 (1971)<br />

10 Pero no en casos Federales <strong>do</strong>nde, desde los anos 80, el Federal Sentencing Guidelines<br />

determina niveles de sentencia.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 225<br />

por el fiscal”.(ibid). En algún caso, se deben dar a conocer al acusa<strong>do</strong> los<br />

elementos críticos de la acusación sobre los que versa su plea y la renuncia<br />

de ciertos derechos constitucionales que incluye. El juez debe estar<br />

convenci<strong>do</strong> de que el acusa<strong>do</strong> entiende las consecuencias de la sentencia<br />

y que el plea es enteramente voluntario. En los tribunales federales y en<br />

la mayoría de los esta<strong>do</strong>s, el juez tiene también la obligación de dirigir una<br />

breve indagación sobre la base del plea, a través de un interrogatorio al<br />

acusa<strong>do</strong> o por medio de la petición de una declaracion de la prueba<br />

principal que el Ministerio <strong>Público</strong> hubiera aduci<strong>do</strong>. Es perfectamente<br />

aceptable, como en Inglaterra, que un acusa<strong>do</strong> se declare culpable por<br />

razones tacticas sin aceptar culpabilidad alguna. 11<br />

3. JUSTICIA CONSENSUADA EN<br />

EL DERECHO CONTINENTAL EUROPEO<br />

La justicia consensuada no forma parte del sistema de escrutinio<br />

judicial, que tiene su origen moderno en el Código Napoleónico de<br />

Instrucción Penal de 1808. Ha si<strong>do</strong> con el entrada del aboga<strong>do</strong> de la<br />

defensa en la Europa continental desde finales del siglo XIX en adelante<br />

cuan<strong>do</strong> las estrategias consensuadas han si<strong>do</strong> teóricamente posibles.<br />

De hecho, su introduccion en la práctica ha si<strong>do</strong> relativamente reciente<br />

-en los años 70- y se ha visto impedida por tres formidables obstáculos,<br />

que son: la ausencia de algún equivalente funcional al guilty plea, la<br />

relativa debilidad de la defensa en relación al esta<strong>do</strong> de la acusacion y<br />

el <strong>do</strong>minio de la fase pre-judicial por la investigación de los jueces.<br />

3.I JUSTICIA CONSENSUADA EN FRANCIA<br />

Un exceso de cinco millones de casos son anualmente denuncia<strong>do</strong>s<br />

a la acusación (parquet) en Francia12 y, a pesar de la racionalización del<br />

procedimiento obtenida por las reformas de la “Securité et Liberté” en<br />

198113 , la carga de trabajo para el sistema es todavía abruma<strong>do</strong>ra. El<br />

11 Alford v North Carolina, 400 U.S. 25 (1970).<br />

12 Pradel (1990). op. cit., p. 11.<br />

13 Ley de 2 de Febrero 1981.


226<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

refuerzo de la defensa y los debi<strong>do</strong>s derechos del proceso en los años<br />

1993 y 200014 han añadi<strong>do</strong> un nuevo potencial para el retraso, pero<br />

también ha estableci<strong>do</strong> un ethos notablemente más contradictorio para<br />

la fase pre-judicial. Francia -casi la única entre los esta<strong>do</strong>s europeosaplica<br />

el principio de la “oportunidad” de la acusación y, como un mo<strong>do</strong><br />

de compensación por esta laxitud procedimental, se ha adheri<strong>do</strong><br />

tradicionalmente de forma estricta al principio de escrutinio judicial. La<br />

idea de un resulta<strong>do</strong> negocia<strong>do</strong> entre la defensa y el Ministerio <strong>Público</strong><br />

es ideológicamente inconcebible y, el principal eje de la negociación en<br />

casos graves gira en torno al Fiscal y al Juez de Instrucción. Por lo<br />

tanto, el procedimiento francés, también procedimiento de casi to<strong>do</strong>s<br />

sus homólogos europeos, ofrece menos oportunidades para un resulta<strong>do</strong><br />

negocia<strong>do</strong> entre las partes.<br />

La entrada de trabajo en los tribunales es controlada por los tres<br />

principales mecanismos procedimentales. El primero es la operacion<br />

del principio de oportunidad, que habilita al Fiscal a decidir en contra de<br />

lo que se esta procedien<strong>do</strong> en ciertos casos (Vogler 1996, p. 23-4). Se<br />

debería acentuar que esta decisión no es tomada en el contexto de<br />

alguna negociacion con el acusa<strong>do</strong> o su aboga<strong>do</strong>, pero la restitucion de<br />

la propiedad robada o los pasos segui<strong>do</strong>s para atenuar la gravedad del<br />

delito pueden pesar en gran medida en la decisión. Segun<strong>do</strong>, es justo<br />

mencionar que el procedimiento de compuration immédiate manifiesta<br />

algunas de las características de una justicia consensuada. Es normal<br />

para el acusa<strong>do</strong> ser interroga<strong>do</strong> en la primera comparecencia antes de<br />

la acusación sobre si “reconoce los hechos”. El acusa<strong>do</strong> puede ser<br />

envia<strong>do</strong> directamente al tribunal <strong>do</strong>nde, si consiente, el caso puede ser<br />

resuelto inmediatamente. Aunque el procedimiento (que está disponible<br />

para delitos menos graves), participa en gran medida de la cualidad de<br />

procedimiento sumario del angloamericano guilty plea, no está<br />

técnicamente en contra del principio de escrutinio judicial.<br />

En tercer lugar, está abierto al Ministerio <strong>Público</strong> y al Juez de<br />

Instrucción con el consentimiento del acusa<strong>do</strong> y de la parte civil, para<br />

reclasificar el delito en una categoría atenuada, de manera que pueda<br />

ser desvia<strong>do</strong> desde la Cour d’ Assises (tribunales superiores) al Tribunal<br />

14 Ley de 4 de Enero 1993, Ley de 15 de Junio 2000.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 227<br />

Correctionnel (tribunales inferiores). Este proceso es conoci<strong>do</strong> como<br />

“correctionalisation” y no tiene base legal. El Fiscal, siguien<strong>do</strong> las<br />

discusiones con el Juez de Instrucción podía, por ejemplo, decidir cerrar<br />

sus ojos al hecho de que un hurto fue cometi<strong>do</strong> en el curso de una<br />

entrada premeditada por la noche (delito al que corresponde una pena<br />

de 5-10 años bajo el Art. 382,CP) y tratar el asunto como si fuera una<br />

simple apropiación sin circunstancias agravantes (Art. 381,CP). Esto<br />

tendra lugar <strong>do</strong>nde el Ministerio <strong>Público</strong> considere que el procedimiento<br />

“solemne” de la Cour d’Assises y las penas disponibles son excesivas<br />

para tratar con el tipo de delito en cuestión. Por otro la<strong>do</strong>, este<br />

procedimiento puede tambien ser a<strong>do</strong>pta<strong>do</strong> por el Fiscal <strong>do</strong>nde sospeche<br />

que un jura<strong>do</strong> podría a<strong>do</strong>ptar una visión más liberal de la cuestión que<br />

un panel de tres jueces en el Tribunal Correccional!<br />

Un procedimiento análogo (conoci<strong>do</strong> como contraventionalisation)<br />

puede ser a<strong>do</strong>pta<strong>do</strong> para desviar un caso del Tribunal Correctionnel al Tribunal<br />

de Police. En to<strong>do</strong>s estos casos es necesario que el consentimiento de<br />

todas las partes, incluyen<strong>do</strong> el acusa<strong>do</strong> y la víctima, se obtenga antes de<br />

que se tome alguna medida. El principio de finalidad asegura que la decisión<br />

no puede ser posteriormente revisada.<br />

3.II JUSTICIA CONSENSUADA EN ALEMANIA<br />

Inhibi<strong>do</strong> por la compañía de distingui<strong>do</strong>s colegas alemanes que<br />

pueden explicar su sistema con mucha más autoridad que yo, no tratare<br />

extensamente aquí la justicia consensuada. Basta con decir que<br />

Alemania ha si<strong>do</strong> repetidamente ensalzada en la literatura<br />

angloamericana como un logra<strong>do</strong> ejemplo de una jurisdicción sin indicio<br />

de plea-bargaining (Langbein 1979). Sin embargo, de acuer<strong>do</strong> con<br />

Huber, aunque el Código de Procedimiento Penal no autoriza<br />

expresamente la justicia consensuada, ésta no está específicamente<br />

prohibida y algunas disposiciones asumen que un acuer<strong>do</strong> expreso<br />

(ss.265a, 470(II), St.PO) o tácito(s.153a) ha si<strong>do</strong> alcanza<strong>do</strong>. Según<br />

Hermann, los orígenes de la negociacion en el sistema de justicia penal<br />

se remontan al principio de los años 70 (1992, p.755) y a la abolición<br />

de la función del Juez de Instrucción.


228<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

Los principales mecanismos procedimentales que permiten la<br />

justicia consensuada son, en primer lugar, las disposiciones de<br />

procedimiento acelera<strong>do</strong> (Beschleunigtes Verfahren ss.417-420) que,<br />

desde las reformas de Verbrechensbekampfungsgesetz de 1994, permiten<br />

una significante simplificación del procedimiento en el caso de delitos<br />

leves. De mayor relevancia es el dato de que el Ministerio <strong>Público</strong> disfruta<br />

de la importante ventaja de invocar el Strafbefehlsverfahren (orden penal,<br />

ss. 417-20) en delitos leves y menos graves, que permite la justicia<br />

unilateral de un caso sin juicio formal o fallo. El tribunal puede actuar con<br />

mera desconfianza (s. 408 (II)) a través de la imposición de multas, retirada<br />

de licencias o cargos condicionales. La reforma del Acto de 1993 también<br />

proveyó la posibilidad de suspensión de una sentencia por más de un<br />

año. El procedimiento es rápi<strong>do</strong> y está sujeto a una apelación por el<br />

acusa<strong>do</strong> que ha de tener lugar en 14 dias.<br />

En su decisión de 27 de Enero de 1987, el Tribunal Constitucional<br />

Federal aprobó la practica de la justicia negociada, estableció que no<br />

había infracción por parte del tribunal de la obligación de establecer la<br />

verdad, la conexión entre culpa y sentencia fue retenida, se respetó la<br />

igualdad de tratamiento y las decisiones se empezaron a tomar libremente<br />

y no bajo presión. 15 La asamblea de todas las partes (excepto los jueces<br />

no profesionales) se está convirtien<strong>do</strong> en algo cada vez mas común<br />

(Kuhne 1993, pp. 156- 7; Huber 1996, p. 160) y, aunque los tribunales no<br />

están obliga<strong>do</strong>s por los acuer<strong>do</strong>s pre-judiciales, pueden prometer reflejar<br />

su cooperacion en la sentencia. Hoy día, alega<strong>do</strong> esto, entre el 20 y el<br />

30% de los casos penales alemanes se resuelven a través de alguna<br />

forma de negociación (Dubber 1997, p.549). Esta tendencia ha provoca<strong>do</strong><br />

considerable controversia en Alemania al contradecir algunos de los<br />

principios basicos del procedimiento penal.<br />

3.III. JUSTICIA CONSENSUADA EN ITALIA<br />

El sistema italiano, como el alemán, requiere acusación obligatoria<br />

y acuer<strong>do</strong> consensual; por lo tanto, no puede incluir la acusación sino<br />

solo la sentencia. Las reformas en Italia de 1988-916 ofrecen una lección<br />

15 Bundesverfassungsgericht, 27 de Enero 1987, Neue Zeitschrift fur Strafrecht, 1987, p. 419<br />

16 Ley 447 de 22 de Septiembre 1988


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 229<br />

sobre el préstamo poco sistemático de las estrategias consensuadas.<br />

El nuevo código previó cinco principales procedimientos especiales,<br />

<strong>do</strong>s de los cuales con el proposito de producir el juicio con mayor rapidez<br />

abrevian<strong>do</strong> la fase prejudicial, mientras los tres restantes se refieren a<br />

la justicia sumaria (Miller 1990, Corso 1993, pp.251-254).<br />

Las disposiciones referentes al juicio inmediato (giudizio immediato)<br />

del Código de 198917 permiten simplemente un atajo procedimental hacia<br />

el juicio. Tanto el Fiscal como el acusa<strong>do</strong> pueden solicitar del juez prejudicial<br />

(giudize per le indagini preliminari- gip) una audiencia preliminar<br />

con el fin de pasar directamente a juicio. El juez debe estar convenci<strong>do</strong><br />

de la fuerza de la prueba. Bajo el procedimiento del juicio directo (giudizio<br />

direttissimo) 18 un acusa<strong>do</strong> arresta<strong>do</strong> en el momento de cometer un delito<br />

o uno que ha hecho una confesión completa e incondicional, puede ser<br />

lleva<strong>do</strong> a juicio incluso más rápidamente. En el caso previo, <strong>do</strong>nde la<br />

prueba es completa, el asunto puede estar dispuesto dentro de las<br />

cuarenta y ocho horas desde el arresto.<br />

Los tres meto<strong>do</strong>s de justicia sumaria tienen el objetivo de incrementar<br />

el poder del acusa<strong>do</strong> y permitirle su activa participación en el proceso. La<br />

introducción del así llama<strong>do</strong> “plea-bargaining” (pattegiamento) 19 permitió la<br />

reducción de la sentencia en un tercio para el acusa<strong>do</strong> que estaba prepara<strong>do</strong><br />

para privarse del juicio y aceptar una orden inmediata del juez basada en el<br />

sumario. Las negociaciones entre el Fiscal y el acusa<strong>do</strong> pueden tener lugar<br />

hasta la apertura de las declaraciones del juicio pero el acuer<strong>do</strong> resultante<br />

debe ser confirma<strong>do</strong> por el juez, que está obliga<strong>do</strong> a tener en cuenta el<br />

requisito de rehabilitación20 . Sólo penas superiores a <strong>do</strong>s años de prision<br />

pueden ser reducidas de esta manera y, por lo tanto, el procedimiento es<br />

relevante casi exclusivamente en asuntos que aparecen antes del pretore<br />

(Miller 1990, pp.231-2). El acusa<strong>do</strong> queda priva<strong>do</strong> automáticamente del<br />

derecho a apelar porque ha acepta<strong>do</strong> la negociación.<br />

Hay <strong>do</strong>s principales problemas en el funcionamiento del pleabargaining<br />

en el sistema italiano. El primero es que el concepto de<br />

bargaining enfatiza la discreción del Ministerio <strong>Público</strong> de manera<br />

17 Arts. 453-458<br />

18 Art. 449<br />

19 Oficialmente, applicazione della pena su richiesta della parti, Arts. 444-8<br />

20 Corte Constituzionale, fallo no. 313 de 2 de Julio 1990 (1990 Foro It. 2385)


230<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

inaceptable. Como funcionarios civiles con una carrera fija, el Ministerio<br />

<strong>Público</strong> carece de estímulo para negociar. Según Grande:<br />

“...no importa cuantas absoluciones o condenas consiga,<br />

cuantos recursos pierda, no importa cuantos casos en su<br />

expediente no encuentren una solución raápida, o ni siquiera<br />

encuentren una solución, el Fiscal italiano no obstante<br />

avanzará en su carrera burocrática e incrementrá su salario.<br />

Dada esta realidad institucional en el Ministerio <strong>Público</strong><br />

carente de presión, no es probable que el sistema italiano<br />

colabore seriamente para conseguir resolver casos penales<br />

de manera eficiente”. (2000, pp.255-6)<br />

Se ha hecho algún intento para dirimir esta cuestión permitien<strong>do</strong><br />

que el juez rechace la negativa del Ministerio <strong>Público</strong> a negociar. En<br />

segun<strong>do</strong> lugar, el concepto de un guilty plea es irrelevante en un sistema<br />

que insiste en la evaluación judicial y sitúa al juez en el centro del mismo.<br />

Así pues, no se requiere plea o confesión y el juez todavía debe revisar<br />

el expediente antes de aprobar un acuer<strong>do</strong>. En alguna ocasión, la<br />

disposición se aplica sólo a delitos relativamente leves y la evidencia<br />

sugiere que es poco usa<strong>do</strong> excepto en los casos <strong>do</strong>nde no cabe duda<br />

de la culpabilidad (Fabri 1994, p.213).<br />

El procedimiento de “juicio abrevia<strong>do</strong>” (giudizio abbreviatto) 21<br />

tambien ofrece una reducción de un tercio en la sentencia pero con un<br />

mayor alcance ya que sólo excluye delitos que acarrean una sentencia<br />

de por vida. Para beneficiarse de ella, el acusa<strong>do</strong> debe estar de acuer<strong>do</strong><br />

en entregar para el juicio sumario por el gip. Aunque el procedimiento<br />

sigue las pautas del juicio sumario inglés (Freccero 1994, p.373), el<br />

juicio es lleva<strong>do</strong> in camera, sobre la base de los sumarios escritos de<br />

los hechos y sólo el acusa<strong>do</strong> da testimonio. Otros comentaristas han<br />

usa<strong>do</strong> la analogía con un guilty plea (Miller 1990, p. 228). Las estrictas<br />

reglas de la prueba se suspenden y no hay derecho de apelación contra<br />

una absolución, multa o sentencia condicional. El procedimiento no puede<br />

ser invoca<strong>do</strong> sin el consentimiento expreso del Fiscal.<br />

El procedimiento final especial, el “decreto penal” (procedimento<br />

21 Arts. 438-443.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 231<br />

per decreto pennale) 22 es anterior a las reformas de 1988 y muy similar<br />

al Srafbefehl aleman. Simplemente permite al Ministerio Fiscal proponer<br />

una oferta para resolver la cuestión a través de una multa reducida a un<br />

standard del 50%. Si la oferta es aceptada por el acusa<strong>do</strong>, el sumario<br />

será revisa<strong>do</strong> por el juez y se impondrá la multa reducida. El acusa<strong>do</strong><br />

tiene entonces 15 días para oponerse.<br />

Los procedimientos especiales están to<strong>do</strong>s restringi<strong>do</strong>s por la<br />

negativa del poder judicial a permitir una más amplia libertad de acción a<br />

las partes y por la insistencia en el control judicial (Miller 1990, pp. 233-5).<br />

Las principales reformas del Iudice Unico, que tuvieron lugar en Enero<br />

200023 , enfatizaron la función activista del juez en la fase pre-judicial y<br />

disminuyeron la de la parte acusa<strong>do</strong>ra, contribuyen<strong>do</strong> poco en la solución<br />

del problema (Grande 2000, p.258). Pizzi y Marafioti han argumenta<strong>do</strong><br />

que las reglas de la justicia consensuada son inflexibles y quiebran al<br />

dirigirse al problema de que no toda prueba atenuada habra llega<strong>do</strong> al<br />

sumario para el tiempo en que los procedimientos son invoca<strong>do</strong>s. Además,<br />

la cultura del retraso en el sistema hace estas opciones poco atractivas<br />

para los acusa<strong>do</strong>s, que previamente han alcanza<strong>do</strong> mejores resulta<strong>do</strong>s<br />

a través del principio de inacción y desgaste (1992, pp. 27-9).<br />

Los distintos intentos europeos, señala<strong>do</strong>s anteriormente, mientras<br />

proveen alguna racionalización del procedimiento criminal representan,<br />

en mayor o menor extensión, una forma de compromiso con el principio<br />

de escrutinio judicial. Donde Francia ha a<strong>do</strong>pta<strong>do</strong> un acercamiento a la<br />

justicia consensuada extremadamente modera<strong>do</strong> y no reglamentario, Italia<br />

ha intenta<strong>do</strong> un reenfoque radical, usan<strong>do</strong> una variedad de innovaciones<br />

procedimentales para resolver su incorregible montón de casos atrasa<strong>do</strong>s.<br />

En ninguno de los casos la estrategia ha si<strong>do</strong> particularmente exitosa.<br />

To<strong>do</strong> el proyecto ha reuni<strong>do</strong> una considerable oposición debi<strong>do</strong> a la falta<br />

de un ambiente procedimental y a la carencia de un apoyo ideológico<br />

más amplio a la justicia consensuada. Sólo en el caso de Alemania, <strong>do</strong>nde<br />

el <strong>do</strong>minio judicial en la fase pre-judicial quedó debilita<strong>do</strong> desde 1975,<br />

podemos hablar en algún senti<strong>do</strong> de un deseo espontáneo y generaliza<strong>do</strong><br />

de negociación entre aquéllos que operan el sistema. Mientras algunos<br />

sistemas continentales europeos se están movien<strong>do</strong> lenta y cautelosamente<br />

22 Arts. 459-464.<br />

23 Ley 479 de 1999.


232<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

hacia un creciente uso de la justicia consensuada, las jurisdicciones<br />

angloamericanas parecen, a los ojos de los comentaristas, progresar<br />

en dirección opuesta. Es importante, por tanto, llega<strong>do</strong>s a este punto,<br />

recordar brevemente el caso contra el acuer<strong>do</strong> negocia<strong>do</strong> discuti<strong>do</strong><br />

en los Esta<strong>do</strong>s uni<strong>do</strong>s y el Reino Uni<strong>do</strong>.<br />

4. CRITICAS A LA JUSTICIA CONSENSUADA<br />

EN EL MUNDO DE COMMON LAW<br />

Las críticas a la justicia consensuada han fracasa<strong>do</strong> en <strong>do</strong>s<br />

principales niveles. Por un la<strong>do</strong>, es vista como destructora de la<br />

integridad del sistema y, por otro, como seriamente compromete<strong>do</strong>ra<br />

de la posición de los participantes. Trataré estas críticas por separa<strong>do</strong>.<br />

4.I. COMO DESTRUCTORA DE LA INTEGRIDAD DEL SISTEMA<br />

La primera y más poderosa objeción a la práctica del pleabargaining<br />

es que contradice completamente la presunción de inocencia<br />

protegida por el articulo 6(2) de la Convención Europea de Derechos<br />

Humanos (CEDH) y las declaraciones del proceso debi<strong>do</strong>, establecidas<br />

en la Fourth Amendment de la Constitución de los Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.<br />

Brevemente, si los acusa<strong>do</strong>s se presumen inocentes ¿cuál es la lógica<br />

de penalizarlos por ejercer el derecho al juicio? (Baldwin & McConville<br />

1977; Zander 1992). Es perfectamente aceptable para un acusa<strong>do</strong><br />

renunciar voluntariamente a un derecho fundamental (como el derecho<br />

a la presunción de inocencia hasta que el proceso ha si<strong>do</strong> rigurosamente<br />

puesto a prueba), pero cuestión diferente es inducirle a hacerlo a través<br />

de amenazas y penas. Como Ashworth lo expresa:<br />

“Si hay un derecho fundamental a la presunción de inocencia<br />

hasta probada la culpabilidad es, sin duda, equivoca<strong>do</strong> que<br />

del ejercicio de este derecho por alguien que posteriormente<br />

es condena<strong>do</strong> en el juicio debiera resultar una sentencia mayor<br />

de la que correspondería en caso de guilty plea”. (1998, p.288)<br />

Los derechos, por naturaleza, deberían ser ejercita<strong>do</strong>s y no sujetos<br />

a penas. Igualmente, la presión institucional sobre el acusa<strong>do</strong> para plead<br />

guilty es seguro que destruye el privilegio contra la propia incriminación,


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 233<br />

protegi<strong>do</strong> por el art.6(2) de la CEDH y la 5th Amendment de la<br />

Constitución de los Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s (ibid. pp. 289-91); McConville &<br />

MIrsky 1982, p. 1381), no por el derecho a ser trata<strong>do</strong> justamente y sin<br />

discriminación bajo el art. 14 de la CEDH y el derecho a una audiencia<br />

pública y justa bajo el art. 6(1) (ibid. p. 292).<br />

De acuer<strong>do</strong> con Alschuler:<br />

“El plea bargaining ha rebaja<strong>do</strong> los objetivos de las <strong>do</strong>ctrinas<br />

legales, tan diversas como la regla de la Fourth Amendment,<br />

la defensa de insanity, el derecho de confrontación, el<br />

derecho de la defensa a asistir en procesos penales y<br />

el...derecho de la prensa y del público a observar la<br />

administración de la justicia penal” (1983, p. 934).<br />

Sin embargo, el Tribunal Supremo de los Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s ha<br />

reconoci<strong>do</strong> repetida y explícitamente el plea-bargaining como<br />

constitucional a pesar de la implicita renuncia que conlleva a ciertos<br />

derechos protegi<strong>do</strong>s constitucionalmente. 24<br />

El segun<strong>do</strong> problema institucional que surge a raiz de la manipulacion<br />

de acusaciones (charges) y penas en interes de la justicia consensuada<br />

es que subvierte los objetivos declara<strong>do</strong>s del proceso. Un plea-bargaining<br />

ignora cuestiones de general e individual disuasión, retribución,<br />

incapacitación y rehabilitación.....(Justicia 1993, p. 3; Darbyshire 2000, p.<br />

902). Por el contrario, este premia al cínico y al culpable (Gui<strong>do</strong>rizzi 1998,<br />

p. 768; Darbyshire 2000, p. 902) y trae como resulta<strong>do</strong> ciertas disparidades<br />

y desigualdad (Palmer 1999, p. 525). La imagen pública del sistema de<br />

justicia penal como un senti<strong>do</strong> racional y justo de distribución de la pena<br />

apropiada es así seriamente perjudica<strong>do</strong> y como Palmer afirma:<br />

“Desde que los detalles de los acuer<strong>do</strong>s no son revela<strong>do</strong>s,<br />

loúnico que el público ve con sus ojos es a un criminal que<br />

está recibien<strong>do</strong> una sentencia indulgente...El público percibe<br />

el plea-bargaining como un moderno día de compras, <strong>do</strong>nde<br />

el acusa<strong>do</strong> compra sentencias o incluso algo menos atractivo,<br />

como una forma de apuesta <strong>do</strong>nde el acusa<strong>do</strong> negocia para<br />

conseguir una sentencia mas indulgente.” (1999, p. 526-7).<br />

24 Town of Newton v. Rumery, 480 U.S. 386, 393 (1987)


234<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

En el “bazar turco” de la justicia negociada, así se argumenta, no<br />

hay diferencia moral entre compra<strong>do</strong>res y vende<strong>do</strong>res (Kaplan 1977, p.<br />

526-7).<br />

4.II. COMO COMPROMETEDORA DE<br />

LA POSICION DE LAS PARTES INDIVIDUALES<br />

Volvien<strong>do</strong> ahora a los costes subjetivos del sistema del pleabargaining,<br />

trataré la cuestión con cada participante por separa<strong>do</strong>,<br />

empezan<strong>do</strong> por los aboga<strong>do</strong>s de la defensa y el Ministerio <strong>Público</strong>. Es<br />

demasia<strong>do</strong> evidente que profesionales bajo presión “cuyo primer objetivo<br />

es atajar y ocuparse del siguiente caso” (Alschuler 1983, p.934) pueden<br />

animarse a tolerar la investigacion laxa e inefectiva cuan<strong>do</strong> están seguros<br />

de que no es probable que el caso vaya a juicio. El Fiscal puede caer en<br />

la tentación de imponer una carga excesiva (Carp & Stidham, 1996, pp.<br />

177-8) para compensar por las insuficiencias de prueba (Alschuler 1968)<br />

o puede actuar por venganza (Saltzburg & Capra 1992, pp. 801-2).<br />

Igualmente, los aboga<strong>do</strong>s de la defensa, avariciosos y sobrecarga<strong>do</strong>s,<br />

aboga<strong>do</strong>s de juicio incompetentes, aboga<strong>do</strong>s preocupa<strong>do</strong>s por su índice<br />

de éxitos o simplemente aquellos aboga<strong>do</strong>s deseosos de congraciarse<br />

con sus oponentes o el tribunal, pueden ser incapaces de resistir la<br />

tentación de presionar a sus clientes para que se declaren culpables. Tal<br />

presión, vinien<strong>do</strong> de un profesional con experiencia, es a menu<strong>do</strong><br />

agobiante para un acusa<strong>do</strong> aprensivo y carente de experiencia al borde<br />

de un juicio impredictible. Este es particularmente el caso si un pacto<br />

elimina la posibilidad de prisión o incluso ( en los Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s) de una<br />

sentencia capital (Uphoff 1995, p. 130). Como Mulcany ha argumenta<strong>do</strong>,<br />

se trata de un <strong>do</strong>minante cinismo entre los aboga<strong>do</strong>s de la defensa, que<br />

rutinariamente asumen la culpabilidad de aquéllos a quienes representan,<br />

uni<strong>do</strong> al desarrollo de relaciones de trabajo en cooperación con sus<br />

colegas en el proceso, uni<strong>do</strong> a la atracción moral de conseguir un resulta<strong>do</strong><br />

negocia<strong>do</strong> (1994, pp. 422-6). No es necesario explicar lo destructiva que<br />

es esta tendencia para el principio de contradicción y la representacion<br />

comprometida y sincera de un acusa<strong>do</strong> que lleva las de perder).<br />

El problema del acusa<strong>do</strong> inocente pero opuesto al riesgo forza<strong>do</strong><br />

al plea por sus propios representantes ha ocupa<strong>do</strong> atención considerable


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 235<br />

en la literatura (Baldwin & McConville 1997 pp.?; Schulhofer 1970, p.1986;<br />

McConville & Bridges 1993; Palmer 1999, p.519; Ashworth 1998, pp.<br />

283-4). Los datos en esta cuestión son poco fiables.<br />

Blumberg alegó que, en los Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, el 51,6% de los<br />

declara<strong>do</strong>s culpables en su muestra se afirmaron inocentes. En el Reino<br />

Uni<strong>do</strong>, Bottoms y Maclean sugirieron que el 18% de su muestra eran<br />

posiblemente inocentes (1976, p. 120) mientras Baldwin y McConville<br />

encontraron que el 36,2% de la suya se afirmaron inocentes (1977,<br />

CITE??) y Zander y Henderson obtuvieron un porcentaje del 11% (1993,<br />

pp. 138-142). Cualesquiera que sean las cifras, el resulta<strong>do</strong> es un<br />

considerable gra<strong>do</strong> de alienación, real o fingi<strong>do</strong>. De mayor importancia<br />

es que, desde que el plea-bargain sitúa el proceso decisivo en manos<br />

de la defensa y la acusacion actuan<strong>do</strong> en priva<strong>do</strong>, las oportunidades de<br />

discriminación no tienen limite (Darbyshire 1999, p.901). No se puede<br />

negar que la mayoria de los aboga<strong>do</strong>s que actuan para un acusa<strong>do</strong> rico<br />

y bien relaciona<strong>do</strong> llegan probablemente a un mejor acuer<strong>do</strong> que cuan<strong>do</strong><br />

trabajan para uno sin recursos. Resulta interesante que la tendencia de<br />

una minoría étnica de acusa<strong>do</strong>s en Inglaterra a resistir a estas presiones<br />

y declararse no culpables en mayor proporción que otros acusa<strong>do</strong>s<br />

parece haberles gana<strong>do</strong> penas más graves (Hood 1992).<br />

Una de las críticas más contadas sobre el plea-bargaining<br />

angloamericano es que excluye casi enteramente a la víctima, que puede<br />

sentirse traicionada por decisiones que ignoran su interés.En contraste<br />

con la posición de la víctima en el sistema de justicia penal francés, la<br />

víctima en Inglaterra y en gran número en América no tiene derecho a vetar<br />

la modificación de los cargos (Fenwick 97, p. 326; Darbyshire 2000, p.905).<br />

En muchos casos, ni siquiera es informada de que tal modificación ha teni<strong>do</strong><br />

lugar. El senti<strong>do</strong> de exclusión que esto conlleva puede tener serias<br />

consecuencias para la víctima que estaba confian<strong>do</strong> en la oportunidad de<br />

ser oída o que encuentra dificil de entender por qué los cargos pueden haber<br />

si<strong>do</strong> disminui<strong>do</strong>s (Erez 1999). Finalmente, el plea bargaining desplaza a los<br />

jueces, jura<strong>do</strong>s y magistra<strong>do</strong>s de sus respectivos lugares en el proceso de<br />

juzgar y sentenciar. El fracaso de esta práctica deja al descubierto un riguroso<br />

reto y analisis al promover una forma de juzgar que es secreta y burocrática<br />

y que es inatacable a traves de revisión precisamente porque es invisible.


236<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

4.III. MOVIMIENTOS PARA EXCLUIR EL PLEA-BARGAINING<br />

En Escocia no hay rebaja en la sentencia por guilty plea y lo mismo<br />

ocurre en Philadelphia que, no solo se opone al plea-bargaining sino<br />

que ofrece la alternativa de un “bench trial” sin jura<strong>do</strong>, probablemente<br />

familiar en muchas jurisdicciones continentales (Schulhoffer 1984). Esta<br />

forma de juicio ha si<strong>do</strong> criticada ampliamente como no contradictoria y<br />

como no más que una lenta declaración de culpabilidad, aunque<br />

Schulhoffer la considera de otro mo<strong>do</strong> y Darbyshire ha insisti<strong>do</strong> que el<br />

juicio de Philadelphia, en ausencia de plea-bargaining, es caracteriza<strong>do</strong><br />

por un “diálogo tranquilo y considera<strong>do</strong>” (2000, p. 910). Entre 1975 y<br />

1993, el Ministro de Justicia de Alaska prohibió completamente el pleabargaining,<br />

sin que esto causara un incremento incontrolable de juicios<br />

(Schulhoffer 1984, p. 1045; Gui<strong>do</strong>rizzi 1998, pp. 774-6). 25 Los juicios<br />

incrementaron y los guilty plea disminuyeron pero hubo también un<br />

aumento en el índice de condenas (Weninger, 1987).<br />

Las llamadas para controlar el plea-bargaining o abolirlo<br />

completamente han si<strong>do</strong> una carcterística regular en los debates<br />

académicos en el Reino Uni<strong>do</strong> y los Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s desde los años 70.<br />

En muchos casos el argumento ha aclara<strong>do</strong> la marcada división entre<br />

derecho académico y práctico en el mun<strong>do</strong> del common law26 . Mientras<br />

los académicos critican la práctica en sus principios, a menu<strong>do</strong><br />

precisamente porque no está regulada, los aboga<strong>do</strong>s en la práctica ven<br />

la abolición desautorizada y como un probable aumento de su carga de<br />

trabajo. (Henham 1999). En Inglaterra, la Royal Commission on Criminal<br />

Justice 1993 y Mulcahy (1994, p. 428), entre otros, han hecho un<br />

llamamiento para su regulación formal. Scott & Stunts (1992) y Gui<strong>do</strong>rizzi<br />

(1998, p.p. 781-3) han argumenta<strong>do</strong> a favor al igual que en los Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s. Entre los completos abolicionistas se incluyen Schulhoffer (1984)<br />

and Palmer (1999) en Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s y Darbyshire (2000) y<br />

(posiblemente) Ashworth (1998) en Reino Uni<strong>do</strong>. Para algunos, el pleabargaining<br />

es simplemente un “demonio” cazan<strong>do</strong> tribunales de common<br />

law, que debe ser completamente extirpa<strong>do</strong> (Alschuler 1983, p. 935)<br />

25 El porcentaje de juicios de jura<strong>do</strong> incrementó del 6.7al 9.6% pero el tiempo de disposición del<br />

caso fue la mitad (Palmer 1999, p. 535).<br />

26 En 1977, el English Bar Council trató de prevenir la publicación de un estudio (Baldwin<br />

&McConville, 1977) crítico sobre la práctica.


Revista Jurídica da ESMP - n.º 2 237<br />

5. ARGUMENTOS A FAVOR DE LA JUSTICIA CONSENSUADA<br />

Los argumentos de aquéllos que aprueban el sistema, quizás la<br />

gran mayoría de los practicantes, no deben ser ignora<strong>do</strong>s. El Chief<br />

Justice Burger describió con éxito en 1970 las catastróficas<br />

consecuencias de la abolición del plea-bargaining, argumentan<strong>do</strong> que<br />

el incremento de juicios abrumaría el sistema:<br />

“La consecuencia de lo que puede parecer el cambio en un<br />

pequeño porcentaje en el índice de declaraciones de culpabilidad puede<br />

ser tremen<strong>do</strong>.Una reducción del 90% al 80% de éstas requiere la<br />

asignación de <strong>do</strong>s veces la mano de obra judicial y las facilidades<br />

respectivas -jueces, reporteros de tribunal, alguaciles, funcionarios,<br />

miembros del jura<strong>do</strong> y salas de juicios. Una reducción al 70% triplicaría<br />

esta demanda”. (Cita<strong>do</strong> en Palmer 1999, p.512)<br />

Aunque se han hecho intentos para cuantificar los costes extra de la<br />

abolición en recursos judiciales y tiempo de juicio27 el impacto exacto es<br />

impredictible y propenso a variar de jurisdicción a jurisdicción. Se argumenta<br />

que el plea-bargaining es efectivamente un sistema de merca<strong>do</strong> que permite<br />

una gran flexibilidad en el manejo de recursos, permitien<strong>do</strong> que el gasto del<br />

proceso judicial se concentre en los casos intratables que desafían una<br />

resolución consensuada o en aquellos de alto interés para la prensa y para<br />

el público, que son importantes por razones políticas y jurisprudenciales.<br />

(Gui<strong>do</strong>rizzi 1998, p. 765). Esto tiene la ventaja de proteger a la victima de<br />

las consecuencias infelices o posible “revictimisation” de dar prueba en<br />

juicio y permitir a los acusa<strong>do</strong>s la oportunidad de demostrar en público su<br />

reconocimiento libre de culpabilidad y su arrepentimiento. Esta forma de<br />

“reintegrative shaming” es reclamada como un elemento esencial en la<br />

rehabilitación del delincuente. (Braithwaite 1989). Así, el delincuente se une<br />

e identifica con su delito convirtién<strong>do</strong>se en parte activa y consintien<strong>do</strong> en la<br />

condena pública. En resumen, el guilty plea proporciona legitimidad a una<br />

condena, legitimidad que podía no ser alcanzada por la imposición de una<br />

pena fuera de la autoridad judicial.<br />

27 Alschuler (in 1983) calculó el coste anual de proveer tres dias de juicios de jura<strong>do</strong> para cada<br />

acusa<strong>do</strong> por delito grave alcanzan<strong>do</strong> la cifra de 843 millones de <strong>do</strong>lares. (Alschuler 1983, p. 938)


238<br />

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2<br />

La justicia consensuada es el corazon ideológico de un sistema<br />

que trata al acusa<strong>do</strong> como un participante activo más que como un objeto<br />

pasivo. Representa la verdadera esencia de la contradicción desde que,<br />

en los sistemas de common law, la fase pre-judicial es un foco para la<br />

confrontación adversaria así como el juicio y el acuer<strong>do</strong>, que son<br />

usualmente el resulta<strong>do</strong> de una dura e incomprometida negociación, a<br />

menu<strong>do</strong> en circunstancias de considerable hostilidad.La negociación justa<br />

y exitosa depende completamente de un proceso judicial que es una<br />

exhaustiva evaluación de las cuestiones, que incluye participantes de<br />

fuera en el fallo y da rienda suelta al proceso debi<strong>do</strong>. Ningún obstáculo de<br />

procedimiento permanece en el camino de un juicio pleno si el acusa<strong>do</strong><br />

se niega a negociar. Además, la amenaza de un juicio y la vista<br />

fundamentada de las consecuencias probables determina el resulta<strong>do</strong>.<br />

Como la eficacia del escrutinio judicial puede ser debilitada por cinismo,<br />

prejuicio del Ministerio <strong>Público</strong> y letargo institucional, así también la justicia<br />

consensuada. La diferencia se encuentra en el hecho de que, detrás de<br />

la negociacion del plea está la amenaza siempre presente de un juicio<br />

pleno y riguroso decidi<strong>do</strong> por árbitros neutrales sin condición previa. Es<br />

una amenaza sorprendentemente beneficiosa.<br />

Dr. Richard Vogler<br />

Director del Centro de Investigación de Postgra<strong>do</strong><br />

en estudios legales - Universidad de Sussex, Inglaterra<br />

NOTA:<br />

Puede ser discuti<strong>do</strong> que los pre-requisitos esenciales de un sistema<br />

consensual logra<strong>do</strong> son los siguientes: a)una fuerte, independiente y<br />

razonable defensa capaz de cooperar en un nivel de igualdad con el<br />

esta<strong>do</strong> de la acusación, y b) una fase pre-judicial que no es controlada<br />

por el poder judicial, y c) el aislamiento del Ministerio <strong>Público</strong> de influencia<br />

política o de fuera, y d) una jerarquía de penas no determinada, y<br />

e) respeto institucional por las normas del procedimiento debi<strong>do</strong> en<br />

las fases pre-judicial y judicial.


MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO<br />

Procura<strong>do</strong>r-geral de Justiça<br />

José Geral<strong>do</strong> Brito Filomeno<br />

José Geral<strong>do</strong> Brito Filomeno<br />

(presidente)<br />

Agenor Nakazone<br />

José Roberto Garcia Durand<br />

Marilisa Germano Bortolin<br />

Antonio de Padua Bertone Pereira<br />

Órgão Especial <strong>do</strong> Colégio de Procura<strong>do</strong>res de Justiça<br />

Membros Natos<br />

Gomides Vaz de Lima Júnior<br />

José Roberto Garcia Durand<br />

Clóvis Almir Vital de Uzeda<br />

Jobst Dieter Horst Niemayer<br />

Gui<strong>do</strong> Roque Jacob<br />

Luiz Cesar Gama Pellegrini<br />

Herberto Magalhães da Silveira Júnior<br />

René Pereira de Carvalho<br />

Francisco Morais Ribeiro Sampaio<br />

Newton Alves de Oliveira<br />

José Ricar<strong>do</strong> Peirão Rodrigues<br />

Luiz Antonio Forlin<br />

José Roberto Dealis Tucunduva<br />

Eduar<strong>do</strong> Francisco Crespo<br />

Oswal<strong>do</strong> Hamilton Tavares<br />

Fernan<strong>do</strong> José Marques<br />

Irineu Roberto da Costa Lopes<br />

Regina Helena da Silva Simões<br />

Antonio Paulo Costa de Oliveira e Silva<br />

Roberto João Elias<br />

Claus Paione<br />

José Geral<strong>do</strong> Brito Filomeno<br />

(presidente)<br />

Agenor Nakazone<br />

Amaro Alves de Almeida Neto<br />

Conselho <strong>Superior</strong> <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong><br />

Correge<strong>do</strong>r-geral <strong>do</strong> <strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong><br />

Agenor Nakazone<br />

Paulo Mário Spina<br />

Nelson Gonzaga de Oliveira<br />

Evelise Pedroso Teixeira Pra<strong>do</strong> Vieira<br />

Maria Cristina Barreira de Oliveira<br />

Lúcia Maria Casali de Oliveira<br />

João Antonio Bastos Garreta Prats<br />

Membros Eleitos<br />

Vera Lúcia Nogueira Franco Moysés<br />

José Reynal<strong>do</strong> de Almeida<br />

Amaro Alves de Almeida Neto<br />

Maria Tereza <strong>do</strong> Amaral Dias de Souza<br />

Walter Paulo Sabella<br />

João Francisco Moreira Viegas<br />

Paulo Ortigosa<br />

Fernan<strong>do</strong> Carlos Rudge Bastos<br />

Sérgio de Araújo Pra<strong>do</strong> Júnior<br />

Paulo <strong>do</strong> Amaral Souza<br />

Maria Aparecida Berti Cunha<br />

Paulo Roberto Grava Brazil<br />

Pedro Antonio Bueno Oliveira<br />

Pedro Luiz de Melo<br />

Mágino Alves Barbosa Filho<br />

José Domingos da Silva Marinho<br />

Nelson Lacerda Gertel<br />

Shiozo Tanaka<br />

Mário Pedro Paes<br />

Paulo Hideo Shimizu<br />

Conselho <strong>do</strong> Centro de Estu<strong>do</strong>s e Aperfeiçoamento Funcional<br />

Nelson Gonzaga de Oliveira<br />

Arthur de Oliveira Costa Filho<br />

Silvana Buogo<br />

Jocimar Guimarães

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!