Viva a puíta: danças africanas a dominar o campo de férias

Projeto Príncipe
3 min readJul 30, 2016

As crianças são o melhor do mundo e, também aqui, são mais que as mães, pena é não conseguirmos tê-las a todas no Campo de Férias Xináa Fogá, a atividade pela qual somos mais reconhecidos na ilha. A preparação começou ainda em Portugal. Foi preciso escolher o tema, preparar atividades e dividir tarefas mas - claro - uma vez no local tivemos que nos adaptar. O choque cultural é gigante mas é aí que está o desafio. A preparação e a execução não são encaradas da mesma forma e variam de cultura para cultura, mas no fim dançamos todos uma kizomba e a integração acontece naturalmente

Também os nomes nos fazem despertar para o facto de estarmos a viver algo de novo: aTecilda, a Keny, o Danizete, o Otinel, o Migueias, a Danilza, o Felisangel ou o já repetente Fidel Castro.

Este ano conseguimos o Centro de Estágios de Porto Real para acolher 80 crianças entre os 9 e os 12 anos. Metade vinham da capital, a outra metade das roças. Tínhamos a música como tema principal (como é que ninguém tinha pensado neste tema antes?). O som entra-lhes no corpo e sai sempre em forma de dança, com muito tarraxo e uma liberdade corporal que se reflete em todos os jogos que fazem.

A chuva, que em Portugal seria um problema, só serviu para perceber como é fácil entreter um grupo gigante de crianças com o poder da música em altos berros, dentro de uma sala pequena. Nós, portugueses, começámos por ser a vergonha da pista mas com o tempo já estávamos prós em vários estilos de dança africanos. As crianças estavam divididas por 10 equipas e cada uma representava um estilo diferente: Dêxa, Puíta, Bulawê, Funk, Kuduro, Kizomba, Ússua, Hip-Hop, Tafúa e Funaná. Defenderam a camisola e os passos da sua dança até ao fim, altura em que a equipa da Puíta se sagrou campeã. Puíta é um estilo de dança são tomense, que coloca rapazes de um lado e raparigas do outro. A pares encontram-se a meio e o rapaz corteja a rapariga com movimentos de anca, daqueles bem próximos.

Até à vitória as equipas faziam atividades que lhes garantiam pontos. Houve construção de instrumentos, muito futebol e jogos tradicionais. Houve ainda poucas horas de sono, muito peixe com arroz e muito “che!” a toda a hora — a expressão mais usada em cada frase, equivalente ao nosso “fogo!”.

Foi uma semana com direito a tudo mas, para o caso de a memória me começar a falhar, levo comigo muitos vídeos para ver em casa e aprender a dançar kuduro. Isso e os risos marcados no coração.

Filipa G

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