O Projeto Acústico de Voice Booths em Escritórios Open Plan

Harmonia
4 min readAug 21, 2019

Nos dias de hoje, o mundo corporativo anda investindo bastante nos espaços onde seus colaboradores vão passar a maior parte de seu tempo na execução de espaços divertidos e conceituais de descompressão. A grande maioria destes ambientes são compartilhados, incluindo a área de trabalho, muito conhecida como Open Plan Office (escritório de planta livre). Esta configuração de escritório permite, além de flexibilidade de layout, um significativo aumento da densidade de pessoal e da colaboração entre equipes.

Área de trabalho em escritório no formato open plan

Porém, alguns fatores importantes não têm sido levados em consideração na hora da escolha de um escritório de planta livre. Este formato anda sendo largamente apontado por diversos estudos como o principal motivo de falta de produtividade e concentração devido aos elevados níveis de ruído e falta de privacidade de quem está trabalhando nessas áreas. Mesmo sabendo que a redução de produtividade está diretamente ligada à redução de margem de lucro, este modelo parece estar longe de deixar de ser o preferido das corporações.

No cenário brasileiro a solução que mais tem sido adotada para atenuar este problema é o uso dos Voice Booths, que é conhecido por diversos nomes como: Phone Booth, Sala de Foco, Cabine Telefônica, etc.

Cabines tipo Voice Booths

Em estudos prévios, modelos de predição e medição deste tipo de cabine foram desenvolvidos e apresentados pela Harmonia. Um novo estudo foi desenvolvido levando em consideração estes resultados anteriores com o objetivo de obter parâmetros para projeto acústico dos Voice Booths.

Medições e gravações sonoras foram realizadas em 10 cenários diferentes de um único Voice Booth de 4,80m³, onde foram variados os revestimentos do recinto utilizando materiais com diferentes coeficientes de absorção.

As gravações foram feitas com um alto-falante direcional emitindo sinal de uma voz humana como fonte e um simulador de cabeça como receptor que captou cada cenário acústico para que fosse possível realizar um teste subjetivo. Este teste visa correlacionar a percepção humana com o cenário acústico dentro do booth para cada caso.

Simulador de cabeça utilizado para gravações no Voice Booth utilizado no estudo

O teste subjetivo apresentou à cada voluntário uma comparação de 12 pares de gravações que representavam 4 dos cenários (A, D, E e F) gravados inicialmente para que pudessem escolher qual lhes agradava mais, acusticamente falando.

Como já era esperado, os dois cenários mais votados pelos voluntários como seus preferidos foram os cenários com a maior quantidade de materiais fonoabsorventes e, consequentemente, com menores tempos de reverberação (Cenários E e G).

Gráfico com os resultados do tempo de reverberação de todos os cenários estudados

Porém, a surpresa dos resultados foi que o cenário com a maior quantidade de votos absolutos foi o cenário que possuía menos painéis acústicos de parede (Cenário E). E, avaliando os resultados das medições de tempo de reverberação e resposta em frequência da sala, foi possível concluir que existe uma ‘medida certa’ para a quantidade de absorção dentro dos Voice Booths para que o tratamento não seja excessivo, a sala não fique muito ‘seca’ e o campo acústico passe a ser desconfortável para os usuários.

Foi entendido que o Cenário G, apesar de possuir o menor tempo de reverberação, não foi tão votado quanto o Cenário E pois, para médias e altas frequências, seu cenário acústico é mais ‘distorcido’ (-10dB) que o o Cenário E (-5dB).

Gráfico da resposta em frequência do booth, medida de acordo com metodologia criada pela Harmonia

Portanto, apesar de ainda ser preciso realizar mais análises estatísticas para validar o cenário vencedor, validar a contribuição do posicionamento do painel acústico de parede dentro da sala e, também, levar em consideração materiais de absorção em baixas frequências (bass traps) que não foram utilizados neste estudo, foi possível concluir uma solução descritiva para o projeto acústico dos Voice Booths: carpete como revestimento de piso, forro acústico de alta absorção em 100% da área de teto e painel acústico de parede em, pelo menos, uma das paredes da sala.

Este estudo foi apresentado no Internoise 2019, em Madri, e para mais informações é possível ler o artigo original na integra neste link.

Rânny Araujo

Ondas moldam o mundo

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