Por que os filmes de ficção científica têm tudo a ver com a nossa realidade

Por que os filmes de ficção científica têm tudo a ver com a nossa realidade

Diversas vezes a realidade esteve inserida nos filmes de ficção científica e o inverso disso também. Antes das empresas Meta e Microsoft anunciarem a entrada no metaverso, já imaginávamos como seria a interação humana em um ambiente virtual. Por ser atemporal, as obras clássicas e as atuais de ficção científica previram as tecnologias e a sociedade do século XX e XXI. Como hoje vivenciamos mudanças constantes e novidades na ciência, alguns filmes nos espantam por mostrar com precisão a realidade.  

O filme Contágio (2011), por exemplo, é um dos filmes com representações mais semelhantes de como funciona uma pandemia. Além disso, a produção foi o segundo mais assistido do catálogo dos estúdios Warner Bros em plataformas online no início da pandemia do Covid-19, em 2020.  

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Filme Contágio, de 2011.

O modo questionador como as histórias despertam no espectador contribui para as pessoas recorrerem o gênero cinematográfico para “prever o futuro”. Como explica Cláudia Fusco, jornalista e mestre em estudo de ficção científica pela Universidade de Liverpool: “A ficção científica é a narrativa da especulação e da investigação de possibilidades. Então é natural que os leitores e espectadores fiquem entusiasmados com essas perspectivas”. 

Então será que vivemos na era da ficção científica? Fusco acredita que sempre vivemos em um mundo de ficção científica. “Sempre é possível especular, e toda história de ficção científica é especulativa e um produto do seu tempo”.  

Para a jornalista e futuróloga Lidia Zuin, a realidade e a ficção científica andam juntas. “O escritor de ficção científica está sempre ligado nas pesquisas tecnológicas e científicas. É disso que ele vai tirar insumo para pensar e refletir novos cenários, os quais nem precisam ser futuros”, afirma a jornalista.

Além da escrita, vários autores do gênero do século passado eram cientistas. Escritor da obra 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968), Arthur Clarke foi físico e propôs o desenvolvimento dos satélites geoestacionários. Ao mesmo tempo que participava de pesquisas científicas, Clarke trazia os conhecimentos para ficção.  

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  Filme 2001: Uma Odisseia no Espaço, de 1968.

Os anos 1960 foram marcados pela Guerra Fria, corrida espacial e contracultura. Por causa disso, vemos na adaptação literária de Clarke para o cinema temas como inteligência artificial, evolução humana e vida extraterrestre. Além disso, o filme foi considerado épico por causa da inovação nos efeitos especiais. 

A ficção científica também se insere no contexto da própria história do cinema ao abrir novos caminhos para a linguagem audiovisual. Se o filme do diretor Stanley Kubrick trouxe novos parâmetros para os filmes atuais do gênero, isso se deu graças ao primeiro filme de ficção científica: Viagem à Lua (1902). A história exigiu criatividade e inovação do cineasta francês George Méliès, porque o astronauta Neil Armstrong só pousou pela primeira vez na Lua em 1969. 

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Filme Viagem à Lua, de 1902.

Como os clássicos acertaram o futuro? 

A ficção científica também encorajou cientistas contemporâneos e de gerações mais jovens a pensarem em inovações. Segundo Fusco, não é uma “obrigação” do gênero em prever o futuro. “É uma via de mão dupla: a ficção alimenta a imaginação de criadores que vão colocar ideias inovadoras no mundo”. 

Alexa, assistente virtual da Amazon, surgiu a partir filmes que tratam a fronteira entre os humanos e as máquinas. De Frankenstein (1931) a Blade Runner (1982), e os mais recentes Ela (2013) e Ex Machina (2015), também ilustram os sentimentos de angústia e vazio no indivíduo. 

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Filme Ex Machina, de 2015.

Os nossos questionamentos sobre o futuro surgem da literatura do século XIX. A ficção científica nasce em 1808 com o romance Frankenstein, que também tem características do gênero literário gótico. De acordo com Zuin, a obra da Mary Shelley foi escrita quando a Inglaterra vivia a Revolução Industrial. “É nesse choque entre como o mundo era e o que pode vir a ser de acordo com as descobertas tecnológicas e científicas que a ficção científica se desdobra”. 

Por vivenciarmos agora a passagem para uma nova revolução industrial, Zuin ressalta que o momento atual nos coloca na posição de experimentar muitas mudanças e novidades na tecnologia. Logo, os escritores se inspiram a pensar cenários e interpretações que estão mais próximos das metáforas e temas de ficção científica.  

“Se pegarmos o argumento do Fórum Econômico Mundial, estamos vivenciando uma quarta revolução industrial. Estamos vendo o surgimento das chamadas tecnologias exponenciais: inteligência artificial, blockchain, tecnologias imersivas, biotecnologia, nanotecnologia, manufatura aditiva, robótica. Isso significa que quando essas tecnologias despontarem de vez, o mundo vai mudar muito e tanto quanto estava mudando na época de Mary Shelley.” 

As novas tecnologias citadas por Zuin vão alterar o modo como vivemos e encaramos a nossa realidade. Será que o mundo simulado será como nos filmes Matrix (1999) e o Jogador Número 1 (2018)? 

Você acredita que estamos na vivendo a ficção científica? Me conte nos comentários!

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