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Prevenção do Tráfico e Consumo de Drogas nas Escolas: Caso da

Escola Secundária da Matola, de 2015 à 2018

Prevention of Drug Trafficking and Consumption at the Schools: Case


of Matola Secondary School – (2015 at 2018)

Autores: Orlando Jorge Domingos Mapilele1 & Rodrigues Nhiuane Cumbane2

RESUMO
A presente pesquisa tem como objectivo, analisar a prevenção do tráfico e consumo de drogas na Escola
Secundária da Matola, de 2015 à 2018. Nesta pesquisa recorreu-se ao método qualitativo, através de
trabalho de campo. As técnicas de recolha de dados foram a pesquisa bibliográfica, a documental e
entrevista. Os guiões de entrevista foram administrados a uma amostra não probabilística intencional,
composta por 15 elementos, composta por alunos, pais e/ou encarregados de educação, guardas,
professores, membros da direcção da escola, agentes da PRM, do SERNIC da Esquadra Local e do
Gabinete de Prevenção Contra a Droga. O estudo mostrou que o tráfico e consumo de drogas é uma
realidade na escola estudada, há falta de clareza do conceito de drogas nos membros da direcção, existem
condições favoráveis ao tráfico e consumo de drogas no meio escolar; as causas do fenómeno vão desde a
falta de controlo de estudantes ao ambiente que rodeia a escola; a escola não tem plano de prevenção do
tráfico e consumo de drogas; e que o impacto das medidas de prevenção adoptadas na mesma reflecte-se
no estágio actual do fenómeno. A análise de conteúdos concluiu que o tráfico e consumo de drogas na
escola ocorre em redes envolvendo residentes da comunidade circunvizinha e indivíduos que aliciam
estudantes para o efeito, que as causas do fenómeno estão ligadas à fragilidade do dispositivo de controlo
de estudantes, a Escola não tem plano de prevenção do fenómeno e que o estágio actual do fenómeno é
contrário aos resultados esperados na aplicação de medidas de prevenção vigentes.
Palavras-chave: Droga, tráfico de droga e prevenção do tráfico de drogas.

ABSTRACT
The present work aims to analyze the prevention of drug trafficking and consumption at Matola
Secondary School – (2015 at 2018). This is a qualitative approach that consisted of conducting
interviews. The sample is intentional, non-probabilistic, composed of fourteen (15) elements, of which,
students, parents and/or guardians, guard, teachers, members of the school board, PRM agent and the
SERNIC Brigade. The study showed that drug trafficking and consumption is a reality in School, there is
a lack of clarity regarding the concept of drugs in the members of the school board, there are favorable
conditions for drug trafficking and consumption in the school environment; the causes of drug trafficking
and consumption are well known, with emphasis on the lack of student control and the surrounding

1
Licenciado em Ciências Policiais; Oficial da PRM.
2
Doutor em Território, Risco e Políticas Públicas; Mestre em Administração Pública; Licenciado em Ciências
Policiais. Docente-Investigador e Director de Investigação e Extensão da ACIPOL.

1
environment of the ESM; the school has no plan to prevent drug trafficking and consumption and the
impact of the preventive measures adopted in the ESM are reflected in the current stage of the
phenomenon. The main conclusions of the study are: drug trafficking and consumption is a reality at
School, it occurs in networks involving residents of the surrounding community and individuals who
entice students to this effect, the causes of the phenomenon are linked to the weakness of the preventive
devices, the School has no plan to prevent the phenomenon and its current stage is contrary to the
expected results in the application of the current prevention measures.
Keywords: drugs, drug trafficking and prevention of drug trafficking.

INTRODUÇÃO
O objectivo deste artigo foi analisar a prevenção do tráfico e consumo de drogas na
Escola Secundária da Matola, no período entre 2015 à 2015, buscando a sensibilidade dos
diferentes actores intervenientes, com vista a contribuir com o campo de discussão académico,
fornecendo subsídios para melhoria das medidas de prevenção do tráfico e consumo de drogas
vigentes na Escola.
Recordar que o papel da Escola é promover o desenvolvimento do indivíduo, tornando-o
capaz de enfrentar múltiplas situações, como espaço privilegiado para o desenvolvimento de
ideias, crenças e valores, por isso, ela deve ir para além da apreensão de conteúdos (Assis, 1994).
Concordando com Assis, Piaget (2000) afirma que a Escola tem por obrigação transmitir
modelos culturais, valores, conhecimentos e competências. Ela tem de criar a comunidade, ou
seja, dar a todos a bagagem comum de conhecimentos, de técnicas, de sentimentos que
constituem uma sociedade, nação e a humanidade, no geral. No entanto, nos dias que correm as
drogas constituem um problema que afecta os jovens, preocupa a sociedade no geral e
constituem uma ameaça ao futuro da juventude, sendo por isso motivo de pesquisa nas várias
áreas do saber.
Alguns estudos apontam para o aumento do consumo de drogas, principalmente entre os
adolescentes e jovens, daí que é considerado problema de saúde e segurança públicas, tendo em
conta os problemas e as consequências resultantes do uso da droga na sociedade, a UNESCO
(2005, p.46) definiu o cigarro e o álcool, como as drogas de uso frequente e mais difundida entre
os estudantes das escolas secundárias.
O mesmo posicionamento é sustentado por ABRAÇO (2012, p. 5) que destaca que as
drogas “[...] acarretam transtornos em todos os sistemas humanos”, ou seja, afectam os sintomas,

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nervoso central, digestivo, cardiovascular, endócrino e imunológico. A Política e Estratégia da
Prevenção e Combate à Droga sustenta que vários indicadores mostram o crescimento dos
índices de consumo e tráfico de drogas no país [...] mercê da conjuntura económica e social e as
suas consequências são percebidas na família, no trabalho, na rua, na disseminação do
HIV/SIDA, aumento da criminalidade e mais.
Consciente desta realidade, o Governo da República de Moçambique aprovou
instrumentos legais que servem de base orientadora da prevenção do tráfico e consumo de drogas
nas escolas, como é o caso, da resolução no 15/2003 do Conselho de Ministros que aprova a
Política e Estratégia de Prevenção e Combate à Droga (PEPCD) que estabelece como princípio
fundamental, a prevenção, com o objectivo de “promover iniciativas de prevenção primária,
dentro e fora da escola, principalmente nos meios frequentados por adolescentes e jovens,
incluindo o meio laboral” (Conselho de Ministros, 2003).
No âmbito dos instrumentos derivaram acções de prevenção do tráfico e consumo de
drogas nas escolas, visando a redução da demanda de drogas, recorrendo à várias técnicas, entre
as quais: palestras, debates radiofónicos, actividades desportivas e culturais, conforme atestam os
relatórios dos anos 2015 à 2018 do Gabinete de Prevenção e Combate a Droga da Província de
Maputo. A despeito das acções desencadeadas com vista á prevenção e combate às drogas, o
problema prevalece. A título de exemplo, de acordo com os relatórios anuais do Gabinete Central
de Prevenção e Combate à Droga, em 2015 foram registados a nível nacional, 367 casos
consumo e tráfico de drogas, em 2016, 753 casos, em 2017, 833 casos e em 2018, 932 casos, o
que demonstra uma tendência de crescimento de índices de tráfico e consumo de drogas.
No caso da província de Maputo, os distritos de Matutuine, Moamba, Namahacha e
Magude, por si situarem na zona fronteiriça são os mais críticos, termos de produção e tráfico
(devido a sua localização geográfica), enquanto a Cidade da Matola, por ter afluência de “bocas
de fumo” localizadas nos Bairros, lidera no consumo.
Em relação às escolas, importa referir que os registos do Gabinete Provincial de
Prevenção e Combate à Droga de Maputo mostram que nas Escolas Secundárias localizadas no
Município da Matola, o consumo de drogas tende a aumentar, na medida em que, em 2015 o
total de casos registados foi de 46 casos, em 2016, 53 casos, em 2017, 34 e em 2018, 71 casos,

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sendo as drogas de maior incidência a cannabis sativa, seguida de bebidas alcoólicas (não
classificadas como drogas à luz do art. 3 da lei 3/97, de 13 de Março).
A tabela 1 mostra uma tendência crescente de casos de consumo de drogas na Escola
Secundária da Matola (ESM) no período, de 2015 à 2018 (Relatórios do Gabinete de Prevenção e
Combate à Droga da Província de Maputo – GPCD).
Ano 2015 2016 2017 2018
No de Casos registados 07 11 9 15
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados fornecidos pelo GPCD.

Apesar das acções de prevenção do tráfico e consumo de drogas materializadas através de


palestras, aconselhamento, encaminhamento e tratamento, os dados do período 2015 à 2018
ilustram uma tendência crescente que tem como consequência, o baixo aproveitamento
pedagógico, absentismo, episódios de violência, violações sexuais e outros, representando
elevados custos no seio da comunidade estudantil e para as famílias.
Neste contexto, o cenário apresentado na tabela 1 demonstra que apesar do trabalho que
tem sido levado a cabo pelo Governo e pela Escola, o tráfico e consumo de drogas e as suas
consequências persistem, e a missão da Escola fica comprometida, factores que determinaram a
necessidade de um estudo para aferir a forma como é feita a prevenção do tráfico e consumo de
drogas na Escola Secundária da Matola.
Mas também é preciso recordar que a adolescência é uma fase da vida que aflora-se
principalmente nos níveis escolares correspondentes ao Ensino Secundário, é a idade humana,
em que o indivíduo está em busca de uma identidade como pessoa, sendo alvo de várias
influências e novas experiências que poderão definir sua personalidade por bons anos
(Casteletto, Fonseca e Paini, 2010, p.28).
De realçar que o contacto com as drogas nessa fase pode mostrar-se nocivo, uma vez que
os indivíduos estão por se conhecer ainda. Destaca-se o álcool, o tabaco e a cannabis como
drogas de uso mais frequentes entre estudantes do Ensino Secundário, com tendências crescente
nos últimos anos. Nesta perspectiva, a família desempenha capital importância na educação e na
inserção dos seus membros na sociedade, influenciando como o adolescente reage à ampla oferta

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de drogas na sociedade, mais especificamente no meio escolar, (Casteletto, Fonseca e Paini,
2010, p.31).
Cientes de que a questão das drogas envolve vários actores, desde a família até a escola,
as acções de prevenção devem ser de natureza multidisciplinar, devendo envolver mecanismos
de interacção social, redução de danos, pesquisas científicas, acções legais e mais. Logo, a escola
como local de interacção de vários actores (família, estudante, professor), é o espaço mais
adequado para abordagem do problema das drogas entre adolescentes, por se tratar do local do
desenvolvimento pessoal, social e de construção de um projecto de vida (Salgado, 2012, p.10).
Na esfera pessoal, o que motivou a escolha do tema é a necessidade dar um contributo
pessoal, académico e profissional para traçar-se mecanismos de actuação policial mais eficazes
na prevenção do tráfico e consumo de drogas no meio escolar e nos espaços frequentados por
adolescentes e jovens, mas também a necessidade de aprimorar as ferramentas sobre as
metodologias de investigação científica para a resolução de problemas concretos no campo da
segurança pública.
No âmbito académico, partindo da análise das manifestações, das causas do fenómeno e
das medidas de prevenção adoptadas pela escola objecto de estudo, este artigo teve como
propósito, contribuir para uma reflexão académica sobre a problemática do tráfico e consumo de
drogas nas escolas com vista a se encontrar mecanismos mais adequados para a prevenção do
tráfico e consumo de drogas no ambiente escolar.
Do ponto de vista social, constituiu motivação do artigo, a necessidade de criação de um
ambiente escolar livre das drogas, a partir da análise das consequências do seu uso por
adolescentes e jovens, e sobretudo reflectir sobre a forma como a sociedade contribui na
materialização das medidas de prevenção do fenómeno das drogas e como são articuladas as
medidas de prevenção neste domínio. É neste âmbito que o artigo propôs sugestões de soluções
integradas para o problema, que vão desde o apelo à participação dos pais, aprimoramento do
papel das escolas na prevenção e combate às drogas, palestras de sensibilização e outras acções
pertinentes para mitigar o problema, no sentido de se criar uma atmosfera de formação livre das
drogas.

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Vale a pena ressaltar que o objectivo geral deste artigo foi analisar a prevenção do tráfico
e consumo de drogas na Escola Secundária da Matola e os específicos foram descrever o tráfico
e consumo de drogas na Escola Secundária da Matola, identificar as causas do tráfico e consumo
de drogas na Escola Secundária da Matola, analisar as medidas de prevenção do tráfico e
consumo de drogas vigentes na Escola Secundária da Matola e verificar a efectividade das
medidas de prevenção do tráfico e consumo de drogas no meio escolar adoptadas pela Escola
Secundária da Matola.
Por outro lado, a opção de desenvolver a pesquisa na Escola Secundária da Matola
deveu-se ao facto da mesma ser muito propensa ao fenómeno das drogas, visto que situa-se nas
imediações do Bairro da Matola “F”, tido como um dos centro do tráfico e consumo de drogas na
Cidade da Matola, e também pela tendência crescente de casos de tráfico e consumo de drogas
no meio escolar, no período em referência.
A Escola Secundária da Matola, abreviadamente designada ESM situa-se na Cidade da
Matola, no Bairro Unidade “B”, Rua da Educação Nº 1600 (Rua perpendicular à Estrada
Nacional Nº4) e tem como limites: Norte – antiga Fábrica Plastex e o Clube Desportivo da
Matola; Sul – Direcção Provincial da Agricultura e Segurança Alimentar e a Fábrica de Sumos
Sumol; Este – Bairro da Matola “F” e; a Oeste, a antiga Fábrica de Omo da Matola. A mesma
tem um universo de 9232 alunos, dos quais, 5344 são do sexo feminino e conta ainda com um
Conselho de Escola que é um órgão consultivo, ao qual integram Pais e/ou Encarregados de
Educação.
De realçar que a presente pesquisa é referente ao intervalo de 2015 a 2018, na medida em
que este período apresentou uma tendência crescente de casos de tráfico e consumo de drogas na
ESM, dai a preocupação de aferir a eficácia das medidas de prevenção adoptadas, por um lado e
por outro, está associado à formação académica do autor principal no Curso de Mestrado
Académico em Segurança Pública (edição 2018-2020), na ACIPOL, sua área de interesse.

TEORIA BASE
Duas teorias orientaram a abordagem do objecto de pesquisa, designadamente, a teoria da
associação diferencial, destinada a explicar as causas do problema de tráfico e consumo de

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drogas na Escola Secundária da Matola e a teoria de sistemas, que é o suporte para se encontrar a
solução para o problema em análise.
A associação diferencial como processo de aprender alguns tipos de comportamento
desviante, que requer conhecimento especializado e habilidade, bem como a inclinação de tirar
proveito de oportunidades para usá-las de maneira desviante (Calhau, 2009), defende que o
indivíduo torna-se integrante de algum grupo, tendo disposição a aprender práticas tidas como
criminosas, recebendo o grupo, alguém com preparo específico, com informações íntimas e
privilegiadas.
O próprio criador da teoria deixa claro que a criminalidade sistemática é aprendida em
associação directa ou indirecta com aqueles que já praticam o comportamento; e aqueles que
aprendem este comportamento criminoso são apartados de contactos íntimos e frequentes com
comportamento de obediência à lei. Se uma pessoa torna-se um criminoso ou não é amplamente
determinado pela frequência e intimidade de seus contactos com as duas espécies de
comportamento, o que pode ser denominado de processo de associação diferencial (Sutherland,
1940, p.2).
A teoria de associação diferencial possui alguns pontos específicos para análise, entre
eles, o facto de que a conduta criminal se aprende com a mesma metodologia de qualquer outro
aprendizado, até mesmo o virtuoso. Ademais, a conduta delituosa também pode ser assimilada
durante a interacção com outras pessoas, por intermédio do processo de comunicação, que é
factor extremamente importante para a propagação dos ensinamentos delituosos, existindo uma
conduta activa por parte do indivíduo, assim como do grupo, com maior efeito quando ocorre no
seio das relações mais íntimas (Gomes e Molina, 2008, p.17).
Gomes e Molina (2008, p.17) acrescentam ainda que o comportamento criminal inclui
também técnicas de cometimento do delito como a da orientação específica das correspondentes
motivações, impulsos, atitudes e da própria racionalização (justificação) da conduta delitiva.
Por seu turno, para a teoria de sistemas, Segundo Bunge (2003) os problemas vêm em pacotes ou
sistemas, inclusive os problemas práticos, como o problema da droga, que não se resolve
punindo os traficantes, muito menos os consumidores. É preciso atacar também as raízes

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económicas e culturais do abuso de substâncias, como pobreza, o mercado competitivo de
drogas, a anomia e a ignorância.
Neste sentido, torna-se imperioso tecer o conteúdo de sistema que na visão de Uhlmann
(2002), pode ser definido como um conjunto de elementos interdependentes ou em inter-relação
entre si e com o ambiente, para a consecução de um objectivo comum. Portanto, a abordagem
separada de cada componente do problema não funciona para problemas complexos, pelo que o
sistemismo se propõe como visão para abordar esses problemas complexos.
A visão de que o conceito de sistema é central para a ciência e a tecnologia social e, com
efeito, para todas as ciências e tecnologias, pode ser chamada sistemismo. O sistemismo tem dois
componentes: ontológico e metodológico. O ontológico afirma que o mundo é um sistema antes
que uma colecção de indivíduos ou um bloco sólido. O metodológico é a visão de que os todos
são melhor entendidos por meio da análise e indivíduos por meio da síntese (Bunge, 2006, p.12-
13).
Neste sentido, os fenómenos sociais estão dentro do sistema social e estão em constante
processo de criação e recriação, por meio da interpretação dos agentes sociais em seus contextos
de interacção. Isso é possível, segundo Teixeira (s/d), pelo facto de que os agentes sociais são
teóricos práticos, com capacidade de analisar e compreender suas circunstâncias e partilhar uma
compreensão subjectiva do contexto no qual estão inseridos.
Tendo em conta que a prevenção do fenómeno de tráfico e consumo de drogas entre
jovens é um problema que vem sendo discutido por profissionais de diversas áreas e em várias
perspectivas teóricas, devido aos prejuízos individuais e sociais a ele associados, pensamento
reflectido na política e estratégia de prevenção e combate a droga que preconiza a intervenção
coordenada e integral de todos os vectores da sociedade, a abordagem sistémica é a que melhor
responde ao problema de pesquisa.
Para Uhlmann (2002, p.61),
“A abordagem sistémica é a maneira como pensar sobre o trabalho de gerir. Ela fornece
uma estrutura para visualizar factores ambientais internos e externos como um todo
integrado. (…) Os conceitos sistémicos criam uma maneira de pensar a qual, de um lado,
ajuda o gerente a reconhecer a natureza de problemas complexos e, por isso, ajuda a

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operar dentro do meio ambiente percebido. (…) Mas é preciso perceber que os sistemas
empresariais são uma parte de sistemas maiores (…) (e) estão num constante estado de
mudança – eles são criados, operados, revisados e, frequentemente, eliminados”.

Neste conceito e da análise das características do sistema, de acordo com Vieira (1998)
podem ser encontrados duas categorias de parâmetros, Básicos ou fundamentais, aqueles
apresentados por todos os sistemas: permanência, ambiente e autonomia; e Evolutivos, que são
representados pelos parâmetros emergentes nos sistemas ao longo da evolução, não obrigatórios,
podem ocorrer ou não ao longo do tempo da existência do sistema, designadamente: composição,
conectividade, estrutura, integralidade, funcionalidade, organização, parâmetro livre ou
complexidade.
Conforme Castro e Rosa (2010, p.8) dada a complexidade do problema do uso de drogas,
a interacção de factos bio-psico-sociais e o campo das acções preventivas é extremamente
abrangente, envolvendo aspectos que vão desde a formação da personalidade do indivíduo até
questões familiares, sociais, legais, políticas e económicas.
Mas também, atento à natureza da Escola e pelo facto de esta reunir todas as
características de um sistema e devido a complexidade do problema da prevenção do fenómeno
de tráfico e consumo de drogas na Escola Secundária da Matola, onde interagem variáveis dos
ambientes internos e externo, a abordagem sistémica é a que melhor se enquadra e responde os
objectivos propostos.
Das duas teorias apresentadas, a abordagem sistémica é a que melhor se enquadra nos
objectivos do estudo, apesar de a teoria de associação diferencial concorrer para a explicar as
causas do tráfico e consumo de drogas do meio escolar. Portanto, a aplicação da teoria de sistema
neste trabalho baseou-se na identificação das causas e manifestações do problema, dos elementos
(actores) envolvidos e suas responsabilidades, visando o fim último, de prevenir e combater a
droga na Escola Secundária da Matola.
METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa qualitativa, empírica através de trabalho de campo na ESM. As
técnicas de pesquisa foram a pesquisa bibliográfica, pesquisa documental e entrevista. Quanto

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aos instrumentos de recolha de dados forma elaborados guiões de entrevista estruturada
específicos para as seguintes categorias: membros da Direcção da Escola e Professores, Alunos,
Pais e/ou Encarregados de Educação, Guardas, Agentes da PRM e da Brigada do SERNIC da 2ª
Esquadra da PRM na Cidade da Matola e para o Gabinete Provincial de Prevenção e Combate à
Droga de Maputo.
Quanto à população-alvo, foram todos os actores que participam da actividade de
prevenção e combate à droga na ESM, conforme a indicação dos guiões de entrevista
referenciados. A amostragem foi não probabilística e intencional, seleccionada criteriosamente,
composta por 15 elementos, designadamente, 2 membros da Direcção da Escola, 3 Professores, 3
Alunos, 3 Pais e/ou Encarregados de Educação, 1 Guardas, 1 Agentes da PRM e 1 Agente da
Brigada do SERNIC da 2ª Esquadra da PRM na Cidade da Matola e 1 Técnico do Gabinete
Provincial de Prevenção e Combate à Droga de Maputo.
Para análise de dados recorreu-se à análise de conteúdo através da compilação separada e
comparação das respostas de cada categoria do estudo, donde identificou-se os aspectos comuns
e divergentes de cada categoria de estudo. Por fim, a informação proveniente das 7 categorias em
análise foi cruzada e discutida à luz das diferentes conclusões dos autores que constam da
revisão da literatura.

DISCUSSÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS DO ESTUDO


Recolhidas as informações com base nos instrumentos e técnicas enunciadas no capítulo
anterior, procede-se neste capítulo a sua apresentação, análise e interpretação. Deste modo, o
plano de análise e tratamento de dados foi elaborado com base na triangulação dos dados obtidos
de diferentes fontes buscando trazer neste capítulo a manifestação dos objectivos específicos do
estudo e a resposta à pergunta de partida.
Descrição do Tráfico e Consumo de Drogas na Escola Secundária da Matola
Em relação a descrição do tráfico e consumo de drogas na ESM foram identificados três aspectos
essenciais, designadamente, o primeiro diz respeito à confirmação da ocorrência do fenómeno, o
que atesta os dados apresentados na descrição do problema (vide tabela 1); o segundo, prende-se
com a insegurança conceptual ou falta de clareza sobre o que é droga, e a percepção de que há

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uma linha de separação entre droga e álcool, patente na resposta de um dos sujeitos de pesquisa
ao afirmar “Não confirmo a ocorrência do tráfico e consumo de drogas, mas sim do álcool” e; o
terceiro reflecte a existência de condições favoráveis ao tráfico e consumo de drogas no ambiente
escolar, devido a fragilidade do dispositivo de segurança e a localização da Escola.
Segundo Calhau (2009), associação diferencial é o processo de aprender alguns tipos de
comportamento desviante, que requer conhecimento especializado e habilidade, bem como a
inclinação de tirar proveito de oportunidades para usá-las de maneira desviante.
Para esta teoria, o indivíduo/estudante está inserido num ambiente que o torna integrante
num grupo que cria disposição para a aprendizagem de práticas tidas como desviantes ou
criminosas, como reflexo do contacto com grupos de marginais que circundam a ESM, e como
consequência, todo o preparo específico e informações pertinentes, íntimas e privilegiadas para o
efeito.
Ademais, a conduta delituosa também pode ser assimilada durante a interacção com
outras pessoas, por intermédio do processo de comunicação, que é factor extremamente
importante para a propagação dos ensinamentos delituosos, existindo uma conduta activa por
parte do indivíduo, assim como do grupo, com maior efeito quando ocorre no seio das relações
mais íntimas (Gomes e Molina, 2008, p. 17).
Neste contexto, a teoria de associação diferencial e tendo em conta a vulnerabilidade da
ESM ao fenómeno das drogas, pelo ambiente que a rodeia, há muita facilidade de os alunos se
envolverem no tráfico e consumo de drogas, conforme atestam os depoimentos dos sujeitos de
pesquisa em análise nesta secção, sobre as manifestações do fenómeno de tráfico e consumo de
drogas no ambiente escolar.

Causas do tráfico e consumo de drogas na Escola Secundária da Matola


Foram identificados dois tipos de causas, as relacionadas com o ambiente interno,
designadamente, a falta de controlo de estudantes, a fraca participação dos pais na vida dos
estudantes, o excesso do dinheiro do lanche e a influência de más amizades e; as causas
relacionadas com o Ambiente externo, nomeadamente, a proliferação de marginais nos

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arredores da Escola, a influência do Bairro da Matola “F”, tido como centro do problema, a falta
de iluminação nas vias adjacentes à Escola e o deficiente sistema de vigilância e patrulhamento.
Analisando as diferentes respostas dos entrevistados, fica claro que as causas do tráfico e
consumo de drogas na ESM são conhecidas por todos os actores que intervêm na prevenção do
tráfico e consumo de drogas na Escola, designadamente, a Direcção da Escola, os Professores,
Estudantes, Guardas, Pais e/ou Encarregados de Educação, PRM, SERNIC e GPPCD.
Neste sentido, se de acordo com Bunge (2003) problemas vêm em pacotes ou sistemas,
inclusive os problemas práticos, como o problema da droga, que não se resolve punindo os
traficantes, muito menos os “consumidores”, é preciso atacar também as raízes económicas e
culturais do abuso de substâncias, como pobreza, o mercado competitivo de drogas, a anomia e a
ignorância, questões que foram devidamente elencadas na abordagem das causas do problema
pelos entrevistados.
Assim, torna-se imperioso recordar o conteúdo de sistema que na visão de Uhlmann
(2002), pode ser definido como um conjunto de elementos interdependentes ou em inter-relação
entre si e com um ambiente, para a consecução de um objectivo comum. Embora o problema em
causa, o de prevenção de tráfico e consumo de drogas na ESM preocupe a todos os actores da
escola, de onde resultariam mecanismos de acção com responsabilidades claramente definidas,
da análise das respostas dos entrevistados não podemos afirmar que estamos perante um sistema
porque os diferentes actores envolvidos agem de forma descoordenada.
Ademais, a abordagem separada de cada componente do problema, que domina a
actuação dos distintos actores que intervêm no ambiente escolar não funciona para problemas
complexos, como o de prevenção ao tráfico e consumo de drogas na ESM, o que contaria o
postulado na Política e Estratégia de Prevenção contra a Droga, que preconiza uma intervenção
cada vez mais coordenada e integral de todos os vectores da sociedade com vista a erradicação
do fenómeno de tráfico e consumo de drogas.

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Medidas de Prevenção do Tráfico e Consumo de Drogas Vigentes na Escola Secundária
da Matola
Segundo as respostas dos entrevistados constatou-se a ausência de plano na Escola, por
um lado, por outro, a preocupação da Escola com o problema, através da definição de medidas
de prevenção do fenómeno.
Nestes termos, do ponto de vista teórico, as medidas de prevenção aludidas pelos
distintos sujeitos de pesquisa, embora não caibam num plano de prevenção do fenómeno em
causa, visto que a escola não tem um plano para o efeito, as medidas vigentes foram orientadas
para incidirem sobre as causas identificadas e enquadram-se nos três níveis de prevenção, de
acordo com Segundo (Santos, 2008; Calhau, 2009 e; Salgado, 2012) designadamente, prevenção
primária, a secundária e a terciária.
No campo da prevenção primária ou universal, também apontada como sendo a
prevenção genuína, a que se dirige a toda a comunidade escolar, tem como objectivo fazer com
que o indivíduo diga não as drogas e não as experimente. A prevenção primária materializa-se
através de campanhas de sensibilização para não adesão às drogas, palestras dentro e fora da
Escola, com envolvimento de toda a comunidade escolar, incluindo Pais e/ou Encarregados de
Educação, acções de vigilância e patrulhamento efectuadas pela Polícia e reuniões de
coordenação entre Polícia e Comunidade.
No campo da prevenção secundária ou selectiva que tem por objectivo fazer com que o
indivíduo diminua o uso e antes que ele chegue a ser um dependente químico, de acordo com os
sujeitos de pesquisa, esta materializa-se através de: aconselhamento aos alunos que se envolvem
em drogas para o abandono às drogas, convocação dos Pais e/ou Encarregados de Educação e
acções de aconselhamento, seguimento hospital para a recuperação de estudantes que consomem.
Prevenção terciária ou indicada, cujo objectivo é tentar fazer com que o indivíduo aceite
o tratamento por livre e espontânea vontade e a sua reintegração na sociedade, na ESM
materializa-se por meio de: processo de desintoxicação de estudantes viciados ou dependentes,
com o conhecimento e colaboração dos pais ou encarregados de educação, medidas de
reabilitação e, para os casos mais graves, de reincidentes e os que não demonstram tendências de

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recuperação, são aplicados medidas administrativas que podem ser de suspensão, expulsão e de
detenção, dependendo dos casos.

Impacto das Medidas de Prevenção do Tráfico e Consumo de Drogas Adoptadas pela


ESM
Para se analisar o impacto das medidas adoptadas pela ESM na prevenção do tráfico e
consumo de drogas no meio escolar, em função das diferentes respostas dos entrevistados é
importante primeiro recordar que os mesmos afirmaram que a ESM não possui plano de
prevenção e combate ao tráfico e consumo de drogas no ambiente escolar, que seria o
instrumento orientador de todas as actividades pertinentes.
Tendo em conta que a dimensão do problema extravasa as competências da escola,
porquanto o raio de intervenção desta restringe-se ao perímetro da Escola e no aluno e todo o
conjunto de medidas de prevenção vigentes têm como centro o aluno ou consumidor interno, que
é o destino final e a vítima do fenómeno, apesar dos esforços da escola no sentido de se resolver
o problema, resultam no fracasso, tendo em conta o estágio actual do problema.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base na análise e discussão anteriores sobre a prevenção do tráfico e consumo de drogas
nas escolas, tomando a Escola Secundária da Matola, no período compreendido entre 2015 e
2018, o estudo concluiu:
 O tráfico e consumo de drogas é uma realidade na ESM. O fenómeno ocorre num
contexto de redes estabelecidas envolvendo, por um lado, residentes da comunidade
circunvizinha onde se localizam as bocas de fumo, as barracas de venda de álcool e
tabaco, bem como os indivíduos encarregues de aliciar e coagir os estudantes para o
consumo de tais substâncias.
 O tráfico e consumo de drogas na ESM tem como causas, fragilidade do dispositivo
preventivo, isto é, o fraco patrulhamento policial, incapacidade dos guardas em detectar
drogas na eminência de entrar no ambiente escolar e a falta de articulação sistémica entre

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os órgãos encarregues pela prevenção do tráfico e consumo de drogas no ambiente
escolar, designadamente, Escola, Polícia e Comunidade;
 A ESM não tem um plano de prevenção do tráfico e consumo de drogas no ambiente
escolar, no entanto, estão vigentes algumas medidas tomadas discricionariamente, tais
como, campanhas de sensibilização para não adesão às drogas, com envolvimento de toda
a comunidade escolar, incluindo pais e/ou encarregados de educação e acções de
vigilância e patrulhamento efectuadas pela Polícia;
 As medidas de prevenção do tráfico e consumo de drogas vigentes na ESM não são
efectivas dado que o estágio actual reflecte um fenómeno contrário aos resultados
esperados na aplicação das medidas viventes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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