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Missionário Apostólico
As Heroinas
do Dever
(ESTUDOS FEMININOS)
DO DEVER:
As que PENSAM.
As que VIBRAM.
As que AMAM.
As que CHORAM.
As que U.EZAM.
As que TRABALHAM.
As que LUTAM.
Algumas mulheres-modelo.
NllllL OBSTAT
Taubaté, ln festo Assumpt. B. M. V. 1939
P. Ferd. Baumhoff S. C. J.
Censor ad-hoc.
IMPRIMATUH
t Anti.ré, Bispo diocesano.
Taubaté, 26-8-39.
IMPRIMI POTEST
Taubaté, in festo Annuntiationis B. M. V.,
annl 1940
P. P. Storms
Praep. prov. brasil.
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Prefácio
Houve quem dissesse a profunda palavra: Cabe
aos homens o construirem a grandeza de um povo, mas
é pelas mulheres que um povo ascende ou desce.
Com efeito. Se isto foi verdade sempre, é o,
mais que nunca, nos tempos que correm. Já passou a
hora das ociosas discussões. M(llis do que nunca está
em jogo a causa de Deus em nossa Pátria estret/Dl!cida.
São inúmeros os inimigos que invadem a fronteira da
moralidade que herdamos dos nossos país. Forças in
gentes se conjugam contra as convicções que tanto aca
lentamos, contra os costumes que contornavam os nos
sos berços.
E não são parágrafos que conseguem rept1imir a
avalanche do mal, não é a polícia que vale arrostar o
inimigo que espalha o joio por entre a seara. Não. E.
a mulher cristã, é a riquev1 da alma feminina, abebe
rada nas fontes salutares do Cristianismo, em cujas mãos
está o conjurar a invasão infernal. t!, no coração femi
nino, culto e formado de acordo com suas justas aspi
rações, que se esbarram todas as maquinações do Infer
no e de coorteis.
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6 LÉON RIMBAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 7
oferecendo este livro AS SENHORAS BRASILEIRAS,
não fazemos senão seguir a tradição da IGREJA CA
TôLICA, felizes e ufanas de prestar às mulheres das
classes dirigentes a honra de que as tem cercado de São
Jerônimo a São Franciisco de Sales,. de Pénelon a Lacor
daire,. e Dupanloup todos os séculos cristãos.
É pois nas mãos de todas as donzelas e senhoras
brasileiras que desejávamos ver este livro valioso. Bem
meditado e seguido, porém, dar-nos-á a benção desta
elite aguerrida de HEROINAS DO DEVER que tão
extraordinária, tão incomensurável, tão estupendamente
tem entrado a determinan. na História do Criistianismo,
o curso para a ascensão dos povos.
P. LACROIX
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lntroducdo
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AS HEROINAS DO DEVER 11
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DO DEVER
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AS HEROINAS DO DEVER 15
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16 LÉON RIMBAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 17
sas: "Para mim, Auvergne, os inimigos!" - E não é
tarde nem então.
Ainda podemos evitar uma catástrofe.
"Ouço muita gente argumentar contra a liberda
de do homem, escreve Jean-Jacques Rousseau, e des
prezo todos esses sofismas, porque, por mais que um
argumentador me queira provar que eu não sou livre,
o sentimento interior, mais forte que todos os argu
mentos, os desmente sem cessar.
A crença universal de todos os povos proclama a
nossa liberdade. Em toda parte aprova-se o bem, esti
gmatiza-se o mal; em toda parte estabelecem-se tribu
nais, baixam-se leis.
Tudo isso supõe a ijber1ade.
Consequências horrorrosas decorrem do êrro con
trário. Se não somos responsáveis, não há mais dever,
porquanto a obrigação de querer o bem implica de es
colhê-lo.
..
' Se não somos responsáveis, não há mais nem vir-
tude, nem vício: como não há nem bem nem mal para
os brutos.
O assassino não será mais culpado do que sua ví
tima. Não há mais conciência. Por que corar? por que
chorar? por que temer? O tigre mata e dorme. O ho
mem deve proceder da mesma fórma. Não há mais
justiça. Os criminosos são, quando muito, uns doen
tes. Abolí a magistratura, derrubai as prisões, abrí os
hospitais.
Consequências tão monstruosas, tão -contrárias ao
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18 LÊON RIMBAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 19
nem justiça, ne;m moral_ De feito, se tudo se limita à
vida presente, por que a autoridade, por que os pnv1-
légio5 nas rodas da aristocracia? Por que a sujeição,
a pobreza, :is misérias e os sofrimentos nas camadas
da plebe? Si a vicia futura não passa de sonho, o ho
mem tem razão de buscar na vida presente sua alegria
e felicidade,
Se não as acha, faz muito bem em forcejar por
conquistá-las pelas armas, pelas revoluções. Se fracas
sa, ninguém póde censurá-lo por se refugiar no cleses
pêro e pedir ao suicídio o único remédio que lhe resta.
Como se vê, a ausência de toda crença na imortalida
de é o caminho fechado a toda virtude, a todo herois
mo, a toda dedicação. E' a trilha aberta para todas as
paixões, para todos os crimes, para todas as revolu
ções.''· Cumpre, pois, crer no dever.
Deus, a libcnladc e a imortalidade da alma fazem
no uma necessidade filosófica.
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20 LÉON RIMBAULT
-
de honestidade ao vício.
Por isto, surpreendei o povo nas suas explosões
de bom senso cotidiano.
Por que respeita ele a Irmãzinha dos pobres que
passa? Por que é que não vê sem emoção a irmã de
Caridade nas salas do ambulatório?
Por que, ao contrário, persegue com seus esgares
e zurze com as suas chalaç:i�t . _em largos salpicos, a
mulher exibicionista e suspeita, "imodesta e pouco reca
tada, que passa a se ostentar?
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AS HEROINAS DO DEVER
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22 LÉON RIMBAV.LT
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AS HEROIN AS DO DEVER 23
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24 LÉON RIMBAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 25
E' necessário.
Sim, é necessário. O dever é uma dívida sagrada,
a hipotééa -segura que é preciso resgatar. E' uma co
mo penhora ,dt;t�que importa, resolutamente, no3 liber
temos.
E' necessário. Que palavra profunda! E' Deus na
conciência humana.
Oportet illum reguare. . . é necessário qµe êle rei
ne sôbre todas as nossas faculdades.
Não é a inteligência, por ventura, um poder legis
lativo que vê e decreta? Não é a vontade um poder
executivo que aplica a lei? E as paixões, não teem elas
os frênesis e as psicoses das sublevações do povo, que
se devem submeter?
Quem valerá garantir a reta ordem das nossas fa
culdades? Qu<'m rnnscg-11irá abater-lhe os levantes e
as revoltas?
E' a conciência bem formada. E' a conciência do
dever.
E' necessário! Razão eterna (Platão lhe chama de
LOGOS, Cícero de SUMMA RATIO, o Evangelho de
VERBUM) mostra-se-nos com o braço autoritativa
mente extendido a indigitar-nos o nosso fim e destino:
"Vai!"
E' necessário! E' de dentro de nós que nos vêm
esta obrigação indeclinável. E' porém mais forte que
nós, está acima de nós.
E' por isto que o dever não se confunde nem ,com
a opinião, nem com o interêsse. E' a própria moral,
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26 LÉON RIMBAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 27
:*
**
Houve qttcm quisesse confundir o dever com o
intcrêssc. E' ttm abismo que os separa.
Sem dúvida, há em cumprir o próprio dever um
interêsse remoto e final, mas é um interêsse invisivel,
discutível aos sentidos, no qual a paixão não crê.
O que ela v� é apenas a fadiga presente, o perigo
iminente, a aspereza do esfôrço atual.
Por isto o eterno conflito do dever com as 'Pai
xões. E' o mais palpitante combate a que os anjos e
os homens possam assistir neste mundo.
Tudo quanto se há feito de grande, através dos
séculos, é da alçada do dever.
Tudo quanto se tem feito de ignóbil, é da alçada
do interêsse. E' necessário I clama ao interêsse o dever.
E não há coisa mais bela, mais sublime <"., não raro,
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28 LÉON RIMBAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 29
plo a teus filhos, lição deci.êiva ao teu homem, sacrifi
ca o dinheiro à sublimidade do dever. E' necessário!"
E ela obedeceu sem hesitação, e não sem sofri
mento. Daí, o seu heroismo e sua grandeza dalma.
Devé dizer-se: "Sua Majestade o Dever!" como
se diz: "Sua Majestade a Morte!"
Aliás, imolar o interêsse ao dever é, em certos ca
sos, entregar-lhe a cabeça, sa,crificar-lhe todo o saii-
· · ·•
gue.
"Escapa ao suplício a todo custo", murmura, c.o
vardemente, o interêsse. "Que importa uma palavra?
inda que seja juramento! Dize-a, presta-o! - Não!
não!" Potius mori quam foedari 1 "Antes morrer que
pecar", raciocina a conciência cristã.
Era em 1793. Um sacerdote bretão, quase sexa
genário, Monsenhor Riou, reitor de Lababan, era d
tado perante o tribunal revolucionário. Desejoso de
salvá:lo, o juiz lhe aconselhara, antes do interrogató
rio, declarar que tinha sessenta anos, ou que não co
nhecia a lei.
"Tens certamente mais de sessenta anos", per
guntou-lhe o juiz, mal êle compareceu. - "Não,"
respondeu o prevenido. - "Enganas-te, pareces ter
mais de sessenta anos." - "Já vos disse que não te
nho," prossegue Mons. Riou, "e, se não quiserdes acre
ditar na minha palavra, dai-me tempo de mandar vir a
minha certidão de batismo ( sic), e vos provarei a ver
dade do que estou dizendo." E acres•centou: "Não
quero salvar minha vida por uma mentira."
Acolheu com serenidade a sentença que o man-
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Outros houve que quisessem fazer depender o de
ver da opinião. Tão pouco como o interêsse, a opinião
póde ditar o dever.
A opinião é cambiante e voluvel, o dever é imutá
vel, inalterável, inexorável.
A opinião não tem outro impulso senão o capri
cho, o instinto, a paixão cega; o dever, ao invés, apoia
se na razão. Tumultuosa, febril, a opinião perde a ca
beça, atira-se aos abismos; -calmo, digno, o dever ha
bita na paz das cumiadas.
A opinião é uma torrente, tem-lhe os rumores, Oi
sobressaltos, as perturbações, as espumas; o dever é
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AS HEROINAS DO DEVER 31
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32 LÉON RIMBAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 33
se esborrondam, as almas se embotam, tudo definha
numa diferença esteril, numa paz deshonrosa que se
parece com a morte.
O interêsse e a opinião devem ceder à majestade
do dever.
Todas as cóleras das paixões nada farão: o dever
ultrapassa-as, ou antes, fica fóra dos seus botes.
O Monte-Branco cintila ao longe, na sua alvura
triunfal, e, segundo a palavra pitoresca de Combalot,
"os ratos não o hão 9e comer.',
*
**
O dever é indestrutível: como o sacerdócio cató
lico. A Igreja não precisa de mais que de uma gota
de óleo e ele algumas palavras; com isso faz um padre.
O padre prega a ncecssiclaclr, a serenidade, a in
violahilid:ak do dcvn, encarna-o cm si. O dever exa
la-se das dobras <la sua batina, como o perfume de
Aarão. E' o cimento das suas obras, o braseiro do seu
zelo, a corôa dos seus amores. Tentai impedir o <lever
de ecoar nos lábios sacerdotais! Tanto valeria sustar
o nascer do sol: podem-se matar padres, o sacerdócio
não morrerá, nem o dever tão pouco. O seu púlpito
mais eloquente, o seu altar mais radiante, é ainda o
cadafalso.
O dever é indestrutível: como a cruz. Stat
cruz qum volvitur orbis ! Impossível abolí-la. Com
dois pedaços de pau, fabrica-se o signo da nossa re
denção. E esta imagem tosca basta para evocar todo
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34 LÉON RIMBAULT
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AS H ER OI NAS D O D E VER 3 5.
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36 LÉON RIMBAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 3 7,
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38 L É O-N RIM B A U L T
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AS HEROINAS DO DEVER 39
Os heróis jamais lhe têm faltado, nem ao culto,
nem à defesa. Poderemos, pois, como tantos outros,
formar-lhe das nossas vontades uma invencível guar··
da ele honra.
Façamos noss o o lema dos velhos manjes: Deo et
paci militantibus. "Avante por Deus e pela paz!" -
Deus, cuja glória queremos; a paz, que só o sentimen
to do dever cumprido dá às almas.
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AS QUE PENSAM
Minhas senhoras.
"Os grandes pensamentos", disse Vauvenargues,
"vêm do coração."
Já antes Pascal chamara ao pensamento "o mais
alto lugar do mundo, ao qual nos devemos elevar."
"Pensar", escreve a seu turno Amiel, "é recolher
se na própria impressão, desprendê-la cm si e proje
�.ú-la 1111111 j11izo JH'ssoal. Por outra, é libertar-se, alfor
riar-sc, ro11q11iHlar-sc.
Coração, beleza, elevação, recolhimento, liberta
ção, alforria, conquista, como o vêdes, minhas Senho
ras, nada falta à glória das que pensam.
Por todos esses títulos elas merecem ser arrola
das entre as heroinas do dever.
Viestes hoje a esta conferência para ouvir falar da
alta cultura intelectual da mulher em nossos tempos.
Quais as razões 5:lela? quais as vantagens e os
perigos?
Dando ao vosso espírito, minhas Senhoras, sôbre
matérias tão complexas, a luz que ele reclama, não fa
ço senão seguir a tradição da Igreja católica, feliz e
ufano de prestar à mulher da classe dirigente a honra
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42 LÉON RIMBAULT
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"A alma não é um vaso que é preciso encher",
dizia Plutarco, "é um fóco que cumpre reaquecer". A
mulher, pelo mesmo título que o homem. minhas �e
nhoras, tem direito a essa luz e a essa chama.
Porquanto, rogo-vos, noteis bem, não preconizo
aqui o estudo e a ciência para o vosso sexo, senão com
o ú.n.ko fim de vos tornar melhores. Morte à instrução
que em nada contribuísse para o vosso aperfeiçoamen
to moral!
Toda conquista da vossa inteligência deve, pois,
estender e enriquecer o campo da vossa virtude.
Era bom afirmar isto, afim de não incorrer nas
fulminações de certos psicólogos de vistas curtas que
confundem, de caso pensado ou sem o saber, toda rei
vindicação dos direitos legítimos da mulher com êsse
feminismo hostil, extravagante, anárquico, do qual se
póde dizer, sem exagêro, que era "um programa es
crito com o que restava de petróleo nos tambores da
Comuna". (1)
Já não sei quem teve esta espirituosa tirada:
"Sim, estamos no século das luzes, mas é o diabo
quem segura a lanterna". Se assim fôr, minhas Se-
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AS HEROINAS DO DEVER 43
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44 LÉON RIMBAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 45
do. "Há que honrá-lo, temê-lo, obedecer-lhe em tudo;
e à mulher não é lícito resistir mais do que é lícito ao
servo estar em luta com o dono; a mulher traz sem
pre sôbre si o pêso da antiga maldição". (1)
Por uma dessas contradições de que formiga a
Reforma, a mulher, é verdade, deve pedir hoje em dia
a ciência a sua emancipação. Os liceus de moças fun
cionam, por toda parte. Mas esses internatos sem al
ma têm produzido a normalista sem fé, sem ideal, sem
entusiasmo, de vencimentos irrisórios; a nevrótica, a
desclassificada, a diplomada sem lugar, em revolta
contra a sociedade e contra a moral, que achareis "nos
albergues noturnos, em Saint-Lazare e nas calçadas
das grandes cidades" (2)
Portanto, o protestantismo não impeliu a lllulhcr
à conquista do saber humano scniio para relt·g·:'L--la para
longe de Deus, d<'sro11t1·111t', irritada, ro111 suas il11sõcs
destruidas e seus desejos insaciados. Desarraigada, ela
se mata ou se prostitue. Lúgubre desfecho da corrida
aos diplomas.
- O laicismo racionalista, por sua vez, só quer
apoderar-se da mulher instruida para arrancá-la à
Igreja, acusando a esta do obscurantismo.
"Para _dar cabo do catolicismo, é mistér, segundo
a palavra de Frederico, rei da Prússia, fazer dêle uma
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46 LÉON RIMBAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 47
( 1) A m11lh11r estudiosa..
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48 LéON RIMBAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 49
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50 LÉON RIMBAULT
xar passar uma das vossas, dizia esta palavra tão ca
valheiresca e tão cristã: "Respeito para toda mulher
que passa na rua. Deixo-lhe o alto da calçada, porque
vejo nela a santíssima Virgem".
O paganismo relega a mulher à servidão, o pro
testantismo atira-a ao orgulho.
Só a Igreja católica, transfigurando-a divinamen
te, "deixa-lhe o alto da calçada" e convoca os homens
a cantarem o cântico das suas alegrias e das suas gran
dezas: Magnificat ... quia respexit humilitatem ancil
lae suae ... Fecit mihi magna qui potens est.
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AS HEROINAS DO DEVER 51
( 1) Bossuet.
(2) Mme. de Sévigné.
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52 LÉON RIMBAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 53
o mons magnus, a montanha sublime, assente por Deus
.no centro dos séculos e da humanidade: todos os rios
da vida individual e social lhe manam dos flancos; to
dos os clarões da profecia iluminaram-lhe a fronte;
todas as águias da contemplação se lhe aninharam nos
cimos; Deus e o homem encontraram-se-lhe nas vere
das. N êle está edificada a cidade de Cristo e das al
mas. Assim sendo, que importam a essa crente as dis
cussões mesquinhas da crítica racionalista, a chicanar
sôbre um algarismo, sôbre um texto? Ela abraça o ca
tolicismo na amplitude da sua majestade, na duração
da sua influência, na riqueza inexaurível das suas ins
tituições e no encanto perpétuo do seu milagroso reju
venescimento. Nada é mais antigo e nada é mais mo
derno; nada é mais necessário e nada é mais vivo. Por
isto, "com o ramo de ouro da religião na mão, ela pas
sa valentemente através das sombras, das tristezas e
das tempestades, certa do caminho que deve seguir e
da meta que deve atingir" (1). Não contente de con
servar a fé, defende-a, propaga-a. Cristã convicta e fe
liz não é o bastante: cumpre que seja apóstola.
- A mulher instruida faz a felicidade e a gran
deza do marido.
"Só há sociedade entre as inteligências, e.screveu
algures Lammenais. A sociedade intelectual é a única
sociedade, o elemento necessário e como que o fundo
df; todas as associações exteriores". - "Mais cedo ou
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54 LÉON RIMBAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 55
"Cedo ou .tard�, não se frue mais senão das al
mas", minhas Senhoras. A cultura intelectual na mu
lher preserva-a dos -cabelos brancos e das rugas. Eis
aí, não duvideis, a verdadeira fonte da juventude do
amor, quando êste se eleva, à hora que pende para a
noite, às cumiaclas tranquilas duma forte e suave ami
zade.
"Toda espôsa, verdadeiramente espôsa, disse Le
gouvé, tem como carreira a carreira do marido".
Isso supõe entre êles a harmonia das inteligências
na luz tanto, quanto a dos corações no amor.
Ditosos os casais onde o marido, em qualquer
ocurrência, póde dirigir à mulher a interrogação de
Luiz XIV à Mme. de Maintenon: "Que pensa disso
Vossa Solidez?".
A mulher instruida conserva sôLre a alma dos fi
lhos duradoura e vitoriosa influência. "Os homens são
raros, escreve uma douta mulher (1), porque são ra
ras as verdadeiras mães.
"Estas preocupam-se demais com fazer dêles um
bonito manequim de vestuários, e muito pouco com
fazê-los uma criatura séria, capaz de compreender os
deveres da. exi'51.êuda. Elevar a mulher para engrande
cer o homem, regenerar o indivíduo para regenerar a
sociedade, é o que todo homem sábio repete, o que
nós repetimos por nossa vez". Qual o meio que ela
propõe?
"Uma instrução superior na qual entrarão, como
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56 LÉON RIMBAULT
*
**
Eis aí algumas das preciosas vantagens que a mu
lher está no direito de pedir ao ensino. Mas a impar
cialidade exige que eu não cale, tão pouco, os pe;igos
duma cultura intensiva da inteligência feminina. Na
estrada da plena luz para onde vos convoco, minhas
Senhoras, há que plantar, por intervalos, o poeta avi
sador do Touring Club: "Atenção! descida rápida!
curva perigosa! ".
Os adversários dos progressos feministas exage
ram naturalmente esses perigos: porém as suas obje
ções estão longe de ser insolúveis. Que nos opõem êles?
Argumentos de mundanidade.
"Quereis fazer das nossas filhas, dizem êles, umas
sabichonas, umas pedantes, umas viragos. Tornareis
intoleráveis as reuniões de família, impossíveis as "soi
rées" do mundo."
- Em qtte é, pois, que a ciência bem. entendida,
isto é, sã., modero.da, nssimila<la brandamente ao t:spi
rito, haveria de tornar a mulher menos amável?
A supor que ela evitasse um pouco mais �s salões
d o "mundo onde a gente se aborrece", para consagrar
os seus lazeres ao estudo, onde estaria o mal? Haverá
sempre bastante bonecas e ídolos nos templos do pra
zer, nos grandes armazens _cte novidades, no teatro,
nos parques, nos corsos.
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AS HEROINAS DO DEVER 5 7,
Argumen'tos de moralidade.
"A mulher instruída tornar-se-á orgulhosa, imper
tinente; abrís brecha na autoridade do marido, desu
nís a vida doméstica."
Meu Deus! o espírito de soberba não é tão raro
entre os homens, minhas Senhoras, que muito tenha
mos de nos admirar de encontrá-lo entre as mulheres.
Mas, em matéria de orgulho, a ciência será a única
culpada?
Não conheceis mulheres tanto mais arrogantes
quanto mais ignorantes? O pavão certamente faz mal
em se comprazer nas esmeraldas da sua plumagem;
porém o perú terá mais razão de ostentar a ignomínia
da.· sua carúncula?
Em que é que o orgulho dos tôlos é mais suportá
vel cio que o ela gente de espírito?
A ciência verdadeira, a única desejável, minhas
Senhoras, é a ciência de joelhos diante de Deus, serva
ativa da virtude.
Ela revela o nada do homem e a grandeza de
Deus: é na confluência destes dois sentimentos que co
meça a humildade. A pequenez, a mediocridade, a pre
tenção, -n vulgaridade, a estreiteza: eis os produtos da
falsa •ciência. O silêncio, a paz, a adoração, a sublime e
terna confiança, a oração: eis os frutos divinos da ver
dadeira ciência.
"Acontece às pessoas sábias", escreve Montaigne,
"o que acontece às espigas do trigo: vão-se elevando
e alteando, de cabeça erguida e altiva enquanto estão
vazias; mas quando estiverem cheias e grossas de
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53 LÉON RIMBAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 59
- Respondo: sim, o trabalho intelectual exagera
do, para as moças e para as mulheres, é o que há de
mais malsão.
Sim, a instrução intempestiva e excessiva é con
trária a todas as clelicadezas nervosas, idealistas, afeti
vas, 4aquela a quem necessariamente é confiada a re
serva do futuro.
Fóra com as patentes e com os diplomas!
Uma nulidade póde ser revestida de pergaminhos
e de incapacidades. Não se trata, minhas Senhoras, de
atulhar a vossa memória, mas de exorná-la; não se tra
ta àe exacerbar, de fatigar a vossa inteligência, em
panturrando-a de trechos de história, de geografia, de
literatura, de física, de química, sem nexo, sem coesão,
sem solidez, porém de dar-lhe idéias justas que ela
possa controlar, princípios gerais que a elevem e forti
fiquem. Por que então a mulher que sabe mais haveria
de ser menos amante, menos generosa, menos dedi
cada?
Não teria ela., ao contrário, num estudo apropria
do ao seu sexo, aos seus lazeres, aos seus deveres do
n:ésticos, conjugais ou maternos, um alimento para a
avidez da sua imaginação, um poderoso meio de com
bater todas as idiotices e lascívias literárias de que são
infectados os salões modernos, um refúgio calmo e mo
ralizador contra as ventanias da tentação ou contra as
fulminações da provação?
Esse estudo não tirará à mulher nada do encanto
do seu sexo. O boi e a alvéloa frequentam o mesmo
sulco, o belo sulco que fumega pela "manhãzinha",
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60 LÉON RIMBAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 61
to intelectual foi principalmente dado à mulher. Con
vém que a mulher católica siga êsse arrastamento?
Não receiais que a "dúvida se substitua à qença, dada
sobretudo a feição sectária do ensino público, às vezes
abertamente dirigido contra a fé" (1)?
E primeiramente por que foi que deixámos aos
protestantes, a honra duma iniciativa que nos de
veria ter cabido? A testa de todo progresso, de toda
reforma, deveríamos ocupar a primeira fila. Por que é
que, filhos da luz e da caridade, nos deixamos suplan
tar num terreno qualquer de influência social?
Em segunda, devemos nós dar a crer que o ,cato
licismo é refratário a toda ascensão legítima dos sexos
e das classes? Depois de termos mostrado, a respeito
do movimento socialista, uma imperdoável indifere:a
ça, iremos repetir a mesma falta a respeito do movi
mento feminista?
Seria temivel desgraça.
A mulher, repitamo-lo, nada tem que temer da
ciência. A sua religião tem tudo a ganhar, pelo contrá
rio, com essa ,cultura intelectual que valorizará, aos
olhos da crítica moderna, as verdades fundamentais
da fé.
"A malevolência e a tolice", disse Ernesto Hello,
"têm conspirado para dar às virtudes um aspecto beó
cio e desbotado, apagado e lamentável. Ninguém sabe
até que ponto os homens, famintos e sedentos de gran-
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62 LÉON RIMBAULT
Minhas Senhoras.
Termino:
Lembra-vos terdes visto no Salão, há alguns anos,
um quadrinho encantador de Toudouze? Num páteo
de fazenda oriental, um pobre jumentinho espera, cis
mador, sob os arreios 9-a partida: uma charrua ,derri
bada, um ancinho, urna lanterna, jazem no chão her
boso; umas galinhas ciscam aquí e acolá, cacarejando.
E todas essas coisas são banhadas de paz e de
frescor. Lá em baixo, o dia nasce e faz, todo cor de
rosa, um recanto do céo, ao passo que no lado oposto
as estrelas se apagam, loiras, já pálidas, no lapis-lazuli
do firmamento.
Ora, perto de boà alimária, silenciosa e selada,
José, o carpinteiro, em pé, mira vir a santa Virgem.
Ei-la que sái çla rústica casa: aparece, graciosa e reco
lhida, no mais alto degrau da escada musgosa pela
qual se desce para o cercado.
Com que ternura, com que fôrça, segura ela nos
praças o meigo Menino que a faz resplandecer I Bela
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AS HEROINAS DO DEVER 63
e pura, na sua longa manta azul, elé!, irradia, sôbre um
fundo de estrelas e de aurora, a luz da virtude.
T0da a luz de sua alma se lhe funde na fronte,
em nimbo de apoteose.
Por entre os instrumentos agrícolas, na simpleza
dessa moldura campestre.,. José contempla-a, respeito
so e enternecido.
Não duvideis, minhas Senhoras, a mulher instruí
da também exercerá êsse encanto poderoso, 1rres1s
tível.
Nas alturas da vida doméstica, ela será, numa cla
ridal1e cre3cente, a alegria, a felicidade de todos os
que a amam.
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AS QUE VIBRAM
Minhas Senhoras.
O homem é uma creatura essencialmente emotiva.
As alegrias e as tristezas, os entusiasmos e as indigna
ções ,os desejos e os desesperos, tudo o faz perpetua
mente vibrar. Num poético símbolo, a sabedoria egí
pcia comparo_u-nos, minhas Senhoras, àquela estátua
encantada das solidões de Memnon, que, com a fronte
banhada de auroral claridade, se fundia em harnronio
sas modulações. Ah! não é somente a nossa cabeça
que canta, é o nosso coração, é a nossa própria carne.
Cor meum et caro mea exultaverunt in Deum vivum.
A lira humana, suspensa no centro dos mundos, tem
cordas inúmeras, sempre prontas a" vibrar, e, donde
quer-que soprem as brisas que as tocam passando, elas
vibram, acordando écos misteriosos do infinito ou ru
mores confusos de abismo.
Mais ainda que o homem, a mulher é emotividade,
a mulher é vibração. Haverá que nos admiremos? Não.
Os yossos tecidos mais delicados, os vossos nervos
mais tênues, o vosso coração mais sensível, mais ar
dente, mais profundo, a vossa imaginação mais móvel
e mais viva, por natureza, vos colocaram neste mundo,
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66 LÉON RIMBAULT
***
Há, na moeda corrente de que os homens se ser
vem para as suas transações comerciais, peças de mau
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AS HERod�As DO DEVER 67
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68 LÉON RIMBAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 69
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AS HEROINAS DO DEVER 71
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72 LÉON RIMBAULT
Eis aí o ódio.
- "Até quando ficarei entre os habitantes odio
sos de Cedar?" - Ad te de luce vigilo. "O cervo sus
pira pelas fontes de água viva", musicais, atravessadas
de arco-iris, "assim minhalma suspira por yÓs, ó meu
Deus" "Quem me dará as asas da pomba, e irei des
cansar em vós."
Eis aí o desejo.
- "Quanto aos m.áus, não tomarei minha parte
nos seus sacrifícios cruentos, nem sequer seus nomes
me mancharão os láBios." "Hei fugido aos seus con
ciliábulos ... "
"Estive só com o pelicano no deserto."
Eis aí a aversão.
- Sob vinte nomes diferentes a lei de Deus lhe
torna aos lábios, acompanhada de novos elogios. Ele
gosta de meditá-la, ela o consola na sua mágua, é a
sua luz, o seu tesouro, a sua fôrça, a sua glória. Deve
lhe êle a sabedoria dos velhos e a felicidade das crian
ças. "Como as vossas palavras são doces na minha
boca!".
- "Corri na trilha dos vossos mandamentos,
quando me dilatastes o coração."
Eis aí a alegria.
"Sou como o xofrango escondido nas ruínas, co
mo o pardal solitário que geme na cumieira elos palá
cios ... Meus olhos vertem rios de lágrimas. comí
e meu pão na amargura... consumí minhas noites nas
desolações, enquanto me clamam: onde está o teu
Deus?"
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AS HER0INAS DO DEVER 73
Eis aí a esperança.
"As frechas elo Senhor perfuraram-no. Seus ossos
estão abalados, suas carnes se despregam, êle arreia
em terra, o coração se lhe turba, toda a sua fôrça o
abandona."
"Por que te intrometes a anunciar os meus pr_e
ceitos, boca impura? disse o Senhor ao culpado. Só
quero ser celebrado pelo justo."
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74 LÉON RIMBAULT
( 1) Chateaubriand.
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AS HEROINAS DO DEVER 75
do Rei-Profeta, o mais apaixonado dos cantores de
Israel.
Após denominar as paixões e fazê-las vibrar aos
vossos ouvidos na harpa de Davi, quero dizer-vos o
mecanismo delas ou a tática.
Nas suas relações ,com a vontade, as paixões, em
nós, seguem uma tríplice estratégia: antecipam-se-lhe,
acompanham-na, seguem-na. Per preexistentiae, re
dundantiae, electionis.
Tomemos exemplos:
Eis-vos aquí, minhas Senhoras, numa igreja: a luz
misteriosamente tamisada pelos antigos vitrais, um
vago odor de incenso de que estão impregnadas as
pedras, um silêncio profundo, o clarão vacilante, sím
bolo, na penumbra do santuário, dum coração que se
oculta e que trt•mc: tuda t'Ssa amhiêucia pcnctra0 vos,
comove-vos; deliciosamente enternc,cidas, vibrais, qua
si em lágrimas. E' obra <las paixões. Ainda não agistes.
Mas, assim predispostas à oração, eis que vos
pondes de joelhos, juntais as mãos, murmurais arden
temente o Padre-Nosso, a Ave-Maria, o Credo: é o
ato da vossa vontade.
As paixões precederam. Nesse caso, diz S. Tomaz,
a bondade moral da vossa oração tem menos valor.
P,or que?
Porque a oração, elevação da alma a Deus, come
çou por ser emotiva antes de ser voluntária.
Sentir vem da matéria, querer vem do espírito.
Póde suceder que uma pobre mulher, sem enterneci
mento, torturada até ao pé dos altares por tentações
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76 LÉON RIMBAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 77
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78 LÉON RIMBAULT
*
**
Os estóicos não hesitam em tirar do seu pessimis
mo doutrinal s6bre as paixões as mais radicais conse
quências ....
Haviam dito: todas as paixões são más. E con
cluem : é preciso, pois, extingui-las, destruí-las.
A gente ,cuida estar sonhando ao ouvir filósofos
usarem de tão monstruosa linguagem.
Extinguir as paixões, fazer morrer as paixões !
Começastes vós mesmos, oh, senhores, por seguir
êsse método? Orgulhosos professores do radicalismo
pessoal, fostes vós os primeiros a pôr o ferro destrui
·dor nas vossas chagas? Tenta�tes quebrar, e arrancar
vivinhas do coração humano, essas fibras sangrantes?
E destarte, hipócritas, por que tendes a· audácia
e a crueldade ele impor aos outros um jugo que não
haveis supórtado?
Escusa ter frequentado as vossas escolas para sa
ber que desmentido vergonhoso infligíeis moralmente
às vossas teorias! S. Paulo, na sua epístola acusadora,
burilou o horror dos vossos crimes sem nome.
Extinguir as paixões, será passivei?
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AS HEROINAS DO DEVER 79
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80 LÉON RIMBAULí
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AS HEROINAS DO DEVER 81
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82 LÉON RIMBAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 83
obsessoras que se agitam perpetuamente em nós, é o
impossivel e desesperador esfôrço.
Que dilacerantes confissões não temos ouvido saír
da boca das vítimas das paixões!
Escutai-lhes os remorsos e o arrependimento.
"Reclamamos", escreve o autpr de Do. Bendita
(1), "a vida integral, com todos os seus gozes e todas
as suas alegrias.
"Pode-se, porem, pronunciar de boa fé esta pala
vra, que se afigura uma ironia a quem quer que não
seja mais criança, "a alegria de viver"?
"Onde a buscamos com efeito? Nos sentidos? Mas
cada volúpia, imediatamente punida pela tristeza da
carne saciada, é um passo para a nossa destruição."
Noutro lugar narra ele com eloquente tristeza as
comuns vicissitudes do rio e de sua alma "profunda
como a memória, amarga como a experiência".
"Pobre alma, fenecida pela existência e profunda
mente conturbada no limiar do grande mistério, tam
bém tu ousas sonhar com inocência imortal! E' por
isto que pensas hoje em todas aquelas velhas torres de
igrejas e catedrais que o rio refletiu nas suas ondas e
que tantas vezes tens encontrado no teu ,caminho, sem
obedeceres ao seu gesto solene. E' por isto que res
pondes enfim ao sinal daquelas antigas flechas de pe
dra que, com confiança te mostram o céu e te orde
nam a oração e a fé."
O A caminho de J. K. Huysmans conta-nos, com a
(1 ) Fraiçois Coppée.
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AS QUE AMAM
Minhas Senhoras.
Houve tempo, e não vai talvez muito longe, em
que era pouco próprio, em que parecia mesmo perigo
so falar de amor ou de casamento tntre os católicos.
Em que se fundava essa pudicícia )'à�senista? O amor
não é a lei vital? O casamento, um grande sacramen
to? E, longe de condenar o amor, a Igreja não o apro
va até, sob as espécies do matrimônio?
Um jornal cio começo clêste século consignava-o:
Dumas filho tinha profunda razão, quando escrevia:
"Devemos reconstituir o amor em França, ou estamos
perdidos". Mas os escritores católicos não se apressam
em trabalhar nisso. Parece que têm medo dêsse assun
to, não falam de amor, ou, se falam, nunca se atrevem a
misturar-lhe a religião. Contribuem assim, por sua par
te, para a laicização do amor."
Madame Cláudio Lavergne, por seu lado, confia
va certa vez espirituosamente à filha as mesmas refle
xões: "Espero que êstes Contos te divirtam, embora
mundanos. O Sr. X. escandalizou-se porque, sôbre dez
contos, há neles cinco em que as pessoas acabam se
casando! Quereria êle que nunca se falasse disso. Re-
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92 LÉON RIMBAULT
,,
cebí a crítica dêle rin,cl�-me, e disse-lhe que o Espíri
to-Santo não era da sua opinião, pois se dignara con
üi.r-nos as histórias de Rebeca, de Raquel, de Tobias,
àe Ester, de Rut, histórias matrimonia'is, se as hou
ve ... Mas êsse bom senhor é assim, e tem tal pavor
de 'que as filhas pensen� em casar-se, que quisera não
falassem jamais diante delas dêsse mau sacramento.
'Não receiemos, nós, minhas Senhoras, abordar
esta grande coisa: magna res est amor.
Alguns confundem cinicamente o coração com os
'sentidos objetos salpicam com todas as suas torpezas
passionais, em se l�,.-ando na gamela de Epicuro e de
Lucrécio, o mais sublime sentimento de que é capaz a
nossa humanidade.
Deixemos aos imundos o "rictus corrosivo que
apodrece dissolvendo" (1). Reivindiquemos, porém,
minhas Senhoras, em nome da Igreja católica de quem
sois filhas dedicadíssimas, a honra de tratar sacerdotal
mente um dos grandes assuntos delicados de que fala
nas suas cartas o P. Didon (2), e <le pôr em luz, sem
receio de melindrar nenhuma delicadeza, a realeza do
coração e a divindade do amor.
*
**
John Ruskin maldizia a mulher "moderna que se
faz engenheira" º'Sem a ternura d'alma e sem a pure-
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AS HEROINAS DO DEVER 93
za moral das mulheres", dizia êléf!"os povos estão per
didos."
Ensinar-vos, minhas Senhoras, a conhecer o valor
cio coração (sem o qual nada sois nem podeis), dimi
nuindo em vós as suas superfícies impressivas, centu
plicando-lhe as concentrações, é, portanto, fazer obra
de salvação social.
O coração é a melhor parte de vós mesmas, ou,
melhor, é toda a vossa pessôa.
Em qualquer ordem de coisas por que encaremos
o coração, ocupa ele o lugar régio.
"E' o primeiro a começar a viver", diz Ar.istó,elês,
"e é o último a acabar de morrer." Primum �v.éns,
tiltimum moriens ...
- A fisiologia não contradirá êste axioma.
Esse coraçfw ele mamífero, suspenso na caixa to
rácica como o provetc no flanco duma possante máqui
na, bomba aspirante e premente, "músculo ôco" se
gundo a expressão dos médicos, explica todos os fenô
menos do sangue, todos os mistérios da vida em nós.
Talvez, minhas Senhoras, qtte, enxergando numa
mesa de an:fpteatro êsse coração de aurículas e ven
trículos, tivésseis um movimento de repulsa, um so
bressalto de recuo.
Seja como for, a fisiologia está de acordo com a
Bíblia:
"Guardai cuidadosamente o vosso coração, pois
nele toda vida tem raiz."
- f.. linguagem da humanidade não é menos ex
i:; lícita.
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94 LÉON RIMBAULT
( 1) Lacordaire.
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AS HEROINAS DO DEVER 95
O coração é o que há de mais belo, de mais pre
cioso em nós. Embalsam-no, legam-no, veneram-no.
Vêm-se mães que querem conservar numa urna
o coração .do filho que a morte lhes arranca.
Quando morreu em 1800 La Tour d'Auvergne, o
primeiro granadeiro da França, seu coração foi con
fiado à guarda _da companhia que ele adotara, e até em
1814 recebia ele, a cada chamada, as mesmas honras
que a bandeira.
O' Connell, moribundo, ordena que mais tarde seu
coração seja levado a Roma,, em testemunho do seu
amor à cidade dos santos apóstolos.
Mons. Freppel escreve no seu testamento: "Resti
tuireis o meu coração à Alsácia, no dia em que a· Alsá
cia voltar a ser francesa."
Por que o coração, e não a cabeça?
Sempre pela mesma razão, porqur o coração é a
mais nobre parte do homem.
"A Europa é de Bonaparte", dizia ele Maistre, "po
rem meu coração é meu !"
- Interrogai a Escritura sagrada. Deus julga co
rno os homens.
"No coração toda vida tem raiz." - "Amareis de
todo vosso coração."
"Meu filho, dá-me o teu coração." - "Não des
prezeis, oh meu Deus, um coração contrito e humilha
do." - "Dilacerai os vossos corações e não as vestes."
- "E' a crença do coração que justifica." Carde cre
ditur ad justítiam. - "Bem-aventurados os corações
puros, porque verão a Deus." - "Hipócritas, fariseus,
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96 LÉON RIMBAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 97
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98 LÉON RIMBAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 99
tem o coração? Sabei que ela lhe reconhece, em certos
casos, uma espécie de poder sacramental.
Escutai bem, minhas Senhoras.
Estais numa ilha deserta. Ides morrer e não sois
batizada. Não há lá ninguem para vos dar o sacramen
to que é a porta da salvação. Porem tendes um cora
ção, tirais dele um desejo.
Eis-vos regenerada, salva.
Quem ensina is�o? A Igreja.
Estais em agonia. A lembrança duma falta grave
tortura-vos. Padre algum está à vossa cabeceira para
perdoar-vos. Porem tendes um coração, tirais dele uma
lágrima, um grito de arrependimento. Estais justiii
cada.
Quem ensina isto? A Igreja.
Estais, desta vez em estado ele graça, diante do
tabernáculo fechado. Já não é a hora <lo sacrifício, nem
da comunhão, porem tendes um desejo, e suspirais:
"Meu Deus, amo-vos, miriha àlma desfalece na vos,,d.
presença. Vinde a mim, ó Deus dos altares! tenho sê
de de vós. 1'
Podeis ter tal intensidade de amor, que a vossa
comunhão espiritual iguale em resultado a comunhão
real.
Quem ensina isto? A Igreja.
O coração recebeu, pois, de Deus o privilégio de
suprir os sacramentos quando impossível se torne re
cebê-los.
Ele batiza, absolve, dá de comungar.
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100 LÉON RIMBAULT
( 1) Pascal.
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AS HEROINAS DO DEVER 10.1
sas conveniências; não tem, sem dúvida, o valor pe
remptório duma demonstração filosófica; mas consti
tuc uma confirmação {splêndida ela divindade das pró
prias crenças, particularmente doce e consoladora pa
ra os corações dos que sofrem. "Que é Deus visível à
mente, diz Mons. Bougaud, ao lado de Deus sensível
ao coração?. . . Oh meu amigo, Deus fez do coração
do homem um evangelho.
"Gravou nele todos os mistérios, fez de nós pela
nossa natureza uma Trindade, uma Incarnação, e, nos
folhos e refolhos da paternidade , ocultou em nós a
creação, a providência, a redenção, o sacrifício, a
cruz" (1).
- A teologia do coração supõe na sua base esta
palavra de Deus: "Conduzí-la-ei à solidão, e lá lhe fa
larei ao coração" (2).
Ela exige almas amantes: Da amantem et sentit
quod dico (3).
- Não tem ela outro fim senão fazer-nos chegar
ao conhecimento do amor de Deus, dilatando-nos na
alegria e na paz das verdades harmônicas a todos os
nossos rasgos, a todas as nossas necessidades, a todos
os nossos instintos sublimes, segundo esta palavra de
Lacordaire: "Não há dois amores, meu amigo: o ainor
do céu e o da terra são o mesmo, excéto que o amor
do céu é infinito. Quando quiserdes conhecer o que
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102 LÉON RIMBAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 103
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104 LÉON RIMBAULT
*
**
O amor é um instinto, um sentimento, ou uma
virtude. Volúpia, amizade, caridade, eis aí essa miste
riosa entidade progressiva, como nasce, tal como cres
ce no centro do coração humano. E em toda parte e
sempre o amor é a fôrça, a verdadeira, a única. Magna
res est amor.
O instinto possante, indeliberado, exclusivo, imen
surado, - alma do mundo material, vibração da uni
versal vida, - cái de repente sôbre o homem e o .ar
rasta. Pode-se ser ferido pelo raio e não morrer. Esse
infeliz é a prova disto. O seu mal é de uma ordem à
parte.
Por que passa ele <lias a suspirar, noites a chorar?
Por que é _que nada o póde arrancar a essa obsessora
visão, à música feiticeira? Tudo se ilumina ou tudo se
sombreia, tudo se lamenta ou tudo exulta. A natureza
inteira: as aves, as flores, os mares, as brisas, as nu
vens, as tempestades, o sol parecem não estar aí se
não para embalar a estranha paixão que o absorve,
que o mina, e tão deliciosamente o mata,
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'
AS HEROINAS DO DEVER
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106 LÉON RIMBA'ULT
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AS HEROINAS DO DEVER 107
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108 LÉON RIMBAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 109
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110 LÉON RIMBAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 111
Nenhum sentimento oferece ao homem, enquanto
homem, tanta doçura e fôrça. Nenhum tem mais ra
zões para durar, para desenvolver-se e para arrastar as
almas para o alto.
Manifestamente, esse amor desce cios píncaros,
íonte esguichante ávida de remontar até ao nível do
seu manancial; tem ele às vezes, coisa rara entre os
homens, desinterêsses admiraveis, generosidades sem
eiva de interêsse próprio. E' paciente e delicado, enche
os .abismos afim de igualar e unificar: Pares amicítia
invenit aut facit. E' belicoso e indomavel. Derruba al
tivamente todo obstáculo que lhe barra o caminho. E'
capaz de todas as imolações para engrandecer e beati
ficar o amado.
Todavia, apesar da sua pureza crescente, esse pre
cioso amor de benevolência não poderia, mesmo no
termo das suas ascensões, chegar ao limiar deslum
brante da caridade. "Entre os dois", diz um sábio psi
cólogo, "há nada menos que um mundo: a distância
que separa a ordem natura1 da ordem sobrenatural",
( 1). Há o infinito de Deus. - Que progressão, minhas
Senhoras, nessa misteriosa fôrça que é o amor!
Instinto, destinado pela divina Providência a man
ter na creação o sopro vital, o amor alimenta-se dos
encantos da beleza da carne. Como a carne, ai! tem ele
a graça efêmera da flor dos campos.
Sentimento, subtraído à tiranía ela matéria, acha
ele numa liberdade maior uma mais alta perfeição. O
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112 LÉON RIMBAULT
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AS HEROIN AS DO DEVER 11�
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114 LÉON RIMBAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 115
Primeiramente, ele dispôs o nosso coração para
cf'se ato sublime. Somos creados "à Sua imagem e se
melhança".
Noutros termos, somos capazes de amar (1) não
bàmente as coisas amáveis, mas a essência que as tor
na amáveis; capazes de amar a própria amabilidade,
capazes de amar o Soberano Bem; capazes de nos
amarmos."
"Fizeste-nos para vós, Senhor, suspirava Santo
Agostinho, e o nosso coração está inquieto enquanto
não acha em vós o seu repouso!" Todos os corações
atormentados do nosso século fazem éco a esta queixa
desolada:
"Au fond <les viis plaisirs que j'appelie à mon aide
Je trouvc un tcl degout que je me sens mourir... "
E o poeta arr<'sccntava:
Malgré nous, vers le ciel il faut lever les yeux (2) ."
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i16 LÉON RIMBAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 117
"Se me dessem a escolha", exclamava em Cons
tantinopla S. João Boca de Ouro", entre ser doutor,
profeta, apóstolo, querubim ou serafim, entre estar
sentado à direita 9-e Deus o� estar imerso em negra
masmorra em companhia de Paulo supliciado, carre
gado de ferros por amor de Jesús-Cristo, meu Mestre,
eu quereria compartilhar a sorte do grande apóstolo;
preferi-lo-ia a todas as alegrias do paraiso. Porque ...
ser prisioneiro de Jesús-Cristo !"
"Perdoe-rr.e Cristo as minhas tibiezas passadas",
clama eloquentemente, na outra ponta do Mediterrâ
neo e dos séculos cristãos o mais moderno dos monjes,
todo machucado dos golpes da provação; "sepulte-me
vivo se lhe aprouver e tome a chave da minha prisão:
bendi-lo-ei!. .. (1).
"Cristo arrasta-me e sacode tudo em mim terri
velmente. Oh Cristo, se cu não te tivesse votado a mi
nha vida, se não fosses o meu primeiro e o meu derra
deiro amor, oh Cristo, se eu não fosse um crente até a
medula dos ossos, se fôrças estranhas, inapreensíveis,
mais altas que eu, não me envôlvessem num amplexo
suave para me manterem em Ti. . . quantas tempesta
des neste coração, neste crâneo rugiriam, abalar-me
iam a vida e amontoariam ruínas em mim e em torno
de mim!. .. "
Eis aí, minhas Senhoras, a verdadeira caridade.
Impossível doravante amar a Deus sem amar seu
Filho único, o eterno objeto de suas complacências,
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118 LÉON RIMBAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 119
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AS QUE CHORAM
Minhas Senhoras .
., Uma mulher, no Evangelho, se encontrou imorta
lizada por um arrependimento mais profundo que suas
fraquezas, por um amor tão amargo, tão ar<lentc como
as suas lágrimas, uma mulher que conheceu em cada
etapa da sua estrada dolorosa e ::i.tormentada, as vee
mências da paixão de amar.
O mundo inteiro comoveu-se ante a visão dessa pe
cadora de cabelos fulvos, cujas ondas de ouro rolaram
sôbre os pés de Cristo, numa penitencial suntuosida
de de pesares; dessa contemplativa, extasiada ante o
ideal das altas e puras dileções; dessa silenciosa aman
te da cruz, que chora, de lábios, de braços, de fronte
colados ao madeiro infame, donde a misericórdia a co
bre com sua sombra; dessa procuradeira matinal, ao
raiar da Ressurreição, duma vida reclamada.por todas
as feridas da sua alma seráfica, por todos os abismos
do seu sêr purificado ; dessa proscrita enfim, mártir
duma lembrança e duma esperança cujos ardores só
os anjos conheceram.
Ela atravessou os séculos tendo nas mãos a urna
de alabastro de simbólicos perfumes.
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122 LÉON RIMBAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 123
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AS HER0INAS DO DEVER 129
gnio da Providência, a palavra do Salvador? Quem a
impede de guardá-Ia?
A mesma voz ameaça-a de castigo e anuncia-lhe o
perdão. Madalena confunde-se e tranquiliza-se, teme
e espera, treme e ama.
A mundana, havia pouco tão leviana, tão arrogan
te, deixa a multidão e apressa-se, de fronte baixa, de
coração partido, a alcançar ele novo Betânia, onde Mar
ta a l'Spcra, 110 seu tranquilo e fecundo labor de postu
Ian Lc da sua conversão.
Madalena retira-se para o segredo do seu quarto
e de sua alma. Sozinha com as suas recordações, exala
as desolações inenarráveis dum coração doravante con
quistad'o para o arrependimento.
Chora, como chorará mais tarde Agostinho : Ego
peccabam et tu dissimulabas; non continebam me a
sceléribus, et tu abstinebas te a verberibus; prolon
gabam ego, peccando, iniquitatem, et tu, Domine, pie
tatem tua.
Eis aí, minhas Senhoras, a primeira fase da con
versão de Maria Madalena.
O arrependimento! Nós todos sentimos o valor
desta palavra, porque todos havemos experimentado,
r.o fundo do nosso sêr, a realidade cruenta que ele en
cerra.
Madalena arrepende-se porque entrevê, através
das suas lágrimas amargas, o Ideal divino a que ela se
póde assemelhar. As palavras e os atos de Cristo, os
exemplos de Marta sua irmã e de Marcela sua amiga,
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(1) S. Paulo.
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AS HEROINAS• DO DEVER 131
a si: "Eu poderia ter sido grande, puro, santo! Eis aí,
pois, o que esquecí. A esses cimos preferí a lama e a
nrúte ! Sou um miserável, pequei, arrependo-me! ... "
Sim, quando o Ideal, longo tempo esquecido, rea
parece no horizonte 9uma alma, ela se desola, chora,
arrepende-se.
E' a vossa história, minhas Senhoras.
Quando ides às vossas misérias douradas, quando
vos mergulhais nessa nuvem de pó que vos encobre
as coisas divinas, não se vos deve falar de arrependi
mento.
Mas quando, vinda a noite, em face duma vida
que não se tem respeitado, vos mostram as belezas
adoráveis do Senhor Jesús-Cristo; quando, no terra a
terra e na estéril agita�ão dos vossos corações ociosos,
YOS lançam o grito de amor de alguma santa mulher,
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AS HEROINAS DO DEVER 133
vida, cuja recordação vos faz corar; é sempre tempo,
mulheres cristãs, artistas sublimes, se haveis descober
to cm vossa alma uma falta contra a arte e uma menti
ra à eterna beleza, é sempre tempo de tomardes o esti
lete, o pincel, o buril, e de corrigirdes à vontade, de fa
zerdes uma obra-prima, de contrastes maravilhosos,
cnde não se sabe que mais admirar, se a miséria humi
lhada e contrita cio homem, se a misericórdia inefavel
cc Deus.
Apenas, uma vez terminada a obra, em lugar de
Livro da Inocência intitulá-la-eis Livro do Arrependi
mento.
Um, porem, como outro, aos olhos de Deus, pode
rá ser um livro perfeito, caro aos anjos do paraíso.
Porque todas as harmonias e esplendores da creação
empalidecem diante desta dupla obra-prima da Reden
ção: a Inocência em flor, o Arrependimento em pranto!
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AS HEROINAS DO DEVER 135
Salvador, mas, qual serva acostumada aos mais vís ofí
cios, inclinando-se-lhe para os pés e, sem tocá-los a,
princípio, rega-os com suas lágrimas. Jamais, desde o
começo do mundo lágrimas tais haviam caído nos pés
do homem. Podiam tê-los adorado por temor ou por
amor; podiam tê-los lavado em águas embalsamadas,
e filhas de reis não haviam desdenhado, nos séculos da
hospitalidade primitiva, essa homenagem prestada às
fadigas do estrangeiro : mas era a primeira vez que o
arrependimento se assentava em silêncio aos pés elo
homem, e derramava neles lágrimas capazes de res
gatar uma vida.
"Chorando, e s em esperar por uma palavra que a
anime e que não é dita, Maria deixa cair os cabelos em
volta da cabeça, e, fazendo das suas madeixas magní
ficas um instrumeuto da sua penitência, enxuga, com a
seda humilhada delas, as lágrimas que derrama.
"Era também a primeira •;ez que uma mulher
condenava ou, antes, consagrava a sua cabeleira a esse
ministério de ternura e de expiação.
"Tinha-se visto mulheres cortarem os cabelos em
sinal de luto; tinha-se visto outras oferecerem-nos co
mo homenagem no altar dalguma divindade : mas a
história, que notou tudo o que foi singular nos movi
mentos do homem, em parte alguma nos mostra o ar
rependimento e o pecadõ .a crearem juntos tão tocante
imagem de si próprios...
"Feito isso, a pecadora afoita-se. Aproxima dos
pés elo Senhor os lábios deshonrados, e cobre-os de bei
jos que apagam a impressão de todos os que ela deu e
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AS HEROINAS DO DEVER 137
Impossível burlar a lei da confissão.
Mesmo porque, por mais penosa que seja, a con
fissão responde a uma tríplice necessidade do vosso co
ração. Vistes Madalena ir por si mesma ao encontro
dessa humilhação. Toda alma amesquinhada pelo pe
cado reclama, de feito, imperiosamente, essa confissão
que custa, que mortifica, mas que salva.
Entes fracos, entes culpados, entes desditosos, a
confissão impõe-se-vos inelutavelmente.
Todas as mentiras do mundo não vos podem ocul
tar isto: se haveis pecado, minhas Senhoras, sois uma
fraqueza. Ora, quando se é fraco, quando se tem a con
ciência da própria enfermidade, sabeis qual a primeira
necessidade do coração? é chamar em socorro um sêr
forte e v�alente: um salvador; em suma.
Sem ele próprio o saber, o náufrago, do seio do
abismo, busca uma mão estendida para ele na tempes
tade.
O pobre doente, em meio às suas insônias febrís,
grih pelo médico ou pelo enfermeiro.
Inútil provar em que fraqueza caíram os pecado
res na véspera de se converterem.
Já que a fôrça hostil os lançou por terra, estão
despedaçados. Não tendes que lhes cavar muito a den
tro na alma para vos capacitardes do mal interior que
os acabrunha e dessa imema necessidade dum salva
dor, que eles reclamam às vezes cm gritos_ dilaceran
tes.
Ora, a confissão, a confissão sacramental, traz-vos
justamente esse Salvador.
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AS HEROINAS DO DEVER 139
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AS HEROINAS DO DEVER 143
Estáveis toda na expiação !
As próprias glórias da Ressurreição acharam-vos
insensível. Desatenta aos aleluias dos anjos, entregue
toda ao vosso luto e ao vosso amor, fez-se mistér que
o próprio Jesús vos perguntasse o porquê das vossas
lágrimas: Mulier, quid pioras?, o objeto das vossas
rirocuras, quem quaeris? Isso mesmo não bastou para
vos tirar das profundezas da vossa expiação. O Mestre
deve ter revolvido todos os écos do vosso coração, di
zendo-vos: Maria 1 "Oh! que acento teve essa pala
vra!", diz Lacordaire, "acento de censura, porque Ma
dalena não reconhecera Jesús; acento de revelação pe
la censura... Maria: Mada!ena ouviu tudo no seu no
me; ouviu o mistério da ressurreição, que ela não com
preendia; ouviu o amor de seu Salvador, e nesse amor
reconheceu-o."
Mestre! respondeu ela. Uma palavra lhe basta, co
mo uma palavra bastara ao Filho de Deus.
"Quanto mais as almas se amam, tanto mais cur
ta lhes é linguagem."
M.as que expiação a que necessitava da censura de
um Deus para ceder às alegrias da Ressurreição!
Eis aí, minhas Senhoras, o que vós mesmas fareis
no dia em· que decidirdes converter-vos: confirmar
vos-eis na expiação.
Quando éreis mundanas, gostáveis dos bailes, dos
festins, dos vestuários, dos teatros. No dia em que
voltardes a Deus, deixareis todas essas misérias ruido
sas e brilhantes; pouco a pouco desdenhareis toda es
sa "fascinação da bagatela", retirareis gradualmente
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144 LÉON RIMBAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 145
minhas Senhoras, como a dôr, a fraqueza, a culpabili
dade; se sois, numa palavra, mulheres de honra e de
valor: não vos cingireis a fazer, a um padre, a confis
são do vosso arrependimento, pedir-lhe-eis as obras
austeras da expiação.
E, na esteira dessa mulher que tanto chorou e
tanto amou, vireis, por vosso turno, quebrar aos pés
de Jesús-Cristo o frágil porém fiel vaso dos vossos
pensamentos, das vossas lágrimas e do vosso amor.
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AS QUE REZAM
*
**
Têm-se dado à oração nomes maravilhosamente
belos. Têm-na chamado: uma ciência. . . uma arte ...
um tesouro, a vida das almas, a chave de ouro dos ce
lestes favores, a escada do paraiso, o arco-iris da es
perança, o pão de munição �o crente, a boia de salva
mento dos pecadores.
A oração é sobretudo um mistério.
"Pôr, pelo pensamento, o infinito de baixo em
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AS HEROINAS DO DEVER 149
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150 LÉON RIMBAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 151
De fato, olhai para cima como par,:t, baixo de vós.
O inseto vale um mundo. Há o mesmo formigamento,
o mesmo mistério na esfera celeste e na bolha dágua.
"As três mil espécies de efêmeros para uma só
roseira, verificadas por Bonnet de Genebra o anel de
Saturno que tem sessenta e sete mil e quinhentas lé
guas de diâmetro; as dezesete mil facetas do ôlho da
mosca ... ; o bólido e o cometa; o volvox e o víbrion ... ;
as nebulosas, essas nuvens do abismo; os môfos, essas
florestas do átomo; os furacões de Júpiter, os vulcões
de Marte, as hidras nadando nos glóbulos do sangue,
o infinitamente grande de Campanela, o infinitamente
pequeno de Swammerdam, a eterna vida para sempre
visível em cima e em baixo ... - Tirai-me daí de bai
xo", exclama Victor Hugo, "se não quiserdes que eu
reze!" (1).
A prece é essencialmente uma ascensão. Por êste
título é ela já a glória da nossa natureza inteligente
e livre, amante e imortal: ascensus mentis in Deum.
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(1) nxodo.
(2) Gênese.
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(1) Bossuet.
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AS HEROINAS DO DEVER 163
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AS HEROINAS DO DEVER 16,5
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Que huiriildade profunda!
' t-, · '· , ,
Ele cai .de joelhos, de rosto no chão T Por qüé.:essa .
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• ,,- • 1 • r( -
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166 LÉON RIMBAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 167
***
Alí, esmagado, a escorrer de suor rubro, o Filho
do homem, prostrado, nas trevas, ofereceu aos seus
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168 LÉON RIMBAULT
e
três apóstolos um des�fio de generosidade que a. sono
lência deles mal compreendeu. Non potuistis uná hora
vigilare mecum?
"Oh, como! não pudestes vigiar uma hora comi
,
go? ... ,
Mas, não obstante o estranho marasmo •dos seus
bem-amados, Nosso Senhor Jesús-Cristo fundou, na
quela, noite� uma tríplice oração que ·não findará mais
no mundo católico: a oração solitária, a oração notur
na., a .oração cruenta. "Orai sempre'\ ·diz Nosso Se
nhor. "Orái em tudo'.', acrescenta o apóstolo.: -"Quer
comais, quer bebais, fazei tudo pela. glória de Deus",
"Na vida como na morte, somos do Senhor.''
"Orai em toda parte", acrescentam os santos.
E, de fato, o divino pedagogo da oração otóu no
templo de Jerusalém e nas sinagogas, ein Nazaré e ·em
Betânia, entre o povo e na intimidade dos seus. Não 'e,
minhas Senhoras, a consagração da oração paroquial,
familiar; popular?
Certamente, a oração paroquial, aos acord·es gra·n
diosos dos· órgãos, ào flarneja:r do santuário ·e às ·s-uri
tuosâs··evoluções da liturgia dos ·dias de festa, corres
pohde :às, nécessida:des religiosas' 'd"â �lma huril':inai
Nada de pungente com.ó o Dies irae dos fünerais;
nada de· solene e de vibrante cotno um Te Deum de en
terramento de mgsão; nada de alegre e de entusiásti
co como o Magnícat ele Natal ou de Páscoa.
E' a oração do arrastaip.ento pela eletricidade das
massas, da fraternidade dos corações na união dos es
píritos. Por outto lac�, a oração familiar diante do
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AS HEROINAS DO DEVER 169
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170 LÉO.N. RIMBAULT
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AS HEROINAS DO ,DEVER 171
aristocratas, nem lugares numerados, nem barulhos,
nem i�pedimentos. A capela é Getsêmani, o recinto
misterioso, o lagar de olivas, o poço sagrado de para
disíacos ribeiros: effusiones tuae, Paradisus.
Alí se abriga a p rece solitária, como o pardal na
cumieira dos telhados, como a· corsa tímida por entre
as moitas dos bosques.
No horto das Oliveiras, Nosso Senhor Jesús-Cris
to funda a Tebáida ou a vida orante . dos reclusos e
dos manjes.
Alí está ele "em capela". "Estar em capela", en
tre os espanhóis, diz-se do condenado à morte a quem
põem em retiro.
Ora, não somos nós todos uns condenados à
morte
Por que, então, minhas Senhoras, niio vos reco
lheis quase nunca? A solidão mete-vos medo, porque
vos rememoraria o vosso passado. Os sinos da Is sub
mergida resoam ainda, do fundo das águas, ao ouvido
atento dos pescadores que se ajoelham na praia de
Douarnenez. A lenda bretã conta quanta tristeza põem
na alma aquelas vozes submarinas.
E vós, minhas Senhoras, não havereis de escutar
os dobres que sobem das profundezas bem diversa
mente misteriosas de vossa alma, na hora em que a
solidão vos facifíca, enternecendo-vos?
Se não tiverdes os conventos para vos oferecerdes
os encantos desses desertos sagrados onde o ar é mais
puro, o céu mais aberto, Deus mais familiar, in desertis
aer superior est, coelum apertius et familiarior Deus,
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.172 LÉON RIMBAULT
(}-
Onde_.
estão os párP:-raios? Ôrid� estão l/,S .
iimas
contenü>lativas, encarregadas de oferece,;. a Detis as
- ' . - . ,• . \ ' : -;-, . : /
� • ' •
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sa'rita; uma hórà a 'ifr��it�s.ão .�? stia duen t�/1.goni,a no
' • 7 t • ' •• '. ' r " r • .
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J ' / '. ; : . ' i
,
horto das .Oliveiras. .. · · , , · ·· · ,
. ,·':;Nada ''m�i� ··��iJtaf dó 'ciu e' �s;e .'�:i�,r�'fci�' 'ci� hora
.
� .! , -:··ilyi rr·;,' r· , : i,' ·:':, ,: 1
santa.
''Ele nos· ���ina'rá'-�:íazer sacrifícios;'•� pôr sa_i).gue 1 ; ' • ,;;;,:::
na nossa oração.
A oração �rtie�t� ê erJsé'n'ci�Im'ente rederi tó';a_. 'Ora-
; · 1 , -· • ' • l .• 1 • •
:
çãô algu'rna enche a alma de .mais heroicos senhmen-
: ·, · · : , ·, . • i ' . , I i • •. , • 1 -� • ·.' " �
;,! �J I:;. ·;:·� :;,:i:/ i )r . �-- 1: l '
tos1 , d,e !11���. #!.".!I.1-º, ,pie�,e�1:rr,i.ep��'.
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AS HEROINAS DO DEVER 173
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AS QUE TRÀBALHAM
Minhas Senhoras.
Era lá numa praia do Finisterra. Sob o ouro dum
alegre sol de Maio, o mar ondulava, em largas dobras
ele seda verde, murmurante, feiticeiro, como que esmo
recido. Brincava com as comas espessas dos rochedos,
que, enormes, suas patas de veludo importunavam. E
dizer que é tão meigo, tão encantador o felino!
Mais além desenrolavam-se as imensas alcatifas
dos tojos e dos juncos, magía rósea e douradá sôbre a
qual pairava o céu vaporoso e lácteo da Bretanha.
Aquí e acolá, pedras druídicas acidentavam o ma
tagal. A beira do caminho, uma velha cruz de granito,
toda pensa, emplumava-se de líquens.
Pertinho, por entre os centeios e os trigos, um al
deão parecia escutar a canção misteriosa dos colmos
frementes, prometedores de pão.
Parei: conversámos. Entre nós, conversa-se assim,
entre duas cêrcas, na rampa dos atalhos floridos; con
versa-se agricultura, pesca, religião.
Falou-me ele de semeaâuras e de segas. Respondí
lhe com conferências e publicações.
"Estou vendo", disse ele, "que vosmecê trabalha
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176 LéON RIMBAULT
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AS HEROIN AS DO DEVER 17Z
obrigação inelutável, ao mesmo tempo que a sua hon
ra régia.
Transportai-vos, pela imaginação, para sob o céu
puro do paraíso terreal.
Mansão de inocência e de delícias, "onde tudo era
infante, onde nada era pequeno".
Adão nele reina, ornado de justiça e de fôrça, na
tureza virginea envolta no manto esplêndido das gra
ças de origem. Por que foi ele colocado no seio daque
le campo encantador? O Gênese dí-lo formalmente:
"Deus, colocando-o no jardim, confiou-lhe a guar
da e a cultura dele."
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AS HEROINAS DO DEVER 179
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AS HEROINAS DO DEVER 181
findou para ele, porque ele nada mais acrescentará à
sua corôa.
"Chora pelo morto, porque ele não póde mais
morrer por Deus."
Advertência sublime, estais ouvindo, minhas Se
nhoras? O trabalho imola-nos, cada dia, cada hora. Ca
da gota do nosso suor corajoso aumenta a libação sa
grada do altar: Jam delibor ... quotidie morior ... tem
pus resolutionis meae instat. E deveis ser felizes de
viver sacrificando-vos, felizes de vos consumirdes a
fogo lento, nobres vítimas dum amor todo em obras,
felizes de assegurar, pela fecunda atividade ... do pre
sente, a gloria imortal do futuro.
A vida humana é o crisol donde deve sair a vida
futura.
"Enquanto tivermos tempo, diz S. Paulo , opere
n10s."
Sim, sim, operai, agí, trabalhai, e não vos conde
neis a um covarde repouso, a uma deshonrosa ociosi
dade.
O ignominioso "far niente" do "lazzarone" napo
litano ostentado, no luxo dos seus andrajos, ao mais
belo sol do mundo, esbofrteia a dignidade dos discípu
los d'Aquele que dizia: "O Pai e eu operamos sem ces
sar". Operai, porem conforme tem o cuidado de acres
centar o apóstolo, operai o bem. O bem é a vida orde
nada e séria.
Nada de oposto a esse sério da vida como a indo
lência e a desocupação duma certa classe de ricos,
sempre a mesma, em todas as sociedades. Os moralis-
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182 LÉON RIMBAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 183
inteligênca, liberdade, personalidade, tudo se atrofia.
Demência precoce ou demência senil. Releguem-no pa
ra longe dos vivos, dos sãos de mente e de corpo. Um
louco é sempre perigoso. Metam-lhe a camisa de fôr
ça, afivelem-no, debaixo de chave: Stultissimus est.
E' um ente repugnante. Tocar-lhe a mão consti
tue um perigo. Tem esse transeunte sarna, ou lepra,
ou preguiça?
Que importa! Fugí-lhe depressa ao contato. Qui
tetígerit eum, excutiet manum.
"Vinagre nos dentes, fumaça nos olhos!"
E' o bastante para dizer o quanto ele é desagra
davel? Sicut acetum dentibus, sicut fumus oculis.
Inútil, aborrecido, nocivo, o preguiçoso merece o
desprezo público, o pelourinho infame. Fora rnistér
apedrejá-lo.
Com pedras? não, com lama! Que digo? lama ...
A lama ainda é nobre para ele!. . . De stercore
boum lapidábitur piger. "A ociosidade é a mãe de to
dos os vícios." Todos os crimes lhe são imputáveis.
Daí, minhas Senhoras, a indignação vingadora do
profeta contra os mandriões.
Quantos males a preguiça tem espalhado na
Terra!
As cidades da Decápole eram florescentes mais
que todas as cidades do tempo de Abraão. Mas, um
dia, o céu entreabriu-se, o raio fulgurou, um dilúvio de
betume em brasa devorou aqueles povos felizes.
No lugar daqueles monumentos de mármore, da
queles metais preciosos, daquela ostentação inaudita
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184 LÉON RIMBAlJLT
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AS HEROINAS DO DEVER 185
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186 LÉON RIMBAULT
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188 LÉON RIMBAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 189
fr0nte e trabalhou com suas mãos, num mistér rude,
até a idade de trinta anos!
"Ele quis associar ao seu labor sua santa Mãe,
seu Pai nutrício.
"O Pontífice eterno, a Virgem-Sacerdote, o Con
fidente da sua vida interior durante longos anos em
pregaram o tempo e as fôrças em manejar as ferra
mentas mais humildes" ( 1).
Quem, pois, ousará dizer que, na hora presente,
ante o "Filho do Carpinteiro", temos o dever, ou se
quer o direito, de repelir o serrote e o cepilho, porque
as nossas mãos não receberam a unção santa que faz
os sacerdotes de "Jesús-Cristo"?
E vós, minhas Senhoras, quando Jesús "mantem
uma loja para sustentar sua mãe viuva" (2), quando
a Rainha dos anjos, fiando o linho, tecendo a lã, se
consagra alegremente aos cuidados de casa e, "procla
mada bem-aventurada por todas as gerações", opõe
modestamente a esse fastígio de glória a sua condição
de Escrava do Senhor, ousaríeis apresentar aos olhares
o escândalo da inutilidade mundana?
Os operários têm a honra de poder contar a Cris
to na sua corporação (3). Entre esses humildes e esses
pequenos cuja rude e ativa existência é fadiga inces
sante e produção, teríeis o cinismo de ostentar a este
rilidade duma vida toda de gasto e de prazeres?
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190 LÉON RIMBAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 191
que "não querem fazer nada","Si quis non vult ope
rari, nec manducet" (1).
Em çonsequência, o apóstolo trata de ladrões os
preguiçosos, porque estes vivem necessariamente às
custas de outrem.
Um economista bem conhecido, o Padre Ludovi
co, cujos pés descalços de capuchinho seguiam altiva
mente o carro dourado da fortuna, formulou nitida
mente as conclusões da Igreja contra a preguiça (2).
"Para evitar esse vício, para trabalhar, no sentido
cristão do termo, não basta produzir utilidades per
mutáveis a preço de dinheiro, há que fazer alguma
coisa de honesto, fazê-lo honestamente e fazê-lo por
um motivo moral.
Por conseguinte, os que se enriquecem lisonjean
do as paixões, corrompendo os �spíritos e os corações,
como os fazi;dores de romances imorais, como certos
atores e certas atrizes, por mais fadiga que se dêm não
merecem o nome de trabalhadores. Não o merecem
mesmo n(') sentiâo dos economistas; porque, em vez
de produzirem utilidades, as destroem, já que enervam
a energia moral dos seus leitores e ouvintes. Asseme
lham-se aos assassinos e aos incendiários, em quem
ninguém quererá reconhecer a qualidade de trabalha
dores.
Semelhantemente, os que querem enriquecer ime
diatamente, sem preocupação alguma da justiça e da
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192 LÉON RIMBAULT
( 1) Prov., XXVIII, 2.
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AS HEROINAS DO DEVER 193
( 1) Tertuliano.
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194 LÉON RIMBAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 195
pretensas grandes senhoras, cujo luxo custoso lhes
tem secado o coração, cuja despreocupação manda res
ponder por um lacáio à pobre operária ansiosa para re
ceber o preço do seu trabalho: "Madame não se lem
bra de lhe haver pedido a conta"?
Pagai vossas dívidas, minhas Senhoras. Não
acueis aos apuros, por vossa culposa negligência, os
vossos fornecedores, nem à fome as 'vossas 'Costurei
ras. Deus conta as gotas d_ ''Wr e as lágrimas dos
fracos. Delas vos pedirá :Êle contas severas.
Escutai a Bíblia.
Não recusareis Q salário do precisado e de vosso
pobre irmão, mas no mesmo dia, antes que o sol se po
nha, entregar-lhe-eis o preço do seu trabalho, porque
ele é pobre e precisa dele para sustentar sua vida. To
mai cuidado de que ele não clame a Deus contra vós
(1).
Não tendes o direito, minhas Senhoras, no meio
do vosso quietismo burguês, de ignorar a intolerável
situação feita à operária das cidades pela Nêmesis co
mercial e industrial do nosso tempo.
Várias, entre vós, se reunem em retumbantes e
generosos congressos para a reivindicação das liber
dades femininas. Aplaudo sinceramente a coalição dos
seus esforços, por que elas consagram, no seu progra
ma de estudo e de discussão, a mais larga parte ao pro
blema angustioso da vida laboriosa da operária no seio
da nossa sociedade.
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196 LÉON RIMEAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 197
vosso luxo ... Não vos conhece, ou, o que mais indi
toso é ainda, vos conhece mal. Julga-vos arrogantes
e desdenhosas, soberbas e sem misericórdia, duras e
stm entranhas, alimentando-vos cum os suores do ope
rário, pondo-lhe em leilão os braços e as filhas, algozes
e tiranas de escravas (1).
Aproximai-vos, pois, da operária, da mulher p o
bre. Supri entre ela e vós os vossos criados, as vossas
governantes, as vossas damas de companhia.
Não mais intermediários! Informai-vos da penú
ria dela, visitai-a, ajudai-a, respeitai-a, amai-a, salvai-a.
E' vossa irmã, é filha do vosso Deus.
A questão operária é uma questão social. A ques
tão social não tem solução possível e duradoura se
não pelo Evangelho. O Evangelho é o ósculo divino
dado na Terra pela justiça à caridade. Ah! minhas
Senhoras, muitos discorrem e escrevem em favor da
oper.ária : e�tá h.em ; devotar-se, sacrificar-se por elas,
é melhor. Nunca vos esqueçais, pois, desta palavra de
Júlio Simon :
"O mal de que sofremos é des:es que se não po
dem sanar senão pondo nisto todo o coração."
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AS QUE LUTAM
Minhas Senhoras.
Convem-vos plenamente, assim me parece, este
elogio deferido pelos nossos santos livros à mãe herói
ca <los Macabeus. Fêminae cogitationi masculinum ani
mum inserens. "Ela inseria na sua mentalidade de mu
lher a máscula energia dum coração de homem" (1).
Em ·começando este segundo congresso, sob os
auspícios <la virgem francesa tão digna de envolver,
na luz cio seu nome, a fe(leração dos vossos religiosos
e patrióticos esforços, não podeis, com efeito, dar-vos
o testemunho de que Deus abençoou a legitimidade do
vosso empreendimento, a pureza das vossas intenções,
a virilidade dos vossos atos?
Não faz muito, o conjunto das vossas linhas
femininas não deixava de inquietar certos psicólogos
sérios, mais atentos talvez ao movimento das idéias
filosóficas do que à evolução dos fatos sociais.
Aparecíeis então a muitos como a concurrência
temível do monopólio masculino, no domínio econô-
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AS HEI<.OINAS DO DEVER 201
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202 LÉON RIMBAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 203
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204 LÉON RIMBAULT
f,
trata-se da invasão da farrilia, das instituições,· dos
princípios, da alma nacional toda.
E, sem tomar das armas como Joana d'Arc, quan
tos meios tendes, minhas Senhoras, para botar fóra da
pátria tantos elementos exóticos de generescência e
de corrupção, que ameaçam o nosso patriotismo e a
nossa fé!
"Há que laborar quando Deus quer." Longo tem
po a mulher fóra do lar confinou-se na caridade: nisso
ela excele. Chegada é, porem, para vós, minhas Se
nhoras, a hora de congregardes ao advento da justiça
social, sem deixardes caducar nenhuma das nossas
obras católicas, todas as vossas atividades femininas.
E podereis vencer?
E por que não?
Falta-vos inteligência?
Não, pois sois um escol de mulheres sérias, visto
que cristãs. Várias entre vós escrevem, falam, agem
com um talento que se impõe à admiração dos homens
imparciais.
Muitas estão a par de tudo o que concerne à defe
sa dos interêsses femininos. Tanto melhor!
Falta-vos energia?
Não, porquanto não vos entregais às obras de pa
triótica regeneração senão depois de haverdes cumpri
do todos os vossos deveres de familiar serviço. Dais
às vossas aptidões especiais a cultura intensiva e ex
tensiva que exigem as necessidades do vosso meio so
cial, mas não entendeis subtrair-vos a nenhuma das
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AS HEROINAS DO DEVER 205
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AS HEROINAS DO DEVER 207
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AS HEROINAS DO DEVER 209
social, um só grito deve subir aos lábios: Viva a cris
tandade! Viva a Igrej�!
As almas são at��p.ás. A religifio, mais ou menos
por toda parte, atravéssa as fases ou encara o ptrigo
de perseguições tanto mais temíveis quanto mais re
fletidas e de sangue frio, quanto mais patrocinadas
por sistemas.
Trégua, pois, ao espírito de lksuniãu ! 'l'oclo lugar
para a luz, filha do amor; todo lugar para a união, fi
lha <la vel"dadeira fraternidade; todo lugar para a açã o
firme e uniformemente orientada contra o inimigo co
mum!
Luta pelo patrimônio da civilização! luta pela preser
vação da sociedade! luta pela salvação do maior nú
mero!
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ALGUMAS M ULHERES-MODELO
GENOVEVA E A S VIRGENS
D O LAR
Minhas Senhoras.
Em que época e em quadro histórico devemos si
tuar essa radiante figura?
Genoveva preside ao alvorecer dos destinos nacio
nais da França. Vem ao mundo em Nanterre, vive em
Lutécia: é a virgem das margens do Sena, a padroeira
de París.
Estamos no ocaso do século quinto.
A eloquência de Crisóstomo extinguiu-se, deixan
do, como o sol no declínio, uma longa esteira de ouro
na história.
Agostinho dobrou as azas do seu gênio, quebrou
no túmulo a sua pena de doutor, repousa em Hipona
silencioso.
Tranquilizado contra os juizos de Deus, Jerônimo
adormeceu, aos cânticos embaladores dos pastores e
dos vinhateiros de Belém.
E' a hora em que, para preservar a Igreja contra
os cismas do anti-papa Lourenço, os grandes bispos
vão-se reunir.
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AS HEROINAS DO DEVER 213
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AS HEROINAS DO DEVER 215
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AS HEROINAS DO DEVER 217
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AS HEROINAS DO DEVER 219
Oh lágrimas de terna piedade!
- Chora quando, mais tarde, sua mãe, tornada
subitamente cega por havê-la esbofeteado, Genoveva
inclina-se por sôbre o beiral do poço, suplicando ao
Céu dar à água que ela tira uma virtude ele cura.
Oh lágrimas de filial misericórdia!
- Chora quando, ao sair duma paralisia de três
dias, durante os quais sua alma teve a visão do paraí
so, contempla, com os olhos do corpo, o céu das nu
vens e das estrelas.
Oh lágrimas dos santos desejos!
- Chora ao longo das orações, na cela, em casa
da madrinha, chora tão abundantemente que Germano
vê nisso um sinal patente da santidade de sua cara fi
lha espiritual.
Oh lágrimas de penitência!
- Chora no regresso dos sacerdotes enviados por
el a para escolherem o terreno destinado à construção
duma basílica em honra de S. Diniz. Anunciam-lhe
êles terem sido descobertos dois fornos de cal de ma
rnvilhosa grandeza. Ela não se contém.
Oh lágrimas de gratidão !
- Chora quando suplica ao Céu dar de beber
aos operários que trabalham na sua igreja.
Oh lágrimas de fervor!
Lágrimas sagradas, lágrimas fecundas, lágrimas
àoces e amargas, lágrimas inestancáveis, oh lágrimas
de Santa Genoveva, ensinai-nos!
Que dizer, depois disso, das lágrimas tolas, in
sulsas, infantís, nervosas, 9a nossa geração?
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220 LÉON RIMBAULT
***
Genoveva chora, mas age. A sua prece é uma ar-
ma de combate, um poder de intervenção decisiva.
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AS HEROINAS DO DEVER 221
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AS HEROINAS DO DEVER 223
*
**
Fundando a instituição das virgens no mundo,
Genoveva tornou-se a padroeira de todas as mulheres
sem espôso. Vemos-lhe na cabeça o véu de virginda
de, mas não lhe enxergamos em torno nem grades
nem clausura.
Ela vive em casa dos pais. Por morte destes, re
tira-se para a casa da madrinha. Achamo-la sucessiva
mente em Nanterre, em París, em Laon, em Tours, em
Arcissur-Aube.
E' a virgem do mundo. Mistura-se aos interêsses
da cidade, aos negócios da Igreja.
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?.24 LÉON RIMBAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 225'
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AS HEROIN
-'!'
AS DO DEVER 227
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228 L É O N RIM B A U L.:r
res sem as curvarem, são mulheres superiores. Calcam
aos pés os tolos preconceitos do mundo.
O mundo supõe que, se uma mulher não se casou,
é que não o pôde.
De fato, estas não o quiseram. Beleza, espírito,
coração, dinheiro mesmo: nada lhes faltou. Elas, po
rem, nobremente recusaram o marido obrigatório, in
dispensável, cético, jogador, caçador de dote, que vos
toma o braço para ajudar-vos a transpor o limiar dum
salão, e a quem tantas mulheres soltam, cinco anos
mais tardt; , como se solta um suspiro.
Elas não aceitaram suportar as exibições de ves
tuários e de saraus, as míseras comédias do mercade
jar, mais ou menos velado, que preludía o noivado.
Altivas de sobra para passarem como que "par
dessus le marché", ou sobejamente amantes para se
exporem aos desencantos e às monotonias dum amor
que acaoa por não ser mais do que uma boa amizade,
ou, menos ainda, uma correta juxtaposição de senti
mentos, elas se constituiram, consoante uma pitoresca
expressão nossa, as en-cas da família e da paróquia.
Encontramo-las em todos os postos de dedicação
obscura, abandonado pelas outras.
- Elas exercem a suplência das mães. Quando a
morte devasta o ninho familiar, quando arranca a mãe
aos filhos, quem é que recolhe os órfãos? Quem é que
vem substituir a ausente no lar enlutado? Elas, as tias
ou irmãs amadas. Elas não se casarão, afim de educa
rem a família alheia.
Virgens cujo seio a maternidade jamais entumes-
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AS HEROINAS DO DEVER 229
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AS HEROINAS DO DEVER 231
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232 LÉON RIMBAULT
Minhas senhoras.
Pelos sorrisos, pelas lágrimas, pelos lampejos da
vida de Genoveva, iluminámos a condição das virgens
do lar e pusemos no quadro que lhe é próprio o seu
apostolado no meio do mundo.
Como dizíamos, elas exercem a suplência da mãe,
a suplência do padre, e, segundo a palavra de S. Pau
lo, a suplência do próprio Cristo : Adimpleo ea quae
desunt passionum Ch:risti. Depois de semelhantes
obras, como não haveria de ser um especialíssimo
triunfo a entrada delas no paraisa?
Falemos hoje qe Clotilde e da Mnlher-Apóstolo.
E' a ela que pertence inaugurar a França cristã,
merecendo o milagre de Tolbiac, preparando o batis
mo de Clovis e o pacto de Reims.
Na sua escola, as noivas aprenderão como se dis
porem para o casamento; as espôsas, como se dedica
rem, como se salvarem uma alma; as viuvas, como se
transfigurarem no luto e na dor.
*
**
Da pastora à rainha, a transição é fácil. Genoveva
é virgem, Clotilde é espôsa. Ambas estão entremeadas
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234 LÉON RIMBAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 235
mas que -conservaram contudo algo da rudeza dos Ger
manos".
Representam-na (1) alta, majestosamente bela, ro
busta; com uma cabeleira fulva ou "louro ticiano";
com olhos de cambiantes reflexos de esmeralda; duma
distinção e graça "de que falavam ao longe", ardente,
apaixonada, entusiastica, duma prudência pouco co
mum e de extraordinária vivacidade de espírito.
No mais, senhora de si, com uma brandura pa
ciente de mulher e não sei que instintivo guerreiro,
que estranha energia, que indomavel caráter.
Viu a luz em Lião, onde reinava seu pai, Chilp�
rico. Alí, criancinha, recebeu de sua mãe Agripina e
de sua avó Caréténé - duas santas! - os princípios
de "uma fé viva como o carvalho e de uma virtude só
lida como a rocha". Indizíveis infortúnios lançaram
sombra "sôbre a primavera da sua idade" Seu berço
foi salpicado do sangue de sua família, imolada às am
bições de seu tio, Gondebaldo.
Por que milagre a jovem Clotilde escapou, com
sua irmã Soedeleuba, ao morticínio dos seus? A histó
ria não esclareceu este enigma.
Sabe-se apenas que Soedeleuba, alguns anos mais
tarde, se consagrou ao Senhor, e que, sob uma vigi
lância hostil, Clotilde, relegada para Genebra, recebeu
educação distintissima.
Alí, num sítio maravilhoso, ponto de encontro de
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AS HEROINAS DO DEVER 237
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238 LÉON RIMBAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 239
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240 L:20N RIMBAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 241
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242 LÉON RIMBAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 243
(1) Kurth.
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244 LÉON Ril'-,lBAULT
*
**
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AS HEROINAS DO DEVER 245
(i) Kurth.
(2) Abbé Poulin.
(3) Norrativas dos tempos merovingios.
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246 LÉON RIMBAULT
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AS HEROIN AS DO DE VER 247
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248 LÉON RIMBAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 249
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250 LÉON RIMBAULT
(1) S. Paulo.
(2) "Tribulationem carJ]is habebunt hujusmodi."
(3) Abbé Poulin.
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AS HEROINAS DO DEVER 251
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252 LÉON RIMBAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 253
do rei sálio quando ouviu ler a narração da Paixão do
Salvador: "Ah! não estar eu lá com meus Francos 1";
cu os seus transportes ele zelo às c;wrtações do bispo
de Reims: "Irei ter com meus guerreiros, e exortá-los
ei a se fazerem cristãos como eu" To<lo o ardor do
neófito flameja nessas palavras soberbas. - Enfim tu
do estava morto.
- No dia de Natal de 496, pelas 9 horas ela ma
nhã, o arcebispo Remígio esperava à porta da catedral
àe Reims. A hora do batismo de Clovis e dos seus
Francos ia soar.
O espetáculo era arrebatador. Escutemos o velho
Hincmar: Desde a residência real até o templo de San
ta Maria, véus multicores, grinaldas de folhagens, bran
cas tapeçarias haviam transformado o percurso.
O portal da basílica cintilava de mil fog-os. No in
terior, clérigos queimavam perfumes que alcgraYam o
augusto recinto. Sôbre os mármores haviam derrama
do bálsamos preciosos.
Entretanto uma multidão incontavel comprime-se
nas ruas. Atira flores; bate palmas; canta hinos.
Natal! Natal!
Eis os leudes, de uniformes brilhantes, ufanamente
montados nos seus corcéis fogosos!
Eis as fanfarras jubilosas.
Eis os bárbaros a cantarem Tolbiac, Cristo, o por
vir.
Eis os manjes, os sacerdotes, longa teoria que se
desenrola às claridades das velas bentas, ao murmúrio
harmonioso dos salmos.
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254 LÉON RIMBAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 255
"Baixa a fronte, orgulhoso Sicambro !
"Queima aquilo que adoraste. Adora aquilo que
queimaste ! "
Depois batizou-o em nome ela Santíssima Tri!l
dade.
Três mil companheiros d'almas seguiram Clovis à
piscina da salvação.
"E quando dela saíram cristãos, poder-se-iam ter
visto sair cem eles catorze séculos de império, a cava
laria, as cruzadas, a escolástica, quer dizer, todo o he
roísmo, a liberdade, as luzes modernas. Uma grande
nação principiava no mundo" (1).
*
**
A Providência, depois de empregar Clovis trinla
anos na creação duma obra predestinada, só lhe deixou
tempo para preparar o seu túmulo. Ele foi arrebatado
por morte precoce, na idade de quarenta e cinco anos,
a 27 de Novembro de 511. "A rainha Clotide, depois da
morte do marido, veiu a Tours. Consagrou-se ao ser
viço de S. Martinho, na basílica deste, vivendo em in
teira castidade, cheia de bondade e visitando raramen
te Paris. Era venerada por todos. A esmola enchia-lhe
os dias, e a noite passava a vigiar e a orar.
"As suas larguezas não cessaram de derramar-se
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256 LÉON RIMBAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 257
(1) Kurth.
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258 LÉON RIMBAULT
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BRANCA DE CASTELA E AS MÃES
Minhas Senhoras.
O século treze é grande porque foi santo. Reflete
mais que qualquer outro século, como São Luiz reflete
a Deus mais que qualquer outro rei. Mas, para prepa
rar esse século e esse rei, Deus se serviu da sua Igreja
e duma mulher. Sôbre o túmulo dessa mulher, no mos
teiro de Maubuisson, escreveram este epitáfio: A Se
nhora Rainha Branca, Mãe do Senhor São Luiz.
De todos os elogios que dela tenham sido feito::.,
aí está o mais simples, o mais completo, o mais su
blime.
Que dignidade maior do que a realeza? Que amor
mais forte do que a maternidade? Em Branca de Cas
tela, saudemos a realeza de todas as mães.
**
Branca nasceu, em Burgos, pelo ano de 1185, de
Afonso IX, rei de Castela, e de Eleonora Plantagenet,
filha de Henrique II, rei da Ing-Iaterra, e irmã dos reis
Ricardo e João.
Aquela que foi, no século treze, rainha regente de
França, não nos pertence, pois, ele nascimento. A Es-
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260 LÉON RIMBAULT
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AS HEROINAS DO DEVER 261
"Sua alma era embelezada por todas as qualidades
amáveis; seu gênio mais que humano, capaz das altas
empresas e das mais difíceis execuções: regendo todo
o conselho de França desde que nele ingressou, e do
minando em todos os negócios, sôbre 1s mais possan
tes espíritos, qt.e ela soubera trazer ao seu sentimento,
e, se assim se deve dizer, fazer dobrar sob as suas leis.
Filipe II, seu sogro, reconhecendo a fôrça dos seus
conselhos, não se envergonhava de submeter-se a êles.
O marido dependia absolutamente dela, e, se o seu
grande amor não o tornasse desculpável, dependia
mesmo mais do que o deve um homem e um prínci
pe. Por ser benigna e mansa, não era destituida de am
bição, que é o fogo das belas almas." Que retrato, mi
nhas Senhoras! Ele é traçado por mão <le mestre. To
mo--o emprestado a Mézeray, "cujo toque um pouco
rude e às vezes corneliano", diz Sainte-Beuve, "se
abranda para falar de Branca, que por ninguem foi me
lhor compreendida".
Graça, firmeza, coragem: eis aí Branca na tríplice
radiação da sua realeza.
A energia � a nota dominante do seu caráter. A
educação toda régia e viril que ela recebera dera-lhe à
alma uma têmpera de aço. A magnanimidade acompa
nhava em todas as suas medidas a princesa formada
desde a infância nos hábito� do govêrno. Nada en
grandece mais a vontade do que aplicar-se a grandes
desígnios.
Nada atrai a nossa admiração como a virtude de
fôrça numa mulher. Tantas vezes a temos visto enter-
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AS HEROINAS DO DEVER 271
*
**
Compreende-se que, com semclha11ll' educação,
dois dos filhos de Branca de Castl'la, :-;. l ,11iz e a bem
aventurada Isabel, iC'nham asrcndido ao:,; altares. Mas
sua mãe não os seguiu até aí. E' êssc um dos espantos
da história. A imparcialidade do psicólogo manda-nos
pôr a nú o segredo dessa anomalia. Falar das relações
de Branca _ge Castela com sua nora, Margarida de Pro
vença, é, do mesmo passo, por via dedutiva, tocar no
ponto doloroso da vida de grande número de mães.
Eterna miséria do coração humano, de que as mais
enérgicas naturezas tanto custam a curar-se!
O rei ia fazer vinte anos. A regente julgou chega
da a hora de escolher-se uma espôsa. Deitou, pois, os
olhos em Margarida, filha mais velha de Raimundo
Béranger, conde de Provença, e de Beatriz de Saboia,
''uma elas mais graciosas figuras da história" (2).
"Era ela de tal nascimento, que não havia mais
gentil mulher entre os dois mares, diziam os que a co
nheciam, nem mais bela e cortês (3), leal e fina don
zela" (4).
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214 LÉON RIMBA UL't
(1) Joinville.
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( 1) Lac.ordaire.
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280 LÉON RIMBAULT
�
seus clamores de parto, o livro das fuígurantes revela-
ções.
Em toda parte, na história das almas e dos povos,
as mães têm a atitude súplice e protetora de vítimas,
caras a Deus.
-- São rainhas da glória:
A luz de Deus está na fronte das mães, e é nas lá
grimas delas que se prepara a glória do homem.
''Nada leva à glória, disse esplendidamente Ernes
to Hello, exceto Aquele que dirige para o sol o olhar
das suas águias. Quando a glória ilumina um homem,
ninguém póde seguir, sôbre nenhuma carta .geográfioa,
a estrada que seguiu a auréola para encontrar a sua
fronte".
E' verdade; tudo é mi�tério, na vida e na marcha
da glória. Todavia, os grandes homens e os grand·es
:;antos têm prestado essa homenagem suprema a suas
mães, afirmando que lhes deviam o que tinham de me
lhor.
Basta citar entre os grandes conquistadores: Ale
xandre e Napoleão I; entre os grandes imperadores:
Constantino e Carlos Magno; entre os grandes douto
res: Atanásio, Basílio, Crisóstomo, Gregório de Na
zianzo, Agostinho. Os séculos nada alteram a isso.
Chateaubriand, Lamartine e Victor-Hugo; Pie,
Freppel e Bertaud; João Batista Vianney, Teófanes
Vénard e Gabriel Perboyre; Pio IX, Leão XIII e Pio
X: poesia , eloquência, virtude, grandeza: tudo canta o
poder e a glória da� mães.
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AS HEROINAS DO DEVER 281
1'
Lede o prefácio do Padre Bolo em os Decad�ntes
do Cristianismo, ou as con.fidências de François Cop
pée em Dor bendita, ou a última página do Além do
Padre Van Tricht, ou as Cartas do P. Didon, e sabe
reis a que profundidades as mães penetram a alma e a
vida dos filhos.
Não cessemos de repetí-lo: Fílii matrizant: Os fi
lhos parecem-se com as mães.
Parecei-vos, pois, vós, oh mulheres sublimes, oh
rainhas da vida e da educação, do sacrifício e da gló
ria, parecei-vos com Deus. Sêde Brancas de Castela, e
teremos São Luizes.
E vossos filhos, minhas Senhoras, apropriar-se-ão
um dia (oh! desejo que seja o mais tarde possível!)
das palavras de S. Luiz ao saber da sua desgraça: "Se
nhor Deus, rendo-vos graça e mercê, que por vossa
bondade me emprestastes tão longamente minha cara
mãe, e por morte corporal a haveis tomado e recebido
por vosso bel prazer, à. vossa parte.
"E' bem verdade, dnlcíssimo Pai de Jesús-Cristo,
que eu amava minha mãe acima de toda creatura que
existisse neste século mortal : porque ela bem o mere
cera! mas já que vos apraz que ela haja falecido, ben
dito seja o vosso nome"
Tais lágrimas são o mais belo louvor das mães.
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JOANA D'ARC E O PATRIOTISMO
Minhas Senhoras.
Todo homem, quando não suporta o jugo degra
dante das paixões malditas, traz no coração três amo
res: o awor da família, o amor da pátria, o amor da re
ligião.
O próprio paganismo, apesar dos seus erros e tor
pezas, cantou essas três fontes de alegria e de prospe
ridade. Nosso Senhor Jesús-Cristo, restaurador de to
das as ,coisas, lançou sôbre esses três cimos ondas de
luz.
Por isso, em todos os séculos, o lar, o trono, C'
altar, ficam sendo o paládio dos indivíduos e dos po
vos que querem viver e andar ao largo pela estrada
da civilização. Em compensação, nada iguala a desgra
ça dos set:r1-lar, dos sem-pátria, dos sem-Deus.
Neste século, em que tantas ruinas juncam os so
los de muitos países, afigurou-se-me bom e oportuno
mostrar-vos, minhas Senhoras, que parte maravilhosa
vos é reservada na restauração do espírito familiar, do
espírito patriótico, do espírito católico.
Para aprender ou rememorar estas grandes coisas,
nenhuma escola vale a de Joana d'Arc. E' dela que vds
devo falar agora.
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AS HEROINAS DO DEVER 189
lettes", minhas Senhoras, são feitas das lágrimas dela,
e as rosas de que são ornados os vossos penteados são
menos vermelhas do que as pálpebras enrubecidas dos
seus olhos fatigados e do que os pedaços sangrentos
do seu coração dilacerado.
Mas: "Viva a labuta!" mesmo assim. Enquanto
ela trabalha, sofre, reza e se cala, o Silêncio, o mais
tímido dos anjos, está sentado, cismador, no limiar do
seu tugúrio como no limiar dum santuário. Inclinai
vos com respeito ante a Operária, minhas Senhoras :
Nazaré e Domrémy; a Santíssima Virgem e Joana
d'Arc projetam sôbre ela o duplo ráio de luz duma
glória que impõe a admiração. A humilde plebéia po
deria ainda lançar a muita grande dàma, com entono,
o desafio da Donzela: "Viva a labuta!" Aprendí a co
ser e a fiar. Para fiar e coser, não temo mulher de
Ruão", ou ele outro lugar! Aviso a tantas "preciosas"
para as quais "o diploma de pergaminho substituiu os
tecidos de linho, e para quem a agulha deu lugar à pe
na da sabichona.
- Não sei nem A nem B. Não aprendí minha
crença de outro que não fosse minha mãe. Aprendi de
minha mãe Padre-Nosso, Ave-Maria e Creio em Deus
Padre.
Joana d'Arc era, em toda a fôrça do têrmo, uma
iletrada: "Não sei nem A nem B", confessava ela in
genuamente. Não vos direi, minhas Senhoras que fa
çais dessa palavra o vosso lema. Por certo, uma instru
ção sólida e boa, conhecímentos extensos, "claridades
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AS HEROINAS DO DEVER 291
compreendidas, diz um sagaz escritor (1), teriam pou
pado a Joana muitas angústias".
Não a'prendí minha crença de outro que não fosse
minha mãe/
Felizes os filhos que tiveram por mãe uma cristã
esclarecida. O seu cristianismo nada tem de estreito.
Eles estão íl-º largo numa devoção bem entendida. Sa
bem que a fé e a ciência, vindo do mesmo Deus e a
ele conduzindo as almas, se harmonizam em admira
vel síntese, e o desenvolvimento filosófico, a cultura
intelectual não fazem senão fortificar e consolidar mais
a funcio na alma deles os imutáveis princípios da sua
primeira iniciação. Nunca se deve permitir, minhas
Senhoras, por insuficiência <le luzes em matéria do
gmática, que os homens abandonem a vós a religião,
como incompatível com as exigências da sua razão.
Há provas perentórias para os adversários das nossas
doutrinas, as quais não tendes o direito de ignorar.
Cabe à mãe fornecer à fé da criança - o homem
ele amanhã - armas assaz resistentes para quebrar to
dos os choques da incredulidade.
A simples filosofia do Padre-Nosso, da Ave-Maria
e cio Credo basta a toda plebéia para viver conforme
mente à vontade de Deus e salvar sua alma; mas a to
da- mulher elevada pela sua condição social, tendo ele
dirigir uma casa, de manter a sua posição no mundo,
impõe-se o estudo aprofundado, o exame sério e do
cumentado dessa trilogia fecunda da crença cristã. A
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292 L É. O N RI MB AU LT
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AS HEROINAS DO DEVER 293
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AS HEROINAS DO DEVER 295
(1) Brizeux.
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AS HEROJNAS DO DEVER 297
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AS HEROINAS DO DEVER 299
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AS HEROINAS DO DEVER 301
- Joa-"a d'Are tem toda a energia e firmeza, to
da a altivez da nossa raça. Escutai-a:
Antes da "mi-carême", tenho que estar perante o
rei, ainda quando tinha de gastar os pés até os joelhos.
Cumpre que eu vá e que eu faça, porque Nosso Senhor
quer que eu o faça.
Se eu estivesse em julgamento e visse o fogo ace
so e a lenha pn,parada e o carrasco prestes a pegar o
fogo, e eu estivesse no fogo, ainda assim não diria ou
tra coisa, e sustentaria Q que disse no processo, até à
morte.
E, quando a inquirirem dela, mais tarde, os moti
vos da sua partida, ela responderá, com inabalável se
gurança:
Mesmo se eu tivesse cem pais e cem mães, ter
me-ia separado dêles para correr em socorro do rei de
França e libertar Orléans, como Deus me ordena.
Os Gauleses diziam: "Só tememos uma coisa, é
ver o céu desabar e o oceano invadir as nossas costas".
Joana d'Arc dizia mais altivamente ainda: Só te
mo a traição. - Vim da parte de Deus. - Em nome
de Deus, a gente d'armas batalhará e Deus dará a vi
tória.
Joana d'Arc é, pois, bem Francesa, e mesmo é , por
excelência, a Francesa. A alma da França palpita, cho
ra, arde nela.
Ah! a alma da França! quem pois no século cator
ze acreditava nela?
O povo? Não!
Os padres? Não! - Os soldados, os nobres? N�o !
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AS HEROINAS DO DEVER 303
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304 LÉON RIMBAULT
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**
E' preciso trabalhar quando Deus quer. Trabalhai,
Dell/> trabalhará. Certamente Joana trabalhou por sua
pátria.
E' hora quando apraz a Deus, dizia ela ainda.
No [,éculo catorze, a hora que soava neste mundo,
na terra de França, era uma hora desesperada, mas, lá
em cima, era a hora de Deus, a hora da salvação do
povo francês.
Deus e Joana trabalham. E vê-se este milagre, de
u ma jovem camponesa a reanimar um rei covarde e
que quer fugir, duma virgem a guiar, quais dóceis
ovelhas, os La Hire e Xantrailles, os Beaumanoir e os
Chabannes, os Dunois e os Gaucourt; todas essas ve
lhas feras, que berram à sua voz e dão lã, roem a erva
branca das prédicas e comungam a manhã das bata
lhas (1).
Deus e Joana trabalham. E os clérigos, os merca
dores, os guerreiros, os nobres, os bispos aclamam essa
generalíssima, essa estrategista de 4ezenove anos que
S. Miguel e os santos do paraiso parecem acompanhar
numa luz de esperança e de glória, à testa das batalhas
da França. E eis que se levantam os dias gloriosos de
Orléans, de Meung, de Jargeau, de Patay, a esteira de
(1) K. Huysmans.
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AS HEROiNAS DO DEVER 305
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AS HEROINAS DO DEVER 309
Seja o que for dêsses prodígios, ante as cinzas de
Joana d'Are os ingleses exclamaram consteicnados :
"Estamos perdidos, queimamos uma santa!"
De fato, o leopardo foi expulso de todá parte, e
não tardou a recolher-se à sua ilha.
A palavra da virgem de Domrémy, da libertadora
de Orléans, da triunfadora de Reims, <la mártir de
Ruão, realizou-se enfim:
Aprouve a Deus assim fazer por meio de uma sim
ples donzela, para repelir os adversários do rei e botar
os Ingleses para fóra de toda a França.
***
Antes de terminar, minhas Senhoras, permití-me
entregar minha alma. Ousaria eu, em verdade, depois
de vos mostrar Joana d'Arc na Família e na Pátria,
colocá-la em face da Igreja?
Há na história de Joana d'Arc, e eu não saberia
calá-lo, um momento cheio de terror para um sacerdo
te, e é o momento a que havemos chegado.
Quando a gente usa uma sotaina ou um burel, sen
te o rubor subir à fronte em abordando o relato do
abominável processo de Ruão.
Os juizes de Joana d'Arc são doutorns da Sorbo
na, manjes, prelados, um bispo!. ..
"A Igreja", diziam esses miseráveis, "não póde
mais defender-vo:5". E é diante da fogueira erguida
por suas ordens, que eles têm a impudência de usar a
l,inguagem da caridade evangélica.
:Não! eles não eram da Igrej:i.
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AS HEROINAS DO DEVER 311
(1) Está finalmente com o imortal Pio XI, que teve a ven
tura. de canonizá-la. Este livro antecede essa data gloriosa. - N.
do T.
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AS HEROINAS DO DEVER 313
necessários empréstimos a outras línguas no vosso mo
do ce dizer.
Segui o exemplo das nações prolíficas. Que será
d a pátria nos campos de batalha, se prevalecer essa
norma execrável do filho único de tantos lares? E que
será tambem dos nossos interêsses espirituais, quando
escasseiam os sacerdotes?
Induzí vossos pais, vossos esposos, vossos filhos a
cumprirem os seus deveres de cidadãos, em qualquer
terreno.
Inspirai a vossos filhos o amor das grandes cau
sas, e, tanto quanto possível, evitai o êxodo dos cam
pos para as cidades.
Reagí, minhas Senhoras, contra a insipidez dos
costumes e contra o enervamento dos caracteres.
Rezai, falai, agi, sofrei: é pela pátria. O que vós
quiserdes, Deus o quererá.
Quando tudo é desesperado numa causa nacional,
não se deve desesperar ainda, se resta um fóco de re
sistência no coração duma mulher.
As mulheres são mais naturalmente heróicas do
que os homens. E quando esse heroísmo deve ir até ao
maravilhoso, é duma mulher, ficai sabendo, que cum
pre esperar o milagre.
FIM
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lNDICE
Prefácio 5
Introdução 9
Do Dever 13
As ,que pensam 41
As que vibram 65
As que amam 91
As que choram 121
As que rezam 147
As que trabalham 175
As que lutam 199
Genoveva e as virgens do lar 211
Clotilde e a mulher-apóstolo 233
Branca de Castela e as mães 259
Joana d'Are e o patriotismo 283