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APOSTILA FARMACOLOGIAFARMACOLOGIA CLÍNICACLÍNICA 1 ÍNDICE A Farmacologia Clínica Farmacologia Clínica do Sistema Nervoso Farmacologia Clínica do aparelho respiratório Imunofarmacologia Farmacologia Clínica e o uso de antibióticos Farmacologia Clínica cardiovascular Farmacologia Clínica no aparelho renal Farmacologia Clínica na hematologia Farmacologia no aparelho digestivo Bibliografia 2 A FARMACOLOGIA CLÍNICA Ao longo de sua existência, o ser humano sempre buscou preservar sua vida, sua segurança e sua saúde. Sabe-se que o emprego de rituais, receitas com ervas, ingestão de substâncias desconhecidas e até mesmo sacrifícios ou outros atos de cunho espiritual eram reais e também incentivados. Em algumas ocasiões, o doente apresentava melhora ou até mesmo se restabelecia completamente do mal que o incomodava. Quando ocorria a melhora ou a cura, era natural e compreensível que se fizesse associação entre o material (ou ato) e a resolução do problema, e esse sucesso obtido foi inserido na cultura ao longo dos anos, tornando sólida a ideia do uso desses métodos para curar ou prevenir doenças. Com essa associação, o vínculo entre material e problema foi cada vez mais testado em diversas situações e de diversas formas, e cada teste levou a resultados tanto esperados quanto totalmente inesperados. Daí surgem os experimentos comparativos, que formam respostas sobre como lidar com 3 determinadas situações acerca da saúde humana. Tanto um resultado quanto o outro cooperou grandemente no avanço do conhecimento científico de inúmeras áreas (medicina, farmácia, biologia, biomedicina, matemática, física, química, dentre outras). Ficou compreendido que a intervenção humana sobre a doença era o caminho certo para erradicar os males que afligem o corpo humano. Desta forma foi possível chegar à conclusão de quais seriam as drogas necessárias para resolver quadros de febre, enxaquecas, artrites, inflamações etc, e assim, a Farmacologia Clínica começou a ser empregada de forma adequada, sempre evoluindo em suas pesquisas e em suas áreas de atuação. A Farmacologia Clínica tem nos experimentos comparativos o seu melhor método de pesquisa, e sempre busca definir a eficácia dos fármacos, tanto os já consagrados quanto os que estão em desenvolvimento. Sua atuação também abrange a ética em pesquisa em seres humanos. A análise de novos medicamentos precisa seguir determinadas fases, nas quais o fármaco passa por testes de teratogenia e de toxicidade. Quando este fármaco é aprovado nesses testes, o mesmo passa para as seguintes fases: 4 A Farmacologia Clínica é voltada a aperfeiçoar a eficácia e a segurança relacionadas à administração de medicamentos, e tanto uma quanto outra são asseguradas durante a administração do fármaco quando se conhece as particularidades farmacêuticas, toxicológicas e bioquímicas do medicamento, no momento em que o mesmo interage com o organismo humano. Para termos uma noção maior da importância da Farmacologia Clínica, vemos abaixo algumas áreas da sua atuação: 5 6 FARMACOLOGIA CLÍNICA DO SISTEMA NERVOSO Antes de adentrarmos neste assunto, é necessário sabermos que o Sistema Nervoso é dividido em Central, Periférico e Autônomo. O Sistema Nervoso Central (SNC) é constituído de medula e encéfalo, e é nele que informações são processadas e respostas são produzidas. O encéfalo é protegido pela caixa craniana e é formado pelos seguintes componentes: O Sistema Nervoso Periférico (SNP) é constituído por gânglios e nervos que levam informações dos órgãos para o Sistema Nervoso Central, e vice-versa. Portanto, este Sistema é responsável por receber informações e leva-las ao Sistema Nervoso Central, trazendo as respostas do SNC para os órgãos que irão agir de acordo com essas respostas. Os nervos são feixes de fibras nervosas, e cada fibra é constituída de um axônio e também de bainhas de mielina. Esses nervos podem ter fibras aferentes (levam informações do meio ambiente e também do organismo para o SNC) e fibras eferentes (levam os impulsos nervosos do SNC para os órgãos que farão a ação desejada). A seguir, podemos ver a representação de um neurônio: 7 Os nervos também são divididos em espinhais e cranianos. Os nervos espinhais se ligam à medula espinhal, e os nervos cranianos se ligam ao encéfalo. Temos no nervo óptico um exemplo de nervo craniano. Os gânglios são agrupamentos de neurônios e localizam-se fora do SNC. Apresentam tecido conjuntivo em sua parte externa, e em seu interior é formado por neurônios. São divididos em sensitivos e autônomos O Sistema Nervoso Autônomo (SNA) apresenta partes dos dois Sistemas abordados anteriormente, e é formado por neurônios, músculo cardíaco, músculos lisos, glândulas e uma porção do tecido adiposo. Atua diretamente na 8 homeostasia e nas respostas a determinados estímulos do ambiente externo. Esse Sistema trabalha no controle da secreção e da motilidade gastrointestinal, na transpiração (sudorese), na pressão arterial, no esvaziamento da bexiga, na temperatura corporal, sendo que todas as funções apresentam controle parcial ou total. O Sistema Nervoso Autônomo tem a habilidade de alterar as funções viscerais de forma intensa e rápida. O Sistema Nervoso Autônomo Parassimpático secreta, em seus neurônios, a Acetilcolina (Ach), e por isso esses neurônios são chamados de colinérgicos. Já o Sistema Nervoso Autônomo Simpático secreta, em seus neurônios, a Noradrenalina (Na), por isso esses neurônios são chamados de adrenérgicos. As fibras adrenérgicas desse Sistema conectam o Sistema Nervoso Central à glândula 9 supra-renal, fazendo com que haja maior produção de adrenalina e o corpo se torne preparado para responder a situações de fuga ou de luta em momentos estressantes ou de emergência. Além da Acetilcolina e da Noradrenalina, o SNC também tem o Glutamato e a Dopamina como neurotransmissores. A Dopamina atua no comportamento, no controle dos pensamentos, em situações onde a motivação influencia no comportamento, além de atuar na forma de enxergar a realidade ao redor e também na atenção. O Glutamato tem papel excitatório no SNC. Agora que sabemos de informações importantes acerca do Sistema Nervoso, podemos abordar com mais propriedade a Farmacologia deste tão importante e necessário Sistema no nosso corpo humano. Os medicamentos que atuam no SNC são extremamente necessários no tratamento de patologias psiquiátricas, como a depressão, por exemplo. A comercialização desses fármacos é fiscalizada e regulamentada, a fim de evitar o abuso e o comércio ilegal. A neurotransmissão no SNC ocorre pela atuação dos neurotransmissores, que são moléculas responsáveis pela sinalização produzida nos neurônios. Os neurotransmissores levam informações a glândulas, órgãos, músculos e até mesmo a outros neurônios. Os fármacos psicotrópicos atuam diretamente na atividade desses neurotransmissores. Tais fármacos possuem alvos para sua atuação: 10 Em quadros de depressão moderada ou grave, o emprego de antidepressivos pode proporcionar melhora dos sintomas ou até mesmo a eliminação dos mesmos. Antes do uso desses medicamentos, é necessário descartar o quadro de transtorno bipolar, pois os antidepressivos podem, na bipolaridade, causar comportamentos indesejáveis, como a mania por exemplo. 11 Muitos tecidos do corpo apresentam, na membrana da mitocôndria, a enzima monoamino-oxidase (MAO), e o tecido hepático é um dos que mais apresenta esta enzima, que possui duas isoformas: MAO-A e MAO-B. 12 Essas características são importantes para a Farmacologia Clínica da seguinte forma: a) Medicamentos que inibem a ação da MAO-A atuam em quadros de depressão.Dessa forma, o fármaco aumenta a habilidade de armazenagem e consequentemente de liberação dos neurotransmissores através dos neurônios no SNC. Essa atuação ocorre na fenda sináptica, no neurônio pré-sináptico e no terminal axônico. Esses fármacos são conhecidos como IMAO (Inibidores da Monoamino-Oxidase). b) Medicamentos que inibem a recaptação da serotonina na doença de Parkinson. Alguns fármacos podem provocar determinados efeitos colaterais, como retenção urinária, hipotensão, visão turva, boca seca, dentre outros. Pode ocorrer também a síndrome serotonínica, provocada por grande quantidade do neurotransmissor 5-HT na fenda sináptica, levando o paciente a apresentar reações como aumento da temperatura corporal, confusão, agitação, dentre outros. c) Alguns fármacos classificados como Anti-Depressivos Tricíclicos (ADT) são usados para déficit de atenção, transtorno obsessivo compulsivo, enxaqueca, náuseas, dor de origem neuropática, insônia, hiperatividade e quadros depressivos. 13 Esses fármacos promovem aumento na concentração dos neurotransmissores NA e 5-HT nas fendas sinápticas que se localizam no SNC, e dessa forma, os neurônios pré-sinápticos não realizam a recaptação de 5-HT e de NA. Os Anti-Depressivos Tricíclicos agem na qualidade e no controle do sono, promovendo melhoria no mesmo. Exemplos de ADT podemos ver na Amitriptilina, Clomipramina e Doxepina. Pode ocorrer interação medicamentosa entre os ADT e fármacos anti- hipertensivos. Outros fármacos, classificados como Inibidores Seletivos da Recaptação da Serotonina (ISRS), são empregados em quadros de depressão maior, transtorno obsessivo compulsivo (TOC), ansiedade generalizada (TAG), anorexia, compulsão por comida e síndrome de pânico. Esses fármacos podem provocar efeitos colaterais como alteração da cognição, pensamentos suicidas, alterações gastrointestinais, disfunção sexual, agitação, vertigem, boca seca, ansiedade. Já os transtornos psicóticos como psicose, transtorno bipolar e esquizofrenia são tratados com o uso de fármacos antipsicóticos, que modulam e estabilizam o humor. Sua ação ocorre pelo antagonismo dos receptores pós-sinápticos. O Haloperidol, o Aripiprazol e a Clozapina são fármacos dessa classe, mas podem provocar hiperlipidemia, ganho de peso e hiperglicemia no paciente. Um paciente diagnosticado com transtorno de ansiedade vive um nível desproporcional do sentimento de ansiedade e passa a necessitar do auxílio farmacológico de medicamentos que proporcionam uma redução no nível de atividade do organismo e dos pensamentos e sentimentos exacerbados sem que haja razão para tal conduta. Barbitúricos, benzodiazepínicos e compostos “Z” são os fármacos mais empregados no tratamento desse transtorno, atuando no receptor GABA (ácido- γ-aminobutírico), que é o neurotransmissor mais atuante na inibição do SNC. 14 Nessa atuação ocorre hiperpolarização da membrana dos neurônios, promovendo redução da hiperpolaridade nesse local do SNC, visto que na diminuição da hiperpolaridade, o fluxo de íons para os neurônios passa a ser reduzida. Existem também as doenças neurodegenerativas, nas quais ocorre perda, de modo irreversível, de neurônios em algumas regiões do cérebro que atuam na neurotransmissão química. Exemplos de doenças do SNC: Alzheimer e Parkinson. Na doença de Parkinson, o paciente apresenta inclusões intracelulares (que são os corpúsculos de Lewis) e perda dos neurônios dopaminérgicos. Com o avanço da 15 doença, exames mostram redução na ativação dos receptores pós-sinápticos que atuam no trabalho das dopaminas D1 e D2, e também é possível observar um desequilíbrio entre acetilcolina e dopamina no corpo estriado, colaborando para que o quadro da doença se torne grave. A Farmacologia Clínica atua nessa doença promovendo recuperação da atuação dopaminérgica através de agonistas dopaminérgicos e também da diminuição da neurotransmissão colinérgica, usando-se a Levodopa, que é capaz de atravessar a barreira hematoencefálica e chegar aos núcleos, gerando descarboxilação da dopamina, visto que a Levodopa é, no mecanismo metabólico, o precursor da dopamina. Os efeitos colaterais mais comuns são: náuseas e vômitos, anorexia, arritmia cardíaca e quadros agudos de glaucoma. O uso concomitante de IMAO ou de Vitamina B6 pode causar interação medicamentosa e levar o paciente a apresentar hipertensão arterial. Pacientes portadores da doença de Alzheimer apresentam desorganização neurodegenerativa progressiva, que conduz o quadro a perda irreversível das faculdades mentais, funcionais, cognitivas e comportamentais. Isso se dá pelo acúmulo extracelular de β-amilóide, um peptídio que forma compostos oligâmeros, e esses compostos formam fibrilas que passam pelo processo de hiperfosforilação na proteína Tau, acarretando em mudanças funcionais nos neurônios e consequentemente apoptose, que é a morte celular. O tratamento farmacológico de primeira linha consiste em intensificar a neurotransmissão colinérgica, diminuindo a colinesterase que ocorre nas fendas sinápticas, e com essa inibição, aumenta-se a concentração da acetilcolina encontrada fora das células (Ach extracelular). Tais fármacos são classificados como Anticolinesterásicos, e eles proporcionam melhora na funcionalidade, na 16 cognição e no comportamento do paciente que está nas fazes leve ou moderada de Alzheimer. Este tratamento farmacológico pode provocar bradicardia, sensação desconfortável no trato gastrointestinal e cãibras. Se a doença se encontrar nas fases moderada ou grave, o tratamento farmacológico envolve o uso de fármacos auxiliares, como a memantina, por exemplo. Este medicamento reduz a degeneração clínica que é observada no paciente que se encontra na fase grave da doença. Pacientes portadores de epilepsia apresentam episódios de convulsões, nas quais ocorre uma intensa e descontrolada descarga de neurônios. A Farmacologia Clínica atua nessa situação inibindo a despolarização anormal dos neurônios, inibindo a ação nos canais para Ca2+ ou Na, ou aumentando a ação do neurotransmissor GABA. Os fármacos mais empregados nas convulsões são o ácido Valproico, a Oxcarbazepina e a Carbamazepina. Se o tratamento não controlar a recorrência das convulsões, é preferível trocar o medicamento a adicionar outro. Em alguns casos, é comum a prescrição de benzodiazepínicos como Diazepam e Clonazepam, que podem causar visão turva, sonolência, diminuição da concentração e vertigem como efeitos colaterais. É interessante acompanhar os níveis das transaminases hepáticas durante o uso de anticonvulsivantes. Anestésicos: Enquanto estão atuando no organismo, os anestésicos promovem, a nível do SNC, a ausência de reações a estímulos que provocam dor forte e também levam à ausência do estado de consciência. Essas reações acontecem porque o Sistema Nervoso Central sofre depressão mediante a ação dos anestésicos, visto que ocorre grande aumento das sinapses inibitórias e grande diminuição das sinapses excitatórias. Caso a concentração seja maior que a necessária, o paciente pode 17 sofrer depressão profunda no centro respiratório, no tronco cerebral, comumente conhecido como depressão respiratória. Abaixo temos quadros com as principais vias de administração empregadas no momento da anestesia, e a classificação dos anestésicos: 18 Antes da administração da anestesia, o paciente é recebe fármacos pré- anestésicos, que auxiliam em aspectos importantes. 19 A anestesia geral apresenta as seguintes etapas: É natural que na fase da indução à anestesia o paciente apresente diminuição da pressão arterial sistêmica, visto que o fármaco administrado provoca vasodilatação e consequentemente depressão do miocárdio. Essa alteração na pressão arterial é dependente da quantidadedo fármaco que foi administrada. Anestésicos inalatórios são utilizados para manter a anestesia induzida por um anestésico que foi administrado pela via endovenosa, e são excretados principalmente pela via pulmonar. Alguns fatores podem interferir na ação do anestésico, tanto no cérebro quanto no sangue: 20 a) Solubilidade do anestésico na circulação sanguínea; b) Concentração do anestésico no ar que o paciente inspira; c) Ventilação pulmonar ofertada durante a anestesia; d) Débito cardíaco. 21 FARMACOLOGIA CLÍNICA DO APARELHO RESPIRATÓRIO O aparelho respiratório atua em funções que entre si são relacionadas, como por exemplo as trocas gasosas, a filtração e o aquecimento do ar quando entra no organismo humano, o metabolismo e o equilíbrio ácido-básico. Se o aparelho respiratório é essencial em tantas funções, é compreensível que muitos medicamentos possam influenciar nessas funções. Hoje sabemos, por exemplo, que um medicamento expectorante pode remover as impurezas inspiradas e melhorar a qualidade do ar que entra no organismo. Através desse exemplo podemos ver que o estudo dos fármacos utilizados em problemas respiratórios pode auxiliar na compreensão tanto da fisiologia quanto dos efeitos farmacológicos. Essa compreensão consequentemente colabora no lançamento de novos medicamentos e de novas abordagens terapêuticas nesta especialidade médica que trata de doenças como asma, bronquite, pneumonia, dentre outras. Atualmente, os fármacos mais prescritos para o tratamento da asma, por exemplo, são os expectorantes, os mucolíticos e os antitussígenos. 22 A tosse: Tossir é um ato que preserva as vias aéreas, em qualquer idade, e pode ter origem em agentes causadores de infecções. A tosse pode ser produtiva (com catarro) ou seca (sem catarro). A prescrição: A prescrição médica é realizada observando as características anatômicas do aparelho respiratório, que apresenta as porções superior e inferior, e essas porções podem apresentar problemas causados tanto pelo ar inalado quanto por algum patógeno presente no sangue. 23 Metilxantinas (como a Aminofilina, a Teobromina e a Teofilina, por exemplo) e Agonistas beta-adrenérgicos (Terbutalina e Salbutamol, por exemplo) são amplamente empregados em doenças respiratórias, e os principais efeitos adversos são arritmia, excitabilidade e taquicardia. 24 IMUNOFARMACOLOGIA O organismo humano possui duas linhas de defesa imunológica: a) Defesa humoral: presença de anticorpos; b) Mecanismos celulares: linfócitos T, K e linfocinas. Todas as células de defesa são originadas na medula óssea. As células pluripotentes passam pelo processo de diferenciação e dá origem às células sanguíneas. 25 http://biologiaucs.blogspot.com/2013/05/hematopoiese.html Infecções recorrentes, fraqueza, desânimo, mal-estar por tempo prolongado são alguns dos sintomas mais encontrados em pacientes que estão com o sistema imunológico defasado, e essa desordem pode provocar o surgimento de doenças autoimunes, câncer e outros problemas. Uma doença autoimune é aquela na qual o organismo passa a atacar tecidos e órgãos sadios do corpo, como se os mesmos fossem agentes perigosos à saúde. Exemplos de doenças autoimunes podemos encontrar na pancreatite autoimune, no hipotireoidismo autoimune, na artrite reumatóide, na diabetes tipo 1, dentre outras doenças. A imunodeficiência pode ter origem genética, mas pode surgir através do contato com agentes patogênicos (como os vírus, as bactérias...) ou pode surgir também pelo uso de medicamentos imunossupressores. Sirolimus, Tacrolimus, Micofenolato sódico, Everolimo, Prednisona, Azatioprina e Ciclosporina são alguns dos medicamentos imunossupressores prescritos, cada qual de acordo com o quadro a ser tratado. 26 Os fármacos imunossupressores são classificados em: agentes antiproliferativos, citotóxicos, corticosteroides, antimetabólitos, anticorpos e inibidores da calcineurina. Em contrapartida, é possível modificar, através da Farmacologia, a resposta imune, proporcionando à mesma uma melhor eficácia diante da ação de agentes patológicos. Essa melhora na resposta imune ocorre através do uso de fármacos imunoestimulantes, como os que podemos ver a seguir: 1. Adjuvantes imunológicos: lipossomas, compostos de alumínio, adjuvantes de Freund (completo e incompleto); 2. Bactérias e produtos microbianos: ubiquinonas, micobactérias, polissacarídeos e compostos correlatos, e corinebactérias (Corynebacterium parvum); 3. Compostos sintéticos: azimexona, levamisol, cimetidina, inosiplex e dietilditiocarbamato (DTC); 4. Mediadores fisiológicos: neuropeptídeos, linfocinas (alfa-interferon, IL-2, gama-interferon, fator estimulador de colônias), tuftsin, hormônios tímicos, peptídios do leite e do colostro. 27 FARMACOLOGIA CLÍNICA E O USO DE ANTIBIÓTICOS A antibioticoterapia pode ser considerada a maior revolução no campo farmacêutico a nível mundial. Antibiótico é o fármaco originado de micro-organismos e que é capaz de inibir a reprodução, o crescimento e até mesmo destruir os agentes causadores de diversas doenças. A maioria dos antibióticos é sintetizada a partir de plantas, bactérias, cogumelos e outros organismos vivos. É importante sabermos que há diferença entre quimioterápico e antibiótico. Um quimioterápico é produzido artificialmente, no laboratório, já o antibiótico é produzido através de material biológico. As ações bacteriostática e bactericida do antibiótico são evidenciadas através do CMI (Concentração Mínima Inibitória), também conhecido na Microbiologia pela sigla MIC (Minimal Inhibitory Concentration), e pela CMB (Concentração Mínima Bactericida). Ambos são de grande importância na determinação da posologia do antibiótico durante o tratamento. Na imagem abaixo podemos ver o crescimento de um micro-organismo em uma placa de ágar. 28 As bactérias mais comumente encontradas nos exames são: Na prática, os antibióticos atingem uma concentração adequada no local onde está a infecção, atravessando a parede celular da bactéria e no interior desta célula permanecem pelo tempo necessário para que seu efeito seja alcançado. http://anvisa.gov.br/servicosaude/controle/rede_rm/cursos/rm_controle/opas_web/modulo1/propriedades.htm 29 Ao ser administrado, o antibiótico alcança também uma concentração no plasma do paciente e chega à sua concentração sérica máxima, é distribuído aos tecidos do organismo, depois é metabolizado e por fim é eliminado, até que sua presença no sangue não se possa mais ser verificada. Na imagem abaixo podemos ver a concentração sérica de um antibiótico no organismo. http://anvisa.gov.br/servicosaude/controle/rede_rm/cursos/rm_controle/opas_web/modulo1/propriedades2.htm A classificação dos antibióticos é feita de acordo com a estrutura química, o mecanismo de ação, o tipo de micro-organismo que será combatido, o tipo de ação, o espectro da sua atividade, as organelas celulares que serão afetadas e as fontes de origem. Nos tipos de ação, os antibióticos são classificados em: 1. Primariamente bacteriostáticos. Exemplos: Etambutol, Tetraciclinas, Sulfonamidas, Eritromicina, Cloranfenicol; 2. Primariamente bactericidas. Exemplos: Ciprofloxacino, Rifamicina, Penicilinas, Cefalosporina, Polipeptídicos, Aminoglicosídios, Cotrimoxazol. Quanto às suas fontes de origem, os antibióticos são classificados da seguinte forma: 1. Sintéticos; 2. Fungos. Exemplos: Penicilina, Griseofulvina, Cefalosporina; 30 3. Actinomicetos. Exemplos: Poliênicos, Tetraciclinas, Aminoglicosídeos, Macrolídios, Cloranfenicol; 4. Bactérias. Exemplos: Colistina, Polimixina B, Aztreonam, Bacitracina,Tirotricina. Na estrutura química, os antibióticos apresentam atualmente 17 classificações, das quais veremos algumas na imagem abaixo. Quanto ao espectro, os antibióticos são classificados da seguinte forma: 1. Espectro estreito. Exemplos: Eritromicina, Penicilina G, Estreptomicina; 2. Amplo espectro. Exemplos: Cefalosporinas, Cloranfenicol, Tetraciclina, Penicilinas de largo espectro, Fluoroquinolonas. Em seus mecanismos de ação, os antibióticos apresentam várias divisões, das quais veremos algumas na imagem a seguir. 31 Na escolha do antibiótico, é importante considerar as seguintes questões: 1. Toxicidade do medicamento; 2. Associação a outros antibióticos; 3. Profilaxia; 4. Duração do tratamento; 5. Interações medicamentosas; 6. Uso durante a gravidez; 7. Cuidados com insuficiência renal; 8. Diagnóstico de resistência bacteriana; 9. Surgimento de febre; 10. Possibilidade de falha do antibiótico. 32 FARMACOLOGIA CLÍNICA CARDIOVASCULAR Na clínica cardiológica muitas são as demandas nas quais a Farmacologia clínica se mostra de suma importância, tanto em tratamentos a longo prazo quanto em situações emergenciais, como o infarto agudo do miocárdio por exemplo, que requer atendimento e acompanhamento imediatos. Vejamos agora alguns dos principais quadros onde o tratamento farmacológico é empregado. Insuficiência cardíaca: caracterizada por dispneia, palidez, pele fria, sudorese, fadiga, edemas em membros inferiores, hepatomegalia, edema agudo do pulmão. O tratamento farmacológico consiste em administrar medicamentos que atuem no local do problema. Inibidores da enzima converso da angiotensina (IECA´s): primeiro grupo escolhido no tratamento de insuficiência cardíaca. São divididos nos seguintes grupos: Sulfidil (captopril), Fosfinil (fosinopril), Carboxil (trandolapril, enalapril, benazapril, ramipril, cilazapril, lisinopril, ramipril). Tais fármacos promovem ações trófica, neuro-hormonal e hemodinâmica. Antagonistas da angiotensina II: são bem tolerados pelo paciente e impedem a ativação do receptor tipo I da angiotensina II. Losartana, Olmesartana, Candesartana, Telmisartana são fármacos desta classe. 33 Antialdosterônicos: eplerenona e espironolactona são fármacos desta classe, que auxiliam na eliminação de Sódio. Inibidores diretos da renina: são eficientes como anti-hipertensivos e bem tolerados pelo paciente. Alisquireno é o medicamento desta classe. Betabloqueadores: bisoprolol, carvedilol, nebivolol e metoprolol são os fármacos desta classe que representa grande avanço no tratamento da insuficiência cardíaca, pois promovem controle das arritmias, redução na frequência cardíaca, proteção do miocárdio, diminuição da renina e controle da pressão arterial. Além destes medicamentos citados, existiam outros, pertencentes a outras classes, que eram empregados para vários problemas cardiovasculares. 34 35 36 FARMACOLOGIA CLÍNICA NO APARELHO RENAL Em distúrbios que acometem o aparelho renal, é comum o emprego de diuréticos que atuam na estrutura química do aparelho renal, fazendo com que as etapas de filtração glomerular e eliminação de água e eletrólitos se normalize. Os diuréticos são classificados em: Diuréticos que agem no túbulo proximal: aumentam a reabsorção tubular de Sódio e apresentam moderada ação diurética. Benzolamida, acetazolamida, metazolamida e diclorfenamida pertencem a esta classe. Diuréticos que alteram a hemodinâmica: atuam na função glomerular, aumentando a filtração, diminuindo o transporte de Sódio e aumentam a diurese. Dopamina e xantinas são fármacos que atuam nesta classe. Diuréticos que agem na alça de Henle: são os mais potentes; reabsorvem o Sódio na alça de Henle e inibem a reabsorção de Sódio e água no túbulo proximal. Organomercuriais, derivados da sulfonilureia (exemplo: torasemida), derivados sulfanilbenzênicos (exemplos: piretanida, furosemida, bumetanida), derivados do ácido fenoxiacético (ácido etacrínico), triflocina e endacrenona são pertencentes a esta classe, e são empregados também para tratamento de quadros de hipercalcemia. Diuréticos osmóticos: aumentam a remoção de Cloreto de Sódio e de ureia na medula renal, levando a uma diminuição de reabsorção de água. O Manitol é o fármaco empregado nesta classe. Triantereno e Amilorida: são fármacos que promovem leve diurese. Espironolactona: esteroide, diurético de baixa potência, que aumenta a excreção de Sódio. Alguns dos quadros clínicos tradados com diuréticos: Hipertensão arterial. Síndromes edematosas (exemplos: cirrose hepática, insuficiência cardíaca congestiva, síndrome nefrótica e edema idiopático). 37 Síndromes não edematosas (exemplos: diabetes insipidus, acidose tubular renal, hipercalcemia, hipertensão arterial, hipercalciúria idiopática). Os efeitos adversos mais comuns dos diuréticos são: alterações nas concentrações de potássio, cálcio, magnésio e de sódio no plasma, alterações no volume extracelular e no equilíbrio ácido-base e alterações no metabolismo de ácido úrico. 38 FARMACOLOGIA CLÍNICA NA HEMATOLOGIA Na área da Hematologia, muitas são as utilidades dos fármacos. Anemias, doenças neoplásicas e hemorragias são alguns dos problemas nos quais a Farmacologia pode colaborar de forma significativa e até mesmo trazer a total recuperação do paciente. Nas anemias com perda crônica ou aguda de volume sanguíneo, os sais de Ferro são administrados por via oral. Um comprimido de sulfato de Ferro de 100 mg contém 60 mg de ferro elementar. O cálculo tanto das doses quanto da duração do tratamento é realizado pelo médico que atende e acompanha o paciente. Pacientes portadores de falcemias necessitam de transfusões sanguíneas, no entanto, antes desse procedimento, é necessário administrar penicilina-benzatina e vacina antipneumocócica. Em quadros de alterações na síntese do DNA, o tratamento consiste em administrar vitamina B por via parenteral. A hidroxicobalamina é a melhor escolha, pois atua por mais tempo no organismo. A administração é por via intramuscular, e o tratamento pode durar por algumas semanas. A anemia por déficit de ácido fólico é tratada com administração desse mesmo ácido por pelo menos 2 meses, até que os valores de referência se normalizem. 39 Quadros de anemia aplástica são caracterizados por pancitopenia e diminuição da medula óssea hematopoiética, apresentando nos exames uma grande redução nos valores das plaquetas, além de leucopenia e pobreza celular. Este quadro é comumente encontrado em pacientes portadores de leucemias. O tratamento é feito com transfusões sanguíneas, com agentes imunossupressores, com globulina antilinfocitária (GAL), andrógenos, corticosteroides e ciclofosfamida. FARMACOLOGIA CLÍNICA DO APARELHO DIGESTIVO O equilíbrio de todo o trabalho do aparelho digestivo é coordenado por hormônios e ações neuronais. O sistema nervoso participa ativamente das funções gastrointestinais e dos movimentos do intestino através de estímulos simpáticos ou parassimpáticos. Um exemplo da atuação do sistema nervoso pode ser observado na salivação, que é resposta de reflexos tanto dos intestinos e do estômago quanto dos nervos parassimpáticos. Cheiros, sabores, aparência do alimento são aspectos que estimulam a atuação da inervação parassimpática. Alguns hormônios podem alterar a motilidade do trato gastrointestinal e podem também exercer determinado controle sobre secreções que atuam na digestão dos alimentos. Em situações nas quais o paciente apresenta alterações gastrointestinais, como náuseas e vômitos por exemplo, a Farmacologia atua visando restabelecer o equilíbrio, eliminando as causasdo problema através do uso de medicamentos para erradicar os distúrbios no organismo. Antieméticos, antagonistas de receptores serotoninérgicos, soro de reidratação, drogas anticolinérgicas, benzodiazepínicos, canabinóides e corticosteroides são os mais empregados diante de desordens gastrointestinais; o cálculo é realizado de acordo com o peso e a altura do paciente, e o tempo de uso é determinado pelo médico que atende o paciente. 40 Drogas anticolinérgicas: anti-histamínicos (prometazina, meclizina, difenil- hidramina, ciclizina) e escopolamina. Antieméticos: bromoprida, fenotiazinas, butirofenônicos. Antagonistas de receptores serotoninérgicos: ondansetrona, dolasetron, granisetron, metoclopramida. Canabinóides: tetrahidrocanabinol. Benzodiazepínicos: lorazepam, Diazepam, midazolam. Corticosteroides: metilprednisolona, dexametasona. Butifenônicos: droperidol, haloperidol. Fenotiazinas: piperazina, ploclorperazina. 41 BIBLIOGRAFIA: SILVA, Penildon. Farmacologia. 8ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. http://anvisa.gov.br/servicosaude/controle/rede_rm/cursos/rm_controle/opas_web /modulo1/conceitos.htm Bittencourt SC, Caponi S, Maluf S. Farmacologia no século XX: a ciência dos medicamentos a partir da análise do livro de Goodman e Gilman. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro. Disponível em http://www.scielo.br/hcsm. Gonçalves J. A influência do sistema nervoso Autónomo na resposta inflamatória da sepsis. Disponivel em: http://www.scielo.mec.pt/pdf/am/v28n1/v28n1a03.pdf. Cabreira BM, Rodrigues ACO, Galiano JC, Santos MAP, Gonzales FG. Farmacologia do Sistema nervoso autônomo, Revista UNILUS Ensino e Pesquisa - RUEP. V.10, n.21, 21, 2013. Disponível em: http://revista.unilus.edu.br. Boas OMCV. Farmacologia, Disponível em: https://s3.amazonaws.com/ Gomes FCA, Diniz VPT. Glia: dos velhos conceitos às novas funções de hoje e as que ainda virão. Rev. 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