DESEMPREGO

Crise institucional deve emperrar contratações e abertura de vagas

O cenário é preocupante, com jovens, negros e mulheres entre os grupos mais atingidos

Vera Batista
Bernardo Lima*
Luíza Victorino*
postado em 09/09/2021 06:00
 (crédito: Fernando Lopes/CB/D.A Press)
(crédito: Fernando Lopes/CB/D.A Press)

O mercado de trabalho, que vem capengando e prejudicando mais as mulheres, os negros, os jovens e os pobres, tende a sofrer piora significativa com o acirramento da crise institucional, agravada com as declarações do presidente Jair Bolsonaro no 7 de Setembro. A insegurança jurídica, dizem especialistas, afugenta investidores, provoca o adiamento nas contratações e empurra os trabalhadores para a informalidade e para a inatividade.

“A sociedade não está sendo beneficiada com a incerteza gerada nesse momento de estagflação (inflação e estagnação econômica simultaneamente), diante de queda de 9,4% da renda média do trabalhador, verificada entre o primeiro trimestre de 2019 e o segundo trimestre de 2020. Com isso (crise institucional), a previsão é de piora nos índices de emprego”, disse o economista Marcelo Neri, diretor da FGV Social.

“Entre 2019 e 2020, se compararmos os 10% mais ricos e os 50% mais pobres, a taxa de desemprego para os últimos foi quase 10 vezes mais alta. O cobertor está curto. E a crise institucional em ano pré-eleitoral é mais um encurtador”, observou Neri.

O estudo Desigualdades do mercado de trabalho e pandemia da covid-19, dos pesquisadores Joana Simões Costa, Ana Luiza Holanda Barbosa e Marcos Hecksher, do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), aponta que “a diferença da crise de 2020 em relação à anterior, entre 2015 e 2016, se caracteriza não apenas pela magnitude mas também pela intensa transição dos ocupados, não para o desemprego, e sim para a inatividade”.

Joana Simões Costa chama a atenção para o fato de que, em 2020, foram reduzidas as chances de se conseguir uma ocupação. “Essa redução da porta de entrada ao emprego ocorreu de forma generalizada e afetou, especialmente, jovens, negros e mulheres”, afirmou. Isso porque o distanciamento social afetou principalmente “ocupações em que o tipo de trabalho não poderia ser feito a distância, ou seja, aqueles de menor qualificação”.

Para o presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes, “os acontecimentos recentes não ajudam a retomada econômica”. O nível de emprego na indústria automobilística vem caindo. Em 2018, havia 113 mil profissionais ocupados. Em 2019, baixou para 108,5 mil. E ao longo de 2020, com a pandemia, foi baixando, até chegar, atualmente, em 103 mil trabalhadores. A perspectiva é de agravamento, com a possível saída de empresas do país, ou fusões e incorporações de montadoras pelo custo do avanço tecnológico. “Para amenizar, é preciso que o país tenha custo competitivo. Esse movimento será maior ou menor, a depender do país”, destacou.

Newton Marques, professor de finanças públicas da Universidade de Brasília (UnB), afirma que o fato de as pessoas perderem o emprego e irem diretamente para a inatividade por medo de procurar outra vaga com a propagação do vírus é o que torna esta crise mais grave. “O desemprego, anteriormente, seja por um momento de crise internacional ou mesmo local, era resolvido mais rapidamente. Hoje, quando pensamos que a pandemia está perto do fim, surgem novos casos que aumentam a insegurança de quem precisa do emprego, mas não quer colocar a saúde em risco” explicou.

*Estagiários sob supervisão de Odail Figueiredo

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